Crumb, Tallis, Marta, Ives & Shostakovich: Black Angels (Kronos Quartet)

Crumb, Tallis, Marta, Ives & Shostakovich: Black Angels (Kronos Quartet)

Os CDs do quarteto de cordas Kronos sempre fizeram minha alegria. O grupo existe há 34 anos e sempre faz trabalhos muito originais ligados à música moderna. Não surpreende o fato de terem estreado mais de 400 obras dedicadas a eles, algumas escritas por conhecidos nossos, como Piazzolla, Górecki, Reich, Boulez, etc. Ultimamente – pasmem! -, têm se apresentado com Tom Waits…

Mas fiquemos na música erudita. Há um CD de música erudita africana para quarteto de cordas que vou lhes contar… ou postar algum dia… quem sabe?

Este fantástico Black Angels (1990) é um CD sobre a guerra e a morte.

Inicia com a obra que dá nome ao CD, uma ode ao Vietman do norte-americano George Crumb (1929- ). Se o primeiro movimento é bastante assustador, o segundo começa por uma citação de A Morte e a Donzela de Schubert e finaliza com outra citação facilmente reconhecível mas que não consigo pescar na memória.

Thomas Tallis (1510-1585) parece estar como um peixe fora d`água neste trabalho do Kronos, porém o texto em que se baseia o moteto para 40 vozes Spem in Alium conta uma batalha bíblica.

Doom, a Sigh de Istvan Marta (1952- ) incorpora uma gravação autêntica de duas mulheres romenas lamentando a morte de parentes e amigos. É difícil ouvir até o fim o idioma universal da dor.

Depois, o completo contraste. Temos algo pra lá de espalhafatoso e engraçado. O compositor erudito americano Charles Ives (1874-1954) canta sua “Marcha Militar” They are there! (1917) de forma inacreditável. Exatamente, Ives canta! Trata-se de uma canção que escreveu “dedicada” à Primeira Guerra Mundial. A gravação de Ives é acompanhada discretamente pelo Kronos. Espantoso. Vale a pena conhecer a letra de They are there! (Fighting For The People’s New Free World):

There’s a time in many a life,
when it’s do though facing death
and our soldier boys will do their part
that people can live in a world where all will have a say.
They’re conscious always of their country’s aim,
which is Liberty for all.
Hip hip hooray you’ll hear them say
as they go to the fighting front.

Brave boys are now in action
They are there, they will help to free the world
They are fighting for the right
But when it comes to might,
They are there, they are there, they are there,
As the Allies beat up all the warhogs,
The boys’ll be there fighting hard
a-a-and then the world will shout
the battle cry of Freedom.
Tenting on a new camp ground.

When we’re through this cursed war,
All started by a sneaking gouger,
making slaves of men (God damn them),
Then let all the people rise,
and stand together in brave, kind Humanity.
Most wars are made by small stupid
selfish bossing groups
while the people have no say.
But there’ll come a day
Hip hip Hooray
when they’ll smash all dictators to the wall.

Then it’s build a people’s world nation Hooray
Ev’ry honest country free to live its own native life.
They will stand for the right,
but if it comes to might,
They are there, they are there, they are there.
Then the people, not just politicians
will rule their own lands and lives.
Then you’ll hear the whole universe
shouting the battle cry of Freedom.
Tenting on a new camp ground.
Tenting on a new camp ground

O Quarteto de Cordas Nº 8 de Dmitri Shostakovich (1906-1975), de 1960, é dedicado às vitimas do fascismo e da guerra. É uma obra-prima que já postamos aqui algumas vezes, mas que teima em reaparecer.

