As Cantatas de Bach podem ser descritas como um dos maiores tesouros musicais da humanidade. Nas últimas décadas, elas têm recebido abordagens luxuosas com performances dirigidas por nomes como Sigiswald Kuijken, Sir John Eliot Gardiner e Ton Koopman. E as descobertas continuam. Este volume 4 do projeto de Kuijken reúne cantatas do período pós-natal, uma, a BWV16, de 1726, o restante de 1724.
A BWV16, reflete um otimismo apropriado às celebrações de Ano Novo, e o time de Kuijken tem vitalidade para manter esse clima. As outras três cantatas têm alcance emocional mais amplo e complexo. Por exemplo, a BWV153, ocupa-se da busca da fé pela perseverança.
A BWV65 foi escrita para a Festa da Epifania. No domingo seguinte, em 1724, Bach compôs a BWV154. Essa cantata é pessoal e dramática, pois trata da angústia de Maria e José quando o jovem Jesus se perdeu no templo de Jerusalém.
Essa coletânea de cantatas oferece uma experiência variada para qualquer ouvinte. E as performances e o som muito bem gravado deram-nos grande prazer auditivo.
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas: Volume 4 (Cantatas from Leipzig, 1724-6)
01-06 Herr Gott, dich loben wir, BWV16 (1726) [16:37]
07-15 Schau, lieber Gott, wie meine Feind, BWV153 (1724) [13:42]
16-22 Sie werden aus Saba alte kommen, BWV65 (1724) [15:08]
23-30 Mein liebster Jesus ist verloren, BWV154 (1724) [15:12]
Soprano: Elisabeth Hermans
Alto: Petra Noskaiová
Tenor: Jan Kobow
Bass: Jan Van der Crabben
La Petite Bande
Sigiswald Kuijken
Com esta postagem volto ao final dos anos 70, quando tive acesso a um LP duplo, presente de meu irmão, que trazia as Sinfonias de nº 8 e 9, de Beethoven. Aquela capa preta com amarelo com aquele expressivo senhor de cabelos brancos agitando os braços se tornaria um paradigma. Este velho LP esteve comigo boa parte de minha vida, mas infelizmente não o tenho mais, o tempo se encarregou de danificá-lo, a capa se deteriorou assim como aquele plástico que envolvia os LPs. Devo tê-lo vendido em algum momento de minhas diversas fases de grana curta, desempregado.
Não estou trazendo com esta postagem a sinfonia nº 8, em seu lugar temos a Abertura Coriolano. Mas a principal obra daquele velho LP duplo está ali, a maior das obras musicais já compostas e criadas pelo ser humano, a Nona Sinfonia de Beethoven. E a mesma gravação: Karajan e sua Filarmônica de Berlim, o Wiener Singverein, a Gundula Janowitz, Walter Berry, nomes que aprendi a reverenciar desde então, lembrando que eu era um jovem adolescente que entendia e conhecia pouco da vida, morando em uma pequena cidade do interior, com uma única rádio que tocava música sertaneja e os últimos sucessos da parada. Mas não posso deixar de agradecer ao seu dono a transmissão de um programa de música clássica nos domingos de noite. Ali ouvi pela primeira vez ‘Va Pensiero’, de Verdi, obra que abria e fechava o programa.
Não lembro se foi ali que ouvi a Nona Sinfonia pela primeira vez, provavelmente não. Mas foi aquele programa de rádio que me mostrou a imensidão que se abria à minha frente. E foi o velho LP com capa preta e amarela da Deutsche Grammophon que me permitiu explorar aquele mundo até então desconhecido para mim. E ouvindo novamente esta gravação depois de tantos anos, entendo o impacto que ela me causou. Não é brincadeira o que o velho Kaiser fez, usando todo o poder e recursos que tinha à sua disposição. Os tímpanos , os violoncelos e contrabaixos, os primeiros e segundo violinos, as violas, os trompetes e trompas, clarinetes, flautas, tudo está tão coeso, tão perfeito, tão compacto, que não temo em dizer que trata-se de meu disco favorito, aquele que me é realmente indispensável, que jamais deixará de estar comigo, até o meu último momento, no último suspiro de minha vida.
P.S. Lembro de que em certa ocasião fiquei sozinho em casa, meus pais provavelmente estavam trabalhando, e coloquei o velho LP no velho toca discos, e deixei no último volume. Foi uma sensação única … depois disso nunca mais tive a oportunidade de fazer isso. Alguns meses depois deste momento único me mudei da cidade, indo estudar na cidade grande. Mas aí é outra história …
1. Obertura ‘Coriolano’
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor
Symphony No. 9 in D Minor, Op. 125 “Choral”
2.1. Allegro ma non troppo, un poco maestoso 15:27
2.2. Molto vivace 11:03
2.3. Adagio molto e cantabile 16:30
2.4. Presto – 6:23
2.55. Presto – “O Freunde nicht diese Töne” – 17:35
Gundula Janowitz
Hilde Rössel-Majdan
Waldemar Kmentt
Walter Berry
Wiener Singverein
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor
Na virada do século 19 para o 20, compositores como Mahler, Scriabin e Strauss levaram a tonalidade funcional e o cromatismo aos seus limites,muitas vezes com os tons grandiloquentes de Wagner. Debussy, também expandindo as tonalidades e cromatismos, cultivou sonoridades sutis, no que muitos chamam de impressionismo.
As obras para órgão deste CD se inserem nesse contexto. César Franck, ainda no final do século XIX, pode ser considerado um precursor do debussismo ao evitar os arroubos de grandeza, mantendo um certo equilíbrio. Widor, também francês, é famoso principalmente por suas Sinfonias para Órgão que têm, ao contrário de Franck, momentos de expressão com a delicadezade um elefante, como a célebre Toccata e também o Intermezzo presente neste disco. Widor, que nunca foi um vanguardista, tocou no imenso órgão Cavaillé-Coll da igreja de Saint-Sulpice (Paris) até os 89 anos e morreu aos 93 em 1937, quando já era um dinossauro considerado hiper-antiquado por jovens como Messiaen ou Dutilleux.
Reger e Karg-Elert são os princpais compositores alemães para órgão depois da morte de Bach. O primeiro já apareceu aqui no PQPBach, o segundo faz a sua estreia hoje. Enquanto as composições de Reger são baseadas na polifonia a duas, três, quatro vozes, Karg-Elert usa harmonias mais modernas para fazer uma música que é pura expressão colorida, fazendo uso de combinações de diversos timbres como a orquestra de Mahler ou de Debussy.
No final de sua vida, na Alemanha dos anos 1920 e 30, Karg-Elert foi duramente criticado por não ser nacionalista o suficiente, com suas influências francesas e cosmopolitas. Foi até chamado de judeu, embora não fosse. Nos EUA e na Inglaterra, contudo, suas obras para órgão foram muito apreciadas:
Karg-Elert é um impressionista e colorista de grande distinção, imaginativo ao retratar uma grande variedade de sentimentos (University of Michigan, 1939)
Jehan Alain perdeu sua vida na 2ª Guerra, tendo deixado um pequeno mas importante catálogo de obras para órgão. Sua irmã, Marie-Claire Alain, foi uma das organistas francesas de maior renome no século XX.
Jean Langlais, que também estreia hoje no PQPBach, faz parte de uma longa tradição de organistas cegos que veio desde o Renascimento com o espanhol Antonio de Cabezón.
Franck, Widor, Karg-Elert, Reger, Alain e Langlais no órgão de Dordrecht
01. César Frank – Troisième Choral
02. César Frank – Prélude, Fugue et Variation
03. Charles-Marie Widor – Symphony No 6 – Intermezzo
04. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – Harmonies du soir
05. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – Clair de lune
06. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – La nuit
07. Max Reger – Toccata in d minor, Opus 59
08. Jehan Alain – Choral dorien
09. Jean Langlais – Suite Breve – I. Grand Jeux
10. Jean Langlais – Suite Brève – II. Cantilène
11. Jean Langlais – Suite Brève – III. Plainte
12. Jean Langlais – Suite Brève – IV. Dialogue sur les Mixtures
Órgão Kam (1859) da Grote Kerk, Dordrecht, Países Baixos
Margreeth de Jong – organista
A capa deste CD traz a belíssima e excelente pianista georgiana Khatia Buniatishvili deitada romanticamente em águas noturnas. Combina com Schubert, ela parece um trutão. Quer parecer Ofélia, claro. O fato é que achei o CD apenas médio. Bem, a concorrência que ela sofre é fortíssima em Schubert. Altos ou baixos, belos ou feios, mulheres ou homens, os monstros do passado recente dominam este repertório de forma completa. As gravações de Brendel e Pollini, para não ir mais longe no tempo, são referências tão fortes e Buniatishvili resolveu ser tão diferente que eu não gostei muito. Credo, os dois primeiros movimentos da Sonata 960 estão muuuuito lentos! Na contracapa do disco, ela diz que Schubert é um compositor cheio de delicadeza e feminilidade. OK, mas olha, acho que não deu certo. Não quero dizer que o CD seja ruim, apenas que outros ainda são soberanos neste repertório. Não se sabe por quanto tempo, claro. Talvez a juventude de Buniatishvili atrapalhe. Com isso, não gostaria que vocês descartassem o CD. É muito interessante a tentativa dela, mas nem sempre os experimentos são apreciados por ouvintes viciados. Ela se sai bem melhor nos Impromptus e Ständchen é uma concessão que deve servir como bis em recitais.
Franz Schubert (1797-1828): Sonata D. 960 / 4 Impromptus / Ständchen
1 Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960: I. Molto moderato 20:34
2 Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960: II. Andante sostenuto 14:31
3 Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960: III. Scherzo – Allegro vivace con delicatezza 3:44
4 Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960: IV. Allegro ma non troppo 8:32
5 4 Impromptus, Op. 90, D. 899: No. 1 in C Minor 11:09
6 4 Impromptus, Op. 90, D. 899: No. 2 in E-Flat Major 4:09
7 4 Impromptus, Op. 90, D. 899: No. 3 in G-Flat Major 6:17
8 4 Impromptus, Op. 90, D. 899: No. 4 in A-Flat Major 7:05
9 Ständchen, S. 560 (Trans. from Schwanengesang No. 4, D. 957) 7:22
O ano 1781 foi significativo na vida de Wolfgang Amadeus Mozart, então com vinte e cinco anos, no auge de seu talento. Ele deixaria definitivamente de ser um músico da corte de Salzburgo, mudando para Viena. Este também é o ano em que conhece Constanze, que viria a ser sua esposa. Mas não foi nada fácil, longe disto. Sua atitude rebelde e independente custou-lhe caro. Sem a segurança do emprego que o tornava um servidor do Arcebispo Colloredo, passou a depender do que rendesse seus concertos públicos e do que recebesse de aulas dadas, especialmente à filhas de famílias nobres.
Josephine von Auernhammer foi uma das primeiras e deve ter sido ótima aluna. É claro, ela apaixonou-se por Mozart, mas se você quer saber o resto da história, precisa ler um pouco em outras fontes… O que importa para a postagem de hoje é que Mozart compôs essa brilhante sonata, em estilo galante, para tocarem juntos. As performances de ambos foram descritas como memoráveis pelas pessoas que lá estiveram.
