Um excelente disco com vários dos Concertos para Cravo(s) de Bach, incluídas algumas transcrições que vocês, conhecedores, dirão se são de Bach ou não. Os caras de Colônia são realmente ótimos e nos deixam completamente felizes. O primeiro concerto do CD é muito mais conhecido pela versão original para violino solo e o último é mais conhecido pela versão para 3 cravos — que é terceiro concerto do CD. De resto, eu diria que futebol é bola na rede e mais meio quilo de farofa. Ah, tenho que ir na feira que está fechando. Vou logo senão minha mulher me mata.
J. S. Bach (1685-1750): Obras Orquestrais Completas (CD 4 de 8) (Cologne Chamber Orchestra, Helmut Müller-Brühl)
BACH, J.S.: Harpsichord Concertos, Vol. 4
Harpsichord Concerto in D major, BWV 1042
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Robert Hill, harpsichord
Allegro 07:25
Adagio e piano sempre 05:59
Allegro 02:48
Harpsichord Concerto in G minor, BWV 1058
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Gerald Hambitzer, harpsichord
Allegro 03:39
Andante 04:45
Allegro ma non tanto 03:48
Concerto for 3 Harpsichords in C major, BWV 1064
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Gerald Hambitzer, harpsichord
Robert Hill, harpsichord
Christoph Anselm Noll, harpsichord
Allegro 06:21
Adagio 05:18
Allegro 04:33
Concerto for Three Harpsichords in D minor, BWV 1063
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Michael Behringer, harpsichord
Robert Hill, harpsichord
Christoph Anselm Noll, harpsichord
Allegro 04:32
Alla Siciliana 04:10
Allegro 04:42
Concerto for 3 Harpsichords in D major, BWV 1064 (arr. for violins)
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Elisabeth Kufferath, violin
Christine Pichlmeier, violin
Winfried Rademacher, violin
Allegro 06:00
Adagio 05:59
Allegro 04:28
Leipzig fica a 120 quilómetros de Dresden, para onde viajou Johann Sebastian Bach em diversas ocasiões, para testar novos órgãos e onde esperava obter um rendoso emprego, que nunca veio. Mas, hoje, vamos celebrar uma viagem que ocorreu no sentido inverso, de Dresden para Leipzig.
Em 1739, Wilhelm Friedemann Bach, o filho mais velho de Johann Sebastian, foi de Dreden para Leipzig e levou junto seu amigo Sylvius Leopold Weiss assim como um de seus alunos de alaúde, Johann Kropfangs. Podemos imaginar quanta música esse encontro produziu. Essa visita foi registrada no dia 11 de agosto no diário de Johann Elias Bach, sobrinho e secretário particular de Johann Sebastian: «Hoje, algo incrível aconteceu no mundo da música: meu primo [Wilhelm Friedemann Bach] veio nos visitar e ficou por quatro semanas. Ele veio com dois alaudistas, o Sr. Weiss e o Sr. Kropfgans [seu aluno], que nos encantaram com muitos concertos».
Esta postagem reúne dois discos que, de certa forma, celebram esse encontro de músicos geniais. No disco de Diego Cantalupi e Davide Pozzi temos principalmente peças de Weiss, além de uma fuga para alaúde, de Bach. As peças são interpretadas ora ao cravo, ora ao alaúde e em certos momentos, ambos tocam juntos. Veja este lindo vídeo postado no Youtube, música primorosamente interpretada em um cenário encantador.
No disco de Alberto La Rocca e Carlo Lazari temos a Suíte SW 47, de Weiss, que deve ter sido ouvida diversas vezes nessa estadia em Leipzig, assim como a adaptação feita por Bach, acrescentando o violino sobre a transcrição para cravo. No disco ouvimos uma versão com violino e violão, arranjo feito por Alberto La Rocca.
Bach e Weiss eram amigos e se encontraram em várias ocasiões. Johann Friedrich Reichardt até os descreve desafiando um ao outro para uma competição de improvisação: ‘Qualquer um que entenda o desafio de tocar modulações harmônicas e contraponto decente no alaúde ficará surpreso e espantado ao ouvir uma testemunha ocular dizer que Weiss, o grande alaudista, competiu com J.S. Bach, o grande cravista e organista, tocando fantasias e fugas.’
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Silvius Leopold Weiss (1687-1750)
Suite in A SW47 for lute
Entrée
Currante
Rondeau
Sarabande
Allegro
Men[uet]
Alberto La Rocca guitar & arrangement
Silvius Leopold Weiss / Johann Sebastian Bach 1685-1750
A “melodia adicionada” de Bach, composta com sua habilidade sobre-humana usual, lança uma nova luz sobre a suíte original, como se a vestisse com um traje extraordinariamente elegante. A parte do violino comenta a textura original do alaúde sem sufocá-la, quase como uma improvisação livre acima do topo. Ela brinca com os vários elementos da música de Weiss, extrapolando ideias para temas, imitando-os ou simplesmente vagando livremente. A parte de Bach também é altamente imaginativa e variada em sua expressão, frequentemente adicionando encaixe rítmico complexo e virtuosismo significativo, enquanto sempre se mantém fiel às emoções dos movimentos de Weiss.
Celebre você também essa amizade!
Aproveite!
René Denon
PS: No segundo disco da postagem indicada a seguir você encontrará a versão de Bach para a Suíte do compadre Weiss, aquela denotada por BWV 1025:
Estou ouvindo todos os meus CDs. Esta série já foi postada no passado e agora deverá voltar sem prazo ou ordem. Quando postamos pela primeira vez, postamos sem texto. Devo explicar algo sobre a excelente orquestra responsável pela série. A Orquestra de Câmara de Colônia (Kölner Kammerorchester) executa principalmente música clássica e barroca, mas também é conhecida por tocar uma variedade de músicas dos séculos XIX e XX, incluindo obras contemporâneas. A orquestra utiliza um conjunto padrão de instrumentos orquestrais modernos em suas apresentações. O que achei curioso é a forma com que eles combinam práticas performáticas históricas com instrumentação contemporânea.
J. S. Bach (1685-1750): Obras Orquestrais Completas (CD 2 de 8) (Cologne Chamber Orchestra, Helmut Müller-Brühl)
Violin Concertos, BWV 1041-1043 and BWV 1052
Violin Concerto in A minor, BWV 1041
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 03:21
II. Andante 05:32
III. Allegro assai 03:36
Violin Concerto in E major, BWV 1042
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 07:14
II. Adagio 05:38
III. Allegro assai 02:44
Violin Concerto in D minor, BWV 1052
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 07:23
II. Adagio 06:10
III. Allegro 07:27
Concerto for 2 Violins in D minor, BWV 1043
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Christine Pichlmeier, violin
Lisa Stewart, violin
I. Vivace 03:36
II. Largo ma non tanto 06:24
III. Allegro 04:43
Abramos o ano de 2025 de forma brilhante. Aproveito para desejar-lhes um ano com muita saúde, felicidades e prisões de bolsonaristas. Além da prisão do próprio, é claro.
Bem, este foi um dos melhores lançamentos de 2024 — as muito amadas Partitas tocadas pelo excelente Martin Helmchen. “Partita” é um nome alternativo para “Suíte”, gênero que reúne diversas danças de andamentos diferentes. Bach publicou suas seis Partitas para teclado separadamente entre 1726 e 1730. Em 1731, elas foram editadas com o título de Clavier-Übung (Prática de Teclado). O conjunto logo se tornou parte do repertório fundamental. Exatamente como os outros grupos de suítes prévias, as francesas e as inglesas, todas as Seis Partitas seguem o esquema básico da suíte: “allemande-courante-sarabande-giga”. Neste esqueleto, Bach coloca um movimento de abertura (um prelúdio, uma sinfonia ou fantasia, ou mesmo uma abertura) que determina o tom de cada uma delas e, em seguida, entra o esqueleto quase sempre com outros acréscimos.
OK, mas isso é uma descrição fria. O fato é que todas eles têm sua própria personalidade, luz e são belíssimas. E que Helmchen faz jus a tudo isso no tangent piano, um troço muito raro que já não é cravo, mas que ainda não é piano. Dizem que há 20 desses pianos no mundo. Falo de originais do século XVIII, bem entendido.
