Sergei Prokofiev (1891-1953) & Camille Saint-Saens (1835-1921): Pedro e o Lobo & Carnaval dos Animais

Sergei Prokofiev (1891-1953) & Camille Saint-Saens (1835-1921): Pedro e o Lobo & Carnaval dos Animais

O Dia das Crianças estaá longe, mas aqui já temos o presente!  Em homenagem às eternas crianças que somos, ofereço essas três peças de cunho infantil, de Prokofiev e Saint-Saens.

As peças

Sergei Prokofiev escreveu “Pedro e o Lobo” para o Teatro Infantil de Moscou em 1936. Esta história foi criada para ser narrada enquanto a música toca e para entendê-la precisamos, antes de mais nada, sabermos que: O Pássaro é representado pelo som de uma flauta; o Pato, um oboé; o Gato, uma clarineta; o Avô, um fagote; o Lobo, cornetas francesas; os Caçadores, tímpanos. Pedro é representado pelas cordas. Nessa versão não temos o narrador, fica a cargo de cada um, fechar os olhos e deixar a imaginação florar.

“Histórias de uma Velha Avô”, quatro peças para piano, escritas pouco depois da estreia em Nova York de Prokofiev em 1918, não têm enredo especial, mas são permeadas de lembranças russas.

Escutar “Carnaval dos Animais” de Camille Saint-Saens é como fazer uma viagem musical ao zoológico. Em primeiro lugar, após a introdução, surge a “Marcha Real do Leão”, rugindo nas cordas e pianos. Depois surgem galinhas cacarejando e ciscando (cordas e piano) precedendo galos cantando (clarinete). Os “Jumentos Selvagens” da Mongólia, famosos por sua notável velocidade, aparecem retratados pelos dois pianos. Para fazer uma piada, Saint-Saens, em “Tartarugas”´pegou dois temas vistosos de Offenbach (incluindo o seu famoso “Can-Can”) e os colocou num andamento de passo de tartaruga. Outra paródia surge com o “Elefante”, onde as melodias suaves e semelhantes a contos de fada da “Dança das Sílfides” de Berlioz e de “Sonho de uma Noite de Verão” de Mendelsohn são executadas por cantrabaixos duplos.

Os “Cangurus” destaca os dois pianos como que pulando em derredor. No “Aquário” vislumbram-se brincadeiras de peixes na água proporcionada pelos pianos e, originalmente, uma harmônica de vidro (invenção de Benjamim Franklin em que copos de diferentes tamanhos são mergulhados numa calha com água). Em “Personagens com Grandes Orelhas” Saint-Saens não estava somente se referindo a jumentos, mas talvez, também a asnos humanos.

O “Cuco” em duas notas incessantes da clarineta é ouvido nas florestas sombrias (pianos). O “Viveiro de Aves” é um “tour de force” para a flauta. O tratamento de Saint-Saens ao talvez mais tranquilo de todos os animais, os “Pianistas”, de forma bem humorada critica as escalas e exercícios iniciais dos estudantes. “Fósseis” desencava quatro antigas canções francesas, uma parte do “Barbeiro de Sevilha”, bem como “Dança Macabra” do próprio Saint-Saens. O “Cisne” do violoncelo é o mais famosos dos animais e, talvez, o trabalho mais reputador de Saint-Saens. O momento mais sublime não só da peça, mas, provavelmente de toda a obra do compositor.

O “Finale”, outro can-can, reapresenta muitos mebros do zoológico musical, terminando de forma magistral com um último “relinchar” do asno.

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Sergei Prokofiev & Camille Saint-Saens: Obras Infantis

Sergei Prokofiev

Peter and the Wolf, Op. 67
01. Andantino (1:00)
02. Allegro – Andantino come prima (1:29)
03. L’istesso tempo – Piu mosso (2:24)
04. Moderato – Allegro ma non troppo – Moderato (1:47)
05. Poco piu andante (1:03)
06. Andantino, come prima (1:07)
07. Andante molto (1:24)
08. Nervoso – Allegro – Andante (1:40)
09. Allegretto – Moderato (1:34)
10. Andantino, come prima – Meno mosso (1:05)
11. Vivo – Andante molto – Vivo – Andante (1:17)
12. Allegro – Poco meno mosso – Moderato (Meno mosso) (1:56)
13. Allegro moderato (1:16)
14. Andante (0:36)
15. Moderato – Poco piu mosso (Allegro moderato) – Sostenuto – L’istesso tempo – Poco piu mosso (4:04)
16. Andante – Allegro (0:30)

The Tales of an old Grandmother, Op. 31
17. I. Moderato (3:24)
18. II. Andantino (1:52)
19. III. Andante assai (2:33)
20. IV. Sostenuto (3:38)

Camille Saint-Saens

Carnival of the Animals
21. No. 1: Introduction and Royal March of Lion (2:24 )
22. No. 2: Hens and Roosters (0:57)
23. No. 3: Wild Donkeys (0:40)
24. No. 4: Tortoises (2:00)
25. No. 5: The Elephant (1:21)
26. No. 6: Kangaroos (0:50)
27. No. 7: Aquarium (2:13)
28. No. 8: Personages with long ears (0:55)
29. No. 9: The Cuckoo in the Heart of the Woods (1:59)
30. No. 10. Aviary (1:17)
31. No. 11: Pianists (1:26)
32. No. 12: Fossils (1:15)
33. No. 13: The Swan (3:04)
34. No. 14: Finale (2:00)

St. Peterburg Radio & TV Symphony Orchestra
Stanislav Gorkovenko

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Marcelo Stravinsky

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Sonatas para Violino e Piano – Cecilia Zilliacus (violino) – Christian Ihle Hadland (piano) ֍

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Sonatas para Violino e Piano – Cecilia Zilliacus (violino) – Christian Ihle Hadland (piano) ֍

Camille Saint-Saëns

Sonatas para Violino

Fantasia & Berceuse

Cecilia Zilliacus, violino

Christian Ihle Hadland, piano

Stephen Fitzpatrick, harpa

Neste disco temos as duas sonatas para ‘piano e violino’ de Camille Saint- Saëns, além de duas outras peças menores, interpretadas ao violino e harpa.

As duas sonatas não poderiam ser mais diferentes. A primeira é virtuosística, especialmente o hipnotizante último movimento, enquanto na segunda o equilíbrio entre os instrumentos é fundamental, com a escrita para piano ganhando uma direção diferente daquela usada por Camille em obras anteriores. Como podemos ver no livreto que acompanha os arquivos musicais, Saint-Saëns tinha bastante orgulho da primeira sonata, sobre a qual escreveu ao seu editor: ‘uma sonata semelhante a um cometa que devastará o universo semeando terror e resina em seu caminho’. Sobre a segunda sonata seu comentário foi: ‘ela só será compreendida depois da oitava audição’. Eu já estou quase chegando lá…

Cecilia Zilliacus

A interpretação neste disco é maravilhosa. A dupla Zilliacus e Ihle Hadland apresenta excelente entrosamento.  Eles são instrumentistas espetaculares. A introdução da resenha do disco feita na Gramaphone diz: […] as obras para violino, piano ou harpa oferecidas aqui são tocadas com fogo e comprometimento, e muitas vezes levadas ao limite.

A primeira sonata foi composta em 1885 e apresentada em um concerto da Société Nationale de Musique, pelo próprio Saint-Saëns e Martin-Pierre Marsick ao violino. O violino de Marsick era um Stradivarius de 1705 que foi também o instrumento de David Oistrakh entre 1966 e 1974. Essa sonata é contemporânea da Sinfonia com Órgão e tem quatro movimentos, que são tocados dois a dois em seguida.

Entre uma composição e outra, Camille explorava os arredores…

A segunda sonata foi composta em 1896 na cidade de Luxor, no Egito, enquanto Camille passava por lá suas férias, fugindo do frio inverno de Paris. A sonata foi composta logo após a composição do Concerto para Piano No. 5, ‘Egípcio’.

Saint-Saëns teve uma vida longa e ímpar. Demorou bastante para casar-se, mas não ficou muito tempo casado. O infortúnio da perda dos filhos certamente não ajudou a manter o casamento levando a separação. A partir daí ele essencialmente passou a fazer parte da família de Fauré, cujos filhos o viam como um tio solteirão. Daí em diante Camille passou a viajar muito. Fez bem mais do que cem viagens ao exterior da França, visitando quase trinta países. Mas o Egito, a Tunísia e a Argélia eram seus preferidos, onde passava os invernos do hemisfério norte. Como ele dizia: ‘Você embarca em um lindo navio em Marselha e 24 horas depois desembarca em Argel; e é sol, verde, flores, vida!’. Sua última viagem foi para Argélia, onde morreu em 1921. ‘No final de 1921, Saint-Saëns, de 86 anos, deu um recital bem recebido em Paris e depois partiu, como de costume, para a sua “hivernale” anual de inverno na Argélia. Mas no dia 16 de Dezembro desse ano, pouco depois de chegar ao seu querido Norte de África, sofreu um ataque cardíaco inesperado e morreu em Argel’.

Camille Saint-Saëns (1835 – 1921)

Violin Sonata No. 1 in D minor, Op. 75

  1. Allegro agitato
  2. Adagio
  3. Allegretto moderato
  4. Allegro molto

Violin Sonata No. 2 in E flat major, Op. 102

  1. Poco allegro, più tosto moderato
  2. Scherzo
  3. Andante
  4. Allegro grazioso. Non presto

Fantaisie for violin & harp, Op. 124

  1. Fantasie

Berceuse in B flat major Op. 38 (Arr. S. Fitzpatrick for Violin & Harp)

  1. Berceuse

Cecilia Zilliacus, violino

Christian Ihle Hadland, piano

Stephen Fitzpatrick, harpa

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MP3 | 320 KBPS | 219 MB

Christian gostou tanto de reaparecer no PQP Bach que sapecou um selfie…

Não deixe de visitar:

The Lark – Recital para Piano – Christian Ihle Hadland

Cecilia Zilliacus

Na seção ‘The Book is on the Table’: Here Cecilia Zilliacus offers us a violin tone that is vibrant and guttural at the same time. Her warm and sometimes wonderfully husky portamentos are such a beautiful complement to this music. But this isn’t just one kind of fearlessness – there is fire and there is ice. Pianist Christian Ihle Hadland offers the ice, the crystalline precision and sparkle: the lilting arpeggiations, the flashing passagework and the glittering cascades.

A combinação Zilliacus e Hadland é espetacular…

Aproveite!

René Denon

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Piano Concertos – Gabriel Tacchino, Orchestra of Radio Luxembourg, Louis de Froment

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Piano Concertos – Gabriel Tacchino, Orchestra of Radio Luxembourg, Louis de Froment

Temos aqui um pacotaço com os 5 Concertos para Piano de Saint-Saëns, esse compositor tão interessante, e que aparece tão pouco cá pelas bandas do PQPBach, o que realmente é uma pena. Suas obras são belíssimas, inovadoras, conforme Franz Liszt observou, após o fracasso da primeira apresentação de seu segundo concerto:

‘I’d like to thank you again for your Second Concerto, of which I warmly approve. The form is new, and very successful; it becomes increasingly interesting as its three movement proceed, and you take due account of the effect that can be achieved by the pianist without sacrificing any of the composer’s ideas – an essential rule in this kind of work.’

Em outras palavras, Liszt enxergou o ‘revolucionário’ da obra, a partir do momento em que o compositor deixou de lado a forma tradicional e inovou em sua composição. Seguiram-se a este segundo mais três concertos, somando cinco no total.

E é com esta integral que inauguro minhas participações no PQPBach em 2024, ano em que estaremos completando a maioridade. Adoro essa virada dos séculos XIX e XX, exatamente por estas inovações que ocorriam na História da Música, principalmente na França. Debussy, Franck, Poulenc, Fauré, Saint-Saëns, entre outros (mesmo que esse fosse de uma geração anterior, mas foi um compositor que não se rendeu a estilos ‘amarrados’, ao contrário, inovou, e muito).

Os Concertos são bem diferentes entre si. O pianista francês Gabriel Tecchino nasceu em 1934 e foi aluno de ninguém mais, ninguém menos do que François Poulenc, se tornando um dos principais intérpretes do século XX, se especializando no repertório francês, mas não se limitando a ele. Gravou Beethoven, Liszt, Chopin, Mozart, sempre deixando sua marca nestas gravações.

O lendário maestro francês Louis de Froment o acompanha nesta empreitada, realizada no final dos anos 70 e restaurado pelo selo Brilliant Classics.

Camille Saint-Saëns (1835-1921) – Piano Concertos – Gabriel Tacchino, Orchestra of Radio Luxembourg, Louis de Froment

01. Piano Concerto No. 1 in D major, Op. 17 I. Andante – Allegro assai
02. Piano Concerto No. 1 in D major, Op. 17 II. Andante sostenuto quasi adagio
03. Piano Concerto No. 1 in D major, Op. 17 III. Allegro con fuoco

04. Piano Concerto No. 2 in G minor, Op. 22 I. Andante sostenuto
05. Piano Concerto No. 2 in G minor, Op. 22 II. Allegro scherzando
06. Piano Concerto No. 2 in G minor, Op. 22 III. Presto

07. Piano Concerto No. 4 in C minor, Op. 44 I. Allegro moderato
08. Piano Concerto No. 4 in C minor, Op. 44 II. Allegro vivace

09. Piano Concerto No. 3 in E-Flat Major, Op. 29 I. Moderato assai
10. Piano Concerto No. 3 in E-Flat Major, Op. 29 II. Andante – III. Allegro non troppo

11. Piano Concerto No. 5 in F Major, Op. 103 Egyptian I. Allegro animato
12. Piano Concerto No. 5 in F Major, Op. 103 Egyptian II. Andante
13. Piano Concerto No. 5 in F Major, Op. 103 Egyptian III. Molto allegro
14. Piano Concerto No. 5 in F Major, Op. 103 Egyptian Fantasy for Piano and Orchestra, Op. 89 Africa

Gabriel Tacchino – Piano
Orchestra of Radio Luxembourg
Louis de Froment – Conductor

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FDP

César Franck (1822-1890) – Sinfonia em ré menor / Camille Saint-Saëns (1835-1921) – Le Rouet d’Omphale, op. 31 – Orquestra Nacional da França, Leonard Bernstein

César Franck (1822-1890) – Sinfonia em ré menor / Camille Saint-Saëns (1835-1921) – Le Rouet d’Omphale, op. 31 – Orquestra Nacional da França, Leonard Bernstein

Peço licença ao mestre e colega PQP Bach para usar, sob minha pessoal e intransferível responsabilidade, o seu selo de distinção, pois esse disco merece: IM-PER-DÍ-VEL!!!

Este precioso registro ao vivo de um concerto no Théâtre des Champs-Elysées, em Paris, é simplesmente uma das mais poderosas gravações desta belíssima sinfonia, a única escrita pelo francês-nascido-na-Bélgica-mas-que-na-época-não-era-Bélgica César-Auguste Jean-Guillaume Hubert Franck, ele mesmo, César Franck (1822-1890).

É um disco que, no meu pequeno altar de devoção pessoal, ocupa um lugar especial tanto por ser uma das minhas gravações favoritas dessa belíssima sinfonia (Furtwängler, Dutoit, Sanderling e Munch são outras que vêm à mente) como também uma das minhas gravações favoritas de mister Leonard Bernstein, que leva a Orquestra Nacional da França às “máximas alturas” do poema de Augusto dos Anjos. Sei que estou soando superlativo, e a idéia é essa mesmo.

Sinfonia em ré menor foi a última das grandes obras compostas por Franck, escrita entre 1886 e 1888 (ele morreria pouco depois, em 1890). É a culminação de um arco criativo que reúne suas obras mais belas e interessantes: o Quinteto para piano em fá menor (1879), o Prelúdio, coral e fuga para piano solo (1884) e a estupenda Sonata para violino e piano em lá maior (1886).

Tudo é tão radiante e tão bem construído que é difícil destacar alguma coisa nessa gravação, já que meio que tudo é digno de nota. Seriam os cintilantes fraseados? A beleza dos timbres? A forma como Bernstein e os franceses encontram um balanço perfeito entre a rica delicadeza artesanal dos detalhes e a opulência grandiosa do todo? Estejam desde já convidados a dividir seus pensamentos e emoções aqui na caixinha de comentários. Sinto que tudo que se possa dizer soa algo banal frente a tamanha façanha artística, mas não seria essa justamente uma das delícias de se escutar música assim, tão finamente tecida?

Das notas do encarte do disco, de Petra Weber-Bockholdt, em tradução livre deste escriba:

“Composta em 1868-1888, a ‘Sinfonia em ré menor’ de Franck é uma obra tardia que o músico concluiu aos 66 anos, dois anos antes de sua morte. Essa sinfonia pode ser descrita como uma das principais obras de sua época, pois reúne características essenciais da música composta naquele período. Ela se baseia na chamada forma cíclica, um método de ligação temática que, embora não tenha sido ‘inventado’ por Franck, deve a ele impulsos essenciais como princípio composicional.

No decorrer da sinfonia, os temas dos vários movimentos se mostram relacionados ou, pelo menos, semelhantes, de modo que podem ser unidos ou – soando simultaneamente – combinados uns com os outros. Essa ligação direta ocorre nessa sinfonia, bem como em muitas outras obras que seguem esse princípio de organização. No Finale, Franck analisa todos os temas da sinfonia com mais ou menos detalhes.

A concentração em determinadas formas temáticas é acompanhada pelo esforço de processá-las artisticamente, de ‘realizá-las’. Ambos são um legado da tradição musical alemã. Em contraste, a obra revela sua origem francesa por meio da mudança frequente de humores e atitudes musicais, que, ao se sucederem, dão a impressão de episódios diferentes. Essa característica está relacionada ao caráter pictórico da música francesa, que é moldada por ideias gestuais.”

Completa o saudoso lado b do disco um pequeno poema sinfônico de Camille Saint-Saëns, Le Rouet d’Omphale, de engenhosa orquestração. Uma daquelas pequenas peças de programa, que antecedem o concerto e, depois do intervalo, uma sinfonia. (arquivos corrigidos, com a inestimável ajuda do nosso querido René Denon!)

Em suma, um discaço, senhoras e senhores!

César Franck (1822-1900)
Sinfonia em ré menor

1.  I – Lento
2. II – Allegretto – attacca
3. III. Allegro non troppo

Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Le Rouet d’Omphale, op. 31

4. Andantino – Allegro – Tranquilo e scherzando

Orchestre National de France
Leonard Bernstein, regência

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Quer fazer os naipes da sua orquestra brilharem? Ask Lenny

Karlheinz

Guiomar Novaes: transcrições & miniaturas, de Bach e Gluck a Villa-Lobos (+ a Fantasia Triunfal de Gottschalk)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 11/5/2010.

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


À medida em que avança a aventura de redescoberta de Guiomar Novaes, iniciada aqui há duas semanas, começo a ter a impressão de que seu legado de gravações é um tanto desigual: algumas são realizações gigantescas, cuja importância se percebe com absoluta certeza de modo intuitivo, mas alcança tão longe que temos dificuldade de explicar em palavras (do que ouvi até agora, é o caso das suas realizações de Chopin, especialmente os Noturnos); já outras são, digamos, meramente grandes…

Temos aqui as 7 peças curtas retiradas do CD Beethoven-Klemperer postado há alguns dias, mais o disco só de peças brasileiras (com certo desconto para Gottschalk) lançado em 1974 pela Fermata – creio que o seu último.

As primeiras parecem ter se firmado em sua carreira como standards no tempo dos discos de 78 rotações, que só comportavam peças curtas. Hoje qualquer pianista “sério” franziria o nariz pra esse repertório: “transcrições de concerto” de um prelúdio para órgão de Bach e de trechos orquestrais de Gluck e Beethoven. Ao que parece, no começo do século XX o fato de serem coisas agradáveis de ouvir ainda era tido como justificativa bastante para tocá-las.

Mas o que mais me surpreendeu foi à abordagem às 3 peças originais de Brahms: nada da solenidade que se costuma associar a esse nome; sem-cerimônia pura! Como também nos movimentos rápidos do Concerto de Beethoven com Klemperer, tenho a impressão de ver uma “moleca” divertindo-se a valer, e me pergunto se não é verdade o que encontrei em uma ou duas fontes: que a menina Guiomar teria sido vizinha de Monteiro Lobato, e este teria criado a personagem Narizinho inspirado nela!

