.: interlúdio :. É Carnaval! – A História da Guitarra Baiana, parte 3 – Roberto Barreto (BaianaSystem)

O nome BaianaSystem vem da junção de “guitarra baiana” com “sound system”, duas tecnologias criadas respectivamente em Salvador e na Jamaica. Em 2017, logo após lançar aquele que considero o melhor álbum do BaianaSystem, Roberto Barreto, um dos seus fundadores, deu uma entrevista (aqui) na qual demarcou claramente os aspectos subversivos e políticos do Carnaval. Pra quem olhava de longe, podia parecer que o carnaval de Salvador, com abadás de trios sendo parcelados em 12x sem juros, tinha virado uma mercadoria tão elitizada e metida a besta quanto um desses copos caros pra deixar a água gelada. Estamos sempre por um fio dessa derrota completa para as máquinas de lucro (expressão do Baiana) mas ao mesmo tempo os loucos vão fazendo festa, não porque a vida está fácil, mas pelo motivo oposto. Enfim, fala aí, Roberto:

G1 – Muita gente, especialmente no Sudeste, cita a Baiana System como uma banda de axé – ou do novo axé. Esse rótulo incomoda?
Roberto Barreto – Não incomoda porque, na verdade, o axé não existe enquanto gênero. É que, aqui [no Sudeste], as pessoas acabam colocando tudo dentro de uma mesma coisa. Olodum é completamente diferente de Ivete. O que existe é um mercado de axé, que funciona diferente do mercado que a gente surgiu. Quando fazem essa referência ao novo axé, talvez seja por causa de elementos que usamos – das festas de largo, o entendimento do sound system como uma coisa popular, percussão, guitarra, samba… Lógico que tem elementos do que as pessoas conhecem como axé.

“Como é da Bahia, e as pessoas às vezes não conseguem entender, dizem: ‘Funciona no Carnaval, é dançante, então é axé’. Mas não é necessariamente isso. Quando a gente tira esse peso, não se incomoda. A Bahia hoje está justamente numa fase de superar esse estigma do axé que ficou, muitas vezes como uma coisa pejorativa.

G1 – A música da Bahia é, ainda hoje, muito estigmatizada?
Roberto Barreto – Acho que sim. O mercado acabou ditando muito como as coisas aconteceram. Salvador sempre teve uma produção incrível e nunca parou de ter. Mas estamos em um período em que a música passa por uma transformação. O que chega às pessoas não é necessariamente o que vem da grande mídia. Elas conseguem conhecer o que está acontecendo no Pará, em Goiânia, Recife, Salvador… Com essa dimensão, dá para fugir um pouco dessa centralização.

Roberto e sua guitarra baiana de 5 cordas (2016)

[…]
Na Bahia, a coisa do Carnaval é forte. Independentemente do que gera no mercado fonográfico, ele é um catalisador de muita coisa.

G1 – Gerou muita repercussão um protesto da banda contra o governo Temer no Carnaval deste ano, em Salvador. Como lidaram com a polêmica?
Roberto Barreto – Não foi uma coisa programada. A gente já fazia isso em shows, alguns sim, outros não. Como a gente tratou isso com naturalidade, saiu do âmbito da polêmica, que as pessoas quiseram dar. Não tem como a questão política não estar vinculada a nós, porque o nosso comportamento em relação ao mercado e nas nossas letras é eminentemente político. A gente vive um momento dificílimo. Não sabemos se vamos ter presidente amanhã. Estamos vivendo um ano após um golpe acontecer no país.

G1 – Qual o papel dos artistas em momentos políticos como esse?
Roberto Barreto – Cada vez mais, se posicionarem. Ficou uma coisa muito asséptica. Todo o mundo acha que não pode falar isso ou aquilo. Você pode falar. Quando a gente definiu que o nome do nosso disco ia ser “Duas Cidades”, percebemos que não é só a cidade, o Brasil está dividido. Você vê famílias brigando, pessoas se digladiando no Facebook.

Você tem que se posicionar em relação a isso, mesmo que depois diga: ‘Vacilei nisso, achei que era uma coisa, me decepcionei’. Mas tem que falar.

A cada Carnaval, o BaianaSystem sai com seu trio Navio Pirata, sem cobrança de abadás. Enquanto o Chiclete com Banana – e seu ex-cantor Bell Marques, em carreira solo desde 2014 – continuam saindo em trios elétricos com cercadinho separando os pagantes da ralé, o Baiana arrasta a cada ano mais povo na bagunça indeferenciada, a mais carnavalesca dos nossos tempos, ao menos na Bahia.

Em outra entrevista, Roberto fala sobre sua relação com a guitarra baiana, instrumento que ele inseriu em uma linguagem musical próxima das gerações hoje com 20, 30 anos e próxima também do reggae jamaicano.

A guitarra não foi o meu primeiro instrumento. Comecei tocando o bandolim já com essa afinação da guitarra baiana e com essa referência dos trios elétricos e das músicas de carnaval. Não vejo muito como um instrumento, mas sim como um meio de expressar ideias e sentimentos. Por ser um instrumento criado e concebido aqui na Bahia existe a parte afetiva e junto com isso, acompanha uma estética musical que é única em um repertório (aqui).

BaianaSystem: Duas Cidades (2016)
A1 Jah Jah Revolta Parte 2
A2 Bala Na Agulha
A3 Lucro (Descomprimindo)
A4 Duas Cidades
A5 Panela
B1 Playsom
B2 Dia Da Caça
B3 Cigano
B4 Calamatraca
B5 Barra Avenida Parte 2
B6 Azul

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No Carnaval de 2023

Pleyel

.: interlúdio :. É Carnaval! – A História da Guitarra Baiana, parte 2 – Missinho (Chiclete com Banana)

O clima da cidade se torna outro. A atmosfera mais densa do que o lança-perfume que a senhora leva na bolsa. Todos os exus e santos estão à solta. As ruas de madrugada apinhadas de gente. O cheiro de mijo e álcool. As normas se alternam, a moral se amolece. Tudo parece poder acontecer, para o bem e para o mal.

O dia já havia nascido quando olhei o mar de gente, suada e semi-nua, debaixo do sol. Homens sem camisas, mulheres de peito de fora. E pensei: enfim civilização.
(Matheus Ultra)

Seguindo com a história de um dos instrumentos mais legitimamente brasileiros – ainda que quase totalmente restrito às proximidades da Baía de Todos os Santos – chegamos nos anos 1980 com um grupo que, como Armandinho, era e ainda é sinônimo de Carnaval: Chiclete com Banana. Sim, eu sei que eles fizeram muita porcaria depois, quando o Axé foi vendido para todo o país a partir, em primeiro lugar, de programas como o do Chacrinha, o da Xuxa e o do Faustão. Mas a história dos primeiros anos do Chiclete com Banana, além de conter inovações que se firmaram em todos os trios elétricos (assim como Dodô, Osmar e Armandinho, dá pra resumir como a amplificação dos velhíssimos batuques de Carnaval de modo a ocupar largas avenidas e praças com povo a sair pelo ralo), também tem música muito diferente do que o Chiclete se tornaria.

A história não vai surpreender os fãs de Pink Floyd: fundada por três irmãos Marques mais o guitarrista Missinho, este último fazia a maioria das músicas e tinha um estilo bastante único nas duas guitarras, a estrangeira e a baiana. Depois de alguns anos arrastando multidões em Salvador mas apenas em Salvador, Missinho cansou e saiu quando a banda começava a decolar para o sucesso nacional.

Os discos Energia (1984) e Sementes (1985) trazem música extremamente carnavalesca e ao mesmo tempo sofisticada e original, com a marca principal do Chiclete com Banana que é a mistura de tudo e mais um pouco, sem qualquer preocupação com o que vão pensar de se misturar Miami com Copacabana, chicletes com banana, rock e tamborim, metáforas do samba do baiano Gordurinha (1922 – 1969), “Chiclete com Banana”, regravado por Gilberto Gil em 1972, nome que a banda, como de costume, usou sem pedir licença ou bênção.

É também sem um pingo de vergonha que, em Energia (1984), eles vão da estrelas ao luar, de Pink Floyd a “um forró de Luiz”, da fogueira e balão de São João ao oceano, de Cuba à guitarra de Santana. Também Xangô, Oxum e o Ilê Aiyê. Tudo isso é citado nas letras, pra não falar dos vários empréstimos rítmicos e melódicos. Há ainda truques poéticos de sinestesia psicodélica como “bailando ao som de lindos astros”…

A cabeça que juntava com poesia essas fusões improváveis era Missinho, e ele dividia os vocais principais com Bell Marques mais ou menos metade das música pra cada um cantar. Depois da saída de Missinho em 1986, Bell ficou como líder da banda, e tem até hoje uma excelente voz e carisma no palco e no trio elétrico… mas em mais de 30 anos ele e seus dois irmãos devem ter tido talvez uma ou duas ideias próprias. Então o Chiclete com Banana ficou seguindo as modas dos anos 90 e 2000 sem a guitarra de Missinho: até 2000 ainda havia o guitarrista Jhonny, cria de Missinho (convidado por este para entrar na banda quando tinha 16 anos). Mas Johnny saiu em 2000. Em 2014, Bell Marques fez seu Carnaval de despedida com o Chiclete, saindo em carreira solo por motivos exclusivamente financeiros. O Chiclete, então, seguiu com os dois irmãos Marques como uma sombra ainda mais apagada do que tinha sido.

Mas voltemos para os primeiros anos. Faz muito tempo mesmo: o presidente ainda era o general Figueiredo, tinha até Censura prévia e por motivos não muito claros duas faixas de “Energia” foram censuradas: uma delas talvez por uma leve, levíssima conotação política e a outra por conservadorismo sexual mesmo, já que tinha versos como “transa ao luar” (rimando em seguida com Ravi Shankar!), o que incomodava um tipo de gente que fazia de tudo desde que entre quatro paredes. Essas duas faixas, então, circularam apenas em meia dúzia de LPs e aparecem aqui como bonus-tracks com o chiado do vinil.

Wadinho Marques, que hoje toca teclados mas em 1984 recebeu os créditos por violão, backing vocals e autoria de uma das músicas, explica o nome da banda: “Foi um amigo nosso, Nildão, cartunista, artista plástico aqui da Bahia que sugeriu que nós colocássemos esse nome, Chiclete com Banana pelo tipo de música que a gente fazia, nós misturamos muitos ritmos, há muito tempo que nós tocamos galope, reggae, rock, frevo, então ele via isso e achava que tinha que ser representado por um nome que fosse uma mistura. E nada mais que uma mistura tão louca como chiclete com banana.”

Nildão, aliás, é o responsável pela capa deste álbum, com uma Iemanjá surfista que pode parecer um sincretismo brilhante ou inadequado, a depender de quem olha. Representa bem, então, a música do disco. O destaque maior, em termos de guitarra baiana, é a primeira faixa, Mistério das Estrelas, com um ritmo de galope irresistível, como também sabe ser irresistível, às vezes, a voz aguda* nesta faixa ou então na faixa-título de Sementes, também de autoria de Missinho e transbordantemente carnavalesca.

* A voz é a de Missinho em Mistério das Estrelas. De Bell em Sementes. Em outras, é difícil de identificar. Na capa de Sementes, acima, Missinho é o cabeludo em pé de relógio; Johnny agachado no meio e Bell Marques agachado à direita.

Chiclete com Banana: Energia (1984)
A1 O Mistério das Estrelas (Missinho)
A2 Canto De Aledê (Missinho)
A3 Sujo Astral (Bell Marques/G. Roberto)
A4 Meu Balão (Missinho)
A5 Ondas De Baião (Missinho/Beto Nascimento)
B1 Luas (Missinho/Beto Nascimento)
B2 A Cor Do Cristal (Missinho/Beto Nascimento)
B3 Bahia Cubana (Missinho/Hercules Amorim)
B4 Me Segura Que Vou Dá Um Traço (Wadinho Marques)
B5 Estrela Menina (Missinho/Beto Nascimento)
Apenas vença (faixa bônus, censurada)
Minha gatinha é macrô (faixa bônus, censurada)

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P.S.: “Hoje o que vemos é um Carnaval feito para a elite”, dizia Missinho em 2014 em entrevista de lançamento do seu disco Instrumental Guitarra Baiana (que está todo no Youtube aqui). Enquanto isso, as declaraçoes públicas de Bell Marques são do tipo “aproveita agora para parcelar em 12 vezes o seu abadá para o Carnaval do ano que vem”…

Ao ser perguntado se ele tinha o desejo de tocar novamente com alguém, Missinho disse que era um desejo impossível, pois apesar de ter conhecido grandes artistas e músicos, a companhia que gostaria de reencontrar em cima dos trios era a de Osmar [pai do Armandinho que apareceu aqui ontem]. “Ele é uma figura que deixou uma saudade muito grande. Tinha uma juventude arrebatadora. Eu tinha uns 20 anos quando toquei com ele e ficava olhando, observando e admirado sua energia. Me apaixonei de primeira pela aquela emoção. Me perguntava como ele podia ter aquela energia toda? Depois eu mesmo me respondia dizendo: poxa, um cara que inventou o trio elétrico tinha que ser assim mesmo”, disse aos risos e lamentou: “Ele faz falta no Carnaval”.

Missinho e sua guitarra baiana de 4 cordas (2014)

Pleyel

.: interlúdio :. É Carnaval! – A História da Guitarra Baiana, parte 1 – Armandinho: A Cor Do Som ao vivo em Montreux

Carnaval: celebração coletiva que afronta o individualismo e a decadência da vida em grupo; conjunto de ritos que reavivam laços contrários à diluição comunitária, fortalecem pertencimentos e sociabilidades e criam redes de proteção social nas frestas do desencanto. (Luiz Antônio Simas)

Não me leve a mal que hoje é Carnaval então vou poupá-los dos textos longos. Como sabemos, a guitarra baiana é um instrumento elétrico de tamanho mais próximo do bandolim ou do cavaquinho do que da guitarra inventada pelos gringos. Instrumento essencial nos primeiros trios elétricos de Salvador, foi inventada por Dodô e Osmar, que também inventaram o trio – em resumo um bloco carnavalesco com música microfonada e amplificada. Mas naquela época, anos 1950, o instrumento ainda era chamado “pau elétrico” ou “cavaquinho elétrico”. No fim dos 60, Armandinho, filho de Osmar, começou a fazer com o instrumento solos de linguagem guitarrística inspirada em Jimi Hendrix, mas ao mesmo tempo, é claro, sem perder a reverência a Jacob do Bandolim, ao frevo pernambucano e a ligação anual com a festa de rua mais popular de Salvador, sem falar no berimbau também típico da cidade mais africana do Brasil.

