.: interlúdio :. Dois grandes grupos com Don Cherry (1936-1995)

Este mês de janeiro tem sido de muitos momentos de alívio, alguns de tensão e muitos interlúdios jazzísticos aqui no PQPBach. Não rolou uma combinação nem uma pressão do patrão, apenas um daqueles transmimentos de pensação… Vamos então a mais dois álbuns em que os improvisos vão se construindo de forma horizontal e coletiva, difícil até de imaginar para certas cabeças obcecadas por ordem, dominação e esmagamento de uns por outros… Afinal, como disse meu colega WellBach, é difícil imaginar algo mais democrático que o Jazz.

Uma tendência do jazz dos anos 1970, que já aparece no disco de 1969 abaixo, foram os grupos sem um líder bem marcado. Naquela época se aposentavam ou saíam de cena Duke Ellington and his Orchestra, Thelonious Monk Quartet, John Coltrane Quartet, Miles Davis Quintet e as novidades eram Weather Report (com Joe Zawinul, Wayne Shorter e Jaco Pastorius dividindo holofotes), Return to Forever (Chick Corea, Stanley Clarke, Al Di Meola, Airto Moreira) ou o quarteto europeu de Keith Jarrett com um grande protagonismo de Jan Garbarek…

Don Cherry – supondo que dê pra conhecer a personalidade de alguém pelos seus solos de trompete e de flauta – tem um jeitão tranquilo, com alguns momentos mais intensos, gritos repentinos, mas predominância mesmo dos solos mais suaves (aqui!) e ao mesmo tempo imprevisíveis. Com essa suposta personalidade tranquila, apesar de ser uma das mais amadas figuras no jazz da segunda metade do século XX, ele não é tão lembrado pelos momentos em que organizou uma banda pra chamar de sua e exerceu liderança. Esse floreio é pra dizer que Don Cherry funciona bem em grupos mais democráticos.

O primeiro, lançado por um selo obscuro em 1969, tem uma história misteriosa: aparentemente o jovem James Mtume, de 23 anos, convenceu vários medalhões do jazz a gravarem um disco com suas composições e alguns trechos falados ligados ao movimento negro daquele período politicamente turbulento. O baterista Albert ‘Tootie’ Heath – tio de Mtume – parece ter sido quem conseguiu o contrato de gravação, e por isso ele aparecia na contracapa do LP. Já na reedição de 1975, Herbie Hancock e Don Cherry aparecem em letras maiores, o que não significa que eles tenham liderado as sessões, apenas que eram mais famosos.

Herbie Hancock frequentemente é quem faz a base das composições, junto com as percussões de Mtume, Tootie Heath e Ed Blackwell… sim, é um disco com bastante percussão, como já era de se esperar em um trabalho afrocentrado. Na 2ª faixa do álbum, temos voz muito interessante cantando sem palaras, aquele famoso “la-la-la”, mas na 3ª faixa a voz se intromete mais, supomos que seja a de Mtume, fazendo discurso político… os ouvidos mais apressados podem pular para a metade daquela faixa, quando as duas flautas ficam mais interessantes e a voz, mais discreta. Nos anos seguintes, Mtume tocaria percussão nas bandas de fusion de Miles Davies no início dos anos 1970, além de gravar alguns discos solo e, nos anos 80, lançar alguns hits pop/R&B (mais detalhes nesta resenha aqui).

Mas quando Don Cherry aparece ele quase sempre rouba a cena, ao contrário de Jimmy Heath, grande acompanhante (gravou com Milt Jackson, Freddie Hubbard e muitos outros), mais destinado ao papel de coadjuvante que ao de principal.

Ao contrário dessa breve e improvável constelação de estrelas que seguiriam seus rumos e nunca mais se encontrariam, o segundo disco de hoje é de um grupo que tocou junto por alguns anos, criou uma certa intimidade, o que não significa, claro, que tenham ligado o piloto automático e começado a se repetir, pecado imperdoável no jazz…

No disco de 1979, Codona, o nome do trio é uma junção de Collin, Don e Naná. Este último, o brasileiro Naná Vasconcellos, brilha no berimbau, cuíca e vários outros instrumentos de percussão. Nascido no Recife, Naná batucou desde pequeno em dezenas de instrumentos, gravou com Milton Nascimento (Milagre dos Peixes, entre outros) e, por intermédio de Gato Barbieri e Egberto Gismonti, se aproximou do jazz europeu de artistas que circulavam em volta da gravadora alemã ECM. Don Cherry e Collin Walcott nasceram nos EUA mas fizeram boa parte da carreira na Europa, com interesses musicais bem internacionais: Don se interessando por instrumentos africanos e Collin tendo estudado com Ravi Shankar e outros mestres indianos.

Kawaida (1969)
A1. Baraka
A2. Maulana
B1. Kawaida
B2. Dunia
B3. Kamili

Piano – Herbie Hancock; Trumpet [and flute?] – Don Cherry; Tenor Saxophone, Soprano Saxophone – Jimmie Heath; Albert “Tootie” Heath; Percussion – Ed Blackwell; Congas [and voice?] – James Mtume; Bass – Buster Williams; Flute, Percussion on B1 – Billy Bonner
All tracks composed by Mtume, except B2 by Tootie Heath
Recording date: December 11 1969
Recording place: The Universe

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Capa da reedição de 1975, colocando Hancock e Cherry em letras maiores

Collin, Don e Naná: Codona 1 (1979)
1. Like That of Sky (Walcott)
2 Codona (Cherry, Vasconcelos, Walcott)
3. Colemanwonder: Race Face/Sortie/Sir Duke (Ornette Coleman/Coleman/Stevie Wonder)
4 Mumakata (Walcott)
5. New Light (Walcott)
Recorded at Tonstudio Bauer in Ludwigsburg, West Germany in September 1978

Collin Walcott — sitar, tabla, hammered dulcimer, kalimba, voice
Don Cherry — trumpet, wood flute, doussn’ gouni, voice
Naná Vasconcelos — percussion, cuíca, berimbau, voice

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Don Cherry (circa 1971). Dizem que quanto menor o trompete, maior a… coragem!

