Gilberto Agostinho (1986): Quarteto Nº 1 e Suíte em Estilo Antigo

Gilberto Agostinho (1986): Quarteto Nº 1 e Suíte em Estilo Antigo

O texto de apresentação das duas obras de Gilberto Agostinho é do próprio compositor. Em 2011, época em que residia em Praga, ele publicou aqui no PQP duas peças de sua autoria (na verdade, eram umas cinco, mas… Lembram do trágico final do RapidShare? Triste, né, o Rapid deletou quase tudo). Hoje, ao que consta no SoundCloud de Gilberto, ele mora em Londres. Boa cidade, não?

E espero que não veja negativamente a republicação parcial deste post de que gosto tanto. Tenho óbvio afeto pela Suíte, mas minha preferência vai para o belo Quarteto.

PQP

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Caros,

Para os que não me conhecem, meu nome é Gilberto dos Santos Agostinho Filho, nasci em São Paulo e tenho vinte e cinco anos (era 2011), e sou um estudante de composição e regência. Fui estudante de música na USP, mas o curso de composição me deixou muito insatisfeito. Ao mesmo tempo, eu frequentava aulas particulares de composição com o meu grande mestre, Mário Ficarelli. Após um ano e meio de estudo intensivo com ele, eu fui aprovado no Conservatório de Praga, na República Tcheca, onde eu estudo há três anos, e em breve eu irei iniciar meu curso na Academia de Artes de Praga.

E cá estou eu novamente me jogando na cova dos leões. Brincadeiras à parte, eu gostaria de apresentar algumas composições novas a vocês. De um ano e meio para cá, eu escrevo quase unicamente música dodecafônica. No começo, eu compunha em um estilo rigoroso, respeitando todas as regras propostas por Arnold Schönberg, mas com o passar do tempo eu desenvolvi uma visão pessoal desta técnica. Bem, mesmo o Schönberg quebrava suas próprias regras, então por que não ter uma visão renovada desta técnica composicional? Eu nunca me dei por satisfeito com o sistema tonal, sempre senti que é preciso um esforço desnecessário para evitar soluções triviais, e no final das contas este sistema está desgastado demais, e quase qualquer solução remete a algo já escrito. O sistema dodecafônico me deu a liberdade que eu tanto buscava, ao mesmo tempo que um estilo que muito me agrada.

Sobre estes arquivos de áudio, assim como a outra postagem das minhas músicas aqui no PQP, eles não são gravações feitas por instrumentistas reais, mas sim gravações “virtuais”, utilizando softwares de música. Mas a novidade é que eu estou utilizando uma nova tecnologia chamada “Virtual Studio Technology Instrument” (ou VSTi para os íntimos), que nada mais é do que uma gravação de um instrumento real, nota por nota, e não uma tentativa de replicar o som utilizando um sintetizador. Em termos mais simples: estes mp3 soam muito, mas muito melhor do que os anteriores!

Para finalizar, eu gostaria de escrever brevemente sobre cada uma das composições desta postagem. (Lembrem que só sobraram duas após o furacão que vitimou o RapidShare).

Quarteto de Cordas Nº 1

Este quarteto foi a minha primeira obra dodecafônica, mas continua sendo uma das minhas composições favoritas. É dividido em três movimentos, o primeiro sendo rápido, o segundo lento e o terceiro uma fuga tripla, sendo que um dos três temas desta fuga é o tema principal do primeiro movimento. Esta é uma obra dodecafônica escrita de uma maneira rigorosa, respeitando todas as regras propostas por Schöenberg.

Suite para Cravo e Violoncelo, em Estilo Antigo

Esta suite é uma obra nostálgica. Eu sou um grande admirador do período barroco, e também de música contrapontística de uma maneira geral, e por isto eu decidi me propor um desafio: será que eu ainda conseguiria escrever algo tonal e respeitando todas as regras do contraponto clássico? Pois bem, eis o resultado. Diga-se de passagem, esta obra é dedicada ao meu grande amigo Milton Ribeiro, que também tem um blog, o qual altamente recomendo. (Dizem que Milton Ribeiro ficou muito feliz com a dedicatória e com as citações da Oferenda Musical. Ele se sentiu o próprio Frederico II).

