Este disco pode assustar alguns desavisados. Brautigam toca o pianoforte do tempo de Haydn e, para ficar ainda mais estranho, temos um baixo contínuo feito pelo cravo no belo e divertido Concerto Nº 11, que abre o CD. O instrumento de Brautigam soa particularmente bem escolhido para esta música. Tem uma ação rápida que faz com que os movimentos externos realmente brilhem, mas também permite o canto nos movimentos lentos. Os concertos são maravilhosos: leves, brilhantes, efervescentes, cheios de humanidade e repletos de poesia. O tom de Brautigam é claro e vibrante, seu toque é gracioso, suas interpretações, cheias de personalidade. Tudo isso acompanhado pelo elegante Concerto Copenhagen sob regência de Lars Ulrik Mortensen ,
Joseph Haydn (1732-1809): 4 Concertos para Piano (Brautigam / Concerto Copenhagen)
01. Concerto in D major, H.XVIII/11 – I. Vivace
02. II. Un poco adagio
03. III. Rondo all’Ungarese (Allegro assai)
04. Concerto in F major, H.XVIII/3 – I. Allegro
05. I. Largo cantabile
06. III. Presto
07. Concerto in D major, H.XVIII/2 – I. Allegro moderato
08. II. Adagio molto
09. III. Allegro
10. Concerto in G major, H.XVIII/4 – I. Allegro
11. II. Adagio
12. III. Rondo (Presto)
Ronald Brautigam – Pianoforte
Concerto Copenhagen
Lars Ulrik Mortensen – Conductor
Eu sempre imagino Papa Haydn já idoso, compositor renomado, mais velho do que Mozart e Beethoven. Mas é fato que houve um jovem Joseph Haydn – cantor de coro que declinou da castrazione para manter a bela voz e que estudou música com outros mestres até tornar-se um mestre ele mesmo. Um destes músicos de uma geração anterior que a dele foi Nicola Porpora, que além de compositor de óperas foi professor de canto. Teve entre seus alunos famosos castrati, como Farinelli e Caffarelli. Haydn trabalhou como factótum (assessor para assuntos gerais) para Porpora enquanto este viveu em Viena e lembrava-se do mestre com um sorriso nos lábios. Aprendeu muito palavras italianas com ele, tais como asino, coglione e birbante. Havia também boas lembranças de cutucões nas costelas…
Foi também coisa da juventude de Haydn a composição de concertos diversos, nos primeiros anos que passou na Petit Versailles, a Corte de Estérhazy, para brindar os bons músicos que serviam a orquestra que estava a sua disposição.
Foi assim que surgiu, nos primeiros anos da década de 1760 o seu primeiro concerto para violoncelo, composto provavelmente para o violoncelista Joseph Weigl, que trabalhava ali. Aliás, o concerto ficou perdido por muito tempo, até ser redescoberto nos arquivos de um museu em Praga, em 1961. O manuscrito estava ao lado de um outro concerto de Joseph Weigl. De qualquer forma, a primeira frase do concerto havia sido registrada por Haydn em um catálogo de obras que ele começara a fazer em Estérhazy.
Julien Chauvin
O segundo concerto é tecnicamente mais difícil e foi escrito em 1783. Este foi atribuído a Anton Kraft, outro violoncelista que atuou em Estérhazy. Anton foi excelente violoncelista e deve ter dado seus pitacos na parte técnica do concerto, coisa que pode ter ajudado a causar a confusão. Kraft foi o violoncelista para quem Beethoven escreveu a parte de violoncelo de seu Concerto Triplo.
Neste ótimo disco os dois concertos são apresentados pelo violoncelista Christian-Pierre La Marca, acompanhado pela orquestra com prática de instrumentos de época, Le Concert de la Loge, regida por Julien Chauvin. O disco traz ainda obras de outros compositores da época, perfazendo um agradável programa musical. Temos uma ária do Nicola Porpora, cantada aqui pelo ótimo contratenor Philippe Jaroussky, um movimento (largo) de um concerto para violoncelo, também de Porpora, uma Sinfonia Concertante, que fora deixada inacabada por Mozart, numa reconstrução feita por Robert Levin. E também uma transcrição para violoncelo da música de balé de Gluck, danse des ombres heureuses, escrita para a ópera Orphée et Eurydice, feita por Christian-Pierre La Marca.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 1 em dó maior, Hob. VIIb:1
Cadenza: Christian-Pierre La Marca
Moderato
Andante
Allegro molto
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Concerto para violoncelo em sol maior
Largo
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Reconstrução: Robert Levin
Sinfonia Concertante em lá maior (KV Anhang 104 / 320E)
Fragmento
Christoph Willibald Gluck (1714 – 1787)
Orphée et Euridice
Dança dos Espíritos Abençoados (Transcrição de Christian-Pierre La Marca)
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Gli orti esperidi
Ária: Giusto amor tu che m’accendi
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 2 em ré maior, Hob. VIIb:2 (Op. 101)
Cadenza: Maurice Gendron
Allegro moderato
Andante
Allegro
Christian-Pierre La Marca, violoncelo
Philippe Jaroussky, contatenor (Gluck)
Julien Chauvin (violino) e Adrien La Marca (viola) (Mozart)
Partes da entrevista dada por Christian-Pierre e Julien:
LM: I wanted this program to introduce new ways of listening to Haydn’s concertos. The title of the album Legacy emphasizes more of the aspect of transmition than that of inheritance – the goodwill one generation passes on to the next, the encounters between musicians who hand down a tradition, the development of styles of writing for the instrument.