Também me chamou atenção que Guiomar declarasse que sua mãe, que só tocava em casa, teria sido melhor pianista que ela mesma, e que tenha escolhido por marido um engenheiro que também tocava piano e compunha pequenas peças: Otávio Pinto. Casaram-se em 1922, ano de sua participação na Semana de Arte Moderna, ela com 27, ele com 32. Guiomar nunca deixou de tocar peças do marido em recitais mundo afora – nada de excepcional, mas também não inferiores a tantos standards do repertório europeu – e ainda no disco lançado aos 79 anos encontramos as Cenas Infantis do marido, além de uma peça do cunhado Arnaldo (Pregão).

Dados sem importância? Não me parece. Parecem apontar para que a própria Guiomar visse as raízes últimas da sua arte não no mundo acadêmico, “conservatorial”, e sim numa tradição brasileira hoje extinta: a (como dizem os alemães) Hausmusik praticada nas casas senhoriais e pequeno-senhoriais, paralela à arte mais de rua dos chorões, mas não sem interações com esta. Aliás, podem me chamar de maluco, mas juro que tive a impressão de ouvir evocações de festa do interior brasileiro – até de sanfona! – tanto no Capricho de Saint-Saëns sobre “árias de balé” de Gluck quanto no Capricho de Brahms.

Será, então, que podemos entender Guiomar como uma espécie de apoteose (= elevação ao nível divino) da tradição das “sinhazinhas pianeiras”? Terá ela querido conscientemente levar ao mundo clássico um jeito brasileiro de abordar a música?

E terá sido ao mesmo tempo um “canto de cisne” dessa tradição, ou terá tido algum tipo de herdeiro? Não sei, mas se alguém me vem à cabeça na esteira dessa hipótese, certamente não é o fino Nelson Freire e sim o controverso João Carlos Martins!

Para terminar: a vida inteira Guiomar insistiu em terminar programas com a ‘famigerada’ Fantasia Triunfal de Gottschalk sobre o Hino Brasileiro, que, honestamente, não chega a ser grande música. Acontece que, segundo uma das biografias, logo ao chegar a Paris, com 15 anos, Guiomar teria sido chamada pela exilada Princesa Isabel – ela mesma pianista – e teria recebido dela o pedido de que mantivesse essa peça sempre no seu repertório. E, curioso, ainda ontem o Avicenna postava aqui duas peças de Gottschalk como músico da corte de D. Pedro II (veja AQUI).

Será que isso traz água ao moinho da hipótese de Guiomar como apoteose e canto-de-cisne de um determinado Brasil? Bom, vamos ouvir música, e depois vocês contam as suas impressões!

Pasta 1: faixas adicionais do CD “Guiomar-Beethoven-Klemperer”
04 J. S. Bach (arr. Silotti) – Prelúdio para Órgão em Sol m, BWV 535
05 C. W. Gluck (arr. Sgambati e Friedman) – Danças dos Espíritos Bem-Aventurados, de “Orfeo”
06 C. Saint-Saëns: Caprice sur des airs de ballet de “Alceste”, de Gluck
07 J. Brahms – Intermezzo op.117 nº 2
08 J. Brahms – Capriccio op.76 nº 2
09 J. Brahms – Valsa em La bemol, op.39 nº 15
10 L. van Beethoven (arr. Anton Rubinstein) – Marcha Turca das “Ruínas de Atenas”

. . . . BAIXE AQUI – download here 

Pasta 2: disco “Guiomar Novaes”, Fermata, 1974
a1 Francisco Mignone – Velho Tema (dos Estudos Transcedentais)
a2 Otávio Pinto – Cenas Infantis
a3 Marlos Nobre – Samba Matuto (do Ciclo Nordestino)
a4 Arnaldo Ribeiro Pinto – Pregão (de Imagens Perdidas)
a5 J. Souza Lima – Improvisação
a6 M. Camargo Guarnieri – Ponteio
b1 H. Villa-Lobos – Da Prole do Bebê: Branquinha, Moreninha
b2 H. Villa-Lobos – O Ginete do Pierrozinho (do Carnaval das Criancas)
b3 H. Villa-Lobos – Do Guia Prático: Manda Tiro, Tiro, Lá; Pirulito; Rosa Amarela; Garibaldi foi a Missa
b4 L. M. Gottschalk – Grande Fantasie Triomphale sur l’Hymne National Brésilien Op. 69

. . . . BAIXE AQUI – download here 

Ranulfus

[restaurado com reverência e saudade por seu amigo Vassily em 4/3/2023]

Nelson com Guiomar Novaes. Foto do acervo particular de Nelson Freire, publicada pelo sensacional Instituto Piano Brasileiro

40 Most Beautiful Arias – Vários Intérpretes e Compositores – Warner Classics ֍

40 Most Beautiful Arias – Vários Intérpretes e Compositores – Warner Classics ֍

 

 

40 Mais Belas Árias

 

 

 

Estes dois discos têm me acompanhado no caótico trânsito de minha cidade nas últimas semanas e me dado tanto prazer que decidi fazer a postagem. Se o carro para no sinal, na geleia geral do trânsito ou no posto de gasolina, abro os vidros e deixo que essa exuberante arte do excesso se espalhe e impressione as pessoas, que me olham com alguma curiosidade.

As óperas têm estado presentes no blog, especialmente nas edições completas (e vastamente comentadas), mas aqui temos uma proposta diferente – coleção de árias – o crème de la crème. Veja o título: 40 Most Beautiful Arias – 40 Mais Belas Árias !

Há uma certa simplificação, pois que nem todas as faixas são árias, há alguns duetos também.

Eu confesso que costumava olhar com um certo desdém para este tipo de edição, por parecer um pouco populista, mas rendi-me à efetividade do produto, adorei ouvir essas belezuras, uma depois da outra… Realmente, é fácil criticar este tipo de lançamento, inclusive por deixar esta ou aquela outra ária de fora, pois que há muitas tantas tão bonitas, mas no fim dos discos chegamos ao entendimento de porque tantas pessoas se apaixonam por ópera. Além disso, a alternância tanto dos tipos de vozes quanto de estilos funcionou bem para mim.

No pacote há 18 compositores representados e o campeão é Puccini, com 11 árias, seguido de Mozart e Verdi, cada um com 5 números. Bizet tem 4 faixas, Handel 2 e o resto, uma cada.

Na escolha dos intérpretes os produtores devem ter tido um olho nos contratos, de forma que se poderia dizer que este ou aquele intérprete teria sido uma melhor opção. Mas não nos prendamos a essas coisas e se deixe levar pela onda da ópera, no que ela tem de melhor.

Há uma certa aura em torno de música clássica, ópera em especial, deixando uma impressão de inacessibilidade, que é necessário ter um gosto adquirido para de fato apreciar, mas isso é falso. As pessoas gostam (sempre gostaram) de ópera. Eu gosto do filme ‘O Feitiço da Lua’ (Moonstruck) pela história, mas também pela cena da ópera. O mocinho do filme (Nicholas Cage, quando jovem) é um padeiro que ama ópera e consegue levar a mocinha (Cher, a noiva de seu irmão mais velho) para uma noite na ópera. Mas não é um teatro qualquer, é o Metropolitan! A cena transmite toda a excitação e expectativa que antecede o espetáculo e mostra como as pessoas se envolvem com a apresentação. Pois bem, nem precisa vestir sua roupa de domingo, apenas ouça e deixe-se encantar pela magia dessas peças.

Moonstruck – Loretta e Ronny vão à Opera

As estrelas do disco:

Disco 1

Nessun dorma (Ninguém durma) – ária do Ato III de Turandot (1926), de Giacomo Puccini. A princesa Turandot decretara que ninguém poderia dormir na cidade de Pequim até o nome do príncipe (Calaf) lhe ser revelado. Calaf havia concordado que morreria caso seu nome fosse descoberto antes do amanhecer. Ele canta certo de que o esforço será em vão e que ao amanhecer ele mesmo dirá seu nome à princesa ganhando assim a sua mão em casamento. O papel é de um tenor. Neste disco, a ária é cantada por Placido Domingo que teve uma voz maravilhosa…

Turandot, no Met…
Carmen foi uma ópera revolucionária

L’amour est un oiseau rebelle (O amor é um pássaro rebelde) – Habanera – Ária do Ato I de Carmen (1875), de Georges Bizet. A ária é cantada pela própria protagonista, ao sair do trabalho, na fábrica de charutos. Carmen é a própria sedução, falando sobre o amor e as loucuras de amar. O papel é escrito para um mezzo-soprano, e a intérprete é Julia Migenes. Carmen é uma ópera especial entre todas, não só pela música maravilhosa, mas pela audácia dos temas e, é claro, termina em tragédia.

Una furtiva lacrima – ária de L’elisir d’amore (1832), ópera de Gaetano Donizetti, cantada por Nemorino, um jovem camponês. Ele está cheio de confiança por ter tomado a segunda dose da Poção do Amor (na verdade, apenas vinho) e esnoba todas as belas da vila, reunidas e interessadas nele devido à fortuna que acabara de herdar. Entre elas está Adina, que fica magoada com sua indiferença e sai. Nemorino assim descobre que ela está interessada nele e canta sua alegria por descobrir que ela o ama. Aqui o tenor é Roberto Alagna.

Je dis que rien ne m’épouvante (Posso dizer que nada me assusta…) – ària de Carmen, cantada por Micaëla, uma jovem da vila de Don José e que está apaixonada por ele. Carmen mete Don José em tantas confusões que a ele só resta unir-se aos contrabandistas (Dancaïre e Remendado, ótimos nomes…) que vivem escondidos nas montanhas. A pobrezinha Micaëla vai a sua procura e para afugentar seu próprio medo, canta essa canção.

Bizet

Au fond du temple saint também é de Bizet, mas da ópera Les pêcheurs de perles (1863) e não é uma ária, é um dueto. Os personagens são Nadir e Zurga, dois vértices de um (surpresa) triângulo amoroso. Os cantores aqui são Jerry Hadley e Thomas Hampson.

Ombra mai fu (também conhecida como Largo de Handel) – é uma ária da ópera Xérxes (1739), de Georg Frideric Handel. Muito conhecida, a ária é cantada por Xérxes para uma árvore, um plátano, louvando suas maravilhas… Aqui Xérxes é a cantora Jennifer Larmore.

When I am laid in earth – é um lamento cantado por Dido, na ópera Dido and Aeneas (década de 1680) de Henry Purcell. O sem-coração do Aeneas se apaixona por Dido, uma rainha, mas deve retornar à sua pátria e a abandona. É claro que ela vai se matar por isso, mas não sem antes nos cantar este maravilhoso lamento… Remember me, remember me, but ah! forget my fate! Aqui o lamento é da maravilhosa Véronique Gens.

Voi che sapete che cosa è amor – ária da ópera Le Nozze di Figaro (1786) do cara que sabia de tudo sobre ópera, Wolfgang Amadeus Mozart. A ária é cantada por Cherubino, um jovem pajem que vive apaixonado por todas as mulheres da ópera e canta para elas essa linda canção sobre o amor de dentro de seu uniforme militar… É claro que o papel é sempre de uma cantora (contralto) e aqui é a spettacolare Cecilia Bartoli.

Soave sia il vento – duetto de Così fan tutte (1790), outra do grande Mozart. Esta ópera é sobre (in)fidelidade no amor – rola uma aposta e dois casais serão submetidos a uma série de provas. Os mocinhos partem em um barco (de mentirinha, é claro) e as mocinhas, Dorabella e Fiordiligi, junto ao cético Don Alfonso, dão adeusinhos a eles, desejando que bons ventos os levem… As cantoras aqui são as famosas Kiri Te Kanawa e Frederica von Stade, que leva nobreza até no nome.

Mon coeur s’ouvre à ta voix – ária da ópera Samson and Delilah (1877) de Camille Saint-Saëns. Não consigo pensar nessa ópera sem lembrar dos filmes de Cecil B. DeMille, com Victor Mature e a deslumbrante Hedy Lamarr (deve ser um lance de numerologia, esse nome). Mas, voltando ao assunto, temas bíblicos como esse eram usados para um bom libreto, e essa ária é o momento no qual Dalila encanta e seduz o povero Sansão. A cantora aqui é o mezzo-soprano Olga Borodina e no finalzinho da ária o tenor José Cura da a voz a um balbuciante Sansão.

Nossa foto é apenas ilustrativa…

Pourquoi me réveiller, ária da ópera Werther (1887), de Jules Massenet. Você provavelmente sabe, Os Sofrimentos do Jovem Werther é um livrinho escrito por Goethe contando a história do mísero Werther, que está apaixonado pela Charlotte, que o ama de volta, mas está casada com outro homem. Sofrência no úrtimo com o terrível desfecho, suicídio do pobrezinho. O livro é um clássico, dizem autobiográfico (menos a parte do suicídio…) e gerou uma onda de suicídios nos dias de seu lançamento. Nesta ária, Werther lembra-se, ao lado de Charlotte, das suas leituras de poesias… O cantor é o tenor Jerry Hadley.

La donna è mobile, canzone do ato III, de Rigoletto (1851) ópera de Giuseppe Verdi. Essa é uma dessas óperas que você precisa ouvir pelo menos uma vez. Aqui o Duque de Mantua, um grande mulherengo, a là Don Giovanni, canta disfarçado de soldado está linda ária com palavras nada altaneiras sobre o caráter mundano das mulheres… O tenor aqui é Richard Leech.

Canção da Lua é uma ária da ópera Rusalka (1901), de Antonín Dvořák, mais conhecido pelo seu belíssimo Concerto para Violoncelo e pela Sinfonia ‘do Novo Mundo’. Rusalka conta a história de uma ninfa aquática que se apaixona por um humano. Aqui ela implora à Lua que revele ao príncipe (claro que o humano seria um príncipe…) o seu amor. A popularidade da ária sobrepujou a ópera e faz parte do repertório de grandes sopranos. Aqui está a cargo de  Eva Urbanová.

Un bel di é uma ária de nosso campeão Puccini, da ópera Madama Butterfly (1904). Cio-Cio-San, a Madame Butterfly, espera já há três anos a volta de seu marido americano. Sua empregada Suzuki tenta convence-la que ele não retornará, mas ela crê na volta dele – Un bel di, vedreno o barco chegando e tal… Aqui a cantora é Cristina Gallardo-Domâs.

 

Donna non vidi mai é uma ária da ópera Monon Lescaut (1893), de (ta dã…) Puccini. O jovem cavaleiro Renato des Grieux acaba de conhecer e se apaixonar por Manon Lescaut. Desafortunadamente ela deve atender ao chamado de seu irmão, mas promete retornar. Ficando sozinho des Grieux canta nesta ária todo o seu amor por Manon. Quem empresta a voz a des Grieux aqui é José Cura.

Brindisi, de outra maravilhosa ópera de Verdi. Mais uma que precisa ser ouvida – La Traviata (1853). Alfredo, o mocinho da ópera, é convencido por Gastone e Violetta, a mocinha, a exibir sua voz. Ele então canta esta Canção de Brindar. Na gravação Alfredo é Neil Shicoff.

La Divina interpretou Tosca como poucas…

Vissi d’arte é a ária! Como todas as próximas neste disco, é de Puccini, da ópera Tosca (1900), talvez a ópera das óperas. A mocinha é ela mesma uma cantora de ópera (o cara era bom). Amor e música – as razões de viver de Tosca (Vissi d’arte = Eu vivo para a arte). A primeira cantora a cantar no papel de Tosca foi Giuditta Pasta, a mais famosa cantora lírica do século XIX. Foi Desdemona em Otello e teve três grandes óperas escritas para ela – Anna Bolena, La Sonnambula e Norma, na qual está a ária Casta Diva, que faz parte do segundo CD. Foi a partir daí que se passou a chamar essas mega artistas de Diva. Giuditta Pasta foi a primeira Diva! Aqui a Diva é Kiri Te Kanawa.

Che gelida manina (Que mãozinha gelada!) ária cantada por Rodolfo para Mimi, quando eles se encontram pela primeira vez. Eles são os protagonistas de mais uma ópera emblemática, La Bohème (1896), de (adivinhe) Giacomino Puccini. Ele aproveita para dizer que está apaixonado por ela. Aqui, o Rodolfo é o ótimo José Carreras.

Si, mi chiamano Mimi é da mesma ópera, mesmo momento. Rodolfo acabou de se declarar a Mimi e pede que lhe fale algo sobre ela. Bom, ela então lhe diz (cantando lindamente) que a chamam Mimi, apesar de seu nome ser Lucia. Ah, o amor! Mimi aqui é interpretada pela espetacular Barbara Hendricks.

O soave fanciulla – Depois dessas duas árias, os enamorados se reúnem nesse dueto que encerra o Primeiro Ato da ópera La Bohème. De novo, José Carreras e Barbara Hendricks são Rodolfo e Mimi.

Disco 2

O mio babbino caro (cuidado, não é ‘bambino’!) é uma ária famosa de uma (não tão famosa) ópera de um ato de Puccini, chamada Gianni Schicchi (1918). A ária é cantada por Lauretta, que implora a seu pai (babbino) – Ganni Sichicchi – que a ajude casar-se com o amor de sua vida, Rinuccio. Bom, nem os nomes ajudam muito, mas a ária é daquelas que está no repertório de todas as grandes cantoras. Aqui, Lauretta é interpretada por Cristina Gallardo-Domâs.

Ebben? Ne Andrò Lontana é uma ária da ópera La Wally (1892), escrita por Alfredo Catalani. Essa ária é cantada pela heroína, quando ela decide sair de casa para sempre. Bom, ela é uma garota tirolesa que morre jogando-se em uma avalanche de neve… Pois é, vá entender libretos de óperas. A cantora aqui também é Cristina Gallardo-Domâs.

Les Contes d’Hoffmann, no Met!

Barcarolle é um dueto para soprano e mezzo-soprano de Les Contes d’Hoffmann (1881), a última ópera de Jacques Offenbach. Offenbach foi ótimo violoncelista e compôs inúmeras operetas de enorme sucesso. Essa Barcarolle tem uma das melodias mais populares do mundo e aposto como você vai se lembrar de já tê-la ouvido antes. Aqui as intérpretes são Jennifer Larmore e Hei-Kyung Hong.

La fleur que tu m’avais jetée é outra pérola de Carmen, de Bizet. A canção da flor é um dos momentos mais líricos da ópera e traz o motivo do destino. Don José aqui é interpretado por Placido Domingo.

Puccini

Signore, ascolta! É uma ária de Turandot, que como você já sabe, é de Puccini. A ária é cantada por Liu, uma escrava, para o príncipe Calaf, por quem está secretamente apaixonada! Ela o alerta para não arriscar sua vida pela fria princesa Turandot… Liu aqui é interpretada por Kiri Te Kanawa.

Un di felice é um dueto do primeiro ato da espetacular La Traviata (1853) de Giuseppe Verdi. Alfredo e Violetta cantam o tema mais famoso da ópera, que aqui são interpretados por Neil Shicoff e Edita Gruberova.

Dôme épais le jasmin – dueto da ópera Lakmé (1883), de Léo Delibes, cantado por Lakmé e sua serva Mallika, enquanto vão colher flores às margens de um rio. Um destes temas que são maiores do que a própria ópera, assim como a Barcarolle, de Offenbach. Aliás, cantados aqui pelas mesmas intérpretes, Jennifer Larmore e Hei-Kyung Hong.

Porgi amor – Cavatina do Segundo Ato de Le Nozze di Figaro (1786), de Mozart. A condessa, Rosina, só em seu quarto, lamenta a infidelidade de seu marido, o Conde de Almaviva. Ária curta, sem repetições, na qual a quase impossível simplicidade de Mozart transborda numa pequena joia. Aqui a condessa é Lella Cuberli.