Pleyel

.: interlúdio :. Bassekou Kouyaté: Segu Blue (ou: sutis sinais malineses da ancestralidade africana do jazz)

.: interlúdio :. Bassekou Kouyaté: Segu Blue (ou: sutis sinais malineses da ancestralidade africana do jazz)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Cada vez que penso no Máli não consigo deixar de lembrar que a primeira caracterização desse país que uma enciclopédia me ofereceu começava dizendo: “um dos países mais pobres do mundo” – afirmação seguida, naturalmente, de uma série de números que, pela mentalidade ocidental dominante, resumem tudo o que existe de relevante no real.

Por isso vocês hão de imaginar meu espanto quando mais tarde descobri que há não tantos séculos assim esse era o nome de um nos impérios mais extensos e poderosos do mundo. Ao ver fotos de crianças lindas e evidentemente bem nutridas às margens do Rio Níger. Ao saber da imensa diversidade étnica e cultural que a região contém, e que se mostra exuberantemente todos os anos no Festival sur le Niger, na cidade de Segu ou Ségou. Diante da espantosa arquitetura em adobe de Djenné ou de Mopti, e dos 600 mil manuscritos remanescentes da universidade medieval de Tombúktu – etc. etc. E, talvez mais que tudo, diante da sutil e refinada tradição de música instrumental que se expressa, por exemplo, em Toumani Diabaté, de que já fiz uma postagem aqui.

O som que trago hoje parecerá menos “clássico” – quem sabe já por envolver palavra cantada em vozes não impostadas -, e não estranharei se alguém disser que “parece tudo igual”. Caso isso aconteça, pedirei antes de mais nada que o ouvinte lembre de conceitos como “minimalismo” antes de descambar pra palavras como “primarismo”; e em segundo lugar que microscopize um pouco mais sua atenção e seus ouvidos, lembrando que, segundo dizem, não apenas o diabo mas também Deus mora nos detalhes (hora em que cabe invocar o desafio de não lembro qual compositor dos anos 60-70 que o Padre Penalva lançava sempre aos seus alunos: “quando estiver achando uma música monótona, desconfie de si mesmo”).

Bassekou Kouyaté já trabalhou com Toumani Diabaté mas não toca a espécie de harpa que é a kora, toca ngoni, instrumento de cordas com braço. Seu conjunto de ngonis, percussão e voz se chama Ngoni Ba, e conta com a participação vocal da sua mulher Ami Sacko. O CD, premiado como o melhor de “world music” em 2007 pela BBC3, tem “blue” no nome. Um disco de blues?

Não. Ou… quem sabe talvez. Ou talvez de certa forma sim… Querem saber? Ouçam! Mas sugiro que também “ouvejam” o primeiro dos vídeos abaixo: no calor da interpretação ao vivo diante da multidão, parece gritante um caráter de blues – e na quietude “cool” da gravação de estúdio onde é que ele foi parar? É a mesma música… Minha impressão é que o tal caráter não está ausente, mas como que “virado para dentro”; ou em estado latente, potencial.

Algum bluesman que tocou com Bassekou (não lembro qual, desculpem, li faz anos) saiu declarando que havia descoberto a região de origem do blues. Suspeito que seja exagero. Quando falo de “ancestralidade” no título não quero dizer que essa música do Máli seja avó do blues ou do jazz ou algo assim, e sim que têm ancestralidade em comum. Afinal, Bassekou Kouyaté vive hoje, nasceu quando Muddy Waters e Howlin’ Wolf já tinham mais de 50 anos (cada!), e as vias que unem a África ao resto do mundo não são de mão única. Bassekou é um cultor atual da música de raiz de sua terra, mas nesse cultivo não deixa de levar em conta o aroma dos frutos que a mesma árvore produziu quando transplantada a outros continentes. E muito mais que um avô, eu o veria como um primo dos jazzmen e bluesmen desse mundo.

Bom, essa a minha impressão – e agora é com vocês.

Bassekou Kouyate & Ngoni Ba: SEGU BLUE (2007)
01 Tabeli te
02 Bassekou
03 Jonkoloni
04 Juru nani
05 Mbowdi
06 The River Tune
07 Andra’s Song
08 Ngoni fola
09 Banani
10 Bala
11 Segu tonjon
12 Sinsani
13- Lament For Ali Farka
14- Segu Blue (Poyi)

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Ranulfus

Ainda mais Cordas: a Kora e a Harpa (Clychau Dibon – Seckou Keita e Catrin Finch)

917pB7tJJPL._SL1500_Da kora, a harpa mandê, já falamos aqui, , e acolá – e o senegalês Seckou Keita é um dos seus maiores virtuoses. Da galesa Catrin Finch, talvez a melhor harpista da atualidade, já tivemos uma gravação maravilhosa da versão harpística das Variações Goldberg que, segundo contou-me um passarinho, voltará em breve ao PQP Bach. Falando em passarinho, “dibon” é o nome de uma ave da África Ocidental cujo canto é tão famoso que deu nome a uma das 21 cordas da kora. Somem-se a elas as 47 cordas da harpa da galesa (“clychau” significa “sinos” em galês – e se acham esse nome difícil é porque vocês ainda nada viram) e, a partir de tradições aparentemente muito distintas (que o excelente encarte do disco trata de mostrar quão próximas são), o que se obtém é uma gravação sensacional, muito estimulante, e de verve surpreendente para um duo de instrumentos com tanta reputação de quase quietude.

