Este disco tem ares de bootleg. Trata-se da gravação de um Concerto com muita gente tossindo, som mais ou menos e com um Rostropovich entusiasmado, até cometendo alguns errinhos, o mesmo valendo para a orquestra. É de uma certa Russian Disc e os concertos aconteceram em 29 de setembro de 1966 e 25 de setembro de 1967, dia do aniversário de 61 anos de Shostakovich. Não que registros ao vivo me incomodem — gosto muito delas, sinto a atmosfera de concerto como o ar de minha infância. Os erros… Quem se importa com eles se Rostrô está defendendo a música com toda a garra e sensibilidade que a obra e seu amigo Shosta merecem? Eu amo esses dois concertos, sendo que o segundo faz parte do meu Olimpo pessoal. Depois, Rostrô regravou de forma espetacular essas obras no ocidente com Ozawa, em discos que você tem que ouvir (aqui o Nº 1, aqui o Nº 2) , pois o violoncelista esteve em contato com o compositor durante a feitura dos concertos e estes devem ser o mais próximo dos desejos do mesmo. Mas esta gravação meio sujinha também é muito boa!
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Concertos para Violoncelo Nº 1 e Nº 2 (Rostropovich / Svetlanov)
Cello Concerto No. 1 in E flat major
1 Allegretto 5:48
2 Moderato 10:09
3 Cadenza – Attacca 4:34
4 Allegro con moto 4:20
Com alguma justiça, convencionou-se dizer que a Orquestra Filarmônica de Berlim é a campeã das orquestras. Isso desde antes do polêmico Karajan, na verdade desde o século XIX, com Hans von Bülow, entrando no século XX com Nikisch, Furtwängler e outros. Depois de HvK, tivemos os nomes lendários de Abbado e Rattle, chegando a 2018 com Kirill Petrenko. O russo ainda tem poucas gravações, mas já demonstra que tem tudo para seguir a estirpe. Esta versão da Sinfonia Nº 8 de Shostakovich é maravilhosa, dando aquela impressão de não somente ser definitiva como de estarmos ouvindo uma orquestra segura e infalível numa obra cheia de dificuldades. Trata-se de uma performance vívida, respirando convicção em cada momento. Não é apenas o alcance emocional da música que é destacado, há muito caráter também, especialmente em alguns dos solos. Kirill Petrenko nos lembra que Shostakovich poderia evocar emoções cruas com a urgência e acuidade de Mahler ou Tchaikovsky. Afinal, a Oitava é quase um drama psicológico, não?
1 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: I. Adagio – Allegro non troppo 25:12
2 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: II. Allegretto 06:10
3 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: III. Allegro non troppo 06:00
4 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: IV. Largo 09:55
5 Shostakovich: Symphony No. 8 in C Minor, Op. 65: V. Allegretto 13:39
Após dezesseis anos, as carreiras dos membros do Trio Florestan se tornaram divergentes em 2011. Infelizmente, este disco marca o fim do Trio. Para esta gravação final, eles apresentam um programa 100% Shostakovich composto por seus dois trios para piano e os Sete Romances sobre Poemas de Alexander Blok, para os quais se juntam o soprano Susan Gritton. Escrito em 1923, o primeiro trio foi a obra surpreendente de um estudante de dezessete anos. A segunda, uma das maiores obras-primas do compositor, foi estreada cerca de vinte anos depois. Os romances foram a resposta a um pedido de Mstislav Rostropovich de um repertório que ele e sua esposa Galina Vishnevskaya pudessem apresentar juntos. Como sempre, o Florestan Trio está impecável e pleno de musicalidade. Uma pena que tenham acabado.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Piano Trios Nos 1 & 2 • Seven Romances Op 127 (The Florestan Trio, Susan Gritton)
1 Piano Trio No 1 In C Minor ‘Poème’ Op 8 11:31
Seven Romances On Poems Of Alexander Blok Op 127
Soprano Vocals – Susan Gritton
Words By – Alexander Blok*
(25:16)
2 Ophelia’s Song 3:08
3 Gamayun, The Prophet Bird 3:41
4 We Were Together 2:38
5 The City Sleeps 2:58
6 The Storm 2:08
7 Mysterious Signs 4:57
8 Music 5:42
Piano Trio No 2 In E Minor Op 67 (25:04)
9 Andante 7:19
10 Allegro Non Troppo 3:04
11 Largo 4:53
12 Allegretto 9:45
Cello – Richard Lester
Ensemble – The Florestan Trio
Piano – Susan Tomes
Producer – Andrew Keener
Violin – Anthony Marwood
Jazz por Shostakovich? E recebeu uma Gramophone’s Choice e relançamento anos depois na série The Originals? Bem, este maravilhoso CD não bem isso. As incursões animadas e cativantes de Shostakovich na música popular de seu tempo estavam muito longe de Jelly Roll Morton ou Duke Ellington. como vocês poderão comparar. Essas coloridas suítes de jazz chaplinescas ficam mais próximas de Gershwin, Milhaud e outros. Aqui, Shostakovich faz uma espécie de paródia — aliás, suas maiores obras também possuem episódios assim. Além disso, o jazz “real” era tratado com desconfiança na Rússia soviética e, portanto, a exposição de Shostakovich a ele era limitada. Chailly e a RCO trazem linda música, lindamente tocada e gravada. Tudo cheio de valsas e polcas. Realmente mostra a versatilidade de Shostakovich — muitas vezes nem soa como ele. É leve, arejado, divertido, harmonicamente ousado em alguns momentos, mas sempre muito gostoso de ouvir. Ah, e tem uma baita versão do belo Concerto Nº 1 para Piano e Orquestra. Ouça e divirta-se.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): The Jazz Album (RCO, Chailly)
Jazz Suite No. 1
1 Waltz 2:37
2 Polka 1:41
3 Foxtrot 3:38
Piano Concerto No. 1 In C Minor, Op. 35 (Concert For Piano, Trumpet And Strings)
4 Allegretto 5:36
5 Lento 8:04
6 Moderato 1:44
7 Allegro Con Brio 6:28
Jazz Suite No. 2 (Suite For Promenade Orchestra)
8 March 3:04
9 Lyric Waltz 2:35
10 Dance 1 2:57
11 Waltz 1 3:19
12 Little Polka 2:32
13 Waltz 2 3:41
14 Dance 2 3:34
15 Finale 2:19
16 Tahiti Trot (Tea For Two) 3:33
Piano – Ronald Brautigam
Trumpet – Peter Masseurs
Royal Concertgebouw Orchestra
Riccardo Chailly
Eu amo os belos e também zombeteiros Concertos para Piano de Shostakovich! Para um virtuoso tão consumado como Marc-André Hamelin, estes concertos podem parecer quase como um passeio no parque. Certamente, o famoso comando técnico do canadense está mais empolgante do que nunca. Mas isso não significa que Hamelin seja insensível aos muitos tons de voz mais calmos da música. O exemplo claro disso é seu tratamento dos movimentos lentos – o do número 2 pode até ser um tom lânguido demais para alguns gostos (embora não para o meu). As gravações próprio compositor em 1959 em Paris, feitas quando sua técnica já estava começando a ser desafiada pela debilidade muscular que o atormentaria pelo resto de sua vida, oferecem insights inestimáveis sobre sua personalidade musical e Hamelin certamente o ouviu — o final do número 1 comprova. O Segundo Concerto de Shchedrin é um dos exemplos mais inventivos do antigo poliestilismo soviético, mantendo um equilíbrio entre diferentes técnicas e um toque de jazz. É uma boa companhia para Shosta.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Concertos para Piano Nº 1 e 2 / Rodion Shchedrin (1932): Concerto para Piano Nº 2 (Hamelin / Litton)
Piano Concerto No 1 In C Minor Op 35 (1933) (22:14)
1 Allegro Moderato – 5:40
2 Lento – 8:27
3 Moderato – 1:33
4 Allegro Con Brio 6:31
Piano Concerto No 2 In F Major Op 102 (1957) (19:16)
5 Allegro 6:50
6 Andante – 7:18
7 Allegro 5:05
Piano Concerto No 2 (1966) (21:26)
8 Dialogues: Tempo Rubato 9:02
9 Improvisations: Allegro 4:21
10 Contrasts: Andante – Allegro 7:57
Composed By – Dmitri Shostakovich (faixas: 1 to 7), Rodion Shchedrin* (faixas: 8 to 10)
Concertmaster [Leader Of Orchestra] – Marcia Crayford
Conductor – Andrew Litton
Orchestra – BBC Scottish Symphony Orchestra
Trumpet – Mark O’Keeffe (faixas: 1 to 4)
Um bom disco, principalmente pelo extraordinário Brahms. O Trio Klavis (Jenny Lippl, violino / Miha Ferk, sax alto / Sabina Hasanova, piano) apresenta três transcrições de obras escritas para quase os mesmos instrumentos, pero no mucho. Em seus arranjos para trio de piano com sax alto, os músicos alcançam uma surpreendente unidade tonal nas obras de Johannes Brahms (originalmente com trompa), Dmitri Shostakovich (originalmente com violoncelo) e Ernst Krenek (originalmente com clarinete). Instrumentos de teclado, sopro e cordas unem forças para criar uma verdadeira unidade, dedicando-se com tremenda verve às linguagens tonais do Romantismo ao Modernismo nas obras extremamente diversas. Não me apaixonei, mas o Brahms… Ahhhh!!!
Brahms
1 Andante-Poco più animato – Trio Klavis; Jenny Lippl; Miha Ferk; Sabina Hasanova
2 Scherzo. Allegro-Molto meno Allegro – Trio Klavis
3 Adagio mesto – Trio Klavis
4 Finale. Allegro con brio – Trio Klavis
Shostakovich
5 Trio No. 1 for violin, cello and piano in C minor, Op. 8 – Trio Klavis; Jenny Lippl; Miha Ferk; Sabina Hasanova
Vadim Gluzman e Angela Yoffe são marido e mulher que se entendem. Eles nos dão uma poderosa versão da Sonata de Shostakovich de 1968. Esta performance atende à quaisquer exigências, com o Allegretto central projetando uma atmosfera de estimulante ferocidade. A Jazz Suite No 1 de 1934 leva a um Shostakovich muito diferente: o humor pode ser sarcástico, mas o clima é alegre e otimista. A Sonata de Auerbach, sua resposta aos eventos de 11 de setembro, tem gestos largos e até melodramáticos. É uma peça bem feita, imaginativamente moldada para os dois instrumentos e com alguns momentos lindos e inspiradores.
Dmitri Shostakovich (1906-1975) & Lera Auerbach (1973): Música para Violino e Piano (Gluzman / Yoffe)
Shosta:
Sonata For Violin And Piano, Op. 134 (1968)
1 I. Andante 11:05
2 II. Allegretto 6:51
3 III. Largo – Andante 14:30
Jazz Suite No. 1 For Violin And Piano (1934/2005)
4 I. Waltz 2:26
5 II. Polka 1:42
6 III. Foxtrot 3:45
Auerbach:
Lonely Suite (Ballet For A Lonely Violinist), Op. 70 (2002)
7 I. Dancing With Oneself. Andante 2:09
8 II. Boredom. Moderato 1:15
9 III. Nos Escape. Allegro 1:23
10 IV. Imaginary Dialogue. Andantino 3:12
11 V. Worrisome Thought. Moderato 1:05
12 VI. Question. [Ad Lib.] 0:56
13 Sonata No.2 For Violin And Piano (September 11), Op. 63 (2001) [In One Movement] 14:39
Eu sempre admirei muito a versão em vinil que tenho da Sinfonia Nº 15 de Shostakovich regida por seu filho Maxím (1938) em 1972. É uma gravação da Melodiya com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Moscou. Adoro aquele LP.
A ele, Maxím, foi dedicado o Concerto Nº 2 para Piano e Orquestra. Ele foi o solista na estreia da peça do pai. Conhecido por muitas obras dramáticas compostas à sombra de Stalin e outros líderes soviéticos, Dmitri mostrou um lado diferente – cheio de humor e carinho – neste lindo Concerto para Piano. Maxím estreou a peça em sua formatura no Conservatório de Moscou em maio de 1957. Questões de afeto.
Depois, o pianista Maxim transformou-se num renomado maestro, tendo gravado, com a maravilhosa Orquestra Sinfônica de Praga, a integral das sinfonias do pai. Ignoro se o segundo filho de Dmitri e Nina Varzar ainda está ativo aos 84 anos, mas sei que está vivo e que trabalhou muito em São Petersburgo e nos EUA. Foi regente titular da Sinfônica de New Orleans, assim como artista condecorado na URSS. Esta gravação é de 2006, para a Supraphon da República Tcheca, em homenagem aos 100 anos de nascimento de papai Shosta. Em 2013, vi esta orquestra em ação interpretando Dvořák e Prokofiev no Rudolfinum de Praga, onde arrancaram compulsoriamente meu casaco e o de minha filha antes de entrarmos na sala. Para os tchecos, entrar de casaco na maravilhosa sala calafetada de concertos da cidade é uma completa heresia. A orquestra, garanto-lhes, é fantástica e não nos decepciona. Mas voltando a nosso assunto, Maxím é seguro e conhece como poucos a obra orquestral de papai.
