Após repostar os discos que aparecem logo abaixo neste blog, com as Toccatas de Bach em pianos modernos, resolvi ouvir no Youtube algumas gravações de cravistas. Pinnock: muito bom. Esfahani: muito bom. Até aí, nenhuma surpresa. A surpresa veio com essa gravação feita nos anos 1990 pela cravista suíça que não é tão famosa assim. Os mais velhos talvez se lembrarão do nome dela acompanhando Arthur Grumiaux nas sonatas de Bach para violino e cravo. Mas as gravações solo dela parecem ser um segredo guardado por poucos aficcionados.
Os timbres do cravo variam bastante entre as toccatas. Assim como os andamentos. Como alguém que ouviu com alguma atenção as várias toccatas de Alessandro Scarlatti (aqui), dou o meu palpite sobre esse enigmático gênero barroco: não se trata de exercícios para demonstrar virtuosismo. Não se trata de “se amostrar”. A grande questão na toccata é a liberdade da fantasia, o inesperado, a surpresa: pouco adianta analisar a competência (ou incompetência) do contraponto nos momentos fugato – há uma entrevista de Gould, citada no libreto do disco recém re-postado, na qual ele critica o contraponto do jovem Bach autor das toccatas em comparação com o autor maduro do Cravo Bem Temperado. Esse tipo de crítica é bem irrelevante quando se trata de toccata barroca: o importante aqui é a invenção, até um certo gosto pelas colagens de trechos que não combinam muito entre si: aqui uma fuga, ali umas escalas soltas, depois uma parada dramática seguida de nova fuga… Estamos longe das grandes formas cheias de simetrias e estamos perto do… coração? ou ao menos perto da liberdade dos dedos do cravista J.S. Bach, mas dedos que – repito – estão menos preocupados em se amostrar e mais preocupados em se divertir.
IM-PER-DÍ-VEL !!!! é pouco para esta criação e recreação de Glenn Gould. Talvez seja a mais radical experiência do pianista com seu amado Bach. Aqui, ele usa da mesma ousadia que utilizou com Mozart e Wagner e o resultado é estupendo. Conheci Gould através destas gravações onde ele canta enquanto toca e nas quais as partes lentas se arrastam e as rápidas voam. Glenn Gould obedeceu ao significado do termo “Toccata” de forma exemplar: afinal, a Toccata) é um gênero que enfatiza a destreza do intérprete. São composições para teclado nas quais uma das mãos e depois a outra realizam corridas virtuosísticas e brilhantes passagens em cascata contra uma acompanhamento de acordes na outra mão. A tocata barroca tem mais seções e aumentou de tamanho, intensidade e virtuosidade em relação à versão Renascentista, com frequência possui corridas rápidas e arpejos alternando com acordes ou seções de fuga. Algumas vezes falta a indicação regular de tempo e quase sempre tem um sentido de improvisação. Podem acreditar: Glenn Gould entendeu direitinho o espírito da coisa.
Indico fortemente este CD a todos os pequepianos.
J. S. Bach (1685-1750): 7 Toccate BWV 910-916 (Glenn Gould 1963/79/80)
01.Toccata in re maggiore BWV 912 (14:01)
02.Toccata in fa diesis minore BWV 910 (11;43)
03.Toccata in re minore BWV 913 (17:08)
01.Toccata in do minore BWV 911 (11:13)
02.Toccata in sol minore BWV 915 ((8:44)
03.Toccata in sol maggiore BWV 916) (8:52)
04.Toccata in mi minore BWV 914 (8:39)
Minha mentalidade de quinta série não sossegou enquanto não conheceu Cabasso. Esta é a primeira entrada dele em nosso blog. Antes, ele arrebentou na minha casa com enorme sucesso. Cabasso é um pianista que aborda as amadas Toccatas de Bach com competência e originalidade. As Toccatas para Teclado, BWV 910–916, são sete obras escritas originalmente para cravo. Embora as peças não tenham sido originalmente organizadas em uma coleção pelo próprio Bach (como a maioria de suas outras obras para teclado, como o Cravo Bem Temperado e as Suítes Inglesas, Francesas, etc.), elas compartilham muitas semelhanças e são frequentemente agrupadas e executadas juntas sob um título coletivo. As primeiras fontes das Toccatas BWV 910, 911 e 916 aparecem em manuscritos de 1707 — quando Bach tinha 22 anos — e 1713. As obras têm seções altamente contrastantes, rapsódicas e passagens em fugas, em oposição ao formato mais familiar de prelúdio e fuga de dois movimentos.
J. S. Bach: Todas as Toccatas (Laurent Cabasso)
1. Toccata in G Major, BWV 916 (07:15)
2. Toccata in C Minor, BWV 911 (10:44)
3. Toccata in D Minor, BWV 913 (12:39)
4. Toccata in E Minor, BWV 914 (07:21)
5. Toccata in F-Sharp Minor, BWV 910 (10:47)
6. Toccata in G Minor, BWV 915 (08:18)
7. Toccata in D Major, BWV 912 (10:33)
Esplêndido CD com Emma Kirkby — musa ruiva preferencial de FDP Bach — em grande forma. Junto com ela e também na ponta dos cascos, a Academy of Ancient Music sob a direção de Christopher Hogwood. Um disco já antiguinho, mas delicioso com as duas Cantatas profanas mais famosas de nosso pai. Se você ouvir bem, sairá cantarolando as melodias por todo o fim-de-semana. Elas grudam, viu?
Schlendrian é um pai grosseiro e está preocupadíssimo porque sua filha Lieschen entregou-se à nova mania de tomar café. Todas as promessas e ameaças para desviá-la de tão detestável hábito foram infrutíferas até que, para dissuadi-la, ofereceu-lhe um marido. Lieschen aceita a idéia com entusiasmo e o pai parte apressadamente para conseguir-lhe um. Esta é a idéia principal da Cantata do Café, obra cômica de J. S. Bach, uma mini-ópera, que foi apresentada entre 1732 e 1735 na Kaffeehaus de Zimmermann, em Leipzig. A primeira Kaffeehaus da cidade foi aberta em 1694 — o café chegara à Alemanha em 1670 — e em 1735 a burguesia podia escolher entre oito privilegiadas casas.
A Kaffeekantate, BWV 211, foi encomendada a Bach por Zimmermann e é, em parte, uma ode ao produto (sim, puro merchandising) e, de outra parte, uma punhalada no movimento existente na Alemanha para impedir seu consumo pelas mulheres. Acreditava-se que o “negro veneno” pudesse causar descontrole e esterilidade ao sexo frágil, mas Bach, em troca do pagamento de Zimmermann, ignorou estes terríveis perigos. Senão, talvez não musicasse uma ária que diz: “Ah, como é doce o seu sabor. / Delicioso como milhares de beijos, / mais doce que um moscatel. / Eu preciso de café”; e nem nos brindaria com estas delicadezas…: “Paizinho, não sejas tão mau. / Se eu não beber meu café / as minhas curvas vão secar / as minhas pernas vão murchar / ninguém comigo irá casar”.
Bach aprendera muito bem, em sua vida familiar e em seu trabalho como professor, que influenciar os jovens não era assim tão fácil. Portanto, adicionou um recitativo no qual os planos de Lieschen são revelados: o homem que quiser casar com ela terá de consentir numa cláusula: o contrato matrimonial preverá que ela possa tomar café sempre que lhe apetecer.
No final, há um breve coro de três cantores, onde o café e a evolução são admitidos como coisas inevitáveis. Esta Cantata — ao lado de outras poucas obras vocais profanas — é uma evidente exceção na obra de Bach. O compositor, que possui a injusta fama de sério, aceitou o convite de Zimmermann para compor uma propaganda de seu Café e, como quase sempre fazia, produziu uma obra-prima, uma pequena comédia que funciona tanto no palco quanto nas salas de concertos. O efeito da primeira apresentação deve ter sido consideravelmente ampliado pelo fato de que às mulheres não era permitido cantar em cafés (nem em igrejas) e o papel de Lieschen foi, provavelmente, interpretado por um cantor em falsete. Bach, com o auxílio do poeta Picander, construiu dois personagens muito humanos e verossímeis: um pai resmungão e rústico e uma filha obstinada e cheia de caprichos. O compositor parece estar à vontade ao traçar a caricatura do pai com o baixo pesado, os ritmos acentuados e a prescrição con pompa, enquanto os violinos rosnam para indicar seu temperamento irascível.
Quando ele ameaça privar Lieschen de sua saia-balão de última moda, Bach indica seu tremendo diâmetro de forma escandalosa. A ária de Lieschen em louvor ao café é convencional, tão convencional que parece que o compositor quer insinuar que ela futilmente adotara tal hábito apenas para seguir a moda, o que seria um gol contra para Zimmermann. Entretanto, seu entusiasmo por um possível marido não é simulado… A alegria expressa na melodia em ritmo de dança popular é contagiosa. Para os puristas, o divino e sacro Bach chega a ser grosseiro: afinal, quando Lieschen diz que quer um amante fogoso e robusto, os violinos e as violas silenciam, como para deixar bem clara aos ouvintes a afirmativa sem rodeios. O Café Zimmermann deve ter vindo abaixo…
J.S. Bach (1685-1750): Cantata do Café e dos Camponeses
1. “Coffee Cantata” BWV211 – Schweigt stille, plaudert nicht…Hat man nicht mit seinen Kindern 4:10
2. “Coffee Cantata” BWV211 – Ei! wie schmeckt der Coffee susse 5:08
3. “Coffee Cantata” BWV211 – Mädchen, die von harten Sinnen 3:49
4. “Coffee Cantata” BWV211 – Heute noch 7:06 Album Only
5. “Coffee Cantata” BWV211 – Die Katze lässt das Mausen nicht 4:24
6. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 1. Ouverture The Academy of Ancient Music 2:10
7. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 2-3. Mer hahn en neue Oberkeet…Nu, Mieke, gib dein Guschel immer her 1:18
8. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 4-5 Ach es schmeckt doch gar zu gut 1:20
9. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 6-7. Ach, Herr Schösser, geht nicht gar zu schlimm 1:34
10. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 8-9. Unser trefflicher, lieber Kammerherr 2:06
11. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 10-11: Das ist galant, es spricht niemand 1:51
12. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 12-13. Fünfzig Taler bares Geld 1:08
13. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 14-15: Klein-Zsocher müsse so zart und süße 5:51
14. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 16-17: Es nehme zehntausend Dukaten 0:58
15. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 18-19: Gib, Schöne, viel Söhne 0:48
16. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 20-21: Dein Wachstum sei feste 5:57
17. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 22. Arie: Und daß ihr’s alle wißt 1:12
18. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 24. Chor (Duetto): Wir gehn nun, wo der Dudelsack 1:04
Emma Kirkby
David Thomas
Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood
A gravação definitiva, enquanto não chegar outra para ocupar o cargo.
Não vou escrever longamente sobre todos os registros das Suítes que ouvi nos últimos… bem, mais de quarenta anos, certamente. Gostava imensamente de Maurice Gendron e custei muito a passar minha preferência para Janos Starker, com quem fiquei por pouco tempo, logo passando a Anner Bylsma.