CLYCHAU DIBON – CATRIN FINCH & SECKOU KEITA

01 – Genedigaeth koring-bato
02 – Future Strings
03 – Bamba
04 – Les Bras de Mer
05 – Robert Ap Huw meets Nialing Sonko
06 – Ceffylau
07 – Llongau térou-bi

Seckou Keita, kora
Catrin Finch, harpa

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Senegal e Gales, galesa e senegalês.
Senegal e Gales, galesa e senegalês.

Vassily Genrikhovich

Ballaké Sissoko (kora) & Vincent Ségal (violoncelo) – Chamber Music

Ballaké Sissoko (kora) & Vincent Ségal (violoncelo) – Chamber Music

41CBH7khTPLBonita gravação de um improvável duo de kora (a harpa-alaúde mandê) e violoncelo. Os músicos são amigos, e foi sua amizade quem os levou, por fim, ao estúdio.

O francês Ségal nasceu em Reims e estudou em Lyon. Enveredou por todo lado em sua carreira, inclusive para o dito “trip-hop” com seu grupo Bumcello. Seu instrumento, aqui, definitivamente não soa como aquele para o qual Bach escreveu suas maravilhosas suítes. Ségal o faz mergulhar de espigão e tudo, e inclusive percussivamente, na longa tradição representada por seu parceiro africano.

O malinês Ballaké Sissoko nasceu em Bamako, capital do país, e foi muito influenciado pelo compatriota Toumani Diabaté, o grande nome da kora. A origem do instrumento remonta ao período correspondente à Idade Média na Europa. Mais adiante, no apogeu do império Songhay, a região que hoje é o Mali enriqueceu graças ao lucrativo comércio de ouro, sal e, infamemente, escravos. O principal entreposto das caravanas era a mítica cidade de Tomboctou, também conhecida como Timbuktu. Inestimável e mui ameaçada integrante do Patrimônio Cultural da Humanidade, ela é sede de uma das mais preciosas (e frágeis) bibliotecas do mundo islâmico. De quebra, como bem deverá se recordar quem lia os quadrinhos das aventuras de Mickey e de Tintin, Timbuktu é sinônimo de fim de mundo, e não à toa: está a pelo menos três dias (que para mim foram cinco) de Bamako, num ônibus atrolhado, tórrido e sovaquento, com janelas invariavelmente seladas por conta da fobia local a brisa – QUALQUER brisa.

Em compensação, para quem está em Marrakesh e tem um camelo, Tombouctou é logo ali (foto do autor)
Em compensação, para quem tem um camelo e está em Marrakesh, Tombouctou é logo ali (foto do autor)

Voltando à vaca fria, não creio que caibam quaisquer ressalvas à postagem deste disco num blogue criado pelo filho renegado da família Bach. O demiurgo Johann Sebastian é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de toda Música, e este álbum que ora apresento, afinal, contém não só grande música, critério bastante para que o lancemos aqui, mas também arte que é clássica até o caroço. Como o colega Ranulfus muito bem defendeu nos comentários de uma antiga postagem, “uma das coisas que me motivam na colaboração no blog é tentar demonstrar o quanto nosso conceito de ‘clássico’ pode ser justificadamente expandido para além das suas fronteiras tradicionais (no fundo etnocêntricas), e isso com criações autênticas, não com adaptações tipo ‘transcrições de canções populares para orquestra’.”

Ditto.

CHAMBER MUSIC (2009)

01 – Chamber Music (Sissoko)
02 – Oscarine (Ségal)
03 – Houdesti (Sissoko)
04 – Wo Yé N’gnougobine (Sissoko)
05 – Histoire de Molly (Ségal)
06 – “Ma Ma” FC (Ségal)
07 – Regret – À Kader Barry (Sissoko)
08 – Halinkata Djoubé (Sissoko)
09 – Future (Sissoko)
10 – Mako Mady (Sissoko)

Ballaké Sissoko, kora
Vincent Ségal
, violoncelo

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Sissoko e Ségal em ação (Philippe Salgarolo, licença CC BY-SA 4.0)

Vassily

.: interlúdio :. Toumani Diabaté: The Mandé Variations

.: interlúdio :. Toumani Diabaté: The Mandé Variations

Toumani Diabaté é um dos músicos africanos mais importantes da atualidade. Toca kora, uma espécie de harpa com 21 cordas exclusiva da África Ocidental, levando-a a públicos de todo o mundo. Com o seu virtuosismo e criatividade excepcionais, mostra o que a kora pode.

Toumani Diabaté nasceu em Bamako, a capital do Mali, em 1965 numa família de Griots (casta de músicos / historiadores), que conta com 71 gerações de executantes de kora. O mais notável foi o seu pai, Sidiki Diabaté (c.1922-96), eleito Rei da Kora no prestigiado Black Arts Festival Festac em 1977 e ainda hoje uma inspiração para todos os tocadores de kora. Toumani Diabaté cresceu num ambiente preenchido por música, mas foi na verdade um autodidacta na aprendizagem da kora, sem receber ensinamentos diretos do seu pai que não fossem ouvir a sua música.

Nas décadas de 1960 e 1970, o meio musical de Bamako era influenciado pelos sons de fora, especialmente pela música negra americana: a música soul era particularmente popular, tal como Jimi Hendrix, Jimmy Smith e grupos de rock britânico como Led Zeppelin. Tanto a exposição a estas sonoridades como os grupos modernos de Bamako seriam importantes para o desenvolvimento musical de Toumani .

