Como Marlos Nobre e Edino Krieger são os dois expoentes mais representativos da música clássica brasileira atual e como Krieger teve duas postagens contra uma de Nobre, esta dividida com Villa-Lobos, faço agora o contrabalanço, com a segunda do compositor pernambucano, mais fácil de ser achado em coletâneas do que em CDs inteiramente dedicados a ele.
Por sorte, tenho um – dos bons – que é uma coletânea de coletâneas. Explico.
Marlos Nobre ganhou em 2005 o Prêmio Tomás Luis de Victoria, uma espécie de Prêmio Príncipe de Astúrias da música clássica espanhola concedida a compositores latino-americanos e ibéricos, e teve a edição de um livro sobre sua vida e obra (El sonido del realismo mágico) bancado pela fundação que concede a láurea. O livro acompanha o presente CD, que compila gravações retiradas de outros álbuns.
Destacam-se no disco: o famoso Frevo, para piano, que tem uma transcrição para violão e depois foi transformado no quinto e último movimento do IV Ciclo Nordestino para piano. Yanomami, uma bem sucedida peça para tenor solo e coral acompanhada por somente um único violão. As Três canções negras, com letra dos poetas pernambucanos Ascenso Ferreira e Manuel Bandeira, em particular a primeira delas. E Passacaglia, a melhor obra sinfônica de Nobre depois de Convergências e antes de Kabbalah (esta não me agrada muito).
A remissão das Três canções negras à Bachianas n° 5 é explícita pela igual formação instrumental, para oito celli e soprano, e pela utilização de poemas de Bandeira – tanto que o CD original traz ambas as obras. Porém não há outros traços, fora esses. Já a Passacaglia foi ampliada um pouco e destinada a balé com o nome de Saga Marista, sob encomenda dos Irmãos Maristas pelo centenário da congregação no Brasil, em 1997, e reciclada em uma transcrição para banda sinfônica chamada Chacona amazônica – nada que supere os Desafios, que é quase a mesma coisa tendo cada instrumento da orquestra como solista.
***
Marlos Nobre (1939): Selección sonora (Nobre e outros) (Premio Tomás Luis de Victoria 2005)
Quarteto de cordas, op. 23 n° 1 (1967)
1. Variantes
2. Interlúdio
3. Postlúdio
Música Nova String Quartet
Desafio VII para piano e orquestra de cordas, op. 31, n° 7 (1980)
4. I. Cadenza e II. Desafio
Maria Luíza Corker-Nobre, piano
Música Nova String Orchestra
Marlos Nobre, regência
5. Yanomami, para coro misto, tenor e violão, op. 47 (1980)
Choeur des XVIème de Fribourg
Olivier Rumpf, tenor
Dagoberto Linhares, violão
Jean Jacques Martin, regência
Sonante I, para marimba solo, op. 80 (1994)
6. Intrata
7. Toccata
Miguel Bernat, marimba
Três canções negras, para soprano e octeto de violoncelos, op. 88 (1999)
8. Maracatu
9. Cantilena
10. Candomblé
Cello Octeto Conjunto Ibérico
Pilar Jurado, soprano
Elias Arizcúren, regência
11. Tango, para piano, op. 61 (1984)
12. Frevo, para piano, op. 43 (1977)
Marlos Nobre, piano
13. Passacaglia, para orquestra, op. 84 (1997)
Não constam regente e orquestra
CVL