Crumb, Tallis, Marta, Ives & Shostakovich: Black Angels (Kronos Quartet)

– George Crumb “Black Angels: Thirteen Images from the Dark Land”, for ampliflied/electric String Quartet (1970)
– Thomas Tallis “Spem in Alium” 40-part motet (circa 16th century) arranged by Kronos
– Istvan Marta “Doom: A Sigh,” (1989)
– Charles Ives “They Are There!” (1917/1942) arranged by John Geist
– Dmitri Shostakovich String Quartet No. 8 (1960)

Faixas:

1. Black Angels: I. Departure (5:37)
2. Black Angels: II. Absence (5:25)
3. Black Angels: III. Return (7:13)

4. Spem In Alium (Sing And Glorify) (8:52)

5. Doom. A Sigh (10:54)

6. They Are There! (2:47)

7. Quartet No. 8: I. Largo (4:57)
8. Quartet No. 8: II. Allegro Molto (2:36)
9. Quartet No. 8: III. Allegretto (4:19)
10. Quartet No. 8: IV. Largo (4:12)
11. Quartet No. 8: V. Largo (3:56)

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O Kronos na época desta gravação

PQP Bach

Charles Ives (1874-1954): Integral das Sinfonias (Dudamel)

Charles Ives (1874-1954): Integral das Sinfonias (Dudamel)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Antes que a rotina normal de concertos parasse em março, um dos últimos projetos de Gustavo Dudamel com a Filarmônica de Los Angeles foi um ciclo de sinfonias de Charles Ives. São estas excelentes performances de Ives, gravadas ao vivo no Walt Disney Hall de Los Angeles em fevereiro, que estão reunidas neste lançamento.

Por sinfonias “completas”, falamos das quatro obras numeradas. O conjunto não inclui a New England Holiday Symphony, coleção de quatro peças com nomes de feriados dos Estados Unidos que Ives admitiu não ter nenhuma conexão musical entre elas e que poderia ser tocada em concerto como obras orquestrais separadas, ou a Universe Symphony, planejada em 1915 como uma contemplação dos mistérios da criação e que deixou inacabada como uma pilha de esquetes.

Talvez Dudamel acabe gravando essas duas obras também, pois este CD certamente demonstra que ele é um excelente intérprete de Ives, traçando infalivelmente a jornada do quase irrepreensível romantismo tardio da Primeira Sinfonia à complexidade modernista da Quarta.

Mas se a Primeira Sinfonia foi um adeus à tradição europeia (Wagner e Dvořák), então a Segunda está positivamente repleta de referências à música americana, sejam hinos, canções patrióticas ou números de vaudeville. Dudamel e sua orquestra habilmente desvendam os emaranhados contrapontísticos em que Ives tece com a mesma certeza que orienta a Terceiro, mais explicitamente carregada de citações.

Mas em qualquer ciclo dessas sinfonias, é a Quarta que apresenta os maiores desafios de execução e as maiores recompensas musicais. A performance de Dudamel, com Marta Gardolińska como a segunda maestrina e o Los Angeles Master Chorale fornecendo o coro fora do palco, resume magnificamente a complexidade e a ambição transcendental deste trabalho extraordinário.

Charles Ives (1874-1954): Integral das Sinfonias (Dudamel)

1. Symphony No. 1 : I. Allegro con moto (12:10)
2. Symphony No. 1 : II. Adagio molto. Sostenuto (7:23)
3. Symphony No. 1 : III. Scherzo. Vivace (4:27)
4. Symphony No. 1 : IV. Allegro molto (12:27)

5. Symphony No. 2 : I. Andante moderato (5:53)
6. Symphony No. 2 : II. Allegro (9:44)
7. Symphony No. 2 : III. Adagio cantabile (8:38)
8. Symphony No. 2 : IV. Lento maestoso (2:12)
9. Symphony No. 2 : V. Allegro molto vivace (9:26)

10. Symphony No. 3 “The Camp Meeting” : I. Old Folks Gatherin’ – Andante maestoso (7:27)
11. Symphony No. 3 “The Camp Meeting” : II. Children’s Day – Allegro moderato (6:32)
12. Symphony No. 3 “The Camp Meeting” : III. Communion – Largo (7:25)

13. Symphony No. 4 : I. Prelude. Maestoso (3:29)
14. Symphony No. 4 : II. Comedy. Allegretto (11:46)
15. Symphony No. 4 : III. Fugue. Andante moderato (8:12)
16. Symphony No. 4 : IV. Finale. Very slowly – Largo maestoso (7:29)

