Chopin (1810-1849): Sonatas Nº 2 e 3 (Perahia)

Eu nunca entendi quem gosta de Chopin. Eu acho um saco. Aí, vi este disco de Murray Perahia… Amo Perahia e tive a certeza de que ele me convenceria de meu erro! Olha, não prendeu minha atenção nem por um minuto. Ouvi (?) tudo, inteirinho. Um fracasso. Logo, eu já estava revisando mentalmente minha agenda, pensando em como pedir a Eva Green em namoro, na forte possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial, em futebol e na familícia. Mas sei de gente que reside no topo da cadeia auditiva que ama Chopin. O errado sou eu, claro. Mas ao menos eu posso ficar com ele nos ouvidos por um tempo. Já Rachmaninov… Bah, que russo insuportável!

Chopin (1810-1849): Sonatas Nº 2 e 3 (Perahia)

Sonata No. 2 In B-flat Minor, Op. 35
A1 I – Grave; II – Scherzo 13:40
A2 III – Marche Funèbre; IV – Finale: Presto 9:34

Sonata No. 3 In B Minor, Op. 58
B1 I – Allegro Maestoso 9:06
B2 II – Scherzo: Molto Vivace; III – Largo 12:24
B3 IV – Finale: Presto, Ma Non Tanto 5:17

Murray Perahia, piano

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Perahia quando ainda era tecladista dos Beatles

PQP

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-1849) – PIANO CONCERTOS NOS. 1 & 2 – Ekaterina Litvintseva

Já fazia algum tempo que eu não trazia uma gravação dos Concertos para Piano de Chopin, nossos tão amados e queridos concertos. E hoje trago a nova geração, com todo respeito aos nossos ídolos do passado, principalmente Arthur Rubinstein, que continua a figurar no Olimpo dos grandes intérpretes destes Concertos, e mais atual, a maravilhosa Yuliana Avdeva.

Ekaterina Litvintseva nasceu a beira do Estreito de Behring, observando a neve de sua janela, afinal a moça cresceu quase no Pólo Norte. Aquela paisagem de gelo quase eterno, entremeada pela tundra no Verão influenciou a menina, que logo cedo começou a estudar piano, e aos 15 anos mudou-se para Moscou, onde foi estudar na Colégio Estatal de Música Frederic Chopin, e dali foi estudar na Alemanha. ” she acquired a new, analytical perspective on playing piano and drew on her experiences in Russia to develop her highly distinctive pianistic style (texto extraido, traduzido e adaptado do livreto e do site da pianista).

A verdade é que sou apaixonado por estes concertos, principalmente pelo primeiro. e foi exatamente este estilo mais analítico e de alguma forma, profundamente internalizado da artista o que mais me cativou nestas gravações. Entendido que não me refiro ao lado emotivo da interpretação, mas sim, ao lado seu lado mais racional e cerebral. Acostumado que estou a Rubinstein, por exemplo, ouvir uma interpretação mais ‘racional’ de uma obra tão escancaradamente romântica me deixa feliz. É quase como ouvir outra obra.

Posso estar exagerando? Talvez, meu lado mais emotivo está um tanto quanto resguardado neste final de ano (escrevo este texto exatamente no dia 31 de dezembro de 2023), talvez seja a idade, sei lá. Só sei que a música de Chopin me deixa assim, poucos compositores foram tão a fundo na compreensão da alma humana, e o mais incrível, o rapaz viveu apenas 39 anos.

01. Piano Concerto No. 1 in E Minor, Op. 11 I. Allegro Maestoso
02. Piano Concerto No. 1 in E Minor, Op. 11 II. Larghetto
03. Piano Concerto No. 1 in E Minor, Op. 11 III. Rondo. Vivace
04. Piano Concerto No. 2 in F Minor, Op. 21 I. Maestoso
05. Piano Concerto No. 2 in F Minor, Op. 21 II. Larghetto
06. Piano Concerto No. 2 in F Minor, Op. 21 III. Allegro Vivace

Ekaterina Litvintseva piano
Czech Chamber Philharmonic Orchestra Pardubice
Vahan Mardirossian conductor

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O Mestre Relembrado – Antonio Guedes Barbosa, 80 anos

Há oitenta anos, Antonio Guedes Barbosa nascia na capital da Paraíba. Sua trajetória, desde sua João Pessoa – lá na proa das Américas, onde o sol lhes nasce primeiro – até os mais míticos palcos do mundo, foi desgraçadamente interrompida pelo infarto que o tirou de nós e de sua arte antes que completasse cinquenta anos.

Além de queridas lembranças para quem o conheceu como familiar ou amigo, da gratidão de quem o teve como professor, e da impressão mais profunda em quem teve o privilégio de escutá-lo ao vivo, Antonio legou-nos um pequeno tesouro discográfico, que resgatamos lenta e devotamente ao longo da série de publicações que já lhe consagramos por aqui.

Quando a começamos, e nisso já se vão mais de oito anos, não o fizemos sem resmungos. O mestre pessoense do teclado, afinal, de interpretações tão lapidares e som granítico, parecia esquecido. Depois que lançamos a primeira publicação, os comentários que recebemos foram unânimes em apontar-lhe tanto a grandeza quanto o inexplicável oblívio – para espanto até de um certo rapaz nova-iorquino, de sobrenome Perahia, que, segundo consta, também toca direitinho o piano.

Desde então, felizmente, algo mudou. O mundo e o som, por óbvio, seguem tristes sem Antonio, assim como tristes seguimos nós a imaginar – porque isso é tudo o que podemos, infelizmente – as belezas tantas que ele teria cometido ao longo desses trinta anos. Entre um lamento e outro, no entanto, fomos trazendo sua discografia, que estava toda fora de catálogo, para o acervo deste blog, até que ela fosse quase (mais sobre esse “quase” logo adiante) toda resgatada e disponibilizada aqui – o que jamais teríamos conseguido sem a colaboração decisiva de alguns de seus fãs no Brasil e no exterior, que preferem permanecer anônimos, e a quem nunca conseguiremos ser gratos o bastante.

Melhor ainda: a família do Mestre confiou o acervo do artista ao Instituto Piano Brasileiro (ainda não apoia o IPB? Pois faça-o JÁ!), que o está digitalizando com o zelo customeiro para, sob a curadoria de seu diretor, Alexandre Dias, disponibilizá-lo para o público. Por ora, o mundo que tanto pranteia o Mestre já pode se assombrar com a playlist de gravações inéditas divulgadas pelo IPB, que prova que o repertório dele era ainda mais vasto e complexo do que já se sabia.

Para celebrar os oitenta anos de Antonio, rendo-lhe uma homenagem que corrige um lapso e alcança-lhes um presente.

O lapso que corrijo foi o de ter, presunçosamente, dado por completa a tarefa de publicar a discografia do Mestre. Tolinho que sou, chamei de epílogo o capítulo XIII da série, para só perceber que errara feio, que errara rude, e que faltara aquela sua gravação mais difícil de encontrar, cuja raridade só reflete o contexto invulgar, com toques de esdruxulidade, em que foi feita.

O invulgar? Reunirem-se num mesmo palco, em 1979, a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob seu titular Isaac Karabtchevsky, e cinco dos maiores pianistas brasileiros – Antonio, Arthur Moreira Lima, Nelson Freire, João Carlos Martins e Jacques Klein -, e todos tocarem o raríssimo arranjo para seis pianos, provavelmente feito por Czerny, do Héxameron que Liszt compôs em colaboração com o restante do panteão pianístico parisiense de sua época.

O toque esdrúxulo? Que o sexto piano fosse tocado não por um concertista, e sim por Paulo Maluf, então governador de São Paulo, que, instigado por uma récita desse arranjo do Héxameron no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em novembro de 1979, resolveu organizar uma outra no Anhembi. E foi além, modificando o rol de solistas: substituiu Yara Bernette e Fernando Lopes, que tinham tocado no Rio, por seu amigo, o grande João Carlos Martins, e por ele próprio, tocando seus solos num arranjo em que as dificuldades pianísticas sobraram para Arthur Moreira Lima.

É ouvir para crer.

Franz LISZT (1811-1886)
Hexaméron, Morceau de concert,
 sobre a Marcha de “I Puritani” de Bellini, S. 392
composto em colaboração com Sigismond THALBERG (1812-1871),  Johann Peter PIXIS (1788-1874), Heinrich HERZ (1803-1888), Carl CZERNY (1791-1857) e Fryderyk CHOPIN (1810-1849)

1 – Introduction: Extremement lent (Liszt)
2 – Tema: Allegro marziale (transcrito por Liszt)
3 – Variation I: Ben marcato (Thalberg)
4 – Variation II: Moderato (Liszt)
5 – Variation III: di bravura (Pixis)
6 – Ritornello (Liszt)
7 – Variation IV: Legato e grazioso (Herz)
8 – Variation V: Vivo e brillante (Czerny)
9 – Fuocoso molto energico; Lento quasi recitativo (Liszt)
10 – Variation VI: Largo (Chopin)
11 – Coda (Liszt)
12 – Finale: Molto vivace quasi prestissimo (Liszt)

Antonio Guedes Barbosa (2, 3, 12), Arthur Moreira Lima (1, 2, 4, 9, 10, 11, 12), , Jacques Klein (2, 8, 12), João Carlos Martins (2, 5, 12), Nelson Freire (2, 7, 12), Paulo Salim Maluf (2, 10, 12), pianos
Orquestra Sinfônica Brasileira
Isaac Karatchevsky,
regência

Gravado no Palácio das Convenções do Anhembi (SP) em 15 de dezembro de 1979.

Nota: A identificação das partes correspondentes a cada pianista baseou-se na publicação desta gravação pelo Instituto Piano Brasileiro, cujo primoroso trabalho de pesquisa, curadoria e divulgação cada um de nós deveria apoiar.

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Encontre o estranho no ninho (e, sim, erraram o nome de Antonio)

Por fim, o presente.

Numa discografia tão pequena, inda que fabulosa, como a de Antonio, chama atenção que ele nos tenha legado duas integrais das mazurcas de Chopin. Suas leituras delas são realmente impressionantes e demonstram sua maestria sobre as complexidades rítmicas dessa aparentemente ingênua dança polonesa, uma Costa dos Esqueletos musical em que já naufragaram tantos virtuoses.

Esqueçam, no entanto, minha desimportante opinião, e atentem para as desses dois rapazes:

Estimado Sr. Rodrigues [Presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro],
Escrevo-lhe com o propósito de comunicar-lhe direta e pessoalmente minha opinião, reiterada publicamente várias vezes, sobre Antonio Barbosa, a quem considero entre os cinco maiores pianistas de sua geração.
Seria muito conveniente e necessário que as autoridades e instituições oficiais do Brasil dessem toda sua a ajuda a este extraordinário artista – do qual seu país natal pode sentir-se legitimamente orgulhoso -, contribuindo assim para impulsionar sua carreira num nível internacional.

Cordialmente,

Claudio Arrau

 


A quem possa interessar: ouvi pessoalmente Antonio Barbosa tocar as mazurcas de Chopin, e gostei muito mesmo de sua interpretação.

Sinto que sua interpretação dessas peças merece uma grande gravação.

Sinceramente,
Vladimir Horowitz


Alguém tinha que lhes dar ouvidos, e, para nossa alegria, a primeira gravação de Antonio a tocar as mazurcas aconteceria naquele mesmo 1983 em que o tal Arrau se manifestou. A alegria, no entanto, teve algo de agridoce, dada a distribuição muito limitada do álbum triplo, do qual restam alguns poucos exemplares, quase invariavelmente muito deteriorados. Hoje, quarenta anos depois de seu lançamento, temos o prazer de devolver à alegria sua plena doçura, compartilhando uma restauração primorosa da gravação do Mestre, a quem homenageamos com admiração e saudades imorredouras nos oitenta anos de seu nascimento.


Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

AS 51 MAZURCAS

LP 1

Quatro Mazurcas para piano, Op. 6
1 – No. 1 em Fá sustenido menor
2 – No. 2 em Dó sustenido menor
3 – No. 3 em Mi maior
4 –  No. 4 em Mi bemol menor

Cinco Mazurcas para piano, Op. 7
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Lá menor
7 – No. 3 em Fá menor
8 – No. 4 em Lá bemol maior
9 – No. 5 em Dó Maior

Quatro Mazurcas para piano, Op. 17
10 – No. 1 em Si maior
11 – No. 2 em Mi menor
12 – No. 3 em Lá bemol maior
13 – No. 4 em Lá menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 24
14 – No. 1 em Sol menor
15 – No. 2 em Dó maior
16 – No. 3 em Lá bemol maior
17 – No. 4 em Si bemol menor

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LP 2

Quatro Mazurcas para piano, Op. 30
1 – No. 1 em Dó menor
2 – No. 2 em Si menor
3 – No. 3 em Ré bemol maior
4 – No. 4 em Dó sustenido menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 33
5 – No. 1 em Sol sustenido menor
6 – No. 2 em Dó maior
7 – No. 3 em Ré maior
8 – No. 4 em Si menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 41
9 – No. 1 em Mi menor
10 – No. 2 em Si maior
11 – No. 3 em Lá bemol maior
12 – No. 4 em Dó sustenido menor

Três  Mazurcas para piano, Op. 50
13 – No. 1 em Sol maior
14 – No. 2 em Lá bemol maior
15 – No. 3 em Sol sustenido menor

Das Três Mazurcas para piano, Op. 56
16 – No. 1 em Si maior

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LP 3

Das Três Mazurcas para piano, Op. 56
1 – No. 2 em Dó maior
2 – No. 3 em Dó menor

Três Mazurcas para piano, Op. 59
3 – No. 1 em Lá menor
4 – No. 2 em Lá bemol maior
5 – No. 3 em Fá sustenido menor
Três Mazurcas para piano, Op. 63
6 – No. 1 em Si maior
7– No. 2 em Fá menor
8 – No. 3 em Dó sustenido menor

9 – Mazurca em Lá menor, Op. póstumo
10 – Mazurca em Lá menor, ‘Notre Temps’

Quatro Mazurcas para piano, Op. 67
11 – No. 1 em Sol maior
12 – No. 2 em Sol menor
13 – No. 3 em Dó maior
14 – No. 4 em Lá menor

Quatro Mazurcas para piano, Op. 68
15 – No. 1 em Dó maior
16 – No. 2 em Lá menor
17– No. 3 em Fá maior
18 – No. 4 em Fá maior

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Antonio Guedes Barbosa, piano
Gravações feitas no Estúdio Intersom (São Paulo), em 1983
LPs distribuídos em 1983, em circulação limitada, pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Todas as imagens usadas nesta publicação provêm do acervo do artista, doado por sua família ao Instituto Piano Brasileiro, que gentilmente autorizou sua divulgação.


Antes que nos chamem de mentirosos, assumimos que a discografia de Antonio ainda não está completa aqui no PQP Bach: pelos motivos aqui expostos, esta segunda de suas duas leituras das Bachianas Brasileiras n° 4 de Villa-Lobos só pode ser ouvida em outros sítios, como o acima. Mas não desistiremos – voltaremos ao assunto em 2030 [gargalhada insana]

 

Ao Mestre, com carinho

Vassily

Chopin: Estudos completos, Allegro de Concerto, Fantasia-Impromptu, Barcarola (Arrau, piano)

– Se eu lhe contar, doutor, que chorei como uma criança quando
soube da morte de Chopin, vosmecê se admira?
– Eu não me admiro de nada.
– Que Chopin? – perguntou Bibiana.
Luzia, paciente, voltou-se para a sogra.
– É um compositor, dona Bibiana. Um homem que escrevia músicas, lindas músicas. Aquela valsa que eu toco e que a senhora gosta é dele…
Bibiana sorriu enigmaticamente.
– Pois chorei, doutor – continuou Luzia. – E sabe por que chorei mais? Porque Chopin morreu em 1849 e só três anos depois é que fiquei sabendo […] (Erico Verissimo, O Tempo e o Vento)

.:.

A compositora e pianista Dinorá de Carvalho escreveu no Correio Paulistano (12 jun 1956):

Mãos de Chopin
Chopin é o suave poeta dos “Noturnos”, cujas mãos exprimem doçura, carícia, amor…
Mãos que espalharam pelo mundo as mais deliciosas harmonias, trazendo numa vida de sonhos, esperanças e amores a história do seu sofrimento intérmino.
Mãos, como contavam alguns de seus discípulos, a princesa Czartoryska, Mme. Dubois, Georges Mathias, que [Chopin] colocava no teclado planas, horizontais; tocava com a ponta dos dedos para não ferir as teclas, obtendo assim efeitos estranhos nos “Estudos”.

.:.

Para Maria Abreu, no Brasil “Chopin foi paradigma por ter sido espelho. O espelho que reproduziu nossa imagem sentimental.” (Do livro O Piano na Música Brasileira, 1992, p.45)

Essa “nossa imagem sentimental”, nas palavras da pianista e jornalista Maria Abreu (Porto Alegre, 1916-1995), se refere a uma certa fração do Brasil que ela conheceu quando jovem, não valendo para uma “imagem sentimental” brasileira em todos os tempos e lugares. Em todo caso, nota-se como a música do polonês, como um espelho, pode refletir imagens diferentes. O Chopin de Claudio Arrau tem essência diferente do de Guiomar Novaes que é diferente do Artur Rubinstein que é diferente do de Arturo B. Michelangeli que é diferente do de Samson François, para falarmos só de grandes pianistas em atividade nos anos 1950, década em que Arrau gravou os “24 Estudos” principais e os menos inspirados “3 Novos Estudos”. Essas gravações de Arrau foram todas feitas em Londres e saíram pelos selos Decca e Columbia. Depois, Arrau gravaria muito Chopin pelo selo Philips (anos 1970-80), mas os Estudos ele não gravaria nos anos finais da sua longa carreira. Os Estudos por Novaes também estão no acervo do blog. Rubinstein e Michelangeli fugiam desse repertório, tocando apenas estudos avulsos, nunca o conjunto inteiro.

Entre as características interessantes dessas gravações de Arrau, chamo atenção para a diferença de sonoridade entre as duas mãos em estudos como o opus 10 nº 6 e o opus 25 nº 6. Cada mão, ou seja, cada voz tem um tipo de dinâmica, de ataque nas teclas produzindo um timbre específico. Essa diferenciação fica ainda mais evidente no opus 10, de andamento Lento ma non troppo e apelido “Tristesse”, que tem praticamente três vozes, com alguns graves que fazem mais ou menos o papel dos pedais no órgão. Aliás, Chopin conhecia bem os Prelúdios e Fugas do Cravo Bem Temperado de Bach, que foram o ponto de partida para os seus próprios prelúdios, e é provável que conhecesse também algumas obras para órgão de Bach e as Invenções a duas e três vozes. Ou seja, Chopin compunha com um olho voltado para a polifonia do organista de Weimar e Leipzig e outro olho apontando para a melancolia que agradaria brasileiros (e até mais brasileiras, como as das três epígrafes acima). Na Barcarola, escrita 10 anos após os Prelúdios e também gravada aqui por Arrau, as harmonias mais cromáticas e os arpejos suaves apontam para sucessores franceses de Chopin como Fauré e Debussy.

Frédéric Chopin (1810-1849):
CD1
12 Études Op.10
Allegro de Concerto, opus 46
3 Nouvelles Études, op. posth.

CD2
12 Études Op.25
Fantaisie-Impromptu, opus 66
Barcarolle, opus 60

Claudio Arrau, piano
Recorded: 1956 (op. 10, 25, 46, posth.), 1953 (op. 60, 66)

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Chopin (1835), em aquarela de Maria Wodzińska, com quem fumou mas não tragou, digo, noivou mas não casou

Pleyel

Frédéric Chopin (1810-1849): 24 Prelúdios / Robert Schumann (1810-1856): Carnaval (Freire, piano)

Nelson Freire, vocês sabem, foi muito aplaudido e respeitado em vários lugares do mundo. Curiosamente, ao contrário dos últimos anos de sua carreira, quando lotava a maior sala de concertos de Paris (Philharmonie) e tocava com grandes orquestras e maestros em Londres, Leipzig (aqui) e São Petersburgo, o início de sua carreira teve um acolhimento maior na América do Norte. Foi nos EUA e no Canadá que ele gravou alguns recitais que seriam depois lançados comercialmente ou que circulariam entre fãs (como este aqui de 1975 com Scherzo de Chopin e Sonata de Scriabin de altíssimo nível).

Suas primeiras gravações em estúdio lançadas comercialmente, portanto, foram pela CBS (Columbia), selo americano que depois seria incorporado à japonesa Sony. Curiosidade inútil: no mesmo estúdio da Columbia (30th st., New York) onde Nelson gravou os 24 Prelúdios de Chopin, no ano anterior Miles Davis havia gravado o álbum Jack Johnson e, antes, Filles de Kilimanjaro, Kind of Blue e outros álbuns. Vladimir Horowitz também gravou muita coisa lá.

O disco com os Prelúdios recebeu o prestigioso Prêmio Edison em Amsterdam. Mas, apesar desses sucessos de crítica antes dos 30 anos, ele só teria um grande público europeu a ponto de lotar salas como o Concertgebouw de Amsterdam em recitais solo lá por volta do ano 2000.

O disco de hoje é uma compilação da revista francesa Diapason lançada em 2015, testemunhando o prestígio que ele tinha em Paris, onde viveu suas últimas décadas, passando alguns meses em sua outra casa no Rio de Janeiro próxima à pacata praia da Joatinga. Chopin e Schumann são compositores que sempre estiveram muito próximos do coração de Nelson, assim como de seus grandes ídolos que ele chegou a conhecer e, em certos aspectos, imitar: A. Rubinstein (1887-1982), G. Novaes (1896-1979), V. Horowitz (1903-1989)…

Em dezembro de 2021, ao dar “adeus a um poeta do piano”, a revista Diapason recordou o disco Brasileiro (2012), com obras que evocam os anos de estudo de Freire no Rio de Janeiro. Ali, “o grande saudadista” (no original em francês: le grand saudadiste) retornava para as atmosferas, paisagens e cheiros do Brasil. Essa exótica definição de Freire com o neologismo saudadista ajuda a explicar a maneira como ele se entrega de corpo e alma para a linguagem romântica de Chopin e Schumann. A homenagem da Folha de São Paulo foi na mesma linha da Diapason: “Nelson Freire foi o elo entre a era de ouro do piano e o terceiro milênio”.