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Acho que é isto então. Caso alguém tenha interesse em entrar em contato comigo, meu e-mail é [email protected], seja para fazer críticas ou tecer elogios — o importante é o feedback. E, desde já, muito obrigado pelo interesse nas minhas composições. Eu espero que elas agradem a vocês.

Um grande abraço a todos,
Gilberto Agostinho

Quarteto de Cordas Nº 1

1 String Quartet No.1 – Molto andante, Adagio, Allegro
2 String Quartet No.1 – Lento assai
3 String Quartet No.1 – Fuga-Andante deciso

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Suite para Cravo e Violoncelo, em Estilo Antigo

1 Suite for Cello and Harpsichord – Overture
2 Suite for Cello and Harpsichord – Allemande
3 Suite for Cello and Harpsichord – Courant
4 Suite for Cello and Harpsichord – Sarabande
5 Suite for Cello and Harpsichord – Air
6 Suite for Cello and Harpsichord – Minuet
7 Suite for Cello and Harpsichord – Gigue

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Gilberto Agostinho (foto roubada de seu SoundCloud)

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Winterreise (com Dietrich Fischer-Dieskau)

Franz Schubert (1797-1828): Winterreise (com Dietrich Fischer-Dieskau)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Conheci muitas pessoas legais na rede. Uma das principais é este jovem talentoso que me “admoestou” por não ter escrito nada sobre a morte de Dietrich Fischer-Dieskau. Mas ele não é daqueles caras que apontam o problema sem encaminhar uma solução — os que apenas objetam servem para pouco. Então ele me mandou um arquivo com este CD (que até tenho em casa…) e um texto para a postagem, direto de Praga. É assim que se age! Gostaria de deixar bem clara minha profunda admiração por Gilberto Agostinho, a quem nunca vi e considero amigo.

PQP

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Dietrich Fischer-Dieskau, dono da maior voz masculina de todos os tempos, faleceu há exatamente uma semana atrás. Não foi um acontecimento trágico, muito pelo contrário: o cantor faleceu enquanto dormia, aos 86 anos de idade, em um pequeno vilarejo no sul da Alemanha.

Falar sobre sua morte como uma perda seria uma completa asneira, seria diminuir o que Dieskau fez em vida. Tendo se aposentado no Ano Novo de 1993, ele nos deixou uma imensa discografia — Dieskau é o cantor com o maior número de gravações de todos os tempos! Entre elas, gravações consideradas como definitivas, principalmente quando se trata de Schubert.

Mas se engana quem pensa que Dieskau se destacava somente quando cantava algum Lied de Schubert ou Schumann. Não, suas apresentações em óperas e oratórios são consideradas, no mínimo, geniais. Le miracle Fischer-Dieskau, como os franceses gostavam de chamá-lo, tinha um repertório gigantesco, tendo gravado muita coisa de Bach a Berg. Nas palavras do próprio, ele diz ter “realizado coisas demais…”

Dieskau foi um artista único, com um dom que possivelmente jamais será igualado. E isto tudo está registrado, tudo o que ele fez pode ser usufruído por nós hoje e amanhã. Portanto, aos emocionais e aos que buscam tragédia onde esta não se encontra, eis a minha honesta recomendação: abram uma garrafa de bom vinho, coloquem uma das oito gravações de Winterreise na vitrola, e homenageiem o artista como se deve.

