BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Ré maior, Op. 61a – Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) – Concerto para piano e orquestra em Dó menor, Wq. 43/4 – Bashkirov

Por mais que o amemos hoje, o concerto para violino de Ludwig foi recebido com frieza e logo esquecido. O fracasso da estreia, pelo que se conta, deveu-se a ensaios insuficientes por atrasos na cópia das partes da orquestra – entregues, para variar, na penúltima hora pelo compositor – e pela necessidade do primeiro solista, Franz Clement, de tocar quase todo o solo à primeira vista.

Apesar do desinteresse pela obra, que só teria sua grandeza reconhecida pelo empenho de Mendelssohn e Joseph Joachim, quarenta anos depois, esse estranho arranjo para piano que ouvirão a seguir foi publicado, alguns anos após o original, pela firma de Muzio Clementi em Londres. Clementi, que teve que visitar Viena várias vezes antes de enfim encontrar Beethoven, comprou do compositor os direitos da publicação inglesa de seus Opp. 58-62, e incluiu no pacote um arranjo do concerto para violino, com o pedido expresso de “algumas notas adicionais”, talvez porque achasse o original insosso por ter tão poucas.

Um tal arranjo, que não seria estranho a Johann Sebastian Bach, acostumado a verter para o teclado seus concertos para cordas solo, também não espantaria os contemporâneos de Ludwig, que viram concertos para violino de Viotti e Spohr transcritos para o piano por virtuoses como Dussek e Steibelt – este, famoso por perder um duelo de improvisação que, como veremos mais adiante nesta série, insensatamente aceitou fazer com Beethoven. Embora a edição inglesa indique que o arranjo foi feito pelo próprio compositor, há vigorosos indícios de que ele o delegou a terceiros, talvez a um aluno como Czerny ou Ries, limitando-se a revisá-lo e aprová-lo. Não tinha o menor interesse tanto pela obra quanto pela encomenda de Clementi, e também estava, para variar, atrasado na importante encomenda do príncipe Nikolaus Esterházy, que seria a Missa em Dó maior. No próprio manuscrito autógrafo do concerto para violino há anotações para partes da mão esquerda do solo, que talvez tenham servido como orientações do compositor para o arranjador.

Qualquer que seja a verdade acerca do autor, é certo que o arranjo foi feito com bastante pressa e algum desleixo: as partes da orquestra são idênticas ao original, a mão direita toca quase que exatamente a parte do violino solista, sem qualquer acorde, e não há qualquer solução minimamente satisfatória para emular as longas e sustentadas notas tão essenciais ao solo do original. O resultado é duma qualidade que achamos difícil até de mencionar na mesma frase que o sublime original, e que contrasta grosseiramente com as quatro cadenze que Beethoven – que não nos legou uma cadenza sequer para o violino – resolveu lhe escrever. Vigorosas, criativas e muito idiomáticas ao piano, elas são talvez o melhor motivo para escutarmos esse arranjo, particularmente aquela para piano e tímpanos, tão instigante que violinistas como Schneiderhan, Kremer e Kopatchinskaja a roubaram do piano e a transcreveram para seu instrumento.

Para apresentar-lhes o arranjo, que é ainda hoje negligenciado por público e intérpretes, pensei primeiramente em trazer uma de suas poucas gravações feitas por um pianista de primeira linha, aquela com Daniel Barenboim tocando e regendo a English Chamber Orchestra. Como ela já tinha sido aqui divulgada, encontrei uma alternativa que, coincidentemente, traz o sogro de Barenboim, o pianista russo Dmitri Bashkirov. Nascido na Geórgia, construiu uma considerável discografia na União Soviética, mas é hoje mais lembrado pelo trabalho como pedagogo em Moscou e Madrid. Sua gravação completa-se com um concerto de C. P. E. Bach – um mestre grandemente admirado por Beethoven, que certamente estudou seu clássico tratado Versuch über die wahre Art das Clavier zu spielen (“Ensaio sobre a verdadeira arte de tocar o teclado”) – que parece curiosamente próximo, apesar das décadas que os apartam, do bizarro híbrido que é o Op. 61a.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Op. 61a
Arranjo do próprio compositor de seu concerto para violino, Op. 61
Original composto em 1806 e p
ublicado em 1808
Arranjo publicado em 1810

1 – Allegro ma non troppo
2 – Larghett0
3 – Rondo: Allegro

Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)

Concerto em Dó menor, Wq. 43, no. 4

4 – Allegro assai
5 – Poco adagio
6 – Tempo di minuetto
7 – Allegro assai

Dmitri Bashkirov, piano
Orchestre de Chambre de Lausanne
Péter Csaba, regência

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Um belo homem, esse CPE
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

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