As famosíssimas versões de Yo-Yo Ma, Antônio Meneses e Mstislav Rostropovich são muito, mas muito mesmo, insatisfatórias. O trio é merecidamente famoso por trabalhos realizados fora da música barroca. Não é fácil adaptar-se à sonoridade toda própria destas obras. Eu, particularmente, acho muito chata a gravação para cumprir tabela do grande Rostropovich. É apenas correta. Os críticos a detonaram… Mas vende mais do que qualquer outra… Em razão da ignorância dos ouvintes, claro. O próprio Rostropovich, em entrevista à Gramophone na edição em que seu CD sofria críticas bastante severas, sugeriu discretamente que não tinha nada a acrescentar a um repertório que lhe era estranho.
Vamos a Cocset! Bruno Cocset não é apenas um violoncelista especializado no barroco que interpreta as suítes com um senso de estilo claro e definido. Sua gravação, realizada para a maravilhosa Alpha – que lhe fez uma belíssima caixa – tem algumas novidades que julgo muito boas. Não tenho condições de avaliar a utilização da corda mais alta estar afinada para sol em vez de lá na Quinta Suíte, nem da Sexta Suíte possuir uma quinta corda afinada para mi adicionada às quatro cordas habituais do cello (são exigências do compositor que Cocset obedeceu e não creio que outros além de Bylsma o tenham feito). O que me interessa é a tomada do som. Cada suíte foi gravada continuamente, sem interrupções, como num concerto. Cocset pensou que isso daria maior integridade à execução. Funcionou! Não houve correções e nós ouvimos alguns sons de marcenaria que a mim não incomodam nem um pouco. Até pelo contrário, gosto muito e o resultado é um ambiente de concerto que me deixa meio hipnotizado. Bom, opiniões…
O registro foi gravado em outubro de 2001 em Paris, na Chapelle de l`Hôpital Notre-Dame de Bon Secours . E é arrepiante de cabo a rabo.
Suítes para Violoncelo Solo
CD 1:
1. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Prelude
2. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Allemande
3. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Courante
4. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Sarabande
5. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Menuett
6. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Gigue
7. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Prelude
8. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Allemande
9. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Courante
10. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Sarabande
11. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Menuett
12. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Gigue
13. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Prelude
14. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Allemande
15. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Courante
16. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Sarabande
17. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Bouree
18. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Gigue
CD 2:
1. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Prelude
2. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Allemande
3. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Courante
4. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Sarabande
5. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Bourree
6. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Gigue
7. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Prelude
8. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Allemande
9. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Courante
10. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Sarabande
11. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Gavotte
12. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Gigue
13. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Prelude
14. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Allemande
15. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Courante
16. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Sarabande
17. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Gavotte
18. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Gigue
Imagine que você foi acometido de uma amnésia musical, teve todas as lembranças de discos e audições de intérpretes preferidos varridas de sua memória. Suponha também que tudo o que você dispõe para reconstruir (ou construir, uma vez que não ficaram lembranças) seu gosto musical, suas preferências por repertório e intérpretes, são discos recentes, recém lançados ou lançados a não mais do que dois anos… Só as novidades!
Lembram? Pois então, em outra postagem nesta linha – De volta para o futuro – visitamos outra coleção de obras de Bach que consegue alcançar níveis altíssimos, mesmo para os padrões do padroeiro do blog: a coleção dos motetos.
Essas obras maravilhosas são o ápice de um gênero que já era arcaico nos dias de Bach e vinha sendo praticada inclusive por membros de sua família de gerações anteriores.
Mesmo que eu não houvesse ouvido interpretações dessas obras que eu adoro, se ouvisse apenas essa gravação dos motetos de Bach, garanto-vos, apaixonar-me-ia completamente por eles. O disco é espetacular. Há essencialmente duas maneiras de interpretar essas obras – a capela ou coro acompanhado por um grupo de instrumentos do tipo baixo contínuo. Nesta gravação adota-se a segunda opção, com um grupo é de seis instrumentos, incluindo alaúde e teorba.
Além dos seis motetos (atribuídos) a Bach, esta gravação inclui outras quatro peças de compositores bem anteriores a Bach, intercaladas entre os motetos. Dessa forma, os intérpretes seguem uma tradição dos dias de Bach, que intercalava com peças antigas, conhecidas das congregações, as peças mais recentemente compostas. Veja que os motetos têm suas letras em alemão e as outras peças são em latim.
Raphaël Pichon
Os motetos de Bach são bastante diferentes uns dos outros, assim como os Concertos de Brandemburgo. O disco começa e termina com dois dos mais festivos. Lobet den Herrn, alle Heiden começa exortando-nos a louvar o Senhor e Singet dem Herrn ein neus Lied é exatamente o que Bach fez, cantou muitas novas canções para o Senhor. Entre essas duas lindas peças, outros três motetos relativamente curtos: o contrito Komm, Jesu, Komm; aquele que trata do Espírito elevando nossas faltas (Der Geist hilft unser Schwachheit auf); o que eu acho especialmente reconfortante, Fürchte dich nicht, ich bin bei dir – Não tenhas medo, eu estou com você. Além destes três, temos o moteto que afirma: Jesu, meine Freude, o mais longo e possivelmente o mais conhecido.
O coro e orquestra Pygmalion com seu regente Raphaël Pichon já andou aqui pelo blog gravações que poderiam ser consideradas da mesma série: De volta para o futuro! Veja a seguir, se você não percebeu ou se já esqueceu…
Neste lançamento, a abertura do disco, a primeira faixa, Lobet den Herrn, alle Heiden, inicia com um tuti: cantores e instrumentistas abrem os trabalhos num acorde felicíssimo. Esse primeiro moteto tem uma parte central mais lenta e termina em grandes aleluias…
A peça que segue é de Vincenzo Bertolusi, uma cantilena em latim, que estabelece o tom do próximo moteto de Bach, o Komm, Jesu, Komm, com as diferentes vozes se alternando, cheio de pausas e mudanças de andamento. E depois o moteto do Espírito, Der Geist hilft unser Schwachheit auf. A obra de Bertolusi é intitulada Osculetur me osculo oris sui (Ele me beijou com o beijo da boca), que certamente vem do Cântico dos Cânticos.
Esses dois lindos motetos são seguidos de uma obra de Hieronimus Praetorius, um canticum sacrum, que os cantores devem ter adorado cantar, pois termina em outra linda série de aleluias, ressoando de uma voz para a outra.
Então temos o moteto que eu particularmente gosto, o Não tenhas medo, seguido de uma peça de Jacobus Gallus, em latim, dizendo: Veja como morrem os justus, ao qual seguirá o enorme Jesu, meine Freude. A propósito, quatro dos motetos foram escritos especialmente para funerais.
Depois do motetão, uma peça da ensolarada Itália, de Veneza, composta por Giovanni Gabrieli, Jubilate Deo, que nos prepara para a última peça do disco, Cante ao Senhor um canto novo! Um programa musical sem defeitos. Mas, se você é mais purista, pode facilmente arranjar para ouvir os seis motetos de Bach sem as outras peças. De qualquer forma, achei o disco altamente viciante.
Essas peças são religiosas, mas mesmo que você não seja assim, tão carola, ou desconfie mais do que crê, não hesite em ouvir o disco, pois a música é boa, ótima mesmo, e o coro vai te colocar para dançar em diversas partes.
J.S. Bach’s six authenticated motets are perfectly crafted, audacious, and mesmerizingly inventive, fully conveying the emotional and theological import of their text. They also demand extraordinary virtuosity from the singers, a requirement fully met in this new recording.
The recording is first-rate, clear with just enough room ambiance to warm the choral sound and with a well-balanced continuo group. Pichon’s thoughtful introductory notes clearly show his love of this music
A revista inglesa BBC Music Magazine disse: Pichon favours brisk tempos and draws lively and crisply articulated singing from his vocal ensemble. Textures are luminous and transparent, though just occasionally I found phrases a shade too clipped. But these are performances that are fullblooded and generously endowed with illustrative vocal gestures which enhance the text. Indeed, the attention afforded the texts is one of the great virtues of this singing.
Além disso, deu apenas quatro em cinco estrelas para o lançamento. Eu acho que é bairrismo ou mesmo dor-de-cotovelo.
Imagine que você foi acometido de uma amnésia musical, teve todas as suas lembranças de discos e audições de intérpretes preferidos varridas de sua memória. Suponha também que tudo o que você dispõe para reconstruir (ou construir, uma vez que não ficaram lembranças) seu gosto musical e suas preferências por repertório e intérpretes são discos recentes, recém lançados ou lançados a não mais do que dois anos… Só as novidades!
É claro, é um hipotético exercício, pois que estaremos sempre contaminados pelas nossas lembranças e preferências já estabelecidas, mas gostei de pensar nisso.
O que me levou a considerar essa não tão original ideia foi uma sequência de discos recém lançados, lindos, excelentes, cativantes, viciantes em alguns casos. Estou a ponto de dizer que voltaria a gostar das mesmas músicas que já adoro, a despeito de todas as gravações e lembranças que acumulei nessas muitas décadas de audições. Assim, decidi fazer uma série de postagens desses tais discos ‘novos’ que tem me dado tanto prazer ultimamente e espero que você possa, ao ouvi-los, desfrutar de suas maravilhas e entender em parte essa minha teoria. Ou seja, seria possível em relativo pouco tempo construir uma discoteca que molde um gosto musical parecido com o seu já estabelecido, apenas com ‘novidades’? Ou então, deixe isso tudo para lá e simplesmente desfrute do que realmente importa: a música.
O primeiro desses discos recentes que tenho ouvido e ouvido de novo é esta coleção de magníficos concertos para teclado de João Sebastião Ribeiro, interpretados pela excelente e espantosamente espetacular Beatrice Rana, acompanhada pela Amsterdam Sinfonietta.
O som, assim como tudo mais no disco, é ótimo! Parece que estamos lá, pertinho deles, desfrutando dessa maravilhosa interação entre a solista e a orquestra, refletindo o enorme prazer de produzir música tão boa. Independentemente da longa linha de excelentes intérpretes dessa música, esse disco me faz cair no encanto e me apaixonar por essas obras de novo… E você, o que me diz?
Beatrice achando o sofá do PQP Bach launge um ‘luxo’…
Exploring the myriad possibilities of Bach on the piano, Beatrice Rana engages in intimate and illuminating dialogue with the Amsterdam Sinfonietta in four of the composer’s keyboard concertos. For the New York Times, Rana’s distinction as an interpreter of Bach lies in “preternatural sensitivity, sophistication and control, along with a touch of magic.” She describes the composer as “an important figure in my life … My piano studies began when I was very young and Bach was there from the very start.” […] For Beatrice Rana, part of the genius of Bach’s music lies in the way it “transcends its era and the musical technologies of its time and still feels modern to listeners today.”
Explorando as inúmeras possibilidades de Bach no piano, Beatrice Rana se envolve em um diálogo íntimo e esclarecedor com a Amsterdam Sinfonietta em quatro dos concertos para teclado do compositor. Para o New York Times, a distinção de Rana como intérprete de Bach está na “sensibilidade sobrenatural, sofisticação e controle, junto com um toque de magia”. Ela descreve o compositor como “uma figura importante na minha vida… Meus estudos de piano começaram quando eu era muito jovem e Bach estava lá desde o início”. […] Para Beatrice Rana, parte da genialidade da música de Bach está na maneira como ela “transcende sua era e as tecnologias musicais de seu tempo e ainda parece moderna para os ouvintes de hoje”.