JC: Haydns’s concertos are often recorded on their own, the fact that they are ‘enveloped’ in other pieces gives them an additional dimension.
O número 2023 é uma permutação de 2032, ano no qual se completará 3 séculos desde o nascimento de Franz Joseph Haydn. Ora, vocês sabem, o marketing da indústria fonográfica adora estas efemérides. Prepare-se para um tsunami de integrais de trios com piano, quartetos de cordas, sonatas para piano e, é claro, sinfonias. Já vimos algumas destas integrais no passado, como Antal Dorati ou Adam Fischer nas sinfonias, Quatuor Festetics nos quartetos ou Beaux Arts Trio nos trios com piano. Até 2032 veremos várias destas coleções reeditadas e a curiosidade maior é quanto a mídia – streaming, mais certamente. Acho que as gerações dos compradores de LPs, cassetes e CDs estarão se esvaindo até lá, restando apenas alguns highlanders…
No entanto, um projeto que tenho acompanhado com particular interesse atende pelo singelo nome Haydn 2032. A Joseph Haydn Foundation, na Basileia (Basel), está organizando, produzindo e financiando a performance e gravação das 107 sinfonias de Haydn pelo Il Giardino Armonico ou a Kammerorchester Basel, com a direção artística de Giovanni Antonini. Até agora detectei 12 volumes e um 13º chegará em breve.
Talvez devido a (minha) idade e a enorme curiosidade de ouvir música, não consegui ouvir os 12 discos inteiros. Mas não resisti e montei uma playlist com as sinfonias minhas mais conhecidas – todas com apelidos – e gostei tanto que decidi postar. Talvez algum de nossos colaboradores se anime e traga a coleção na integral (que contém também música de alguns contemporâneos do Haydn, para dar uma contextualização) e torne assim esta postagem obsoleta. Mas, até lá, dependendo apenas de minhas energias, aqui vai este pot-pourri.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Sinfonia No. 39 em sol menor – Tempesta di mare
Allegro assai
Andante
Menuet – Trio
Finale (Allegro di molto)
Sinfonia No. 49 em fá menor – La Passione
Adagio
Allegro di molto
Menuet – Trio
Finale (Presto)
Sinfonia No. 22 em mi bemol maior – Der Philosoph
Adagio
Presto
Menuetto & Trio
Finale (Presto)
Sinfonia No. 60 em dó maior – Il distratto
Adagio – Allegro di molto
Andante
Menuetto – Trio
Presto
Adagio – Allegro
Finale (Prestissimo)
Sinfonia No. 26 em ré menor – Lamentatione
Allegro assai con spirito
Adagio
Minuet – Trio
Sinfonia No. 30 em dó maior – Alleluia
Allegro
Andante
Finale
Sinfonia No. 63 em dó maior – La Roxolana
Allegro
La Roxolana – Allegretto piu tosto allegro
Menuet – Trio
Finale
Sinfonia No. 43 em mi bemol maior – Mercury
Allegro
Adagio
Menuet – Trio
Finale (Allegro)
Sinfonia No. 45 em fá sustenido menor – L’addio
Allegro assai
Adagio
Menuet (Allegretto) – Trio
Finale (Presto)
Adagio
Sinfonia No. 82 em dó maior – L’ours
Vivace
Allegretto
Minuet – Trio
Finale (Vivace assai)
Il Giardino Armonico (Nos. 39, 49, 22, 60, 63, 43 e 45)
Kammerorchester Basel (Nos. 26, 30 e 82)
Giovanni Antonini
Antonini no dressing room do PQP Bach Hall de Alegrete
Vai aqui um CD luminoso, presentinho de Natal! Nesta gravação a orquestra conta com 18 músicos, o mesmo número com que contava a orquestra a disposição de Haydn quando este compôs estas sinfonias, em 1761. Isso aconteceu logo que ele chegou a Esterhazy, para a alegria do príncipe que o contratara e que encomendou algumas peças programáticas, a là Quatro Estações.