A maioria das sinfonias foi gravada como se deve, ao vivo, e tanto as versões ao vivo quanto as de estúdio têm alta qualidade sonora. Aliás, as ao vivo são melhores. Maxim vai muito bem nos extremos — nos movimentos lentos e na pauleira — e o sotaque diferente da orquestra e do regente dão um colorido especial à coleção. Eu gostei muito de passar 10 dias com os 10 CDs dos Shostakovich nos ouvidos. Gravação altamente recomendada.
Maxim com seu pai.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): As Sinfonias Completas (Prague Symphony Orchestra, Maxim Shostakovich)
Sinfonia Nº 1 F Moll
1-1 Allegretto 8:21
1-2 Allegro 4:40
1-3 Lento 9:36
1-4 Allegro Molto 9:56
Sinfonia Nº 13 B Moll “Babí Jar” Pro Bas, Sbor A Orchestr
10-1 Babí Jar. Adagio 16:47
10-2 Humor. Allegretto 8:26
10-3 V Obchodě. Adagio 12:53
10-4 Strachy. Largo 13:30
10-5 Kariéra. Allegretto 13:37
Bass Vocals – Peter Mikuláš (faixas: 10-1 to 10-5), Mikhail Ryssov* (faixas: 3-2 to 3-12)
Choir – Kühn Mixed Chorus* (faixas: 10-1 to 10-5), Prague Philharmonic Choir* (faixas: 2-1, 3-1, 10-1 to 10-5)
Chorus Master – Jan Rozehnal (faixas: 3-1), Jan Svejkovský (faixas: 2-1), Pavel Kühn (faixas: 10-1 to 10-5)
Composed By – Dmitri Shostakovich
Conductor – Maxim Shostakovich
Orchestra – The Prague Symphony Orchestra
Soprano Vocals – Marina Shaguch (faixas: 3-2 to 3-12)
O pianista Alexander ‘Lexo’ Toradze faleceu em 11 de maio de 2022 em South Bend, Indiana, EUA. Toradze foi professor de piano na Indiana University at South Bend por vários anos. Ele nasceu 69 anos antes em Tbilisi, Geórgia.
Em seu blog – SlippeDisc –, Norman Lebrecht conta que Lexo estava tocando um concerto de Shostakovich com a Vancouver Symphony Orchestra quando sofreu uma insuficiência cardíaca aguda. Mesmo assim, continuou até o fim do concerto: The pianista who played on through heart failure has died, foi o título da postagem.
O testemunho do regente Gerard Schwarz transcrito no post deixa evidente como o pianista era bem quisto pelos colegas.
Entre as suas gravações mais conhecidas há a integral dos Concertos para Piano de Prokofiev, acompanhado pela Kirov Orchestra, regida por Valery Gergiev. Eu tenho outros dois discos muito bons, gravados pela EMI (quando a EMI existia…), com peças solo de Ravel, Mussorgsky, Stravinsky e Prokofiev. O Gaspard de la nuit dele é comparável à gravação feita por Ivo Pogorelich e as Três Cenas de Petrushka estão bem juntas da gravação feita por Maurizio Pollini. Bem, essa é a minha opinião…
Este disco com os Concertos de Shostakovitch está ótimo!
Sobre o disco: Really beautiful renditions. Fabulous, confident secure playing – you really can just relax and enjoy every note. Powerful, lyrical and mischievous by turns. Highly recommended!
Sobre o pianista: Alexander Toradze is universally recognised as a masterful virtuoso in the grand Romantic tradition. With his unorthodox interpretations, deeply poetic lyricism, and intense emotional excitement, Alexander Toradze lays claim to his own strong place in the lineage of the great Russian pianists.
Em um CD de 2005 já postado por PQP, temos uma gravação de referência da Sonata de Shosta para violoncelo e piano, por Martha Argerich e Micha Maisky. O que essa dupla faz na sonata é uma barbaridade! O temperamento fogoso de Martha cai muito bem na obra escrita pelo jovem Shosta em 1934, pra não falar da fluência de Micha – educado em Leningrado e depois aluno de Rostropovich em Moscou – na linguagem do compositor.
Mas hoje temos um outro álbum mais recente, com dois músicos franceses que trazem várias sutilezas, detalhes que passaram quase despercebidos naquela outra interpretação. Por exemplo o canto do violoncelo e o acompanhamento suave do piano no movimento lento (largo) belíssimo que Vitaud e Laferrière conduzem em um andamento mais calmo e sonhador que a outra dupla citada. No 2º e no 4º movimento, temos aquele piano staccato, meio moto perpetuo meio marcha, tão característico de Shosta. Poucos anos depois, ele cairia em desgraça junto ao regime soviético por causa de obras como a ópera Lady Macbeth e o balé O Parafuso (1931), este último encenado apenas um dia e logo banido por seu enredo subversivo: um trabalhador que queria sabotar o maquinário da fábrica com um parafuso. O balé O riacho límpido (1935) – no qual camponeses casados flertavam com bailarinas – também foi proibido e o autor do libretto foi preso e fuzilado. O jovem Shostakovich deu sorte e escapou por um fio.
O repertório escolhido pela dupla francesa tem também a sonata para violoncelo e piano de Rachmaninoff, composta quando este também tinha menos de 30 anos. Cheia de melancolia romântica e melodias notáveis, essa sonata – assim como os Trios Elegíacos de Rach – me agrada mais do que os exageros orquestrais dos concertos para piano. Digamos assim: um piano e um violoncelo açucarados são glicose em uma medida razoável, enquanto uma orquestra inteira assim já é demais para minha saúde. Podem me xingar nos comentários.
Shosta e Denisov em 1953
E entre as duas grandes sonatas temos o conjunto de variações de Denisov sobre um singelo tema de Schubert, tema do Impromptu D.935 nº 2, que só neste ano de 2022 já apareceu aqui no PQPBach nas gravações de Chukovskaya, Lupu e Sokolov. Usem a lupa no canto superior direito para comparar… Também à direita e mais abaixo, o nome de Edison Denisov faz sua estreia aqui. Denisov era mal visto pelo regime soviético assim como seus colegas de geração Schnittke e Gubaidulina. Ou seja: estava em boa companhia, a uma distância segura dos lambe-botas de sempre. Todo ditador tem seus puxa-sacos: me desculpem vocês a digressão, é porque hoje vi o retorno daquele senhor dono de um canal de TV brasileiro, um que sempre sorriu e bateu palma pra ditador, e me lembrei que meus avós – um tiquinho mais velhos que a geração desse puxa-saco brasileiro, de Denisov e de Gubaidulina – sempre desprezaram eSSe senhor. “Muitos se deixaram engambelar por oportunismo” (L.F. Verissimo sobre 64), mas me perdoem novamente por esses longos parênteses, talvez eles tenham a função de explicar que nenhum desses compositores aqui representados deve ser confundido com o regime russo, seja o antigo ou o novo. Este disco não tem nada a ver com essas minhas últimas frases amargas, o Shosta/Rach/Denisov da dupla francesa é puro lirismo e sensibilidade: como um bom vinho rosé, é sutil e complexo sem ser pesado.
Rach preparado para o inverno
Dmitri Shostakovich (1906-1975)
Cello Sonata in d minor, op.40
1 I. Allegro non troppo 11’51
2 II. Allegro 3’13
3 III. Largo 8’04
4 IV. Allegro 4’05 Edison Denisov (1929-1996)
5 Variations on a theme by Schubert 13’36 Sergei Rachmaninoff (1873-1943)
Cello Sonata in g minor, op.19
6 I. Lento. Allegro moderato 13’53
7 II. Allegro scherzando 6’27
8 III. Andante 5’41
9 IV. Allegro mosso 10’35
Victor Julien-Laferrière, cello
Jonas Vitaud, piano
PS: Em um contexto de joga-pedra-na-geni-russa, Alain Lompech escreveu essas palavras abaixo na revista Classica de Abril/22, aqui mal traduzidas:
Não nos esqueçamos do seguinte: o compositor Dmitri Shostakovich (1919-1975) foi muito mal visto na década de 1970. Ele foi tratado como o compositor oficial do regime soviético. Quando foi lançado “Testemunho: Memórias de Shostakovich, observações recolhidas por Simon Volkov” (1980), alguns comentaristas afirmaram que se tratava de uma falsificação.
Do lado comunista, furiosos com um conteúdo que se sabia correto, assim como no campo dos jornalistas e críticos de música ocidentais que não aceitavam descobrir uma realidade muito diferente das conclusões que eles tiravam absurdamente de uma música que simplesmente não obedecia aos cânones obrigatórios da Segunda Escola de Viena. Nessas páginas, descobrimos um homem petrificado pelo arbítrio e que pensava em apenas uma coisa: compor.
Shostakovich e sua esposa Irina também preparados para o inverno russo
Qualquer gravação da Sinfônica de Chicago traz os melhores metais. Não adianta, é cultural. E aqui não é diferente. As trombonadas, agora comandadas por um maestro genial, são impecáveis. Sempre. O restante talvez seja pior do que o ciclo de Haitink-Shostakovich que recém publicamos. A Sinfonia Nº 4 é uma sinfonia decididamente mahleriana. Shostakovich estudara Mahler por vários anos e aqui estão ecos monumentais destes estudos. Sim, monumentais. Uma orquestra imensa, uma música com grandes contrastes e um tratamento de câmara em muitos episódios rarefeitos: Mahler. O maior mérito desta sinfonia é seu poderoso primeiro movimento, que é transformação constante de dois temas principais em que o compositor austríaco é trazido para as marchas de outubro, porém, minha preferência vai para o também mahleriano scherzo central. Ali, Shostakovich realiza uma curiosa mistura entre o tema introdutório da quinta sinfonia de Beethoven e o desenvolve como se fosse a sinfonia “Ressurreição”, Nº 2, de Mahler. Uma alegria para quem gosta de apontar estes diálogos. O final é um “sanduíche”. O bizarro tema ritmado central é envolvido por dois scherzi algo agressivos e ainda por uma música de réquiem. As explicações são muitas e aqui o referencial político parece ser mesmo o mais correto para quem, como Shostakovich, considerava que a URSS viera das mortes da revolução de outubro e estava se dirigindo para as mortes da próxima guerra.
D. Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 4 (Haitink, Chicago) (1:10:26)
1 Allegretto Poco Moderato – Presto 29:39
2 Moderato Con Moto 9:41
3 Largo – Allegro 31:06
Este CD é formidável. Reúne três importantes compositores da música russa – Glinka, Roslavets e Shostakovich. Glinka é considerado como o pai da música russa. Suas composições influenciaram O Grupo dos Cinco, formado por Balakirev, Borodin, Cui, Mussorgsky e Rimsk-Korsakov. Tal grupo procurava uma produção essencialmente russa. Já Roslavets tem em sua produção musical uma importante marca – suas obras revelam um mundo sonoro denso e misterioso, que sugere influências de Debussy e Scriabin, e, até certo ponto, Schoenberg. O último dos três compositores é Shostakovich, uma das minhas paixões. A Sonata para viola e piano, Op. 147 é singular e melancólica. Não deixe de ouvir este registro que revela o âmago da produção russa. Sou apaixonado pela música russa. E eis aqui uma possibilidade de conferir este extraordinário CD com três sonatas fantásticas. Boa apreciação!
Mikhail Glinka (1804-1857): Sonata para Viola e Piano / Nikolai Roslavets (1881-1944): Sonata para viola e piano / Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sonata para viola e piano, Op. 147 (Bashmet)
Mikhail Glinka (1804-1857) – Sonata para Viola e Piano in D menor (18:21)
1. Allegro moderato [9:59]
2. Larghetto ma non troppo [8:14]
Nikolai Roslavets (1881-1944) – Sonata para viola e piano (12:23)
3. Sonata para viola e piano [12:23]
Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Sonata para viola e piano, Op. 147 (36:11)
4. Moderato [11:24]
5. Allegretto [6:52]
6. Adagio [17:53]
No século XX, só posso comparar este conjunto de sinfonias de Mahler, à série de romances de Thomas Mann ou à literatura de Kafka, Borges ou Joyce ou ainda às pinturas de Picasso ou Kandinsky — ou ainda a algo maior, coisa que não sei se existe.
A surpreendente Sinfonia Nº 1; a decepcionante Nº 2; a curiosa Nº 3; a Nº 4, a que muda tudo, que é a primeira das grandiosas e talvez a mais sarcástica de todas — aquele Moderato beethoveniano bem ali no meio… –; a clássica e famosa Nº 5; a bipolar — pois dramática e circence — Nº 6; a importante, heroica e não tão boa Nº 7; a muito apaixonante e longa Nº 8 — com direito a dois scherzi e uma passacaglia –; a zombeteira (alvo: Stálin) Nº 9; a antistalinista e linda Nº 10; a Nº 11, que é a melhor das músicas programáticas que conheço; o escorregão da Nº 12 — filha piorada da Nº 7 –; a dilacerante e linda Babi Yar, Nº13; os grandes poemas de morte da quase camarística Nº 14; a autêntica suma de sua arte sinfônica que é a Nº 15 — com seu sarcasmo, canções de morte e citações.