J. S. Bach (1685-1750): As Seis Partitas para teclado (Martin Helmchen)
Partita No. 1 In B Flat Major, BWV 825
1-1 I. Prelude 2:08
1-2 II. Allemande 4:02
1-3 III. Courante 2:43
1-4 IV. Sarabande 5:04
1-5 V. Menuett I & II 2:59
1-6 VI. Gigue 2:16
Partita No. 3 In A Minor, BWV 827
1-7 I. Fantasia 2:54
1-8 II. Allemande 3:13
1-9 III. Courante 3:02
1-10 IV. Sarabande 3:56
1-11 V. Burlesca 2:26
1-12 VI. Scherzo 1:01
1-13 VI. Gigue 3:17
Partita No. 4 In D Major, BWV 828
1-14 I. Ouverture 5:45
1-15 II. Allemande 8:57
1-16 III. Courante 3:28
1-17 IV. Aria 2:32
1-18 V. Sarabande 5:54
1-19 VI. Menuett 1:26
1-20 VII. Gigue 3:50
Partita No. 2 In C Minor, BWV 826
2-1 I. Sinfonia 4:36
2-2 II. Allemande 4:47
2-3 III. Courante 2:16
2-4 IV. Sarabande 3:35
2-5 V. Rondeau 1:34
2-6 VI. Capriccio 3:30
Partita No. 5 In G Major, BWV 829
2-7 I. Preambulum 2:22
2-8 II. Allemande 4:43
2-9 III. Corrente 1:48
2-10 IV. Sarabande 4:41
2-11 V. Tempo Di Minuetto 2:04
2-12 VI. Passepied 1:44
2-13 VII. Gigue 3:49
Partita No. 6 In E Minor, BWV 830
2-14 I. Toccata 7:31
2-15 II. Allemande 3:33
2-16 III. Corrente 4:26
2-17 IV. Air 1:38
2-18 V. Sarabande 6:30
2-19 VI. Tempo Di Gavotta 2:13
2-20 VII. Gigue 5:10
O Caderno de Notas de Anna Magdalena Bach não é uma “obra” de meu pai, Johann Sebastian Bach. Trata-se simplesmente, como diz nome, de um caderno de notas mantido por sua segunda mulher, a jovem Anna Magdalena Wilcken (ou Wülckens). Ali estavam anotadas as músicas que executávamos em nossos saraus noturnos. Servia a nossa diversão e a de nossos amigos, é um registro de um hábito que perdeu-se no século XX, substituído pela tela da TV. Antes, saraus com boa música; agora, Faustão. É, nem tudo é evolução. (Rimou…)
São músicas ligeiras e agradáveis. Há de tudo neste caderno: o tema base das Variações Goldberg, a Allemande inicial das Suítes Francesas, o Prelúdio Nº 1 do Cravo Bem Temperado, porém há também temas escritos por meu meio-irmão Carl Philip Emmanuel Bach, por François Couperin – que meu pai amava – e pelos alunos que nos freqüentavam. A ária mais famosa desta série, Bist du bei mir, foi provavelmente escrita por um aluno de nome Stölzel. Sim, ela leva o BWV 508, porém os freqüentadores do PQP devem saber que nem sempre podemos acreditar nos catálogos.
Então, como o Caderno é uma coleção imensa e arbitrária de músicas compostas exclusivamente próprio caderno ou não, cada grupo escolhe o que quer executar e faz o seu Notenbüchlein.
Este é o de Gustav Leonhardt, o que não é pouca coisa.
Família Bach: Pequeno Caderno de Notas de Anna Magdalena Bach (Ameling, Linde, Leonhardt e outros)
1. Polonaise g-moll, BWV Anh. 119 0:54
2. Marche Es-dur, BWV Anh.127 1:35
3. Menuet G-dur & g-moll, BWV 114/115 2:40
4. Willst du dein Herz mir schenken, BWV 518 2:27
5. Rondeau B-dur (Fr.Couperin), BWV Anh. 183 4:40
6. Bist du bei mir, BWV 508 2:21
7. Aria fur Clavier G-dur, BWV 988, 1 2:16
8. So oft ich meine Tobackspfeife, BWV 515a 3:47
9. Marche G-dur, (C,Ph.E.Bach), BWV Anh.124 1:27
10. Allemande d-moll, BWV 812, 1 4:08
11. Dir, dir, Jehova, will ich singen, BWV 299 2:29
12. Praeludium C-dur, BWV 846, 1 1:53
13. Menuet G-dur, BWV Anh.116 1:22
14. Marche D-dur (C.PH.E.Bach), BWV Anh. 122 0:54
15. Musette D-dur, BWV Anh.126 0:48
16. BWV 82, 2&3 8:13
17. Chorealbeabeitung Er nur den lieben Gott lasst walten, BWV 691 1:39
18. O Ewigkeit du Donnerwort, BWV 513 (4 stimmig) 1:18
Soprano: Elly Ameling
Barítono: Hans-Martin Linde
Cravo: Gustav Leonhardt
Viola da Gamba: Johannes Koch
Violoncelo: Angelica May
Órgão: Rudolf Ewerhart
O excelente conjunto holandês ‘Combattimento’ fez um incrível trabalho de arqueologia musical aqui neste CD, reconstruindo quatro Concertos de Bach e uma Partita. O texto abaixo foi retirado do site da gravadora, a Etcetera :
This CD contains five new reconstructions of lost works by Bach, known only through later arrangements by the master himself. They were all made by Pieter Dirksen, Combattimento’s harpsichordist and renowned Bach researcher. Central here are the two Concertos for three harpsichords and strings BWV 1063 and 1064, which are in fact very difficult to realize convincingly in their surviving form. These monumental compositions appear here in a considerably reduced scorings – BWV 1063r for two violins, strings and continuo, BWV 1064r for three violins, two violas and continuo – which brings out the beauty of Bach’s music in a convincing way. The collection also includes the well-known Violin Concerto in G minor BWV 1056r (albeit with a completely “new” middle movement reconstructed on the basis of a 7-bar fragment), the Partita for lute or harpsichord BWV 997 in its alleged original form for violin and lute, and a reconstruction of Bach’s “little” Harpsichord Concerto in D minor BWV 1059r.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Bach Restored – Combattimento
É um trabalho realizado com muita dedicação e paixão pela obra de Bach, feito por gente que vive e respira a obra de Johann Sebastian vinte e quatro horas por dia. Vale e muito a pena conhecer.
1. Concerto for two violins in D minor, BWV 1063r: I. Allegro
2. Concerto for two violins in D minor, BWV 1063r: II. Alla Siciliana
3. Concerto for two violins in D minor, BWV 1063r: III. Allegro
4. Concerto for violin in G minor, BWV 1056r: I. Allegro
5. Concerto for violin in G minor, BWV 1056r: II. Largo
6. Concerto for violin in G minor, BWV 1056r: III. Presto
7. Concerto for three violins in D major, BWV 1064r: I. Allegro
8. Concerto for three violins in D major, BWV 1064r: II. Adagio
9. Concerto for three violins in D major, BWV 1064r: III. Allegro
10. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: I. Preludio
11. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: II. Fuga
12. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: III. Sarabande
13. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: IV. Gigue
14. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: V. Double
15. Concerto for harpsichord in D minor, BWV 1059r: I. Allegro
16. Concerto for harpsichord in D minor, BWV 1059r: II. Adagio
17. Concerto for harpsichord in D minor, BWV 1059r: III. Presto
Claro que hoje há muitas gravações superiores destes concertos, mas essa gravação é daquela época quando o historicamente informado estava começando a surgir. E eu comprei o meu vinil na Inglaterra em 1982 (o disco original de 1981), em minha primeira viagem internacional. Então, não tenho nenhum distanciamento, nenhum. Eu o amo, ele foi uma revelação do quanto Bach poderia ainda melhorar e creiam: jamais ele tinha vindo para o PQP Bach — algo incompreensível, mas verdadeiro. Kuijken e Van Dael — hoje com, respectivamente, 80 e 78 anos — eram talentosos jovens e, bem, ouçam. Posso notar que a versão ainda tem um pouco da falta de cintura da fase Harnoncourt / Leonhardt, mas relevem.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concertos para Violino, BWV 1041-1043 (La Petite Bande, Sigiswald Kuijken)
Konzert A-moll BWV 1041 Für Violine, Streicher Und Bc. = Concerto A Minor BWV 1041 For Violin, Strings And Bc.
1 Allegro 3:41
2 Andante 6:37
3 Allegro Assai 3:34
Konzert E-dur BWV 1042 Für Violine, Streicher Und Bc. = Concerto E Major BWV 1042 For Violin, Strings And Bc.
4 Allegro–Adagio–Allegro 7:41
5 Adagio 6:39
6 Allegro Assai 2:44
Konzert D-moll BWV 1042 Für 2 Violinen, Streicher Und Bc. = Concerto D Minor BWV 1043 For 2 Violins, Strings And Bc.
7 Vivace 3:43
8 Largo Ma Non Tanto 7:36
9 Allegro 4:41
Cello – Richte van der Meer, Wieland Kuijken
Conductor, Violin [1.] – Sigiswald Kuijken
Harpsichord – Bob van Asperen
Orchestra – La Petite Bande
Viola – Marléen Thiers, Ruth Hesseling
Violin – Alda Stuurop, François Fernandez, Janneke van der Meer, Mihoko Kimura, Thomas Albert (2)
Violin [2.] – Lucy van Dael
Que os próximos dezoito anos possam ser tão delirantes quanto os primeiros – e que a maioridade penal lhe seja leve. Obrigado por tudo, PQP Bach!
COLLOQVIVM PAVLISTANUM (VERVM) (homenagem a este outro colóquio, tão ficto quanto maravilhoso)
Cai o pano da noite sobre Babilônia. Todos quantos conseguiram sobreviver mais um dia à maior urbe do hemisfério buscam seus abrigos. Há exceções: boêmios e trabalhadores noturnos, noctívagos e morcegos, aqueles tantos que dormirão outra vez em desamparo, e este punhado de melômanos no átrio duma estação férrea desativada, transformada numa das mais soberbas salas de concerto do planeta. Nesta bolha acusticamente isolada e casseteticamente separada da cacofonia e desespero violentos do derredor, eles esperam.