Esse sabia de tudo e mais ainda, sobre óperas…

Dalla sua pace – Ária da ópera Don Giovanni (1787), composta pelo divino Mozart, e é cantada por Don Otavio, noivo de Donna Anna. Eu tinha um amigo que o chamava Don Otário, pois o personagem é assim, um dois de paus, nada faz de interessante, mas é o tenor da ópera, onde o Don, Leporello e Masetto são todos baixo-barítonos. Isso sem contar o Comendador, que é um baixo à la Ghiaurov.  Dalla sua pace foi composta para a apresentação da ópera em Viena, depois do sucesso em Praga, pois o tenor do dia não conseguia cantar a segunda ária de Don Otavio – Il mio tesoro – cuja parte …cercate…, é de matar de difícil. Aqui a bela Della sua pace está aos encargos de Hans Peter Blochwitz.

Casta Diva, assim como Vissi d’arte, é uma das mais famosas árias do repertório de soprano. A ópera é Norma (1831), de Bellini. Não é o capitão da Seleção Brasileira de Futebol de 1958, cuja estátua se encontra em frente ao Maracanã, mas Vincenzo Bellini, que escreveu o papel para Giuditta Pasta, a primeira das Divas. Aqui, a intérprete é Maria Callas, a Diva do século XX. O que realmente torna uma cantora uma Diva é a paixão que coloca em suas interpretações, assim como seu senso teatral.

 

Lascia ch’io pianga – Retornando no tempo, essa é uma ária da ópera Rinaldo (1705), de Handel. Como você pode imaginar, este é um lamento, construído sobre uma sarabanda. Logo após se casar com Rinaldo, Almirena é raptada por Armida. Ela está só no jardim de Armida e canta este seu lamento. A cantora na gravação é Marilyn Horne.

J’ai perdu mon Eurydice – essa memorável ária é da versão em francês de Orpheé et Eurydice (adaptada em 1774 da versão em italiano). Em italiano é Che faro senza Euridice (1762). Uma das mais lindas melodias colocadas em uma ária. Inesquecível mesmo após a primeira audição. A cantora aqui é Susan Graham.

Bein Männern, welche Liebe fuhlen – é um dueto da ópera Die Zauberflöte (1791), de Mozart. Pamina e Papageno cantam juntos um dueto sobre o amor em geral, mas não cantam um para outro, pois que não são parte de um par amoroso. Nesta gravação os cantores são Rosa Mannion e Anton Scharinger

Celeste Aida é a ária na qual Radamés, escolhido para comandar os invasores etíopes, canta sua esperança de ser o grande vencedor para assim ganhar também o amor de Aida. A ópera Aida (1871), de Giuseppe Verdi, é uma daquelas obras que é reconhecida por todos e as suas montagens podem envolver quase um universo. Aqui Radamés está ao encargo de Placido Domingo.

Chi il bel sogno di Doretta, da ópera La Rondine (A Andorinha) (1917) de Puccini. Nesta ária a protagonista Magda conta como Doretta se apaixonou por um estudante. Na ópera, por sua performace, Magda ganha um colar de pérolas, que aqui vai para Kiri Te Kanawa.

Quizz do PQP Bach: Qual é a série de cuja trilha sonora esta ária faz parte?

Amor ti vieta é uma ária da ópera Fedora, de Umberto Giordano. Como parte de seu plano de vingança, Fedora (1898) seduz o Conde Loris Ipanov. Nesta ária eles se encontram em uma festa e ele diz a ela que realmente a ama. O conde aqui é Placido Domingo.

Es lebt eine Vilja (Vilja-Lied) é da ópera Die Lustige Witwe (1905), de Franz Lehár. Em sua festa Hanna conta a história de um espírito da montanha, uma Vilja, que vaga por lá e seduz os caçadores com sua beleza. A cantora aqui é Karita Mattila.

E lucevan le stelle é do Terceiro Ato de Tosca, de Puccini. Mario Cavaradossi é o mocinho (literalmente) da ópera, um jovem e liberal pintor, amante de Tosca. Nesta belíssima ária Cavaradossi troca sua última posse, um anel, para que um guarda leve uma carta para sua amada Tosca. Enquanto ele escreve a carta, canta seu amor por Tosca e pela vida. Mais uma vez, a voz linda de Placido Domingo.

Verdi

Ave Maria é uma ária da ópera de maturidade de Verdi, Otello (1887). Desdemona reza à Virgem Maria um pouco antes de Otello entrar e cego de ciúmes, matá-la. Pois é, feminicídio é comum nas óperas… A Desdemona da vez é Cristina Gallardo-Domâs.

Non più mesta accanto al fuoco é da ópera La Cenerentola (1817), de Gioacchino Rossini. Ele mão poderia faltar , este genial compositor. Essa ópera é baseada no conto de fadas Cinderela, e foi composta em apenas 24 dias. Este é um dos momentos finais da ópera, onde a Cinderela canta que já não fica mais triste perto do fogo. Muito virtuosismo, mas a melodia aqui é a mesma de uma ária cantada pelo Conde Almaviva no final de O Barbeiro de Sevilha. Não por pouco que Rossini tinha fama de preguiçoso. Compunha deitado em sua cama. Se a folha em que estava escrevendo caísse, em vez de pegá-la do chão, ele começava tudo novamente em uma outra mais à mão. A cantora aqui é Jennifer Larmore.

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Acredito que Ammiratore gostaria desta postagem.

Faça você também a experiência do carro…

Aproveite!

René Denon

Resposta do Quizz:

 

Exotisme, sonorités pittoresques – Peças para Piano – Ludmilla Guilmault & Jean-Noël Dubois ֍

Exotisme, sonorités pittoresques – Peças para Piano – Ludmilla Guilmault & Jean-Noël Dubois ֍

Diversos Compositores

Peças para Piano a duas ou

a quatro mãos

Ludmilla Guilmault

Jean-Noël Dubois

 

Este disco está a um passo de ser um disco de gatinhos. Para quem teve o privilégio de viver o suficiente sabe que havia discos de (capas com) gatinhos, recheados com os melhores movimentos de música ‘clássica’, retirados do acervo (monumental) da gravadora Philips.

É claro que o resultado costumava ser uma coleção, uma antologia com os melhores momentos, mas que assim reunidos poderia resultar de uma Dança do Sabre, de Katchaturian, surgir após a Ária da Suíte Orquestral No. 3, de Bach… e ainda, a tal endiabrada dança dos furiosos guerreiros anteceder o (possivelmente) mais famoso movimento de uma Suíte Francesa – Clair de Lune, de Debussy. Mas os discos de gatinhos vendiam muito bem e levaram as sementes da música clássica para muitos futuros apreciadores.

Aqui temos assim uma coleção de ‘melhores momentos’, mas com um repertório que guarda uma maior afinidade, girando em torno de peças de música francesa ou próxima, para piano a duas ou a quatro mãos. Os dois intérpretes, Ludmilla Guilmault e Jean-Noël Dubois intercalam-se nos solos e eventualmente se juntam em algumas das faixas.

Este disco reúne peças de compositores de grande renome com peças brilhantes de compositores menos conhecidos e me surpreendeu pela sua contagiante amabilidade e alegria. Minha simpatia foi totalmente conquistada pelas duas peças de Séverac, que ocupam as faixas dois e três. Essas duas peças interpretadas a quatro mãos revelam lindas sonoridades e um frescor contagiante.

Assim, sem qualquer pudor de esbanjar alegria, o disco desfila peças de Debussy – alguns prelúdios, a já mencionada Clair de lune e dois irresistíveis movimentos da Petit Suite. A escolha entre os muitos prelúdios é bem interessante e diversa. O disco começa calmamente com Voiles, depois haverá poesia de Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir, as brincadeiras da Serenata interrompida e completará com as pirotecnias de Feux d’artifice.

Há duas nobres e sentimentais valsas de Ravel, assim como os tristes pássaros e dois deliciosos números da Suíte da Mamães Gansa.

Não poderia faltar alguma coisa bem-humorada da música de Camille Saint-Saëns, dois movimentos do Carnaval dos Animais: os contrastantes Hémiones e Aquarium. Fauré inaugura o clima fandango espanhol com o espetacular Le pas espagnol, da Suíte Dolly, e o clima continua com duas peças de Manuel de Falla – uma dança espanhola (de La Vida Breve) e a Dança Ritual do Fogo (de El Amor Brujo).

Para fechar o cortejo, em clima de bis, a Marcha Turca de Mozart, que em certos trechos ganha um reforço sonoro…

Um disco para ser ouvido pelo prazer das lindas peças e que para algumas pessoas pode servir para despertar o interesse por este tipo de música, assim como no passado fizeram os discos de gatinhos.

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. Voiles

Ludmilla Guilmault, piano

Déodat de Séverac (1872 – 1921)

En Vacances, Vol. 1
  1. Où l’on entend une vieille boîte à musique
  2. Valse romantique

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Valses nobles et sentimentales, M. 61
  1. Assez lent, avec une expression intense
  2. Vif

Ludmilla Guilmault, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir

Ludmilla Guilmault, piano

Gabriel Fauré (1845 – 1924)

Dolly, Op. 56
  1. Le pas espagnol

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Camille Saint-Saëns (1835 – 1921)

Le Carnaval des Animaux, R. 125
  1. Hémiones
  2. Aquarium

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. La Sérénade interrompue

Ludmilla Guilmault, piano

Suite Bergamesque, L. 75
  1. Clair de lune

Jean-Noël Dubois, piano

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Miroirs, M. 43
  1. Oiseaux tristes

Ludmilla Guilmault, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Petite Suite, L. 65
  1. En Bateau
  2. Ballet

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Ma Mère l’Oye, M. 60
  1. Laideronette, Impératrice des Pagodes
  2. Les entretiens de la Belle et la Bête

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Manuel de Falla (1876 – 1946)

La Vida Breve, G. 35
  1. Spanish Dance No. 1

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Claude Debussy (1865 – 1918)

Préludes, Livre 2, L. 123
  1. Feux d’artifice

Jean-Noël Dubois, piano

Manuel de Falla (1876 – 1946)

El Amor Brujo
  1. Danza Ritual del Fuego

Ludmilla Guilmault, piano

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Piano Sonata No. 11 in A Major, K. 331
  1. Alla Turca (Allegretto)

Jean-Noël Dubois, piano

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Plus d’infos sur le ”Exotisme, Sonorités pittoresques” Concert-spectacle pour piano solo et à 4 mains par le Duo Cziffra à Paris

Dans ce choix de répertoire que j’ai choisie de Debussy, ravel, Fauré, Saint-Säens, séverac, De Falla, Mozart sont des compositeurs qui nous font voyager par leur couleur locale de leur nouveaux timbres pianistiques avec notamment ce prélude les Sons et les Parfums de Debussy, des accords qui habillent des harmonies voluptueuses au rythme impressionnisme.

L’odeur hispanisante.

Exotisme exprime pour moi une harmonie du soir, propice à l’évocation d’un lointain passé.

Exotisme, des images qui semblent solliciter, l’ouïe, la vue, le toucher, l’odorat, établissant en musique ces correspondances ténues que Baudelaire, le premier devina en poésie.

Des sensations de couleurs d’exotisme.

Des odeurs d’oeuillet et d’arguardiente, une atmosphère de castagnettes avec la Sérénade Interrompue de Claude Debussy.

Ces pièces orientales de Ravel, Laideronette, impératrice des pagodes pour piano à 4 mains nous évoque ces pays lointains, ce dépaysement par le recours au patrimoine musical de chaque compositeur.

Falla tient à faire son miel des fleurs du folklore.

Falla, c’est l’Andalousie et son flamenco, des voluptueux jardins andalous, des Nuits à l’âpre.

Séverac, possède une sonorité charnue, couleur en taches plus vives, en pâte plus épaisse, ce goût des échelles modales. Il nous conte les paysages traversés, inspiration de sa chère Méditerranée.

Site web : http://www.ludmilla-guilmault.com

Aproveite!

René Denon

Camille Saint-Säens (1835-1921): Sinfonia Nº 3 (do Órgão) e outras peças orquestrais

“De uma hora para outra, na última quarta-feira, fãs e pessoas que não faziam ideia de quem era X.X. partiram para o abraço coletivo.” Essas palavras, escritas por Zeca Camargo após a morte de um cantor sertanejo com carreira curta e de pouca relevância, renderam a ele um processo e ele teve que pagar indenização. Está proibido falar mal de sertanejo, pelo jeito.

Em todo caso, esse tipo de comoção não é novidade. Em 1828, um ano após a morte de Beethoven, sua 5ª Sinfonia estreou em Paris, com três execuções naquele ano. Como relata Berlioz, houve aplausos homéricos, risos, uma cantora teve um ataque de nervos e precisou sair da sala, um velho militar gritou “C’est l’Empereur!”

Estava iniciado no país do croissant um culto a Beethoven que duraria muitas décadas. Balzac, segundo seus biógrafos, ficou fascinado por essa mesma 5ª Sinfonia ao ouvi-la em 1834. Em uma carta ele confessou ter ciúmes de Beethoven, de Michelangelo, “enfim tudo aquilo que foi grande e solitário me comove.” (Carta a Mme. Hanska, 1837).

Balzac, agora na boca de um personagem no romance Gambara, se mostra um sensível ouvinte do mestre de Bonn:
“Em outros compositores, as partes orquestrais só se entrelaçam pra produzir o efeito do momento. Em Beethoven, os efeitos são distribuidos como previamente, as partes seguem ordens no interesse geral, subordinadas a um plano.”

Essa germanofilia dos franceses duraria até a virada do século, quando a geração de Debussy começou a achar as orquestrações de Wagner e de Mahler o cúmulo do mau gosto. Em 1914, quando começa a 1ª Guerra, o velho Saint-Saëns, aos 78 anos, é um dos defensores de um boicote total à música alemã. Mas se vamos falar da “Sinfonia com órgão”, estamos falando de um Saint-Saëns bem mais jovem, em 1886.

Esse Saint-Saëns mais jovem era herdeiro direto dessa Beethoven-mania e foi chamado várias vezes o Beethoven francês. Vários ecos beethovenianos aparecem em sua mais famosa sinfonia, a começar pelo uso de temas curtos que serão cuidadosamente desenvolvidos ao longo dos movimentos. Além disso, o caminho tonal da 3ª Sinfonia de C.S.S. é o mesmo da 5ª de L.v.B.: começa em um dó menor trágico e misterioso, para terminar em um dó maior triunfante com acordes repetidos. Embora a sinfonia do francês comece mais suave (como a 4ª e a 6ª de L.v.B.) e a 5ª do alemão já comece chutando a porta com força.

Se a primeira grande sinfonia francesa é a Symphonie Fantastique de Berlioz (composta em 1830, portanto após a entrada triunfal das Sinfonias de Beethoven em Paris descrita acima pelo próprio Berlioz), a 3ª Sinfonia de Saint-Saëns é sem dúvida a grande sinfonia francesa no estilo de Beethoven.

Já ia me esquecendo do órgão, que vem sempre com destaque na capa dos discos! Realmente o órgão, com sua aparição triunfal no movimento final, gera uma surpresa majestosa. Na França da época de Saint-Saëns, houve uma grande renovação do interesse pelo órgão: após vários serem destruídos ou apodrecerem no tenso período pós Revolução de 1789, a partir da década de 1840 inúmeros órgãos foram reconstruídos de forma totalmente nova, associada a inovações mecânicas criadas no século XIX, principalmente pelo francês Aristide Cavaillé-Coll (1811-1899). Em órgãos como os de Saint Sulpice e Sacré-Coueur (Paris), Saint-Denis, Rouen, mas também na Lapa, Rio de Janeiro, e em Buenos Aires, Cavaillé-Coll inventava jogos harmônicos, buscava novos timbres, novas combinações, preparando assim uma maravilhosa palheta de cores, dando asas à imaginação de compositores como C.Franck, L.Vierne, C.Widor e O.Messiaen.

Saint-Saëns também tem uma obra extensa para órgão solo, incluindo um grupo de seis Prelúdios e Fugas (op.99 e 109) que mostram o quanto sua germanofilia se estendia ao estudo do órgão de Bach. Na sua Sinfonia nº 3, contudo, são reservados ao órgão sobretudo grandes acordes potentes, enquanto a intricada ciência do contraponto é distribuída entre os instrumentos da orquestra.

A gravação com a Filarmônica de Liège acabou de sair do forno e foi Disco do mês da Diapason de janeiro/2022: “Texturas orquestrais calorosas, gravação de notável precisão e definição, sofisticação do conjunto e dos contrastes dinâmicos…” Desde o começo da sinfonia, dá pra ver que o maestro Kantorow busca mostrar os detalhes mais escondidos da obra, ao invés de apostar apenas em grandes efeitos impressionantes. Completando o álbum, temos a Sinfonia em fá maior “Urbs Roma”, composta em 1856 e que o autor excluiu da sua lista de sinfonias com número, que são apenas três.

Camille Saint-Saëns (1835 – 1921):
1-4. Symphony in F major, ‘Urbs Roma’ (1856)

I. Largo — Allegro 10’26
II. Molto vivace 5’39
III. Moderato, assai serioso 11’48
IV. Poco allegretto — Andante con moto 11’00

5-7. Symphony No. 3 in C minor, Op. 78 (1886)
‘Organ Symphony’

I. Adagio — Allegro moderato — Poco adagio 19’03
IIa. Allegro moderato — Presto — 7’19
IIb. Maestoso — Allegro 8’06
Thierry Escaich (Organ of the Salle Philarmonique de Liège, 1890)

Orchestre Philharmonique Royal de Liège
Jean-Jacques Kantorow, conductor
Recorded: 2020

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Como Saint-Saëns estava um pouco sumido aqui do blog, resolvi trazer um bônus de peso: uma outra gravação da 3ª Sinfonia, com a Orquestra de Chicago regida por Daniel Barenboim, enquanto o órgão é o da Catedral de Chartres, tocado pelo famoso organista cego Gaston Litaize. Gravada em 1975, ela se tornou uma das referências, sempre citada por exemplo pela BBC e revista Gramophone. Aqui, temos um órgão mais majestoso ainda, mas alguns detalhes da sutileza da orquestração se perdem. Em resumo: se querem um Saint-Saëns sofisticado, ouçam Kantorow/Liège/2021, se quiserem sobretudo um órgão grande, viril e potente, ouçam Barenboim/CSO/1975. Ambos são ótimos.

O álbum de Barenboim traz ainda algumas obras curtas e interessantes: a Danse Macabre, ou Dança Macabra em português, foi composta em 1871 e é muito famosa com seu ar alegórico sobre a finitude da vida. Liszt escreveu uma versão para piano. Totalmente diferente é o clima de Bacchanale (que quer dizer… vocês sabem), extraído da ópera Sansão e Dalila (1877): aqui, na mesma corrente orientalista que geraria a Scheherazade de Rimsky-Korsakov (1888), Saint-Saëns usa algumas escalas orientais para imaginar muita sensualidade naquela região do Levante, nada a ver com as mulheres de burca que hoje vêm à nossa cabeça. Em Le Déluge (1875) temos um outro poema sinfônico, seria sonhar muito pedir que uma certa emissora de TV utilize essas obras na trilha sonora de suas novelas bíblicas?

Camille Saint-Saëns (1835 – 1921):
1-3. Symphonie No. 3 en ut mineur, Op. 78
Gaston Litaize (Chartres Cathedral Organ)
Chicago Symphony Orchestra
Daniel Barenboim, conductor
Recorded 1975

4. Samson et Dalila, Op. 47: Act III. Bacchanale
5. Le Déluge (poème biblique), Op. 45: Prélude
6. Danse macabre (poème symphonique), Op. 40
Orchestre de Paris
Daniel Barenboim, conductor
Recorded: 1978-1980

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Vai viajar, Camille?

Pleyel

Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes

 

O inesquecível Jascha Heifetz, que completaria hoje 121 anos, adorava jazz. Sua mansão em Beverly Hills recebia músicos de várias vertentes, que frequentemente mergulhavam em jam sessions, e os estudantes para os quais organizava animadas festas em Malibu testemunhavam o mestre improvisar, tanto ao violino quanto ao piano, sobre as canções populares que amava.

