Curioso que eu nunca tenha postado aqui no PQPBach uma das gravações que mais ouvi do Concerto de Tchaikovsky, com o grande Isaac Stern ao lado de Eugene Ormandy, na Filadélfia, é claro. Já não tenho mais o LP há muitos anos, perdi ou vendi em algum momento, e apenas recentemente tive acesso a versão digital, ou seja, já fazia muito tempo que não o ouvia. Essa gravação foi realizada em 1959, jurássica, como diria o colega René Denon, mas imperdível, como diria nosso mentor PQPBach. Isaac Stern realizou diversos registros com o grande maestro hungaro radicado nos Estados Unidos, em sua querida Filadélfia, e esse Tchaikovsky foi um dos grandes momentos da dupla. Poucas vezes ouvi este concerto tocado com tanta paixão e emoção, e não por acaso, a Columbia, e posteriormente a Sony, já lançaram esta gravação tantas vezes desde então. Não sei dizer quando foi que ouvi esta gravação pela primeira vez, provavelmente ainda na adolescência, mas continua sendo uma de minhas preferidas.
Como não poderia deixar de ser, o Concerto de Sibelius, que completa o CD, também é um primor de técnica e execução, e o som da Orquestra da Filadélfia contribui com o clima, mesmo tendo sido gravado em 1976, ainda com Ormandy, que dirigiu essa orquestra por mais de quarenta anos. Stern nesta época já era um músico consagrado, com uma considerável discografia, e referência para outros jovens violinistas. Talvez a idade já esteja pesando e o som de seu violino não soe mais tão intenso e apaixonado, mas é indiscutível a qualidade de sua execução. Não por acaso os clientes da amazon deram 5 estrelas para este CD.
Espero que apreciem.
01 – Concerto for Violin and Orchestra in D Major, Op. 35- I. Allegro moderato
02 – Concerto for Violin and Orchestra in D Major, Op. 35- II. Canzonetta. Andante
03 – Concerto for Violin and Orchestra in D Major, Op. 35- III. Finale. Allegro vivacissimo
04 – Concerto in D minor for Violin and Orchestra, Op. 47- I. Allegro moderato
05 – Concerto in D minor for Violin and Orchestra, Op. 47- II. Adagio di molto
06 – Concerto in D minor for Violin and Orchestra, Op. 47- III. Allegro, ma non tanto
Isaac Stern – Violin
Philadelphia Orchestra
Eugene Ormandy – Conductor
Jascha Heifetz, alguma dúvida? Aqui ele toca o espetacular e ultra-solado Concerto de Sibelius, o bom Concerto de Prokofiev com seus esplêndidos segundo e terceiro movimentos e outro bem ruinzinho de Glazunov, autor cujo maior mérito foi o ter sido professor de Shostakovich, que não o suportava nem como compositor e muito menos como autor. BAITA DISCO!
Jean Sibelius (1865-1957)
Violin concerto in D minor, op. 47
Chicago Symphony Orchestra
Walter Hendl
Sergei Prokofiev (1891-1953)
Violin concerto No. 2 in G minor, op. 63
Boston Symphony Orchestra
Charles Munch
Alexander Glazunov (1865-1936)
Violin concerto in A minor, op. 82
RCA Victor Symphony Orchestra
Walter Hendl
Após quatro anos de busca, a Royal Concertgebouw Orchestra encontrou um novo maestro titular. Conforme anunciado no início da manhã durante uma conferência de imprensa, o escolhido foi o finlandês Klaus Mäkelä (26 anos!!!!), que iniciará o seu novo emprego em Amsterdam a partir de agosto de 2027, por um período de cinco anos. Até lá, ele atuará como consultor artístico do grupo holandês. Mäkelä, que se torna assim o sucessor de Daniele Gatti, estreou com a Concertgebouw Orchestra em 2020 e foi recebido com entusiasmo pelos seus membros, o que influenciou definitivamente a decisão final. Mais tarde, em novembro do ano passado, ele excursionou por Reykjavík e Hamburgo com ela. Até assumir oficialmente a direção da Orquestra Real do Concertgebouw, Mäkelä continuará a liderar os dois grupos que atualmente lidera: a Filarmônica de Oslo e a Orquestra de Paris (neste último, começou a exercer em 2021).
Eu ouvi estes CDs com as Sinfonias de Sibelius e o cara é um monstro mesmo. 26 anos…
René Denon completa, com muito maior brilhantismo e informações:
A gravação deste ciclo de Sinfonias de Jan Sibelius pela Oslo Philharmonic Orchestra, com a regência de seu novo diretor Klaus Mäkelä, estava prevista para ser realizada ao longo de concertos programados entre o outono (do hemisfério norte) de 2020 e a primavera (…) de 2021. Klaus Mäkelä (que nasceu em 1996) havia firmado um contrato exclusivo com o selo DECCA. Apenas mais dois regentes haviam tido tal relação com o selo antes. O último foi Riccardo Chailly, contratado em 1978.
Mas eis que as engrenagens do destino já estavam em movimento e… você sabe o que se abateu sobre o mundo em 2020. A gravação do ciclo então se deu em outras circunstâncias. A orquestra e seu jovem regente puderam imergir no ciclo em condições únicas, devido ao período de isolamento social a que todos nós tivemos que nos submeter.
A orquestra de Oslo não é de forma alguma inexperiente em relação às sinfonias de Sibelius. Quem não se recorda dos discos gravado por ela sob a regência do então também jovem regente que a elevou ao nível das grandes orquestras europeias, o saudoso Mariss Jansons? Como Mäkelä contou em sua entrevista à Gramaphone, esse compromisso focado nas partituras de Sibelius mudou a compreensão que a orquestra tinha delas. “Tocávamos, tocávamos e aí gravávamos”. “Isto nos permitiu ir mais fundo do que teríamos feito em uma situação normal”. Manter a distância de 1,5m entre os músicos também fez com que eles ouvissem uns aos outros mais acuradamente, disse o regente. “Era algo engraçado. As seções de gravação de Sibelius eram as únicas interações sociais que muitos de nós tínhamos, naquele período no qual tudo era proibido”.
Assim, senhores, este ciclo que nos chega ganha esse selo de unicidade, é ímpar devido ao momento em que foi elaborado. Há muitas novidades vindo aí pela batuta deste ainda muito jovem regente, assim como há outros ciclos de Sinfonias de Sibelius que os apreciadores de sua música irão buscar, mas este merece ser destacado por estas tão únicas circunstâncias.