E, nossa, que orquestras maravilhosas as formadas por Haitink! Aqui, o maestro demonstra toda a sua musicalidade ao nos acompanhar, com perfeito senso de estilo e compreensão, aos picos e vales emocionais por onde Shostakovich nos leva. Muitas vezes tive taquicardia ouvindo estes discos. O fuzilamento da Sinfonia Nº 11 é um fuzilamento, a canção de luto é exatamente isto, uma canção de luto. A Sinfonia Nº 14 é formada por verdadeiras canções de morte. Já os sarcasmos estão por toda a parte — na 4, 5, 6, 8, 9, 15º, todos bem desenhados. É uma música muito humana e dolorida, às vezes de incontrolável alegria, outras vezes de uma tristeza de cortar os pulsos. O compositor parece contar histórias e, mesmo que não compreendamos seus conteúdos sem palavras, deixa-nos com sua implacável lógica emocional. Como diria, meu amigo, o Dr. Herbert Caro, Haitink é um maestro compreensivo — isto é, que compreende tudo e bem. Ele nos leva pela mão nesta coleção absolutamente notável! Como escreveu a Concerto, Haitink é poesia, elegância e refinamento.
Lembro de quando o vi reger no Concertgebouw de Amsterdam. Uma vez estava atrás da orquestra, de frente para o maestro. Ele era uma figura magnética. Quando ele mandou a orquestra levantar para receber os aplausos, a gente lá atrás quase levantava junto.
(Fico muito curioso de ouvir a integral de Maxim Shostakovich. Alguém tem?).
Dmitri Shostakovich (1906-1975): As Sinfonias Completas e mais (Haitink)
CD1 Symphony No.1 In F Minor, Op.10
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
1-1 I Allegretto – Allegro Non Troppo 8:14
1-2 II Allegro 8:14
1-3 III Lento 8:46
1-4 IV Allegro Molto – Lento – Allegro Molto 9:15
Symphony No.3 In E Flat Major, Op.20 ‘The First Of May’
Choir – London Philharmonic Choir*
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
1-5 I Allegretto – Allegro 10:25
1-6 II Andante 5:35
1-7 III Allegro – Largo 10:34
1-8 IV Moderato: ‘V Pervoye Pervoye Maya’ 6:15
CD2 Symphony No.2 In B Major, Op.14 ‘To October – A Symphonic Dedication’
Choir – London Philharmonic Choir*
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
2-1 I Largo – Allegro Molto 12:44
2-2 II My Shli, My Prosili Raboty I Khleba 8:10
Symphony No.10 In E Minor, Op.93
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Richard Beswick (2)
2-3 I Moderato 24:16
2-4 II Allegro 4:03
2-5 III Allegretto 12:23
2-6 IV Andante – Allegro 13:57
CD3 Symphony No.4 In C Minor, Op.43
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Richard Beswick (2)
3-1 I Allegretto Poco Moderato — 16:20
3-2 Presto 12:32
3-3 II Moderato Con Moto 9:06
3-4 III Largo — 7:03
3-5 Allegro 22:35
CD4 Symphony No.5 In D Minor, Op.47
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
4-1 I Moderato 18:04
4-2 II Allegretto 5:21
4-3 III Largo 15:40
4-4 IV Allegro Non Troppo 10:35
Symphony No.9 In E Flat Major, Op.70
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
4-5 I Allegro 4:57
4-6 II Moderato 7:44
4-7 III Presto 2:38
4-8 IV Largo 3:56
4-9 V Allegretto — Allegro 6:37
CD5 Symphony No.6 In B Minor, Op.54
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
5-1 I Largo 17:47
5-2 II Allegro 6:20
5-3 III Presto 7:06
Symphony No.12 In D Minor, Op.112 ‘The Year 1917’
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
5-4 I Revolutionary Petrograd 13:31
5-5 II Razliv 14:04
5-6 III Aurora 4:15
5-7 IV The Dawn Of Humanity 11:05
CD6 Symphony No.7 In C Major, Op.60 Leningrad
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Richard Beswick (2)
6-1 I Allegretto 28:57
6-2 II Moderato (Poco Allegretto) 11:35
6-3 III Adagio 20:22
6-4 IV Allegro Non Troppo 18:28
CD7 Symphony No.8 In C Minor, Op.65
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
7-1 I Adagio 25:55
7-2 II Allegretto 6:14
7-3 III Allegro Non Troppo 5:57
7-4 IV Largo 8:49
7-5 V Allegretto 14:47
CD8 Symphony No.11 In G Minor, Op.103 ‘The Year 1905’
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
8-1 I Adagio: The Palace Square 15:53
8-2 II Allegro: 9 January 19:54
8-3 III Adagio: In Memoriam 11:23
8-4 IV Allegro Non Troppo: Tocsin 14:16
CD9 Symphony No.13 In B Flat Minor, Op.113 ‘Babi Yar’
Bass Vocals [Bass] – Marius Rintzler
Choir – Gentlemen From The Choir Of The Concertgebouw Orchestra*
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
9-1 I Adagio: Babi Yar 17:11
9-2 II Allegretto: Humour 8:18
9-3 III Adagio: In The Store 13:06
9-4 IV Largo: Fears 12:22
9-5 V Allegretto: A Career 13:23
CD10 Symphony No.14, Op.135
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
10-1 I De Profundis
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
4:45
10-2 II Malagueña
Soprano Vocals [Soprano] – Julia Varady*
2:37
10-3 III Loreley
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
Soprano Vocals [Soprano] – Julia Varady*
8:35
10-4 IV Le Suicidé
Soprano Vocals [Soprano] – Julia Varady*
6:45
10-5 V Les Attentives I
Soprano Vocals [Soprano] – Julia Varady*
2:58
10-6 VI Les Attentives II
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
Soprano Vocals [Soprano] – Julia Varady*
1:52
10-7 VII À La Santé
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
8:46
10-8 VIII Réponse Des Cosaques Zaparogues…
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
2:03
10-9 IX O Delvig, Delvig
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
4:44
10-10 X Der Tod Des Dichters
Soprano Vocals [Soprano] – Julia Varady*
5:26
10-11 XI Schluß-Stück
Baritone Vocals [Bariton] – Dietrich Fischer-Dieskau
1:14
6 Poems Of Marina Tsvetaeva, Op.143a
Composed By – Dmitri Shostakovich
Contralto Vocals [Contralto] – Ortrun Wenkel
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
10-12 I My Poems 3:23
10-13 II Such Tenderness 3:52
10-14 III Hamlet’s Dialogue With His Conscience 3:23
10-15 IV The Poet And The Tsar 1:40
10-16 V No, The Drum Beat 3:28
10-17 VI To Anna Akhmatova 6:10
CD11 Symphony No.15 In A Major, Op.141
Composed By – Dmitri Shostakovich
Orchestra – London Philharmonic Orchestra*
Producer – Richard Beswick (2)
11-1 I Allegretto 8:05
11-2 II Adagio — Largo — Adagio — Largo 16:28
11-3 III Allegretto 4:12
11-4 IV Adagio —Allegretto — Adagio — Allegretto 16:57
From Jewish Folk Poetry, Op.79
Composed By – Dmitri Shostakovich
Contralto Vocals [Contralto] – Ortrun Wenkel
Orchestra – Concertgebouw Orchestra*
Producer – Andrew Cornall
Soprano Vocals [Soprano] – Elisabeth Söderström
Tenor Vocals [Tenor] – Ryszard Karczykowski
11-5 I Lament For A Dead Infant 2:40
11-6 II Fussy Mummy And Auntie 2:50
11-7 III Lullaby 3:48
11-8 IV Before A Long Separation 2:25
11-9 V A Warning 1:18
11-10 VI The Deserted Father 2:05
11-11 VII A Song Of Poverty 1:24
11-12 VIII Winter 3:21
11-13 IX The Good Life 1:49
11-14 X A Girl’s Song 3:15
11-15 XI Happiness 2:39
[Recording details]
(No. 10): Kingsway Hall, London 1977
(No. 15): Kingsway Hall, London 1978
(Nos. 4 & 7): Kingsway Hall, London 1979
(Nos. 1 & 9): Kingsway Hall, London 1980
(Nos. 2 & 3): Kingsway Hall, London 1981
(No. 14): Concertgebouw, Amsterdam 1980
(No. 5): Concertgebouw, Amsterdam 1981
(Nos. 8 & 12): Concertgebouw, Amsterdam 1982
(Nos. 6, 11, From Jewish Folk Poetry & Six Poems): Concertgebouw, Amsterdam 1983
(No. 13): Concertgebouw, Amsterdam 1984
Encontrei, por acaso, ontem uma gravação que me deixou de queixo caído: não fazia ideia de que Stokowski houvesse gravado Lutosławski. Verdade que é o primeiro Lutosławski, ligado claramente à música de Bartók (de fato, mesmo depois, ele continuaria umbilicalmente ligado, mas de formas mais sinuosas, complexas, ambíguas; aqui, não, tudo é direto e cristalino, ainda que esteja longe, muito longe, de ser a obra que Bartók não escreveu), mas seja o compositor teoricamente visto como conservador (e tenho muitas ressalvas a essa percepção), seja o vanguardista de pouco depois, Lutosławski é grande, fantástico em sua capacidade de manejar a massa sonora, na compactação e na fluência de suas peças, na sua capacidade de construir climas. Pessoalmente, gosto mais desta 1ª Sinfonia do que de qualquer peça puramente orquestral de Bartók (salvo, talvez, pelo início do Mandarim Miraculoso). E nas mãos de Stokowski (numa gravação ao vivo, de 1959), a peça soa fresca, intensa, como nunca havia visto (ouvido) antes. A princípio, o primeiro impacto é a velocidade e a angulosidade da regência, mas não menos impressionante é a coesão que ela imprime, o frescor que tira aquele bolor de obra escolar que estava impregnado em nossa (tanto Antoni Wit quanto o próprio Lutosławski acabam fazendo isso em suas gravações e, do que me recordo, não conheço outras interpretações), e que ele consegue mesmo quando é menos acelerado que Wit no último movimento. Por essas e outras, minha reverência por Stokowski só cresce.
Da 5ª Sinfonia do Shostakovich não tenho muito o que dizer. Não a escutei com atenção e não é, em absoluto, uma das minhas sinfonias favoritas (seria tão melhor por ouvir o Stokowski regendo uma das quatro primeiras ou a décima!).
Ótima diversão!
Witold Lutoslawski
Sinfonia nº1 (1947), para orquestra
01 I. Allegro giusto
02 II. Poco adagio
03 III. Allegro misterioso
04 IV. Allegro vivace
Dmitri Shostakovich
Sinfonia nº5 in Ré menor, Op. 47, para orquestra
05 I. Moderato
06 II. Allegretto
07 III. Largo
08 IV. Allegro non troppo
Orquestra Filarmônica Nacional de Varsóvia (faixas 1-4) Orquestra Filarmônica Tcheca de Praga (5-8) Leopold Stokowski, regente
Uma gravação ao vivo e sem retoques do Borodin durante uma excursão realizada em 1962. O som não é bom e a plateia parecia estar agitada. Mas o CD vale por sua enorme qualidade musical e pela interpretação extremamente compreensiva de Shosta e Borodin. Por exemplo, talvez jamais se ouça outro quarteto iniciar o último movimento do segundo quarteto de Borodin imitando com tamanha perfeição o som de um bayan. É uma questão de afinidade cultural. Os russos sabem como fazer porque têm aquilo instalado desde o nascimento. O Shosta idem. O Ravel tem um sotacão russo, mas é o Borodin e eles sempre convencem.
String Quartet No. 8 In C Minor, Op. 110
Composed By – Dmitri Shostakovich
1 I. Largo 4:09
2 II. Allegro Molto 2:41
3 III. Allegretto 3:49
4 IV. Largo 4:55
5 V. Largo 3:18
String Quartet No. 2 In D Major
Composed By – Alexander Borodin
6 I. Allegro Moderato 7:56
7 II. Scherzo. Allegro 4:43
8 III. Notturno. Andante 8:10
9 IV. Finale. Andante — Vivace 6:53
String Quartet In F Major
Composed By – Maurice Ravel
10 I. Allegro Moderato. Très Doux 7:39
11 II. Assez Vif. Très Rythmé 5:37
12 III. Très Lent 8:29
13 IV. Vif Et Agité 5:02
Quarteto Borodin
Recordings at Leith Town Hall, Edinburgh Festival: August 31, 1962 (tracks 1-5, 10-13), August 29, 1962 (tracks 6-9).
O inesquecível Jascha Heifetz, que completaria hoje 121 anos, adorava jazz. Sua mansão em Beverly Hills recebia músicos de várias vertentes, que frequentemente mergulhavam em jam sessions, e os estudantes para os quais organizava animadas festas em Malibu testemunhavam o mestre improvisar, tanto ao violino quanto ao piano, sobre as canções populares que amava.
Descobrir que o jazz era o xodó de Heifetz me surpreendeu. Afinal, tiete incondicional do gigante desde que o conheci, acostumara-me com seu semblante estoico nas capas de discos, que nada mudava nos tantos filmes em que, para meu assombro, eu o via enfrentar e vencer, impávido, os trechos mais medonhos da literatura violinística. Foi só ao ler suas biografias e, principalmente, assistir aos documentários e aos preciosos registros de suas masterclasses que conheci seu senso de humor, seu rigor cordial para com os alunos e, não menos importante, constatei que ele era um músico extraordinário o bastante para convencer como mau músico, imitando à perfeição um jovem estudante em pânico durante uma prova:
Jascha também foi um contumaz viajante, legando-nos inúmeros mementos que são verdadeiras pérolas do humor involuntário, como essa sua foto duma visita ao México, em que seu tradicional olhar blasé parece nada impressionado com a indumentária local…
… e também um homem corajoso e cidadão muito grato ao país que o acolheu, percorrendo o front europeu a tocar voluntariamente para as tropas aliadas, além de arrecadar, com concertos beneficentes, vultosos valores para os esforços de guerra.