Descobrir que o jazz era o xodó de Heifetz me surpreendeu. Afinal, tiete incondicional do gigante desde que o conheci, acostumara-me com seu semblante estoico nas capas de discos, que nada mudava nos tantos filmes em que, para meu assombro, eu o via enfrentar e vencer, impávido, os trechos mais medonhos da literatura violinística. Foi só ao ler suas biografias e, principalmente, assistir aos documentários e aos preciosos registros de suas masterclasses que conheci seu senso de humor, seu rigor cordial para com os alunos e, não menos importante, constatei que ele era um músico extraordinário o bastante para convencer como mau músico, imitando à perfeição um jovem estudante em pânico durante uma prova:

Jascha também foi um contumaz viajante, legando-nos inúmeros mementos que são verdadeiras pérolas do humor involuntário, como essa sua foto duma visita ao México, em que seu tradicional olhar blasé parece nada impressionado com a indumentária local…


… e também um homem corajoso e cidadão muito grato ao país que o acolheu, percorrendo o front europeu a tocar voluntariamente para as tropas aliadas, além de arrecadar, com concertos beneficentes, vultosos valores para os esforços de guerra.

Perenemente acusado por um ou outro crítico de ser um tecnicista frio, indiferente às intenções do compositor, Heifetz é uma deidade de devoção unânime entre seus colegas: dir-se-ia um “violinista dos violinistas”. Ainda assim, mesmo que todos sonhem em tocar como ele, nem tantos acham que devam. Jascha cresceu imbuído das tradições da Velha Escola russa no Conservatório de São Petersburgo, onde foi discípulo de Leopold Auer – aquele mesmo com quem Tchaikovsky se estranhou por conta de seu concerto para violino. Seria inevitável, pois, que seu estilo, moldado por gente do século XIX, pareça-nos um tanto antiquado, a despeito da tanta beleza que tange. Além disso, suas gravações das peças fundamentais do repertório concertístico, normalmente despachadas em velocidade lúbrica, são referências incontestes que poucos violinistas de hoje tentariam imitar: mesmo o próprio ídolo de Heifetz, Fritz Kreisler, após escutar o prodígio de onze anos de idade, afirmou que todos os violinistas presentes no recinto poderiam quebrar seus instrumentos nos joelhos.

Aqui, Kreisler (à direita) relaxa num lago com Heifetz (à esquerda), que se apoia num trapiche feito, provavelmente, da madeira de violinos quebrados.

Em minha desimportante opinião, será através das pequenas peças que a grandeza de Heifetz rebrilhará aos ouvidos dos séculos vindouros. Esta compilação que ora lhes apresento, com algumas dúzias delas, inclui vários de seus números de bis mais famosos, algumas canções folclóricas e várias composições de George Gershwin, que Jascha muito admirava.  Os arranjos, como verão, são quase todos de sua própria lavra e, se privilegiam o timbre inconfundível do mestre e a elegância de seu fraseado, também lhe dão amplas oportunidades para demonstrar seu deleite em tocar, como mais célebre rebento da Velha Escola russa, a música do Novo Mundo em que escolheu viver.


Uma atração em especial para nós, brasileiros, é escutar “Ao Pé da Fogueira”, um dos prelúdios do genial Flausino Valle, aqui abordado por Heifetz numa masterclass.

A grande surpresa, talvez, esteja na última faixa do álbum. Depois de alguns açucarados bombons em que acompanha o cantor Bing Crosby, Heifetz dá-nos a rara oportunidade de escutá-lo ao piano (!), instrumento em que era, por todos os relatos, muito proficiente. Ele toca “When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)”, uma canção que fez sucesso na voz do próprio Crosby, frequentemente pareada com outra, “So Much in Love“. Ainda mais surpreendente é que o autor de ambas, um certo Jim Hoyl, só existia na capa das partituras, pois era tão só o pseudônimo que o próprio Jascha Heifetz (“J.H.”, captaram?) usava para publicar canções populares.

“Um brinde a Jim Hoyl!”

Que a imagem sisuda que dele tiverem liquide-se para sempre, e que a inigualável musicalidade do aniversariante consiga entretê-los tanto quanto espero.

Grato por tanto, Mestre!

In memoriam Iosif Ruvimovich Kheyfets, dito Jascha Heifetz (Vilnius, 2.2.1901 – Los Angeles, 10.12.1987)



Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes

DISCO 1

Samuel GARDNER (1891-1984)

1 – From The Canebrake, Op. 5 no. 1

Arthur Leslie BENJAMIN (1893-1960)
2 – Jamaican Rumba (arranjo de William Primrose)

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
3 – Beau Soir (arranjo de Jascha Heifetz)

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
4 – Pièce en Forme de Habanera (arranjo de Georges Catherine)

Clarence CAMERON White (1880-1960)
5 – Levee Dance, Op. 27 No. 2 (baseada em “Go Down, Moses”)

Mario CASTELNUOVO-TEDESCO (1895-1968)
6 – Figaro, Rapsódia de Concerto sobre “Il Barbiere di Siviglia”, de Rossini

Stephen Collins FOSTER (1826-1864)
7 – Jeanie With The Light Brown Hair (arranjo de Heifetz)

Victor August HERBERT (1859-1924)
8 – À la Valse

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
9 – Humoresques, Op. 101 – No. 1 em Sol bemol maior (arranjo de Heifetz)

Folclore irlandês
10 – Gweedore Brae (arranjo de John Crowther)

Stephen FOSTER
11 – Old Folks at Home (arranjo de Heifetz)

Anônimo
12 – Deep River (arranjo de Heifetz)

Leopold GODOWSKY (1870-1938)
13 – Doze Impressões para violino e piano: no. 12, Wienerissh (arranjo de Heifetz)

Jascha Heifetz, violino
Milton Kaye, piano

Irving BERLIN (1888-1989)
14 – White Christmas

Jascha Heifetz, violino
Salvator Camarata and his Orchestra

George GERSHWIN (1898-1937)
Da ópera “Porgy and Bess” (arranjos de Heifetz)
15 – Summertime
16 – A Woman is a Sometime Thing
17 – My Man’s Gone Now
18 – It Ain’t Necessarily So
19 – Tempo Di Blues (There’s a Boat That’s Leaving Soon for New York)
20 – Bess, You is my Woman Now

Três prelúdios para piano solo (arranjos de Heifetz)
21 – I. Allegro ben ritmato e deciso
22 – II. Andante con moto e poco rubato
23 – III. Allegro ben ritmato e deciso

Jascha Heifetz, violino
Emanuel Bay, piano

DISCO 2

Susan Hart DYER (1880-1922)
1 – An Outlandish Suite, para violino e piano: Florida Night Song

Claude DEBUSSY
2 – Children’s Corner L. 115 – 6. Golliwogg’s Cakewalk (arranjo de Heifetz)
3 – Suite Bergamasque L. 75 – 3. Clair de Lune (arranjo de Alexandre Roelens)

Flausino Rodrigues do VALLE (1894-1954)
4 – Vinte e seis prelúdios característicos e concertantes para violino só – no. 15, “Ao Pé da Fogueira” (arranjo de Heifetz)

Julián Antonio Tomás AGUIRRE (1868-1924)
5 – Huella, Op. 49 (arranjo de Heifetz)

Dmitri Dmitrievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 34 (arranjo de Dmitri Tziganov e Quinto Maganini)
6 – No. 10 em Dó sustenido menor
7 – No. 15 em Ré bemol maior

Edwin GRASSE (1884-1954)
8 – Waves At Play (Wellenspiel) (arranjo de Heifetz)

Sergei Sergeieivich PROFOKIEV (1891-1953)
9 – O Amor das Três Laranjas, Op. 33 – Marcha (arranjo de Heifetz)
10 – Suíte do balé “Romeu e Julieta”, para piano, Op. 75 – Máscaras (arranjo de Heifetz)

Robert Russell BENNETT (1894-1981)
Hexapoda (five studies in Jitteroptera), para violino e piano
11 – Gut-Bucket Gus
12 – Jane Shakes Her Hair
13 – Betty and Harold Close Their Eyes
14 – Jim Jives
15 – …Till Dawn Sunday

Kurt Julian WEILL (1900-1950)
16 – Die Dreigroschenoper – Mack The Knife (Moderato assai) (arranjo de Stefan Frenkel)

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
17 – Souvenir d’un Lieu Cher, para violino e piano, Op. 42 – no. 3: Mélodie em Mi bemol maior

Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
18 – Noturnos para piano, Op. 55 – no. 2 em Mi bemol maior (arranjo de Heifetz)

Christoph Willibald von GLUCK (1717-1784)
19 – Orfeo ed Euridice – Dança dos Espíritos Abençoados (arranjo de Fritz Kreisler)

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
20 – Waldszenen, Op. 82 – no. 7: Vogel als Prophet (arranjo de Heifetz)

Nikolai Andreievich RIMSKY KORSAKOV (1844-1908)
21 – O Galo de Ouro – Hino ao Sol (arranjo de Kreisler)

Alexander Abramovich KREIN (1883-1951)
22 – Dança no. 4 (arranjo de Heifetz)

Johannes BRAHMS (1833-1897)
23 – Danças Húngaras – no. 7 em Lá maior (arranjo de Joseph Joachim)

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
24 – Le Carnaval Des Animaux – Le Cygne (arranjo de Heifetz)

Cecil BURLEIGH (1885-1980)
25 – Six Pictures, Op. 30 – no. 4: Hills
26 – Small Concert Pieces, Op. 21 – no. 4: Moto Perpetuo

Jascha Heifetz, violino
Emanuel Bay, piano


Benjamin Louis Paul GODARD (1849-1895)
27 – Jocelyn – Berceuse (arranjo de Ernest R. Ball)

Hermann LÖHR (1871-1943)
28 – Where my Caravan has Rested  (arranjo de Edward Teschemacher)

Bing Crosby, voz
Jascha Heifetz, violino
Victor Young and his Orchestra


Jim HOYL, pseudônimo de Jascha HEIFETZ (1901-1987)
29 – When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)

Jascha Heifetz, piano

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Querem mais Heifetz? Confiram-no em ação, então, na sua imbatível gravação do concerto de Sibelius (juntamente com o de Glazunov e o segundo de Prokofiev)…

Concertos para Violino de Sibelius, Prokofiev e Glazunov com Jascha Heifetz

… e na frenética leitura do concerto de Beethoven com os sinfônicos de Boston sob Charles Munch:

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Violin Concerto in D – Heifetz, Munch, BSO

PQP Bach, pelo saudoso Ammiratore (1970-2021)

Vassily

 

Fauré / Honegger / Lalo / Saint-Saëns: Four Visions Of France (Müller-Schott, Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, Bloch)

Creio que ouvi mais música francesa em 2021 do que ouvi em praticamente minha vida inteira. Compositores que conhecia apenas de nome me foram apresentados, e puder conferir que havia vida na música francesa além de Debussy, Ravel e Saint-Säens. Claro que falo com relação ao período que compreendia o século do XIX e início do Século XX. E mesmo assim ainda me considero em débito com os três compositores citados acima. Gostaria de ouvi-los mais, e mesmo se eu deixar como projeto de aposentadoria, ainda assim não teria tempo suficiente para ouvir tanta coisa.

As ‘descobertas’ referem-se a Poulenc, Chausson e Fauré, uma trinca que lamento não ter ouvido com tanta atenção até hoje. Claro que poderia me desculpar alegando a falta de acesso a esse material, e que apenas com o advento da Internet consegui conhecê-los e claro, ouvi-los. Tive em um primeiro momento de me curar do vício adquirido ouvindo os compositores alemães e austríacos do Barroco e do Romantismo, e prestando atenção, por exemplo, em Saint-Säens e seu magnífico Primeiro Concerto para Violoncelo, comecei a perceber e entender sua linguagem tão única, tão pessoal.

Este belo CD que ora vos trago é um primor de execução, temos um solista jovem (nasceu em 1976), e que resolveu, assim como eu, ver o que a música francesa tinha a oferecer para si, enquanto violoncelista. O resultado é uma das melhores gravações que já tive a oportunidade de ouvir do Concerto de Saint-Säens, e olha que a concorrência é grande. A maturidade artística de Müller-Schott se sobressai em cada nota que extrai de seu instrumento, seja em peças mais introvertidas, como a ‘Elégie’ de Fauré, em um arranjo para Violoncelo e Orquestra, ou namorando com a modernidade de Honneger em seu Concerto para Violoncelo. O músico não teme em encarar um repertório tão diferente (ouçam a pequena ‘cadenza’ do Segundo Movimento do Concerto de Honneger para poderem apreciar ainda mais sua versatilidade).   

Claro que nessa seleção não poderia faltar Lalo e seu Concerto em Ré menor. Fico feliz ao ver que mesmo após a morte de gigantes como Fournier, Rostropovich ou Starker, as novas gerações vem mostrando a que vieram, preenchendo aquelas lacunas com talento, virtuosismo e amor à causa. Claro que ao nome de Müller-Schott posso acrescentar os nomes de outros jovens talentosos, como Sol Gabetta, Gautier Capuçon, entre outros, e mais recentemente, o formidável Sheku Kanneh-Mason, cujo último álbum quero trazer para os senhores assim que possível.

Então vamos ao que viemos. Espero que apreciem este belíssimo CD, recentemente lançado. Eu gostei muito.

Cello Concerto No. 1 In A Minor, Op. 33, R. 193
Composed By – Camille Saint-Saëns
1 I. Allegro Non Troppo
2 II. Allegretto Con Moto
3 III. Allegro Non Troppo

4 Élégie, Op. 24 (Version For Cello & Orchestra)
Composed By – Gabriel Fauré

Cello Concerto In C Major, H. 72
Composed By – Arthur Honegger
5 I. Andante
6 II. Lento
7 III. Allegro Marcato

Cello Concerto In D Minor
Composed By – Édouard Lalo
8 I. Prélude. Allegro Maestoso
9 II. Intermezzo. Andantino Con Moto. Allegro Presto
10 III. Introduction. Andante. Allegro Vivace

11 Romance In F Major, Op. 36, R. 195 (Version For Cello & Orchestra)
Composed By – Camille Saint-Saëns

Daniel Müller-Schott – Cello
Deutsches Symphonie-Orchester Berlin
Alexandre Bloch – Conductor

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FDP

Diversos Compositores: Günter Wand em Concerto ֍

Diversos Compositores: Günter Wand em Concerto ֍

Haydn • Mozart

Beethoven • Brahms

Tchaikovsky • Sain-Saëns

Günter Wand

 

Houve um tempo em que grandes pianistas e violinistas andavam sobre a terra e dominavam o planeta! Inclusive, foi nesta época que os pianos tiveram que ser reforçados, ganharam tonalidades mais escuras e os violinos eram venerados e conhecidos por nomes próprios ou apelidos. Era o período que nós, os estudiosos do que ficou registrado nas fitas magnéticas da época, mastertapes, chamamos de Período Jurássico.

Sempre que surge um registro novo, algo que se encontrava esquecido em alguma prateleira de algum estúdio ou arquivo de rádio, segue um reboliço, um frisson, um alvoroço nesta comunidade de paleantapeólogos…

Firkušný

Pois o que vos trago nesta postagem é uma série de registros deste tempo passado, mas jamais esquecido… O denominador comum é o regente, ele também uma versão de regente-jurássico, que por diversas vezes apareceu em nossas páginas, mas quase sempre em gravações comerciais regendo sinfonias… Aqui ele faz o papel de regente acompanhante, na maioria das obras – Günter Wand a frente de duas orquestras de rádios alemãs.

Explorador de arquivos jurássicos…

Os solistas, como você pode imaginar, são figuras quase míticas, principalmente pianistas, mas um violinista também, a título de diversidade. Esta conversa toda não deve causar qualquer preocupação entre aqueles que, como eu, ao ouvirem falar de grandes nomes e gravações esquecidas já antecipam chiados e pigarros das plateias, sem contar som encaixotado e tenebroso. Não será necessário colocar colete ou chapéu de antropólogo explorador para se enveredar nos arquivos sonoros, pois que o som é sempre para lá de decente.

Magaloff

Temos quatro concertos para piano, quatro ao todo, iniciando no período clássico e culminando em dois enormes cavalos de batalha.

Nikita Magaloff, conhecido por suas gravações de Chopin, aqui faz as honras a um lindo concerto de Haydn, e Rudolf Firkušný, que conhecemos aqui por outras gravações de concertos clássicos, mais uma vez toca um concerto de Mozart. E um em tonalidade menor…

Gilels

Para o grande Emperor foi escalado o lendário pianista Emil Gilels, que deixou pelo menos três registros comerciais deste concerto. Acompanhado pela Orquestra de Cleveland regida por George Szell em uma delas e outra acompanhado pela Philarmonia Orchestra, regida por Leopold Ludwig. Mas há ainda uma gravação, esta sim bem datada, com orquestra regida por Kurt Sanderling.

Bolet

Como para dar um descanso aos seus solistas, Wand rege uma (linda) Serenata de Brahms, que ensaiou bastante antes de escrever sua Primeira Sinfonia.

Avançando com os concertos, temos o mais conhecido dos concertos para piano, se não o mais amado pelos connoisseurs, o Concerto de Tchaikovsky, interpretado pelo virtuose americano de origem cubana, Jorge Bolet. Sparkling!

Outro americano, este violinista de ascendência italiana, Ruggiero Ricci, interpreta um concerto de Camille Saint-Saëns.

Ricci

Para fechar este cortejo, três lindas aberturas de óperas de Mozart…

Estas gravações foram compiladas de uma caixa na qual havia muitas outras coisas, mas o que eu gostei mais está aqui. Tenho certeza de que cada um entre os leitores poderá encontrar aqui um bom trecho de música para se deliciar e apreciar a arte destes grandes intérpretes. As outras coisas da caixa resolvemos deixar para os outros blogs mais especializados…

Joseph Haydn (1732 – 1809)

Concerto para Piano em ré maior, Hob. XVIII/11

  1. Vivace
  2. Un poco Adagio
  3. Rondo all’Ungarese. Allegro assai

Nikita Magaloff, piano

NDR Sinfonieorchester

Günter Wand

Gravação de 2 de dezembro de 1985, Hamburg Musikhalle

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para Piano em ré menor, Nr. 20,  K 466

  1. Allegro
  2. Romance
  3. Allegro assai

Rudolf Firkušný, piano

Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester (Hoje: WDR Sinfonieorchester Köln)

Günter Wand

Gravação de 13 de setembro de 1969, Köln

Produção: Hermann Lang

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Concerto para Piano Nr. 5 em mi bemol maior, Op. 73 – Emperor

  1. Allegro
  2. Adagio un poco mosso (attacca) & Rondo. Allegro

Emil Gilels, piano

Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester (Hoje: WDR Sinfonieorchester Köln)

Günter Wand

Gravação de 13 de dezembro de 1974, Köln

Direção de gravação: Otto Nielen

Johannes Brahms (1833 – 1897)

Serenata em ré maior, Op. 11

  1. I Allegro molto
  2. II Scherzo, Allegro non troppo
  3. III Adagio non troppo
  4. IV Menuetto
  5. V Scherzo, Allegro
  6. VI Rondo. Allegro

Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester (Hoje: WDR Sinfonieorchester Köln)

Günter Wand

Gravação de 2 de Outubro de 1968

Funkhaus am Wallraff-Platz, Saal 1, Köln

Direção de gravação e som: Otto Nielen

Pyotr I. Tchaikovsky (1840 – 1893)

Concerto para Piano Nr. 1 em si bemol menor, Op. 23

  1. Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
  2. Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
  3. Allegro con fuoco – Molto meno mosso – Allegro vivo

Jorge Bolet, piano

NDR Sinfonieorchester

Günter Wand

Gravação de 13 de novembro de 1985, Musikhalle Hamburg

Produção executiva: Rolf Beck

Camille Saint-Saëns (1835 – 1921)

Concerto para Violino Nr. 3 em si menor, Op. 61

  1. Allegro non troppo
  2. Andantino quasi Allegretto
  3. Molto moderato e maestoso – Allegro non troppo

Ruggiero Ricci, violino

Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester (Hoje: WDR Sinfonieorchester Köln)

Günter Wand

Gravação entre 1 e 5 de dezembro de 1970, Köln

Diretor de gravação: Hans-Georg Daehn

Wolfgang Amadeus Mozart

Aberturas

  1. Così fan tutte K588
  2. Zauberflöte K620
  3. Le Nozze di Figaro K492

Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester (Hoje: WDR Sinfonieorchester Köln)

Günter Wand

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MP3 | 320 KBPS | 488 MB

Nosso selo Jurássico de Qualidade

Aproveite!