Não é uma espera aflita: seus ouvidos experimentaram, por setenta e cinco minutos, a schopenhaueriana libertação do sofrimento da vida através da Arte, e agora encaravam aquele drama maior que há na Música, o do silêncio que se segue ao som. Algumas centenas de outros bípedes compartilharam esse deleite, mas Babilônia não faz reféns, e, sabedora disso, a turba ouvinte debandou rapidamente, intimidada pelo duríssimo entorno da gare, onde há brigas pelas sobras (e pelas sobras das sobras) e aqui e ali espocam cachimbos de metal. Restou só aquele punhado de conhecedores, imbuídos da certeza de que guardariam para sempre as memórias daquele exercício para teclado, composto por um certo Sebastião Ribeiro para refrescar seus espíritos, e vertido em seus ouvidos pelo mesmo cabra pelo qual esperavam. Ao redor deles, os olhos dos agentes de evacuação do edifício ebulem de impaciência, e entornam em frustração quase audível quando, por uma portinhola do átrio, surge um sujeito impossivelmente longilíneo: enfim, o tão aguardado cabra, astro internacional da Música, que – tinham certeza disso – nunca deixaria de vir atender seus fãs. A breve fila que se forma é fechada por outro cabra, um tipo atarracado, de roupas amarrotadas, cabelos em desordem e barba à Velho do Saco. Digo-lhes mais: ele sua em bicas, tem os sapatos decorados pelos pombos de Babilônia, e parece vir da galáxia mais diametralmente oposta à do astro, um irretocável cavalheiro de terno bem cortado, semblante de bebê e, assim parece, incapaz de suar.
Afora a inicial do nome, o sobrenome patronímico e a coincidência de morarem em ilhas, estes cabras têm em comum o amor por Sebastião Ribeiro e a disposição de viajar pelas Variações Goldberg. Um deles, o comprido, partiu de sua ilha natal para uma turnê de oitenta e oito recitais, tantos quantos as teclas de seu instrumento, a verter as Goldberg nos ouvidos mais sortudos do planeta; já o suabundo viajou de sua ilha adotiva especialmente para escutá-las em Babilônia. A fila andou, e agora apenas quatro fãs separam estes dois homens de seu breve colóquio. O primeiro é Víkingur Ólafsson; o outro, Vassily Genrikhovich.
Jovem de preto: Boa noite, Sr. Ólafsson. Muito obrigada pelo recital maravilhoso. Víkingur Ólafsson: Boa noite, pode me chamar de Víkingur. Que bom que gostou! JdP: Eu amei, Víkingur, muito obrigada. Comprei o CD logo que foi lançado. Eu o escutei muitas vezes, e ainda assim o recital superou minhas expectativas. Adorei a energia, a virtuosidade, e a capacidade que você tem de parecer um pianista diferente a cada variação – inclusive nas repetições. VO: Obrigado, muito gentil. Essa capacidade tímbrica infinita do piano me fascina e me faz adorar ser pianista. Tenho muita sorte de ter um instrumento como esse para me expressar. JdP: Algumas pessoas acham que não se deve tocar Bach ao piano… VO: Eu tento entendê-las, mas então me lembro que Bach foi um explorador incansável dos teclados do seu tempo. Seu instrumento era o órgão, ele explorava seus registros, as combinações entre eles, os contrastes dinâmicos. Por isso, não é difícil para mim imaginar Bach servindo-se de todos os recursos do piano moderno para trazer ainda mais variedade a essas variações. JdP: A propósito, amei seu bis de anteontem. Obrigada pela homenagem a Nelson Freire [Ólafsson tocara um incandescente concerto de Schumann nos três dias anteriores, e dedicara o bis de uma das récitas – o Andante da Sonata no. 4 para órgão – à memória de Nelson]. VO: Eu adoro Nelson Freire. Sinto muito por ele e pelo que a perda dele significa para seu país. Seu álbum de música brasileira foi uma revelação para mim. JdP: Você já tocou música brasileira? VO: Sim, já estudei peças de Villa-Lobos enquanto estava na Juilliard. Nunca as toquei em público, mas cogitei incluir partes de “A Prole do Bebê” em meu álbum From Afar[em breve no PQP Bach]. JdP: Adoraria ouvir você tocar Villa-Lobos. Quem sabe quando voltar, em 2027? [Ólafsson despediu-se do público, após as Variações Goldberg, prometendo voltar em 2027] VO: Eu espero que sim. É um compositor que merece ser tão conhecido quanto Bartók. Um orgulho para seu povo, verdadeiramente brilhante. JdP: Mal posso esperar. Posso tirar uma foto com você?
[…]
Calvo cabeludo de sapatênis: Olá! Obrigado pelas Goldberg e também pelo Schumann ontem. Nunca vou esquecer deles. Pode me dar seu autógrafo? VO: Olá, claro! [autografa o programa] CCdS: Eu li que chamaram você de “Glenn Gould da Islândia”… VO[rindo]: Muito lisonjeiro, mas injusto com Gould. Ele é inigualável. Mas sem dúvidas foi uma grande inspiração. CCdS: Sua gravação das Goldberg parece uma óbvia homenagem a Gould. VO: A gravação de 1955 é uma força que nenhum pianista deveria ignorar. Eu gastei o vinil de meu pai de tanto escutá-lo. Desde que comecei a estudar as Goldberg, vinte e cinco anos antes de gravá-las, tive a clareza e a energia de Glenn como um horizonte. CCdS: No recital você as tocou de maneira muito diferente do álbum e ainda mais surpreendente. VO: Muito obrigado. Eu tento aproveitar as peculiaridades da acústica de cada sala de concertos em que toco. Essa sala aqui é espetacular, e acho que não conseguiria tocar as Goldberg como toquei hoje em muitos outros lugares do mundo. CCdS: Foi por causa da acústica que você decidiu tocar também com a orquestra? VO: Sim, exatamente. Imagino que você tenha visto a entrevista [essa aqui]. A turnê das Goldberg demanda muito e fica difícil encontrar tempo e energia para ensaiar com orquestra. Escolhi só fazer exceções para duas salas de concerto de acústica extraordinária onde eu nunca tinha tocado antes [a outra foi a incrívelÓpera de Sydney].
[…]
Senhora de cabelo rosa[muito emocionada]: Foi magnífico. Estou em estupor. Penso no que vou conseguir escutar depois desse seu recital das Goldberg. VO: Muito obrigado. Por favor, não deixe de ouvir música por causa de mim… SdCR: Certamente não deixarei. Tem alguma sugestão do que devo ouvir a seguir? VO[sorrindo]: Tenho outros álbuns disponíveis. SdCR: Hahaha, já ouvi todos. Quero ouvir você mais vezes, e também tocando com orquestras. VO: Estou estudando os dois concertos de Brahms. Talvez você possa ir me ouvir tocá-los em algum lugar do mundo? CCdS[rindo]: Gould também é seu modelo no concerto de Brahms? VO[rindo também, e certamente também lembrando dessa infame gravação]: Nesses concertos meu modelo é Gilels – outro cujos vinis eu gastei de tanto escutar.
[…]
Tio de bigode[acompanhado de uma jovem que traduzia]: Boa noite! Muito obrigado pelo inesquecível recital. Gostaria, por favor, que autografasse as Goldbergs para mim [alcança a Ólafsson uma partitura da obra]. VO[autografando]: Boa noite! Espero não ter esquecido de nenhuma nota. O senhor conferiu se toquei todas? TdB: As notas que você tocou são as que me importam! VO [suspirando jocosamente de alívio]: Fico muito contente com que pense assim, senhor. Obrigado por vir! TdB: Adoro suas gravações. Sou pianista e admiro muito sua atenção ao detalhe. Amo seus álbuns com as pequenas peças. Nas Goldberg, pela primeira vez, ouvi seu talento a serviço de uma obra mais longa. Fiquei muito impressionado. VO: Muito obrigado. TdB: O que vem a seguir? VO: Estou estudando as últimas sonatas de Beethoven. TdB: Pretende gravá-las? VO: Quem sabe? Será um grande desafio. TdB: Como fez Gould? [que gravou as três últimas sonatas de Beethoven logo após seu legendário álbum de estreia com as Goldberg] VO[sorrindo]: Dizem que sou o Glenn Gould islandês…
[…]
Vassily Genrikhovich:Gott kvöld! VO [contendo o bocejo]: Gott kvöld! Muito bom seu islandês! VG: Obrigado, mas ele vai só até aqui. VO: Seu islandês vai muito mais longe que meu português… VG [sorrindo] Acho que iremos mais longe em inglês. Muito grato pelo recital. Nenhuma palavra pode descrever o que você me fez sentir hoje. VO: Muito obrigado. Muito gentil de sua parte. VG: É meio bobo dizer que palavras não podem descrever o que senti e ainda assim usar palavras para lhe falar isso. E sou o último fã da fila, você deve estar cansado, e a turnê não termina aqui. Só queria mesmo expressar o quão profundamente você me impressionou e agradecer muito pela generosidade de incluir meu país em seu roteiro pelo mundo. Não são todas as chamadas “turnês mundiais” que nos colocam em suas rotas. VO: Este país é extraordinário, e a música dele, também. Pena que tenho tão pouco tempo aqui. VG: Muito obrigado. Eu também acho isso. E sua música também é extraordinária. Viajei da minha cidade apenas para assistir suas apresentações. VO: Isso me faz sentir muito especial! Sou especialmente grato aos ouvintes peregrinos – eu os chamo “meus turistas Goldberg”. Ouço muitas histórias bonitas de suas viagens e fico muito honrado com sua confiança no que tento lhes oferecer. Muito obrigado pela sua dedicação em comparecer! VG: Sou um “turista Goldberg”? Isso me orgulha! VO[sorrindo]: Sim, você é, e espero contar com sua presença em outras ocasiões. VG: No que depender de mim, pode ter certeza. Quero ouvir você tocando as últimas sonatas de Beethoven, como falou ao cavalheiro antes de mim, e explorando novos repertórios. VO: Há muita grande música a explorar, e tão pouco tempo para isso! VG: … e eu não quero mais tomar o seu. Obrigado por tudo, pela gentileza conosco, pelas Goldberg, pelo Quodlibet. VO[sorrindo]: Você gostou do Quodlibet? VG: Eu adorei. Tanta gente o toca de uma maneira quadrada, constrita, como um coral para iniciantes. Você o transforma numa apoteose, numa reafirmação da energia das primeiras variações, depois da intensidade emocionante das variações em tonalidade menor. VO: Fico feliz com que gostou! Eu penso que, depois das variações em menor, só um Quodlibet muito assertivo pode preparar o momento mágico que é a Aria da capo. VG [pensando em perguntar por que Ólafsson escolheu iniciar a variação XVI com aquele curioso arpejo descendente, mas mudando de ideia]: Teria muito a lhe perguntar, mas você merece descansar. É a segunda vez que digo que você merece descansar. Só falta deixá-lo ir. VO: Obrigado por vir ao recital. Encontro você novamente em algum lugar do mundo – ou aqui mesmo, em três anos. VG: Você me daria a imensa honra de tirar uma foto comigo? VO: Com muito prazer! VG[à jovem de preto]: Moça, faria a gentileza?