Mette Henriette
Na programação da Oslo PO desta temporada de 2021/22, música de Saariaho, Richard Strauss (Zarathustra) e duas novas obras da saxofonista e compositora Mette Henriette, sem deixar de fora o santo padroeiro Sibelius – Lemminkäinen. Bach, Mozart, Walton, Mahler e Shostakovitch também fazem parte das programações. Portanto, reservem bom pedaço do HD para o que vem por aí e aproveite desde já estas sinfonias que dispomos. Eu começarei pela Segunda…
Here was something truly special: a conductor who revelled in freshly imagining each sound. THE TIMES, sobre Klaus Mäkelä
Jean Sibelius (1865-1957): As Sinfonias Completas + Tapiola & 3 Late Fragments (Mäkelä / Oslo Philharmonic)
1. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – I. Andante, ma non troppo – Allegro energico
2. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – II. Andante (ma non troppo lento)
3. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – III. Scherzo. Allegro
4. Symphony No. 1 in E Minor, Op. 39 – IV. Finale. Quasi una fantasia
5. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – I. Allegretto
6. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – II. Tempo andante, ma rubato
7. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – III. Vivacissimo
8. Symphony No. 2 in D Major, Op. 43 – IV. Finale. Allegro moderato
9. Symphony No. 3 in C Major, Op. 52 – I. Allegro moderato
10. Symphony No. 3 in C Major, Op. 52 – II. Andantino con moto, quasi allegretto
11. Symphony No. 3 in C Major, Op. 52 – III. Moderato – Allegro ma non tanto
12. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – I. Tempo molto moderato, quasi adagio
13. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – II. Allegro molto vivace
14. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – III. Il tempo largo
15. Symphony No. 4 in A Minor, Op. 63 – IV. Allegro
16. Symphony No. 5 in E-Flat Major, Op. 82 – I. Tempo molto moderato
17. Symphony No. 5 in E-Flat Major, Op. 82 – II. Andante mosso, quasi allegretto
18. Symphony No. 5 in E-Flat Major, Op. 82 – III. Allegro molto
19. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – I. Allegro molto moderato
20. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – II. Allegretto moderato
21. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – III. Poco vivace
22. Symphony No. 6 in D Minor, Op. 104 – IV. Allegro molto
23. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – I. Adagio –
24. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – II. Vivacissimo – Adagio –
25. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – III. Allegro molto moderato –
26. Symphony No. 7 in C Major, Op. 105 – IV. Vivace – Presto – Adagio
27. Tapiola, Op. 112
28. 3 Late Fragments – I. HUL 1325 (Compl. Virtanen)
29. 3 Late Fragments – II. HUL 1326/9 (Compl. Virtanen)
30. 3 Late Fragments – III. Allegro moderato, HUL 1327/2 (Compl. Virtanen)
Semana passada aqui em casa estava uma delícia, com a visita de filho, nora e (é claro) a netinha. Mas, ouvir música ficou restrito aos headphones – a Galinha Pintadinha e sua trupe reinaram aqui…
Hoje, domingo à noite, depois que lá se foram, o lugar ficou terrivelmente quieto e decidi escolher algo diferente para ouvir. Diferente dos quase sempre concertos para piano – violino então. Há um certo tempo queria conhecer o Concerto para Violino de Nielsen e uma busca me levou a este disco da postagem. Primeiro a dobradinha Nielsen e Sibelius, antecipando pelo menos uma obra que já gosto muito. E como também gosto de novidades e novos intérpretes, a escolha se definiu na hora.
Johan Dalene
Johan Dalene é um jovem violinista de 22 anos, mas perfeitamente qualificado para a tarefa. Ele ganhou em 2019 a Nielsen Competition tocando exatamente o Concerto de Nielsen com perfeita técnica, mas também com domínio artístico que se espera de um intérprete mais maduro.
Johan começou a tocar violino aos quatro anos e pouco depois já dava seus primeiros concertos. Em 2016 teve participação no Verbier Festival como student-inresidence e em 2018 foi aceito no programa norueguês Crescendo, onde teve como mentores artistas como Janine Jansen, Leif Ove Andsnes e Gidon Kremer. Em um artigo no The Strad, ele conta que estudou desde os dez anos com o mesmo professor, Per Enokssen, primeiro violino da Gothenburg Symphony Orchestra.
O disco ganhou ótima resenha na Gramaphone e tenho certeza que, se você gosta de concertos para violino, vai ganhar espaço na sua playlist!!
Dalene adorou aparecer no PQP Bach, mas achou que o pessoal poderia ter feita a reforma do prédio antes de sua visita…
Veja o que Andrew MacGregor, da BBC, disse sobre o jovem violinista: Tecnique obviously, toughness when needed, and he can make it sing and spin out those long phrases.
Nielsen e especialmente Sibelius acharam ótimas as interpretações de Johan Dalene…
É claro que alguns de vocês vão baixar apenas alguns volumes desta caixa de 13 CDs de Jansons com a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam. Alguns terão vontade de ouvir esse grande conjunto atacando Sibelius e Beethoven mas não terão fôlego para a sétima de Mahler. Outros, mais curiosos quanto à música composta nas últimas décadas, vão querer conhecer um pouco mais sobre Berio, Andriessen e Gubaidulina. Essa caixa cheia de raridades deve agradar, pelo menos um pouquinho, a todos os apreciadores da sonoridade sempre elegante dos músicos do Concertgebouw.
Os CDs que trago hoje se iniciam com uma luxuosa gravação da Sinfonia nº 1 de Schumann (a “sinfonia pastoral” desse compositor). É coisa fina mesmo, muito bem gravada ao vivo em 2008 na famosa sala de concertos de Amsterdam. São gravações ao vivo em um só take, sem colagens de outras datas… E em seguida vêm as obras-primas do século XX, das quais faço questão de comentar três delas.
A Música para cordas percussão e celesta é uma das obras mais influentes de Bartók, composta nos anos 1930, mesma época dos quartetos de cordas 5 e 6. Em sua última fase (anos 1940) ele criaria algumas obras com melodias e harmonias mais tradicionais, como os belíssimos Concertos para Orquestra e para piano nº 3. Mas aqui temos o Bartók mais vanguardista e a orquestra do Concertgebouw (ao vivo em Berlim, 2010) acerta em todos os detalhes, além da excelente captura dos engenheiros de som.
