Franck, Widor, Karg-Elert, Reger, Alain e Langlais no órgão de Dordrecht

Na virada do século 19 para o 20, compositores como Mahler, Scriabin e Strauss levaram a tonalidade funcional e o cromatismo aos seus limites,muitas vezes com os tons grandiloquentes de Wagner. Debussy, também expandindo as tonalidades e cromatismos, cultivou sonoridades sutis, no que muitos chamam de impressionismo.

As obras para órgão deste CD se inserem nesse contexto. César Franck, ainda no final do século XIX, pode ser considerado um precursor do debussismo ao evitar os arroubos de grandeza, mantendo um certo equilíbrio. Widor, também francês, é famoso principalmente por suas Sinfonias para Órgão que têm, ao contrário de Franck, momentos de expressão com a delicadezade um elefante, como a célebre Toccata e também o Intermezzo presente neste disco. Widor, que nunca foi um vanguardista, tocou no imenso órgão Cavaillé-Coll da igreja de Saint-Sulpice (Paris) até os 89 anos e morreu aos 93 em 1937, quando já era um dinossauro considerado hiper-antiquado por jovens como Messiaen ou Dutilleux.

Reger e Karg-Elert são os princpais compositores alemães para órgão depois da morte de Bach. O primeiro já apareceu aqui no PQPBach, o segundo faz a sua estreia hoje. Enquanto as composições de Reger são baseadas na polifonia a duas, três, quatro vozes, Karg-Elert usa harmonias mais modernas para fazer uma música que é pura expressão colorida, fazendo uso de combinações de diversos timbres como a orquestra de Mahler ou de Debussy.

No final de sua vida, na Alemanha dos anos 1920 e 30, Karg-Elert foi duramente criticado por não ser nacionalista o suficiente, com suas influências francesas e cosmopolitas. Foi até chamado de judeu, embora não fosse. Nos EUA e na Inglaterra, contudo, suas obras para órgão foram muito apreciadas:

Karg-Elert é um impressionista e colorista de grande distinção, imaginativo ao retratar uma grande variedade de sentimentos (University of Michigan, 1939)

Jehan Alain perdeu sua vida na 2ª Guerra, tendo deixado um pequeno mas importante catálogo de obras para órgão. Sua irmã, Marie-Claire Alain, foi uma das organistas francesas de maior renome no século XX.

Jean Langlais, que também estreia hoje no PQPBach, faz parte de uma longa tradição de organistas cegos que veio desde o Renascimento com o espanhol Antonio de Cabezón.

Franck, Widor, Karg-Elert, Reger, Alain e Langlais no órgão de Dordrecht
01. César Frank – Troisième Choral
02. César Frank – Prélude, Fugue et Variation
03. Charles-Marie Widor – Symphony No 6 – Intermezzo
04. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – Harmonies du soir
05. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – Clair de lune
06. Sigfrid Karg-Elert – Trois Impressions – La nuit
07. Max Reger – Toccata in d minor, Opus 59
08. Jehan Alain – Choral dorien
09. Jean Langlais – Suite Breve – I. Grand Jeux
10. Jean Langlais – Suite Brève – II. Cantilène
11. Jean Langlais – Suite Brève – III. Plainte
12. Jean Langlais – Suite Brève – IV. Dialogue sur les Mixtures

Órgão Kam (1859) da Grote Kerk, Dordrecht, Países Baixos
Margreeth de Jong – organista

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O órgão de Dordrecht, cidade próxima a Rotterdam

Pleyel

O órgão de Händel, J.S. Bach, Mozart, Widor, Vierne, Litaize, Duruflé – 12 belas páginas

Olivier Latry - 12 des plus belles pages de sa discographieRecentemente eu escrevi que o Brasil tem uma rica tradição pianística, apesar dos pesares. Sobre o órgão de tubos, não se pode dizer o mesmo. São instrumentos caros, imensos, precisam de manutenção com mão de obra especializada… Tirando as honrosas exceções aqui e ali, muitas igrejas em nosso país deixaram seus órgãos definhar com os cupins e a maresia.

Pretendo trazer para o PQPBach um pouco desse instrumento. O CD de hoje tem algumas obras essenciais do repertório para órgão como os corais de Bach e a toccata de Widor.

