Banda de Música, de ontem e de sempre (3 LPs) [Acervo PQPBach] [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Fonogramas espetaculosamente enviados pelo professor musicólogo Paulo Castagna.

Minha infância está repleta de momentos felizes nos quais havia a presença de uma banda dessas de coreto. E talvez por isso eu deseje tão intensamente dividir com vocês esta beleza de LP triplo enviado pelo professor Paulo Castagna.

Nascido em Limeira que sou, cidade do interior de São Paulo que ainda se dá ao gosto de manter duas bandas marciais que se revezam todo domingo na praça Toledo de Barros, a principal da cidade, eu cresci tendo o imenso prazer de ouvir as retretas musicais naquele lugar, numa infância que poderia usar como citação o trecho da música de Braguinha: “todo domingo havia banda no coreto do jardim” (de o gato na tuba). E como eram verdadeiras delícias essas matinas dominicais! E ainda são: quando volto para minha terra natal, (cada vez com menor frequência), gosto muito de ainda vê-las, pois as duas corporações musicais da cidade ainda continuam firmes, uma octogenária, outra sesquicentenária. O mais bonito é a cena típica de uma cidade do interior que, apesar de seus 300 mil habitantes, insiste em manter nesse ambiente aprazível e aconchegante. Ainda que a praça esteja hoje cercada de edifícios de muitos andares, ela vive! E vive mais quando tem banda: as crianças brincam, correm atrás das pombas, casais de namorados se encontram, há por vezes casais de idosos que arriscam uns passos quando a banda toca uma valsa, tem pipoqueiro e algodão-doce, tem música, tem aplausos, tem alegria e confraternização entre pessoas que às vezes nem se conhecem. E tem muita, muita música. A praça, aos domingos de manhã ainda é a sala de visitas, talvez o salão de festas, da cidade!

.o0o.

Espero que este meu depoimento pessoal tenha atiçado a vontade de vocês de ouvirem um pouco mais das músicas de bandas marciais. Este álbum é especialíssimo, pois traz 34 obras de 24 autores, que vão dos mais eruditos, compositores de música de concerto, até populares.

O primeiro LP dedica-se a peças eruditas compostas ou arranjadas para banda de medalhões da nossa música, como Carlos Gomes e Francisco Braga, ao mesmo tempo em que apresenta a influência de compositores populares da virada do século, autores de lundus e choros, caso de Anacleto de Medeiros e Henrique Alves de Mesquita, evidenciando as mudanças que estavam ocorrendo na música brasileira de então.

O segundo disco apresenta composições com elementos populares bem estabelecidos, como valsas, sambas, marchas-ranchos, schottiches, de caras como o próprio Anacleto de Medeiros, que faz a ponte com o ambiente do primeiro LP, e Pixinguinha, Donga, Sinhô, Ernesto Nazareth, Bento Mossurunga, Radamés Gnattali, terminando com o clássico dos clássicos “A Banda“, de Chico Buarque (que é um dos autores que debutam hoje aqui no PQPBach).

O último volume arremata com composições feitas especificamente para bandas de coreto, num belo trabalho de recuperação da obra de muitos autores de grande qualidade, mas que ficaram desconhecidos do grande público, em grande parte dos casos por terem dedicado suas vidas a reger e compor para as corporações musicais que comandavam. Temos aí Bernardino Joaquim de Nazareth, Augusto Nunes Coelho, José Agostinho da Fonseca, José Selaysim de Souza, Cândido Lira, Eudóxio de Oliveira Coutinho, Benedicto Silva, Antônio de Freitas Toledo, e o Mestre Vavá (Osvaldo Pinto Barbosa), responsável pelos arranjos desta pequena coleção.

É lindo! Ouça, ouça! Deleite-se!

Coreto da Praça Carlos Gomes, em Campinas (SP)

Banda de Música
de ontem e de sempre

LP01
Antônio Carlos Gomes (Campinas, SP, 1836 – Belém, PA, 1896)
01. Hino Triunfal a Camões
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
02. Pavilhão Brasileiro
João Elias da Cunha (Niterói, RJ, 18?? – 1918)
03. Hino do Estado do Rio de Janeiro
Francisco Braga (Rio de Janeiro, 15 de abril de 1868 – 1945)
04. Episódio Sinfônico
05. Hino à Bandeira
Cincinato Ferreira de Souza (São Luís, MA, 1868 – Belém, PA, 1959)
06. Artística Paraense (abertura)
Henrique Alves de Mesquita (Rio de Janeiro, RJ, 1830 – 1906)
07. Os Beijos-de-Frade (lundu)
Isidoro Castro Assumpção (Vigia, PA, 1858 – Belém, PA, 1925)
08. Saudades de minha Terra (dobrado)
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
09. Marcha Fúnebre N.2
Anônimo
10. Coração Santo (marcha de procissão)