VG: Boa continuação da turnê, que seus caminhos sejam felizes – e bom descanso. Eu também tenho sinestesia e imagino a sua saturação sensorial depois de cada recital. VO[interessado]: Você também tem sinestesia? VG: Sim – e também prometi deixá-lo ir.
Os dois se cumprimentam e, entre acenos aos poucos presentes, o suave astro some pela mesma portinhola da qual surgira. O esquadrão de evacuação predial, já nos estrebuchos da impaciência, fecha barulhentamente as penúltimas portas. A última delas vê enfim sair o teimoso punhado de melômanos, incluindo aquele rapaz de sapatos adornados por pombos, que toma o rumo do metrô a saborear o retrogosto do tanto que acabara de viver.
Enquanto compartilhava com os amigos a foto que tirara com Ólafsson, lembrou-se do blogue de que era colaborador – sim, vocês adivinharam qual – e imaginou o jovem Víkingur em seus tempos de Juilliard, aquele comprido fiapo de gente, tão cheio de planos quanto vazio de bolsos, que parava em longas filas, como declarou em entrevistas, para conseguir as xepas dos ingressos para concertos, e se perguntou se aquele Ólafsson-mirim, sedento por mais Villa-Lobos, não teria porventura navegado do PC de sua república pela cyberesfera, e se em suas expedições por ela chegado ao mesmo lugar de que ora escrevo a vós outros, para então bradar, como outros tantos antes dele:
Se alguém encontrar o moço antes de nós, pedimos a gentileza de lhe explicar.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Ária e variações para teclado, BWV 988, “Variações Goldberg”
[Exercício de teclado / composto / por uma ÁRIA / com diversas variações / para cravo / com dois manuais. / Composta para conhecedores / para refrescar os seus espíritos, por /Johann Sebastian Bach / compositor da Corte Real da Polônia e da Corte Eleitoral da Saxônia / Kapellmeister e Diretor de/ Música Coral em Leipzig. / Nuremberg, Balthasar Schmid, editor / 1741]
1 – Aria
2 – Variatio 1. a 1 Clav.
3 – Variatio 2. a 1 Clav.
4 – Variatio 3. Canone All’Unisuono a 1 Clav.
5 – Variatio 4. a 1 Clav.
6 – Variatio 5. a 1 Ovvero 2 Clav.
7 – Variatio 6. Canone alla Seconda a 1 Clav.
8 – Variatio 7. a 1 Ovvero 2 Clav.
9 – Variatio 8. a 2 Clav.
10 – Variatio 9. Canone alla Terza. a 1 Clav.
11 – Variatio 10. Fughetta a 1 Clav.
12 – Variatio 11. a 2 Clav.
13 – Variatio 12. Canone alla Quarta
14 – Variatio 13. a 2 Clav.
15 – Variatio 14. a 2 Clav.
16 – Variatio 15. Canone alla Quinta a 1 Clav. Andante
17 – Variatio 16. Ouverture a 1 Clav.
18 – Variatio 17. a 2 Clav.
19 – Variatio 18. Canone alla Sexta a 1 Clav.
20 – Variatio 19. a 1 Clav.
21 – Variatio 20. a 2 Clav.
22 – Variatio 21. Canone alla Settima a 1 Clav.
23 – Variatio 22. a 1 Clav. Alla Breve
24 – Variatio 23. a 2 Clav.
25 – Variatio 24. Canone all’Ottava a 1 Clav.
26 – Variatio 25. a 2 Clav.
27 – Variatio 26. a 2 Clav.
28 – Variatio 27. Canone alla Nona a 2 Clav.
39 – Variatio 28. a 2 Clav.
30 – Variatio 29. A 1 Ovvero 2 Clav.
31 – Variatio 30. Quodlibet a 1 Clav.
32 – Aria da Capo
Víkingur Ólafsson, piano
Gravado na Sala Norðurljós da Sala de Concertos Harpa em Reykjavík, Islândia, de 7 a 12 de abril de 2023.
“1 ano, 88 concertos. Eu desfrutei cada um deles! Alguns vieram a um concerto, outros a cinco, outros até a dez! Eu amo meu público – e ninguém mais que meus turistas Goldberg” ❤️
Depois de ouvir muitas gravações apenas OK, algumas de “grandes nomes”, entendi tudo ao ouvir Lutz Kirchhof. Ou seja, escutei as Suítes para Alaúde de Bach por um longo tempo, porém foi só quando me deparei com esta gravação que percebi como uma suíte para alaúde realmente é. Você também ficará maravilhado com a técnica fenomenal de Kirchhof e se perguntará como ele conseguiu. Os movimentos rápidos são estimulantes e os lentos beiram a experiência religiosa. Música de alaúde de Bach, música íntima, sem acompanhamento. Não tem nada melhor do que isso.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): A Obra Completa para Alaúde (Lutz Kirchhoff)
Suite In G Minor, BWV 995
1. Prelude 5:05
2. Allemande 4:50
3. Courante 2:01
4. Sarabande 2:22
5. Gavotte I / 6. Gavotte II en Rondeau/Gavotte I 4:30
7. Gigue 2:19
Fugue in G Minor, BWV 1000 5:50
Suite In E Minor, BWV 996
1. Praeludio: Passaggio — Presto 2:31
2. Allemande 2:32
3. Courante 3:12
4. Sarabande 3:20
5. Bourrée 1:34
6. Gigue 3:07
Prelude, Fugue and Allegro in E Flat Major, BWV 998
1. Prelude 2:24
2. Fuga 6:15
3. Allegro 3:50
Partita In C Minor, BWV 997
1. Prelude 3:24
2. Fuga 7:26
3. Sarabande 5:20
4. Gigue 3:05
5. Double 3:15
Prelude In C Minor, BWV 999 1:52
Suite In E Major, BWV 1006a
1. Prelude 5:01
2. Loure 3:33
3. Gavotte En Rondeau 3:27
4. Menuet I 2:04
5. Menuet II 2:08
6. Bourrée 2:11
7. Gigue 2:03
Gente, este disco antiguinho tinha que ser postado. Sim, ele é à moda antiga, mas com muita competência e sensibilidade, Rilling e sua excelente turminha apresentam aqui ao menos duas das melhores Cantatas de Bach, a BWV 137 e a 78. A primeira ária de ambas — faixas 2 e 12 — já bastariam pela elevar este CD ao Olimpo. Tudo funciona maravilhosamente e, como diz a imagem que acompanha este post, serve para fazer de você um sujeito mais feliz, mesmo com a fumaceira e a devastação que o agro preparou pra nós. (Escrevo este post em 12 de setembro de 2024. Vou agendá-lo e talvez ele chegue para vocês depois do fim do Brasil.)
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 137, 129 e 78 (Rilling)
O que você faz naquele momento de grande atribulação? Como lidar com os dias nos quais seu coração se enche de dúvidas e angústias? Como beber daquele amargo copo? Hoje, eu danço…
Esse disco do pianista italiano Alessio Bax, radicado em Nova Iorque, oferece música que foi inspirada em danças. Dançar é uma das manifestações artísticas mais primitivas e definitivamente afeta a todos, mesmo aos mais desajeitados. Eu parafraseio o adágio antigo dizendo: quem dança, seus males espantam!
O disco começa com Suíte Inglesa No. 2 de Bach, que é uma sequência de danças: allemanda, courante, sarabanda, bourrées e gigue, precedidas por um dançante prelúdio. Um salto no tempo e no estilo nos leva à outra suíte de danças, agora composta por Bartók. O contraste não poderia ser mais forte. A modernidade da suíte de Bartók se deve muito à inspiração folclórica, de natureza mais primitiva do que as danças cortesãs de Bach.
Em seguida o mistério e a sensualidade das danças espanholas estão presentes em peças mais curtas, mas absolutamente características. Manuel de Falla e Isaac Albeniz são os culpados desses pequenos pecados em forma de música para dançar.
Valsas não poderiam faltar e Liszt, assim como o elegantíssimo Ravel proveem essa demanda. E para fechar o recital, duas pequenas e virtuosísticas peças: uma transcrição para piano de uma gavota de Bach, feita por Rachmaninov, e uma dança húngara, de Brahms, num arranjo de outro grande virtuose do piano, György Cziffra.
