Homenagem à pianista Dirce Bauer Knijnik

Homenagem à pianista Dirce Bauer Knijnik
Dirce Bauer Knijinik, pianista brasileira, nascida no Rio de Janeiro, 1929-2024.

Grande pianista carioca, ou “cariúcha”, como dizia, a trajetória de Dirce Bauer Knijnik ocorreu em duas etapas: 35 anos no Rio de Janeiro; e outros 60, em Porto Alegre…

No Rio, sua família morava próximo ao morro do Salgueiro, onde se emocionava com as batucadas e ronco das cuícas, daquela tradicional escola de samba. Sons que invadiam sua imaginação de criança e experiência única para família de imigrantes judaico-lituanos, que um dia aportaram na baía da Guanabara…

Dirce lembrava: “Comovida, ‘ouvia de joelhos’ aquela explosão rítmica, à passar em frente de nossa casa, no carnaval!” – e quem já esteve numa quadra de samba, sabe da imensa força…

Da vida na Lituânia, sua mãe recordava serem vizinhos da família de Jascha Heifetz, cujo pai tocava violino junto ao berço do futuro virtuose… E por tradição, família de Dirce respirava música… De início, meio desligada, fez musicalização, prática de ballet e outras atividades… Então, sua irmã decidiu: “vai estudar com professor mais rígido que houver!” E a inscreveu na “Escola Nacional de Música”…

Vista de Vilnius, Lituânia.

Para surpresa, Dirce encantou-se com Rossini Freitas – “mestre exigente, mas atencioso”. Seu único temor era a ponta do lápis do prof. Freitas. Não por reprimendas físicas, ou algo assim, mas que o temível lápis rasurasse suas partituras… Seu carinho, por aquelas antigas edições, era imenso e não combinava com os rabiscos do mestre – então, estudava com afinco, para não errar… E muito lamentou a perda do professor, pouco tempo após sua formatura…

Vista da Av. Rio Branco, Rio de Janeiro, 1930.

Suas infância e juventude ocorreram durante a “1ª Era Vargas”, com impactos na educação e na vida nacional. Quando Villa-Lobos organizava atividades coletivas e o nacionalismo adquiria maior vigor, em contribuições de Camargo Guarnieri, Lorenzo Fernandez e outros. Cresceu imersa naquele ambiente ufanista e musicalizada por eminentes pedadogos, como Sá Pereira e o casal Francisco e Liddy Mignone, 1ª esposa do maestro e compositor… E Dirce lembrava, certa ocasião, ser a única a identificar sons de um complexo acorde, que Mignone tocara ao piano…

Liddy Mignone, educadora musical, 1a esposa de Francisco Mignone.

À medida que amadurecia, participou de transmissões da “Rádio Nacional”, chamando atenção da mecenas carioca, sra. Alcina Navarro, que passou a convidá-la para saraus residenciais, onde conheceu algumas celebridades, como Jaques Klein, Guiomar Novaes e Arnaldo Rebello. E, mais tarde, o garoto Nelson Freire, cujas técnica e musicalidade a encantaram… Neste período, fez algumas aulas com Guiomar…

E aos 20 anos, finalizou, com ‘medalha de ouro’, curso da UFRJ, 1950, realizando recitais em Salvador, Recife e várias cidades argentinas… Nesta ocasião, apresentou-se em Pelotas, RS, regência de Jean-Jaques Pagnot, 1954. E contemplada com bolsa de estudos pelo governo português, foi à Europa estudar com Sequeira Costa, prestigiado pianista. Mas, este viajava muito e Dirce deparou-se sozinha para o “Concurso Vianna da Motta”, ouvindo apenas gravações de Guiomar Novaes… Neste período, ainda fez aulas com o italiano, Carlo Zecchi; e o espanhol, Tomas Terán…

Dirce Bauer Knijnik, Nelson Freire, Guiomar Novaes e Camargo Guarnieri.

De volta ao Rio de Janeiro, foi semifinalista do “2° Concurso Internacional”, 1959. E entre os jurados, Guiomar Novaes, que aproximou-se e perguntou com quem havia estudado… Dirce respondeu: “estudei com a Sra!”… E Guiomar: “mas, como?”… Admiradora da pianista, ouvia tão atentamente suas gravações, que as reproduzia em detalhes – fraseado, andamentos, etc… Assim havia preparado a “Fantasia” op. 49, de Chopin! E entre intérpretes como Brailowsky, Malcuzynski e Novaes, preferia, de pronto, a brasileira. Como diria Tom Jobim: “Só se imita a quem admira ou ama”, inevitavelmente…

E realizou iniciação da menina Cristina Ortiz – dos 4 aos 8 anos, que mais tarde iria à Paris, estudar com Magda Tagliaferro e, depois, vencer “Van Cliburn Competition”, 1969 – “Dirce me ensinou a amar a música e o piano”, disse Cristina… Por coincidência, pai de Cristina e irmão de Dirce eram colegas na Petrobrás, da Bahia. E, transferidos para o Rio, propiciaram aproximação…

Cristina Ortiz (esquerda) e Dirce Bauer Knijnik (centro), alunos Elaine e Fernando Cordella – “Estúdio Trilhas Urbanas”, Curitiba, 2018.

Cristina Ortiz, à ‘piano bleu’: “Je passais des jours entiers au piano, à jouer d’oreille tout-ce que je comprenais comme son… et c’est là qu’on à trouvé la merveilleuse Dirce Bauer, souer d’un collègue à papa (qui travaillait à la Petrobrás, d’abord à Bahia et pui à Rio).”

Então, Dirce soube de concurso em Porto Alegre, para o “Instituto de Artes”… Candidatou-se e aguardou eventual nomeação… Situações inusitadas, no entanto, a levaram aos USA… Quando conheceu irmão de timpanista da OSB, que, entendeu, seria boa esposa para sr. Miller, outro irmão, que morava em Nova York. Músico talentoso e septuagenário, não despertou maior entusiasmo… Ainda assim, Dirce viajou à Nova York… Simpático e atencioso, o pretendente senior se ofereceu para interceder junto à “Town Hall”, prestigiada sala de concertos…

Dirce Bauer, recital “Town Hall”, Nova York, 1964.

Então, procurou empresário e recomendou a pianista brasileira. Agenda estava completa, mas, insistente, Miller retornou ao mesmo “coffee shop”, do primeiro encontro, quando foi informado de que se abrira uma data… E Dirce Bauer podia ser programada!

Feliz, mas apreensiva, tinha poucos dias para definir programa, não sem incluir obra do dedicado amigo e compositor; além de Brahms, “Intermezzi” op. 117… E foi à “Steinway & Sons” escolher magnífico modelo “CD-12″… Por fim, recital foi um sucesso, com boa receptividade da crítica nova-iorquina, ensejando convites nos USA e outros lugares…

Da crítica: “Miss Bauer expressou verdadeira sonoridade de virtuose. E sua performance, com excelente e delicada gama de coloridos, revelou apurado senso de estrutura.”

Neste momento, 1964, outra surpresa, recebia correspondência de Porto Alegre, para cargo no “Instituto de Artes”, da UFRGS. E optou pela nomeação, em meio à turbulência que assolava o país, mudando-se para o sul do Brasil… Assim, encerravam-se 35 anos de atividades, entre Rio de Janeiro e Nova York; e iniciava nova etapa, no Rio Grande do Sul…

Profa. Dirce e alguns alunos, em Porto Alegre, RS.

Em Porto Alegre, casou-se com médico psiquiatra, Leão Knijnik, e passava a chamar-se Dirce Bauer Knijnik, dedicando-se à vida familiar e formação de pianistas, alguns com destacadas carreiras, nacionais e internacionais, como Olinda Alessandrini, Alexandre Dossin, André Loss, Alessandra Feris, José Prediger, Dimitri Cervo, Fernando Cordella, Rodolfo Faistauer e outros – “frutos do amor à música e ao magistério”… 

E passados alguns anos, retomou apresentações, realizando recitais solo e música de câmara, com Earl Carlyss, Elisa Fukuda e Lúcia Passos… Também concertos com orquestra, nas direções de Leo Perachi, Alceu Bochino, Eleazar de Carvalho, Arlindo Teixeira, Cláudio Ribeiro e John Neschling… Além de parcerias com músicos radicados em Porto Alegre, como Hubertus Hofmann, Fredi Gerling e Marcello Guerchfeld. Por fim, gravações em CD – “Presença musical da UFRGS” e “Músicas que mamãe gostava”…

CD “Presença musical da UFRGS”, Dirce Bauer Knijnik.

Intensa brasilidade, nostalgia e dolente fluidez percorrem as interpretações de Francisco Mignone, Radamés Gnattali, Villa-Lobos e Guarnieri. Além de notável repertório, barroco e romântico, com Bach, Brahms e Chopin… E pelos pagos riograndenses, tornava-se mais conhecida como Dirce Knijnik…

Para download: CD “Presença Musical da UFRGS”

  • J. S. Bach (Busoni): “Toccata, Adagio e Fuga”, BWV 564 (faixas 1-3) – Brahms: “Valsas” op. 39 (faixa 4) – Guarnieri: “Dansa Negra” (faixa 5) e “Ponteios 48 e 49” (faixa 6) – Chopin: “Barcarolle” op. 60 (faixa 7) e “4ª Ballade” op. 52 (faixa 8) – D. B. Knijnik: “Aleluia” (faixa 9)

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Para download: “9 valsas brasileiras” (Acervo do prof. D. Cervo, IA-UFRGS), mais “Choros n° 5 – Alma Brasileira”, de Villa-Lobos

  • Francisco Mignone: “Valsa Choro 7” (faixa 1), “Valsa Choro 3” (faixa 2), “Valsa Elegante” (faixa 3) e “Valsa de Esquina 2” (faixa 4) – Paulo Guedes: “Valsa” (faixa 5) – Gnattali: “Vaidosa (valsa)” (faixa 6) – Guarnieri: “Valsa 8 ” (faixa 7), “Valsa 9” (faixa 8) e “Valsa 10” (faixa 9) – Villa-Lobos: “Choros 5 (Alma Brasileira)” (faixa 10)

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Arte e Ensino

Frédéric Chopin, por Delacroix.

De sua arte e atividade docente, depreendemos que enfatizava fraseado e sonoridade, pontos de partida e guias permanentes da técnica. Para Dirce, estudos estritamente físico-motores distanciavam-se da expressividade e da razão de ser da música, como prática e prazer estético…

E dizia, “o som é a voz da alma”, não apenas em performance, mas sempre… Especialmente, no trabalho árduo, das passagens complexas ou da base de escalas e arpejos, que demandavam concentração e disciplina; mas, necessariamente, almejavam poesia e encantamento – amálgamas entre motricidade e imaginário sonoro…

Portanto, nunca desconectar-se da fluidez melódica e dos sentimentos, em suas diversidade e nuances; do pensar musical e do estilo, em cada passagem, como elementos primordiais da arte…

Dirce Bauer Knijnik, pianista brasileira.

Além disto, Dirce incorporava tradições dos anos 1930/40, dos chorinhos, valsas e modinhas, retratos da vida carioca, dos chamados “pianeiros” e do vibrante nacionalismo, à preludiarem, em “rubatos” e suspensões de tempo, dolentes e elegantes sentimentalismos… Da livre musicalidade, escorreita e sedutora, que ouvimos em Chopin e no repertório brasileiro… Também, em Bach e Brahms, profundas e comoventes sonoridades…

Assim, desinteressava-se por virtuosismos predominantemente atléticos… E nas ausências de lirismo ou paixão, percebia “velocidade como sintoma de ansiedade”, reflexo da vida moderna e do imediatismo, quem sabe, descuido do tempo interior diante da pressa; do indivíduo frente à angústia e à solidão, entre o expressar e o reconhecer-se em peculiaridades e expectativas…

Então, preconizava disciplina e introspecção, através do controle rítmico e do “legato”; do relaxar e do ouvir-se; do domínio do tempo, para flexibilizá-lo, permanentemente… E no desenvolvimento sensorial, meio de conciliar sonoridade e prazer, com maiores emoção e comunicação – portanto, pouca dispersão e muita concentração!