Armandinho é sinônimo de Carnaval baiano e guitarra baiana até hoje. Mas durante o resto do ano ele também tem outros talentos: no fim dos anos 1970 criou a banda A Cor do Som, com colegas cariocas também interessados em misturar o rock de Londres com coisas como o chorinho tão carioca de Ernesto Nazareth, sem esquecer a guitarra baiana.

A Cor do Som – em atividade até hoje, com alguns longos hiatos – também poderia ser entendida historicamente como uma terceira onda de influência sincrética baiana no eixo Rio-São Paulo: a maioria dos músicos fazia parte das bandas de apoio de Moraes Moreira e outros dos Novos Baianos, que por sua vez tinham esse nome para diferenciá-los da leva anterior de baianos da Tropicália (Gil, Caetano, Gal e Bethânia).

A Cor do Som: Ao Vivo em Montreux (1978)
1 Dança Saci (Mu)
2 Chegando da terra (Armandinho)
3 Arpoador (Mu/Dadi/Gustavo/Armandinho)
4 Cochabamba (Aroldo/Moraes Moreira)
5 Brejeiro (Ernesto Nazareth)
6 Espírito infantil (Mu)
7 Festa na rua (Mu/Aroldo/Dadi/Armandinho)
8 Eleanor Rigby (McCartney/Lennon)

Armandinho – guitarra baiana
Aroldo – guitarra baiana
Mú – teclados
Dadi – baixo
Gustavo – bateria
Ari – percussão

Gravado ao vivo em julho de 1978 durante apresentação no 12º Festival de Jazz no Cassino de Montreux, Suíça

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A Cor do Som em 2014 (Ary Dias, Armandinho e outros fora da foto) com participação do inesquecível Moraes Moreira

Pleyel

.: interlúdio :. McCoy Tyner – Nights of Ballads & Blues (1963)

McCoy Tyner era um pianista que, em resumo, tinha dois jeitos de tocar. Um estilo percussivo, com acordes batucados como os de My Favorite Things, sua estreia com John Coltrane e um hit em 1961. Um estilo extremamente suave, com escalas e arpejos agudos que lembram o piano de um Chopin, Fauré ou Debussy. Mas com “blue notes”, claro.

Ou seja, mais ou menos como um ator que interpretava dois tipos principais de personagem, mas entre esses dois tipos ele percorria, do pianissimo ao fortissimo, uma ampla gama de sonoridades: talvez por isso, por ter tanta preocupação com os timbres do piano de cauda, ele nunca aderiu ao piano elétrico, ao contrário de outros mais ou menos seus contemporâneos como Herbie Hancock e Chick Corea ou ainda Cesar Camargo Mariano. Breve parêntese: alguns dias atrás assisti Elis e Tom, filme que retrata a gravação do clássico LP de 1974 e ali vemos um clima tenso entre Tom Jobim (partidário do piano acústico) e C.C. Mariano (que alternava entre o Fender Rhodes elétrico e o “piano de pau”). Tensão que acaba se resolvendo: na vida como na harmonia.

Voltando para McCoy Tyner: há discos em que ele transita entre os dois estilos básicos: por exemplo Open Sesame, com o quinteto de Hubbard, ou A Love Supreme, com o quarteto de Coltrane. Já em Ballads, com Coltrane, e neste Nights of Ballads and Blues, ele harmoniza tudo com toques suaves e elegantes nas teclas do piano. O baixista Steve Davis – que, anos antes, também estava na gravação de My Favorite Things – e o baterista Lex Humphries fazem o básico, o arroz com feijão e quem brilha é sempre o piano ao longo dos quase 40 minutos.

Thelonious Monk em pintura de Edú Marron

O repertório tem um tema de Tyner, dois de Thelonious Monk, um de Duke Ellington, duas canções de filmes da época e uma outra canção de melodia facilmente cantarolável mesmo que instrumental: We’ll Be Together Again. No lado B, Blue Monk (de Monk) e Groove Waltz (de Tyner), pelo contrário, são harmonicamente mais imprevisíveis, o que torna mais difícil assobiá-las. Monk (1917-1982), embora não tenha vendido discos na casa dos milhões, era muito respeitado por seus pares e foi, junto com Ellington, o compositor de jazz com o maior número de obras gravadas por outros artistas.

McCoy Tyner – Nights of Ballads & Blues
1. Satin Doll (Ellington, Mercer, Strayhorn) – 5:40
2. We’ll Be Together Again (Fischer, Laine) – 3:40
3. ‘Round Midnight (Monk) – 6:23
4. For Heaven’s Sake (Elise Bretton, Edwards, Donald Meyer) – 3:48
5. Star Eyes (De Paul, Raye) – 5:03
6. Blue Monk (Monk) – 5:22
7. Groove Waltz (Tyner) – 5:31
8. Days of Wine and Roses (Mancini, Mercer) – 3:21

McCoy Tyner – piano
Steve Davis – bass
Lex Humphries – drums

Recorded: 4 march 1963, Van Gelder Studio, New Jersey, USA

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Pleyel

.: interlúdio :. Carla Bley – the Lost Chords find Paolo Fresu – ao vivo em Köln, 2010

Carla Bley (1936-2023) foi pianista, compositora, arranjadora, além de fases mais ligadas ao fusion, quando tocou órgão hammond, piano elétrico e mais. Uma das poucas instrumentistas mulheres a liderar grupos de jazz – na verdade só consigo lembrar de uma outra, Alice Coltrane, e o fato de ambas terem precisado também do sobrenome dos ex-maridos para se estabelecerem comercialmente diz um pouco sobre a indústria musical… Aliás, um detalhe curioso de sua biografia: tendo estudado piano desde pequena, ela se enturmou junto a outros músicos em Nova York começando em um cargo de pouco prestígio, o de vendedora de cigarros na mítica casa de shows Birdland.

O jornalista alemão Wolfgang Sandner resumiu as qualidades de Carla Bley como: “uma grande estimuladora, musa, criadora de ideias e também alguém que recusava o virtuosismo, o perfeccionismo, convencionalismo e falso pathos”.

Vários dos seus discos já foram postados aqui e comentados por PQPBach (aqui eles todos), então não vou enrolar, apenas observar que também vale a pena conhecer mais sobre o trompetista italiano Paolo Fresu que, felizmente, segue vivo!

Ah sim, já ia esquecendo, neste show de 2010 em Colônia, Alemanha, as composições tocadas são todas de Carla Bley: quatro delas foram lançadas em um disco de 2007 (que pode ser conferido no link acima) e aqui aparecem em versões mais longas, com mais improvisos. O outro tema, Vashkar, é bem mais antigo, tendo sido gravado por Paul Bley na década de 1960 e por Jaco Pastorius na de 70.

Carla Bley – the Lost Chords find Paolo Fresu – Live – MusikTriennale Köln, 2010
1. Vashkar (Carla Bley) – 10:02
2. Radio Announcement – 01:31
3. Two Banana (Carla Bley) – 04:24
4. Three Banana (Carla Bley) – 09:15
5. Four (Carla Bley) – 09:49
6. Five Banana/One Banana more (Carla Bley) – 13:24

Carla Bley – piano, organ, arranger
Paolo Fresu – trumpet
Andy Sheppard – tenor sax
Steve Swallow – bass
Billy Drummond – drums
Stadtgarten, Köln, Germany – 26/4/2010

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A Deusa Carla Bley

Pleyel

.: interlúdio :. The Moscow Male Jewish Capella – This Year in Jerusalem

Resolvi dedicar o meu primeiro post da seção “interlúdio” a um disco que comprei em uma velha noite fria na capital alemã. Um dia que ficou marcado em minha memória com alguma nitidez, já que foi a única vez em que, como gentio, tive permissão para entrar na sinagoga da Rykestraße, ao pé da Wasserturm, no coração do bairro de Prenzlauer Berg. A razão que me levou até ali, para além de uma grande curiosidade que eu tinha de conhecer o prédio, desde que morei ali pertinho, foi uma apresentação do The Moscow Male Jewish Cappella, como parte dos Jüdische Kulturtage em Berlim.

Fiquei muito tocado com o concerto, por muitos motivo. A beleza daquelas vozes em harmonia, a força ancestral daquelas canções, o próprio ato simbólico de assistir a um coral judeu russo em uma antiga sinagoga na capital alemã, uma das poucas a sobreviver à selvageria nazista da Noite dos Cristais, em novembro de 1938, por um puro capricho arquitetônico: uma vez que o prédio da sinagoga é geminado com os vizinhos, era impossível incendiá-lo sem que as chamas tomassem conta dos prédios que dividem parede com ele.

A sinagoga da Rykestraße, no bairro de Prenzlauer Berg, em Berlim

Outra lembrança marcante daquela noite foi a presença de metralhadoras, uma visão bem rara no cotidiano berlinense. A segurança daquela noite foi feita por agentes policiais fortemente armados, que caminhavam de um lado para o outro ao lado de fora da sinagoga. A luz que atravessava os vitrais formava enormes sombras desses silenciosos policiais, lembranças espectrais de que o mundo é um lugar perigoso e cheio de ódio e intolerância.

Memórias à parte, o disco que trago nesse post é um pequeno cartão de visitas do coro, fundado em 1989. Com um repertório um tanto eclético – com música tradicional judaica, jazz, Besame Mucho e um par de canções napolitanas – e arranjos que de vez em quando resvalam em divertida cafonice, ele certamente vale a audição e comprova a versatilidade do conjunto. Para quem gosta de música coral é uma pequena janela para a fortíssima tradição russa no ramo. A regência fica por conta de Alexander Tsaliuk, diretor artístico do grupo.

Nesses tempos de guerra, em que a humanidade mostra a sua pior face, é ainda mais importante que nos voltemos para as coisas belas que essa mesma humanidade cria.

Karlheinz

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1. Rachem
2. Avinu Shebashamaim
3. Liben’ke
4. Abisl Glik
5. Ierushalaim Shel Zagav
6. Ochi Cherniye
7. Jamaica
8. Puttin’ on the Ritz
9. V’Al Kulam
10. Besame Mucho
11. Ave Maria
12. Tum Balalayka
13. Moshiah
14. Shalandy
15. 7/40
16. Funiculi Funicula
17. Jerusalem
18. Statue of Liberty
19. Hava Nagila
20. Bei Mir Bist Du Schön
21. Od Yishama
22. Lekhaim
23. Papirossen
24. Avinz Malkeynu

The Moscow Male Jewish Cappella
Alexander Tsaliuk, regência

.: interlúdio :. Homenagem a Wayne Shorter — Miles Davis: Filles de Kilimanjaro (1968) / Weather Report: Procession (1983)

Wayne Shorter (1933-2023) em 1969

Limpo como a água de um rio sem qualquer traço de poluição, com as borbulhas suaves de uma cachoeira nesse rio, o som do saxofone de Wayne Shorter pode ser comparado à pureza da voz de Milton Nascimento. E por um desses acasos da vida, os dois se tornaram bons amigos. Em sua longa carreira, Shorter gravou uma imensa discografia: aqui no blog, não faz tanto tempo que PQP postou um dos seus principais álbuns como instrumentista e compositor: Schizophrenia, de 1967. Anos antes, com Freddie Hubbard (trompete) e McCoy Tyner (piano), ele participou do grande álbum Ready for Freddie (1962). Vejamos a seguir outros momentos da discografia de Wayne Shorter em dois álbuns que não têm o seu nome na capa, mas que têm nele, como compositor, instrumentista, arranjador, um dos pilares de construções musicais coletivas.

Menos conhecido que álbuns mais dançantes e acelerados como Bitches Brew, Filles de Kilimanjaro é um disco do início da fase de experimentações de Miles Davis e seu grupo com instrumentos elétricos. Um delicioso disco mais calmo, cheio de floreios de blues lento, com bastante destaque para o sax tenor de Shorter e para o piano elétrico Fender Rhodes de Herbie Hancock. A linda mulher da capa é Betty Gray Mabry – depois Betty Davis – que se casou com Miles em 1968. O casamento durou apenas cerca de um ano, mas tudo indica que foi Betty quem fez Miles escutar a música psicodélica de gente como Jimi Hendrix, além de apresentar o guitarrista – amigo dela – ao trompetista. A faixa Mademoiselle Mabry também é uma referência a Mabry e se baseia em um dos riffs mais suaves de Hendrix, o da balada The wind cries Mary, lançada em 1967.

Em álbuns posteriores como o já citado Bitches Brew (“Miles wanted to call it Witches Brew, but I suggested Bitches Brew and he said, ‘I like that’.”Betty Davis), com a chegada da guitarra elétrica de John McLaughlin e de dois ou três percussionistas, Wayne Shorter teria menos destaque no grupo de Miles, do qual ele sairia em 1970 para fundar o grupo fusion Weather Report com o tecladista Joe Zawinul.

Miles Davis Quintet: Filles de Kilimanjaro
1. Frelon Brun
2. Tout de Suite
3. Petits Machins
4. Filles de Kilimanjaro
5. Mademoiselle Mabry
6. Tout de suite (alternate take)

Miles Davis – trumpet
Wayne Shorter – tenor saxophone
Herbie Hancock – electric piano on “Tout de Suite”, “Petits Machins”, and “Filles de Kilimanjaro”
Chick Corea – piano, RMI electra-piano on “Frelon Brun” and “Mademoiselle Mabry”
Ron Carter – electric bass on “Tout de Suite”, “Petits Machins”, and “Filles de Kilimanjaro”
Dave Holland – double bass on “Frelon Brun” and “Mademoiselle Mabry”
Tony Williams – drums
Recorded: June-September 1968, New York City, USA

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Filles de Kilimanjaro (mp3 320kbps)

Os discos mais famosos do Weather Report são aqueles com o fenomenal baixista Jaco Pastorius. Mas este Procession, de 1983, pouco após a saída de Jaco, é um outro interessante momento da discografia de Wayne Shorter que não merece ser esquecido. Se a faixa Where the Moon Goes, que dá início ao lado B do LP, inclui um coral com efeitos que alguns ouvidos não vão aprovar (os meus desaprovam), nas composições de Shorter – Plaza Real e The Well – temos aquele sax de som puro e calmo que mencionei lá em cima, associado aos sons muito originais dos sintetizadores de Zawinul e ao pau comendo nas percussões, que utilizam inovações dos anos 1980 sem soarem bregas, ao contrário de outros bateristas que abusararam de reverb e outros efeitos de gosto duvidoso naquela década.