O Hino para grande orquestra é uma das primeiras obras de Messiaen. É muito baseado nas ideias que ele tinha sobre colorido orquestral. Messiaen, que confessava ser vítima de (ou privilegiado com) sinestesia – via música nas cores e cores na música – gostava de listar em entrevistas alguns de seus grandes modelos de orquestração: Debussy, Wagner, Stravinsky e, um pouco mais surpreendente, Monteverdi e Villa-Lobos: “Os Choros de Villa-Lobos, que considero maravilhas de orquestração, foram para mim o ponto de partida de algumas justaposições de timbres”. Todos esses compositores, para os peculiares ouvidos de Messiaen, faziam música muito colorida, ao contrário da 2ª escola de Viena:
– Você disse uma vez que a música de certos autores modernos é cinza, associada a um tipo de sentimento pessimista, uma espécie de monotonia, talvez.
O.Messiaen: Bem, bem, pode ser verdade que a escola serial escreveu apenas sobre assuntos mórbidos e obras quase sempre passadas à noite. Não é por acaso que Erwartung de Schoenberg se passa à noite e é um assunto horrível, uma mulher que vê o cadáver de seu amante…
– E podemos adicionar Wozzeck e…
O.M.: Muitas outras que são obras-primas, sem dúvida, mas são obras-primas sombrias.
Messiaen bem jovem, ainda com cabelos (uma semelhança entre Schoenberg, Bartók e Messiaen: a calvície)
Trago essa longa citação para adicionarmos a essa lista de obras-primas sombrias a peça de Schoenberg que Jansons/Concertgebouw gravaram ao vivo em 2012: Um Sobrevivente de Varsóvia, Op. 46 (em inglês: A Survivor from Warsaw) é um oratório para narrador, coro masculino e orquestra. Em estilo dodecafônico, e com apenas cerca de 7 minutos, ela consegue no entanto comunicar inúmeras emoções ligadas aos campos de concentração da Segunda Guerra. É considerada uma das mais importantes obras musicais dedicadas ao holocausto. Milan Kundera, por exemplo, dizia que toda a essência existencial do drama dos judeus do século XX se mantém viva ali, em toda a sua terrível grandeza que não deve ser esquecida.
Schönberg compôs essa obra em 1947, portanto quase 40 anos após Erwartung, mas são várias as semelhanças entre essas duas obras sombrias com uma orquestra fazendo descrições sonoras impressionantes do que uma voz solo vai narrando. Ao menos para mim, essas duas obras de Schönberg com um triste enredo são muito mais interessantes do que as suas obras instrumentais para piano ou quarteto de cordas.
Mariss Jansons / Concertgebouw Orchestra – The Radio Recordings 1990-2014
CD 6:
Robert SCHUMANN
Symphony No. 1 in B flat major, Op. 38, ‘Spring’ (1841)
Jean SIBELIUS
Symphony No. 1 in E minor, Op. 39 (1899)
Um disco muito bom. O Concerto para Violino de Sibelius é uma indiscutível e sensacional obra-prima e as peças restantes deste disco completista não são nada desprezíveis, muito pelo contrário. São ótimas, todas com a peculiar melancolia do compositor finlandês, mesmo quando os títulos são Humoresques. Este repertório é raro e difícil. Se o concerto para violino em Ré menor é um cavalo de batalha do repertório de violino mainstream, as outras peças para violino e orquestra incluídas neste CD são relativamente menos conhecidas do público. O domínio de Tetzlaff é magistral nessas obras estranhas e fascinantes. Os aromas do norte brilham devidos ao solista e à orquestra — a excelente Sinfônica Nacional Dinamarquesa liderada por Thomas Dausgaard.
Jean Sibelius (1865-1957): The Complete Works For Violin And Orchestra (Tetzlaff / Dausgaard)
Violin Concerto Op. 47 In D Minor
1 1. Allegro Moderato 15:25
2 2. Adagio Di Molto 9:46
3 3. Allegro Ma Non Tanto 7:11
Two Serenades For Violin And Orchestra Op. 69
4 1. No. 1 In D Major 5:23
5 2 No. 2 In G Minor 6:16
Two Pieces For Violin And Orchestra Op. 77
6 No. 1 Cantique: Laetare Anima Mea 4:57
7 No. 2 Devotion; Ab Imo Pectore 2:59
Two Humoresques Op. 87
8 1. No. 1 In D Minor 3:29
9 2. No. 2 In D Major 2:21
Four Humoresques For Violin And Orchestra Op. 89
10 1. No. 1 In G Minor For Strings 4:03
11 2. No. 2 In G Minor For Strings 3:15
12 3. No. 3 In E Flat 2:45
13 4. No 4 In G Minor 2:48
Suite For Violin And Strings Op 117
14 1. Country Scenery: Allegretto 2:18
15 2. Evening In Spring: Andantino 3:29
16 3. In The Summer: Vivace 1:47
Conductor – Thomas Dausgaard
Orchestra – Danish National Symphony Orchestra*
Violin – Christian Tetzlaff
Este CD vale pela incrível, belíssima Sonata de Grieg e pelos gatinhos — expressão para iniciados — do mesmo compositor.
Bem, a palavra italiana malinconia era muito usada no século XIX como título de peças melancólicas. No entanto, a ideia de malinconia cobria uma miríade de noções românticas, de modo que simplesmente traduzi-la como “melancolia” não lhe faz justiça. Inclui também muitos outros estados emocionais – todos os tipos de desânimo, tristeza, desespero, depressão e até mesmo frustração. Cada idioma desenvolveu seus próprios termos e as interpretações da própria palavra também diferem de região para região. A malinconia na ensolarada Itália ou na Espanha é bem diferente da melancolia na Noruega e na Finlândia, onde os invernos são rigorosos e longos. A variante nórdica é expressa aqui em vários exemplos musicais; palavras por si só são inadequadas.
O vencedor do concurso Tchaikovsky e aluno de Rostropovich, David Geringas, deixa uma impressão vigorosa e direta na Sonata de Grieg, próxima à franqueza de seu ex-professor em uma parceria ao vivo de 1964, em Aldeburgh, com Sviatoslav Richter ao piano e que está disponível apenas no YouTube. Tal abordagem recoloca o trabalho na tradição europeia dominante (ou seja, alemã), mas dá menos atenção às cores suaves e ao humor que certamente são aqui a base da paleta de Grieg, mesmo em momentos mais angustiados. O resultado é tornar o trabalho menos forte e individual, enfatizando a forma em detrimento do conteúdo. Mas nada destrói esta música de Grieg.