Los Angeles Philharmonic
Gustavo Dudamel

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Ives: compositor e homem de negócios

PQP

Charles Ives (1874-1954): Sinfonia No. 4 / Robert Browning Overture / Songs Majority / Songs They Are There / Songs An Election / Songs Lincoln – Leopold Stokowski

Charles Ives (1874-1954): Sinfonia No. 4 / Robert Browning Overture / Songs Majority / Songs They Are There / Songs An Election / Songs Lincoln – Leopold Stokowski

Dando continuidade a esta que é a oitava parte da mini biografia do maestro Leopold Stokowski (1882-1977) que se estende no período entre 1954 até 1961. Lá nos idos de 1954, a Houston Symphony estava procurando um novo diretor musical. Quando o presidente do conselho Ima Hogg entrou em contato com o gerente de Stokowski, Andrew Schulhof, este lhe disse que “o hómi” estava pronto para assumir a responsabilidade. Em poucos dias, Stokowski, então com 73 primaveras, assinou um contrato de três anos como Diretor Musical da Orquestra Sinfônica de Houston, começando na temporada de 1955-1956. Porém esta relação havia algo como uma desconexão cultural desde o começo, e apesar da falta de empatia entre as partes, Stokowski trouxe alguns concertos célebres e bastante exposição na televisão, além de um extenso programa de gravação para esta orquestra. Em seu concerto de abertura da temporada, o seu primeiro em Houston, em outubro de 1955, Stokowski conduziu a estreia da “Symphony no 2 Mysterious Mountain” , de Alan Hovhaness (1911-2000), transmitido nacionalmente pela NBC. Quando seu contrato inicial de três anos terminou em 1958, Stokowski e a Houston Symphony concordaram em uma série de contratos anuais. No entanto, Stokowski passou cada vez menos tempo em Houston e, em 1961, terminou seu trabalho em Houston.

Em 1959, se amigo Eugene Ormandy sugeriu que Leopold Stokowski voltasse a conduzir a Orquestra da Filadélfia. Os concertos resultantes de fevereiro de 1960 foram os primeiros de Stokowski com a Orquestra da Filadélfia desde 3 de abril de 1941. Estes concertos foram construídos com a programação inspirada de Stokowski, e foram entusiasticamente recebidos pelo público e pelos críticos.

Leopold Stokowski com Franco Corelli, no ensaio de Turandot

Stokowski e a ópera: Embora o maestro tenha realizado uma série de óperas em forma de concerto, e mesmo semi-encenado, ele não teve a experiência de diretor musical da ópera. Dimitri Mitropoulos teve uma súbita morte em novembro de 1960, aos 59 anos, ele estava programado para conduzir o “Turandot” de Puccini no Metropolitan Opera de fevereiro a abril de 1961 então para substitui-lo Stokowski foi convidado por Rudolf Bing para conduzir a ópera que prontamente aceitou e preparou-se. Ele detectou alguns não conformes na partitura impressa do trabalho de Puccini, envolveu-se na iluminação e figurinos, e ensaiava separadamente cantores e coros. Na noite de abertura, o público deu ao elenco e ao maestro Stokowski uma ovação prolongada. No entanto, as reações posteriores foram menos favoráveis. Alguns críticos apreciaram a sonoridade e o brilho da orquestra, mas outros criticaram duramente a falta de cuidado de Stokowski para os cantores e a ação de palco.