Capa da reedição da Diapason (2015) pegou uma outra foto da mesma seção que rendeu a capa do LP dos Prelúdios. Nesta aqui ele está menos sério e o pescoço aparece mais

Frédéric Chopin:
24 Préludes, op. 28
Impromptu No. 2, op. 36
Mazurka em si menor, op. 33 nº 4
Mazurka em ré maior, op. 33 nº 2
Robert Schumann:
Carnaval – Scènes mignonnes sur quatre notes (Pequenas cenas sobre quatro notas)
Nelson Freire, piano

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Original Releases:
Préludes: 1971 (recorded: Columbia 30th Street Studio, New York City, USA)
Impromptu, Mazurkas: 1983 (recorded: Herrenhaus Gut Hasselburg, Neustadt, Germany)
Carnaval: 1969 (recorded: Kirchgemeindehaus, Winterthur, Switzerland)

Nelson Freire com retratos de L. Branco, G. Novaes e F. Liszt (Crédito: Inst. Piano Brasileiro)

Pleyel

 

Frédéric Chopin (1810-1849) – Os Noturnos, por Nelson Freire

Este disco duplo foi postado aqui poucos dias após seu lançamento mundial. Talvez pela pressa, nosso colega CVL escreveu apenas duas linhas que vocês verão mais abaixo. Na repostagem em 2023, subi para cá o comentário muito engraçado mas muito sério do colega Ranulfus (in memoriam).

Ranulfus sobre os Noturnos por Nelson Freire:

BEM no início do primeiro tive certa sensação “ih, ele também está escorregando mais do que é preciso nos rubatos”, mas foi um quase-nada. E embora a interpretação de Freire seja própria, com força pessoal, não há dúvida de que ele recebeu lições de Madame Novaes: sabe conter-se quando poderia, pelo seu jeito pessoal, se derramar e esparramar feito um pudim!

Já disse, na brincadeira mas é verdade, que sou pluralista: todas as visões têm que ter lugar neste mundo, todas as leituras; não quero eliminar nenhuma delas ao dizer o seguinte, mas…

… quando é que nós brasileiros vamos parar de ser bobos e complexados? São pouquíssimos os pianistas do mundo cujo Chopin chega a merecer ser comparado com os destes dois brasileiros…

… e nós ficamos tantas vezes babando ovo pra estrangeiros muito, mas MUITO menores, que a indústria nos quer vender como referência ou como revelação!

CVL:
“Se joga, pintosa. Põe rosa” – Leo Áquilla
(As pintosas são vocês aí, fãs de Chopin*)

Frédéric Chopin (1810-1849): Noturnos
CD 1
1. Nocturne No.1 In B Flat Minor, Op.9 No.1
2. Nocturne No.2 In E Flat, Op.9 No.2
3. Nocturne No.3 In B, Op.9 No.3
4. Nocturne No.4 In F, Op.15 No.1
5. Nocturne No.5 In F Sharp, Op.15 No.2
6. Nocturne No.6 In G Minor, Op.15 No.3
7. Nocturne No.7 In C Sharp Minor, Op.27 No.1
8. Nocturne No.8 In G Flat, Op.27 No.2
9. Nocturne No.9 In B, Op.32 No.1
10. Nocturne No.10 In A Flat, Op.32 No.2

CD 2
1. Nocturne No.11 In G Minor, Op.37 No.1
2. Nocturne No.12 In G, Op.37 No.2
3. Nocturne No.13 In C Minor, Op.48 No.1
4. Nocturne No.14 In F Sharp Minor, Op.48 No.2
5. Nocturne No.15 In F Minor, Op.55 No.1
6. Nocturne No.16 In E Flat, Op.55 No.2
7. Nocturne No.17 In B, Op.62 No.1
8. Nocturne No.18 In E, Op.62 No.2
9. Nocturne No.19 In E Minor, Op.72 No.1
10. Nocturne No.20 In C Sharp Minor, Op.Posth.

Nelson Freire – piano

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CVL

* Não é provocação: é só onda mesmo.

Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini

Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Quando Maurizio Pollini completou 70 anos, a DG fez-lhe esta homenagem em 3 CDs. A boa curiosidade que são seleções pessoais do pianista de suas gravações para a Deutsche Grammophon: de Petrushka de Stravinsky e Estudos de Chopin a concertos de Beethoven e Mozart. Também inclui sua primeira e rara gravação de sua premiada performance do Primeiro Concerto para Piano de Chopin em Varsóvia, em 1960. Ganhei este álbum de alguém — desculpe, esqueci de quem. Os 3 CDs vêm acoplados num um livro de capa dura colorido de 120 páginas, com muitas fotos e a discografia completa de Pollini na DG. Para um fã do pianista, imperdível é pouco.

Aliás, em junho deste ano, o grande pianista nos deu um belo susto. Aos 81 anos, ele esqueceu da obra que estava tocando e se atrapalhou totalmente. Pior, passou a tocar uma que viria depois e passou longe de seus habituais e altíssimos padrões de interpretação. Tudo aconteceu no imenso Royal Festival Hall, do Southbank Center, local onde vi Pollini tocar esplendidamente em fevereiro de 2014. A primeira peça do programa, o Arabesque de Schumann, foi interpretada lindamente de memória, mas em seguida, em vez da anunciada Fantasia de Schumann, ele começou uma Mazurka de Chopin, que deveria vir no segundo bloco. Ele pareceu se perder (ou possivelmente lembrou de que estava na peça errada) e de repente parou e saiu do palco por alguns minutos. Voltou com uma partitura da Fantasia de Schumann e começou a tocá-la, mas continuou folheando as páginas aparentemente ao acaso. Algumas das páginas estavam soltas e foram parar no chão, então ele caiu em verdadeira confusão, muitas vezes parando e arruinando qualquer senso de fluxo da música. Deve ter sido muito triste de assistir. Pollini sempre foi perfeito, imaculado, dando grande sentido a cada nota. Na segunda metade, um vira-páginas esteve presente e a execução foi muito mais parecida com o que temos experimentado com ele nos últimos anos. Foi certamente uma bela execução, mas também com algumas notas erradas e passagens confusas. Ele toca há décadas de memória, sempre. É claro que ele foi aplaudido de pé, mas nenhum bis foi oferecido. A experiência deve tê-lo abalado.

Para tirar o gosto amargo do parágrafo acima, coloco aqui o texto que publiquei em meu perfil do Facebook logo após ver Pollini p0wela primeira vez ao vivo em 18 de fevereiro de 2014:

“Hoje foi um dia especialíssimo e irrepetível — quem sabe? — em Londres. Eu e Elena assistimos ao concerto de Maurizio Pollini no Royal Festival Hall, sala principal do Southbank Center. O programa era vasto, mas centrado em peças de Chopin e Debussy. Ele tocou o primeiro livro dos prelúdios do francês e peças esparsas do primeiro. O concerto foi dedicado por Pollini à memória de Claudio Abbado. Talvez isso explique a recolocação no programa da Sonata nº 2 para piano, Op. 35, cujo terceiro movimento é a célebre Marcha Fúnebre. Tudo isso contribuiu para que a eletricidade estivesse no ar. Mas talvez o melhor seja passar a palavra para a Elena, que não tinha tido ainda muito contato com Pollini, enquanto que eu o conheço desde os anos 70, chamo-o de deus no PQP Bach e considero-o um dos maiores artistas vivos de nosso planeta, tão vulgar. No intervalo, após uma série de Chopins, a Elena já me dizia: “Ele tem altíssima cultura musical e concisão. Enquanto o ouvia, pensava em diversas formas de reciclagem: ecológica, emocional, psíquica… Sua interpretação é a de um asceta que pode tudo, mas demonstra humildade e grandeza em trabalhar apenas para a música. Pollini não fica jogando rubatos e efeitos fáceis para o próprio brilho, mas me fez rezar e chorar. Que humanidade, que sabedoria! Depois desse concerto, minha vida não será a mesma”. Foi a primeira vez que vi Pollini em ação, após ouvir dúzias de seus discos. Acho que não vou esquecer da emoção puramente musical — pois ela existe, como não? — de ouvir meu pianista predileto. Para Pollini ser absolutamente fabuloso, só falta o que não quero que aconteça e que já ocorreu com Abbado.

Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini

Three Movements From Petrushka
Composed By – Igor Stravinsky
1-1 Danse Russe: Allegro Giusto 2:32
1-2 Chez Petrouchka 4:18
1-3 Le Semaine Grasse: Con Moto – Allegretto – Tempo Giusto – Agitato 8:28

12 Etudes, Op.25
Composed By – Frédéric Chopin
1-4 No: 1 In A Flat Major: Allegro Sostenuto 2:13
1-5 No: 2 In F Minor: Presto 1:27
1-6 No: 3 In F Major: Allegro 1:53
1-7 No: 4 In A Minor: Agitato 1:41
1-8 No: 5 In E Minor: Vivace 2:56
1-9 No: 6 In G Sharp Minor: Allegro 2:04
1-10 No: 7 In C Sharp Minor: Lento 4:52
1-11 No: 8 In D Flat Major: Vivace 1:04
1-12 No: 9 In G Flat Major: Allegro Assai 0:57
1-13 No: 10 In B Minor: Allegro Con Fuoco 3:58
1-14 No: 11 In A Minor: Lento – Allegro Con Brio 3:32
1-15 No: 12 In C Minor: Molto Allegro, Con Fuoco 2:31

Piano Sonata No: 32 In C Minor, Op.111
Composed By – Ludwig van Beethoven
1-16 Maestoso – Allegro Con Brio Ed Appassionato 8:47
1-17 Arietta: Adagio Molto Semplice E Cantabile 17:22

Variations For Piano, Op.27
Composed By – Anton Webern
1-18 Sehr Maassig 1:53
1-19 Sehr Schnell 0:40
1-20 Ruhig Fliessend 3:26

2-1 Polonaise In F Sharp Minor, Op.44 – Tempo Di Polacca-Doppio Movimento, Tempo Di Mazurka-Tempo I
Composed By – Frédéric Chopin
10:51
2-2 Polonaise In A Flat Major, Op.53 “Heroic” – Maestoso
Composed By – Frédéric Chopin
7:02

Piano Concerto No: 5 In E Flat Major, Op. 73 “Emperor”
Composed By – Ludwig van Beethoven
Conductor – Karl Böhm
Orchestra – Wiener Philharmoniker
2-3 Allegro 20:28
2-4 Adagio Un Poco Mosso – Attaca 8:02
2-5 Rondo: Allegro 10:15

2-6 La Lugubre Gondola I, S200 No: 1
Composed By – Franz Liszt
4:04
2-7 R.W. – Venezia, S201
Composed By – Franz Liszt
3:45

Preludes, Book 1
Composed By – Claude Debussy
2-8 VI: Des Pas Sur La Neige. Triste Et Lent. 3:45
2-9 Vii: Ce Qu’A Vu Le Vent D’Ouest. Anime Et Tumultueux. 3:06
2-10 X: La Cathedrale Engloutie Profondement Calme 6:10

Piano Concerto No: 24 In C Minor, K. 491
Cadenza – Salvatore Sciarrino
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart
Leader – Maurizio Pollini
Orchestra – Wiener Philharmoniker
3-1 Allegro 12:33
3-2 Larghetto 8:12
3-3 Allegretto 9:23

The Well-Tempered Clavier, Book 1 – “Prelude And Fugue In C Sharp Minor”, Bwv 849
Composed By – Johann Sebastian Bach
3-4 Praeludium IV 2:43
3-5 Fuga IV 4:48

The Well-Tempered Clavier, Book 1 – “Prelude And Fugue In G Major”, Bwv 860
Composed By – Johann Sebastian Bach
3-6 Praeludium XV 0:57
3-7 Fuga XV 2:52

Piano Concerto No: 1 In E Minor, Op. 11
Composed By – Frédéric Chopin
Conductor – Jerzy Katlewicz
Orchestra – Warsaw Philharmonic Orchestra*
3-8 Allegro Maestoso 16:10
3-9 Romance: Larghetto 9:44
3-10 Rondo: Vivace 9:32

Conductor – Jerzy Katlewicz (faixas: CD 3 (8 to 10)), Karl Böhm (faixas: CD 2 (3 to 5))
Orchestra – Warsaw Philharmonic Orchestra* (faixas: CD 3 (8 to 10)), Wiener Philharmoniker (faixas: CD 2 (3 to 5); CD 3 (1 to 3))
Piano – Maurizio Pollini (faixas: All Tracks)

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Foto de PQP Bach no citado recital.

PQP

Klára Würtz Plays Romantic Piano Music – Romantischer Klavierabend ֎

 

Música Romântica

Para Piano

Klára Würtz

 

 

Recebi uma pasta musical que prometia – Concerto para Piano No. 2 de Brahms mais as Quatro Peças para Piano, op. 119 – um total de oito arquivos na pasta, um disco virtual com oito faixas, quatro do concerto e as outras quatro, das lindas peças. O selo holandês Brillant não é assim, uma Brastemp, mas traz ótimas gravações e oferece muitas outras possibilidades além do que costuma ser gravado de novo e de novo. A pianista Karin Lechner pode não ser muito conhecida, mas foi protegida de Martha Argerich e isso não costuma acontecer por nada.  A expectativa pelo disco era alta, mas ao colocar para tocar a música que surgiu foi bem outra. Escondidas atrás das informações sobre a música de Brahms estava um recital para piano, música do período romântico. Pois a deliciosa dúvida imediatamente se pôs – o que e quem estaria tocando? Até parecia um desafio do PQP Bach.

As quatro primeiras faixas eram familiares, melodias bem conhecidas, mas eu não conseguia exatamente descobrir o que estava tocando. Depois de uma segunda audição, algumas cascatas de notas começaram a se revelar. Busquei a confirmação comparando com arquivos do meu acervo (atividade bem divertida) e assim surgiu o primeiro nome – Gnomenreigen, de Liszt. Eu confesso não ter muita paciência com Liszt, mas não faz muito tempo postei dois discos de Murray Perahia e lá estava a confirmação. Daí para descobrir que a faixa quatro era a Valsa Mefisto foi um pulo, pois ela também estava num disco que havia ouvido há pouco, um disco com valsas gravado pelo pianista Vassilis Varvareso. A terceira faixa foi a que mais me iludiu. Eu achava que poderia ser um noturno de Chopin, mas não conseguia nenhuma coincidência. Fui para outra parte do disco e duas faixas descobri de cara. Schubert, Impromptu, só faltou verificar qual deles. O disco mais a mão era uma gravação de Marc-André Hamelin. Logo em seguida a faixa oito, a Primeira Balada de Chopin, linda, como interpretada por Nobuyuki Tsujii. Fui dormir com o placar empatado, quatro a quatro. No outro dia, cedo, outra faixa logo se revelou, Arabesco de Schumann, como não percebi antes? Lá estava a prova, no disco do Fabrizio Chiovetta. Mas essas vitórias empalideciam quando eu pensava na terceira faixa, tão perto, mas tão distante. Dei tratos à bola, mas nada… Neste ponto me ocorreu algo, e você pode até dizer que foi golpe baixo, mas a curiosidade me aguçava e então, apelei: Google Search – Pesquisar uma música – e a peça revelou-se o Sonho de Amor, de Liszt. Como não pude ver antes? Como dizem os gringos, I was barking to the wrong tree, pensando que pudesse ser algo de Chopin. Aí o recital se revelou por inteiro. A primeira peça, o outro estudo de Liszt, também gravado pelo Perahia, Ruídos da Floresta, e a quinta faixa, outra famosíssima, Les Jeux d’eau à la Villa D’Este, que tenho tocada pelos dedos de outro grande pianista, Pierre-Laurent Aimard. De posse do programa, faltava descobrir o pianista, mas com a lista dos nomes das peças, não foi difícil localizar. O Google logo deu o serviço, a pianista é a ótima Klára Würtz, que já teve discos aqui por mim postados, num disco do mesmo selo Brillant, com o sugestivo nome ‘Música Romântica para Piano’. O tal disco da Klára tem, na verdade, mais duas faixas, outra de Chopin, a lindíssima Barcarolle, e uma peça virtuosística de Debussy, L’isle joyeuse. Eu já havia montado um disco paralelo com as peças interpretadas pelos outros pianistas, que havia usado como referência para confirmar as peças do disco misterioso. Gostei tanto da atividade que resolvi postar assim, o romântico recital de Klára Würtz e depois, tudo de novo, com os outros intérpretes. Fica com você ouvir tudo e depois me contar do que gostou mais…

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
  2. Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
  3. Liebestraume, S. 541 / R. 211
  4. Valsa Mefisto No. 1
  5. Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior

Robert Schumann (1810 – 1856)

  1. Arabeske em dó maior, Op. 18

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

  1. Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23
  2. Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. L’isle joyeuse

Klára Würtz, piano

Klara Würtz

Disco Paralelo

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
  2. Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen

Murray Perahia, piano

  1. Liebestraume, S. 541 / R. 211

Nobuyuki Tsujii, piano

  1. Valsa Mefisto No. 1

Vassilis Varvareso, piano

  1. Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este

Pierre-Laurent Aimard, piano

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior

Marc-André Hamelin, piano

Robert Schumann (1810 – 1856)

  1. Arabeske em dó maior, Op. 18

Fabrizio Chiovetta, piano

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

  1. Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23

Nobuyuki Tsujii, piano

  1. Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60

Dong-Hyek Lim, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. L’isle joyeuse

Van Cliburn, piano

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MP3 | 320 KBPS | 181 MB

 

 

 

 

 

 

 

 

 

When chosen Gramophone’s Pick of the Month (May 2022), the review sums up: “Würtz’s performances have disarming freshness which throws our listening emphases away from her and back on to the music.” The Hungarian-born pianist Klára Würtz is based in The Netherlands and is best known for her numerous recordings on Brilliant Classics.

Aproveite!

René Denon

Chopin / Rachmaninov: Sonatas para Piano Nº 2 + Berceuse + Barcarolle (Grimaud)

Chopin / Rachmaninov: Sonatas para Piano Nº 2 + Berceuse + Barcarolle (Grimaud)

Vi Pollini tocar a Sonata Nº 2, a da Marcha Fúnebre,
dias após a morte de Claudio Abbado. Ele dedicou a interpretação a seu amigo e o que aconteceu depois foi uma coisa do outro mundo. Claro que Grimaud não é culpada disso, mas aquele recital reverbera até hoje em meus ouvidos. O que ela faz está OK, mas Pollini é quem tem uma das gravações de referência, não ela. Hélène Grimaud é uma mulher de fortes ideais.  Como pianista, frequentemente divide o público. Este disco é bastante bom, apesar do Rachmaninov, embora eu realmente pudesse passar sem a vocalização semelhante a de Glenn Gould. Não sei por que os produtores de discos não mandam os artistas ficarem quietos na frente dos microfones. Limite-se a fazer cócegas nos marfins, Hélène. O ponto alto do CD são os Chopins, claro. Esqueça Rach.

Chopin / Rachmaninov: Sonatas para Piano Nº 2 + Berceuse + Barcarolle (Grimaud)

Frédéric Chopin Piano Sonata No. 2 In B Flat Minor, Op. 35 (25:20)
1 – Grave – Doppio Movimento 7:32
2 – Scherzo 6:43
3 – Marche Funèbre. Lento 9:24
4 – Finale. Presto 1:41

Sergei Rachmaninov* Piano Sonata No. 2 In B Minor, Op. 36 (23:13)
5 – Allegro Agitato 9:49
6 – Non Allegro – Lento 7:25
7 – L’istesso Tempo – Allegro Molto 5:59

8 Frédéric Chopin– Berceuse In D Flat Major, Op. 57 5:00

9 Frédéric Chopin– Barcarolle In F Sharp Major, Op. 60 8:33

Piano – Hélène Grimaud

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Cuidado! Ela é faca na bota!

PQP

Viva a Rainha! – As Idades de Marthinha: a Nona Década (2021-) [Martha Argerich, 82 anos]

1941-1950 | 1951-1960 | 1961-1970 | 1971-1980 | 1981-1990 | 1991-2000 | 2001-2010 | 2011-2020 | 2021-

Celebramos mais um aniversário da Rainha, e ela não dá sinais de arrefecer o radiador. Vá lá, volta e meia a assombrosa octogenária nos dá um susto, só para daí voltar com tudo – cancelando um concerto ou outro, naturalmente, como sói acontecer desde que Martha é Martha – e nos fazer sonhar com mais uma década todinha (a nona de sua vida, e a oitava como pianista) com ela a forrar nossos tímpanos de deleite.

Já é meu bem surrado costume cantar-lhe parabéns pelo cumple e celebrar a data gaiatamente, compartilhando presentes gravados pela própria aniversariante. Marthinha segue tão ativa fazendo música quanto afastada dos estúdios, de modo que todos os novos registros de sua arte, como há já algumas décadas, provêm somente de apresentações ao vivo. Entre as adições à discografia marthinhiana lançadas desde o 5 de junho passado – as quais passo a lhes oferecer a seguir -, apenas uma foi gravada, conforme a promessa do título desta postagem, na nona década de vida da Rainha. Trata-se de um recital em duo com o violinista Renaud Capuçon, gravado no ano passado, em que ela nos serve algumas de suas especialidades: além de uma das sonatas de Schumann, que a mantém entre os poucos grandes intérpretes a prestigiá-las em seu repertório, ela demonstra seguir afiada como sempre na realização das eletrizantes partes pianísticas da “Kreutzer” e da sonata de Franck.


Robert Alexander SCHUMANN
(1810-1856)
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105
1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 –  Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto

César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890)
Sonata em Lá maior para violino e piano
7 – Allegretto ben moderato
8 – Allegro
9 – Recitativo – Fantasia. Ben moderato
10 – Allegretto poco mosso

Renaud Capuçon, violino

Gravado ao vivo no Grand Théâtre de Provence em Aix-en-Provence (França) em 22 de abril de 2022.