Geringas está mais perto do idioma “correto” nas duas peças de Sibelius. Ele se deleita com suas dificuldades mais do que seu pianista. Nos Griegs mais curtos, os dois apresentam imagens mais completas da música do que na Sonata. A transcrição de Allegretto da Sonata para violino Op 45 vai especialmente bem e Geringas aponta a tristeza em sua própria transcrição da ‘Canção de Solveig’.
Sibelius (1865-1957) & Grieg (1843-1907): Malinconia – Peças para Violoncelo e Piano
Jean Sibelius (1865-1957)
01. Malinconia, Op.20 (10:53)
Edvard Grieg (1843-1907)
02. Letzter Frühling, Op.34 No.2 (4:25)
03. Violin Sonata No.3 in C minor, Op.45 – II. Allegretto (7:03)
Cello Sonata in A minor, Op.36
04. I. Allegro agitato (9:10)
05. II. Andante molto tranquillo (6:03)
06. III. Allegro (11:37)
Não é que o concerto de Adès seja mau, é que a companhia é muito boa. O Concerto de Sibelius faz a gente esquecer até dos 3 Humoresques que fecham o CD. Pois é… O Concerto para Violino de Jean Sibelius é um favorito pós-romântico e parece ter pouco em comum com os Caminhos Concêntricos de Adès, uma peça cerebral escrito quase 100 anos depois pelo britânico Thomas Adès. As conexões, Hadelich afirma nas anotações do álbum, nem sempre são aparentes na superfície: “Os tímpanos profundos e estrondosos e os baixos em Sibelius preenchem a lacuna de Adès, um trabalho que também explora as profundidades mais baixas do som, criando abismos sobre os quais o violinista executa um ato na corda bamba.” Por falar nele, Hadelich é excelente. Ele é ousado e exato. Também tem uma forma aristocrática de acentuar o que deseja que ouçamos. Porém, é feroz no movimento central de Adès, quando temas concêntricos circulam e se transformam em um ápice emocional, depois se libertando repentinamente.
Adès / Sibelius: Concertos para Violino (Hadelich / Lintu)
Violin Concerto ‘Concentric Paths’
Composed By – Thomas Adès
1 Rings 3:58
2 Paths 10:25
3 Rounds 4:55
Violin Concerto Op. 47
Composed By – Jean Sibelius
4 Allegro Moderato 15:36
5 Adagio di Molto 8:49
6 Allegro, Ma di Tanto 7:39
Three Humoresques
7 Humoresque Op. 87 No. 2 In D Major 2:30
Composed By – Jean Sibelius
8 Humoresque Op. 89 No. 2 In G Minor 3:42
Composed By – Jean Sibelius
9 Humoresque Op. 89 No. 3 In E Flat Major 3:31
Composed By – Jean Sibelius
Conductor – Hannu Lintu
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
Performer, Violin – Augustin Hadelich
O cabeludo maestro finlandês Santtu-Matias Rouvali vem ganhando reconhecimento na Escandinávia e na Grã-Bretanha por grandes leituras dramáticas que muitas vezes trazem algo de novo a trabalhos familiares, como a dupla de peças orquestrais de Sibelius ouvidas neste disco da Alpha. A Sinfonia Nº 1 em Mi menor, op. 39 é obviamente descrita como tchaikovskiana e, de fato, há uma abundância de músicas amplas e levemente melancólicas que lembram o compositor. Mas Rouvali, líder da Sinfônica de Gotemburgo (da qual ele foi recentemente nomeado maestro titular), concentra-se em elementos mais finlandeses do que russos. Prova é o primeiro movimento, onde o lirismo tchaikovskiano dá lugar a uma passagem tumultuada, onde cada harmonia parece arrancada da anterior de uma maneira muito característica de Sibelius. A leitura de Rouvali é emocionante. O poema sinfônico En saga, Op. 9, é uma obra-prima que, em mãos inferiores, poderia tornar-se uma porcaria, mas que ficou enérgico e envolvente nas mãos de Rouvali. É para prestar atenção a este Santtu-Matias Rouvali. Ele sabe o que faz.
Jean Sibelius (1865-1957): Sinfonia Nº 1 & En Saga
Symphony No. 1 in E minor, Op. 39
1 I. Andante Ma Non Troppo – Allegro Energico 11:27
2 II. Andante (Ma Non Troppo Lento) 09:13
3 III. Scherzo: Allegro 05:28
4 IV. Finale: Andante – Allegro Molto – Andante Assai – Allegro Molto Come Prima – Andante 13:32
A expressão battle horse, literalmente cavalo de batalha, aparece com frequência nas críticas escritas em inglês dos álbuns de música clássica. Refere-se àquela obra que absolutamente todos os grandes (e também os não tão grandes) intérpretes registram e apresentam em seus concertos.
Pois este disco contém dois verdadeiros cavalos-de-batalha: os concertos para violino e orquestra de Beethoven e de Sibelius. Além disso, eles têm outras coisas em comum. Por exemplo, ambos não foram muito bem em suas estreias devido ao fato de que seus compositores estavam quase terminando a parte do solista nas vésperas da apresentação e os pobres intérpretes mal tiveram tempo de se preparar para apresentar suas partes. E olha que elas demandam quase tudo que um solista precisa saber.
Beethoven compôs seu concerto para violino em 1806, mas este só se firmou no repertório graças a um garoto de 12 anos: Joseph Joachim, aquele amigo de Brahms, que também produziu um cavalo-de-batalha. Brahms, não Joachim. Ele foi o solista em uma apresentação do concerto em Londres, em 1844, com acompanhamento de Mendelssohn, regendo Philharmonic Society. Mendelssohn foi também compositor de outra dessas maravilhosas criaturas.
Jan Sibelius compôs o seu concerto em 1904, mas como já foi dito, teve que rever a obra, que demorou um pouco para se firmar. Mas não há dúvida, como você pode ouvir nesta gravação – verdadeiro puro-sangue!
Veja como é descrito o terceiro movimento do concerto de Sibelius, intitulado Allegro ma non tanto: “este movimento é largamente conhecido entre os violinistas por suas dificuldades técnicas formidáveis e é muito conhecido como um dos maiores movimentos de concerto escrito para o instrumento. Já foi descrito como uma polonaise para ursos polares, mas tem também uma qualidade bélica que evoca um campo de batalha”. Portanto, autêntico cavalo-de-batalha. Para outra excelente interpretação do concerto de Sibelius, clique aqui.