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Charles Edward Ives

Vamos compartilhar com os amigos do blog obras do compositor Charles Ives , na íntegra Charles Edward Ives , (nascido em 20 de outubro de 1874, Danbury , Connecticut , EUA e falecido em 19 de maio de 1954 em Nova York). A Sinfonia nº 4 apesar de ter o seu período de composição registrado entre 1910 e 1925 foi tocada na íntegra pela primeira vez só em 26 de abril de 1965, no Carnegie Hall de Nova York, com Leopold Stokowski dirigindo a American Symphony Orchestra e o Schola Cantorum, com dois outros maestros, José Serebrier e David Katz. Até hoje os críticos afirmam que “nenhum outro maestro foi capaz de expressar com grande eloquência o espírito geral de uma obra de arte tão brilhante e enigmática como esta quarta sinfonia de Ives”. Eu em minha modestíssima opinião acho que o toque mágico de Stokowski permaneceu intacto no final da sua vida quando realizou o projeto de trazer pela primeira vez esta difícil obra-prima de Ives há muito negligenciada ao público, o maestro tinha 83 anos quando fez esta empreitada, esta gravação de estreia mundial ainda transborda de emoção. Ainda neste disco dedicado a Ives, temos o poema sinfônico com grandes dissonâncias “Robert Browning”e mias quatro músicas corais acompanhadas de orquestra. Pouco mais de uma hora de música difícil, porém gratificante, deliciem-se com a estranha e selvagem imagem da América transcendental e mística de Ives na batuta do grande Leopold.

Charles Ives: Sinfonia No. 4 / Robert Browning Overture / Songs Majority / Songs They Are There / Songs An Election / Songs Lincoln

01 Symphony No. 4 I. Prelude, Maestoso
02 Symphony No. 4 II. Comedy, Allegretto
03 Symphony No. 4 III. Fugue, Andante moderato con moto
04 Symphony No. 4 IV Finale, Largo maestoso

Members of the Schola Cantorum of New York
The American Symphony Orchestra
Recorded in Manhattan Center, New York City, April 29 & 30, 1965

05 Robert Browning Overture

The American Symphony Orchestra
Recorded in Manhattan Center, New York City, December 21, 1966

06 Songs Majority (or The Masses)
07 Songs They Are There (A War Song March)
08 Songs An Election (It Strikes Me That)
09 Songs Lincoln, the Great Commoner

The Gregg Smith Singers / Ithaca College Concert Choir
The American Symphony Orchestra
Recorded in Manhattan Center, New York City, October 18, 1967

José Serebrier and David Katz assisting conductors
Leopol Stokowski

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Leopold, Leopold…!!!

Ammiratore

Impromptu – Peças para Piano – Shai Wosner

Impromptu – Peças para Piano – Shai Wosner

IMPROMPTU 

Schubert & CIA

SHAI WOSNER

 

 

O álbum desta postagem parte de uma ideia simples – excelente – e é muito bem feito. Achei a capa ótima, com os nomes dos compositores e o do intérprete grafitados sobre uma foto informal, alegre, jovial. Traduz o espírito do disco.

Imagine reunir um grupo de compositores que também foram grandes intérpretes de suas obras e improvisadores em torno de um piano – numa espécie de jam session. Eles se alternam ao teclado, apresentando suas habilidades e seus poderes de improvisação. O tema do disco – Impromptu – é uma forma musical que, apesar de completamente escrita pelo compositor, é o que temos de mais próximo de suas improvisações. Assim como as peças intituladas Fantasias.

Uma maneira divertida de ouvir o disco é fazê-lo sem decorar a lista das peças e ir adivinhando qual é o compositor da vez ou qual deles ‘sentou-se’ ao piano naquele momento.

Agora é a minha vez…

Schubert é assim um pouco o anfitrião, o dono do piano, pois ao longo do recital ouvimos quatro dos seus impromptus. Temos também algumas surpreendentes presenças, mesmo que mais momentâneas, com Liszt, Dvořák, Gershwin e – pasmem – Charles Ives. Adorei ouvir o ensolarado Impromptu em lá bemol maior de Chopin surgindo logo após uma peça de Gershwin. Chopin senta-se três vezes ao piano e o grande Ludovico, apesar de só sentar-se uma vez, fica por lá quase dez minutos. Sua estranha Fantasia é um exemplo escrito de suas muitas e famosas improvisações, que a classifica para a lista do disco.

O pianista israelense Shai Wosner é excelente. Estudou com Andre Hajdu, professor que valorizava a improvisação e a considerava uma forma de busca do entendimento musical.