Franz Schubert: Winterreise

1. Winterreise, D.911 – 1. Gute Nacht 5:40
2. Winterreise, D.911 – 2. Die Wetterfahne 1:46
3. Winterreise, D.911 – 3. Gefrorne Tränen 2:37
4. Winterreise, D.911 – 4. Erstarrung 2:57
5. Winterreise, D.911 – 5. Der Lindenbaum 4:41
6. Winterreise, D.911 – 6. Wasserflut 4:10
7. Winterreise, D.911 – 7. Auf dem Flusse 3:45
8. Winterreise, D.911 – 8. Rückblick 2:26
9. Winterreise, D.911 – 9. Irrlicht 2:33
10. Winterreise, D.911 – 10. Rast 3:02
11. Winterreise, D.911 – 11. Frühlingstraum 3:59
12. Winterreise, D.911 – 12. Einsamkeit 2:53
13. Winterreise, D.911 – 13. Die Post 2:20
14. Winterreise, D.911 – 14. Der greise Kopf 3:02
15. Winterreise, D.911 – 15. Die Krähe 2:00
16. Winterreise, D.911 – 16. Letzte Hoffnung 2:14
17. Winterreise, D.911 – 17. Im Dorfe 3:02
18. Winterreise, D.911 – 18. Der stürmische Morgen 0:52
19. Winterreise, D.911 – 19. Täuschung 1:34
20. Winterreise, D.911 – 20. Der Wegweiser 4:08
21. Winterreise, D.911 – 21. Das Wirtshaus 4:28
22. Winterreise, D.911 – 22. Mut 1:25
23. Winterreise, D.911 – 23. Die Nebensonnen 2:37
24. Winterreise, D.911 – 24. Der Leiermann 3:09

Dietrich Fischer-Dieskau, milagre
Jörg Demus, piano

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O esplêndido Dietrich Fischer-Dieskau
O esplêndido Dietrich Fischer-Dieskau

Gilberto Agostinho

Gilberto Agostinho (1986): Quartetos 1 e 2, Momenti, Suíte para Órgão, Sonata para Piano, Suíte em Estilo Antigo, Five postcards

O texto abaixo é do compositor Gilberto Agostinho, que aqui nos apresenta um bela seleção de obras de sua autoria. Como eu me chamo PQP e sou incontrolável, acrescentei uma obra de minha preferência àquelas escolhidas pelo autor. Desnecessário dizer que o fiz inteiramente sem sua autorização. Não tenho culpa se o cara me manda as músicas. Foda-se, para falar cortesmente. Em razão disso, a extraordinária Five postcards for flute and piano não é descrita no texto de Gilberto.

A foto de Gilberto Agostinho que acompanha o post foi descrita pelo autor pela expressão “Mamãe, olha como sou inteligente e educado”. Talvez seja.

PQP

~o~

Caros,

Para os que não me conhecem, meu nome é Gilberto dos Santos Agostinho Filho, nasci em São Paulo e tenho vinte e cinco anos, e eu sou um estudante de composição e regência. Eu fui estudante de música na USP, mas o curso de composição me deixou muito insatisfeito. Ao mesmo tempo, eu frequentava aulas particulares de composição com o meu grande mestre, Mário Ficarelli. Após um ano e meio de estudo intensivo com ele, eu fui aprovado no Conservatório de Praga, na República Tcheca, onde eu estudo há três anos, e em breve eu irei inicar meu curso na Academia de Artes de Praga.

E cá estou eu novamente me jogando na cova dos leões. Brincadeiras à parte, eu gostaria de apresentar algumas composições novas a vocês. De um ano e meio para cá, eu escrevo quase unicamente música dodecafônica. No começo, eu compunha em um estilo rigoroso, respeitando todas as regras propostas por Arnold Schönberg, mas com o passar do tempo eu desenvolvi uma visão pessoal desta técnica. Bem, mesmo o Schönberg quebrava suas próprias regras, então por que não ter uma visão renovada desta técnica composicional? Eu nunca me dei por satisfeito com o sistema tonal, sempre senti que é preciso um esforço desnecessário para evitar soluções triviais, e no final das contas este sistema está desgastado demais, e quase qualquer solução remete a algo já escrito. O sistema dodecafônico me deu a liberdade que eu tanto buscava, ao mesmo tempo que um estilo que muito me agrada.