Como julgar a música de Mozart? Lembremos que ele compôs várias peças sob encomenda, para cumprir as obrigações impostas pelo trabalho. Havia também a necessidade de agradar o gosto da época, a partir do momento que sua subsistência passou a depender do resultado da bilheteria de seus concertos. Mas sua genialidade sempre brilhava. Ele próprio explicou em suas cartas como tratava de colocar nas obras algo que agradasse tanto aos ouvintes mais informados quanto às pessoas comuns.
Esta sonata é um ótimo exemplo. O fato de ter sido escrita para dois pianos é muito bem explorado. O primeiro movimento é repleto de trechos que se seguem encadeados uns aos outros, permitindo que cada pianista brilhe por seu turno. Depois o Andante, o mais longo movimento da sonata. Delicadeza e beleza reinam aqui, tornando este movimento em algo bem próximo do sublime. Eu sei, parece exagero, mas vá lá, confira! E para fechar a sonata, um allegro molto, no que poderia propriamente definir o que é o estilo galante. No disco, segue um andante com variações, que funciona aqui como um interlúdio, uma pausa antes da próxima peça.
Quando Mozart escreveu a sonata, em 1781, tinha ainda pela frente mais dez anos de vida. Já Schubert escreveu a sua Fantasia em fá menor, D. 940, em 1828, seu último ano de vida. A peça foi escrita em quatro movimentos, mas que são tocados em sequência, interligados, sem qualquer pausa. Schubert foi um mestre em modulações e transições, e aqui são usadas com perfeição por um artista no auge de sua criatividade. Ele já havia escrito uma Fantasia com essa característica, de movimentos interligados, a Wanderer Fantasie. Mas, enquanto que na Wanderer Fantasie, para piano solo, o elemento de virtuosismo prevalece (raro em Schubert), na Fantasia para piano a quatro mãos, prevalece o discurso musical, a alegria de fazer música ao lado de um amigo, ou amiga.
A gravação desta postagem tem Louis Lortie, pianista canadense, que na época gravava para o selo Chandos, acompanhado pela pianista Hélène Mercier. A gravação feita no Snape Maltings Concert Hall é excelente. O produtor Tim Handley fez um excelente trabalho. O som brilha quando precisa, canta e encanta também.
Há outras gravações que reunem essas peças, que podem ser exploradas, se você gostar do repertório. Vale mencionar Perahia e Lupu, num disco com exato mesmo repertório. Outras referências para a Fantasia de Schubert são Emil e Elena Gilels ou Sviatoslav Richter e Benjamin Britten. Mas, Lortie e Mercier é o que temos hoje, e já é bastante. Um disco de tirar o chapéu!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Sonata para dois pianos em ré maior, K. 448
Allegro con spirito
Andante
Allegro molto
Andante con Variações, para piano a quatro mãos, K. 501
Franz Schubert (1797 – 1828)
Fantasia em fá menor, para piano a quatro mãos, D. 940
POSTAGEM ORIGINALMENTE FEITA POR PQPBACH LÁ NO LONGÍNQUO ANO DE 2010. ACHEI IMPORTANTE ATUALIZAR O LINK DEVIDO NÃO APENAS À EXCEPCIONAL QUALIDADE DOS MÚSICOS ENVOLVIDOS, MAS TRATA-SE DE BACH, SENHORES… !!!
O título Bach: Obras para trompete é muito enganador: OK, Bach compôs bastante música para esse instrumento, só que aqui tudo é transcrição. Foda-se. O próprio Bach foi um transcritor compulsivo e essas adaptações vão deixá-lo muito feliz, preconceituoso ouvinte. E Alison Balsom é muito, mas muito boa trompetista. Ela navega em músicas compostas originalmente para teclado, violoncelo, violino, voz e o escambal com a mesma classe. Não há falhas neste disco absolutamente agradável. Balsom não perde o passo mesmo quando finge-se de flauta, violino ou violoncelo. O organista Colm Carey a acompanha nos três concertos transcritos — dois dos quais são transcrições de Bach para obras de Vivaldi e Marcello… só para o aumentar o diálogo, sacaram? — enquanto um grupo se junta ao trompete na sonata trio e no Agnus Dei da Missa em Si Menor. Tudo somado, dá um puta CD. Anotar: há que observar Balsom, uma supermusicista!
J. S. Bach (1685-1750): Obras para trompete
Concerto in D Major (after Vivaldi) BWV 972
1) Allegro
2) Adagio
3 )Allegro Assai
Suite No. 2 in D minor, BWV 1008
4) Sarabande
5) Gigue
6) Aria Variata in A Minor (Italian Variations) BWV 989
Partita No. 3 in E BWV1006
7) Gigue
Trio Sonata in C Major BWV 529
8) Allegro
9) Largo
10) Allegro
Concerto in C minor (after Marcello) BWV 974
11) Allegro
12) Largo
13) Presto
Klavierbüchlein für Anna Magdalena Bach, II
14) Aria, BWV508: Bist du bei mir
Concerto in A major BWV 1055 (transposed to C Major)
15) Allegro
16) Larghetto
17) Allegro ma non tanto
18) Badinerie from Suite No. 2, BWV 1067
Mass in B minor BWV232
19) Agnus Dei
Alison Balsom (Trumpet)
Mark Caudle (Viola da gamba)
Alina Ibragimova (Violin)
Alistair Ross (Chamber Organ, Harpsichord)
Colm Carey (Organ)
Apoie os bons artistas, compre suas músicas.
Apesar de raramente respondidos, os comentários dos leitores e ouvintes são apreciadíssimos. São nosso combustível.
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Este espetacular CD — uma grande ideia do Muzsikás –, que recebe prêmios e cinco estrelas aonde vai, pode ser chamado de “conceitual”, adjetivo gasto e quase sempre mal utilizado.
Talvez não haja nenhum compositor erudito mais envolvido com a música folclórica de seu país do que Béla Bártok. Suas viagens com Kodály pelo interior da Hungria e Romênia no início do século XX serviram para preservar uma herança musical que talvez fosse perdida. É claro que ele estava interessado em encontrar motivos e inspiração para a sua música radicalmente nova, porém suas gravações serviram para que surgissem uma nova ciência, a etnomusicologia, e novos grupos folclóricos. Este The Bartók Album é um tributo ao trabalho de Bartók e Kodály. O grupo Muzsikás e a cantora Márta Sebestyén tocam e cantam as canções descobertas por Bartók. Em meio a estas, apresentam algumas gravações originais realizadas pelo próprio Bartók, fazendo a conexão das mesmas com algumas peças do compositor. Tais peças – alguns duos para violino – são interpretadas pelo principal violinista do Muzsikás, Mihaly Sipos, e pelo violinista clássico romeno Alexander Balanescu. Este CD e as gravações de Bartók dão nova dimensão ao trabalho de um dos maiores compositores do século XX.
Ouçam, por exemplo, a faixa 10, gravação realizada por Bartók, a 11, peça escrita por ele para duo de violinos e depois e 12, com o Muszikás. Depois, ouçam a faixa 13 (a partir de 2 min 50) e a comparem com a quarta faixa do CD de Andor Foldes, publicado há anos neste blog. Bom, se você não se arrepiar… OK, questão de gosto, façamos de conta…
Em 1901, fascinados pela música do também húngaro Liszt, Bartók e Kodály tomaram consciência das relações de seu predecessor com a cultura popular da Europa Oriental. Ambos jovens compositores, resolveram estudar a música dos camponeses da região. Em 1905, Bartók pleiteou uma bolsa que lhes facultou recursos para recolher essas canções “em sua própria fonte” e partiu para anotá-las e gravá-las em companhia de Kodály. Então souberam que seus conhecimentos sobre tal assunto — e os de outros compositores — eram desfigurados, quase paródias da realidade. Na verdade, o que habitualmente se chamava de música cigana (tzigane) e danças húngaras não passavam de garatujas desengonçadas, distantes da caligrafia original.
A partir de publicação das Canções Populares Húngaras, eles inauguram uma nova disciplina científica — a etnomusicologia. Nos anos posteriores, ampliaram progressivamente o horizonte geográfico de seus trabalhos: primeiro a Romênia, depois a Ucrânia, a Bulgária, até a África do Norte (Argélia e Egito) e a Anatólia (Turquia). Com o tempo, tornaram-se alvo da galhofa de certos críticos que não compreendiam a necessidade dos dois de alimentarem suas linguagens musicais com matéria viva. Estes críticos, ridicularizavam especialmente (e incompreensivamente) o último movimento da Música para Cordas, Percussão e Celesta, de Bartók, que hoje é uma das peças fundamentais do repertório erudito do século XX.
O resultado, para a arte de Bartók e Kodály, foi um estilo originalíssimo no universo erudito. Em seus trabalhos, eles utilizavam elementos alheios à música da Europa Ocidental. Depois, conseguiram uma gloriosa união de seus estilos com o da grande tradição europeia, sobretudo com Bach (caso de Bartók). Kodály foi um enorme compositor, porém — como os dramaturgos elisabetanos que tiveram o “azar” de serem contemporâneos de Shakespeare — foi sufocado pela genialidade do amigo. Bartók tornou-se subitamente célebre em 1911, quando da publicação da curtíssima peça para piano Allegro Barbaro. A música do povo era mais interessante, selvagem e intrincada do que qualquer scholar da época imaginava. O espírito científico de ambos não deve ser comparado ao dos compositores ditos “nacionalistas”, que se contentavam em tomar de empréstimo à música popular seus trejeitos para que suas obras ganhassem um colorido folclórico.
Eles assimilaram o espírito da música camponesa, aplicando, ao criar, estruturas forjadas no conhecimento aprofundado dos esquemas populares. É inegável o mérito de Bartók de observar a realidade, depreendendo dela as leis internas de seu funcionamento para, então, empregá-las em suas obras.
Bartók sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936, organizou uma exposição de “Música degenerada” incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Escreveu ao ministro para que este inscrevesse seu nome e sua música nesse grupo. Depois, em 1938, chegou mesmo a declarar que pretendia converter-se à religião judaica como forma de ficar ao lado dos perseguidos. Expôs-se de tal maneira, que foi obrigado a aceitar os insistentes pedidos dos amigos — entre eles o de Benny Goodman — para que emigrasse, o que fez apenas em 1940. Foi para os Estados Unidos, onde morreu em 1945. Kodály viveu na Hungria até 1967. Além de compositor, era professor universitário e presidente da International Society for Music Education, da Hungarian Academy of Sciences e da International Folk Music Council.
Fontes: História da Música Ocidental de Jean e Brigitte Massin, um calhamaço de quase 1300 páginas, da Nova Fronteira, 1997; Música da Modernidade de J. Jota de Moraes, Ed. Brasiliense, 1983; e algo de mim mesmo, com o providencial auxílio da memória de livros e discos.
