Um CD que junta vários compositores italianos do século XVIII. Todas as obras são para oboés ou fagotes solistas. Após a primeira surpresa pela bela sonoridade alcançada pelos intérpretes, a coisa cai em plana mesmice. O Sans Souci é o grande destaque do trabalho, soltando bons ventos para todos os lados, só que os compositores não ajudam. O curioso é que Vivaldi perdeu-se em meio a seus contemporâneos e não consegui diferenciá-lo dos Lottiplattimontanari durante a audição do CD. O século XVIII italiano está lotado de bons compositores, mas acho que a maioria privilegiava o violino, não é verdade, Vivaldi? O conhecimento dos instrumentos de sopro durante a “Era do Iluminismo” era escasso, particularmente em contraste com os instrumentos de corda. De qualquer forma, a sonoridade é tão bonita que nem chegamos a notar a falta da boa música. Acho que vale a pena conferir.
Lotti / Platti / Vivaldi / Brescianello / Steffani / Montanari: Del Sonar Pitoresco (Ensemble Barocco Sans Souci)
Lotti : Sonata a quattro for two oboes, bassoon & b.c.
1 I. Adagio
2 II. Allegro
3 III. Adagio
4 IV. Allegro
Platti: Sonata in G Major for Oboe, obbligato bassoon & b.c
5 I. Adagio
6 II. Allegro
7 III. Largo
8 IV. Allegro
Vivaldi: Trio Sonata RV81 in G minor for two oboes & b.c
9 I. Allegro
10 II. Largo
11 III. Allegro
Brescianello: Concerto for oboe, obbligato bassoon & b.c
12 I. Largo
13 II. Allegro
14 III. Largo
15 IV. Allegro
Steffani: Aria “Chomigioia” for two oboes & b.c
16 Chomigioia: Aria
Lotti: “Echo” Sonata a 4 for two oboes, obbligato bassoon and b.c
17 I. Echo
18 II. Adagio
19 III. Allegro – Presto
Platti: Sonata in C minor for oboe, obbligato bassoon and b.c
20 I. Adagio
21 II. Allegro
22 III. Mesto
23 IV. Allegro
Montanari: Sonata in C for two oboes and b.c
24 I. Adagio
25 II. Allegro
26 III. Vivace
“L’Imperatore”, o 51º título da Edição Vivaldi da gravadora francesa Naïve, ficou a cargo do excelente violinista Riccardo Minasi e da orquestra barroca Il Pomo d’Oro o. Este CD é o quarto de uma série de 12, dedicada aos concertos para violino cujos manuscritos estão guardados na Biblioteca Nacional de Turim. É um empreendimento completista, mas cada um desses álbuns tem sido pelo menos interessante. Todos os concertos aqui presentes foram compostos rapidamente, dedicados ou executados diante de Carlos VI (1685-1740), soberano do Império Habsburgo, conhecido como patrono e apaixonado pela música. Mas não há sinal de pressa nestes notáveis e até revolucionários concertos para violino. Esta série de 7 concertos dão uma visão geral da arte completa de Vivaldi como compositor e violinista: grande invenção, expressão, energia e virtuosismo. Cada um dos movimentos lentos parece mais bizarro do que o anterior, e todos eles têm gestos expansivos, quase operísticos, que se prestam lindamente às performances de instrumentos de época do violinista Riccardo Minasi e do Il Pomo d’Oro. Minasi é um dos principais violinistas barrocos italianos e também é maestro. O resultado é quase um lançamento essencial de Vivaldi, por mais desconhecido que o repertório possa ser. Nesse CD, eu apenas conhecia o “L’amoroso”, que é realmente belíssimo.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti Per Violino IV “L’imperatore” (Il Pomo d’Oro, Minasi)
Concerto RV 331 In Sol Minore
1 Allegro 4:27
2 Largo 4:34
3 Allegro 3:55
Concerto RV 171 In Do Maggiore Per S.M.C.C.
4 Allegro 3:42
5 Largo 1:58
6 Allegro Non Molto 3:19
Concerto RV 391 In Si Minore Op. 9 n° 12 (Violino Scordato)
7 Allegro Non Molto 4:41
8 Largo 3:10
9 Allegro 3:37
Concerto RV 271 In Mi Maggiore “L’amoroso”
10 Allegro 4:02
11 Cantabile 2:47
12 Allegro 3:20
Concerto RV 327 In Sol Minore
13 Allegro Mà Non Molto 3:30
14 Largo 3:50
15 Allegro 3:31
Concerto RV 263a In Mi Maggiore
16 Allegro 4:32
17 Largo 2:47
18 Allegro Non Molto 3:04
Concerto RV 181 In Do Maggiore
19 Allegro 3:28
20 Largo 2:52
21 Allegro 3:25
22 Allegro (Versione Alternativa Dall’ Op. IX No. 1, RV 181a) 2:35
Cello – Ludovico Minasi, Marco Ceccato
Contrabass – Davide Nava
Ensemble – Il Pomo d’Oro
Harp – Margreth Köll
Harpsichord [Clavicembalo], Organ – Andrea Perugi, Giulia Nuti (2)
Viola – Enrico Parizzi, Giulio D’Alessio, Pablo De Pedro*
Violin – Alfia Bakieva, Boris Begelman, Laura Corolla, Laura Mirri, Mauro Lopes Ferreira, Valerio Losito
Violin, Directed By – Riccardo Minasi
Comecemos, então, muito antes de Vivaldi: houve um tempo, longo tempo, em que por muitos séculos Veneza mandava no comércio de boa parte do Mediterrâneo, fazia comércio com bizantinos, turcos, persas, sírios, judeus e outros povos… O mosaico acima, de 1200 e pouco, retrata a Basilica di San Marco recebendo – em festa! – o corpo do evangelista São Marcos, que venezianos tomaram dos cristãos coptas da antiquíssima Igreja de Alexandria (que se mantinha após a islamização do Egito, mas fraca politicamente e representando uma minoria social, minoria que ainda corresponde a milhões de pessoas, 10% ou um pouco menos da população do Egito de hoje). O mosaico tem uma incongruência histórica: em cima do portal central com seu Cristo e o emblema IC XC (Jesus Cristo), podem ser vistos os quatro cavalos roubados de Constantinopla em 1204. Clique na imagem para ver os cavalos melhor. Napoleão depois levaria os cavalos para Paris mas o Congresso de Viena (1815) os devolveria. Ou seja, como fizeram Napoleão e ingleses no Egito e Atenas, antes o fez Veneza: roubou com base no princípio básico segundo o qual “quem pode, pode; quem não pode, se sacode!” (Como vovó já dizia…)
Não foi na imensa Basilica di San Marco que Vivaldi trabalhou, aliás em seu tempo ela talvez já fosse musicalmente pouco respeitada, apesar de toda a beleza dos mosaicos brilhantes e tesouros roubados. Mas em dois concertos gravados neste álbum temos uma característica musical que foi desenvolvida cerca de cem anos antes em San Marco: são concerti a due cori, ou seja, nos quais os músicos se dividem em dois grupos, um de cada lado da igreja, com o público no centro, é claro. Essa forma espacial e conceitual é bastante diferente daquela que se consolidou no estilo chamado de “teatro italiano”, que tem como característica a nítida separação entre o público e o palco, com este último na frente, em um tablado mais alto. Existem outras formas, além do público atrás (teatro italiano) ou no meio (due cori): por exemplo nas arenas greco-romanas e nos atuais estádios de futebol, o público fica em torno do espetáculo. Cada uma dessas organizações espaciais resulta em relações sujeito-objeto diferentes, é assunto para várias horas de conversa tomando bons vinhos. Retomemos o essencial: Vivaldi passou alguns períodos fora de Veneza e depois voltou a trabalhar no Ospedale della Pietà, encontrando o lugar reformado: em 1724 a igreja se adaptou arquitetônica e musicalmente ao formato com dois coros (ou duas orquestras na linguagem de hoje), aquele que em San Marco já era comum desde 1600! E assim podemos ter certeza de que os dois concertos per la Santissima Assunzione di Maria Vergine foram compostos quando Vivaldi já tinha cerca de 50 anos, representando o seu estilo maduro.
Uma estranha relíquia: a língua de Santo Antônio
Os demais concertos do álbum, associados a outras festas cristãs, são anteriores. O primeiro deles provavelmente é o RV 212, para a “festa da santa língua de Santo Antônio de Pádua”, em fevereiro de 1712, quando Vivaldi morava naquela cidade. Nascido em Lisboa e morto em Pádua (Padova), seguidor de São Francisco, Santo Antônio foi canonizado pouco após sua morte em 1231: grande orador, sua língua incorruptível (“mumificada” de alguma forma) é venerada na Basílica dedicada a este santo em Pádua, 3ª maior cidade na região do Vêneto atrás de Veneza e Verona. Normalmente quando se fala em Santo Antônio nas línguas neo-latinas, é dele que se fala, enquanto em outros lugares o nome se refere sobretudo ao eremita Santo Antônio, que viveu no deserto no século IV e sofreu as famosas tentações retratadas por Hieronymus Bosch, Salvador Dalí e tantos outros pintores de imaginação fértil.
Tentações de Sto Antonio (Bosch, circa 1500, versão do MASP, único Bosch no Brasil)Cerimônia religiosa na igreja de San Lorenzo, em Veneza, em quadro pintado em 1789 por Gabriele Bella. Pelo menos dois concertos de Vivaldi, o RV 286 e o RV 562, foram encomendados a Vivaldi com a intenção de abrilhantar cerimônias em San Lorenzo
O Concerto em ré maior apelidado Grosso Mogul não parece ter sido assim nomeado por Vivaldi, o nome aparece apenas nas partituras desse concerto que circularam na Alemanha. J.S. Bach gostava tanto dele que fez uma transcrição para órgão (BWV 594). Na partitura original, ao invés de “Grosso Mogul” (título do imperador muçulmano que mandava em boa parte da Índia, da dinastia que fez o Taj Mahal em 1653), consta a sigla RBDV, cujo significado é desconhecido mas, segundo o professor Reinhard Strohm, o V deve se referir a ela, novamente ela, a Virgem Maria. Com suas cadências longas, difíceis e impressionantes, o concerto provavelmente data do primeiro momento de fama de Vivaldi em Veneza, por volta de 1713: após períodos em Brescia, Pádua e Vicenza, ele voltou para sua cidade natal em meio a muitas celebrações após as vitórias militares contra os turcos. Além de solar em seus concertos para violino, Vivaldi também estreou naquela época como compositor de oratórios com um de nome grandioso: “A vitória naval prevista por Sua Santidade o Papa Pio V”, referência a uma outra vitória de Veneza e aliados contra o Império Turco Otomano (em 1572, veja o quadro de Veronese aqui).
Gabriel Bella: sposalizio nobile alla salute circa 1780 (pintura usada na capa deste e de outros discos
Antonio Vivaldi (1678-1741):
1-3 – Concerto “Per la Solennità della S. Lingua di S. Antonio di Padova” in D Major, RV 212
4-6 – Concerto “Il Riposo – Per il Santo Natale” in E Major, RV 270
7-9 – Concerto “Per la Solennità di S. Lorenzo” in F Major, RV 286
10-12 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in D Major, RV 582
13-15 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in C Major, RV 581
16-18 – Concerto “LDBV” (“Grosso Mogul”) in D Major, RV 208
Giuliano Carmignola, violino principale
Sonatori de la Gioiosa Marca
Recorded: Chiesa San Vigilio Col San Martino, Treviso, Veneto, Italia, 1996
Um post-scriptum em outro tom menos celebratório: as línguas estrangeiras são interessantes para desnaturalizar o que ouvimos desde sempre. “Virgem Maria” é uma expressão tão banal quanto “cruz credo”, mas lendo que em italiano dois desses concertos eram dedicados à “Assunzione di Maria Vergine” me salta aos olhos a grosseria, a fofoca que é associar, como se diz “Alexandre o Grande”, “Maria, a Virgem”. Uma preocupação com a virgindade – nunca a dos homens, claro – que me lembra aqueles que hoje em dia ficam se preocupando com banheiro unissex ou se autointitulando “imbrochável”.