Günter Wand regendo uma serenata…

René Denon

Essa foi a cara que o Ruggiero fez quando um de nossos entrevistadores lhe perguntou se ele atuara na série dos Soprano…
Rudolf disse que não estava vendo nenhum outro pianista a sua frente

 

 

 

 

 

 

 

Se você gostou desta postagem, não deixe de visitar:

Brahms & Schubert: Sinfonias // Liszt: Les Preludes – Philharmonia Orchestra & Karajan

Beethoven (1770-1827): Concerto para Piano No. 5, Op. 73 – Emperor – Christoph Eschenbach – Boston SO – Seiji Ozawa

Beethoven (1770-1828): Sinfonias Nos. 5 & 7 – Chicago Symphony Orchestra – Fritz Reiner

 

Camille Saint-Saëns (1841-1904): Integral dos Concertos para Piano

Achei que ia ser um saco ouvir estes concertos — afinal, eles estão normalmente ausentes do repertório sinfônico das grandes orquestras! –, mas me enganei totalmente. Na verdade, adorei ouvi-los. Na verdade, me entusiasmei e achei SENSACIONAL ouvi-los. Os movimentos lentos são belíssimos; os rápidos são atléticos e exatos; a gravação do trio Rogé – Dutoit – LSO é esplendorosa.

E não dá para falar mal do altamente erudito e grande viajante tiozão que CS-S foi. Imaginem que ele tinha impulsos súbitos de viajar e viajava para os lugares mais malucos de um dia para outro, isso numa época em que fazê-lo era complicado. Ele conheceu o Sri Lanka, a Indochina, o Egito e lugares tão exóticos e bisonhos quanto Rio de Janeiro e São Paulo. E isso em 1899! Pior, vocês não acreditar, mas ele foi aos Estados Unidos! Morreu em Argel numa dessas viagens.

Camille Saint-Säens (1841-1904): Integral dos Concertos para Piano

1. Saint-Saëns: Piano Concerto No.1 in D, Op.17 – 1. Andante – Allegro assai 12:25
2. Saint-Saëns: Piano Concerto No.1 in D, Op.17 – 2. Andante sostenuto quasi adagio 10:27
3. Saint-Saëns: Piano Concerto No.1 in D, Op.17 – 3. Allegro con fuoco 5:36

4. Saint-Saëns: Piano Concerto No.2 in G minor, Op.22 – 1. Andante sostenuto 11:26
5. Saint-Saëns: Piano Concerto No.2 in G minor, Op.22 – 2. Allegro scherzando 5:51
6. Saint-Saëns: Piano Concerto No.2 in G minor, Op.22 – 3. Presto 6:50

7. Saint-Saëns: Piano Concerto No.3 in E flat major, Op.29 – 1. Moderato assai – piu mosso (Allegro maestoso) 14:27
8. Saint-Saëns: Piano Concerto No.3 in E flat major, Op.29 – 2. Andante 8:01
9. Saint-Saëns: Piano Concerto No.3 in E flat major, Op.29 – 3. Allegro non troppo 7:39

10. Saint-Saëns: Piano Concerto No.4 in C minor, Op.44 – 1. Allegro moderato – Andante 12:37
11. Saint-Saëns: Piano Concerto No.4 in C minor, Op.44 – 2. Allegro vivace – Andante – Allegro 13:40

12. Saint-Saëns: Piano Concerto No.5 in F, Op.103 “Egyptian” – 1. Allegro animato 11:25
13. Saint-Saëns: Piano Concerto No.5 in F, Op.103 “Egyptian” – 2. Andante 11:48
14. Saint-Saëns: Piano Concerto No.5 in F, Op.103 “Egyptian” – 3. Molto allegro 5:44

Pascal Rogé, piano
London Philharmonic Orquestra
Charles Dutoit

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Vais viajar, Camille?
Vais viajar, Camille?

PQP

Duparc / Fauré / Franck / Hahn / Isserlis / Saint-Saëns: Música para Violoncelo nos Salões de Proust

Duparc / Fauré / Franck / Hahn / Isserlis / Saint-Saëns: Música para Violoncelo nos Salões de Proust

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um tremendo disco, cheio de estilo e beleza. Como escreveu Paulo da Costa e Silva na Piauí:

“As melhores páginas que li sobre música foram escritas por Proust. Nada supera a vitalidade das descrições musicais e da compreensão dos processos da escuta que encontramos no romance. Grandes musicólogos como Leonard B. Meyer, Charles Rosen e Jean Molino não conseguiram, ao que me parece, chegar tão próximo do âmago do mistério musical – e nem grandes filósofos como Schopenhauer e Nietzsche, ou grandes artistas que pensaram a própria arte, como Stravinski e John Cage. Proust não tinha qualquer estudo formal de música. Não sabia ler partituras, desconhecia teorias e não tocava nenhum instrumento. Tinha apenas um ouvido finamente cultivado, antenado com a tradição da música clássica de sua época, indo mais ou menos de Bach a Debussy. E uma sensibilidade descomunal. Sensibilidade e capacidade expressiva por meio da palavra escrita. As reflexões musicais de Proust são tão mais fascinantes por não trazerem a aridez e a pretensão de objetividade das terminologias técnicas. Ele cerca seu objeto com as armas que possui, de modo direto. Está interessado no efeito da música sobre os meandros do ser. É um observador extraordinário desses efeitos, que ele conseguiu não apenas captar, mas transpor no meio específico da linguagem escrita. Vamos supor a música como sendo uma entidade invisível, como de fato é: a escrita de Proust seria um tecido finíssimo que por um breve instante adere perfeitamente à forma dessa entidade, tornando-a visível. Por meio de conceitos ela constrói uma experiência que possui algo de análogo à forma musical – uma escrita musicalizada capaz de emular a própria música. Citei alguns filósofos acima, mas agora me parece que quem mais (e melhor) se aproximou desse modo de pensar sobre música foi Gilles Deleuze, não à toa um proustiano de carteirinha. Talvez, depois de Proust, as mais luminosas páginas sobre música sejam de sua autoria. Adorno também captou a sugestão (era outro grande admirador de Proust), mas a amplidão de seu conhecimento (era pianista e compositor, conhecia bem a teoria musical) talvez o tenha afastado das regiões mais relaxadas do amador, onde a experiência corre um pouco mais livremente, um pouco menos obstruída pelo o que se sabe. Ainda que coalhada de iluminações, a escrita de Adorno não chega a atingir o “estado musical” que caracteriza a prosa de Marcel.

Tudo isso me leva a pensar que o ensaio é a forma textual mais adequada para se aproximar desses misteriosos objetos sonoros, e não o texto acadêmico com pretensões de conhecimento científico – que, ao levar a música para o laboratório, com suas provas e refutações, suas noções de objetividade, acaba quase sempre nos devolvendo um objeto morto. O bonito do ensaio é que ele permite que a música continue viva em seu interior. O que ele traz são, justamente, vislumbres de seu movimento. E nada mais. É diferente de querer fixá-la para o frio exame do microscópio. O ensaio é em si um objeto com vida própria – e o que ele narra é seu encontro com outro objeto qualquer. Proust foi um mestre dessa arte, mas não ficou apenas nisso. Incorporou o ensaio dentro do gênero do romance e, o que é mais incrível, não perdeu de vista o movimento que levava dos detalhes particulares para as generalizações mais abstratas da formulação teórica – ou seja, o movimento que conduz na direção do saber científico. Jean-Jacques Nattiez demonstrou em seu livro Proust musicien como o escritor formula ao longo do romance uma pequena “teoria da comunicação musical”, delineando as três fases perceptivas de uma obra – que começa com impressões vagas, bem ao sabor de Proust; desenvolve para uma relação associativa entre sons, experiências e lembranças; e finalmente, a depender da sofisticação do ouvinte, pode conduzir a uma apreensão das formas puras, do jogo estético das ideias musicais, por assim dizer. Cada uma dessas etapas da escuta musical coincide com um representante histórico, mas curiosamente segue num sentido inverso da história, na direção do passado. Assim, o primeiro momento da escuta, no qual sensações inefáveis prevalecem sobre a definição das formas, encontra um equivalente na música de Debussy, que foi contemporâneo de Proust; o segundo momento é representado pela obra de Wagner, que antecedeu historicamente Debussy; e o terceiro e último tem como paradigma a obra tardia de Beethoven, que antecedeu os dois primeiros. Tais seriam as bases da pequena “teoria musical” do escritor francês. Coloco o termo entre aspas porque Proust não é um cientista. Em nenhum instante sua “teoria” se desvencilha dos fatos concretos que a motivaram; jamais ganha um caráter genérico; por isso, não chega a ser uma teoria. A sugestão de um modelo ordenado de escuta serve apenas para melhor iluminar a complexidade da experiência real – e não para extrair dela um sumo básico, ou os “mecanismos da escuta musical”. Há um impulso na direção do saber científico, mas esse impulso não deve ser consumado. Quando o personagem Swann escuta a sonata de Vinteuil, não se trata apenas de um cérebro interagindo com uma forma sonora organizada; sua experiência é inextricavelmente ligada ao seu momento de vida, à figura da amante Odette, aos sofrimentos amorosos, ao ambiente do salão dos Verdurin, aos fiapos de memória e de reflexões que transitam em sua mente enquanto ouve a peça, etc., etc… Tudo isso faz parte do contexto sempre impuro no qual se dá a experiência musical. Proust até admite ordenar um pouco a bagunça das sensações, baseando-se no modelo científico, mas sem afastá-la demasiadamente do terreno concreto da experiência. Praticou, por assim dizer, uma “ciência suja”, que jamais perde de vista o je ne sais quoi do objeto estético. Que faz com que a música permaneça para sempre viva em suas palavras.

Steven Isserlis e Connie Shih mostram-se dignos de toda esta sensibilidade.

Duparc / Fauré / Franck / Hahn / Isserlis / Saint-Saëns: Música para Violoncelo nos Salões de Proust

01. Hahn: Variations chantantes sur un air ancien

02. Fauré: Romance in A Major, Op. 69
03. Fauré: Élégie in C Minor, Op. 24 (Version for Cello & Piano)

04. Saint-Saëns: Cello Sonata No. 1 in C Minor, Op. 32: I. Allegro
05. Saint-Saëns: Cello Sonata No. 1 in C Minor, Op. 32: II. Andante tranquillo e sostenuto
06. Saint-Saëns: Cello Sonata No. 1 in C Minor, Op. 32: III. Allegro moderato
07. Saint-Saëns: Cello Sonata No. 1 in C Minor, Op. 32: III. Allegro quasi presto (Original Version)

08. Duparc: Cello Sonata in A Minor: II. Lamento

09. Isserlis: Récitatif et chant (After Holmès’s “La vision de la reine”)

10. Franck: Violin Sonata in A Major, FWV 8 (Arr. J. Delsart for Cello & Piano): I. Allegretto ben moderato
11. Franck: Violin Sonata in A Major, FWV 8 (Arr. J. Delsart for Cello & Piano): II. Allegro
12. Franck: Violin Sonata in A Major, FWV 8 (Arr. J. Delsart for Cello & Piano): III. Recitativo-Fantasia
13. Franck: Violin Sonata in A Major, FWV 8 (Arr. J. Delsart for Cello & Piano): IV. Allegretto poco mosso

Steven Isserlis, violoncelo
Connie Shih, piano

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Isserlis e Shih na PQP Bach Proust´s Salon de Paris

PQP

Viva a Rainha! – As Idades de Marthinha: a Oitava Década (2011-2020) [Martha Argerich, 80 anos]

Viva a Rainha! – As Idades de Marthinha: a Oitava Década (2011-2020) [Martha Argerich, 80 anos]

1941-1950 | 1951-1960 | 1961-1970 | 1971-1980 | 1981-1990 | 1991-2000 | 2001-2010 | 2011-2020 | 2021-


Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.


Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto

Johannes BRAHMS (1833-1897)
Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante

Franz LISZT (1811-1886)
Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso

Daniel Rivera, piano II

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Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94

1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto

Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella

Darius MILHAUD (1892-1974)
Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b
6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira

Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos

Daniel Rivera, piano II

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Johannes BRAHMS
1-8 – Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b

Sergei RACHMANINOFF
9-12 – Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17

Franz LISZT
13 – Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor

Johannes BRAHMS (1833-1897)
De Souvenir de Russie, para piano a quatro mãos, Anh. 4/6:
14 – No. 3: Romance de Warlamoff. Con moto (vídeo)

Daniel Rivera, piano II

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Luis BACALOV
1 – “Astoreando”, para dois pianos

Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón

Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón

Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI
(1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón

Ástor PIAZZOLLA
5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”-  “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón

Néstor MARCONI
6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón

Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón

Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)

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Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012


Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).

VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS

1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh)
Evgeny Kissin, piano

02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks)
Alissa Margulis, violino
Nathan Braude, viola
Polina Leschenko, piano

3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky)
Sarina Cohn, voz
Philip Catherine, guitarra
Oscar Németh, baixo

4 – Deim Fidele (B. Witler)
Lola Fuks, voz
Michael Guttman, violino

5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler)
Paul Ambach, voz

6 – Greene Bletter (M. Oiysher)
Roby Lakatos, violino

7 – Die Saposhkeler’ (D. Meyerowitz)

8 – Pintele Yid (L. Gilrot/A. Perlmutter-H. Wohl)
Zahava Seewald, voz

9 – ls In Einem Is Nicht Dou Ba Keiner (B. Witler)

10 – Dous Gezang Fin Mayne Hartz (B. Witler)
Myriam Lakatos, voz

11 – Schlemazel (B. Witler)
Édouard Baer, voz

12 – Nem Der Nisht Tsim Hartz (B. Witler)

13 – Hit Oup Dous Bisele Koyer’ (B. Witler)
Michel Jonasz, voz

14 – Schmiele (G. Ulmer)
Mona Miodezky, voz
Roby Lakatos, violino

15 – Ziben Gite Youren (D. Meyerowitz)

16 – Bublitchki (Beygeleich) (Tradicional)
Alexander Gurning, piano

17 – Ver Bin Ikh? (B. Witler)
Mischa Maisky, violoncelo
Lily Maisky, piano

18 – Der Rebe Menachem (A. Gurning/M. Fuks-M. Rubinstein)
Martha Argerich, piano

Myriam Fuks, voz
Aldo Granato, acordeão
Klaudia Balógh, violino
Lászlo Balógh, guitarra
Christel Borghlevens, clarinete
Oscar Németh, contrabaixo

Gravado em Bruxelas, Bélgica, maio de 2014

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Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder

Wolfgang Amadeus MOZART
Do Requiem em Ré menor, K. 626
2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa

Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65

Franz LISZT
5 – Mephisto-Walzer

Robert SCHUMANN
De Dichterliebe, Op. 48:
6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’

Dmitri SHOSTAKOVICH
Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65
7 – Toccata
8 – Passacaglia

Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie

Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 – Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos

Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)

“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014

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Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:


Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.

Robert SCHUMANN

Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo

Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)

Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015

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Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.

“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.

Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105
1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft

Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73
4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer

Johannes BRAHMS
Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro

Johann Sebastian BACH
Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro

Itzhak Perlman, violino

Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)

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Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

Sinfonia no. 3 em Dó menor, Op. 78, “com Órgão”
1 – Adagio – Allegro moderato
2 – Poco Adagio
3 – Allegro moderato – Presto
4 – Maestoso – Allegro

Daniele Rossi, órgão

Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale

Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência

Gravado em Roma, Itália, novembro de 2016

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Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.

Claude DEBUSSY
De Nocturnes, L. 91
1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)

Anton Gerzenberg, piano II

Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140
2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé

Géza Hosszu-Legocky, violino
Evgeni Bozhanov, piano

5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)

Stephen Kovacevich, piano I

Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux

Mischa Maisky, violoncelo

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)

Nicholas Angelich, piano II

Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain

Alexandra Conunova, violino
Edgar Moreau, violoncelo

Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace

Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos

5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34

Pablo Barragán, clarinete
Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos
Lyda Chen, viola
Edgar Moreau, violoncelo

Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso

Akane Sakai e Alexander Mogilevsky, pianos

11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante

Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos

Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56
15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio

Tedi Papavrami e Akiko Suwanai, violinos

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Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio

Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg

Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio

Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein
, violoncelo

Zoltán KODÁLY (1882-1967)
Duo para violino e violoncelo, Op. 7
9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante
11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto

Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo

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Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)

Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale

Susanne Barner, flauta
Gabriele Geminiani, violoncelo

Ludwig van BEETHOVEN
Concerto em Dó maior para violino, violoncelo e piano, Op. 56
5 – Allegro
6 – Largo – attacca:
7 – Rondo alla polacca

Tedi Papavrami, violino
Mischa Maisky, violoncelo
Symphoniker Hamburg
Ion Marin, regência

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Robert SCHUMANN
Fantasiestücke
para violoncelo e piano, Op. 73
1 – Zart und mit Ausdruck
2 – Lebhaft, leicht
3 – Rasch und mit Feuer

Mischa Maisky, violoncelo

04-23 – Dichterliebe, ciclo de canções sobre textos do Lyrisches Intermezzo de Das Buch der Lieder de Heinrich Heine, Op. 48 (edição original de 1840)

Thomas Hampson, barítono

 

Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100
1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)

Akiko Suwanai, violino
Nicholas Angelich, piano

Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19
4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso

Jing Zhao, violoncelo
Lilya Zilberstein, piano

Camille SAINT-SAËNS
1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique

Annie Dutoit
, narração
Jing Zhao, violoncelo
Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg
Ion Marin, regência

Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963)
Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro

Três danças afro-cubanas, para piano
35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165
38 – No. 2: Tango

Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 –
El Choclo

Mauricio Vallina, piano

Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego

Ástor PIAZZOLLA
41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino

Wolfgang Amadeus MOZART
43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)

Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo

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Gravado em Hamburgo, Alemanha, junho de 2018


Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.

Sergey RACHMANINOV
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18
1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando

Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov

Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018

Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace

Dong Hyek Lim, piano I

Gravado em Berlim, Alemanha, dezembro de 2018

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Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.

Felix MENDELSSOHN
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato

Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo

Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78
5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato

Renaud Capuçon, violino
Nicholas Angelich, piano

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Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501
1 – Thema – Variationen I-V

Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano

Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto

Tedi Papavrami, violino

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940
5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato

Gabriela Montero e Martha Argerich, piano

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Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco

Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência

Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)
Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces

Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência

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Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
Sonatas (Esercizi) para teclado:
1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior

Evgeni Bozhanov, piano

Johann Sebastian BACH
Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065
8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro

Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência

Robert SCHUMANN
Kinderszenen
, para piano, Op. 15
11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht

Martha Argerich, piano

Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca

Mischa Maisky, violoncelo

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Sergey PROKOFIEV
Sonata para violino e piano no. 2 em Ré maior, Op. 94a
1 – Moderato
2 – Presto
3 – Andante
4 – Allegro con brio

Tedi Papavrami, violino

Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
1 – Andante – Allegro
2 – Tema con variazioni
3 – Allegro ma non troppo

Symphoniker Hamburg
Sylvain Cambreling, regência

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Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto

Martha Argerich e Akane Sakai, piano

Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65
4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet

Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano

Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37
8 – No. 5: Andaluza

Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin

Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano

Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963)
Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue

Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos

Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos

Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11
15 – No. 4: Valsa

Martha Argerich e Khatia Buniatishvili, piano

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Gravado em Hamburgo, Alemanha, junho de 2019


 

A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.