Você não precisa sair rodopiando ao ouvir o disco, mas se você nem batucar os dedos ou mexer com os pés, precisa rápida terapia de dança…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
English Suite No. 2 in A minor, BWV807
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Bourrée I – VI. Bourrée II
Gigue
Belá Bartók (1881-1945)
Tanz-Suite, Sz. 77, BB 86b (Version for Piano)
Moderato
Allegro molto
Allegro vivace
Molto tranquillo
Comodo
Finale. Allegro
Manuel de Falla (1876-1946)
El sombrero de tres picos: Danza del molinero (Farruca)
[Version for Piano, with introduction transcribed by Alessio Bax]
Danza
Isaac Albéniz (1860–1909)
Tango (No. 2 from Espana, Op. 165)
Danza
Manuel de Falla
El amor brujo: Danza ritual del fuego, para ahuyentar los malos espíritus
Danza
Franz Liszt (1811-1886)
Valses oubliées, S. 215: No. 1
Valse
Maurice Ravel (1875–1937)
La Valse
Valse
Johann Sebastian Bach
Violin Partita No. 3 in E Major, BWV 1006 [Arr. Rachmaninov]
Gavotte en rondeau
Johannes Brahms (1833–1897)
Hungarian Dance No. 6 in D flat major [Arr. György Cziffra]
His ninth solo album on Signum Records, Alessio Bax combines exceptional lyricism and insight with consummate technique and is without a doubt “among the most remarkable young pianists now before the public” (Gramophone). Here he presents an album of works for dancing, including tangos and waltzes spanning three centuries. — [Página da gravadora]
How does Bax achieve such a powerful crescendo at the Bartók Dance Suite’s outset without the least banging …As for Falla’s Ritual Fire Dance, you rarely hear the music soar from the ground up, where booming bass lines ignite genuine right-hand fireworks: a wonderful performance. — [Gramophone Magazine, October 2024]
O dia foi alucinante, hético! Logo pela manhã recebemos a notícia que três CDs da coleção do Sumo Sacerdote estavam corrompidos, pálidos, translúcidos, desprovidos de suas seivas musicais, inaudíveis! Toda a equipe da casa colocou-se prontamente em alerta, havíamos de reconstruir, mesmo que virtualmente, digitalmente, os tais desmemorizados CDs. Parecia que eles haviam sido abatidos por um dementador que lhes havia sugado todo o teor musical, para sempre…
Pois a equipe passou o dia dando buscas em arquivos, até mesmos arcaicos HDs foram vasculhados em busca das faixas perdidas. Pelo fim da tarde virtualmente todas haviam sido resgatadas, com exceção de duas delas: BWV 582 e BWV 590.
É claro que nossos bem informados leitores devem ter percebido de cara, os discos eram da coleção de obras de Bach, naquelas caixotas prateadas da Archiv Produktion, com a foto quadradinha do santo padroeiro do blog na frente. Isso é o que tornava nossa urgência, urgentíssima!
Mas, uma miríade de outras coisinhas miúdas, tarefas nossas outras, bem mais mundanas, nos pegaram, pois que a equipe do PQP Bach além de seus momentos de heróis, tem muitas horas para serem apenas Clark Kents e Bruce Waynes. No cair da noite, quando começou a resenha do dia com os colegas foi que me dei conta – BWV 590 é uma Pastorale e havia uma gravação da danadinha em uma de minhas postagens, porém com outro competente organista – Simon Preston! E não é que a BWV 582 é a poderosa Passacaglia! Essa peça também está em um dos discos do Simon Preston, mas esse eu ainda não havia postado. Daí, lembrei-me que iniciei o projeto de postar toda a sua série, mas interrompi o processo na postagem que fiz na época em que ele, Simon Preston, foi tocar instrumentos mais celestiais…
Pois quem está atento aos sinais que o destino nos aponta, deve escutá-los e agir. Assim, aqui está, mais um disco do Simon Preston, este com os maravilhosos ”Schübler Chorales” e encerrando com a Passacaglia e tem outras coisas mais, que deixo para você mesmo descobrir…
Ah, essas duas peças foram também localizadas e em breve seguirão para os HDs do Sumo Sacerdote, ufa, que dia…
Espero que você passe bons momentos desfrutando esse disco e que seu interesse pela obra de Bach para órgão aumente… pois há mais ainda por vir! Agora, me desculpem, mas ainda há um peça interpretada por Trevor Pinnock ao cravo que queremos localizar e ninguém quer deixar o boss desapontado, não é?
Catrin Finch, harpista galesa, é um verdadeiro fenômeno, sendo hoje talvez o principal nome de seu instrumento. Aqui está uma estreia de gala na Deutsche Grammophon ao abordar as Variações Goldberg.
As Variações Goldberg são um ícone no mundo da música clássica. Foi o desafio mais do que qualquer coisa o que primeiro me atraiu. Não sabia se ia dar certo ou não. Foi muito emocionante fazer a adaptação, era como montar um imenso e perfeito quebra-cabeça. Quando cheguei à última parte e vi que podia ser feito, tinha que aprender a tocar a peça. Há milhares de pessoas ao redor do mundo que são loucos pelas Goldberg. Espero que meu trabalho abra portas a ainda outros. A ária é muito famosa. Serviu de tema até para Hannibal Lecter… Sinto que vou desenvolver a interpretação das Goldberg pela vida inteira. Mesmo assim, estou muito feliz com meu trabalho. É a coisa mais importante que fiz até agora na minha carreira.
EU, PQP BACH, SOU LOUCO PELAS GOLDBERG. É a música que mais ouço e portanto posso dizer que é a que mais gosto dentre todas, pois não sou masoquista. Esta deve ser a quinta ou sexta postagem desta obra no blog. Acho que vocês aguentam.
J. S. Bach (1685-1750): Variações Goldberg (versão para harpa, por Catrin Finch)
Arranged for Harp by Catrin Finch
1 Aria [3:33]
2 Var. 1 a 1 Clav. [1:27]
3 Var. 2 a 1 Clav. [1:59]
4 Var. 3 Canone all’Unisono a 1 Clav. [1:26]
5 Var. 4 a 1 Clav. [1:17]
6 Var. 5 a 1 ovvero 2 Clav. [0:48]
7 Var. 6 Canone alla Seconda a 1 Clav. [1:25]
8 Var. 7 a 1 ovvero 2 Clav. [2:19]
9 Var. 8 a 2 Clav. [1:00]
10 Var. 9 Canone alla Terza a 1 Clav. [1:34]
11 Var. 10 Fughetta a 1 Clav. [1:01]
12 Var. 11 a 2 Clav. [0:58]
13 Var. 12 Canone alla Quarta [2:11]
14 Var. 13 a 2 Clav. [2:47]
15 Var. 14 a 2 Clav. [1:12]
16 Var. 15 Canone alla Quinta in moto contrario [3:48]
17 Var. 16 Ouverture a 1 Clav. [3:38]
18 Var. 17 a 2 Clav. [1:35]
19 Var. 18 Canone alla Sesta a 1 Clav. [1:19]
20 Var. 19 a 1 Clav. [1:17]
21 Var. 20 a 2 Clav. [1:19]
22 Var. 21 Canone alla Settima [2:12]
23 Var. 22 Alla breve a 1 Clav. [1:31]
24 Var. 23 a 2 Clav. [1:13]
25 Var. 24 Canone all’Ottava a 1 Clav. [3:12]
26 Var. 25 a 2 Clav. [7:13]
27 Var. 26 a 2 Clav. [1:24]
28 Var. 27 Canone alla Nona [1:54]
29 Var. 28 a 2 Clav. [1:10]
30 Var. 29 a 1 ovvero 2 Clav. [1:09]
31 Var. 30 Quodlibet a 1 Clav. [2:06]
32 Aria [2:53]
Capa ilustrativa, pois não sei de onde saiu este bom CD.
FDP Bach continua sua saga rampaliana, trazendo para seus ouvintes/leitores mais deste gigante francês, Jena Pierre Rampal. Neste cd, ele toca Vivaldi, Bach e TelemanN. Prestem muita atenção na facilidade com que ele aparentemente toca. Há momentos em que pensamos, poxa, mas quando é que este cara respira… feeling único, com uma técnica fantástica. Enjoy.
Antonio Vivaldi (1678-1741), Johann Sebastian Bach (1685-1750), George Phillip Telemann (1681-1767): Concertos e Suíte (Rampal)
Antonio Vivaldi (1678-1741) –
1. Concerto For Flute & Orchestra in D Major, Op. 10, No. 3, RV 428 ‘Ill gardellino’ : I. Allegro
2. Concerto For Flute & Orchestra in D Major, Op. 10, No. 3, RV 428 ‘Ill gardellino’ : II. Largo
3. Concerto For Flute & Orchestra in D Major, Op. 10, No. 3, RV 428 ‘Ill gardellino’ : III. Alegro
4. Concerto for Flute & Orchestra in F Major, Op. 10, No. 1, RV 433 ‘La tempesta di mar’: I. Allegro
5. Concerto for Flute & Orchestra in F Major, Op. 10, No. 1, RV 433 ‘La tempesta di mar’ : II. Largo
6. Concerto for Flute & Orchestra in F Major, Op. 10, No. 1, RV 433 ‘La tempesta di mar’ : III. Presto
Performed by I Solisti Veneti
with Jean-Pierre Rampal, Dorothy Linell, Isaac Stern, Daniele Roi
Conducted by Claudio Scimone
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
7. Concerto for Flute, Strings and Basso continuo in G minor , BWV 1056: I. …
8. Concerto for Flute, Strings and Basso continuo in G minor , BWV 1056: II. Largo
9. Concerto for Flute, Strings and Basso continuo in G minor , BWV 1056: III. Presto
10. Concerto for Flute, Strings and Bass continuo in C Major, BWV 1055: I. Allegro
11. Concerto for Flute, Strings and Bass continuo in C Major, BWV 1055: II. Larghetto
12. Concerto for Flute, Strings and Bass continuo in C Major, BWV 1055: III. Allegro ma non
tanto
Performed by Prague Ars Rediviva Orchestra
with Frantisek Slama, Jean-Pierre Rampal, Isaac Stern, Frantisek Posta, Josef Hala
Conducted by Milan Munclinger
George Phillip Telleman (1681-1767)
13. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Ouverture
14. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Les Plaisirs
15. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Air a l’italien
16. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Menuets I & II
17. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Rejouissance
18. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Passepieds I & II
19. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Polonaise
with Isaac Stern, Jerusalem Music Centre Chamber Orchestra
Conducted by Jean-Pierre Rampal
A formação de meu gosto musical se deu no vai-e-vem dos discos usados, comprados e trocados nos sebos da vida. Com o passar do tempo e dos LPs pela agulha da vitrola, certas escolhas se tornaram mais decisórias e algumas empolgações acabaram descartadas. Lembro-me de um período imerso nos concertos para violino de Paganini e Vieuxtemps, que não durou muito.