No mesmo século 18 em que Vivaldi viveu, os arquivos da inquisição na América portuguesa registram casos de padres acusados de, durante a confissão, “apalpar os seios das mulheres, meter suas mãos por debaixo das saias, beijá-las, agarrá-las”, perguntar “se queriam pecar com eles”, se tinham “vaso [vagina] grande ou pequeno” e, “ouvindo confissões de mulheres casadas, perguntavam até sobre o tamanho do pênis dos maridos” (cito aqui o historiador Ronaldo Vainfas, Moralidades Brasílicas, 1997).
Quero crer que esses padres que se aproveitavam das confissões para novos pecados tenham sido minoria no século de Vivaldi (no fundo, jamais saberemos porque o que foi denunciado e anotado são gotas d’água no oceano ou ao menos na lagoa). Também creio que precisamente essa minoria de padres que apalpavam as mulheres no escuro – e/ou se informavam sobre seus maridos com vistas a pecados futuros – foram precisamente aqueles que mais se preocupavam com a virgindade de Maria.
Vivaldi compunha como quem bebe água: são centenas de concertos, muitas óperas, obras sacras, além de muita coisa que se perdeu na noite dos anos. Neste disco, o conjunto La Risonanza – que também gravou todas as muitas cantatas italianas de Händel – apresenta uma serenata do padre veneziano que não rezava missas: mas não pensem que esse nome serenata significasse algo como canções amorosas, nada disso: veremos mais abaixo que se trata de uma obra homenageando grandes figuras poderosas em Veneza e na França.
J.S. Bach também compôs várias obras seculares para ocasiões especiais, hoje comumente chamadas cantatas embora, ao que parece, ele não usasse tanto o termo: entre as que não se perderam, temos a homenagem funeral à esposa de Augusto III, eleitor da Saxônia (BWV 198), várias cantatas para puxar o saco deste mesmo Augusto ou ainda o nascimento do filho deste… Uma cantata para um casamento que não se tem certeza de quem foi (BWV 202), uma outra para celebrar a nomeação do novo professor de Direito Romano da Universidade de Leipzig (BWV 207). Nesta última, ele pegou emprestados trechos do 1º Concerto de Brandenburgo: essa prática do autoplágio também era comum nas obras vocais de Vivaldi e nesta Senna festeggiante ele pegou emprestadas melodias de sua ópera Giustino (1724), além de enxertar uma passagem de Antonio Lotti (1667-1740) – seu contemporâneo, também veneziano – na Ouverture instrumental da segunda parte.
O libreto do disco defende essa prática, lembrando que esse tipo de música muitas vezes era encenada uma única vez e o compositor podia querer tirar uma ária ou passagem instrumental do esquecimento: “Vivaldi, como Handel, era cuidadoso e talentoso na arte dos empréstimos, preocupado não só em poupar seu tempo e esforço mas também em estender a vida de seus melhores trechos musicais.” E no caso dessa “Senna festeggiante”, o nome próprio faz referência a ele mesmo, o rio Sena que corta as cidades de Paris e Rouen. (“La Senna”, ou “La Seine” em francês, enquanto Roma é cortada por “il Tevere”: essa alternância entre masculinos e femininos mostra que esses nomes dos rios estão ancorados em tradições regionais muito mais antigas do que a razão fria e calculista dos dicionaristas.)
La Seine à Rouen – Claude Monet, 1872
A serenata, encenada em Veneza em 1726, foi provavelmente encomendada pelo embaixador francês naquela cidade e servia para puxar o saco de três homens célebres: o próprio embaixador, o Cardinal Ottoboni – membro da aristocracia veneziana e envolvido em assuntos diplomáticos com Paris e Roma – e finalmente, acima desses na hierarquia da época, o rei Louis XV, avô do outro Luís que teria a cabeça cortada bem depois. A história não tem o drama típico das óperas: com personagens mais ideais do que reais (a/o Sena, a Virtude e a Idade de Ouro), parece mais um diálogo de Platão, autor que, como se sabe, havia sido redescobrido entre os italianos desde o Renascimento.
Esse resumo do libreto aparece com mais detalhes nos trechos abaixo. Antes, mais um parêntese: Vivaldi provavelmente usava no dia a dia o dialeto do Vêneto, ainda vivo em muitas famílias locais. E para comunicações com diplomatas, estrangeiros etc. usava o italiano mais padrão, espécie de língua franca, usada também nas óperas e serenatas. Vamos às palavras de Michael Talbot no libreto do disco:
Três obras sobreviventes de Vivaldi pertencem a um interessante gênero vocal secular, muito cultivado no fim do século 17 e maior parte do 18, comumente conhecido como a serenata. A descrição alternativa desse tipo de obra como “cantata dramática” explica sua essência: uma obra vocal (logo, cantata) e dramática, nos termos da época, por se estruturar em um diálogo entre dois ou mais personagens nomeados.
O termo serenata deriva não de sera (noite), esta etimologia é um engano, o termo vem de sereno e reflete o fato de que essas obras era normalmente montadas não em teatros com cenários, mas em locais mais informais onde ou a plateia ou os músicos, ou todos eles, ficavam a céu aberto.
Serenatas costumava ser o ponto alto de elaboradas festas [nota do Pleyel: o termo italiano “festa” aparece no texto em inglês, o que é sintomático sobre a vida inglesa] comemorando algum evento significativo na vida de uma pessoa ou família importante, como um nascimento, aniversátio, casamento, visita ou tratado de paz. Serenatas costumavam ter cantores solistas e uma orquestra com cordas e continuo, às vezes aumentada com sopros; um coro separado era uma raridade. Aqui, Vivaldi emprega os três cantores nos poucos movimentos de “coro”. Seus enredos são conversas calmas entre as dramatis personae ao invés de uma sequência de eventos cheios de ação.
La Senna festeggiante é fruto da relação, de 1724 a 1729, entre Vivaldi e o embaixados francês em Veneza, Jacques-Vincent Languet, comte de Gergy. Os embaixadores costumavam, no dia 25 de agosto, fazer uma festa comemorativa do dia de São Luis [rei francês (1214-1270) canonizado por ter ido fazer guerra com muçulmanos em cruzadas]. Foi provavelmente em 1726 que Vivaldi compôs esta serenata: o ano pode ser estabelecido pelas características do papel usado no manuscrito,que foi copiado pelo pai do compositor, Giovanni Battista Vivaldi (com algumas inserções na letra de Antonio Vivaldi), mas também pelos padrões de empréstimos e relações entre a serenata e outras obras.
Menos de um ano antes, dia 12 de setembro de 1725, Vivaldi escrevera uma serenata menor, a duas vozes (RV 687) para celebrar o casamento de Louis XV com a princesa polonesa Maria Leszczynska. Em 1726 havia motivos para uma obra mais elaborada, homenageando a França além do monarca: a visita do Cardeal Pietro Ottoboni, protetor das artes e membro do patriciato veneziano, que atuava à época como represenante dos interesses franceses em Roma. Seu triunfal retorno em 1726 marcava a normalização das relações diplomáticas entre Veneza e França.
O libretto, por Lalli (parceiro frequente de Vivaldi) adota um esquema comum para serenatas da época: dois personagens alegóricos, L’Età dell’oro e La Virtù, caminham por uma paisagem triste em busca da felicidade perdida. Então, encontram La Senna, que promete a felicidade, e o clima fica mais alegre a partr daí. No segundo ato, se dirigem diretamente ao rei da França com elogios e orações.
Vivaldi insere, em alguns trechos, elementos musicais do estilo francês, que não aparecem em quase nenhuma de suas outras obras. Além de ritmos típicos que à época eram chamados “alla francese” nas partituras, há também inflexões harmônicas e melódicas tipicamente francesas sobratudo na Ouvertur (é como escreveu Giovanni Battista Vivaldi) que abre o segundo ato. Mas, mesmo com esses detalhes, a maior parte da obra é de estilo sobretudo italiano.
Na orquestração, temos o estilo de escrita para cordas típico de Vivaldi. Oboés e flautas doces aparecem como strumenti di rinforzo em apenas alguns movimentos, ficando calados na maior parte deles. Com exceção das suas óperas, La Senna festeggiante é a mais ambiciosa obra secular de Vivaldi a ter sobrevivido, um equivalente do que é, na obra sacra, o oratório Juditha triumphans.
As encomendas para o embaixador Languet não pararam aí: em 1727 ele escreveu uma serenata e um Te Deum para marcar o nascimento de duas princesas reais. Mas logo depois o compositor viajou para a Áustria e Boêmia e as encomendas do embaixador iriam para Albinoni. Quando voltou a Veneza, Languet não estava mais por lá. Então La Senna festeggiante é o principal testemunho da sua alta reputação na França após a publicação, em 1725, das Quattro stagioni.
Antonio Vivaldi (1678-1741):
La Senna festeggiante – Serenata a tre, RV 693, Venezia, 1726
Yetzabel Arias Fernández, soprano (l’Età dell’oro)
Martín Oro, alto (la Virtù)
Sergio Foresti, bass (la Senna)
La Risonanza:
Yanina Yacubsohn, Hélène Mourot, oboes
Isabel Lehmann, Thera de Clerck, recorders
Carlo Lazzaroni, Silvia Colli, Renata Spotti, Elena Telò, violins i
Mauro Lopes, Ulrike Slowik, Giacomo Trevisani, violins ii
Livia Baldi, Elena Confortini, violas
Caterina Dell’Agnello, Claudia Poz, cellos
Davide Nava, double bass
Fabio Bonizzoni, harpsichord & direction
Recorded in Saint Michel en Thiérache, France, 2011
Começo com esta postagem a trazer as gravações que a violinista inglesa, Rachel Podger, fez da obra de Antonio Vivaldi. A moça é um ‘monxtro’, como dizem cá pelas terras litorâneas do sul, principalmente na Ilha de Santa Catarina. Tem um pleno domínio do violino barroco, que toca com maestria. Sem medo, a coloco entre as maiores especialistas em interpretação historicamente informada, ao lado de outra excepcional violinista, Armandine Beyer.
Esta gravação das indefectíveis “Quatro Estações” é um primor de execução e criatividade. Difícil ficarmos indiferentes à ela. A própria sonoridade do instrumento de Podger é diferente, o som é mais rústico, mais cru.
Peço licença para citar o editorialista da amazon.com :
“A nova gravação de Podger visa acertar o relógio – reorientando os ingredientes que tornam The Four Seasons tão especial e lembrando os ouvintes do notável frescor da invenção de Vivaldi.”
E é exatamente este o destaque que pode se dar a esta gravação: frescor e inovação em sua execução, nos apresentando uma obra revigorada. Nem perderia mais tempo apresentando este CD tão especial, mas preciso falar da última obra executada, Concerto Il Grosso Mogul RV 208, com seu incrível Allegro final, com uma incrível cadenza de cinco minutos de duração, onde Lady Podger explora e expõe toda a sua técnica e virtuosismo. Repetindo os manezinhos da Ilha de Santa Catarina, diria com toda convicção: ‘Lady Podger, éx um monxtro’ …
Espero que apreciem.
Le Quattro Stagioni
Concerto No. 1 La Primavera – Spring Op. 8 No. 1 RV 269
1 Allegro
2 Largo E Pianissimo
3 Allegro
Concerto No. 2 L’Estate – Summer Op. 8 No. 2 RV 315
4 Allegro Mà Non Molto
5 Adagio
6 Presto
Concerto No. 3 L’Autunno – Autumn Op. 8 No. 3 RV 293
7 Allegro
8 Adagio Molto
9 Allegro
Concerto No. 4 L’Inverno – Winter Op. 8 No. 4 RV 297
10 Allegro Non Molto
11 Largo
12 Allegro
–
Il Riposo Per Il S.S. Natale RV 270
13 Allegro
14 Adagio
15 Allegro
Concerto L’Amoroso RV 271
16 Allegro
17 Cantabile
18 Allegro
Concerto Il Grosso Mogul RV 208
19 Allegro
20 Grave
21 Allegro
A sonoridade do primeiro concerto deste álbum é sen-sa-ci-o-nal! O Concerto à otto stromenti, composto por Veracini, no qual o violino é acompanhado por oboés, trompetes e tímpanos tem um som esplendoroso. É ouvir para crer… A violinista Chouchane Siranossian, que já gravou vários discos, não poderia ter encontrado um acompanhamento melhor do que o da excelente Venice Baroque Orchestra e seu maestro Andrea Marcon, como você poderá perceber neste disco no qual eles exploram o virtuosismo dos concertos para violino dos compositores italianos que mantiveram alguns laços com a sereníssima Veneza.
