Dino Beghetto (1983) – Distância I e Quatro Movimentos para Sexteto

Minha intenção, ao criar o P.Q.P. Bach, era a mesma dos outros blogs: conquistar o mundo. Ainda não deu, mas estamos fazendo um baita trabalho e nos dá enorme alegria proporcionar aos compositores que frequentam o blog a oportunidade de mostrar seu trabalho para um público qualificado e legal como o nosso. Gilberto Agostinho teve seu arquivo baixado 199 vezes até hoje, é mole? Agora chegou a vez de mais um jovem compositor: Dino Beghetto. Claro que nós nos orgulhamos de receber esses arquivos. O comentário a seguir é minha opinião como ouvinte leigo, mas apaixonado.

O “CD” abre com Distância I. Fico muito surpreso quando ele cita em seu texto ter utilizado “grupos seriais”. Claro que a peça não é tonal, mas seu tom algo jazzístico e de agressividade latente parece estar longe do serialismo. A partir desta observação vocês podem ter uma pequena amostra da estupidez musical deste PQP no qual alguns confiam. Gostei muito da peça e por mim ele poderia desenvolvê-la por maior distância ainda.

A obra seguinte, Quatro Movimentos para Sexteto, é muito mais ambiciosa. Como vocês sabem, sou chato mesmo, então já vou dizendo que não gostei do primeiro movimento e que passei a pulá-lo no iPod. O mesmo não se pode dizer do restante. O segundo movimento, o das quatro danças, me entusiasma desde a primeira, que parece nos remeter ao oriente. Destaco a bem marcada terceira dança neste movimento que me satisfez inteiramente. O terceiro é construído por duplas ou trios de instrumentos, lembrando o Giuoco delle coppie (Jogo das duplas) do Concerto para Orquestra de Bartók. Talvez tenha sido complicado de escrever, mas o suor não é nada perceptível, é excelente e fluida música. O quatro movimento é, como não diz mas sugere o Dino em seu comentário, é uma paródia muito bem feita da música romântica. Ele volta a falar em serialismo, o que me faz um autêntico ignóbil, pois nunca me daria conta e ainda brigaria com quem afirmasse tal absurdo…

A seguir, a palavra está com o Autor. Te mete!

Meu nome é Dino Beghetto Junior, atualmente estou com 26 anos. Sou de São José dos Campos-SP, cidade onde moro até hoje. Tive os primeiros “contatos diretos” com a música aproximadamente aos 9 anos de idade, quando ganhei um violão da minha mãe. Após uns 6 ou 7 meses de aula, parti para o teclado. Depois de 1 ano, mais ou menos, parei de estudar qualquer instrumento musical. No entanto, sempre estive em bastante contato com a música, seja brincando com uma gaita que comprei certa vez ou com o piano do meu tio. No entanto, sempre ouvi música com bastante atenção, não tendo “muito preconceito” se era popular ou erudita.

Com uns 14 anos me reencontrei com o violão aqui em casa, e voltei a ter aulas. No mesmo período também comecei a me interessar por guitarra elétrica, acabei comprando uma e estudando por conta própria. Agora sim me dedicando realmente aos estudos musicais, tomei lições de violão com o mesmo professor numa escola livre de música da cidade até meus 17 anos, enquanto fazia um curso técnico de Meteorologia junto com o colegial. Depois de 6 meses de estágio no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), percebi que aquilo não era pra mim, e entrei para faculdade de música em Pindamonhangaba após me formar no colégio técnico. O curso não me agradou de todo, no entanto alguns professores fizeram o tempo por lá valer a pena. Foi quando realmente comecei a me interessar por Composição Musical.

Fiquei o ano de 2004 dando aulas de guitarra, violão, harmonia e contraponto numa escola livre de música daqui, também atendendo a aulas particulares. Nesse período comecei a ir atrás de muita leitura que envolvesse composição e também filosofia ligada à música. Em 2005 acabei ingressando no curso de pós-graduação de Composição Musical da Faculdade de Música Carlos Gomes em São Paulo, que conclui em 2006 com muito gosto e com nota máxima na monografia. Entre os bons professores, destaco o compositor Doutor Celso Mojola, que foi meu orientador no trabalho final. Aproveito aqui para dizer também que atualmente estou com um grupo com flauta, flauta baixo, piano, violão e guitarra de 7 cordas, onde componho e também executo (no caso, a guitarra).