Os nossos seguidores que moram próximos ao Rio de Janeiro e ouvem a Rádio MEC, certamente vão reconhecer trechos da Sinfonia No. 6, usados pela Rádio como vinhetas em alguns momentos.
Além de terem este aspecto programático, as três sinfonias apresentam momentos em que este ou aquele instrumento se apresenta como solista. Desde a flauta até o contrabaixo, passando pelas trompas, os músicos têm suas oportunidades de brilhar. Especialmente os operáticos violino e violoncelo.
A Solomon
Certamente os mais saudosistas vão suspirar pela ótima gravação da Academy of St. Martin-in-the-Fields, sob a regência de Neville Marriner, mas quem se aventurar a navegar por estas novas águas e ouvir esta gravação feita em Londres, em março deste ano (2022), será recompensado pela habilidade dos músicos em realizar tudo o que Haydn preparou para impressionar o príncipe e sua corte. Sem esquecer também a espetacular produção do selo Channel Classics.
Ashley Solomon é flautista e regente da orquestra Florilegium que atua há muitos anos e grava para o selo Channel Classics desde 1995. Com bastante flexibilidade, o grupo conta com excelentes músicos, como Bojan Čičič (violino), Jennifer Morsches (violoncelo), Reiko Ichise (viola da gamba) e Terence Charlston (cravo/órgão).
Solomon’s luminous tone and unfussy command of the complicated melodies conflate into something utterly beautiful. Slow movements are soulful in their infinite variety, fast ones are clever and with a wealth of invention behind them.
Solomon coaxes lively performances out of the members of Florilegium, with the depictions of rain, lightning and thunder conjured up by Haydn in the concluding storm movement of ‘Le Soir’ sounding particularly vivid.
O ano de 1782 encontrou Haydn trabalhando para o príncipe Miklós (Nicolau) Esterházy e já no auge de sua maturidade como compositor. Nessa época ocorre a publicação de seus Seis Quartetos Op. 33, pela firma Artaria, de Viena, que estabelece um nível altíssimo para esse gênero. É também dessa época o Concerto para Piano em ré maior, sua última composição desse tipo, que foi publicado em 1784. Assim como os concertos contemporâneos de Mozart é uma peça no Estilo Galante e uma das melhores. O seu último movimento, um Rondó Húngaro, tem todas as características do que Haydn fazia de melhor…
A orquestra em frente ao Musikkollegium esperando o pessoal do PQP Bach que viria para fazer umas entrevistas…
Enquanto Haydn vivia e produzia no palácio Hesterhaza, em 1782 Mozart estava finalmente em Viena, fora dos muros de Salzburgo. Neste ano, em 16 de julho, estreia no Burgtheater a ópera (deliciosa) Die Entführung aus dem Serail. O Concerto em lá maior, K. 414, foi composto no outono, junto com seus irmãos K. 413 e 415 (Nos. 11 – 13) como parte das obras a serem apresentadas para o público de Viena nos Lenten Concertos (Concertos do Período da Quaresma, quando os teatros de ópera ficavam fechados), em janeiro de 1783. O Concerto No. 12 tem em seu movimento lento a menção de um tema de Johann Christian Bach, o Bach de Londres, que morrera no início do ano, e era muito admirado por Mozart.
O piano do PQP Bach Lounge deixou o Wong de cabeça para baixo…
O disco completo deve conter mais uma Sinfonia e outras peças orquestrais, mas os Concertos e uma minúscula peça para piano solo foi o que consegui. Demorei um pouco até chegar ao disco, mas depois que o ouvi, gostei tanto que tenho o ouvido com alguma frequência agora. Como vocês sabem, quando isso acontece, acabo trazendo para vocês também aproveitarem. O See Siang Wong é ótimo, muito simpático e foi aluno do Bruno Canino no Hochschule der Künste Bern.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano No. 11 em ré maior, Hob. XVIII: 11
Mozart e Haydn se conheciam e tinham uma alta estima mútua. Há também relatos de ocasiões nas quais ambos tomaram parte de concertos de música de câmara. Dizem os detratores que eles tocavam bem viola…
Aproveite!
René Denon
PQP Bach – Quizz: Quem é o músico tocando viola na foto a seguir?
Complementamos a postagem dessa caixa essencial de Haydn, na leitura de Alfred Brendel, com seus dois últimos CDs.