Mas o compositor mais popular para violino, assim como o mestre desse instrumento naqueles dias era Don Antonio Vivaldi. Se tons agudos e rápidos fossem maldades, Vivaldi teria muitos pecados pelos quais responder… como disse sobre ele o musicólogo inglês Charles Burney.
Veracini é conhecido por ter sido um dos solistas em Veneza nas missas de Natal na Catedral de São Marcos nos dias 24 e 25 de dezembro de 1711. Em fevereiro de 1712 ele interpretou um de seus concertos para violino, acompanhado de trompetes, oboés e cordas como parte das celebrações em honra do Embaixador Austríaco em Veneza do recém-eleito Imperador Sacro Romano Charles VI.
Tartini e seu sonho com a endiabrada sonata…
A lenda diz que quando Tartini ouviu Francisco Maria Veracini tocando o violino em 1716, ficou muito impressionado e insatisfeito com sua própria técnica. Ele fugiu para Ancona e trancou-se em um quarto para praticar o uso do arco com mais tranquilidade e mais convenientemente do que em Veneza, onde ele tinha um lugar na orquestra da ópera. De qualquer forma, ele certamente superou suas limitações, como atestam as dificuldades técnicas de suas obras, como a famosa sonata Il Trillo del Diavolo, que assim introduziu algumas diabruras ao violino e seria seguido atentamente depois pelo também virtuose Niccolò Paganini.
De Locatelli não se sabe o período em que esteve ativo em Veneza, mas ele certamente esteve lá. Uma das características que distinguia Locatelli era a sua técnica do uso do arco. Ele desenvolveu um estilo virtuosístico que explorava todas as suas possibilidades, incluindo arcos rápidos, saltos de corda e arcos duplos. Entre as principais contribuições de Locatelli para a literatura do violino estão suas VI Introduttioni teatrali e VI Concerti, publicadas em 1735, e seu conjunto de concertos para violino intitulado L’Arte del Violino; XII Concerti Cioè, Violino solo, con XXIV Capricci ad libitum, publicado em 1733.
[Parte desta postagem foi construída com ajuda do Chat PQP]
Francesco Maria Veracini (1690 – 1768)
Concerto à otto stromenti em ré maior
Allegro
Largo
Allegro
Pietro Locatelli (1965 – 1764)
Concerto em dó menor, Op. 3 No. 2
Andante – Capriccio
Largo
Andante – Capriccio
Giuseppe Tartini (1692 – 1770)
Concerto para violino em fá maior, D. 61
Allegro
Grave
Allegro
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para violino em ré maior, RV 208 ‘Grosso Mogul‘
Chouchane e e o pessoal da orquestra adorou a cortinas azul turquesa do PQP Bach Hall em Sepetiba…
Vejam um trecho de uma crítica a um outro álbum gravado por esses mesmos artistas cujo programa é completo com música de Tartini: After several recordings with Anima Eterna and Jos Van Immerseel, the French violinist Chouchane Siranossian tackles a programme of extremely virtuosic concertos that few Baroque violinists dare to face. Thanks to her technical gifts and to partners ideally suited to this repertory – the Venice Baroque Orchestra and its conductor Andrea Marcon, a specialist in the Italian Baroque style – she takes up the challenge with brio.
Esta é a ilustração do primeiro Locatelli que o Chat PQP encontrou…
Quando ouço a música sacra de Vivaldi, sempre me interesso pela sua semelhança com a música composta por Bach a 900 ou 1.000 km de distância. No Gloria, especialmente, as construções harmônicas e de orquestração lembram muitas vezes aquelas que o mestre de Weimar e Leipzig utilizaria em suas obras de igreja. Já o Magnificat de Vivaldi é mais curto que o de Bach: alguns trechos, como “magnificat anima mea Dominum” (minha alma magnifica o Senhor) são cantados só uma ou duas vezes, sem muitas repetições ou floreios. Já outros são repetidos, mas menos do que na versão do compositor alemão. Talvez o trecho com mais repetições seja o “et misericordia”, mais do que no Magnificat de Bach, o que parece apontar para uma prioridade desse aspecto da misericórdia no horizonte da igreja onde vivia Vivaldi. Em seguida o “exaltavit humiles” (exaltação dos humildes) tem floreios de exaltação extremamente parecidos com os que Bach utiliza no mesmo trecho.
Em nenhum momento os dois viveram em cidades próximas e, para além de um certo estilo vocal polifônico-orquestral que pairava no ar daquela época, a influência direta certamente foi de Vivaldi sobre Bach e não o contrário. Os concertos de Vivaldi, como os do opus 3, L’Estro Armonico, publicado em 1711 em Amsterdam, circularam bastante pela Europa do norte. Bach escreveu versões para órgão solo de diversos desses concertos dos venezianos Vivaldi e Albinoni. Além disso, há uma diferença cronológica, para além dos sete anos de diferença entre os dois (Bach era mais novo). Vivaldi compôs o Gloria em 1714-15 e a primeira versão do Magnificat – que é esta gravada aqui – data provavelmente da mesma década. Já as obras corais de maior fôlego de Bach são posteriores: o Magnificat e as Paixões de São Mateus e São João foram todos compostos na década de 1720, o Oratório de Natal na de 1730 e a Missa em Si Menor em 1749. Já Vivaldi, nos seus últimos anos, parece ter se dedicado mais a compor óperas do que música religiosa.
Igrejas de Veneza
Em todo caso, o disco de hoje é do Vivaldi compositor de música sacra e mais especificamente aquela composta para ser tocada dentro do Ospedale della Pietà, onde Vivaldi começara a trabalhar em 1703 como professor de violino. Em 1712, na segunda edição dos concertos do opus 3, ele era descrito como Musico di Violino e Maestro de Concerti del Pio Ospidale della Pietà di Venezia.
O coro que canta nesta gravação é composto por dez sopranos e dez mezzo-sopranos. A orquestra tem apenas cordas (violinos I e II, violas, violoncelos, baixos), com mais theorbo e órgão no contínuo. Essa versão só com cordas e vozes femininas provavelmente foi a primeira composta por Vivaldi, para uso interno no orfanato Ospedale della Pietà, que abrigava apenas garotas. Depois ele reorquestraria a obra adicionando dois oboés e vozes masculinas. Uma terceira versão incluiria árias para solistas, ao contrário dessa primeira na qual tudo é cantado em conjunto pelo coro. O resultado da orquestra e coro de Niquet é uma música mais religiosa do que a de outras gravações mais operísticas. E aqui é possível novamente a comparação com o “discípulo à distância” de Vivaldi: todos os apreciadores de música barroca conhecem os arrepios que os momentos mais densos da música coral de Bach podem gerar tanto naquelas gravações de regentes e coros que creem como nas outras dos que não creem, ou ainda as dos que estão em algum lugar no meio.
Antonio Vivaldi (1678-1741): 1-12. Gloria, RV 589
I. Gloria in excelsis Deo II. Et in terra pax hominibus III. Laudamus te IV. Gratias agimus tibi V. Propter magnam gloriam VI. Domine Deus VII. Domine, fili unigenite VIII. Domine Deus, Agnus Dei IX. Qui tollis peccata mundi X. Qui sedes ad dexteram patris XI. Quoniam tu solus sanctus XII. Cum sancto spiritu 13. Laetatus sum, RV 607 14-22. Magnificat, RV 610A
I. Magnificat II. Et exultavit III. Et misericordia IV. Fecit potentiam V. Deposuit potentes VI. Esurientes VII. Suscepit Israel VIII. Sicut locutus IX. Gloria 23. Lauda Jerusalem, RV 609
Le Concert Spirituel; Hervé Niquet
Recorded: église Notre Dame du Liban, Paris, 2015
Mais uma vez a Terra está a completar uma volta em sua órbita celeste e nos aproximamos do fim deste peculiar ano de 2022. Alguns ciclos se completam, outros estão a vir, já anunciados. É um bom momento para, como Janus, olharmos para trás, considerando o que foi feito e desejarmos o que está chegando. Eu estou tentando criar espaço no presente para receber o que o futuro trará.
Passei em revista minha atividade no blog, entre 1 de dezembro de 2021 e 30 de novembro de 2022. Este ano não tive energia para verificar todas as publicações e limitei às que resultaram de meus próprios esforços. Estas postagens refletem meu envolvimento com música, que posso observar, é grande. Algumas delas foram fáceis de preparar, vindas de alguma boa inspiração, outras demandaram mais estudo e dedicação, mas todas me deram bastante prazer, ao longo do caminho. Prazer em ouvir a música, de eventualmente comparar com outras interpretações ou de seguir as direções que ela me apontava. Prazer também em burilar o texto, em catar as ilustrações e depois esperar que elas surgissem, no blog. Esperar os aguardados comentários, estes mais parcos do que eu gostaria. De qualquer forma, os que recebi ao longo deste período me pareceram sinceros e foi gratificante lê-los.
Olhar estas postagens mais uma vez me fez pensar o quanto é importante valorizar o tempo, que ouvir música demanda tempo. Talvez seja por isso que alguns de nós se agarre a um repertório mais restrito, voltando sempre aos mesmos intérpretes. Eu sou por demais curioso para isso, o que me força a constantemente abrir mão desse tipo de segurança, abrindo espaço para as novidades.
Neste período fiz 64 postagens e acabei selecionando uma playlist entre as peças que considerei representativas do total. Caso você tenha o tempo de ouvir, poderá se interessar em visitar a correspondente postagem e descobrir algumas outras novidades.
Três dessas postagens selecionadas são de nosso padroeiro, São Sebastião Ribeiro. Uma gravação estalando de nova das seis sonatas para cravo e violino, com o violinista Andoni Mercero e o cravista Alfonso Sebastián; um disco com cantatas para baixo interpretadas pelo (jovem) David Greco, acompanhado pelo Luthers Bach Ensemble, sob a direção de Tymen Jan Bronda; uma outra gravação (plena de reflexões feitas durante o afastamento social resultado da pandemia) das seis (maravilhosas) suítes para violoncelo pelo jovem e talentoso Bruno Philippe.
Duas postagens refletem essa minha busca por novidades. Assim, na minha playlist de Retrospectiva 2022 há duas peças que conheci este ano e que me impressionaram: num deles, o Concerto para Piano de Sir Michael Tippett, interpretado pelo veterano pianista Howard Shelley, com a Bournemouth Symphony Orchestra, regida pelo (late) Richard Hickox, num disco do selo Chandos, inglês em todas as instâncias; no outro, o Cantus Articus do compositor finlandês Einojuhani Rautavaara. A peça Cantus Articus foi a que me motivou investigar a música de Rautavaara e o disco também traz a sua Sinfonia No. 7 e o Concerto para flautas.
O repertório de música francesa dos séculos 19 e 20 aparece sempre nas minhas postagens e um exemplo é este disco de músicos poloneses (ótimos) tocando lindas peças de câmara com instrumentos de sopros, o Gruppo di Tempera. Veja o discreto charme deste La chaminée du roi René, de Darius Milhaud.
Outro exemplo é o disco Exotisme, sonorités pittoresques, com peças para piano solo ou a quatro mãos, interpretadas pelos ótimos Ludmilla Guilmaut e Jean-Noël Dubois. Uma mescla de música de compositores mais conhecidos com música de compositores que recebem menos exposição e que merecem maior divulgação. Muita alegria, charme e beleza, como num lindo buque de flores.
Cantores também me interessam muito e adorei ter conhecido o trabalho da mezzo-soprano Elisabeth Kulman cantando algumas canções de Mahler, acompanhada por um pequeno conjunto de músicos com o sugestivo nome Amarcord Wien.
Muito trabalho me deu a postagem das 40 árias, que passou incólume pelos nossos leitores. Muito trabalho, uma vez que ópera é um gênero musical que eu conheço pouco, mas muito prazer também em descobrir um pouco o sentido de tão belos momentos musicais. Para esta Retrospectiva 2022 escolhi algumas das árias que considerei mais emblemáticas. Entre elas Casta Diva, da ópera Norma, composta por Bellini, e Vissi d’arte, de Tosca, composta por Puccini.
Uma grata surpresa neste ano foi a descoberta da música para piano de Radamés Gnattali, num disco primoroso. O intérprete Luís Rabello é sobrinho do violonista Raphael Rabello e ótimo pianista.