Este disco é bastante recente, mas está sendo postado seguindo nossos estritos critérios de escolha para material digno de nossos seguidores: por ser definitivamente maravilhoso. Os intérpretes não poderiam ser melhor escolhidos. Christian Tetzlaff é um dos violinistas mais em evidência no momento e tem uma longa experiência com estes concertos. Ainda na juventude, gravou o Concerto de Beethoven com Michael Gielen e usou a cadência que também usa nesta gravação. Esta cadência foi composta pelo próprio Beethoven, para a adaptação do concerto para piano e orquestra. Note a participação dos tímpanos. E a orquestra está empolgada com a atuação de seu novo regente. Ticciati tornou-se o diretor musical da Deutsches Symphonie-Orchester Berlin bem recentemente. Assim, sem mais delongas, aos arquivos!
Com um disco destes, quem não fica de bem com a vida?
Quase cem anos separam as composições destas duas obras primas, mas o que as torna verdadeiros e duradouros sucessos não é o virtuosismo que certamente exigem de seus intérpretes, mas a profundidade e a beleza dos sentimentos e da música que foram colocados nelas.
Um dos melhores CDs que tenho, e, por vários motivos, tremendamente especial: trata-se da primeira gravação jamais feita da versão original (1904) do Concerto de Sibelius, autorizada expressamente pela família do compositor, e acompanhada no álbum pela versão definitiva (de 1905), que é aquela conhecida dos leitores-ouvintes. O solista é o maravilhoso violinista grego Leonidas Kavakos, talvez o maior especialista vivo nesse repertório, e que muito esforço despendeu para reconstruir a versão original que, segundo consta, foi tosada pelo compositor após uma première fracassada. A Orquestra Sinfônica de Lahti – que é frequentemente comparada à de Cleveland sob George Szell, como orquestra de cidade média que foi conduzida à excelência por um grande regente – está, como de costume, impecável, assim como o som da sempre interessante gravadora sueca BIS.
Chamam a atenção na versão original a dificuldade ainda maior na parte solista e alguns andamentos diferentes. Talvez vocês discordem, mas sempre achei a versão final meio abrupta, rapsódica, mesmo sem fazer ideia das mutilações a que Sibelius a submeteu. Prefiro a original. E vocês?
JEAN SIBELIUS – VIOLIN CONCERTO, OP. 47 (1904 AND 1905 VERSIONS)
Johan (“Jean”) Julius Christian SIBELIUS (1865-1957)
Concerto para violino e orquestra em Ré menor, Op. 47
Primeira versão (1903-04)
01 – Allegro moderato
02 – Adagio di molto
03 – Allegro (ma non tanto)
Segunda versão (1905)
04 – Allegro moderato
05 – Adagio di molto
06 – Allegro (ma non tanto)
Leonidas Kavakos, violino Orquestra Sinfônica de Lahti Osmo Vänskä, regência
Velho e bom vinil que apresenta alguns dos principais poemas sinfônicos de Sibelius. Ele escreveu muitos. Este disco abre com a nacionalista — e boa — Finlândia. Depois vem O Cisne de Tuonela, que é uma peça bem legal, mas não chega aos pés da ultra famosa Valsa Triste e nem de sua maior obra no gênero, Tapiola. O Cisne de Tuonela e Tapiola são músicas glaciais baseadas em lendas finlandesas, bem no estilo do compositor. Uma coisa que sempre me encasqueta sobre Sibelius é o fato de ele ter parado de compor em 1926, ano de suas últimas e melhores composições — a Sinfonia Nº 7 e Tapiola. Daí em diante, ele ficou em silêncio, dedicando-se com devoção ao álcool e somente revendo partituras antigas. Durante alguns tempo, tentou compor uma Oitava Sinfonia, mas, para desespero dos maestros que a aguardavam, ela foi adiada, adiada, adiada… E adiada. Ou seja, passou 31 anos sem compor quase nada.
Jean Sibelius (1865-1957): Finlândia / Valse triste / Tapiola / O Cisne de Tuonela
1 Finlandia Op. 26: Andante Sostenuto – Allegro Moderato – Allegro 9:22
2 Der Schwan Von Tuonela Op. 22 Nr. 2: Andante Molto Sostenuto 7:51
3 Valse Triste Op. 44: Lento 5:59
4 Tapiola Op. 112: Largamente – Allegro moderato – Allegro – Allegro Moderato – Allegro – Allegro Moderato 20:13
Corne inglês em O Cisne de Tuonela: Gerhard Stempnik
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
Ouvi apenas uma vez este CD. Nele, temos uma versão convincente da 9ª de Bruckner, uma versão opaca da 2ª de Sibelius e excelentes versões da 4ª e 5ª de Nielsen. É claro que esta é uma avaliação ultra superficial e discutível, mas sou assim mesmo, fazer o quê? Muito mais importante é garantir pra 6 tudo que é um álbum triplo com belíssimo repertório sinfônico interpretado por um grande regente com uma excelente orquestra à frente. Mas há um problema: o Vivacissimo – Attacca da Sinfonia de Sibelius está com defeito. É pouco se considerarmos o restante, mas se alguém aê conseguir nos mandar o mp3 do movimento faltante ficaríamos encantados. Beijo na bunda.
CD1
Symphony No. 9 In D Minor (Edition: Leopold Nowak)
Composed By – Anton Bruckner
(65:18)
1-1 I Feierlich. Misterioso 25:29
1-2 II Scherzo. Bewegt, Lebhaft – Trio. Schnell 10:42
1-3 III Adagio. Langsam, Feierlich 29:05
CD2
Symphony No. 2 In D Major Op. 43
Composed By – Jean Sibelius
(44:48)
2-1 I Allegretto 10:19
2-2 II Tempo Andante, Ma Rubato 14:18
2-3 III Vivacissimo – Attacca: 6:05
2-4 IV Finale. Allegro Moderato 14:02
CD3
Symphony No. 5 Op. 50 (FS 97)
Composed By – Carl Nielsen
3-1 I Tempo Giusto – 8:50
3-2 Adagio Non Troppo 8:56
3-3 II Allegro – 5:52
3-4 Presto – Andante Un Poco Tranquillo – Allegro 10:11
Symphony No. 4 Op. 29 (FS 76) “The Inextinguishable”
Composed By – Carl Nielsen
(35:28)
3-5 I Allegro – Attacca: 11:16
3-6 II Poco Allegretto – Attacca: 4:56
3-7 III Poco Adagio Quasi Andante – Attacca: 9:57
3-8 IV Allegro 9:19
PQPBach é doido por essa moça nascida na Letônia há pouco mais de trinta e sete anos, Baiba Skride. Postou dois cds dela no começo do ano tecendo altos elogios. Resolvi então trazer para os senhores um pouco mais do talento dessa moça, tocando um dos monumentos violinísticos do romantismo, o belíssimo concerto de Sibelius. A moça sua sangue e tira leite de pedra aqui. Vale cada minuto da audição. Como comentei em postagem anterior, vamos dar voz à nova geração, pois ela tem muito a dizer. Pelo menos aqui na música.