A música Quatro Movimentos para Sexteto foi feita para a monografia da pós-graduação em especial, entre janeiro e maio de 2006. A formação é flauta, xilofone, prato, piano, violino e contrabaixo. Existe uma característica que aparecerá em todos os movimentos: um enunciado primordial que será desenvolvido e variado de diversas maneiras. O termo “enunciado primordial” usado aqui tem uma conotação relativa ao “tema” clássico. Especifico aqui, também, as características dos materiais utilizados em cada movimento:

I movimento (Prelúdio para uma nova manhã): escalas e séries, tanto individual como simultaneamente. Foi construído com uma divisão A – B – A’ – C, seguindo o seguinte padrão: A e A’ usam escalas, B usa série e C mistura ambos os materiais.

II movimento (Uma única sombra dança): escalas. Aqui existe uma divisão por grupos principais chamados de “danças”, pelo aspecto estético criado. São quatro danças ao longo deste segundo movimento, com transições e variações sobre o enunciado primordial e/ou pedaços das danças entre elas. O nome desse movimento se refere ao tipo de material usado, ou seja, somente escalas. Como este é o único movimento dessa obra que utiliza somente escalas, é como se fosse “uma única sombra” no contexto geral.

III e IV movimentos (Para poder entender os limites e Sonhos sobre um dia precedente): séries. O terceiro movimento é o mais longo dos quatro, com aproximadamente 10 minutos e 49 segundos. O título se refere exatamente a esse fato: aqui procurei “entender os limites” de duração do uso estritamente serial das notas em um mesmo movimento, de acordo com a maneira que eu organizei as séries escolhidas.

Criei uma divisão no uso dos instrumentos (todos os instrumentos seguem tal divisão, a não ser o xilofone e o prato, que são usados livremente por todo este terceiro movimento) pelos compassos, o que gerou os seguintes grupos: Compassos 1 ao 5: piano, Compassos 6 ao 22: piano e flauta, Compassos 23 ao 39: piano e violino, Compassos 40 ao 56: piano, flauta e violino, Compassos 57 ao 73: flauta, violino e contrabaixo, Compassos 74 ao 86: todos os instrumentos, Compassos 87 ao 103: violino e contrabaixo, Compassos 104 ao 120: piano, violino e contrabaixo, Compassos 121 ao 128: piano.

Estes grupos definem aproximadamente onde se situam as nove seções encontradas neste terceiro movimento. Esta divisão foi feita com o intuito de se obter uma grande variedade de conjuntos de timbres, devido ao fato do tamanho do movimento. Entretanto, é facilmente perceptível o uso abundante do piano.

O material utilizado neste quarto movimento é o mesmo do movimento anterior (séries), porém a estética aqui tem uma relação mais próxima do romantismo, contrastando com o terceiro movimento. Daí a justificativa do título: “sonhos sobre um dia precedente” é uma referência ao material já utilizado e também a uma estética “precedente”, romântica, que já é antiga. Contudo, a peça não soa como uma obra do romantismo (é apenas um “sonho” sobre a estética da época), entre outros motivos por ser serial. Temos duas grandes divisões aqui. Mas é bom salientar que, apesar de se tentar separar algumas seções, este movimento tende a soar mais como uma “linha reta”, única, sem separações.

A outra peça é para piano solo, chamada Distância I. Foi escrita também em 2006, inicialmente como exercício proposto pelo professor Celso Mojola também no curso da pós-graduação. É resultado de um estudo feito sobre o material proposto pelo professor: as notas do, mi e sol. Então as utilizei como material pré-composicional gerador de outros materiais. Portanto, essa música usa materiais escalares de maneira a formar “grupos seriais”, não sendo então uma música serial no sentido restrito, tampouco tonal ou modal.

Os timbres dos instrumentos foram retirados do programa Garritan Personal OrchestraSibelius Edition, com o auxílio do Kontakt Player Gold, da empresa Native Instruments, para adicionar ambiência (reverb) ao arquivo sonoro final.

Obviamente, como compositor, tenho a tendência de querer mostrar como foi o processo de composição e os porquês. Entretanto, meu intuito aqui é explicar um pouco sobre as peças, na intenção de auxiliar a audição das mesmas. Espero não ter sido muito longo nas explanações. Se alguém quiser conversar mais sobre o assunto, é só mandar um email para dbeghetto — aquela arrobinha básica — yahoo.com.br. Será um prazer conversar!

Agradeço ao pessoal do blog, principalmente ao PQP, pela abertura desse espaço para compositores novos. Agradeço também ao Gilberto Agostinho, indiretamente, pois foi o pioneiro dessa “safra nova” no site, e foi pelo post sobre ele que obtive espaço para entrar em contato com o PQP para conversar sobre o assunto.

Dino Beghetto – Distância I e Quatro Movimentos para Sexteto

Distância I
1 Distância I (1min46)

Quatro movimentos para sexteto
2 I Prelúdio para uma nova manhã (3min11)
3 II Uma única sombra dança (7min04)
4 III Para poder entender os limites (10min57)
5 IV Sonhos sobre um dia precedente (4min03)

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