Beatrice Rana performs the first movement of Bach’s energetic Keyboard Concerto No. 1 in D Minor, BWV 1052. This iconic concerto […] displays, in her own words, “Bach’s unmistakeable personal fingerprint”. Performed with the Amsterdam Sinfonietta, this recording showcases musical intimacy and interaction.
Beatrice Rana executa o primeiro movimento do energético Concerto para Teclado nº 1 em Ré Menor, BWV 1052, de Bach. Este concerto icônico […] exibe, em suas próprias palavras, “a inconfundível impressão digital pessoal de Bach”. Executada com a Amsterdam Sinfonietta, esta gravação mostra intimidade e interação musical.
Aproveite!
René Denon
Se você gostou desta postagem, talvez queira visitar essa aqui:
Aapo Häkkinen toca junto com ninguém menos que Pierre Hantaï, seu ex-professor, estes Concertos para 2 Cravos de (dos) Bach. Temos 3 Concertos de Papai Bach acompanhado de uma obra raramente tocada, mas muito interessante, de Wilhelm Friedmann Bach. Este último é o concerto para dois cravos (sem orquestra). Duas reconstruções de concertos para cravos do círculo íntimo de Bach são tocadas. O som gravado privilegia os teclados sobre as cordas, com microfones fixados diretamente no corpo de cada cravo. Os cravos soam ricos e ressonantes. Estas são performances admiravelmente livres e fluidas. Ambos os solistas têm um senso aguçado para o rubato e os fraseados eficazes, mas na maioria dos casos isso é tão sutil que você precisa realmente ouvir para descobrir como é feito. As cordas são igualmente vibrantes, com excelente conjunto e belo timbre rico para sustentar os solistas. À primeira audição, o disco pode parecer austero. A escala da instrumentação, embora historicamente justificada, parece muito pequena, um sentimento que é exacerbado pelos microfones muito próximos e pelo som relativamente seco. Mas o nível de musicalidade é excelente e, embora a clareza da textura seja o objetivo principal, o interesse musical nunca esmorece. O CD foi multipremiado. Merecido!
J. S. Bach (1685-1750) / W. F. Bach (1710-1784): Concertos para 2 Cravos (Hantaï / Häkkinen)
Concerto In C Minor, BWV 1060
Composed By – J.S.Bach*
1 Allegro 5:03
2 Largo 4:38
3 Allegro 3:26
Concerto In C Major, BWV 1061
Composed By – J.S.Bach*
4 Allegro 7:02
5 Adagio 4:23
6 Vivace 5:43
Concerto In C Minor, BWV 1062
Composed By – J.S.Bach*
7 Allegro 3:52
8 Andante 5:40
9 Allegro Assai 4:41
Concerto In F Major, Fk 10, For 2 Harpsichords
Composed By – Wilhelm Friedemann Bach
10 Allegro Moderato 8:51
11 Andante 4:43
12 Presto 4:10
Harpsichord – Aapo Häkkinen, Pierre Hantaï
Orchestra – Helsinki Baroque Orchestra
Já estabelecido como um dos maiores violinistas do século XX, James Ehnes tem passado bastante tempo nos estúdios. O rapaz é uma máquina de gravar discos. Já perdi as contas de quantos seus já foram postados por aqui.
Em sua segunda incursão pelo universo bachiano Ehnes nos apresenta um Bach atualizado, discreto, mas ao mesmo tempo, muito, mas muito coerente e tremendamente bem tocado. Acompanhado discretamente por uma orquestra intitulada ‘Canada´s National Arts Centre Orchestra’, ele desfila todo o seu talento e virtuosismo em um repertório já muito gravado e interpretado. Não diria que ele é um entusiasta das gravações historicamente interpretadas, mas o nível de excelência de sua execução nos brinda com um tremendo respeito pela obra do gênio alemão, sempre contando com cumplicidade da ótima orquestra canadense e seus solistas de primeira.
Já ouvi dezenas, quiçá centenas de vezes estes concertos, com os mais diversos intérpretes, de todas as épocas. Dos atuais, talvez Rachel Podger seja a minha favorita neste repertório, mas isso aqui não é uma competição, apenas uma audição de obras primas. James Ehnes, ao encarar o desafio de gravar estes concertos, deixou sua marca muito bem estabelecida.
Nosso líder supremo, PQPBach, com certeza vai gostar muito deste CD, ao qual ainda não teve acesso. Esta embevecido atualmente com o pacotaço que a DG lançou do Andriss Nelsons tocando Shostakovitch. Mas isso é segredo, não contem para ninguém.
Violin Concerto in E major, BWV 1042
I. Allegro
II. Adagio
III. Allegro assai
James Ehnes, violon / violin
Concerto for Flute, Violin, and Harpsichord in A minor, BWV 1044
I. Allegro
II. Adagio ma non tanto e dolce
III. Tempo di Alla breve
James Ehnes, violon / violinFlute
Luc Beauséjour, clavecin / harpsichord
Concerto for Oboe and Violin in C minor, BWV 1060R
I. Allegro
II. Adagio
III. Allegro
James Ehnes, violon / violin
Charles Hamann, hautbois / oboe
Violin Concerto in D minor, BWV 1052R
I. Allegro 7:25
II. Adagio 5:33
III. Allegro 7:10
James Ehnes, violon / violin
CD 2
Violin Concerto in A minor, BWV 1041
I. [aucune indication de tempo /
no tempo marking]
II. Andante
III. Allegro assai
James Ehnes, violon
Concerto for Two Violins in D minor, BWV 1043
I. Vivace
II. Largo ma non tanto
III. Allegro
James Ehnes, violon / violin
Yosuke Kawasaki, violon / violin
Violin Concerto in G minor, BWV 1056R
I. [aucune indication de tempo / no tempo marking]
II. Largo
III. Presto
James Ehnes, violon
Concerto for Three Violins in D major, BWV 1064R
I. Allegro
II. Adagio
III. Allegro
James Ehnes
Jessica Linnebach, violon
Yosuke Kawasaki, violon
Mais um excelente CD trazendo o soprano Miriam Feuersinger, aquela cujo sobrenome diz tudo. Na enorme obra de cantatas de Johann Sebastian Bach, as “cantatas de diálogo” ocupam uma posição muito especial: como se em um diálogo pessoal, a ‘alma cristã’ (soprano) e ‘Cristo’ (baixo) entram em diálogo, quase como em uma ópera. Bach se refere às palavras de Martinho Lutero, segundo as quais “a fé une a alma a Cristo como uma noiva ao seu noivo”, e assim se vincula à ideia medieval do misticismo nupcial. Esse diálogo se torna um “dueto de amor” espiritual, por assim dizer, que Miriam Feuersinger e Klaus Mertens — ambos estão entre os grandes intérpretes de Bach do nosso tempo — interpretam aqui da maneira mais íntima. As duas cantatas “Ich geh und suche mit Verlangen” BWV 49 e “Liebster Jesu, mein Verlangen” BWV 32 são complementadas pelo Concerto para Oboé em Dó maior GWV 302 de Christoph Graupner, interpretado pela oboísta Elisabeth Grümmer.
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 49 & 32 / C. Graupner (1683-1760): Concerto para Oboé (Feuersinger, Grümmer, Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«)
Bach, J S: Cantata BWV49 ‘Ich geh und suche mit Verlangen’ 26:22
I. Sinfonia 6:57
II. Aria (Bass): Ich geh und suche mit Verlangen 4:59
III. Rezitativo – Dialog (Sopran & Bass): Mein Mahl ist zubereit‘ 2:05
IV. Aria (Sopran): Ich bin herrlich, ich bin schön 5:47
V. Rezitativo – Dialog (Sopran & Bass): Mein Glaube hat mich selbst 1:44
VI. Duetto (Sopran & Bass): Dich hab ich je und je geliebet 4:50
Miriam Feuersinger (soprano), Klaus Mertens (bass-baritone)
Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«
Graupner: Oboe d’Amore Concerto in C major, GWV302 11:02
I. Vivace 4:53
II. Tempo giusto 2:14
III. Allegro 3:55
Elisabeth Grümmer (oboe)
Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«
Bach, J S: Cantata BWV32 ‘Liebster Jesu, mein Verlangen’ 23:58
I. Aria (Sopran): Liebster Jesu, mein Verlangen 6:24
II. Recitativo (Bass): Was ists, dass du mich gesuchet? 0:27
III. Aria (Bass): Hier, in meines Vaters Stätte 7:16
IV. Recitativo Dialogo (Sopran & Bass): Ach! heiliger und großer Gott 2:52
V. Aria Duetto (Sopran & Bass): Nun verschwinden alle Plagen 5:35
VI. Choral: Mein Gott, öffne mir die Pforten 1:24
Miriam Feuersinger (soprano), Klaus Mertens (bass-baritone)
Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«
Trago uma pequena colaboração à série de posts que o patrão PQP Bach tem feito com o resgate da monumental obra de J. S. Bach pelas mãos de um dos maiores pianistas de todos os tempos, o canadense Glenn Gould (1932-1982). Essa aqui é uma gravação curiosa e pouco conhecida da obra que definiu os rumos de sua carreira, as Variações Goldberg, BWV 988, e que não é nem a pioneira de 1955, que o alçou ao estrelato, nem o seu canto do cisne gravado em 1981.
(spoiler: mês que vem tem outra)
A versão que trazemos hoje é anterior à primeira — esta é de 1954, o ano em que Gould passou a tocar a obra em público. Aliás, salvo engano, esta é a gravação mais antiga de Gould a sobreviver até os dias de hoje: uma transmissão ao vivo da rádio CBS de um recital em Toronto, no dia 21 de junho de 1954. Ou seja, praticamente exatamente um ano antes da histórica gravação nos estúdios da Columbia na 30th Street, em Nova Iorque, que aconteceu entre 10 e 16 de junho de 1955.
Gould durante a gravação das Goldberg em NY, 1955
O som da gravação contém problemas e é irregular, como se poderia esperar, já que essa é uma gravação particular em discos de acetato de 33 rpm feita pelos Gould em casa, a partir da transmissão radiofônica. Isso à parte, é um documento interessantíssimo, de valor inestimável, da gênese de um dos artistas mais discutidos e influentes da era de ouro das gravadoras, profundamente inquieto e sempre original. Completam o disco quatro prelúdios e fugas do segundo livro de O Cravo Bem Temperado.
J. S. Bach (1685-1750) Variações Goldberg, BWV 988
1 a 32 – Ária e 30 variações
O Cravo Bem Temperado, vol. II
33, 34 – Prelúdio e Fuga no. 14, em fá sustenido menor, BWV 883
35, 36 – Prelúdio e Fuga no. 7, em mi bemol maior, BWV 786
37, 38 – Prelúdio e Fuga no. 22, em si bemol menor, BWV 891
39,40 – Prelúdio e Fuga no. 9, em mi maior, BWV 878
Glenn Gould, piano
Transmissão radiofônica de recital do dia 21 de junho de 1954, em Toronto, no Canadá.
