Peter Maxwell Davies (1934-2016), Malcolm Williamson (1931-2003), Jonathan Harvey (1939-2012): Obras para órgão (Kevin Bowyer)

Sir Peter Maxwell Davies, the Master of the Queen’s Music, has said that ‘God Save the Queen’ is “very boring” and should be replaced with a new “more stirring” anthem, which he’s offered to write. “The national anthems of other countries, such as France and Germany, are a lot more impressive and tend to have a more galvanising effect on their peoples”, he told The Daily Telegraph. “Benjamin Britten’s arrangement of our anthem was probably the best there has ever been, but he didn’t honestly have a lot to work with.”
Following his victory at the German Grand Prix on Sunday, racing driver Lewis Hamilton also complained about the national anthem, saying it was much shorter than other nation’s anthems. He wanted his moment of glory on the podium to last longer than the 44 seconds it took to play one verse of ‘God save the Queen’. Felipe Massa, a Brazillian race driver, gets to savour Francisco Manuel da Silva’s composition for two minutes, substantially longer than the British anthem. (The Telegraph, 2011)

Max Reger, o maior compositor para órgão do início do século XX, colocava Bach em um pedestal. Alguns modernistas dos anos 1920, por outro lado, tinham a necessidade de esculhambar todos os antecessores para poderem se afirmar. Na música de alguns grandes compositores do fim do século XX, o confronto entre velho e novo ganha outros contornos. Messiaen, por exemplo, nunca fez música neobarroca ou neoclássica, mas sua linguagem única devia muito ao canto gregoriano e aos sons atemporais da natureza: pássaros, córregos, vento…

Neste disco de hoje temos um compositor que nos anos 1960 era considerado iconoclasta e irônico – Em Darmstadt [a Meca do serialismo dos hiper-sérios Boulez e Stockhausen], eu caí em disgraça ao rir em um ou dois concertos”, disse ele – e que em 2004 foi nomeado Master of Music da rainha, cargo chapa-branca que não o impediu de falar que achava o hino God Save the Queen muito chato ou monótono, a depender da tradução. Maxwell-Davies é alguém que equilibra e faz dialogar o canto coral e as dissonâncias, criando um efeito de humor. Um vanguardista que foi se radicar no remoto norte da Escócia. Ou, usando uma palavra bem inglesa: um excêntrico.

As Three Organ Voluntaries de Maxwell Davies se baseiam em melodias escocesas do século XVI. A primeira das três (Salmo 124) é apresentada de forma singela pelos graves dos pedais e, quando parece que tudo vai correr dentro dos padrões, entra um outro registro agudo, lembrando sinos totalmente dissonantes, enquanto os graves continuam cantando o salmo, tudo isso coexistindo em curiosa harmonia até o final. As outras duas melodias (O God Abufe [grafia escocesa para o inglês above] e All Sons of Adam) não convivem com tanta dissonância assim, mas há sempre um registro com som estranho ou uma nota ‘fora do lugar’ para quebrar as expectativas neorrenascentistas.

Na sonata para órgão, composta em 1982, cada um dos quatro movimentos se desenvolve a partir de um mesmo fragmento de cantochão cantado tradicionalmente na quinta-feira santa. O primeiro movimento se resume a alguns segundos de melodia cantabile, o segundo é um contraponto um pouco mais longo, o terceiro, uma meditação lenta e o último, uma toccata virtuosa em que a dissonância e os centros tonais se alternam. Esse procedimento é o mesmo das Partitas Corais e Fantasias Corais de Böhm, Buxtehude e Bach: primeiro a apresentação do canto sacro, depois as variações com grau crescente de complexidade e de liberdade.

Desde 1625 já existia o cargo então chamado Master of the King’s Musick – sim, com k – , ocupado por uma só pessoa de cada vez, assim como seu  equivalente literário, o título de “Poet Laureate”. O australiano Malcolm Williamson foi o antecessor de Maxwell Davies no cargo: segundo alguns críticos, a nomeação teve motivos menos musicais e mais de manutenção do soft power inglês sobre as ex-colônias do Commonwealth (a tristeza de australianos e canadenses com a morte recente da rainha lembra o clássico livro A Servidão Voluntária, não é? E o que dizer do luto do pessoal da Barra da Tijuca? Deixa pra lá…)

O cargo foi ocupado por alguns compositores interessantes e também uma penca de ingleses pomposos e tediosos como Bax e Elgar. Williamson foi o último a ser nomeado até a morte (a Rainha Elizabeth II redefiniu as expectativas sobre “até a morte”) e, a partir de Maxwell Davies, o cargo passou a ter a duração fixa de dez anos. Desde 2014 é ocupado por Judith Weir, a primeira mulher a receber esse título.