O Franz de Haydn é o nome de santo de Haydn (batizado Franciscus Josephus Haydn), e que era dado, conforme costume da época, em homenagem ao santo celebrado no dia de seu batismo (São Francisco de Paula, 2 de abril). Esse prenome quase nunca usado pelo próprio compositor, que invariavelmente se assinava “Joseph” ou “Giuseppe Haydn”. Um leitor apontou isso num comentário à postagem original e eu, que não fazia a menor ideia do assunto, resolvi aceder. Assim, mantemos a coerência com a prática que nos leva a chamar a pessoa batizada Johannes Chrysostomus Wolfgangus Teophilus Mozart, nascida no dia de São João Crisóstomo (27 de dezembro), de Wolfgang Amadeus Mozart.
Vassily
POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH EM 18/2/2010
Eis então os dois CDs que faltavam para essa série do grande pianista Alfred Brendel interpretando Haydn. Trata-se de uma série conceituadíssima, que não pode faltar na discoteca dos amantes da obra do mestre austríaco.
Enfim, para tornar mais agradável este feriadão eis os dois últimos cds desta excelente série da Philips.
IM-PER-DÍ-VEL !!!
Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Piano Sonatas – Alfred Brendel (Parte 2 de 2)
Alfred Brendel, piano
CD 3
01 – Sonata in C, Hob. XVI_48 – 1. Andante con espressione
01 – Sonata in C, Hob. XVI_48 – 2. Rondo (Presto)
02 – Sonata in D, Hob. XVI_51 – 1. Andante
03 – Sonata in D, Hob. XVI_51 – 2. Finale (Presto)
04 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 1. Allegro
05 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 2. Adagio
06 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 3. Allegro molto
CD 4
01 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 1. Allegro
02 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 2. Adagio
03 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 3. Finale (Presto)
04 – Sonata in G, Hob. XVI_40 – 1. Allegretto e innocente
05 – Sonata in G, Hob. XVI_40 – 2. Presto
06 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 1. Allegro con brio
07 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 2. Largo e sostenuto
08 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 3. Finale (Presto, ma non troppo)
09 – Andante con variazioni in F minor, Hob. XVII_6
Dia desses alguém pediu ao nosso SAC a repostagem desta excelente gravação de Brendel. Atendemos prontamente, pois acreditamos que ela não possa faltar em qualquer discografia.
Vassily
Postagem original de FDP Bach:
Minha vida anda muito corrida, e com esse calor que fez nos últimos dias não tenho vontade de fazer nada, desculpem, nem respondo meus emails. Aliado à isso, estou com problemas de saúde na família, então, a vontade de responder se resume a nenhuma.
Essa série do Brendel tocando Haydn já está no rapidshare há algum tempo. São quatro cds, estou postando dois, e outra hora coloco os outros dois.
Material de primeira linha, poderia classificá-lo facilmente como IM-PER-Dí-VEL. Divirtam-se.
Franz-Joseph Haydn – 11 Piano Sonatas (Parte 1 de 2)
Alfred Brendel, piano
CD 1:
1. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 1. Moderato
2. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 2. Andante con moto
3. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 3. Finale. Allegro
4. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 1. Allegro
5. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 2. Adagio e cantabile
6. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 3. Finale. Tempo di minuetto
CD 2:
1. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 1. Presto
2. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 2. Adagio
3. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 3. Vivace molto, innocentemente
4. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 1. Allegro moderato
5. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 2. Menuet. Tempo di menuet
6. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 3. Finale. Presto
7. Keyboard Sonata in D major, H. 16/42: 1. Andante con espressione
8. Keyboard Sonata in D major, H. 16/42: 2. Vivace assai
9. Fantasia (Capriccio) for piano in C major, H. 17/4
O disco desta postagem já apareceu PQP Bach em 27 de fevereiro de 2013. Foram duas as postagens feitas naquele dia, segundo palavras do Presidente-Diretor, o próprio PQP Bach, autor da postagem de então. Ele gostou do disco, confiram lá!
Rafal Blechacz, pianista do dia…
De qualquer forma, os links não estão mais ativos, há muito sumidos com o vanished rapidshare. Como gostei bastante, tratei de dedicar-lhe nova postagem, que aqui vai.
Ele reúne três sonatas para piano de três compositores clássicos, que viveram partes de suas vidas em Viena e, de certa forma, se conheceram bem uns aos outros, apesar de Beethoven e Mozart terem se encontrado pessoalmente muito brevemente.
As sonatas são representantes do gênero clássico e trazem características deste período, mas as similaridades acabam por aqui. Elas foram compostas em momentos totalmente diferentes nas carreiras de cada um deles e cada uma delas revela em parte as personalidades de seus criadores, que não poderiam ser mais diferentes.