Perenemente acusado por um ou outro crítico de ser um tecnicista frio, indiferente às intenções do compositor, Heifetz é uma deidade de devoção unânime entre seus colegas: dir-se-ia um “violinista dos violinistas”. Ainda assim, mesmo que todos sonhem em tocar como ele, nem tantos acham que devam. Jascha cresceu imbuído das tradições da Velha Escola russa no Conservatório de São Petersburgo, onde foi discípulo de Leopold Auer – aquele mesmo com quem Tchaikovsky se estranhou por conta de seu concerto para violino. Seria inevitável, pois, que seu estilo, moldado por gente do século XIX, pareça-nos um tanto antiquado, a despeito da tanta beleza que tange. Além disso, suas gravações das peças fundamentais do repertório concertístico, normalmente despachadas em velocidade lúbrica, são referências incontestes que poucos violinistas de hoje tentariam imitar: mesmo o próprio ídolo de Heifetz, Fritz Kreisler, após escutar o prodígio de onze anos de idade, afirmou que todos os violinistas presentes no recinto poderiam quebrar seus instrumentos nos joelhos.
Aqui, Kreisler (à direita) relaxa num lago com Heifetz (à esquerda), que se apoia num trapiche feito, provavelmente, da madeira de violinos quebrados.
Em minha desimportante opinião, será através das pequenas peças que a grandeza de Heifetz rebrilhará aos ouvidos dos séculos vindouros. Esta compilação que ora lhes apresento, com algumas dúzias delas, inclui vários de seus números de bis mais famosos, algumas canções folclóricas e várias composições de George Gershwin, que Jascha muito admirava. Os arranjos, como verão, são quase todos de sua própria lavra e, se privilegiam o timbre inconfundível do mestre e a elegância de seu fraseado, também lhe dão amplas oportunidades para demonstrar seu deleite em tocar, como mais célebre rebento da Velha Escola russa, a música do Novo Mundo em que escolheu viver.
Uma atração em especial para nós, brasileiros, é escutar “Ao Pé da Fogueira”, um dos prelúdios do genial Flausino Valle, aqui abordado por Heifetz numa masterclass.
A grande surpresa, talvez, esteja na última faixa do álbum. Depois de alguns açucarados bombons em que acompanha o cantor Bing Crosby, Heifetz dá-nos a rara oportunidade de escutá-lo ao piano (!), instrumento em que era, por todos os relatos, muito proficiente. Ele toca “When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)”, uma canção que fez sucesso na voz do próprio Crosby, frequentemente pareada com outra, “So Much in Love“. Ainda mais surpreendente é que o autor de ambas, um certo Jim Hoyl, só existia na capa das partituras, pois era tão só o pseudônimo que o próprio Jascha Heifetz (“J.H.”, captaram?) usava para publicar canções populares.
“Um brinde a Jim Hoyl!”
Que a imagem sisuda que dele tiverem liquide-se para sempre, e que a inigualável musicalidade do aniversariante consiga entretê-los tanto quanto espero.
Grato por tanto, Mestre!
In memoriam Iosif Ruvimovich Kheyfets, dito Jascha Heifetz (Vilnius, 2.2.1901 – Los Angeles, 10.12.1987)
Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes
DISCO 1
Samuel GARDNER (1891-1984)
1 – From The Canebrake, Op. 5 no. 1
Arthur Leslie BENJAMIN (1893-1960)
2 – Jamaican Rumba (arranjo de William Primrose)
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
4 – Pièce en Forme de Habanera (arranjo de Georges Catherine)
Clarence CAMERON White (1880-1960)
5 – Levee Dance, Op. 27 No. 2 (baseada em “Go Down, Moses”)
Mario CASTELNUOVO-TEDESCO (1895-1968)
6 – Figaro, Rapsódia de Concerto sobre “Il Barbiere di Siviglia”, de Rossini
Stephen Collins FOSTER (1826-1864)
7 – Jeanie With The Light Brown Hair (arranjo de Heifetz)
Victor August HERBERT (1859-1924)
8 – À la Valse
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
9 – Humoresques, Op. 101 – No. 1 em Sol bemol maior (arranjo de Heifetz)
Folclore irlandês
10 – Gweedore Brae (arranjo de John Crowther)
Stephen FOSTER 11 – Old Folks at Home (arranjo de Heifetz)
Anônimo
12 – Deep River (arranjo de Heifetz)
Leopold GODOWSKY (1870-1938)
13 – Doze Impressões para violino e piano: no. 12, Wienerissh (arranjo de Heifetz)
Jascha Heifetz, violino Milton Kaye, piano
Irving BERLIN (1888-1989)
14 – White Christmas
Jascha Heifetz, violino Salvator Camarata and his Orchestra
George GERSHWIN (1898-1937)
Da ópera “Porgy and Bess” (arranjos de Heifetz)
15 – Summertime
16 – A Woman is a Sometime Thing
17 – My Man’s Gone Now
18 – It Ain’t Necessarily So
19 – Tempo Di Blues (There’s a Boat That’s Leaving Soon for New York)
20 – Bess, You is my Woman Now
Três prelúdios para piano solo (arranjos de Heifetz)
21 – I. Allegro ben ritmato e deciso
22 – II. Andante con moto e poco rubato
23 – III. Allegro ben ritmato e deciso
Jascha Heifetz, violino Emanuel Bay, piano
DISCO 2
Susan Hart DYER (1880-1922)
1 – An Outlandish Suite, para violino e piano: Florida Night Song
Claude DEBUSSY
2 – Children’s Corner L. 115 – 6. Golliwogg’s Cakewalk (arranjo de Heifetz)
3 – Suite Bergamasque L. 75 – 3. Clair de Lune (arranjo de Alexandre Roelens)
Flausino Rodrigues do VALLE (1894-1954)
4 – Vinte e seis prelúdios característicos e concertantes para violino só – no. 15, “Ao Pé da Fogueira” (arranjo de Heifetz)
Julián Antonio Tomás AGUIRRE (1868-1924)
5 – Huella, Op. 49 (arranjo de Heifetz)
Dmitri Dmitrievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 34 (arranjo de Dmitri Tziganov e Quinto Maganini)
6 – No. 10 em Dó sustenido menor
7 – No. 15 em Ré bemol maior
Edwin GRASSE (1884-1954)
8 – Waves At Play (Wellenspiel) (arranjo de Heifetz)
Sergei Sergeieivich PROFOKIEV (1891-1953)
9 – O Amor das Três Laranjas, Op. 33 – Marcha (arranjo de Heifetz)
10 – Suíte do balé “Romeu e Julieta”, para piano, Op. 75 – Máscaras (arranjo de Heifetz)
Robert Russell BENNETT (1894-1981)
Hexapoda (five studies in Jitteroptera), para violino e piano
11 – Gut-Bucket Gus
12 – Jane Shakes Her Hair
13 – Betty and Harold Close Their Eyes
14 – Jim Jives
15 – …Till Dawn Sunday
Kurt Julian WEILL (1900-1950)
16 – Die Dreigroschenoper – Mack The Knife (Moderato assai) (arranjo de Stefan Frenkel)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
17 – Souvenir d’un Lieu Cher, para violino e piano, Op. 42 – no. 3: Mélodie em Mi bemol maior
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
18 – Noturnos para piano, Op. 55 – no. 2 em Mi bemol maior (arranjo de Heifetz)
Christoph Willibald von GLUCK (1717-1784)
19 – Orfeo ed Euridice – Dança dos Espíritos Abençoados (arranjo de Fritz Kreisler)
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
20 – Waldszenen, Op. 82 – no. 7: Vogel als Prophet (arranjo de Heifetz)
Nikolai Andreievich RIMSKY KORSAKOV (1844-1908)
21 – O Galo de Ouro – Hino ao Sol (arranjo de Kreisler)
Alexander Abramovich KREIN (1883-1951)
22 – Dança no. 4 (arranjo de Heifetz)
Johannes BRAHMS (1833-1897)
23 – Danças Húngaras – no. 7 em Lá maior (arranjo de Joseph Joachim)
Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
24 – Le Carnaval Des Animaux – Le Cygne (arranjo de Heifetz)
Querem mais Heifetz? Confiram-no em ação, então, na sua imbatível gravação do concerto de Sibelius (juntamente com o de Glazunov e o segundo de Prokofiev)…
Em memória de todos os que morreram pela negligência deliberada de um governo genocida no Brasil (2020-2021)
I. INTRODUÇÃO
A décima primeira sinfonia de Shostakovich é daquelas obras que quanto mais penetramos em seu íntimo e descobrirmos todos os seus meandros e detalhes, mais prazerosa ela se torna à nossa fruição. E os sentimentos que ela provoca são mais agudos principalmente nos espíritos revolucionários.
Escrita logo após o levante da Hungria de 1956, ela evoca e descreve alguns dos acontecimentos de 1905, o ano da primeira Revolução Russa, que fracassou, homenageando o espírito da revolução passada, e talvez sutilmente honrando os trabalhadores que se insurgiram contra a burocracia stalinista naquele momento na Hungria, que embora já não contasse com Stálin, perpetuava as mesmas práticas sob o véu de uma “abertura” e das “denúncias” de Khruschev. No fim o que mostrou a continuidade entre ambos foi justamente a repressão contra os intelectuais e trabalhadores húngaros no levante. Mas é incerto se Shostakovich quis realmente também se referir ao levante húngaro.
De toda forma, o mais importante da obra é sua capacidade de “narrar” os fatos do ano de 1905, utilizando-se de canções populares tradicionalmente ligadas ao movimento político que lutou contra a autocracia no final do século XIX e início do XX, até a Revolução de Outubro de 1917.
O conhecimento dos fatos ocorridos no anos de 1905 ajudarão a entender a obra. Desde a manifestação pacífica de trabalhadores sob a liderança de um padre, que é massacrada pelas tropas em frente ao Palácio de Inverno em janeiro, conhecida como Domingo Sangrento, passando pela revolta dos trabalhadores de toda a Rússia com o massacre, até a insurreição nas ruas com barricadas e fuzis, que também será derrotada pelas tropas do Czar no final do ano.
II. ANÁLISE
Vou utilizar como referência para a análise uma interpretação no Youtube, porque assim é possível ver os instrumentos que estão sendo utilizados para executar motivos e melodias que têm importante significado ao longo da obra. Essa gravação é boa pois utiliza de jogos de imagem articulados com a música. Recomendo ver o vídeo com o texto ao lado, o que pode ser feito dividindo a tela entre o vídeo e o texto.
1. A praça do Palácio de Inverno (Adagio)
Não se enganem pela incomum nomenclatura de “adagio” em um primeiro movimento (se comparada à tradição da forma sonata, onde geralmente o primeiro movimento é um Allegro). Tenho certeza que muitos que já escutaram várias vezes essa sinfonia se deixaram levar e descreveram esse movimento inicial como leve, distraído, calmo. Mas, na verdade, ele é cheio de tensões e conflitos latentes e sutis. A luta de classes muitas vezes é silenciosa e aparece sob outras formas não imediatamente reconhecíveis. Fica implícita em certos acontecimentos e movimentos. Raramente ela é explícita e aberta.
A sinfonia começa com uma melodia calma e lenta nas cordas, com leves toques de harpa. É importante fixar bem essa melodia pois ela retornará várias vezes e reaparecerá com uma outra forma num dos momentos mais dramáticos da obra: o silêncio após o massacre na praça em frente ao Palácio de Inverno.
Logo neste começo aos 1:04~1:21 minutos (na interpretação do vídeo acima) surge um incomum motivo nos tímpanos. Este motivo retornará muitas vezes e em variados formatos. Esse motivo pode ser visto como o conflito (de classes) silencioso sempre latente mesmo em meio à suposta calmaria. Aos 1:24~1:53 temos o primeiro motivo de um dos personagens desse conflito: as tropas czaristas, ou, o poder militar czarista, cujo caráter fica evidente pela melodia do trompete e a percussão das caixas.
Esses dois motivos retornarão a todo o momento, como se dissessem: a calmaria e a paz permanente de uma praça e um palácio ostensivamente ricos só se mantêm pela permanente presença da ostensividade militar, e pelo conflito permanente entre exploradores e explorados.
Os temas e motivos se repetem. Mas, dessa vez, o sinal militar que antes fora executado no trompete é executado em uma trompa (3:23~3:47). Os tímpanos continuam presentes a todo o momento, até que aos 5:13 ~ 6:00 surge nas flautas a pequena canção dos trabalhadores. O motivo dos tímpanos, tenso, continua a tocar, ameaçador.
Conhecida como “Слушай!” (“Escute!“), essa canção singela descreve a esperança por liberdade, apesar das barras de ferro, das baionetas, dos tiranos e de todo o silêncio. Algo pode ser escutado em meio a toda essa situação… Provavelmente foi uma canção inspirada ou mesmo criada nas prisões e nos campos de trabalho forçado dos exílios na Sibéria. Shostakovich quer, aqui, descrever a situação de opressão dos trabalhadores russos.