Para completar essa retrospectiva, não poderia deixar de mencionar mais música barroca. Escolhi algumas sonatas de Scarlatti, parte da postagem de um disco da espetacular pianista Zhu Xiao-Mei e uma postagem dedicada ao Opus 3 de Vivaldi, pelo Concerto Italiano, sob a direção de Rinaldo Alessandrini. Esta coleção tem de especial o fato de que os concertos de Vivaldi estarem entremeados com algumas das suas transcrições feitas por Bach.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Sonata No. 6 em sol maior, BWV1019
Allegro
Largo
Allegro
Adagio
Allegro
Andoni Mercero, violino
Alfonso Sebastián, cravo
Cantata BWV 82 ‘Ich habe genug’
Ich habe genug
Ich habe genug! Mein Trost ist nur allein
Schlummert ein, ihr matten Augen
Mein Gott! Wann kömmt das schöne
Ich freue mich auf meinen Tod
David Greco, baixo
Joanna Huszcza, violino
Amy Power, oboé
Luthers Bach Ensemble
Tymem Jan Bronda
Suíte para Violoncelo No. 6 in D major, BWV1012
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Gavottes I & II
Gigue
Bruno Philippe, violoncelo
Michael Tippett (1905 – 1998)
Concerto para Piano e Orchestra
I Allegro non troppo
II Molto lento e tranquilo
III Vivace
Howard Shelley, piano
Bournemouth Symphony Orchestra
Richard Hickox
Darius Milhaud (1892 – 1962)
Le cheminée du Roi René, Op. 205
Cortege
Aubade
Jongleurs
La Maousinglade
Joutes sur l’arc
Chasse a Valabre
Madrigal – Nocturne
Gruppo di Tempera
Agnieszka Kopacka, piano
Agata Igras-Sawicka, flauta
Sebastian Aleksandrowicz, oboé
Adrian Janda, clarinete
Artur Kasperek, fagote
Tomasz Bińkowski, trompa
Gustav Mahler (1860 – 1911)
Ging heut morger übers Feld – Mahler (Lieder eines fahrenden Gesellen)
Ich atmet’ einen linden Duft – Rückert-Lieder
Blicke mir nicht in die Lieder – Rückert-Lieder
Liebst du um Schönheit – Rückert-Lieder
Adagietto – 4 movimento da Quinta Sinfonia
Elisabeth Kulman, mezzo-soprano
Amarcord Wien:
Tommaso Huber, acordeão
Sebastian Gürtler, violino
Michael Williams, violoncelo
Gerhard Muthspiel, contrabaixo
Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016)
Cantus Arcticus, Op. 61 (Concerto para Pássaros e Orquestra)
Suo (Pântano)
Melankolia
Joutsenet muuttavat (Cisnes migrando)
Sinfonia Lahti
Osmo Vänskä
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Voiles
Ludmilla Guilmault, piano
Déodat de Séverac (1872 – 1921)
En Vacances, Vol. 1
Où l’on entend une vieille boîte à musique
Valse romantique
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
Gabriel Fauré (1845 – 1924)
Dolly, Op. 56
Le pas espagnol
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
40 Best Arias
Bellini- Norma – Casta Diva – Maria Callas
Verdi- Rigoletto – La Donna E Mobile – Richard Leech
Bizet- Carmen – Habanera – ‘L’amour Est Un Oiseau Rebelle – Julia Migenes
Bizet- Carmen – Flower Song – Placido Domingo
Offenbach- Les Contes d’Hoffmann – Barcarolle – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
Mozart- Don Giovanni – Dalla Sua Pace – [Don Ottavio] – Hans-Peter Blochwitz
Delibes- Lakme – Flower Duet – [Lakme, Mallika]) – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
Verdi- La Traviata – Brindisi- Libiamo Ne’Lieti Calici – Neil Schicoff & Edita Gruberova
Puccini- La Boheme – Che Gelida Manina [Rodolfo]) – Jose Carreras
Puccini- La Boheme – Si. Mi Chiamano Mimi – Barbara Hendricks
Puccini- Tosca – Vissi D’arte’ [Tosca] – Kiri Te Kanawa
Puccini- Tosca – E Lucevan Le Stelle [Cavaradossi] – Placido Domingo
Gluck- Orphee Et Eurydice – J’ai Perdu Mon Eurydice – Susan Graham
Rossini- La Cenerentola – Non Piu Mesta [Angiolina] – Jennifer Larmore
Radamés Gnattali (1906 – 1988)
Rapsódia Brasileira
Poema de Fim de Tarde
Manhosamente
Uma rosa para o Pixinguinha
Luís Rabello, piano
Domenico Scarlatti (1685 – 1757)
Sonata em mi maior, K. 531 (L. 430)
Sonata em si menor, K. 87 (L. 33)
Sonata lá maior, K. 533 (L. 395)
Sonata em ré menor, K. 32 (L. 423)
Sonata em lá maior, K. 39 (L. 391)
Zhu Xiao-Mei, piano
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 8 for 2 Violins in A Minor, Op. 3, RV 522
Allegro
Larghetto
Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto for organ after RV 522 in A Minor, BWV 593
[Allegro]
Adagio
Allegro
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 10 for 4 Violins in B Minor, Op. 3, RV 580
Allegro
Largo
Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto for 4 Harpsichords after RV 580 in A Minor, BWV 1065
O título deste disco – Forza Azurri! – soa um pouco estranho, uma vez que há uma Copa do Mundo acontecendo (pelo menos nos dias em que escrevo estas mal traçadas linhas) e a seleção da Itália não está participando. Não que já tenha sido eliminada, como a seleção da Alemanha, Holanda, Uruguai e Brasil, mas não chegou a passar da fase de eliminatórias.
Isto pode parecer insignificante para nossos leitores de gerações mais recentes, mas uma Copa do Mundo sem a Squadra Azzurra é um pouco estranha para mim. A Itália é tetra campeã e foi vice em 1970 (!) e 1994, quando Roberto Baggio chutou o último pênalti lá nas alturas.Talvez o título seja um incentivo visando as próximas competições vindo deste grupo de ótimos músicos (ingleses) – La Serenissima – que sob a liderança de Adrian Chandler toca maravilhosamente o repertório barroco italiano.
Durante o período que chamamos barroco havia uma grande demanda por música nos estilo ‘italiano’, não só nas cidades da Itália, mas também nas outras cidades europeias. Sempre havia emprego nas cortes e igrejas para um compositor ou músicos de origem italiana, especialmente violinistas e violoncelistas. Essa demanda determinou o destino de vários dos compositores representados neste disco.
Giuseppe Sammartini nasceu em Milão, filho do oboísta francês Alexis Saint-Martin e irmão do também compositor e oboísta Giovanni Battista Sammartini. Após sua formação em Milão, Giuseppe mudou-se para Bruxelas e depois para Londres, onde ficou pelo resto de seus dias. Atuou como compositor e músico, inclusive fazendo parte da orquestra das produções de Handel. Neste disco você ouvirá um concerto para flauta composto por ele.
Evaristo Felice Dall’Abaco nasceu em Verona e estudou violino e violoncelo com Torelli. Dall’Abaco foi músico e compositor da corte do eleitor Maximiliano Emmanuel, em Munique. Como este sofreu alguns revezes, Dall’Abaco seguiu com a corte para o exílio na Bélgica e depois para a França. Isso lhe deu a oportunidade de conhecer outros estilos musicais. No programa um dos seus concertos para cordas.
Outro compositor que cruzou os Alpes para viver mais ao norte foi Giuseppe Antonio Brescianello, que também estudou com Torelli. Brescianello teve uma passagem por Munique, mas firmou-se em Stuttgart, na Corte de Württemberg. Sua música está no disco na forma de uma suíte para orquestra de cordas.
A primeira peça do disco, que deve ter sido composta para abrir alguma apresentação teatral, é de Lorenzo Gaetano Zavareti, que nasceu e formou-se em Bolonha (outro aluno de Torelli). Diferente dos outros compositores apresentados, Zavareti permaneceu na Itália, atuando principalmente como violinista.
As outras três peças são de um compositor veneziano que dispensa apresentações, três lindos concertos do padre Antonio Vivaldi.
La Serenissima e Adrian Chandler nas escadarias do Castelo do PQP Bach em Novo Hamburgo
Lorenzo Gaetano Zavateri (1690 – 1764)
Introducione em sol maior para cordas e contínuo, Op. 1
Largo e spicco – Allegro assai – Largo e spicco – Allegro assai – Largo e spicco – Adagio
Allegro
Giuseppe Sammartini (1695 – 1750)
Concerto para flauta doce, cordas e contínuo em fá maior
Allegro
Largo
Allegro assai
Evaristo Felice Dall’Abaco (1675 – 1742)
Concerto No. 12 para cordas e contínuo em ré maior, Op. 6
Allegro
Grave
Allegro mà non troppo
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para violino, cordas e contínuo em lá maior, RV 353
Allegro
Andante
Allegro
Concerto para flauta doce sopranino, cordas e contínuo em dó maior, RV 433
Allegro
Largo
Allegro molto
Concerto para violino, cordas e contínuo em mi menor, RV 281
Veneza é uma cidade surpreendente. Há o Grande Canal, canais, canaletti, não ruas. E não há carros, ônibus ou metro. Há vaporetti e gôndolas. Um dia, quando estava lá no meio das pessoas, esperando pelo vaporetto, vi passar ao meu lado Mia Farrow e Woody Allen. Bom, eu sei, isso foi há muito tempo, eu posso estar enganado…
Mas ouvir um concerto com música de Vivaldi em uma igreja centenária, mesmo que o conjunto não tivesse muitos músicos e que eles eram apenas estudantes de música, é uma inspiração para quase toda uma vida. Bom, meia vida já é bastante.
Pois foi por isso que esse disco me chamou a atenção. Pois que seguindo as tendências atuais, a capa não ajuda muito. Mesmo assim, ouvi o disco e, pura sorte minha, gostei muito. O título Lost in Venice é bem apropriado, pois Veneza é realmente um ótimo lugar para ficar perdido, cada recanto vale a pena, e o três compositores aqui reunidos têm suas vidas ligadas, em boa parte, à Veneza.
Francesco Veracini nasceu em Florença, mas seus talentos o levaram pelo mundo… Veneza, Londres. Mas foi em Veneza que impressionou tanto Tartini com sua técnica que o outro músico se mudou para outra cidade, para estudar e poder evitar comparações. Neste disco ouvimos uma de suas muitas Aberturas.
Quanto aos outros dois compositores, Antonio Vivaldi e Benedetto Marcello, eles nem sempre viveram assim, como diríamos, de boas. Enquanto Vivaldi vinha de uma família de pessoas simples e seguiu a carreira religiosa com expectativa de ter um futuro assegurado, Benedetto Marcello nasceu em berço nobre e era músico diletante e advogado de carreira. Vivaldi que era padre, mas músico verdadeiramente, algumas vezes se meteu em problemas judiciais, devido a alguns fracassos operísticos. Pois é, quem não? É possível que os dois tenham se encontrado em circunstâncias, digamos assim, nem tão favoráveis a Vivaldi. Mas, o que realmente importa para nós é a música, que interpretada como é no disco, nos faz ficar mais próximos de Veneza… ou de casa, como você preferir.