A Sonata em mi bemol maior, Hob. XVI: 52 (Hoboken), também conhecida pela numeração L. 62 (Landon), é a última sonata para piano composta por Haydn, em 1794, no seu último período criativo. Ele estava no auge da fama, já aposentado dos serviços à família Esterházy, viajando para Londres a convite do empresário J.P. Salomon. A sonata foi dedicada à pianista inglesa Therese Jansen, de quem foi padrinho de casamento e a quem dedicou os Trios com Piano Hob. XV: 27-29.
Esta é possivelmente a sonata mais conhecida de Haydn e merece a fama. As características de bom humor e ótimo gosto estão presentes e eu fiquei muito impressionado com a transição do segundo (Adagio) para o terceiro movimento (Presto) nesta interpretação do Rafal Blechacz, em geral mais identificado com o repertório romântico, como a música de Chopin.
A Sonata em lá maior, op. 2, 2 faz parte do primeiro grupo de sonatas para piano que Beethoven publicou e foi dedicada a Haydn, de quem Beethoven foi ‘aluno’. Apesar do baixo número de opus, ela foi composta em 1796, quando Beethoven tinha 26 anos e algumas sonatas para piano em seu portfólio. É bom lembrar também que Beethoven oscilou, no início de sua carreira, entre intérprete e compositor. Naqueles dias sua fama recaia principalmente em seus talentos como improvisador. A sua sonata já se distingue das demais no disco por ter quatro movimentos, sonata grande, com um brincalhão scherzo seguindo o Largo appassionato, Beethoven sempre quebrando o clima, e é arrematada por um gracioso rondó.
A última sonata do disco é a mais antiga delas, Sonata em ré maior, K. 311, composta por Mozart em 1777 em sua estada em Augsburg e Mannheim, no caminho de Paris. Ela foi publicada lá, em conjunto com as Sonatas K. 309 e 310 e são de um período intermediário do compositor. O primeiro movimento é o que eu considero um exemplo de música líquida, devido à sua fluidez, especialmente na interpretação de Rafal Blechacz. Com sua elusiva simplicidade, é uma típica obra de Mozart – que nos conquista sem que saibamos por que, basta ouvir e sorrir.
Rafał Blechacz has been named the 2014 PQP Bach Artist…
Textural transparency, expressive economy, creative inspiration, high humour and strategically placed silences characterise these three Haydn, Beethoven and Mozart sonatas, as well as Rafal Blechacz’s splendid, beautifully recorded interpretations. […] . In short, Blechacz’s third solo release (his second for DG) is by far his strongest yet.
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou desta postagem, poderá se interessar por estas outras.
Aqui, sonatas de Beethoven intercaladas com sonatas de Beethoven…
Um CD delicioso, tremendamente agradável de se ouvir, com árias maravilhosas. Já o tenho há algum tempo, e já tinha pensado em postá-lo ano passado, mas agora a ocasião é mais propícia, já que estou lhes proporcionando uma overdose de Haydn. Trata-se de uma Cantata, composta por encomenda, em homenagem aos cinquenta anos de vida monástica do Abade da Abadia Cisterciense de Zwettl. Ou seja, sendo uma obra comemorativa temos uma música alegre e festiva. O booklet traz o libreto e um pequeno histórico da obra, além de biografias dos solistas e do regente. E por falar neles, temos ótimos solistas e uma excelente orquestra dirigida por um especialista no repertório barroco e do classicismo, Andreas Spering, que fazem deste CD uma excelente companhia para estes dias frios e chuvosos do feriadão. Para quem gosta da obra coral e vocal de Haydn temos nesta cantata todos os ingredientes para satisfazê-los.
Franz Joseph Haydn (1732-1809): Applausus – Jubilaeum Virtutis Palatium (Spering)
01 – 6a Recitativo_ ‘Prima fueram’
02 – 6b Aria_ ‘Rerum, quas perpendimus’03 –
7a Recitativo_ ‘Jubilae est’
04 – 7b Aria_ ‘O beatus incolatus’
05 – 8a Recitativo_ ‘ Ad vos convertirmur’
06 – 8b Coro_ ‘O Caelites, vos in vocamus’
Composed By – Joseph Haydn
Conductor – Andreas Spering
Ensemble – Capella Augustina
Oboe – Susanne Regel
Vocals [Fortitudo] – Johannes Weisser
Vocals [Justitia] – Donát Havár
Vocals [Prudentia] – Marina De Liso
Vocals [Temperantia] – Anna Palimina
Vocals [Theologia] – Andreas Wolf
Grigory Sokolov tocando Haydn e Schubert no salão do antigo palácio dos Esterházy, onde Haydn viveu e tocou por boa parte de três décadas, numa gravação ao vivo feita em um único dia, sem truques de estúdio posteriores? É claro que é IM-PER-DÍ-VEL!