Começou a tocar kora aos 5 anos, altura em que o goveno maliano tinha um programa de incentivo aos grupos tradicionais. Estreou-se em público aos 13 anos e em 1984 juntou-se ao grupo que acompanhava a grande diva Kandia Kouyaté, a cantora griot mais conhecida do Mali, com quem percorreu o continente africano .

Embora não tenha aprendido directamente com o seu pai, Toumani Diabaté prosseguiu o seu ideal de desenvolver a kora como instrumento solista, elevando-a a um outra nível. Descobriu um modo de tocar o baixo, o acompanhamento rítmico e a melodia solista ao mesmo tempo, um método que o levou aos palcos de todo o mundo. Veio à Europa pela primeira vez em 1986, acompanhando outra cantora maliana, Ousmane Sacko, e acabou por permanecer em Londres por sete meses. Nesse período, gravou o seu primeiro álbum a solo: Kaira. Foi um disco pioneiro – o primeiro de kora solo de sempre – e mantém-se um best seller até hoje. No mesmo ano apresentou-se pela primeira vez no festival WOMAD, causando um impacto significativo .

No Reino Unido trabalhou formalmente com músicos de várias tendências e contactou com diferentes tradições, como a música clássica indiana, de onde proveio a ideia jugalbandi (diálogo musical entre dois instrumentos) que se tornou uma característica marcante da sua música .

Colaborou com o grupo espanhol Ketama dando origem ao álbum Songhai, uma síntese perfeita da kora com o flamenco. Considerando a experimentação como uma parte do griot moderno, forma em 1990 a Symmetric Orchestra – um equilibrio entre a tradição e a modernidade e entre as contribuições de músicos de países próximos. Senegal, Guiné, Burkina Faso, Costa do Marfim e Mali foram todos parte do Império Mandé medieval. A orquestra estreia-se em cd com Shake the Whole World (1992, Japão e Mali) e atinge o auge com Boulevard de l’Indépendance em 2005, gerando grande aclamação da crítica e uma extensão digressão internacional. Entretanto têm-se apresentado em locais como o Carnegie Hall de Nova Iorque e festivais de Jazz como os de Nice e de Montréal1 .

Ainda na década de 1990, em Bamako, Toumani reúne à sua volta um conjunto de músicos talentosos como Bassekou Kouyaté (ngoni) e Keletigui Diabaté (balafon), cultivando uma abordagem jazz-jugalbandi-griot instrumental que se pode ouvir no álbum Djelika de 1995. Depois do álbum Songhai, grava New Ancient Strings em duo com o também tocador de kora Ballake Sissoko; um tributo ao álbum Cordes Anciennes que nos anos 70 juntou os pais dos dois músicos. Com o disco Kulanjan, de 1999, celebra as ligações entre os blues e a música do ocidente africano com o músico norte-americano Taj Mahal. Em MALIcool, ao lado do trompetista Roswell Rudd, é já o free-jazz que serve de referência. A estes juntam-se as participações em inúmeros projectos discográficos como nomes como Ali Farka Touré, Salif Keita, Damon Albarn, Kasse Madi Diabaté e Bjork1 .

Em 2004, Toumani Diabaté recebeu o Ziryab des Virtuoses, um prêmio da UNESCO concedido no Mawazine Festival organizado pelo rei Mohammed VI de Marrocos. É directo da Mandinka Kora Productions, que promove a kora no Mali através de workshops, festivais e vários eventos culturais. Ensina kora e música tradicional moderna no Conservatório de Artes, Cultura e Multimédia Balla Fasseke, inaugurado em Bamako no fim de 2004 .

Em 2004, Toumani Diabaté começou a trabalhar com o World Circuit para uma trilogia de álbuns gravados no Hotel Mandé em Bamako, participando em dois títulos: In the Heart of the Moon em dueto com Ali Farka Touré, álbum vencedor de um Grammy, e Boulevard de l’Indépendance pela Symmetric Orchestra .

Em 2008 foi editado The Mandé Variations, o primeiro álbum de kora solo desde Kaira, há cerca de 20 anos. O álbum Ali and Toumani, recém lançado, em parceria com Ali Farka Touré, foi pontuado com 8.3 pela Pitchfork .

Em 2011, Diabaté tocou kora no projeto “A Curva da Cintura” ao lado dos músicos brasileiros Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra. Além das gravações do álbum em um estúdio de Bamako, “A Curva da Cintura” gerou um documentário para a MTV Brasil.

Fonte: Wikipedia

Toumani Diabaté: The Mandé Variations

1. Si naani 10:27
2. Elyne Road 8:47
3. Ali Farka Toure 6:15
4. Kaounding Cissoko 6:20
5. Ismael Drame 5:42
6. Djourou Kara Nany 6:49
7. El Nabiyouna 5:59
8. Cantelowes 6:57

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Toumani Diabaté e sua kora
Toumani Diabaté e sua kora

PQP

 

Mzilikazi Khumalo (1932): Five African songs / Peter Louis Van Dijk (1953): San Gloria and San Chronicle / Samuel Akpabot (1931-2000): Three Nigerian Dances

Mzilikazi Khumalo (1932): Five African songs / Peter Louis Van Dijk (1953): San Gloria and San Chronicle / Samuel Akpabot (1931-2000): Three Nigerian Dances

Eu nunca havia escutado obras eruditas de compositores africanos (na verdade eu nem conhecia compositores africanos e o único expoente das artes subsaarianas famoso no Brasil, Bengalelê Motumbo, não estudou música), até que uma boa oportunidade surgiu quando comprei esse CD.

Falando um pouco do repertório do disco: as Cinco canções africanas são canções folclóricas sul-africanas bem conhecidas naquele país e que foram arranjadas para coral por Khumalo, mas aqui elas aparecem no arranjo orquestral criado por Peter Van Dijk (diz-se “Van Déique”). São as duas obras desse holandês radicado na África do Sul que valem o download, principalmente o San Gloria, baseadas na música do povo San.