“2a Valsa de Esquina”, Francisco Mignone.

Por fim, reiterava que tempos excessivos ou irregulares, em geral, atropelavam respiração e fraseado, truncando densidade e potencial interpretativo… Para tanto, modelar-se na voz humana era essencial – na sensível arte “do cantar e do respirar”… A combinar-se em diversos estilos e indivíduos, campo de possibilidades pedagógicas e universo de cada intérprete, presentes no detalhe musical e desdobrando-se no todo, orgânico e único…

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Vídeos e entrevistas: Sugerimos áudio e duas entrevistas, de onde colhemos alguns relatos, somados a outras fontes.

Áudio Youtube: “Sonata para violino e piano”, de Cesar Franck – Fredi Gerling (violino), Dirce Bauer Knijnik (piano)

Projeto Musicamara – Presto Produções: “homenagem à Dirce Knijnik”, com Lúcia Passos: 

Carmelo de los Santos – Live Instagram com Dirce Knijnik – “A essência da música”:

Aposentada do serviço público – UFRGS, 1988, profa. Dirce tornou-se membro da “European Piano Teachers Association”, 1997, realizando recital e “masterclasses”, em Londres, Inglaterra… E seguiu lecionando até os 95 anos, sempre cultivando amigos e interagindo com o mundo musical. Especial referência para os musicistas, deixa saudades em todos que usufruíram seus convívio, talento e sensibilidade…

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“Descanse em paz…”

“Nesta breve resenha, nossas homenagens, carinho e gratidão”  

Alex DeLarge

Chiquinha Gonzaga (1847-1935): tangos, choros, polkas, corta-jaca, maxixes… (H. Gomes, C. Sverner, P. Moura) – Semana do Dia Internacional da Mulher

Depois de uma curta vida de casada, Chiquinha se revoltou, fugiu, foi viver independente no seu canto, repudiada por todos, parentes e amigos, que não podiam se conformar com aquella ofensa à moral pública. (…) Foi professora de piano, constituiu um chôro para execução de dansas em casas de família, em que se fazia acompanhar do filhinho mais velho, tocador de cavaquinho, com dez anos de idade.
Francisca Gonzaga compôs 77 obras teatrais e umas duas mil peças avulsas. Quem quiser conhecer a evolução das nossas danças urbanas terá sempre que estudar muito atentamente as obras dela. (Mario de Andrade, em artigo de 1940)

Enquanto a mãe de Chiquinha era uma mulher negra que teria sido alforriada na pia batismal, o pai da compositora era um militar de família tradicional carioca e colocou a filha para ter aulas de piano com o maestro Lobo e apresentou-a a Francisco Manuel da Silva (1795-1865), autor do Hino Nacional e fundador do Conservatório do Rio de Janeiro, atual Escola de Música da UFRJ. A família de José Basileu Gonzaga, aliás, era parente distante de Ernesto Nazareth e de Francisco Manuel da Silva (cujo avô era “Silva Nazareth”) (mais sobre o parentesco aqui).

Mas aos 23 anos, ao separar-se do marido, Chiquinha foi considerada morta por seu pai: seu nome era impronunciável na casa dos Gonzaga e ela não pôde criar seus três filhos. O divórcio era um grande escândalo naquela época e, nas palavras de Chiquinha (citada na biografia de Dalva Lazaroni, p.68), “jamais diga que eu abandonei meu primeito marido; eu fui uma vítima que fugiu do seu torturador”.
Ela passava, então, a dedicar-se profissionalmente à música para sua manutenção econômica: dava aulas de piano, tocava à noite na Lapa e na praça Tiradentes, compôs obras teatrais e outras para os salões brasileiros, mas em alguns casos também impressas e vendidas na Europa. Ou seja, se não fosse a separação de seu marido – repito, um escândalo imenso à época – talvez Chiquinha Gonzaga não tivesse uma vida tão cheia de aventuras e inovações. Ela foi autora da primeira marchinha de Carnaval – Ó Abre alas, de 1899 – e atuou também no chamado “teatro de revista”, que passava “em revista” os acontecimentos políticos e sociais do ano, com humor, ironia e música. Chiquinha também atuou na campanha abolicionista nos anos 1880. Imaginem as reações na época a uma mulher que dava opiniões sobre política e regia orquestras em teatros…

É preciso deixar claro, porém, que Chiquinha Gonzaga, assim como seus contemporâneos Ernesto Nazareth (1863-1934) e Pixinguinha (1897-1973), tiveram uma educação musical formal, mas não tiveram a oportunidade de estudar profundamente orquestração: o instrumento que os dois primeiros conheciam bem era o piano. Se vocês virem alguma obra de Chiquinha ser tocada por orquestra, confiram bem se não se trata de um arranjo mais recente. Por outro lado, em 1932, com mais de 80 anos, Chiquinha publicou um grupo de composições para saxofone e para flauta – reunidas sob o título Alma Brasileira. Essas obras, na maioria já publicadas antes para piano solo, apareciam agora reunidas como “chôros para flauta” e “chôros para saxofone” como explica Edinha Diniz, aqui:

O conjunto compreende três volumes, chamados ‘séries’, contendo dez peças cada, num total de 30 músicas, sendo 20 para sax e dez para flauta. O mais curioso é a designação choro para essas músicas impressas, uma vez que elas foram antes  concebidas, e algumas até publicadas, para piano, como ‘polcas’, ‘habaneras’ e ‘tangos’. Por que somente na década de 1930 uma compositora que estreou em 1877, e que sempre fora ligada às rodas de choro, atuando inclusive como pianista do conjunto Choro Carioca, liderado pelo compositor e flautista Joaquim Antonio Callado, usaria pela primeira vez a designação choro em sua obra impressa? Por que não antes?
Sabemos que a palavra choro designou, na década de 1870, o conjunto musical Choro Carioca, liderado pelo citado flautista Callado e, por extensão, os conjuntos instrumentais responsáveis pelo abrasileiramento das técnicas de execução dos instrumentos europeus. Em sua formação original, o choro era um grupo musical constituído de uma flauta, um cavaquinho e dois violões, com predominância de um solista. […] Somente mais tarde, o original estilo interpretativo dos gêneros musicais importados tornou-se ele próprio um gênero.

Joaquim Callado (1848-1880) dedicou a Chiquinha sua composição “Querida por todos”, gravada no disco abaixo, de Hercules Gomes. Hercules é um pianista que mistura os clássicos e os populares, tomando certas liberdades interpretativas que provavelmente seriam aprovadas nas rodas de choro de Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, pixinguinha e Villa-Lobos. Já o outro disco, gravado por Paulo Moura e Clara Sverner, traz gravações mais sóbrias, fiéis aos textos e que parecem querer mostrar o quanto toda essa música é não somente dançante e alegre mas também sofisticada.

No tempo da Chiquinha
1. Gaúcho (O Corta-jaca) (Chiquinha Gonzaga)
2. Água do Vintém (Chiquinha Gonzaga)
3. Cintilante (Chiquinha Gonzaga)
4. Querida por Todos (J. Callado)
5. Cananéa (Chiquinha Gonzaga)
6. Atraente (Chiquinha Gonzaga)
7. Machuca!… (Chiquinha Gonzaga, Patrocínio Filho)
8. Não Se Impressione (forrobodó de Massada) (Chiquinha Gonzaga, Carlos Bettencourt/Luiz Peixoto)
9. Santa (Chiquinha Gonzaga)
10. Argentina (Xi) (Chiquinha Gonzaga)
11. No Tempo da Chiquinha (Laércio de Freitas)
12. Walkyria (Chiquinha Gonzaga)
13. Biónne (adeus) (Chiquinha Gonzaga)
Hercules Gomes – piano
Convidados: Rodrigo Y Castro (flauta) e Vanessa Moreno (voz)
Recorded: Estúdio Arsis, São Paulo, Brasil, fev/2018

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – No tempo da Chiquinha (2018)

Vou Vivendo
1 Vou Vivendo (Benedito Lacerda, Pixinguinha)
2 Lamento (Pixinguinha)
3 Ingênuo (Benedito Lacerda, Pixinguinha)
4 Atraente (Chiquinha Gonzaga)
5 Amapá (Chiquinha Gonzaga)
6 Io T’Amo (Chiquinha Gonzaga)
7 Monotonia (Radamés Gnattali)
8 Samba-Canção (Radamés Gnattali)
9 Devaneio (Radamés Gnattali)
10 Fantasia (Ronaldo Miranda)

Clara Sverner – piano
Paulo Moura – saxofone
Recorded: Escola Nacional de Música, Rio de Janeiro, Brasil, jan/1986

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Vou Vivendo (1986)

PS: Todas as fotos desta postagem mostram a rua Riachuelo, onde Chiquinha Gonzaga viveu boa parte de sua vida. Antes chamada rua de Matacavallos, ela vai dos Arcos da Lapa até perto do Campo de Santana e Igreja de Santana, onde Chiquinha se casou aos 15 anos de idade (igreja demolida para a construção da Central do Brasil e Av. Pres. Vargas). Na rua de Mata-Cavallos também moraram Dom Casmurro e Capitu, Villa-Lobos e Pixinguinha. Em 1865 a rua recebeu o nome de Riachuelo em homenagem a uma batalha naval na nojenta guerra em que brasileiros e aliados massacraram homens, mulheres e crianças paraguaias. As fotos são respectivamente de 1915, 1928, 1958 e 1965. Ao fundo, na penúltima foto, vê-se o alto prédio da Mesbla, próximo da Cinelândia, inaugurado em 1934, quando Chiquinha ainda era viva.

Fui, cheguei aos Arcos, entrei na rua de Matacavallos. A casa não era logo alli, mas muito além da dos Invalidos, perto da do Senado.
(Machado de Assis – Dom Casmurro – grafia original)

Pleyel

Diversos Compositores: Retrospectiva de 2022 do René Denon ֍

Diversos Compositores: Retrospectiva de 2022 do René Denon ֍

Retrospectiva

2022

Mais uma vez a Terra está a completar uma volta em sua órbita celeste e nos aproximamos do fim deste peculiar ano de 2022. Alguns ciclos se completam, outros estão a vir, já anunciados. É um bom momento para, como Janus, olharmos para trás, considerando o que foi feito e desejarmos o que está chegando. Eu estou tentando criar espaço no presente para receber o que o futuro trará.

Passei em revista minha atividade no blog, entre 1 de dezembro de 2021 e 30 de novembro de 2022. Este ano não tive energia para verificar todas as publicações e limitei às que resultaram de meus próprios esforços. Estas postagens refletem meu envolvimento com música, que posso observar, é grande. Algumas delas foram fáceis de preparar, vindas de alguma boa inspiração, outras demandaram mais estudo e dedicação, mas todas me deram bastante prazer, ao longo do caminho. Prazer em ouvir a música, de eventualmente comparar com outras interpretações ou de seguir as direções que ela me apontava. Prazer também em burilar o texto, em catar as ilustrações e depois esperar que elas surgissem, no blog. Esperar os aguardados comentários, estes mais parcos do que eu gostaria. De qualquer forma, os que recebi ao longo deste período me pareceram sinceros e foi gratificante lê-los.

Olhar estas postagens mais uma vez me fez pensar o quanto é importante valorizar o tempo, que ouvir música demanda tempo. Talvez seja por isso que alguns de nós se agarre a um repertório mais restrito, voltando sempre aos mesmos intérpretes. Eu sou por demais curioso para isso, o que me força a constantemente abrir mão desse tipo de segurança, abrindo espaço para as novidades.

Neste período fiz 64 postagens e acabei selecionando uma playlist entre as peças que considerei representativas do total. Caso você tenha o tempo de ouvir, poderá se interessar em visitar a correspondente postagem e descobrir algumas outras novidades.