Bem, não estou trazendo apenas o Concerto de Sibelius, mas também o de Nielsen, com o qual não mantenho uma relação muito amistosa, mas deve ser alguma mania minha. Talvez se o ouvir mais, com atenção, possa vir a admirá-lo. Então, um sueco e um finlandês, direto das terras geladas, e tocados com uma paixão que poucas vezes ouvi nestas obras, principalmente no Sibelius. Lembro de Viktoria Mullova em começo de carreira, lá nos anos 80, encarando-o com Seiji Ozawa, mas Baiba Skride também bate um bolão aqui. Vale conferir.
CD 1
01. Violin Concerto in D minor, Op.47 – I. Allegro moderato
02. Violin Concerto in D minor, Op.47 – II. Adagio di molto
03. Violin Concerto in D minor, Op.47 – III. Allegro, ma non tanto
04. Serenade in D major
05. Serenade in G minor
CD 2
01. Violin Concerto – I. Präludium Largo
02. Violin Concerto – II. Allegro cavalleresco
03. Violin Concerto – III. Poco Adagio
04. Violin Concerto – IV. Rondo Allegretto scherzando
Tenho um velho vinil de Glenn Gould interpretando peças para piano de Sibelius. São peças que não gritam pra gente “Me ouça, me ouça!”, mas que são interessantes para quem se dedica a ouvi-las. Creio que gostei mais do disco de Gould, mas Andsnes vai muito bem também. Talvez a seleção do canadense tenho sido melhor do que a do norueguês. Acho que vale a pena ouvir este compositor que quase todo mundo pensa só ter escrito para orquestra. O finlandês bebum e deprimido era bom mesmo e vale a pena conhecê-lo melhor.
Jean Sibelius (1865-1957): Peças para Piano
1 6 Impromptus, Op. 5: Impromptu V 3:51
2 6 Impromptus, Op. 5: Impromptu VI 6:09
3 Kyllikki – Three Lyrical Pieces for Piano, Op. 41: I. Largamente 3:11
4 Kyllikki – Three Lyrical Pieces for Piano, Op. 41: II. Andantino 4:22
5 Kyllikki – Three Lyrical Pieces for Piano, Op. 41: III. Commodo 2:50
6 10 Pieces for Piano, Op. 24: Romance, No. 9 3:52
7 10 Pieces for Piano, Op. 24: Barcarola, No. 10 4:25
8 10 Pieces for Piano, Op. 58: Der Hirt, No. 4 2:23
20 Fünf Skizzen, Op. 114: I. Landschaft 1:48
21 Fünf Skizzen, Op. 114: II. Winterbild 1:48
22 Fünf Skizzen, Op. 114: III. Der Teich 1:39
23 Fünf Skizzen, Op. 114: IV. Lied im Walde 1:48
24 Fünf Skizzen, Op. 114: V. Im Frühling 2:05
Um excelente CD com o espetacular violinista armênio Sergey Khachatryan e a Sinfonia Varsóvia. É claro que, quando se emociona, Khachatryan torna seu Sibelius como se fosse música folclórica armênia, mas isso é um pequeno detalhe dentro de uma montanha de acertos. Grande musicalidade, linda sonoridade e incrível facilidade técnica, algo que não se ouve todo o dia. Vi um concerto seu ao vivo e o homem simplesmente não erra. E é entusiasmado, cheio de alegria e tesão. Depois, tocando seu conterrâneo e quase homônimo Khachaturian, está tudo em casa e Khachatryan dá um banho. Para ouvir e fazer a festa.
Sibelius & Khachaturian: Concertos para Violino
Jean Sibelius Violin Concerto In D Minor Opus 47
1 – Allegro Moderato 16:27
2 – Adagio Di Molto 8:12
3 – Finale (Allegro Ma Non Tanto) 7:48
Aram Khachaturian* Violin Concerto In D Minor 1940
4 – Allegro Moderato 15:05
5 – Andante Sostenuto 12:33
6 – Allegro A Battuta 9:47
Este disco é de tal qualidade que foi postado três vezes aqui no PQP… Todos os links expiraram. Reproduzo o texto de cada uma das postagens:
Carlinus em
FDP Bach em 12 de junho de 2015: Preparem-se pois lá vem chumbo grosso. Mas não precisam se preocupar, a munição é apenas música de excepcional qualidade interpretada por um dos maiores, quiçá o maior violinista do século XX. Jascha Heifetz estabeleceu um novo padrão de referência quando começou a destacar-se como solista. Nada foi como antes depois dele. A frase ficou esquisita, mas acho que os senhores entenderam. E também creio que esse gigante dispensa apresentações. Qualquer coisa, podem fuçar o Google, a Wikipedia, etc. E chega de papo…
PQP Bach em 30 de junho de 2013: Jascha Heifetz, alguma dúvida? Aqui ele toca o espetacular e ultra-solado Concerto de Sibelius, o bom Concerto de Prokofiev com seus esplêndidos segundo e terceiro movimentos e outro bem ruinzinho de Glazunov, autor cujo maior mérito foi o ter sido professor de Shostakovich, que não o suportava nem como compositor e muito menos como autor. BAITA DISCO!