Agora, África do Sul, Holanda e Nigeria entram para o mapa do blog.

***

Mzilikazi Khumalo (1932): Five African songs / Peter Louis Van Dijk (1953): San Gloria and San Chronicle / Samuel Akpabot (1931-2000): Three Nigerian Dances

Khumalo, Mzilikazi
5 African Songs (orch. Peter Louis Van Dijk)
1. Bantu Be – Afrika Hlanganani 00:03:13
2. Bawo Thixo Somandla 00:03:50
3. Sizongena Laph’emzini 00:04:32
4. Ingoma kaNstikana 00:04:28
5. Akhala Amaqhude Amabile 00:03:58

Van Dijk, Peter Louis
San Gloria
6. Gloria in excelsis Deo 00:02:28
7. Et in terra pax hominibus, bonae voluntatis 00:02:59
8. Laudamus te 00:02:38
9. Domine Deus, Agnus Dei – Quoniam tu solus sanctus 00:06:51

Akpabot, Samuel
3 Nigerian Dances
10. Allegro moderato 00:02:47
11. Andante cantabile 00:03:45
12. Allegretto 00:02:04

Van Dijk, Peter Louis
San Chronicle (for Chamber Orchestra)
13. San Chronicle 00:19:22

South African Broadcasting Corporation National Symphony Orchestra
South African Broadcasting Corporation Chamber Choir
Richard Cock

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

James Stephen Mzilikazi Khumalo quando jovem (e barrigudinho)
James Stephen Mzilikazi Khumalo quando jovem (e barrigudinho)

CVL

Toumani Diabaté & Ali Farka Touré: In the Heart of the Moon (mais biscoito fino do Máli)

Postado originalmente em 05.09.2012

Há poucos dias o colega PQP postou aqui “Mandé Variations”, de Toumani Diabaté, e pouco depois eu revalidei uma postagem minha de 2010 com o CD “New Ancient Strings”, do mesmo instrumentista malinês. Nesse post falei um pouco da kora, espécie de harpa da África Ocidental, e disse que só considero possível entender uma tal música como clássica.

Liguei ainda essa tradição clássica à herança dos povos mandê e alguns outros, que constituíram impérios de grande extensão, poder e riqueza cultural numa vasta área da África Ocidental, a partir do que chamamos século X.

Hoje trago um pouco mais de Toumani, desta vez junto com um músico simultaneamente mais velho e mais novo: Ali Farka Touré (1939-2006) já tinha 26 anos quando Toumani nasceu – no entanto sua música remonta, de modo geral, mais à síntese que se formou no século XX entre o que permaneceu na África e o retorno das aventuras musicais realizadas por afrodescendentes na diáspora, sobretudo no Caribe e nos EUA. Touré tocava violão – instrumento que não remonta aos antigos impérios, e o tocava muitas vezes com sabor de blues, de salsa, até de choro.

Já Toumani, embora mais jovem, cresceu no caldo de um movimento de reafirmação das antigas tradições culturais mandê, que teve seu auge nos anos 50 e começo de 60, no bojo dos grandes movimentos pela re-independização política dos povos africanos. Seu pai Sidiki Diabaté (1923-1996) foi um nome representativo desse movimento que (deixa eu ver minha cola aqui, da qual perdi o link – hehehe) teria se chamado Jurana Kura, e este CD contém inclusive música composta por ele.

Neste disco, de certa forma o “velho moderno” retorna ao universo da tradição acompanhado do “jovem antigo”, sem deixar de trazer seu tempero – nem deixar que ele encubra o sabor da tradição. O resultado… vocês vão ouvir.

“In the Heart of the Moon” – No Coração da Lua – foi gravado em 2005, em três sessões realizadas no auditório da cobertura do Hotel Mandé na atual capital do Máli – Bamako -, com vista para o Rio Níger. Antes desse encontro, Ali e Toumani haviam se encontrado esparsamente e tocado juntos um total de três horas, ao longo de 15 anos. Aí sentaram e gravaram este CD sem ensaios… pelo menos é o que se divulgou!

Toumani Diabaté e Ali Farka Touré tocando

Não vou comentar nada do disco em detalhe, exceto que a faixa 4, intitulada em francês “O senhor prefeito de Niafunké”, se refere ao fato de Ali Farka Touré ter sido eleito prefeito da sua cidade no meio das temporada de três sessões de gravação. Consta que na véspera da eleição ele não estava fazendo campanha e sim gravando parte deste disco… Chamo atenção para o começo dessa faixa, especialmente as “falas” do violão quando está liderando, e pergunto se vocês já não ouviram coisas parecidas na música de um determinado país exótico da América do Sul…

Ali Farka Touré & Toumani Diabaté

Para terminar, uma observação minha: muitas vezes tenho a impressão de ouvir aí um sabor de modo lídio – aquele que seria uma escala maior não fosse a quarta aumentada – portanto uma escala sobre-maior, por assim dizer. Acho que não é bem, e não tenho condições de levantar no momento, mas sei que traz um “up”, um quê de espíritos do fogo dançando “nas pontas dos pés”, com leveza, brilho e ao mesmo tempo substância…

Mas vou deixar que vocês viajem sua própria viagem. Agora vai!

IN THE HEART OF THE MOON (2005)
Ali Farka Touré, violão
Toumani Diabaté, kora
(harpa mandê)

01 Debe
02 Kala
03 Mamadou Boutiquier
04 Monsieur le Maire de Niafunké
05 Kaira
06 Simbo
07 Ai Ga Bani
08 Soubou Ya Ya
09 Naweye Toro
10 Kadi Kadi
11 Gomni

. . . . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

Toumani Diabaté (1965) e a harpa clássica do Império do Máli: New Ancient Strings

Toumani Diabaté e sua kora: www.tropis.org/imagext/toumanidiabate1b.jpg

Publicado originalmente em 01.05.2010

Esqueça qualquer ideia preconcebida sobre música africana: pra começar, você não ouvirá uma única nota de percussão neste CD.

