UNO – La Gioventú
Com imensa alegria começaremos mais uma série em nosso blog. Desta vez traremos ao amigos a arte do artista máximo da ópera italiana do século XIX que nasceu em 10 de outubro de 1813 em Roncole, Itália, e foi registrado como Joseph Fortunin François Verdi e não, como seu pai Carlo Verdi havia escolhido, Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Um território pouco extenso, dividido em vários Estados pequenos — alguns independentes, outros não, sofrendo o domínio de nações mais fortes: Áustria, França e Prússia. Assim era a Itália no começo do século XIX. Situada na região norte, a Província de Piacenza era governada pelos franceses, cuja língua predominava até nos registros públicos. Assim, quando o jovem casal Carlo Verdi (1785-1867) e Luigia Utini (1787-1851) apresentaram-se no cartório da cidade de Busseto, para registrar seu filho nascido na vizinha aldeia de Roncole, o tabelião consignou o nascimento de Joseph Fortunin François Verdi. Como não podiam reclamar, Carlo e Luigia voltaram a Roncole com o menino, retomando a vida tranquila e estável que a propriedade de uma pequena estalagem lhes assegurava. O registro de nascimento descreve seu pai Carlo como um ‘estalajadeiro’, sua mãe Luigia como uma ‘fiandeira’: ambos pertenciam a famílias de pequenos proprietários de terras e comerciantes.
Despretensiosamente este insignificante admirador tentará tecer as postagens traçando um paralelo entre o contexto da vida do maestro e suas composições. Adoro história e acredito que observando a lenda “Verdi” com a lupa de estudantes curiosos nos faz aproximar mais ainda da sua obra, é um gênio sem dúvida, mas humano como nós. Acredito, mesmo após mais de duzentos anos de seu nascimento, que a vida deste poderoso e fecundo músico interessa a um grande público, não apenas os fãs, mas jovens que estudam com crescente curiosidade a vida e as ideias de um mestre que, além de ser um protagonista de seu tempo, demonstrou uma mentalidade e um comportamento entre os mais nobres e vigorosos no panorama da Europa moderna, após o colapso dos grandes Impérios.
Este trabalho, motivado pelo mais puro prazer, será baseado em livros e no farto material da internet, em sua grande maioria será tradução livre (e macarrônico) do idioma italiano. São obras dos estudiosos Gustavo Marchesi, Cesari, Luzio, DellaCorte, Carlo Gatti, Marcílio Sabba, que publicaram cartas, documentos, monografias ou ensaios. Além de fuçar e muito nas publicações do “L’Instituto di Studi Verdiani”. Faremos uma espécie de “monografia” em diversas postagens com numerosos episódios conhecidos e os quase desconhecidos agradeço ao chefe PQP pela oportunidade ! Mais do que compartilhar as músicas do mestre que estão disponíveis nos mais variados tipos de mídia, esperamos que vocês tenham uma gostosa e proveitosa leitura. No propósito de informar, torço para que sejamos bem recebidos pelos amigos do blog. VIVA VERDI !!!!!!
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Como foi a vida do jovem que se tornou um dos maiores compositores do século XIX ? Para descobrir, temos que nos transportar para a Roncole, “comunello” de Busseto, no ducado (então) de Parma em 1813 durante o regime Napoleônico. A cidade de Busseto e seus arredores ostentava origens antigas , basicamente se vivia do regime agrícola, com cerca de 1.220 casas e 8.100 habitantes na época. Uma boa escola Jesuíta, uma escola de música, muito qualificada, na qual lecionou Ferdinando Provesi, professor de capela do lugar e conhecido por suas composições música sacra. Ele às vezes era acompanhado pelo flautista amador Antonio Barezzi, um homem rico e amante da música, presidente da “Accademia Filarmonica” um mecenas. Vivia-se de curtumes de couro, destilarias, cera, fábricas de cerâmica, ferreiros, tecelões e os marceneiros. Nas cidades também existiam médicos, iluminação noturna (um luxo !). O solo é fértil e bem cultivado (amoras, grãos, vinhas, pomares), produzindo farinhas, nozes, legumes, principalmente um bom vinho tinto, pera, açúcar, maçãs, queijo; uma grande quantidade de aves e ovos, um comércio ativo de bois, porcos, carnes curadas, e também fabrica vários tipos, como tranças de palha, tecidas no inverno e vendido na primavera para os lombardos, quem então faziam chapéus.
