Tōru Takemitsu (1930-1996): Quatrain II / Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos

Tōru Takemitsu (1930-1996): Quatrain II / Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este álbum traz duas importantes obras de música de câmara — o Quarteto para o Fim dos Tempos (Messiaen) e Quatrain II (Takemitsu) — ambas para um invulgar grupo instrumental: clarinete, violino, violoncelo e piano. Em setembro de 1939 a França entrou na Segunda Guerra Mundial. Messiaen foi chamado às armas e poucos meses depois, em maio de 1940, durante uma ofensiva alemã, foi capturado pelo inimigo. Junto a outros prisioneiros, foi levado ao campo de prisioneiros Stalag VIII-A de Görlitz (na fronteira sudoeste da Polônia), onde permaneceu por um ano. O oficial nazista responsável pelo Stalag era amante de musica e, quando soube de Messiaen (como de outros três prisioneiros músicos), deixou que o compositor trabalhasse a fim de fazer um concerto no próprio campo. Messiaen escreveu, para os musicistas que conheceu na prisão (um violoncelista, um violinista e um clarinetista), inicialmente um breve trio (posteriormente inserido na obra como quarto movimento) e depois, com o acréscimo de um piano (tocado pelo próprio Messiaen), escreveu o Quarteto.

Quatuor pour la fin du temps foi concluído no início do novo ano e foi apresentado no dia 15 de janeiro de 1941, sob a neve e em condições muito difíceis, diante de todos os prisioneiros do Stalag VIII-A, reunidos em um pátio gelado. Os outros músicos que participaram da estreia foram Henri Akoka (clarinete), Jean le Boulaire (violino) e Étienne Pasquier (violoncelo). Nenhum dos três era músico profissional. O Quatuor pour la fin du temps foi inspirado no décimo capítulo do Livro do Apocalipse e é dedicado ao Anjo do Apocalipse. Provavelmente, o Quarteto não evoca o “fim dos dias” — ou o desaparecimento da civilização humana –, mas sim o início da Eternidade. Este pano de fundo religioso é acompanhado por uma grande riqueza de imagens que alimentaram a criatividade de Messiaen, como ritmos hindus, métricas gregas, cantos de pássaros e breves elementos emprestados de outros compositores.

Muito conhecedor e admirador das culturas e tradições musicais asiáticas, Messiaen, por sua vez, atraiu compositores do Extremo Oriente. Toru Takemitsu admirava seus trabalhos, que influenciaram seu próprio estilo. Takemitsu compôs o Quatrain I para clarinete, violino, violoncelo, piano e orquestra, e o Quatrain  II em 1976-1977 com a mesma instrumentação do Quarteto de Messiaen, sem orquestra. É uma homenagem a Messiaen. Da mesma forma que o Quarteto de Messiaen se baseia no simbolismo numérico, o Quatrain  II se organiza em torno do número quatro: quatro no sentido de plenitude, equilíbrio, simetria, como uma mesa; quatro como as linhas que compõem uma estrofe de um verso; quatro instrumentos usados; quatro seções em grupos de quatro barras…

O quarteto formado por Iturriagagoitia, Apellániz, Estellés e Rosado é realmente muito bom. Estão à altura da obra a que se propuseram, que é de difícil abordagem, tanto pelo desafio técnico como pelo ontológico.

Tōru Takemitsu (1930-1996): Quatrain II / Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos

— Tōru Takemitsu (1930-1996): Quatrain II
1. Quatrain II (15:24)

— Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos
2. Quatuor pour la fin du temps, I/22: I. Liturgie de cristal (02:32)
3. Quatuor pour la fin du temps, I/22: II. Vocalise, pour l’Ange qui annonce la fin du temps (05:00)
4. Quatuor pour la fin du temps, I/22: III. Abîme des oiseaux (08:22)
5. Quatuor pour la fin du temps, I/22: IV. Intermède (01:44)
6. Quatuor pour la fin du temps, I/22: V. Louange à l’Éternité de Jésus (07:11)
7. Quatuor pour la fin du temps, I/22: VI. Danse de la fureur, pour les sept trompettes (06:26)
8. Quatuor pour la fin du temps, I/22: VII. Fouillis d’arcs-en-ciel, pour l’Ange qui annonce la fin du temps (07:36)
9. Quatuor pour la fin du temps, I/22: VIII. Louange à l’Immortalité de Jésus (07:23)