Até o século XV, boa parte da África tinha vida totalmente comparável à da Europa: uma Idade Média com suas dinastias aristocráticas, suas intrigas palacianas, seus torneios de cavaleiros… E entre as dezenas de povos envolvidos destacavam-se os mandê, a que se ligam palavras como mandinque, mandinga, malinquê, malê –

… e Máli, que por séculos significou um dos impérios mais vastos e poderosos do planeta. Tanto que controlava a multicultural cidade de Tombúctu (ou Timbúktu), que apesar de não ser a capital abrigava entre 15 e 25 mil alunos e mestres universitários – do quê testemunham os 200 mil, talvez 700 mil manuscritos ainda existentes.

A riqueza desse mundo vinha da exportação de ouro e outros produtos para o Mediterrâneo (e portanto também para a Europa) através do Saara. Quando os portugueses chegaram a esse mundo para comerciar direto por mar, essa estrutura que sustentava uma civilização levou o primeiro e já o mais decisivo dos golpes que levariam uma das irmãs à glória do Barroco e além, a outra ao papel de gata borralheira.

Atualmente qualquer enciclopédia define “Máli” como “um dos países mais pobres do planeta” – o que ainda hoje só é verdade pelos critérios ocidentais de desenvolvimento: à beira do Níger a comida abunda, assim como fatos culturais que ainda deixam entrever e entreouvir a sofisticação das cortes do passado.

Um desses é um tipo de harpa chamada kora. Nem todo mundo a toca no nível do seu atual mestre maior, Toumani Diabaté, mas este não cria sua música do nada: trabalha com técnicas de execução, composição e desenvolvimento por improvisação que remontam a essa Idade Média.

Mas não é uma figura de museu: Toumani vive hoje, e dialoga com o mundo de hoje: no CD Mandé Variations, de 2008, na faixa Elyne Road Toumani cita e aproveita um motivo da banda UB40, que ouviu nessa rua em sua primeira estada em Londres. E faz o mesmo com um tema de trilha de filme, de Enio Morricone, em Cantelowes.

Mandé Variations (recentemente disponibilizado pelo colega PQP aqui) é provavelmente seu seu trabalho mais sofisticado até agora, onde Toumani contraria a tradição e toca desacompanhado. Por essa razão o som é às vezes menos fácil de ouvir – mais ascético, eu diria – que neste NEW ANCIENT STRINGS, de 1999, que nem por isso é biscoito menos fino!

Para um artigo de 2008 do The Guardian sobre Toumani, acesse AQUI . E quem quiser conhecer um pouco da vitalidade e diversidade musical popular do Máli (pois é esta que dá base e alimento às realizações clássicas, sempre), sugiro que procure no YouTube registros do Festival sur le Niger, anual, na cidade de Ségou. E agora acho que não cabe nenhuma palavra mais, antes de vocês terem ouvido. Um bom Primeiro de Maio para todos!

NEW ANCIENT STRINGS (1999)
Toumani Diabaté, Ballake Sissoko, koras

1. Bi Lambam
2. Salaman
3. Kita Kaira
4. Bafoulabe
5. Cheikhna Demba
6. Kora Bali
7. Kadiatou
8. Yamfa

. . . . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

Ariel Ramírez (1921-2010): Misa Criolla (com José Carreras); Guido Haazen (1921-2004): Missa Luba; Anônimo: Misa Flamenca + Guido Haazen (1921-2004): Missa Luba e Canções Congolesas [link atualizado 2017]

SEN-SA-CIO-NAIS!!!
As missas que ora apresentamos são obras emblemáticas e históricas! As três, belíssimas, marcam a abertura da Igreja Católica após o Concílio Vaticano 2º (1962-1965), quando, entre outras tantas mudanças, o rito romano deixou de ser em latim e passou a se celebrar nas línguas locais.
Cronologicamente, a primeira das três peças é a Missa Luba, composta pelo missionário belga Guido Haazen (nome de batismo Mauritz Jan Lodewyjk Haazen) em 1958, quando ele estava em missão no Congo. Haazen adaptou os cânticos tradicionais da missa católica, ainda em latim, aos ritmos e instrumentos locais, o que em si, em época ainda anterior ao Concílio, era bastante arrojado e provavelmente não seria aceito pela Igreja se já não se estivessem indicando sinais de mudanças. A sua missa alterna entre comoventes momentos de placidez e de lamento, com uma formação extremamente singela: um coro e 4 instrumentos de percussão (para que mais que isso, se ele consegue efeito tão belo?).
Seguindo a linha do tempo, a talvez primeira missa completa composta na língua do país tenha sido a Misa Criolla, de Ariel Ramírez, um dos grandes compositores da Argentina. foi terminada ainda em 1964, antes do fim do Concílio. Ramírez mescla à formação e impostação clássica de coro os instrumentos andinos de sua terra, de forte ligação com os povos indígenas de lá, tomando ainda o cuidado para que cada cântico tivesse as características de um ritmo tradicional platino diferente. Disso resulta uma obra riquíssima, ainda mais valorizada com a presença da potente e precisa voz de José Carreras, na gravação que ora lhes oferecemos, e na qual o compositor está presente no piano e na harpa! Detalhe: a Misa Criolla é a peça argentina mais gravada e conhecida mundialmente. Há uma outra versão aqui no PQPBach, ainda mais arrebatadora que a de Carreras, com Mercedes Sosa, mas eu recomendo que vocês conheçam as duas gravações.
Por fim, a mais recente de todas, mas organizada apenas dois anos depois do dito concílio, a Misa Flamenca, é um arranjo de Ricardo Fernandez de Latorre, José Torregrosa e José María Moreno de músicas da missa para o ritmo tão característico da Andaluzia, resultando em sonoridades extremamente ricas e inusitadas, dado que o flamenco é geralmente cantado em solo e, em geral, não admite coros, que nesta peça harmonizaram-se perfeitamente com a forma tradicional. É interessante perceber o tanto que os volteios e meirismos característicos do ritmo guardam das canções árabes: a influência musical dos mouros muçulmanos, que por séculos dominaram a Península Ibérica, transparece até mesmo na música católica! É uma dessas belas misturas que o mundo nos proporciona!
Há uma outra versão, de sonoridade bastante distinta, da Missa Luba, regida pelo próprio padre Guido Haazen. Quando o missionário chegou ao Congo, formou, unindo 45 crianças de 9 a 14 anos e 15 professores da escola de Kamina, um coro que recebeu o nome de Les Troubadours du Roi Baudouin (Os Trovadores do Rei Baudouin). Esse grupo acabou por apresentar-se por seis meses na Europa, levando a música da África para terras distantes e não acostumadas àquela sonoridade. Nessa gravação, diferentemente do som encorpado e redondo que predomina nas técnicas tradicionais da música de concerto, aparecem as vozes rasgadas, típicas dos cantos africanos, distanciando a percepção da música do padrão erudito e acercando-a da forma tradicional dos povos negros. Há ainda, uma reunião de sete músicas cerimoniais congolesas, que mantém, após a audição da missa, a ligação com o divino.
Confira as sonoridades que esses autores proporcionaram à humanidade! Ouça!