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Apesar de já não serem exatamente novidades, por circularem há algumas décadas entre pirat…, er, fãs incondicionais afeitos a compartilhar gravações não oficiais, os muitos registros ao vivo presentes nos oito volumes duplos lançados pelo selo Doremi ao longo do último ano são muito bem-vindos à discografia de Marthinha. Chamo atenção para as sonatas de Beethoven, particularmente sua elétrica – diria até demais! – leitura da “Waldstein” (volume 10) e uma belíssima interpretação da Op. 101 (vol. 11), que, até prova em contrário, são suas únicas para estas obras-primas; uma rara aparição do Concerto no. 3, aquele que ela menos toca entre os três  de Ludwig que estão em seu repertório, e que viria a gravar oficialmente só décadas mais tarde (vol. 9); um Rach 3 ainda menos comum, captado durante a brevíssima janela em que ela o tocou (vol. 13); e colaborações com regentes notáveis como Rafael Kubelík (vol. 13), Lorin Maazel (vol. 10), Claudio Abbado (vols. 10 e 11), além de Charles Dutoit – seu ex-marido, amigo e parceiro artístico de tantas décadas, que se faz presente na maior parte dos tomos dessa coleção, acompanhando Martha por toda parte.

Sergei Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
1 – Andante
2 – Tema con variazioni
3 – Allegro, ma non troppo

Orquestra Sinfónica del SODRE
Charles Dutoit, regência

Gravado em Montevideo (Uruguai) em 14 de junho de 1969

Robert SCHUMANN
Toccata em Dó maior para piano, Op. 7
4 – Allegro

Fantasia em Dó maior para piano, Op. 17
5 – Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen. Im Legenden-Ton
6 – Mäßig. Durchaus energisch
7 – Langsam getragen. Durchweg leise zu halten

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60
8 – Allegretto

Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39
9 – Presto con fuoco

Gravado em Edinburgh (Escócia) em 6 de setembro de 1966

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807
10 – Prélude
11 – Allemande
12 – Courante
13 – Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
14 – Bourrée I & II
15 – Gigue

Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
16 – So rasch wie möglich
17 – Andantino
18 – Scherzo
19 – Rondo

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Jeux d’eau, para piano
20 – Très doux

Franz LISZT
Das Harmonies poétiques et religieuses para piano, S. 173:
21 – No. 7: Funérailles

Fryderyk CHOPIN
Balada para piano no. 3 em Lá bemol maior, Op. 47
22 – Allegretto

Das Quatro mazurcas para piano, Op. 41:
23 – No. 4 em Lá bemol maior

Das Três mazurcas para piano, Op. 63:
24 – No. 2 em Fá menor

Das Quatro mazurcas para piano, Op. 33:
25 – No. 2 em Ré maior

Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
26 – Presto

Das Quatro mazurcas para piano, Op. 24:
27 – No. 2 em Dó maior

Gravado em Edinburgh (Escócia) em 8 de setembro de 1967

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Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice
3 – Allegro con fuoco

Göteborgs Symfoniker
Charles Dutoit, regência

Gravado em Göteborg (Suécia) em 27 de outubro de 1972

Robert SCHUMANN
Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54
4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo
6 – Allegro vivace

Česká Filharmonie
Václav Neumann, regência

Gravado em München (Alemanha Ocidental) em 29 de março de 1971

Ludwig van BEETHOVEN
Das Três sonatas para piano, Op. 10:
No. 3 em Ré maior
7 – Presto
8 – Largo e mesto
9 – Minuet. Allegro
10 – Rondo. Allegro

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Sonata para piano. BB 88, Sz. 80
11 – Allegro moderato
12 – Sostenuto e pesante
13 – Allegro molto

Fryderyk CHOPIN
Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28
14 – No. 1  em Dó maior
15 – No. 2 em Lá menor
16 – No. 3 em Sol maior
17 – No. 4 em Mi menor
18 – No. 5 em Ré maior
19 – No. 6 em Si menor
20 – No. 7 em Lá maior
21 – No. 8 em Fá sustenido menor
22 – No. 9 em Mi maior
23 – No. 10 em Dó sustenido menor
24 – No. 11 em Si maior
25 – No. 12 em Sol sustenido menor
26 – No. 13 em Fá sustenido maior
27 – No. 14 em Mi bemol menor
28 – No. 15 em Ré bemol maior
29 – No. 16 em Si bemol menor
30 – No. 17 em Lá bemol maior
31 – No. 18: em Fá menor
32 – No. 19 em Mi bemol maior
33 – No. 20 em Dó menor
34 – No. 21 em Si bemol maior
35 – No. 22 em Sol menor
36 – No. 23 em Fá maior
37 – No. 24 em Ré menor

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
38 – Sonata em Ré menor, K. 141

Fryderyk CHOPIN
Das Três Mazurcas para piano, Op. 63:
39 – No. 2 em Fá menor

Gravado em Tokyo (Japão) em 8 de junho de 1976

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Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó menor, Op. 37
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo

Orchestre de la Suisse Romande
Charles Dutoit, regência

Gravado em Lausanne (Suíça) em 17 de outubro de 1973

Fryderyk CHOPIN
Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 41:
4 – No. 1 em Dó sustenido menor

Das Três Mazurcas para piano, Op. 63:
5 – No. 2 em Fá menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 24:
6 – No. 2 em Dó maior

Balada para piano no. 3 em Lá bemol maior, Op. 47
7 – Andantino

Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
8 – Presto

Sergei PROKOFIEV
Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28
9 – Allegro tempestoso

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Jeux d’eau, para piano
10 – Très doux

Gravado em Berlim Ocidental (Alemanha Ocidental) em 2 e 3 de dezembro de 1967

Fryderyk CHOPIN
Dos Dois noturnos para piano, Op. 48
11 – No. 1 em Dó menor

Gravado em Warszawa (Polônia), durante o VII Concurso Internacional Chopin (fevereiro e março de 1965)


Johann Sebastian BACH
Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
1 – Sinfonia
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande
5 – Rondeau
6 – Capriccio

Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
7 – So rasch wie möglich
8 – Andantino
9 – Scherzo
10 – Rondo

Sergei PROKOFIEV
Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28
11 – Allegro tempestoso

Fryderyk CHOPIN
Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58
12 – Allegro maestoso
13 – Scherzo. Molto vivace
14 – Largo
15 – Finale. Presto non tanto

Gravado em Ludwigsburg (Alemanha Ocidental) em 1° de abril de 1967

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Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para piano em Dó maior, Op. 53, “Waldstein”
1 – Allegro con brio
2 – Introduzione. Adagio molto
3 – Rondo. Allegretto moderato – Prestissimo

Fryderyk CHOPIN
Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58
4 – Allegro maestoso
5 – Scherzo. Molto vivace
6 – Largo
7 – Finale. Presto non tanto

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
Das Estampes para piano, L. 100:
8 – No. 3: Jardins sous la pluie

Gravado em Tokyo (Japão) em 4 de outubro de 1970

Maurice RAVEL
Concerto em Sol maior para piano e orquestra
9 – Allegramente
10 – Adagio assai
11 – Presto

Radio-Sinfonieorchester Stuttgart
Peter Maag, regência

Gravado em Stuttgart (Alemanha Ocidental) em 10 de outubro de 1969


Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro

Radio-Sinfonieorchester Berlin
Lorin Maazel, regência

Gravado em Berlim Ocidental (Alemanha Ocidental) em 1972

Sergei PROKOFIEV
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
4 – Andante
5 – Tema con variazioni
6 – Allegro, ma non troppo

Orchestre National de la Radiodiffusion Française
Claudio Abbado, regência

Gravado na França em 7 de dezembro de 1967

Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
7 – So rasch wie möglich
8 – Andantino
9 – Scherzo
10 – Rondo

Gravado em New York City (Estados Unidos) em 7 de abril de 1973

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Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo: Allegro scherzando

Česká Filharmonie
Claudio Abbado,
regência

Gravado em Salzburg (Áustria) em 4 de agosto de 1971

Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124

4 – Allegro maestoso – Quasi adagio – Allegretto vivace – Allegro animato – Allegro marziale animato

NDR Symphonieorchester
Moshe Atzmon, regência

Gravado em Hamburg (Alemanha Ocidental) em 8 de novembro de 1971

Fryderyk CHOPIN
Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 35
5 – Grave. Doppio movimento
6 – Scherzo
7 – Marche funèbre: Lento
8 – Finale: Presto

Gravado em New York City (Estados Unidos) em 2 de outubro de 1974


Johann Sebastian BACH
Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807
1 – Prélude
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
5 – Bourrée I & II
6 – Gigue

Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para piano em Lá maior, Op. 101
7 – Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung
8 – Lebhaft. Marschmäßig
9 – Langsam und sehnsuchtsvoll
10 – Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit

Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15
11 – Von fremden Ländern und Menschen – Kuriose Geschichte – Hasche-Mann – Bittendes Kind – Glückes genug – Wichtige Begebenheit – Träumerei – Am Kamin – Ritter vom Steckenpferd – Fast zu ernst – Fürchtenmachen – Kind im Einschlummern – Der Dichter spricht

Gravado em Veneza (Itália) em 10 de fevereiro de 1969

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata para piano em Lá maior, K. 310
12 – Allegro maestoso
13 – Andante cantabile con espressione
14 – Presto

Gravado em Colônia (Alemanha Ocidental) em 8 de setembro de 1960

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Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
1 – Maestoso
2 – Larghetto
3 – Allegro vivace

Detroit Symphony Orchestra
Klaus Tennstedt, regência

Gravado em Detroit (Estados Unidos) em 9 de fevereiro de 1978

Robert SCHUMANN
Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54
4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo
6 – Allegro vivace

Orchestre de l’Office de Radiodiffusion-Télévision Française
Charles Dutoit,
regência

Gravado em Paris (França) em 6 de setembro de 1973

Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124

7 – Allegro maestoso – Quasi adagio – Allegretto vivace – Allegro animato – Allegro marziale animato

Göteborgs Symfoniker
Norman del Mar, regência

Gravado em Göteborg (Suécia) em 18 de março de 1971


Johann Sebastian BACH
Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
1 – Sinfonia
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande
5 – Rondeau
6 – Capriccio

Sergei PROKOFIEV
Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83
7 – Allegro inquieto
8 – Andante caloroso
9 – Precipitato

Robert SCHUMANN
Fantasiestücke, para piano, Op. 12
10 – Des Abends – Aufschwung – Warum? – Grillen – In der Nacht – Fabel – Traumes Wirren – Ende vom Lied

Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39
11 – Presto con fuoco

Fryderyk CHOPIN
12 – Andante Spianato e Grande Polonaise Brillante para piano, Op. 22

Giuseppe Domenico SCARLATTI
(1685-1757)
13 – Sonata em Ré menor, K. 141

Gravado em Toronto (Canadá) em 3 de novembro de 1978

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Wolfgang Amadeus MOZART
Concerto para piano e orquestra no. 25 em Dó maior, K. 503
1 – Allegro Maestoso
2 – Andante
3 – Allegretto

New York Philharmonic
Rafael Kubelík, regência

Gravado em New York City (Estados Unidos) em 7 de fevereiro de 1978

Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Ré menor, Op. 30
4 – Allegro ma non tanto
5 – Intermezzo. Adagio
6 – Finale. Alla breve

Hannover Rundfunk Symphonieorchester
Bernhardt Klee, regência

Gravado em Hannover (Alemanha Ocidental) em 14 de junho de 1979


Johann Sebastian BACH
Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
1 – Sinfonia
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande
5 – Rondeau
6 – Capriccio

Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
7 – So rasch wie möglich
8 – Andantino
9 – Scherzo
10 – Rondo

Fryderyk CHOPIN

Dos Dois noturnos para piano, Op. 27:
11 – No. 2 em Ré bemol maior

.Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39
12 – Presto con fuoco

Maurice RAVEL
Gaspard de la nuit, Trois poèmes pour piano d’après Aloysius Bertrand, M. 55
13 – Ondine
14 – Le gibet
15 – Scarbo

Gravado em Saarbrücken (Alemanha Ocidental) em 14 de abril de 1972

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Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo. Allegro scherzando

NDR Orchester
Moshe Atzmon, regência

Gravado em Hamburgo (Alemanha Ocidental) em 23 de agosto de 1976

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
4 – Allegro non troppo e molto maestoso
5 – Andantino semplice
6 – Allegro con fuoco

Orchestre de la Suisse Romande
Charles Dutoit, regência

Gravado em Génève (Suíça) em 24 de outubro de 1973

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Jeux d’eau, para piano
7 – Très doux

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
8 – Sonata em Ré menor, K. 141


Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Sonata para piano. BB 88, Sz. 80
1 – Allegro moderato
2 – Sostenuto e pesante
3 – Allegro molto

Robert SCHUMANN
Fantasiestücke, para piano, Op. 12
4 – Des Abends – Aufschwung – Warum? – Grillen – In der Nacht – Fabel – Traumes Wirren – Ende vom Lied

Maurice RAVEL
Gaspard de la nuit, Trois poèmes pour piano d’après Aloysius Bertrand, M. 55
5 – Ondine
6 – Le gibet
7 – Scarbo

Fryderyk CHOPIN
Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60
8 – Allegretto

Dos Dois noturnos para piano, Op. 48
9 – No. 1 em Dó menor

Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39
10 – Presto con fuoco

Gravado em Zürich (Suíça) em 9 de outubro de 1977

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“Siri com Toddy”, diriam alguns, ao verem o lépido trio de Haydn pareado com o demoníaco Concerto no. 3 de Prokofiev, ambos gravados durante participações da Rainha no Festival de Verbier. Mas quem pode reclamar, quando o Haydn é tão lindamente tocado, e o Prokofiev vem num dos melhores registros desta que é, há décadas, uma de suas mais magmáticas intérpretes?

Joseph HAYDN (1732-1809)
Trio para piano, violino e violoncelo no. 39 em Sol maior, Hob.XV:25
1 – Andante
2 – Poco adagio
3 – Rondo all’Ongarese (Presto)

Vadim Repin, violino
Mischa Maisky, violoncelo

Gravado em Verbier (Suíça) em 27 de julho de 2000

Sergei PROKOFIEV
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 30
4 – Andante – Allegro
5 – Tema con variazioni
6 – Allegro ma non troppo

Verbier Festival Orchestra
Yuri Temirkanov, 
regência

Gravado em Verbier em 20 de julho de 2001

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Falando em reclamar, chegou a minha vez: reconheço os méritos da longa carreira e extraordinária vida de Ivry Gitlis, mas não me conto entre seus fãs como intérprete. Martha, aparentemente, nunca ligou para minha opinião desimportante (no que age muito bem), e foi muito amiga do violinista israelense, a quem acompanhou em muitos recitais, excertos dos quais apareceram nesse volume duplo e meio mal ajambrado da Doremi. Só porque sou implicante, incluí somente as faixas com participação da Rainha – se os aficionados por Gitlis me xingarem o bastante nos comentários, talvez eu lhes traga, algum dia, as faixas que arbitrariamente limei.

Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para violino e piano no. 18 em Sol maior, K. 301
1 – Allegro con spirito
2 – Allegro

Ludwig van BEETHOVEN
Da Sonata para violino e piano em Fá maior, Op. 24, “Primavera”:
3 – Rondo

Gravado em Lugano (Suíça) em 14 de junho de 2006

Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 –  Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto

Friedrich (“Fritz”) KREISLER (1875-1962)
7 – Liebesleid

Gravado em Lugano em 7 de junho de 2003

Claude DEBUSSY
Sonata para violino e piano em Sol menor, L.
140
8 – Allegro vivo
9 – Fantasque et léger
10 – Finale. Très animé

Gravado em Lugano em 24 de junho de 2004

Fritz KREISLER
11 – Schön Rosmarin
12 – Liebesleid

Gravado em Verbier (Suíça) em 24 de julho de 2004

Fritz KREISLER
13 – Schön Rosmarin
14 – Schön Rosmarin (com Shonosuke Okura, tsuzumi)

Gravado em Lugano em 19 de junho de 2011

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A já longa recusa a tocar solo, tanto nos palcos quanto nos estúdios, naturalmente direcionou Marthinha para rumos e repertórios novos como camerista. Suas participações em festivais, em especial o de Lugano, costumam trazer surpresas, entre as quais poucas poderiam ser mais obscuras que o duo pianístico Bilder aus Osten (“Quadros do Oriente”) de Schumann, aqui num arranjo do clarinetista Mark Denemark, e a seleção de peças de Bruch para piano, clarinete e viola (tocada por Lyda, a filha mais velha da Diva) que encerra o disco a seguir.

Robert SCHUMANN
Bilder aus Osten, para piano a quatro mãos, Op. 66
(arranjo de Mark Denemark para piano, clarinete, viola e violoncelo)
1 – Lebhaft
2 – Nicht schnell und sehr gesangvoll zu spielen
3 – Im Volkston
4 – Nicht schnell ‘Chanson Orientale’
5 – Lebhaft
6 – Reuig andächtig

Mark Denemark, clarinete
Lyda Chen, viola
Mark Drobinsky, violoncelo

Gravado em Lugano (Suíça) em 16 de junho de 2007

Max Christian Friedrich BRUCH (1838-1920)
Das Oito peças para clarinete, viola e piano, Op. 83:
7 – No. 5: Rumänische Melodie: Andante
8 – No. 6: Nachtgesang: Andante con moto
9 – No. 7: Allegro vivace, ma non troppo
10 – No. 8: Moderato

Mark Denemark, clarinete
Lyda Chen, viola

Gravado em Lugano em 25 de junho de 2009

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A um só tempo celebração dos noventa anos de Rodion Shchedrin e um bom apanhado geral de sua fascinante e multifacetada obra, a compilação a seguir, que reúne gravações ao vivo em diversas edições do Festival de Verbier, nos faz ouvir Martha e seu amicíssimo ex-vizinho Mischa Maisky no Concerto Duplo para violoncelo e piano – a única obra de Shchedrin que tem em seu repertório -, além duma minigaláxia de celebridades musicais que inclui o próprio compositor, um excelente pianista.

Rodion Konstantinovich SHCHEDRIN (1932)
Concerto duplo para piano, violoncelo e orquestra, “Oferenda Romântica”
1 – Moderato quasi andantino
2 – Allegro
3 – Sostenuto assai

Mischa Maisky, violoncelo
Verbier Festival Orchestra
Neeme Järvi,
regência

Gravado em Verbier (Suíça) em 30 de julho de 2012

Antigas Melodias Tradicionais Russas, para violoncelo e piano
4 – Lento un poco rubato
5 – Allegro, ma non troppo
6 – Maestoso
7 – Adagietto
8 – Moderato

Rodion Shchedrin, piano
Sol Gabetta, violoncelo

Duetos Românticos, para piano a quatro mãos
9 – Andante cantabile
10 – Allegro sotto voce
11 – Maestoso con moto
12 – Allegretto moderato, a la gypsy
13 – Allegro, ma non troppo
14 – Andante recitando
15 – (Coda) Prestissimo

Rodion Shchedrin e Roland Pöntinen, piano

16 – Concerto no. 1 para orquestra, ‘Tschastuschi’

Verbier Festival Orchestra
Mikhail Pletnev, 
regência

Improvisos para piano, “Páginas sem Arte”
17 – No. 1, Romantic Etude (Staccato-Etude)
18 – No. 2, Unforgettable Micaëla
19 – No. 3, Music to Chekhov’s Play
20 – No. 4, The Tsar’s Cortege
21 – No. 5, Aria
22 – No. 6, Reminiscenses of Old-Age Romances…
23 – No. 7, The Politician Speaks … !

Yuja Wang, piano

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Um dos veios mais belos e imutáveis da personalidade de Martha é a generosidade com que ela acolhe, prestigia e promove jovens artistas. A suíça Maria Solozobova tinha um pouco mais da metade da idade da Rainha quando tornou-se sua parceira de duo e, como quase sempre acontece com quem dela se aproxima, também sua amiga. O relato seguinte de Maria, parte duma entrevista a uma agência russa, é puro suco de Argerich:

“Nos conhecemos por acaso. As estrelas deviam estar alinhadas, ou algo assim. Certa vez, dei um concerto com a Orquestra Filarmônica do Sul da Alemanha em Konstanz e um amigo nosso, um advogado, me apresentou a uma jovem pianista nos bastidores. Ele disse que precisávamos nos conhecer, pois ela era uma ótima artista. Essa pessoa era Cristina Marton-Argerich, que é casada com o sobrinho de Martha. Cristina e eu imediatamente nos tornamos amigas e começamos a tocar juntas e isso acabou me levando a conhecer Martha. (…) não é fácil conhecer uma artista do calibre de Martha, então pedi a Cristina para me apresentar a ela. Na época, o festival de Martha ainda acontecia em Lugano, então fui para lá e, depois de nos apresentarmos, decidimos nos encontrar e tocar algumas peças juntas, por pura diversão, em casa. Nos encontramos então na casa dela em Genebra [para tocar] a sonata de Franck. Há uma história quanto a esse encontro: fiquei presa em um engarrafamento e cheguei duas horas atrasada. Martha é uma pessoa muito fora do comum: ela quase nunca atende o telefone, então ela me esperou na rua – quer dizer, ela ficou ali o tempo todo, mulher pequena e frágil que ela é. Fiquei terrivelmente envergonhada, pois mal nos conhecíamos na época e ainda não tínhamos nos tornado amigas. Quando tocamos a peça juntas pela primeira vez, parecia tão natural que mal pude acreditar. Nós a executamos perfeitamente do começo ao fim na primeira tentativa, e então ela disse: ‘Vamos para a cozinha comer algumas guloseimas’. Fiquei sem palavras e não pude deixar de perguntar: ‘Podemos tocar mais uma vez?’ Ela se virou e perguntou: ‘Para quê?’ Fiquei novamente sem palavras, mas rapidamente pensei na resposta: ‘Não poderíamos… Só por prazer?’. Martha é muito brincalhona. Ela é tão efervescente, e tem esse olhar brilhante, especial. Ela me olhou bem e disse “Tudo bem”, e tocamos pela segunda vez, de uma forma completamente diferente! Foi incrível, e eu realmente adorei. Ela sente a música tão profundamente, duma maneira tão colorida… As palavras não podem expressar o quão bom foi. Você realmente tem que experimentar para entender”.

Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
1 –  Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Finale. Presto

Sergei PROKOFIEV
Sonata para violino e piano no. 2 em Ré maior, Op. 94a
4 – Moderato
5 – Scherzo. Presto
6 – Andante
7 – Allegro con brio

Maria Solozobova, violino

Gravado em Zürich (Suíça) em 23 de dezembro de 2014

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Acolher jovens como Solozobova não significa, para Martha, deixar de lado seus velhos parceiros na Música. O mais antigo deles é seu conterrâneo Daniel Barenboim, que ela conhece desde os tempos em que ambos eram as mais famosas crianças-prodígio de Buenos Aires.  A gravação a seguir, lançada pelo selo Peral, do próprio Barenboim, não poderia trazer Martha em situação mais confortável: o No. 2 de Beethoven, que ela tocaria de olhos vendados, na companhia de Daniel, com uma orquestra idealizada e burilada pelo próprio ao longo de algumas décadas, e no mesmo venerando palco do Teatro Colón em que ela estreara incríveis… sessenta e seis anos antes!

Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 –  Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro

West-Eastern Divan Orchestra
Daniel Barenboim, regência

Gravado no Teatro Colón em Buenos Aires (Argentina), julho de 2015

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Encerrando nosso tributo anual à deusa maior do piano, o Concerto no. 2 de Beethoven volta, pareado com outro cavalo de batalha de Martha: o Concerto em Sol de Ravel, do qual legou à eternidade a gravação para mim definitiva com Abbado, e que ela toca aqui na companhia de seu mais novo queridinho, o israelense Lahav Shani. Shani tem colaborado estreitamente com a Rainha (e talvez tanto quanto denote a ilustração da capa do álbum, que os torna um só ser bicéfalo), ora como pianista, ora frente a Filarmônica de Israel, do qual é atualmente o diretor musical. Cinquenta inacreditáveis anos separam essas duas leituras de Ravel, e é assombroso como a passagem do tempo só se faz notar pela engenharia de som, pois ninguém o diria pela agilidade, elã e consumada arte de Marthinha ao teclado.

Feliz cumple, Reina – e que nunca pares de nos encantar ❤

Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 –  Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro

Gravado em Tel Aviv (Israel) em 22 de dezembro de 2019

Maurice RAVEL
Concerto em Sol maior para piano e orquestra
4 – Allegramente
5 – Adagio assai
6 – Presto

Gravado em Tel Aviv em 24 e 27 de dezembro de 2019

Israel Philharmonic
Lahav Shani, regência

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Ampliar o repertório depois dos oitenta anos? Sim, se tu és Marthinha: ei-la tocando pela primeira vez em público o pouquíssimo conhecido Souvenir de Paganini, um memento musical composto por Chopin aos 19 anos, instigado por um concerto do célebre violinista em Varsóvia.

Vassily

György Ligeti (1923-2006): Peças Diversas – Vários Intérpretes – ֍ — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

György Ligeti (1923-2006): Peças Diversas – Vários Intérpretes – ֍  — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

Ligeti • Nancarrow

Dutilleux • Scarlatti

Ravel • Chopin

Debussy • Kapustin

 

 

28/04/2023 — 100 anos de Ligeti!

Mais Ligeti aqui.

Para esta postagem comemorativa dos 100 anos de nascimento de György Ligeti imaginei uma reunião de amigos, de pessoas com muitas afinidades que se encontram para um animado papo…

É claro, deve estar presente a música do homenageado. Mas, optei por trazer algumas de suas composições misturadas a peças de outros compositores que lhe fazem, assim, companhia. Imagino que se eles estivessem todos reunidos (quem sabe?) estariam batendo papo, trocando figurinhas.

Alim ao lado do grand piano do PQP Bach Hall em Bucareste

Começo com um disco curto de um jovem pianista – Alim Beisembayev – que ganhou o Leeds Interational Piano Competition em 2021. Andrew ficou aMa(n)zed com os dotes pianísticos do Alim enquanto regia a régia RPO na linda Rapsódia sobre um tema de Paganini, do Sergei Rachmaninov – feito que lhe rendeu a Gold Medal do concurso. Nascido no Cazaquistão no apagar das luzes do século passado, Beisembayev já tem um carreira de pianista consolidada e um disco comercial com os endiabrados estudos para piano de Liszt.

Neste disco (associado ao concurso) ele mostra suas credenciais tocando três lindas sonatas de Scarlatti, duas peças de Miroirs de Maurice Ravel e três estudos para piano do nosso homenageado. É interessante ver a música de Ligeti ao lado de peças de compositores que contribuíram enormemente para o desenvolvimento da técnica de tocar instrumentos com teclado. Mesmo tendo apenas três dos estudos de Ligeti neste disco, já dá para se ter uma ideia do escopo da criatividade do sujeito. Cordes à vide é o segundo estudo do primeiro livro e é estranhamente sereno, calmo e lembra o universo de Debussy. Depois deste momento de reflexão, dois estudos do segundo livro que levam a técnica de piano ao extremo. Der Zauberlehrling (O Aprendiz de Feiticeiro) e L’escalier du diable (que dispensa tradução) são estudos que dão nós nos dedos dos pianistas e deixam todos (inclusive os ouvintes) sem fôlego.

O segundo disco da postagem foi gravado ao vivo (há palmas no final dos números musicais, mas as gravações são impecáveis) na série Wigmore Hall Live no concerto do famoso Arditti String Quartet, cuja identificação com a música moderna é notória. Para este recital eles escolheram quartetos de Conlon Nancarrow, Henri Dutilleux e o Segundo Quarteto de Ligeti. O disco é realmente muito intenso, mas uma audição cuidadosa, de mente aberta às novidades, pode render muitos bons frutos. Desses dois ‘vizinhos’ de Ligeti, Nancarrow é possivelmente o menos conhecido, mas desfrutava um enorme reconhecimento do György. Veja o que ele disse sobre Conlon Nanacarrow: This music is the greatest discover since Webern and Ives… his music is so utmost original, enjoyable, constructive and at the same time emotional… for me it’s the best music of any living composer. […] para mim, é a melhor música de qualquer compositor vivo.

Irvine tentando afinar um Guarneri da coleção do PQP Bach…

Na apresentação do disco, o quarteto de Ligeti é considerado a peça mais difícil. But while both of these works are undeniably impressive for the great difficulties they present, the tour de force of this recording is György Ligeti’s enormously demanding String Quartet No. 2 (1968), a masterpiece of extended string techniques and sonorities that is a bold continuation of the explorations of Béla Bartók. O ‘tour de force’ deste disco é o terrivelmente exigente Quarteto de Cordas No. 2 (1968) de Ligeti, uma obra de técnicas e sonoridades de cordas levadas ao extremo e é uma ousada continuação dos avanços feitos por Béla Bartók.

Ligeti foi um compositor de música para piano, que ele tocava com uma técnica inadequada, como ele mesmo afirmou. Esta técnica inadequada aliada a uma imaginação prodigiosa o fez produzir peças que o colocam como mestre na linha de grandes compositores para piano, como Chopin, Liszt e Debussy.

Antes de Chopin os estudos para piano (Czerny, Moschelles, por exemplo) eram peças que tinham caráter técnico e visavam os estudantes de piano. Schumann e (principalmente) Chopin levaram o gênero a outro nível, devido à qualidade artística das obras que criaram.

Dora sendo simplesmente adorável…

Assim, o último disco da postagem coloca Ligeti em companhia destes dois gigantes, Chopin e Debussy, sem contar três lindas peças de Nikolai Kapustin. Dora Deliyska é uma ótima pianista que também é uma artista versátil e interessante. Ela tem criado projetos que resultam em discos como este, um lançamento recente. Inspirada nas muitas coleções de 24 peças, ela escolheu entre as obras desses quatro compositores – Chopin, Debussy, Ligeti e Kapustin – uma coleção de 12 estudos e 12 prelúdios, criando assim o orgânico programa do disco – Études & Préludes.

A contribuição de Ligeti está na primeira metade do programa – quatro estudos, três dos quais já apresentados no disco do Alim Beisembayev. Você poderá ouvi-los na sequência integrada aos outros estudos dos outros compositores, mas também poderá perceber as nuances entre as diferentes interpretações dos dois pianistas. O quarto estudo é do primeiro livro e chama-se Fanfares. Deve ser tocado tão presto quanto possível, vivacissimo! Em um outro livreto este estudo é caracterizado como uma furious piece, baseado em um ostinato (teimosias) e está relacionado com o Trio para Violino, Trompa e Piano, escrito uns anos antes, em homenagem à Brahms. Resolvi incluir este disco na postagem pelo Ligeti ao lado dos outros compositores, mas também pela criatividade da pianista Dora Deliyska.

E agora, aqui estão eles:

Domenico Scarlatti (1685 – 1757)

  1. Sonata em dó menor, Kk. 22, L. 360
  2. Sonata em dó sustenido menor, Kk. 247, L. 256
  3. Sonata em sol maior, Kk. 13, L. 486

György Ligeti (1923 – 2006)

  1. 6 Études, Livro 1, No. 2 Cordes à vide
  2. 8 Études, Livro 2, No. 10 Der Zauberlehrling
  3. 8 Études, Livro 2, No. 13 L’escalier du diable

Maurice Ravel (1875 – 1937)

  1. Miroirs, M. 43, II. Oiseaux tristes
  2. Miroirs, M. 43, III. Une barque sur l’océan

Alim Beisembayev, piano

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MP3 | 320 KBPS | 85 MB

Conlon Nancarrow (1912 – 1997)

Quarteto de Cordas No. 3

  1. Primeiro Movimento
  2. Segundo Movimento
  3. Terceiro Movimento

György Ligeti (1923 – 2006)

Quarteto de Cordas No. 2

  1. Allegro Nervosa
  2. Sostenuto, Molto Calmo
  3. Come Un Meccanismo Di Precisione
  4. Presto Furioso, Brutale, Tumultuoso
  5. Allegro Con Delicatezza

Henri Dutilleux (1916 – 2013)

Quarteto de Cordas ‘Ainsi La Nuit’

  1. Introduction
  2. I Nocturne
  3. Parenthese 1
  4. II Miroir D’Espace
  5. Parenthese 2
  6. III Litanies
  7. Parenthese 3
  8. IV Litanies 2
  9. Parenthese 4
  10. V Constellations
  11. VI Nocturne
  12. VII Temps Suspendu

Arditti String Quartet

Irvine Arditti, violino

Graeme Jennings, violino

Ralf Ehlers, viola

Rohan de Saram, violoncelo

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Études & Préludes

  1. Ligeti: Études pour piano, Livro 2, No. 10, Der Zauberlehrling
  2. Debussy: 12 Études, L. 136, No. 7, Pour les Degrés chromatiques
  3. Chopin: Étude em lá menor, Op. 25 No. 11
  4. Ligeti: Études pour piano, Livro 1, No. 4, Fanfares
  5. Chopin: Étude dó sustenido menor, Op. 25 No. 7
  6. Ligeti: Études pour piano, Livro 1, No. 2, Cordes á vide
  7. Chopin: Étude em ré bemol maior, Op. 25 No. 8
  8. Ligeti: Études pour piano, Livro 2, No. 13, L’escalier du diable
  9. Chopin: Étude em si menor, Op. 25 No. 10
  10. Debussy: 12 Études, L. 136, No. 11, Pour les Arpèges composés
  11. Chopin: Étude em lá bemol maior, Op. 25 No. 1
  12. Debussy: 12 Études, L. 136, No. 12, Pour les Accords
  13. Chopin: Prélude ré bemol maior, Op. 28 No. 15
  14. Chopin: Prélude em mi menor, Op. 28 No. 4
  15. Chopin: Prélude em fá sustenido menor, Op. 28 No. 8
  16. Chopin: Prélude em fá sustenido maior, Op. 28 No. 13
  17. Chopin: Prélude em si bemol menor, Op. 28 No. 16
  18. Debussy: Préludes, Livro 1, L. 117, No. 6, Des pas sur la neige
  19. Debussy: Préludes, Livro 2, L. 123, No. 6, General Lavine – eccentric
  20. Debussy: Préludes, Livro 2, L. 123, No. 3, La puerta del Vino
  21. Debussy: Préludes, Livro 1, L. 117, No. 7, Ce qu’a vu le vent d’ouest
  22. Kapustin: 24 Préludes in Jazz Style, Op. 53, No. 12, Allegretto em sol sustenido menor
  23. Kapustin: 24 Préludes in Jazz Style, Op. 53, No. 11, Andante em si maior
  24. Kapustin: 24 Préludes in Jazz Style, Op. 53, No. 6, Animato em si menor

Dora Deliyska, piano

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MP3 | 320 KBPS | 184 MB

Aproveite e festeje a data do Ligeti!

René Denon

É bem possível que György ficaria feliz com as postagens da semana…

Egon Petri (1881-1962) – His Recordings 1929-42, vol. 3– Chopin, Busoni, Franck, Schubert, Bach, Gluck (2 CDs)

Egon Petri (1881-1962) – His Recordings 1929-42, vol. 3– Chopin, Busoni, Franck, Schubert, Bach, Gluck (2 CDs)

Egon Petri (1881-1962) foi um pianista de cidadania holandesa nascido na Alemanha. Dono de uma técnica refinada, é alguém ainda por ser propriamente redescoberto pelos ouvintes do século XXI. Seu nome não é lembrado e louvado com a atenção que merece, talvez justamente por encarnar uma espécie de forma de tocar que tem algo de arcaica, com raízes profundas no século XIX.

Petri foi um dos discípulos mais dedicados do lendário pianista, compositor e professor italiano Ferruccio Busoni (1866-1924), e um ardoroso defensor de sua música, por toda a vida. Petri acompanhou Busoni à Suíça durante a Primeira Guerra Mundial e posteriormente seguiu o mestre para Berlim, onde também deu aulas. Entre seus alunos estavam Vitya Vronsky (do duo Vronsky & Babin), Gunnar Johansen e o comediante e pianista dinamarquês Victor Borge.

Em 1927 ele se estabeleceu em Zakopane, na Polônia, dedicando-se ao ensino e a gravações. Ele viveu lá até 1939, quando escapou às pressas literalmente na véspera da invasão alemã, em setembro daquele ano. Petri então passou a dar aulas na Cornell University, em Ithaca, e mais tarde no Mills College, em Oakland. Ele se naturalizaria americano nos anos 50, e teve entre seus pupilos em solo americano o brilhante pianista inglês John Ogdon (1937-89), aquele que dividiu o primeiro lugar do Concurso Tchaikovsky com Vladimir Ashkenazy em 1962 (as finais deste concurso foram lançadas em disco e logo mais vão pintar aqui no PQP).

As gravações presentes neste disco duplo são deste trágico período, em que Petri teve que cruzar um oceano para sobreviver, realizadas entre 1938 e 1942. São testemunhos sonoros de uma época e de uma filosofia musical e pianística.

Duas curiosidades desimportantes sobre Busoni. A primeira é que o nome completo dele é, no mínimo, pomposo: Dante Michelangelo Benvenuto Ferruccio Busoni. A segunda é que ele está enterrado no Friedhof Schöneberg III, também conhecido como Friedhof Stubenrauchstraße, mesmo endereço em que também desfrutam o repouso eterno a atriz Marlene Dietrich e o fotógrafo Helmut Newton.

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CD 1

1 – SCHUBERT-TAUSIG: Andante & Variations
2 a 25 – CHOPIN: Preludes, op. 28
26 a 28 – FRANCK: Prélude, choral et fugue

CD 2

1 – GLUCK-SGAMBATI: Mélodie
2 – J. S. BACH-PETRI: Menuet
3 – J. S. BACH-BUSONI: Ich ruf’ zu dir, Herr Jesu Christ
4 – J. S. BACH-BUSONI: In dir ist Freude
5 – J. S. BACH-BUSONI: Wachet auf, ruft uns die Stimme
6 – J. S. BACH-BUSONI: Nun freut euch, lieben Christen gemein
7 – BUSONI: Fantasia after J. S. Bach
8 – BUSONI: Serenade (Mozart, Don Giovanni)
9 – BUSONI: An die Jugend, no. 3
10 – BUSONI: Sonatina no. 3
11 – BUSONI: Sonatina no. 6
12 – BUSONI: Indianisches Tagebuch
13 – BUSONI: Albumblatt no. 3
14 – BUSONI: Elegie no. 2

Karlheinz

J. S. Bach / Brahms / Chopin / Rachmaninov / Domenico Scarlatti / Schubert / Schumann: Yara Bernette – Encores – Semana do Dia Internacional da Mulher

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


Uma semana de celebrações por conta do Dia da Mulher não poderia deixar de prestar reverência a um território específico de excelência no nosso panorama musical: o piano. A galeria de pianistas brasileiras é uma verdadeira constelação que atravessa gerações: Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Cristina Ortiz, Eliane Rodrigues, Erika Ribeiro, Diana Kacso, Linda Bustani, Clara Sverner, Menininha Lobo, Mariinha Fleury, Anna Stella Chic, Eudóxia de Barros, Felicja Blumental (nascida na Polônia, naturalizada brasileira), Rosana Martins…

Entre elas, uma estrela brilha com particular intensidade, por conta de sua sonoridade singular: estamos falando de Yara Bernette (1920-2002), uma artista de carreira tão impecável quanto longeva: foram mais de 4.000 concertos e recitais, ao longo de quase sete décadas. Uma vida inteira dedicada ao instrumento.

O verbete dedicado a ela na Enciclopédia do Instituto do Piano Brasileiro, escrito por Marcia Pozzani, está bem completo e rico em informações – vale a leitura. Para atiçar um pouco a curiosidade, no entanto, deixo um trecho de uma crônica escrita por Tarsila do Amaral (recolhida no livro Tarsila Cronista, organizado por Aracy Amaral e publicado pela Edusp em 2001). Ela relata uma história contada para ela pela própria Yara, quando se vira em apuros ao estar sem uma partitura para um concerto no Canadá. É um delicioso relato do frisson causado pela pianista, que a levaria inclusive até a glória de ter o selo dourado da Deutsche Grammophon estampado na capa de seus discos:

       ” (…) Nisso bate alguém na porta. Aparece um velhinho simpático – o maior crítico musical do Canadá – com uma música na mão e diz: “Miss Bernette, desculpe incomodá-la justamente agora, mas estou curioso por saber se a ‘Chaconne’ que a senhora vai tocar é desta edição”. Yara Bernette diz ao anjo que os céus lhe enviaram: “Peço-lhe deixar aqui a música. No primeiro intervalo conversaremos”. Deu-se o milagre. E o mais interessante é que o crítico não costumava levar música aos concertos. Apenas abriu a primeira página, foi chamada para o palco. Nunca tocou tão bem como naquela noite. O crítico musical, A. A. Alldrick, que a salvara sem o saber, dedicou-lhe excepcionalmente dois artigos ao invés de um, como de costume, afirmando no Winnipeg Free Press: “O recital de Yara Bernette foi um acontecimento fascinante… Yara Bernette é obviamente uma artista do calibre de ‘uma entre mil’. 
       Ao terminar a narrativa a grande pianista me diz: “Desde então, sinto que existe na minha carreira artística uma proteção divina”.
       Mais tarde num de seus inúmeros concertos, dizia o crítico Irving Kolodin no New York Sun: “Miss Bernette, prendendo a atenção dos ouvintes, fez com que a versão da ‘Chaconne’ de Bach  por Busoni valesse a pena de ser ouvida. Isso acontece uma vez por temporada e essa vez coube a Miss Bernette na sua execução definitiva”.
       Na sua tournée pelo México, disse o crítico musical do Excelsior: “Há muito não ouvíamos uma pianista do seu calibre, e também há muito tempo nenhum outro pianista havia interessado tanto os críticos nem obtido tantos elogios”.
       O New York Post exclama: “Tirem os chapéus, senhores! Miss Bernette é a última e irresistível palavra”, enquanto o New York Sun comenta: “Talentos pianísticos deste calibre têm raros similares”. (…)”

Flavio de Carvalho, “Retrato de Yara Bernette”, óleo sobre tela, 1951

O disco que apresento nesse post – gravado em 1995, já nos últimos anos de vida de Yara, no auge de sua maturidade – evoca essas antigas turnês, já que reúne uma série de peças que ela costumava tocar como bis (ou encore, em francês) em seus concertos e recitais. São peças emblemáticas do repertório pianístico, que refletem as preferências da artista. As interpretações são puro deleite; é um disco a que retorno, de tempos em tempos, há muitos anos.

Lançado em comemoração pelos 75 anos da pianista, o álbum foi gravado em fevereiro de 1995 no Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, em um dos Steinways que faziam parte do acervo da casa. Tragicamente, o piano queimou junto com o teatro no dantesco incêndio que o consumiu em 17 de agosto de 2008. São, portanto, memórias fonográficas de um tempo que um universo que já nos deixou.

Áudio da apresentação de Yara Bernette na TV Excelsior, em 1961, tocando Debussy e Chopin. Créditos, como de praxe, para o espetacular Instituto Piano Brasileiro

Viva Yara Bernette!