Apesar do quadro próspero, as condições de saneamento básico das pessoas mais humildes não estavam entre os mais satisfatórios. Muitos doenças propagadas pela ignorância da situação miserável dos mais pobres. O clima úmido e o calor frequente em todas as estações. Muitos insetos que picam, consequência também das enchentes de riachos e canais, bem como o rio Pó, com um curso lento e irregular. As águas então se degeneraram em lagoas insalubres que, devido à quantidade de insetos e mosquitos, se tornaram a paisagem menos poética do lugar. Verdi nasceu em Roncole precisamente na frente de uma dessas lagoas, onde as crianças encontraram sua diversão.
Era um período de declínio do poder de Napoleão, as potências da Santa Aliança lançaram-se à reconquista de seus antigos domínios: russos, austríacos e prussianos invadiram a península, devastando e saqueando todos os lugares por onde passavam. Uma coincidência infeliz fez com que, no dia em que os exércitos russo-austríacos entraram em Roncole, todos os homens da cidade se achassem ausentes. Somente mulheres, crianças e pessoas idosas ocupavam a povoação. Acreditando que os soldados não se atreveriam a profanar a igreja, todos se refugiaram no pequeno templo. Mas foi inútil. As tropas invadiram o recinto em busca de mantimentos e forçaram as mulheres e crianças a entregar o que queriam. Escapando pela sacristia, Luigia Verdi, carregando o pequeno Giuseppe no colo, entrou por uma porta semi-oculta e galgou a escadaria íngreme que levava ao alto da torre dos sinos. Apavorada, encolheu-se em seu esconderijo e nele permaneceu até que, passadas muitas horas de angústia, verificou que os militares haviam abandonado a cidade. Ao descer da torre, ainda trêmula, mal podia crer na assombrosa sorte que tivera. Estava ilesa, e o pequeno Giuseppe também. O menino cresceu sadio e brincalhão como toda criança deveria ser. O pequeno Giuseppe superou a onda da guerra, as frequentes epidemias e o espectro da fome. Para ele o conforto relativo do comércio da estalagem paterna deu a possibilidade de desfrutar um período pacífico, sob governo da duquesa austríaca Maria Luigia. Sendo filho do dono da mercearia pode pelo menos ficar longe da fome.
No interior de Parma o culto à música, ainda que de gosto popular, era bastante difundido, o garoto tinha uma atração forte pela música, mas na aldeia só se podia ouvi-la na igreja, ou por intermédio de tocadores ambulantes. Quando estes surgiam no local, apresentavam-se em praça pública para divertir os habitantes. Um desses músicos andarilhos, chamado Bagasset, observou que o pequeno Verdi acompanhava suas execuções vidrado, com um interesse muito maior que o dos espectadores reunidos à sua volta. Tanta atenção sugeria pendor para a coisa: Bagasset conversou com os pais do garoto, aconselhando-os a incentivar a tendência do filho, fazendo-o estudar música. Mas o casal, embora tivesse meios suficientes para viver sem apertos financeiros, não dispunha de recursos para comprar um instrumento nem pagar aulas de música para Giuseppe. Foi ele próprio — Giuseppe — quem solucionou o problema, arranjando lugar como coroinha na igreja. Pensou “ouvindo alguém tocar, sempre iria aprender um pouco”.