Vadym Makarenko
Quanto ao intérprte, Vadym Makarenko nasceu na Ucrânia e começou a estudar violino aos cinco anos. A música lhe abriu muitas portas e em 2012 graduou-se em violino no Instituto de Música de Kyiv. O contato com Oleg Timofeev e Andrey Pracht, que tocam tiorba e cravo, lhe mostraram as possibilidades de práticas com instrumentos de época. Isso o levou a estudar na Schola Cantorum da Basileia, onde recebeu o apoio e a inspiração de Amandine Beyer, levando-o definitivamente para essas práticas. Makarenko agora mora em Madri e fundou seu próprio grupo musical – Infermi d’Amore. O nome para o grupo veio de uma coleção de cantatas, chamada Il pazzo com la pazza ristampata e Uno ospedale per gl’Infermi d’amore, publicada em Nápoles.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para violino em dó maior, RV 182
Allegro
Largo
Allegro
Francesco Maria Veracini (1690 – 1768)
Abertura No. 6
Allegro
Largho
Allegro
Antonio Vivaldi
Concerto para violoncelo em si bemol maior, RV 788
Um disco cheio de recantos aprazíveis e interessantes. Uma viagem maravilhosa onde somos conduzidos pelas mãos da esplêndida Amandine Beyer. Há desde coisas marciais até extremas delicadezas. Um baita CD. Os concertos con molti stromenti de Vivaldi são verdadeiros precursores da sinfonia em sua amplitude, sonoridade e audácia. Nestas peças, o ‘Padre Ruivo’ divertia-se a inventar combinações de timbres literalmente inéditas. No famoso concerto Il Mondo al rovescio (O mundo de cabeça para baixo), ele convidou flautas, oboés e cravos para se unirem a violino e violoncelo em um turbilhão colorido. Esta gravação de Amandine Beyer e Gli Incogniti oferece a oportunidade de descobrir essas composições incrivelmente modernas.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para muitos instrumentos (Beyer)
1. Concerto in D Major, RV 562 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: I. Andante – Allegro (05:04)
2. Concerto in D Major, RV 562 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: II. Grave (02:51)
3. Concerto in D Major, RV 562 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: III. Allegro (06:21)
4. Flute Concerto in E Minor, RV 432: I. Allegro (02:40)
5. Flute Concerto in E Minor, RV 432: II. Grave sopra il Libro (02:08)
6. Concerto in C Major, RV 556 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: I. Largo – Allegro molto (04:55)
7. Concerto in C Major, RV 556 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: II. Largo e cantabile (02:51)
8. Concerto in C Major, RV 556 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: III. [Allegro] (04:03)
9. Concerto in F Major, RV 571: I. Allegro (04:03)
10. Concerto in F Major, RV 571: II. Largo (02:24)
11. Concerto in F Major, RV 571: III. [Allegro] (03:42)
12. Concerto for Violin and Oboe in G Minor, RV 576: I. [Allegro] (03:53)
13. Concerto for Violin and Oboe in G Minor, RV 576: II. Larghetto (02:06)
14. Concerto for Violin and Oboe in G Minor, RV 576: III. Allegro (03:32)
15. Violin Concerto in A Major, RV 344: I. Allegro (04:25)
16. Violin Concerto in A Major, RV 344: II. Largo (01:50)
17. Violin Concerto in A Major, RV 344: III. [Allegro] (04:11)
18. Concerto for 2 Oboes in A Minor, RV 536: I. [Allegro] (02:29)
19. Concerto for 2 Oboes in A Minor, RV 536: II. Largo (01:52)
20. Concerto for 2 Oboes in A Minor, RV 536: III. Allegro (01:34)
21. Concerto in F Major, RV 572 “Il Proteo o sià Il Mondo al rovescio”: I. Allegro (03:51)
22. Concerto in F Major, RV 572 “Il Proteo o sià Il Mondo al rovescio”: II. Largo (02:28)
23. Concerto in F Major, RV 572 “Il Proteo o sià Il Mondo al rovescio”: III. [Allegro] (03:08)
Quem não ama a talentosa magrelinha Beyer, aqui duplicada pra vocês? Imaginem se alguém talentosa e inteligente como ela votaria numa besta como Bolsonaro?
É chegada a Primavera e festivamente os pássaros a saúdam com alegres canções… Assim começa o poema que acompanha o Primeiro Concerto da coleção publicada por Antonio Vivaldi em Amsterdã, em 1725, com o justo nome Il cimento dell’armonia e dell’inventione. Os quatro primeiro concertos da coleção ganharam uma identidade própria e Vivaldi, para muitos é o compositor das quatro estações. Nada mais justo.
Eu não ouço esses concertos com frequência, pois diversidade musical é algo essencial para mim, mas sempre que, por essa ou aquela situação, ouço alguma interpretação desses cavalos de batalha do barroco, eu os aprecio.
Assim, não foi diferente no caso desse disco, que ouvi apropriadamente nos primeiros dias desta Primavera em curso, aqui no Brasil.
Kati dando umas dicas para os violinistas da PQP Bach Orchestra…
O nome Kati Debretzeni pode não ser muito conhecido, a menos que você goste de ler a formação das orquestras. Ela assumiu a posição de líder violinista do English Baroque Soloists, sob a regência de Sir John Eliot Gardiner, em 2000. Ela atua em inúmeros grupos musicais que adotam as práticas de instrumentos antigos e, desde 2008, é uma das líderes no conjunto de violinos da Orchetra of the Age of Enlightenment.
Esta gravação foi feita em fevereiro de 2013, em uma igreja nos subúrbios de Londres, e deve ser por isso que os violinos realmente tremem de frio no último concerto. Mas na memória dos músicos estava bem presente as cores, cheiros e lembranças da Primavera!
Antonio Lucio Vivaldi (1678 – 1741)
As Quatro Estações
Concerto No. 1 em mi maior Op. 8 No. 1, RV 269 – La primavera
Allegro
Largo e pianissimo sempre
Danza pastorale: Allegro
Concerto No. 2 em sol menor Op. 8 No. 2, RV 315 – L’estate
Allegro non moto
Adagio – Presto
Presto
Concerto No. 3 em fá maior Op. 8 No. 3, RV 293 – L’autunno
Allegro
Adagio molto
Allegro
Concerto No. 4 in fá menor Op. 8 No. 4, RV 297 – L’inverno
In 1986, a group of inquisitive London musicians took a long hard look at that curious institution we call the Orchestra, and decided to start again from scratch. They began by throwing out the rulebook. Put a single conductor in charge? No way. Specialise in repertoire of a particular era? Too restricting. Perfect a work and then move on? Too lazy. The Orchestra of the Age of Enlightenment was born.
Since then, the OAE has shocked, changed and mesmerised the music world.
Period-specific instruments have become just one element of its quest for authenticity. Today the OAE is cherished more than ever. It still pushes for change, and still stands for excellence, diversity and exploration. More than thirty years on, there’s still no orchestra in the world quite like it.
Antonio Vivaldi é mais conhecido pelos quatro primeiros concertos de seu Opus 8, Il cimento dell’armonia e dell’inventione, chamados ‘As Quatro Estações’. Mas, o primeiro conjunto de concertos de sua autoria a ser publicado em Amsterdam, em 1771, foi seu Opus 3, L’estro armonico – um conjunto com quatro concertos para um violino, quatro para dois violinos e quatro para quatro violinos.
Vivaldi foi um mestre da propaganda, nomeando maravilhosamente suas publicações. Il cimento dell’armonia e dell’inventione pode ser traduzido como A mistura amalgamada da harmonia e da invenção e L’estro armonico, algo como O fantástico espírito criativo e a harmonia…
Rinaldo Alessandrini
O regente e cravista desta maravilhosa gravação da postagem explica em uma entrevista o sentido da palavra: ‘Estro is an attitude. You could translate it as a combination of fantasy and skill. In Italian, to be estroso is to be someone who has imaginative ideas, and lots of them’. Arriscando uma tradução: ‘Estro é uma atitude (essa parte foi mole…). Você poderia traduzir esta palavra como uma combinação de fantasia e habilidade. Em italiano, ser estroso é ser alguém com ideias imaginativas, muitas delas’. Ah, no Dicionário de Palavras Cruzadas, estro significa ‘veia artística’!!
Este conjunto de concertos chamou a atenção do mundo musical da época para a inventividade do padre e, em especial, a atenção de Johann Sebastian Bach, que além de genial, estava muito atento ao que acontecia ao seu redor. Ele tanto estudou e provavelmente interpretou estes concertos que arranjou seis deles em diferentes combinações de instrumentos. Três concertos para um violino foram transcritos para cravo solo, dois concertos para dois violinos (um deles também um violoncelo) foram transcritos para órgão e o mais espetacular deles, para quatro violinos, foi transcrito para quatro cravos e cordas.
Esta gravação, além de nos apresentar os concertos de Vivaldi em uma estrosa gravação com instrumentos de época e com um instrumento para cada parte, também traz as transcrições feitas por Bach, em seguida de cada um dos respectivos concertos originais de Vivaldi.
Sobre a inventividade que o padre veneziano exibiu na composição destes maravilhosos concertos, veja o que o Alessandrini disse: ‘All these ideas coming one after another creates a suspense – nobody can say what’s coming in the next bar’. (Todas essas ideias surgindo uma após a outra cria um suspense – ninguém consegue dizer o que virá na próxima barra’.)
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
L’estro armonico, Op. 3
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Seis concertos para diferentes combinações de instrumentos
Vivaldi – Concerto No.1 para quatro violinos em ré maior RV 549
Vivaldi – Concerto No.2 para dois violinos em sol menor RV 578
Vivaldi – Concerto No.3 para violino em sol maior RV 310
Bach – Concerto cravo solo em fá maior BWV 978 (arranjo do Concerto RV 310)
Vivaldi – Concerto No.10 para quatro violinos em si menor RV 580
Bach – Concerto para quatro cravos lá menor BWV 1065 (arranjo do Concerto RV 580)
Vivaldi – Concerto No.11 para dois violinos e violoncelo em ré menor RV 565
Bach Concertor para orgão (solo) em ré menor BWV 596 (arranjo do Concerto RV 565)
Vivaldi – Concerto No.12 para violino em mi maior RV 265
Bach – Concerto cravo solo BWV 976 em dó maior (arranjo do Concerto RV 265)
Vivaldi – Concerto No.4 para quatro violinos em mi menor RV 550
Vivaldi – Concerto No.5 para dois violinos em lá maior RV 519
Vivaldi – Concerto No.6 para violino em lá menor RV 356
Vivaldi – Concerto No.7 para quatro violinos em fá maior RV 567
Vivaldi – Concerto No.8 para dois violinos em lá menor RV 522
Bach – Concerto para orgão (solo) em lá menor BWV 593 (arranjo do Concerto RV 522)
Vivaldi – Concerto No.9 para violino em ré maior RV 230
Bach – Concerto para cravo solo em ré maior BWV 972 (arranjo do Concerto RV 230)
Alessandrini de olho no número de acessos da postagem…
Sobre o conjunto, os solistas e a gravação, a crítica na Gramophone não poupa elogios: ‘I can’t remember when I last enjoyed a Vivaldi album as much as this’.
Having previously tackled Vivaldi’s operas, a vibrant sense of theatre clings to Alessandrini’s every interpretative decision; and while he’s typically all over the detail, he never loses sight of how movements relate to one another. BBC Music Magazine
Of particular note is the organ playing by Lorenzo Ghielmi, who has a great knack for picking vibrant registrations, and the lovely integrated harpsichord playing by Alessandrini, Andrea Buccarella, Salvatore Carchiolo, and Iganzio Schifani. All in all, this set of discs ranks right up among the best renditions of the concertos. Fanfare
Essa noite tive um sonho no qual il Petre Rosso reclamava da ausência de suas músicas nas postagens do blog – sono stato abbandonato…
Concerto no Ospedalle della Pietà
E olha que ele me parecia preparado para participar de um enorme concerto, cercado que estava de músicos com trompetes, trompas da caccia, e vários oboés, caramelas e coisas do gênero. Estou preparando uns concertos que chamarei concerti com molti instromenti, para encurtar os nomes, segredou-me o padre compositor. Posso me dar ao luxo de esbanjar imaginação na combinação de tantos instrumentos, pois tenho muitas alunas talentosas no Ospedalle della Pietà, que são maestras em toda a sorte de instrumento musical. Aquela Anna Maria, por exemplo, toca violino principalmente, mas também toca cravo, violoncelo, viola d’amore, alaúde e todos os instrumentos de pinicar… Entenda bem, nada de penicos!
Esses concertos faziam muito sucesso e atraiam os visitantes e turistas em Veneza para os concertos no Ospedalle e, como as órfãs ficavam escondidas, ocultas do público, suas inusitadas sonoridades causavam muitas surpresas. Os concertos com muitos instrumentos também faziam sucesso nos festivais promovidos por instituições religiosas como o convento de São Lourenço e a igreja Santa Maria Celeste, que aplicavam boa grana contratando orquestras que atraiam muitas pessoas.
Faziam também sucesso além da Sereníssima República de San Marco, chegando em terras germânicas, como na corte de Dresden, onde atuava Pisandel, amigo e antigo aluno de Don Antônio.