Minha geração e a anterior foram muito marcadas pelo pianista Glenn Gould (1932-1982). Eu, nascido em 1957, já nos anos 70 queria ouvir as coisas em instrumentos originais –, mas era impossível não considerar a qualidade e as manias de um gênio como Gould. Ele acentuava Bach de um modo diferente, mais inteligente, e sua passagem de 50 anos pelo mundo foi um vendaval. Ele abandonou as apresentações ao vivo em 1964, dedicando-se, desde então, somente às gravações em estúdio, com um estilo de tocar muito peculiar, às vezes excêntrico, mas jamais contornável. Foi discutidíssimo e criava polêmica onde ia ou chegava através de suas interpretações. Era canhoto — o que talvez explique a perfeição implacável de seu ritmo — e tinha uma habilidade talvez só comparável às de Martha Argerich e de Yuja Wang. Mas, contrariamente às citadas, tudo em Gould é conceitual, ele sempre traz novidades, por vezes muito brilhantes e que influenciaram muita gente. Também pode ser irritante. Muitas de suas gravações são tão idiossincráticas que são difíceis de ouvir, a não ser que você seja uma pessoa como eu, que gosta de observar fascinado até onde alguém pode ir. Ele ultrapassava quaisquer limites. Sua gravação das sonatas para piano de Mozart é um exemplo. Ele as gravou por obrigação contratual, mas sua antipatia por Mozart é evidente. Algumas delas ele toca muito suavemente, criando um romantismo que não é de Mozart e que dá vontade de rir, outras ele mutila acelerando tudo como uma caixinha de música alucinada. Tudo muito perfeito, mas feito de maneira voluntariamente ruim. Era sim um gênio atrevido. Mas quando é bom, ele é muito, muito bom. Gould pode ser surpreendente, poético e muito inpirador. Ouça sua gravação do Prelúdio em Dó Sustenido Maior, BWV 872 do Livro II do Cravo Bem Temperado (E sim, é Glenn que você pode ouvir cantando ao fundo!). É isso que torna Glenn Gould um enigma, um contraste inteiro. E muito digno de ser explorado. Como esta gravação estava há muito tempo sem links funcionando e, pior, dividida em dois posts, aqui vai uma revalidação com cara de curadoria, pois sem Gould não dá para ficar.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): O Cravo bem temperado, Livros I e II, BWV 846-893 (Gould, piano)
Excelente CD da Zig-Zag Territoires. Destaque para a capa e os cadernos internos, verdadeiras obras de arte desta pequena gravadora francesa. Em registro de 2005, a para mim desconhecida Blandine Rannou dá um show num repertório de difícil abordagem, pois as Toccatas ora parecem improvisações, ora peças de tio Bux, ora movimentos das Suites Francesas. É coisa muito séria e já vi gente graúda se atrapalhando com elas. Têm momentos de profunda indireção e depois arremetem. Mas Mlle. Rannou entendeu-as perfeitamente com elas e nos dá um belo recital. Num repertório onde Glenn Gould sempre será referência, a francesa acrescenta — além do cravo — temperos bem diversos dos apresentados pelo grande canadense.
J. S. Bach (1685-1750) – Toccatas para cravo completas, BWV 910-916 (Blandine Rannou)
1 Toccata for keyboard in F sharp minor, BWV 910
2 Toccata for keyboard in G minor, BWV 915
3 Toccata for keyboard in D major, BWV 912
4 Toccata for keyboard in E minor, BWV 914
5 Toccata for keyboard in C minor, BWV 911
6 Toccata for keyboard in D minor, BWV 913
7 Toccata for keyboard in G major, BWV 916
Hoje é o dia dos 340 anos de nascimento do maior compositor de todos os tempos, do GOAT. Não poderíamos deixar a data passar em branco. Então, resolvemos partir para o ataque de uma forma diferente. Escolhemos um dos gêneros principais e mais esquecidos de sua obra. Pois o órgão é uma coisa tão fora de moda que a gente esquece que era o instrumento preferido de Bach. É imensurável o que se perde relegando as obras de Sebastião Ribeiro para órgão a um segundo ou terceiro plano. Reduzir sua obra para o instrumento à Toccata & Fuga em Ré Menor, BWV 565, deveria ser crime inafiançável.
As obras para órgão de Johann Sebastian Bach representam um dos pilares da música ocidental e são essenciais tanto para a música sacra e secular quanto para a evolução da técnica e do repertório do instrumento. Bach, que foi um virtuose do instrumento, assim como outro grande compositor, Bruckner, além de profundo conhecedor da construção e da sonoridade do órgão. Compôs uma vasta coleção de peças que abrangem diferentes formas e estilos, consolidando o instrumento como um veículo para expressão artística, espiritualidade e inovação técnica. Bach não apenas dominou as formas tradicionais da música para órgão, como o prelúdio, a fuga e o coral, mas também expandiu os limites do instrumento em termos de harmonia, contraponto e uso do pedal. Sua música exige do organista uma grande destreza técnica e uma compreensão profunda das texturas polifônicas. Muitas das obras para órgão de Bach foram compostas para o contexto da igreja luterana, servindo como acompanhamento para o culto e reforçando a conexão entre música e fé. Seus prelúdios corais e fantasias sobre corais são exemplos de como ele transformava melodias religiosas simples em peças de profunda expressividade e complexidade contrapontística. Bach escreveu diversas obras que se tornaram marcos na literatura para o órgão, incluindo a Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565 (uma das peças mais conhecidas da música ocidental, famosa pelo impacto dramático e virtuosismo), vários Prelúdios e Fugas para órgão (obras que exploram o contraponto e a riqueza harmônica do instrumento), a Passacaglia e Fuga em Dó Menor, BWV 582 (uma das mais impressionantes variações sobre um baixo ostinato, demonstrando o domínio estrutural de Bach). A música para órgão de Bach influenciou gerações de compositores, de Mendelssohn a Reger e até no desenvolvimento da música romântica e contemporânea para o instrumento. Sua abordagem técnica e expressiva continua sendo uma referência para organistas e um desafio fascinante para intérpretes até hoje. As obras para órgão de Bach são uma síntese da genialidade musical barroca, combinando estrutura rigorosa, profundidade emocional e um domínio absoluto do instrumento. Elas não apenas marcaram a história da música, mas deveriam seguir vivas em concertos e celebrações litúrgicas ao redor do mundo, reafirmando a atemporalidade do seu legado.
Helmut Walcha (1907 – 1991) foi um organista , cravista, professor e compositor alemão especializado nas obras dos mestres barrocos holandeses e alemães. Cego desde a adolescência, ele é conhecido principalmente por esta série que ora vos posto, tocada inteiramente de memória. Nascido em Leipzig, Walcha ficou cego aos 19 anos após vacinação contra varíola. Apesar de sua deficiência, ele entrou no Conservatório da cidade e se tornou assistente de Günther Ramin na Thomaskirche (posição ocupada pelo próprio Bach). Em 1929, Walcha aceitou uma posição em Frankfurt na Friedenskirche e permaneceu lá pelo resto de sua vida. De 1933 a 1938, ele lecionou no Conservatório Hoch. Em 1938, foi nomeado professor de órgão na Musikhochschule em Frankfurt e organista da Dreikönigskirche em 1946. Ele se aposentou das apresentações públicas em 1981 e morreu em Frankfurt. Walcha gravou as obras completas para teclado solo de Bach duas vezes, uma vez em mono (1947–52) e novamente em estéreo de 1956 a 1971. O primeiro ciclo (mono) foi remasterizado digitalmente e relançado como um conjunto de 10 CDs em caixa. Este último ciclo estéreo (lançado em 10/09/2001) foi remasterizado e relançado em uma caixa de 12 CDs — a mesma deste post. Esta edição também contém a gravação de sua própria conclusão da última peça de A Arte da Fuga.
.oOo.
Bach, Handel e Scarlatti nasceram em 1685. Handel em 23 de fevereiro, Bach em 21 de março, Scarlatti em 26 de outubro.
São três gigantes e o fato de terem nascido no mesmo ano já é coincidência suficiente. Bem que Rameau (1683) e Vivaldi (1678) poderiam ter esperado. Bem, mas isso talvez mudasse bastante a história da música, pois Bach foi muito influenciado pelo Prete Rosso (Padre Ruivo).
Vamos procurar mais coisas em comum entre nosso grande trio de compositores? O trio de 1685 foram figuras centrais do período barroco, contribuindo significativamente para a história e o repertório da arte musical e de meu período musical preferido, o barroco. Cada um à sua maneira e segundo o ambiente em que viveu, os três moldaram a estética e as técnicas musicais da época. Bach ficou conhecido tanto por suas obras sacras, quanto por sua música instrumental, incluindo aí obras que poderíamos chamar de conceituais. Handel tem sua música instrumental, mas destacou-se muito mais nas óperas e nos oratórios, enquanto Scarlatti foi um pioneiro da sonata para teclado, especialmente no cravo. Por obrigações empregatícias escreveu mais de 500 sonatas para cravo.
Outro ponto em comum entre eles é a influência italiana. O napolitano Scarlatti naturalmente não ficaria livre dela e incorporou o estilo italiano em suas obras, claro. O super estudioso Bach estudou e adaptou técnicas italianas, especialmente de Vivaldi, em suas composições. E Handel, alemão como Bach, passou boa parte de sua carreira na Itália e na Inglaterra, absorvendo e transformando o estilo italiano em suas óperas e oratórios. Aliás, as Cantatas Italianas de Handel, escritas em sua juventude na Itália, são esplêndidas!
Mas há mais. Bach, Handel e Scarlatti eram todos exímios tecladistas. Bach era respeitadíssimo como organista e cravista, Handel destacou-se como cravista, e Scarlatti foi um dos maiores virtuoses do instrumento em sua época. Suas obras para teclado continuam sendo pilares do repertório até hoje.
Aparentemente, os três nunca se encontraram pessoalmente, mas há várias lendas e talvez uma tentativa real de encontro. A principal lenda: Handel e Scarlatti supostamente competiram em um “duelo” de cravo em Roma, onde a turma do deixa disso declarou Scarlatti superior ao cravo e Handel no órgão. Um empate real ou arranjado? Enquanto eles duelavam, Bach devia estar bebendo cerveja ou brigando com seus empregadores, mas era um admirador de Handel e diz-se que tentaram entrar em contato, sem sucesso.
Como já disse, os três compositores trabalharam tanto com música sacra quanto profana. Bach é conhecido por suas obras sacras e também pela secular. Handel equilibrou óperas e oratórios, ficando mais na área da música vocal. Já Scarlatti foi muito mais focado na música instrumental, mas também compôs obras vocais sacras.
Outra coincidência é que os três morreram em um intervalo relativamente curto de tempo: Scarlatti em 1757, Handel em 1759 e Bach em 1750. Dá pra dizer que a período barroco é finalizado com suas mortes.
A última coincidência é triste e exclui Scarlatti. Bach e Handel, quando velhos, passaram a sofrer de catarata e foram operados por John Taylor (1703–1770). Pois bem, este médico charlatão britânico — doutor em autopromoção — cegou Bach e Handel, entre muitos outros. Taylor era um notório farsante. Ambos os compositores estavam com dificuldades de visão, mas depois das “cirurgias” de Taylor, ficaram irremediavelmente cegos. Taylor é famoso. Pesquisem.