Jonathan Harvey (1939-2012):
1. Fantasia (8:49)
2 Laus Deo (3:02)

Malcolm Williamson (1931-2003):
3-4. Two Epitaphs For Edith Sitwell
No. 1 Adagio (3:090
No. 2 Adagio (2:09)
5. Vision Of Christ-Phoenix (9:02)

Peter Maxwell Davies (1934-2016):
6. Fantasia on O Magnum Mysterium (14:16)
7-10. Three Voluntaries, Op. 61
I. Psalm 124 (after David Peebles) (3:04)
II. O God Abufe (after John Fethy) (1:16)
III. All Sons Of Adam (2:09)
10. Reliqui Domum Meum (3:19)
11-14. Organ Sonata
I. Movement 1 (0:41)
II. Movement 2 (1:54)
III. Movement 3 (13:50)
IV. Toccata (9:01)

Kevin Bowyer, organist
Recorded at the Marcussen Organ – Chapel of Saint Augustine, Tonbridge School, Kent, England
Released: 1997

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Sir Peter Maxwell Davies, Master of the Queen’s Music, sobre o hino nacional britânico: “é muito chato”

Pleyel

Sofia Gubaidulina (1931-): In croce, 10 Prelúdios para violoncelo, Quaternion (Ivashkin)

Sofia Gubaidulina (1931-): In croce, 10 Prelúdios para violoncelo, Quaternion (Ivashkin)

Repostado em homenagem atrasada aos 90 anos de Sofia Gubaidulina

Enquanto vivia na União Soviética, Sofia Gubaidulina era pouco reconhecida, tendo composto trilhas sonoras para mais de vinte filmes para se sustentar. Desde 1990 ela vive na Alemanha e sua fama vem crescendo desde então.

Como descrever a música de Gubaidulina? É mais fácil explicar o que ela não é. Não é música nacionalista: em um entrevista recente ela diz que sua música não se tornou alemã nos últimos anos, porque ela compõe ouvindo sua voz interior. Não é música formalista, formada por regras lógicas: pelo contrário, mais parece uma música preocupada com texturas sonoras, timbrísticas e expressivas.

No caso das obras deste CD, o protagonista é o violoncelo. A obra In croce, para violoncelo e órgão, dá início a uma série que estou iniciando, focada na música para órgão do século XX.

Sofia Gubaidulina (1931-): In croce, 10 Prelúdios, Quaternion

1. In croce, para violoncelo e órgão (1979)
Dez Prelúdios para violoncelo (1974)
2. I. Staccato – Legato
3. II. Legato – Staccato
4. III. Con sordino – Senza sordino
5. IV. Ricochet
6. V. Sul ponticello – Ordinario – Sul tasto
7. VI. Flagioletti
8. VII. Al taco – Da punta d’arco
9. VIII. Arco – Pizzicato
10. IX. Pizzicato – Arco
11. X. Senza arco
12. Quaternion, para quarteto de violoncelos (1996, primeira gravação)

Alexander Ivashkin – cello
with
Malcolm Hicks – organ (faixa 1)
Natalia Pavlutskaya – cello (faixa 12)
Rachel Johnston – cello (faixa 12)
Miranda Wilson – cello (faixa 12)

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Sofia Gubaidulina

Pleyel

Olivier Messiaen (1908-1992): Méditations sur le Mystère de la Sainte Trinité (Colin Andrews – órgão)

Na única oportunidade em que escutei ao vivo a música para piano de Messiaen (Peter Donohoe interpretando lindamente os ‘Vingt regards sur l’enfant Jésus’ na Sala Cecília Meireles, Rio), dois homens conversavam na fileira à minha frente:

– Ele usa clusters, dissonâncias, uma loucura, pra terminar com um acorde em dó maior! Absurdo, né? (Peço que o leitor leia as palavras em itálico com o mesmo tom blasé que merece uma pintura de Romero Brito)

Estou frontalmente em discordância. Para mim, um dos méritos de Messiaen é seu ecletismo: sem pestanejar, ele alterna entre música tonal e atonal, cita melodias medievais e cantos de pássaros – estes últimos, obviamente, não costumam cantar em 4/4.