O tema da praça retorna, com a tensão dos tímpanos e harpas mais forte, ao que é sucedido por algo novo: nos 7:05, as caixas militares entram com o seu ritmo diferente, e a canção dos trabalhadores também muda: fica mais tensa e se espalha por naipes inteiros da orquestra, sugerindo a tensão crescente das contradições sociais causadas pelo sofrimento e miséria dos trabalhadores. Cresce a insatisfação com o regime econômico, social e político do Império Russo. Depois de passar pelos metais, violinos, violoncelos e contrabaixos, nos 7:57 a canção dos trabalhadores muda sua melodia, tornando-se mais dramática e quase épica. Ao que é precedida por um toque no fagote (8:10) e, em seguida, novamente nas cordas, mudando seu tom e melodia. Os metais dão sinais e os tímpanos continuam ativos.
Aos 8:41~9:11 acontece uma coisa muito sutil, mas que essa gravação aqui disponibilizada ajuda a perceber: os contrabaixos começam a tocar uma nova melodia. É um novo lamento de angústia e de insatisfação, apesar da presença intimidadora constante do trompete militar e dos tímpanos tensos, que tentam calar o clamor popular, tal como a polícia política czarista naquela época, a temível Okhrana.
É a melancólica canção “Ночь темна лови минуты”, mais popularmente conhecida como “Арестант” (“O prisioneiro“). Ela narra a dureza da vida nas prisões políticas do Czar.
(Uma versão para coro muito bonita, mostrando imagens de época e dos locais dos prisioneiros)
A canção “Escute!” soma-se à sua nova companheira e retorna nos violinos e violas. Aos 9:25 “O prisioneiro” é tocada numa flauta solo que vai ganhando volume. A melodia de “o prisioneiro” então se desenvolve e toma outros instrumentos, a melodia de “Escute!” passa para os contrabaixos, e os tímpanos agora soam ameaçadoramente volumosos (10:08). O resto do movimento continua com esses conflitos e tensões entre os diversos motivos e melodias, até que o tema da praça retorna (11:38) e conclui com as esporádicas aparições das caixas, tímpanos e trompetes.
Nos 14:06 um motivo curto e inédito aparece, e encerra o movimento.
2. O 9 de janeiro (Allegro)
O Segundo movimento começa com os contrabaixos quase que “correndo”, o que mostra que alguma mobilização está sendo realizada. Nas ruas? Nas fábricas? Nos quartéis? Seriam os trabalhadores ou os soldados?
Logo no início desse movimento, aos 14:46, uma melodia é tocada nas madeiras, depois passa para as cordas, violinos e violas, enquanto se mantém a correria nos violoncelos e contrabaixos. É a canção “Девятое Января” (“Nono de janeiro”). Essa, ao contrário das anteriores, e da maioria das canções subsequentes, não é uma tradicional canção folclórica de luta. Mas o sexto poema que Shostakovich musicou em seus Dez Poemas Corais Sobre Textos Revolucionários, sobre texto de Evgeny Mikhailovich Tarasov (1882-1943).
(coloquei a partir do momento em que o tema em questão aparece)
Para ilustrar o significado dessa melodia, vamos ao que diz o texto de Tarasov, sobre o qual Shostakovich fez o poema musical:
[…] Com oração nos lábios e com fé no peito, Com os retratos reais, guiados pelos ícones, Não para lutar contra o inimigo, sem pensar em mal – o povo caminhou, exausto, para derrotar o Czar com suas testas. Oh tu, nosso Czar, nosso pai! Olhe ao nosso redor: […] Morremos acorrentados e com fome… sem lugar para ir… Você é um dos nossos protetores! Você nos protege! […] Sim, a mão imperial é generosa de misericórdia: O Czar escutou seu povo com tanta importância, Que nada disse – e acenou com a mão… Sob os rebanhos de servos reais liberados das correntes, Toda a terra tremeu com um rugido, E a praça em frente ao palácio ficou coberta de corpos: o povo caiu, alimentados com bala e chumbo. […] Um milagre foi criado desse feito: Onde, guiada, choveu uma tempestade Onde o sangue do povo foi derramado numa torrente, – Ali, de cada gota de sangue e chumbo O cuidado da mãe terra deu nascimento a um lutador!
(tradução livre e amadora; trechos)
Como diz a letra, essa canção, cuja melodia está inserida na sinfonia, descreve os trabalhadores e camponeses pobres, assolados pela pobreza, pela fome, pela miséria e pela servidão, que vão pedir humildemente ao “paizinho Czar” a resolução para seus sofrimentos. Mas, diante do massacre czarista, renascem como lutadores. Mas essa melodia aparece, simplesmente, representando a “ingenuidade” dos trabalhadores. Outras canções mais à frente descreverão sua revolta.
A melodia se desenvolve espalhando-se para toda orquestra, tornando-se o tema inicial deste movimento, até que aos 16:11, o trompete toca, é um sinal militar para que as tropas fiquem em guarda. Aos 17:31 um novo motivo surge nos trombones, derivado da mesma canção acima, mas de sua parte inicial, que em sua letra diz:
Descubram suas cabeças! Neste dia triste A sombra de uma longa noite tremulou sobre o solo. A fé do escravo em seu senhor caiu, E uma nova alvorada acendeu sobre a terra-mãe… […]
A melodia, que reaparece aos 18:08, quer transmitir o sentimento de despertar dos trabalhadores. Os trombones e tubas emitem esse motivo, e em seguida o tema da marcha sofre uma leve modulação, tornando-se mais dramático e mais apelativo.
Aos 20:03 os oboés e flautas tornam tudo inesperadamente mais tenso. E os temas vão se desenvolvendo em sucessão e interseção. Um grande clímax vai sendo construído, como se a mobilização de trabalhadores que se dirigem à Praça do Palácio de Inverno fosse crescendo e tornando-se mais volumosa. Os temas desenvolvidos aqui são os mesmos de sempre, ganhando toda a orquestra e atingindo o clímax.
Tudo vai tornando-se mais silencioso e delicado, até que aos 24:04 o tema da praça retorna. Os trabalhadores chegaram à Praça, e caminham lentamente na neve espessa, entoando seus hinos de apelo e misericórdia ao Czar… Ouvimos o motivo ameaçador dos tímpanos e o sinal dos trompetes… ataques rápidos nas caixas… São tiros! Aos 25:30. Mais tiros… começa uma correria de cavalos nos contrabaixos, seguido pelas violas… O massacre começou… os pobres manifestantes tentam correr, se abrigar, mas estão sendo cercados pelos cavalos, pelos chicotes e sabres dos cossacos fortemente armados e brutais. Aos 27:59 o fuzilamento e extermínio geral começa… estampidos, marchas, tiros e mais tiros… em meio à morte generalizada, a melodia de “descubram suas cabeças” ainda soa aos 28:46, dizendo que os trabalhadores despertam, e a luta apenas começou… Por enquanto, quem vence é a força das armas repressoras representada pelas caixas e tímpanos tocando em marcha. Silêncio…
O tema da praça retorna, mas agora, com as cordas fazendo leves trinados (oscilações), como se representassem os sons de agonia da imensidão de corpos caídos sobre a vasta neve fria da praça…
O movimento se encerra com “Escute!” tocando timidamente aos 31:36.
3. Memória eterna. (Adagio)
O terceiro movimento, novamente um adagio, começa com o dedilhado nos contrabaixos, que é quase uma reflexão em um minuto de luto para aqueles que se foram. Sucede nos 34:11 a famosa canção “Вы жертвою пали в борьбе роково” (Tu caíste morto na luta!)
Esta canção é mais que uma marcha fúnebre de luto qualquer, é uma marcha fúnebre revolucionária que homenageia os lutadores caídos, prometendo mais luta. Faz homenagem a todos os lutadores que caíram buscando transformar a sociedade e ao mesmo tempo promete vingança contra os tiranos que foram responsáveis por suas mortes.
Seus versos merecem ser reproduzidos aqui na íntegra:
Tu caíste morto na luta! Com um amor desinteressado pelo seu povo Entregou sua vida e tudo que tinha por ele, como um herói! Pela vida, honra e liberdade dos operários! Tu penaste em cárceres frios e úmidos! Julgado e condenado por policiais e déspotas mercenários! Eles o arrastaram violentamente por uma estrada deserta Enquanto tu ouvias, exausto, o som de suas correntes a balançar Mas, enquanto os malditos tiranos festejam em seus luxuosos palácios Deleitando com vinho e afogando-se no rum Poderosos, corajosos e mortais, corações mentes e mãos Prenunciam sua fúria nas paredes de fábricas e quartéis: O povo se rebelará e a tirania cairá Seremos grandes, poderosos e livres Então, como irmãos, nos despedimos de ti Pois você se foi honrando o nobre caminho que seguiu!
Aos 38:24 um novo tema surge, criando uma atmosfera sombria, mas que cada vez mais vai se iluminando, como se do luto nascesse uma disposição para lutar. Quase como a cena de Encouraçado Potemkin (um filme que retrata um evento também ocorrido no ano de 1905) de Eisenstein, onde após o luto pelo marinheiro morto, os trabalhadores que visitam seu túmulo cerram os punhos e entoam hinos de luta em sua memória.
Surge então, levemente, aos 38:50 uma nova melodia nas trompas. Aos 41:14, a melodia envolve a orquestra cita um motivo da canção “Славное море, священный Байкал…” (“Grande mar, o sagrado Baikal…”) que entoa o sentimento de um ex-prisioneiro que, encontrando o mar Baikal, descobre a liberdade…
O motivo principal dessa canção é acentuado aos 41:33 pelos metais, num clímax de esperança… e logo em seguida, aos 41:55, o tema de “descubram suas cabeças” é tocado, dizendo: despertamos!
Depois de um crescendo de tensão e fúria nos contrabaixos, novamente o tema principal deste movimento retorna aos 43:08 com alusões a partes da canção, depois reinicia-se brevemente, terminando o movimento com os mesmos dedilhados com que iniciou o movimento.
4. Tormenta. (Allegro non troppo)
Беснуйтесь, тираны! (“Ódio aos tiranos!“)
É com essa canção que começa o quarto movimento, anunciado e repetido nos trombones. Seus versos descrevem a ira do povo contra os tiranos, que tratam os trabalhadores de forma selvagem e cruel. Apesar das correntes, prisões, e das feridas das botas sobre seus corpos, os espíritos destes homens são indomáveis. E que caiam aqueles que tremem diante dos tiranos! Pois os corajosos não trocam seus direitos por nada, e não temem feridas no corpo. É melhor temer a escravidão do que a morte! A terra está vermelha de sangue expelido, em todos os lugares batalham irrompem. Com fogo o levante dos trabalhadores abraçam todos os países! Vergonha e morte aos tiranos!
Esse movimento vai descrever a revolução de 1905 no Império Russo, e outros acontecimentos ligados a ela, como a revolta dos marinheiros do Encouraçado Potemkin em Odessa.
Esse movimento, tal como o primeiro, será cheio de conflitos entre os naipes de instrumentos. Mas, agora, estão explícitos. É o advento de uma revolução. Os metais, embora inicialmente entoaram “Ódio aos tiranos!”, serão os repressores na maior parte do tempo, em vários momentos, aliados às caixas e tímpanos, tentarão calar e reprimir a movimentação das cordas e madeiras. (vários momentos entre 45:47~46:05) Excetuando quando vez ou outra tocarem alguns temas ou melodias de canções, como quando aos 46:14~46:18 novamente um trompete toca o motivo de “Ódio aos tiranos!”. E aos 47:45 o tema de “Descubram suas cabeças” retorna nos trombones. É uma verdadeira luta de classes e de naipes!
Aos 48:25 os contrabaixos entram no embalo da famosa Varshavianka (canção que ganhou versões em vários países e revoluções diferentes, como a famosa A las barricadas da Revolução Espanhola), e temos uma espécie de marcha e mobilização geral. Podemos interpretar como o povo indo às ruas, tomando prédios, formando os sovietes em São Petersburgo, conselhos deliberativos de operários, que surgem pela primeira vez na história durante esta revolução. É uma canção de força surpreendente, composta justamente na conjuntura do ano de 1905, exprimindo toda a força e sentimento daquele momento histórico. Vale a pena aqui reproduzir seus versos:
Balas do inimigo voam sobre nossas cabeças Forças das trevas nos oprimem sem pudor Nessa batalha, à qual estávamos predestinados Estamos à espera de destinos desconhecidos Ainda assim erguemos, orgulhosa e corajosamente A sagrada bandeira da luta dos trabalhadores Bandeira que luta por todos os povos Por liberdade e por um mundo melhor Para essa sangrenta, sagrada e justa guerra Marchemos adiante, povo trabalhador! Os trabalhadores devem continuar passando fome? Irmãos, até quando permaneceremos em silêncio? Por acaso a terrível visão da forca pode assustar-nos, jovens camaradas? Nessa justa guerra não serão esquecidos Aqueles que honrosamente morrerem pelo nosso ideal! Seus nomes serão entoados em nossos cânticos E serão sagrados para milhões de pessoas! Para essa sagrada, sangrenta e justa guerra Marchemos adiante povo trabalhador! Nós odiamos as coroas dos tiranos E as malditas correntes que martirizam o povo! Os tronos reais estão cobertos de sangue do povo Então banharemos os reis em seu próprio sangue! Morte a todos os nossos malditos inimigos E a todos os malditos parasitas da classe trabalhadora! Vingança sim! Contra os czares e plutocratas! A hora da vitória está cada vez mais próxima! Para essa sagrada, sangrenta e justa guerra Marchemos adiante povo trabalhador!