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu em fá menor, D. 935, 1

Charles Ives (1874 – 1954)

  1. Improvisação para piano, No. 3

Antonín Dvořák (1841 – 1904)

  1. Impromptu em ré menor, B 129

George Gershwin (1898 – 1937)

  1. Impromptu in two Keys

Frederik Chopin (1810 – 1849)

  1. Impromptu em lá bemol maior, Op. 29

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu em lá bemol maior, D. 935, 2

Frederik Chopin (1810 – 1849)

  1. Impromptu em fá sustenido maior, Op. 36

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Impromptu S 191 (1872)

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu em si bemol maior, D. 935, 3

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

  1. Fantasia em sol menor, Op. 77

Frederik Chopin (1810 – 1849)

  1. Impromptu em sol bemol maior, Op. 51

Charles Ives (1874 – 1954)

  1. Improvisação para piano, No. 1

Frans Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu em fá menor, D. 935, 4

Shai Wosner, piano

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FLAC | 241 MB

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MP3 | 320 KBPS | 190 MB

Don’t be Shai…

Para uma palhinha, clique aqui!

Aproveite!
René Denon

Charles Ives (1874-1954): Sinfonias Nº 1 e 4, 2 e 3

Charles Ives (1874-1954): Sinfonias Nº 1 e 4, 2 e 3
Charles Ives
Charles Ives

IM-PER-DÍ-VEL !!!!

Ives é um compositor que merece ser ouvido e admirado. Profundamente original, ele não parece ter sido muito influenciado por qualquer escola que não fosse sua própria visão musical. Ousado, por vezes extraordinariamente romântico, outras vezes moderníssimo, mas sempre citando melodias folclóricas reais ou imaginárias, apresentadas às vezes em fanfarras, outras vezes em grandiosas fugas bachianas, Ives é Ives. Trata-se de uma música muito envolvente, daquelas que exigem serem ouvidas. Mesmo quando ouvida repetidamente, permanece nova. Ocasionalmente parece Brahms, Hindemith, Wagner e Bach, mas é mais bem-humorado que todos eles. Também pode ser muito comovente. Acho que Charles Ives teria sido uma pessoa fantástica de se conhecer.

Ives teve uma vida extraordinariamente ativa. Após sua formação profissional como organista e compositor, trabalhou durante 30 anos no setor dos seguros, escrevendo apenas em seu tempo livre. Quando morreu, era um compositor reconhecido e muitas de sua obras tinham sido publicadas. Sua reputação continuou a crescer postumamente, e por ocasião do seu centenário, em 1974, foi reconhecido mundialmente como o primeiro compositor a criar uma “música distintamente americana”. Desde então, sua música tem sido mais frequentemente executada e gravada.

As circunstâncias únicas da carreira de Charles Ives criaram alguns mal-entendidos. Seu trabalho no setor dos seguros, combinado com a diversidade da sua produção e do pequeno número de performances durante os seus anos de vida, conduziram-no a uma imagem de amador. No entanto, ele teve 14 anos de carreira como organista profissional e um meticuloso treinamento formal como composição. Porém, o fato de ter-se desenvolvido longe dos olhos do público, viu suas obras maduras — aos olhos de alguns — parecerem radicais ou desconectas do passado. Erro grave.

Grande gravação da sinfônica de Dallas. O CD, pra variar, vem da Hyperion e é mais uma vez

Ives – Symphonies Nos 1 & 4

1. Symphony No. 1 – 1. Allegro (con moto)
2. Symphony No. 1 – 2. Adagio molto (sostenuto)
3. Symphony No. 1 – 3. Scherzo: Vivace
4. Symphony No. 1 – 4. Allegro molto

5. Symphony No. 4 – 1. Prelude: Maestoso
6. Symphony No. 4 – 2. Comedy: Allegretto
7. Symphony No. 4 – 3. Fugue: Andante moderato con moto
8. Symphony No. 4 – 4. Very slowly (Largo maestoso)

9. Central Park in the Dark

Dallas Symphony Orchestra
Andrew Litton

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Ives – Symphonies Nos 2 & 3

1. Symphony No. 2 – 1. Andante moderato
2. Symphony No. 2 – 2. Allegro molto (con spirito)
3. Symphony No. 2 – 3. Adagio cantabile
4. Symphony No. 2 – 4. Lento maestoso
5. Symphony No. 2 – 5. Allegro molto vivace