Jean Sibelius (1865-1957)
Violin concerto in D minor, op. 47
Chicago Symphony Orchestra
Walter Hendi
Sergei Prokofiev (1891-1953)
Violin concerto No. 2 in G minor, op. 63
Boston Symphony Orchestra
Charles Munch
Alexander Glazunov (1865-1936)
Violin concerto in A minor, op. 82
RCA Victor Symphony Orchestra
Walter Hendl
Vamos às duas últimas sinfonias de Jean Sibelius. Agora surgem as de número 6 e 7. São trabalhos de profunda e intensa beleza. Durante muito tempo Sibelius fomentou a possibilidade de compor a sua Oitava Sinfonia. Nas década de 30 e 40 havia uma especulação no mundo da música de que o trabalho estava sendo escrito. Um burburinho, um frenesi tomava a todos. Afinal, aqueles que não simpatizavam com as inovações suscitadas por Schoenberg, Stravinsky e companhia limitada, apegavam-se à velha forma – não em sentido depreciativo – e Sibelius era um ícone. Alguns o chamavam de novo Beethoven. Seus trabalhos eram aplaudidos com veemência. A expectativa era geral. Mas por outro lado, Sibelius era alguém que tinha problemas sérios com a bebida. Sua saúde piorava. Uma vísivel degradação roía o compositor. A expectativa da Oitava era um fantasma que consumia a psiquê de Sibelius. A Oitava seria o coroamento de toda a sua obra. Nela se encontraria o condensamento de tudo aquilo que compusera. Mas, em dado dia, Sibelius acometido por uma crise de instabilidade, jogou no fogo as partituras com tudo aquilo que compusera para a Oitava Sinfonia. Que pena! Sendo assim, ficamos com apenas 7 sinfonias do compositor. Gosto tanto das sinfonias do compositor, que penso que Sibelius deveria ter escrito 15 sinfonias como fez Shostakovich ou mais – quem sabe!. Boa apreciação dos dois últimos CDs dessa fenomenal caixa com Bernstein!
Jean Sibelius (1865-1857) – Sinfonia No. 6 em Ré menor, Op. 104 e Sinfonia No. 7 em Dó maior, Op. 105
Sinfonia No. 6 em Ré menor, Op. 104
01. 1. Allegro molto moderato
02. 2. Allegretto moderato
03. 3. Poco vivace
04. 4. Allegro molto – Allegro assai – Doppio più lento
Sinfonia No. 7 em Dó maior, Op. 105
Sinfonia No. 7 em Dó maior, Op. 105
Saber de onde saíram estas gravações juntadas a partir de mais de um CD? Tarefa impossível. Mas em verdade vos digo: são registros absolutamente entusiasmantes, sensacionais, estimulantes. O que faz Sergey Khachatryan, uma das preferências mais radicais deste que vos escreve, no Concerto de Sibelius? Putz, onde encontrar uma gravação melhor deste concerto? E para ser melhor ainda, é tudo AO VIVO. Olha, o Mendelssohn inicial e o Sibelius são para se ouvir de joelhos, o Tchai já está mais para a normalidade. Confiram e me digam se não tenho razão.
Mendelssohn: As Hébridas, Op. 26 / Sibelius: Concerto para violino, Op. 47 / Tchaikovsky: Sinfonia #6, “Patética”
Felix Mendelssohn (1809-1847) – A Abertura “As Hébridas”, Op. 26
1. A Abertura “As Hébridas” em E menor, Op. 26
Jean Sibelius (1865 – 1957) – Concerto para violino, Op.47
2. Allegro moderato
3. Adagio di molto
4. Allegro, ma non tanto
Piotr Ilytch Tchaikovsky (1840-1893) – Sinfonia No. 6, Op. 74 – “Patética”
5. Adagio – Allegro non troppo
6. Allegro con grazia
7. Allegro molto vivace
8. Finale — Adagio lamentoso
Sergey Khachatryan, violin
New York Philharmonic
Kurt Masur, conductor
Essa versão das sinfonias de Sibelius com Leonard Bernstein é a melhor que já ouvi. Impressiona. Ouvi-las (as sinfonias) é uma experiência de grande contemplação e deleite. As sete são poemas de apreço à natureza. Ouvir Sibelius me traz à memória as palavras de Alberto Caeiro e os seu Guardador de Rebanhos: Toda paz da natureza sem gente/ Vem sentar-se ao meu lado./ Mas eu fico triste como um pôr-de-sol/ Para a nossa imaginação, / Quando esfria no fundo da planície/ E se sente a noite entrada/ Como uma borboleta pela janela. O finlandês Jean Sibelius viveu na pequena Ainola em contato com a natureza. Essa relação pode ser percebida em seus trabalhos. As duas sinfonias que aparecem neste post, por sua vez, revelam dois aspectos diferenciados. A de número 4 é soturna, repleta de uma temática circular, que sempre remete ao mesmo espaço, ao mesmo lugar. É uma trabalho que revela angústia e impressões noturnas. Acredito que seja a sinfonia mais sombria de Sibelius. Já Sinfonia número 5 é cristalina, repleta de inclinações contemplativas. Os acordes iniciais nos remete a outra frase de Caeiro: “Sejamos simples e calmos, / Como os regatos e as árvores…”. Bom deleite!
Jean Sibelius (1865-1857) – Symphony No. 4 in A minor, Op. 63 e Symphony No. 5 in E flat major, Op. 82
Symphony No. 4 in A minor, Op. 63
01. Tempo molto moderato, quasi adagio
02. Allegro moto vivace
03. Il tempo largo
04. Allegro
Symphony No. 5 in E flat major, Op. 82
05. Tempo molto moderato – Largamente
06. Allegro moderato – Presto
07. Andante mosso, quasi allegretto
08. Allegro molto – Un pochettino largamente – Largamente assai
Primeiro: estes concertos fazem parte daquilo que é imprescindível conhecer em música erudita. Os Concertos para Violino e Orquestra de Tchai e Sibelius fazem parte do repertório básico e ponto. São obras de primeiríssima linha. Segundo: Viktoria Mullova e Seiji Ozawa sempre serão referência. Então…
O disco é realmente um primor. Mullova e Ozawa estavam em seus auges e é ocioso encher este disco de elogios. Ouçam e fim. Beijos.
(O pequepiano RN completa nos comentários: “Uma curiosidade:este disco de 1985 foi o primeiro que a violinista gravou após a sua fuga da Rússia em 1983”.)
Tchaikovsky (1840-1893): Concerto para Violino, Op. 35 / Sibelius (1865-1957): Concerto para Violino, Op. 47
Tchaikovsky – Violin Concerto in D, Op. 35
01. I Allegro moderato
02. II Canzonetta
03. III Finale
Sibelius – Violin Concerto in D minor, Op. 47
04. I Allegro moderato
05. II Adagio di molto
06. III Allegro ma non tanto
Victoria Mullova, violino
Boston Symphony Orchestra
Seiji Ozawa
Um bom CD. Por alguma razão, o estilo de Sibelius fica ótimo nas mãos de Karajan e, principalmente nas dos filarmônicos de Berlim. Pode-se dizer que HvK tenha dirigido sua orquestra com o freio de mão puxado, mas isso ficou maravilhoso na melhor das sinfonias do finlandês, a sétima. A gravação de HvK da sétima só perde mesmo para Mravinsky e a orquestra de Leningrado. O CD duplo, da série The Originals, traz, além das sinfonias de 4 a 7, os poemas sinfônicos Tapiola e O Cisne da Tuonela. Um disco muito legal para ser ouvido neste ano em que Sibelius faz 150 anos de nascimento.