Uma dessas escolhas que se reforçou cedo e que permanece até agora é a de ouvir a música para teclado de Bach interpretada ao piano. Discos com essa característica estavam sempre na minha mira. Havia um disco do Wilhelm Kempff, bem famoso pelo Mozart e Beethoven, com a Suíte Francesa No. 5, que ainda me encanta e também um disco com transcrições, gravado por Alexis Weissenberg. Depois dois discos do então ainda húngaro András Schiff, que sempre me deram muito prazer. Um disco definitivo tem como intérprete o controverso pianista croata Ivo Pogorelich. Acho seus discos com música de Bach e Scarlatti maravilhosos e você poderá ouvi-los clicando aqui e aqui.
Muitos nomes de pianistas, famosos e não tão famosos, recheiam minha lista de bons discos com esse tipo de música, mas não deixo de sentir curiosidade e até uma certa antecipação ao encontrar um disco como este da postagem. O pianista Rudolf Buchbinder (Rodolfo Encadernador) é um bamba e, como diria meu amigo Adrew, he has been around… Gravou muitos discos para a TELDEC (Telefunken-Decca), depois passou um tempo com a Sony, período no qual gravou esse disco, e desde 2019 tem contrato exclusivo com o gravadora do selo amarelo. Veja como o site da DG o apresenta: Admirado por colegas intérpretes, aclamado pela crítica e reverenciado por amantes da música em todo o mundo, Rudolf Buchbinder está entre os grandes pianistas do nosso tempo. Suas interpretações fluem de uma fusão única de percepção espiritual e rigor intelectual, espontaneidade expressiva e controle técnico, refinados ao longo de uma carreira que abrange mais de sessenta anos. O poder irresistível de sua arte continua a crescer, reforçado pelo estudo incansável e uma paixão ao longo da vida pelas obras-primas da literatura do piano.
Sobre o disco de Bach, a Gramophone inicia a crítica com essa promissora frase: Rudolf Buchbinder oferece uma interpretação de Bach cheia de confiança e inteligência, sem medo de ornamentar e interessado em destacar o drama da música. Posteriormente, algumas rugas surgem na testa do crítico, mas eu não sou assim tão rigoroso e gostei bastante do disco…
[…] the delight of this recording lies in the detail. When full-dress grandeur is called for, as in the Sinfonia to the Second Partita, Buchbinder provides it in spades, and when athleticism is required – as in the final two movements of that work – he’s ready with that too…his next Bach recording can’t come too soon. BBC Music Magazine November 2015
A caixa está ao lado. São 3 CDs dos quais o terceiro foi arruinado pelo tempo, conforme foto abaixo. Tudo por causa de uma esponjinha “protetora” que foi se desmanchando e penetrando no plástico do CD. Sem dúvida, a esponjinha foi uma notável invenção da DG/Archiv. Não me apresentem o autor da brilhante ideia. Quem tiver este terceiro CD, faça o favor. Nele há obras para cravo tocadas pelo Trevor Pinnock. Asseguro-lhes, é excelente. Então, ficamos só com os dois CDs do Koopman, o que não é pouco, mas é menos do que foi comprado. Temos uma seleção das melhores obras de Bach para o instrumento. Todas moram no meu coração, mas tenho especial afeto pela Passacaglia e pelo BWV 564. E o BWV 540, que maravilha!
J. S. Bach (1685-1750): Obras para Órgão e Cravo (Koopman / Pinnock)
Toccata & Fuga In D Minor BWV 565
1-1 Toccata 6:40
1-2 Fuga 1:19
Toccata, Adagio & Fuga In C Major BWV 564
1-3 Toccata 5:07
1-4 Adagio 4:05
1-5 Fuga 4:26
Toccata & Fuga In F Major BWV 540
1-6 Toccata 7:27
1-7 Fuga 5:21
6 Chorales Of Diverse Kinds (“Schubler” Chorales)
2-5 Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme BWV 645 4:10
2-6 Wo Soll Ich Fliehen Hin BWV 646 1:35
2-7 Wer Nur Den Lieben Gott Läßt Walten BWV 647 4:10
2-8 Meine Seele Erhebet Den Herren BWV 648 3:25
2-9 Ach Bleib’ Bei Uns, Herr Jesu Christ BWV 649 2:19
2-10 Kommst Du Nun, Jesu, Vom Himmel Herunter BWV 650 3:25
É inacreditável que esta gravação de 1981 — a segunda de Gould para as Variações Goldberg, de Bach –, jamais tenha passado pelo PQP Bach. E que a de 1955 esteja sem link… Mas é da vida. O blog é desprogramado mesmo… Em 1955, Glenn Gould surpreendeu os executivos da Columbia Masterworks ao escolher as Variações Goldberg de J. S. Bach para sua gravação de estreia. Sua performance foi rápida, fluida, brilhante e deliciosa, e foi um sucesso de vendas surpreendentemente grande. Em 1981, Gould fechou o círculo e gravou as Goldberg novamente. Foi sua última gravação de estúdio. Essa segunda tentativa não poderia ser mais diferente da primeira: implacavelmente intelectual, percussiva, insistente. E melhor. Gould não tinha o hábito de regravar, mas um crescente desconforto com aquela performance anterior o fez voltar-se mais uma vez para uma obra-prima atemporal e tentar, por meio de uma perspectiva radicalmente alterada, um relato mais definitivo. Por sua própria admissão, ele havia, durante aqueles anos intermediários, descoberto a “lentidão” ou uma qualidade meditativa muito distante dos dedos brilhantes e da glória pianística. E é esse “repouso outonal” que adiciona uma dimensão tão profundamente imaginativa à clareza desimpedida e à definição precisa de Gould. A Ária agora é hipnotizantemente lenta. As confidências trêmulas da Variação 13 na performance de 1955 dão lugar a algo mais direto, mais incisivo e determinado, enquanto as medidas leves e dançantes da Var. 19 são humoristicamente lentas e precisas. O retorno da Ária também é avassalador em seu profundo senso de consolo e resolução. Pessoalmente, eu não gostaria de ficar sem nenhuma das gravações de Gould, mas devo dizer que a segunda é certamente a melhor. A gravação é soberba e é notável que os dois maiores discos de Gould sejam seu primeiro e seu último.
J. S. Bach (1685-1750): Variações Goldberg (Gould, 1981) — Goldberg Variations, BWV 988 – 1981 Recording
1 Aria 3:05
2 Variatio 1 a 1 Clav. 1:10
3 Variatio 2 a 1 Clav. 0:49
4 Variatio 3 a 1 Clav. Canone All’Unisono 1:31
5 Variatio 4 a 1 Clav. 0:50
6 Variatio 5 a 1 Ovvero 2 Clav. 0:37
7 Variatio 6 a 1 Clav. Canone Alla Seconda 0:40
8 Variatio 7 a 1 Ovvero 2 Clav. 1:16
9 Variatio 8 a 2 Clav. 0:54
10 Variatio 9 a 1 Clav. Canone Alla Terza 0:59
11 Variatio 10 a 1 Clav. Fughetta 1:04
12 Variatio 11 a 2 Clav. 0:54
13 Variatio 12 Canona Alla Quarta 1:38
14 Variatio 13 a 2 Clav. 2:38
15 Variatio 14 a 2 Clav. 1:04
16 Variatio 15 a 1 Clav. Canone Alla Quinta. Andante 5:00
17 Variatio 16 a 1 Clav. Ouverture 1:38
18 Variatio 17 a 2 Clav. 0:54
19 Variatio 18 a 1 Clav. Canone Alla Sesta 1:03
20 Variatio 19 a 1 Clav. 1:03
21 Variatio 20 a 2 Clav. 0:50
22 Variatio 21 Canone Alla Settima 2:13
23 Variatio 22 a 1 Clav. Alla Breve 1:03
24 Variatio 23 a 2 Clav. 0:58
25 Variatio 24 a 1 Clav. Canone All’Ottova 1:42
26 Variatio 25 a 2 Clav. 6:03
27 Variatio 26 a 2 Clav. 0:52
28 Variatio 27 a 2 Clav. Canone Alla Nona 1:21
29 Variatio 28 a 2 Clav. 1:03
30 Variatio 29 a 1 Ovvero 2 Clav. 1:02
31 Variatio 30 a 1 Clav. Quodlibet 1:28
32 Aria Da Capo 3:45
Aproveito a petulante invasão de seu sacrossanto espaço para comunicar – antes da merecida advertência – que a postagem da gravação de 1955 está com links novos.