6. Symphony No. 3 [The Camp Meeting] – 1. Old Folks Gatherin’: Andante maestoso
7. Symphony No. 3 [The Camp Meeting] – 2. Children’s Day: Allegro
8. Symphony No. 3 [The Camp Meeting] – 3. Communion: Largo

9. General Booth enters into Heaven

Dallas Symphony Orchestra
Andrew Litton

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Charles Ives em 1913
Charles Ives em 1913

PQP

Charles Ives (1874-1954): Sinfonia No. 2 e Sinfonia No. 3 “The Camp Meeting”

Charles Ives (1874-1954): Sinfonia No. 2 e Sinfonia No. 3 “The Camp Meeting”

Este CD é finalizado com uma palestra explicativa de Leonard Bernstein sobre a música de Ives e sua posição dentro da cultura norte-americana e mundial. Só isso já vale o CD. Abaixo, copio um belo texto de Eduardo Prjadko (roubado quase completo da excelente Obvious) sobre o mesmo assunto.

Ives foi um compositor anônimo em sua época. Era dono de uma empresa de seguros em Nova York e teve uma vida abastada, mas nas horas vagas era compositor. Quando jovem teve uma vida musical bastante intensa, patrocinada pelo pai, que também era músico. Aprendeu a tocar piano, órgão, e mesmo muito novo, já fazia composições. Sua formação musical foi a tradicional europeia, no entanto Ives estava na América. Neste mesmo ambiente se desenvolvia o Jazz e todo tipo de experimentação.

Como Ives não tinha muito tempo para compor e também era bastante detalhista, suas obras levavam muitos anos para ficarem prontas. Uma de suas obras mais importantes, Three Places in New England, que consiste em três movimentos, levou cerca de 25 anos desde os primeiros esboços até os últimos retoques. Desta obra em específico, datam os primeiros esboços de 1903. Nesta mesma época Schoenberg terminava de compor Pelleas und Melisande, uma obra pra lá de tonal e tradicional.

O mais importante a se dizer da Three Places in New England está no segundo movimento, chamado Putnam’s Camp, Redding, Connecticut. Os primeiros cinco segundos já deixam o ouvinte de cabelos em pé, com uma entrada forte e densa, bastante incomum. Dalí para frente não é difícil identificar vários momentos em que a música se torna caótica e difícil de entender. A ideia de Ives foi justamente demonstrar isto: o ambiente caótico dos sons das ruas, onde se ouve uma banda de sopro passar numa esquina ao mesmo tempo que se ouve uma marcha na outra. Não se pode dizer que é uma obra completamente atonal, mas com certeza não tinha muito compromisso com o tonalismo.

Existem bibliografias que dizem que o próprio pai de Ives fazia experimentações na música, o que explicaria as obras muito à frente de seu tempo, mas não vou me aprofundar neste assunto. O fato é que a liberdade que a América proporcionava, sem as amarras de uma tradição secular, dava à Ives – e à quem mais quisesse – um ambiente onde era possível criar obras completamente fora do comum.

Outra obra bastante interessante é a The Unanswered Question. Nela, Ives criou uma melodia que se repete mas não é finalizada adequadamente. É como se você fizesse uma pergunta e não obtivesse a resposta (assim como propõe o nome da obra: A Questão não Respondida, em português). O trompete faz sempre a mesma “pergunta”, enquanto que um quarteto de sopro tenta responder de maneira adequada, mas sempre falhando. À medida que a música evolui, o quarteto de sopro se torna cada vez mais dissonante e mais difícil de entender. Se esta obra tivesse sido apresentada em público naquela época, Ives teria sido alvo de piadas.

Apesar de Ives ter sido um compositor anônimo, era bastante convicto de seus ideais. Acreditava no homem comum, que trabalha para sustentar seu lar. Era um verdadeiro praticante do American Way of Life, onde se pode chegar com uma mão na frente e outra atrás e trabalhar duro para se tornar bem sucedido. Entre suas convicções também estavam a de que a música na América devia ser mais audaciosa, mais máscula. Numa ocasião em que um compositor, amigo de Ives, fora vaiado ao apresentar sua obra, Ives não mediu esforços para xingar os detratores de maricas, dizendo para usarem seus ouvidos como homens.