Misa Criolla (1964)
Ariel Ramirez (Santa Fé, 1921 – Buenos Aires, 2010)
01. Misa Criolla – Kyrie (vidala-baguala)
02. Misa Criolla – Gloria (carnavalito-yaraví)
03. Misa Criolla – Credo (chacareira trunca)
04. Misa Criolla – Sanctus (carnaval cochabambino)
05. Misa Criolla – Agnus Dei (estilo pampeano)

Missa Luba (sobre temas tradicionais do Congo) (1958)
Padre Guido Haazen (Antuérpia, 1921 – Bonheiden, 2004)
06. Missa Luba – Kyrie
07. Missa Luba – Gloria
08. Missa Luba – Credo
09. Missa Luba – Sanctus
10. Missa Luba – Agnus Dei

Missa Flamenca (1967)
Anônimo
Arr. Ricardo Fernandez de Latorre, José Torregrosa, José María Moreno
11. Misa Flamenca – Kyrie (La Caña)
12. Misa Flamenca – Gloria (Cantes de Málaga)
13. Misa Flamenca – Credo (Cantes Gitanos)
14. Misa Flamenca – Sanctus (Cantes del Campo)
15. Misa Flamenca – Agnus Dei (Cantes de Cádiz)

Misa Criolla
José Carreras, tenor
Grupo Huancara, instrumentos latinos (Ariel Ramírez, piano e harpa; Domingo Gura, Jorge Padín, percussão; Arsenio Zambrano, charango; Lalo Gutierrez, violão; Raúl Barboza, acordeom)
Coral Salvé Laredo
José Luís Ocejo, regente
Sociedade Coral Bilbao
Gorka Sierre, regente
José Luís Ocejo, regente

Missa Luba
Muungano Nacional Choir (Quênia)
(acompanhado de percussão com djembe, conga, ngoma e guiro)
Boniface Mganga, regente

Misa Flamenca
Andalusian Instrumental Ensemble (Rafael Romero, Pericón de Cádiz, Chocolate, Pepe “El Culata”, Los Serranos, vocais; Victor Monje “Serranito”, Ramón Algeciras, violões)
Coro Maitea
Coro Easo
José Torregrosa, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (96Mb)
Mas deixe um comentariozinho…

Missa Luba e Canções Tradicionais do Congo
Padre Guido Haazen (Antuérpia, 1921 – Bonheiden, 2004)
01. Missa Luba – Kyrie
02. Missa Luba – Gloria
03. Missa Luba – Credo
04. Missa Luba – Sanctus
05. Missa Luba – Benedictus
06. Missa Luba – Agnus Dei
07. Dibwe Diambula Kabanda (canção de matrimônio)
08. Lutuku Y a Bene Kanyoka (canto de tristeza/luto)
09. Ebu Bwale Kemai (dança de casamento)
10. Katumbo (Dança)
11. Seya Wa Mama Ndalumba (celebração conjugal)
12. Banana (canção de guerreiros)
13. Twai Tshinaminai (canto de trabalho)

Les Troubadours du Roi Baudouin
Guido Haazen, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (64Mb)

Ouça! Deleite-se!