Antonio Meneses[em inglês]: Oi! Para quem é o autógrafo? Vassily Genrikhovich[em português]: Olá, Antonio! É para [o nome do impostor que está em meu RG], por favor. AM: Rapaz, eu nunca diria que você é brasileiro! [sorri enquanto autografa o CD do Don Quixote com os filarmônicos de Berlim sob Karajan] VG: Às vezes até eu tenho dúvidas. AM[em inglês, dirigindo-se à então esposa, a pianista filipina Cecile Licad, que o acompanhara no recital]: Eu achei que ele era filipino. Cecile Licad[interessadíssima, em tagalog]: Você é pinoy? [termo tagalog para “filipino”] VG[em inglês, porque fala lhufas de tagalog] Sou brasileiro. CL[sem mais qualquer interesse no semblante]: … AM[em português, rindo]: Acho que ela não gosta de brasileiros [devolvendo-me o CD autografado] Ainda bem que ela me abriu uma exceção…
II Philharmonie de Colônia, Alemanha, primeira década do século XXI
VG[em português]: Olá, Antonio! Para [o nome do impostor, novamente], por favor. AM[sorrindo]: Brasileiro tem todas as caras, mesmo! [autografa o programa, em que tocara o primeiro concerto de Haydn] VG: Há uns dez anos, em Genebra, você achou que eu fosse filipino. AM: É mesmo? Hoje eu diria que você é japonês! VG[rindo]: Fui rebaixado? AM[com um sorriso maroto]: Foi promovido!
[a ficha só cairia depois do Google me contar que Antonio, divorciado de Cecile, se casara com a japonesa Satoko]
III Sala São Paulo, exatamente cinco 3-de-agostos antes deste último e tão triste 3 de agosto
AM: Oi! VG: Olá, Antonio! Sou [nome do impostor, uma vez mais]. AM [autografando o programa do concerto da Osesp com a estreia mundial do Concerto para violoncelo de Marlos Nobre, dedicado a ele próprio]: Gostou do concerto? VG: Adorei! AM: O Marlos não teve pena de mim, não. VG: Sou seu fã há décadas, desde que ouvi seu Don Quixote com Karajan. AM: Que bacana! Obrigado por vir! VG: Fico imaginando o que era tocar com Karajan. AM: Karajan era tranquilo. Mas o… VG: ? AM[gargalhando e devolvendo o programa autografado]: Deixa quieto…
Não conseguirei escrever seu obituário. Partiu cedo demais e com muito ainda a oferecer ao Som. E, porque eu o sinto vivo, farei com que ele viva também entre os leitores-ouvintes através das três gravações que nos deixou das eudaimônicas suítes do Demiurgo da Música, cada uma delas mais ou menos contemporânea das breves janelas que se me abriram para ele e que me deram a medida da falta que o virtuose da Música e das panelas, professor zeloso e querido amigo fará aos que lhe foram próximos.
Em memória de Antonio Meneses Neto (23 de agosto de 1957, Recife – Basileia, 3 de agosto de 2024).
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Suítes para violoncelo solo, BWV 1007-1012
No. 1 em Sol maior, BWV 1007
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Menuets I & II
Gigue
No. 2 em Ré menor, BWV 1008
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Menuets I & II
Gigue
No. 3 em Dó maior, BWV 1009
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Bourrées I & II
Gigue
No. 4 em Mi bemol maior, BWV 1010
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Bourrées I & II
Gigue
No. 5 em Dó menor, BWV 1011
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Gavottes I & II
Gigue
No. 6 em Ré maior, BWV 1012
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Gavottes I & II
Gigue
Antonio Meneses, violoncelo
Primeiro registro:
Gravado na Sala Casals em Tokyo, Japão,
de 14 a 16 de outubro e em 18 e 19 de dezembro de 1993.
Lançado em 25 de abril de 1994 pelo selo Philips, somente no mercado japonês.
Recomendo fortemente que, ao ouvirem estas gravações, escutem também as seis primeiras faixas do álbum a seguir, que servem como preâmbulos às Suítes do Maior de Todos:
Vou contar um segredo para vocês. Eu estou ouvindo todos os meus CDs. Um a um, um por um. Alguns eu jogo fora ou dou depois de uma decepção. Mas às vezes bato de cara com algo excelente de que tinha esquecido. É o caso deste Vol. 11 de minhas queridas Cantatas de Bach por Helmuth Rilling. Ganhei a enorme Caixa de Cantatas de uma namorada faz uns 35 anos. 53 CDs! Minha capa é menos carnavalesca do que a que apresento, mas foi o que encontrei. Rilling estava no limite entre a música historicamente informada e o horrível passado das gravações barrocas. Adorei o mimo quando ganhei! Muito obrigado! A maturidade me ensinou que ex-mulher é cargo de confiança e que não se fala mal de nenhuma. Ainda mais eu, que casei tantas vezes até finalmente encontrar meu primeiro amor… Bem, ouçam tudo porque vale a pena. A sonhadora ária Sanfte soll mein Todeskummer (faixa 7) está de arrancar o coração, de tão linda. E o que dizer de Ach bleib bei uns, Herr Jesu Christ (faixa 14)?
J. S. Bach (1685-1750): Oratório da Páscoa, BWV 249 & Cantata BWV 6 (Rilling)
Meus astutos e ínclitos pequepianos, esta é uma gravação mezzo antiquada, com vibratões e instrumentos modernos, mas há algo de especial nela. Além do repertório LINDO, VERDADEIMENTE EXTRAORDINÁRIO, além do talento de Rilling, há Dietrich Fischer-Dieskau cantando. Só esta versão da Cantata BWV 82 é superior a todas as gravações de Karl Richter somadas, apenas para citar um contemporâneo de Rilling. Pois Rilling não é um romântico de Bach. E acreditem, ele está vivo até hoje. Ele é bem conhecido por suas performances da música de Bach e seus contemporâneos. Foi o primeiro a ter gravado duas vezes (em instrumentos modernos) as obras vocais completas de Bach, uma tarefa monumental envolvendo mais de 1.000 peças musicais — abrangendo 170 CDs. Ele também gravou muitas obras corais e orquestrais românticas e clássicas, incluindo as obras de Johannes Brahms.
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas 51, 56 e 82 (Rilling)
Cantata No. 56, “Ich Will Den Kreuzstab Gerne Tragen,” BWV 56 (BC A146)
6 Ich Will Denn Kreuzstab Gerne Tragen 8:08
7 Mein Wandel Auf Der Welt 2:22
8 Endlich, Endlich Wird Mein Joch 6:27
9 Ich Stehe Fertig Und Bereit 2:07
10 Komm, O Tod, Du Schlafes Bruder 1:42
Glenn Gould era um original. No auge da carreira, abandonou os concertos pelas gravações, cantava durante as mesmas, era um mago no estúdio e corrigia seu som quando isto era “roubar no jogo”, fazia entrevistas consigo mesmo, produzia notáveis programas radiofônicos. Era um gênio e um gênio do piano, mas… preferiu tocar A Arte da Fuga, ou metade dela, ao órgão. Claro, vocês sabem que Glenn Gould era dado a estranhas opções de andamentos e brigava com muita gente boa, como Lenny Bernstein. Mas eu aprovo este CD, apesar de alguns críticos atacarem a digitação muito pouco “organística” de GG. Se o CD é estranho pela utilização de órgão por parte de Gould, ele é absolutamente sensacional a partir da faixa 10, onde retorna definitivamente o piano. Ele acentua tudo de forma demasiada no órgão — não sei explicar — é também muito bonito.
Tudo bem, sei que A Arte da Fuga pode ser interpretada em qualquer instrumento ou grupo deles, não ignoro que alguns pensam tratar-se de obra para leitura, mas ouçam a faixa 10, quando Gould entra tocando (e cantando, como sempre) o Contrapunctus I… É muito bom, né? Apenas acho um pouco discutível a forma como ele finalizou a fuga inacabada. Ficou um pouco romântica, com intenção pouco clara, sei lá.
(ALÔ, PRÍNCIPE SALINAS! Ao ouvir Andras Schiff, senti falta de… Gould cantando. Como pode meu ouvido ter se acostumado desta forma à cantoria de Gould?)
