Sorin Lerescu (1953): Sinfonias

Sorin Lerescu (1953): Sinfonias

Como comentei em um post anterior de música romena, às vezes a sonoridade, a ambiência da música de Lerescu me lembram muito o Stefan Niculescu dos anos 70 e 80. Verdade que tenho a sensação de que falta um quê inominável, aquele que separa a obra-prima de uma obra “apenas” muito interessante e que não se restringe simplesmente a uma falta de novidade, ou de originalidade extrema. O que posso dizer é que parece faltar o peso, a força extrema com Niculescu bizarramente nos conduz pela leveza. E mais ainda, como ele consegue abandoná-la sempre que quer, sem se tornar refém da criação. Ainda assim, as sinfonias de Lerescu são obras de enorme beleza, e tenho certeza de que devem agradar mesmo os exigentes. Há nelas um transbordar de cor e dramaticidade que me recordam também um pouco daquele grandeur do Rautavaara dos primeiros concertos para piano, da época em que este ainda não tinha diluído de vez sua música (mas as sinfonias do Lerescu, ainda assim, são melhores que o melhor Rautavaara). As três primeiras sinfonias, respectivamente de 1984, 1987 e 1994, é que realmente são o caso. A quarta, para orquestra com órgão, não me impressiona tanto. E dentre as três primeiras, tenho um carinho todo especial pela segunda, que desde os primeiros segundos já nos envolve com uma entrada brilhante e sua delicadeza um pouco infantil.

Boa diversão!

Sorin Lerescu (1953)

Sinfonias

CD 1
01 Sinfonia nº1, para orquestra (1984)
02 Sinfonia nº2, para orquestra (1987)

CD 2
01 Sinfonia nº3, para orquestra (1987)
02 Sinfonia nº4, para orquestra com órgão

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Sorin Lerescu naquele país que não existe. (Esta é uma piada interna).

itadakimasu

14th International New Music Week 2004 – Bucareste

Aí vai mais um cd de música romena. Embora seja sempre agradável ouvir um Niculescu, a peça gravada aqui, Sequentia (1994) para flauta, clarinete, violino, violoncelo e percussão, não é do que mais me surpreende nele. É de sua última fase, abertamente sacra, com peças em geral um pouco mais escuras e muito densas. Prefiro o momento anterior, doce sem deixar de ser denso, expressivo sem deixar de ser arrojado (ao contrário de compositores como Rautavaara, que realmente deram para trás para encontrarem comunicação). Ainda assim, como já dizia, a peça é interessante, guarda um sabor meio jocoso, apesar da sacralidade óbvia. Outras peças do período, como as sinfonias 4 e 5 também são muito fortes, com momentos de beleza soberba. O que me incomoda, talvez, é a sensação de reinserção na ambientação mais típica da música de vanguarda, ainda que com estilo. Sinto muita semelhança com o Lutoslawski de Mi-Parti e Livre para Orquestra (duas das minhas prediletas deles, por sinal) pelo ar grandioso, um tanto difuso, belo mas um tanto quanto assustador (sem falar na heterofonia). O Niculescu outsider me instigava mais.

O quer realmente pega aqui é a introspectiva rouaUruauor, para as 9 da manhã, de Octavian Nemescu (1940). O compositor usa durante quase toda a peça uma base eletrônica relativamente estática e vai ornamentando sem uma preocupação coesiva. Os lampejos sonoros que vão se sucedendo, pouco preocupados com conexões e desenvolvimento, são eivados de uma força religiosa, um transe, ainda que no final das contas a música não trate disso. A peça em questão faz parte de um ciclo que o compositor compôs para as 24 horas do dia.

Ainda que eu tenha enfatizado as peças do Nemescu (por ser a mais fantástica do cd, na minha opinião) e a do Niculescu (dada minha adoração pela música dele), as outras duas peças chamam igualmente a atenção. Para cello e fita magnética, a peça Shadow III, de Doina Rotaru, tem um início deslumbrante, e a fusão entre o cello e a fita magnética resulta em uma sonoridade muito cativante. Finalmente, o Concerto para sax de Sorin Lerescu é de uma doçura ímpar, às vezes até me recordando o Niculescu dos anos 80 (o que, aliás, não me parece fortuito, já que várias de suas peças me passam essa sensação). Vou ver se posto logo suas sinfonias (aproveitando que já tenho o link pronto) para ter opiniões sobre a semelhança, por exemplo, entre o clima das sinfonias 2 e 3 do Niculescu com as do Lerescu.

Mais informações sobre a Semana de 2004, clique aqui.

Boa audição!

14ª Semana Internacional de Música Nova de Bucareste (2004)

01 Stefan Niculescu – Sequentia (1994), para flauta, clarinete, violino, violoncelo e percussão
02 Doina Rotaru – Shadow III, para cello e fita magnética
03 Octavian Nemescu – rouaUruauor, para as 9 da manhã
04-05 Sorin Lerescu – Concerto para sax e orquestra

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itadakimasu