É possível imaginar que um dos motivos que levaram Ives a não se lançar como compositor, foi justamente por não se sentir confortável com a música que era praticada e com a maneira como a música era tratada. Dizia que a música americana foi prostituída; não gostava da ideia de ser obrigado a agradar ao público. A música devia ser feita para engrandecer o homem. O anonimato e suas fortes convicções foram importantes para seu desenvolvimento como compositor. Ives não precisou explicar e justificar seus métodos à público nenhum; apenas compunha como achava que deveria compor, sem se importar com o que pensariam. Já, compositores famosos estavam o tempo todo sub o julgo de seus admiradores e inimigos. Schoenberg passou boa parte de sua carreira tendo de explicar seus métodos, e na maior parte deste do tempo, não conseguiu.

Somente muitos anos depois de sua morte, a música de Ives foi descoberta e revivida. Deve ter sido espantoso para os historiadores descobrir que muito antes de Schoenberg iniciar seus trabalhos com o atonalismo, Ives já se aventurava com muita desenvoltura em obras extremamente dissonantes para a época. Charles Ives acabou se tornando um tipo de herói americano. Em 1974, o centenário de Ives, sua música foi oficialmente declarada como a primeira música genuína norte americana.

Longe de ser uma simples aventura sem sentido, a música de Ives tem uma consistência e uma audácia espantosas. Vale lembrar que até hoje, ainda existe quem torça o nariz para o atonalismo ou qualquer tipo de arte transcendental. Isto nos mostra a genialidade deste compositor, que ultrapassou os limites da música tonal muito antes de seus companheiros de época. A liberdade e a motivação para fazer algo novo, transformaram Charles Ives num ícone Norte Americano e um artista mundialmente reconhecido.

Charles Ives (1874-1954) – Sinfonia No. 2 e Sinfonia No. 3, S. 3 (K.1A3) – The Camp Meeting

Sinfonia No. 2
01. I. Allegro moderato
02. II. Allegro
03. III. Adagio cantabile
04. IV. Lento maestoso
05. V. Allegro molto vivace

Sinfonia No. 3, S. 3 (K.1A3) – The Camp Meeting
06. I. ‘Old Folks Gatherin’_ Andante maestoso
07. II. ‘Children’s Day’_ Allegro
08. III. ‘Communion’_ Largo

Leonard Berstein Discusses Charles Ives
09. Leonard Berstein Discusses Charles Ives

New York Philharmonic
Leonard Bernstein, regente

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Charles Ives: o maior compositor norte-americano foi um anônimo em vida. Era o riquíssimo dono de uma empresa de seguros em Nova York.
Charles Ives: o maior compositor norte-americano foi um anônimo em vida. Era o riquíssimo dono de uma empresa de seguros em Nova York.

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Charles Ives (1874-1954) – Sinfonia No. 1, Sinfonia No. 4 e Central Park in the Dark