Nas “Nove meditações sobre o mistério da Santa Trindade”, compostas em 1969, ele utiliza trechos de canto gregoriano (sobretudo no 2º movimento), cantos de pássaros (4º movimento e un peu partout), serialismos pós-Schoenberg, cromatismos pós-Debussy, acordes potentes que foram pensados por alguém que sabe bem o que funciona no órgão…

E isso tudo, ele faz não com o objetivo de seguir aqui as leis da harmonia europeia ocidental, seguir ali as leis do dodecafonismo… Muito pelo contrário, ele não se importa com essas leis. Ele utiliza todos esses procedimentos sonoros com objetivos próprios, alheios a preocupações do tipo “será que vão me achar antiquado por usar um acorde maior? As regras do campeonato permitem? Vão me cancelar?”

Do meu ponto de vista, é desprezível o homem que jura cumprir a Constituição do seu país e não cumpre. E é pouco relevante o artista que segue estritamente algum cânone de leis estéticas. Porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. A História faz julgamentos diferentes para quem rasga as leis do país e para quem bagunça o coreto das leis estéticas. Sic transit gloria mundi.

Olivier Messiaen (1908-1992): Méditations sur le Mystère de la Sainte Trinité
Méditation I: “Le Père des étoiles” (“The Father of the Stars”)
Méditation II: “Dieu est Saint” (“God is Holy”)
Méditation III: “La relation réelle en Dieu est réellement identique à l’essence” (“The relation really existing in God is really the same as His essence”)
Méditation IV: “Je suis, Je suis !” (“I am, I am!”)
Méditation V: “Dieu est immense”, “Dieu est éternel”, “Dieu est immuable”, “le Souffle de l’Esprit”, “Dieu le Père tout-puissant”, “Notre Père”, “Dieu est amour” (“God is immense”, “God is eternal”, “God is immutable”, “The breath of the Spirit”, “God is Father all powerful”, “Our Father”, “God is love”)
Méditation VI: “Dans le Verbe était la Vie et la Vie était la Lumière…” (“In the Word was Life, and that Life was the Light…”) (Evangelho Segundo João, I.4)
Méditation VII: “Le Père et le Fils aiment, par le Saint-Esprit, eux-mêmes et nous” (“The Father and the Son love, through the Holy Spirit, each other and us”)
Méditation VIII: “Dieu est simple”, “Les Trois sont Un” (“God is simple”, “The Three are One”).
Méditation IX: “Je suis Celui qui suis” (“I am Who I am”)

Colin Andrews – órgão construído por C.B. Fisk
St. Paul’s Episcopal Church, Greenville, North Carolina, USA

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Messiaen sobre os pássaros: “Eles cantaram muito antes de nós. E inventaram a improvisação coletiva”

Pleyel

Shostakovich / Kalējs / Escaich / Gubaidulina / Janáček / Ligeti / Garūta: Light & Dark

Para inaugurar o órgão da Elbphilharmonie de Hamburgo (Alemanha), a organista Iveta Apkalna escolheu obras dos últimos cem anos. Não sabemos o motivo, mas a música de concerto contemporânea tem vivido uma certa era de ouro nos três países bálticos –  Letônia, Lituânia e Estônia – terra de Iveta e de outros grandes intérpretes como Gidon Kremer, Paavo Järvi e Andris Nelsons, bem como compositores de destaque como Lepo Sumera (1950-2000), Lūcija Garūta (1902-1977) e Arvo Pärt (1935-).

Algumas das obras escolhidas por Iveta, como as do letão Kalejs e do tcheco Janáček, usam o som do órgão em um contexto religioso. Outras não têm qualquer conotação espiritual, como a obra de Shosta (parte de uma ópera) e os dois estudos de Ligeti, e finalmente, há a obra de Gubaidulina que, apesar de não ter função litúrgica, expressa a espiritualidade da compositora.

A relação de Ligeti com o órgão me lembra um pouco a de Mozart com o clarinete. São um punhado de peças, de duração não tão longa, mas que mostram um compositor no auge de seu talento e com perfeito domínio das potencialidades do instrumento. Daquelas obras que usam todas as teclas ou quase, do grave ao agudo, do pianissimo a sons ensurdecedores, e por isso são incontornáveis para os grandes solistas.