Três dessas postagens selecionadas são de nosso padroeiro, São Sebastião Ribeiro. Uma gravação estalando de nova das seis sonatas para cravo e violino, com o violinista Andoni Mercero e o cravista Alfonso Sebastián; um disco com cantatas para baixo interpretadas pelo (jovem) David Greco, acompanhado pelo Luthers Bach Ensemble, sob a direção de Tymen Jan Bronda; uma outra gravação (plena de reflexões feitas durante o afastamento social resultado da pandemia) das seis (maravilhosas) suítes para violoncelo pelo jovem e talentoso Bruno Philippe.

Duas postagens refletem essa minha busca por novidades. Assim, na minha playlist de Retrospectiva 2022 há duas peças que conheci este ano e que me impressionaram: num deles, o Concerto para Piano de Sir Michael Tippett, interpretado pelo veterano pianista Howard Shelley, com a Bournemouth Symphony Orchestra, regida pelo (late) Richard Hickox, num disco do selo Chandos, inglês em todas as instâncias; no outro, o Cantus Articus do compositor finlandês Einojuhani Rautavaara. A peça Cantus Articus foi a que me motivou investigar a música de Rautavaara e o disco também traz a sua Sinfonia No. 7 e o Concerto para flautas.

O repertório de música francesa dos séculos 19 e 20 aparece sempre nas minhas postagens e um exemplo é este disco de músicos poloneses (ótimos) tocando lindas peças de câmara com instrumentos de sopros, o Gruppo di Tempera. Veja o discreto charme deste La chaminée du roi René, de Darius Milhaud.

Outro exemplo é o disco Exotisme, sonorités pittoresques, com peças para piano solo ou a quatro mãos, interpretadas pelos ótimos Ludmilla Guilmaut e Jean-Noël Dubois. Uma mescla de música de compositores mais conhecidos com música de compositores que recebem menos exposição e que merecem maior divulgação. Muita alegria, charme e beleza, como num lindo buque de flores.

Cantores também me interessam muito e adorei ter conhecido o trabalho da mezzo-soprano Elisabeth Kulman cantando algumas canções de Mahler, acompanhada por um pequeno conjunto de músicos com o sugestivo nome Amarcord Wien.

Muito trabalho me deu a postagem das 40 árias, que passou incólume pelos nossos leitores. Muito trabalho, uma vez que ópera é um gênero musical que eu conheço pouco, mas muito prazer também em descobrir um pouco o sentido de tão belos momentos musicais. Para esta Retrospectiva 2022 escolhi algumas das árias que considerei mais emblemáticas. Entre elas Casta Diva, da ópera Norma, composta por Bellini, e Vissi d’arte, de Tosca, composta por Puccini.

Uma grata surpresa neste ano foi a descoberta da música para piano de Radamés Gnattali, num disco primoroso. O intérprete Luís Rabello é sobrinho do violonista Raphael Rabello e ótimo pianista.

Para completar essa retrospectiva, não poderia deixar de mencionar mais música barroca. Escolhi algumas sonatas de Scarlatti, parte da postagem de um disco da espetacular pianista Zhu Xiao-Mei e uma postagem dedicada ao Opus 3 de Vivaldi, pelo Concerto Italiano, sob a direção de Rinaldo Alessandrini. Esta coleção tem de especial o fato de que os concertos de Vivaldi estarem entremeados com algumas das suas transcrições feitas por Bach.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Sonata No. 6 em sol maior, BWV1019
  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro
  4. Adagio
  5. Allegro

Andoni Mercero, violino

Alfonso Sebastián, cravo

Cantata BWV 82 ‘Ich habe genug’
  1. Ich habe genug
  2. Ich habe genug! Mein Trost ist nur allein
  3. Schlummert ein, ihr matten Augen
  4. Mein Gott! Wann kömmt das schöne
  5. Ich freue mich auf meinen Tod

David Greco, baixo

Joanna Huszcza, violino

Amy Power, oboé

Luthers Bach Ensemble

Tymem Jan Bronda

Suíte para Violoncelo No. 6 in D major, BWV1012
  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande
  5. Gavottes I & II
  6. Gigue

Bruno Philippe, violoncelo

Michael Tippett (1905 – 1998)

Concerto para Piano e Orchestra
  1. I Allegro non troppo
  2. II Molto lento e tranquilo
  3. III Vivace

Howard Shelley, piano

Bournemouth Symphony Orchestra

Richard Hickox

Darius Milhaud (1892 – 1962)

Le cheminée du Roi René, Op. 205
  1. Cortege
  2. Aubade
  3. Jongleurs
  4. La Maousinglade
  5. Joutes sur l’arc
  6. Chasse a Valabre
  7. Madrigal – Nocturne

Gruppo di Tempera

Agnieszka Kopacka, piano
Agata Igras-Sawicka, flauta
Sebastian Aleksandrowicz, oboé
Adrian Janda, clarinete
Artur Kasperek, fagote
Tomasz Bińkowski, trompa

Gustav Mahler (1860 – 1911)

  1. Ging heut morger übers Feld – Mahler (Lieder eines fahrenden Gesellen)
  2. Ich atmet’ einen linden Duft – Rückert-Lieder
  3. Blicke mir nicht in die Lieder – Rückert-Lieder
  4. Liebst du um Schönheit – Rückert-Lieder
  5. Adagietto – 4 movimento da Quinta Sinfonia

Elisabeth Kulman, mezzo-soprano

Amarcord Wien:

Tommaso Huber, acordeão

Sebastian Gürtler, violino

Michael Williams, violoncelo

Gerhard Muthspiel, contrabaixo

Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016)

Cantus Arcticus, Op. 61 (Concerto para Pássaros e Orquestra)
  1. Suo (Pântano)
  2. Melankolia
  3. Joutsenet muuttavat (Cisnes migrando)

Sinfonia Lahti

Osmo Vänskä

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes, Livre 1, L. 117
  1. Voiles

Ludmilla Guilmault, piano

Déodat de Séverac (1872 – 1921)

En Vacances, Vol. 1
  1. Où l’on entend une vieille boîte à musique
  2. Valse romantique

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

Gabriel Fauré (1845 – 1924)

Dolly, Op. 56
  1. Le pas espagnol

Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano

40 Best Arias

  1. Bellini- Norma – Casta Diva – Maria Callas
  2. Verdi- Rigoletto – La Donna E Mobile – Richard Leech
  3. Bizet- Carmen – Habanera – ‘L’amour Est Un Oiseau Rebelle – Julia Migenes
  4. Bizet- Carmen – Flower Song – Placido Domingo
  5. Offenbach- Les Contes d’Hoffmann – Barcarolle – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
  6. Mozart- Don Giovanni – Dalla Sua Pace – [Don Ottavio] – Hans-Peter Blochwitz
  7. Delibes- Lakme – Flower Duet – [Lakme, Mallika]) – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
  8. Verdi- La Traviata – Brindisi- Libiamo Ne’Lieti Calici – Neil Schicoff & Edita Gruberova
  9. Puccini- La Boheme – Che Gelida Manina [Rodolfo]) – Jose Carreras
  10. Puccini- La Boheme – Si. Mi Chiamano Mimi – Barbara Hendricks
  11. Puccini- Tosca – Vissi D’arte’ [Tosca] – Kiri Te Kanawa
  12. Puccini- Tosca – E Lucevan Le Stelle [Cavaradossi] – Placido Domingo
  13. Gluck- Orphee Et Eurydice – J’ai Perdu Mon Eurydice – Susan Graham
  14. Rossini- La Cenerentola – Non Piu Mesta [Angiolina] – Jennifer Larmore

Radamés Gnattali (1906 – 1988)

  1. Rapsódia Brasileira
  2. Poema de Fim de Tarde
  3. Manhosamente
  4. Uma rosa para o Pixinguinha

Luís Rabello, piano

Domenico Scarlatti (1685 – 1757)

  1. Sonata em mi maior, K. 531 (L. 430)
  2. Sonata em si menor, K. 87 (L. 33)
  3. Sonata lá maior, K. 533 (L. 395)
  4. Sonata em ré menor, K. 32 (L. 423)
  5. Sonata em lá maior, K. 39 (L. 391)

Zhu Xiao-Mei, piano

Antonio Vivaldi (1678 – 1741)

Concerto No. 8 for 2 Violins in A Minor, Op. 3, RV 522
  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegro

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Concerto for organ after RV 522 in A Minor, BWV 593
  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro

Antonio Vivaldi (1678 – 1741)

Concerto No. 10 for 4 Violins in B Minor, Op. 3, RV 580
  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Concerto for 4 Harpsichords after RV 580 in A Minor, BWV 1065
  1. [Allegro]
  2. Largo
  3. Allegro

Concerto Italiano

Rinaldo Alessandrini, cravo e regência

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MP3 | 320 KBPS | 681 MB

Assim, mantendo ainda viva a memória da música que nos alegrou no ano que passou, voltamos os planos e as expectativas para este ano novo.

Aproveite!

René Denon

Radamés Gnattali (1906-1988): Moto Contínuo (Peças para Piano) – Luís Rabello ֍

Radamés Gnattali (1906-1988): Moto Contínuo (Peças para Piano) – Luís Rabello ֍

 

Radamés Gnattali

Peças para Piano

Luís Rabello, piano

 

 

Alô Radamés, te ligo
Aqui fala o Tom Jobim
Vamos tomar um chope
Te apanho na mesma esquina
Já comprei o amendoim

 

Imagine alguém que tenha sido parceiro de Tom Jobim, Villa-Lobos, Pixinguinha… O pai era músico nascido na Itália – apaixonado por óperas de Verdi. Quando nasceram os filhos foi logo tascando: Aída, Ernani… e Radamés!

Adivinhe o nome de pelo menos três enormes personagens da nossa música aqui reunidos…

Radamés Gnattali foi músico completo – pianista (interpretou o Concerto nº 1 de Tchaikovsky no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Arnold Glüchman), compositor, arranjador, regente. Seu Concerto para Piano No. 2 foi interpretado nos Estados Unidos da América por Arnaldo Estrella, acompanhado pela Orquestra da Filadélfia sob a regência de Eugene Ormandy, que escreveu na partitura usada na ocasião: To Mr. Gnattali – with admiration for his excellent Piano Concerto, E. O. Philadelphia, 3rd April 1943.

Radamés com o outro Rabello

Este disco da postagem foi uma agradabilíssima surpresa num domingo meio chato. Estava em busca de um disco de Raphael Rabello e dei com meus costados neste, de seu sobrinho, o pianista Luís Rabello. Gostei tanto do disco que imediatamente me pus a preparar a postagem. E que a música fale por si, baixe logo e aproveite – delicie-se!

 

Radamés Gnattali (1906 – 1988)

Moto Contínuo

  1. Moto Contínuo No. 1
  2. Moto Contínuo No. 2

Peças para Piano

  1. Uma rosa para o Pixinguinha
  2. Rapsódia Brasileira
  3. Poema Fim de Tarde
  4. Manhosamente – Choro

Vaidosas

  1. Vaidosa No. 1
  2. Vaidosa No. 2
  3. Vaidosa No. 3

Prelúdios

  1. Prelúdio Cigarra
  2. Prelúdio Paisagem
  3. Prelúdio Amolecado

Sonata para Piano No. 2

  1. Allegro Moderato
  2. Saudoso
  3. Ritmado

Estudo

  1. Choro

Exercícios sobre Rítmos Brasileiros

  1. Exercise No. 1
  2. Exercise No. 2
  3. Exercise No. 3
  4. Exercise No. 4

Guriatan de coqueiro

  1. Toada

Luís Rabello, piano

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FLAC | 205 MB

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MP3 | 320 KBPS | 144 MB

Quizz: Qual ator você escalaria para o papel de Luís Rabello?

Para saber um pouco mais sobre o maestro, pode ver aqui e aqui.

In the music of Radames Gnattali (1906-1988) you will discover a fabulous craftsman, a great inventor of memories, a relentless experimenter. Gnattali is one of the major figures of the Brasilian 20th century musical landscape and Luis Rabello is likely the most authoritative exponent of his piano output.

The album is a portrait of Gnattali’s piano music, with heart warming melodies, dazzling virtuosity and a blend of Brazilian musical flavours where Classical music meets Jazz, Bossa-Nova, Samba and Choro.