Bisnaga

Missa Bantu – Coro das Irmãs Brancas Congolesas de Katana [link atualizado 2017]

Esta postagem tem uma história interessante…
Fuçava eu neste blog em pesquisa. Queria postar a Misa Criolla de Ariel Ramirez, mas precisava me certificar que a versão com José Carreras (aqui) ainda não figurava no rol das peças aqui disponíveis. Eis que encontro a postagem que Avicenna fez da referida missa com a estupenda Mercedes Sosa (aqui). Aprovoitei e vi os comentários e, lá no meio, CVL e Avicenna, empolgados, combinavam de postar missas folclóricas/étnicas. Dessas promessas, CVL acabou por postar a genial Missa de Alcaçuz (aqui: se você ainda não ouviu, baixe-a também), enquanto Avicenna mencionava uma Missa Bantu. “Uau! deve ser demais” – exclamei sozinho frente ao computador. Procurei a tal missa e não encontrei. Pedi, então, em e-mail ao Mestre Avicenna (na verdade o lembrei) para disponibilizar essa missa. Qual não foi a minha surpresa quando ele me envia os arquivos do LP digitalizado para que eu o fizesse.
Apresento-vos, então, feliz e envaidecido, esse presentão recebido de Avicenna: a Missa Bantu, cantada pelas Irmãs Brancas Congolesas de Katana, coisa linda de se ouvir! É mais uma dessas peças musicais que absorvem ritmos e sonoridades locais, no período de abertura da Igreja Católica para o mundo moderno, para os línguas e tradições locais, com o Concílio Vaticano II (1962-1966). Religiosos e leigos estavam ávidos para expressarem suas culturas também na profissão de sua fé.
Por ser anterior ao Concílio, esta missa ainda tem o texto todo em latim. Suas canções são para o ritual do primeiro domingo depois da Páscoa, ou seja, para o próximo domingo (aos que virem esta postagem mais para a frente, estamos na primeira quinta-feira após a Páscoa). Irmã Lucrécia, que organizou e regeu o coro, foi também responsável por adaptar cânticos tradicionais do Congo ao texto em latim da missa, e ela o fez com total sintonia com as sonoridades africanas. A freira provavelmente não teve grande formação musical e disso resultam arranjos simples, mas é nessa singeleza das músicas que reside a beleza dessa peça. Há um misto de popular e erudito, de canto gregoriano e canções africanas, de tradição católica e de avanço formal na música. É altamente perceptível, sobretudo, que há muito amor, muita dedicação em fazer para Deus o melhor possível, o mais belo ao alcance.
Dessa linda missa nos diz mais um pouco o texto extraído do LP:

Numa primavera de 1956, na missão de Katana, às margens do lago Kivu, Irmã Lucrécia, membro da Ordem  das Irmãs Brancas, regeu um coro de trinta noviças e freiras congolesas numa exibição da “Missa Bantu”, quando da celebração da Missa de Páscoa. A “Missa Bantu”, com suas melodias puras, rica e límpida cadência, revelou-se logo como um suceso absoluto por haver tão bem apreendido o espírito africano.
O coro das irmãs africanas de Katana rapidamente tornou-se famoso em todo Kiva, recebendo logo convites para cantar, tanto nas missões vizinhas, como na Catedral de Bukavu. Seu verdadeiro objetivo era realizar as aspirações dos Cristãos Africanos, celebrando a glória de Deus com um autêntico musical em idioma africano e pondo em relevo o batuque do tantã, alternativamente misterioso e exuberante. Dessa forma, expressando os mais profundos sentimentos do espírito negro, uma vivificante liturgia consubstanciava-se, criando raízes e formas dentro de cada um e da alma coletiva.
A cerimônia aqui ouvida é a missa do primeiro domingo depois da Páscoa, conhecida como Domingo Quasímodo; foi gravada ao vivo, na Catedral de Bukavu, por Mr. van Eyll, prefeito da cidade e um dos maiores admiradores do coro. O Introitus é cantado em estilo gregoriano, mas o Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei, são todos inspirados em antigas melodias africanas, coligidas e arranjadas pela Irmã Lucrécia que mostrou um completo e profundo respeito pelo espírito da arte bantu.
O resultado foi uma inteira, sincera e expressiva demonstração de fervor religioso em consonância com os sentimentos e a sensibilidade musical africana. Ninguém pode deixar de responder aos solenes compassos do “Et sepultus est …”; de compartilhar do puro regosijo do “Resurrexit”; ou de sentir a humilde bem-aventurança do “Et ascendit in caelo” e a majestade do “sedet ad desteram patris”.
Este disco nos traz o comovente testemunho da beleza artística e da beleza espiritual com que a África pode contribuir, abundantemente, para o mundo.

Missa Bantu
Missa do primeiro domingo depois da Páscoa “Quasímodo” ou Domingo “In Albis”

01. Introitus
Quasimodo geniti infantes, alleluia, rationabiles sine dolo lac concupiscite, alleluia, alleluia! Exultate Deo Adjutori nostro; jubilate Deo Jacob (Canto gregoriano)
02. Kyrie (Improvisação sobre temas do Uele e da zona equatorial)
03. Gloria (Sobre temas do Uele e da zona equatorial)
04. Graduale
Alleluia, Alleluia! In die resurrectionis meae, dixit Dominus: praecedam vos in Galilaeam, alleluia! Post dies octo, januis clausis, stetit Jesus in medio discipulorum suorum, et dixit: Pax vobis. Alleluia (Canto gregoriano)
05. Credo (Improvisação sobre temas dos lagos Tanganica e Kivu)
06. Offertorium
Angelus Domini descendit de caelo et dixit mulieribus: Quem quaeritis, surrexit sicut dixit; alleluia! (Canto gregoriano)
07. Sanctus / Benedictus (Improvisação)
08. Ave maris stella (Sobre antigo canto latino)
09. Agnus Dei (Improvisação sobre temas do Uele e da zona equatorial)
10. Communion
Mitte manum tuam et cognosce loca clavorum, alleluia, et noli esse incredulus, sed fidelis alleluia, alleluia! (Canto gregoriano)
11. Deo Gratias / Alleluia (Improvisação)

Coral das Irmãs Brancas Congolesas de Katana (Kivu)
Irmã Lucrécia, Regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE  (64Mb)

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Ouça! Deleite-se!
… Mas antes, tenha consideração para com este mortal e se comunique: deixe um comentário.

Avicenna, garimpo do disco, digitalização e cessão dos direitos de postagem
Bisnaga, contador de histórias