A  compositora russa Sofia Gubaidulina também soube utilizar de forma contrastante os sons mais agudos e os mais graves do rei dos instrumentos. A obra dela, que dá nome ao disco, é cheia de contrastes: claro e escuro, grave e agudo, sutileza e dissonância, profano e sagrado. Como Messiaen, Sofia Gubaidulina não escreveu música litúrgica (por exemplo, uma Missa ou um Réquiem), mas expressa sua religiosidade nos títulos de peças como Rejoice!, Seven Words, In Croce, De Profundis, Et exspecto, Misterio so, etc. Como observou Mike Silverton, essa conexão com a espiritualidade sugere uma resolução convencional que parece estar próxima mas vira a esquina, e assim sucessivamente.

Hoje, podemos comemorar a Páscoa da forma mais religiosa ou da forma mais secular, além de várias possibilidades e sincretismos no meio do caminho. Não era tão fácil assim para Sofia Gubaidulina na URSS, nos anos 1970, quando compôs a obra para órgão tocada por Iveta e também esta outra que já postamos no PQP. O Estado laico é uma conquista que não se deve naturalizar. Espero que este disco traga uma boa Páscoa para os ouvintes-leitores do PQPBach.

  1. Shostakovich: Lady Macbeth of the Mtsensk District, Op. 29: Passacaglia
  2. Aivars Kalējs: Prayer
  3. Escaich: Évocation I
  4. Escaich: Évocation II
  5. Escaich: Évocation III
  6. Gubaidulina: Light and Dark
  7. Janáček: Glagolitic Mass: Varhany sólo (Postludium)
  8. Ligeti: Two Etudes for Organ: I. Harmonies
  9. Ligeti: Two Etudes for Organ: II. Coulée
  10. Garūta: Meditation

Iveta Apkalna – órgão

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A Elbphilharmonie de Hamburgo: cheirando a nova

Pleyel

Furio Franceschini (1880-1976): Obras para órgão

Furio Franceschini foi organista, compositor, regente e professor, nasceu em Roma, Itália, em 1880. Após estudar em Roma, Paris e Solesmes, chegou ao Rio de Janeiro em 1904, mas mudou-se para São Paulo, onde viveu até os 96 anos. Recusou em duas ocasiões o convite para suceder seu professor Filippo Capocci como mestre-de-capela na Basílica de São João de Latrão, em Roma. Mario de Andrade o considerava “um dos homens que mais conhecem música no Brasil”.

O uso da harmonia situa Fanceschini na continuação do uso da tonalidade expandida, recurso próprio da linguagem romântica. Para os meus ouvidos, as grandes pérolas deste CD são as pequenas obras, características do romantismo, como as grandes composições curtas para piano – miniaturas – de Chopin e Schumann ou, depois, de Dvorák, do Liszt idoso e de Debussy, que já não era romântico mas cultivou a miniatura. Por outro lado, a Sonata para Grande Órgão de Franceschini me parece menos interessante do que as grandes obras de Reger.

O caráter bucólico e colorido de As violetas, Flor-de-Lise e Interlúdio colocam essas obras no mesmo nível das miniaturas de Louis Vierne que estiveram aqui no PQP recentemente.

Franceschini foi organista da Sé de São Paulo e teve uma vida muito longa, presenciando várias correntes como o romantismo tardio, o nacionalismo musical, o auge do dodecafonismo e o Concílio Vaticano II. A seguir algumas citações sobre as relações de Franceschini com essas modas, ideias e sistemas:

Franceschini em carta para Camargo Guarnieri em 1950:
“Acho que o nacionalismo deve ser cultivado, sim, mas com moderação; de outra forma pode prejudicar a originalidade do compositor quanto a ideias, estilo, personalidade. Nem vejo também por que um artista não possa tirar proveito do que é “belo” mesmo quando colhido fora do próprio país.” Em seguida Franceschini critica o dodecafonismo, um “sistema de composição” que ele não tolera, e expressa sua opinião de que “o rumo a ser adotado pelos compositores seria o desenvolvimento da música modal.”

Fernando Lacerda Simões Duarte escreveu, em 2011:
Os órgãos eletrônicos e a grande mudança litúrgica resultante das interpretações do Concílio Vaticano II, de 1962, parecem ter contribuído, de forma rápida, para ampla extinção da atividade de construção de órgãos no Brasil. Dorotéa Kerr (2006) mostra que, dos 55 órgãos de tubos na cidade de São Paulo, 42 estão em igrejas católicas e desses, 35 foram construídos entre 1903 e 1964. Igualmente, na cidade do Rio de Janeiro, dos 40 órgãos, 27 foram construídos entre 1924 e 1965: 18 nacionais e 9 importados.