Ludwig van BEETHOVEN

Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto

Theodosia Ntokou, piano II

Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020

Das Três sonatas para piano, Op. 31:
No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto

Theodosia Ntokou, piano

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Desta década da discografia da Rainha vocês já encontravam aqui no PQP Bach as seguintes gravações:

W. A. Mozart (1756-1791): Piano Concerto No.25 K.503 & Piano Concerto No.20 K.466

2013


A Quatro Mãos: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Franz Schubert (1797-1828) – Igor Stravinsky (1882-1971) – Duos para piano – Martha Argerich e Daniel Barenboim

2014

[Restaurado] Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Abertura de “Le Nozze di Figaro” – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Maurice Ravel (1875-1937): Rapsodie Espagnole – Pavane pour une Infante Défunte – Alborada del Gracioso – Boléro – Argerich – Barenboim #BTHVN250

2014


Hiroshima, ano 77 [Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano no. 1, Op. 15 – Argerich / Dai Fujikura (1977): Concerto para piano no. 4, “Akiko’s Piano” – Hagiwara]

2015


[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Sinfonia no. 1 em Dó maior, Op. 21 – Argerich – Ozawa

2017


[Restaurado] Sergey Prokofiev – Prokofiev for Two – Martha Argerich, Sergei Babayan

2017


Viva a Rainha! – Martha Argerich, 80 anos [Debussy: Fantasia para piano e orquestra]

2018


[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 18 – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Divertimento, K. 136 (excerto) – Edvard Grieg (1843-1907) – Suíte Holberg, Op. 40 – Argerich – Ozawa

2019



Nossa Rainha fala português [e que sdds, Nelson ♥♥♥]

Vassily

Viva a Rainha! – As Idades de Marthinha: a Quinta Década (1981-1990) [Martha Argerich, 80 anos]

1941-1950 | 1951-1960 | 1961-1970 | 1971-1980 | 1981-1990 | 1991-2000 | 2001-2010 | 2011-2020 | 2021-


Martha chegou aos quarenta com a reputação consolidada: uma das maiores pianistas do seu tempo, um fenômeno que abarrotava todas as salas de concerto, e tão célebre pelos recitais que dava quanto por aqueles que cancelava. Sua aversão tanto à cultura do espetáculo quanto ao estrelato levou-a, ao longo da década, a evitar a imprensa e os holofotes. Pouco a pouco, também, trocou as aparições solo por colaborações com amigos que, como veríamos nas décadas seguintes, seriam mantidas por toda a vida. Isso, naturalmente, refletiu-se em seu legado discográfico nos anos 80: muitos duos, alguns concertos, apenas um (e derradeiro) álbum solo – e, o mais incrível, nenhum Chopin.


Um dos mais fieis escudeiros de Martha, o leto-israelense Mischa Maisky (1948) é tão próximo da Rainha que ela escolheu ser sua vizinha quando mudou-se para Bruxelas. Maisky é, claro, um ótimo violoncelista, mas tende sempre a romantizar bastante as coisas, embora sua vizinha, felizmente, quase sempre lhe sirva de antídoto aos excessos de sacarose. O arranjo para violoncelo da sonata de Franck – um dos xodós de Martha, que a gravou tantas vezes, sempre com parceiros diferentes – é muito atraente, e as obras de Debussy que fecham o disco me fazem lamentar, como já fizera quando comentei a gravação com Gitlis, que a Rainha não tenha gravado mais coisas do pai da Chouchou.

César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890)
Arranjo de Jules Delsart (1844-1900)
Sonata em Lá maior para violoncelo e piano
1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano
5 – Prologue: Lent – Sostenuto e molto risoluto
6 – Sérénade et Final (Modérément animé – Animé)

La Plus que Lente, valsa para piano
Arranjo para violoncelo e piano de Mischa Maisky (1948)
7 – Molto rubato con morbidezza

Dos Prelúdios para piano, Livro I:
8 – No. 12: Minstrels: Modéré (arranjo de Mischa Maisky para violoncelo e piano)

Mischa Maisky, violoncelo

Gravado em Genebra, Suíça, em dezembro de 1981

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Martha e Nelson Freire (1944-2021) eram amigos desde os tempos de estudantes em Viena. Sobretudo, e com o devido perdão pelo lugar-comum, eram almas gêmeas e o demonstravam sobejamente quando tocavam em duo. Eu jurava que este disco, que inaugurou a parceria deles em estúdios de gravação, já fazia parte do acervo do PQP Bach. Enganei-me: ele só foi, em verdade, citado pelo patrão numa outra postagem com os dois, em que ele contou de seu breve encontro com a deusa para um autógrafo em Porto Alegre, e da espirituosa mensagem que ela deixou em seu LP.

Sergey Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
1 – Introduction
2 – Valse
3 – Romance
4 – Tarantella

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
La valse, Poème Chorégraphique pour Orchestre
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
5 – Mouvement de valse viénnoise

Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
6 –  Tema – Variações I-XII – Coda

Nelson Freire, piano

Gravado em La Chaux-de-Fonds, Suíça, em agosto de 1982

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Grande amigo de Martha, o cipriota Nicolas Economou (1953-1993) certamente estaria a dividir os palcos com ela até hoje, não tivesse sucumbido jovem ao alcoolismo e, por fim, a uma desgraça automobilística. O destaque dessa gravação, a única que fizeram, é a hábil transcrição de Economou para a suíte de “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky, dedicada a Stéphanie e Semele, as caçulas da dupla.

Sergey RACHMANINOFF
Danças Sinfônicas, Op. 45, para dois pianos
1 – Non allegro
2 – Andante con moto
3 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Suíte do balé “O Quebra-Nozes”, Op. 71a
Transcrição para dois pianos de Nicolas Economou (1953-1993)
4 – Ouverture-miniature: Allegro giusto
5 – Danses Caractéristiques – Marche: Tempo di Marcia viva
6 – Danses Caractéristiques – Danse de la Fée Dragée: Andante non troppo
7 – Danses Caractéristiques – Danse Russe – Trépak: Tempo di Trepak, molto vivace
8 – Danses Caractéristiques – Danse Arabe: Allegretto
9 – Danses Caractéristiques – Danse Chinoise: Allegro moderato
10 – Danses Caractéristiques – Danse des Mirlitons: Moderato assai
11 – Valse Des Fleurs: Tempo de Valse

Nicolas Economou, piano

Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em março de 1983

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Martha sequer completara quarenta e dois anos quando nos legou seu último registro solo em estúdio. Enfastiada do processo de gravação, e num resmungo crescente quanto a solidão nos recitais e sessões (e eu acho que sua expressão amuada na capa diz-lhes mais do que eu seria capaz de lhes contar), deixou-nos um Schumann emblemático antes de se calar para sempre como recitalista em discos. Horowitz, com quem ela quisera ter aulas, ficaria faceiro com a jamais-aluna se ouvisse a endiabrada “Kreisleriana” e as “Cenas Infantis” tocadas assim, com a verve e o colorido que lhe eram tão característicos.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Kinderszenen, para piano, Op. 15
1 – Von fremden Ländern und Menschen
2 – Kuriose Geschichte
3 – Hasche-Mann
4 – Bittendes Kind
5 – Glückes genug
6 – Wichtige Begebenheit
7 – Träumerei
8 – Am Kamin
9 – Ritter vom Steckenpferd
10 – Fast zu ernst
11 – Fürchtenmachen
12 – Kind im Einschlummern
13 – Der Dichter spricht

Kreisleriana, Fantasias para piano, Op. 16
14 – Äußerst bewegt
15 – Sehr innig und nicht zu rasch
16 – Sehr aufgeregt
17 – Sehr langsam
18 – Sehr lebhaft
19 – Sehr langsam
20 – Sehr rasch
21 – Schnell und spielend

Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em abril de 1983

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Beethoven é, confessadamente, o compositor favorito de Martha, mas, em vivo contraste com seu amado Schumann, não o gravou muito quanto diz gostar dele. Se ela não tivesse abandonado as gravações solo, talvez encarasse a empreitada de registrar algumas sonatas do renano, como sói acontecer com os pianistas em maturidade artística. Por outro lado, os dois primeiros concertos para piano de Ludwig, seus cavalos de batalha como compositor-pianista recém-chegado a Viena, são figurinhas fáceis nos concertos da Rainha e em suas gravações ao vivo. Essa aqui, com a orquestra do Concertgebouw sob o patriarca dos Järvi, é uma das melhores, à qual se segue uma bonita “Patética” de Tchaikovsky, conduzida por aquele discreto gigante que atendia por Antal Doráti.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondò. Molto allegro

Koninklijk Concertgebouworkest
Neeme Järvi, regência

Gravado em Amsterdã, Países Baixos, em novembro de 1983

Pyotr TCHAIKOVSKY
Sinfonia no. 6 em Si menor, Op. 74, “Patética”

4 – Adagio – Allegro non troppo
5 – Allegro con grazia
6 – Allegro molto vivace
7 – Finale — Adagio lamentoso

Koninklijk Concertgebouworkest
Antal Doráti, regência

Gravado em Amsterdã, Países Baixos, em novembro de 1983

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Não é todo mundo que tem dois parças letões. Mas Martha não é todo mundo e tem, além de Mischa Maisky, um outro nativo de Riga como parceiro musical de toda vida. Gidon Kremer (1947) ganhou rápida notoriedade depois de deixar a União Soviética e, com imenso repertório e interpretações muito originais, transformou-se num queridinho de plateias e gravadoras. Gosto dele, apesar de não ser seu fã incondicional, mas, assim como acontece com Maisky, acho que Martha consegue lhe domar os arroubos mercuriais, de modo que as parcerias com ela estão entre suas melhores gravações. Este é o primeiro dos quatro discos com a integral das sonatas de Beethoven, e essas gravações das sonatas da juventude do renano deixam muito óbvio que os dois estão tão entrosados e à vontade quanto os vemos na capa do disco.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Três sonatas para violino e piano, Op. 12

Sonata no. 1 em Ré maior
1 – Allegro con brio
2 – Tema con variazioni: Andante con moto
3 – Rondo: Allegro

Sonata no. 2 em Lá maior
4 – Allegro vivace
5 – Andante, più tosto allegretto
6 – Allegro piacevole

Sonata no. 3 em Mi bemol maior
7 – Allegro con spirito
8 – Adagio con molta espressione
9 – Rondo: Allegro molto

Gidon Kremer, violino

Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em novembro de 1984

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Martha voltou a unir-se a Maisky para este registro das sonatas para gamba e cravo de Sebastião Ribeiro, e o resultado é surpreendente. Não pela qualidade dos intérpretes, que é notória – embora Martha aqui dome uma vez mais os esguichos de sacarose do vizinho -, e sim pelo quão convincentes estas sonatas soam sob mãos tão pouco barrocas. A transparência e clareza do Bach da Rainha permeiam toda a gravação, e acho Maisky perfeito, quase gambístico, nos movimentos rápidos da sonata em Sol menor.

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Três sonatas para viola da gamba e cravo obbligato, BWV 1027-29

Sonata no. 1 em Sol maior, BWV 1027
1 – Adagio
2 – Allegro ma non tanto
3 – Andante
4 – Allegro moderato

Sonata no. 2 em Ré maior, BWV 1028
5 -Adagio
6 – Allegro
7 – Andante
8 – Allegro

Sonata no. 3 em Sol menor, BWV 1029
9 – Vivace
10 – Adagio
11 – Allegro

Mischa Maisky, violoncelo

Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em março de 1985

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Este disco pode ser descrito como uma “baguncinha entre amigos”: Martha trouxe Nelson e Mischa, e Kremer trouxe Isabelle van Keulen e Elena Bashkirova, sua ex-esposa e então recém-mãe dos dois filhos de Daniel Barenboim, que, por sua vez, ainda era casado com Jacqueline du Pré. Antes que isso vire a “Quadrilha” de Drummond, afirmo-lhes que o resultado é bem divertido: Martha e Nelson se esbaldam na idiomática escrita pianística de Saint-Saëns, Maisky aproveita a chance de confeitar o belíssimo Le Cygne, e Kremer e Bashkirova, alternando-se entre seus instrumentos e narração, trazem interesse às pouco gravadas peças que completam o disco (e se a história do touro Ferdinand lhes parecer familiar, certamente será porque vocês já a viram aqui)

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
O Carnaval dos Animais, Grande Fantasia Zoológica
1 – Introdução e Marcha Real do Leão
2 – Galinhas e Galos
3 – Hémiones (asnos selvagens da Mongólia) – Animais velozes
4 – Tartarugas
5 – O Elefante
6 – Cangurus
7 – Aquário
8 – Personagens de orelhas compridas
9 – O cuco nas profundezas dos bosques
10 – Aviário
11 – Pianistas
12 – Fósseis
13 – O Cisne
14 – Final

Martha Argerich e Nelson Freire, pianos
Gidon Kremer e Isabelle van Keulen, violinos
Tabea Zimmermann, viola
Mischa Maisky, violoncelo
Georg Hörtnagel, contrabaixo
Irena Grafenauer, flauta
Eduard Brunner, clarinete
Edith Salmen-Weber, glockenspiel
Markus Steckeler, xilofone

Alan RIDOUT (1934-1996), texto de Munro Leaf
15 – Ferdinand the Bull, para narrador e violino solo

Elena Bashkirova, narração
Gidon Kremer, violino

Frieder MESCHWITZ (1936)
Tier-Gebete (“Preces dos Animais”), para narrador e piano
Texto: “Prières Dans L’Arche”, de Carmen Bernos de Gasztold, traduzido para o alemão por A. Kassing e A. Stöcklei
16 – A Prece do Boi
17 – A Prece do Rato
18 – A Prece do Gato
19 – A Prece do Cão
20 – A Prece da Formiga
21 – A Prece do Elefante
22 – A Prece da Tartaruga
23 – A Prece da Girafa
24 – A Prece do Macaco
25 – A Prece do Galo
26 – A Prece do Velho Cavalo
27 – A Prece da Borboleta

Gidon Kremer, narração
Elena Bashkirova, piano

Alan RIDOUT, texto de David Delve
28 – Little Sad Sound

Gidon Kremer, narração
Alois Posch, contrabaixo

Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em abril de 1985

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O segundo ato em disco da longa parceria entre Martha e nosso saudoso Nelson foi esta gravação da versão de concerto da sonata para dois pianos e percussão de Béla Viktor János, que a tocou pela primeira e única vez em público, com a esposa Ditta e sob a regência do compatriota Fritz Reiner, em sua última aparição como concertista, em 1943. Se Nelson e Martha nunca juntaram as escovas de dentes, a impressão que se tem ao escutar esse registro com a Concertgebouw sob o ótimo David Zinman é bem diferente: Ditta e Béla ficariam com inveja da liga que los sudamericanos dão ao originalíssimo tecido sonoro criado pelo magiar genial.

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Concerto para dois pianos, percussão e orquestra
1 – Assai lento – Allegro molto
2 – Lento, ma non troppo
3 – Allegro ma non troppo

Nelson Freire, piano II
Jan Labordus e Jan Pustjens, percussão

Zoltán KODÁLY (1882-1967)
4 –  Danças de Galanta (Galántai táncok), para orquestra

Koninklijk Concertgebouworkest
David Zinman, regência

Gravado em Amsterdã, Países Baixos, em agosto de 1985

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Martha devora aqui, como é costumeiro, aquele seu outro cavalo de batalha – o Concerto em Sol de Ravel – num disco dedicado a Maurice e ao israelense Gary Bertini (1927-2005), um ótimo regente que nos legou um excelente ciclo de sinfonias de Mahler – do qual vocês poderão ter boa ideia pelo capricho com que ele burila a sensacional segunda suíte de Daphnis et Chloé.

Maurice RAVEL
Suíte no. 2 do balé Daphnis et Chloé
1 – Lever du jour
2 – Pantomime
3 – Danse générale

Concerto para piano e orquestra em Sol maior
4 – Allegramente
5 – Adagio assai
6 – Presto

7 – La Valse, poema coreográfico para orquestra

Kölner Rundfunk-Sinfonie-Orchester
Gary Bertini, regência

Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em dezembro de 1985

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Marthita e Danielito foram as duas mais famosas Wunderkinder portenhas nos anos 40. A emigração dos Barenboim para Israel e os diferentes rumos que os prodígios tomaram em suas carreiras fizeram com que se revissem e gravassem só já consagrados e maduros. Essa gravação de Noches em los Jardines de España é minha favorita, pelo que Martha traz de colorido e, surpreendentemente, de sobriedade à parte pianística, integrando seu piano à massa orquestral como se dela fosse só uma parte, e não a briosa solista de costume. Completa o disco um registro da mais efetiva das orquestrações da suíte Iberia de Albéniz, que, apesar de muitas belezas, não é muito minha praia, fã que sou do pianismo magistral da obra original.

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Noches en los Jardines de España, para piano e orquestra
1 – En el Generalife: Allegretto tranquillo e misterioso
2 – Dansa Lejana: Allegretto giusto – En los Jardines de la Sierra de Córdoba: Vivo

Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
De Iberia, suíte para piano (orquestração de Enrique Fernández Arbós)
3 – Evocación
4 – El Puerto
5 – El Albaicin
6 – Fête-Dieu à Séville
7 – Triana

Orchestre de Paris
Daniel Barenboim, regência

Gravado em Paris, França, em fevereiro de 1986

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Em mais um álbum que reflete sua risonha capa, Martha e Kremer divertem-se em suas leituras dessas sonatas-irmãs de Beethoven, paridas em números de opus separados tão só por uma mundana questão de papel. O letão e a argentina, intérpretes tão originais quanto impulsivos, emprestam uma bem-vinda inquietude aos tantos gestos temperamentais de Ludwig, sempre o nervosinho. Acima de tudo, o que Martha faz desses discos instiga a imaginação, quando nela pomos a Rainha a tocar algumas das quase trinta sonatas do renano que jamais trouxe a público.

Ludwig van BEETHOVEN
Sonata em Lá menor para violino e piano, Op. 23

1 – Presto
2 – Andante scherzoso, più allegretto
3 – Allegro molto

Sonata em Fá maior para violino e piano, Op. 24, “Primavera”
4 – Allegro
5 – Adagio molto espressivo
6 – Scherzo: Allegro molto
7 – Rondo: Allegro ma non troppo

Gidon Kremer, violino

Gravado em Berlim Ocidental em março de 1987

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Mais Kremer, e ainda mais sorrisos. À curiosa escolha do repertório – dois concertos compostos por um Mendelssohn adolescente – soma-se a distinta companhia da Orpheus, uma orquestra de câmara notória por ser conduzida não por regentes, mas por seus próprios músicos, através dum original e participativo processo criativo. A Orpheus, que não é muito afeita a superestrelas, parece ter aberto uma exceção à turma de Martha (pois também gravou com Mischa Maisky), com bons resultados. Aqui, a temperamental dupla de solistas está quase irreconhecível em sua dedicação à transparência e ao equilíbrio clássico dessas peças que só surpreenderão quem desconhece o considerável compositor que Felix já era quando moleque.

Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Concerto para piano, violino e orquestra de cordas em Ré menor, MWV O4
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro molto

Concerto para violino e orquestra de cordas em Ré menor, MWV O3
4 – Allegro
5 – Andante
6 – Allegro

Gidon Kremer, violino
Orpheus Chamber Orchestra

Gravado em Zurique, Suíça, em maio de 1988

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status de superestrela garantiu a Martha gravidade suficiente para atrair outros astros à sua órbita e promover festivais centrados em sua presença, como os de Beppu (Japão) e Lugano (Suíça), bem como em sua Buenos Aires natal. Aqui, ela é parte duma constelação granjeada por Gidon Kremer para o festival de Lockenhaus, na Áustria, capitaneado por ele. A participação de Martha resumir-se-ia ao duo que abre o disco, com a participação de Alexandre Rabinovitch (mais – mas MUITO mais – sobre ele em breve), mas resolvi encerrá-lo com uma breve peça de Kreisler tocada com o capitão Kremer, transplantada de outro disco. O recheio é muito, e muito bom Schubert, com destaque para dois pouco ouvidos trios.