Béla Bartók (1881-1945): The Bartók Album, pelo Muzsikás
1 Dunántúli Friss Csárdások (Transdanubian Fast Csárdás) 2:43
Themes From Violin Duo No. 32
2 Jocul Barbatesc 0:34
3 Bartók Béla: 32. Duó “Máramarosi Tánc” (Duo No 32 (“Dance Of Máramaros”) 0:42
4 Máramarosi Táncok (Máramaros Dances) 3:23
5 Porondos Víz Martján (On The Riverbank) 3:09
6 Kanásztáncok Két Hegedűn (Swineherds’ Dance) 2:09
7 Dunántúli Ugrósok (Transdanubian “Ugrós”) 3:36
8 Pásztornóták Hosszúfurulyán (Shepard’s Flute Song) 2:45
Themes From Violin Duo No. 28
9 Forgácskúti Legényes (Forgácskúti Lad’s Dance) 2:46
10 Pejparipám Rézpatkója (My Horse’s Shoes) 1:10
11 Bartók Béla: 28. Duó “Bánkódás” (Duo No 28 “Sorrow) 2:21
12 Bonchidai Lassú Magyar (Slow Lad’s Dance From Bonchida) 1:54
13 Magyarbecei Öreges Csárdások (Magyarbece Csárdás) 3:16
14 Pe Loc 1:20
15 Botos Tánc (Bota Dance) 5:11
Themes From Violin Duo No. 44
16 Torontáli Táncok (Torontáli Dances) 4:08
17 Ardeleana 0:38
18 Bartók Béla: 44. Hegeduduó Erdélyi Tánc (Transylvanian Dance) 1:47
19 Füzesi Ritka Magyar (Lad’s Dance From Füzes) 1:53
20 A Temető Kapu (Churchyard Gate) 4:06
21 Mérai Lassú Csárdás És Szapora (Dances Of Kalotaszeg) 9:06
22 Elindultam A Hazámból (I Left My Homeland) 1:38
On this CD:
1. Dunántúli friss csárdások (Transdanubian fast csardas)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas
2. Jocul barbatesc
Composed by Romanian Traditional
with Muzsikas
3. Duos (44) for 2 violins, Volumes 1-4, Sz. 98, BB 104 No. 32, Hegedüduó, “Máramarosi tánc,”
Composed by Bela Bartok
with Muzsikas, Alexander Balanescu
4. Máramoarosi táncok
Composed by Romanian Traditional
with Muzsikas, Marta Sebastyen, Zoltan Farkas
5. Porondos víz martján (On the river bank)
Composed by Moldavian Traditional
with Muzsikas, Marta Sebastyen
6. Kanásztáncok két hegedün (Swineherd’s dance)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas
7. Dunántúli ugrósok (Transdanubian dance)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Janos Kovacs
8. Pásztornóták hosszúfurulyán (Shepherd’s flute song)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Zoltan Juhasz
9. Forgácskúti legényes
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Ignac Veres
10. Pejparipám rézpatkója
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Alexander Balanescu
11. Bonchidai lassú magyar (Slow lad’s dance from Bonchida)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Zoltan Porteleki
12. Magyarbecei öreges csárdások (Magyarbece csardas)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Marta Sebastyen
13. Pe Loc
Composed by Romanian Traditional
with Muzsikas
14. Botos tanc (Bota dance)
Composed by Romanian Traditional
with Muzsikas
15. Torontáli táncock
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas
16. Ardeleana
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas
17. Duos (44) for 2 violins, Volumes 1-4, Sz. 98, BB 104 No. 44, Hegedüduó “Erdélyi tánc,”
Composed by Bela Bartok
with Muzsikas, Alexander Balanescu
18. Füzesi ritka magyar
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas
19. A temetö kapu (The churchyard gate)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Marta Sebastyen
20. Mérai lassúcsárdás és szapora (Kalotsaszeg dances)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas, Marta Sebastyen
21. Elindultam a hazámból (I left my homeland)
Composed by Hungarian Traditional
with Muzsikas
22. Duos (44) for 2 violins, Volumes 1-4, Sz. 98, BB 104 No. 28, Hegedüduó, Bánkódás
Composed by Bela Bartók
Hoje estou compartilhando mais uma gravação da Naxos do pianista e compositor Franz Xaver Scharwenka. Nascido em 6 de janeiro de 1850 em Samster (na moderna Szamotuly perto de Poznań, Polônia) no coração da então região prussiana de Wielkopolska. Este CD traz algumas adoráveis danças polonesas e o gigante (em termos de dificuldade pianística) concerto número 4. Ativo tanto como pianista, compositor e professor, Xaver evitou a vanguarda musical, assim como os modismos parisienses e vienenses do final e início do século XX, permanecendo fiel às idéias estéticas românticas do século XIX. Apesar de seus contemporâneos, como por exemplo Liszt, elogiassem os seus trabalhos como compositor a história, no entanto, se move de misteriosas maneiras, e por alguma estranha razão o seu trabalho foi esquecido por muitos anos. Suas principais composições se mostraram de muito difícil execução para muitos artistas, e as audiências esperavam ouvir niovidades e não peças que arremetiam ao romantismo tardio. Talvez por estas razões as obras de Scharwenka foram negligenciadas.
Espero que esta gravação prove que o trabalho de Scharwenka é um elemento valioso do patrimônio musical polaco, digno de reintrodução. As peças que fazem parte deste quarto CD que compartilho com vocês , traz obras que gozavam de considerável popularidade e eram freqüentemente executadas na virada do século XIX para o XX. As Danças Polonesas são peças que gosto muito, os ritmos da tradição folclórica polonesa misturado com sua paixão por Chopin nos remetem às mazurcas do último mostrando bem quais foram as fontes de inspiração. O Concerto em Fá menor, é o último concerto para piano de Scharwenka. Coroa sua experiência como virtuosi do piano, requer alta demanda de técnica do solista, alcançam o ápice do desempenho habilidades, particularmente nos movimentos finais. Na época as plateias queriam ver os artistas em geral como figuras de circo, fazendo malabarismo para executar música, ouvimos muitas passagens que requer uma técnica absurda, textura maciça da parte de piano baseada em oitavas duplas, repetições e passagens de bravura, bem como sequências de acordes em oitavas e cadências virtuosas cobrindo toda a gama de som do instrumento criando uma impressão de que o compositor queria resumir realizações do pianismo da época em uma única composição. Do ponto de vista estilístico, o concerto é uma peça eclética, que combina elementos típico dos concertos brilhantes de Mendelssohn, Liszt e Tchaikovsky. Composto em 1908, o Concerto para Piano em Fá menor, Op. 82, teve sua estréia em Berlim em outubro do mesmo ano. Dois anos depois o compositor fez o concerto em Nova York, Scharwenka como solista acompanhado pela New York Symphony Orchestra sob a batuta de Gustav Mahler. Embora um trabalho de gênio, sua incrível técnica e dificuldade interpretativa fez com que o Concerto, ao longo do tempo, fosse ignorado pela maioria dos pianistas. Neste Cd quem encarou o grande desafio técnico foi o pianista François Xavier Poizat e a Poznań Philharmonic Orchestra sob a regência de Łukasz Borowicz. De quebra ainda temos a abertura Mataswintha e a sonata para Cello Op. 46. São belas obras do romantismo tardio que valem a pena ouvir.
Xaver Scharwenka (1850-1924): Piano Concerto no. 4
01 – Piano Concerto No.4 in F minor, Op.82 – I. Allegro patetico
02 – Piano Concerto No.4 in F minor, Op.82 – II. Intermezzo Allegretto molto
03 – Piano Concerto No.4 in F minor, Op.82 – III. Lento
04 – Piano Concerto No.4 in F minor, Op.82 – IV. Allegro con fuoco
05 – Mataswintha Opera Overture
06 – Cello Sonata in E minor, Op.46 – II. Andante religioso
07 – Polish National Dances, Op.3 – No. 1 in E flat minor
08 – Polish National Dances, Op.3 – No. 8 in B flat minor
09 – Polish National Dances, Op.3 – No. 15 in B flat major
Piano – François Xavier Poizat
Poznań Philharmonic Orchestra
Maestro – Łukasz Borowicz
Esta é uma seleção composta: as faixas 1 e 2 foram gravadas e lançadas em 1963 no vinil com a capa ao lado; a faixa 4, já em 1957/62, e a faixa 3 apenas em 1969/72 – o que deixa entreouvir que a técnica e timbre do “barítono do século” ainda podem ter amadurecido entre seus 32 e 44 anos.
O repertório é todo barroco, e geralmente entendemos isso como “contemporâneo de Bach” – mas vejamos: quando João Sebastião nasceu:
Rosenmüller tinha morrido há um ano (com 65)
Alessandro Scarlatti estava na ativa, com 25 anos
Couperin tinha 17
Telemann tinha seus 4 aninhos (e sobreviveria JSB por mais 18)
Aldous Huxley chama a atenção, em um ensaio, para que “barroco” não parece significar o mesmo em música e nas demais artes: nestas, “barroco” sugere uma extensão da inventividade renascentista pelos terrenos do tenso, assimétrico, dramático, exagerado; já na música, o trajeto parece ser do irregular para o regular, do inventivo e do emocional para o cada vez mais padronizado e convencional (com o que Bach aparece como uma espécie de canto de cisne da invenção e originalidade no barroco).
Aqui temos em Rosenmüller (faixa 3) uma amostra do barroco seiscentista de sabor tardo-renascentista – e teríamos uma amostra do tardo-barroco mais tediosamente convencional se tivéssemos conservado a peça de Telemann incluída no vinil acima: uma cantata não-religiosa, humanista, sobre o valor da esperança (Die Hoffnung ist mein Leben), quem sabe prefigurando o que Schiller faria pouco mais tarde com o valor da alegria. Nobre intento… só que acabou dando numa das peças barrocas mais chatas que já ouvi!
Felizmente o próprio tio Dietrich se encarregou de salvar a honra de Telemann, gravando o que suspeito ser sua obra prima: a cantata tragicômica sobre a morte de um canário “experimentado em sua arte” por obra de um gato – animal que termina merecendo um movimento para xingar sua glutonice, e mais um para desejar que o canário o arranhe e bique por dentro – ao lado de frases da mais autêntica e compungida ternura dedicadas ao passarinho. Talvez mais uma confirmação de que o convívio com animais humaniza – enquanto o convívio só com ideais mumifica.
De entremeio temos o sempre intenso Couperin cantando as dores de Jerusalém subjugada pelos babilônios lá por 600 a.C. – isso como abertura das cerimônias católicas relativas à… morte de Jesus, nesse estranho sincretismo que é a cultura judaico-cristã.
E temos Alessandro!Alessandro Scarlatti, que, no meu sentir, enquanto os outros saíam do barroco provinciano seiscentista meramente para a convencionalidade dos salões da nobreza, Alessandro dá o passo e não vê só os salões: já vislumbra lá na frente a volta do primado do sentimento no romantismo, bem como a criatividade livre, expressa na imprevisibilidade e na assimetria, a ser reivindicada pelos criadores do século XX.
Eu falaria dias sobre os detalhes do meu xodó nesta seleção, que é a Infirmata, Vulnerata do Alessandro – que alguns querem ver como peça sacra, o que não me convence… – mas vou só mencionar que, quando minha mente está “tocando” Infirmata, Vulnerata, com a maior facilidade ela “desliza de faixa” e prossegue pela Actus Tragicus, composta por Bach aos 22-23 anos – ou seja: quando Alessandro estava nos seus 47-48. Para facilitar o acesso às sutilezas emocionais da obra, incluo abaixo o texto latino com uma tentativa de tradução… e deixo vocês com a música. Vão lá!