Fica claro como na América Latina, ao contrário da Europa e outros países, a interpretação dada ao Concílio Vaticano II levou à diminuição da construção e do uso do órgão. (…) A questão que se coloca então é: quais as consequências de se abrir mão de símbolos católicos e injetar na nova forma ritual significados não-católicos? A resposta parece óbvia: crise e perda de identidade.

Órgão Cavaillé-Coll em Buenos Aires, usado neste CD

As missas de Franceschini têm um grande potencial pedagógico para os grupos corais, mas são só para estes. (…) a execução litúrgica das missas ameaçaria a noção de que existe uma barreira cultural entre os fiéis e os códigos da cultura erudita; pelo contrário, seria uma aposta na capacidade dos fiéis de apreender códigos mais complexos. Se a prática coral poderia ser resgatada com as missas, também o órgão – hoje, instrumento silenciado na maioria das igrejas ou apenas destinado aos casamentos – seria resgatado.

Em resumo, a execução das missas de Fanceschini representaria o resgate de uma missão da Igreja – e de qualquer outra instituição que lide com algum público – que não está prevista em nenhuma bula: educar os fiéis em um sentido mais amplo, neste caso, o musical.

José Luís de Aquino interpreta Furio Franceschini
1. Fanfarra
2. Natal triste
3. Sonata em Lá Maior, para Grande Órgão: I. Moderato, Molto energico
4. Sonata em Lá Maior, para Grande Órgão: II. Andante
5. Sonata em Lá Maior, para Grande Órgão: III. Moderato, Solenne, Squillante
6. Pequeno Trecho para o tempo de Natal
7. As violetas
8. Flor-de-Lis
9. Fantasia sobre o tema gregoriano do Alleluia Pascal
10. Interlúdio
11. Variações sobre os temas dos hinos a Nossa Senhora Aparecida
Órgão Walcker (1954) do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, Brasil – faixas nº 2, 8, 9 e 10.
Órgão Mutin Cavaillé-Coll (1912) da Basílica do Santíssimo Sacramento, em Buenos Aires, Argentina – faixas nº 1, 3 a 7 e 11.

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Órgão do Mosteiro de S. Bento, em SP

Pleyel

Louis Vierne (1870-1937): 24 peças de fantasia

Louis Braille (1809-1852) foi o educador francês que criou o sistema braille de leitura para cegos, usado até hoje. O que pouca gente sabe é que Braille também foi organista, fazendo parte de uma longa tradição de organistas cegos que veio desde o Renascimento com o espanhol Antonio de Cabezón e incluiria também os franceses Louis Vierne e Gaston Litaize, o alemão Helmut Walcha e, mais recentemente, os americanos Ray Charles (órgão elétrico) e Stevie Wonder (sintetizador).

Louis Vierne, na verdade, enxergava um pouco, principalmente luzes embaçadas, ao que parece, e é curioso que ele tenha composto obras tão evocativas de momentos do dia e luminosidade como algumas das suas 24 peças de fantasia: Étoile du soir (estrela da noite), Hymne au soleil (hino ao sol), Clair de lune (Luar). Assim como Gabriel Fauré, Vierne compôs Noturnos para piano de aparência simples, mas que “demandam do intérprete uma poesia interior, uma busca de si mesmo, uma tradução de aspirações inconscientes, de afinidades obscuras” (cito uma crítica de 1926 no jornal francês Le Ménestrel).

Me parece que a mesma observação pode ser feita sobre a música de Vierne para órgão: não é tão virtuosa quanto a de Widor, Dupré ou Messiaen, mas é de um romantismo tardio em que pode-se perceber várias emoções, muitas vezes sombrias e saudosas, na mesma linha dos românticos Frédéric Chopin e Guillaume Lekeu.

Se restar alguma dúvida de que se trata de um romântico, fica a lista de poetas que ele musicou em chansons: Victor Hugo, Gautier, Baudelaire, Verlaine…

As 24 peças também incluem a obra mais tocada até hoje de Vierne, o carrilhão de Westminster, baseado no famoso tema que todos já ouviram no cinema, na igreja ou em caixinha de música.