LP02
Joaquim Antonio Naegele (Cantagalo, RJ, 1899 – Rio de Janeiro, RJ, 1986)
01. Ouro Negro (dobrado)
Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos – Rio de Janeiro, RJ 1890 – 1974), David Nasser (Jaú, SP, 1917 – Rio de Janeiro, RJ, 1980)
02. Quando uma estrela sorri
Francisco Braga (Rio de Janeiro, 15 de abril de 1868 – 1945)
03, Saudades (valsa)
Ernesto Nazareth (Rio de Janeiro, RJ 1863 – 1934)
04. Saudades e saudades (marcha)
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
05. Louco amor (schottisch)
Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Jr. – Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1973)
06. Saudade (marcha-rancho)
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
07. Araribóia (dobrado)
Bento Mossurunga (Castro, PR, 1879 – Curitiba, PR, 1970)
08. Bela Morena (valsa)
Sinhô (José Barbosa da Silva – Rio de Janeiro, RJ,1888 – 1930)
09. Resposta à inveja (marcha-rancho)
Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Jr. – Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1973)
10. Esquecida (polca-marcha)
Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 1906 – Rio de Janeiro, RJ, 1988)
11. Abolição (dobrado)
Chico Buarque (Rio de Janeiro, RJ, 1944)
12. A Banda (marcha-rancho)

LP03
Anônimo
01. Silvino Rodrigues (dobrado)
02. Havaneira (polca)
Bernardino Joaquim de Nazareth (Guarani, MG, 1860-1937)
03. Biza (valsa)
Augusto Nunes Coelho (Guanhães, MG, c1890 – 19??)
04. Saudades do Cauê (dobrado)
José Selaysim de Souza
05. Saudade de Abadia (valsa)
José Agostinho da Fonseca (Manaus, AM, 1886 – Santarém, PA, 1945)
06. Almofadinha (maxixe)
Anônimo
07. Cateretê
Cândido Lira (Pernambuco, 18?? – 19??)
08. Os domingos no poço (quadrilha)
Eudóxio de Oliveira Coutinho
09. Antônio (valsa)
Benedicto Silva
10. José e Ritinha brincando (polca)
Osvaldo Pinto Barbosa, Vavá (Guarabira, PB, 1933)
11. Riso no frevo (frevo)
Antônio de Freitas Toledo
12. Depois da valsa (dobrado)

A banda:
Alexandre Areal, Clarinete
Daniel Wellington de Araújo, Trompa
Dimas José Ribeiro, Tuba
Fernando Henrique Machado, Saxofone Barítono
Gedeão Lopes de Oliveira, Trompete
Gedeão Silva, Saxofone Alto
Gerino Zuza de Oliveira, Trompete
Isabela Sekeff Coutinho, Clarinete
Johnson Joanesburg Anchieta Machado, Saxofone Tenor
José Antônio da Silva Nascimento, Bombardino
José da Silveira Vilar “Pedrinho”, Caixa
José de Oliveira Monte Amado, Pratos
Marco Salvador Salustiano Donato, Bumbo
Nivaldo Francisco de Souza, Flautim
Paulo Roberto da Silva, Trombone
Raimundo Martins, Trompa
Ricardo José Dourado Freire, Clarinete
Roberto Crispim da Silva, Trompa
Luiz Gonzaga Carneiro, Regência

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FLAC
LP01 (255Mb), LP02 (252Mb) , LP03 e encartes (283Mb)
MP3
LP01 (138Mb), LP02 (141Mb) , LP03 e encartes (173Mb)

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Bisnaga

Um tríptico para o bandolim (3) (.:Interlúdio:.): Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741), Pixinguinha (1897-1973) e mais uma turma [Acervo PQPBach] [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Terceiro álbum do tríptico: agora é Choro!

E não é que, nessa correria, eu passei batido pelo dia 1º de dezembro, data em que completei dois anos de PQPBach…

Bom, então vamos comemorar, ainda que atrasados, essa data tão cara à minha pessoa.

Sim! O Bandolim português, chegou ao Brasil e, claro, mudou de tamanho, de forma, e foi cooptado pela música popular. Surgiu o Choro, o internacionalmente conhecido Brazilian Jazz. E que criações saíram de mentes brilhantes como os chorões! Nesse álbum temos peças organizadas e várias delas arranjadas por Radamés Gnattali, estrela da postagem abaixo. Radamés ainda faz a ponte entre a música popular e a erudita, colocando um grupo de chorões para executar um concerto vivaldiano, um dos compositores mais importantes do instrumento avô do bandolim.

Teremos, após uma elegante introdução com Vivaldi, um álbum dominado por outro gênio: Pixinguinha, acompanhado de uma constelação de outros nomes de peso: Benedicto Lacerda, Anacleto de Medeiros e Henrique Alves de Mesquita. E esta junção de compositores separados por tanto tempo (quase 300 anos) e um oceano todo de distância não é mera casualidade ou gosto do maestro Gnattali que ordenou essas obras: há a ponte entre as linhas melódicas, os contrapontos e os contracantos do Padre Ruivo com as obras dos autores brasileiros: semelhanças estruturas são percebidas e ainda mais evidenciadas pela utilização do mesmo grupo de instrumentos. Genial!