(Ah, sim: titio Dietrich & amigos foram de uma geração anterior ao movimento de instrumentos de época e interpretações estilisticamente autênticas – mas não por isso deixam de fazer música da melhor! Em todo caso, se vocês quiserem comparar com uma leitura “de época” da Infirmata, Vulnerata – com contratenor, dois violinos, órgão e tiorba no contínuo – a realização de que mais gostei até agora vocês encontram em https://www.youtube.com/watch?v=7Q1b6YsiROo . – Qual eu prefiro? As duas, claro! Se posso ter duas coisas gostosas, a troco do quê vou colocar hierarquia entre elas?)
INFIRMATA, VULNERATA: O TEXTO
(Tentativa de interpretação nas entrelinhas: Ranulfus)
Infirmata, vulnerata
Enfermada e ferida
puro deficit amore
por puro amor insuficiente
et liquescens gravi ardore
e pelo ardor penoso que se liquefaz,
languet anima beata.
jaz doente a alma abençoada.
O care, o dulcis amor,
Ó caro, ó doce amor,
quomodo mutatus es mihi in crudelem,
de que modo te transmudaste para mim em cruel,
quem numquam agnovisti infidelem!
a mim que nunca pudeste dizer infiel!
Vulnera percute, transfige cor.
Machuca, golpeia, transpassa o coração:
Tormenta pati non timeo.
sofrer as torturas não temo.
Cur, quaeso, crudelis
Por quê, por favor, cruel ...
es factus, es gravis?
... te tornaste, e sombrio?
Sum tibi fidelis,
A ti sou fiel,
sis mihi suavis.
a mim sê suave!
Vicisti, amor, vicisti,
Venceste, amor, venceste,
et cor meum cessit amori.
e meu coração se rende ao amor.
Semper gratus, desiderabilis,
Sempre bem-vindo e desejável,
semper, semper eris in me.
sempre, sempre estarás em mim.
Veni, o care, totus amabilis,
Vem, ó querido, todo amável,
in aeternum diligam te.
serei eternamente ligad@ a ti.
[Da capo] Semper gratus, desiderabilis,
[Da capo] Sempre bem-vindo e desejável,
semper, semper eris in me... In me.
sempre, sempre estarás em mim... Em mim.
FAIXAS
01 Alessandro SCARLATTI (1660-1725) Infirmata, Vulnerata (Enferma e ferida)
Moteto(?) sobre poema em latim de autor desconhecido
Lançado em vinil em 1963 – 6 movimentos – 13’42
02 François COUPERIN (1668-1733) Première Leçon de Ténèbres: Pour le Mercredi
(1º Ofício de Trevas: para a Quarta-Feira Santa)
Texto: Vulgata Latina: Lamentações de Jeremias, cap.1
Lançado em vinil em 1963 – 7 movimentos – 16’36
03 Johann ROSENMÜLLER (1619-1684) Von den himmlischen Freuden (Das alegrias celestiais)
Cantata para barítono e baixo contínuo
Lançado em vinil em 1972 – 4 estrofes – 9’10
04 Georg Philip TELEMANN (1681-1767) Trauermusik eines kunsterfahrenen Kanarienvogels
(Música fúnebre para um canário virtuose =
“Kanarienkantate” [Cantata do Canário])
Lançado em vinil em 1962 – 9 movimentos – 16’50
MÚSICOS
Voz (barítono): Dietrich Fischer-Dieskau (1925-2012)
Flauta transversal: Aurèle Nicolet (faixas 1 e 2)
Oboé: Lothar Koch (faixa 4)
Violino: Helmuth Heller (f. 1, 2 e 4); Koji Toyoda (f. 3)
Viola: Heiz Kirchner (faixa 4)
Cello: Irmgard Popper (f. 1, 2 e 4); Georg Dondere (f. 3)
Contrabaixo: Hans Nowak (faixa 3)
Cravo: Edith Picht-Axenfeld
O Codex de Chantilly é um manuscrito medieval que contém peças num estilo conhecido como Ars subtilior, sendo uma das principais fontes para a música desta escola. A maioria das composições presentes no Codex de Chantilly data de entre 1350 e 1400. São 112 peças no total, a maioria de autores franceses, e são todas polifônicas. O manuscrito mostra exemplos da maioria dos gêneros cultivados nas cortes da época, como baladas, rondeaux, virelais e motetos isorrítmicos. Alguns são ritmicamente complexos e escritos em uma notação fantasiosa e ornamentada, como o rondeau de Baude Cordier Belle, bonne, sage.
Preservado no Museu Condé de Chantilly, na França, sob número MS 564, traz músicas dos seguintes compositores: Johannes Symonis, Jehan Suzay, Pierre des Molins, Goscalch, Solage, Baude Cordier, Grimace, Guillaume de Machaut, Jean Vaillant, Franciscus Andrieu, Cunelier, Trebor e Jacob Senleches.
Peças do ‘Codex de Chantilly’ (Airs de Cour du XIV Siècle)
1 Cunelier Se Galaas Et Le Puissant Artus (Ballade, Fol. 38)
2 Guido (14) Dieux Gart (Rondeau, Fol. 25)
3 Anonymous Sans Joie Avoir (Ballade, Fol. 23)
4 Guido (14) Or Voit Tout (Ballade, Fol. 25v)
5 Anonymous Toute Clerté (Ballade, Fol. 13)
6 Baude Cordier Tout Par Compas (Rondeau – Canon, Fol. 12)
7 Baude Cordier Belle, Bonne, Sage (Rondeau, Fol. 11v)
8 Goscalch En Nul Estat (Ballade, Fol. 39v)
9 Jacob de Senleches La Harpe De Mellodie (Fol. 43v)
10 Solage Fumeux Fume Par Fumée (Rondeau, Fol. 59)
11 François Andrieu Armes, Amours (Double Ballade, Fol. 52)
12 Anonymous Adieu Vous Di (Fol. 47)
Uma coisa que parece muito complicada para os atuais quartetos de cordas é convidarem um quinto (e ameaçador) elemento. Só isso explica a profusão de gravações que merecem os Quartetos de Mozart em relação à pobreza de registros de seus Quintetos, os quais, em média, são MUITO MELHORES. À exceção do CD que posto hoje, não possuo os outros quintetos de Mozart em meio digital. Tenho uma edição muito antiga e completa em vinil. Os Quintetos K. 515 e 516 são obras-primas da fase madura do compositor. Por exemplo, ouçam o K. 516. Prestem atenção no Adagio ma non troppo e no movimento final. Onde mais? Nos quartetos? Ah, não brinca!
W. A. Mozart (1756-1791): String Quintets K.406 & K.516
1. String Quintet KV 406 – I – Allegro (7:55)
2. String Quintet KV 406 – II – Andante (4:34)
3. String Quintet KV 406 – III – Menuetto (4:28)
4. String Quintet KV 406 – IV – Allegro (6:07)
5. String Quintet KV 516 – I – Allegro (10:09)
6. String Quintet KV 516 – II – Menuetto (5:23)
7. String Quintet KV 516 – III – Adagio ma non troppo (7:35)
8. String Quintet KV 516 – IV – Adagio – Allegro (10:12)
Éder Quartet:
Jenos Selmeczi: violin
Peter Szts: violin
Sndor Papp: viola
Gyorgy Eder: cello
+
János Fehérvári: 2nd viola
Esta postagem atende a um pedido: Me atrevo a pedir, solo si es posible, obras para oboe. Sim, Claudio, possibilíssimo!! Escolhi para isto um disco que mora aqui em casa faz tempo, muito tempo.
Veneziano como Vivaldi e seu contemporâneo, Albinoni foi músico completo. Treinado como violinista e cantor, casado com Margarita Raimondi, cantora de ópera, certamente era do ramo. Foi compositor de sonatas e concertos e tem várias publicações de conjuntos de obras.
O concerto italiano havia evoluído do concerto grosso (grupo de instrumentos solistas em oposição ao tutti) para os concertos para violino ou violoncelo (com cordas e contínuo). Nas primeiras décadas do século XVIII o boé passou também a exercer o papel de solista. Em seu Opus 7, Albinoni reuniu quatro concertos para cordas, quatro para dois oboés, cordas e contínuo e mais quatro para oboé, cordas e contínuo. Deve ter feito sucesso pois a fórmula se repetiu no Opus 9. Este disco traz os concertos para oboé do Opus 9.
Completanto o disco, três concertos de Georg Philipp Telemann, que também viveu neste maravilhoso período para a música. Telemann foi o mais famoso, versátil e produtivo compositor de sua geração, que inclui seu compadre Johann Sebastian Bach. Eu disse famoso, versátil e produtivo, não o maior…
O repertório do disco evidencia a diferença entre os estilos dos dois compositores, o veneziano e o alemão. Os concertos do Albinoni são, conforme ele mesmo explica, concertos com oboé. Ou seja, o oboé é mais integrada ao todo e, principalmente, canta – lembremos, o homem também foi cantor e casado com cantora. O adágio do Concerto No. 2, em ré menor, a segunda faixa do disco, é uma belíssima cantinela do oboé sobre o acompanhamento do primeiro violino que segue repetindo o mesmo motivo do início ao fim.
Enquanto os concertos de Albinoni são em três movimentos, Telemann segue mais a forma das sonatas, com quatro movimentos em pelo menos dois dos seus três concertos no disco. Além disso, Telemann explora mais o aspecto virtuosístico do oboé, colocando-o mais em oposição às cordas.
Esqueça essas coisas técnicas, coloque lá o disco para tocar e deleite-se, por que o Han de Vries é ótimo e o conjunto Alma Musica Amsterdam, regido pelo (cravista e expert barroco) Bob van Asperen acompanha tudo com perfeição. O CD é uma reunião de gravações feitas em 1981 e 1982 na Holanda, sob a cuidadosa produção de Gerd Berg.
Se música barroca não é sua praia, ouça apenas o primeiro concerto e considere. Se ele não lhe derreter o coração é por que ele é como o do Scarpia! Se você gosta de música barroca, vá em frente, ouça o disco todo. Mas, se você tem a carterinha de fã de Música Barroca, depois de ouvir o disco, vá lá e baixe todo o Opus 9 do Tomaso no post do Das Chucruten!
Tomaso Giovanni Albinoni (1671 – 1751)
Concerti a cinque Op. 9, para oboé e cordas
1-3. Concerto No. 2, em ré menor
4-6. Concerto No. 11, em si bemol maior
7-9. Concerto No. 5 em dó maior
10-12. Concerto No. 8 em sol menor
Georg Philipp Telemann (1681 – 1767)
Concertos para oboé, cordas e baixo contínuo
13-16. Concerto em mi menor
17-20. Concerto em ré menor
21-22. Concerto em fá menor
Han de Vries, oboé (Gottlieb Crone, Leipzig c. 1735)
Estou longe de ser um apaixonado por Mischa Maisky. Longe mesmo. E aqui ele não me decepciona ou realizar coisas pra lá de estranhas, principalmente no Concerto Nº 2. MstislavRostropovich (dois links) dá um banho neste epertório, assim, como TrulsMørk(dois links também). Fiquem com eles.
