BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Bagatelas e Danças para piano, volume 3 – Jandó

Concluímos nosso minifestival Jandó com o último balaio de gatinhos pianísticos beethovenianos e uma pequena homenagem ao artista.

Lembro-me de, há alguns anos, ter lido uma reportagem sobre Jandó, focando em sua impressionante e variada discografia. O tom, se não deliberadamente desabonador, tendia a pintar o pianista como um músico de pouco brilho que teve que se contentar com a labuta obreira num selo de segunda linha. Além disso, era um compêndio de resmungos, como a alegação de que seus contemporâneos András Schiff e Zoltán Kocsis eram conhecidos internacionalmente porque foram privilegiados pelo governo, ou de que ele próprio, um interiorano, era discriminado por suas contrapartes em Budapest. Somando a tudo algumas cores anedóticas, como o feroz hábito tabágico e o costume de cantarolar ao teclado à la Glenn Gould, controlado pelo truque de lhe manter um cigarro apagado na boca, saía-se com a impressão de que Jandó, professor na conceituada Academia de Música Franz Liszt, seria um músico medíocre e, acima de tudo, uma criatura patética.

Quem ouvir a gravação seguinte perceberá que não. Tomem, por exemplo, o rondó que a abre, que Beethoven descreveu com o neologismo “ingharese” (mescla de “zingarese” e”ungherese”/”cigano” e “húngaro”) e que seu factotum, o atochador Anton Schindler, descreveu como “A Fúria pelo Tostão Perdido”.  Em frenéticos seis minutinhos, carregados do mais explícito humor, Beethoven parece querer demolir toda reputação de pathos e heroísmo que lhe plugam – e Jandó realiza, com muita destreza, os intentos do mestre. Gosto muito também de sua interpretação para o dito “Andante favori”, o movimento lento inicialmente destinado à sonata alcunhada “Waldstein”, que acabou substituído por uma introdução mais concisa, provavelmente, porque o primeiro e último movimentos já exigiam músculo o bastante e, ainda, porque o andante, assim como o finale, também é um rondó. Se a vastidão do repertório de Jandó – e, mui provavelmente, também seu contrato – não lhe permite lapidar cada peça que grava ao ponto do memorável, esperamos que o que aqui ouviram possa inspirá-los a explorar sem preconceitos sua discografia em constante expansão. Se ele merece a prata, o ouro ou o mármore, vocês me contam depois.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

BAGATELAS E DANÇAS PARA PIANO, volume 3

Rondó alla ingharese, quasi un capriccio, em Sol maior, Op. 129, “Der Wut über den verloneren Groschen” (“A Fúria sobre o Tostão Perdido”)
Composto em 1795
Completado por Anton Diabelli e publicado postumamente em 1828
1 – Allegro vivace

2 – Andante em Fá maior, WoO 57, “Andante favori” (1804)
3  – Duas Danças Alemãs, Hess 67 – Allegro e Da Capo (“Der Deutscher”) (1811)

Dois Rondós para piano, Op. 51 (1796-1798)
4 – No. 1 em Dó maior
5 – No. 2 em Sol maior

6 – Rondó em Lá maior, WoO 49 (1783)

Doze Minuetos, WoO 7 (1795)
7 – No. 1 em Ré maior
8 – No. 2 em Si bemol maior
9 – No. 3 em Sol maior
10 – No. 4 em Mi bemol maior
11 – No. 5 em Dó maior
12 – No. 6 em Lá maior
13 – No. 7 em Ré maior
14 – No. 8 em Si bemol maior
15 – No. 9 em Sol maior
16 – No. 10 em Mi bemol maior
17 – No. 11 em Dó maior
18 – No. 12 em Fá maior

Jenő Jandó, piano

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Ao herói, o mármore

#BTHVN250, por René DenonVassily

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