Seis curiosidades sobre o órgão de tubos:

1. O órgão é um dos instrumentos mais antigos de que se tem notícia, segundo a tradição foi inventado no século III a.C. em Alexandria, muitos séculos antes do cravo ou do piano. O que não significa que ele só serve para tocar música antiga: compositores como os franceses Litaize, Duruflé e Messiaen escreveram muita música de vanguarda para órgão no século XX, sem falar nos mais recentes Xenakis (1922–2001), Ligeti (1923—2006), Terry Riley (1935–) e Philip Glass (1937–).
2. Antes da eletricidade, um assistente ficava atrás do órgão o tempo todo. Isso mesmo, nos tempos de Bach o som só saía continuamente enquanto alguém estivesse bombeando ar para os foles…
3. Órgãos fazem muito eco. Principalmente em igrejas amplas e altas, com grande reverberação, o som continua ecoando vários segundos depois do órgão parar de tocar. Ao vivo esse efeito é incrível e no disco de Olivier Latry também é possível ouvir o eco que fica no ambiente sonoro da Catedral Notre Dame de Paris.
4. Cada órgão é único: eles não são feitos em série, ao contrário de carros ou pianos. Por exemplo o órgão barroco Arp Schnitger de Mariana/MG tem semelhanças com seus irmãos que vivem na Alemanha e na Holanda, mas também tem muitas diferenças.
5. Órgãos têm teclados manuais – que podem ser dois, três, quatro… cada um com um registro, ou seja, tipo de som – e ainda uma pedaleira para os sons mais graves. Assim, com duas mãos e os pés, o organista pode tocar obras a três vozes como as Triosonatas de Bach.
6. Händel, W.F. Bach, C.P.E. Bach, Haydn, Mozart e Beethoven escreveram obras para órgãos mecânicos, ou “relógios musicais”, que eram instrumentos autômatos, sem um músico tocando, e deviam causar um grande espanto no século 18. As obras de Händel e Mozart aqui presentes fazem parte desse grupo, mas a gravação aqui tem um músico tocando, porque soa melhor, né?

Olivier Latry – 12 des plus belles pages de sa discographie
01 – Pieces for a Musical Clock, Georg Friedrich Händel (A voluntary on a flight of angels; Allegro; Menuet; Gigue)
02 – Choral ”Wachet auf, ruft uns die Stimme” (BWV 645), J.S. Bach
03 – Prélude & Fugue en fa mineur (BWV 534), J.S. Bach
04 – Choral ”Wir glauben all an einen Gott” (BWV 740), J.S. Bach
05 – Trio Sonata No. 2 (BWV 526), J.S. Bach
06 – Fantasia for mechanical organ in F minor, K. 608, Wolfgang Amadeus Mozart
07 – Symphonie No. 5 pour orgue: I. Adagio, Charles-Marie Widor
08 – Symphonie No. 5 pour orgue: II. Toccata, Charles-Marie Widor
09 – Naïades (24 Pièces de Fantaisie), Louis Vierne
10 – Carillon de Westminster (24 Pièces de Fantaisie), Louis Vierne
11 – Scherzo, Gaston Litaize
12 – Toccata, Maurice Duruflé

Olivier Latry – Órgão

Órgãos utilizados:
Händel, Mozart – órgão Stumm em Kirchheimbolanden, Alemanha (1745)
Bach (Coral BWV 645) – órgão Giroud em Le Grand Bornand, França (1988, ‘estilo século XVII’)
Bach (BWV 534) – órgão Aubertin em Vichy, França (1991)
Bach (Coral BWV 740) – órgão Aubertin em Viry-Chatillon, França (1991)
Bach (Trio Sonata) – órgão Giroud em Grenoble, França (1982)
Duruflé – órgão Cliquot/Cavaillé-Coll/Beuchet-Debierre em St Étienne du Mont, Paris, França (1777/1863/1956)
Widor, Vierne, Litaize: órgão Cavaillé-Coll (modificado) em Notre Dame de Paris, França (1868)

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Kirchheimbolanden, Alemanha. Mozart pisou nessa pedaleira.
Kirchheimbolanden, Alemanha. Mozart pisou nessa pedaleira.