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Rondó em Ré maior para piano a quatro mãos, D. 608
1 – Allegretto

Martha Argerich e Alexandre Rabinovitch, piano

2 – 25 Winterreise, ciclo de canções sobre poemas de Wilhelm Müller, D. 911

Robert Holl, baixo
Oleg Maisenberg, piano

Trio em Mi bemol maior para piano, violino e violoncelo, D. 897, “Notturno”
26 – Adagio

Oleg Maisenberg, piano
Gidon Kremer, violino
Clemens Hagen, violoncelo

Trio em Si bemol maior para violino, viola e violoncelo, D. 581
27 – Allegro moderato
28 – Andante
29 – Menuetto: Allegretto
30 – Rondo: Allegretto

Gidon Kremer, violino
Nobuko Imai, viola
Mischa Maisky, violoncelo

Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
31 – Liebesleid, para violino e piano

Gidon Kremer, violino

Gravado ao vivo em Lockenhaus, Áustria, julho de 1988

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Natural de Baku, no Azerbaijão, mas educado na Rússia e radicado na Suíça, o pianista, compositor e regente Alexandre Rabinovitch será figurinha fácil na próxima década de vida artística de nossa Rainha. Nessa gravação, eles encaram a travessia da monumental suíte “Visões do Amém”, de Olivier Messiaen, composta durante a ocupação nazista da França (e depois de sua indesejável temporada em Görlitz) e destinada à interpretação do próprio compositor e de sua esposa, Yvonne Loriod. Messiaen criou as partes para piano especificamente para os temperamentos dos dois, destinando ao piano de Yvonne as “dificuldades rítmicas, os clusters, tudo que tem velocidade, charme e qualidade de som” e a seu próprio “a melodia principal, elementos temáticos, tudo o que demanda emoção e força”. A descrição de Yvonne lhes pareceu familiar? Pois escutem a gravação e me contem quem tocou a parte de Mme. Loriod.

Olivier Eugène Prosper Charles MESSIAEN
(1908-1992) 
Visions de l’Amen, para dois pianos (1943)
1 – Amen de la Création
2- Amen des étoiles, de la planète à l’anneau
3 – Amen de l’agonie de Jésus
4 – Amen du Désir
5 – Amen des Anges, des Saints, du chant des oiseaux
6 – Amen du Jugement
7 – Amen de la Consommation

Alexandre Rabinovitch, piano II

Gravado em Londres, Reino Unido, em dezembro de 1989

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Dessa década da carreira da Rainha vocês já encontravam no blog as seguintes gravações:

Serguei Rachmaninov (1873-1943) – Piano Concerto nº3, in D Minor, op. 30, Piotr Illich Tchaikovsky (1840-1893) – Piano Concerto nº1, in B Flat Minor, op. 23 (Argerich, Chailly, Kondrashin)

O incandescente Rach 3 sob Riccardo Chailly (1982)


[Restaurado] Schubert – Sonata para Arpeggione e Piano / Schumann – Fantasiestücke, 5 Stücke im Volkston

Mais um capítulo da longa parceria com o amigo Maisky, num Schubert que nos faz sonhar com Marthita tocando a últimas sonatas de Franz (1984)


Prokofiev (1891-1953): Piano Concerto No. 3 / Ravel (1875-1937): Piano Concerto in G

Um de meus discos para uma ilha deserta: a maravilhosa gravação do Concerto em Sol de Ravel (1984), pareada com o no. 3 de Prokofiev. Duas das especialidades da Rainha, sob a batuta de um de seus bruxos, Claudio Abbado.


Bartók: Sonata Nº 1 para Violino e Piano (1921) / Janáček: Sonata para Violino e Piano (1914-1921) / Messiaen: Tema e Variações para Violino e Piano (1932)

Numa outra empreitada com Gidon Kremer, gravada em 1985, Martha encara peças contemporâneas que, se já foram interpretadas com mais “sotaque”, são tão boas que sempre merecem a audição. Minha favorita entre as gravações desse álbum é a de Messiaen.


[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concertos para piano e orquestra, Opp. 15 & 19 – Argerich – Sinopoli

Dois cavalos de batalha argerichianos, interpretados com o brilho de sempre pela Rainha, a despeito do som orquestral cavernoso e pouco congenial (1985)


[Restaurado] Robert Schumann (1810-1856) – Sonatas para Piano e Violino – Kremer, Argerich

Talvez o melhor duo entre Argerich e Kremer seja esse, gravado em 1985, em que nossa Rainha traz o amigo para seu mundo, o planeta Schumann.


BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Integral das sonatas e variações para violoncelo e piano – Maisky – Argerich

Minha gravação favorita das sonatas para violoncelo e piano de Beethoven deve quase tudo a Martha: foi seu brilho no finale daquela obra-prima, a sonata Op. 69, que primeiro me chamou a atenção para seu nome, quando eu era um garoto de poucos fios de barba a escutar a gravação, no mesmo 1990 em que foi lançada.


Nicolas Economou toca “Martha My Dear”, dos Beatles, para a própria, no início dos anos 80.

Vassily

Sarasate / Vaughan Williams / Saint-Saëns / Massenet / Ravel / Pärt / Rachmaninov / Fauré: Fantasie (Nicola Benedetti)

Sarasate / Vaughan Williams / Saint-Saëns / Massenet / Ravel / Pärt / Rachmaninov / Fauré: Fantasie (Nicola Benedetti)

Um excelente disco de Nicola Benedetti, que, apesar do nome, é escocesa. Neste Fantasie, seu quarto álbum, ela apresenta uma seleção de peças para violino que são muito amadas e que formam uma impressionante demonstração de qualidade interpretativa. A combinação de peças virtuosísticas de influência cigana com meditações e canções introspectivas funcionou maravilhosamente e mostram a maturidade de Benedetti. Ela foi vencedora do concurso de jovens músicos da BBC e depois estabeleceu uma carreira fantástica com grandes orquestras do Reino Unido, EUA e Japão, recebendo elogios por suas ousadas interpretações de concertos como os de Tchaikovsky, Mendelssohn, Sibelius, Glazunov e Szymanowski. Para Fantasie, Benedetti deixou de lado os grandes concertos para explorar algumas obras do recital padrão, mas também incluindo músicas não tão conhecidas, como a linda The Lark Ascending, de Vaughan Williams, uma das maiores obras para violino que, nos últimos três anos, foi eleita a peça favorita de música clássica da inglesa Classic FM, mas ainda pouco divulgada fora das ilhas.

Sarasate / Vaughan Williams / Saint-Saëns / Massenet / Ravel / Pärt / Rachmaninov / Fauré: Fantasie (Nicola Benedetti)

1 Zigeunerweisen Op.20
Composed By – Pablo de Sarasate
Conductor – Vasily Petrenko
Leader – James Clark (6)
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
8:59

2 The Lark Ascending
Composed By – Ralph Vaughan Williams
Conductor – Andrew Litton
Leader – Vesselin Gellev
Orchestra – The London Philharmonic Orchestra
15:57

3 Introduction And Rondo Capriccioso In A Minor
Composed By – Camille Saint-Saëns
Conductor – Vasily Petrenko
Leader – James Clark (6)
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
9:19

4 Meditation From “Thais”
Composed By – Jules Massenet
Conductor – Daniel Harding
Leader – Carmine Lauri
Orchestra – The London Symphony Orchestra
5:39

5 Tzigane
Composed By – Maurice Ravel
Conductor – Vasily Petrenko
Leader – James Clark (6)
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
10:02

6 Spiegel Im Spiegel
Composed By – Arvo Pärt
Piano – Alexei Grynyuk

7 Vocalise Opus 34 No.14
Composed By – Sergey Rachmaninov*
Piano – Alexei Grynyuk
6:11

8 Apres Une Reve
Composed By – Gabriel Fauré
Piano – Alexei Grynyuk

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Se eu tocasse como Nicola, sorriria assim

PQP

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música para Violoncelo e Piano

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música para Violoncelo e Piano

Mesmo sem ser um grande admirador dos românticos e menos ainda dos franceses, eu gosto muito dos trabalhos de Camille Saint-Saëns. Estranho… Sempre o ouço meio de nariz torcido e ele sempre me dobra. O mesmo ocorreu aqui. Suas duas sonatas para violoncelo são ótimas. Não as conhecia e fiquei muito feliz ao fazê-lo. É música nobre e muito bem escrita. A interpretação da dupla Poltéra / Stott acrescenta muito charme a elas.

Quando jovem, Saint-Saëns era cheio de entusiasmo em relação às músicas mais modernas da sua época. Sentia isso particularmente com Robert Schumann, Franz Liszt e Richard Wagner, porém suas composições geralmente ficavam mais dentro das convenções clássicas tradicionais. Foi um acadêmico e permaneceu comprometido com as estruturas estabelecidas por compositores franceses anteriores. Como viveu muito — o que é ótimo — isto fez com que entrasse em conflito no final de sua vida com compositores das escolas impressionista e dodecafonista, apesar de existirem elementos neoclássicos em sua música. Ele foi frequentemente considerado um reacionário nas últimas décadas antes de sua morte.

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música para Violoncelo e Piano

Sonata No 1 in C min, Op 32
01. I. Allegro
02. II. Andante tranquillo sostenuto
03. III. Allegro moderato

Sonata No 2 in F maj, Op 123
04. I. Maestoso, largamente
05. II. Scherzo con variazioni
06. III. Romanza
07. IV. Allegro ma non troppo, grazioso

Priere Op 158 in G major – arranged for cello and piano by the composer
08 I. Andante

The Swan – ‘Le Cygne’ from Le Carnaval des animaux
09. I. Andante grazioso

Romance Op 36 in F major – for horn or cello and piano
1o. I. Moderato

Christian Poltéra, cello
Kathryn Stott, piano

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Saint-Saënsão dando um rolê pela sua tela.

PQP

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música de Câmara para Sopros

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música de Câmara para Sopros

Gosto muito do velho Camille! Camille Saint-Saëns foi um dos músicos mais talentosos de sua época, compositor prolífico, figura de proa da música francesa e um dos maiores pianistas e organistas do século XIX. Ele também era um respeitado escritor e estudioso, além de um talentoso matemático e astrônomo amador. E adorava viajar! No início de sua carreira, na década de 1850, ele foi comemorado como o jovem compositor francês mais brilhante de sua época, ganhando grandes prêmios de composição e atraindo o apoio de alguns dos compositores mais famosos da época, como Rossini e Berlioz. Apesar de toda essa conquista, Saint-Saëns era considerado sem emoção e conservador por alguns de seus contemporâneos. No final de sua vida, no início de 1900, muitos dos principais compositores franceses da época, como Debussy, o consideravam antiquado e reacionário. Suas peças mais conhecidas, como o Carnaval dos Animais e a Sinfonia do Órgão, eram vistas como populistas e inconsequentes, tocando para a multidão ao invés de serem arte séria. Bobagem. E este não é o único problema que viam na música de Saint-Saëns. Ele adorava os compositores alemães, particularmente Bach e Mozart, e foi um dos primeiros músicos a apresentar Wagner ao público francês. No entanto, no auge de sua carreira, nas décadas de 1870 e 1880, ele foi incansável na promoção de nova música francesa e, durante a Primeira Guerra Mundial, argumentou que todas as apresentações de música alemã em Paris deveriam ser proibidas. Sua vida familiar foi uma agitada. Ele abandonou a esposa depois de apenas três anos, nunca mais falando com ela… A própria opinião de Saint-Saëns sobre esses conflitos e contradições era simples: “Eu sou um espírito eclético. Pode ser um defeito, mas não posso mudá-lo: não se pode substituir a personalidade de alguém. “

As cinco peças desta gravação cobrem grande parte da vida eclética de Saint-Saëns. Elas representam algumas de suas músicas mais belas para pequenos grupos de câmara, uma forma que Saint-Saëns frequentemente compôs ao longo de sua vida e são algumas de suas obras mais importantes no gênero.

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música de Câmara para Sopros

Caprice sur des airs danois et russes, Op. 79
1. Caprice sur des airs danois et russes, Op. 79 00:10:45

Clarinet Sonata in E-Flat Major, Op. 167
2. I. Allegretto 00:04:31
3. II. Allegro animato 00:02:04
4. III. Lento 00:04:16
5. IV. Molto allegro 00:05:12

Oboe Sonata in D Major, Op. 166
6. I. Andantino 00:03:28
7. II. Ad libitum – Allegretto 00:04:59
8. III. Molto allegro 00:02:28

Bassoon Sonata in G Major, Op. 168
9. I. Allegretto moderato 00:02:48
10. II. Allegro scherzando 00:03:35
11. III. Adagio – Allegro moderato 00:05:56

Romance in E Major, Op. 67 (arr. for horn and piano)
12. Romance in E Major, Op. 67 (arr. for horn and piano) 00:07:31

Tarantelle, Op. 6
13. Tarantelle, Op. 6 00:06:50

G’froerer, Joanna: Flauta
Hamann, Charles: Oboé
Lemelin, Stéphane: Piano
Millard, Christopher: Fagote
Sykes, Kimball: Clarinete
Vine, Lawrence: Trompa

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PQP

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival – 2008

Fiz uma pausa nas postagens dessa série da nossa amada Martha Argerich em seu Festival de Lugano para dar lugar às comemorações dos 210 anos de nascimento de Robert Schumann. Hoje trago mais um volume, mais três CDs que mostram todo talento e versatilidade desta excepcional artista.

Não preciso dizer o quanto Martha ama Schumann, tanto que temos aqui no primeiro CD a belíssima Sonata nº 2 para Violino e Piano, acompanhando o violinista Renaud Capuçon. Outro momento a destacar é sua parceria com o ex marido pianista Stephen Kovacevich, tocando uma peça de Mozart.

Mas o mais belo, lírico e pungente é o terceiro CD, onde abre tocando seu conterrâneo Piazzolla, em versões matadoras para dois pianos, claro que ele não poderia faltar, assim como Ravel. Martha distribui o repertório desta série entre seus convidados, alguns conhecidos, outros desconhecidos, dando chance e permitindo que sejam conhecidos.

A relação dos músicos envolvidos está no booklet em anexo.

Vamos ao que viemos?

CD 1
01. Variations (5) on an original theme for piano, 4 hands in G major, K. 501
02. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 1. Ziemlich langsam – Le
03. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 2. Sehr lebhaft
04. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 3. Leise, einfach
05. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 4. Bewegt
06. Piano Quintet in D major, Op. 51- 1. Allegro moderato
07. Piano Quintet in D major, Op. 51- 2. Andante con variazioni
08. Piano Quintet in D major, Op. 51- 3. Scherzo- Allegro vivace
09. Piano Quintet in D major, Op. 51- 4. Allegro moderato
10. Scherzo for 2 pianos, Op. 87

CD 2
01. Piano Trio No. 1 in C minor, Op. 8
02. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 1. Barcarolle
03. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 2. La Nuit
04. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 3. Les Larmes
05. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 4. Pâques
06. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 1
07. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 2
08. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 3
09. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 4
10. Slavonic Dance No. 1 for piano, 4 hands in C major, B. 78-1 (Op. 46-1)
11. Slavonic Dance No. 12 for piano, 4 hands in D flat major, B. 145-4 (Op. 72-4)
12. Slavonic Dance No. 7 for piano, 4 hands in C minor, B. 78-7 (Op. 46-7)
13. Slavonic Dance No. 10 for piano, 4 hands in E minor, B. 145-2 (Op. 72-2)

CD 3

01. Tres minutos con la realidad, tango
02. Oblivion, tango
03. Libertango, tango
04. Introduction & Allegro for harp, flute, clarinet & string quartet
05. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 1. Verano porteño
06. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 2. Otoño porteño
07. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 3. Invierno porteño
08. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 4. Primavera porteña
09. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 1. Maestoso
10. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 2. Tranquillo
11. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 3. Tempo di marcia – Andante
12. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 4. Tempo di polka – Piú vivo – Allegro

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A Quatro Mãos: Reimagine – Anderson & Roe Piano Duo

71nqPbHmeIL._SX355_Fred Astaire e Ginger Rogers transpostos da pista de dança para o teclado“.

Só este veredito acerca do trabalho do duo pianístico de Greg Anderson e Elizabeth Joy Roe já bastaria, cauteloso que sou acerca das sensibilidades da ala ultrarradical de nossos leitores-ouvintes, para colocar um sinal de .:interlúdio:. na frente do título. O duo Anderson & Roe, afinal, é jovem, bem-apessoado, bastante performático nos palcos, faz sucesso entre públicos que jamais sonhariam em escutar música para dois pianistas e, sacrilégio talvez maior ainda, usam amplamente a internet para granjearem sua fama.

Não coloquei qualquer ressalva .:interlúdica:., incluí os jovens em meio a gravações de Argerich, Barenboim e Lupu, e já ouço, por isso, os tomates zunindo em minha direção. Apresso-me em alcançar-lhes o contraponto: estes dois egressos da Juilliard School são excelentes pianistas, ótimos arranjadores e, de quebra, ainda têm um sensacional trabalho de duo. Vê-los tocando (e convido os leitores-ouvintes a explorarem a cybersfera para tanto) é se embasbacar com a precisão com que esses jovens dividem um teclado, entrecruzando as mãos de maneiras que não parecem fisiologicamente plausíveis, e a clareza que mantêm linhas melódicas que mesmo grandes pianistas deixam nubladas. Talvez falte um tanto de “peso” a este CD, que, à exceção da boa interpretação para a “Sagração da Primavera” de Stravinsky, é um bonito balaio de gatos composto tão só de transcrições e paráfrases de curtas obras alheias. O duo lançou posteriormente álbuns mais coesos, entre os quais um primoroso “The Art of Bach” que, depois que eu sair da base da pilha de pedras, eu postarei para vocês se os bramidos nas caixas de comentários não forem tão ferozes.

ANDERSON & ROE – REIMAGINE

01 – “Danse Macabre (remix)”, sobre “Dança Macabra, Poema Sinfônico Op. 40 de Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

02 – “The Swan”, sobre “O Cisne” de “O Carnaval dos Animais”de Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

03 – “A New Account of the Blue Danube Waltzes”, baseado em “An die schönen blauen Donau”, Op. 314 de Johann STRAUSS, filho (1825-1899)

04 – “The Cat’s Fugue”, sobre o tema da Sonata em Sol menor, K. 40, “A Fuga do Gato”, de Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)

05 – Libertango, sobre obra de Astor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)

06 – “The Cuckoo in Sussex”, sobre “Le Coucou” de Louis-Claude DAQUIN (1694-1772)

07 – “Erbarme dich”, sobre ária da “Paixão segundo Mateus” de Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)

A Sagração da Primavera, para dois pianos
08 – Introduction to Part I
09 – The Augurs of Spring
10 – Ritual of Abduction
11 – Spring Rounds
12 – Ritual of the Two Rival Tribes
13 – Procession of the Oldest
14 – The Kiss of the Earth
15 – The Dancing Out of the Earth
16 – Introduction to Part II
17 – Mystic Circle of the Young Girls
18 – Glorification of the Chosen One
19 – Evocation of the Ancestors
20 – Ritual Actions of the Ancestors
21 – Sacrificial Dance

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
22 – Danse Macabre, Op. 40 (arranjo de Anderson & Roe)

Greg Anderson e Elizabeth Joy Roe, pianos e arranjos

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Eu disse que eles eram performáticos!
Eu disse que eles eram performáticos!

 

Vassily Genrikhovich

The Art of the Theremin – Clara Rockmore

The Art of the Theremin – Clara Rockmore

61nayAy+HeLMeu interesse em instrumentos musicais já me levou a tocar alguns deles em graus de sucesso que variam do sofrível ao ridículo. Minha experiência com todos, em especial os metais e as cordas, levou-me a admirar sobremaneira a dedicação dos instrumentistas para ajustarem suas bocas e dedos àqueles teimosos aparatos, extraindo deles não só sons agradáveis e condizentes com a intenção de um compositor, mas, o que é ainda mais impressionante, sem sucumbirem no processo.

Se acho uma façanha ser um virtuose de um instrumento que se toca tocando, que se pode dizer de um instrumento que se toca sem que se o toque?

Para mim, amigos, magia negra. Para o resto do mundo, é o assombroso teremim.

ooOoo

Inventado pelo físico russo Léon Theremin (Lev Termen, para os íntimos), este pioneiro entre os instrumentos eletrônicos é controlado pela posição das mãos do intérprete em relação a duas antenas: uma que regula a frequência, outra para o volume. O peculiar timbre resultante, já descrito como o de um “violoncelo perdido em neblina espessa, chorando por não saber como voltar para casa”, soa de melancólico a decididamente fantasmagórico. Não é à toa, portanto, que o teremim seja figurinha fácil de trilhas sonoras de filmes que abordam o incomum, o bizarro, e o inacreditável.