Jan Sibelius (1865-1957): Sinfonias Nros. 4 a 7 / Tapiola / O Cisne da Tuonela
Symphonie Nr. 4 Op. 63
01. I Tempo molto moderato, quasi adagio
02. Allegro molto vivace
03. Il tempo largo
04. Allegro
05. O Cisne da Tuonela op. 22 No. 3
Symphony No. 5 Op.82
06. Tempo molto moderato – Largamente 9:32
07. Allegro moderato – Presto 4:40
08. Andante mosso, quasi allegretto 8:22
09. Allegro molto
10. Symphony No. 6 in D Minor – Allegro molto moderato
11. Symphony No. 6 in D Minor – Allegretto moderato
12. Symphony No. 6 in D Minor – Poco vivace
13. Symphony No. 6 in D Minor – Allegro molto
14. Symphony No. 7 in C Major – Adagio
15. Symphony No. 7 in C Major – Vivacissimo – Adagio
16. Symphony No. 7 in C Major – Allegro molto moderato – Allegro moderato
17. Symphony No. 7 in C Major – Vivace – Presto – Adagio – Largamente molto
Há pouco mais de um mês, vi Andris Nelsons à frente da Philharmonia Orchestra, em Londres, regendo a 9ª Sinfonia de Bruckner e o Concerto Nº 27 de Mozart para Piano e Orquestra (pianista: o extraordinário Paul Lewis). O letão de apenas 38 anos é algo de extraordinário e é compreensível que tenha havido uma verdadeira guerra entre várias orquestras para contratá-lo como maestro titular. Ele hoje é titular da Boston Symphony Orchestra e da Leipzig Gewandhaus Orchestra, apenas. Li no The Guardian que só não é o próximo titular da Filarmônica de Berlim em razão de compromissos assumidos com várias orquestras e que não quis cancelar por questões de ética pessoal. Sua concepção da 2ª Sinfonia de Sibelius aponta para uma grande imaginação e respeito para com o compositor. Sibelius não é um autor vulgar, mas seu enorme sucesso popular, principalmente nos EUA, durante boa parte do século XX, gerou uma série de gravações que o diminuíram bastante. Agora, uma nova geração de regentes, como Nelsons e Søndergård, está repondo as coisas no lugar. Confiram se minto! (Gravação gloriosamente ao vivo).
Richard Wagner (1813-1883): Abertura “Tannhäuser” / Jean Sibelius (1865-1957): Sinfonia Nº 2, Op. 43
01. Wagner: Overture to “Tannhäuser”
Sibelius: Symphony No. 2 in D, Op. 43
02. Allegretto
03. Tempo Andante, ma rubato
04. Vivacissimo
05. Finale: Allegro moderato
Um excelente disco que inclui até algumas world premières de Sibelius. O finlandês Osmo Vänskä, chefe de orquestra na pequena Lahti, no sul da Finlândia, perto de Helsinque, é um maestro de primeira linha e, bem estamos 100% entre finlandeses. E eles demonstram que sabem o que fazem com seu conterrâneo. É o sotaque de Sibelius, sem tirar nem por. Não adianta, se o país de origem do compositor tiver grandes músicos, boa parte das melhores gravações dos caras sairão de lá. Ainda mais se forem compositores que não entraram ou que estão ainda chegando ao ícone. Infelizmente, não encontrei o nome das notáveis cantoras da faixa 8. Ah, e Faixas 1, 5 e 6 são World Première Recordings.
Jean Sibelius (1865-1957): Seriously
1. In Memoriam, funeral march for orchestra, Op. 59 Versão de 1909
Two Serious Melodies For Cello And Orchestra, Op.77
2. Earnest melodies (2), for cello & orchestra, Op. 77: No. 1. Cantique (Laetare anima mea). Moderato assai
3. Earnest melodies (2), for cello & orchestra, Op. 77: No. 2. Devotion (Ab imo pectore). Tempo molto moderato
4. Presto, for string quartet (or string orchestra) in D major
5. Lemminkäinen in Tuonela, tone poem for orchestra (Lemminkäinen Suite No. 2), Op. 22/2
6. Humoresques (2) for violin & orchestra, Op. 87b: No. 1
Three Pieces For Orchestra, Op.96
7. Pieces (3) for orchestra, Op. 96: a. Valse lyrique. Poco moderato
8. Pieces (3) for orchestra, Op. 96: b. Autrefois. Allegretto
9. Pieces (3) for orchestra, Op. 96: c. Valse chevaleresque. Comodo
10. In Memoriam, funeral march for orchestra, Op. 59, versão de 1910
Marko Ylönen, violoncelo
Jaakko Kuusisto, violino
Lahti Symphony Orchestra
Osmo Vänskä
Infelizmente, nesta velha gravação, ouvimos mais Bernstein do que Sibelius. Depois, na Europa, Lenny fez muito melhor. Eu amo Sibelius e Bernstein, mas aqui… Olha, melhor ouvir esta brilhante gravação da 2ª Sinfonia do finlandês.
Devido ao seu lugar na linha do tempo na história da música, Sibelius foi um compositor a repensar a Sinfonia, não como Mahler que a queria englobando todas as outras formas (o Concerto, o Oratório ou a Ópera), mas genuinamente como sinfonista, como aquele que quer combinar os sons, e precisa de um formato para isso. Esta Segunda de Sibelius é, na forma, aparentemente tradicional (4 movimentos), mas espelha-se na Quinta de Beethoven ao juntar os dois movimentos finais; fora isso, ele surpreende pelas combinações inusitadas de instrumentação, pela fragmentação da melodia, um pouco como Bruckner, mas ao contrário do colega austríaco, Sibelius não quer o acúmulo vertical de idéias para chegar ao céu: seu campo de trabalho é horizontal, plano, longas frases com suas repetições insistentes contrastando com mais longas ainda as frases ininterruptas, líricas e espaçosas. É como se suas partituras tivessem as dimensões da vastidão gelada de sua Finlândia.