Weather Report: Procession
1. Procession (Josef Zawinul)
2. Plaza Real (Wayne Shorter)
3. Two Lines (Zawinul)
4. Where the Moon Goes (Zawinul, lyrics by Nan O’Byrne and Zawinul)
5. The Well (Shorter, Zawinul)
6. Molasses Run (Omar Hakim)

Josef Zawinul – keyboards
Wayne Shorter – tenor and soprano saxophones
Omar Hakim – drums, guitar, vocals
Victor Bailey – bass
José Rossy – percussion, concertina
The Manhattan Transfer – vocals on “Where the Moon Goes”

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Procession (mp3 320kbps)

Wayne Shorter & Joe Zawinul, 2007

Pleyel

.: interlúdio :. Ithamara Koorax: Rio Vermelho (1995)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 31/12/2015

.Senhorxs: sei que este último dia de 2015 já está carregado até não poder mais de postagens tremendas, mas, desculpem, eu não posso deixar virar para 2016 sem registrar o vigésimo ano deste disco que considero um “unicum”, isto é: sem similar.

Ithamara é mais um desses casos de brasileirx vítima do nosso complexo de vira-lata endêmico: indicada não sei quantas vezes pela Downbeat entre as principais cantoras de jazz do mundo, diva absoluta no Japão, e ainda – ai! – “Ithamara quem?” para a maior parte dos brasileiros – isso quando este disco contém nada menos que a última gravação de Tom Jobim (no piano de algumas faixas); solos inacreditáveis de Ron Carter ao baixo; Luiz Bonfá, Marcos Valle, Paulo Malaguti e o próprio Tom entre os arranjadores – etc. etc.

Mas não deixo de compreender que, para brasileiros, ouvir sua própria música dita “popular” interpretada assim tenha que causar alguma estranheza. É realmente incomum – e tanto, que eu mesmo tenho dificuldades em colocar em palavras de que modo é incomum. Minha hipótese principal: por uma lado, Ithamara faz uma leitura instrumental da melodia – quero dizer, usando a voz como um instrumento solista, muitas vezes a-lu-ci-na-da-men-te; por outro, não esquece o texto, mas faz dele uma leitura teatral, de alta dramaticidade. São duas intensidades simultâneas tão altas que o resultado definitivamente não cabe em situação assim como embalar um jantar: ou você embarca e navega junto, ou se sente jogado para lá e para cá pela turbulência; sem paz – o que parece chegar ao extremo nas duas faixas em inglês, Cry me a river e Empty glass.

Quanto às onze faixas em português, admito que algo dificulta a fruição do disco até para mim: seis delas são um revival da chamada “música de fossa”, ou “música de dor de cotovelo” (ou mesmo sete, se incluirmos ‘Retrato em branco e preto’ nessa categoria) – sendo cinco numa sequência só. Ora, justamente com as leituras de La Koorax, isso pode ser uma travessia de efetivo risco para depressivos e bipolares… Se eu avalio que há um erro neste disco, é este excesso – entre tantos outros excessos que resultaram felizes!

‘Rio Vermelho’ foi o terceiro disco de Ithamara. Conheço bem este e o segundo, ‘Ao Vivo’, um pouco menos colorido timbristicamente porém igualmente intenso – mas conheço pouco dos posteriores, pois me passaram a impressão de que os produtores internacionais tenham conseguido domar um tanto o vulcão inventivo da artista – com o que confesso que meu interesse caiu um pouco.

Estarei dizendo que acho que na média Ithamara pode ter ficado sendo uma cantora menor? Não! Não acho que arte comporte esse tipo de cálculo mesquinho. Para mim, uma sílaba pode ser bastante para consagrar um(a) artista. No caso, sugiro que ouçam com atenção o gradualíssimo crescendo de tensão em Retrato em branco e preto, até a sílaba -CA- de “pecado”. Vocês me considerarão completamente maluco se seu disser que dentro dessa sílaba eu vejo se abrir uma paisagem tão ampla quanto as do Planalto Central, ou quem sabe a de algum mirante da Serra do Mar?

Pois bem: a uma cantora que conseguiu fazer isso comigo eu jamais admitirei que alguém venha a chamar de “menor” – seja lá o que houver feito ou deixado de fazer depois!

ITHAMARA KOORAX : RIO VERMELHO
Data de gravação: outubro de 1994
Data de lançamento: abril de 1995

1. Sonho de Um Sonho (Martinho da Vila/R. De Souza/T. Graúna) – 3:50
2. Retrato Em Branco E Preto (Buarque/Jobim) – 5:38
3. Correnteza (Bonfá/Jobim) – 6:41
4. Preciso Aprender a Ser Só (Valle/Valle) – 4:54
5. Tudo Acabado (Martins/Piedade) – 5:26
6. Ternura Antiga (Duran/Ribamar) – 3:48
7. Não Sei (DeOliveira/Gaya) [d’aprés Chopin] – 4:27
8. É Preciso Dizer Adeus (de Moraes/Jobim) – 3:36
9. Cry Me a River (Hamilton) – 6:06
10. Índia (Flores/Fortuna/Guerreiro) – 7:05
11. Rio Vermelho (Bastos/Caymmi/Nascimento) – 3:44
12. Se Queres Saber (Peter Pan) – 8:14
13. Empty Glass (Bonfá/Manning) – 4:02

Ithamara Koorax – Arranger, Vocals, Executive Producer
Antonio Carlos Jobim – Piano, Arranger
Luiz Bonfá – Guitar, Arranger
Ron Carter – Bass
Sadao Watanabe – Sax (Alto)
José Roberto Bertrami – Arranger, Keyboards
Arnaldo DeSouteiro – Arranger, Producer
Jamil Joanes – Bass (Electric)
Carlos Malta – Flute (Bass), Sax (Tenor)
Pascoal Meirelles – Drums
Paulo Sérgio Santos – Clarinet
Marcos Valle – Arranger, Keyboards
Mauricio Carrilho – Guitar (Acoustic), Arranger
Daniel Garcia – Sax (Soprano), Sax (Tenor)
Paulo Malaguti – Piano, Arranger, Keyboards
Sidinho Moreira – Percussion, Conga
Marcos Sabóia – Engineer, Mixing
Otto Dreschler – Engineer
Fabrício de Francesco – Engineer
Rodrigo de Castro Lopes – Engineer, Mastering
Livio Campos – Cover Photo
Hildebrando de Castro – Cover Design, Cover Art
Celso Brando – Liner Photo
Christian Mainhard – Artwork

. . . . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

[restaurado com carinho e saudades por Vassily em 14/3/2023, como parte das homenagens a Ranulfus e ao Dia Internacional da Mulher]

.: interlúdio :. John Coltrane & Don Cherry – The Avant-Garde (1960) / John Coltrane & Rashied Ali – Interstellar Space (1967)

Dois discos de John Coltrane sem piano, e essa ausência não é apenas uma curiosidade: faz toda diferença… O primeiro foi gravado em 1960 com três músicos da banda de Ornette Coleman, com três da cinco composições também assinadas por Coleman: ele e Coltrane tinham uma admiração mútua um pelo outro, embora nunca tenham gravado juntos. E as bandas de Coleman quase nunca contavam com pianistas, o que fazia parte de seu som característico, mais baseado em solos do que em acordes, e que receberia o nome de Free Jazz a partir do álbum com este nome, que seria gravado seis meses depois dessas sessões comandadas por Don Cherry e John Coltrane. (Outros saxofonistas, como Eric Dolphy e Archie Shepp, que surgem após Coltrane e Coleman, vão liderar bandas também sem piano, à vezes com o vibrafone ocupando o espaço dos agudos…)

Curioso, porém, que o disco, no qual Cherry e Coltrane estão em pé de igualdade, dividindo solos em cada faixa, não soe tão livre assim, pelo contrário, às vezes fica uma certa impressão de fórmula aplicada a cada uma das jams, com trompete e sax introduzindo as melodias em uníssono e depois dividindo solos, o trompete com seu som mais nasal e o sax mais “redondo”, sem as “cascatas sonoras” (sheets of sound) que Coltrane fazia em outros álbuns daquele período. Ou seja: alguns grandes solos, belas melodias de Ornette Coleman e Thelonius Monk, mas paradoxalmente organizadas de forma pouco livre, com um jeitão, se me permitem abusar de mais um anglicismo, um jeitão de “one size fits all”. Das suas gravações como convidado com bandas de colegas, Coltrane soa mais livre no disco Bags & Trane, de 1959.

John Coltrane & Don Cherry: The Avant-Garde
1. Cherryco (Don Cherry) – 6:47
2. Focus on Sanity (Ornette Coleman) – 12:15
3. The Blessing (Ornette Coleman) – 7:53
4. The Invisible (Ornette Coleman) – 4:15
5. Bemsha Swing (Thelonious Monk, Denzil Best) – 5:05

John Coltrane – tenor and soprano saxophone
Don Cherry – cornet
Charlie Haden – double bass (tracks 1, 3)
Percy Heath – double bass (tracks 2, 4, 5)
Ed Blackwell – drums
Recorded: June 28, 1960; July 8, 1960 / Released: 1966

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Coltrane (1926-1967) vive em uma rua em Denver, EUA

Quatro meses após as sessões de The Avant-Garde, Coltrane gravaria My Favorite Things e, devido ao grande sucesso não só artístico como comercial deste LP, ele não mais faria outras gravações com bandas alheias: tocaria sempre com o piano de McCoy Tyner e a bateria de Elvin Jones, até o fim de 1965. O baixista variava (às vezes, dois baixos!) e, às vezes, chamava mais alguém nos sopros, como Eric Dolphy e Freddie Hubbard. Como escreveu David Stoesz, no fim do ano de 1965, Coltrane  entrou em um território tão “far out” que os seus leais companheiros — o “quarteto clássico” que havia gravado A Love Supreme e Crescent — não o seguia mais. O que ele buscava eram sentimentos puros, para além de notas e certamente para além de algo tão mundano como acordes.

Do fim de 1965 em diante, teria sempre ao seu lado o piano de Alice Coltrane. Não fez mais freelances… confiram o último mês em que Coltrane tocaria ao vivo e em estúdio com o grupo de Miles Davis: março de 1961, mesmo mês de lançamento de My Favorite Things

Então o disco Interstellar Space, gravado em fevereiro de 1967, é uma raridade por apresentar novamente um Coltrane sem piano (e agora sem baixo), apenas com bateria e, agora sim, absolutamente livre. Dessa vez, após alguns anos que lhe trariam mais experiência e várias viradas de rumo, Coltrane soa sem amarras, nada parece planejado, a começar por aquela própria seção de gravação, se acreditarmos no jornalista Ben Ratliff: segundo ele, Interstellar Space foi gravado em um dia em que Rashied Ali (na banda de Coltrane desde 65) chegou no estúdio em New Jersey e não encontro nenhum outro músico, para logo depois ver Coltrane chegar:

Soon Coltrane arrived. / “Ain’t nobody coming?” he said to Coltrane. / “No, it’s just you and me.” / “What are we playing? Is it fast? Is it slow?” / “Whatever you want it to be. Come on. I’m going to ring some bells.”

Coltrane improvisou acompanhado apenas do baterista Rashied Ali, alçando alguns de seus voos mais altos e ao mesmo tempo incompreensíveis. Se você estiver iniciando sua jornada pela discografia do saxofonista, ouça primeiro alguma coisa de 1959 a 1964 e chegue aqui só depois de se apaixonar pelo timbre de Coltrane, sua maneira de respirar e de “fazer arte” (também no sentido de quem fala em crianças “fazendo arte”, ou seja, bagunça). No LP (lançado em 1974) temos a informação de que a música foi produzida por John Coltrane e o álbum, por Ed Michel e Alice Coltrane – suponho que o papel desses dois tenha sido, entre outros detalhes, nomear as faixas e escolher a ordem delas no disco. No CD (1991), temos duas faixas adicionais que entram no meio da bagunça de uma forma coesa, afinal foram gravadas no mesmo dia pela mesma dupla.

Aqui, só temas novos, não há espaço para standards de outros compositores – embora nos shows ao vivo da época ainda aparecessem versões muito peculiares de My Favorite Things e Naima (de Giant Steps, de 1959). Esses dois álbuns citados, e em um grau ainda maior A Love Supreme (1964), transformaram John Coltrane em uma celebridade internacional e ele poderia passar muitos anos repetindo a formação de quarteto e lotando show dos dois lados do Atlântico Norte. Mas se repetir certamente não era o objetivo de John Coltrane, ele queria sempre fazer algo novo e desde 1961 já havia inovado em outras formações, seja com mais músicos ou com menos e, nesse caso, uma forma de bagunçar o coreto era com só dois instrumentistas tocando: Saxofone e Bateria/Percussão. Sem baixo e piano, os improvisos podiam seguir ainda mais livres: é assim, sozinho com Elvin Jones, que ele toca já em 1961 em alguns trechos da faixa Chasin’ the Trane do disco “Live at the Village Vanguard”. No ano seguinte, o piano também se calava na metade final de Traneing In ao vivo na Suécia, lançada no disco póstumo “Bye Bye Blackbird”, além de alguns trechos de Crescent, disco de 1964… Mas um disco inteiro de saxofone e percussões, só em Interstellar Space.