Sobre estes arquivos de áudio, assim como a outra postagem das minhas músicas aqui no PQP, eles não são gravações feitas por instrumentistas reais, mas sim gravações “virtuais”, utilizando softwares de música. Mas a novidade é que eu estou utilizando uma nova tecnologia chamada “Virtual Studio Technology Instrument” (ou VSTi para os íntimos), que nada mais é do que uma gravação de um instrumento real, nota por nota, e não uma tentativa de replicar o som utilizando um sitetizador. Em termos mais simples: estes mp3 soam muito, mas muito melhor do que os anteriores!

Para finalizar, eu gostaria de escrever brevemente sobre cada uma das composições desta postagem.

Quarteto de Cordas No.1

Este quarteto foi a minha primeira obra dodecafônica, mas continua sendo uma das minhas composições favoritas. É dividido em três movimentos, o primeiro sendo rápido, o segundo lento e o terceiro uma fuga tripla, sendo que um dos três temas desta fuga é o tema principal do primeiro movimento. Esta é uma obra dodecafônica escrita de uma maneira rigorosa, respeitando todas as regras propostas por Schöenberg.

Quarteto de Cordas No.2 ‘Stabat Mater’

O segundo quarteto é relativamente mais fácil de se ouvir. Aqui eu já comecei a adaptar o sistema dodecafônico às minhas necessidades pessoais. Este quarteto é composto em dois movimentos, ambos lentos, e é baseado no texto medieval “Stabat Mater”. Mas eu já devo dizer que esta não é uma obra puramente religiosa; aqui o tema do texto é explorado de uma forma muito mais ampla, é o sofrimento, seguido da resignação, que importam, não a mãe bíblica. Na partitura, eu anexei o poema “Canção Amiga”, de Drummond, pois, de alguma forma, eu acredito que isto ajude a quebrar o caráter religioso de algumas possíveis interpretações.

‘Momenti’, para Violão, Clarinete e Trompa

Este trio utiliza uma séria dodecafônica criada por Schönberg, chamada “Série maravilhosa”, pois esta possui vários elementos interessantes de simetria. Sem que entremos em algo mais técnico, a idéia principal deste trabalho é, como o nome já diz, explorar pequenos momentos musicais. São seis movimentos, todos fluentes e pensados sempre em forma horizontal, ou seja, melodicamente. Na partitura, eu não utilizo nenhuma marcação de compassos, e isto ajuda a passar esta idéia de fluência e organicidade a qual eu tento explorar aqui.

Suite para Órgão, baseada num tema de G.Mahler

Esta suite é baseada no tema do Adagio da Décima Sinfonia de Gustav Mahler. São quatro movimentos, finalizando com uma fuga. Este trabalho também é dodecafônico, mas aqui este sistema é utilizado de uma forma muito menos rigorosa, e portanto muito mais pessoal.

Sonata para Piano, No.1

Esta é a mesma sonata já postada aqui no PQP, mas revisada há pouco tempo atrás. Minha primeira obra atonal, foi uma das minhas composições que mais agradaram aos leitores do PQP na última postagem, e por isto eu decidi incluí-la novamente aqui. A qualidade do som está muito melhor do que na postagem antiga, devido ao novo software que eu utilizo para criar estes arquivos mp3. Além disto, eu acredito que ela esta está muito melhor estruturada depois da revisão.

Suite para Cravo e Violoncelo, em Estilo Antigo

E para finalizar, esta suite é uma obra nostálgica. Eu sou um grande admirador do período barroco, e também de música contrapontística de uma maneira geral, e por isto eu decidi me propor um desafio: será que eu ainda conseguiria escrever algo tonal e respeitando todas as regras do contraponto clássico? Pois bem, eis o resultado. Diga-se de passagem, esta obra é dedicada ao meu grande amigo Milton Ribeiro, que também tem um blog aqui no OPS!, o qual eu altamente recomendo.

Acho que é isto então. Caso alguém tenha interesse em entrar em contato comigo, meu email é [email protected], seja para fazer críticas ou tecer elogios – o importante é o feedback. E, desde já, muito obrigado pelo interesse nas minhas composições. Eu espero que elas agradem a vocês.

