Canto Brasilis – Madrigal de Brasília [link atualizado 2017]

Como já disse, reduzi o ritmo mas não vou parar. Volto hoje com mais outra contribuição inédita aqui pro blog.

Não tinha visto até agora nenhum post com obras corais à capela de compositores brasileiros (acho que nem de estrangeiros, fora peças renascentistas). Tenho poucas coisas dignas nesse campo e o presente CD nem é a melhor delas, particularmente pela qualidade do coral, mas vale bastante pelo repertório.

Minhas peças preferidas neste álbum são, nessa ordem, as de Jorge Antunes (Folia de Reis), José Vieira Brandão, Ronaldo Miranda (Autopsicografia), Kilza Setti, Camargo Guarnieri e Amaral Vieira.

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Canto Brasilis – Madrigal de Brasília

01. Ave Maria – Camargo Guarnieri
02. Pater Noster – Antonio Vaz
03-07. Opuscula Sacra, op. 227 – Amaral Vieira
Kyrie Eleison
Judas Mercator Pessimus
Ave Verum
Christus Factus Est
Panis Angelicus
08. O Magnum Misterium, op. 20 – Marco AB Coutinho
09. Gloria – Cláudio Ribeiro
10. Yemanjá-ôtô – Kilza Setti
11-13. Três Cânticos Breves – Ronaldo Miranda (sobre poemas de Fernando Pessoa)
Canção
Pobre e velha música
Autopsicografia
14. Pingos d’Água – Henrique de Curitiba
15. Trem de ferro – José Vieira Brandão
16. Acalanto – Flávio Gontijo
17-18. Das quatro pequenas peças de povo – Jorge Antunes
Se ela nua fosse minha
Folia de Reis
19. Nascente – Murilo Antunes e Flávio Venturini (Arr.: Joaquim França)
20. Preciso aprender a ser só – Paulo e Sérgio Valle (Arr.: Radovir Filho)
21-22. Faixas bônus

Regência: Éder Camúzis

PS.: Basta escutar até a faixa 18. Depois não tem mais graça.

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CVL
Repostado por PQP
Trepostado por Bisnaga

Jorge Antunes (1942) – ¡No se mata la Justicia!

Dom Óscar Arnulfo Romero Galdámez (1917-1980) tornou-se arcebispo de San Salvador, capital de El Salvador, em 1977. Nomeado por Roma por seu perfil conservador, Monsenhor Romero, como ficou conhecido, passou a conviver mais de perto com os fiéis e a observar pela ótica deles os abusos do exército salvadorenho, que temia um golpe de estado por parte de guerrilhas esquerdistas.

Com as incômodas denúncias – em suas homilias, à imprensa e a quem quer que fosse – de violação aos direitos humanos, incluindo assassinatos de clérigos, começou a receber ameaças de morte. Em 24 de março de 1980, “finalmente” (pro conforto dos militares), Monsenhor Romero tomou um tiro mortal no coração, de um milico anônimo, durante uma missa numa capela perto da Catedral de San Salvador, e virou mártir de imediato.

A notícia da morte de Monsenhor Romero atraiu milhares de pessoas a seu velório, para insatisfação do exército salvadorenho. Os militares dispersaram a multidão ao custo de 42 outras mortes. Dali, deflagrou-se oficialmente a Guerra Civil de El Salvador, que durou até 1992. Até hoje, o crime não foi solucionado, graças às oligarquias que ainda comandam o país, mas a peregrinação ao túmulo de Monsenhor Romero desde então tem sido a maior da América Central.

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Jorge Antunes – carioca radicado em Brasília, ativista de esquerda, autor do hino do PSol e de um Hino Nacional Alternativo, professor da UNB e um dos mais representativos (e polêmicos) expoentes da vanguarda brasileira – ganhou um prêmio da Sociedade de Música Contemporânea Israelense e viajou para a Terra Santa em 1980, onde passou quatro meses (em Jerusalém e num kibutz), desenvolvendo os rascunhos do tributo que estava concebendo ao arcebispo assassinado.

A referência à cor violeta advém da teoria cromofonética de Jorge Antunes, que relaciona uma cor do espectro solar a cada uma das notas diatônicas. De acordo com essa teoria o violeta equivale à nota mi, que predomina também em Ritual Violeta.

A Elegia violeta para Monsenhor Romero é uma das peças mais impactantes da música clássica nacional. Esta gravação péssima, que me parece ser a única, e o coral não tão bem ensaiado não reduzem a força da obra, desde a simulação do peso do tiro mortal em Monsenhor Romero, no acorde inicial do piano, e os gritos de desespero simulado nas cordas, até a última frase que o coral canta (a do título do CD).

“Não se mata a Justiça!” foi a resposta que o arcebispo deu a um repórter da TV Globo que o entrevistou em San Salvador, o qual perguntou-lhe se não tinha medo de morrer devido às denúncias contundentes que fazia.

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Falo en passant somente da obra mais importante – e, de longe, a mais atrativa – desse CD de Jorge Antunes; para saber sobre as demais, dêem uma olhada no encarte. Muito engenhosa, para se mencionar, é a Cromorfonética, que você pode confundir com uma obra eletroacústica, mas, com uma segunda ouvida, perceberá que é para coro misto.

Estou aqui em Brasília, tentando achar o Café do Rato Preto através do endereço que meu gerente me deu, já que nunca estive na capital federal:

Quadra SHIS Trecho 50 Lote 200

Acontece que o Google Earth acusou “galáxia não localizada” e não sei o que fazer no momento. Acho que daqui mesmo do aeroporto JK vou-me embora pra… Pra não sei onde… Talvez Santa Catarina, talvez Recife, talvez Rio, talvez Buenos Aires…

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1. Elegia violeta para Monsenhor Romero (1980), para dois solistas infantis, coro infantil, piano obligato e orquestra de câmara

Coro Infantil do Kibutz Hatzerim e do Conservatório de Música de Beer-Sheva
Solistas: Hagit Shapira e Ruth Halifa
Piano obligato: Mariuga Lisbôa Antunes
The Israel Sinfonietta
Regente: Jorge Antunes

2. Cromorfonética (1969), para coro a capella

Coro Pro-Arte Ensemble Graz
Regente: Karl Emst Hofmann

3. Proudhonia (1972), para coro misto e fita magnética

Coro: Les Douze Solistes des Choeurs de l’ORTF
Regente: Marcel Couraud
Gravação: 16/04/1973, no Festival de La Rochelle 1973 – Rencontres Internationales d’Art Contemporain Salle Oratoire, La Rochelle, France

Rimbaudiannisia MCMXCV (1994), para jovens cantores solistas, coro infanto-juvenil, orquestra de câmara, luzes e máscaras.
4. Rimbaudiannisia MCMXCV – I. Expiation pour Cumiqoh
5. Rimbaudiannisia MCMXCV – II. Voyelles
6. Rimbaudiannisia MCMXCV – III. Ditirambus

Choeur La Maîtrise de Radio France  Orchestre Philharmonique de Radio France  Regente: Arturo Tamayo

7. Ritual violeta (1999), para saxofone tenor e sons eletrônicos

Sax: Daniel Kientzy

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