John Coltrane & Rashied Ali: Interstellar Space
1 Mars 10:41
2 Venus 8:28
3 Jupiter 5:22
4 Saturn 11:33
5 Leo 10:53
6 Jupiter Variation 6:44

John Coltrane – tenor saxophone, bells, producer
Rashied Ali – drums
Recorded February 22, 1967 at Van Gelder Recording Studio, Englewood Cliffs, New Jersey; Released September 1974

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Rashied Ali (1935-2009)

Tony Whyton wrote that the tracks on Interstellar Space “clearly demonstrate the full glory of Coltrane’s late style”[32] and notes that “the removal of identifiable structures, a steady pulse, and clear sense of meter opens up the music and removes familiar aids of orientation for the listener. In this respect, although Coltrane’s sound and approach can be understood as part of the same continuum, the context has changed dramatically to the point where the music is clearly experienced more as an immediate sensation. This leads to recordings such as Interstellar Space being received as musical processes rather than as products; they encourage us to listen in the here and now as opposed to assimilating what has happened before and predicting what will happen next.”

Pleyel

.: interlúdio :. John Coltrane ao vivo, 1961: Village Vanguard (NYC, USA) (“Live” e “Impressions”)

Ao contrário das gravações ao vivo na Europa postadas aqui dias atrás, feitas por rádio ou TV e lançadas postumamente, esses dois discos de hoje foram produzidos com a participação de John Coltrane e sua gravadora, a partir de momentos selecionados em uma temporada de quatro concertos no Village Vanguard, famosa casa em Nova York.

Por um lado, temos o selo de aprovação dos músicos para o lançamento. Por outro lado, há um certo ar de colagem de datas diferentes, sem aquela sensação de um show com início, meio e fim. Só foram selecionados temas inéditos, deixando de fora músicas que eram comuns nos set lists do quinteto de Coltrane à época, como My Favorite Things, do álbum homônimo; Naima, de Giant Steps; e Greensleeves, lançada meses antes em Africa/Brass.

O clarinete baixo de Eric Dolphy soa em complemento ao sax de Coltrane em Spiritual, composição inspirada na música vocal devocional afro-americana, e que traz indícios do que faria Coltrane bem depois a partir de A Love Supreme. Mas se quiserem ouvir Eric Dolphy tocando flauta com o acompanhamento elegante do piano de McCoy Tyner, aí só ouvindo outros shows…

Inamu Baraka, autor de livros sobre jazz, assistiu John Coltrane ao vivo várias vezes e escreveu:
“There is a daringly human quality to John Coltrane’s music that makes itself felt, wherever he records. If you can hear, this music will make you think of a lot of weird and wonderful things. You might even become one of them.”

John Coltrane – Live at the Village Vanguard, 1961
1. Spiritual
2. Softly As In A Morning Sunrise
3. Chasin’ The Trane

John Coltrane — soprano and tenor saxophone
Eric Dolphy — bass clarinet on “Spiritual”
McCoy Tyner — piano on 1, 2
Reggie Workman — bass on 1, 2
Jimmy Garrison — bass on 3
Elvin Jones — drums
Recorded: November 1961, Village Vanguard, NYC, USA

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Live at the Village Vanguard (mp3 320kbps)

Eric Dolphy & John Coltrane

Impressions não se apresenta na capa como um disco ao vivo, mas as suas duas faixas mais longas – India e Impressions, cada uma por volta dos 15 minutos – foram gravadas ao vivo no Village Vanguard em 1961. As três faixas curtas, porém, foram gravadas em estúdio e na formação de quarteto, sem Dolphy. Apesar desse jeitão de colcha de retalhos, é considerado um dos pontos altos de Coltrane, especialmente devido à parte ao vivo. No início de 1963 o quarteto gravou em estúdio a composição Impressions, mas devem ter preferido a gravação ao vivo de 61, que lançaram em julho de 63. Só em 2018, no álbum “Both Directions at Once” (outra colcha de retalhos supervisionada pelo filho de John Coltrane), foi lançada a Impressions de estúdio. Para uma outra versão dela ao vivo e em vídeo, confiram o quinteto em Baden-Baden, Alemanha, aqui.
Em India, assim como em Olé Coltrane (gravada em estúdio meses antes), temos dois baixistas servindo como chão para os outros músicos se aventurarem por toques exóticos e escalas inspiradas em outros países. As faixas gravadas em estúdio e lançadas nesse disco Impressions (nº 2, 4 e 5) são, ao menos para mim, mais fracas: não sei apontar o motivo ou circunstância, mas naquele período (1962-63) algumas gravações de estúdio do quarteto de Coltrane, embora com extrema competência e bom gosto, parecem mostrar um certo bloqueio de criatividade, que seria definitivamente superado em 1964 com os discos de estúdio Crescent e A Love Supreme.

John Coltrane – Impressions
1. India (Live, November 3 1961, Village Vanguard)
2. Up ‘Gainst the Wall (September 18 1962, Van Gelder Studio)
3. Impressions (Live, November 3 1961, Village Vanguard)
4. After the Rain (April 29 1963, Van Gelder Studio)
5. Dear Old Stockholm (April 29 1963, Van Gelder Studio, CD reissue bonus track)

John Coltrane – soprano and tenor saxophone
Eric Dolphy – bass clarinet (track 1), alto sax (track 3, final chord only)
McCoy Tyner – piano (tracks 1, 3, 4, and 5)
Jimmy Garrison – double bass
Reggie Workman – double bass (track 1)
Elvin Jones – drums (tracks 1, 2, and 3)
Roy Haynes – drums (tracks 4 and 5)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Impressions (mp3 320kbps)

Elvin Jones (bateria) e John Coltrane (sax soprano) em Baden-Baden, 1961, um mês após os shows no Village Vanguard

Pleyel

.: interlúdio :. John Coltrane Quintet with Eric Dolphy – Live, 1961: Copenhagen, Baden-Baden, Paris

John Coltrane devia ter muitos admiradores em Copenhagen, porque após este show gravado em excelente qualidade de áudio na segunda-feira 20/11/1961, e após circular por outros países da Europa do norte, seu quinteto voltaria à capital da Dinamarca para um segundo show no domingo 26/11.

Além de faixas mais comuns no repertório de Coltrane, como Impressions, Naima e a balada de Cole Porter Ev’ry Time We Say Goodbye, o destaque do show de Copenhagen é Delilah, um tema de tipo orientalista (no sentido de Edward Saïd: um oriente mais nos olhos de quem vê) que, antes de ser introduzida ao mundo do jazz pelo timbre cool do trompete de Clifford Brown, havia sido composta como parte da trilha sonora de um Sansão e Dalila, superprodução bíblica de Hollywood em 1949. Aqui, esse tema serve para o quinteto “se esquentar”: começando meio lenta e também cool, a música ganha solos sucessivos de Coltrane e Dolphy, depois um de Tyner, para finalmente decolar nas notas rápidas do sax soprano de Coltrane nos minutos finais…

Jones na bateria, Coltrane no sax soprano (Baden-Baden 1961)

O outro destaque dessa turnê europeia foi o show em um estúdio de TV em Baden-Baden, Alemanha, todo gravado em som e vídeo, coisa rara na época. O quinteto de Coltrane certamente tinha algum grau de estranhamento com a ideia de serem gravados pelas diversas câmeras de um estúdio de TV. As câmeras, para músicos de jazz naquela época, eram bem mais raras do que os gravadores. Então eles escolheram o repertório mais tocado, para não correrem riscos: três temas que apareciam em quase todas as apresentações de 1961 e 62. Dois deles haviam sido lançados no LP My Favorite Things e o terceiro (a composição modal Impressions) ainda era inédito para os públicos mas vinha sendo retrabalhado pelo grupo praticamente a cada noite. Talvez seja o único registro em vídeo do grupo de Coltrane ainda com Reggie Workman, que sairia no ano seguinte. É verdade que Jimmy Garrison duraria mais tempo com Coltrane e faria solos mais longos (hipótese: os solos de baixo e bateria entram em 1962 para cobrir o buraco com a saída de Dolphy?) Mas Workman – que esteve em gravações como Olé Coltrane, Africa/Brass, Village Vanguard – também é um baixista sofisticado que, nas últimas notas de Ev’ry time we say goodbye, ataca o contrabaixo com o arco, como dá pra ver no vídeo mais abaixo, que também segue para download, para os excêntricos que ainda baixam vídeos.

Jones na bateria, Dolphy na flauta (Baden-Baden 1961)

A My Favorite Things de Copenhagen deve ser uma das mais longas já tocadas por Coltrane: dura 28 minutos com longos solos de (nesta ordem) Tyner no piano, Dolphy na flauta e Coltrane no sax. Pra não dizerem que não avisei: enquanto o solo de Tyner é brilhante mas ao mesmo tempo harmonicamente situado nas mudanças de acordes da versão do LP de 1960, o solo de flauta de Dolphy é bem mais free jazz, sem medo de em certos momentos soar em desalinho com os outros instrumentos. Já na “Things” de Baden-Baden, o quinteto funciona sob a pressão do relógio da gravação televisiva, o que por um lado poda as alturas alcançáveis, mas por outro lado coloca restrições que levam os músicos a inventar novas ideias.. O solo de pouco menos de 3 minutos de Dolphy na flauta (dos 6 aos 9 minutos do vídeo) é uma verdadeira obra-prima do improviso jazzístico.

Com uma qualidade de gravação pior e, portanto, apenas para os fãs mais dedicados – embora em primeiro na lista abaixo que é cronológica na ordem da turnê – temos o show no Olympia de Paris, outra grande casa de espetáculos, em atividade até hoje e com lugares para cerca de duas mil pessoas. Ali, o quinteto toca Blue Train, do disco homônimo de 1957-58, o primeiro lançado por Coltrane como artista principal e não coadjuvante. Blue Train começa com frases em uníssono dos dois saxofones (tenor de Coltrane, alto de Dolphy), que soam bastante interessantes com o eco da sala L’Olympia. Mas a gravação (que, pelo eco, podemos supor que foi feita da plateia e não do palco ou da mesa de som) deixa a desejar sobretudo nos detalhes de piano, baixo e bateria. Então as prioridades são o show em Copenhagen e a sessão televisionada em Baden-Baden.

John Coltrane Quintet:
L’Olympia, Paris – November 18, 1961 (late show)
1. Blue Train (J. Coltrane)
2. I Want to Talk About You (Billy Eckstine)
3. My Favorite Things (Rogers/Hammerstein)

Falconer Salen, Copenhagen – November 20, 1961
1. Intro by Norman Granz
2. Delilah (Victor Young)
3. Ev’ry Time We Say Goodbye
4. Impressions (J. Coltrane)
5. Naima (J. Coltrane)
6. My Favorite Things (false start) > Announcement by Coltrane
7. My Favorite Things (Rogers/Hammerstein)

Südwestfunk TV Studio, Baden-Baden – December 4, 1961
1. My Favorite Things (Rogers/Hammerstein) 11:06
2. Ev’ry Time We Say Goodbye (C. Porter) 5:25
3. Impressions (J. Coltrane) 7:30

Tenor Saxophone, Soprano Saxophone – John Coltrane
Alto Saxophone, Bass Clarinet, Flute – Eric Dolphy
Piano – McCoy Tyner
Drums – Elvin Jones
Bass – Reggie Workman

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (link para pasta com os três shows separados)

McCoy Tyner, durante o solo, olha para o piano – reparem que na outra foto abaixo ele olha para Coltrane enquanto o acompanha
Jones, Coltrane (sax soprano), Workman, Tyner: Baden-Baden 1961
Workman (baixo), Coltrane (sax tenor), Dolphy (sax alto) em Baden-Baden, 1961

Dolphy died on June 29, 1964 in a diabetic coma, leaving a short but tremendous legacy in the jazz world. He was quickly honored with his induction into the Down Beat magazine Hall of Fame in 1964. Coltrane paid tribute to Dolphy in an interview: “Whatever I’d say would be an understatement. I can only say my life was made much better by knowing him. He was one of the greatest people I’ve ever known, as a man, a friend, and a musician.”

Recebendo Prêmio Edison no Concertgebouw de Amsterdam (1961)

Pleyel

.: interlúdio :. John Coltrane: Meditations (1965)

Após o sucesso dos álbuns Giant Steps (1959-60), My Favorite Things (1960-61) e A Love Supreme (1964), John Coltrane era uma celebridade internacional e ele poderia passar muitos anos repetindo a formação de quarteto e lotando show dos dois lados do Atlântico Norte, ganhando prêmios e, claro, dinheiro.

Mas se repetir certamente não era o objetivo de Coltrane. No álbum Meditations, gravado em 1965, temos o quarteto “clássico” dos anos anteriores aumentado para sexteto com o saxofone de Pharoah Sanders e a a percussão de Rashied Ali. Mas na maior parte do tempo o piano e o baixo ficam mais discretos e o foco musical circula entre saxofones e percussão. Há exceções, como o fim de Consequences e o início de Serenity, onde finalmente temos uma participação mais marcante do pianista McCoy Tyner.

Através de sua carreira, a música de Coltrane foi tomando progressivamente uma dimensão espiritual. Ele dizia que, após esse acordar espiritual, “não dá mais para esquecê-lo. Torna-se parte de tudo que você faz. Nesse aspecto, este álbum é uma extensão de A Love Supreme, já que minha concepção dessa força continua mudando. Meu objetivo ao meditar sobre isso pela música, no entanto, continua o mesmo. É colocar as pessoas para cima, o máximo que eu posso. Inspirá-las a realizar mais e mais da sua capacidade de ter vidas cheias de sentido. Porque certamente há sentido na vida.” (John Coltrane no booklet de Meditations)

Por volta de 1957-58 ele havia largado o vício em álcool e heroína, embora essas substâncias sejam a provável causa do câncer de fígado que causaria sua morte aos 40 anos. E a partir desses fins dos anos 50, sua música vai se tornando cada vez mais permeada de religiosidade em um sentido amplo pois, como Coltrane dizia, “Acredito em todas as religiões”.

