BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Quinteto para cordas em Lá maior (transcrição da Sonata Op. 47) – L’Archibudelli – Concerto em Dó maior para violino, violoncelo e piano, Op. 56 – Maier/Bylsma/Badura-Skoda

Como é que é?

Um QUINTETO “Kreutzer”?

Sim, meus caros: a fama da extraordinária sonata Op. 47, capaz de eternizar o nome dum dedicatário que sequer se coçou para tocá-la, e de manter na história o ademais esquecido gran pazzo Brischdauer, começou logo quando de sua publicação, e resultou num sem número de imitações baratas e, no que nos importa hoje, em diferentes arranjos. De transcrições para piano solo de Godowsky e Czerny e para violoncelo e piano de  Franchomme, passando por Tárrega para o violão e, surpreendentemente, por um jovem Tchaikovsky, que detestava Beethoven mas, não obstante, orquestrou parte do movimento inicial durante seus estudos no Conservatório de São Petersburgo (o link leva para a partitura, pois infelizmente desconheço qualquer gravação), bem, bastante coisa foi feita da famosa sonata.

Vê-la transformada num quinteto de cordas, então, não deveria chocar ninguém – o próprio Beethoven, que publicou em vida apenas uma obra escrita para essa formação, providenciou arranjos de outras peças para este meio, com o qual voltou a flertar no final de sua carreira. Mesmo que alguns frontispícios das edições modernas atribuam sem-cerimoniosamente o arranjo ao próprio compositor, a edição original, publicada em 1832 – cinco anos após sua morte – não faz menções a seu autor. Muitos são os que atribuem o trabalho a Ferdinand Ries (1784-1838), amigo e aluno de Beethoven, enquanto não poucos estudiosos, ao examinarem a partitura, concluem que ela só pode ser da própria lavra do renano.

Independentemente da autoria, trata-se de um trabalho muito hábil, de alguém que conhecia muito bem a obra e dominava muito bem o métier. Quem espera simplesmente um confronto entre um violino solista e quatro instrumentos coadjuvantes surpreende-se logo no começo, ao ouvir os acordes de abertura entoados por violino, viola e por um dos violoncelos – sim, há dois deles, repartindo as partes de baixo, em contraste com os demais quintetos de Beethoven, que exigem duas violas. Mais que uma transcrição, trata-se de uma recomposição muito convincente que, assim espero, muito os surpreenderá.

Abrindo a gravação, uma muito refrescante versão daquele esquisito concerto triplo, Op. 56, executado em instrumentos originais, assim como foi o quinteto. Achei muito pitorescos os timbres dos solistas – menção honrosa para o fanhoso fortepiano da coleção do onipresente Paul Badura-Skoda – e o sabor camerístico da orquestra compacta, que faz a obra soar como um concerto grosso, deixando-a menos pesada e mais interessante que o habitual.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Dó maior para violino, violoncelo, piano e orquestra, Op. 56
Composto entre 1803-05
Publicado em 1807
Dedicado a Joseph Franz Maximilian, príncipe Lobkowitz

1 – Allegro
2 – Largo (attacca)
3 – Rondo alla polacca

Paul Badura-Skoda, fortepiano
Anner Bylsma, violoncelo
Collegium Aureum
Franzjosef Maier,
violino e regência

Quinteto em Lá para dois violinos, viola e dois violoncelos,
baseado na sonata para
violino e piano, Op. 47, “Kreutzer”
Arranjo anônimo, publicado em 1832

4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Presto

L’Archibudelli
Vera Beths e Lucy van Dael, violinos
Jürgen Kussmaul, viola
Lidewij Scheifes e Anner Bylsma, violoncelos

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

“Sonata Mulattica” é também o título duma coletânea da poetisa Rita Dove sobre a história de Bridgetower, e que recomendamos fortemente a nossos leitores-ouvintes.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

1 comment / Add your comment below

  1. Aprecio o concerto triplo, mas só hoje, nesta versão da postagem, escutei-o com bastante gosto. Na verdade, só pelos nomes envolvidos dá para se ter certa noção do nível da interpretação, o que felizmente se confirma e se acentua. Nela, tive a impressão de que, com o fortepiano de PBS, esta parte (piano) do concerto tem uma presença encorpada; geralmente, pelo menos em outras versões que escutei, o piano não se sobressai tanto… O quinteto achei um barato, não o conhecia. Ao lado da suscitada lembrança da sonata, surge a vontade de voltar-se de maneira focada ao quinteto, a fim de que seus componentes específicos sejam apreciados sem tal reminiscência — seria possível? — que ofusca o quinteto (pelo menos em minha cabecinha). Bem, de todo modo, um álbum a ser revisitado com carinho, várias vezes. Obrigado por compartilhá-lo.

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