Mas hoje é dia do nascimento de Bach. E pergunto: afinal, Bach nasceu em 21 ou 31 de março de 1685? No dia 21. Vamos falar de 1582? Naquele ano, o calendário gregoriano foi introduzido em alguns países da Europa, não em todos. A Itália, a Espanha, Portugal e a Polônia, os mais católicos, aceitaram a mudança ditada pela igreja, o resto não. Só depois é que todos os outros países aderiram. O 21 de março de 1685 da Alemanha não era o mesmo 21 de março de 1685 na Itália, Espanha etc. Havia 10 dias de diferença. O dia em que Bach nasceu foi “chamado” de 21 de março na Alemanha, onde eles ainda estavam usando o calendário juliano. Mas Bach nasceu num 31 de março, considerando o calendário que todos usam hoje, o gregoriano. O que vale? Ora, segundo os historiadores, vale o que está escrito lá na igreja onde Johann Sebastian Bach foi registrado. Vale o 21 de março. Perguntem ao Francisco Marshall que ele confirmará.
Da mesma forma, é muitas vezes dito que Shakespeare e Cervantes morreram exatamente no mesmo dia, 23 de abril de 1616. A rigor, não é verdade. As mortes foram separadas por 10 dias. A de Shakespeare ocorreu em 23 de abril de 1616 (juliano), que equivalente hoje a 3 de maio (gregoriano). A de Cervantes aconteceu no dia 23 gregoriano. Mas os historiadores dizem que o que vale é o que está escrito, então ambos morreram em 23 de abril, mas com uma diferença de dez dias. Então, eles morreram no mesmo dia, mas não ao mesmo tempo… Vá entender!
O que é certo é que podemos comemorar o(s) aniversário(s) de Bach, nosso maior ídolo, com (muita) cerveja. Bach a amava e era também uma questão de segurança, de saúde. Dizem que ele a produzia em quantidades industriais em sua própria casa. Mas esta é uma história pra a gente resolver pessoalmente, né?
J. S. Bach (1685-1750): Integral das Obras para Órgão (12 CDs – Walcha)
Toccata & Fugue In D Minor, BWV 565
1-1 Toccata: Adagio 2:38
1-2 Fuge 6:52
Toccata & Fugue In F Major, BWV 540
1-3 Toccata 9:33
1-4 Fuge 5:39
Toccata & Fugue BWV 538 ”Dorian”
1-5 Toccata 6:04
1-6 Fuge 7:08
Toccata, Adagio And Fugue In C Major, BWV 564
1-7 Toccata 5:24
1-8 Adagio 4:36
1-9 Fuge 5:11
Fantasia & Fugue In G Minor, BWV 542
1-10 Fantasia 6:11
1-11 Fuge 6:48
Prelude & Fugue In C Major, BWV 531
5-1 Praeludium 2:26
5-2 Fuga 4:23
Prelude & Fugue In E Minor, BWV 533
5-3 Praeludium 1:59
5-4 Fuga 2:22
Prelude & Fugue In D Major, BWV 532
5-5 Praeludium 4:33
5-6 Fuga 6:07
Prelude & Fugue In G Major, BWV 550
5-7 Praeludium 2:32
5-8 Fuga 4:17
Prelude & Fugue In D Minor, BWV 539
5-9 Praeludium 2:19
5-10 Fuga 5:39
Prelude & Fugue In A Minor, BWV 551
5-11 Praeludium 2:08
5-12 Fuga 3:15
5-13 Fugue On A Theme By Giovanni Legrenzi In C Minor, BWV 574
Composed By [Theme] – Giovanni Legrenzi
7:35
5-14 Fugue On A Theme By Arcangelo Corelli In B Minor, BWV 579
Composed By [Theme] – Arcangelo Corelli
5:52
Prelude & Fugue In G Minor, BWV 535
6-1 Praeludium 3:11
6-2 Fuga 4:27
6-3 Fugue In G Minor, BWV 578 4:07
6-4 Pastorale In F Major, BWV 590 12:17
6-5 Canzona In D Minor, BWV 588 6:00
6-6 Allabreve In D Major, BWV 589 4:50
Four Duettos From “Part III Of The Clavier-Übung”
6-7 Duetto I In E Minor, BWV 802 3:11
6-8 Duetto II In F Major, BWV 803 4:00
6-9 Duetto III In G Major, BWV 804 3:07
6-10 Duetto IV In A Minor, BWV 805 3:05
6-11 Contrapuntcus 18 In D Minor, From “The Art Of The Fugue”, BWV 1080
Composed By [Completed by] – Helmut Walcha
10:37
Orgelbüchlein BWV 599-644
7-1 Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 599 1:48
7-2 Gott, Durch Deine Güte BWV 600 1:10
7-3 Herr Christ, Der Ein’ge Gottes Sohn BWV 601 1:56
7-4 Lob Sei Dem Allmächtigen Gott BWV 602 0:50
7-5 Puer Natus In Bethlehem BWV 603 1:01
7-6 Gelobet Seist Du, Jesu Christ BWV 604 1:25
7-7 Der Tag, Der Ist So Freudenreich BWV 605 1:46
7-8 Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her BWV 606 0:40
7-9 Vom Himmel Kam Der Engel Schar BWV 607 1:09
7-10 In Dulci Jubilo BWV 608 1:41
7-11 Lobt Got, Ihr Christen, Allzugleich BWV 609 0:51
7-12 Jesu, Meine Freude BWV 610 2:41
7-13 Christum Wir Sollen Loben Schon BWV 611 2:01
7-14 Wir Christenleut BWV 612 1:25
7-15 Helft Mir, Gottes Güte Preisen BWV 613 1:05
7-16 Das Alte Jahr Vergangen Ist BWV 614 2:12
7-17 In Dir Ist Freude BWV 615 2:49
7-18 Mit Fried Und Freud Ich Fahr Dahin BWV 616 2:21
7-19 Herr Gott, Nun Schleuß Den Himmel Auf BWV 617 2:29
7-20 O Lamm Gottes, Unschuldig BWV 618 3:54
7-21 Christe, Du Lamm Gottes BWV 619 1:27
7-22 Christus, Der Unst Selig Macht BWV 620 2:19
7-23 Da Jesus An Dem Kreuze Stund BWV 621 1:26
7-24 O Mensch, Bewein’ Dein’ Sünde Groß BWV 622 4:34
7-25 Wir Danken Dir, Herr Jesu Christ BWV 623 1:13
7-26 Hilf Gott, Daß Mir’s Gleinge BWV 624 1:33
7-27 Christ Lag In Todesbanden BWV 625 1:18
7-28 Jesus Christus, Unser Heiland BWV 626 1:00
7-29 Christ Ist Erstanden BWV 627 4:16
7-30 Erstanden Ist Der Heil’ge Christ BWV 628 0:43
7-31 Ercheinen Ist Der Herrliche Tag BWV 629 1:10
7-32 Heut’ triumphiert Gottes Sohn BWV 630 1:32
7-33 Komm, Gott Schöpfer, Heiliger Geist BWV 631 0:53
7-34 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend BWV 632 1:10
7-35 Liebster Jesu, Wir Sind Hier BWV 633 1:50
7-36 Dies Sind Die Heil’gen Zehn Gebot BWV 635 1:26
7-37 Vater Unser Im Himmelreich BWV 636 1:30
7-38 Durch Adams Fall Ist Ganz Verderbt BWV 637 2:04
7-39 Es Ist Das Heil Uns Kommen Her BWV 638 1:06
7-40 Ich Ruf’ Zu Dir, Herr Jesu Christ BWV 639 2:11
Orgelbüchlein (cont.)
8-1 In Dich Hab Ich Gehoffet, Herr BWV 640 1:08
8-2 Wenn Wir In Höchsten Nöten Sein BWV 641 1:47
8-3 Wer Nur Den Lieben Gott Läßt Walten BWV 642 2:06
8-4 Alle Menschen Müssen Sterben BWV 643 1:34
8-5 Ach Wie Nichtig, Ach Wie Flüchtig BWV 644 0:51
Chorale Settings
8-6 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend BWV 709 2:53
8-7 Herzlich Tut Mich Verlangen BWV 727 2:18
Part III Of The Clavier-Übung (“Organ-Mass”)
8-8 Prelude In E Flat Major, BWV 552/1 9:26
Chorale Settings
8-9 1. Kyrie, Gott Vater In Ewigkeit BWV 669 3:05
8-10 2. Christe, Aller Welt Trost BWV 670 4:01
8-11 3. Kyrie, Gott Heiliger Geist BWV 671 4:36
8-12 4. Kyrie, Gott Vater In Ewigkeit BWV 672 1:32
8-13 5. Christe, Aller Welt Trost BWV 673 1:20
8-14 6. Kyrie, Gott Heiliger Geist BWV 674 1:26
8-15 7. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 675 3:21
8-16 8. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 676 4:56
8-17 9. Fughetta Super: Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 677 1:10
8-18 10. Dies Sind Die Heil’gen Zehen Gebot BWV 678 4:31
8-19 11. Fughetta Super: Dies Sind Die Heil’gen Zehen Gebot BWV 679 2:11
8-20 12. Wir Glauben All An Einen Gott BWV 680 3:25
8-21 13. Fughetta Super: Wir Glauben All An Einen Gott BWV 681 1:14
8-22 14. Vater Unser Im Himmelreich BWV 682 6:22
8-23 15. Vater Unser Im Himmelreich BWV 683 1:41
9-1 16. Christ Unser Herr Zum Jordan Kam BWV 684 5:22
9-2 17. Christ Unser Herr Zum Jordan Kam BWV 685 1:14
9-3 18. Aus Tiefer Not Schrei Ich Zu Dir BWV 686 5:26
9-4 19. Aus Tiefer Not Schrei Ich Zu Dir BWV 687 4:32
9-5 20. Jesus Christus, Unser Heiland BWV 688 4:32
9-6 21. Fuga Super: Jesus Christus, Unser Heiland BWV 689 3:58
9-7 Fugue In E Flat Major, BWV 552/2 7:25
Chorale Settings
9-8 Fuga Sopra Il Magnificat BWV 733 4:36
9-9 Nun Freut Euch, Lieben Christen G’mein, Oder: Es Ist Gewißlich An Der Zeit BWV 734 2:22
9-10 Fuga Sopra: Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her BWV 700 2:23
Canonic Varietions On The Christmas Hymn “Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her” BWV 769
9-11 Variatio 1: Nel Canone All’ottava 1:29
9-12 Variatio 2: Alio Modo, Nel Canone Alla Quinta 1:26
9-13 Variatio 3: Canone Alla Settima 2:20
9-14 Variatio 4: Per Augmentationem, Nel Canone All’ottava 2:51
9-15 Variatio 5: L’altra Sorte Del Canone Al Rovescio: 1) Alla Sesta, 2) Alla Terza, 3) Alla Seconda E 4) Alla Nona 3:00
Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her, Bwv 769
9-16 Chorale “An Wasserflüssen Babylon” BWV 653b 4:51
9-17 Chorale Setting “Valet Will Ich Dir Geben” BWV 736 4:09
Eighteen Chorales Of Diverse Kinds
10-1 1. Fantasia Super: Komm, Heiliger Geist BWV 651 6:01
10-2 2. Komm, Heiliger Geist BWV 652 6:48
10-3 3. An Waserflüssen Babylon BWV 653 5:11
10-4 4. Schmücke Dich, O Liebe Seele BWV 654 7:32
10-5 5. Trio Super: Her Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend BWV 655 3:57
10-6 6. O Lamm Gottes, Unschuldig (3 Versus) BWV 656 8:00
10-7 7. Nun Danket Alle Gott BWV 657 4:41
10-8 8. Von Gott Will Ich Nicht Lassen BWV 658 3:07
10-9 9. Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 659 3:43
10-10 10. Trio Super: Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 660 3:20
10-11 11. Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 661 2:56
10-12 12. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 662 5:26
10-13 13. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 663 7:23
10-14 14. Trio Super: Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 664 5:16
Estas obras, que costumam ser interpretadas ao alaúde ou transcritas para o violão, aqui as ouvimos no curioso e quase esquecido instrumento Lautenclavicymbel, ou Lauteklavier, ou ainda Lute-Harpsichord: o Cravo-Alaúde. Para nós e nossos tempos um exótico instrumento, semelhante a uma grande tartaruga emborcada e dotada de teclado; as cordas de tripa e sonoridade de um alaúde com maior projeção sonora e timbre particular. Embora o mestre Johann Sebastian tivesse em seu círculo de amigos o grande alaudista e compositor Silvius Leopold Weiss e que tenha composto para o seu encantador instrumento, sabe-se também que Bach possuía um Cravo-Alaúde e por ele tinha particular apreço. Embora não tenhamos registros precisos sobre a destinação das suas peças hoje interpretadas ao alaúde, muito possivelmente algumas poderiam ter sido pensadas para aquele originalíssimo cordofone; o que a presente gravação só vem a reforçar, pelo caráter de algumas das obras, a exemplo da Suíte em Dó Menor BWV 997, cujo impetuoso Prelúdio e a extraordinária e rara Fuga Da Capo nos apontariam uma possível concepção para o teclado. Ressaltemos também a impressionante Sarabande desta Suíte, pois sua melodia é similar à do coral que conclui a Paixão Segundo São Mateus, só que uma terça menor abaixo.
Das poucas tentativas de se reconstruir e gravar num Alaúde-Cravo, um dos mais bem sucedidos resultados (para mim o melhor resultado) é o instrumento construído pelo musicista húngaro Gergely Sárközy, baseado em antigas cartas de lutenaria. Seu instrumento produz uma sonoridade bela, rica, encorpada e ao mesmo tempo suave. Quem for purista e tiver conhecido estas obras ao alaúde ou violão em interpretações ‘bem comportadas’, talvez venha a desdenhar, pois Sárközy interpreta com acentuada expressão e improvisa onde encontra espaço. Mas improvisa muito bem e logra convencer (o que nem todo intérprete de música barroca que improvisa consegue, soando às vezes engessado). Sárközy tem bom gosto e sua interpretação emociona. Pelo menos a mim vem emocionando há muito, que conheci a presente gravação do selo Hungaroton nos tempos do vinil (e sob estas pautas muitas garrafas passaram).
Preciso agora dizer que esta é a primeira postagem que faço no PQP Bach, um oasis de cultura e beleza nesses tempos do cólera. Fico enaltecido e grato pelo convite dos amigos integrantes dessa Távola Musical. Espero partilhar muito mais, retribuindo as felicidades que têm nos trazido com tanta generosidade e amor à música. Sendo assim uma primeira postagem, escolhi o nosso bom Pai João Sebastião para começar com sua bêncão.
Bach – Suites for Lute-Harpsichord – Gergely Sarkozy
1 Suite in E minor BWV 996 Praeludio. Passagio – Presto
2 Allemande
3 Courante
4 Sarabande
5 Bourree
6 Gigue
7 Choral Preludes from the Kirnberg Collection BWV 690 (b)
8 BWV 691
9 BWV 690
10 Suite in C minor BWV 997
11 Fuga
12 Sarabande
13 Gigue
14 Double
ESTA É A POSTAGEM DE NÚMERO 8000 DO BLOG PQP BACH.
8000 !!!
A cantata Ich habe genug, BWV 82, de J. S. Bach, expressa o anseio íntimo de São Simeão pela salvação. A cantata foi escrita em 1727 para a Festa da Purificação da Virgem Maria, que aconteceu em 2 de fevereiro. É para um(a) cantor(a) solo e prescinde do coro. Seu libreto anônimo concentra-se em Simeão que, depois de ver o menino Jesus no templo, não precisa mais da vida terrena. E diz: “Ich habe genug” (já tive o bastante).
Em seu brilhante estudo sobre Bach, John Eliot Gardiner diz que a teologia da época encarava o mundo como “um hospício povoado por almas doentes cujos pecados apodrecem como furúnculos em supuração e excrementos amarelos”. Mas, no BWV 82, Bach radicalmente nos permite aspirar a sermos anjos. A morte não é transformação ou punição, é missão cumprida, é uma boa noite de sono ou uma alegre viagem para casa. Anjos não somos, mas por 25 minutos somos sim. Os sons das palavras do texto anônimo são transformados em lindas melodias, mas a realização mais significativa é a de que a melodia e a instrumentação transcendem totalmente o texto.
O formato da cantata é simples: um cantor — Bach criou versões para soprano, mezzo-soprano e baixo-barítono — e três árias conectadas por dois recitativos curtos. Um pequeno conjunto de cordas o acompanha. Um oboé solo (ou flauta, na versão soprano) faz girar melodias acrobáticas fazendo um sofisticado contraponto à linha vocal. Sobre as cordas suaves, a ária de abertura começa com o oboé ou flauta, introduzindo a frase melódica de cinco notas que carregará as palavras Ich habe genug.
Bach não está nos dizendo isso por palavras. Ele não está explicitando nada. Nem está, por mais que pareça, revelando as emoções carregadas no texto. Ele está nos levando pela mão a algum lugar. A suposta tarefa da ária de canção de ninar Schlummert ein (adormeça) era representar a morte como sono. Em vez disso, Bach produz um milagre musical. Para que não nos leve a dormir, Bach produz uma espécie de estado de reverência. O sono, então, torna-se não a morte, mas uma visão fugaz da morte. É por isso que a ária final curta e alegre pode ser escandalosamente viva.
Ich habe genug veio logo depois que Bach se cansou de cantatas para funerais. Aliás, a morte foi sua companheira constante. Seus pais morreram quando ele era menino. Sua primeira esposa morreu jovem. Ele sofreu a morte de muitos de seus 20 filhos, incluindo a de um filho de seis meses antes de escrever o BVW 82. A essa altura, Bach havia deixado a tarefa hercúlea de escrever cantatas sem parar, para produzi-las apenas ocasionalmente. Mas o BWV 82 parece ser uma questão pessoal e Bach produziu um total de seis versões, a última em 1748, dois anos antes de sua própria morte.
O título do CD é Ich bin vergnugt (Estou contente). Refere-se à cantata Ich bin vergnugt mit meinem Glucke (Estou contente com minha felicidade), BWV 84, mas também corresponde inteiramente aos sentimentos da cantora, a austríaca Miriam Feuersinger, que está realizando um desejo antigo com este programa. Ela apresenta as três mais belas cantatas escritas por Johann Sebastian Bach para soprano solo. Já a cantata Jauchzet Gott in allen Landen BWV 52 é um hino de louvor operístico e virtuoso que impõe altas exigências técnicas ao intérprete. Miriam Feuersinger é acompanhada com sensibilidade pelo Capricornus Consort Basel, Com sua voz clara, ela nos deixa sentir seu vergnugen em cada nota.
Junto com o trio de cantatas vêm uns extras nada desprezíveis!
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 51, 82 & 84 (Feuersinger, Capricornus Consort Basel)
Ich Habe Genug, BWV 82
1 I. Ich Habe Genug (Aria) 7:00
2 II. Ich Habe Genug (Recitativo) 1:17
3 III. Schlummert Ein, Ihr Matten Augen 8:43
4 IV. Mein Gott! Wenn Kömmt Das Schöne 0:51
5 V. Ich Freue Mich Auf Meinen Tod 4:01
Trio Sonata In G Major, BWV 1038
6 I. Largo 3:14
7 II. Vivace 1:06
8 III. Adagio 2:03
9 IV. Presto 1:31
Ich Bin Vergnügt Mit Meinem Glücke, BWV 84
10 I. Ich Bin Vergnügt Mit Meinem Glücke 6:38
11 II. Gott Ist Mir Ja Nichts Schuldig 1:45
12 III. Ich Esse Mit Freuden Mein Weniges Brot 4:57
13 IV. Im Schweiße Meines Angesichts 0:55
14 V. Ich Leb Indes In Dir Vergnüget (Transcr. For Soprano & Strings) 1:02
15 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend, BWV 709 (Transcr. P. Barczi For Strings) 2:50
16 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend, BWV 655 (Transcr. P. Barczi For Strings) 3:07
Jauchzet Gott In Allen Landen, BWV 51
17 I. Jauchzet Gott In Allen Landen! 4:38
18 II. Wir Beten Zu Dem Tempel An 2:21
19 III. Höchster, Mache Deine Güte 4:40
20 IV. Sei Lob Und Preis Mit Ehren 3:42
21 V. Alleluja! 2:22
Ontem voltei desanimado das compras. O preço do pacote de meio quilo de café da marca que costumo comprar rompeu a barreira dos 30 e parece querer igualar-se ao preço do azeite. Pelo jeito, logo vai romper a barreira do som e outras barreiras. Vamos experimentar outras marcas, espero evitar pelo menos aquelas que tem gosto do café da repartição.
Ton tentando avistar o pessoal do PQP Bach na sala de entrevistas do Amstel Amsterdam Hotel
Lembrei-me do pobre pai da Lieschen que briga com a filha, grande amante e consumidora de café. Assim, para retomar o ânimo fui buscar a Cantata do Café, composta pelo padroeiro do blog para o famoso Concerto do Café Zimmermann, lá de Leipzig. Escolhi esta gravação com a Orquestra Barroca de Amsterdã regida por Ton Koopman e com vozes excelentes como a de Klaus Mertens e Anne Grimm, que fazem pai e filha na Cantata do Café.
Comentário do site da Presto Cassics: Lest it be thought that all Bach’s cantatas are strait-laced manifestations of religious piety (however melodically varied), Ton Koopman and the Amsterdam Baroque Orchestra here give spirited performances of two of his most famous (and indeed most secular) secular cantatas. The Coffee cantata celebrates the addictive delights of the then relatively new, fashionable drink, while the Peasant, using plenty of rustic Upper Saxon dialect, is a hearty celebration of all things rural.
Para que não se pense que todas as cantatas de Bach são manifestações puritanas de piedade religiosa (por mais variadas que sejam as melodias), Ton Koopman e a Amsterdam Baroque Orchestra aqui dão performances espirituosas de duas de suas mais famosas (e de fato mais seculares) cantatas seculares. A cantata Coffee celebra as delícias viciantes da bebida então relativamente nova e da moda, enquanto a Peasant, usando bastante dialeto rústico do Alto Saxão, é uma celebração calorosa de todas as coisas rurais.
‘Somente os extremamente sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam’.