Seguem-se novas citações de várias canções e motivos que já apareceram antes. São os trabalhadores parando fábricas, navios, trens, indo às ruas, fazendo barricadas, lutando com armas nas mãos pela sua liberdade e emancipação. Pela derrubada do Czar. Por vingança sim, como diz a Varshavianka, pelos seus companheiros brutalmente massacrados. Num clímax dos 51:19 várias canções estão sendo tocadas ao mesmo tempo, quase que polifonicamente, até que aos 51:49 toda a orquestra é embalada por uma mesma melodia triunfante.
A luta de naipes irrompe novamente. São as classes dominantes e o Império Czarista reagindo à mobilização com brutal repressão. O motivo da canção “9 de janeiro” irrompe novamente aos 52:39~53:27, tomando toda a orquestra, num misto de luto e revolta. Trompetes e caixas e tímpanos atacam, seguidas pelas trompas que tentam interromper a melodia das cordas… É a reação das tropas czaristas, lutas nas ruas, barricadas por toda São Petersburgo, milhares de trabalhadores armados, contra cossacos e exércitos imensos… Os trabalhadores revolucionários lutam bravamente, mas muitos caem… Aos 53:28 as caixas, tambores e trompas apertam, são os tiros, violência e repressão infindáveis… É a derrota dos revolucionários… A repressão das caixas e metais silencia toda a orquestra, e em seguida temos novamente o tema da praça. Melodias de luto se seguem…
Um poderoso grave irrompe nas madeiras e percussão aos 56:41. A luta dos oprimidos não acabou. A revolta contra a fome, a miséria, a tirania e a exploração continuam. Outros sopros vão se juntando, a melodia revolucionária ressurge nas trompas, primeiro, timidamente, depois ela vai se espalhando por toda a orquestra, é uma nova revolução irrompendo em toda a sociedade! Senão hoje, em 1905, amanhã, em 1917, mas sua revolta é inevitável e infindável enquanto houver opressão! São os condenados da terra se levantando mais uma vez para lutar por sua emancipação! Vão expropriar os expropriadores! Sinos soam anunciando a irrefreável ira dos trabalhadores e a justiça revolucionária! É a revolução que se aproxima! É a construção de um novo mundo! Viva a revolução mundial dos trabalhadores…
Em memória de todos os que morreram pela negligência deliberada de um governo genocida no Brasil (2020-2021). Faremos os responsáveis pagarem por seus crimes. E a justiça revolucionária prevalecerá.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Symphony Nº 11 in G minor, Op. 103 “The Year of 1905”
Symphony No.11, Op.103 (‘The Year 1905’) in G minor
1. I: The Palace Square (Adagio) –
2. II: The 9th of January (Allegro) –
3. III: In Memoriam (Adagio) –
4. IV: The Tocsin (Allegro non troppo)
Estava absorto em meio aos afazeres do meu trabalho, mas o telefone insistia em tocar. Não quis atender nas primeiras vezes, pois vinha com DDI de outro país.
“Deve ser trote, golpe”, pensei.
De tanto que o aparelho insistia em vibrar, parecendo uma tupia em cima da minha mesa, resolvi aquiescer aos caprichos do telemóvel. Atendi.
– Monsieur Pequepê? – uma voz estranha perguntou.
– Pois não? É ele – respondi, sem muita empolgação.
– Je soube que o senhorr está completando quinze anôs de seu maraveilleuse blog! Prrecisamos fazer uma comemorraciôn desse début!
“O que é isso? O Jacquin me ligando?”, imaginei franzindo o cenho e tapando o fone do aparelho…
– Sim… Mas… Quem é que está falando?!
– André Rieu, monsieur Pequepê! Non está me reconociendo?
– Baaaah… (entre perplexo e incrédulo, só me sobrou a exclamação).
– Non se prreocupe, monsieur Pequepê! Je já preparrê uma prrogramaciôn muito especial parra essa data ton festiva! Te enviê algo mui adequado parra este début! Una fête com um reperrtórrio todo especial parra sus quinze anôs de blog! Monsieur merece um début em gran estilô!
Tu tu tu tu tu…
Rieu desligou todo empolgado.
Fiquei de boca aberta olhando para as prateleiras por um tempo. Situação estranha! Bah!
Depois, conferindo meus e-mails, eis que a “programaciôn especial” de Rieu estava na minha caixa de entrada. Como, embora temperamental, eu não gosto de fazer desfeitas, está aí o presente que Monsieur Rieu preparou para o PQPBach na nossa festa de debutante!
PQP, 15 anos! Quem diria…
André Rieu (1949)
Valses (1997)
Dmitri Shostakovich (1906-1975)
1. Valsa nº 2 John Strauss II – Franz Léhar – Emmerich Kálmán
2. Como um espírito alegre – Danúbio Azul – Rosas do Sul – Sangue Vienense – Lábios em silêncio – Quero dançar – Rosas do sul Johann Strauss II (1825-1899)
3. Sob Trovões y relâmpagos Anton Karas (1906-1985)
4. O terceiro homem Emmerich Kálmán (1882-1953)
5. Ven Zigány Josef Strauss (1827-1870)
6. Andorinhas da Áustria Franz Léhar (1870-1948)
7. Canção de Vilja Johann Strauss II (1825-1899)
8. Vida de artista
9. Marcha persa Ralph Benatzky (1884-1957)
10. Em um Cavalo branco Rudolf Sieczynski (1879-1952)
11. Viena, Viena, somente tu Ferry Wunsch (1901-1963)
12. Heut’ kommen d’Engelrn auf urlaub nach Wien Ludwig Gruber (1874-1964)
13. Minha mãe era vienense Johann Strauss II (1825-1899)
14. Rosas do Sul
Gravado na Espanha
Johann Strauss Orchestra
André Rieu, regente
1997 (CD)
Se você vivesse no Norte do Paraná, nos fins da década de 70, quero dizer 1970, teria que ser ágil para comprar qualquer LP de música clássica que surgisse, caso este fosse seu interesse. LPs eram escassos e caros. Devo acrescentar que informações culturais não eram abundantes. Assim, o gosto musical do interessado era um pouco moldado pelas oportunidades – mais tentativa e erro, o método de aprendizado. Mas era imensamente divertido.
Eu já aprendera que o selo amarelo trazia conteúdo mais palatável e visitas constantes aos escassos pontos de venda acabavam rendendo novidades. O tempo dos sebos ainda estava por vir.
Em minha coleção havia desde coisas como Gypsy!, do Werner Müller and his Orchestra, com o phase4stereo spectacular, até o outro lado do espectro, com concertos para piano de Mozart interpretados por Pollini e Gilels, acompanhados pela mais mozartiana orquestra que eu conhecia, a Wiener Philharmonic, regida por Herr Böhm.
Nesta época, pouco mais, talvez, este disco (o da postagem, é claro… hahãmm) cruzou meu caminho e desde logo propunha algo novo. O violoncelista eu conhecia de outro disco, com o Concerto de Dvořák, acompanhado pela Berliner Philharmoniker regida pelo Herr Karajan. Mas aqui a luz era outra. O solista ostentando uma camisa de cowboy e o jovem regente com uma espécie de camisa indiana branca, com ares de hippie, demandava mais ousadia do propenso comprador. E o compositor da peça mais longa? Um ilustre, modernoso e desconhecido compositor russo. Sim, os LPs tinham as contracapas que eram lidas e relidas antes de qualquer movimento mais forte em direção da carteira…
A compra foi uma das mais ousadas e rendeu boas semanas de muitas audições, mesmo que carregadas de incertezas e levantamentos de sobrancelhas. É claro que tudo começa em grande estilo, o Canto do Menestrel do Glazunov, muito acessível. E bonito mesmo, para quem aprecia as românticas almas russas…
Mas o concerto de Shostakovich é bem mais inquietante e foi minha primeira experiência com música que precisamos conquistar antes de gostar. Começamos com uma espécie de lamento, e depois todas aquelas sonoridades percussivas rondando o canto do violoncelo. Bem, é preciso ouvir para entender.
Aprendi depois que o concerto havia sido composto pouco mais do que uma década antes daqueles dias e que o solista da gravação era a pessoa a quem o concerto fora dedicado e que também o havia estreado.
Descobri que o Concerto havia sido composto na última fase do compositor, que o havia completado enquanto se encontrava em um hospital, pois que já lhe falhava o coração.
A música é mais reflexiva do que extrovertida, coisa que vai bem com o violoncelo, e a orquestra, apesar de imensa, é usada com maestria e cuidado pelo compositor, evitando que o solista seja tragado por ela e possa se apresentar realmente como o protagonista.
Os dois últimos movimentos são ambos nomeados Allegretto e estão unidos nos arquivos em uma única faixa, pois a passagem de um para o outro se dá continuamente – attacca!
Espero que a audição deste notável disco faça com que você reflita sobre as belezas das músicas que precisamos conquistar e que ao final lhe seja tão compensador como tem sido para mim, todas as vezes que a ele retorno.
Aproveite!
René Denon
A alegria dos dois grandes músicos ao saberem que o disco seria postado aqui no PQP Bach…
Atendendo a pedidos, com a lentidão habitual de nosso SAC, estamos trazendo pela primeira vez a integral de Shostakovich por Bernard Haitink, completa, inteirinha. (Pleyel, 2020)
Hoje é o Saint Patrick´s Day, dia de beber cerveja, então vamos a mais um lote de Shostas. (Céus, totalmente sem sentido). Mas está aí: a heróica e não tão boa sétima; a interessantísima e contrastante oitava e a programática e espetacular décima-primeira. Acho que fico por aqui mesmo. Esta coleção não foi muito baixada e da 12ª até a 14ª eu não tenho em CD, só em haitinkvinil. Tenho a 15ª, mas só gosto de lacunas a preencher em mulheres. Oh, sei, sempre esse odioso machismo!
Ontem ouvi os últimos CDs do Radiohead e dos Strokes. Olha, duas grandes bostas. O que a nova geração ouve de bom? No Brasil e no mundo, a música popular me parece tão, mas tão sem graça… (PQP, 2011)
Sinfonias de Dmitri Shostakovich com Bernard Haitink (CDs 6 a 11, de 11)
CD 6
Symphony No.7 In C Major, Op.60 Leningrad
1 I Allegretto
2 II Moderato (Poco Allegretto)
3 III Adagio
4 IV Allegro Non Troppo
London Philharmonic Orchestra
CD 7
Symphony No.8 In C Minor, Op.65
1 I Adagio
2 II Allegretto
3 III Allegro Non Troppo
4 IV Largo
5 V Allegretto
Concertgebouw Orchestra
CD 8
Symphony No.11 In G Minor, Op.103 ‘The Year 1905’
1 I Adagio: The Palace Square
2 II Allegro: 9 January
3 III Adagio: In Memoriam
4 IV Allegro Non Troppo: Tocsin
Concertgebouw Orchestra
CD 9
Symphony No.13 In B Flat Minor, Op.113 ‘Babi Yar’
1 I Adagio: Babi Yar
2 II Allegretto: Humour
3 III Adagio: In The Store
4 IV Largo: Fears
5 V Allegretto: A Career
Bass – Marius Rintzler
Choir – Gentlemen From The Choir Of The Concertgebouw Orchestra
Concertgebouw Orchestra
CD 10
Symphony No.14, Op.135
1 I De Profundis
2 II Malagueña
3 III Loreley
4 IV Le Suicidé
5 V Les Attentives I
6 VI Les Attentives II
7 VII À La Santé
8 VIII Réponse Des Cosaques Zaparogues…
9 IX O Delvig, Delvig
10 X Der Tod Des Dichters
11 XI Schluß-Stück
Concertgebouw Orchestra
Baritone – Dietrich Fischer-Dieskau
Soprano – Julia Varady
6 Poems Of Marina Tsvetaeva, Op.143a
12 I My Poems
13 II Such Tenderness
14 III Hamlet’s Dialogue With His Conscience
15 IV The Poet And The Tsar
16 V No, The Drum Beat
17 VI To Anna Akhmatova
Contralto – Ortrun Wenkel
Concertgebouw Orchestra
CD 11
Symphony No.15 In A Major, Op.141
1 I Allegretto
2 II Adagio — Largo — Adagio — Largo
3 III Allegretto
4 IV Adagio —Allegretto — Adagio — Allegretto
London Philharmonic Orchestra
From Jewish Folk Poetry, Op.79
5 I Lament For A Dead Infant
6 II Fussy Mummy And Auntie
7 III Lullaby
8 IV Before A Long Separation
9 V A Warning
10 VI The Deserted Father
11 VII A Song Of Poverty
12 VIII Winter
13 IX The Good Life
14 X A Girl’s Song
15 XI Happiness
Contralto – Ortrun Wenkel
Soprano – Elisabeth Söderström
Tenor – Ryszard Karczykowski
Concertgebouw Orchestra
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Façam como P.Q.P. Bach: ouçam Shostakovich no Carnaval!
Meus amigos, a verdade que liberta e salva é a seguinte: eu sou um grande admirador de Bernard Haitink (1929). Em minha opinião, ele é um monstro da regência. Em suas gravações há assinaturas indeléveis: uma indiscutível musicalidade e um som especial. OK, você pensa que é o som do Concertgebouw, mas não é. Como é que ele o repete com a London Philharmonic? E quando ele se junta a compositores como Shostakovich, Mahler e Bruckner — que exigem som — , só para dar exemplos, o resultado é magnífico.