Louis Vierne (1870-1937): 24 peças de fantasia, para órgão
CD 1
Pièces de fantaisie – Suíte nº 1, Op. 51 (1926)
1. Prélude
2. Andantino
3. Caprice
4. Intermezzo
5. Requiem aeternam
6. Marche nuptiale

Pièces de fantaisie – Suíte nº 3, Op. 54 (1927)
7. Dédicace
8. Impromptu
9. Étoile Du Soir
10. Fantômes
11. Sur le Rhin
12. Carillon de Westminster

CD 2
Pièces de fantaisie – Suíte nº 2, Op. 53 (1926)
1. Lamento
2. Sicilienne
3. Hymne au soleil
4. Feux follets
5. Clair de lune
6. Toccata

Pièces de fantaisie – Suíte nº 4, Op. 55 (1927)
7. Aubade
8. Résignation
9. Cathédrales
10. Naïades
11. Gargouilles et Chimères
12. Les cloches de Hinckey

Ben van Oosten
Órgão Cavaillé-Coll (1890) da Abadia Saint-Ouen, Rouen, França

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A fachada do órgão de Saint Ouen

Pleyel

Franck, Widor, Karg-Elert, Reger, Alain e Langlais no órgão de Dordrecht

Na virada do século 19 para o 20, compositores como Mahler, Scriabin e Strauss levaram a tonalidade funcional e o cromatismo aos seus limites,muitas vezes com os tons grandiloquentes de Wagner. Debussy, também expandindo as tonalidades e cromatismos, cultivou sonoridades sutis, no que muitos chamam de impressionismo.

As obras para órgão deste CD se inserem nesse contexto. César Franck, ainda no final do século XIX, pode ser considerado um precursor do debussismo ao evitar os arroubos de grandeza, mantendo um certo equilíbrio. Widor, também francês, é famoso principalmente por suas Sinfonias para Órgão que têm, ao contrário de Franck, momentos de expressão com a delicadezade um elefante, como a célebre Toccata e também o Intermezzo presente neste disco. Widor, que nunca foi um vanguardista, tocou no imenso órgão Cavaillé-Coll da igreja de Saint-Sulpice (Paris) até os 89 anos e morreu aos 93 em 1937, quando já era um dinossauro considerado hiper-antiquado por jovens como Messiaen ou Dutilleux.

Reger e Karg-Elert são os princpais compositores alemães para órgão depois da morte de Bach. O primeiro já apareceu aqui no PQPBach, o segundo faz a sua estreia hoje. Enquanto as composições de Reger são baseadas na polifonia a duas, três, quatro vozes, Karg-Elert usa harmonias mais modernas para fazer uma música que é pura expressão colorida, fazendo uso de combinações de diversos timbres como a orquestra de Mahler ou de Debussy.

No final de sua vida, na Alemanha dos anos 1920 e 30, Karg-Elert foi duramente criticado por não ser nacionalista o suficiente, com suas influências francesas e cosmopolitas. Foi até chamado de judeu, embora não fosse. Nos EUA e na Inglaterra, contudo, suas obras para órgão foram muito apreciadas:

Karg-Elert é um impressionista e colorista de grande distinção, imaginativo ao retratar uma grande variedade de sentimentos (University of Michigan, 1939)

Jehan Alain perdeu sua vida na 2ª Guerra, tendo deixado um pequeno mas importante catálogo de obras para órgão. Sua irmã, Marie-Claire Alain, foi uma das organistas francesas de maior renome no século XX.

Jean Langlais, que também estreia hoje no PQPBach, faz parte de uma longa tradição de organistas cegos que veio desde o Renascimento com o espanhol Antonio de Cabezón.

Franck, Widor, Karg-Elert, Reger, Alain e Langlais no órgão de Dordrecht
01. César Frank – Troisième Choral
02. César Frank – Prélude, Fugue et Variation
03. Charles-Marie Widor – Symphony No 6 – Intermezzo
04. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – Harmonies du soir
05. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – Clair de lune
06. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – La nuit
07. Max Reger – Toccata in d minor, Opus 59
08. Jehan Alain – Choral dorien
09. Jean Langlais – Suite Breve – I. Grand Jeux
10. Jean Langlais – Suite Brève – II. Cantilène
11. Jean Langlais – Suite Brève – III. Plainte
12. Jean Langlais – Suite Brève – IV. Dialogue sur les Mixtures

Órgão Kam (1859) da Grote Kerk, Dordrecht, Países Baixos
Margreeth de Jong – organista

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O órgão de Dordrecht, cidade próxima a Rotterdam

Pleyel