Karlheinz

 

1. Domenico Scarlatti (transcr. Carl Tausig) – Pastorale
2. Domenico Paradies – Sonata em Lá – Tocata
3. J. S. Bach (transcr. W. Kempff) – Sonata BWV 1.031 – Siciliano
4. Felix Mendelssohn – Rondó Capriccioso, op. 14
5. Felix Mendelssohn – Scherzo, op. 16 no. 2
6. Robert Schumann – Cenas Infantis, op. 15 no. 7 – Rêverie
7. Robert Schumann – Cenas da Floresta, op. 82 no. 7 – O pássaro profeta
8. Johannes Brahms – Intermezzo, op. 117 no. 2
9. Frederic Chopin – Mazurka, op. 7 no. 3
10. Frederic Chopin – Mazurka, op. 17 no. 4
11. Frederic Chopin – Mazurka, op. 24 no. 4
12. Frederic Chopin – Estudo póstumo no. 1
13. Frederic Chopin – Noturno, op. 48 no. 1
14. Frederic Chopin (transcr. Franz Liszt) – Canção polonesa, op. 74 no. 5 – Minhas alegrias
15. Claude Debussy – Segundo Caderno – Prelúdio no. 7 – La Terrasse des Audiences du Clair de Lune
16. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 5
17. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 10
18. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 12
19. Heitor Villa-Lobos – Suíte Prole do Bebê no. 1 – O Polichinelo

Yara Bernette, piano

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Frédéric Chopin (1810-1849): Concerto para Piano nº 2 em 3 gravações ao vivo (Rubinstein, Arrau, Pires)

(e ainda: 1ª Balada, 4º Scherzo, Norturnos, 1º Concerto de Liszt…)
Chopin: O Aristocrata, o Escultor, o Poeta

Artur Rubinstein (1887-1982)

O Chopin aristocrata
Se seu rosto mostrava algumas rugas, se seus cabelos eram prateados, um bom observador teria visto nisso as marcas da paixão e os sulcos do prazer, pois os característicos pés de galinha nas têmporas e os degraus do palácio na testa eram rugas elegantes. Tudo nele revelava os modos do homem que teve muitas mulheres.

Sem exagerar no cheiro, o cavaleiro exalava como um perfume de juventude que refrescava seu ar. Suas mãos de aristocrata, bem cuidadas como as de uma donzela, chamavam a atenção para as unhas rosadas e bem cortadas. Finalmente, sem seu nariz magistral e superlativo, seu rosto seria um tanto infantil.

Se ele tinha a virtude de não repetir seus bon mots pessoais e nunca falar de seus amores, suas graças e seus sorrisos cometiam deliciosas indiscrições. Seu principal vício era o tabaco que tirava de uma velha caixa dourada adornada com o retrato de uma princesa.

Além disso, o Chevalier de Valois redimia seus defeitos por tantas outras graças que a sociedade devia se sentir suficientemente indenizada. Ele se esforçava realmente bastante para esconder seus anos e agradar seus conhecidos. É preciso destacar o extremo cuidado que tinha com suas camisas de linho, sempre brancas, limpas e de uma fineza aristocrática. Quanto ao paletó, embora notavelmente limpo, era sempre usado, mas sem manchas.

O digno fidalgo, que jantava fora todos os dias e voltava na hora de se deitar. Seu único gasto com alimentação era, portanto, pela manhã: uma taça de chocolate acompanhada de manteiga e de frutas da estação. Ele só acendia a lareira nos invernos mais pesados, e somente de madrugada. Nas mesas de jantar mais distintas de Alençon ele era um convidado permanente. Seus talentos como jogador de baralho, contador de histórias e boa companhia eram apreciados: os donos das casas tinham necessidade do seu olhar de aprovação. Quando uma mulher ouvia o chevalier dizer em um baile: “a senhora está adoravelmente bem vestida!”, ela ficava mais alegre com este elogio do que com o desespero de sua rival.
(Trechos de La Vieille Fille [A Solteirona], por Honoré de Balzac, 1836)

A mãe de Chopin era uma senhora de origem aristocrática, mas de uma família sem dinheiro, de modo que se viu obrigada a trabalhar (expressão que aristocratas pronunciam como uma das maiores desgraças possíveis). Já George Sand, maior amor da vida de Chopin, não apenas tinha sangue nobre – era prima distante dos reis da França – como também era herdeira de uma charmosa casa no norte de Paris (atual Musée de la vie romantique) e de uma casa de campo em Nohant. Ou seja, Chopin esteve nesses meios de aristocratas com um sabor de ruína do passado que, na obra de Balzac, parece sempre prestes a ser varrida pelo capitalismo (tudo que é sólido desmancha no ar, escreveu um leitor atento de Balzac).

Rubinstein às vezes era descrito como um pianista aristocrático, o que talvez queira dizer que ele seguia apenas seus caprichos. Mais fiel ao espírito do que ao texto de Chopin, portanto, embora ele também não esbofeteie o texto e mantenha, sobretudo, sempre as boas maneiras, transgredindo sem perder a elegância. Reparem, por exemplo, a partir dos 5min45s do movimento lento central, uma cascata de notas descendentes que normalmente os pianistas fazem mais lenta e suave, mas Rubinstein faz rápida, como quem sorri e diz: me deu vontade. (A partitura é dúbia quanto ao andamento, expressando apenas o estado de espírito: “legatissimo dolcissimo”).

No fundo, estamos falando menos do suposto sangue azul e mais de um tipo de atitude aristocrática, uma forma imaginária de se existir no mundo, pois há também gente de linhagem nobre fazendo as manobras mais baixas como as do Princípe Andrew, filho mais novo da Rainha Elizabeth II, que conseguiu abafar todas as investigações sobre estupro de uma menor de idade.

Em Edinburgh, Escócia, durante o cortejo fúnebre do caixão da finada rainha, um jovem gritou que Andrew era um velho doente (aqui o vídeo), em seguida o jovem foi colocado no chão por policiais, preso e processado. Assim agem alguns aristocratas da vida real, mas a aristocracia expressa na música de Artur Rubinstein (como já em 1840 na de Balzac) era mais um personagem da ficção, um estereótipo como os da commedia dell’arte, ou o “núcleo rico” de uma novela da Globo sempre ao som de bossa nova.

Claudio Arrau (1901-1991): Tela sob carvão

             O Chopin escultor

A cadeira onde Balzac escrevia (sua casa é o atual Museu Balzac, em Paris) – o busto atrás é de 1844 por David d’Angers

Articular o passado historicamente não significa conhecê-lo “tal como ele propriamente foi”. Significa apoderar-se de uma lembrança tal como ela lampeja num instante de perigo. (Walter Benjamin, Teses sobre o conceito de História)

Claudio Arrau foi descrito como um pianista-filósofo por alguns críticos, e não discordo desse adjetivo. Porém, lembrando que na Grécia Antiga e em tantos outros lugares os filósofos – como os aristocratas – evitavam qualquer tipo de trabalho braçal, me parece mais adequado descrever o que Arrau faz aqui com os concertos de Chopin (2º) e de Liszt (1º) a partir da metáfora do escultor.

Distante do ar despreocupado de Rubinstein, Arrau parece preocupadíssimo em não deixar de sublinhar nenhuma intenção do compositor. Enquanto Rubinstein parece estar improvisando melodias que ele conhece desde o berço, Arrau parece estar talhando o relevo melódico e harmônico na pedra ou na madeira, com esforço evidente. A tensão em diversos momentos é fortemente romântica, acompanhada por uma orquestra com gestos grandiosos.

Arrau parece ir apontando para que o ouvinte não perca nada de importante: “veja, aqui Chopin cria tensão para depois afrouxar, ali Chopin abunda em brilho com essa cascata de notas agudas” – a que mencionamos alguns parágrafos acima, Arrau a executa de forma doce, rigorosa e sempre atenta a partir dos 6min13s.

Daniel Barenboim, em entrevista com Joseph Horowitz, disse sobre o então veterano pianista: “quando Arrau toca, uma das forças que conduzem a música é a tensão harmônica. Bem mais do que a beleza melódica de uma frase; mais ainda do que a pulsão rítmica. (…) Quando ele toca acordes, eles soam sempre tão cheios e equilibrados de forma que ouvimos tudo: não só as notas de cima e as de baixo.”

O Arrau que Barenboim conheceu era o grande mestre que trazia conhecimentos de tempos idos. Mas quando Arrau começava sua carreira, na Alemanha, a maior parte do público e dos pianistas considerava a música de Chopin apenas agradável, charmosa. Os sérios alemães não sabiam bem que estatuto dar a um compositor que se abstém da música de câmara e orquestral. O agrado fácil ao público nunca foi a ambição do artista Arrau: ele argumentaria que, uma vez tendo superado seu medo inicial de desagradar ao público, o artista deve desenvolver em seguida o medo de agradar.

Aprendendo, ao longo dos anos, a ver em Chopin música pura e abstrata, e não apenas música de salão, Arrau se afastou da dança que é o pretexto, ao menos nominal, de tantas de suas obras – Valsas, Polonaises, Mazurkas. É a harmonia, não o ritmo, o essencial em suas gravações que, como apontado por Benjamin, buscam menos recriar o mundo de Chopin “tal como ele propriamente foi”, mas sobretudo recriar as lembranças em um mármore, granito ou madeira, dando cores e texturas grandiosas às intenções e tensões do compositor.

Maria João em Belgais, Portugal (março/2020)

O Chopin poeta
Se Arrau é como um escultor que, com suas ferramentas, dá vida ao espírito que Chopin deixou preso nas partituras, Pires se comporta um pouco como atriz e sobretudo como poetisa. Como diria o Fernando Pessoa:

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Pires, portanto, encarna as expressões de Chopin quando vai ligando as notas como se fossem palavras, sempre com um ar de facilidade, que é pura interpretação: para ela, com suas mãos pequenas, quase nada lhe é fácil de tocar, mas ela nos engana deliciosamente. A cascata aguda que já mencionamos, Pires também toca de forma delicadíssima como manda a partitura, aos 6min15s do movimento lento.

Em 2019 as plateias em São Paulo e Belo Horizonte tiveram o provilégio de ouvir Pires tocar uma monumental, equilibrada sonata op. 111 de Beethoven e uma finíssima seleção de noturnos de Chopin:
os três do op. 9 (escritos em 1830-32), os dois do op. 27 (1835) e o nº 1 op. 72 (1827-29). Do ponto de vista formal, os noturnos não são tão exigentes quanto Beethoven, é verdade. Mas o seu melodismo poético talvez não encontre paralelos na história da música. E se o público já estava dominado pelo Beethoven, aqui foi uma elevação. A interpretação de Maria João Pires, seu senso de agógica, sem nenhum maneirismo, atinge um grau de expressão artística raro mesmo entre os grandes músicos da atualidade.
(palavras de Nelson Rubens Kunze)

E também temos as palavras da poeta ou poetisa, pois no libreto dessa gravação ao vivo na Polônia, Maria João Pires se solta em uma longa entrevista:
“Eu amo os dois concertos e nunca deixo de tocá-los. Também gosto das outras obras de Chopin para piano e orquestra. E ao contrário daqueles que criticam sua habilidade de orquestração, eu acho que há também muita beleza nas partes orquestras dos concertos. Ambos são cheios de mágica, cheios de sonhos…”

“O que eu mais amo na música de Chopin é sua impermanência: ali, nada é fixo para sempre, nada é definitivo. Como na vida. Tudo muda. Normalmente as pessoas gostam de um sentimento de segurança. Não querem aceitar o fato de envelhecerem, adorariam manter suas posses, viver para sempre, mas para mim ser permanente e possessivo é contra a natureza transitória de nossa existência. E Chopin nos dá a maior lição nesse aspecto, pois nos mostra como aceitar a impermanência da vida. Nesse sentido ele é o maior dos poetas entre os músicos.”

Frédéric Chopin:
1-3. Piano Concerto No. 2, in F minor
4. Ballade No.1 in G minor Op. 23
5. Mazurka in C minor Op.56 No.3
6. Scherzo in E major Op.54
7-9. Etudes Op.10 No.6, 8, 9
10-11. Grande Polonaise brillante précédée d’un Andante spinato, Op.22
Artur Rubinstein, piano
Philharmonia Orchestra
Carlo Maria Giulini, conductor
Recorded: Royal Festival Hall, London, 16 May 1961 (Concerto), Concert Hall, Broadcasting House, London,6 Oct. 1959 (Solo Piano)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Rubinstein (mp3 320kbps)

1-3. Frédéric Chopin: Piano Concerto No. 2, in F minor
4-7. Franz Liszt: Piano Concerto No. 1, in E flat major
Claudio Arrau, piano
Danish National Symphony Orchestra
Conductor: Miltiades Caridis.
Recorded: Radiohuset’s Concert Hall, 25 Nov. 1967

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BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Arrau (mp3 320kbps)

Frédéric Chopin:
1-3. Piano Concerto No. 2, in F minor
4-10. Nocturnes Op.9 (No. 1-3), Op.27 (No. 1-2), Op.48 (No. 2), Op. posth. (Lento con gran espressione)
Maria João Pires, piano
Sinfonia Varsovia
Christopher Warren-Green, conductor
Recorded: Warsaw, 29 aug. 2010 (Concerto), 29 aug. 2014 (Nocturnes)

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BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Pires (mp3 320kbps)

F. Chopin em pintura de seu amigo E. Delacroix

Pleyel

Frédéric Chopin (1810-1849): Valsas (Dinu Lipatti)

A pianista brasileira Guiomar Novaes costumava dizer que Chopin exige tudo do intérprete, “que precisa tocá-lo com cabeça, coração, com o pé, com a mão, com tudo”. Entre outras grandes gravações de Novaes (só de Chopin: Concertos, Noturnos, Mazurkas, Sonatas…), são também notáveis as 15 valsas que ela gravou, incluindo 13 publicadas em vida pelo polonês e duas póstumas. Nikita Magaloff, Claudio Arrau e Dang Thai Son gravaram 19 valsas de Chopin, pois incluíram um total de seis valsas póstumas. Mais o mais comum é que a coleção de valsas “principais” fique restrita a 14, foram essas as que gravaram, entre outros, A. Rubinstein, A.G. Barbosa, M.J. Pires, entre tantos outros… e Lipatti.

E aqui eu vou me contradizer: sempre tenho defendido em minhas postagens a importância de se conhecer várias interpretações das grandes obras, para percebermos as nuances e diferentes possibilidades… Mas com essas valsas, vocês vão me perdoar, mas e tenho dificuldades para ouvir qualquer um que não seja o pianista romeno Dinu Lipatti (1917-1950).

A forma como Lipatti executa as valsas de Chopin coloca a melancolia do compositor polonês sempre em segundo plano, como um sentimento presente mas sublimado pela dança. A vida é dura, as doenças, a estupidez e a maldade são dados da realidade, e na música de Chopin não temos a profunda religiosidade de Bach ou Messiaen, não temos tanta certeza da presença de um ser supremo para livrar-nos do Mal, parece que a energia deve ser buscada no fundo de nós mesmos, como mostra Lipatti ao interpretar Chopin: mesmo nas valsas em tom menor, há uma alegria interior, um agridoce e uma vontade irresistível de dançar.

E ao mesmo tempo, estamos falando de gravações do fim da curta vida de um pianista diagnosticado com uma grave leucemia: eu consigo imaginar Lipatti falando o seguinte para a plateia de seu último recital em Besançon, onde ele tocou 13 valsas de Chopin: “não sei se vou durar muito, mas sobretudo não parem de dançar!”

As Valsas de Chopin foram compostas ao longo de quase vinte anos, ao contrário dos Prelúdios ou dos Estudos que foram pensados e publicados em grupos grandes e coesos, com uma ordem bem definida, alternando tons maiores e menores. Por isso, as valsas se prestam bem ao tipo de ordenamento pessoal que fez Lipatti, começando com algumas das mais calmas e sofisticadas e terminando com as duas primeiras a serem publicadas, as mais brilhantes e alegres. Se um pianista fosse seguir a ordem cronológica estrita, seria preciso começar com aquelas que foram publicadas postumamente, algumas das quais ele compôs aos 19-20 anos e não enviou para editoras, apenas dedicando versões manuscritas a amigos e sobretudo amigas, às vezes mais do que amizades… como a “Valsa do adeus” op. posth. 69 nº 1, dedicada primeiro a Maria Wodzińska, polonesa autora do retrato abaixo, e de quem Chopin foi noivo. A família de Wodzińska impediu o casamento e, talvez por isso, Chopin dedicou anos depois a mesma valsa – em manuscritos – a Eliza Peruzzi e a Charlotte de Rothschild. Ambas foram suas alunas: Peruzzi tornou-se um grande nome do piano nos salões de Paris: em 1843 e 44, organizou soirées em que ela e Chopin tocaram os concertos do polonês em versão para dois pianos. A riquíssima Mademoiselle de Rothschild também dava algumas das recepções mais cotadas entre os intelectuais de Paris, recebendo em sua casa artistas como Chopin, Honoré de Balzac, Eugène Delacroix e Heinrich Heine. No “tempo perdido” de Proust, temos descrições de alguns desses salões parisienses sempre comandados por mulheres ricas, que bancavam o jantar e os drinques, reunindo cuidadosamente, como jardineiras, uma flora diversificada de artistas, aristocratas endividados, contadores de piadas, burgueses de gosto conservador e raros burgueses de gosto mais exótico.

Frédéric Chopin (1810-1849):
14 Valses

Dinu Lipatti, piano
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Maria Wodzińska foi a autora desta aquarela, em 1835, ano da Valsa op. 69 nº 1

E para completarmos o momento “túnel do tempo”, trago um outro intérprete da tradição francesa de se tocar Chopin, tradição que inclui também os imensos nomes já citados de Novaes e Magaloff, que estudaram, ambos, com o francês Isidor Philipp. Já Samson François (1924-1970) e Dinu Lipatti, que aliás eram da mesma geração, ambos estudaram com Alfred Cortot. Chopin viveu seus últimos 18 anos em Paris, então tanto Philipp como Cortot conheceram pessoas que conheceram Chopin, se inscrevendo em uma tradição oral e performática de ideias sobre como a música de Chopin devia soar. Nos últimos anos, com o famoso Concurso Chopin de Varsóvia, tem sido mais destacado o lado polonês do compositor, mas não tenho dúvidas de que a metade francesa por adoção é tão importante quanto a metade polonesa de berço.

As mazurkas por Samson François, assim como as valsas por Dinu Lipatti, são sobretudo miniaturas musicais dançantes: não temos aqui a seriedade das interpretações de Michelangeli. O tempo rubato às vezes pode soar um pouco exagerado, como é o caso também nas gravações de Cortot, mas em geral me agrada bastante a forma como François vai se expressando por meio de fraseados elegantes e dançantes. Embora não me faça esquecer totalmente as outras gravações como acontece quando eu ouço um único segundo de Lipatti.

Frédéric Chopin (1810-1849):
Sonates nº 2 & 3
51 Mazurkas

Samson François, piano
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Frédéric Chopin (desenho a lápis por George Sand, 1841)

Pleyel

Frédéric Chopin (1810-1849): 4 Scherzi, Berceuse, Barcarolle (Maurizio Pollini)

Após já ter feito gravações antológicas dos Estudos, Prelúdios e Polonaises de Chopin, Pollini passou boa parte das décadas de 1970 e 80 dedicado a outros compositores, mostrando não ser pianista de um compositor só. Foram discos de Beethoven, Schumann e Schoenberg que muita gente, incluindo o Sr. PQP Bach, coloca lá no topo das gravações desses compositores. Em 1986 Pollini voltou a gravar o polonês (Sonatas 2 e 3) e em 1990 gravou este álbum com os 4 Scherzos – ou Scherzi em italiano – e duas obras da fase final do compositor. Chopin é muito diferente de Beethoven e tinha uma admiração muito menor pelo renano do que por Mozart, mas o fato é que ambos (mais do que Mozart) têm um certo estilo tardio, estilo que, mutatis mutandi, se caracteriza por obras inovadoras, um tanto pensativas e equilibradas, em oposição ao romantismo exacerbado dos Scherzos. Estilo tardio que se encaixa muito bem nas mãos de Pollini.

A barcarola é um tipo de ritmo popular no século XIX, com um compasso ternário composto (6 ou 12 tempos por compasso) e baseada nas canções dos gondoleiros de Veneza que moveram as imaginações românticas. Mendelssohn, Offenbach e muitos outros contemporâneos de Chopin também compuseram barcarolas. Em uma carta endereçada a sua família que permanecia na Polônia, Chopin escreveu em 12 de dezembro de 1845:

“Eu pretendo terminar em breve uma sonata para violoncelo, uma barcarola e uma outra coisa* que não sei ainda como nomear… Me perguntam com frequência se eu darei novos concertos. Eu duvido.” (*referência à Polonaise-Fantaisie, Op. 61)

Essas três peças citadas na carta – Barcarolle, Polonaise-Fantaisie, Sonata para Violoncelo e Piano – seriam as três grandes obras de peso do seu período maduro, que também tem algumas obras mais curtas como noturnos e mazurkas e a Berceuse. Entre as características desse último período de Chopin, se destacam os ornamentos e passagens cromáticas que se emancipam da harmonia mais tradicional dos períodos anteriores. As sutilezas harmônicas desse último Chopin antecipam muito da harmonia de Fauré ou Debussy. Outra característica da Barcarolle, da Polonaise-Fantaisie e da Berceuse (mas não da Sonata para cello ou da 3ª Sonata para Piano, também tardia) é a vontade de ir além das formas que ele tinha estabelecido para si próprio como as formas Scherzo, Ballade e Polonaise. Na Barcarolle, portanto, o ritmo das águas serve sobretudo para um passeio muito livre com incontáveis transições harmônicas e ornamentos inesperados. A Berceuse (canção de ninar, em francês) é uma série de variações sobre um baixo constante, também com rica ornamentação, e na Polonaise-Fantaisie o ritmo típico da dança polonesa aparece na seção central mais como uma lembrança difusa do que como uma dança que estruture a peça.

Após compor essas obras longas que certamente lhe deram muito trabalho, Chopin viveria mais dois anos sem conseguir se dedicar a composições de tanto fôlego, por dois motivos: a piora da doença pulmonar que o fazia cuspir sangue e a belicosa separação com George Sand que o colocou em maus lençóis financeiros, levando-o a fazer uma longa viagem pelo Reino Unido onde finalmente faturou um pouco com seu já célebre nome, em muitas soirées pianísticas em casas ricas e alguns últimos concertos que lhe eram especialmente cansativos. Uma lista com a maioria desses concertos privados e públicos pode ser encontrada aqui, dos quais listamos alguns:

16 de fevereiro de 1848: seu último concerto público em Paris. No repertório, além de estudos, prelúdios, mazurkas e valsas, também a Berceuse, a Barcarolle, a Sonata para Violoncelo e Piano e o Trio em Mi maior de Mozart.