Então, passei a segunda e a terça de carnaval ouvindo suas gravações de Shostakovich. Aqui temos a juvenil e genial primeira sinfonia, escrita aos 20 anos de Shosta; a segunda e a terceira, corais e altamente experimentais, como tudo na época pré-stalinista; a monumental quarta, modelo para o que viria depois; a clássica quinta; a estranha sexta, que começa monumento e termina de forma sarcástica, mais parecendo um circo; a zombeteira e vingativa nona; a perfeita e assinada décima. Boa audição!
Sinfonias de Dmitri Shostakovich com Bernard Haitink (CDs 1 a 5, de 11)
CD 1
Symphony No.1 In F Minor, Op.10
1 I Allegretto – Allegro Non Troppo
2 II Allegro
3 III Lento
4 IV Allegro Molto – Lento – Allegro Molto
Symphony No.3 In E Flat Major, Op.20 ‘The First Of May’
5 I Allegretto – Allegro
6 II Andante
7 III Allegro – Largo
8 IV Moderato: ‘V Pervoye Pervoye Maya’
London Philharmonic Orchestra
CD 2
Symphony No.2 In B Major, Op.14 ‘To October – A Symphonic Dedication’
1 I Largo – Allegro Molto
2 II My Shli, My Prosili Raboty I Khleba
Symphony No.10 In E Minor, Op.93
3 I Moderato
4 II Allegro
5 III Allegretto
6 IV Andante – Allegro
London Philharmonic Orchestra
Choir – London Philharmonic Choir (Symphony No. 2)
CD 3
Symphony No.4 In C Minor, Op.43
1 I Allegretto Poco Moderato —
2 Presto
3 II Moderato Con Moto
4 III Largo —
5 Allegro
London Philharmonic Orchestra
CD 4
Symphony No.5 In D Minor, Op.47
1 I Moderato
2 II Allegretto
3 III Largo
4 IV Allegro Non Troppo
Symphony No.9 In E Flat Major, Op.70
5 I Allegro
6 II Moderato
7 III Presto
8 IV Largo
9 V Allegretto — Allegro
Apoie os bons artistas, compre suas músicas.
Apesar de raramente respondidos, os comentários dos leitores e ouvintes são apreciadíssimos. São nosso combustível.
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Igor Levit é uma estrela recente da música erudita. Aos 34 anos, ele encabeça a lista dos melhores pianistas jovens do mundo. O grande Alex Ross, em artigo recentemente publicado na revista The New Yorker, afirmou: “Levit é um pianista como nenhum outro”. E acrescentou: “Outros pianistas da geração de Levit podem ter alcançado mais fama mercadológica — como Lang Lang e Yuja Wang –, mas nenhum deles possui uma estatura artística, cultural e mesmo política, comparável à dele”. Verdade. Levit é um artista que combina inteligência aguda, sensibilidade e talento técnico. Um caso raro, infelizmente.
Bem, há dois anos, Igor Levit dedicou um recital no Wigmore Hall à enorme Passacaglia sobre DSCH, de Ronald Stevenson. Foi uma execução extraordinária e inesquecível de uma das obras mais singulares do repertório pianístico do século XX, uma peça musical de 80 minutos, composta entre 1960 e 1963, que contém toda uma gama de formas menores, utilizando o tema DSCH, a “grafia” musical (Ré, Mi bemol, Dó, Si natural) das iniciais de Dmitri Shostakovich — em alemão Schostakovich — como base.
A gravação de Levit da Passacaglia é tão magnífica quanto foi ao vivo e ela combina à perfeição com o conjunto igualmente épico de 24 Prelúdios e Fugas, Op 87, de Shostakovich. A peculiar obra-prima de Stevenson é verdadeiramente única. É concebida na grande tradição virtuosa de Liszt e Busoni, é raramente ouvida em concerto e foi gravada apenas cinco vezes antes, incluindo uma versão do próprio compositor e outra dos anos 1960 de John Ogdon que parece nunca ter sido transferida para CD. Como Levit mostra de maneira espetacular, Stevenson faz um passeio selvagem por um monte de formas musicais, citações e alusões, com referências que vão de Bach a canções revolucionárias do século 20 — uma passagem é marcada para ser tocada “com um senso gagarinesco de espaço”.
Junto com a Passacaglia, temos os extraordinários 24 Prelúdios e Fugas de Shostakovich, compostos ao longo de apenas cinco meses entre 1950 e 1951. Eles enganam — parecem um diário tranquilo e íntimo que segue o esquema de O Cravo Bem Temperado ao trabalhar em todas as tonalidades maiores e menores, embora, em vez da ordem cromática de Bach, Shostakovich organize seu ciclo em torno das quintas, com cada prelúdio e fuga em tonalidade maior emparelhada com sua tonalidade menor relativa, de modo que as peças de dó maior e lá menor sejam seguidas pelo sol maior e mi menor, e assim por diante. As dívidas para com Bach são muitas, começando no início do primeiro Prelúdio em Dó maior, finalizando com a linda fuga final.
Nos prelúdios e fugas, Levit chega muito próximo de Tatiana Nikolayeva — em alguns momentos creio que a ultrapassa em beleza e compreensão. Tatiana foi a pianista a quem Shostakovich dedicou a obra, a que a estreou e fez três gravações legendárias do ciclo. Porém, se Levit chega muito perto de Tatiana em seu domínio da obra, é na performance de Stevenson que ele dificilmente será igualado.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): 24 Prelúdios e Fugas, Op. 87 / Ronald Stevenson (1928-2015): Passacaglia On DSCH (Levit)
24 Preludes And Fugues, Op. 87 Composed By – Dmitri Shostakovich
1-1 Prelude No. 1 In C Major 2:37
1-2 Fugue No. 1 In C Major 2:32
1-3 Prelude No. 2 In A Minor 0:53
1-4 Fugue No. 2 In A Minor 1:26
1-5 Prelude No. 3 In G Major 1:49
1-6 Fugue No. 3 In G Major 1:51
1-7 Prelude No. 4 In E Minor 2:57
1-8 Fugue No. 4 In E Minor 4:45
1-9 Prelude No. 5 In D Major 1:28
1-10 Fugue No. 5 In D Major 1:48
1-11 Prelude No. 6 In B Minor 1:54
1-12 Fugue No. 6 In B Minor 4:57
1-13 Prelude No. 7 In A Major 1:13
1-14 Fugue No. 7 In A Major 2:11
1-15 Prelude No. 8 In F-Sharp Minor 1:12
1-16 Fugue No. 8 In F-Sharp Minor 7:11
1-17 Prelude No. 9 In E Major 2:06
1-18 Fugue No. 9 In E Major 1:36
1-19 Prelude No. 10 In C-Sharp Minor 2:10
1-20 Fugue No. 10 In C-Sharp Minor 5:27
1-21 Prelude No. 11 In B Major 1:05
1-22 Fugue No. 11 In B Major 2:00
1-23 Prelude No. 12 In G-Sharp Minor 4:31
1-24 Fugue No. 12 In G-Sharp Minor 3:45
2-1 Prelude No. 13 In F-Sharp Major 2:27
2-2 Fugue No. 13 In F-Sharp Major 4:45
2-3 Prelude No. 14 In E-Flat Minor 4:08
2-4 Fugue No. 14 In E-Flat Minor 2:44
2-5 Prelude No. 15 In D-Flat Major 2:34
2-6 Fugue No. 15 In D-Flat Major 1:33
2-7 Prelude No. 16 In B-Flat Minor 2:38
2-8 Fugue No. 16 In B-Flat Minor 7:29
2-9 Prelude No. 17 In A-Flat Major 1:39
2-10 Fugue No. 17 In A-Flat Major 3:40
2-11 Prelude No. 18 In F Minor 2:09
2-12 Fugue No. 18 In F Minor 3:03
2-13 Prelude No. 19 In E-Flat Major 2:15
2-14 Fugue No. 19 In E-Flat Major 2:26
2-15 Prelude No. 20 In C Minor 4:03
2-16 Fugue No. 20 In C Minor 5:12
2-17 Prelude No. 21 In B-Flat Major 1:16
2-18 Fugue No. 21 In B-Flat Major 2:42
2-19 Prelude No. 22 In G Minor 2:00
2-20 Fugue No. 22 In G Minor 3:12
2-21 Prelude No. 23 In F Major 2:24
2-22 Fugue No. 23 In F Major 4:02
2-23 Prelude No. 24 In D Minor 4:11
2-24 Fugue No. 24 In D Minor 9:23
Passacaglia On DSCH, Pars Prima Composed By – Ronald Stevenson
3-1 Sonata Allegro 6:37
3-2 Waltz In Rondo-Form 2:19
3-3 Episode 1:09
3-4 Suite (Prelude – Sarabande – Jig – Sarabande – Minuet – Jig – Gavotte – Polonaise) 12:19
3-5 Pibroch (Lament For The Children) 2:48
3-6 Episode: Arabesque Variations 0:41
3-7 Nocturne 1:59
Passacaglia On DSCH, Pars Altera Composed By – Ronald Stevenson
3-8 Reverie-Fantasy 5:30
3-9 Fanfare – Forebodings. Alarm – Glimpse Of A War-Vision 2:12
3-10 Variations On “Peace, Bread & The Land” (1917) 2:08
3-11 Symphonic March 1:55
3-12 Episode 0:55
3-13 Fandango 2:08
3-14 Pedal-Point. “To Emergent Africa” 2:03
3-15 Central Episode. Études 3:42
3-16 Variations In C Minor 3:41
Passacaglia On DSCH, Pars Tertia Composed By – Ronald Stevenson
3-17 Adagio. Tribute To Bach 1:57
3-18 Triple Fugue Over Ground Bass, Subject I. Andamento 5:18
3-19 Triple Fugue Over Ground Bass, Subject II. B A C H 7:02
3-20 Triple Fugue Over Ground Bass, Subject III. Dies Irae (In Memoriam The Six Million) 6:33
3-21 Final Variations On A Theme Derived From Ground. Adagissimo Barocco 12:13
O coro de elogios — alguns deles histéricos — que este CD vem recebendo dá até vontade de destoar, mas tal intenção morre à audição dos primeiros acordes. A argentina Gabetta e a francesa Grimaud fizeram um disco de indiscutível musicalidade, perfeito, irretocável. O repertório ajuda muito, claro, mas leiam abaixo o tom dos elogios:
“Put on your headphones, close the door and soak in these direct-connection performances of Schumann, Brahms, Debussy and Shostakovich by pianist Grimaud and cellist Gabetta. This is terrific.” –Mercury News, September 2012
e assim:
An inspiring, enjoyable, powerhouse meeting between two award-winning highly-individualistic classical music superstars who consider their initial meeting as fateful, not coincidence. Hélène Grimaud (who is called “the earth” in their interview), one of the greatest interpretative classical pianists who experiences sound as colors, and star cello virtuoso Sol Gabetta (“the air”), famed for the nuanced, singing quality of her instrumental interpretations and her highly emotional playing, meld their ‘earth and air’ talents and personae into a marvelous musical duo. It began in 2011 in a joyful, fateful musical encounter that ‘clicked’ immediately. In a wide spectrum of musical tastes, they cover the duo compositions of Robert Schumann, Johannes Brahms, Claude Debussy, and Dmitri Shostakovich, and this diverse program works wonderfully and has toured to great success. All performances are excellent and the ‘best of the best’ begins with the ‘storm to calm’ of the ‘Finale’ of Debussy’s Sonata for Violoncello and Piano in D Minor; the awesome beauty and virtuosity of the spellbinding 12 minute Shostakovich Allegro non troppo from the Sonata for Violoncello and Piano in D minor, Opus 40; the fiery third movement of Schumann’s ‘Drei Fantasiestücke’ (Three Fantasies), Opus 73 and the overpowering beauty of the familiar 14 minute Allegro non troppo and the 6 minute Allegro-Più presto movements of Brahms Sonata for Piano and Violoncello No 1 in E minor, Opus 38. Awesome performances by two great artists who form a dynamic duo of singular musical purpose. My Highest Recommendation! Five OUTSTANDING Stars! Independent, October 2012
Duo, com Sol Gabetta e Helene Grimaud
Drei Fantasiestücke op. 73
Composed By – Robert Schumann
1 I. Zart Und Mit Ausdruck 3:13
2 II. Lebhaft, Leicht 3:13
3 III. Rasch Und Mit Feuer 3:53
Sonata For Piano And Violoncello No. 1 in E minor op. 38
Composed By – Johannes Brahms
4 I. Allegro Non Troppo 14:27
5 II. Allegretto Quasi Minuetto – Trio 5:26
6 III. Allegro – Più Presto 6:22
Sonata For Violoncello And Piano In D Minor
Composed By – Claude Debussy
7 I. Prologue. Lent, Sostenuto E Molto Risoluto 4:36
8 II. Sérénade. Modérément Animé 3:13
9 III. Final. Animé, Léger Et Nerveux 3:40
Sonata For Violoncello And Piano In D Minor Op. 40
Composed By – Dmitri Shostakovich
10 I. Allegro Non Troppo 11:56
11 II. Allegro 2:50
12 III. Largo 8:21
13 IV. Allegro 3:58
Este CD duplo fecha o ciclo de Sinfonias de Shostakovich com Andris Nelsons e é certamente um dos melhores lançamentos de 2021. O repertório é de primeira, os solistas espetaculares — meu deus, que solistas! –, a orquestra é fantástica e a direção perfeita. Não tem erro e é a cereja do bolo: o final da premiada série. Este álbum apresenta as de Nº 1, 14 e 15 e a Sinfonia de Câmara — ou seja, o Quarteto de Cordas Nº 8 arranjado para orquestra. A gravação da Sinfonia nº 10 ganhou vários prêmios em 2016 e o álbum das Sinfonias Nº 5, 8 e 9 conseguiram o mesmo no ano seguinte. Quase meio século se passa entre a estreia triunfante de Shostakovich com a ‘Primeira’, executada antes de seu 20º aniversário, e a ‘Décima Quinta’, um inventário de influências escrito sob a sombra de sua própria mortalidade. Escrita apenas dois anos antes, a ‘Décima quarta’ é um ciclo de canções sinfônicas, e a Sinfonia de Câmara é uma adaptação habilidosa daquela obra-prima trágica, o Oitavo Quarteto de Cordas.
Sinfonia Nº 1, Op. 10 (1924-1925)
Shostakovich começou a escrever esta sinfonia quando tinha dezessete anos. Antes disso, tinha composto apenas alguns scherzi. Sua estreia foi mesmo com esta Nº 1, terminada antes do autor completar vinte anos. Ela tornou aquele estudante de música, mais conhecido por ser o pianista-improvisador de três cinemas mudos de Petrogrado, internacionalmente célebre. Tal fama pode ser atribuída por Shostakovich ser o primeiro rebento musical do comunismo, mas ouvindo a sinfonia hoje, não nos decepcionamos de modo algum. É música de um futuro mestre.
Ela começa com um toque de trompete ao qual, se acrescentarmos um crescendo, tornar-se-á um tema de Petrouchka, de Igor Stravinsky. Alguns regentes russos fazem esta introdução exatamente igual à Petroushka. Há mesmo algo de “boneca triste” no primeiro movimento desta sinfonia. O segundo movimento possui um curioso tema árabe, que é a primeira grande paródia encontrada em sua obra. Um achado. O movimento lento, muito triste, é daqueles que os anticomunistas mais truculentos considerariam uma comprovação do sofrimento do compositor sob o comunismo e de uma postura fatalista do tipo isto-não-vai-dar-nada-certo, porém acreditamos que a morte de seu pai, ocorrida alguns meses antes e a internação de Dmitri num sanatório da Criméia (ele contraíra tuberculose) tenha mais a ver. Há um belíssimo solo funéreo de oboé nele.
Sinfonia Nº 15, Op. 141 (1971)
Sem dúvida, a Sinfonia Nº 15 é uma de minhas preferidas no gênero. É difícil estabelecer um conteúdo programático para ela. Trata-se de uma música muito viva, com colorido orquestral atraente, temas facilmente assimiláveis e nada triviais, clímax e pausas meditativas que empolgam e mantém o ouvinte permanentemente atento. E com os contrastes característicos de Shostakovich. Parece um roteiro de Shakespeare passado à música, trazendo o trágico ao festivo, empurrando a reflexão para junto da zombaria. Bom, já viram que sou um apaixonado desta sinfonia. O primeiro movimento (Allegretto) é uma curiosidade por manter sempre ativo o motivo da cavalgada da abertura Guilherme Tell, de Rossini, e pela participação incessante da percussão. O segundo movimento (Adagio) é circunspecto. Os metais trazem uma melodia sombria, para depois o violoncelo completá-la com um solo dilacerante, a cujas cores será acrescida, mais adiante, a ressonância do contrabaixo. Um novo Alegretto surge repentinamente do Adagio, retomando o clima do primeiro movimento, mas desta vez somos levados pelos solos do fagote, violino, clarinete e flautim. O movimento final, outro adagio, é enigmático. A simbologia está presente com a apresentação de imediato do Prenúncio da Morte, composto por Wagner para a Tetralogia do Anel. O ouvinte wagneriano fica desconcertado ao escutar de imediato esta música conhecida, parece tratar-se de um equívoco, de um erro de partitura. Ao pesado motivo de Wagner são contrapostos temas executados por setores “mais leves” da orquestra, porém, a todo instante, o sinistro aviso retorna e, mais adiante, os metais refletirão angustiada exasperação… A sinfonia esvai-se em delicados sons de percussão, deixando um ponto de interrogação no ar. É desconcertante. O significado do Prenúncio da Morte é óbvio, porém, o que significam a percussão, a orquestração e as melodias jocosas que o cercam? Uma simples experiência sinfônica? Impossível. O desejo de felicidade de alguém cuja vida se encerra? Ou, voltando a Shakespeare, que a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, que nada significa (*)? Porém, a significação, a intenção exata de uma obra instrumental é tão importante? Ou seria mais inteligente fazer como fez Shostakovich, levando-nos bem próximo ao irrespondível para nos abandonar por lá?
(*) Macbeth, William Shakespeare.
Sinfonia Nº 14, Op. 135 (1969)
A Sinfonia Nº 14 — espécie de ciclo de canções — foi dedicada a Britten, que a estreou em 1970 na Inglaterra. É a menos casual das dedicatórias. Seu formato e sonoridade é semelhante à Serenata para Tenor, Trompa e Cordas, Op. 31, e à Les Illuminations para tenor e orquestra de cordas, Op. 18, ambas do compositor inglês. Os dois eram amigos pessoais; conheceram-se em Londres em 1960, e Britten, depois disto, fez várias visitas à URSS. Se o formato musical vem de Britten, o espírito da música é inteiramente de Shostakovich, que se utiliza de poemas de Lorca, Brentano, Apollinaire, Küchelbecker e Rilke, sempre sobre o mesmo assunto: a morte. O ciclo, escrito para soprano, baixo, percussão e cordas, não deixa a margem à consolação, é música de tristeza sem esperança. Cada canção tem personalidade própria, indo do sombrio e elegíaco em A la Santé, An Delvig e A Morte do Poeta, ao macabro na sensacional Malagueña, ao amargo em Les Attentives, ao grotesco em Réponse des Cosaques Zaporogues e à evocação dramática de Loreley. É uma música que trabalha para a poesia, chegando, por vezes, a casar-se com ela sílaba por sílaba para torná-la mais expressiva. Há uma versão da sinfonia no idioma original de cada poema. Posso dizer que a sinfonia torna-se apenas triste se estiver desacompanhada da compreensão dos poemas – pecado que cometi por anos! Ela perde sentido se não temos consciência de seu conteúdo autenticamente fúnebre. Além do mais, os poemas são notáveis. São indiscutíveis seus méritos musicais e sua sinceridade. Me entusiasmam especialmente a Malagueña, feita sobre poema de Lorca e a estranha Conclusão (Schluss-Stück) de Rilke, que é brevíssima, sardônica e — puxa vida — muito, mas muito final.
Quarteto de Cordas Nº 8, Op. 110 e Sinfonia de Câmara, Op. 110a – Arranjo de Rudolf Barshai (1960)
Na minha opinião, o melhor quarteto de cordas de Shostakovich. Não surpreende que tenha recebido versões orquestrais. Trata-se de uma obra bastante longa para os padrões shostakovichianos de quarteto; tem cinco movimentos, com a duração total ficando entre os 20 minutos (na versão para quarteto de cordas) e 26 (na versão orquestral). O quarteto abre com um comovente Largo de intenso lirismo, o qual é seguido por um agitado Allegro molto, de inspiração folclórica e que fica muito mais seco na versão para quarteto. O terceiro movimento (Allegretto) é uma surpreendente valsinha sinistra a qual é respondida por outra valsa, muito mais lenta e com um acompanhamento curiosamente desmaiado. O quarteto é finalizado por dois belos temas — o primeiro sendo pontuado por agressivamente por um motivo curto de três notas e o segundo formado por mais uma fuga a quatro vozes utilizando temas dos movimentos anteriores.
1. Symphony No. 1 in F Minor, Op. 10: I. Allegretto – Allegro non troppo (09:27)
2. Symphony No. 1 in F Minor, Op. 10: II. Allegro (04:51)
3. Symphony No. 1 in F Minor, Op. 10: III. Lento (09:45)
4. Symphony No. 1 in F Minor, Op. 10: IV. Lento – Allegro molto (11:06)
5. Symphony No. 15 in A Major, Op. 141: I. Allegretto (08:18)
6. Symphony No. 15 in A Major, Op. 141: II. Adagio – Largo – Adagio – Largo (17:27)
7. Symphony No. 15 in A Major, Op. 141: III. Allegretto (04:11)
8. Symphony No. 15 in A Major, Op. 141: IV. Adagio – Allegretto – Adagio – Allegretto (18:07)
9. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: I. De Profundis (04:52)
10. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: II. Malagueña (03:03)
11. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: III. Loreley (08:43)
12. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: IV. Le suicidé (06:26)
13. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: V. Les attentives I (03:07)
14. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: VI. Les attentives II (01:43)
15. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: VII. A la santé (09:15)
16. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: VIII. Réponse des Cosaques Zaporogues au Sultan de Constantinople (01:48)
17. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: IX. O, Delvig, Delvig! (04:06)
18. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: X. Der Tod des Dichters (04:49)
19. Symphony No. 14 in G Minor, Op. 135: XI. Schlussstück (01:19)
20. Chamber Symphony in C Minor, Op. 110a (After String Quartet No. 8) [Orch. Barshai]: I. Largo – attacca (05:37)
21. Chamber Symphony in C Minor, Op. 110a (After String Quartet No. 8) [Orch. Barshai]: II. Allegro molto – attacca (02:58)
22. Chamber Symphony in C Minor, Op. 110a (After String Quartet No. 8) [Orch. Barshai]: III. Allegretto – attacca (04:34)
23. Chamber Symphony in C Minor, Op. 110a (After String Quartet No. 8) [Orch. Barshai]: IV. Largo – attacca (06:40)
24. Chamber Symphony in C Minor, Op. 110a (After String Quartet No. 8) [Orch. Barshai]: V. Largo (05:02)
Kristine Opolais
Alexander Tsymbalyuk
Boston Symphony Orchestra
Andris Nelsons
Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.
Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Johannes BRAHMS (1833-1897) Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante
Franz LISZT (1811-1886) Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella
Darius MILHAUD (1892-1974) Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b 6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira
Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos
Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón
Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI (1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón
Ástor PIAZZOLLA 5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”- “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón
Néstor MARCONI 6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)
Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012
Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).
VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS
1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh) Evgeny Kissin, piano
02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks) Alissa Margulis, violino Nathan Braude, viola Polina Leschenko, piano
3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky) Sarina Cohn, voz Philip Catherine, guitarra Oscar Németh, baixo
4 – Deim Fidele (B. Witler) Lola Fuks, voz Michael Guttman, violino
5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler) Paul Ambach, voz
Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder
Wolfgang Amadeus MOZART Do Requiem em Ré menor, K. 626 2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa
Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65
Franz LISZT 5 – Mephisto-Walzer
Robert SCHUMANN De Dichterliebe, Op. 48: 6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’
Dmitri SHOSTAKOVICH Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65 7 – Toccata
8 – Passacaglia
Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie
Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 –Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos
Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)
“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014
Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:
Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.
Robert SCHUMANN Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo
Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)
Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015
Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.
“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.
Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105 1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73 4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer
Johannes BRAHMS Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro
Johann Sebastian BACH Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro
Itzhak Perlman, violino
Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)
Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.
Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique 5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale
Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência
Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.
Claude DEBUSSY De Nocturnes, L. 91 1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)
Anton Gerzenberg, piano II
Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140 2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé
Géza Hosszu-Legocky, violino Evgeni Bozhanov, piano
5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Stephen Kovacevich, piano I
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux
Mischa Maisky, violoncelo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) 9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Nicholas Angelich, piano II
Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain
Alexandra Conunova, violino Edgar Moreau, violoncelo
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace
Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos
5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34
Pablo Barragán, clarinete Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos Lyda Chen, viola Edgar Moreau, violoncelo
Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso
Akane Sakai eAlexander Mogilevsky, pianos
11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante
Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos
Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56 15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante 11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale
Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100 1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)
Akiko Suwanai, violino Nicholas Angelich, piano
Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19 4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso
Camille SAINT-SAËNS 1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
Annie Dutoit, narração Jing Zhao, violoncelo Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg Ion Marin, regência
Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963) Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro
Três danças afro-cubanas, para piano 35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165 38 – No. 2: Tango
Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 – El Choclo
Mauricio Vallina, piano
Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego
Ástor PIAZZOLLA 41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino
Wolfgang Amadeus MOZART 43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)
Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo
Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.
Sergey RACHMANINOV Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18 1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando
Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov
Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018
Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace
Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.
Felix MENDELSSOHN Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato
Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo
Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78 5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato
Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501 1 – Thema – Variationen I-V
Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer” 2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto
Tedi Papavrami, violino
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940 5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco
Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces
Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonatas (Esercizi) para teclado: 1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior
Evgeni Bozhanov, piano
Johann Sebastian BACH Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065 8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro
Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência
Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht
Martha Argerich, piano
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381 1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Martha Argerich e Akane Sakai, piano
Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65 4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet
Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano
Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37 8 – No. 5: Andaluza
Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin
Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano
Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963) Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos
Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11 15 – No. 4: Valsa
A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto
Theodosia Ntokou, piano II
Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020
Das Três sonatas para piano, Op. 31: No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto