Peteris Vasks (1946): Concerto para viola; Sinfonia nº 1 (Sinfonietta Riga, M. Rysanov)

Um grandioso concerto para viola e orquestra de cordas, em que Vasks se dedica à difícil tarefa de fazer o som da viola predominar sobre os outros instrumentos de corda. Para isso, ele se utiliza de várias cadências, frequentemente em escalas que, de um modo extremamente genérico, podemos chamar de “orientais”, o que pode significar mil e uma coisas, incluindo a inspiração armênia na música de Hovhaness (aqui) ou o uso de escalas comuns na música árabe, indiana, chinesa… Enfim, intervalos que soam um tanto exóticos para o ouvido acostumado com a tradição musical do leste da Europa, mas ao mesmo tempo são relações tonais que tendem a resoluções: raramente Vasks soa atonal ou algo perto disso. A linguagem é mais tradicional, mais melódica do que a de Saariaho, o que eles têm em comum – além do nascimento no norte da Europa – é o fato de terem composto muitos concertos para solista e orquestra.

E uma impressionante sinfonia escrita também para orquestra de cordas: no 2º movimento, muitos instrumentos avulsos em superposição representando uma espécie de floresta à maneira de Villa-Lobos, Messiaen ou Ginastera. No 3º movimento, após aquele caos florestal, tutti de cordas executados com muito vigor pela Sinfonietta Riga, orquestra da capital da Letônia, país do compositor. Sei que alguns colegas de blog devem discordar, mas para mim Peteris Vasks é bem mais interessante do que Arvo Pärt, o grande compositor vivo do país vizinho que é a Estônia.

Peteris Vasks (1946):
Concerto for Viola and String Orchestra (2014-15)
I. Andante 8:02
II. Allegro moderato 7:13
III. Andante 10:46
IV. Adagio 9:33
Symphony for Strings ‘Voices’ (Balsis) (1991) (29:15)
I. Voices of Silence 6:08
II. Voices of Life 14:40
III. Voice of Conscience

Sinfonietta Rīga
Conductor & Viola – Maxim Rysanov

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Peteris Vasks

Pleyel

Peteris Vasks (1946): Obras para Piano (R. Zarins)

Minimalismo: uma palavra de significado meio vago, que encaixa com muitos fenômenos musicais diferentes, mas é a palavra que temos para descrever boa parte da música de concerto das últimas décadas. O bom inimigo do ótimo. A palavra tem sido usado para compositores bastante diferentes entre si, como:

– O hippie californiano Terry Riley, com sua inspiração no improviso do jazz e das ragas hindus e na sonoridade dos sintetizadores;
– O também norte-americano Philip Glass, grande compositor de trilhas sonoras;
– O polonês Henryk Górecki, que na década de 1970 adotou um estilo mais simples e teve um sucesso estrondoso com sua 3ª Sinfonia, que vendeu milhões de cópias;
– O estoniano Arvo Pärt, estudioso do cantochão medieval e famoso por suas obras corais com repetições modais e hipnóticas que parecem andar em círculos;

E também Pēteris Vasks, nascido na Letônia, país vizinho à Estônia de Pärt. Ambos têm em comum a religiosidade cristã, que foi abafada durante o período soviético. E como vocês sabem, o que é proibido é mais gostoso. Um pouco mais jovem que esses outros citados, Vasks aparece nesse disco recente com uma obra de juventude, uma mais recente e uma novíssima, composta durante o período da pandemia de COVID-19.

Na obra de juventude, Cycle, em quatro partes, Vasks apresenta um tema em cada movimento e depois não se preocupa muito em desenvolvê-lo, tampouco faz repetições infinitas como Riley ou Glass. O que ele faz é dissecar a melodia em suas partes, usando para isso não só o teclado do piano, mas também ataques nas cordas do instrumento, técnica que surgiu por volta de 1920 com o norte-americano Henry Cowell e depois muito utilizada por John Cage. Graves assustadores, agudos brilhantes, temos um amplo espectro sonoro sustentado sobre ideias melódicas mais ou menos simples.

Seguindo a cronologia do compositor, a obra intermediária, estreada aos poucos entre 1980 e 2008, reflete as quatro estações, do ponto de vista de um habitante de terras muito mais frias do que a Itália de Vivaldi. Lendo as palavras do compositor no encarte do álbum, ficamos sabendo, por exemplo, que a primavera inclui ainda alguns momentos de neve alternando com o nascer do sol na floresta… E que no fim do último movimento (outono), temos também as primeiras neves que antecedem o inverno. A vida é assim na Letônia: três estações com neve, uma sem.

E a primeira obra do álbum, cronologicamente a mais recente, também está ligada ao mundo animal e vegetal: “A voz do Cuco – Elegia de Primavera”. Nas notas do álbum, ficamos sabendo inclusive que Vasks continuou a composição dessa peça enquanto estava se recuperando da COVID-19, ainda antes das vacinas chegarem… Felizmente Vasks conseguiu atravessar esses mares revoltos e terminar sua composição, que ele resume assim: “Em Amatciems, onde temos nossa casa de campo, há muitos cucos. Um pássaro maravilhoso.”

PĒTERIS VASKS (b. 1946): Piano Works
1. Cuckoo’s Voice. Spring Elegy (Dzeguzes balss. Pavasara elēģija) (2021)*
2-5. Cycle (Zyklus) (1976)*
I. Prologue 3:21
II. Nocturne 3:59
III. Drama 3:11
IV. Epilogue 5:24
6-9. The Seasons (Gadalaiki)
I. White Scenery (Baltā ainava) (1980)
II. Spring Music (Pavasara mūzika) (1995)
III. Green Scenery (Zaļā ainava) (2008)
IV. Autumn Music (Rudens mūzika) (1981)
*World première recordings
Reinis Zariņš, piano

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O compositor e o pianista

Pleyel

Dmitry Shostakovich (1906-1975) — Peteris Vasks (1946) — Alfred Schnittke (1934-1998): Dolorosa

Dmitry Shostakovich (1906-1975) — Peteris Vasks (1946) — Alfred Schnittke (1934-1998): Dolorosa

MI0001015895Não há nada de doloroso neste álbum, pelo contrário, só de delicioso. Primeiro temos a Sinfonia para Câmara de Shostakovich, que nada mais é do que uma transcrição do Quarteto No. 8 feita por Rudolf Barshai. Uma ótima ideia de Barshai pois deixou a coisa toda surpreendentemente mais gostosa.

Ao final do álbum temos outra transcrição: a sonata para trio de violino, viola e cello de Schnittke, transcrita também para orquestra de câmara, essa feita por Yuri Bashmet. Novamente uma ótima ideia.

Mas o destaque do álbum fica pra Musica Dolorosa de Peteris Vasks, compositor que estreia hoje no blog. Nascido na Letônia, parece utilizar vários métodos contemporâneos de composição. Sua obra neste álbum me pareceu uma mistura de dor e fúria, coisa que adoro sentir na obra de um compositor. Não sei se sou sádico, acredito que não, mas me deliciei com as “dores” desta música.

Aliás, o álbum inteiro parece conter um clima semelhante; certamente uma ótima compilação.

Shostakovich, Vasks, Schnittke: Dolorosa

Dmitry Shostakovich (1906-1975)

Chamber Symphony Op. 110a (orchestration by Rudolf Barshai)
01 I. Largo
02 II. Allegro molto
03 III. Allegretto
04 IV. Largo
05 V. Largo

Peteris Vasks (1946)

06 Musica Dolorosa

Alfred Schnittke (1934-1998)

Trio Sonata (orchestration by Yuri Bashmet)
07 Moderato
08 Adagio

Stuttgarter Kammerorchester
Dennis Russell Davies, conductor

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Vasks emocionado por estrear no PQP Bach.
Vasks emocionado por estrear no PQP Bach.

Luke