Um disco novo de Sokolov – que há décadas não entra num estúdio e só consente, vez que outra, lançamentos comerciais das gravações de seus recitais – é sempre um evento tremendo, e nossa postagem de hoje, fazendo eco a essa excepcionalidade, será repartida entre dois autores. Assim, Vassily comentará o corpo principal do recital, e Pleyel, seus generosos bises, que são quase um programa à parte.
Vassily: O profundo respeito com que Grigory Sokolov empenha sua virtuosidade a serviço dos compositores tem, nesse recital, uma camada adicional de reverência. Afinal, poucos locais são mais haydnianos que a Haydnsaal, esplendorosamente barroca e acusticamente perfeita, no coração do Palácio Esterházy de Eisenstadt, onde o Mestre de Rohrau passou parte significativa de seus trinta anos como Kapellmeister dos príncipes, e na vizinhança da capela da Bergkirche em que repousa para sempre.
Joseph de butuca [foto de Vassily]
Por reverência, também, Sokolov inicia o recital a tocar sem interrupções três das sonatas para piano de Haydn – todas em tonalidades menores -, pedindo à audiência que se abstenha de aplaudir entre uma peça e outra. O que ouvimos, sem qualquer surpresa, é pianismo de primeira: fraseado meticuloso, articulação precisa, rico colorido timbrístico. Há, sobretudo, respeito: atento às indicações Moderato, Sokolov furta-se à prestidigitação que infesta muitas leituras desse repertório e saboreia a realização de cada frase. Ouvintes acostumados a um Haydn mais temperamental e sublinhado por rompantes de humor, como o das notáveis gravações de Brendel (aqui e ali) e Lewis (lá e acolá), poderão ter a impressão de frigidez. Quem ama o piano, e principalmente aqueles que já tentaram tirar dele qualquer som que preste, ficará embevecido: as três sonatas passam voando, e a gravação é tão boa que precisamos da torrente de aplausos da plateia e de umas poucas e desimportantes derrapadas do mestre para nos lembrarmos de que ela foi feita ao vivo.
A Haydnsaal sem Sokolov [foto de Vassily]
A escolha de obras de Schubert para prosseguir o recital também foi reverente ao Mestre de Rohrau: em outubro de 1828, Eisenstadt foi o destino de uma curta peregrinação de Franz, acompanhado de seu irmão, ao túmulo de Haydn na Bergkirche, na última das poucas vezes em que deixou Viena, onde morreria no mês seguinte. Essa intersecção melancólica entre os rumos de Schubert e a cidade reflete-se na leitura constrita e pianisticamente maravilhosa dos improvisos, D. 935. Depois de voltar a ouvir a gravação que deles fez Radu Lupu (a minha favorita) para escrever sua eulogia, na semana passada, senti falta de um tanto de calidez ao retornar à interpretação de Sokolov. Não é uma queixa, todavia: a moderação, mais uma vez, permite-lhe burilar cada peça e liberar comedidamente a tensão, em especial nos dois primeiros improvisos, que remetem ao Schubert transcendental das últimas sonatas para piano. O terceiro, na forma de variações, é notável pela naturalidade com que a execução propõe ao tema suas várias roupagens – uma transformação gradual, e não uma comédia de episódios, como só conseguem os grandes pianistas -, enquanto no quarto, com a indicação Allegro scherzando, Sokolov despende energia como que para fazer o ouvintes pularem da cadeira, ao final do recital.
A Bergkirche em Eisenstadt [foto de Vassily]
Pleyel:
Os bises dos recitais de Sokolov foram se tornando lendários entre os fanáticos por piano da Europa – e digo da Europa porque Sokolov não é muito de viajar e, ao que consta, não tem visto americano [nota de Vassily: nem britânico].
Se pensarmos em alguns pianistas mais ou menos da geração de Sokolov e igualmente geniais, lembraremos que Martha Argerich só toca sozinha por obrigação, fazendo como bis peças curtinhas, quase sempre as mesmas: um Scarlatti, um Schumann ou um Chopin, contrastando com seu imenso repertório de música de câmara. E que Maurizio Pollini costuma deixar plateias boquiabertas ao tocar de bis alguns dos estudos mais difíceis e impressionantes de Chopin, além da Balada nº 1. Enquanto nos recitais de Antonio Guedes Barbosa eram as valsas do polonês que apareciam como brinde.
Mais parecidos com os bises de Sokolov eram os de Nelson Freire: algumas peças virtuosísticas e brilhantes (Villa-Lobos: O Ginete do Pierrozinho, Debussy: Poissons d’or) mas sobretudo pequenas imersões saborosas no mundo sonoro de compositores raramente ouvidos nas salas de concerto. No caso de Freire, além de seu bis mais frequente, a Melodia da ópera Orfeu de Gluck em arranjo de Sgambati, ele também cultivava pequenas flores como um Noturno do polonês Paderewski e a inocente Jeunes filles au jardin do catalão Mompou.
No caso de Sokolov, uma figurinha fácil em seus bises, mas rara nos de outros grandes pianistas, é o barroco francês de Rameau: mais do que uma oportunidade de impressionar o público após o programa principal, o pianista parece buscar aqui uma chance de mostrar, em apenas 3 minutos, um mundo sonoro bastante diferente daqueles de Haydn e Schubert. Mas este último reaparece logo depois com uma melodia húngara, seguida de um dos prelúdios mais lentos do grupo de 24 de Chopin. A intenção parece ser a de transportar o público por atmosferas contrastantes, como nos bises de seu famoso recital em Salzburgo também lançado pela DG, em que Sokolov misturou dois poemas de Scriabin e duas mazurkas de Chopin, tocados alternados, para finalizar com uma outra peça curta de Rameau e um coral de Bach.
Na Haydnsaal em 2018, o bis de Sokolov prossegue com um daqueles nomes que dificilmente ouvimos na parte principal do recital: aqui é um contemporâneo quase exato de Schubert, Alexander Griboyedov (1795-1829), compositor russo que estudou com o irlandês John Field, o primeiro a compor noturnos para piano. E após a valsa mais ou menos previsível de Griboyedov, vem um dos prelúdios mais introspectivos de Debussy, um dos mais improváveis para finalizar um recital que teve como prato principal as sonatas de Haydn.
Grigory Sokolov:
Joseph Haydn:
Sonata No.32 in G minor Hob.XVI:44
Sonata No.47 in B minor Hob.XVI:32
Sonata No.49 in C-sharp minor Hob.XVI:36
Franz Schubert:
4 Impromptus op. posth.142 D 935
Encores
F. Schubert: Impromptu A-Flat major op.90 No.4 D 899
J.-F. Rameau: “Le Rappel des oiseaux”
F. Schubert: “Ungarische Melodie” D 817
F. Chopin: Prelude D-Flat major op.28 No.15
A. Griboyedov: Waltz E minor
C. Debussy: “Des pas sur la neige”, Prelude from Book 1 No.6 (L 117 No.6)
Recorded on August 10, 2018
Haydnsaal at Schloss Esterházy in Eisenstadt, Austria
Encontrei essa gravação na bagunça mais ou menos organizada de um HD externo. Tinha esquecido dela. Estava guardada em uma subpasta dedicada aos Kuijken, em uma pasta que dedico a intérpretes. E a identificação da pasta era realmente impossível de entender. Não sei o que eu pensava na época em que armazenei esse CD naquele HD externo. Enfim …
Mas toda essa introdução confusa serviu apenas para dizer, no final das contas, que temos aqui uma gravação inestimável, imperdível, com certeza. Tudo funciona às mil maravilhas. A sonoridade da Petite Bande dirigida por Sigiswald Kuijken é única, adoro essa orquestra. Mas o destaque com certeza fica com o solista, Hidemi Suzuki, um espanto como esse homem toca. A forma com que ele consegue extrair novas possibilidades destes já tão conhecidos concertos de Haydn mostra um intérprete ciente de sua capacidade e maturidade.
Franz-Joseph Haydn (1732-1809): Cello Concerto no.1 in C-major
01. I. Moderato
02. II. Adagio
03. III. Allegro molto Cello Concerto no.2 in D-major
04. I. Allegro moderato
05. II. Adagio
06. III. Allegro Sinfonia Concertante
07. I. Allegro
08. II. Andante
09. III. Allegro con spirito
Hidemi Suzuki – Cello
Ryo Teraokado – Violin (Sinfonia Concertante)
Patrick Beaugiraud – Oboe (Sinfonia Concertante)
Marc Vallon – Fagott (Sinfonia Concertante)
La Petite Bande
Sigiswald Kuijken – Conductor
PS. Em recente votação durante um almoço na sede da PQP Bach Corp., nossa equipe elegeu por aclamação as gravações das sinfonias de Haydn por Kuijken como as melhores já postadas aqui neste blog. Você já ouviu?