Rashied Ali (1935-2009) com vergonha de sorrir pra câmera

Ao mesmo tempo a música do Coltrane dos últimos anos vai se tornando mais estranha e inovadora, também, com influências do free jazz de Ornette Coleman e de Eric Dolphy (que tocou com Coltrane por cerca de um ano em 1961-62). Em Meditations, gravado em novembro de 1965, temos dois bateristas – e outra característica da última fase de Coltrane é a presença mais forte da percussão nos arranjos. Dizia ele que sentia necessidade de “mais ritmo ao meu redor. E com mais de um baterista, o ritmo pode ser mais multi-direcional.” Trata-se do último álbum com a presença do grande pianista McCoy Tyner, que por tantos anos fez a cama sonora para Coltrane brilhar. Justamente esse chão harmônico de Tyner não era mais o que Coltrane buscava a partir de meados de 1965, e o oposto também é verdadeiro: Tyner parecia um pouco sufocado pelas percussões intensas e, em muitos momentos de Meditations, sua participação é discreta, apesar de dois belos solos, sobretudo o do final de Consequences. Poucos meses depois, Tyner sairia do grupo (“I didn’t see myself making any contribution to that music… I didn’t have any feeling for the music, and when I don’t have feelings, I don’t play”), após mais de cinco anos juntos. Entraria no seu lugar Alice Coltrane, que já era uma pianista de longa carreira antes de adquirir esse sobrenome de casada. Com um estilo mais baseado em notas soltas e menos em acordes, ela se encaixaria bem nessa última fase da banda. Depois da morte de John, Alice gravaria alguns álbuns com Pharoah no sax, Garrison no baixo e/ou Rashied na bateria.

Enquanto o pianista Tyner estava perto de sair, o saxofonista Pharoah Sanders era um recém-chegado. O álbum utiliza bem a tecnologia stero, ainda recente à época, apenas por volta de 1958 surgem no mercado vitrolas capazes de reproduzir em dois canais separados, enquanto as transmissões de rádio FM em stereo se iniciaram em 1960. Sanders toca no canal direito, Coltrane no canel esquerdo (com fone de ouvido isso fica mais evidente… e os dois bateristas também estão um de cada lado!) Quando fazia uma dobradinha de saxofonistas com Cannonball Adderley (fim dos anos 50) ou com Eric Dolphy (início dos anos 60), Coltrane e seu colega frequentemente tocavam instrumentos de tamanho e alcance diferente: um no sax tenor e um no sax alto ou soprano, ou ainda no clarinete baixo. Aqui nessa fase final da carreira de Coltrane, que infelizmente durou apenas dois anos até sua morte precoce, Pharoah Sanders – que estava vivo e tocando fantasticamente até 2022 – toca um sax tenor igual ao de Coltrane, mas cada um com um timbre diferente, ao mesmo tempo em que um influencia o outro: muitos momentos de sopro intenso, forte e dando a impressão de estar forçando o instrumento para além do seu limite sonoro nos agudos…

Mas como Coltrane diz na entrevista que aparece no encarte de Meditations, não se chega nunca nesse limite:

“Nunca existe um fim”, Coltrane disse ao concluir nossa conversa sobre este álbum. “Sempre existem novos sons para se imaginar, novos sentimentos para se alcançar. E sempre há a necessidade de seguir purificando esses sentimentos e sons para vermos o que nós descobrimos no seu estado mais puro. Então podemos ver mais e mais claramente o que nós somos. Dessa forma, podemos chegar à essência, ao melhor do que somos. Mas para isso, a cada momento, temos que estar sempre limpando o espelho.”

Entenderam? Mais ou menos, né? Se fosse fácil de entender, não teria tanta graça…

John Coltrane: Meditations
1. The Father and the Son and the Holy Ghost
2. Compassion
3. Love
4. Consequences
5. Serenity

Personnel
John Coltrane – tenor saxophone, percussion (left channel)
Pharoah Sanders – tenor saxophone, tambourine, bells (right channel)
McCoy Tyner – piano
Jimmy Garrison – bass
Elvin Jones – drums (right channel)
Rashied Ali – drums (left channel)

Released: August 1966
Recorded: November 23, 1965, Van Gelder Studio, New Jersey
All tracks written by John Coltrane

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE 

Pharoah Sanders em 1969

Pleyel

.: interlúdio :. John Coltrane Quartet – Live, 1962: Konserthuset (Estocolmo, Suécia) e Stefaniensaal (Graz, Áustria)

McCoy Tyner em 1961

O instrumento mais próximo do meu coração é o piano, por mais que dezenas de outros disputem minha preferência: flauta, reco-reco, cuíca, órgão, sintetizador… Não tem jeito, desde bebê gorducho tenho fotos em um velho e desafinado piano de armário da família, não um Pleyel francês mas um Bentley inglês. Não me considero um pianista, mas uns dias atrás me sentei em frente a um Essenfelder em um bar praiano e, após algumas cervejas, acompanhei o amigo que tocava violão, tudo no improviso, apenas dando uma olhada nos acordes que ele tocava… posso dizer que não fiz muito feio, até porque a maresia tinha comido várias notas médias então tive uma boa desculpa para me concentrar em terças agudas fortes e extremos graves suaves… E os amigos alcoolizados foram pouco exigentes.

E nesses dias quentes, meu coração tem batido novamente por John Coltrane, mais especificamente pela sua íntima relação com o pianista McCoy Tyner, que tocou com ele de 1960 a 65. Quando Tyner não estava disponível, Coltrane tocava sem piano, com a exceção de uma gravação com Duke Ellington, um ídolo bem mais velho para quem não seria possível dizer não…

McCoy Tyner tinha 22 anos quando começou a tocar no quarteto de Coltrane, mas já estava pronto musicalmente, com todas as suas características: um toque percussivo, agressivo quando necessário, mas harmonicamente muito elegante, preciso, ao contrário da suavidade de um Bill Evans ou da agressividade de um Thelonious Monk, que se dava tanto em termos de peso nas mãos quanto de harmonias (intencionalmente?) caóticas – um crítico chamou Monk de “elephant on the keyboard”! Tyner era agressivo no toque, na dinâmica, dançante e negro nos ritmos (negro demais no coração, diria o Vinícius de Moraes), e ao mesmo tempo com harmonias e arpejos que daria pra confundir com um Chopin.

Outra característica de Tyner é sua facilidade com melodias cantáveis de standards como, nesse ao vivo na Áustria, Autumn Leaves (que Nat King Cole e vários outros gravaram) e Ev’ry Time We Say Goodbye (canção de Cole Porter). Essas duas canções têm melodias tão notáveis que Coltrane e Tyner nem precisam se esforçar tanto, é só seguirem a linha melódica e harmônica, é bola pronta pra chutar pro gol. Esse tipo de invenção jazzística mais contida sobre melodias notáveis ocupa todo o álbum Ballads, gravado em estúdio nos EUA apenas uma semana antes da turnê europeia que rendeu estes registros ao vivo, embora nenhum tema de Ballads apareça aqui.

Já em Bye-Bye Blackbird e My Favorite Things, melodias mais simples e banais, o quarteto faz um jazz bem mais modal, no qual a melodia original é apenas um pretexto inicial para invenções ao sabor do momento. Também é tipicamente modal a composição Impressions, do próprio John Coltrane, e que aparece no concerto na Áustria em um andamento mais lento e relaxado do que na gravação (também ao vivo) de 1961 no álbum de mesmo nome. Irmã de So What, do disco Kind of Blue no qual Coltrane também tocou, Impressions tem a mesma sequência de modos da composição de Miles Davis, que vão se repetindo tendo sempre o piano de Tyner como a cama, o chão.

O outro álbum que trago hoje, gravado na Suécia no mesmo mês de 1962, não tem o show inteiro, apenas dois destaques longos e cheios de improvisos: o standard Bye Bye Blackbird (de novo) e a autoral Traneing in. Lançado em 1981, este álbum ao vivo deu a Coltrane um Grammy póstumo de melhor performance de jazz instrumental.

John Coltrane Quartet: Konserthuset Stockholm, Sweden, 19 November 1962
1 Bye Bye Blackbird
2 Traneing In

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John Coltrane logo após descer do avião (aeroporto de Schiphol-Amsterdam)

John Coltrane Quartet: Grosser Stefanien-Saal, Graz, Austria, 28 November 1962
1 Bye Bye Blackbird
2 The Inchworm
3 Autumn Leaves
4 Every Time We Say Goodbye
5 Mr. P.C.
6 I Want to Talk About You
7 Impressions
8 My Favorite Things

ORF Radio Broadcast

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John Coltrane – tenor and soprano saxophones
McCoy Tyner – piano
Jimmy Garrison – double bass
Elvin Jones – drums

Um outro detalhe curioso: o quarteto de Coltrane podia brilhar tanto em grandes salas de concerto na Europa com cerca de 2 mil assentos (além dessas de Graz e Estocolmo, o Concertgebouw de Amsterdam e o Olympia de Paris), como também em inferninhos americanos. De forma geral, as grandes salas de concerto nos EUA pareciam menos abertas ao jazz: talvez a única aparição de Coltrane no Carnegie Hall tenha sido em um enorme evento beneficente em 1957 que incluía o saxofonista na banda de Thelonius Monk além de Billie Holiday, etc. Na Filadélfia, terra natal de Coltrane e Tyner, não sei se eles tocaram nas salas onde se apresentava na época a grande orquestra local com Eugene Ormandy, mas sei que em 1963 o quarteto de Coltrane se apresentou algumas vezes no Showboat, localizado no porão de um hotel, com capacidade para 200 pessoas bem apertadas, que pediam drinks aos garçons e certamente fumavam enquanto os músicos tocavam. Longe de mim dizer que esse espaço esfumaçado convenha menos ao jazz do quarteto de Coltrane do que a arquitetura e acústica refinada das salas europeias. Coltrane, Tyner, Garrison e Jones transitavam por esses dois ambientes e isso faz parte da sua grandeza.

A grandiosa sala de concertos em Graz data de 1885, lembra o Concertgebouw de Amsterdam, construído na mesma década

John Coltrane’s music is a cry, revolting against the coldness of our world […] Moreover he seems to be the only one who is able to present ballads with the emotional depth of a Hawkins, Webster or Elridge. His playing is characterized by straightforward, harmonically traditional themes that are the basis for ranging note cascades. (Review of a concert in Vienna Konzerthaus, Austria, 1962-11-27, by Willie Gschwedner)

Pleyel

.: interlúdio :. The Gift ∞ Música para o dia de Natal ∞

.: interlúdio :. The Gift ∞ Música para o dia de Natal ∞

 

Simple Gifts

Presentinhos!

 

 

 

Ganhei este disco de brinde em uma outra vida que tive e por vários Natais ele serviu de trilha sonora. Ele já tocou aqui em casa em dias que lá fora fazia muito frio e nevava. Depois, passou um tempo sumido entre as coisas que misteriosamente somem, por um tempo, da vida da gente. Quando chegaram as crianças, ele reapareceu e foi tocado em Natais nos quais fazia muito calor lá fora e dentro da casa.

A capa rachou, o folder soltou uma parte e as crianças o rabiscaram um pouco. Depois ele sumiu de novo. Quando aprendi a ripar CDs, eu (por sorte) o reencontrei e fiz uma cópia digital. Desta forma é que ele passou a ser ouvido. Hoje eu o ofereço para vocês, neste dia de Natal.

O CD é uma coleção promocional de músicas de Natal, coisa bem brega. Mas eu aposto que você vai gostar.  Há 24 faixas, uma para cada hora do dia. Eu certamente tenho as minhas preferidas, entre elas Simple Gifts e (é claro) Silent Night. Depois me escreva dizendo quais são as suas…

A DDD Christmas

  1. We Wish You a Merry Christmas (Trad. arr. John Rutter)
  2. Here We Come a-Wassailing (Trad. arr. Robert Chilcott)
  3. Marche des rois (Anon.)
  4. The Babe of Bethlehem (Anon.)
  5. Verbum caro – Y la Virgen (Anon.)
  6. O Come, O Come, Emmanuel (Gregorian Chant arr. Alice Parker & Robert Shaw)
  7. In dulci jubilo (Trad.)
  8. O Come, All Ye Faithful (Trad. arr. David Wilcocks)
  9. The Little Drummer Boy (Davis-Onorati-Simeone arr. John McCarthy)
  10. The Gift (Simple Gifts) (Isaacs-Trad., arr. Robert Chilcott)
  11. Quem pastores laudavere (Anon.)
  12. Quanno nascete ninno (Anon.)
  13. Messiah (Handel) – He shall feed His flock
  14. – For unto us a Child is born
  15. The First Nowell (Trad. arr. Frank Denson)
  16. Joy to the World (Trad. arr. Frank Denson)
  17. Deck the Hall (Trad. arr. Gordon Langford)
  18. The Wexford Carol (Trad. arr. Robert Chilcott)
  19. What Child Is This? (Trad. arr. Michael Gibson)
  20. Away in a Manger (Trad. arr. Michael Gibson)
  21. Rise Up, Shepherd (Trad. arr. Robert Sadin)
  22. Bring a Torch, Jeanette, Isabella (Trad. arr. Joseph Flummerfelt)
  23. Silent Night (Franz Gruber)
  24. God Rest You Merry, Gentlemen (Trad. arr. David Willcocks)
1, 2, 9, 10, 17, 18 – The King’s Singers e City of London Sinfonia – Richard Hickox
3 – 5, 11, 12 – Taverner Consort, Choir & Players – Andrew Parrott
6 – 8, 22, 24 – New York Choral Artists – Joseph Flummerfelt
13, 14 – Florence Quivar, mezzo-soprano; Kathleen Battle, soprano; Toronto Mendelssohn Choir & Toronto Symphony – Andrew Davis
15, 16 – Empire Brass, com Nancy Allen, harpa e Arthur Press, percussão
19 – 21 – Kathleen Battle, soprano; Orchestra of St. Luke’s e Boys’ Choir of Harlem – Leonard Slatkin

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MP3 | 320 KBPS | 142 MB

Pode ouvi-lo enquanto doura o peru de Natal!!

Feliz Natal!

René Denon

Veja a opinião do Reverendo Chris Madison:

♥♥♥♥♥ A Classy Christmas Album

I purchased this CD in the early 90’s and it has earned a place in my heart that no other cd has earned. The King’s Singers, Kathleen Battle, and others, provide a breadth of beauty from renditions from Handel’s Messiah, to English traditional Christmas music. This is no album featuring obnoxious Christmas music, which we hear blaring in countless stores in the season. It is an expression of true joy!

.: interlúdio :. Centenário de Bird – Charlie Parker with Strings

Se vivo estivesse, Charles Parker, Jr. teria feito cem anos ontem.