Confúcio
Nas mudanças é impossível não viver alguns momentos de nostalgia, de lembranças, mesmo algumas não muito boas. Fotos empalidecidas, cartas (houve um tempo em que escrevíamos cartas), chaves não sei mais de onde… Eu mudei muitas vezes (de residência, só para deixar claro…) e estou me preparando para mais uma mudança e espero que esta seja a penúltima.
Entre as muitas coisas que estou desentocando, para embalar ou passar adiante, algumas ainda estavam em caixas desde a mudança anterior, há muitos discos, alguns de música de Bach para teclado, interpretada ao piano.
Foi assim que cheguei a este da postagem, uma verdadeira maravilha. Ouvi-lo novamente, depois de tanto tempo, é muito bom. Duas suítes, uma inglesa e uma francesa (a quinta, ótima), uma toccata e o capricho do fratello diletíssimo, com a trompa da posta e tudo. Estas últimas peças da juventude do João Sebastião Ribeiro.
O sorriso de WK sempre foi bem cativante…
Wilhelm Kempff era o pianista ‘oficial’ da DG e suas gravações de Beethoven, Schubert e Schumann valem a pena serem investigadas. Mozart também estava no repertório, mas assim como no caso de Bach, nada de obras completas, apenas algumas peças escolhidas. Mas essas que ele gravou vão lhe dar muito prazer…
Impossível ouvir apenas uma vez, aquele disco que deixa um gostinho de quero mais, viciante!
Johann Sebastian Bach (1685–1750)
Englische Suite No.3 g-moll BWV808
Prelude
Allemande
Courante
Sarabande
Les agrements de la meme Sarabanda
Gavotte I
Gavotte II
Gavotte I (da capo)
Gigue
Capriccio >>Sopra la lontananza del suo fratello dilettissimo<< B-dur BWV992
Adagio
Andante
Adagissimo
Andante con moto
Aria – Aria di postiglione
Fuga – Fuga all’imitazione della cornetta di postiglione
Wilhelm tomando um solzinho no bosque da Sede Campestre do PQP Bach, nas imediações de Potsdam
De uma crítica fácil de localizar pela net: There is also the not inconsiderable addition of the two suites, the English Suite No 3 and the French Suite No 5. Here Kempff shows crisp articulation, not over bright, never metronomic, and always gently expressive. In the Courante of the English Suite he is precise, athletic and quietly determined. In the second Sarabande he is moving without artifice and maintains proper depth of tone and clarity between hands. Listen also to the perfectly graded little stabbing left hand in the succeeding first Gavotte – unforced wit.
Sim, nova manifestação da HIPOBACHEMIA! Fazer o quê? Meu pai e alguns de meus irmãos “oficiais” estão neste disco. WF era o filho preferido, CPE era o mais talentoso. WF herdou as Cantatas. Conseguiu perder 100 delas. Grandessísimo filha-da-puta. Filha da puta metafórico, pois eu sou o filha da puta não metafórico. Além disso, dizem que tinha sérios problemas com a bebida. Como viveu então 74 anos? Dia desses, levei uma mijada de um violista por ter dito que havia pouco repertório para seu instrumento. Ele me descreveu parte da vasta obra escrita para o instrumento, donde concluí que o repertório é ainda menor do que eu imaginava. Bem, e o que dizer do oboé? Heinz Holliger ficava transcrevendo concertos para poder tocar alguma coisinha mais interessante e agora Piguet faz o mesmo com sonatas para flauta de meu pai y otras cositas más. O CD é bem bom, viram? E as as obras já apareceram neste blog nas versões originais, mas vocês sabem: são músicas nascidas no seio de minha família e tal fato sempre me corta o coração.
J.S. Bach (1685-1750) / W.F. Bach (1710-1784) / C.P.E. Bach (1714–1788): Música de Câmara para Oboé e Cravo (Piguet, Tilney)
Johann Sebastian Bach
Sonate for Oboe and Harpsichord in G minor, BWV 1030b
1. Andante
2. Siciliano
3. Presto
4. Fugue for Harpsichord in B minor, BWV 951
(on a Theme by Albinoni)
Sonate for Oboe and Harpsichord in G minor, BWV 1020
5. Allegro
6. Adagio
7. Allegro
Wilhelm Friedemann Bach
8. Polonaise for Harpsichord in E flat major, Falck 12/5
Carl Philipp Emanuel Bach
Sonate for Oboe and Continuo in G minor, Wq.135
9. Adagio
10. Allegro
11. Vivace
Truffaut criou a categoria dos Grandes Filmes Doentes. A definição desta categoria está no parágrafo a seguir. Na minha opinião, ela serve à Paixão Segundo São João, nitidamente inferior à São Mateus, mas preferida por mim e outros. Na explicação de Truffaut, troquei as palavras relativas ao cinema por outras relativas à música. Por exemplo, troquei filme por obra ou música, diretor por compositor, cinefilia por melofilia, etc. Com a palavra criminosamente alterada, deixo-vos com François Truffaut:
“Abro um parêntese para definir rapidamente o que chamo de uma “grande obra doente”. Não é senão um obra-prima abortada, um empreendimento ambicioso que sofreu erros de percurso. Esta noção só pode aplicar-se, evidentemente, a compositores muito bons, àqueles que, em outras circunstâncias, demonstraram que podem atingir a perfeição. Um certo grau de melofilia encoraja, por vezes, a preferir, na obra de um compositor, sua grande música doente à sua obra-prima incontestada. Se se aceita a ideia de que a perfeição chega, na maior parte das vezes, a dissimular as intenções, admitir-se-á que as grandes músicas doentes deixam transparecer mais cruamente sua razão de ser. Diria, enfim, que a “grande música doente” sofre geralmente de um extravasamento de sinceridade, o que paradoxalmente a torna mais clara para os aficionados e mais obscura para o público, levado a engolir misturas cuja dosagem privilegia o ardil de preferência à confissão direta.”
Esta é uma belíssima versão de minha Paixão preferida. Um timaço!
J.S. Bach (1685-1750): A Paixão segundo João, BWV 245, “A Grande Paixão Doente” (Parrott)
1-1 Part 1. No. 1. Herr, unser Herrscher 8:53
1-2 Part 1. No. 2a. Jesus ging mit seinen Jüngern / 2b. Jesum von Nazareth / 2c. Jesus spricht zu ihnen 2:18
1-3 Part 1. No. 3. O Große Lieb 0:44
1-4 Part 1. No. 4. Auf daß das Wort erfüllet würde 1:04
1-5 Part 1. No. 5. Dein Will gescheh, Herr Gott, zugleich 0:50
1-6 Part 1. No. 6. Die Schar aber und der Oberhauptmann 0:43
1-7 Part 1. No. 7. Aria. Von den Stricken meiner Sünden 4:49
1-8 Part 1. No. 8. Simon Petrus aber folgete Jesum nach 0:15
1-9 Part 1. No. 9. Aria. Ich folge dir gleichfalls 3:39
1-10 Part 1. No. 10. Derselbige Jünger war dem Hohenpriester bekannt 2:47
1-11 Part 1. No. 11. Wer hat dich so geschlagen 1:38
1-12 Part 1. No. 12a. Und Hannas sandte ihn gebunden / 12b. Bist du nicht seiner Jünger einer? / 12c. Er 2:04
1-13 Part 1. No. 13. Aria. Ach. mein Sinn 2:46
1-14 Part 1. No. 14. Petrus, der nicht denkt zurück 1:21
2-1 Part 2. No. 15. Christus, der uns selig macht 1:14
2-2 Part 2. No. 16a. Da führeten sie Jesum / 16b. Wäre dieser nicht ein Übeltäter / 16c. Da sprach PIla 4:10
2-3 Part 2. No. 17. Ach, großer König 1:30
2-4 Part 2. No. 18a. Da sprach Pilatus zu ihm / 18b. Nicht diesen, sondern Barrabam! / 18c. Barrabas ab 1:56
2-5 Part 2. No. 19. Betrachte, meine Seel 2:12
2-6 Part 2. No. 20.Mein Jesu, ach! 7:17
2-7 Part 2. No. 21a. Und die Kriegsknechte flochten eine Krone / 21b. Sei gegrüßet, lieber Jüdenkönig! 5:38
2-8 Part 2. No. 22. Durch dein Gefängnis, Gottes Sohn 0:54
2-9 Part 2. No. 23a. Die Jüden aber schrieen und sprachen / 23b. Lässet du diesen los / 23c. Da Pilatus 4:12
2-10 Part 2. No. 24. Eilt,ihr angefochtnen Seelen 3:35
2-11 Part 2. No. 25a. Allda kreuzigten sie ihn / 25b. Schreibe nicht: der Jüden König / 25c. Pilatus ant 2:02
2-12 Part 2. No. 26. In meines Herzens Grunde 0:59
2-13 Part 2. No. 27a. Die Kriegsknechte aber / 27b. Lasset uns den nicht zerteilen / 27c. Auf daß erfül 3:45
2-14 Part 2. No. 28. Er nahm alles wohl in acht 1:08
2-15 Part 2. No. 29. Und von Stund an nahm sie 1:27
2-16 Part 2. No. 30. Es ist vollbracht! 5:06
2-17 Part 2. No. 31. Und neiget das Haupt und verschied 0:19
2-18 Part 2. No. 32. Mein teurer Heiland, laß dich fragen 4:44
2-19 Part 2. No. 33. Und siehe da, der Vorhang im Tempel zerriß 0:29
2-20 Part 2. No. 34. Mein Herz, in dem die ganze Welt 0:39
2-21 Part 2. No. 35. Zerfließe, mein Herze 6:31
2-22 Part 2. No. 36. Die Jüden aber, dieweil es der Rüsttag war 2:13
2-23 Part 2. No. 37. O hilf, Christe, Gottes Sohn 1:06
2-24 Part 2. No. 38. Darnach bat Pilatum Joseph von Arimathia 2:05
2-25 Part 2. No. 39. Ruht wohl, ihr heiligen Gebeine 8:02
2-26 Part 2. No. 40. Ach Herr, laß dein lieb Engelein 2:04
Performers: Kirkby, Emma (Soprano), van Evera, Emily (Soprano), Iconomou, Panito (Alto), Covey-Crump, Rogers (Tenor), Thomas, David (Bass), Bonner, Tessa (Soprano), Fliegner, Christian (Boy Soprano), Gunther, Christian (Boy Soprano), Trevor, Caroline (Alto), Roberts, Nicholas (Tenor), Tusa, Andrew (Tenor), Charlesworth, Stephen (Bass), Grant, Simon (Bass), Daniels, Charles [Classical] (Tenor), Kooy, Peter (Bass), Tubb, Evelyn (Soprano), Cable, Margaret (Alto), Jochens, Wilfried (Tenor)
Orchestras/Ensembles: Taverner Consort, Taverner Players, Tolz Boys Choir Members
Muitos músicos dizem que A Arte da Fuga é uma daquelas obras da arte universal diante da qual só é possível calar-se. A obra seria a profissão de fé musical de meu pai, e seu conteúdo metafísico a colocaria no limiar de outro mundo. Ela seria “a abstração em música”, “a forma pura”, “um sopro de ar claro e gelado”, “uma caixa fria” repleta de invenções melódicas cheias de vida. Para muitos, a obra seria praticamente inexequível. O compositor Wolfgang Rihm escreveu: “O único espaço sonoro para a realização desta música continua sendo aquele reservado ao pensamento, situado abaixo da caixa craniana. Esse espaço, porém, é o mais amplo de todos, desde que se possa conceber em pensamento tal realidade sonora”. É algo que está lá no limite do que é música. Bach não definiu sua instrumentação e muitos acham que é algo mais para ser mais lido e admirado do que para ser ouvido. Eu não sei ler música, então só me resta ouvir e percebo que a obra é cheia de impossibilidades e arestas que vão sendo resolvidas de forma inesperada, como se a gente estivesse ouvindo um quadro de Escher. É tudo muito preciso e intrigante. Adorno chamou A Arte da Fuga de economia de motivos. para ele, o tema é esgotado até em seus mínimos componentes e disso resulta algo perfeito. A obra seria “a arte da dissecação”. O resultado é uma forma de insuperável precisão: a fuga. O cruzamento magistral da grande e pequena ordem, das grandes e pequenas formas. Com A Arte da Fuga, Johann Sebastian Bach, meu pai, teria se voltado para o passado e para o futuro. Nela, porém, o mais importante não seria a técnica, nem as leis do ofício da música, mas a expressão musical.
(Copiado, com adaptações minhas, de 48 variações sobre Bach, de Franz Rueb.)
J.S. Bach (1685-1750): A Arte da Fuga (Goebel, MAK)
1. Contrapunctus 1
2. Contrapunctus 2
3. Contrapunctus 3
4. Contrapunctus 4
5. Canon alla Ottava
6. Contrapunctus 5
7. Contrapunctus 6, a 4, in Stylo Francese
8. Contrapunctus 7, a 4, per Augmentationem et Diminutionem
9. Canon alla Duodecima in Contrapuncto alla Terza
10. Contrapunctus 9, a 4, alla Duodecima
11. Contrapunctus 10, a 4, alla Decima
12. Contrapunctus 8, a 3
13. Contrapunctus 11, a 4
14. Canon alla Duodecima in Contrapuncto alla Quinta
15. – rectus
16. – inversus
17. – rectus
18. – inversus
19. Fuga a 2 Clavicembali
20. Alio modo Fuga a 2 Clav.
21. Canon per Augmentationem in contrario motu
22. Fuga a 3 Soggetti (Contrapunctus 14)
Um cedezinho mais ou menos, daqueles de gatinhos de Bach. Trata-se de um encontro de duas grandes estrelas estadunidenses da DG — Kathleen Battle e Itzhak Perlman. O resultado é agradável. Serve também como guia para algumas boas árias de meu pai, apesar de faltarem algumas extraordinárias que são também para soprano e violino. Na verdade, achei a seleção é pra lá de estranha. Battle vai muito bem, como sempre. Perlman parece meio desconfortável, mas sai com saldo positivo. Os gatinhos são árias de Cantatas e da Missa em Si Menor que só guardam em comum o fato de serrem para soprano e violino. Para pessoas com pouca vivência bachiana, o disco pode ser legal. Pra mim, ele é meio boboca.
J.S. Bach (1685-1750): Árias para Soprano e Violino (Battle, Perlman)
1. Kantate BWV 197 No. 8: Vergnügen und Lust
2. Kantate BWV 58 No. 3: Ich bin vergnügt in meinem Leiden
3. Kantate BWV 204 No. 4: Die Schätzbarkeit der weiten Erden
4. Kantate BWV 97 No. 4: Ich traue seiner Gnade
5. Kantate BWV 115 No. 4: Bete aber auch dabei
6. Kantate BWV 171 No. 4: Jesus soll mein erstes Wort in dem neuen Jahre heißen
7. Messe h-moll, BWV 232 No. 23: Benedictus, qui venit in nomine domini
8. Messe h-moll, BWV 232, No. 5: Laudamus te
9. Kantate BWV 202 No. 5: Wenn die Frühlingslüfte streichen
10. Kantate BWV 36 No. 7: Auch mit gedämpften, schwachen Stimmen
11. Kantate BWV 187 No. 5: Gott versorgt alles Leben
12. Kantate BWV 84 No. 3: Ich esse mit Freuden mein weniges Brot
13. Kantate BWV 105 No. 5: Kann ich nur Jesum mir zum Freunde machen
Performers:
Conductor – John Nelson (5)
Orchestra – Orchestra Of St. Luke’s
Soprano Vocals – Kathleen Battle
Violin – Itzhak Perlman
Um excelente disco com vários dos Concertos para Cravo(s) de Bach, incluídas algumas transcrições que vocês, conhecedores, dirão se são de Bach ou não. Os caras de Colônia são realmente ótimos e nos deixam completamente felizes. O primeiro concerto do CD é muito mais conhecido pela versão original para violino solo e o último é mais conhecido pela versão para 3 cravos — que é terceiro concerto do CD. De resto, eu diria que futebol é bola na rede e mais meio quilo de farofa. Ah, tenho que ir na feira que está fechando. Vou logo senão minha mulher me mata.
J. S. Bach (1685-1750): Obras Orquestrais Completas (CD 4 de 8) (Cologne Chamber Orchestra, Helmut Müller-Brühl)
BACH, J.S.: Harpsichord Concertos, Vol. 4
Harpsichord Concerto in D major, BWV 1042
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Robert Hill, harpsichord
Allegro 07:25
Adagio e piano sempre 05:59
Allegro 02:48
Harpsichord Concerto in G minor, BWV 1058
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Gerald Hambitzer, harpsichord
Allegro 03:39
Andante 04:45
Allegro ma non tanto 03:48
Concerto for 3 Harpsichords in C major, BWV 1064
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Gerald Hambitzer, harpsichord
Robert Hill, harpsichord
Christoph Anselm Noll, harpsichord
Allegro 06:21
Adagio 05:18
Allegro 04:33
Concerto for Three Harpsichords in D minor, BWV 1063
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Michael Behringer, harpsichord
Robert Hill, harpsichord
Christoph Anselm Noll, harpsichord
Allegro 04:32
Alla Siciliana 04:10
Allegro 04:42
Concerto for 3 Harpsichords in D major, BWV 1064 (arr. for violins)
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Elisabeth Kufferath, violin
Christine Pichlmeier, violin
Winfried Rademacher, violin
Allegro 06:00
Adagio 05:59
Allegro 04:28
Leipzig fica a 120 quilómetros de Dresden, para onde viajou Johann Sebastian Bach em diversas ocasiões, para testar novos órgãos e onde esperava obter um rendoso emprego, que nunca veio. Mas, hoje, vamos celebrar uma viagem que ocorreu no sentido inverso, de Dresden para Leipzig.
Em 1739, Wilhelm Friedemann Bach, o filho mais velho de Johann Sebastian, foi de Dreden para Leipzig e levou junto seu amigo Sylvius Leopold Weiss assim como um de seus alunos de alaúde, Johann Kropfangs. Podemos imaginar quanta música esse encontro produziu. Essa visita foi registrada no dia 11 de agosto no diário de Johann Elias Bach, sobrinho e secretário particular de Johann Sebastian: «Hoje, algo incrível aconteceu no mundo da música: meu primo [Wilhelm Friedemann Bach] veio nos visitar e ficou por quatro semanas. Ele veio com dois alaudistas, o Sr. Weiss e o Sr. Kropfgans [seu aluno], que nos encantaram com muitos concertos».
Esta postagem reúne dois discos que, de certa forma, celebram esse encontro de músicos geniais. No disco de Diego Cantalupi e Davide Pozzi temos principalmente peças de Weiss, além de uma fuga para alaúde, de Bach. As peças são interpretadas ora ao cravo, ora ao alaúde e em certos momentos, ambos tocam juntos. Veja este lindo vídeo postado no Youtube, música primorosamente interpretada em um cenário encantador.
No disco de Alberto La Rocca e Carlo Lazari temos a Suíte SW 47, de Weiss, que deve ter sido ouvida diversas vezes nessa estadia em Leipzig, assim como a adaptação feita por Bach, acrescentando o violino sobre a transcrição para cravo. No disco ouvimos uma versão com violino e violão, arranjo feito por Alberto La Rocca.
Bach e Weiss eram amigos e se encontraram em várias ocasiões. Johann Friedrich Reichardt até os descreve desafiando um ao outro para uma competição de improvisação: ‘Qualquer um que entenda o desafio de tocar modulações harmônicas e contraponto decente no alaúde ficará surpreso e espantado ao ouvir uma testemunha ocular dizer que Weiss, o grande alaudista, competiu com J.S. Bach, o grande cravista e organista, tocando fantasias e fugas.’
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Silvius Leopold Weiss (1687-1750)
Suite in A SW47 for lute
Entrée
Currante
Rondeau
Sarabande
Allegro
Men[uet]
Alberto La Rocca guitar & arrangement
Silvius Leopold Weiss / Johann Sebastian Bach 1685-1750
A “melodia adicionada” de Bach, composta com sua habilidade sobre-humana usual, lança uma nova luz sobre a suíte original, como se a vestisse com um traje extraordinariamente elegante. A parte do violino comenta a textura original do alaúde sem sufocá-la, quase como uma improvisação livre acima do topo. Ela brinca com os vários elementos da música de Weiss, extrapolando ideias para temas, imitando-os ou simplesmente vagando livremente. A parte de Bach também é altamente imaginativa e variada em sua expressão, frequentemente adicionando encaixe rítmico complexo e virtuosismo significativo, enquanto sempre se mantém fiel às emoções dos movimentos de Weiss.
Celebre você também essa amizade!
Aproveite!
René Denon
PS: No segundo disco da postagem indicada a seguir você encontrará a versão de Bach para a Suíte do compadre Weiss, aquela denotada por BWV 1025:
Estou ouvindo todos os meus CDs. Esta série já foi postada no passado e agora deverá voltar sem prazo ou ordem. Quando postamos pela primeira vez, postamos sem texto. Devo explicar algo sobre a excelente orquestra responsável pela série. A Orquestra de Câmara de Colônia (Kölner Kammerorchester) executa principalmente música clássica e barroca, mas também é conhecida por tocar uma variedade de músicas dos séculos XIX e XX, incluindo obras contemporâneas. A orquestra utiliza um conjunto padrão de instrumentos orquestrais modernos em suas apresentações. O que achei curioso é a forma com que eles combinam práticas performáticas históricas com instrumentação contemporânea.
J. S. Bach (1685-1750): Obras Orquestrais Completas (CD 2 de 8) (Cologne Chamber Orchestra, Helmut Müller-Brühl)
Violin Concertos, BWV 1041-1043 and BWV 1052
Violin Concerto in A minor, BWV 1041
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 03:21
II. Andante 05:32
III. Allegro assai 03:36
Violin Concerto in E major, BWV 1042
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 07:14
II. Adagio 05:38
III. Allegro assai 02:44
Violin Concerto in D minor, BWV 1052
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 07:23
II. Adagio 06:10
III. Allegro 07:27
Concerto for 2 Violins in D minor, BWV 1043
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Christine Pichlmeier, violin
Lisa Stewart, violin
I. Vivace 03:36
II. Largo ma non tanto 06:24
III. Allegro 04:43