Um grande abraço a todos,
Gilberto Agostinho

Gilberto Agostinho (1986): Quartetos 1 e 2, Momenti, Suíte para Órgão, Sonata para Piano, Suíte em Estilo Antigo, Five postcards

01 String Quartet No.1 – Molto andante, Adagio, Allegro
02 String Quartet No.1 – Lento assai
03 String Quartet No.1 – Fuga-Andante deciso

04 String Quartet No.2 – Adagio Maestoso
05 String Quartet No.2 – Elegia-Grave

06 ‘Momenti’ for Clarinet, French Horn and Guitar

07 Suite for organ – Introduction
08 Suite for organ – Toccata
09 Suite for organ – Chorale
10 Suite for organ – Fuga

11 Sonata for piano – Allegro energetico
12 Sonata for piano – Fuga con variazione

13 Suite for Cello and Harpsichord – Overture
14 Suite for Cello and Harpsichord – Allemande
15 Suite for Cello and Harpsichord – Courant
16 Suite for Cello and Harpsichord – Sarabande
17 Suite for Cello and Harpsichord – Air
18 Suite for Cello and Harpsichord – Minuet
19 Suite for Cello and Harpsichord – Gigue

20 Five postcards for flute and piano

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PQP

Gilberto Agostinho (1986) – Trio, Sonata para piano e outras peças

Hoje é um dia especialíssimo e escrevo esta introdução com a certeza de que o P.Q.P. Bach chegou a um ponto onde eu nunca imaginaria ser possível chegar. Hoje, temos a honra de divulgar em primeira mão a obra de um jovem compositor brasileiro. Vou dar a palavra para que ele se apresente e depois retorno.

Meu nome é Gilberto dos Santos Agostinho Filho, tenho vinte e dois anos e nasci em São Paulo. Quando pequeno estudei alguns anos de piano e flauta transversal, mas acabei abandonando meus estudos musicais quando tinha doze anos. Minha primeira composição data desta época, uma inocente e pequena peça para piano, mas minha professora de teoria deu pouca importância para ela. Acho que talvez tenha sido isso que atrasou em tantos anos a minha decisão de me tornar compositor. Desde pequeno fui muito sensível às críticas, apesar de estar conseguindo mudar isso radicalmente no momento. Aos dezessete anos fui aprovado no curso Engenharia Aeronáutica na Universidade de São Paulo, o qual freqüentei durante um ano pois, em seguida, percebi que a vida de engenheiro não me satisfazia. Procurei algo mais purista e fui parar na Física, a qual cursei por um pouco mais de um ano. Neste meio tempo retomei minhas aulas de música com uma professora alemã e viajei para Londres por três meses, dois acontecimentos que iriam mudar a minha vida. Em Londres percebi, depois de muitas crises, que eu queria mesmo era ser compositor. Nessa época eu já estava arriscando alguns rabiscos nas pautas, mas nada a ser levado a sério. Voltei a São Paulo e procurei um professor de composição. Topei com Mário Ficarelli, meu grande mestre e amigo, que durante um longo ano me guiou com a maior paciência do mundo. Também tive aulas de regência com Paulo Rydlevski, outra pessoa que me ajudou muito. Eu fui aprovado no curso de composição da ECA, que faz parte da Universidade de São Paulo, mas desde o princípio senti que aquilo também não era para mim. O curso era fraco e eu já tinha uma boa base musical, além de não ter recebido o apoio que procurava. Larguei o curso após apenas quatro ou cinco meses. Me apliquei como nunca após isso e fiquei praticamente um ano sem aulas de composição, vivendo como um monge: comendo, rezando e compondo. Rezando pela minha aprovação em alguma boa instituição européia, o que veio a se concretizar no meio deste ano. “Conservatório de Praga”, dizia a carta. Acho que ainda não acredito, mesmo estando aqui por mais de um mês. Atualmente estudo sob orientação do professor Otomar Kvech.