Ives tinha uma vida extraordinariamente ativa. Após sua formação profissional como organista e compositor, ele trabalhou durante 30 anos no setor dos seguros, escrevendo no seu tempo livre. Usou uma grande variedade de estilos – desde o Romantismo tonal até a experimentação radical, mesmo em peças escritas no mesmo período. Suas principais obras muitas vezes lhe custaram anos de trabalho, desde o primeiro esboço até a revisão final, e muitas delas não foram executadas durante décadas. Suas auto-publicações no início dos anos 1920 trouxeram um pequeno grupo de admiradores que trabalhou para promover a sua música. Ele logo deixaria de escrever novas obras, dedicando-se a revisões e preparações para execuções de obras já compostas. Quando morreu, Ives já era um compositor reconhecido e muitas de sua obras tinham sido publicadas. Sua reputação continuou a crescer postumamente, e por ocasião do seu centenário, em 1974, ele foi reconhecido mundialmente como o primeiro compositor a criar uma “música distintamente americana”. Desde então, sua música tem sido mais freqüentemente executada e registrada e a sua reputação cresceu, menos tanto por suas inovações mas sobretudo pelo mérito intrínseco da sua música. As circunstâncias únicas da carreira de Charles Ives criaram alguns mal-entendidos. Seu trabalho no setor dos seguros, combinado com a diversidade da sua produção e do pequeno número de performances durante os seus anos de compositor, conduziram Ives a uma imagem de amador. No entanto, ele tinha uns 14 anos de carreira como organista profissional e um meticuloso treinamento formal na composição. Dado que se desenvolveu como compositor longe dos olhos do público, as suas obras maduras pareceram radicais e desconectas do passado, quando publicadas. No entanto, quando a sua música se tornou conhecida, as suas raízes profundas no Romantismo do século XIX e o desenvolvimento gradual de uma expressão pessoal altamente moderna e idiomática tornaram-se evidentes. As primeiras obras de Ives apresentadas ao público foram: Orchestral Set nº.1: Three Places in New England, The Concord Sonata, os movimentos da Sinfonia nº 4 e A Symphony: New England Holidays. Eram altamente complexas, incorporavam diversos estilos musicais e faziam uso freqüente de “empréstimos musicais”. Estas características levaram à conclusão de que algumas de suas obras só poderiam ser entendidas através das explicações programáticas que ele ofereceu e não foram especificamente organizadas com princípios musicais. Ainda traçando a evolução das suas técnicas através de suas obras anteriores, estudiosos demonstraram o trabalho que há por trás até de partituras aparentemente caóticas e mostraram a estreita relação de seus processos com os dos seus predecessores e contemporâneos europeus. O resultado do caminho incomum de Ives é que a cronologia da sua música é difícil de estabelecer. Sua prática de compor e as revisões das obras ao longo dos anos muitas vezes torna impossível atribuir a um pedaço uma única data. Ele trabalhou em diversas composições com muitas linguagens diferentes ao mesmo tempo e isso fez a relação cronológica entre as obras ainda mais complexa. Há, muitas vezes, obras sem verificação das datas que Ives atribuiu a elas, que podem ser anos ou décadas antes da primeira publicação ou execução. Foi sugerido, também, que ele datou várias peças muito cedo e ocultou revisões significativas, a fim de reivindicar prioridade sobre os compositores europeus que utilizavam técnicas semelhantes (Solomon, C1987) ou a esconder de seus negócios quanto tempo ele estava gastando na música(Swafford, C1996). Recentes estudos, no entanto, estabeleceram datas firmes pelos tipos de papel usado por Ives e refinou-se a estimativa de datas pelas diversas caligrafias, permitindo mais manuscritos para serem colocados dentro de um breve espaço de anos (Sherwood, C1994 e E1995, com base Kirkpatrick ,A1960, e Baron, C1990). Estes métodos têm muitas vezes confirmado as datas de Ives, o que demonstra que ele, na verdade, desenvolveu inúmeras técnicas inovadoras antes de seus contemporâneos europeus, incluindo politonalidade, clusters, acordes baseados em 4ªs ou 5ªs, atonalidade e poliritmia. Quando há discrepância – no caso de várias obras longas, por exemplo – esta pode resultar de sua prática de datar as peças em sua concepção inicial, nas primeiras idéias elaboradas no teclado ou em esboços já perdidos. As datas que aqui estão, então, são baseadas em manuscritos existentes, completadas por documentos recentes e depoimentos de Ives.

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Extraído DAQUI

Charles Ives (1874-1954) – Symphony No. 1, Symphony No. 4 e Central Park in the Dark

Sinfonia No. 1
01. 1. Allegro (con moto)
02. 2. Adagio molto (sostenuto)
03. 3. Scherzo- Vivace
04. 4. Allegro molto

Sinfonia No. 4
05. 1. Prelude- Maestoso
06. 2. Comedy- Allegretto
07. 3. Fugue- Andante moderato con moto
08. 4. Very slowly (Largo maestoso)

Central Park in the Dark
09. Central Park in the Dark

Dallas Symphony Orchestra
Andrew Litton, regente

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