José Luis Estellés, clarinete
Aitzol Iturriagagoitia, violino
David Apellániz, violoncello
Alberto Rosado, piano

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Da esquerda para a direita, Iturriagagoitia, Apellániz, Estellés e Rosado no banheiro do campo de prisioneiros do PQP Bach | Foto: Divulgação

PQP

Ainda mais Cordas: o Pipa (Tán Dùn (1957): Concerto para Pipa – Hikaru Hayashi (1931-2012): Concerto para viola – Tōru Takemitsu (1930-1998): Nostalghia – Wú Mán – Yuri Bashmet)

MI0001164132Um país imenso como a China, um caldeirão étnico transbordando tradições que parecem tão antigas quanto o tempo, poderia prover ad nauseam instrumentos para nossa série. O pípa, que escolhemos, assemelha-se a um alaúde e é conhecido pelo menos desde o século II a. C. O Concerto de Tán Dùn, baseado em sua obra “Ghost Opera” (que foi gravada pelo Kronos Quartet e por Wú Mán, a mesma solista deste álbum), tem aquele jeitão de colagem entre influências ocidentais e orientais que é característico do compositor. Apesar de alguns momentos interessantes, particularmente aqueles em que as cordas imitam vocalizações e o som do erhu (mais sobre ele abaixo), parece faltar algum amálgama para unir seus diversos episódios. Nostalghia de Takemitsu, composta como um réquiem para o cineasta Andrey Tarkovsky, é bem melhor, ainda mais com o ótimo solo de Yuri Bashmet ao violino. Os três arranjos de excertos de trilhas sonoras, também por Takemitsu, parecem um pouco deslocados, o que aumenta a agradável surpresa que é o sereno Concerto-Elegia de Hikaru Hayashi na viola do versátil Bashmet.

Do meu instrumento chinês preferido, o erhu, eu ainda não tenho gravação em CD que prestem. Enquanto aguardo que aquelas que encomendei atravessem os sete mares e cheguem a Desterro, deixo-lhes um vídeo em que o Xu Ke, o maior virtuose moderno do erhu, debulha as duas pobres cordas de seu instrumento numa interpretação do Zigeunerweisen de Sarasate que, claro, só pode ser fruto de bruxaria:

TAN DUN – PIPA CONCERTO – HAYASHI – VIOLA CONCERTO – TAKEMITSU – NOSTALGHIA

Tán DÙN (1957)

Concerto para orquestra de cordas e pipa
01 – Andante molto
02 – Allegro
03 – Adagio
04 – Allegro vivace

Wú Man, pipa
Moscow Soloists
Yuri Bashmet, regência

Tōru TAKEMITSU (1930-1998)

05 – Nostalghia, para violino solo e orquestra de cordas

Yuri Bashmet, violino
Moscow Soloists
Roman Balashov, regência

Três Trilhas Sonoras para orquestra de cordas
06 – Music for Training and Rest (de “José Torres”)
07 – Funeral Music (de “Black Rain”)
08 – Waltz (de “Face of Another)

Moscow Soloists
Yuri Bashmet, regência

Hikaru HAYASHI (1931-2012)

Concerto para viola e orquestra de cordas, “Elegia”
09 – Movimento I
10 – Movimento II

Yuri Bashmet, viola
Moscow Soloists
Roman Balashov, regência

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Wú Mán e seu pipa
Wú Mán e seu pipa

 

Vassily Genrikhovich

Haydn / Takemitsu / Bartók / Pärt: Landscapes

Haydn / Takemitsu / Bartók / Pärt: Landscapes

Gosto desses CDs mistureca. Haydn, Bartók, Pärt e Takemitsu acabam conseguindo uma boa convivência na pequena área do disquinho. Sem Haydn, não se sabe o que seria do gênero do quarteto de cordas. Elo de ligação entre Johann Sebastian Bach e Wolfgang Amadeus Mozart sua obra é feliz, mas sem a qualidade de um Mozart ou as profundidades filosóficas de um Beethoven. Mas Joseph Haydn foi um grandíssimo gênio. Aqui, está na companhia de compositores nascidos séculos depois. Como combinam bem os revolucionários! Os três irmãos Mark, Erik e Ken Schumann, que cresceram na Renânia e tocavam juntos desde crianças. Em 2012, a violista estoniana Liisa Randalu juntou-se a eles para formar o excelente Schumann Quartett. Olho neles, os caras são bons.