Tudo teria corrido muito bem se ele cuidasse convenientemente dos seus deveres de coroinha. Mas a música o atraía mais que os ofícios religiosos e, certo dia, durante uma celebração, esqueceu-se de passar a água benta ao padre. Provavelmente, devia tratar-se de um sacerdote temperamental, pois sua surpreendente reação foi interromper a cerimônia e castigar a distração do ajudante com um pontapé tão violento que o atirou do altar pela escada abaixo. Aturdido e machucado, Giuseppe teve que ser conduzido para casa por um dos presentes. Alarmados com o estado do filho seus pais quiseram saber o que acontecera. Mas a única resposta do menino foi: “Deixem-me estudar música !!!!”. O dramático apelo de Giuseppe comoveu de tal forma Carlo Verdi, que o mobilizou a procurar uma espineta, deixando de lado as contas e despesas da casa. Um velho padre da região vizinha vendeu-lhe o instrumento. Era antigo, porém afinado. E o garoto exultou ao vê-lo chegar. Podia tocar, afinal. Durante mais de um ano empenhou-se durante horas seguidas em dedilhar o teclado, sozinho, sem nenhuma orientação. Um dia conseguiu encadear uma série de acordes que lhe pareceram maravilhosos. Encantado com a façanha, chamou os pais para ouvirem o que conseguira. Mas ao tentar repetir tais acordes, falhou. Furioso, buscou um martelo e
começou a destruir a espineta (ô italianada !!!!). Seu pai o deteve: compreendendo a frustração do jovem autodidata, chamou o afinador Cavaletti, que consertou gratuitamente os estragos e colou na espineta um bilhete: “Eu, Stephen Cavaletti, consertei este instrumento, coloquei as alavancas, os martelos e os pedais, dos quais faço presente, por ver como o jovem Giuseppe Verdi está disposto a aprender a tocar. Para mim, isto é paga suficiente”. A velha espineta tornou-se, a partir desse dia, uma relíquia que Giuseppe conservaria durante toda a vida. E o seu penoso trabalho de aprender música por si mesmo terminou: o Professor Baistrocchi foi contratado para lecionar-lhe regularmente. Don Baistrocchi gostava muito do pequenino. Ele o ensinou a ler e escrever, bem como um pouco de latim e, claro, música.
Depois de cinco anos, o velho organista Baistrocchi reconheceu que nada mais poderia ensinar a seu talentoso aluno. Giuseppe assimilara tudo o que o mestre conhecia sobre música. E, com a morte de Baistrocchi, ocorrida meses depois da interrupção das aulas, o jovem estudante foi solicitado à vaga deixada por ele. Aceitando o cargo de organista da igreja, Giuseppe Verdi passou a receber o salário de 40 liras anuais. Era pouco. Mas, para um rapazinho de doze anos, representava uma importante conquista.
Após a morte de Baistrocchi, Verdi foi para a vizinha cidade de Busseto para dar continuidade aos estudos na escola Jesuíta, ficou na casa do amigo de seu pai, Michiara um sapateiro. Giuseppe se aplicou de boa vontade aos estudos, ele estudava em sua surrada espineta até altas horas da noite. As vezes a música é considerada por muitos uma perturbação como tantos outros ruídos, uma anedota saborosa que retiramos de uma biografia de Marcello Conati nos conta: “Existe um ditado na Itália que diz: ‘O pior vizinho é um iniciante estudando música.’ Na frente da casa de Michiara havia um alojamento, cujo dono era um certo Giovannelli; durante muitas noites as notas do piano (que então era a espineta) o havia perturbado ao tentar dormir, ele reclamou para Michiara ordenando que ele silenciasse o instrumento e o deixasse dormir. O sapateiro disse ao jovem Verdi o que aconteceu, mas ele não deu a menor atenção as intimações e continuou a praticar, então foi aquele barraco a lá italiana, Giovannelli saiu da cama nervosão e chamou o vizinho com raiva e com a espada na mão, ameaçando-o de que se aquele barulho não acabasse por bem iria acabar por mal.”
Esta paixão do jovem pela música acabou atraindo a curiosidade da Filarmônica de Busseto, e em particular o de seu presidente, Antonio Barezzi, comerciante influente e instrumentista amador. Quarenta anos de idade, generoso por natureza e de mente aberta, tinha uma família feliz, uma loja muito movimentada, uma bela casa na praça principal da cidade. Por seu interesse, Joseph logo foi matriculado como aluno do professor Ferdinando Provesi, organista e mestre da cappella, ele influenciou muito o jovem Verdi, sob a orientação de Provesi aprendeu a bases de harmonia e contraponto (quatro anos) e compôs várias músicas de igreja, para funções e festas onde a Filarmônica participou, aos quinze o menino agora era notícia. Apoiado pelo bom Barezzi, o músico iniciante ficava horas e horas estudando piano (um de verdade), e fazer música junto com a Filarmônica. Na casa de Barezzi, adquiriu cultura e amadurecimento. Aprendeu a copiar partituras e partes avulsas, familiarizou-se com o piano, tocando duetos com Margarida Barezzi, filha do seu protetor, além de estudar com Fernando Provesi, organista e regente da Sociedade Filarmônica. Ao completar dezessete anos, Giuseppe Verdi era um nome bastante conhecido na cidade e seu prestígio cresceu quando Fernando Provesi, já cansado e doente, entregou-lhe a batuta, tornando-o compositor oficial e Mestre da Banda Municipal.