Primavera e verão de 1848: Chopin viaja pela Inglaterra e Escócia. Em carta, diz: “Não toquei na residência da rainha, mas toquei para ela na casa do Duque de Sutherland”. Naquela noite, além de suas obras, ele tocou Mozart e acompanhou três cantores. Também tocou para a Sra. Rothschild, que disse que ele cobrava muito caro. Em cartas para seu amigo polonês Grzymała, Chopin escreveu: “A Philharmonia ofereceu um concerto comigo, mas eu não quero tocar com orquestra” (maio de 48); “Se não estivesse cuspindo sangue por vários dias seguidos e fosse mais jovem, talvez poderia começar uma nova vida aqui.” (junho de 48)

Em outra carta, ele descreve para sua família: “Se Londres não fosse tão escura e com tanto cheiro de carvão e fog, eu teria aprendido inglês, também. Mas esses ingleses são tão diferentes dos franceses… eles colocam preço em tudo, gostam de arte porque é um luxo; bons corações, mas vejo como as pessoas podem se tornar máquinas. Se eu fosse mais novo, poderia me render e me tornar uma máquina, teria dado concertos por todos os lados e tocar as coisas mais escandalosas e sem gosto (mas apenas por dinheiro!); mas agora…”

Meses depois, após um concerto no Manchester’s Concert Hall, um crítico considera que “sem dúvida, ele toca de forma extremamente refinada – talvez até demais, e mereceria o termo ‘finesse’.” Enfim, após essa longa turnê para levantar algum dinheiro, Chopin voltou para Paris em novembro de 1848 mais doente do que antes, e passou seus últimos meses na companhia de amigos como Solange Clésinger (filha de George Sand e um dos pivôs da briga com a mãe) e o pintor Eugène Delacroix. Sem forças para criar obras de fôlego, Chopin compôs apenas algumas curtas mazurkas e valsas. Em 1849, Delacroix anota em seu diário mais de uma visita a Chopin já bastante doente, uma delas em um passeio de carruagem pelos Champs Elysées: “Quando falamos de música, isso o reanimou. Eu lhe perguntei sobre o que estabelecia a lógica na música. Segundo ele, são a harmonia e o contraponto; de forma que a fuga é como a lógica pura na música, e estudar a fuga é conhecer o elemento racional da música.” Assim como Beethoven, portanto, Chopin se preocupava com o contraponto em seus últimos anos e, sem dúvida, ainda folheava sua edição do Cravo Bem Temperado de Bach.

Chopin por Eugène Delacroix (1838)

A Barcarolle de Chopin era uma obra favorita nos programas dos grandes mestres Arthur Rubinstein e Vladimir Horowitz. Outros grandes intérpretes dessa obra já apareceram neste blog, como Nikita Magaloff e Alexei Lubimov. Pollini, em sua gravação, utiliza com frequência um tempo rubato muito elegante, ao mesmo tempo em que suas duas mãos são muito equilibradas e cuidadosas com todos os fraseados e sutilezas harmônicas. Ou seja, por um lado sua interpretação é cerebral, atenta ao tipo de lógica racional que aparece no diálogo de Chopin com Delacroix, mas o rubato está ali de forma que o movimento das águas e da gôndola veneziana faz um vai-e-vem diferente do tempo rígido do relógio.

Frédéric Chopin (1810-1849):
1. Scherzo No. 1, Op. 20 em Si menor
2. Scherzo No. 2, Op. 31 em Si bemol menor
3. Scherzo No. 3, Op. 39 em Dó sustenido menor
4. Scherzo No. 4, Op. 54 em Mi maior
5. Berceuse Op. 57 em Ré bemol maior
6. Barcarolle Op. 60 em Fá sustenido maior

Maurizio Pollini, Piano
Recording: München, Herkulessaal, 1990

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Os poetas Homero, Ovídio, Estácio e Horácio saúdam Dante [Chopin] guiado pela mão por Virgílio (Delacroix, c.1845)
Por volta de 1845, Delacroix pintou a cúpula central do Palais de Luxembourg em Paris, atual Senado francês. Os biógrafos asseguram que Chopin serviu de modelo para Dante, guiado por Virgílio. Trata-se, portanto, da segunda vez em que o pintor representa seu grande amigo, após o famoso retrato de 1838.

Pleyel

Frédéric Chopin (1810-1849): 24 Prelúdios, op. 28 (Guiomar Novaes)

Nas postagens do colega Ranulfus, de tempos do defunto rapidshare e que repostamos há alguns dias com links novos, ele trazia os Noturnos, Estudos, duas Baladas e outras pérolas de Chopin e dizia que faltavam os Prelúdios  por Guiomar Novaes. De fato até hoje essa importante gravação, sua primeira pela gravadora Vox, ainda em Mono, parece nunca ter sido editada em CD. Várias são as digitalizações que se encontra no Youtube ou em outros lugares, tanto do LP como de gravações ao vivo de recitais em que Guiomar tocou todos os prelúdios ou uma seleção com alguns, por exemplo aqui na Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, em um dos últimos anos de sua carreira.

Todo(a) pianista tem fotos com a mão no rosto, já repararam?

Chopin foi sempre o compositor mais presente nos recitais de Guiomar Novaes desde a década de 1900 até a de 1970 e é possível que os prelúdios tenham sido a obra que ela mais tocou ao vivo em sua longa carreira. (Antes de sua despedida para estudar em Paris em 1909, Guiomar já tinha se apresentado publicamente 51 vezes só na cidade de São Paulo, como nos informa F.P. Binder, também responsável por constatar a presença constante de Chopin no seu repertório desde 1902 quando a criança-prodígio se apresentou com oito anos.)

Pois hoje é o dia em que esses Prelúdios por Guiomar entram aqui no acervo deste blog, pois finalmente encontramos uma digitalização satisfatória: pouco chiado, som rico do piano embora, é claro, não dê pra esquecer que é uma gravação de mais de 70 anos atrás. E o que comentar sobre esse repertório que cai como uma luva nas mãos da pianista? É difícil falar alguma coisa além do óbvio: atenção cuidadosa aos detalhes da partitura sem segurar o andamento para isso (o 15º Prelúdio, “gota d’água”, de andamento sostenuto, ela faz em menos de 5 min. sem jamais soar correndo), cantabile admirável tanto nas melodias da mão direita como na mão esquerda que muitos críticos destacavam como seu maior trunfo, enfim uma gravação IM-PER-DÍ-VEL. Deixo vocês com um resumo das notas do LP, por Harold Schonberg:

Os Prelúdios de Chopin têm um esquema bachiano. Em uma carta para a condessa polonesa Delfina Potocka, Chopin escreveu “Temas estão caindo sobre mim como enxames de abelhas. Eu não paro de anotá-los. Você poderia rir desses curtos fragmentos, mas eu decidi juntá-los; eles formarão Prelúdios. Só não sei se vou conseguir juntar quarenta e oito deles como Bach. Acredito que não chegarei a esse número, que é demais para minha impaciência polonesa. O fato de que eles são simples e curtos não significa que não me deram muito trabalho. Você não acreditaria que no outro dia eu passei mais tempo neles do que na Balada [nº 1]. … Pretendo colocá-los no mundo como Prelúdios embora não sejam páreo para os de Bach, muito menos serão seguidos por fugas, que não seriam tarefa para mim.”

Então é evidente que Chopin tinha Bach em mente. Outros aspectos devem ser lembrados: assim como no Cravo Bem Temperado (que Chopin tocava e reverenciava), os vinte e quatro Prelúdios cobrem cada um dos tons maiores e menores. Além disso o primeiro, em dó maior, é um elogio implícito ao primeiro de Bach. Chopin trabalhou bastante tempo nesses prelúdios: a publicação foi em 1839, mas a carta citada mostra que os primeiros entre eles são contemporâneos da Balada em sol menor, de 1835.

Fotografia de Chopin de 1846 ou 47. O original foi provavelmente destruído na II Guerra Mundial. Esta cópia foi encontrada na década de 80.

Em outra carta para sua amiga Delfina Potocka, Chopin escreveu: “Bach nunca vai ficar velho (…) Se alguma época negligenciar Bach, isso ficará evidenciado em superficialidade, estupidez e mal gosto.”

Alguns biógrafos inventaram histórias sentimantais sobre esses Prelúdios em conexão com George Sand e sua viagem a Mallorca com o compositor. Chopin talvez tenha levado as obras para poli-las na viagem, mas em 1838, quando o casal passou o outono e inverno na ilha mediterrânea, pouca coisa restava a completar.

Harold Charles Schonberg (Nova Iorque, 1915 – 2003), autor das notas acima que você pode conferir na contracapa do LP, escreveu ainda em seu livro The Great Pianists que Novaes foi a mais importante pupila de Isidor Philipp, e devemos lembrar que a lista de alunos daquele professor incluiu pianistas como Youra Guller, Yvonne Loriod, Nikita Magaloff e Federico Mompou. Contemporâneo e amigo de Debussy, Philipp se formou com pianistas que conheceram Chopin, além de ser um pupilo de Saint-Saëns e, em geral, propor um Chopin menos exageradamente romântico do que o de outros franceses como Alfred Cortot. (Reparem que Chopin passou os últimos 18 anos quase todos em Paris e deixou mais alunos e amigos lá do que na Polônia…)

Esse tipo de genealogia Chopin-Philipp-Novaes explica um pouco da arte de Guiomar, mas só um pouco, porque como qualquer grande intérprete, ela tinha ideias próprias, que se formavam menos como ideias racionais – ela não gostava de dar entrevistas, muito menos de escrever suas opiniões para publicar – e mais como ideias musicais mesmo, de aparência espontânea mas fruto de longo estudo e reflexão, ideias que sempre soavam adequadas às obras que tocava, de forma que o mesmo H. Schonberg escreveu ainda que “parte do seu apelo era a sua naturalidade no teclado. Ela era um desses poucos pianistas que dava a impressão de que o instrumento era uma extensão dos seus braços. Um estilo mais natural, relaxado, sem esforço aparente não podia ser encontrado em mais ninguém.” Nelson Freire, como já contei aqui, tinha uma história engraçada: um fã chegou para Guiomar maravilhado com a poesia de seu Chopin, as cores infinitas de seu Debussy e perguntou como ela fazia tudo aquilo. Guiomar simplesmente olhou para ele e disse: “Está tudo escrito!” Como se fosse só pegar as partituras e ler… Ranulfus chamou isso de milagre, eu chamo de mistério* da simplicidade.

Frédéric Chopin (1810-1849): 24 Préludes, Op. 28

I. Agitato
II. Lento
III. Vivace
IV. Largo
V. Allegro molto
VI. Lento assai
VII. Andantino
VII. Molto agitato
IX. Largo
X. Allegro molto
XI. Vivace
XII. Presto
XIII. Lento
XIV. Allegro
XV. Sostenuto
XVI. Presto con fuoco
XVII. Allegretto
XVIII. Allegro molto
XIX. Vivace
XX. Largo
XXI. Cantabile
XXII. Molto agitato
XXIII. Moderato
XXIV. Allegro appassionato

Piano: Guiomar Novaes (1894-1979)
LP VOX VL 6170 (1950)
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320kbps)

*Mistério no sentido etimológico: do grego antigo mystērion, de mystēs, “aquele que foi iniciado”, por sua vez de myein, “fechar a boca”, origem do português “mudo”; provavelmente relacionado a rituais praticados apenas por iniciados, que deviam guardar silêncio a respeito com pessoas não iniciadas; fora desses ritos pagãos, seguiu no grego e latim medieval dos teólogos significando verdades aprendidas por revelação divina ou intuição, cujo significado preciso seria inexplicável. Para o Papa Francisco, “O mistério da Santíssima Trindade é um imenso mistério, que excede a capacidade de nossas mentes, mas que fala para o coração”

O Instituto Piano Brasileiro tem mais de 40 retratos de Guiomar Novaes: quase sempre de cabelos curtos e muitas vezes com colares elegantes

Pleyel

Chopin (1810-1849): 24 Estudos, 2 Baladas, 2 Polonaises etc. – com afeto e sem afetação: o milagre de Santa Guiomar Novaes, II

Publicado originalmente em 29.04.2010

Calma, calma, já vai o CD3, com os Estudos, e mais uma coletânea com peças diversas.

É preciso lembrar que Guiomar já tinha 54 anos quando os LPs de vinil de 33 rotações “pegaram” (1948). Os dois CDs postados ontem, mais o primeiro de hoje, integram o álbum triplo mostrado na postagem anterior. Já o segundo CD de hoje é a coletânea de obras gravadas quando ela tinha mais de 70 anos, lançado em LP com o título “Her favorite Chopin”. Naqueles anos 1960, Novaes gravou menos que na década anterior: além dessas peças de Chopin selecionadas a dedo, também três sonatas de Beethoven (Vanguard) e a Barcarolle de Chopin com uma seleção de Liszt e Debussy (Decca).
Além de quatro obras famosas e de grande escala, Polonaises e Baladas, Guiomar também escolheu dois estudos (que já apareceram no álbum dos anos 50 e ela regravou aqui com andamentos um pouco mais lentos e melhor qualidade de gravação) e duas obras curtas, uma do jovem Chopin e uma do “velho” Chopin no fim da vida aos quase 40 anos. As 3 Ecossaises são danças curtas e alegres que lembram as Valsas. E a Berceuse (francês para “canção de ninar”), de 1844, é uma peça lírica e calma típica do último estilo de Chopin, o da Barcarola e dos últimos noturnos, estilo cheio de ornamentos, cromatismos e sutilezas harmônicas inovadoras.

Como vocês devem estar notando, estamos empreendendo a revalidação do que temos de Guiomar Novaes aqui. São oito postagens – mais ainda nos faltam algumas de suas gravações mais importantes, como a integral dos Prelúdios de Chopin, o Concerto de Schumann e, de Beethoven, o Concerto “Imperador”. Se alguém dos leitores tiver essas gravações ou pistas delas, serão mais que bem vindas! [Texto de 2010. Os Concertos foram postados em 2020, clique nos links]

E que tal uns flashes dessa personalidade decididíssima disfarçada de pessoa pacata que foi Mme. Novaes?

Antes de mais nada, não é lenda nacionalista a história de que Debussy, embasbacado, lhe pediu que repetisse a 3.ª Balada de Chopin (faixa 1 do 2.º CD de hoje) no seu exame de ingresso no Conservatório de Paris, com 15 anos.

No mesmo dia ele escreveu a um amigo: “Eu estava voltado para o aperfeiçoamento da raça pianística na França…; a ironia habitual do destino quis que o candidato artisticamente mais dotado fosse uma jovem brasileira de treze anos [sic]. Ela não é bela, mas tem os olhos ‘ébrios da música’ e aquele poder de isolar-se de tudo que a cerca – faculdade raríssima – que é a marca bem característica do artista …” (Carta de Debussy a André Caplet em 25.11.1909)

A Guerra de 1914-19 afastou Guiomar da Europa, e o principal de sua carreira acabou acontecendo nos EUA. Lá, em março de 1939 uma revista especializada registrou uma “conference” ministrada por Guiomar onde se lê:

“Para mim, é importante que o estudante tenha a oportunidade para desenvolver-se simples, normal e naturalmente num ser humano completo, que compreenda e aprecie a significação da verdade e do belo. Dessas coisas, em última análise, é que deve resultar um impulso para a Música. Do contrário, esta será pouco mais do que uma ginástica de dedos, uma máquina bem exercitada, mas sem alma. Toque com seus dedos e seu cérebro, mas cante com sua alma.” (Guiomar teria lido Schiller, as “Cartas sobre a Educação Estética da Humanidade”?)

Enfim: queria descobrir o que tem a cidadezinha de São João da Boa Vista, na divisa de SP com MG, pra produzir tanto artista dos grandes: a Guiomar, as feras do violão Sérgio e Odair Assad (e sua irmã Badi), a poeta Orides Fontela (1940-1998), quem mais?… E esta última, dois anos antes de morrer (no volume Teia) pareceu ecoar a fala de Guiomar:

Nunca amar
o que não
vibra

nunca crer
no que não
canta

.
“Guiomar Novaes plays Chopin” (conclusão)
CD 3: integral dos ESTUDOS

01 Etude 1 in C major, op.10, nº 1
02 Etude 2 in A minor, op.10, nº 2
03 Etude 3 in E major, op.10, nº 3
04 Etude 4 in C# minor, op.10, nº 4
05 Etude 5 in Gb major, op.10, nº 5
06 Etude 6 in Eb minor, op.10, nº 6
07 Etude 7 in C major, op.10, nº 7
08 Etude 8 in F major, op.10, nº 8
09 Etude 9 in F minor, op.10, nº 9
10 Etude 10 in Ab major, op.10, nº 10
11 Etude 11 in Eb major, op.10, nº 11
12 Etude 12 in C minor, op.10, nº 12, “Revolutionary”
13 Etude 13 in Ab major, op.25, nº 1, “Harp”
14 Etude 14 in F minor, op.25, nº 2
15 Etude 15 in F major, op.25, nº 3
16 Etude 16 in A minor, op.25, nº 4
17 Etude 17 in E minor, op.25, nº 5
18 Etude 18 in G# minor, op.25, nº 6
19 Etude 19 in C# minor, op.25, nº 7
20 Etude 20 in Db major, op.25, nº 8
21 Etude 21 in Gb major, op.25, nº 9, “Butterfly’s Wings”
22 Etude 22 in B minor, op.25, nº 10
23 Etude 23 in A minor, op.25, nº 11, “Winter Wind”
24 Etude 24 in C minor, op.25, nº 12
Piano: Guiomar Novaes (1894-1979)
Gravado na década de 1950, gravadora VOX

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Sim, foi lançado também em fita cassette

“The Art of Guiomar Novaes” ou “Her Favorite Chopin”
01 Ballade No. 3 in Ab major op.47
02 Polonaise in Ab major op.53, ‘Heroic’
03 Berceuse op. 57
04 Etude in G flat major op.25 nº 9, ‘Butterfly’
05 Etude in G flat major op.10 nº 5, ‘Black Keys’
06 Ballade No. 4 in F minor op.52
07 Polonaise in F sharp minor op.44
08 Three Ecossaises op.72
Piano: Guiomar Novaes (1894-1979)
Gravado na década de 1960, gravadora Vanguard Records

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Foto de quando a assinatura de Guiomar exibia o “Pinto” de seu marido, digitalizada (a foto!) pelo Instituto Piano Brasileiro

Ranulfus (2010) / Pleyel (2022)

Chopin (1810-1849): Noturnos, Sonata “Marcha Fúnebre” – com afeto e sem afetação: o milagre de Santa Guiomar Novaes, I

Publicado originalmente em 28.04.2010

Alguns podem até achar monótono. Eu acho perfeito. Até hoje é o único Chopin solo do qual posso ouvir mais de 20 minutos sem enjoo. Mais: consigo ouvir horas em estado de sereno porém efetivo deleite.

Todo mundo acha que a marca de Chopin é o rubato (o acelera-retarda-acelera-retarda) – mas parece que Madame Novaes discorda. Ela o toca praticamente clássico, pulsação quase constante, apenas sutilmente elástica. E aí a sentimentalidade transparece límpida, não afetada: para que “interpretar” o que já é evidente, sublinhar o que já é intenso por si?

Nobreza. Se essa palavra faz sentido em algum caso, desconfio que o Chopin de Guiomar será necessariamente um dos exemplos.

Acima e abaixo: capas dos LPs de Novaes lançados nos EUA

Frédéric François CHOPIN (1810-1849)
NOCTURNES/NOTURNOS – gravação integral
Noc 01 Nocturne nº 1 em si bemol menor, op.9 nº 1
Noc 02 Nocturne nº 2 em mi bemol, op.9 nº 2
Noc 03 Nocturne nº 3 em si, op.9 nº 3
Noc 04 Nocturne nº 4 em fa, op.15 nº 1
Noc 05 Nocturne nº 5 em fa sust., op.15 nº 2
Noc 06 Nocturne nº 6 em sol menor, op.15 nº 3
Noc 07 Nocturne nº 7 em do sust. menor, op.27 nº 1
Noc 08 Nocturne nº 8 em sol bemol, op.27 nº 2
Noc 09 Nocturne nº 9 em si, op.32 nº 1
Noc 10 Nocturne nº 10 em la bemol, op.32 nº 2
Noc 11 Nocturne nº 11 em sol menor, op.37 nº 1
Noc 12 Nocturne nº 12 em sol, op.37 nº 2
Noc 13 Nocturne nº 13 em do menor, op.48 nº 1
Noc 14 Nocturne nº 14 em fa sust. menor, op.48 nº 2
Noc 15 Nocturne nº 15 em fa menor, op.55 nº 1
Noc 16 Nocturne nº 16 em mi bemol, op.55 nº 2
Noc 17 Nocturne nº 17 em si, op.62 nº 1
Noc 18 Nocturne nº 18 em mi, op.62 nº 2
Noc 19 Nocturne nº 19 em mi menor, op.72 nº 1
Noc 20 Nocturne nº 20 em C sust. menor, op. posth.

PIANO SONATA nº 2, op.35, em si bemol menor
1. Grave – doppio movimento
2. Scherzo
3. Marche Funèbre: Lento
4. Finale: Presto

Piano: Guiomar Novaes (1894-1979)
Gravado na década de 1950, gravadora VOX

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Retrato da pianista quando jovem (Foto digitalizada pelo Instituto Piano Brasileiro)

Ranulfus

“Guiomar Novaes is known throughout the world as one of the foremost pianists of our time. […] Her art was recently summed up perfectly by Goldberg in the Los Angeles Times when he wrote, “Her fingers are as fluent as they ever were, and she still has the strength of a giant and the fairy-like delicacy of an Oberon. Most amazing of all – and it was always like that – is the utter spontaneity of her music-making. She does things in her own way, with an apparently complete lack of calculation, and she makes her way seem the right way and the only way. It is a gift possessed by a chosen few, and it is one of the things that makes Novaes a great pianist as distinguished from the many very good pianists.”
(Nota de Recital em Wayne, Pennsylvania, 1970, no qual Novaes tocou Gluzk-Sgambati, Beethoven, Chopin e Schumann)

César Franck (1822–1890) & Alfred Cortot (1877–1962) – Música para Piano e Arranjos Diversos – He Yue, piano (CD1) & Domenico Codispoti, piano (CD2) ֍

César Franck (1822–1890) & Alfred Cortot (1877–1962) – Música para Piano e Arranjos Diversos – He Yue, piano (CD1) & Domenico Codispoti, piano (CD2) ֍

Os três homens não poderiam ser mais diferentes, nos aspectos e temperamentos… Apesar de cada um ter já um nome firmado como solista de seu próprio instrumento, quando se reuniam formavam um conjunto notável, pela maneira como se completavam musicalmente, recriando com rara espontaneidade as obras para trio com piano. Tanto que seu exemplo ajudou a firmar este tipo de conjunto. Esse famoso trio costumava reunir-se com regularidade para ensaiar, estudar novas peças, mas também para falar de literatura, pintura, dança e, é claro, música. Mas eis que em certa ocasião, lá se foi o violoncelista para sua natal Catalunha por uns tempos, deixando o pianista e o violinista às voltas com sonatas, incluindo a famosa Sonata de César Franck. Pois foi assim, num destes dias, o pianista chegou mais cedo e o violinista atrasou mais do que o costume. O pianista, para não se entediar, começou, de brincadeira, a tocar a sonata TODA. Isso mesmo, não apenas a pouco trivial parte do piano, mas, assim cantando com o teclado, ia incluindo também a parte do violino. Bom, o pianista era um bamba e quando o violinista ouviu um trecho, foi logo prometendo nunca mais se atrasar – pois que senão você fará o recital sozinho, disse ele.

P. Casals, J. Thibaud e A. Cortot

Confesso ter imaginado isso tudo, mas que a história é plausível, ah, isso é. O trio a que me refiro era formado por Alfred Cortot (piano), Jacques Thibaud (violino) e Pablo Casals (violoncelo). O trio foi formado em 1905 e esteve ativo por décadas. Há registros dos três e, também, de Cortot e Thibaud tocando a tal Sonata de César Franck. Mas a postagem de hoje trata principalmente do pianista, regente e arranjador Alfred Cortot.

Como geralmente faço, estava revirando umas pilhas de discos que temos acumulados aqui no vault do PQP Bach Coop. em busca de coisas que goste ou de que possa vir a gostar. Acabei encontrando um disco que apesar de bem interessante, não chegou à postagem. Teve, no entanto, o mérito de indicar este arranjo – transcrição – da Sonata para Violino de César Franck para piano solo, feito por Alfred Cortot. Sai em busca de outras gravações e encontrei mais três discos com a peça. Depois de trocentas audições, dois deles acabaram entrando para a postagem. Eu nem sou assim um ouvinte assíduo das peças de Franck, acho que sua Sinfonia fica muito tempo taxiando antes de decolar e tal. Mas a Sonata para Violino, essa merece lugar de destaque. Minha gravação referência é a feita por Kyung-Wha Chung (violino) e Radu Lupu (piano), mas há muitas outras, excelentes.

No primeiro disco escolhido para a postagem, interpretados pelo ótimo pianista He Yue, encontramos um punhado de transcrições para piano de obras de diversos compositores, feitas por Cortot. As escolhas das fontes revelam dois aspectos das atividades ligadas ao piano. A de professor, que se preocupava com o aspecto técnico. Para ele, a música da Bach era muito importante na formação de um pianista. Esse aspecto está aqui na forma de uma transcrição da Toccata e Fuga em ré menor BWV 565. Imagino se o Capitão Nemo conhecia essa…

Mas Cortot também tinha um olho na audiência. Veja quais dois maravilhosos Lieder ele escolheu para transcrever: Wiegenlied, uma canção de ninar, de Brahms, e Heidenröslein, um dos maiores sucessos de Schubert. O Largo do Concerto em fá menor de Bach também tem uma dessas marcantes melodias, que gruda na memória da gente. Há também os desafios para qualquer pianista, dar conta sozinho de música que foi concebida para conjuntos maiores, como a Suíte Dolly, de Gabriel Fauré, escrita para duo de piano, o Largo da Sonata para Violoncelo de Chopin e a Sonata de César Franck, que completa o disco e foi a motivação para a postagem.

O segundo disco oferece música escrita originalmente apenas por César Franck, incluindo a tal transcrição para piano solo da Sonata para violino e piano feita por Cortot. Aqui uma interpretação um pouco diferente, talvez mais contida do que o virtuosismo do He Yue, mas o som produzido por Domenico Codispoti é muito bonito e não lhe falta virtuosismo e brilho quando chega a hora disso. A outra peça é uma transcrição para piano de um Prelúdio, Fuga e Variações escrito para órgão, feita por Harold Bauer. Bauer é também um ótimo personagem para se descobrir, mas hoje a postagem é do Cortot. Fechando o disco, uma outra peça notável de Franck, o Prelúdio Coral e Fuga, escrito para piano. Esta peça é figurinha carimbada nos álbuns de vários grandes pianistas, como Stephen Hough, Murray Perahia ou Evgeny Kissin. (Não perca, em breve, no seu PQP Bach mais próximo…)

Disco 1

Música transcrita para piano por

Alfred Cortot (1877 – 1962)

escrita originalmente por:

Gabriel Fauré (1893 – 1897)

Suíte Dolly, Op. 56

  1. Berceuse
  2. Mi-a-ou: Allegro vivo
  3. Le jardin de Dolly: Andantino
  4. Kitty-valse: Tempo di valse
  5. Tendresse: Andante
  6. Le pas espagnol: Allegro

Johann Sebastian Bach (1685 -1750)

  1. Toccata e Fugue em ré menor, BWV565

Johannes Brahms (1833 – 1897)

  1. Wiegenlied, Op. 49 No. 4 (Lullaby)

Johann Sebastian Bach (1685 -1750)

Concerto para Cravo em fá menor, BWV 1056:

  1. Largo

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Sonata para violoncelo em sol menor, Op. 65

  1. Largo

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Heidenröslein, D257

César Franck (1822 – 1890)

Sonata para violino em lá maior

  1. Allegretto ben moderato
  2. Allegro
  3. Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
  4. Allegretto poco mosso

He Yue, piano

Gravação: 27, 28 de outubro de 2012

Music Hall, Gu Lang Yu Piano School, Central Music Conservatory, Xiamen City, China

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FLAC |214 MB

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MP3 | 320 KBPS | 143 MB

Legendary pianist Alfred Cortot’s distinguished reputation as an educator is demonstrated in these magnificent arrangements of chamber music for solo piano. They cover every aspect of technique and expression, from Bach’s demanding Toccata and Fugue in D minor to Fauré’s delectable Dolly Suite and the grand scale of Franck’s Violin Sonata. Award-winning pianist He Yue is a young and rising star of the Chinese musical firmament.

Disco 2

César Franck (1822 – 1890)

Sonata para violino em lá maior (Arranjo de Alfred Cortot)

  1. Allegretto ben moderato
  2. Allegro
  3. Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
  4. Allegretto poco mosso

Prelúdio, Fuga e Variações Op. 18 (Arranjo de Harold Bauer)

  1. Prelúdio
  2. Fuga
  3. Variações

Prelúdio, Coral e Fuga

  1. Prelúdio
  2. Coral
  3. Fuga

Domenico Codispoti, piano

Gravação: outubro de 2012

I Musicanti Studio, Roma

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FLAC |201 MB

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MP3 | 320 KBPS | 149 MB

This CD contains the CD premiere of the transcription for piano solo of the Franck violin sonata, made by Alfred Cortot, a fascinating pianistic tour de force, the new pianistic textures giving a special sonority to the unique harmonies of this master piece. The Prélude, fugue et variation is originally an organ work, and is transcribed for piano by the famous pianist Harold Bauer. The Prélude, chorale et fugue is Franck’s pianistic pièce de résistance, although also here the influence of Franck the organist is never far away. An excellent new recording by Italian pianist Domenico Codispoti, playing with a beautiful blend of grandeur and intimacy, and a wonderful transparency (listen to the canonic 4-th movement of the violin sonata!).

Aproveite!

René Denon

Alfred testando um piano Pleyel da coleção do PQP Bach…

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Cor de Groot) / Variações “Là ci darem la mano”, Op. 2 (Moreira Lima)

A mazurka é um tipo de dança folclórica polonesa de compasso ternário. Nesta gravação das Mazurkas, Cor de Groot utiliza um piano Pleyel, que era a marca preferida por Chopin. Para casa de campo de George Sand em Nohant, por exemplo, foram encomendados dois instrumentos Pleyel: um piano de cauda para Chopin e um piano de armário para Sand e sua filha Solange. Entre os convidados em Nohant estava o pintor Eugène Delacroix, que descreveu em uma carta:

« Par instants, il vous arrive, par la fenêtre ouverte sur le jardin, des bouffées de musique de Chopin, (…) qui se mêlent au chant des rossignols et au parfum des roses. » Auprès de son ami Pierret, Delacroix se félicitait de sa vie de couvent: «Nous attendions Balzac qui n’est pas venu, et je n’en suis pas fâché. C’est un bavard (…). J’ai des tête-à-tête à perte de vue avec Chopin que j’aime beaucoup et qui est homme d’une distinction rare. »

“De vez em quando, pela janela que dá para o jardim, nos chegam sopros de música de Chopin, (…) que se misturam com o canto dos rouxinóis e o perfume das rosas.” Com seu amigo Pierret, Delacroix felicitou-se por seu isolamento: “Estávamos esperando por Balzac que não veio, e não lamento. Ele é um falador (…). Tenho incontáveis encontros a dois com Chopin, de quem gosto muito e que é um homem de rara distinção.”

Frédéric Chopin por Eugène Delacroix

Como vocês sabem, a escritora George Sand teve uma ligação apaixonada e tumultuosa com Chopin por cerca de dez anos. Gosto de imaginar essas mazurkas na casa de George Sand, seja essa casa de campo ou sua casa em Paris, a poucos minutos a pé de Montmartre e do Moulin Rouge (mas o famoso cabaré só abriria em 1889). Com companhias como Delacroix e Balzac… (mas talvez o genial autor das Ilusões Perdidas, viciado em café e fã de Beethoven, não tivesse a calma suficiente para apreciar essas obras.) É nesse tipo de ambiente que as mazurkas de Chopin soam bem, e não em salas de concerto imensas. O que foi dito nesta postagem sobre as obras de Brahms para piano a quatro mãos vale também aqui: o piano Pleyel do século XIX combina perfeitamente com o caráter íntimo das mazurkas, com seu gosto agridoce feito de alegrias suaves e de dores inconfessáveis.

O holandês Cor de Groot (1914-1993) mostra aqui que, entre os charmes das mazurkas, estão os ornamentos: trinados, mordentes e outros tipos de alternância entre notas próximas, que no timbre muito característico do piano Pleyel chegam a lembrar de longe o som dos ornamentos no cravo de Bach ou Scarlatti. É música para se ouvir com amigos, familiares e outras pessoas queridas, não combina com os grandes palcos.

Esses dois discos fazem parte de uma daquelas caixas de vários CDs, neste caso, da gravadora Brilliant Classics, famosa por comprar e relançar gravações de outros selos. Assim, por um desses acasos, as 41 mazurkas gravadas por Cor de Groot (ele não gravou as últimas, op.67 e 68, sabe-se lá por quê) são seguidas por uma obra de juventude de Chopin. As Variações sobre “Là ci darem la mano”, para piano e orquestra (opus 2) foram escritas ainda na Polônia, em 1827, sobre um tema da ópera Don Giovanni de Mozart.

A interpretação dessa obra tão pouco tocada fica a cargo do pianista brasileiro Arthur Moreira Lima e da Orquestra Filarmônica de Sofia, na Bulgária. Enquanto a orquestração é leve e mozartiana, Moreira Lima faz uma leitura intensa, não hesitando em levar ao pé da letra as marcações do compositor como “con forza e prestissimo” ou “risoluto“. Nada poderia ser mais diferente do caráter íntimo, familiar, ao pé do ouvido, das mazurkas por Cor de Groot. Essa escolha da Brilliant Classics de juntar esses dois repertórios é ao mesmo tempo estranha, contraditória e interessante. Após o Chopin sofisticado, tocando para amigos da alta sociedade parisiense como Sand e Delacroix e mais algumas condessas e marquesas, o Chopin jovem virtuose dos palcos – um Chopin raro, pois foram poucas as suas apresentações em grandes teatros, ao contrário de Liszt ou Mozart que tocaram concertos com orquestras até perder a conta.

No diário de Clara Wieck (futura Clara Schumann) em 1831 ela anotou: “As Variações op. 2 de Chopin, que aprendi em oito dias, são a peça mais difícil que já vi ou toquei até agora.” Robert Schumann, seu futuro marido, escreveu, no mesmo ano e sobre a mesma obra: “Tirem os chapéus, cavalheiros: um gênio!”

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas quase completas / Variações “Là ci darem la mano”, Op. 2

41 Mazurkas: Op. 6, Op. 7, Op. 17, Op. 24, Op. 30, Op. 33, Op. 41, Op. 50, Op. 56, Op. 59, Op. 63
Cor de Groot – Grand Piano Pleyel 1847

Variations On “La Ci Darem La Mano” From Mozart’s Don Giovanni, In B Flat Major Op. 2 For Piano And Orchestra
Arthur Moreira Lima – Piano; Orquestra Filarmônica de Sofia, Dimitri Manolov

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Piano Pleyel (1843) que Chopin tocava na casa da Condessa Natalia Obreskoff. Entre os pertences da condessa, se encontram manuscritos de duas mazurkas assinados pelo compositor

Outra excelente gravação de Chopin em piano de época: este álbum de Lubimov tocando um piano Erard (1837). E no aniversário de Moreira Lima, não deixem de ouvi-lo nas Valsas de Esquina recém-postadas…

E vamos às curiosidade inúteis das cenas da vida parisiense: assim como o Moulin Rouge, a loja da Pleyel, 20, rue Rochechouart, fica a menos de 15 minutos a pé da casa parisiense de George Sand. Esta casa, aliás, hoje é o “Museu da Vida Romântica” – Musée de la Vie Romantique

Hoje é aniversário de 82 anos de Arthur Moreira Lima. Parabéns!

Pleyel

Haydn: Sonatas nos. 32, 37, 49 / Schubert: Impromptus D. 935 / Encores by Rameau, Chopin, Griboyedov, Debussy (Sokolov, piano)

Grigory Sokolov tocando Haydn e Schubert no salão do antigo palácio dos Esterházy, onde Haydn viveu e tocou por boa parte de três décadas, numa gravação ao vivo feita em um único dia, sem truques de estúdio posteriores? É claro que é IM-PER-DÍ-VEL!

Um disco novo de Sokolov – que há décadas não entra num estúdio e só consente, vez que outra, lançamentos comerciais das gravações de seus recitais – é sempre um evento tremendo, e nossa postagem de hoje, fazendo eco a essa excepcionalidade, será repartida entre dois autores. Assim, Vassily comentará o corpo principal do recital, e Pleyel, seus generosos bises, que são quase um programa à parte.

Vassily:
O profundo respeito com que Grigory Sokolov empenha sua virtuosidade a serviço dos compositores tem, nesse recital, uma camada adicional de reverência. Afinal, poucos locais são mais haydnianos que a Haydnsaal, esplendorosamente barroca e acusticamente perfeita, no coração do Palácio Esterházy de Eisenstadt, onde o Mestre de Rohrau passou parte significativa de seus trinta anos como Kapellmeister dos príncipes, e na vizinhança da capela da Bergkirche em que repousa para sempre.

Joseph de butuca [foto de Vassily]

Por reverência, também, Sokolov inicia o recital a tocar sem interrupções três das sonatas para piano de Haydn – todas em tonalidades menores -, pedindo à audiência que se abstenha de aplaudir entre uma peça e outra. O que ouvimos, sem qualquer surpresa, é pianismo de primeira: fraseado meticuloso, articulação precisa, rico colorido timbrístico. Há, sobretudo, respeito: atento às indicações Moderato, Sokolov furta-se à prestidigitação que infesta muitas leituras desse repertório e saboreia a realização de cada frase. Ouvintes acostumados a um Haydn mais temperamental e sublinhado por rompantes de humor, como o das notáveis gravações de Brendel (aqui e ali) e Lewis ( e acolá), poderão ter a impressão de frigidez. Quem ama o piano, e principalmente aqueles que já tentaram tirar dele qualquer som que preste, ficará embevecido: as três sonatas passam voando, e a gravação é tão boa que precisamos da torrente de aplausos da plateia e de umas poucas e desimportantes derrapadas do mestre para nos lembrarmos de que ela foi feita ao vivo.

A Haydnsaal sem Sokolov [foto de Vassily]

A escolha de obras de Schubert para prosseguir o recital também foi reverente ao Mestre de Rohrau: em outubro de 1828, Eisenstadt foi o destino de uma curta peregrinação de Franz, acompanhado de seu irmão, ao túmulo de Haydn na Bergkirche, na última das poucas vezes em que deixou Viena, onde morreria no mês seguinte. Essa intersecção melancólica entre os rumos de Schubert e a cidade reflete-se na leitura constrita e pianisticamente maravilhosa dos improvisos, D. 935. Depois de voltar a ouvir a gravação que deles fez Radu Lupu (a minha favorita) para escrever sua eulogia, na semana passada, senti falta de um tanto de calidez ao retornar à interpretação de Sokolov. Não é uma queixa, todavia: a moderação, mais uma vez, permite-lhe burilar cada peça e liberar comedidamente a tensão, em especial nos dois primeiros improvisos, que remetem ao Schubert transcendental das últimas sonatas para piano. O terceiro, na forma de variações, é notável pela naturalidade com que a execução propõe ao tema suas várias roupagens – uma transformação gradual, e não uma comédia de episódios, como só conseguem os grandes pianistas -, enquanto no quarto, com a indicação Allegro scherzando, Sokolov despende energia como que para fazer o ouvintes pularem da cadeira, ao final do recital.

A Bergkirche em Eisenstadt [foto de Vassily]

Pleyel:
Os bises dos recitais de Sokolov foram se tornando lendários entre os fanáticos por piano da Europa – e digo da Europa porque Sokolov não é muito de viajar e, ao que consta, não tem visto americano [nota de Vassily: nem britânico].

Se pensarmos em alguns pianistas mais ou menos da geração de Sokolov e igualmente geniais, lembraremos que Martha Argerich só toca sozinha por obrigação, fazendo como bis peças curtinhas, quase sempre as mesmas: um Scarlatti, um Schumann ou um Chopin, contrastando com seu imenso repertório de música de câmara. E que Maurizio Pollini costuma deixar plateias boquiabertas ao tocar de bis alguns dos estudos mais difíceis e impressionantes de Chopin, além da Balada nº 1. Enquanto nos recitais de Antonio Guedes Barbosa eram as valsas do polonês que apareciam como brinde.

Mais parecidos com os bises de Sokolov eram os de Nelson Freire: algumas peças virtuosísticas e brilhantes (Villa-Lobos: O Ginete do Pierrozinho, Debussy: Poissons d’or) mas sobretudo pequenas imersões saborosas no mundo sonoro de compositores raramente ouvidos nas salas de concerto. No caso de Freire, além de seu bis mais frequente, a Melodia da ópera Orfeu de Gluck em arranjo de Sgambati, ele também cultivava pequenas flores como um Noturno do polonês Paderewski e a inocente Jeunes filles au jardin do catalão Mompou.

No caso de Sokolov, uma figurinha fácil em seus bises, mas rara nos de outros grandes pianistas, é o barroco francês de Rameau: mais do que uma oportunidade de impressionar o público após o programa principal, o pianista parece buscar aqui uma chance de mostrar, em apenas 3 minutos, um mundo sonoro bastante diferente daqueles de Haydn e Schubert. Mas este último reaparece logo depois com uma melodia húngara, seguida de um dos prelúdios mais lentos do grupo de 24 de Chopin. A intenção parece ser a de transportar o público por atmosferas contrastantes, como nos bises de seu famoso recital em Salzburgo também lançado pela DG, em que Sokolov misturou dois poemas de Scriabin e duas mazurkas de Chopin, tocados alternados, para finalizar com uma outra peça curta de Rameau e um coral de Bach.

Na Haydnsaal em 2018, o bis de Sokolov prossegue com um daqueles nomes que dificilmente ouvimos na parte principal do recital: aqui é um contemporâneo quase exato de Schubert, Alexander Griboyedov (1795-1829), compositor russo que estudou com o irlandês John Field, o primeiro a compor noturnos para piano. E após a valsa mais ou menos previsível de Griboyedov, vem um dos prelúdios mais introspectivos de Debussy, um dos mais improváveis para finalizar um recital que teve como prato principal as sonatas de Haydn.

Grigory Sokolov:

Joseph Haydn:
Sonata No.32 in G minor Hob.XVI:44
Sonata No.47 in B minor Hob.XVI:32
Sonata No.49 in C-sharp minor Hob.XVI:36

Franz Schubert:
4 Impromptus op. posth.142 D 935

Encores
F. Schubert: Impromptu A-Flat major op.90 No.4 D 899
J.-F. Rameau: “Le Rappel des oiseaux”
F. Schubert: “Ungarische Melodie” D 817
F. Chopin: Prelude D-Flat major op.28 No.15
A. Griboyedov: Waltz E minor
C. Debussy: “Des pas sur la neige”, Prelude from Book 1 No.6 (L 117 No.6)

Recorded on August 10, 2018
Haydnsaal at Schloss Esterházy in Eisenstadt, Austria

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O outro Palácio Esterházy, em Fertőd, Hungria: não deve ser barato pra manter né?

Pleyel/Vassily

Scriabin, Ravel, Prokofiev, Haydn, Beethoven, Chopin, Debussy – Sviatoslav Richter – Out of Later Years

Teofil Danilovich Richter (1872–1941), pai de Sviatoslav, foi um pianista, organista e compositor, de família alemã, que estudou no Conservatório de Viena e deu aula muitos anos no Conservatório de Odessa, atualmente na Ucrânia.

Na Segunda Guerra Mundial, como o pai de Sviatoslav Richter era alemão, ele estava sob suspeita das autoridades e foi feito um plano para que a família fugisse do país. Envolvida com um outro homem, sua mãe não queria sair e assim eles permaneceram em Odessa. Em agosto de 1941, seu pai foi preso e considerado culpado de espionagem, sendo condenado à morte em 6 de outubro de 1941. Não era difícil conseguir uma sentença de morte no regime stalinista. E não é preciso ser um discípulo de Freud para supor que alguém com essa história familiar se tornaria uma pessoa excêntrica, neurótica, peculiar…

Após se tornar famoso mundialmente e receber aplausos e gravações em Moscou, Londres, Praga, Nova York etc., Richter passaria suas últimas décadas frequentando cidades muito menores como Aldeburgh (Inglaterra), la Grange de Meslay, no vale do Loire (França), Ludwigshafen am Rhein (Alemanha). Ele pedia que os palcos fossem menos iluminados, dizendo que assim o público prestaria mais atenção na música do que em assuntos irrelevantes como as expressões faciais e gestos do pianista.

É comum que músicos idosos e respeitados tirem do seu repertório alguns compositores e voltem seu foco para alguns que tocam mais fundo em seu coração, afinal, já não precisam mais provar nada pra ninguém. É o caso, por exemplo, de Nelson Freire que, quando velho, tirou de seu repertório orquestral alguns concertos como os de Liszt, Tchaikovsky e Bartók, se concentrando sobretudo nos concertos de Brahms, no 2º de Chopin e nos dois últimos de Beethoven: ele tocou inúmeras vezes cada um desses nos seus últimos 20 anos de carreira. E nos recitais solo, Freire de barba grisalha raramente saiu do palco sem tocar algo de Chopin, compositor que ele parece ter admirado cada vez mais ao longo dos anos.

Nos concertos do velho Richter com orquestra, por outro lado, surgem obras raras do repertório como o concerto de Gershwin e o 5º de Saint-Saens. Nos recitais solo de Richter, ao contrário de Freire, Chopin foi ficando raro: nos anos 90, segundo as listas dos richterófilos, não há registro de que o russo tenha tocado os Scherzos, os Prelúdios, os Estudos, a Barcarolle, mas sobra uma obra grandiosa, a Polonaise-Fantaisie.

E o pianista russo (ucraniano de nascimento) parece ter tido um reencontro tardio com a música de Ravel: obras que não apareciam nos seus programas de recitais desde os anos 1960 ressurgem a partir de 1992 e ocupam boa parte de um dos álbuns ao vivo dessa série da Live Classics. Importante ressaltar que cada CD se dedica a uma só noite, ao contrário de outras edições que fazem colagens.

Também aparecem alguns russos no repertório: não os Quadros de uma Exposição de Mussorgsky, cavalo de batalha de Richter quando jovem, nem Shostakovich nem Stravinsky. Os escolhidos nesses recitais de 1992 e 94 são Prokofiev e Scriabin. O pianista e professor José Eduardo Martins fez uma recente homenagem, em seu blog, aos 150 anos de Scriabin. Diz ele:

Se as criações de Chopin (1810-1849) exerceram influência na escrita de Scriabine, não desprovida das raízes russas, mas sem cariz popular, seria contudo mais acentuadamente a partir do início do século XX que o compositor-pensador empreenderá um caminho singular, personalíssimo (aqui e aqui). Caminho que já aparece discretamente nas Mazurkas op. 40 (1903) e de forma escancarada no Poème-Nocturne op. 61 (1912) e na Sonata nº 7, op. 64 (1912). Noturno, como sabemos, é um gênero tão associado a Chopin quanto a Mazurka. Scriabin escreveu alguns Noturnos curtos e chopinianos quando mais jovem, mas esse Poema-Noturno escolhido por Richter é bem mais longo e já cheio do clima misterioso do compositor russo, com curtas frases seguidas por rápidos cromatismos ascendentes ou descendentes. Segundo J.E.Martins, são motivos curtos neurótico-obsessivos, que vão se acentuando conforme o compositor chega à maturidade. Richter, o pianista famoso por sua construção sólida de longas frases nas sonatas de Beethoven, Brahms e Schubert, se adapta surpreendentemente bem a esse clima noturno-neurótico de Scriabin, clima no qual algumas notas são cuidadosamente aproximadas e alcançadas para em seguida se quebrarem em dissonâncias.

Debussy e Ravel, é claro, eram compositores de música mais solar, menos noturna, mas ao tocá-los depois de Scriabin, ficam evidentes as semelhanças na linguagem dessas obras do comecinho do século XX. Se as gravações dos Prelúdios de Debussy por Richter não me empolgam tanto, aqui o pianista septuagenário emerge profundamente no mundo de Debussy e sobretudo no de Ravel com seus pássaros tristes, seu barco no oceano, sua alvorada e seu vale de sinos (Oiseaux tristes, Une Barque sur l’Océan, Alborada del gracioso, Vallée des cloches).

E as sonatas de Beethoven, essas pelo jeito nunca estiveram distantes do coração e dos dedos de Richter (aliás os 3 B’s estiveram nos seus programas do início ao fim da carreira). Aqui ele toca a penúltima sonata de Beethoven, uma obra madura interpretada por um Richter maduro que sabia aquilo de trás pra frente mas sempre trazia um algo mais de emoção nessa sonata. Ainda mais considerando que ele havia dedicado o recital à memória de sua amiga pessoal de longa data, a atriz e cantora alemã Marlene Dietrich (Berlim, 27 de dezembro de 1901 — Paris, 6 de maio de 1992).

Sviatoslav Richter – Out of Later Years Vol. 2
01. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Allegro ma non troppo
02. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Scherzo – Allegretto Marcato
03. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Andante
04. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Vivace
05. Scriabin: Klaviersonate Nr.7 Op.64 – Allegro
06. Ravel: Valses nobles et sentimentales
07. Ravel: Miroirs, Noctuelles. Très Léger
08. Ravel: Miroirs, Oiseaux tristes. Très Lent
09. Ravel: Miroirs, Une Barque sur l’Océan. D’un Rythme Souple
10. Ravel: Miroirs, Alborada del gracioso. Assez Vif
11. Ravel: Miroirs, La Vallée des cloches. Très Lent
Sviatoslav Richter – piano
Ludwigshafen, 1994-05-19

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Sviatoslav Richter – Out of Later Years Vol. 3
01. Haydn: Andante con variazioni in F minor H17-6
02. Beethoven: Sonata No.31 in A flat major Op.110 – I Moderato cantabile
03. Beethoven: Sonata No.31 in A flat major Op.110 – II Allegro molto
04. Beethoven: Sonata No.31 in A flat major Op.110 – III Andante molto cantabile
05. Chopin: Polonaise-Fantaisie in A flat major Op.61
06. Scriabin: Mazurka Op.40 No.1 in D flat major
07. Scriabin: Mazurka Op.40 No.2 in F sharp major
08. Scriabin: Poème-Nocturne Op.61
09. Debussy: L’isle joyeuse
10. Ravel: Miroirs, La Vallée des cloches. Très Lent
Sviatoslav Richter – piano
München (Munich), 1992-05-16

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Sviatoslav Richter pensando em levar todas aquelas cervejas ali sem que ninguém note

Pleyel

Homenagem à pianista Diana Kacso

Homenagem à pianista Diana Kacso
Diana Kacso, pianista brasileira

O piano brasileiro perde uma brilhante intérprete: a carioca Diana Kacso, que marcou sua trajetória por especial interesse no repertório romântico. Neste 1º de março, próximo passado, aos 68 anos, veio a falecer, após enfrentamento de câncer… Formada no “Conservatório brasileiro de Música”, Rio de Janeiro, com Elzira Amábile, 1971; e, mais tarde, na “Juilliard School”, de Nova York, com Sascha Gorodnitzski, 1972/75, Diana optou por fixar residência nos EUA…

Ao longo da carreira, realizou recitais no Carnegie Hallde New York; no Concertgebouw, de Amsterdam; e no “Queen Elizabeth Hall”, de Londres, além de diversas programações para rádio e TV… E como solista, em cocertos com a “London Players” e as filarmônicas de Munique, Israel e Londres; nos USA, Europa e Ásia... Destacaram-se também trabalhos em música de câmara, com Nancy Green (cello), Jennifer Devore (cello), e Rosemary Glyde (violista)…

Diana Kacso – finalista no “Concurso Chopin”, Varsóvia, 1975.

Premiada em diversos concursos, nacionais e internacionais, obteve 6º lugar no “Concurso Chopin”, de Varsóvia, 1975, quando Krystian Zimermann foi 1º colocado; 2º lugar no “Concurso Rubinstein”, de Tel Aviv, 1977; e 1º lugar no “Concurso de Viña del Mar”, Chile, 1978… Após inicio promissor, Diana priorizou a vida familiar, além de dedicar-se a movimentos pela causa animal. Assim, por 20 anos, evitou intensificar a carreira internacional e dedicou-se ao ensino… Sua musicalidade e apresentações, no entanto, eram marcantes e sua presença nos palcos, solicitada!

Diana Kacso – segunda à esquerda, entre os seis finalistas do “Concurso Chopin”, 1975, com Krystian Zimermann, 1º colocado, à direita.

Entre os apreciadores do piano, muito se fala em intérpretes que, francamente, exploram o virtuosismo mais técnico, e aqueles que, pela musicalidade, invariavelmente, priorizam a expressividade… Diana Kacso buscava certo equilibrio, entre vigor e expressividade… A partir de 2006, esteve diversas vezes no Brasil, para rever amigos, realizar masterclasses e também recitais, na “Sala Cecília Meireles”, Rio de Janeiro; e nos “Conservatório de Tatuí” , “OSMC de Campinas” e “Festivais de Campo do Jordão”, em São Paulo…

E, entre os registros que permanecem, suas interpretações da “Sonata em si menor”, de Liszt, da “Polonaise-Fantasie” ou da “Ballada em fá menor”, de Chopin, são reveladoras da leitura acurada, personalidade e amplo domínio técnico… Uma grande artista, cujas qualidade e musicalidade ficam nos poucos registros fonográficos que realizou… 

Após atuação no “Concurso de Leeds”, Inglaterra, 1978, surgiu interesse da gravadora alemã “Deutsche Grammophon”, que resultou na bela gravação com obras de Liszt e Chopin, de 1980… Aos 68 anos, penso, Diana nos deixa precocemente… Ficam a gratidão e carinho por seu trabalho e atuações. E, pelo talento e alto nível artístico, lugar especial na memória e no pianismo brasileiro. Descanse em paz…  

Premiações

“Concurso Internacional do Rio de Janeiro” (1976) – 3º lugar
“9º Concurso Internacional Chopin” (Varsóvia, 1975) – 6º lugar
“Teresa Carreño Concurso Internacional Latino-Americano” (Caracas, 1976) – 1º lugar
“Concurso Internacional Artur Rubinstein” (Tel Aviv, 1977) – 2º lugar
“Concurso Internacional de Leeds” (Inglaterra, 1978) – 2º lugar
“Concurso Internacional de Viña del Mar” (Chile, 1978) – 1º lugar
“Concurso Internacional Gina Bechauer” (Atenas, 1982) – 2º lugar

Aos seus alunos, Diana aconselhava: “sobre técnica, a concentração; e sobre o coração, a parte que transmite sentimentos, através da música”…

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Diana Kacso, brilhante pianista brasileira, 1953-2022.

Alex DeLarge

Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes

 

O inesquecível Jascha Heifetz, que completaria hoje 121 anos, adorava jazz. Sua mansão em Beverly Hills recebia músicos de várias vertentes, que frequentemente mergulhavam em jam sessions, e os estudantes para os quais organizava animadas festas em Malibu testemunhavam o mestre improvisar, tanto ao violino quanto ao piano, sobre as canções populares que amava.

Descobrir que o jazz era o xodó de Heifetz me surpreendeu. Afinal, tiete incondicional do gigante desde que o conheci, acostumara-me com seu semblante estoico nas capas de discos, que nada mudava nos tantos filmes em que, para meu assombro, eu o via enfrentar e vencer, impávido, os trechos mais medonhos da literatura violinística. Foi só ao ler suas biografias e, principalmente, assistir aos documentários e aos preciosos registros de suas masterclasses que conheci seu senso de humor, seu rigor cordial para com os alunos e, não menos importante, constatei que ele era um músico extraordinário o bastante para convencer como mau músico, imitando à perfeição um jovem estudante em pânico durante uma prova:

Jascha também foi um contumaz viajante, legando-nos inúmeros mementos que são verdadeiras pérolas do humor involuntário, como essa sua foto duma visita ao México, em que seu tradicional olhar blasé parece nada impressionado com a indumentária local…


… e também um homem corajoso e cidadão muito grato ao país que o acolheu, percorrendo o front europeu a tocar voluntariamente para as tropas aliadas, além de arrecadar, com concertos beneficentes, vultosos valores para os esforços de guerra.

Perenemente acusado por um ou outro crítico de ser um tecnicista frio, indiferente às intenções do compositor, Heifetz é uma deidade de devoção unânime entre seus colegas: dir-se-ia um “violinista dos violinistas”. Ainda assim, mesmo que todos sonhem em tocar como ele, nem tantos acham que devam. Jascha cresceu imbuído das tradições da Velha Escola russa no Conservatório de São Petersburgo, onde foi discípulo de Leopold Auer – aquele mesmo com quem Tchaikovsky se estranhou por conta de seu concerto para violino. Seria inevitável, pois, que seu estilo, moldado por gente do século XIX, pareça-nos um tanto antiquado, a despeito da tanta beleza que tange. Além disso, suas gravações das peças fundamentais do repertório concertístico, normalmente despachadas em velocidade lúbrica, são referências incontestes que poucos violinistas de hoje tentariam imitar: mesmo o próprio ídolo de Heifetz, Fritz Kreisler, após escutar o prodígio de onze anos de idade, afirmou que todos os violinistas presentes no recinto poderiam quebrar seus instrumentos nos joelhos.

Aqui, Kreisler (à direita) relaxa num lago com Heifetz (à esquerda), que se apoia num trapiche feito, provavelmente, da madeira de violinos quebrados.

Em minha desimportante opinião, será através das pequenas peças que a grandeza de Heifetz rebrilhará aos ouvidos dos séculos vindouros. Esta compilação que ora lhes apresento, com algumas dúzias delas, inclui vários de seus números de bis mais famosos, algumas canções folclóricas e várias composições de George Gershwin, que Jascha muito admirava.  Os arranjos, como verão, são quase todos de sua própria lavra e, se privilegiam o timbre inconfundível do mestre e a elegância de seu fraseado, também lhe dão amplas oportunidades para demonstrar seu deleite em tocar, como mais célebre rebento da Velha Escola russa, a música do Novo Mundo em que escolheu viver.


Uma atração em especial para nós, brasileiros, é escutar “Ao Pé da Fogueira”, um dos prelúdios do genial Flausino Valle, aqui abordado por Heifetz numa masterclass.

A grande surpresa, talvez, esteja na última faixa do álbum. Depois de alguns açucarados bombons em que acompanha o cantor Bing Crosby, Heifetz dá-nos a rara oportunidade de escutá-lo ao piano (!), instrumento em que era, por todos os relatos, muito proficiente. Ele toca “When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)”, uma canção que fez sucesso na voz do próprio Crosby, frequentemente pareada com outra, “So Much in Love“. Ainda mais surpreendente é que o autor de ambas, um certo Jim Hoyl, só existia na capa das partituras, pois era tão só o pseudônimo que o próprio Jascha Heifetz (“J.H.”, captaram?) usava para publicar canções populares.

“Um brinde a Jim Hoyl!”

Que a imagem sisuda que dele tiverem liquide-se para sempre, e que a inigualável musicalidade do aniversariante consiga entretê-los tanto quanto espero.

Grato por tanto, Mestre!

In memoriam Iosif Ruvimovich Kheyfets, dito Jascha Heifetz (Vilnius, 2.2.1901 – Los Angeles, 10.12.1987)



Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes

DISCO 1

Samuel GARDNER (1891-1984)

1 – From The Canebrake, Op. 5 no. 1

Arthur Leslie BENJAMIN (1893-1960)
2 – Jamaican Rumba (arranjo de William Primrose)

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
3 – Beau Soir (arranjo de Jascha Heifetz)

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
4 – Pièce en Forme de Habanera (arranjo de Georges Catherine)

Clarence CAMERON White (1880-1960)
5 – Levee Dance, Op. 27 No. 2 (baseada em “Go Down, Moses”)

Mario CASTELNUOVO-TEDESCO (1895-1968)
6 – Figaro, Rapsódia de Concerto sobre “Il Barbiere di Siviglia”, de Rossini

Stephen Collins FOSTER (1826-1864)
7 – Jeanie With The Light Brown Hair (arranjo de Heifetz)

Victor August HERBERT (1859-1924)
8 – À la Valse

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
9 – Humoresques, Op. 101 – No. 1 em Sol bemol maior (arranjo de Heifetz)

Folclore irlandês
10 – Gweedore Brae (arranjo de John Crowther)

Stephen FOSTER
11 – Old Folks at Home (arranjo de Heifetz)

Anônimo
12 – Deep River (arranjo de Heifetz)

Leopold GODOWSKY (1870-1938)
13 – Doze Impressões para violino e piano: no. 12, Wienerissh (arranjo de Heifetz)

Jascha Heifetz, violino
Milton Kaye, piano

Irving BERLIN (1888-1989)
14 – White Christmas

Jascha Heifetz, violino
Salvator Camarata and his Orchestra

George GERSHWIN (1898-1937)
Da ópera “Porgy and Bess” (arranjos de Heifetz)
15 – Summertime
16 – A Woman is a Sometime Thing
17 – My Man’s Gone Now
18 – It Ain’t Necessarily So
19 – Tempo Di Blues (There’s a Boat That’s Leaving Soon for New York)
20 – Bess, You is my Woman Now

Três prelúdios para piano solo (arranjos de Heifetz)
21 – I. Allegro ben ritmato e deciso
22 – II. Andante con moto e poco rubato
23 – III. Allegro ben ritmato e deciso

Jascha Heifetz, violino
Emanuel Bay, piano

DISCO 2

Susan Hart DYER (1880-1922)
1 – An Outlandish Suite, para violino e piano: Florida Night Song

Claude DEBUSSY
2 – Children’s Corner L. 115 – 6. Golliwogg’s Cakewalk (arranjo de Heifetz)
3 – Suite Bergamasque L. 75 – 3. Clair de Lune (arranjo de Alexandre Roelens)

Flausino Rodrigues do VALLE (1894-1954)
4 – Vinte e seis prelúdios característicos e concertantes para violino só – no. 15, “Ao Pé da Fogueira” (arranjo de Heifetz)

Julián Antonio Tomás AGUIRRE (1868-1924)
5 – Huella, Op. 49 (arranjo de Heifetz)

Dmitri Dmitrievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 34 (arranjo de Dmitri Tziganov e Quinto Maganini)
6 – No. 10 em Dó sustenido menor
7 – No. 15 em Ré bemol maior

Edwin GRASSE (1884-1954)
8 – Waves At Play (Wellenspiel) (arranjo de Heifetz)

Sergei Sergeieivich PROFOKIEV (1891-1953)
9 – O Amor das Três Laranjas, Op. 33 – Marcha (arranjo de Heifetz)
10 – Suíte do balé “Romeu e Julieta”, para piano, Op. 75 – Máscaras (arranjo de Heifetz)

Robert Russell BENNETT (1894-1981)
Hexapoda (five studies in Jitteroptera), para violino e piano
11 – Gut-Bucket Gus
12 – Jane Shakes Her Hair
13 – Betty and Harold Close Their Eyes
14 – Jim Jives
15 – …Till Dawn Sunday

Kurt Julian WEILL (1900-1950)
16 – Die Dreigroschenoper – Mack The Knife (Moderato assai) (arranjo de Stefan Frenkel)

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
17 – Souvenir d’un Lieu Cher, para violino e piano, Op. 42 – no. 3: Mélodie em Mi bemol maior

Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
18 – Noturnos para piano, Op. 55 – no. 2 em Mi bemol maior (arranjo de Heifetz)

Christoph Willibald von GLUCK (1717-1784)
19 – Orfeo ed Euridice – Dança dos Espíritos Abençoados (arranjo de Fritz Kreisler)

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
20 – Waldszenen, Op. 82 – no. 7: Vogel als Prophet (arranjo de Heifetz)

Nikolai Andreievich RIMSKY KORSAKOV (1844-1908)
21 – O Galo de Ouro – Hino ao Sol (arranjo de Kreisler)

Alexander Abramovich KREIN (1883-1951)
22 – Dança no. 4 (arranjo de Heifetz)

Johannes BRAHMS (1833-1897)
23 – Danças Húngaras – no. 7 em Lá maior (arranjo de Joseph Joachim)

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
24 – Le Carnaval Des Animaux – Le Cygne (arranjo de Heifetz)

Cecil BURLEIGH (1885-1980)
25 – Six Pictures, Op. 30 – no. 4: Hills
26 – Small Concert Pieces, Op. 21 – no. 4: Moto Perpetuo

Jascha Heifetz, violino
Emanuel Bay, piano


Benjamin Louis Paul GODARD (1849-1895)
27 – Jocelyn – Berceuse (arranjo de Ernest R. Ball)

Hermann LÖHR (1871-1943)
28 – Where my Caravan has Rested  (arranjo de Edward Teschemacher)

Bing Crosby, voz
Jascha Heifetz, violino
Victor Young and his Orchestra


Jim HOYL, pseudônimo de Jascha HEIFETZ (1901-1987)
29 – When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)

Jascha Heifetz, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


Querem mais Heifetz? Confiram-no em ação, então, na sua imbatível gravação do concerto de Sibelius (juntamente com o de Glazunov e o segundo de Prokofiev)…

Concertos para Violino de Sibelius, Prokofiev e Glazunov com Jascha Heifetz

… e na frenética leitura do concerto de Beethoven com os sinfônicos de Boston sob Charles Munch:

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Violin Concerto in D – Heifetz, Munch, BSO

PQP Bach, pelo saudoso Ammiratore (1970-2021)

Vassily