Parece difícil, e é mesmo. Por isso, talvez, passada a curiosidade inicial, o incrível instrumento de Theremin tenha ficado meio esquecido, e certamente limado de todos os círculos de música “séria”, até a entrada em cena de uma certa Clara Rockmore.

Nascida Klara Reisenberg em Vilnius (Lituânia), foi uma criança-prodígio no violino e chegou a estudar com Leopold Auer (sim, o professor de Heifetz; sim, o sujeito que esnobou o Concerto de Tchaikovsky) no Conservatório de São Petersburgo. Problemas de saúde fizeram-na abandonar o violino e a Música como um todo até encontrar, já nos Estados Unidos, o inventor Theremin. Trabalharam juntos no aperfeiçoamento do instrumento como meio de expressão artística. Foram tão próximos que Léon, que não era bobo, nem nada, lhe propôs casamento. Klara deu-lhe o fora, casou-se com um certo Rockmore, passou a chamar-se Clara e, emprestando ao teremim sua extraordinária musicalidade, transformou-se em sua primeira virtuose.

O vídeo acima, apesar do som precário, dá a vocês uma melhor ideia do que lhes tento dizer (além, claro,de ser deliciosamente funéreo!). O timbre, como já falamos, talvez seja um gosto adquirido, mas é assombrosa a expressividade que Rockmore obtém sem nada tocar além do éter. Se vocês perceberem, ao contrário da maior parte dos instrumentos, dos quais os silêncios são obtidos tão só pela suspensão da emissão do som, as pausas no teremim também têm que ser produzidas, através da ação a mão do volume (no caso de Rockmore, a esquerda).

Espero que, vencendo a natural estranheza, vocês possam apreciar a complicada arte desta virtuose incomum.

THE ART OF THE THEREMIN – CLARA ROCKMORE

Sergey Vasilyevich RACHMANINOV (1873-1943)

01 – Canções, Op. 34 – no. 14: Vocalise
02 – Romances, Op. 4 – no. 4: “Ne poj, krasavitsa” [NOTA DO AUTOR: conhecida como “Canção de Grusia”, não se refere a qualquer pessoa, mas sim à região caucasiana da Geórgia, que tem este nome em russo]

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

03 – O Carnaval dos Animais – no. 13: O Cisne

Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)

04 – El Amor Brujo – Pantomima

Yosif Yuliyevich AKHRON (1886-1943)

05 – Melodia hebreia, Op. 33

Henryk WIENIAWSKI (1835-1880)

06 – Concerto para violino no. 2 em Ré menor, Op. 22 – Romance

Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)

07 – O Pássaro de Fogo: Berceuse

Joseph-Maurice RAVEL (1875-1937)

08 – Pièce en forme de Habanera

Pyotr Ilyitch TCHAIKOVSKY (1840-1893)

09 – Dix-Huit Morceaux, Op. 72 – No. 2: Berceuse
10 – Six Morceaux, Op. 51 – No. 6: Valse sentimentale
11 – Sérénade Mélancolique, para violino e piano, Op. 26

Aleksandr Konstantinovich GLAZUNOV (1865-1936)

12 – Chant du ménestrel, Op.71

Clara Rockmore, teremim e arranjos
Nadia Reisenberg, piano

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Boris theremin

Vassily Genrikhovich

Edward Elgar (1857-1934) – Cello Concerto in E Minor op. 85 – Jacqueline Du Pré, John Barbirolli, London Symphony Orchestra

Trago mais uma vez para os senhores a histórica e mítica gravação do Concerto para Violoncelo de Edward Elgar com Jacqueline Du Pré, que é considerada até hoje a melhor intérprete desta obra.
A carreira desta incrível musicista foi meteórica, com detalhes trágicos. Alcançou cedo a fama, porém também cedo foi diagnosticada com uma gravíssima doença degenerativa, Esclerose Múltipla, que a afastou dos palcos com apenas vinte e oito anos de idade, e a matou com apenas quarenta e dois anos.
Alcançou fama após esta mítica gravação, que sem dúvida é extraordinária. Casou-se com Daniel Baremboim, com quem gravou diversos outros discos.
Espero que apreciem. Amo esta gravação. Para mim e para muita gente, esta é o registro definitivo deste concerto.

1 Elgar – Cello Concerto in E minor, Op. 85 – I. Adagio – Moderato
2 Elgar – Cello Concerto in E minor, Op. 85 – II. Lento – Allegro molto
3 Elgar – Cello Concerto in E minor, Op. 85 – III. Adagio
4 Elgar – Cello Concerto in E minor, Op. 85 – IV. Allegro, ma non troppo

Jacqueline Du Pré – Violoncelo
London Symphony Orchestra
Sir John Barbirolli

5 Saint-Saens – Cello Concerto No. 1 in A minor, Op. 33 – I. Allegro non troppo
6 Saint-Saens – Cello Concerto No. 1 in A minor, Op. 33 – II. Allegretto con moto
7 Saint-Saens – Cello Concerto No. 1 in A minor, Op. 33 – III. Allegro non troppo

Jacqueline Du Pré – Violoncelo
New Philharmonia Orchestra
Daniel Baremboim

8 Delius – Cello Concerto – Lento – Con moto tranquillo –

Jacqueline Du Pré – Violoncelo
Royal Philharmonic Orchestra
Sir Malcolm Sargent

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Saint-Saëns (1835-1921) Sansão e Dalila

Saint-Saëns (1835-1921) Sansão e Dalila

PQP Bach
12 anos de Prazer

Grande blog PQP Bach… Vida longa ao melhor blog de música do Brasil !!!! Parabéns por mais um ano ! Vou postar nesta data de aniversário a ópera Sansão e Dalila do mestre Saint-Saëns (9 de outubro, 1835 – 16 dezembro, 1921). No início da segunda metade do século XIX a França foi tomada de uma moda de oratórios bíblicos; o governo francês, então, resolveu promover um concurso de obras do gênero. Saint-Saëns resolveu encarar este desafio. E inspirado em Haendel, a quem admirava muitíssimo, planejou compor um oratório baseado na história de Sansão que está encontrada no livro dos Juízes, no antigo testamento da Bíblia. A história que inicialmente Saint pesquisou e estudou foram os versos que Voltaire havia escrito em 1732 para que o compositor Rameau musicasse, fato que não aconteceu. Camille não gostou do texto, queria algo novo, não tão fiel às escrituras. Convidou o marido de uma de suas primas, um talentoso poeta chamado Ferdinand Lemaire à escrever um oratório sobre o tema, mas ele sugeriu a Saint que fosse sim uma “grand opera”. Em 1865 Lemaire entregou o libreto como o conhecemos hoje. Camille entre uma viagem e outra concluiu partes do que hoje é o segundo ato e chamou alguns convidados para uma audição particular da nova obra. Entre eles as duas árias mais famosas da ópera, cantadas por Dalila, “Amour, viens aider na faiblesse” e “Mon coeur s’ouvre a ta voix” (faixa7 CD do Carreiras). Porém a receptividade da plateia foi fria e o compositor deu uma leve “brochada” e pôs de lado a ideia. Numa das suas inúmeras viagens, em 1869, Camille encontrou seu amigo Franz Liszt e este o convenceu a retomar o trabalho e se comprometeu a encená-la no teatro da corte de Weimar do qual ele era o diretor. Saint-Saëns voltou ao trabalho, alternando momentos de entusiasmo e indiferença, o fato é que a ópera só ficou pronta em 1876. Em agosto de 1877 organizou uma representação da ópera completa na casa de um amigo na cidade de Croissy, a obra foi recebida friamente pois a moda dos temas bíblicos tinha passado completamente. Como diz o ditado “quem tem amigo não morre pagão” Liszt cumpriu a promessa e em 2 de dezembro de 1877 a ópera estreou em Weimar, com o libreto traduzido para o alemão. Foi um grande sucesso, porém a imprensa francesa, na época completamente germanófoba por causa da guerra Franco-Prussiana, ignorou completamente o sucesso. A ópera só foi estrear na França em 1890 graças aos esforços de uma aluno de Camille, Gabriel Fauré. Levou ainda dois anos para ser ouvida na Ópera de Paris, transformando-se num absoluto sucesso, até 1976 contabilizavam-se 965 apresentações de Sansão e Dalila só no teatro Palais Garnier. No Metropolitan de NY a ópera estreou na temporada de 1915/1916 com Margaret Matzenauer como Delila, Enrico Caruso como Sansão e Pasquale Amato como o Sumo Sacerdote. Desde então, o Met encenou produções da ópera pelo menos uma vez a cada década, dando mais de 200 apresentações do trabalho.

Plácido Domingo atuou como Samson na produção de San Francisco Opera de 1981 que ora disponibilizo na íntegra, gravação ao vivo. Já o CD com a Agnes e o Carreras é um highlight de dez faixas com os melhores momentos. Gosto mais da versão do Plácio Domingo.

“É a história de um homem que foi forte o suficiente para derrotar os inimigos de Israel, os filisteus, mas não o suficiente para resistir à malícia de uma mulher, ô mulherada poderosa… o Sansão ai do lado está só o pó! ”

Resumo:

Primeiro ato: Gaza, 1150 a.C. Em uma praça em Gaza, um grupo de hebreus implora a Jeová por alívio de sua escravidão aos filisteus; Sansão, seu líder, os repreende por sua falta de fé. Quando o comandante dos filisteus, Abimelech, denuncia os hebreus e seu deus, Sansão o mata e leva os hebreus embora. O Sumo Sacerdote de Dagon vem do templo filisteu e amaldiçoa a força prodigiosa de Sansão, partindo com o esquife do homem morto. Um hebreu antigo elogia o retorno de Sansão. As paredes externas do templo desaparecem para revelar a ex-amante de Sansão, a filistéia Dalila, que o convida a ir naquela noite a sua casa vizinha. Ela e suas donzelas dançam sedutoramente para Sansão, que se torna surdo às severas profecias do hebreu antigo.

Segundo ato: No vale de Sorek, Dalila chama seus deuses para ajudá-la a enredar e desarmar Samson, prometendo ao Sumo Sacerdote encontrar uma maneira de tornar o herói impotente. Sansão aparece, apaixonado apesar de si mesmo; quando Dalila o tem em seu poder, ela finge descrença em sua constância e exige que ele mostre seu amor confiando nela o segredo de sua força, chorando quando ele se recusa. Sansão ouve trovões como um aviso de Deus, mas não pode resistir a seguir Dalila para dentro. Pouco tempo depois, tendo finalmente aprendido que o segredo da força de Sansão é seu cabelo comprido, ela chama soldados ocultos filisteu, que correm para capturar e cegam Sansão.

Terceiro ato: Em uma masmorra em Gaza, o cego Sansão empurra um moinho em círculo, orando por seu povo, que sofrerá por seu pecado. Ele ouve suas vozes castigando-o. Durante um bacanal no Templo de Dagon, Dalila e o Sumo Sacerdote provocam Sansão. Quando eles o forçam a se ajoelhar diante de Dagon, ele pede a um menino que o leve aos dois pilares principais do templo. Sansão ora a Jeová para restaurar sua força e, com grande esforço, ele puxa os pilares e o templo, esmagando a si mesmo e seus inimigos.

A história “passo a passo” com fotos do encarte original do CD e DVD estão junto no arquivo de download com as faixas, o resumo da ópera foi extraído do livro “Outras Óperas Famosas”, Milton Cross (Mestre de Cerimônias do Metropolitan Opera). Editora Tecnoprint Ltda., 1983.

Parabéns ao blog e acima de tudo um ótimo divertimento!

Samson et Dalila, José Carreras, Agnes Baltsa

01 Dieu! Dieu d-Israel!
02 Arretez, O Mes Freres
03 Maudite A Jamais Soit La Race
04 Printemps Qui Commence
05 Samson, Recherchant Ma Presence –
06 En Ces Lieux, Malgre Moi, M-ont R
07 Mon Coeur S-ouvre A Ta Voix
08 Vois Ma Misere, Helas!
09 Bacchanale
10 Seigneur, Inspire-Moi, Ne M-aband

Dalila – Agnes Baltsa
Samson – José Carreras
High Priest of Dagon – JonathanSummers
Abimelech – Simon Estes
An old Israelite – Paata Burchuladze

Chor & Symphonie – Orchester das Bayrischen Rundfunks
Regente – Sir Colin Davis
Gravação – München, fevereiro 1989

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Sansão e Dalila (conversão de DVD para mp3) – Plácido Domingo e Shirley Verrett
Act 1 – Chapter 2 até Chapter 13
Comentário Julius Rudel – Chapter 14
Act 2 – Chapter 15 até Chapter 23
Comnetário Julius Rudel – Chapter 24
Act 3 – Chapter 25 até Chapter 31
Comentário final – Chapter 32

Samson – Placido Domingo
Dalilah – Shirley Verrett
High Priest – Wolfgang Brendel
Abimelech – Arnold Voketatis
An old Hebrew – Kevin Langan

San Francisco Opera
San Francisco Opera Chorus

Regente – Julius Rudel
Gravação ao vivo, San Francisco Opera, 1981

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Vamos cantar o parabéns rapidinho, tenho que pegar o navio, vou passear de novo ! Félicitations pour le blog PQP Bach !!!

Ammiratore

Camille Saint-Säens (1835-1921) – Concerto No. 2 in G minor, Op. 22, César Franck (1822-1890) – Symphonic Variations e Franz Liszt (1811-1886) – etc

Camille Saint-Säens (1835-1921) – Concerto No. 2 in G minor, Op. 22, César Franck (1822-1890) – Symphonic Variations e Franz Liszt (1811-1886) – etc

Lembrei do Rubinstein esses dias… após o Roger Waters (Pink Floyd) se posicionar sobre a grave situação brasileira, se arriscando a levar vaias de parte da classe média paulistana e do nosso digníssimo Ministro da Cultura, que disse: “A gente não consegue mais ir a um show ou ver um filme sem que haja algum tipo de manifestação política.”

Deixo vocês com uma reportagem de 1964 e em seguida com a postagem original do Carlinus sobre um dos grandes pianistas do século XX. Rubinstein, Roger Waters e o ministro de Temer, quem será que está certo?

Músicos protestam contra a exclusão de negros das salas de concerto

O pianista Julius Katchen, que toca frequentemente na Europa e na Ásia, disse que a segregação é “uma fonte profunda de vergonha e constrangimento” para os norte-americanos no exterior.

Com o projeto de lei dos direitos civis agora no Congresso*, ele afirmou, “torna-se o dever de todos os artistas se recusarem a tocar em auditórios onde políticas de segregação são praticadas”.

Apesar de Arthur Rubinstein não ter chegado tão longe a ponto de endossar um boicote organizado, ele disse que os jovens artistas que se manifestaram contra a segregação deram “um passo certo e natural”.

Os perigos para uma sociedade livre, ele disse, são “apatia e complacência” em face da injustiça. Rubinstein disse que, como judeu, ele experimentou pessoalmente as consequências dolorosas do preconceito.

Ele discordou fortemente de uma declaração do pianista alemão Hans Richter Haaser de que os músicos deveriam se distanciar dos problemas raciais e políticos. “Os músicos também são seres humanos”, disse Rubinstein, “e eles têm a mesma responsabilidade moral que todo mundo em relação à sua sociedade.”

(Canadian Jewish Review, May 8, 1964, p.5)

*A Lei dos Direitos Civis (Civil Rights Act, em inglês), que pôs fim aos diversos sistemas de segregação racial, foi promulgada em 2 de julho de 1964

Esta série da RCA é espantosa. Têm gravações absurdas. Coisas realmente atordoantes. E este CD, por exemplo, que ora posto, é maravilhoso. A qualidade do áudio é ímpar.

Acredito que tenha mais de um ano que eu queria postá-lo. O disco possui um conjunto que dispensa comentários. Três compositores que souberam impingir um traço fantástico ao piano – Saint-Saëns, Franck e Liszt. Ou seja, o melhor que se produziu na segunda metade do século XIX. E ao piano, Arthur Rubinstein, um dos maiores pianistas e virtuoses do século XX. Das peças do post, gosto particularmente do Concerto No. 2 de Saint-Saëns. A obra é repleta de passagens belíssimas.  Um bom deleite!

Camille Saint-Säens (1835-1921) – Concerto No. 2 in G minor, Op. 22
01. Andante sostenuto
02. Allegro scherzando
03. Presto

César Franck (1822-1890) – Symphonic Variations
04. Poco allegro
05. Allegro non troppo

Franz Liszt (1811-1886) – Concerto No. 1 in E Flat*
06. Allegro maestoso
07. Quasi adagio
08. Allegretto vivace
09. Allegro marziale animato

Symphony of the Air
*RCA Victor Symphony Orchestra

Alfred Wallenstein, regente
Arthur Rubinstein, piano

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Rubinstein imitando o ministro da “cultura” de Temer

Carlinus
Repostagem por Pleyel

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Oratório de Natal

Camille Saint-Saëns (1835-1921): Oratório de Natal

O monge Ranulfus confessa que de modo geral detesta dar atenção ao Natal… mas nesta sua temporada de peregrinações passou da mui barroca e africana cidade de Salvador para a de Curitiba, que, mesmo sendo capital de um dos estados mais caboclos do Brasil, concebe-se com tanta fé em algum ponto entre Paris e Viena que até chega a realizar de fato, em alguma medida, essa posição.

E, zanzando pelas ruas dessa capital caboclo-europeia, topou com uma apresentação da Camerata Antiqua na bonita Capela Santa Maria, resgatada pela cidade de um antigo colégio que se mudou (ver foto abaixo) – apresentação essa de caráter totalmente natalino… mas, relaxem, sem nada de Noite Feliz nem de Jingle Bells: um In Terra Pax do inglês Gerald Finzi (1901-1956) e o mais mencionado que conhecido Oratório de Natal de Camille Saint-Saëns, tudo isso numa realização de uma beleza serenamente arrebatadora – se é que alguém consegue conceber tal combinação de qualidades!

Camerata Antiqua de Curitiba, Capela Santa Maria, 18.12.2010

Naturamente o monge Ranulfus saiu de lá com enorme vontade de compartilhar aquele concerto com seus amigos do PQP Bach… mas não sendo possível conformou-se com esta gravação alemã do oratório de Saint-Saëns, deixando para ver se encontra a bonita obra de Finzi em outra ocasião.

Saint-Saëns tinha apenas 23 anos quando compôs este oratório, uma obra de ~40 minutos para 5 vozes solistas, coro, órgão, harpa e orquestra. O hino final é consideravelmente conhecido e cantado por aí, mas creio que há bem mais a conhecer e apreciar nesse oratório. Pessoalmente achei os tempos e dinâmica do regente Diethard Hellmann um pouco burocráticos, especialmente no primeiro recitativo e no hino final, que poderia soar bem mais exultante… mas acho que isso não precisa nos atrapalhar na descoberta da obra, não concordam?

Então vamos lá:

Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Oratorio de Noël, Op. 12 (1858) [39:38]

1-Prélude (Dans le style de Séb. Bach) (3:16)
2-Recit et Choeur: Et Pastores erant – Gloria (coro) (5:47)
3-Air: Expectants expectavi Dominum (mezzosoprano) (4:08)
4-Air et Choeur: Domine, ego credidi (tenor e coro) (4:01)
5-Duo: Benedictus qui venit (soprano e barítono) (4:03)
6-Choeur: Quare fremuerunt gentes (coro) (3:59)
7-Trio: Tecum principium (mezzosoprano, tenor e barítono) (4:23)
8-Quatour: Alleluja (soprano, soprano, contralto e barítono) (2:14)
9-Quintette et Choeur: Consurge, Filia Sion
(soprano, mezzosoprano, contralto, tenor, barítono e coro) (5:29)
10-Choeur: Tollite hostias (coro) (2:18)

Coro Bach e Orquestra Bach de Mainz
Verena Schweizer (soprano)
Edith Wiens (mezzosoprano)
Helena Jungwirth (contralto)
Friedreich Melzer (tenor)
Kurt Widmer (barítono)
Hans-Joachim Bartsch (orgão)
Barbara Biermann (harpa)
Diethard Hellmann (condutor)

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LINK ALTERNATIVO

Marten de Vos: O Nascimento de Cristo (1577)

Ranulfus