Aproveite para embarcar nesta viagem pelo mundo barroco e ouça este ótimo disco, bem inglês, desde o selo até os músicos, mas bastante afinado com as práticas do maestro Vivaldi. Eles já andaram por aqui apresentando seus discos com música sacra do padre…
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto em fá maior, RV574
Elizabeth Wallfisch (violino), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa)
Allegro
Grave
[Allegro]
Concerto funebre em si bemol maior, RV579
Katharina Spreckelsen (oboé), Colin Lawson (chalumeau), Elizabeth Wallfisch (violino), Katherine McGillivray (viola all’inglese), Jane Norman (viola all’inglese), Jane Coe (viola all’inglese)
Largo – Allegro poco poco – Adagio
Allegro
Concerto em ré maior, RV562
Elizabeth Wallfisch (violino), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa)
Andante – Allegro
Grave
Allegro
Concerto em fá maior, RV97
Katherine McGillivray (viola d’amore), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote)
Largo – Allegro
[Largo]
Allegro
Concerto em ré maior, RV781
Crispian Steele-Perkins (trompete), James Ghigi (trompete)
Allegro
Grave
Elizabeth Wallfisch (violino)
Allegro
Concerto em dó maior, RV555
Rebecca Miles (flauta doce), Emma Murphy (flauta doce), Katharina Spreckelsen (oboé), Colin Lawson (chalumeau), Elizabeth Wallfisch (violino), Katherine McGillivray (viola all’inglese), Jane Norman (viola all’inglese), James O’Donnell (cravo), James Johnstone (cravo)
Allegro
Largo
Allegro
Lucy Howard (violino), Walter Reiter (violino em tromba marina)
Concerto em ré menor, RV566
Rebecca Miles (flauta doce), Emma Murphy (flauta doce), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote), Elizabeth Wallfisch (violino), Walter Reiter (violino)
O pessoal que escreve crítica gostou do disco: ‘Why mince words? This collection is one of the best Vivaldi records I have heard since I began reviewing records 40 years ago. Every movement is sheer delight’ (American Record Guide)
‘A fascinating collection of unusually-scored concerti’ (Classic CD)
E você, vai deixar passar essa chance?
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou desta música, vai querer visitar também esta postagem aqui:
O padre e professor de violino chegou ao Ospedale della Pietà para mais uma aula e não pode deixar de notar a jovem talentosa que praticava o violoncelo. Chamou-lhe a atenção a maneira como ela segurava o arco, com a mão invertida, por baixo da madeira. A moça tocava tão bem que logo a inspiração fez com que o prodigioso padre compusesse um lindo Concerto em sol maior para violoncelo e que foi gravado neste disco da postagem, com a intérprete usando exatamente a mesma técnica. Curioso, perguntou-lhe com quem havia aprendido aquela técnica e ouviu que fora com o Maestro Antonio, seu xará. Por pouco Antonio Vivaldi e Antonio Vandini não se encontraram nas salas de aula e de prática da instituição. Vandini já havia retornado a Pádua, onde era o violoncelista principal da ‘Veneranda Arca’, a orquestra da Basílica del Santo e mui amigo do compositor e violinista Giuseppe Tartini.
Antonio Vandini, violoncelista…
O Concerto para Violoncelo em lá maior muito certamente foi composto por Tartini para Vandini e é fácil acreditar que nas muitas ocasiões que os dois amigos se encontravam, o violoncelista interpretava em seu próprio instrumento movimentos de sonatas escritas pelo compositor para violino, como faz no disco a ótima violoncelista Elinor Frey.
Completam o disco concertos de Giovanni Battista Sammartini e Leonardo Leo.
João Batista nasceu em Milão, filho de um oboísta francês (Alexis Saint-Martin) e de Girolama de Federici. Assim como muitos de seus irmãos, J.B. estudou música com o pai e tornou-se bom compositor, assim como Giuseppe, um de seus irmãos, que também era oboísta. Você poderá ouvir mais alguma música composta eles, se acessar esta postagem aqui. A intérprete é a excelente Chiara Banchini.
Leonardo Leo nasceu no reino de Nápoles e pode ter estudado com Alessandro Scarlatti. Gostaria de imaginá-lo sentado em bancos ao lado de Domenico, arengando contra as muitas tarefas dadas pelo Alessandro. Entre suas composições encontram-se óperas sérias e cômicas, assim como música sacra. Se o concerto aqui gravado lhe despertou o interesse, poderá visitar esta postagem aqui para ouvir mais alguns, interpretados pelo ótimo Anner Bylsma.
Elinor mostrando para o pessoal do PQP Bach a técnica que o Vandini ensinava…
Eu gosto bastante deste tipo de disco, com repertório de diferentes compositores, mas com um forte denominador comum, uma série de conexões entre as obras. A audição me fez buscar outras versões para comparações ou mesmo gravações de obras similares com outros intérpretes, fazendo-me concluir que não há uma única abordagem para cada peça. Espero que o disco lhe provoque boas reações e desperte muito a sua curiosidade.
Este disco é bem recente, foi gravado em setembro de 2021 e lançado este ano. A solista, a orquestra e seu regente são jovens e ainda não apareceram por aqui, mas suas credenciais são impecáveis, como você poderá ver caso leia as notas incluídas no arquivo. Não deixe passar mais um minuto e baixe este disco absolutamente (im)-PER-DÍ-VEL!
Giovanni Battista Sammartini (1700 – 1775)
Concerto em dó maior para Violoncelo, Cordas e Contínuo
Allegro
Andante sempre piano
Allegro
Antonio Vivaldi (1678 – 1756)
Concerto em sol maior para Violoncelo, Cordas e Contínuo, RV 414
Allegro molto
Largo
Allegro
Giuseppe Tartini (1692 – 1770)
Sonata para Violino No. 7 em lá menor, B.a1:
Adagio (Arr. para violoncelo: Elinor Frey)
Concerto em lá maior para Violoncelo, Cordas e Contínuo, GT 1.A28
Allegro
Larghetto
Allegro assai
Leonardo Leo (1694 – 1744)
Concerto No. 2 em ré maior para Violoncelo, Cordas e Contínuo, L. 10
Andante grazioso
Con bravura
Larghetto con poco moto – mezza voce
Fuga
Allegro di molto
Giuseppe Tartini
Sonata para Violino No. 6 em mi menor, B.e1
Andante cantabile (Arr. para violoncelo: Elinor Frey)
Gostaram do primeiro CD com os Concertos para Cello? Pois agora tem mais três dos concertos além de três sonatas para violoncelo, interpretados magistralmente pelo ótimo cellista francês Christophe Coin.
Já comentei na postagem anterior o quanto esta série da L´Oiseau Lyre, um selo da poderosa gravadora DECCA, fazia sucesso nos anos oitenta. Começando pelas belíssimas capas, as gravações eram sinônimo de qualidade, sempre contando com excepcionais músicos, liderados por Christopher Hogwood e sua The Academy of Ancient Music, tendo Jaap Schröeder como spalla, e acompanhando solistas do nível do próprio Coin e a musa do blog, Dame Emma Kirkby. Claro que outros músicos de altíssimo nível também realizaram gravações por aquele selo, mas era essa turma que se destacava.
01. Concerto in D minor, RV 406 – I. (Allegro)
02. Concerto in D minor, RV 406 – II. Adagio
03. Concerto in D minor, RV 406 – III. Allegro
04. Sonata No.7 in A minor, RV 44 – I. Largo
05. Sonata No.7 in A minor, RV 44 – II. Allegro poco
06. Sonata No.7 in A minor, RV 44 – III. Largo
07. Sonata No.7 in A minor, RV 44 – IV. Allegro
08. Concerto in C minor, RV 402 – I. Allegro
09. Concerto in C minor, RV 402 – II. Adagio
10. Concerto in C minor, RV 402 – III. Allegro
11. Sonata No. 8 in E flat major, RV 39 – I. Larghetto
12. Sonata No. 8 in E flat major, RV 39 – II. Allegro
13. Sonata No. 8 in E flat major, RV 39 – II. Andante
14. Sonata No. 8 in E flat major, RV 39 – IV. Allegro
15. Sonata No. 9 in G major, RV 42 – I. Preludio. Largo
16. Sonata No. 9 in G major, RV 42 – II. Andante
17. Sonata No. 9 in G major, RV 42 – III. Sarabanda. Largo
18. Sonata No. 9 in G major, RV 42 – IV. Gigue. Allegro
19. Concerto in G major, RV 414 – I. Allegro molto
20. Concerto in G major, RV 414 – II. Largo
21. Concerto in G major, RV 414 – III. Allegro
Christophe Coin – Cello
The Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood – Conductor
Um bom disco. Vivaldi escreveu 24 concertos para violoncelo e aqui temos 6 dos mais belos deles, interpretados de forma exuberante, em instrumentos autênticos, pela Academy of Ancient Music, com seu diretor Hogwood ao cravo e o grande Christophe Coin ao violoncelo. Os concertos, a maioria escrita durante a década de 1720, são criações repletas de lirismo, além de verve rítmica e invenção. A inclusão de quatro composições em tons menores dão vazão à natureza introspectiva e frequentemente reprimida do compositor. Um disco indispensável para quem ama o violoncelo e Vivaldi. Hogwood garante um som cheio. As sonoridades das cordas são de seda, sem agudos incômodos. Se não me engano, trata-se de uma gravação de 1989, mas que soa como nova em folha ainda hoje.
Antonio Vivaldi (1678-1741): 6 Concertos para Violoncelo ( Coin / Hogwood / AAM)
01. Concerto in B minor, RV 424 – I. Allegro non molto
02. Concerto in B minor, RV 424 – II. Largo
03. Concerto in B minor, RV 424 – III. Allegro
04. Concerto in G minor, RV 416 – I. Allegro
05. Concerto in G minor, RV 416 – II. Adagio
06. Concerto in G minor, RV 416 – III, Allegro
07. Concerto in A minor, RV 418 – I. Allegro
08. Concerto in A minor, RV 418 – II. (Largo)
09. Concerto in A minor, RV 418 – III. Allegro
10. Concerto in F major, RV 412 – I. (Allegro)
11. Concerto in F major, RV 412 – II. Larghetto
12. Concerto in F major, RV 412 – III. Allegro
13. Concerto in C minor, RV 401 – I. Allegro non molto
14. Concerto in C minor, RV 401 – II. Adagio
15. Concerto in C minor, RV 401 – III. Allegro ma non molto
16. Concerto in G major, RV 413 – I. Allegro
17. Concerto in G major, RV 413 – II. Largo
18. Concerto in G major, RV 413 – III. Allegro
Christophe Coin – Cello
The Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood – Conductor
Um par de CDs de excelentes árias de Vivaldi. Um dedicado às profanas, outro às sacras. O álbum inclui uma série de gravações inéditas e, assim, contribui para a descoberta do compositor. Mas o que interessa é que as gravações são alegria pura, levadas com grande competência. A música tem ritmo, belas melodias e extrema energia. Kermes, Marcon e a Orquestra Barroca de Veneza são bons amigos dos melômanos.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Amor Profano / Amor Sacro
Amor Profano
1. L’Olimpiade / Act 2 – Siam navi all’onde 6:46
2. La fede tradita e vendicata (RV 712) – Sin nel placido soggiorno 7:43
3. Vivaldi: Orlando furioso RV 728 / Act 2 – Ah fuggi rapido 2:28
4. Tito Manlio / Act 3 – Non m’afflige il tormento di morte 4:06
5. Semiramide (RV 733) – Quegl’ occhi luminosi 5:06
6. Il Tigrane / Act 2 – Squarciami pure il seno 3:21
7. Catone in Utica / Act 1 – Se in campo armato 6:28
8. Il Bajazet (Il Tamerlano) / Sinfonia – 1. [without tempo indication] 2:22
9. Il Bajazet (Il Tamerlano) / Sinfonia – 2. Andante molto 2:39
10. Il Bajazet (Il Tamerlano) / Sinfonia – 3. Allegro 0:56
11. Griselda – dramma per musica – Agitata da due venti 5:31
12. Tito Manlio / Act 3 – Dopo sì rei disastri 1:39
13. La verità in cimento / Act 1 – Amato ben tu sei la mia speranza 7:25
14. Tito Manlio / Act 2 – Combatta un gentil cor 4:34
15. La farfalletta 6:47
16. Il Giustino / Act 3 – Or che cinto ho il crin d’alloro 3:36
Simone Kermes
Venice Baroque Orchestra
Andrea Marcon
Não, este disco não tem qualquer relação com a rede social criada em 2006, com valor de mercado estimado em uns 10 a 25 US$ bi, faixa similar ao valor da PQP Bach Corp., também criada em 2006.