Concerto Nº 1 para Violoncelo e Orquestra, Op. 107 (1959)
Shostakovich e o grande violoncelista Mstislav Rostropovich eram amigos tendo, muitas vezes, viajado juntos, fazendo recitais que incluíam entre outras obras, a Sonata para violoncelo e piano, Op. 40, etc. Desde que se conheceram, o compositor avisara a Rostropovich que ele não deveria pedir-lhe um concerto diretamente, que o concerto sairia ao natural. Saíram dois. Quando Shostakovich enviou a partitura do primeiro, dedicada ao amigo, este compareceu quatro dias depois na casa do compositor com a partitura decorada. (Bem diferente foi o caso do segundo concerto, que foi composto praticamente a quatro mãos. Shostakovich escrevia uma parte, e ia testá-la na casa de Rostropovich; lá, mostrava-lhe as alternativas, os rascunhos ao violoncelista, que sugeria alterações e melhorias. Amizade.)
Estilisticamente, este concerto deve muito à Sinfonia Concertante de Prokofiev – também dedicada a Rostropovich – e muito admirada pelos dois amigos. É curioso notar como os eslavos têm tradição em música grandiosa para o violoncelo. Dvorak tem um notável concerto, Tchaikovsky escreveu as Variações sobre um tema rococó, Kodaly tem a sua espetacular Sonata para Cello Solo e Kabalevski também tem um belo concerto dedicado a Rostropovich. O de Shostakovich é um dos de um dos maiores concertos para violoncelo de todo o repertório erudito e minha preferência vai para a imensa Cadenza de cinco minutos (3º movimento) e para o brilhante colorido orquestral do Allegro com moto final.
Concerto para Violoncelo e Orquestra Nº 2, Op. 126 (1966)
Uma obra-prima, produto da estreita colaboração entre Shostakovich e Rostropovich, a quem o concerto é novamente dedicado. A tradição do discurso musical está aqui rompida, dando lugar a convenções próprias que são “aprendidas” pelo ouvinte no transcorrer da música. Não há nada de confessional ou declamatório neste concerto. Há arrebatadores efeitos sonoros que são logo propositadamente abandonados. A intenção é a de ser música absoluta e lúdica, mostrando-nos temas que se repetem e separam momentos convencionalmente sublimes ou decididamente burlescos. Nada mais burlesco do que a breve cadenza em que o violoncelo é interrompido pelo bombo, nada mais tradicional do que o tema que se repete por todo o terceiro movimento e que explode numa dança selvagem, acabando com o violoncelo num tema engraçadíssimo — como se fosse um baixo acústico — , para depois sustentar interminavelmente uma nota enquanto a percussão faz algo que nós, brasileiros, poderíamos chamar de batucada. Esta dança faz parte de uma longa preparação para um gran finale que não chega a acontecer. Um concerto espantoso, original, capaz de fazer qualquer melômano feliz ao ver sua grande catedral clássica virada de ponta cabeça e, ainda assim, bonita.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Concertos para Violoncelo Nos. 1 & 2
Tudo aqui é maravilhoso, música e interpretação. Este álbum duplo é uma perfeição só. Será referência por décadas. Há outras versões também excelentes, mas esta… Olha, aqui, os Trios de Schubert brilham muito na compreensiva leitura do trio de Pressler. É a mlhor gravação deles ao menos até outro trio fazê-lo melhor, o que, parece-me, ainda não ocorreu. Muitos compositores escreveram trios para piano: Haydn, Mozart, Beethoven, Mendelssohn, Schumann, Dvorak, Tchaikovsky, Brahms, mas Schubert foi o campeão do gênero. O Beaux Arts os gravou duas vezes, uma vez em 1966, outra em 1985. Esta é a gravação de 85. Tem gente que gosta mais do registro de 66. Isto é, quando se pensa no melhor registro, o Beaux Arts compete com ele mesmo e outros.
Sim, o Trio Op. 100, Nº 2 traz a música de Barry Lyndon, filme de Stanley Kubrick. Mas ouça tudo! São duas obras-primas e os extras não ficam abaixo.
De joelhos. E já.
Franz Schubert (1797-1828): Os Trios para Piano
Piano Trio Nº 1 In B Flat Major, Op. 99, D. 898
1 Allegro Moderato
2 Andante Un Poco Mosso
3 Scherzo (Allegro)
4 Rondo (Allegro Vivace)
Piano Trio In E Flat Major, Op. Posth. 148, “Notturno” D. 897
5 Adagio
Neste final de semana resolvi ouvir Mozart. Depois de muita pesquisa em meu acervo, escolhi esta belíssima caixa dedicada às suas últimas sinfonias e dirigidas pelo maestro inglês Sir Colin Davis. Curiosamente, a escolha do produtor e do próprio maestro, com certeza, estas gravações foram realizadas com a excelente Sttatskapelle Dresden entre 1981 e 1992, conjunto orquestral com o qual ele tinha muita afinidade.
São 5 cds de pura beleza, harmonia e paz. Sugiro como trilha sonora para um final de semana sem maiores planos, apenas talvez ficar sentado em seu sofá e apreciar a obra de Mozart nas mãos de um dos maiores maestros do século XX.
CD 1
1 Symphony no.28 in C major, K.200 I. Allegro spiritoso
2 symphony no.28 in C major, K.200 II. Andante
3 symphony no.28 in C major, K.200 III. Menuetto. Allegretto – Trio
4 Symphony no.28 in C major, K.200 IV. Presto
5 Symphony no.29 in A major, K.201 I. Allegro moderato
6 Symphony no.29 in A major, K.201 II. Andante
7 Symphony no.29 in A major, K.201 III. Menuetto – Trio
8 Symphony no.29 in A major, K.201 IV. Allegro con spirito
9 Symphony no.34 in C major, K.338 I. Allegro vivace
10 Symphony no.34 in C major, K.338 II. Andante di molto
11 Symphony no.34 in C major, K.338 III. Finale. Allegro vivace
CD 2
1 Symphony no.32 in G major, K.318 Allegro – Andante – Tempo I
2 Symphony no.30 in D major, K.202 I. Molto allegro
3 Symphony no.30 in D major, K.202 II. Andantino con moto
4 Symphony no.30 in D major, K.202 III. Menuetto – Trio
5 Symphony no.30 in D major, K.202 IV. presto
6 Symphony no.33 in B flat mejor, K.319 I. Allegro assai
7 Symphony no.33 in B flat mejor, K.319 II. Andante mederato
8 Symphony no.33 in B flat mejor, K.319 III. Menuetto – Trio
9 Symphony no.33 in B flat mejor, K.319 IV. Allegro assai
10 Symphony no.31 in D major, K.297 ‘Paris’ I. Allegro assai
11 Symphony no.31 in D major, K.297 ‘Paris’ II. Andante
12 Symphony no.31 in D major, K.297 ‘Paris’ III. Allegro
CD 3
1 Symphony no.35 in D major major, K.385 ‘Haffner’ I. Allegro con spirito
2 Symphony no.35 in D major major, K.385 ‘Haffner’ II. Andante
3 Symphony no.35 in D major major, K.385 ‘Haffner’ III. Menuetto – Trio
4 Symphony no.35 in D major major, K.385 ‘Haffner’ IV. Finale. Presto
5 Symphony no.38 in D major, K.504 ‘Prague’ I. Adagio – Allegro
6 Symphony no.38 in D major, K.504 ‘Prague’ II. Andante
7 Symphony no.38 in D major, K.504 ‘Prague’ III. Finale. Presto
CD 4
1 Symphony no.36 in C major, K.425 ‘Linz’ I. Adagio – Allegro spiritoso
2 Symphony no.36 in C major, K.425 ‘Linz’ II. Andante
3 Symphony no.36 in C major, K.425 ‘Linz’ III. Menuetto – Trio
4 Symphony no.36 in C major, K.425 ‘Linz’ IV. Finale. Presto
5 Symphony no.40 in G minor, K.550 I. Molto allegro
6 Symphony no.40 in G minor, K.550 II. Andante
7 Symphony no.40 in G minor, K.550 III. Menuetto. Allegretto – Trio
8 Symphony no.40 in G minor, K.550 IV. Allegro assai
CD 5
1 Symphony no.39 in E-flat major, K.543 I. Adagio – Allegro
2 Symphony no.39 in E-flat major, K.543 II. Andante con moto
3 Symphony no.39 in E-flat major, K.543 III. Menuetto. Alegretto – Trio
4 Symphony no.39 in E-flat major, K.543 IV. Finale. Allegro
5 Symphony no.41 in C major, K.551 ‘Jupiter’ I. Allegro vivace
6 Symphony no.41 in C major, K.551 ‘Jupiter’ II. Andante cantabile
7 Symphony no.41 in C major, K.551 ‘Jupiter’ III. Menuetto. Alegretto – Trio
8 Symphony no.41 in C major, K.551 ‘Jupiter’ IV. Molto allegro
Adoro esse trabalho do Pavarotti (1935-2007) e do Henry Mancini (1924-1994) que ora posto para o deleite dos amigos do Blog. Tinha estes registros em fita K7, a italianada da famiglia era fechada com o Pavarotti, lembro bem quando ganhei este K7 do meu pai “sem segundas intenções”…. ouvimos até gastar no bom e velho toca-fitas da nossa saudosa Brasília 74 nos passeios de fim de semana….. Há canções doces (Parlami D’amore, Mariu), canções adoráveis (Palco della Scala, com referências a música da “Pantera cor de rosa” demais…) e canções agridoces (Addio, Songi Di Gloria e Rondine Al Nido), aliás quem conhece aquele hino de Minas Gerais imortalizada nas vozes de Tonico e Tinoco: “Oh, Minas Gerais / Oh, Minas Gerais / Quem te conhece não esquece jamais…” não será mera coincidência o arranjo “Vieni sul mar”… qual melodia veio primeiro ? Este trabalho da dupla Henry e Pava é no mínimo gostoso demais de ouvir, a orquestração do grande Henry Mancini era diferente mesmo, o cara era um gênio. Apesar dos “Três Tenores” acabarem ficando com o estigma de “figurinhas carimbadas” na década de 90 este registro do Pava de 84 nos oferece músicas que por si só já dão muito prazer. Os arranjos de Mancini são realmente o que ajuda a fazer a diferença.
Relaxem e ouçam o calor, a alegria e o drama que os mestres dão a cada música, Pava estava com sua adorável voz no auge no início dos anos 80 e o Henry foi o ítalo-americano mais influente das trilhas sonoras do cinema. Vale a pena ouvir !!!! Mamma mia, apreciem sem moderação.