Pouco resta da música de Verdi desse período, embora algumas das peças mais vivas talvez tenham sido recicladas em suas primeiras óperas. O que chegou até nós são principalmente “pièces d’occasion”, escritas para a igreja ou para a Sociedade Filarmônica de Busseto e outros grupos locais. As influências são previsíveis, com Rossini muito em evidência nas peças que se aproximam da ópera. As músicas compostas pelo jovem músico que conseguimos garimpar desta época são as que iremos compartilhar com os amigos do blog nas duas primeiras postagens da série em homenagem ao mestre Verdi !
Tomei a liberdade de desmembrar alguns CDs com as peças menores de Verdi que tenho e reorganizá-las em uma espécie de cronologia, para melhor compreendermos a música que Verdi criava na época em que descrevemos no texto. É bem legal pois podemos sentir a evolução do mestre. Todas as capas e contra capas estão compactadas junto do arquivo de download. Ao decorrer das postagens vamos disponibilizar as obras “soltas” em forma de “bônus” no mesmo período em que foram escritas as óperas que vamos comentar.
Verdi – Obras da Juventude 01 (1832-1836)
1832-34: Messa Di Gloria For Soprano, Alto, Tenor, Bass, Mixed Voices And Orchestra (Collab. With F.Provesi)
Elisabetta Scano – soprano
Cristina Gallardo-Domâs – soprano
Juan Diego Flóres – tenor
Kenneth Tarver – tenor
Eldar Aliev – bass
Michele Pertusi – bass
Orchestra Sinfonica e Coro Sinfonico di Milano Giuseppe Verdi
Riccardo Chailly (2001)
1832-35: Io La Vidi Aria For Tenor, [Tenor] And Orchestra [From C.Bassi Il Solitario Ed Eloisa]
Luciano Pavarotti – tenor
Orchestra del Teatro ala Scala
Claudio Abbado (1981)
1832: Laudate Pueri For 2 Tenors, Bass And Orchestra (Collab. With F.Provesi)
Elisabetta Scano – soprano
Cristina Gallardo-Domâs – soprano
Juan Diego Flóres – tenor
Kenneth Tarver – tenor
Eldar Aliev – bass
Michele Pertusi – bass
Orchestra Sinfonica e Coro Sinfonico di Milano Giuseppe Verdi
Riccardo Chailly (2001)
1832: Qui Tollis For Tenor And Obbligato Clarinet (Collab. With F.Provesi)
Elisabetta Scano – soprano
Cristina Gallardo-Domâs – soprano
Juan Diego Flóres – tenor
Kenneth Tarver – tenor
Eldar Aliev – bass
Michele Pertusi – bass
Orchestra Sinfonica e Coro Sinfonico di Milano Giuseppe Verdi
Riccardo Chailly (2001)
1832: Tantum Ergo For Bass And Orchestra In F Major (Collab. With F.Provesi)
Elisabetta Scano – soprano
Cristina Gallardo-Domâs – soprano
Juan Diego Flóres – tenor
Kenneth Tarver – tenor
Eldar Aliev – bass
Michele Pertusi – bass
Orchestra Sinfonica e Coro Sinfonico di Milano Giuseppe Verdi
Riccardo Chailly (2001)
1835: Brindisi For Voice And Piano [Maffei]
Sergei Larin – tenor
Parma Opera Ensemble (2006)
1836: Tantum Ergo For Tenor And Orchestra In G Major (Collab. With F.Provesi)
Elisabetta Scano – soprano
Cristina Gallardo-Domâs – soprano
Juan Diego Flóres – tenor
Kenneth Tarver – tenor
Eldar Aliev – bass
Michele Pertusi – bass
Orchestra Sinfonica e Coro Sinfonico di Milano Giuseppe Verdi
Riccardo Chailly (2001)
Ammiratore