O título faz referência ao som dos pássaros. Em um trabalho musicológico de primeira, juntaram oito árias barrocas para soprano com referência aos cantores que vivem em cima das árvores, algumas de compositores famosos como A. Scarlatti, Vivaldi, Albinoni. Outros um pouco menos conhecidos, como J.A. Hasse, que viveu mais de 80 anos entre Dresden, Veneza e Viena, onde chegou a conhecer o jovem Mozart (ao que parece, ambos tinham grande respeito pelo talento do outro), e Leonardo Vinci, um dos criadores do estilo galante, célebre por suas óperas de melodias mais simples, com menos contraponto, e que morreu aos 40 anos ao comer um chocolate envenenado – dizem as más línguas – por um parente de uma de suas várias amantes. E alguns são hoje praticamente desconhecidos, como os italianos Andrea Stefano Fiorè e Pietro Torri.
Na maioria dessas árias, a cantora divide o papel de solista com a flauta doce ou flautino, que imita os pássaros. Como vocês sabem, a imitação dos pássaros é uma constante na história da música. No século XX beberam dessa tradição Mahler, Stravinsky, Villa-Lobos e Messiaen.
O canto dos pássaros pode servir de metáfora para os mais diversos sentimentos, como a alegria pastoral da ária de Gasparini:
Bell’augelletto
che vai scherzando
sui verdi rami,
t’intendo: tu mi chiami,
e parla in te l’amor.
Belo passarinho
que vai brincando
sobre verdes ramos,
te entendo: tu me chamas,
e em ti, fala o amor
Os pássaros, soltos ou na gaiola, também podem representar a liberdade ou a falta desta, como na ária de Hasse:
L’augelletto in lacci stretto perché mai cantar s’ascolta? Perché spera un’altra volta di tornare in libertà.
O passarinho na gaiola,
porque escutamos seu canto?
Porque ele espera em breve
voltar à liberdade.
E na ária de Alessandro Scarlatti – que faz parte da serenata Il giardino d’amore, espécie de cantata para um público mais reservado e mais aristocrático do que o das óperas – o canto do rouxinol aparece bem mais estilizado e rebuscado do que o estilo galante que surgiria algumas décadas depois. Assim como Hasse, Scarlatti trata de temas mais sombrios:
Rouxinol cantando (fonte: ebird.org)
Più non m’alletta e piace
il vago usignoletto
Já não me agrada e diverte
o charmoso rouxinol
Alguns desses compositores estão fazendo sua estreia no PQP hoje, por exemplo Francesco Gasparini, que foi Diretor do Pio Ospedale della Pietà em Veneza no começo do século 18, ou seja, foi patrão de Antonio Vivaldi. J.S. Bach copiou à mão a Missa Canonica de Gasparini em 1740, fez algumas mudanças na orquestração adicionando oboés, trombone e órgão, e regeu essa Missa provavelmente muitas vezes em Leipzig.
Três obras instrumentais para flauta doce e cordas completam o CD, incluindo um concerto de Vivaldi. É impressionante como sempre há novidades a se conhecer na música barroca!
ANDREA STEFANO FIORÈ (1686–1732)
1 “Usignolo che col volo”
Aria di Engelberta from the opera Engelberta (Milano 1708)
for soprano, flautino, strings & b.c.
LEONARDO VINCI (c.1690–1730)
2 “Rondinella che dal nido”
Aria di Ifigenia from the opera Ifigenia in Tauride (Venezia 1725)
for soprano, strings & b.c.
FRANCESCO GASPARINI (1661–1727)
3 “Bell’augelletto che vai scherzando”
Aria di Aurora from the serenata L’oracolo del fato (Venezia c. 1709)
for soprano, flautino & strings
FRANCESCO MANCINI (1672–1737)
Sonata 14 in G minor
Concerto for Recorder, two violins, viola & b.c.
from the Conservatory “San Pietro a Majella”, 24 concerti per flauto, Napoli 1725
4 Comodo
5 Fuga
6 Larghetto
7 Allegro
T. Albinoni
PIETRO TORRI (c.1650–1737)
8 “Amorosa rondinella”
Aria di Nicomede from the opera Nicomede (Munich 1728)
for soprano, strings & b.c.
TOMASO ALBINONI (1671–1751)
9 “Zeffiretti che spirate”
Aria di Epicide from the opera Eraclea (Genova 1705)
for soprano & b.c.
JOHANN ADOLF HASSE (1699–1783)
10 “L’augelletto in lacci stretto”
Aria di Araspe from the opera Didone abbandonata (Dresden 1742)
for soprano, flautino, strings & b.c.
CHARLES DIEUPART (1667–1740)
Concerto in A minor, for ‘small flute’, strings & b.c.
11 Vivace
12 Grave staccato
13 Allegro
Alessandro Scarlatti
ANTONIO VIVALDI (1678–1741)
14 “Quell’usignolo ch’al caro nido”
Aria di Barzane from the opera Arsilda regina di Ponto (Venezia 1716)
for soprano, strings & b.c.
ALESSANDRO SCARLATTI (1660–1725)
15 “Più non m’alletta e piace”
Aria di Adone from the serenata Il giardino d’amore (c. 1700–1705)
for soprano, flautino, strings & b.c.
ANTONIO VIVALDI
Concerto in F major, RV 442, for recorder, strings & b.c. Tutti gl’ Istromenti Sordini
16 Allegro mà non molto
17 Largo e Cantabile
18 Allegro
Nuria Rial, soprano
Maurice Steger, flautino & recorder
Kammerorchester Basel
Stefano Barneschi, violin & direction
Caricaturas de F. Gasparini e Vivaldi, por Pier Leone Ghezzi (1674-1755). Curiosidade: a palavra caricatura tem origem no italiano ‘caricare’ – pois o desenhista exagera, carrega nos traços da pessoa
Esta é a postagem de número 300 que preparo para o PQP Bach! Para esta festiva oportunidade, pelo menos para mim, escolhi um disco delicioso, com música de Vivaldi. O programa do disco reflete a sua capa, um maravilhoso buque de diversidade. Além disso, optei por escolher um disco que não enfatiza a individualidade, mas celebra a coletividade. É um disco com lindos concertos diversos com seus solos distribuídos pelos membros da orquestra, na medida em que são demandados.
O programa começa mui propriamente com uma abertura de ópera – Ottone – uma sinfonia, passando para um tradicionalíssimo concerto para violino – Amato Bene –, seguindo para concertos com instrumentos de sopros – fagote e oboés. E como o tema do disco é amor, temos o Concerto L’Amoroso, seguido por um concerto de câmara, com destaque para um alaúde. Para fechar a programação, dois concertos com muitos instrumentos, para fazer brilhar de vez a orquestra e os seus membros, numa festa pródiga em amor e alegria, coisas que andam aí um bocado em falta.
Este é o primeiro disco gravado pela Tafelmusik Baroque Orchestra sob a nova direção de Elisa Citterio que também é solista em alguns dos concertos.
Eu ouvi o disco numa preguiçosa manhã de domingo, sentado na varanda, tomando um solzinho nas pernas e lendo os jornais atrasados da semana (aqui recebemos os jornais em papel nas sextas-feiras, sábados e domingos) e fazendo as palavras cruzadas acolhendo as dicas dadas pela minha querida!
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Ottone in Villa – Abertura
Allegro
Larghetto
Concerto para Violino em dó menor, RV 761 – ‘Amato Bene’
Allegro
Largo
Allegro
Concerto para fagote em ré menor, RV 481
Allegro
Larghetto
Allegro non molto
Concerto para 2 Oboés em dó maior, RV 534
Allegro
Largo
Allegro
Concerto para violino em mi maior, RV271 – ‘L’Amoroso’
Allegro
Cantabile
Allegro
Concerto para alaúde em ré maior, RV 93
Allegro
Largo
Allegro
Concerto para 4 violinos, viola e baixo contínuo, RV553
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for 2 violinos, 2 oboés e fagote em ré maior, RV 564a
Allegro
Adagio non molto
Allegro
Elisa Citterio, violino e direção
Cristina Zacharias, violino
Patricia Ahern, violino
Geneviève Gilardeau, violin
Julia Wedman, violino
John Abberger, oboé
Marco Cera, oboé
Dominic Teresi, fagote
Lucas Harris, alaúde
Tafelmusik Baroque Orchestra
Gravado entre 30 de outubro até 2 de novembro de 2018, em Humbercrest United Church, Toronto, Canada
Gravado por TRITONUS Musikproduktion, Stuttgart, Alemanha
Elisa testando a acústica do Salão Rosa do prédio do PQP Bach Corp. em Guapimirim
“In the collective imagination Vivaldi truly represents ‘l’italianità,’ or the Italian character.
Vivaldi’s music speaks unambiguously to people’s hearts.” —Elisa Citterio
The tempos all feel right, faster movements sounding upbeat but never breakneck, and slower movements given space to breathe but not enough to drag. Metrically, meanwhile, it’s precise but also far from rigid-sounding, thanks to sensitively shaped and coloured phrases and inventive ornamentation…where some bands will make a feature of their period instruments’ slightly less couth tonal tendencies, this lot definitely prefer polish.
Gramophone – January 2020
Two Baroque Violins
Depois você me escreva contando como foi que desfrutou desta belezura de disco!
Este é um disco bem mexido e alegre de Vivaldi. Os temas talvez fossem larga e merecidamente utilizados em cenas teatrais abertas. Mas este é outro Vivaldi, um praticamente sem movimentos lentos, só com coisas francamente felizes, às vezes marciais. Sardelli respeita fielmente os andamentos e as instruções do compositor e isto é muito bem-vindo e desejável. Para alcançar seus bons resultados, Sardelli encontra um suporte orquestral altamente competente no Modo Antiquo, que se funde com ele em um brilhante exercício de compreensão, proporcionando um som pleno, colorido e retumbante. Sim, outro Vivaldi está sendo servido. Provem-no, senhores.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Sinfonias dos Dramas para Música (Sardelli)
La Fida ninfa, opera in 3 acts, RV 714
1 Allegro molto – Presto 01:16
Arsilda, regina di Ponto, opera in 3 acts, RV 700
2 Allegro 01:47
3 Andante – Allegro 03:24
Giustino, opera in 3 acts, RV717
4 [Allegro] 02:33
5 [Andante] – Allegro 03:36
Bajazet (Il Tamerlano), pasticcio opera (“tragedia per musica”) in 3 acts, RV703
6 Allegro 02:20
7 Andante molto – Allegro 04:05
L’ Olimpiade, opera in 3 acts, RV 725
8 Allegro 02:12
9 Andante – Allegro 03:37
La Senna festeggiante, serenata à tre for chorus & continuo, RV 693
10 Allegro 02:22
11 Andante molto – Allegro molto 04:15
12 Adagio – Presto – [Adagio] 02:40
13 Allegro molto 01:05
Griselda, opera in 3 acts, RV 718
14 Allegro 01:57
15 Andante – Allegro 04:06
Teuzzone, pasticcio opera in 3 acts, RV 736
16 Allegro 01:52
17 Andante – Allegro 03:38
Ottone in Villa, opera in 3 acts, RV 729
18 Allegro 02:45
19 Larghetto – [Allegro] 01:55
Farnace, opera in 3 acts, RV 711
20 [Allegro] 01:53
21 Andante – [Presto] 03:12
L’ Incoronazione di Dario, opera, RV 719
22 Allegro 02:21
23 [Andante] – Presto 02:48
Armida al camp d’Egitto, opera in 3 acts (act 2 lost), RV 699 A/D
24 Allegro 01:43
25 [Andante] – Allegro 03:10
Dorilla in Tempe (I), opera (“melodramma erioco-pastorale”) in 3 acts, RV 709
26 3. Allegro 00:35
(Oh, yeah. Depois do comentário que meu Reich acaba de receber, melhor postar). Sim, Galuppi não é Vivaldi. Por anos e anos acharam que o Dixit Dominus era de Galuppi, mas não, era de Vivaldi. O grande Vivaldi tornou-se ainda maior e o pobre Galuppi ficou sem sua única obra importante. Este CD da Archiv tenta recolocar Galuppi como um cara legal e até, olha, Baldassare era legal. Mas não é Vivaldi. O trabalho da turminha de Dresden, chefiada por Peter Kopp é uma joia (perdeu também o acento ou não?) que você, prezado melômano amante do sexo, das drogas pesadas e da música sacra, não devaria deixar passar em branco, apesar de termos aqui um Galuppi bonzinho ao lado de um enorme Vivaldi.