Na execução, o próprio Radamés no piano e  o cravo, o bandolinista Joel Nascimento (a grande estrela da noite, solista do álbum abaixo também), acompanhados pela preciosa Camerata Carioca. Bom, é um álbum editado pela Funarte. É daqueles em que é muito difícil de errar: é cultura brasileira da mais alta qualidade!

Ouça! Derreta-se! Vibre! Deleite-se!

Vivaldi e Pixinguinha
por Radamés Gnattali, Joel Nascimento e Camerata Carioca.

01. Concerto Grosso, op.3, nº11 (I. Allegro, II. Largo, III. Allegro) – Antonio Lucio Vivaldi
02. Carinhoso – Pixinguinha / João de Barro
03. Ingênuo – Pixinguinha / Benedicto Lacerda
04. Vou vivendo – Pixinguinha / Benedicto Lacerda
05. Jubileu – Anacleto de Medeiros
06. Batuque – Henrique Alves de Mesquita
07. Marreco quer água – Pixinguinha
08. Devagar e sempre – Pixinguinha / Benedicto Lacerda
09. Tapa Buraco – Pixinguinha
10. Um a Zero – Pixinguinha / Benedicto Lacerda

Radamés, Gnattali, piano e cravo
Joel Nascimento, bandolim
Camerata Carioca
Curitiba, Teatro Guaíra, 1980

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FLAC  encartes em 5.0Mpixel (180Mb)
MP3  encartes em 5.0Mpixel (92Mb)

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POR FAVOR… NÃO ESQUEÇA DE ESCREVER UMAS LETRINHAS. Não se esqueça de mim…

Momento cuti-cuti: criança toca o mandolino tradicional americano.
Há que se treinar desde cedo.

Bisnaga

Anacleto de Medeiros (1866-1907): Por Rogério Duprat

Um belíssimo e raro registro com algumas das mais importantes peças de Anacleto de Medeiros, com arranjos e regências de Rogério Duprat. Infelizmente o encarte do cd não informa a banda ou conjunto instrumental regido por Duprat.

Muitas páginas de Anacleto ficaram mais conhecidas pelas adaptações com letras de Catulo da Paixão Cearense, tendo os seus títulos modificados, como é o caso do famoso schotisch (xote) Yara, que passou a se chamar “Rasga o Coração”, sendo, ainda, usado por Villa-Lobos no seu Choros Nº 10.

Sobre o compositor

Anacleto de Medeiros foi um compositor carioca, filho de uma escrava liberta, que viveu, no Rio de Janeiro, na Ilha de Paquetá, na segunda metade do século XIX. Faleceu muito cedo, no início do século XX, vítima de colapso cardíado, com apenas 41 anos.

Anacleto foi aprendiz no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, ali estudando música com o mestre Antônio dos Santos Bocot. Aprendeu a tocar flautim e saxofone em uma banda de Paquetá. Aos 18 anos, matriculou-se no Conservatório de Música (depois Escola Nacional de Música), tornando-se aluno de clarineta de Antônio Luís de Moura, tendo Francisco Braga como colega. Aos 20 anos recebia seu diploma de “professor de clarineta”.

Fundou, com músicos da extinta Banda de Paquetá, o Recreio Musical Paquetaense, para o qual compôs cantos sacros, missas e um Te Deum, que foram cantados em diversas igrejas do Rio de Janeiro, principalmente Paquetá.

Em 1896, foi convidado pelo comandante interino do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, tenente-coronel Eugênio Jardim, para dirigir a banda da corporação, a ser formada. Nessa época, Anacleto, que contava 30 anos de idade, já tocava todos os instrumentos de sopro, desde a flauta, seu primeiro instrumento, ao sax-soprano, o predileto, e a tuba, que executava com perfeição.
A frente da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Anacleto de Medeiros tornou-se um dos pioneiros da gravação em nosso país, realizando cilindros e discos de cêra para a Casa Edison do Rio de janeiro.

Solteiro, muito moço ainda, faleceu na rua Paquetá, a 14 de agosto de 1907. Seu túmulo, no cemitério de Paquetá, está abandonado e sua obra (cerca de cem páginas, entre elas obras-primas como Yara, Terna Saudade, Farrula, Implorando e Jubileu) é pouco frequentada.

Fonte: Encarte do CD

Mais informações sobre Anacleto de Medeiros e sua obra

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Anacleto de Medeiros: Por Rogério Duprat

Obs.: Entre aspas, títulos das peças que tiveram adaptação de Catulo da Paixão Cearense

01 Os Bohêmios “O boêmio” (tango) 3:11
02 Três Estrelinhas “O que tu és” (polca) 4:13
03 Implorando “Palma de martírio” (xote) 1:41
04 Em Ti Pensando (polca) 2:43
05 Não Me Olhes Assim (xote) 2:07
06 No Baile (quadrilha) 3:25
07 Terna Saudade “Por um beijo” (valsa) 2:25
08 Yara “Raga o coração” (xote) 2:23
09 Carolina (polca) 2:25
10 Benzinho “Sentimento Oculto” (xote) 3:25
11 Nenezinha e Catitinha (polca) 3:09
12 Cabeça de Porco (xote) 2:07

Arranjos e regências de Rogério Duprat

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Marcelo Stravinsky