BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – “Meeresstille und glückliche Fahrt”, Op. 112 – Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67 – Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia no. 10 em Fá sustenido maior – Boulez

A cantata “Mar Calmo e Viagem Próspera” está entre as mais concisas e menos conhecidas obras-primas de Beethoven. Dedicada a Goethe, que Ludwig idolatrava, baseou-se em dois breves poemas do mestre de Weimar – porque, sim, “Mar Calmo” não é sinônimo de “Viagem Próspera”, pelo menos para quem depende de velas para propelir suas embarcações. “Mar Calmo” descreve, assim, e com música quase estática, o medo mortal do marinheiro (não me arriscarei a traduções de Goethe, então googleiem aí):


Tiefe Stille herrscht im Wasser,
Ohne Regung ruht das Meer,
Und bekümmert sieht der Schiffer
Glatte Fläche rings umher.
Keine Luft von keiner Seite!
Todesstille fürchterlich!
In der ungeheuern Weite
Reget keine Welle sich”

O contraste com a “Viagem Próspera” não poderia ser mais vivo: uma erupção quase maníaca de euforia com os ventos que encerram a calmaria:

Die Nebel zerreißen,
Der Himmel ist helle,
Und Äolus löset
Das ängstliche Band.
Es säuseln die Winde,
Es rührt sich der Schiffer.
Geschwinde! Geschwinde!
Es teilt sich die Welle,
Es naht sich die Ferne,
Schon seh’ ich das Land!”

As semelhanças da “Viagem Próspera” com o finale da Nona Sinfonia são notáveis, quanto mais por compartilharem a mesma tonalidade (Ré maior) e serem imbuídas do mesmo frenético elã. Beethoven tinha essa breve cantata em muito alta consideração, pois de outra maneira não se arriscaria a dedicá-la a Goethe, que era notoriamente blasé no que tangia às tentativas de colocar seus poemas em música, e a quem escreveu:


… por causa de seus caráteres constrastantes, esses dois poemas me pareceram muito adequados para a expressão desse contraste em música. Ser-me-ia um deleite saber que uni minha harmonia com a sua de maneira apropriada”


Goethe, claro, nunca lhe respondeu.

ooOoo

Admito que esta não seja minha versão favorita da cantata – a favorita, na verdade, está aqui. Eu a trouxe porque ela me serve de pretexto para alcançar-lhes a famosa leitura que Pierre Boulez fez da indefectível Quinta de Beethoven. Fama não significa necessariamente aclamação, e a reputação de lentidão do primeiro movimento é, como ouvirão, justamente merecida. Boulez, sempre o enfant terrible, aborda ruminativa e pontilhisticamente o célebre Allegro con brio, mas comporta-se razoavelmente nos movimentos seguintes. O contraste da Quinta com o Mar Calmo e a Viagem Feliz que a seguem é, para dizer o mínimo, muito peculiar. E, como heterodoxia pouca é bobagem, resolveram que seria necessário preencher com música os vinte e tantos minutos que faltavam ao velho LP ocupar todo um CD, e alguém achou que seria uma boa ideia justapor o Adagio da incompleta sinfonia no. 10 de Mahler.

Pelo jeito, chá de fita era o que não faltava aos produtores da Columbia. E devia estar bem bom.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67
Composta entre 1804-8
Publicada em 1809
Dedicada ao príncipe Lobkowitz e ao conde Andreas Razumovsky

1 – Allegro con brio
2 – Andante con moto
3 – Scherzo. Allegro
4 – Allegro

New Philharmonia Orchestra
Pierre Boulez, regência


“Meeresstille und Glückliche Fahrt”, cantata para solistas, coro e orquestra, Op. 112
Composta entre em 1814–5
Publicada em 1822
Dedicada a Johann Wolfgang von Goethe

5 – Meeresstille. Sostenuto – Glückliche Fahrt. Allegro vivace

John Alldis Choir
New Philharmonia Orchestra
Pierre Boulez, regência


Gustav MAHLER (1850-1911)

Sinfonia no. 10 em Fá sustenido maior (1910)
6 – Andante – Adagio

London Symphony Orchestra
Pierre Boulez, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Falando em chá de fita…
BTHVN250, por René Denon

Vassily

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