Luis Rabello is a Brazilian classical pianist living in the Netherlands. Rabello was born in Rio de Janeiro into a family of renowned musicians who represented traditional musical genres in Brazil such as the Choro, Samba and Bossa Nova. [Prestomusic.com]

Aproveite!

René denon

Um poema de Tom Jobim para Radamés Gnattali:

Meu amigo Radamés é coisa melhor que tem
É um dia de sol na floresta, é a graça de querer bem
Radamés é água alta, é fonte que nunca seca
É cachoeira de amor, é chorão, é rei da peteca
Deu sem saber que dava e deu muito mais que tinha
Multiplicaram-se os pães, multiplicou-se a sardinha
O Radar é concertista, compositor, pianista, orquestrador, maestrão
E, mais que tudo, é amigo, navega junto contigo
É constante doação
Ajudou a todo mundo, e mais ajudou a mim.
Alô Radamés, te ligo
Aqui fala o Tom Jobim
Vamos tomar um chope
Te apanho na mesma esquina
Já comprei o amendoim

Resposta do quizz:

Johnny (Leonard Hofsttadter) Galecki

Gaudêncio Thiago de Mello: Reflections e Amadeste / Ernesto Nazareth e Daniel Wolff: A terceira face de Ernesto / Daniel Wolff (1967): Concerto para clarineta / Radamés Gnattali (1906-1983): Concerto à Brasileira n° 4

Gaudêncio Thiago de Mello: Reflections e Amadeste / Ernesto Nazareth e Daniel Wolff: A terceira face de Ernesto / Daniel Wolff (1967): Concerto para clarineta / Radamés Gnattali (1906-1983): Concerto à Brasileira n° 4

Fãs de Amaral Vieira, este CD não é de obras de vosso dileto compositor, mas é tão digno quanto. Daniel Wolff é um neorromântico que me lembra muito Jaime Zenamon e Carlos Guastavino (se vocês não conhecem esses dois estão perdendo de ter contato com obras agradabilíssimas, mas caso não gostem de românticos tardios e ultratardios então é bom não escutá-los).

Wolff não lembra Amaral Vieira nem nos estilos emulados nem no porte das obras, mas no cabedal de que dispõe para compor, tal qual vocês poderão ouvir no concerto para clarineta (quem disser que é uma obra água com açúcar, tudo bem, mas é praticamente perfeita em harmonia, melodias e orquestração, ainda que não tenha tanta inspiração nos dois últimos movimentos).

Porém, melhor ainda é quando Wolff toca violão, instrumento no qual tornou-se o primeiro doutor no Brasil. Em sua interpretação do concerto de Radamés Gnatalli não encontro ressalvas – mas deixo para os violonistas fazerem comentários adicionais ou me desmentirem.

Este é um CD que estava na fila de espera há mais de um ano – na verdade, estava desde que me juntei à família Bach.

AS (Ante scriptum).: O Gaudêncio Thiago de Mello mencionado adiante, não é o poeta, é irmão dele (Amadeu Thiago de Mello).

***

Gaudêncio Thiago de Mello: Reflections e Amadeste / Ernesto Nazareth e Daniel Wolff: A terceira face de Ernesto / Daniel Wolff (1967): Concerto para clarineta / Radamés Gnatalli (1906-1983): Concerto à Brasileira n° 4

1. Reflections (A hug for Ayla), Gaudêncio Thiago de Mello
2. A terceira face de Ernesto, Ernesto Nazareth e Daniel Wolff
3. Amadeste, Gaudêncio Thiago de Mello

Concerto à brasileira nº 4, Radamés Gnattali
4. Allegro Moderato
5. Lento
6. Ritmado

Concerto para clarinete e orquestra de cordas, Daniel Wolff
7. Allegro moderato
8. Expressivo e cantabile
9. Allegro ritmado

Daniel Wolff, violão
Gary Dranch, clarineta
Orquestra de Câmara da ULBRA
Tiago Flores, regência

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Daniel Wolff em frente ao Arco do Triunfo

CVL

R. Gnattali (1906-1988) : Sinfonia Popular / Guerra-Peixe (1914-1993): Ponteado / C. Gomes (1836-1896) : Abertura da ópera “Fosca” / E. Krieger (1928): Abertura Brasileira

Em nosso passeio pelas grandes sinfonias do Século XX, já estivemos na Rússia, Polônia, Inglaterra, França e México. Hoje, vamos finalmente para o hemisfério sul. Nascido em Porto Alegre, filho de imigrantes italianos, Radamés Gnattali foi batizado em homenagem a um personagem de Verdi. Criou, no Rio de Janeiro, a Orquestra Brasileira, atuou na Rádio Nacional e na Globo, trabalhando como maestro, arranjador, além de fazer turnês pelo Brasil interpretando Villa-Lobos, Ernesto Nazareth e composições próprias, que eram sempre fortemente influenciadas pela música popular brasileira. Gravou LPs como “Vivaldi e Pixinguinha” (1983) com a Camerata Carioca. Fez música para o mundo, sem jamais esquecer suas raízes.

Trechos do encarte, pelo maestro Norton Morozowicz:

A nossa discografia, muito pequena, não é representativa do imenso acervo que indiscutivelmente reflete a qualidade de nossos autores.

Gnattali – Sua Sinfonia Popular, tão esquecida e pouco tocada, escrita em 1955/56 e dedicada a Léo Peracchi, constitui-se, através de seus quatro primorosos movimentos, em uma das mais belas páginas sinfônicas do repertório nacional.
Guerra Peixe – outro batalhador pela música brasileira, pesquisador e folclorista, embrenhou-se pelo sertão nordestino garimpando temas e canções, escrevendo importantes trabalhos entre eles os Maracatus de Recife e o seu Ponteado, escrito em 1955, síntese de brasilidade – encontrada no folclore e no popular – transposta para a música sinfônica.
Edino Krieger é um dos mais importantes compositores brasileiros vivos. Sua Abertura Brasileira, composta em Londres, é a primeira obra sinfônica da fase nacionalista do compositor que homenageia Luiz Gonzaga citando o tema do xote “Ela só quer, só pensa em namorar…”.

A Abertura da ópera Fosca, de Carlos Gomes, exemplo marcante do taento melódico e do domínio instrumental/orquestral característicos da produção deste brasileiro.

 

Radamés Gnattali
Sinfonia Popular
1. Allegro moderato
2. Expressivo com fantasia
3. Com espírito (Baião)
4. Allegro

César Guerra-Peixe
5. Ponteado

Carlos Gomes
6. Abertura da ópera “Fosca”

Edino Krieger
7. Abertura Brasileira

Orquestra Sinfônica da Universidade de Londrina
Norton Morozowicz, regente
Gravação ao vivo no Cine Teatro Ouro Verde, Londrina/PR, 2000

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Maestro Radamés

Pleyel

Cláudio Santoro (1919-1989): Sinfonia n.º 6 (1958). Radamés Gnattali (1906-1988): Sinfonia Popular n.º 1 (1956)

Cláudio Santoro (1919-1989): Sinfonia n.º 6 (1958). Radamés Gnattali (1906-1988): Sinfonia Popular n.º 1 (1956)

100 anos atrás, no dia 23/11/1919, nascia em Manaus o compositor e maestro Claudio Santoro!

Em homenagem, subo novamente esta excelente performance da OSB, na época em que tinha músicos do quilate da flautista Odette Ernest Dias (ainda em atividade!), do fagotista Noel Devos (1929-2018) e recebia maestros convidados como o próprio Santoro. As madeiras são um destaque nessas duas sinfonias brasileiras. As notas da contracapa do disco, porém, não são do mesmo nível da orquestra: falam que a sinfonia de Santoro tem movimentos “que se tornam sucessivamente acelerados”, quando na verdade a ordem é a mais tradicional possível: I allegro, II lento, III allegro com humor, IV allegro serioso. Santoro e Gnattali seguem essa ordem bastante comum mas os temas e orquestrações não têm nada de comum. Fiquem com a postagem original do Ranulfus, em que ele descreve duas das melhores sinfonias brasileiras. Achei uma nova digitalização, com menos chiados do LP, recomendo que baixem as duas e façam suas comparações!

Faz poucos dias (27/07) postei uma digitalização feita em casa do Concerto para dois violões, oboé e cordas de Radamés Gnattali, e aí resolvi aproveitar o embalo e digitalizar a obra de mais peso que tenho desse compositor: a Sinfonia Popular, de 1956.

Por umas conversas com o CVL fiquei com a impressão de que ele compôs toda uma série de peças sob esse nome, mas no disco esta aparece sem número, então suspeito que seja a primeira. [Depois da postagem, o leitor Vinícius confirmou e deu a data de composição das demais: 1969 (2ª e 3ª – me parece interessante que bem no ano de lançamento deste disco!), 1974-75 (4ª) e 1983 (5ª). Valeu, Vinícius!]

A edição é do antológico selo Festa, que se empenhou em documentar a produção brasileira de concerto dos anos 50 e 60. Foi lançado em 1969, infelizmente ainda em mono – o que reduz drasticamente a percepção das vozes internas da massa sonora. A execução é da Sinfônica Brasileira (OSB) sobre regência do Cláudio Santoro, autor da sinfonia do outro lado.

Nascido em Porto Alegre, Radamés Gnattali (‘nhátali’) viveu principalmente no Rio, onde suscedeu Pixinguinha como arranjador da orquestra da gravadora Victor. Vocês vão reparar: o espírito do rádio brasileiro em meados do século 20 deve demais à sonoridade da orquestração de Gnattali.

Não vou me aprofundar em análises, só quero dizer que gosto muito dos seus trechos em contraponto (fugatos), que mostram que sabia mais que manejar massas espetaculosas para levantar cantores. E que me parece notável o seu movimento lento (Estensivo con fantasia), inteiramente baseado no pregão baiano “Olhe a flor da noite”. Até estranho que não tenha virado um standard.

Se o gaúcho Gnattali foi o mais popular e midiático dos nossos sinfonistas, talvez o amazonense Cláudio Santoro tenha sido o mais erudito e tecnicamente refinado dos nossos compositores. Sei que o CVL lhe tem fortes ressalvas, mas ainda não tive chance de aprofundar a conversa.

Talvez tenha a ver com o fato de Santoro ser vários compositores em um: nos anos 40 adotou a técnica dodecafônica, cujos resultados na maior parte – confesso – ainda hoje me parecem duros de ouvir e não sei se um dia serão menos. Mas, comunista militante, a partir de 1948 opta pelos caminhos do “realismo socialista”, voltando porém aos caminhos experimentais nos anos 60 e 70. Foi nosso compositor de sinfonias mais prolífico, sendo a primeira de 1940 e a décima-quarta de 1989, seu último ano de vida.

A Sexta Sinfonia, regida aqui pelo autor, é de 1958 e usa material temático caracteristicamente brasileiro – porém de modo muito menos óbvio e infinitamente mais complexo que o de Gnattali (não estou dizendo que melhor… nem pior!). Além disso, em vários momentos me recorda Shostakóvitch – não sei se vocês vão concordar.

Como já respondi a um leitor no outro post, fora esta sinfonia tenho pouquíssima coisa de Santoro, sobretudo peças curtas, em discos que já planejava digitalizar e postar ao longo dos próximos um ou dois semestres – mas para quem quiser ver outras coisas, e logo, há um volume considerável de obras suas no blog Música Brasileira de Concerto (agora linkado também na coluna ao lado) .

Radamés Gnattali: Sinfonia Popular [n.º 1] (1956)
01 Allegro moderato 6:07
02 Estensivo con fantasia 6:44
03 Con spirito 5:11
04 Allegro 6:03

Cláudio Santoro: Sinfonia n.º 6 (1958)
05 Allegro grazioso e vivo 4:27
06 Andante molto 5:29
07 Allegro vivo 2:40
08 Allegro deciso – final 6:10

Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Cláudio Santoro

BAIXE AQUI VERSÃO 1 – download here
Digitalizado por Prosper Alpanus, som com menos chiados do vinil

BAIXE AQUI VERSÃO 2 – download here
Gravação em vinil (mono): Festa, 1969
Digitalizado por Ranulfus em jul.2010, com mais chiados mas talvez com menos perda de qualidade sonora

Maestro Radamés
Maestro Santoro

Ranulfus

Peças para piano por Radamés Gnattali (1906-1988)

Peças para piano por Radamés Gnattali (1906-1988)

Radames 1985Nosso Amigo Radamés

“Pra começar, o nome Radamés não existe. Foi inventado por Verdi numa ópera. Eu era pra ser Ernani, então apareceu outra parenta que usou o nome Ernani e minha mãe botou Radamés mesmo. Eu vejo o mundo como quando tinha dezoito anos, não tem diferença se estou mais velho ou mais moço, nada. Sou um sujeito feliz. Me casei duas vezes, muito bem casado, gosto da minha casa, da minha cama, de dormir, do meu piano – estudo muito – sempre tive bons amigos e o resto e o resto não tem importância nenhuma. Tenho meu pouquinho de dinheiro pra tomar o chope, quando não tenho, o Tom Jobim paga… sou feliz e pronto. Minha vida é rica de notas. Notas musicais.”

Falar de Radamés Gnattali dá um livro, como a formidável edição de 1996 do biógrafo Carlos Didier, parte de um projeto literário e cinematográfico. Radamés é um dos ápices da música brasileira, sem a menor sombra de dúvida; e a sua obra, embora ainda longe de ser devidamente apreciada, valorizada e interpretada (a família cobra pela xerox de obras aos pobres músicos que buscam interpretar peças mais raras), é um dos maiores tesouros da música. Sim, da música! e por que dizer nossa, se a beleza musical é para quem a ouve e a sente, a preza e ama? Seja daqui ou de Marte? Assim, vou deixando que Radamés fale por si ao longo desse texto, que redijo com especial carinho.

RG 2“Fico com inveja quando ouço Zimmerman, Pollini, Miguel Angelo Benedetti, principalmente quando tocam com orquestra. Eu estudei, ouvi e gosto mesmo é de concerto para piano e orquestra. É sempre o mesmo repertório: Chopin, Schumann, Rachmaninoff, mas gosto de ouvir porque sinto que tocar piano é que era o meu negócio, o que eu queria mesmo. É, e aí? Não pôde ser e acabou.” Diz Radamés, com uma ponta de amargura, ele de quem estima-se pelo menos 400 títulos de composições (fora as inéditas nos baús); mais os arranjos, que ao longo de 30 anos de trabalho nos discos e no rádio (Rádio Nacional), chegariam à faixa dos 10 mil. Primando não somente pela quantidade mas sobretudo pela qualidade musical e inovadora – a exemplo do arranjo de 1937 para ‘Lábios que Beijei’, na voz do grande Orlando Silva, onde pela primeira vez na produção fonográfica brasileira ouvem-se cordas numa canção romântica. Gnattali foi um dos maiores arranjadores da história. Oriundo da clave de Dó – violista de quarteto de cordas e diversos grupos de salão, incorporou ao cancioneiro brasileiro, com extrema habilidade e bom gosto, os elementos enriquecedores da música chamada erudita e do Jazz, chegando a ser acusado de americanizado pelo chato doidivanas e empolado Mário de Andrade (para mim uma espécie de Caetano Belle Époque sem o mérito de criar a beleza da qual o tropicalista é capaz). Ora, que dizer de Debussy, Stravinsky, Ravel… Seriam também pejorativamente chamados de ‘americanizados’? Bull Shit! Sempre fiz um paralelo entre Radamés e Gershwin. Ambos palmilharam com brilhantismo uma linha entre dois mundos musicais e nessa linha consolidaram suas identidades artísticas e seus estilos. A música de ambos foi escrita no rigor da pauta erudita, porém trazendo elementos ‘popularescos’. No caso de Gershwin, os elementos do Jazz; em Radamés, os estilos afro-brasileiros como o samba e seus derivados; o choro, mais a valsa e a música de concerto, com elementos ‘popularescos’. Quando ouvimos Gershwin ouvimos Gershwin, não propriamente Jazz nem música chamada erudita no rigor que se convencionou definir. O mesmo se dá com Radamés: Ele é ele e o resto da conversa é letra morta.

Radamés & Pixinguinha
Radamés & Pixinguinha

“Dizem que para ser boa a música tem de ser elaborada, mas eu não elaboro coisa nenhuma; aquilo vai saindo, vai saindo e pronto. Quando acabo eu digo: puxa, acabou essa merda e aí procuro fazer outra. Pra mim, tanto pode ser muito bom um choro, como uma sinfonia ser uma porcaria, ou uma sinfonia ser boa e o choro uma droga. Nesse ponto é tudo a mesma coisa.” Paradoxalmente… “Inspiração é coisa de cinema, o Chopin está lá assim, de repente dá aquela coisa e ele começa a escrever. Não sou assim não. Pra mim, é como no tempo de Haydn. Ele não tem cem, duzentas sinfonias? Isso dá trabalho, rapaz! Música pra mim é trabalho, não é divertimento. Alíás, pode ser também um divertimento.” “Sabe, eu só quero mesmo é fazer música que preste pra depois ir tomar meu chope.”

Figuras como Radamés não podem ser contempladas por fora dos anedotários – para a zanga dos ‘musicólogos sérios’, para os quais todas as informações devem trazer um selo de garantia acadêmica. Conta-se que o fabuloso Jacob do Bandolim conservava no teto da sala de sua casa uma mancha de cerveja como uma relíquia sagrada. Em certa ocasião na qual estavam reunidos ali alguns brilhantes músicos, o incomparável violonista Garoto executou uma das suas joias; ao fim do que, Radamés num transe apoteótico, lançou para o alto o conteúdo do seu copo de cerveja com um grito de exaltação.

É antigo princípio alquímico o de que nada vem do nada. Radamés, nascido em Porto Alegre, era filho de um imigrante de Verona vindo para tentar a vida como fabricante de rodas de carroça. Alessando Gnattali tocava bandolim e enamorou-se por Adélia Fossati, gaúcha, de uma família intensamente musical. Alessandro comprou um piano por 80 mil réis. Trabalhava de dia e estudava à noite, amanhecendo sobre as teclas. O marceneiro de carroças virou pianista, maestro, arranjador e professor, e trazia para o pequeno Radamés as novidades em matéria de partituras, especialmente do grande Ernesto Nazareth. Mas segundo Radamés, foi com Dona Adélia que aprendeu piano. Bibliófila, Dona Adélia também dirigiu ao pequeno o melhor que pode da literatura, o que incluía Dostoievski e Thomas Mann. “Até uns dezoito anos, meu pai comprava tudo de Villa-Lobos e me dava. Comecei a tocar Nazareth porque existiam partituras impressas. Não ouvia, tocava, pois naquele tempo não havia ainda vitrola, rádio, nada. Estudei nove anos de piano, querendo assimilar Bach, Beethoven, Schumann, Chopin…”.

O presente disco é um verdadeiro tesouro musical. A exuberância da música do mestre brotando diretamente de suas mãos, em temas consagradíssimos, colhidos do que há de melhor no repertório brasileiro. Matizados e revisitados numa poderosa e caleidoscópica gama de recriação e beleza. Minha ligação com este álbum é afetiva, pois que no ano em que saiu me foi presenteado pelo meu pai Uéliton Mendes (autor da mais completa discografia do Rei do Baião); na capa se lia a paráfrase do que Tom Jobim escrevera para Radamés, com ligeira modificação: “Alô Wellington, te ligo / Aqui fala o Radamés / Vamos tomar um chope / Te apanho na mesma esquina / Já comprei o amendoim…” Na sucessão de curvas que nos decorrem perdemos algo aqui e ali. Não sei onde foi parar aquele meu vinil, que ouvi pela primeira vez junto a outro grande amigo também já ido, o grande violonista e intérprete Ivan Andrade, de Itabaiana – Se; a quem devo muito conhecimento do melhor da canção brasileira, entre outras coisas, num tempo em que eu, mesmerizado pelos descobrimentos da música chamada erudita e o Jazz, nem queria saber de mais nada. Mea culpa!

RG 1

Neste disco, o Radamés pianista exalta temas de outros cancioneiros. Eu diria, considerando o nível das faixas, que ele quase que faz deles seus – não tenho dúvidas de que os próprios autores, no decurso de uma audição atenta destas faixas, ficariam honrados por tal exaltação. Lamento somente que ele não tenha incorporado ao rol duas peças suas, para mim de primeiríssima beleza: Alma Brasileira e seu Noturno. Mas seria querer demais. A escolha de Radamés é magistral, uma verdadeira sucessão de ícones sonoros: Carinhoso, Ponteio, Eu preciso aprender a ser só, Corcovado, Chovendo na roseira, Manhã de carnaval, Cochichando, Do lago à cachoeira e Nova ilusão. Agradeço imensamente ao companheiro de Távola Musical Wilson Ammiratore e demais colegas do PQP Bach, por nos conseguirem esta joia, entre outras mais. Deixo a Coda do texto a cargo da voz do mestre:

“Faço meu trabalho honestamente como um bom operário sem esperar reconhecimento algum. Quero apenas uma recompensa melhor em dinheiro, não tem nada a ver com arte, compreende? Antigamente, pagavam sessenta, oitenta mil réis por arranjo e pra mim era bom, porque um par de sapatos a gente comprava por quarenta. Aliás, como posso cobrar por uma coisa que Deus me deu sem pedir nada em troca?”

E vamos à música! Viva Radamés!

Texto: Wellbach
Texto das Faixas: Aviccena
Mouse Conductor: Ammiratore

01. Pixinguinha e João de Barro – Carinhoso
02. Edú Lobo e Capinam – Ponteio
03. Marcos e Paulo Sergio Valle – Preciso aprender a ser só
04. Tom Jobim – Corcovado
05. Tom Jobim – Chovendo na roseira
06. Luiz Bonfá e Antonio Maria – Manhã de carnaval
07. Pixinguinha – Cochichando (listada como “Cochicho”)
08. Sergio Ricardo – Do lago à cachoeira
09. José Menezes e Luiz Bittencourt – Nova ilusão

Piano – Radamés Gnattali (LP 1985)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Radamés ao Piano - Gigante !
Radamés ao Piano – Gigante !

Ammiratore + WellBach

Camerata Brasil: BACH IN BRAZIL (2000)

cover

Não, amigos, não pensem num desses projetos de “clássicos popularizados”: o que temos aqui é a exploração de como uma tradição instrumental contrapontística soa quando lida através de outra tradição instrumental contrapontística (sim!) de origem predominantemente europeia (sem, ao dizê-lo, considerar inferiores os seus traços musicais exoeuropeus!). E como essas duas tradições podem, sim, conversar lindamente!

O principal responsável por esta aventura é Henrique Cazes, mestre do cavaquinho que, entre outras coisas, atuou sob a orientação de Radamés Gnattali na Camerata Carioca. Para verem a seriedade, passo a palavra ao próprio Henrique, com a retradução de um texto que já não está disponível no seu próprio site, mais foi preservado na página internacional http://www.bach-cantatas.com/Bio/Brasil-Camerata.htm (original + resenha de Tárik de Souza [2000] incluídos no arquivo).

O choro, música instrumental típica do Rio de Janeiro, é uma forma popular com algumas características incomuns. Apareceu cerca de 150 anos atrás e continuou evoluindo e atraindo novos músicos a cada nova geração, escapando todo o tempo da rígida formalização tão comum aos estilos dessa época.

O choro se desenvolveu a partir da adaptação de danças europeias como a polca e o schottisch, à medida em que iam sendo transformadas com os acentos sentimentais típicos de Portugal e com os espirituosos ritmos da África. Ainda assim, o Choro reteve em suas melodias algumas características de suas origens barrocas.

O parentesco entre esses estilos tem interessado músicos e musicólogos há muito tempo, mas o primeiro a olhar para essas conexões em profundidade foi Heitor Villa-Lobos, o qual compôs a série Bachianas Brasileiras, que estreitou os laços entre o choro e o barroco. Mais tarde, o compositor e pianista Radamés Gnattali estabeleceria uma trilha paralela entre Vivaldi e o compositor de choro brasileiro Pixinguinha.

Tentativas de ampliar a formação dos grupos do Choro começaram na década de 1970, quando músicos populares com pouco treinamento formal começaram a experimentar. As sonoridades se encaixaram tão bem nos estilos do Choro que isso desencadeou uma evolução rápida e continuada, que seguiu se refinando cada vez mais. Desses esforços que provieram grupos como a Camerata Carioca, a Orquestra de Cordas [parágrafo aparentemente truncado]

Em Bach in Brazil, a riqueza polifônica e os timbres de instrumentos como o bandolim e a viola caipira (servindo aqui como um tipo de cravo, só que com os acordes dedilhados), ajudam a estreitar ainda mais essa relação musical através tanta distância temporal e geográfica. O espírito resultante, a ressonância, é como se o sol quente do Rio de Janeiro começasse a brilhar nos céus sóbrios de Leipzig.

O octeto que forma a Camerata Brasil faz uso de violões (tanto de seis quanto sete cordas), do cavaquinho (similar ao ukelele havaiano) e da viola caipira (a viola braguesa, em Portugal) que são comuns a todas as antigas colônias portuguesas em todo o mundo. No Brasil, a forte presença da imigração italiana acrescentou os dois bandolins, enquanto a percussão, traço tão comum na música brasileira, incorpora elementos dos povos africanos e árabes do Brasil – tudo isso ancorado com um contrabaixo. Artistas convidados tocam piano, violino, clarinete e sax soprano.

Camerata Brasil : BACH IN BRAZIL
Diretor musical: Henrique Cazes

FAIXAS
01 Allegro – Concerto Italiano em Fa Maior BWV 971
Johann Sebastian Bach, arranged by Leandro Braga – 4:40

02 Remexendo
Radamés Gnattali, arranged by Henrique Cazes – 2:54

03 Invenção a duas vozes n°13
Johann Sebastian Bach, arranged byMarcílio Lopes – 2:06

04 Vivace – Concerto em Re Menor para 2 Violinos e Orquestra, BWV 1041
Johann Sebastian Bach, arranged by Henrique Cazes – 3:23

05 Chorando Baixinho
Abel Ferreira, arranged by Henrique Cazes – 4:15

06 Prelúdio – Suite em Do Menor para cravo, BWV 997
Johann Sebastian Bach, arranged by Henrique Cazes – 3:06

07 Vou Vivendo
Pixinguinha, arranged by Radamés Gnattali – 2:49

08 Variações Sobre O Samba Do Urubú
Radamés Gnattali, arranged by Henrique Cazes – 2:36

09 Ária – Bachianas Brasileiras N°5
Heitor Villa-Lobos, arranged by Henrique Cazes – 5:55

10 Allegro – Concerto De Brandenburgo n°6, BWV 1051
Johann Sebastian Bach, arranged by Henrique Cazes – 4:14

11 Um A Zero
Pixinguinha, arranged by Leandro Braga – 3:11

12 Ele E Eu / Badinerie da Suite n° 2 para flauta e cordas, BWV 1067
Pixinguinha / Johann Sebastian Bach, arr. by Henrique Cazes – 3:00

13 Giga – Partita n°4 em Re Maior para teclado
Johann Sebastian Bach, arranged by Marcílio Lopes – 4:41

14 Invenção a duas vozes n°8
Johann Sebastian Bach, arranged by Leandro Braga – 2:12

Label: EMI Records Ltd. ‎– 7243 5 56967 2 4
Format: CD, Album
Country: Europe
Released: 2000

  .  .  .  .  .  .  .  BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

Antologia da música brasileira I e II, por Arnaldo Estrella (piano)

capaArnaldo Estrella (1908-1980) foi um dos principais nomes do piano brasileiro no século XX, com uma longa dedidação ao repertório de compositores nacionais como Villa-Lobos e Mignone, que dedicaram obras a ele. Foi também professor, formando várias gerações de alunos, dos quais o mais famoso foi provavelmente Antonio Guedes Barbosa. Fiz algumas perguntas sobre ele para outra ex-aluna de destaque na música nacional, a pianista Linda Bustani.

– Arnaldo Estrella realmente tocava muita música brasileira? Ou os convites que ele teve pra gravar privilegiaram essa parte do repertório dele?

Linda: Ele se dedicou mesmo à música brasileira. Inclusive era um dos poucos pianistas, ou o único àquela época, a fazer turnê na União Soviética. Na década de 1960, todo ano ele passava um mês lá, tocando música brasileira. Inclusive ele trazia russos pra visitarem o Brasil e com tudo aquilo que teve, ditadura, comunismo e tal, ele nunca foi preso, era intocável, todo mundo o respeitava.

– Com qual compositor brasileiro ele tinha uma maior identificação?

Linda: A paixão dele mesmo era Villa-Lobos. Ele convivia muito com Mignone, Claudio Santoro, essa gente toda. Ele levava a música brasileira ao exterior, por isso também teve tantos convites pra gravar música brasileira.

– Mais alguma curiosidade sobre ele?

Linda: Era um homem extremamente exigente, ele escrevia muito bem, tinha um programa de rádio, e além de tudo era um excelente pintor, essa particularidade pouca gente conhece. Tinha um conhecimento incrível de arte, de pintura, literatura, de tudo, por isso era extremamente exigente com a qualidade e o desempenho dos alunos dele.

O repertório destes dois CDs serve como uma aula da história do piano brasileiro. Não podendo falar de todas as obras, me limito a destacar que após a bela melodia ‘Il Neige’ (está chovendo, em francês), de pianismo delicado, o Tango Brasileiro já começa trazendo um outro universo musical, mais quente, tropical, brasileiro. Alexandre Levy, que morreu aos 27 anos, expressou fortemente a musicalidade da sua terra natal e, sem nenhuma base científica para dizê-lo, suspeito que esse tango, de 1890, teve influência no nacionalismo musical de Villa-Lobos, Radamés Gnattali e outros tantos.

Sobre as doze Valsas de Esquina de Francisco Mignone, Enio Silveira escreveu:
Caracteristicamente brasileiras na essência e no sentimento, assim como na forma, (“Hoje em dia bom número das modinhas populares são em três-por-quatro e valsas legítimas” – Mário de Andrade in Pequena História da Música), essas composições nos dão expressivo retrato musical desse doce-amargo que constitui ou constituía o modo de ser de nosso povo.

No encarte do segundo LP vinha o seguinte texto de Manuel Bandeira:
Creio não errar se disser que Arnaldo Estrella é agora o maior pianista que o Brasil tem.
Aqui são sobretudo as suas qualidades de frase, elegância, malícia, que Estrella nos proporciona no gênero tão amável da valsa, vindo da melodia ainda não brasileira de Oswald, já brasileira de Nepomuceno, até à brasileiríssima série de nosso “rei da valsa” Francisco Mignone, passando por Villa-Lobos, sempre surpreendente, e Lorenzo Fernandez, rematando com o fino, o raro Camargo Guarnieri.

Antologia da música brasileira I
1. O Amor Brasileiro (Sigismond Neukomm)
2. A Sertaneja (Brasílio Itiberê)
3. Noturno (Leopoldo Miguez)
4. Il Neige (Henrique Oswald)
5. Tango Brasileiro (Alexandre Levy)
6. Galhofeira (Alberto Nepomuceno)
7. Minha Terra (Barroso Neto)
8. Lenda do Caboclo (Villa-Lobos)
9. Protetor Exu (Brasílio Itiberê)
10. Dança de Negros (Fructuoso Viana)
11. Moda (Lorenzo Fernandez)
12. Cucumbizinho (Francisco Mignone)
13. Valsa nº 7 (Radamés Gnattali)
14. Canção Sertaneja (Camargo Guarnieri)
15. Saci Pererê (Luiz Cosme)

Folder
Antologia da música brasileira II
1. Valsa de esquina nº 12 (Francisco Mignone)
2. Valsa de esquina nº 1 (Francisco Mignone)
3. Valsa Chôro nº 11 (Francisco Mignone)
4. Valsa Chôro nº 8 (Francisco Mignone)
5. Primeira Valsa (Souza Lima)
6. Valsa Suburbana (Lorenzo Fernandez)
7. Valsa da Dôr (Villa-Lobos)
8. Poema Singelo (Villa-Lobos)
9. Valsa Lenta (Henrique Oswald)
10. Valsa (Alberto Nepomuceno)
11. Valsa nº 4 (Camargo Guarnieri)

Arnaldo Estrella, piano

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Estrella
Estrella, fingindo que está estudando, posa para foto

Pleyel

Banda de Música, de ontem e de sempre (3 LPs) [Acervo PQPBach] [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Fonogramas espetaculosamente enviados pelo professor musicólogo Paulo Castagna.

Minha infância está repleta de momentos felizes nos quais havia a presença de uma banda dessas de coreto. E talvez por isso eu deseje tão intensamente dividir com vocês esta beleza de LP triplo enviado pelo professor Paulo Castagna.

Nascido em Limeira que sou, cidade do interior de São Paulo que ainda se dá ao gosto de manter duas bandas marciais que se revezam todo domingo na praça Toledo de Barros, a principal da cidade, eu cresci tendo o imenso prazer de ouvir as retretas musicais naquele lugar, numa infância que poderia usar como citação o trecho da música de Braguinha: “todo domingo havia banda no coreto do jardim” (de o gato na tuba). E como eram verdadeiras delícias essas matinas dominicais! E ainda são: quando volto para minha terra natal, (cada vez com menor frequência), gosto muito de ainda vê-las, pois as duas corporações musicais da cidade ainda continuam firmes, uma octogenária, outra sesquicentenária. O mais bonito é a cena típica de uma cidade do interior que, apesar de seus 300 mil habitantes, insiste em manter nesse ambiente aprazível e aconchegante. Ainda que a praça esteja hoje cercada de edifícios de muitos andares, ela vive! E vive mais quando tem banda: as crianças brincam, correm atrás das pombas, casais de namorados se encontram, há por vezes casais de idosos que arriscam uns passos quando a banda toca uma valsa, tem pipoqueiro e algodão-doce, tem música, tem aplausos, tem alegria e confraternização entre pessoas que às vezes nem se conhecem. E tem muita, muita música. A praça, aos domingos de manhã ainda é a sala de visitas, talvez o salão de festas, da cidade!

.o0o.

Espero que este meu depoimento pessoal tenha atiçado a vontade de vocês de ouvirem um pouco mais das músicas de bandas marciais. Este álbum é especialíssimo, pois traz 34 obras de 24 autores, que vão dos mais eruditos, compositores de música de concerto, até populares.

O primeiro LP dedica-se a peças eruditas compostas ou arranjadas para banda de medalhões da nossa música, como Carlos Gomes e Francisco Braga, ao mesmo tempo em que apresenta a influência de compositores populares da virada do século, autores de lundus e choros, caso de Anacleto de Medeiros e Henrique Alves de Mesquita, evidenciando as mudanças que estavam ocorrendo na música brasileira de então.

O segundo disco apresenta composições com elementos populares bem estabelecidos, como valsas, sambas, marchas-ranchos, schottiches, de caras como o próprio Anacleto de Medeiros, que faz a ponte com o ambiente do primeiro LP, e Pixinguinha, Donga, Sinhô, Ernesto Nazareth, Bento Mossurunga, Radamés Gnattali, terminando com o clássico dos clássicos “A Banda“, de Chico Buarque (que é um dos autores que debutam hoje aqui no PQPBach).

O último volume arremata com composições feitas especificamente para bandas de coreto, num belo trabalho de recuperação da obra de muitos autores de grande qualidade, mas que ficaram desconhecidos do grande público, em grande parte dos casos por terem dedicado suas vidas a reger e compor para as corporações musicais que comandavam. Temos aí Bernardino Joaquim de Nazareth, Augusto Nunes Coelho, José Agostinho da Fonseca, José Selaysim de Souza, Cândido Lira, Eudóxio de Oliveira Coutinho, Benedicto Silva, Antônio de Freitas Toledo, e o Mestre Vavá (Osvaldo Pinto Barbosa), responsável pelos arranjos desta pequena coleção.

É lindo! Ouça, ouça! Deleite-se!

Coreto da Praça Carlos Gomes, em Campinas (SP)

Banda de Música
de ontem e de sempre

LP01
Antônio Carlos Gomes (Campinas, SP, 1836 – Belém, PA, 1896)
01. Hino Triunfal a Camões
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
02. Pavilhão Brasileiro
João Elias da Cunha (Niterói, RJ, 18?? – 1918)
03. Hino do Estado do Rio de Janeiro
Francisco Braga (Rio de Janeiro, 15 de abril de 1868 – 1945)
04. Episódio Sinfônico
05. Hino à Bandeira
Cincinato Ferreira de Souza (São Luís, MA, 1868 – Belém, PA, 1959)
06. Artística Paraense (abertura)
Henrique Alves de Mesquita (Rio de Janeiro, RJ, 1830 – 1906)
07. Os Beijos-de-Frade (lundu)
Isidoro Castro Assumpção (Vigia, PA, 1858 – Belém, PA, 1925)
08. Saudades de minha Terra (dobrado)
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
09. Marcha Fúnebre N.2
Anônimo
10. Coração Santo (marcha de procissão)

LP02
Joaquim Antonio Naegele (Cantagalo, RJ, 1899 – Rio de Janeiro, RJ, 1986)
01. Ouro Negro (dobrado)
Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos – Rio de Janeiro, RJ 1890 – 1974), David Nasser (Jaú, SP, 1917 – Rio de Janeiro, RJ, 1980)
02. Quando uma estrela sorri
Francisco Braga (Rio de Janeiro, 15 de abril de 1868 – 1945)
03, Saudades (valsa)
Ernesto Nazareth (Rio de Janeiro, RJ 1863 – 1934)
04. Saudades e saudades (marcha)
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
05. Louco amor (schottisch)
Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Jr. – Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1973)
06. Saudade (marcha-rancho)
Anacleto de Medeiros (Rio de Janeiro, RJ 1866 – 1907)
07. Araribóia (dobrado)
Bento Mossurunga (Castro, PR, 1879 – Curitiba, PR, 1970)
08. Bela Morena (valsa)
Sinhô (José Barbosa da Silva – Rio de Janeiro, RJ,1888 – 1930)
09. Resposta à inveja (marcha-rancho)
Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Jr. – Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1973)
10. Esquecida (polca-marcha)
Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 1906 – Rio de Janeiro, RJ, 1988)
11. Abolição (dobrado)
Chico Buarque (Rio de Janeiro, RJ, 1944)
12. A Banda (marcha-rancho)

LP03
Anônimo
01. Silvino Rodrigues (dobrado)
02. Havaneira (polca)
Bernardino Joaquim de Nazareth (Guarani, MG, 1860-1937)
03. Biza (valsa)
Augusto Nunes Coelho (Guanhães, MG, c1890 – 19??)
04. Saudades do Cauê (dobrado)
José Selaysim de Souza
05. Saudade de Abadia (valsa)
José Agostinho da Fonseca (Manaus, AM, 1886 – Santarém, PA, 1945)
06. Almofadinha (maxixe)
Anônimo
07. Cateretê
Cândido Lira (Pernambuco, 18?? – 19??)
08. Os domingos no poço (quadrilha)
Eudóxio de Oliveira Coutinho
09. Antônio (valsa)
Benedicto Silva
10. José e Ritinha brincando (polca)
Osvaldo Pinto Barbosa, Vavá (Guarabira, PB, 1933)
11. Riso no frevo (frevo)
Antônio de Freitas Toledo
12. Depois da valsa (dobrado)

A banda:
Alexandre Areal, Clarinete
Daniel Wellington de Araújo, Trompa
Dimas José Ribeiro, Tuba
Fernando Henrique Machado, Saxofone Barítono
Gedeão Lopes de Oliveira, Trompete
Gedeão Silva, Saxofone Alto
Gerino Zuza de Oliveira, Trompete
Isabela Sekeff Coutinho, Clarinete
Johnson Joanesburg Anchieta Machado, Saxofone Tenor
José Antônio da Silva Nascimento, Bombardino
José da Silveira Vilar “Pedrinho”, Caixa
José de Oliveira Monte Amado, Pratos
Marco Salvador Salustiano Donato, Bumbo
Nivaldo Francisco de Souza, Flautim
Paulo Roberto da Silva, Trombone
Raimundo Martins, Trompa
Ricardo José Dourado Freire, Clarinete
Roberto Crispim da Silva, Trompa
Luiz Gonzaga Carneiro, Regência

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FLAC
LP01 (255Mb), LP02 (252Mb) , LP03 e encartes (283Mb)
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LP01 (138Mb), LP02 (141Mb) , LP03 e encartes (173Mb)

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Bisnaga

Concerto nº1 para Violão – Dilermando Reis – obras de Radamés Gnattali (1906-1988), Oscar Lorenzo Fernandez (1897-1948), César Guerra Peixe (1914-1993), Leopoldo Hakel Tavares da Costa (1896-1969) e Agustín Barrios Mangoré (1885-1944); [Acervo PQPBach] [link atualizado 2017]

SHOW DE BOLA !!!

Queridos, queridos!

Hoje vou voltar à música brasileira (tá, tem uma paraguaia no fim, mas de ótima qualidade) com este instrumento que se adaptou tão bem em terras ibero-americanas, ganhando inúmeras formas de execução e se adaptando tão perfeitamente aos ritmos locais.

O mais provável é que o instrumento tenha se desenvolvido da viola portuguesa, parente não muito distante da alaúde, esta última trazida ao continente europeu pelos árabes. Os árabes, sempre os árabes… Viva os árabes! Tem tanto rastro da cultura deles na nossa até os dias de hoje…

Mas não vamos nos delongar muito sobre a história (que não deixa de ser fascinante) do violão e falemos do violonista. Eis que temos aqui, hoje, nada mais, nada menos que Dilermando Reis, que muito ouvinte castiço de clássicos torce o nariz quando se fala dele, mas que divulgou este instrumento como poucos e para quem Radamés Gnattali escreveu e dedicou o presente Concerto nº1 – belíssimo, por sinal – sinal do reconhecimento e da admiração do compositor pelo violonista.

Como o concerto só preenchera um lado do LP,  Dilermando não deixou por menos: fez uma seleção (e que seleção!) de obras brasileiras para violão erudito de Hekel Tavares, Lorenzo Fernandez e Guerra-Peixe, mais uma do paraguaio Augustín Barrios Mangoré, um dos papas do instrumento. Disso resultou um álbum de grande expressividade e de uma qualidade fenomenal.

Eu, se fosse você, não perdia a oportunidade de ouví-lo!

Ouça! Ouça! Deleite-se!

Dilermando Reis
Concerto nº1 e outras peças

Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 1906 – Rio de Janeiro, RJ, 1988)
01. Concerto para Violão nº1, I. primeiro movimento
02. Concerto para Violão nº1, II. segundo movimento
03. Concerto para Violão nº1, III. terceiro movimento
Oscar Lorenzo Fernandez (Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1948)
04. Pequena Modinha
César Guerra Peixe (Petrópolis, RJ, 1914 – Rio de Janeiro, RJ, 1993)
05. Ponteado
Leopoldo Hakel Tavares da Costa (Satuba, AL, 1896 – Rio de Janeiro, RJ, 1969)
06. Ponteio
Agustín Barrios Mangoré (San Jua Bautista de las Misiones, Paraguai, 1885 – 1944)
07. La Catedral

Dilermando Reis, violão

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MP3  (81Mb)
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Sabe aquela coisa de fazer um comentário? Eu ainda gosto. Pode comentar, pessoal!

Bisnaga

Os Cameristas (1976) – José Siqueira (1907-1985) e Radamés Gnattali (1906-1988) [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Hoje estou orgulhoso! José Siqueira, compositor brasuca simplesmente estupendo e esquecido da história, apagado deliberadamente pela perseguição que sofreu no regime militar, atinge hoje, aqui no P.Q.P.Bach, a marca de QUINZE postagens. Não é um número absurdo (os entes da Santíssima Trindade – Bach, Beethoven e Mozart – tem todos mais de cem posts), não deve ser nem o vigésimo mais postado aqui, mas já é o sexto brasileiro mais presente no blog. Ultrapassou André da Silva Gomes, Castro Lobo e Sigismund Neukomm e igualou-se, ante os estrangeiros, a Shoenberg. Eu, sinceramente, conhecia pouco dele até o começo deste ano e, tomando contato com mais obras, pude ver como o cara é bom. Tomei suas dores, publicando tudo o que dele dispusesse e dele encontrasse. Com o material que temos e com as contribuições preciosíssimas de Harry Crow, o P.Q.P.Bach cumpre o papel ao qual se propõe desde o início: o de divulgar a música, de polinizar a beleza pela blogosfera. Acredito que ajudamos a tirar um pouco da sombra que teima em obscurecer o nome desse grande brasileiro, José Siqueira, hoje, com um complexo, difícil e fodástico Divertimento para Oboé e Cordas.

Temos outro compositor não menos genial na postagem de hoje, Radamés Gnattali, que soube como poucos não só unir o erudito ao popular, mas alternar entre esses dois campos. Gnattali passeava de um lado a outro, de um gênero a outro da música, como se fosse necessário só apertar a tecla SAP. Coisa incrível! Além de sua música de concerto (seu concerto para harpa e cordas, por exemplo, é uma das coisas com mais enlevo que já ouvi), é vasta a sua produção de choros, sempre de altíssima qualidade. Não à toa, sua produção, sempre influenciada pelos ritmos do Brasil, também recebeu as cores dos sons do Nordeste, como é o caso do belo (e agudíssimo) Concerto para Violino.

Aproveitei para transcrever parte do encarte que fala com muita propriedade da qualidade desses dois compositores de hoje e do conjunto executante:

(…) Além de compositor de larga projeção não só no Brasil como no exterior, José Siqueira (1907) é sem dúvida um dos espíritos mais empreendedores de nosso cenário musical, quiçá o mais arrojado de todos. Homem de visão, amando acima de tudo o manancial sonoro de seu país, bem merece um preito de gratidão pelo muito que fez em prol do desenvolvimento cultural de nosso povo. Aos 33 anos, em 1940, criou a Orquestra Sinfônica Brasileira, hoje um conjunto de renome internacional. Em 1948 fundava a Sinfônica do Rio de Janeiro e, anos mais tarde, a Orquestra de Câmara do Brasil. Em 1960 consegue ver realizado o seu mais ambicionado sonho: a criação da Ordem dos Músicos do Brasil. Mestre de sua arte, dono de um “metier” invejável, sua obra é vastíssima, abrangendo todos os gêneros — da ópera à música de câmara, da canção à sinfonia. A produção do músico paraibano pode ser dividida em três períodos distintos: o pri­meiro universalista e que vai até 1943; o segundo, nacionalista no sentido genérico, indo de 1943 a 1950 e o terceiro, que poderíamos definir como “nordestino” pelo emprego regular do sistema por ele denominado de tri-modal. Essa teoria consiste no aproveitamento sistemático das três escalas encontradas no rico folclore nordestino. Siqueira é dentro da corrente nativista talvez o mais “intimamente nordestino” de nossos músicos.
Seu Divertimento Nº5 para cordas data de 1974 e contém três movimentos: Allegro, Larghetto e Allegro
Pianista nato de rara intuição, regente, orquestrador habilíssimo e compositor dos mais versáteis, Radamés Gnattali (1906) que este ano comemora seu 70º aniversário de nascimento continua em perene criatividade. O lugar de excepcional destaque que ele conseguiu no panorama da música brasileira de nossos dias, deve-se a vários fatores, entre esses, o de ter militado longos anos nas lides radiofônicas, onde alcançou notoriedade, quer como arranjador popular, quer como músico erudito. Após haver estudado plano em seu estado natal o Rio Grande do Sul, veio para o Rio em 1931, onde frequentou o Instituto Nacional de Música até 1938. Todavia, no domínio da composição, pode-se de sã consciência afirmar-se que foi um autodidata. A princípio deixou-se influenciar pelo “jazz”, mas pouco a pouco foi assumindo um nacionalismo consciente calcado menos nas constantes rítmico-melódicas populares do sul do país a exemplo de seu conterrâneo Luiz Cosme e mais voltado para a temática nordestina, fonte de sua inspiração, como também soou acontecer com Camargo Guarnieri e tantos outros. Como Guerra Peixe, o compositor gaúcho faz questão de estabelecer um paralelo entre os dois setores da sua produção — o popular e o erudito.
O Concerto para violino e cordas inserido no presente disco é o segundo que concebeu para o instrumento, e foi dedicado a Giancarlo Pareschi, que é o autor das cadenzas. Divide-se em três seções: Alegro — Canção e Chôro.
O conjunto “Os Cameristas” foi fundado em 1964 pelo M. Nelson de Macêdo, formado por uma seleção dos melhores instrumentistas de cordas do Rio de Janeiro. Fez sua estréia sob o patrocínio de O Globo no auditório daquele vespertino. Noel Devos (Fagote), Giancarlo Pareschi (Violino) e Nelson de Macêdo (Regente) são nomes que dispensam maiores apresentações, por serem de nossos mais conhecidos e apreciados intérpretes com uma larga folha de relevantes serviços prestados à música brasileira. Nelson de Macêdo, além de violista e regente, vem se firmando como um compositor de inegáveis merecimentos
Sérgio Nepomuceno (Extraído do encarte)

Semana que vem teremos mais um álbum d’Os Cameristas com obra de José Siqueira. Será a 16ª e última postagem dele. Mas acredito que no futuro consigamos mais material do paraibano arretado para postar aqui. É esperar pra ver…

Por fim, UM BAITA DISCÃO! Ouça e torne seu dia mais feliz!

Os Cameristas
Os Cameristas (1976)

José Siqueira (Conceição, PB, 1907 – Rio de Janeiro, RJ, 1985)
01. Divertimento nº5 – 1. Allegro
02. Divertimento nº5 – 2. Larghetto
03. Divertimento nº5 – 3. allegro ma non troppo
Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 1906 – Rio de Janeiro, RJ, 1988)
04. Concerto para violino nº2 – 1. Allegro moderato – marcato
05. Concerto para violino nº2 – 2. Canção
06. Concerto para violino nº2 – 3. Choro

Orquestra “Os Cameristas”
Noel Devos, oboé
Giancarlo Pareschi, violino
Nelson de Macêdo, regente
1976

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (128Mb)

…Ah, por favor, comente, escreva umas palavrinhas e me tire da solidão…

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Não, não são Os Cameristas, mas a foto é tão legal…

Bisnaga

Sopros do Brasil: o Sexteto do Rio – obras de José Siqueira (1907-1985), Radamés Gnattali (1903-1988), Francisco Mignone (1897-1986), Ludwig van Beethoven (1770-1827), Darius Milhaud (1892-1974), Francis Poulenc (1899-1963) e Gordon Jacob (1895-1984) [link atualizado 2017]

Nas minhas navegações – e derivas – em meio ao oceano da internet, em busca de mais algum halo, uma luzinha no horizonte que me apontasse para mais uma obra de José Siqueira, me deparei com este belo conjunto de peças executado pelo Sexteto do Rio. José Siqueira tem lá uma faixinha em meio a outras vinte e duas, mas não custa ver tudo…

E o álbum é bem legal, além da siqueirana Brincadeira a Cinco, uma das que mais me agradou, há obras muito boas para sexteto de sopros (aqui por vezes acompanhado pelo piano de Heitor Alimonda): La cheminée du Roi René, de Milhaud, e a Sonatina a Seis, de Gnattali, são especialmente jocosas, divertidas, muito agradáveis. O conjunto todo é bem descontraído e tem um aspecto de diversão, de brincadeira, de descontração. Os músicos do Sexteto do Rio estão, mais do que executando música, divertindo-se, compartilhando bons momentos. e essa descontração é transmitida ao ouvinte e é cativante! Conjunto leve, gostoso de ouvir.

Booooom, muito bom! Ouça, ouça!

Sexteto do Rio
.

Ludwig van Beethoven (1770-1827)
01. Trio para Flauta, fagote e piano – I. Allegro
02. Trio para Flauta, fagote e piano – II. Adagio
Darius Milhaud (1892-1974)
03. La cheminée du Roi René – I. Cortège
04. La cheminée du Roi René – II. Aubade
05. La cheminée du Roi René – III. Jongleurs
06. La cheminée du Roi René – IV. Maosinglade
07. La cheminée du Roi René – V. Chasse au Valabre
08. La cheminée du Roi René – VI. Madrigal Nocturne
09. Sonata para flauta, oboé, clarineta e piano – I. Tranquille
10. Sonata para flauta, oboé, clarineta e piano – II. Joyeux
11. Sonata para flauta, oboé, clarineta e piano – III. Emporté
12. Sonata para flauta, oboé, clarineta e piano – IV. Douloureux
Francis Poulenc (1899-1963)
13. Sextuor – I. Allegro Vivace
14. Sextuor – II. Allegro Vivace
15. Sextuor – III. Finale
Francisco Mignone (1897-1986)
16. Sexteto 1970
Gordon Jacob (1895-1984)
17. Elegiac e Scherzo – I. Elegiac
18. Elegiac e Scherzo – II. Scherzo
José Siqueira (1907-1985)
19. Brincadeira a Cinco
Radamés Gnattali (1903-1988)
21. Sonatina a seis – I. Allegro
22. Sonatina a seis – II. Saudoso
23. Sonatina a seis – III. Ritmado

Sexteto do Rio
Celso Woltzenlogel,flauta
Paolo Nardi, oboé
Kleber Veiga, oboé
José Cardoso Botelho, clarineta
Noel Devos, fagote
Zdenek Svab, trompa
Heitor Alimonda, piano

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…Mas comente… escreva-me umas linhas amigas…

Bisnaga

In memoriam Cussy de Almeida: Orquestra Armorial acompanha Duo Assad (1977)

Duo Assad e Orquestra Armorial http://i27.tinypic.com/b3wmjk.jpgBom, eis o disco sugerido pelo leitor Fausto Silva – que eu nem sabia que havia se tornado raridade. Só espero que não pensem que milagres assim são possíveis sempre: foi uma enorme “gata” que eu tivesse esse disco!

Como nosso maior interesse no momento é o trabalho de Cussy de Almeida à frente da Orquestra Armorial, coloquei no início o concerto do Radamés Gnattali (pronúncia Nhátali, para os mais novos), que no vinil ocupa o Lado B. As demais cinco faixas são apenas a dois violões.

Se me permitem… tenho a sensação de que está aí um disco que tinha tudo para acontecer e não aconteceu. A orquestra está perfeita, limpa… Os irmãos Assad são sempre grandes… e Radamés Gnattali escreve muito bem. Mas parece que faltou um clic para esses três elementos entrarem em sinergia e de fato levantarem o concerto.

Mesmo assim, concordo que não se pode deixar esse disco naufragar no olvido. No mínimo é um documento importante de certas vertentes da produção musical brasileira dos 2.º e 3.º terços do século XX.

Além disso, a gravadora Continental realmente boiou na maionese na hora de nomear: “Latino América para duas guitarras”… Por que guitarras, se o nome brasileiro consagrado dessa variante do instrumento é “violão”? E por que “Latino América”, quando quase 90% do repertório é brasileiro? Por causa das 4 Micro-Peças do cubano Leo Brouwer, que inclusive não puxam nada para o lado nacionalista ou “típico”? E onde fica o italiano Castelnuovo-Tedesco, que ocupa tanto espaço no disco quanto Brouwer?

Bom, hoje eu estou ranzinza mesmo, como vocês devem ter notado… mas de modo nenhum estou sugerindo que não valha a pena baixar e ouvir esse disco! Eu mesmo vejo mais razões para baixar que para não baixar. Ou então não o teria carregado nas 15 mudanças que já fiz desde que o tenho… (se é que não esqueci nenhuma!)
 
 
Sérgio e Odair Assad (violões) – com Moacir Freitas, da OSB (oboé)
e as cordas da Orquestra Armorial, regida por Cussi de Almeida

Edição em vinil: Continental, 1977
Digitalizado por Ranulfus, jul. 2010

Radamés Gnattali (Porto Alegre, 1909 – Rio, 1988):
Concerto para 2 violões, oboé e cordas (dedicado ao Duo Assad)
Gravado ao vivo no Conservatório Pernambucano de Música
01 Allegro moderato
02 Adagio
03 Con spirito

Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
04 Alnilan (de “As Três Marias” – transcrição)

Francisco Mignone (1897-1986)
05 Lenda sertaneja (peça dedicada ao Duo Assad)
06 Lundu

Mario Castelnuovo-Tedesco (1895-1968)
07 Siciliana (da Sonatina Canônica para dois violões)

Leo Brouwer (*1939)
08 Cuatro Micro-Piezas

. . . . . BAIXE AQUI – download here (Megaupload)

Ranulfus

Radamés Gnattali (1906 — 1988) e outros – Acervo Funarte

Radames GnattaliO Itaú Cultural lançou este CD, originalmente um vinil , em 1999. As informações a respeito são mais do que insuficientes e o incrível é que ele conta com ilustres desconhecidos, como Tom Jobim, Paulinho da Viola e outros… Sabe-se o grupo que interpreta as primeiras músicas e nem se imagina quem toca o bom quarteto de cordas final. Não vou criticar o Itaú Cultural; afinal, se o CD existe e chegou a mim é por mérito da instituição, mas bem que ele poderia ser mais informativo.

Radamés Gnattali (Porto Alegre, 27 de janeiro de 1906 — Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1988) foi um grande músico e compositor brasileiro. Foi também pianista, maestro e arranjador especializado em choro. Teve trajetória única, não tendo abandonado nunca o erudito, nem o popular. Era notável o carinho que muitos músicos tinham pelo maestro. Desde Raphael Rabello até Tom Jobim, do qual foi parceiro, passando por Cartola, Villa-Lobos, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Francisco Mignone, Paulinho da Viola, Lorenzo Fernandez e Camargo Guarnieri.

É popular, é erudito? Olha, só pensei nisso agora e não me interessa a resposta.

Radamés Gnattali – CD do Acervo da Funarte editado pelo Itaú Cultural

Instrumentistas:

– Tom Jobim piano e flauta
– Paulinho da Viola cavaquinho
– José Menezes guitarra
– Chiquinho do Acordeão acordeão
– Um quarteto de cordas não informado….

Faixas:

1. Meu amigo Radamés (Tom Jobim)
2. Meu amigo Tom Jobim (Radamés Gnatalli)
3. Sarau para Radamés (Paulinho da Viola)
4. Obrigado, Paulinho (Radamés Gnatalli)
5. Capibaribe (Radamés Gnatalli)
6. Um choro para Radamés (Capiba)
7. Quarteto Popular (Radamés Gnattali)
– 1º Mvto: Movido
– 2º Mvto: Lento-Vivo-Lento
– 3º Mvto: Allegro Moderato

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Radamés Gnattali (1906-1988) – Braziliana nº 13 e outras obras para violão solo

O grande Maestro Radamés fez frutífero contato com o violonista Rafael Rabello (1962-1995) numa época em que ressurgia o choro no Rio de Janeiro. Radamés foi um dos mestres mais requisitados nesse período, demonstrando uma jovialidade que encantou novos chorões como Joel Nascimento, Rafael Rabello e Maurício Carrilho. Nasceram assim amizades que geraram muitos encontros e parcerias. Em 1986, Rafael gravou este excepcional registro de obras do mestre gaúcho.

01 Braziliana nº 13: Samba bossa nova
02 Braziliana nº 13: Valsa
03 Braziliana nº 13: Choro
04 Tocata em ritmo de samba I
05 Tocata em ritmo de samba II
06 Dança brasileira
07 Estudo I – Presto possibile
08 Estudo V – Alegretto
09 Estudo VII – Comodo

Violonista: Rafael Rabello

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