Reconheço o ridículo do “se vivo estivesse” – pois, ainda que a heroína e a bebida não o matassem aos meros trinta e quatro anos, e de tal maneira que o legista pensou que ele tivesse sessenta, sua pobre carcaça não iria mesmo tão longe. Todavia, sempre o senti assim mesmo, tremendamente vivo. Cada vez que escuto algum de seus álbuns, é como se aquele som inimitável estivesse a ser criado ali do meu lado, naquele exato momento, com todo olor de goró e cigarros. Por outro lado, o impacto do meteoro Bird foi tão avassalador que é difícil imaginar um mundo sem ele, de modo que me parece estranho que ele tenha partido meros vinte anos antes de eu, que me acho tão garoto, aqui chegar para escutá-lo. Poucas pessoas foram tão influentes para a Música – quase nenhuma, com certeza, numa trajetória tão fulgurantemente breve – de modo que, sim: Bird está muito vivo.

E por achá-lo tão vivo que quase caí da cama ontem ao perceber, entre espessas remelas, que se passara quase todo o 29 de agosto e eu esquecera de prestar a Bird a homenagem que, há já um bom tempo, eu lhe prometera fazer pelo centenário. Mais ainda: não tinha a menor ideia de qual gravação eu lhes alcançaria do inestimável gênio. Enquanto pensava no que escrever, a abertura de “Just Friends”, que voltava sem parar a meus esquecidos miolos, resolveu a questão: aquele solo frenético e fluido a irromper após uma açucarada introdução das cordas sempre calou fundo cá comigo, e Charlie Parker with Strings foi a gravação que fundiu meu ouvido granítico e o convenceu a derreter-se com jazz.

Muitos fãs de Parker rechaçam With Strings como uma concessão comercialoide, feita justamente para ouvintes que, como eu outrora, jamais cogitaram adquirir uma gravação do gênero. Ainda assim, acho que ela se presta muito bem à homenagem. Aquelas sessões de gravação em New York City, somadas a algumas outras tomadas ao vivo, foram a realização dum sonho longamente acalentado por Bird, que muito desejava tocar com acompanhamento de cordas – e seu sax contralto, como é óbvio para qualquer um que aqui o ouça, ficou muito à vontade para decolar entre seus companheiros engomadinhos.

Com as devidas desculpas ao ídolo pelo lapso de esquecer seu centenário, e aos seus fãs, por uma escolha de repertório que talvez não os agrade, alcanço-lhes Charlie Parker with Strings com a certeza, reavivada enquanto a escuto pela trocentésima vez, de que Bird não nos deixou em 1955: outros cem anos se passarão, e talvez mais cem vezes cem, e seu visionário legado ainda não terá achado um ouvido capaz de lhe ser contemporâneo.

CHARLIE PARKER WITH STRINGS

Charlie Parker with Strings (primeiro LP, Mercury MG-35010)

01 – Just Friends (John Klenner, Sam M. Lewis)
02 – Everything Happens to Me (Tom Adair, Matt Dennis)
03 – April in Paris (Vernon Duke, E.Y. Harburg)
04 – Summertime (George Gershwin, Ira Gershwin, DuBose Heyward)
05 – I Didn’t Know What Time It Was (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
06 – If I Should Lose You (Ralph Rainger, Leo Robin)

Charlie Parker, sax contralto
Mitch Miller, oboé
Bronislaw Gimpel, Max Hollander e Milton Lomask, violinos
Frank Brieff, viola
Frank Miller, violoncelo
Myor Rosen, harpa
Stan Freeman, piano
Ray Brown, contrabaixo
Buddy Rich, bateria
Jimmy Carroll, arranjos e regência
Gravadas em estúdio em 30 de novembro de 1949

Charlie Parker with Strings (segundo LP, Mercury MGC-109)

07 – Dancing in the Dark (Arthur Schwartz, Howard Dietz)
08 – Out of Nowhere (Johnny Green, Edward Heyman)
09 – Laura” (David Raksin, Mercer)
10 – East of the Sun (and West of the Moon) (Brooks Bowman)
11  – They Can’t Take That Away from Me” (George & Ira Gershwin)
12 – Easy to Love (Cole Porter)
13 – I’m in the Mood for Love (Jimmy McHugh, Dorothy Fields)
14 – I’ll Remember April (Gene de Paul, Pat Johnston, Don Raye)

Charlie Parker, sax contralto
Joseph Singer, trompa
Eddie Brown, oboé
Sam Caplan, Howard Kay, Harry Melnikoff, Sam Rand e Zelly Smirnoff, violinos
Isadore Zir, viola
Maurice Brown, violoncelo
Verley Mills, harpa
Bernie Leighton, piano
Ray Brown, contrabaixo
Buddy Rich, bateria
Xilofone e tuba – artistas desconhecidos
Joe Lipman, arranjos e regência
(gravações em estúdio em 5 de julho de 1950)

Faixas-bônus:

15 – Temptation (Nacio Herb Brown, Arthur Freed)
16 – Autumn in New York (Vernon Duke)
17 – Lover (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
18 – Stella by Starlight (Victor Young, Ned Washington)

Charlie Parker, sax contralto
Al Porcino, Chris Griffin e Bernie Privin, trompetes
Will Bradley e Bill Harris, trombones
Murray Williams e Toots Mondello, sax contralto
Hank Ross, sax tenor
Stan Webb, sax barítono
Artie Drelinger, oboé
Sam Caplan, Sylvan Shulman (provavelmente) e Jack Zayde, violinos
Verley Mills, harpa
Lou Stein, piano
Bob Haggart, contrabaixo
Don Lamond, drums
Madeiras, violinos, violas e violoncelo – artistas desconhecidos
Joe Lipman, arranjos e regência
Gravadas em estúdio em janeiro de 1952

19 – Repetition (Hefti)

Charlie Parker, sax contralto
Vinnie Jacobs, trompa
Al Porcino, Doug Mettome e Ray Wetzel, trompetes
Bill Harris e Bart Varsalona, trombones
John LaPorta, clarinete
Murray Williams e Sonny Salad, sax contralto
Pete Mondello e Flip Phillips, sax tenor
Manny Albam, sax barítono
Sam Caplan, Zelly Smirnoff, Gene Orloff, Manny Fiddler, Sid Harris e Harry Katzmann, violinos
Nat Nathanson e Fred Ruzilla, violas
Joe Benaventi, violoncelo
Tony Aless, piano
Curly Russell, contrabaixo
Shelly Manne, bateria
Diego Iborra, percussão
Neal Hefti, arranjo e regência
Gravado ao vivo no Carnegie Hall, New York City, em dezembro de 1947

20 – What Is This Thing Called Love? (Porter)
21 – April in Paris (Duke, Harburg)
22 – Repetition (Neal Hefti)
23 – You’d Be So Easy to Love (Porter)
24 – Rocker (Gerry Mulligan)

Charlie Parker, sax alto
Tommy Mace, oboé
Sam Caplan, Ted Blume e Stan Karpenia, violinos
Dave Uchitel, viola
Violoncelista desconhecido
Wallace McManus, harpa
Al Haig, piano
Tommy Potter, contrabaixo
Roy Haynes, bateria
Gravadas ao vivo do Carnegie Hall, New York City, em 17 de setembro de 1950

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Túmulo de Charlie Parker em Kansas City, Missouri. Bird foi sepultado na cidade em que cresceu, homônima àquela em que nasceu, que fica do outro lado do rio Missouri, no estado do Kansas. O enterro cristão na cidade natal ocorreu aparentemente contra sua vontade – ele queria ser enterrado sem qualquer pompa em Long Island, ao lado da filha Pree, que morreu aos três anos. Notem que o instrumento na lápide, além de estar invertido, não é o sax contralto com que Bird se imortalizou, e sim um sax tenor (foto do autor)Vassily

.: interlúdio :. Yamandu, 40 anos: Dois Tempos – Lucio Yanel e Yamandu Costa (2001)

.: interlúdio :. Yamandu, 40 anos: Dois Tempos – Lucio Yanel e Yamandu Costa (2001)

Anteontem, Yamandu Costa celebrou seu aniversário, como o faz desde 2013, no aconchegante espaço do StudioClio em Porto Alegre, oferecendo um recital intimista, com mínima amplificação, para um punhado de privilegiadas pessoas -entre as quais estava eu, seu fã incondicional. Desde a primeira vez que o ouvi, eu e ele ainda garotos, dar uma canja num boteco em minha agriamarga Dogville natal, já se passaram vinte anos. Neles, acompanhei a trajetória hiperbólica do tipo sui generis e sem-cerimonioso, sempre de alpargatas e bombachas, de seus pagos meridionais para encantar o mundo todo. Sempre o achei um assombro, tanto pela aparente facilidade com que faz tudo o que quer com o violão, quanto pela habilidade com que, a partir de referências regionais, lança ao mundo criações amplamente improvisadas, de apelo instantâneo e universal, reinventando-as cada vez que as revisita. No entanto, como sói acontecer com os frutos dessa província corroída há tanto tempo pelo costume de incensar bairristicamente os medíocres enquanto estilinga os grandes talentos, espinafrar o garoto-prodígio já foi um esporte muito popular: seu som era “sujo”, suas ideias eram mais rápidas que seus dedos, que sua improvisação era só um sem-fim de micagens com escalas, ele era um enganador que nada duraria – um “fogo de palha”, como por aqui se diz. Ao ouvi-lo ontem, e pela primeira vez num ambiente tão camerístico, a destilar seus inúmeros truques violonísticos para servir sua assombrosa criatividade, o agora quarentão Yamandu conseguiu emocionar-me para além do assombro e do estupor. Depois de acompanhá-lo ao longo de quase toda carreira, por tantos shows e recitais, solo e nas mais diversas companhias musicais, eu finalmente entendi por que Kurt Masur chamou-o de “Paganini do violão” e Paco de Lucía o aplaudiu de pé. Escutando seu som desnudo tão de perto, consegui enfim embarcar no mesmo transe em que ele se imbui a cada peça que toca, e do qual parecia, anteontem, demorar ainda para despertar. Meus olhos suavam tanto quanto suava o aniversariante na canícula porto-alegrense: seu som, talvez agora “limpo” o bastante para os detratores, continuava inconfundível; seus dedos acompanhavam todas suas ideias; as escalas despachadas em velocidade lúbrica eram apenas um entre seus incontáveis recursos técnicos; e o garoto-prodígio, brilhante e cru, tornara-se um artista maduro e expressivo, capaz mesmo da improvável proeza de comover as nada impressionáveis fibras deste meu miocárdio empedernido.

Para celebrar os quarenta anos do genial passo-fundense, cidadão adorado do mundo que não esquece de seu pago, compartilhamos uma de suas primeiras gravações. Lançada em 2001 – ano em que Yamandu se projetou nacionalmente – e fora de catálogo, “Dois Tempos” é um duo com seu mentor e amigo, o correntino Lucio Yanel – um venerável violonista que, por doença da esposa, está afastado dos palcos e estúdios e, por isso, precisando de ajuda. Quem gostar da gravação e quiser ajudá-lo pode seguir este link. Tenho certeza de que o aniversariante adoraria ser presenteado com uma ajuda a seu mestre!

DOIS TEMPOS – LUCIO YANEL & YAMANDU COSTA

1 – Dois Tempos
2 – Doutor Sabe Tudo
3 – La Cau
4 – Pot-pourri: El Paraná en una Zamba – Zamba Del Grillo
5 – Amazônia
6 – Brejeiro
7 – La Libre
8 – Itá Enramada
9 – Milongueo Del Ayer
10 – Cristal
11 – Brasiliana Número 4: Samba Bossa Nova – Valsa – Choro
12 – Por Do Sol

Lucio Yanel e Yamandu Costa, violões

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Mestre e pupilo

Vassily

.: interlúdio :. Elza Soares, Doutora Honoris Causa

File:Foto oficial 02 de Elza Soares em Deus é Mulher.jpg
Patricia Lino @callanga (CC BY-SA 4.0)

Elza da Conceição Gomes, 81 (ou 87) anos, nascida na favela da Moça Bonita, Rio de Janeiro; obrigada a se casar aos 12 anos com um certo Soares; mãe pela primeira vez aos 13 e viúva aos 21; que já enterrou quatro de seus sete filhos; vítima de relacionamentos abusivos e de várias camadas de preconceito; Elza que cantava carregando latas d’água morro acima; que foi cantar no programa de calouros de Ary Barroso aos 13 anos para ter o que comer; que foi zombada pela plateia por ser preta, pobre e mal vestida, e que respondeu ao ilustre anfitrião, quando lhe perguntou de que planeta ela vinha, que vinha do Planeta Fome; perseguida e apedrejada como destruidora de lares e de carreiras e ameaça à moral e aos bons costumes, particularmente em função de seu tempestuoso relacionamento com o futebolista Manoel Francisco dos Santos (1933-1983), o Mané Garrincha, que era casado; Elza que teve sua casa crivada por rajadas de metralhadora da ditadura e que se exilou com Mané e a família e as roupas do corpo para fugir uma vez mais da morte; que nunca deixou de cantar com sua voz poderosa e inconfundível o que ela é e de onde ela veio, e a dar voz a todos aqueles que vivem as dores que ela viveu; que incandesce os palcos do mundo há seis décadas com sua voz de trovão; que hoje não consegue ficar de pé sozinha, depois de fraturar várias vértebras num palco, mas que faz tremer tudo e todos quando nos deixa ouvir o que vem de seu espírito indômito; que fez seu primeiro show profissional nesta mesma Porto Alegre e neste Estado em que agora estamos, construídos sobre o legado infame da escravidão, e que tanto amam desprezar o que é preto e feminino e o que é pobre e popular; Elza que, ao ouvir o genial Louis Armstrong, encantado com seu estilo, chamá-la de “daughter” (filha), e que por não entender inglês respondeu-lhe com simplicidade que não era “doutora”, e sim “Elza”; pois essa mesma Elza-que-não-era-doutora receberá hoje, nesta mesma Porto Alegre e de minha querida alma mater, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma instituição pública e gratuita, vanguardista e inclusiva, o título de DOUTORA HONORIS CAUSA que me enche de orgulho e felicidade.

No exato momento em que esta postagem for ao ar, Elza, a Indestrutível, será recebida por um Salão de Atos da UFRGS abarrotado de gente e aclamada pela fração do Brasil que não se dobrou à infâmia do fascismo e do obscurantismo. Em tempos tão toscos e violentos, de ataques estatais à dignidade humana, às minorias e à educação e cultura, a láurea a uma artista e brasileira como Elza é um gesto político extraordinário que merece também ser aclamado:
VIVA ELZA!
VIVA A UNIVERSIDADE PÚBLICA!
VIVA O BRASIL FEMININO, PRETO E POPULAR!

ooOoo

 

Deus é Mulher (2018) – DOWNLOAD

Elza chora e canta Lupi (2016)

A Mulher do Fim do Mundo (2015)

Vassily

 

.: interlúdio .: Arthur Maia (1962-2018) – Planeta Música

No último dia 15 de dezembro o Brasil perdeu aquele que provavelmente foi o melhor contrabaixista que nasceu cá por terras brasileiras.
Conheci este excepcional músico em um show de seu lendário grupo, ‘Cama de Gato’, lá nos idos dos anos 80, quando tocaram em Florianópolis, tempos bons em que tínhamos excelentes grupos e músicos se apresentando na cidade, apoiados e patrocinados por um importante grupo de comunicação que atuava no sul do Brasil até há um tempo atrás.
Arthur Maia era muito requisitado nos estúdios, gravou com todo mundo. Seu estilo era um jazz funkeado, às vezes com influência do samba, da música latina, enfim, sua música não tinha fronteiras nem limites.
Este CD que ora vos trago foi lançado em 2002, e tem um timaço de músicos tocando, que demonstra o respeito que o músico tinha no circulo musical. Mike Stern e Dennis Chambers são alguns dos músicos presentes aqui.
Jamais poderia negar o quanto Arthur Maia me influenciou em se tratando de estilos musicais. Eu era um pouco resistente quando se tratava de música brasileira. Depois deste show do Cama de Gato mudei completamente minha percepção musical.
Este CD foi convertido em MP3 em meros 192 kbp/s. Infelizmente não tenho o CD original, apenas esta versão em mp3. Ele me foi repassado por um amigo, que me emprestou o CD e também realizou a conversão.
Quem morava em Floripa lá por 2002 eve lembrar que a faixa título desse CD, Planeta Música, tocava direto na Rádio Itapema. Música atemporal, que embalou muito final de tarde à beira mar.
Descanse em Paz, Arthur Maia.  Fico devendo a lista dos músicos convidados, se alguém tiver o CD poderia fazer a gentileza de passar esta relação?

01 DEOMBRO
02 MUCHACHA
03 GOGA
04 TRILOCK
05 PLANETA MUSICA CASCAVEL
06 DEPOIS DO AMOR
07 CANTAREIRA
08 A NOITE
09 CAMA DE GATO
10 MILES STRESS

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.: interlúdio :. Pekka Pohjola – Heavy Jazz

Pekka Pohjola vem direto das terras geladas da Finlândia nos apresentar um sólido e consistente CD de Fusion, gravado ao vivo, em uma clara referência ao clássico álbum de Jaco Pastorius, “Heavy ´n´ Jazz”. Mas o som de Pohjola não é tão ‘sujo’ quando o de Pastorius, é mais discreto, mais ‘clean” talvez devido ao seu sangue finlandês mesmo. Pastorius sempre tocou como se fosse a última vez em que estivesse empunhando seu Fender Jazz, principalmente nos últimos anos de sua vida, como se já antecipasse sua morte, ocorrida tão precocemente.

Infelizmente, Pohjola também morreu precocemente, aos 56 anos de idade, em 2008, devido a consequências de problemas com o alcoolismo.

Uma curiosidade: Pekka Pohjola era de família de músicos, teve formação em violino e Piano na Academia Sibelius , e também chegou a compor uma Sinfonia, que estreou no final dos anos 80.

A banda que o acompanha é muito competente, e os solos seguem o padrão, discretos, sem nenhuma aula de virtuosismo exacerbado, ou apenas espanadores de cordas, como diria nosso querido PQP Bach.

Se vocês quiserem ouvir algum outro trabalho de estúdio dele, basta pedir. Tenho alguns outros cds dele. Espero que apreciem.

CD 1

01. Relief
02. Pressure
03. Imppu’s Tango
04. Nykiva keskustelu tuntemattoman kanssa
05. Innocent Questions
06. Fanatic Answers

CD 2

01. Benjamin
02. No Way Out
03. Albatross
04. Risto
05. Heavy Jazz

Pekka Pohjola – Bass
Seppo Kantonen – Keyboards
Markku Kanerva – Guitar
Anssi Nykänen – Drums

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Pekka Pohjola (1952-2008)

.: interlúdio :. Charlie Haden & Christian Escoude: Gitane

.: interlúdio :. Charlie Haden & Christian Escoude: Gitane

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu tinha 22 anos e meus amigos do jazz diziam que Charlie Haden era genial. Eu logo pensei: outro baixista espetacular chamado Charlie, assim como Mingus! Fui na King`s Discos e comprei Gitane — um disco só de violão e baixo — a peso de ouro, um importado recém lançado. Nossa, ele era totalmente diferente de Mingus, mas o disco quase furou, tanto que até hoje lhe conheço cada nota. Talvez tenha sido uma das maiores lições da importância do baixo no jazz e do quanto ele pode ser sofisticado. Até morrer, Haden fez dupla com vários instrumentistas no mesmo formato deste disco e jamais o resultado foi esquecível ou irrelevante. Já o violonista Christian Escoude é um bom devoto de Django Reinhardt. Os dois músicos se sentem em casa com os temas “ciganos” escolhidos. A faixa-título, um baixo solo de Haden, é uma joia especial. Trata-se de uma sessão de jazz calorosa e sem pressa que confundo com minha própria formação como ouvinte.

Charlie Haden & Christian Escoude: Gitane

1 Django
Written-By – John Lewis (2)
8:56
2 Bolero
Written-By – Django Reinhardt
4:20
3 Manoir De Mes Rêves
Written-By – Django Reinhardt
5:55
4 Gitane
Written-By – Charlie Haden
3:34
5 Nuages
Written-By – Django Reinhardt
8:56
6 Dinette
Written-By – Django Reinhardt
6:04
7 Improvisation
Written-By – Christian Escoude*
2:52

Christian Escoude, violão
Charlie Haden, baixo

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A capa do velho vinil de 1979
A capa do velho vinil de 1978

PQP

.: interlúdio :. Egberto Gismonti & Charlie Haden in Montreal

.: interlúdio :. Egberto Gismonti & Charlie Haden in Montreal

IM-PER-DÍ-VEL !!!

In Montreal é um álbum de Egberto Gismonti e Charlie Haden gravado em 6 de julho de 1989 no Festival Internacional de Jazz de Montreal e lançado pela ECM em 2001. Aqui, temos dois monstros em plena forma em ação. Gismonti é mais dinâmico. Ele é a mola propulsora em peças de como Salvador, Maracatu e Em Família. Essas músicas mais agitadas de Gismonti são contrabalanceadas pelas composições majestosas e reflexivas de Haden. Um belo disco, lindamente interpretado e muito brasileiro. O ouvido de Haden para a música latina funciona perfeitamente, encaixando-se tanto ao violão de 10 cordas quanto ao piano de Gismonti. Este brinca muito, como em Lôro e em Frevo. Uma alegria ouvir esses dois.

Egberto Gismonti & Charlie Haden in Montreal

1 Salvador
Composed By – Egberto Gismonti
7:36
2 Maracatú
Composed By – Egberto Gismonti
9:21
3 First Song
Composed By – Charlie Haden
6:28
4 Palhaço
Composed By – Egberto Gismonti, G.E. Carneiro*
9:19
5 Silence
Composed By – Charlie Haden
9:49
6 Em Família
Composed By – Egberto Gismonti
10:03
7 Lôro
Composed By – Egberto Gismonti
7:32
8 Frevo
Composed By – Egberto Gismonti
6:43
9 Don Quixote
Composed By – Egberto Gismonti, G.E. Carneiro*
12:02

Egberto Gismonti, violão, piano e o que pintar
Charlie Haden, baixo

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Charlie Haden e Egberto Gismonti combinando o que vamos ouvir.
Charlie Haden e Egberto Gismonti combinando o que vamos ouvir.

PQP

.: interlúdio :. Hiromi Uehara – Voice (2011)

.: interlúdio :. Hiromi Uehara – Voice (2011)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Quando postei de enfiada 6 CDs de Hiromi Uehara, escrevi que ela melhorava a cada disco que lançava. Então, dando-me razão, o Bluedog me apresentou seu mais recente trabalho, o maravilhoso, puramente instrumental e paradoxal Voice. Olha, meus amigos, que CD! O vídeo de lançamento (abaixo) talvez não demonstre o quanto é sólido, consistente, PAULEIRA e sério este trabalho de Hiromi. É inacreditável tamanha maturidade aos 32 anos, ainda mais com aquela cara de bonequinha japonesa.

Após um CD solo, o esplêndido Place to be Hiromi traz em Voice um formato trio piano-baixa-bateria e dá um banho. Como já disse, ao contrário de muitos outros artistas que se estabelecem numa zona de conforto, ela continua a evoluir e a redefinir seu estilo até o ponto onde se torna quase impossível imitá-la. É uma tempestade perfeita de talento técnico e criatividade musical, misturando elementos díspares da música clássica, bebop, jazz, fusion e rock como ninguém fez antes.

Em Voice, Hiromi usa e abusa dos ostinati como poucas vezes ouvi um pianista de jazz fazer. Se estilo está mais polifônico e variado do que nunca e seus companheiros… e seus companheiros… Vou até abrir um parágrafo para eles.

Este álbum apresenta uma “banda” nova chamado Trio Project. O baixista é o célebre Anthony Jackson, que trabalhou com Al Di Meola no seu trio de álbuns fusion, marcos da década de 70. Ele trabalhou com muita gente boa longo dos anos, inclusive em dois ábuns anteriores de Hiromi: Another Mind e Brain — ambos postados por este que vos escreve. O baterista é o igualmente maravilhoso Simon Phillips, que muitas vezes parece um metaleiro. (Ouçam-no no vídeo abaixo playing very difficult music…). Apesar de mais conhecido por seu trabalho com Chick Corea, Simon já tocou com artistas como Judas Priest, Jeff Beck, Jack Bruce, Brian Eno, Mike Oldfield, Gary Moore e Mick Jagger, além de ter substituído Keith Moon no The Who do disco Join Together.

Hiromi, Jackson e Phillips complementam-se de forma incrível. Se Hiromi é uma orquestra inteira, Jackson traz o mais puro jazz fusion através de seu baixo e Phillips dá uma intensidade de metal drumming ao todo.

Mais uma joia postada por mim nesta semana e ah!

Talvez como uma homenagem a quem melhor utiizava os ostinati e para garantir o caráter macho do disco — OK, e também para que nosso coração volte a seu ritmo normal depois de tanta velocidade, musicalidade e, bem, pauleira — , Voice finaliza calmamente com uma improvisação sobre a Sonata Nº 8 de Beethoven, Patética. Sim, é o máximo da finesse.

Hiromi Uehara – Voice (2011)

1. Voice (9:13)
2. Flashback (8:39)
3. Now or Never (6:16)
4. Temptation (7:54)
5. Labyrinth (7:40)
6. Desire (7:19)
7. Haze (5:54)
8. Delusion (7:47
9. Beethoven’s Piano Sonata No. 8, Pathetique (5:13)

Hiromi Uehara, Piano
Anthony Jackson, Baixo
Simon Phillips, Bateria

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Hoje, aos 38 anos, com a mesma cara, já os cabelos...
Hoje, aos 38 anos, com a mesma cara, já os cabelos…

PQP

.: Interlúdio :. Zequinha de Abreu interpretado por Jacques Klein e Ezequiel Moreira

11gkj2tZequinha de Abreu
Interpretado por Jacques Klein e Ezequiel Moreira

Jacques Klein (1930 – 1982), o pianista do toque dourado.

Nascido em Aracati, no Ceará, foi no Rio de Janeiro que viveu plenamente a sua carreira e a sua vida. Desde muito cedo, manifestou seu gosto pela música, e, até os dezoito anos, dedicou-se ao jazz, uma de suas grandes paixões, inclusive fazendo algumas gravações no gênero.

Foi para os Estados Unidos estudar música clássica, mas logo conheceu o célebre Art Tatum, que ficou muito impressionado ao ouvir Jacques tocar o seu amado jazz em Nova York. Apesar de ter sido convidado para tocar na banda do grande jazzista americano, seguiu sua verdadeira vocação – a música clássica

Seguiu depois para a Áustria, onde foi aluno do célebre professor Bruno Seidhofer, na Academia de Música de Viena, mas foi exatamente em 1953 que o artista começou sua grande carreira ao conquistar o 1º lugar no Concurso Internacional de Genebra, que era na época considerado o mais importante concurso no mundo.

Klein era um músico admirado por todos, e em todos os continentes. Tinha um toque lindo e um som dourado, difícil de se encontrar. Seus concertos eram de sonhos, célebres e iluminados. Uma vez, tocando a Sonata de J.Brahms nº3, a luz da Sala Cecília Meireles apagou e Jacques continuou tocando no escuro para delírio de seus ouvintes. Claro que foi ovacionado quando acabou a obra, já com a luz acesa.

Também ficou conhecido pelo seu ciclo das Sonatas de Beethoven, tocando as 32, também na Sala. Foi solista das mais importantes orquestras do mundo, assim como teve o duo com o grande violinista italiano Salvatore Accardo, que, por várias vezes, deslumbrou o Théâtre des Champs Elysées, em Paris. Grande professor de piano, tem como seu mais importante discípulo o pianista Arnaldo Cohen. Na parte burocrática, foi diretor da Sala Cecília Meireles e fez parte da direção da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Era casado com a também pianista Cesarina Riso, e eles formavam um dos mais queridos casais no Rio – tiveram uma filha, Daniela.

Sem dúvida, o querido Jacques Klein foi o maior pianista brasileiro de sua geração encantando a todos com sua arte e seu talento. Fica a nossa homenagem.

(Maria Luiza Nobre)

Imagine um excelente pianista, do tipo que é referência mundial, tocando com as maiores orquestras do planeta. Dê a ele bom humor, gênio impulsivo e, de quebra, um talento especial para se comunicar com plateias das mais esnobes às mais simplórias. Hoje pode ser difícil imaginar, mas o produto dessa mistura existiu, sim, veio de Aracati, no Ceará, e se chamava Jacques Klein.

Consumido por um câncer quando ainda estava no auge da carreira, aos 52 anos, Klein era um tipo raro de músico clássico. Era popular. Amava interpretar Beethoven, Mozart e Chopin. Mas também compôs com Dorival Caymmi, teve um grupo de jazz e aparecia com tanta naturalidade na TV que chegava a dar autógrafo na rua.

(O Globo, 11/10/2009)

Zequinha de Abreu & Eurico Barreiros
01. Os Pintinhos no Terreiro – Chorinho Sapeca (fá menor)
Zequinha de Abreu & Dino Castello
02. Rosa Desfolhada – Flores Milagrosas – Valsa (mi menor)
Zequinha de Abreu & Rui Borba
03. Longe dos Olhos – Valsa sentimental (mi menor)
Zequinha de Abreu
04. Não Me Toques – Chorinho (lá menor)
Zequinha de Abreu & Príncipe dos Sonhos
05. Último Beijo – Valsa sentimental (dó menor)
Zequinha de Abreu & Duque de Abramonte
06. Branca – Valsa lenta (mi menor)
Zequinha de Abreu
07. Levanta Poeira – Choro sapeca (mi menor)
Zequinha de Abreu & Arlindo Marques Jr.
08. Amando Sobre o Mar – Valsa sentimental (fá maior)
Zequinha de Abreu & Pinto Martins
09. Tardes em Lindóia – Valsa lenta (mi bemol menor)
Zequinha de Abreu
10. Tico-tico no Fubá – Choro sapeca (lá menor)

Zequinha de Abreu interpretado por Jacques Klein e Ezequiel Moreira – 1979

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Boa audição.

macaco pensante

 

 

 

 

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Avicenna

.: interlúdio :. Beyond The Missouri Sky (Short Stories) – Charlie Haden & Pat Metheny

.: interlúdio :. Beyond The Missouri Sky (Short Stories) – Charlie Haden & Pat Metheny

Este post é originalmente de 2007. Vocês vão notar pelo texto abaixo, que Charlie Haden ainda não tinha falecido.

Agora é P.Q.P. Bach quem ataca de jazz para divulgar outro CD que o guitarrista Pat Metheny (1954) fez em dupla, desta vez com o grande baixista Charlie Haden (1937). Todas as informações grifadas a seguir forma retiradas da Wikipedia.

É um CD muito jazzístico e delicado, em que todas as músicas são tocadas apenas pelos dois solistas em rigoroso duo, com apenas a intervenção de uma discreta bateria (Metheny arrisca-se no instrumento…) em uma das faixas e de alguns efeitinhos de teclado. Haden explora ao extremo seu estilo mais cantabile do que o de um mero marcador de tempo, extraindo de seu contrabaixo um som mais limpo do que cheio. Já Pat Metheny é conhecidíssimo e não vamos perder tempo descrevendo o que vocês já sabem.

.oOo.

Charles Edward Haden é um contrabaixista de jazz nascido a 6 de Agosto de 1937 em Shenandoah no Iowa nos EUA.

Haden é mais conhecido pela sua associação de longa data com o saxofonista Ornette Coleman, mas também pelas suas caraterísticas linhas de baixo melódicas e é hoje um dos mais respeitados contrabaixistas e compositores de jazz da actualidade.

Biografia

Haden nasceu numa família de músicos que actuava frequentemente na rádio, tocando música country e canções folk americanas. Haden estreou-se profissionalmente como cantor quando tinha apenas dois anos de idade e continuou a cantar com a sua família até aos quinze anos, quando contraiu uma forma ligeira de poliomielite que lhe danificou permanentemente as cordas vocais. Alguns anos antes, Haden começara a interessar-se por jazz e a tocar no contrabaixo do seu irmão.

Algum tempo depois, mudou-se para Los Angeles em 1957 e começou a tocar profissionalmente, nomeadamente com o pianista Hampton Hawes e com o saxofonista Art Pepper.

Charlie Haden tornou-se famoso tocando com Ornette Coleman no final dos anos 50, culminando no disco The Shape of Jazz to Come (1959). Este álbum foi muito controverso, na época, e o próprio Haden confessou que, a princípio, o estilo de Coleman o deixava completamente confundido e que se limitava a repetir as linhas melódicas de Coleman no contrabaixo. Foi só mais tarde que ganhou a confiança para criar as suas próprias linhas.Além da sua associação com Coleman, Haden fazia parte do trio e depois do “”American quartet” de Keith Jarrett, com Paul Motian e Dewey Redman, de 1967 a 1976.

Nos anos 70, fundou, com Carla Bley, a Liberation Music Orchestra (LMO). A sua música era fortemente experimental, associando o free jazz e a música de intervenção política. O seu primeiro álbum debruçava-se sobre a Guerra Civil Espanhola. A LMO tinha uma formação flutuante, abrangendo os principais instrumentistas de jazz. Através dos arranjos de Carla Bley, usavam uma vasta paleta de instrumentos de metal, como tuba, trompa e trombone, além da secção mais tradicional de trompete e instrumentos de palheta. O álbum da Liberation Music Orchestra de 1982, The Ballad of the Fallen refería-se, de novo à Guerra Civil Espanhola bem como à instabilidade política e envolvimento dos EUA na América Latina.

Em 1990 a orquestra regressou com o disco Dream Keeper, um registo mais heterogéneo, utilizando o gospel e música sul-africana para referir-se à América Latina e ao Apartheid.

Em 1971 durante uma excursão em Portugal, Haden dedicou a sua “Song for Che” aos revolucionários anti-colonialistas das colónias portuguesas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. No dia seguinte, foi preso no aeroporto de Lisboa e interrogado pela DGS, a polícia política portuguesa. Foi prontamente libertado graças à intervenção da embaixada americana em Lisboa, mas foi depois interrogado acerca da dedicatória pelo FBI, já nos EUA.

Esta exploração temática de géneros de música habitualmente não associados ao jazz tornou-se uma característica marcante de Haden com o seu Quartet West. Fundado em 1987, o quarteto era composto por Haden, Ernie Watts no saxofone, Alan Broadbent ao piano e Larance Marable na bateria. O grupo apresentava arranjos de Broadbent, românticos e elaborados e recebeu muitos prémios.

Haden também tinha trabalhava em duetos com vários pianistas, como Hank Jones, Kenny Barron e Denny Zeitlin. Explorou a música folk americana em American Hymns, a música dos film noir em Always Say Goodbye e a música popular cubana em Nocturne.

Em 1989 foi artista convidado do Festival de Jazz de Montreal e tocou todas as noites do festival com diferentes conjuntos e bandas. A maior parte destes concertos foram editados na série The Montreal Tapes.

Em 1990 grava, com o mestre da guitarra portuguesa, Carlos Paredes, o álbum Dialogues.

No final de 1997, colabora num dueto com o guitarrista Pat Metheny, explorando a música da sua infância, no álbum Beyond the Missouri Sky (Short Stories) e realizando uma digressão mundial com Metheny.

Em 2005, Haden voltou a reunir a Liberation Music Orchestra, grandemente renovada, para lançar Not In Our Name, abordando a situação política dos EUA e a guerra do Iraque.

Em 2007, no seu 70º aniversário, lança o documentário: “Charlie Haden”.

.oOo.

E sobre Pat Metheny

Biografia

Iniciando com o trompete já aos 8 anos de idade, Metheny trocou para a guitarra ao 12 anos. Aos 15 anos, já estava trabalhando com os melhores músicos de jazz do Kansas, adquirindo experiência em bandas já muito jovem. Seu primeiro sucesso na cena internacional do jazz foi em 1974. Com o lançamento de seu primeiro álbum, Bright Size Life (1975), segundo a crítica, ele reinventara “o som tradicional da guitarra jazz” para uma nova geração de guitarristas.

Durante sua carreira, continuou a redefinir o genero utilizando novas tecnologias e trabalhando constantemente para refinar sua capacidade sonora e de improvisação no seu instrumento.Planejando sua carreira com sabedoria, trabalhou primeiro com uma gravadora de grande prestígio na música moderna (ECM), depois em uma gravadora de inclinações pop (Geffen) e finalmente com a multi-nacional (Warner Bros). Flertou com o jazz-rock, com grande sucesso, e chegou mesmo a ter videoclipes exibidos na rede MTV. Segundo os críticos Richard Cook e Brian Morton, “Metheny tornou-se uma figura-chave na música instrumental dos últimos 20 anos”.

Durante os anos, atuou com músicos tão diversos como Steve Reich, Ornette Coleman, Herbie Hancock, Jim Hall, Milton Nascimento e David Bowie. Formou uma parceria de composição com o tecladista Lyle Mays por mais de vinte anos – uma parceria que foi comparada às de Lennon/McCartney e de Ellington/Strayhorn por críticos e por ouvintes igualmente. O trabalho de Metheny inclui composições para guitarra solo, instrumentos elétricos e acústicos, grandes orquestras, e peças para ballet, com passagens que variam do jazz moderno ao rock e ao clássico.

Metheny atuou também na área academica como professor de música. Aos 18, foi o professor mais novo de sempre na universidade de Miami. Aos 19, transformou-se no professor mais novo de sempre na faculdade de Berkeley de música, onde recebeu também o título de doutor honorário vinte anos mais tarde (1996). Ensinou também em workshops de música em várias partes do mundo, desde o Dutch Royal Conservatory ao Thelonius Monk Institute of Jazz. Foi também um dos pioneiros da música eletrônica, e foi um dos primeiros músicos do jazz que tratou o sintetizador seriamente. Anos antes da invenção da tecnologia de MIDI, Metheny usava o Synclavier como uma ferramenta de composição . Também tem participação no desenvolvimento de diversos novos tipos de guitarras tais como a guitarra acústica soprano, a guitarra de 42-cordas Pikasso, a guitarra de jazz Ibanez Pm-100, e uma variedade de outros instrumentos feitos sob encomenda.

Metheny é um músico que estuda e escreve muito, está aberto a inúmeras influências, e principalmente toca e grava muito. Nesse processo, atira em várias direções, e é inegável que acaba produzindo alguns trabalhos de caráter mais comercial, ainda que agradáveis e perfeitamente bem executadas.

Ele ganhou ganhou vários concursos como o “melhor guitarrista de jazz” e prêmios, incluindo discos de ouro para os álbuns Still Life (Talking), Letter from Home e Secret Story. Ganhou também quinze prêmios Grammy Awards sobre uma variedade de categorias diferentes incluindo “Best Rock Instrumental”, “Best Contemporary Jazz Recording”, “Best Jazz Instrumental Solo”, “Best Instrumental Composition”.

O Pat Metheny Group ganhou sete Grammies consecutivos em sete álbums consecutivos. Metheny dedica-se a maior parte de seu tempo a turnes e viagens, e calcula uma média entre 120 à 240 viagens por ano desde 1974. Continua a ser uma das estrelas mais brilhantes da comunidade do jazz, dedicando tempo aos seus próprios projetos, a novos músicos e aos veteranos, ajudando-lhes a alcançar suas audiências tão como realizar suas próprias visões artísticas.

Beyond The Missouri Sky (Short Stories)

1. Waltz For Ruth
2. Our Spanish Love Song
3. Message To A Friend
4. Two For The Road
5. First Song
6. The Moon Is A Harsh Mistress
7. The Precious Jewel
8. He’s Gone Away
9. The Moon Song
10. Tears Of Rain
11. Cinema Paradiso (Love Theme)
12. Cinema Paradiso (Main Theme)
13. Spiritual

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Metheny-Haden: que dupla, que dupla, que dupla!
Metheny-Haden: que dupla, que dupla, que dupla!

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.: interlúdio :. Jan Garbarek / The Hilliard Ensemble: Officium Novum

.: interlúdio :. Jan Garbarek / The Hilliard Ensemble: Officium Novum

Terceiro álbum de uma das combinações de som mais curiosas da música atual: a do saxofonista norueguês Jan Garbarek mais o principal grupo vocal da Grã-Bretanha, The Hilliard Ensemble. O primeiro álbum, Officium, vendeu cerca de 1 milhão de cópias, e foi um dos 20 álbuns clássicos / jazz mais vendidos da primeira década deste século. O saxofone de Garbarek faz uma “quinta voz livre”. O Hilliard é especialista em música sacra barroca e pré-barroca. Com Garbarek, o conjunto não perde seu estilo, mas ganha em alcance musical e emocional. Neste CD, eles vão mais a Oriente. O foco central é a música da Armênia com base em adaptações de Komitas Vardapet, baseando-se tanto na música sacra medieval quanto na tradição do Cáucaso. O Hilliard estudou essas peças durante visitas à Armênia e suas características encoraja alguns voos apaixonados de Garbarek. Também estão incluídas Most Holy Mother Of God de Arvo Pärt em uma leitura a cappella, cantos bizantinos, duas peças de Jan Garbarek, incluindo uma nova versão de We are the stars, além do Alleluia, Nativitas de Perotin. Sou indiferente ao disco, mas tem gente que fica louca por ele.

Jan Garbarek / The Hilliard Ensemble: Officium Novum

01 – Ov zarmanali [Komitas] 04:11
02 – Svjete tihij [Byzantine chant] 04:14
03 – Allting finns [Jan Garbarek] 04:18
04 – Litany 13:06
05 – Surb, surb [Komitas] 06:40
06 – Most Holy Mother of God [Arvo Pärt] 04:34
07 – Tres morillas m’enamoran [Spanish anonymous] 03:32
08 – Sirt im sasani [Komitas] 04:06
09 – Hays hark nviranats ukhti [Komitas] 06:25
10 – Alleluia. Nativitas [Pérotin] 05:20
11 – We are the stars [Jan Garbarek] 04:09
12 – Nur ein Weniges noch [Giorgos Seferis] 00:19 Read By – Bruno Ganz 0:19

Jan Garbarek (sax soprano e tenor)
The Hilliard Ensemble (David James, contra-tenor, Rogers Covey-Crump, tenor, Steven Harrold, tenor, Gordon Jones, barítono)

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Não sabemos se deus os salvará.
Não sabemos se deus os salvará.

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