A respeito das composições aqui publicadas: a primeira é o meu “Trio para piano, flauta e violino”, minha mais recente composição. Acredito que seja uma das melhores peças que já escrevi. São cinco movimentos, nos quais os instrumentos tocam todos juntos apenas no primeiro e no último. Reservei os centrais para duos entre tais instrumentos. Em seguida vem a “Sonata para piano”, música mais pesada e intelectualizada. A sonata não agradou muita gente, mas eu ainda aposto minhas fichas nela. Acho que é uma boa composição. O trio surgiu justamente como uma contraposição a sonata pois queria ver se eu era capaz de compor algo diametralmente oposto. As outras peças, “Prelúdio para piano”, “Prelúdio para violão” e “Pequenas peças para flauta” são mais antigas, mas ainda guardo um grande carinho por elas.

Saibam todos que fiquei extremamente lisonjeado com o convite de postar minhas músicas no PQP. Sou um freqüentador assíduo deste blog, além de outros do OPS!. Espero que vocês gostem do que irão ouvir. Lamento muito o fato de as músicas não serem executadas por instrumentistas reais, e sim por um software, mas saibam que essa vida de compositor não é fácil e às vezes faltam tempo e paciência para procurar, convencer e ensaiar os músicos. Apesar disto, estou em busca de instrumentistas para gravar meu Trio, e se isso acontecer, terei imenso prazer em compartilhá-los com todos.

Quem se interessar em fazer algum comentário diretamente para mim, meu email é gsagostinho e estou no hotmail.com. Será um prazer para mim receber alguma mensagem.

Obrigado novamente, PQP, FDP, CDF, Clara, Blue Dog e CVL.

Eu conheci Gilberto através de e-mails e só depois ele mandou obras de sua autoria para que eu conhecesse. A primeira obra que ouvi é até hoje a minha preferida: a Sonata para Piano. Fiquei entusiasmadíssimo com seu primeiro e último movimentos (Allegro energetico e Fuga com variazione). Vocês sabem o quanto sou franco e penso que o Adagio meditativo seja bom, mas que fique abaixo da companhia. Os dois primeiros movimentos citados são realmente notáveis e, é claro, qualquer fuga logo recebe a simpatia deste filho de Bach, ainda mais esta.

O Trio é expansivo e feliz. O software que o executa deixa a desejar em sonoridade, mas dá para ouvir bem. O Trio também não é música fácil, é polifônico de cabo a rabo e penso que aqui não se repita o provável defeito da sonata. Inicia com um tremendo Allegro, segue um Adagio ainda melhor e nunca cai. Tudo é muito interessante e a ironia que se insinua no Scherzo comparece plenamente no Tempo di valse o qual é seguido por um Finale em que ouço citações de alguma música nordestina — algum baião — que não consigo identificar. É tudo bom humor e inventividade.

As Pequenas peças para flauta são ótimas, mas acho que uma delas – uma rápida – tem um parentesco irritante com o som do videogame de meu ex-vizinho. Pode ser efeito do software-executante. Não há nada a criticar no belo Prelúdio Nº 2 para piano. Gostei muito. O curto Prelúdio para violão é um triste noturno que me deixa com vontade de ouvir mais.

Há um fato importantíssimo que devo salientar: FALO DE UM JOVEM DE 22 ANOS e sou, digamos, um experiente ouvinte de muito boa música, interpretada por grandes artistas. Ou seja, sou um ouvinte exigente e tudo o que ouvi do Gilberto aponta para um baita compositor.

Fico muito feliz por ele ter concordado em expor-se (ou jogar-se) para o público (aos leões) do PQP.

Gilberto Agostinho – Trio, Sonata pata piano e outras peças

01 Agostinho – Trio – allegro.mp3
02 Agostinho – Trio – adagio.mp3
03 Agostinho – Trio – scherzo.mp3
04 Agostinho – Trio – tempo di valse.mp3
05 Agostinho – Trio – finale.mp3

06 Agostinho – Sonata – allegro energetico.mp3
07 Agostinho – Sonata – andante meditativo.mp3
08 Agostinho – Sonata – fuga con variazione.mp3

09 Agostinho – Pequenas peças para flauta.mp3

10 Agostinho – Prelúdio No2 para piano.mp3

11 Agostinho – Prelúdio para violão.mp3

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP