.: intermezzo :. Marcondes Falcão Maia (1957): A besteira é a base da sabedoria (1995)

.: intermezzo :. Marcondes Falcão Maia (1957): A besteira é a base da sabedoria (1995)

Bem, caros visitantes. O CD ora postado possui uma importância tão capital no contexto da música clássica brasileira contemporânea que nem sei.

A besteira é a base da sabedoria (1995) – terceiro álbum do cantor e compositor cearense Falcão, preconceituosamente intitulado de “brega” – talvez seja um dos mais ricos em elementos de paráfrase e paródia na década de 90, não só partindo da música popular, mas (inconscientemente ou não) também da música erudita.

Uma análise das referências musicais do disco pode, sem titubeios, auxiliar a compreender a síntese de várias correntes estéticas que emergiram ao longo do século XX, e ali presentes. Em Esculhambação, sim. Frescura, não, por exemplo, evidencia-se a mensagem de cunho político, influenciada por obras como a Sinfonia das Diretas de Jorge Antunes ou Mamãe, eu quero votar de Gilberto Mendes, porém dentro da verve satírica peculiar a Falcão (“Será o caralho?!”)

Sem precedentes pode considerada a concepção de um moteto responsorial para um réquiem em A terra há de comer (já que eu não comi), enquanto Homem é homem teve de mudar seu subtítulo original, Hommage (ou Femmage) pour Britten, por conta da previsível falta de conhecimento do público sobre o compositor britânico.

Porém nada supera a genial transformação de My world dos Guns N’Roses num minicompêndio da música de concerto do século XX, o Concerto em qualquer tom para triângulo e roi-roi. Em nenhuma outra composição brasileira dos últimos tempos é possível achar um entrecruzamento de matizes estéticos tão díspares quanto o deboche à la Satie; o percussionismo de Edgard Varèse e Amadeo Roldan; a sobreposição da própria voz gravada em diferentes canais, como Ute Lemper ao gravar canções de cabaré de Spoliansky; a utilização estilizada do rap e da polifonia semifalada, tal qual – respectivamente – em O anjo esquerdo da história e Beba Coca-Cola de Gilberto Mendes; a predominância do minimalismo e a marca stravinskiana nos poucos acordes bitonais sampleados.

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A Besteira é a base da sabedoria

1.”Esculhambação sim. Frescura, não!”  3:39
2.”A terra há de comer (já que eu não comi)”  3:07
3.”Lends picantis in anus autrem q’sucus est”  4:41
4.”A besteira é a base da sabedoria”  3:22
5.”Caubói do Ceará”  3:13
6.”Mais antes mamãe não tivesse me(n)tido”  3:42
7.”Confesso que fresquei”  3:13
8.”Se eu morrer sem gozar do seu amor, minha alma lhe persegue de pau duro”  3:12
9.”Todo castigo pra corno é pouco”  3:25
10.”Não tem jeito que dê jeito”  3:59
11.”Holliday foi muito”  3:26
12.”Concerto em qualquer tom para triângulo e roe-roe”  2:24

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PS 1: Este post é dedicado aos ouvintes puristas e carracudos deste blog.
PS 2: Licença, que tá na hora de tomar meu comprimido de Zyprexa.

Elegância
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CVL