1984 – Mamma
1 – Mamma (Bixio, Cherubini)
2 – Non ti scordar di me (De Curtis, Furnò)
3 – Lolita (Buzzi-Peccia)
4 – Musica proibita (Gastaldon)
5 – Firenze sogna (Cesarini)
6 – Vivere (Bixio)
7 – Parlarmi d’amore, Mariù (Bixio, Neri, Sievier)
8 – In un palco della Scala
9 – Addio, sogna di gloria (Innocenzi, Rivi)
10 – Voglio vivere così (D’Anzi, Manlio)
11 – Chitarra Romana (Di Lazzaro, Bruno)
12 – Rondine al nido (De Crescenzo, Sico)
13 – La Ghirlandeina (Trad)
14 – La mia canzone al vento (Bixio, Cherubini)
15 – Vieni sul mar (Califano)
16 – La campana di San Giusto (Arona)
Arranjos – Henry Mancini
Maestro do Coro – Henry Mancini
Regente – Henry Mancini
Solos de Flauta – Andrea Griminelli
Tenor – Pavarotti
Henry Mancini Orchestra and Chorus
Gravado no Grand Casino, Noga Hilton, CH Geneva, 1984
Esse disco de 1981 é uma obra-prima indiscutível. Pior: é muito complicado de conseguir. Vamos a uma crônica da época de seu lançamento. (Fonte)
Tom e Edu juntos, sem nenhum supérfluo
:: O ENCONTRO DOS DOIS GRANDES COMPOSITORES EM 1981 RESULTOU NUM DISCO FANTÁSTICO. POR SÉRGIO VAZ
A característica mais impressionante de Edu & Tom, LP gravado em novembro do ano passado (1981) e lançado este mês (fevereiro de 1982) pela PolyGram, é a simplicidade dos acompanhamentos. Antônio Carlos Jobim e Edu Lobo são, além de compositores brilhantes, irrepreensíveis, dois dos nossos mais competentes arranjadores e regentes. Músicos de sólida formação, estudiosos, já foram responsáveis por orquestrações complexas, requintadas, utilizando as mais diversas formações instrumentais.
Neste seu primeiro trabalho em conjunto, no entanto, optaram pela simplicidade. Os instrumentos são apenas os indispensáveis para acompanhar suas vozes: piano (tocado por Tom), violão (tocado, na maioria das faixas, apenas por Edu), baixo (Sérgio Barroso e, em duas faixas, Luiz Alves), bateria (Paulo Braga). Além desses instrumentos, há apenas o flugehorn, tocado, em duas faixas, por Márcio Montarroyos. Só.
“É um trabalho simples não por causa da crise do mercado do disco – disse Edu – mas por uma necessidade nossa de passar um clima de proximidade. Se tivéssemos gravado com orquestra, o resultado não seria o mesmo, ficaria frio”. E Tom completou: “Com a orquestra, eu nem veria o Edu, durante a gravação. Colocariam a gente dentro daquelas gaiolas de vidro e não daria nem para trocarmos uma palavrinha”.
O resultado foi um LP que, além de mostrar dois criadores próximos um do outro, num clima de gostosa descontração, é uma prova de que a simplicidade, aliada à competência, produz sons deslumbrantes, perfeitos.
Pode-se dizer que o som é velho, que o disco poderia ter sido feito no início da década de 60, no tempo da bossa nova, dos tradicionais conjuntos de piano-baixo-bateria. É bem verdade. Os interessados apenas em vanguardismos e experimentalismos devem passar longe deste LP. Quem se preocupar mais com beleza não terá qualquer motivo para queixas.
Mudança de planos
Era para ter sido um disco na base de “Edu Lobo convida”. Edu tocaria e cantaria em cada faixa acompanhado por um grande nome. É possível que a PolyGram quisesse repetir o êxito de Erasmo Carlos Convida…, de 1980, que foi o LP de maior vendagem da carreira do ex-Tremendão. Mas, depois que foi gravada a primeira faixa por Edu e Tom, o experiente produtor Aloysio de Oliveira (que, entre muitíssimas ouras coisas, participou das gravações de Tom no início da bossa nova, e produziu o primeiro LP de Edu, em 1965) conseguiu alterar o plano inicial, transformando o disco em um encontro apenas dos dois compositores.
Foram escolhidas dez músicas, cinco de Edu (em parceria com outros compositores), cinco de Tom (três só dele, duas em parceria). Não há nenhuma faixa inédita. Apenas duas são bem recentes, de 1981: “Luiza”, de Tom, e “Moto contínuo”, de Edu e Chico Buarque de Hollanda. E só se pode aplaudir a idéia de regravá-las: são maravilhosas obras-primas, e que estão perfeitas neste disco.
Com exceção de “Ângela”, de Tom, momento menor na obra do grande compositor, todas as outras faixas são antigas, bem conhecidas e muito bonitas: “Ai quem me dera” (Tom e Marino Pinto), “Prá dizer adeus” (Edu e Torquato Neto), “Chovendo na roseira” (Tom), “Canção do amanhecer” e “Canto triste” (Edu e Vinícius de Moraes), “Vento bravo” (Edu e Paulo César Pinheiro) e “É preciso dizer adeus” (Tom e Vinícius).
Na maioria das faixas, Edu e Tom cantam juntos. E a voz afinadíssima, de belo timbre grave de Edu compensa a pobreza da voz do Maestro Jobim. De resto, o pianista Tom está, sem dúvida, em um dos seus momentos mais brilhantes; o violão de Edu é seguro: a bateria aparece mansa, tranqüila, o baixo é perfeito. E as intervenções do sopro de Márcio Montarroyos em “Chovendo na roseira” e especialmente em “Vento bravo” são antológicas ricas, fortes, mas sem floreios desnecessários, sem exibicionismo, enxutas. Bem na medida da simplicidade perseguida em todo o disco.
Resenha publicada no Jornal da Tarde, 18 de fevereiro de 1982
Edu & Tom
1 Ai Quem Me Dera
Antonio Carlos Jobim, Marino Pinto
2:13
2 Prá Dizer Adeus
Edu Lobo, Torquato Neto
4:41
3 Chovendo Na Roseira
Antonio Carlos Jobim
3:24
4 Moto Continuo
Chico Buarque, Edu Lobo
3:30
5 Angela
Antonio Carlos Jobim
3:10
6 Luiza
Antonio Carlos Jobim
2:59
7 Canção Do Amanhecer
Edu Lobo, Vinicius De Moraes
3:30
8 Vento Bravo
Edu Lobo, Paulo César Pinheiro
4:16
9 É Preciso Dizer Adeus
Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
4:18
10 Canto Triste
Edu Lobo, Vinicius De Moraes
3:44
Este disco apresenta algumas características que poderíamos chamar sinais dos tempos. Algumas novidades, mas firmemente plantado na tradição. Primeiro as novidades. Desde que a crise econômica e as mudanças tecnológicas devastaram a indústria fonográfica, abatendo gigantescas empresas e reunindo sob o mesmo guarda-chuvas selos anteriormente rivais, os departamentos de marketing têm feito tudo o que podem para vender discos. Umas das estratégias é focar no artista, que passou a ser apresentado um pouco como um pop-star. Assim, vemos capas de discos com violinistas em vestidos esvoaçantes, pianistas fotografados sob ângulos mais ousados. Coisas que eram mais comuns para aqueles discos de árias das divas.
O reflexo desta onda esta no título do disco: VOLODOS plays Brahms. O que vende o disco não é a música de Brahms (isto do ponto de vista de marketing), mas Volodos tocando música de Brahms. Tudo bem, Arcadi Volodos é um extraordinário pianista e já tem sido testado pelo tempo. No entanto, a estratégia é clara: foco nos fãs de Volodos, menos nos amantes da música de Brahms.
O segundo detalhe é de ordem técnica. Fiquei impressionado com o som do disco, especialmente com o volume do som. Comparando com outras gravações das peças, foi necessário rápida movimentação do controle remoto para baixar o som quando passava de algum outro disco para este. Eis a questão: estaria o advento da música em arquivos digitais, dos discos virtuais, fazendo com que os produtores aumentem o volume de seus discos? Como essa alteração na mídia, essa nova tecnologia tem afetado as gravações? Espero as suas considerações…
Mas, voltando aos outros e mais interessantes aspectos do disco. Afirmo-vos sem qualquer dúvida, pelo menos nos meus dias, o universo da música gravada seguirá firme e incólume, confirmando antigas e enraizadas tradições.
Volodos é um pianista que dá continuidade a uma linhagem que retorna aos tempos de Liszt. Faz pensar em Richter, Gilels, mas principalmente, em Horowitz, só para ficar nos russos. Eu sei, calma, arroubos assim podem ser perigosos, mas vá lá, ouça o disco. Se os encantamentos deste mago do teclado não te atingirem, estarás perdido para a música com piano. Emprestando o bordão de um dos meus eminentes pares, o disco é
IM-PER-DÍ-VEL!!!!
Ah, é claro, tem aí também o Brahms – algumas de suas peças outonais, lindas!!
Até na escolha do repertório, Volodos remete a alguns dos artistas que o antecederam. Em vez de tocar todo o opus 76, suas oito peças, toca apenas as quatro primeiras. No lugar do disco estar completo com os opus 116 a 119, como fazem los otros, ele segue com o opus 117 e o opus 118. Temos assim um disco com cinquenta e quatro minutos de música, muita música em cinquenta e quatro minutos. Para que reclamar? Basta dizer que o disco ganhou o Gramophone Award e Diapason d’or. Agradou a gregos e baianos. Espero que o agrade também!
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Piano Pieces
Capriccio in F-Sharp Minor, Op. 76, No. 1: Um poco agitato, Unruhig bewegt
Capriccio in B Minor, Op. 76, No. 2: Allegretto non troppo
Johann Nikolaus era o filho mais velho de Johann Christoph Bach, primo em segundo grau de Johann Sebastian Bach é tio de sua primeira esposa Maria Barbara Bach.
CPE Bach foi o segundo filho de Bach e teve como padrinho um famoso compositor, Georg Philipp Telemann.
Ou seja, estamos novamente na presença da família Bach. O Magnificat de CPE é ótimo, a Missa Brevis de Nikolaus idem. E Rilling é o de sempre, competentíssimo.
Eu, se fosse você, conferiria o CD que é muito bom.
Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) / Johann Nikolaus Bach (1669-1753): Magnificat / Missa Brevis
No dia do aniversário de nosso compositor maior, Johann Sebastian Bach, trago para os senhores um dos últimos CDs de Rinaldo Alessandrini e seu Concerto italiano, e aqui estamos falando de um dos maiores especialistas em barroco da atualidade com seu conjunto de câmara. Me perdoem não ter traduzido o texto abaixo, o tempo urge, e estou fazendo esta postagem a toque de caixa, como sempre, aliás. Enfim, este texto abaixo foi retirado do booklet do CD, que segue em anexo ao arquivo de áudio, por sinal. De qualquer forma, existem diversos programas tradutores disponíveis na internet.