Ando num período muito vivaldiano, andei comprando umas óperas que nem lhes conto. Sem baixar o nível — pois este é um blog-família — , diria que são do caraglio.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Dixit Dominus, R. 807
1) Dixit Dominus [1:38]
2) Donec ponam inimicos tuos [2:58]
3) Virgam virtuis tuae [2:44]
4) Tecum principium [1:51]
5) Juravit Dominus [1:37]
6) Dominus a dextris tuis [1:50]
7) Judicabit in nationibus [2:40]
8 ) De torrente in via bibet [3:13]
9) Gloria Patri et Filio [2:10]
10) Sicut erat in principio [0:31]
11) Et in saecula saeculorum [2:34]
Baldassare Galuppi (1706 – 1785)
Laetatus sum
12) Laetatus sum [4:39]
13) Fiat pax [1:50]
14) Propter fratres meos [1:42]
15 Gloria Patri et Figlio / Sicut erat [1:52]
Nisi Dominus
16) Nisi Dominus [3:31]
17) Vanum est nobis [1:51]
18) Cum dederit [4:29]
19) Sicut sagitte [2:42]
20) Beatus vir [3:39]
21) Gloria Patri et Figlio [5:38]
22) Sicut erat [2:07]
Lauda Jerusalem
23) Lauda Jerusalem [0:59]
24) Quoniam confortavit [2:18]
25) Qui posuit fines [1:38]
26) Qui emittit [0:57]
27) Emittit verbum [2:25]
28) Qui annuntiat [0:40]
29) Gloria Patri et Figlio / Sicut erat [1:52]
Körnerscher Sing-Verein Dresden
Dresdner Instrumental-Concert
Peter Kopp
Sara Mingardo
Roberta Invernizzi
Paul Agnew
Thomas Cooley
Lucia Cirillo
Sergio Foresti
Estátua de Galuppi, na ilha de Burano em Veneza, onde ele nasceu
PQP (Links revalidados por Pleyel com os pitacos a seguir)
P.S.1. Concordo com PQP: Galuppi não está no nível genial de Vivaldi, mas é um importante compositor que carrega a tocha da tradicional escola de Veneza, com características também da geração de C.P.E. Bach: árias mais operísticas que devocionais, às vezes com os cantores fazendo pausas para sublimes solos de violino que, aliás, lembram os solos da Missa do Padre João de Deus Castro Lobo, compositor do Barroco tardio nascido em Vila Rica (Ouro Preto).
P.S.2. CD gravado na Lukaskirche (Igreja São Lucas) em Dresden, 2006. Prestem atenção nas reverberações e ecos da igreja!
Mais um bonito disco com a música de Vivaldi! Como os concertos para fagote, os concertos para violoncelo de Vivaldi são recompensadores não apenas por sua escrita solo altamente imaginativa — que estende e explora o caráter versátil do instrumento –, mas também pelas ideias ricamente variadas contidas em seus ritornelos. Se há um único movimento enfadonho a ser encontrado entre essas obras cativantes, ainda não o encontrei. Dieltiens e sua parceira no violino, Christine Busch, mais o Ensemble Explorations trazem vitalidade rítmica e articulação nítida aos movimentos externos, enquanto nos lentos eles prolongam sua poesia — às vezes elegíaca, às vezes puramente lírica — com fraseados eloquentes. Minha única crítica, e é pequena, é que o órgão de câmara é um pouco mais intrusivo do que deveria ser. Mas isso não é nada comparado com o resto.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para Violoncelo (Busch / Dieltiens)
Concerto En la Mineur / A Minor / A-moll RV 420 (F. III/21)
1 Andante 4:20
2 Adagio 3:48
3 Allegro 3:36
Concerto En Mi Bemol Majeur / E Flat Major / Es-dur RV 408 (F. III/5)
4 Allegro Non Molto 3:39
5 Largo 6:28
6 Allegro 2:09
Concerto En Fa Majeur / F Major / F-dur RV 411 (F. III/14)
7 Allegro 2:58
8 Largo 1:22
9 Allegro Molto 1:49
Concerto En Re Mineur / D Minor / D-moll RV 407 (F. III/23)
10 Allegro 3:25
11 Largo 4:13
12 Allegro 2:36
Concerto En Fa Majeur / F Major / F-dur RV 544 (F. IV/5) “Il Proteo O Sia Il Mondo Al Rovescio”
13 Allegro 3:54
14 Largo 3:06
15 Allegro 3:13
Concerto En la Mineur / A Minor / A-moll RV 421 (F. III/13)
16 Allegro Non Troppo 3:24
17 Largo 2:30
18 Allegro 2:17
Concerto En Ut Majeur / C Major / C-dur RV 561 (F. IV/3)
19 Allegro 3:32
20 Largo 3:38
21 Allegro 2:42
Cello [Violoncelle Piccolo] – Roel Dieltiens
Ensemble – Ensemble Explorations
Violin – Christine Busch
Violoncello – Richte van der Meer
Este é um típico lindo disco dos anos 1980. Este foi produzido em 1984 e ainda tem as proporções de um LP – quatro concertos, dois para cada lado do bolachão.
Apesar do compositor ser veneziano, este disco não poderia ser mais inglês. O selo Gaudeamus é o braço da ASV – Academy Sound and Vision – dedicado à música antiga. E é excelente no que faz. Ainda não ouvi um disco ruim desta turma e entre eles, muitos excelentes.
A capa é linda. O uso da guirlanda de flores fazendo uma moldura da linda ilustração escolhida é marca registrada do selo e lembra as ornamentações típicas de instrumentos do período barroco, como certos cravos, e estabelece uma característica importante de identificação do selo. Assim com outros selos ingleses, eles são bambas em fazer capas.
Mas o que importa é a música e como ela é tocada! Vivaldi era violinista e suas composições são primariamente para violino. É verdade, sua imaginação e verve, assim como o contato com as maravilhosas artistas órfãs, o estimularam a produzir música para outros instrumentos, assim como a grana indicou o caminho da ópera e da música sacra. Mas seu negócio era o violino e suas publicações são primariamente para este instrumento. Verdade, o Opus 10 são concertos para flauta, e no Opus 3 há uns dois concertos para oboé.
O primeiro concerto desta pequena, mas judiciosamente escolhida coleção, é o segundo do Opus 11 e tem nome – Il Favorito! Preste atenção no Andante, o movimento lento, que poderia ser uma ária em uma ópera do padre.
A coleção mais famosa é Il Cimento dell’Armonia e dell’Inventione (A Disputa entre Harmonia e Invenção), o Opus 8, que começa com os quatro concertos programáticos mais famosos do mundo – As Quatro Estações, garantia de sucesso e disco vendido. Pois o segundo concerto do disco é, assim, uma quinta estação. La Tempesta di Mare é um concerto também programático, mas agora o tema é outro. E para um veneziano, o mar era um elemento dos mais importantes. Os instrumentos imitam os sons da agitada tempestade.
Monica Huggett
Depois do Opus 13, uma coleção possivelmente espúria, mas bonitinha, o padre passou a comercializar ele mesmo os manuscritos de seus concertos. É por isso que uma enorme parte de sua obra foi encontrada em coleções de manuscritos em bibliotecas, como a de Turim, de onde vem este terceiro concerto do disco. O Concerto em lá maior é um ótimo exemplo de como as diferentes técnicas e truques do violino foram usadas pelo compositor para grande efeito.
De qualquer forma, o concerto do disco que eu mais gostei é o que leva o nome L’Amoroso e nos conta sobre um pastoral idílio, com simplicidade, mas ardor, e que termina de maneira confiante e feliz.
Roy participando de uma regata com o pessoal do PQP Bach nas águas frias do Guaíba…
A orquestra tem o genérico nome London Vivaldi Orchestra e certamente deve ser formada pelos especialistas de música tocada com instrumentos e práticas da época e no outro dia estariam no The English Concert, do Pinnock, no The Academy of Ancient Music, do Hogwood ou ainda no English Baroque Soloists do Gardiner. Aqui eles acompanham a espetacular violinista Monica Huggett, que também dirige a orquestra, cujo líder é o violinista Roy Goodman.
Eu achei o som um pouquinho passado, mas isso é reclamação pequena, o ouvido rapidamente se ajusta quando temos música tão linda e tão lindamente interpretada. Um bom exemplo de que quantidade não é tão necessária para se fazer um ótimo disco, que ainda pode dar muito prazer.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para Violino em mi menor, RV 277 ‘Il Favorito’
Allegro
Andante
Allegro
Concerto para Violino em mi bemol maior, RV 253 ‘La Tempesta di Mare’
De um crítico amador (mas sensível) na Amazon.com: I rather prefer this version to the one Monica Huggett later recorded for Virgin Classics with the Raglan Baroque Players. But the other three concertos also have their own distinctive characters and certainly could not be confused with anything from the “Four Seasons”. L’Amoroso, in particular, lives up to its title perfectly, with some “lovely” violin playing to match the mood.
Acabo de chegar de viagem, uma viagem tensa, embaixo de chuva, em uma estrada esburacada, e por estar em obras, cheia de desvios, e claro, muito movimentada, ainda mais em um final de tarde de domingo. E no meio do caminho, parei para tomar uma água e esticar as pernas, liguei o Spotify para procurei alguma coisa leve para ouvir e encontrei esta maravilha aqui, esta verdadeira jóia, um lançamento do selo Glossa, que vem se destacando por suas gravações do repertório barroco. Músicos bem conhecidos, orquestra idem, não pode dar errado. Tudo macaco velho nesse repertório. Federico Guglielmo é figurinha tarimbada no violino barroco. Violinista, musicólogo, pesquisador tarimbado, faz isso já há bastante tempo, e já é referência há bastante tempo. Acompanhando-o, temos outro Federico, o Sardelli, outro nome muito conhecido para quem admira o barroco italiano. Portanto, quando o ouvimos, sabemos que ali realmente temos músicos que sabem o que estão fazendo. E depois que comecei a ouvir, a viagem tornou-se mais prazerosa, mas ainda tensa, devido à chuva. Chegando em casa, corri para o computador, e fuçando entre meus tradicionais fornecedores, eis que o encontro facilmente. Lançamento quentinho, recém saído do forno.
Creio que Vivaldi seja uma daquelas unanimidades, daqueles compositores que dificilmente deixam o ouvinte infeliz. Estas obras que trago não são tão gravadas assim, algumas são reconstruções do próprio Sardelli, em um detalhado e delicado trabalho de pesquisa.
Mas, meu caro FDPBach, quem diabos é Ana Maria para quem estes concertos são dedicados? Ah, cara pálida, leia o booklet, e delicie-se com o texto. Como comentei acima, tudo o que o selo Glossa lança é de qualidade, bem pesquisado e documentado. Não temam, garanto-lhes que vai valer a pena gastar alguns neurônios para traduzir o texto, senão, o Google Translator está sempre à disposição.
Quando comentei sobre este CD no nosso grupo de Whattsap, imediatamente o comandante PQPBach e seu Vice-Almirante Avicenna foram incisivos: por que ainda não o postastes? Então. ei-lo ai, mas que malandro.
Antonio Vivaldi Lost Concertos for Anna Maria Reconstruction by Federico Maria Sardelli
Concerto rv 772 for violin, strings & bc in D major
1 Allegro
2 Grave
3 Allegro
Concerto rv 775 for violin, organ, strings & bc in F major
4 [Allegro]
5 [Adagio]
6 Allegro
Concerto rv 771 for violin, strings & bc in C minor
7 Andante
8 Grave
9 Allegro
Concerto rv 808 for violin, organ, strings & bc in C major
10 [Andante]
11 [Largo]
12 Allegro
Concerto rv 818 for violin, strings & bc in D major
13 Allegro
14 Largo
15 Allegro
Concerto rv 774 for violin, organ, strings & bc in C major
16 Allegro
17 Adagio
18 Allegro
Federico Guglielmo solo violin
Roberto Loreggian organ
Modo Antiquo
Federico Maria Sardelli – Conductor