J. S. Bach (1685-1750): A Arte da Fuga (Glenn Gould)
1. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 1
2. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 2
3. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 3
4. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 4
5. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 5
6. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 6 (a 4, im Stile francese)
7. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 7 (a 4, per Augmentationem et Diminutionem)
8. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 8 (a 3)
9. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 9 (a 4, alla Duodecima)
10. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 1
11. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 2
12. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 4
13. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 9 (a 4, alla Duodecima)
14. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 11 (a 4)
15. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 13 (a 3)
16. Die Kunst der Fuge (The Art of the Fugue), for keyboard (or other instruments), BWV 1080 Contrapunctus 14 (Fuga a 3 Soggetti) unfinished
17. Prelude and Fugue on the name of “B-A-C-H,” for keyboard in B flat major (doubtful; perhaps by J.C. Kittel), BWV 898
Meu irmão PQP Bach já postou uma bela versão destas mesmas Suítes Inglesas, com o grande Gustav Leonhardt, com certeza um dos maiores intérpretes que nosso pai já teve. Mas os gouldmaníacos logo se manifestaram, e começaram a pedir mais gravações do canadense. Fucei, então, meus cds de mp3, e logo encontrei essas gravações. Somos todos gouldmaníacos, com certeza. Essa sua versão das Suítes Inglesas é magnífica, e não canso de ouvi-la. Ainda tenho meu LP com essa gravação, aliás, e fiquei muito feliz quando consegui a versão em mp3. Mas vamos ao que interessa.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Suítes Inglesas BWV 806-811 (Glenn Gould)
Suite No. 1 In A Major, BWV 806 = A-dur = En La Majeur = In La Maggiore
1-1 I. Prélude 2:45
1-2 II. Allemande 2:10
1-3 III. Courante I 1:47
1-4 IV. Courante II 2:11
1-5 V. Double I 2:06
1-6 VI. Double II 1:59
1-7 VII. Sarabande 4:07
1-8 VIII. Bourrée I 1:16
1-9 IX. Bourrée II – Bourrée I Da Capo 2:14
1-10 X. Gigue 2:00
Suite No. 2 In A Minor, BWV 807 = A-moll = En La Mineur = In La Mineur
1-11 I. Prélude 4:31
1-12 II. Allemande 1:34
1-13 III. Courante 1:11
1-14 IV. Sarabande – Les Agréments De La Même Sarabande 3:03
1-15 V. Bourrée I 1:26
1-16 VI. Bourrée II – Bourrée I Da Capo 2:00
1-17 VII. Gigue 2:17
Suite No. 3 In G Minor, BWV 808 = G-moll = En Sol Mineur = In Sol Mineur
1-18 I. Prélude 2:53
1-19 II. Allemande 1:44
1-20 III. Courante 1:20
1-21 IV. Sarabande – Les Agréments De La Même Sarabande 3:19
1-22 V. Gavotte I (Ou La Musette) 0:50
1-23 VI. Gavotte II – Gavotte I Da Capo 1:10
1-24 VII. Gigue 1:52
Suite No. 4 In F Major, BWV 809 = F-dur = En Fa Majeur = In Fa Maggiore
2-1 I. Prélude 4:25
2-2 II. Allemande 2:46
2-3 III. Courante 0:54
2-4 IV. Sarabande 3:01
2-5 V. Menuett I 1:20
2-6 VI. Menuett II – Menuett I Da Capo 1:57
2-7 VII. Gigue 2:15
Suite No. 5 In E Minor, BWV 810 = E-moll = En Mi Mineur = In Mi Mineur
2-8 I. Prélude 4:43
2-9 II. Allemande 2:58
2-10 III. Courante 1:51
2-11 IV. Sarabande 1:59
2-12 V. Passepied I (En Rondeau) 1:06
2-13 VI. Passepied II – Passepied I Da Capo 1:37
2-14 VII. Gigue 2:04
Suite No. 6 In D Minor, BWV 811 = D-moll = En Ré Mineur = In Re Mineur
2-15 I. Prélude 8:25
2-16 II. Allemande 3:11
2-17 III. Courante 2:46
2-18 IV. Sarabande 3:07
2-19 V. Double 2:15
2-20 VI. Gavotte I 1:34
2-21 VI. Gavotte II – Gavotte I Da Capo 2:19
2-22 VIII. Gigue 2:56
Duas das obras vocais mais conhecidas de Bach: não só pelas incomparáveis melodias em coros e árias belíssimas, mas também por serem obras grandiosas, celebratórias, com grandes efetivos orquestrais – para o período – incluindo três trompetes (referência bíblica). Ao contrário das Paixões de Cristo e outras várias obras compostas para momentos de seriedade, tristeza, fé e resignação – pois na Leipzig e Weimar de Bach havia forte respeito à quaresma e ao luto após a morte de duques e reis – estas duas obras se destinam a festas, comemorações: a gravidez de Maria (2 de julho no calendário luterano) e o dia da reforma protestante (31 de outubro).
Nessa gravação lançada em 1990 dificilmente algo poderia dar errado: o grupo belga Collegium Vocale Gent e seu maestro Philippe Herreweghe já tinham alguns anos de estrada, desde os tempos em que Gustav Leonhardt os convidara para participar da pioneira gravação integral das cantatas. Os solistas também são de altíssimo nível: especialmente o baixo Peter Kooy é um especialista em Bach, com uma ampla discografia com Herreweghe, Suzuki e outros (em certos lugares ele assina Peter Kooij: como vocês sabem, os holandeses e flamencos adoram vogais dobradas). Mais recentemente, Herreweghe e o Collegium Vocale abandonaram o selo Harmonia Mundi e seguiram gravando cantatas, inclusive com uma 2ª gravação da BWV 80 que eu ouvi mas sigo preferindo esta primeira gravação.
Cantata “Ein Feste Burg Ist Unser Gott”, BWV 80
13. “Ein feste Burg ist unser Gott” [Coral] 4:54
14. “Alles, was von Gott geboren” [Aria – Baixo + Coral] 3:53
15. “Erwäge doch” [Recitativo – Baixo] 1:56
16. “Komm in mein Herzenshaus” [Aria – Soprano] 3:07
17. “Und wenn die Welt voll Teufel wär” [Coral] 3:30
18. “So stehe dann” [Recitativo – Tenor] 1:29
19. “Wie selig sind doch die” [Duetto – Alto, Tenor] 4:04
20. “Das Wort sie sollen lassen stahn” [Coral] 1:25
Collegium Vocale Gent (coro), La Chapelle Royale (orquestra)
Solistas: Agnès Mellon, Barbara Schlick (soprano), Gérard Lesne (alto), Howard Crook (tenor), Peter Kooy (baixo)
Regente: Philippe Herreweghe
Alio modo é uma expressão latina que significa apenas de outro modo. Sim, e é de outro modo que ouvimos essas excelentes peças para órgão e teclado de Bach. Este CD é uma joia do Fretwork. Eles têm produzido gravações excelentes há quase 30 anos, e esta está entre as melhores — apesar de não ser um CD para neófitos, creio. Como disse antes, o repertório aqui apresentado é um programa de transcrições de algumas obras para teclado de Bach, algumas para órgão e outras para cravo. As transcrições para três, quatro e cinco violas foram feitas por Richard Boothby e funcionam muito bem. O próprio Bach era um reciclador e transcritor inveterado, então a transcrição faz parte da linguagem do próprio compositor, mesmo que um conjunto de violas não seja algo para o qual o próprio Bach teria composto. As peças de órgão, especialmente, dão a mim uma sensação de extrema naturalidade e coerência. A versão da Passacaglia é belíssima, para se ouvir de joelhos. A execução é, como sempre, brilhante. Os Fretwork são um conjunto de técnica soberba e têm um magnífico som. Eles trazem significado real a cada peça deste programa bastante variado.
J. S. Bach (1685-1750): Alio Modo – Obras para Órgão transcritas para “consort of viols” (Fretwork)
1 Pièce D’Orgue In G Major BWV 572 5:44
2 Wenn Wir In Höchsten Nöten Sein BWV 641 1:54
3 Prelude & Fugue XVI In G Minor BWV 885 4:45
4 Passacaglia In C Minor BWV 582 11:15
5 Kyrie, Gott Vater In Ewigkeit 0:55
6 Christe, Aller Welt Trost 1:32
7 Kyrie, Gott Heiliger Geist BWV 671 4:41
8 Die Sind Die Heiligen Zehen Gebot BWV 678 4:01
9 Dies Sind Die Heiligen (Alio Modo) BWV 679 1:54
10 Prelude & Fugue XXII In A Minor BWV 867 5:03
11 Aus Tiefer Not Schrei Ich Zu Dir BWV 686 4:38
12 Fugue In E Flat Major, “St. Anne” BWV 552.2 6:34
13 Vor Deinen Thron Tret Ich Hiermit BWV 668 4:31
14 Prelude & Fugue XI In F Major BWV 880 5:36
15 Wir Gläuben All An Einen Gott BWV 680 2:42
16 Fugue IV I D Minor BWV 849 3:27
17 The Musical Offering : Ricercar BWV 1079 6:52
18 Canon Triplex BWV 1076 1:09
Fretwork:
Richard Boothby, Richard Campbell, Wendy Gillespie, Julia Hodgson, William Hunt, Susanna Pell
Pode baixar que é só música boa! Cinco maravilhosos concertos para piano (ou cravo) dos tantos que Bach arranjou para tocar às sextas-feiras no Café Zimmermann, na charmosa Katharinenstraße, em Leipzig.
Ramin Bahrami é iraniano e estudou no Conservatório Verdi, em Milão, depois em Imola e na Hochschule für Musik, em Stuttgart. Entre os grandes intérpretes de Bach ao piano ele estudou com Alexis Weissenberg, Charles Rosen, András Schiff, Robert Levin e Rosalyn Tureck.
Aqui ele interpreta ao piano esses maravilhosos concertos de Bach acompanhado apropriadamente pela Orquestra do Gewandhouse, de Leipzig, regida pelo ótimo Riccardo Chailly.
Sobre o Café Zimmermann: Em 1729, Bach foi nomeado diretor do Collegium Musicum de Leipzig, uma associação musical municipal de estudantes e músicos profissionais, fundada por Georg Philipp Telemann. Bach dava concertos com esta associação todas as sextas-feiras à noite no Zimmermannsche Kaffeehaus, na Katharinenstraße, que era a rua mais elegante de Leipzig na época. O dono da badalada cafeteria, Gottfried Zimmermann, não cobrava aluguel dos músicos e o público tinha entrada gratuita. Zimmermann ganhou dinheiro vendendo café, que ainda era uma iguaria rara e exótica naquela época. Este café foi o local onde Bach executou obras como o Kaffee-Kantate, bem como seus Concertos para Violino e peças de compositores como Handel e seu bom amigo Telemann.
Sobre o Bahrami: Ramin Bahrami é considerado um dos mais interessantes intérpretes da música para piano de Johann Sebastian Bach. Depois dos concertos de Bach em Leipzig em 2009 com a Gewandhausorchester dirigida por Riccardo Chailly, os críticos alemães aclamaram-no como “um mago do som, um poeta do teclado… um artista extraordinário que tem a coragem de enfrentar Bach de uma forma verdadeiramente pessoal”. Leipziger volkszeitung