Haydn / Takemitsu / Bartók / Pärt: Landscapes

JOSEPH HAYDN STRING QUARTETT IN B-FLAT MAJOR OP. 76 “SUNRISE”
1 ALLEGRO CON SPIRITO
2 ADAGIO
3 MENUETTO
4 FINALE

5 TORU TAKEMITSU “LANDSCAPE” FOR STRING QUARTET

BÉLA BARTÓK STRING QUARTET NO. 2
6 MODERATO
7 ALLEGRO MOLTO CAPRICCIOSO
8 LENTO

9 ARVO PÄRT “FRATRES”

Schumann Quartett

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Takemitsu: impressionado com a qualidade e a quantidade de música que temos aqui no PQP.
Takemitsu: impressionado com a qualidade e a quantidade de música que temos aqui no PQP.

PQP

Albéniz / Berio / Debussy / Fauré / Janáček / Liszt / Ravel / Sawhney / Takemitsu: Water

Albéniz / Berio / Debussy / Fauré / Janáček / Liszt / Ravel / Sawhney / Takemitsu: Water

Após os excelentes álbuns Duo e Credo, ambos postados no PQP Bach, Hélène Grimaud nos chega com um disco onde aparece claramente a sua militância pelas causas ecológicas. Water é um trabalho incomum. Aqui, Grimaud executa peças de vários períodos — clássicas, românticas e contemporâneas — cuja temática é a água. Além do fascínio pela água, além das evocações tradicionais de rios, lagos, mares, flocos de neve, e gotas de chuva, o álbum também reflete uma perspectiva contemporânea sobre a água e a falta dela. As peças de diferentes compositores são amarradas através das Transitions, sons de água e de instrumentos musicais compostos, gravados e produzidos por Nitin Sawhney, um celebrado compositor de World Music. Ele também é DJ, produtor, multi-instrumentista, compositor orquestral e pioneiro cultural. Reafirmando sua posição como uma das artistas mais interessantes da música erudita, Grimaud combina a cultura com seu compromisso com os desafios ecológicos, ambientais e humanitários de nossos dias. Então, Water é um projeto com três níveis distintos de aspiração criativa: artístico, inventivo e ativista. Além disso é bom pacas de ouvir.

Albéniz / Berio / Debussy / Fauré / Janáček / Liszt / Ravel / Sawhney / Takemitsu: Water

1 Wasserklavier (No.3 From 6 Encores – Per Antonio Ballista) (Luciano Berio) 2:11
2 Water – Transition 1 (Nitin Sawhney) 1:18
3 Rain Tree Sketch II (In Memoriam Oliver Messiaen) (Toru Takemitsu) 5:25
4 Water – Transition 2 (Nitin Sawhney) 1:41
5 Barcarolle No.5 In F Sharp Minor (op.66) (fis-moll En Fa Diese Mineur Allegretto Moderato) (Gabriel Fauré) 6:39
6 Water – Transition 3 (Nitin Sawhney) 1:33
7 Jeux D’eau (Music Note=144) (Tres Doux) (Maurice Ravel) 5:10
8 Water – Transition 4 (Nitin Sawhney) 1:27
9 Almeria (No.2 From Iberia II Allegretto Moderato) (Isaac Albéniz) 10:06
10 Water – Transition 5 (Nitin Sawhney) 0:55
11 Les Jeux D’eaux A La Villa D’Este (No.4 From Annees De Pelerinage III S 163 Allegretto) (Franz Liszt) 7:38
12 Water – Transition 6 (Nitin Sawhney) 1:34
13 In The Mists: No.1 (Andante) (Leoš Janáček) 4:33
14 Water – Transition 7 (Nitin Sawhney) 1:16
15 La Cathedrale Engloutie (No.10 From Preludes I Profondement Calme) (Claude Debussy) 6:03
16 Water Reflections (Helene Grimaud’s Thoughts On The Permutations Of Water) 10:49

Piano – Hélène Grimaud

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Desta vez, deu na trave
Desta vez, deu na trave

PQP