“The programme of this recording is composed of works that adopt the variation as the generating principle of the music. Our ‘variations’ on them modify the image and sonor- ity of the works, originally conceived for harpsichord, pedal harpsichord and organ. The varying styles of the original pieces make it possible to adapt them using different instru- mental scorings: violin and basso continuo in the case of the Aria variata alla maniera italiana BWV 989; a four-voice texture transcribed for four-part string ensemble in the Passacaglia BWV 582, the Canzona BWV 588, and a substantial portion of the Goldberg Variations BWV 988. Chamber formations of various sizes have been chosen for the canons and some of the other variations in the Goldberg cycle. What you will hear makes no pretence at orthodoxy. It is, rather, a divertissement, a subtle intellectual pleasure, which we experienced during the year it took for the project to come to gestation and realisation. In fact, I am not the first to have hit on the idea of arranging the Goldberg Variations for string ensemble: Dmitri Sitkovetsky made a version for string trio years ago, and Bernard Labadie one for string orchestra even before that. To transcribe the different sets of variations here for large forces would seem to be forcing their nature. For the style of the Goldberg Variations is already somewhat inhomogeneous (the other works on the programme are more regular in style) and sometimes highly idiomatic in keyboard terms. The series of canons is (almost) invariably in three parts. Some of the variations are in four parts, others in two. Others again are developed in polyphony with a varying number of voices. Hence, since we cannot adduce a specific reason to justify this project, the sole remaining argument is that of an intellectual and technical challenge.
The rest of the programme presented fewer problems of elaboration. The Passacaglia was transposed up a tone to the key of D minor, in which the strings sound well; similarly, the Aria BWV 989 was transposed down a tone. The Passacaglia, conceived in four parts (almost) throughout, adapts splendidly to an orchestral texture, which emphasises the dance character that, in the end, a passacaglia should always possess. The Canzona was given a literal transcription. The Aria reverts to what is presumed to have been its original Italian model, for violin and basso continuo. But it should not be thought that undertakings of this kind are unjustified modern ‘outrages’. On the contrary, we have many illustrious examples of the practice: beginning with the fugues Mozart selected from The Well-Tempered Clavier and transcribed for string quartet (K404a and K405), the list stretches right down to the present with the monumental transcriptions of Elgar, Stokowski, Schoenberg and Webern, to name only a few. And the first composer to embark on such an enterprise was Bach himself, who reused many of his and other composers’ works (the Mass in B minor, for instance, contains a great many revisions of earlier compositions; numerous movements from the Brandenburg Concertos are reworked in different ways in church cantatas; and his German version of Psalm 51 is adapted from the score of Pergolesi’s Stabat Mater), modifying their performing forces to produce spectacular transcriptions, of which the most striking is the transformation of the Prelude and Fugue in A minor for harpsichord BWV 894 into the Triple Concerto for flute, violin, harpsichord and strings BWV 1044. My initial idea was to realise a version of these works that would in any case present orthodox structural aspects consistent with a historical notion of instrumental style. Hence, in the Goldberg cycle, I transcribed the canons and some of the variations as chamber music for two instruments and basso continuo (Variations 3, 6, 9, 12, 15, 18, 21, 24) or two instruments without bass (Variations 11, 17 and 27). The challenge was to realise the rest of the variations in a homogeneous and complete texture in three or four parts, conceived for a group of strings and continuo. It therefore proved necessary to complete the irregular texture of many variations, adding lines or bringing out the polyphony present in skeleton form in the harpsichord writing. Variation 1 was completed in four real parts, as were nos. 5, 8, 14, 20, 23, 28 and 29. I added a middle part to Variation 7 in order to justify the function of the bass line as a bassetto. The French Overture of Variation 16 was completed in four real parts, as was its fugue, which in the original is mostly in three parts. Variation 20 was the piece that required the greatest adjustment of the writing to the possibilities of performance by a group of strings. The operation inevitably bordered on the arbitrary in those cases where it was necessary to complete the contrapuntal texture in order to realise four complete and independent parts. Very often, Bach’s compositional technique implies a significant quantity of canonic procedures (most apparent in Variation 8), inherent in the texture but which remained incomplete because of the obvious physical impossibility of executing such complexities with two hands. The figuration, especially the most brilliant, frequently reaches the limits of execution on a single stringed instrument (Variations 14, 20 and 26). For this reason, one might have accepted the principle, in some passages, of changing the figuration into something similar, but more idiomatic for the strings. But I preferred, at least for this recording, to keep as close as possible to the original for harpsichord. The result offers an opportunity to listen in a new way to the polyphony of the Goldberg Variations (and the rest of the programme) with the help of the rich timbres of a group of strings, which isolate the individual lines and at the same time recreate the contrapuntal unity of these pieces, underlining once more their extraordinary wealth of invention.”
Rinaldo Alessandrini é um maestro italiano, muito conhecido e admirado aqui no PQPBach por suas gravações de música barroca. Seu conjunto não por acaso se chama Concerto Italiano, e é com ele que os senhores terão a oportunidade de conhecer uma outra possibilidade de interpretação das míticas “Variações Goldberg”, neste caso em arranjo para conjunto de cordas e cravo. Muitos estão acostumados com as tradicionais versões ou para o próprio cravo ou então para piano, e de vez em quando trazemos outras possibilidades, como por exemplo, saxofone. O que tenho a dizer é que o trabalho que Alessandrini fez aqui é absolutamente sensacional, estonteante. Dá uma nova perspectiva a estas variações. Em minha opinião valem cada minuto de audição.
1 passacaglia in d minor, from the original for pedal harpsichord in c minor, bwv 582
aria variata alla maniera italiana in g minor for violin and basso continuo, from the original for harpsichord in a minor, bwv 989
2 Thema
3 Variatio 1
4 Variatio 2 5 Variatio 3
6 Variatio 4
7 Variatio 5
8 Variatio 6
9 Variatio 7
10 Variatio 8
11 Variatio 9
12 Variatio 10
13 canzona in d minor, from the original for organ, bwv 588
goldberg variations, from the original for harpsichord, bwv 988
Eu ouço música (quase) o tempo todo, mas há algumas situações nas quais eu só ouço música. Ou seja, a música e eu. Muito bem, lá estava eu num destes momentos, quando a música terminou e o CD-player rodou para o próximo CD e, Deus do Céu, o que foi isso? Uma onda sonora, forte, quente, rascante, invadiu meu espaço. Pois é, este CD da postagem estava esquecida em uma das entradas do CD-player e eu quase não mais me lembrava dele. Eu o havia comprado numa destas liquidações de fecha-loja e estava esperando para aquele dia de expandir os horizontes. Pois então, expandiu mesmo! O CD é monstro! Fui ler algumas coisa e descobri que o álbum é um clássico!
Produzido por Norman Granz, o disco reúne dois saxofonistas maravilhosos, Coleman Hawkins e Ben Webster, acompanhados por um time que tem Oscar Peterson ao piano. Tá bom ou quer mais? Vejam o que foi dito por Richard Meyer sobre o disco: “Bem possivelmente um dos melhores álbuns de jazz gravado até agora. (…) Este álbum é indispensável para qualquer fã de jazz.” Eu confesso não ter a menor ideia de quem seja Richard Meyer, mas concordo integralmente com ele, pelo menos no que tange a este disco.
O Tony Augarde é um crítico mais conhecido e nos diz: “Coleman Hawkins talvez tenha sido o primeiro músico a fazer o saxofone tenor realmente cantar, e um dos maiores a seguir seus passos foi Bem Webster. Portanto é uma delícia ouví-los juntos neste CD”.
Você pode apostar! Ele diz ainda: “Neste álbum, predomina a delicadeza – pois ambos músicos tornaram-se mais suaves com o passar dos anos. Mesmo assim, seus estilos eram ainda bem distintos para qualquer ouvinte poder distinguir um do outro.”
Realmente, é um enorme prazer ouvir estes maravilhosos músicos inspirarem um ao outro, assim como todo o resto do time que os acompanhava na ocasião. Foi um dia memorável este 16 de outubro de 1957.
Coleman Hawkins encounters Ben Webster
“Blues for Yolande” (Coleman Hawkins) – 6:44
“It Never Entered My Mind” (Richard Rodgers, Lorenz Hart) – 5:47
“La Rosita” (Paul Dupont, Allan Stuart) – 5:02
“You’d Be So Nice to Come Home To” (Cole Porter) – 4:15
“Prisoner of Love” (Russ Columbo, Clarence Gaskill, Leo Robin) – 4:13
“Tangerine” (Johnny Mercer, Victor Schertzinger) – 5:21
“Shine On, Harvest Moon” (Jack Norworth, Nora Bayes) – 4:49
Esta sinfonia é bem representativa de Mahler. É uma de suas músicas mais acessíveis, devido tanto à beleza de seus temas quanto às suas dimensões. Por isso, é como um portal para este universo musical criado por ele.
Gustav Mahler viveu um tempo de muitas mudanças, fim do século XIX e início do século XX, a maior parte do tempo em Viena. Sofreu tragédias pessoais, conviveu com pessoas geniais (Freud, Klimt, Bruckner…) e deixou um enorme legado na música – tanto suas composições quanto na forma de reger e dirigir as grandes orquestras.
A gravação desta postagem não é a mais famosa, mas é maravilhosa. Feita em 1957 com a Philharmonia, a excelente orquestra criada por Walter Legge para a EMI, aqui está nas mãos de Paul Kletzki. O local da gravação é o Kingsway Hall e o pessoal técnico, com produção de Victor Olof, é excelente. O que mais gosto dela é a maneira como apresenta a música, com clareza e simplicidade, mas também com a sutileza necessária.
O que então deve lhe chamar a atenção nesta viagem pelo universo deste complexo compositor? Começamos com a orquestração. Mahler sabia tudo sobre isso, na teoria e na prática. Suas obras demandam orquestras enormes, gigantescas, muitos instrumentos, especialmente na percussão. Mas, ao ouvir essa sinfonia, perceberá um tratamento quase camerístico da orquestra. Grupos de instrumentos combinados de forma contrastante, muitos solos, para terror dos músicos.
O primeiro movimento desta sinfonia inicia com flautas acompanhadas do chocalho de sinos de um trenó de neve (Schelle, em alemão, sleighbells, em inglês) – percussão – seguidas de cordas e tropas, muitas trompas em Mahler. A outra coisa que você notará é a quantidade de diferentes ritmos, criando diferentes episódios dentro de um mesmo movimento. Marchas militares, landlers, valsas, irrompem pelo discurso musical, fazendo alusões às suas lembranças. Essa é outra típica característica de Mahler.
O segundo movimento tem um violino afinado um tom mais alto, para que pareça um violino rústico, uma rabeca. Os solos deste instrumento representam uma figura folclórica – folclore, outra característica de Mahler—chamada Freund Hein, que representa a morte. Estes episódios são intercalados por música muito sentimental, num típico movimento sweet and sour.
O terceiro movimento, Ruhevoll (Poco adagio) – Mahler foi um mestre na composição de adágios – é o núcleo da sinfonia e segue por bons vinte minutos. Durante o período que se dedicou à composição desta sinfonia, Mahler estudou a obra de câmera de Schubert, um mestre na arte de prolongar os movimentos de suas peças. A transição do segundo movimento para este terceiro é muito marcante. As palavras do segundo são pizzicato, staccato, staccatissimo. O terceiro movimento abre com as cordas mais graves, violas, violoncelos e contrabaixos, tocados com os arcos. Ao longo deste enorme movimento, Mahler falará das coisas importantes e profundas da vida. Basta prestar atenção. O movimento é uma longa construção para os clímaces finais. Preste atenção na maneira como Mahler usa as harpas. Poucos compositores as usam tão eficientemente. Ao fim deste movimento, chegamos aos portais do céu, que será descrito no quarto movimento.
Inovação, outra coisa de Mahler. Pela primeira vez (na história da música…) um compositor termina uma sinfonia com uma canção, um Lied. A letra vem de uma coleção de poemas anônimos (folclore) chamada Des Knaben Wunderhorn. Mahler já havia musicado vários destes poemas, inclusive este, Das himmlische Leben, uma visão do céu na perspectiva de uma criança. Os Lieder compostos por Mahler sobre esses poemas formam uma coleção à parte e alguns deles foram incorporados a algumas de suas primeiras sinfonias. Estas são então chamadas Sinfonias Wunderhorn e a quarta é uma delas.
A canção que fecha a quarta sinfonia estava destinada à terceira. Mas, para a nossa sorte, esta já estava tão imensa que a cançãozinha ficou de fora e acabou gerando o projeto da quarta.
Para cantar esses versos infantis, Mahler pede uma voz leve de soprano. Nesta gravação isso é atingido com perfeição pela Emmy Loose. A canção narra a vida celestial, verdadeira festa no céu. Comida, bebida, dança e música, liderada por Santa Cecília e as vozes angelicais.
A sinfonia não foi exatamente bem recebida na época de sua estreia, mas o próprio Mahler disse: Meu tempo virá! Muito bem, ouvindo esta gravação e olhando o catálogo de gravações assim como as inúmeras apresentações desta e das demais obras de Mahler por todo o mundo, não é difícil dizer que ele estava certo.
Aproveite esta oportunidade de conhecer um pouco a música de Mahler. Se você já a conhece, então terá todas as razões para apreciar ainda mais esta gravação.
Já há alguns anos acompanho a carreira da violinista alemã Isabelle Faust. Creio que eu deva ter todas as suas gravações. E graças à internet temos acesso quase que instantâneo ao lançamento de seus CDs.
Pois foi o que aconteceu com este seu novo registro, onde interpreta nossos amados Concertos para Violino de Johann Sebastian, o Bach. E qualquer nova gravação de Faust me é muito especial, pelo apreço que tenho por esta excepcional musicista. Não teme em encarar desde Bártok, Berg, Brahms, Beethoven ou nosso amado e imortal Bach. E também não temo em colocá-la no mesmo patamar de outras duas grandes violinistas da atualidade, Rachel Podger e Amandine Beyer, porém estas duas tem seu principal foco na música barroca, enquanto Faust circula facilmente por estes diversos períodos com extrema competência, versatilidade e diria até facilidade.
Para acompanhá-la, Faust convidou a “Akademie für Alt Musik Berlin”, conjunto altamente especializado neste repertório.
Ah, este CD foi lançado pela Harmonia Mundi agora no dia 15 de março, ou seja, é fresquinho, recém saído dos fornos da gravadora. Assim a amazon nos apresenta a este fortíssimo candidato a Gravação do Mês, quiçá do ano, da conceituada revista Grammophone:
“This recording featuring Isabelle Faust and Akademie für Alte Musik Berlin explores works by Johann Sebastian Bach that were, in one form or another, originally written or conceived as violin showpieces. Along with the famous Violin Concertos BWV 1041-43, a selection of of overtures, trio sonatas, and concertos now associated with other instruments, are performed here on violin as the composer intended. Hearing Faust play the famous Badinerie from the second Orchestral Suite (normally played on flute) is a reminder that the author of The Well-Tempered Clavier was also a virtuoso violinist.”
CD 1
1. Isabelle Faust – Violin Concerto in D Minor, BWV 1052R_ I. Allegro
2. Isabelle Faust – Violin Concerto in D Minor, BWV 1052R_ II. Adagio
3. Isabelle Faust – Violin Concerto in D Minor, BWV 1052R_ III. Allegro
4. Akademie fur Alte Musik Berlin – Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte, BWV 174_ I. Sinfonia
5. Isabelle Faust – Violin Concerto in E Major, BWV 1042_ I. Allegro
6. Isabelle Faust – Violin Concerto in E Major, BWV 1042_ II. Adagio
7. Isabelle Faust – Violin Concerto in E Major, BWV 1042_ III. Allegro assai
8. Akademie fur Alte Musik Berlin – Ich hatte viel Bekümmernis, BWV 21_ Sinfonia
9. Isabelle Faust – Trio Sonata in C Major, BWV 529_ I. Allegro (Arr. for 2 violins and basso continuo)
10. Isabelle Faust – Trio Sonata in C Major, BWV 529_ II. Largo (Arr. for 2 violins and basso continuo)
11. Isabelle Faust – Trio Sonata in C Major, BWV 529_ III. Allegro (Arr. for 2 violins and basso continuo)
12. Isabelle Faust – Concerto for violin and oboe in C Minor, BWV 1060R_ I. Allegro
13. Isabelle Faust – Concerto for violin and oboe in C Minor, BWV 1060R_ II. Largo ovvero Adagio
14. Isabelle Faust – Concerto for violin and oboe in C Minor, BWV 1060R_ III. Allegro
CD 2
1. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ I. Ouverture
2. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ II. Rondeau
3. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ III. Sarabande
4. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ IV. Bourrées I & II
5. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ V. Polonaise. Moderato e staccato. Double
6. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ VI. Menuet
7. Isabelle Faust – Overture No. 2 in B Minor, BWV 1067_ VII. Badinerie. Staccato
8. Isabelle Faust – Trio Sonata in D Minor, BWV 527_ I. Andante (Arr. for oboe, violin and basso continuo)
9. Isabelle Faust – Trio Sonata in D Minor, BWV 527_ II. Adagio e dolce (Arr. for oboe, violin and basso continuo)
10. Isabelle Faust – Trio Sonata in D Minor, BWV 527_ III. Vivace (Arr. for oboe, violin and basso continuo)
11. Isabelle Faust – Violin Concerto in G Minor, BWV 1056R_ I. [no tempo marking]
12. Isabelle Faust – Violin Concerto in G Minor, BWV 1056R_ II. Largo
13. Isabelle Faust – Violin Concerto in G Minor, BWV 1056R_ III. Presto
14. Akademie fur Alte Musik Berlin – Himmelskönig, sei willkommen, BWV 182_ I. Sonata. Grave. Adagio
15. Isabelle Faust – Violin Concerto in A Minor, BWV 1041_ I. [no tempo marking]
16. Isabelle Faust – Violin Concerto in A Minor, BWV 1041_ II. Andante
17. Isabelle Faust – Violin Concerto in A Minor, BWV 1041_ III. Allegro assai
18. Akademie fur Alte Musik Berlin – Sinfonia in D Major, BWV 1045
19. Isabelle Faust – Concerto for 2 Violins in D Minor, BWV 1043_ I. Vivace
20. Isabelle Faust – Concerto for 2 Violins in D Minor, BWV 1043_ II. Largo ma non tanto
21. Isabelle Faust – Concerto for 2 Violins in D Minor, BWV 1043_ III. Allegro
Isabelle Faust, violin Jacobus Stainer (1658)
Bernhard Forck, anonymous violin, South Germany (1725)
Xenia Löffler, oboe and recorder
Jan Freiheit, cello
Raphael Alpermann, harpsichord
Akademie für Alte Musik Berlin
Carl Philipp Emanuel parece anunciar Beethoven, Johann Christian é mais Mozart. Nenhum dos dois era o filho preferido, mas JC — filho mais novo — devia ser insuportável. CPE trabalhou anos com Frederico II, da Prússia. JC viveu um bom tempo na Inglaterra, motivo pelo qual ficou conhecido como “Bach Londrino”. Talvez, para nosso tempo, seja difícil entender o homem que foi Johann Sebastian Bach, o pai deles. Ele nasceu em 21 de março de 1685, no que hoje é a Alemanha, numa família de músicos. Era um tempo em que era comum os filhos adotarem a profissão dos pais. Na região da Saxônia, o nome Bach era de tal forma relacionado à música que alguém com tal sobrenome só poderia ser músico e provavelmente trabalhava em alguma igreja. Seguindo a árvore genealógica da família Bach, dos 33 Bach homens, 27 foram músicos. Só que o talento explodiu espetacularmente em Johann Sebastian. Estes 2 Magnificats são muito diferentes dos de JS, soam muito mais modernos, mas não têm aquela transcendência, né? A abertura do Magnificat de CPE é magnífico.
Carl Phillipp Emanuel Bach (1717-1788): Magnificat
1. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Magnificat
2. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Quia respex
3. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Quia fecit
4. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Et miserico
5. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Fecit poten
6. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Deposuit po
7. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Suscepit Is
8. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Gloria
9. Magnificat for 4 voices, chorus, 2 flutes, 2 oboes, 3 trumpets, 2 horns, strings & continuo in D minor, H. 772, Wq. 215,: Sicut erat
Johann Christian Bach (1735-1782): Magnificat
10. Tantum ergo, for 4 solo voices, chorus & orchestra in G major, CW E26 (T. 209/7): Tantum ergo
11. Tantum ergo, for 4 solo voices, chorus & orchestra in G major, CW E26 (T. 209/7): Genitori genitoque
12. Magnificat, for 4 solo voices, chorus & orchestra in C major, CW E22 (T. 207/3): Magnificat
13. Magnificat, for 4 solo voices, chorus & orchestra in C major, CW E22 (T. 207/3): Et misericordia
14. Magnificat, for 4 solo voices, chorus & orchestra in C major, CW E22 (T. 207/3): Fecit potentiam
15. Magnificat, for 4 solo voices, chorus & orchestra in C major, CW E22 (T. 207/3): Gloria patri et filio
16. Magnificat, for 4 solo voices, chorus & orchestra in C major, CW E22 (T. 207/3): Et in saecula saeculorum
Elisabeth Scholl
Ruth Sandhoff
Andreas Karasiak
Gotthold Schwarz
Dresdner Kammerchor
La Stagione
Michael Schneider
The Clown é um álbum de Charles Mingus gravado e lançado em 1957 na Atlantic Records. É uma espécie de continuação do Pithecanthropus Erectus de 1956. Uma edição de luxo em CD foi lançada em 2000 com duas faixas bônus que estão aqui. Todas as faixas foram gravadas em 12 de março de 1957, exceto The Clown, gravado em 13 de fevereiro do mesmo ano. De acordo com as notas de Nat Hentoff, Mingus explicou por que ele escolheu essas quatro faixas para o álbum: “Eu selecionei essas quatro mais duas outras que eram mais complicadas porque alguns desses caras estavam dizendo que eu não tinha swing. Então… Este álbum também tem o primeiro blues que eu fiz”. Haitian Fight Song e Tonight at Noon estão entra as maiores obras de Mingus. A legenda da foto abaixo pode ser compreendida por quem conhece o histórico do grande Mingus.
Charles Mingus: The Clown
1 “Haitian Fight Song” – 11:57
2 “Blue Cee” – 7:48
3 “Reincarnation of a Lovebird” – 8:31
4 “The Clown” – 12:29
5. “Passions of a Woman Loved” – 9:52
6 “Tonight at Noon” – 5:57
Charles Mingus – bass
Shafi Hadi – alto and tenor saxophone
Jimmy Knepper – trombone
Wade Legge – piano
Dannie Richmond – drums
Jean Shepherd – narration (track 4)