Teofil Danilovich Richter (1872–1941), pai de Sviatoslav, foi um pianista, organista e compositor, de família alemã, que estudou no Conservatório de Viena e deu aula muitos anos no Conservatório de Odessa, atualmente na Ucrânia.
Na Segunda Guerra Mundial, como o pai de Sviatoslav Richter era alemão, ele estava sob suspeita das autoridades e foi feito um plano para que a família fugisse do país. Envolvida com um outro homem, sua mãe não queria sair e assim eles permaneceram em Odessa. Em agosto de 1941, seu pai foi preso e considerado culpado de espionagem, sendo condenado à morte em 6 de outubro de 1941. Não era difícil conseguir uma sentença de morte no regime stalinista. E não é preciso ser um discípulo de Freud para supor que alguém com essa história familiar se tornaria uma pessoa excêntrica, neurótica, peculiar…
Após se tornar famoso mundialmente e receber aplausos e gravações em Moscou, Londres, Praga, Nova York etc., Richter passaria suas últimas décadas frequentando cidades muito menores como Aldeburgh (Inglaterra), la Grange de Meslay, no vale do Loire (França), Ludwigshafen am Rhein (Alemanha). Ele pedia que os palcos fossem menos iluminados, dizendo que assim o público prestaria mais atenção na música do que em assuntos irrelevantes como as expressões faciais e gestos do pianista.
É comum que músicos idosos e respeitados tirem do seu repertório alguns compositores e voltem seu foco para alguns que tocam mais fundo em seu coração, afinal, já não precisam mais provar nada pra ninguém. É o caso, por exemplo, de Nelson Freire que, quando velho, tirou de seu repertório orquestral alguns concertos como os de Liszt, Tchaikovsky e Bartók, se concentrando sobretudo nos concertos de Brahms, no 2º de Chopin e nos dois últimos de Beethoven: ele tocou inúmeras vezes cada um desses nos seus últimos 20 anos de carreira. E nos recitais solo, Freire de barba grisalha raramente saiu do palco sem tocar algo de Chopin, compositor que ele parece ter admirado cada vez mais ao longo dos anos.
Nos concertos do velho Richter com orquestra, por outro lado, surgem obras raras do repertório como o concerto de Gershwin e o 5º de Saint-Saens. Nos recitais solo de Richter, ao contrário de Freire, Chopin foi ficando raro: nos anos 90, segundo as listas dos richterófilos, não há registro de que o russo tenha tocado os Scherzos, os Prelúdios, os Estudos, a Barcarolle, mas sobra uma obra grandiosa, a Polonaise-Fantaisie.
E o pianista russo (ucraniano de nascimento) parece ter tido um reencontro tardio com a música de Ravel: obras que não apareciam nos seus programas de recitais desde os anos 1960 ressurgem a partir de 1992 e ocupam boa parte de um dos álbuns ao vivo dessa série da Live Classics. Importante ressaltar que cada CD se dedica a uma só noite, ao contrário de outras edições que fazem colagens.
Também aparecem alguns russos no repertório: não os Quadros de uma Exposição de Mussorgsky, cavalo de batalha de Richter quando jovem, nem Shostakovich nem Stravinsky. Os escolhidos nesses recitais de 1992 e 94 são Prokofiev e Scriabin. O pianista e professor José Eduardo Martins fez uma recente homenagem, em seu blog, aos 150 anos de Scriabin. Diz ele:
Se as criações de Chopin (1810-1849) exerceram influência na escrita de Scriabine, não desprovida das raízes russas, mas sem cariz popular, seria contudo mais acentuadamente a partir do início do século XX que o compositor-pensador empreenderá um caminho singular, personalíssimo (aqui e aqui). Caminho que já aparece discretamente nas Mazurkas op. 40 (1903) e de forma escancarada no Poème-Nocturne op. 61 (1912) e na Sonata nº 7, op. 64 (1912). Noturno, como sabemos, é um gênero tão associado a Chopin quanto a Mazurka. Scriabin escreveu alguns Noturnos curtos e chopinianos quando mais jovem, mas esse Poema-Noturno escolhido por Richter é bem mais longo e já cheio do clima misterioso do compositor russo, com curtas frases seguidas por rápidos cromatismos ascendentes ou descendentes. Segundo J.E.Martins, são motivos curtos neurótico-obsessivos, que vão se acentuando conforme o compositor chega à maturidade. Richter, o pianista famoso por sua construção sólida de longas frases nas sonatas de Beethoven, Brahms e Schubert, se adapta surpreendentemente bem a esse clima noturno-neurótico de Scriabin, clima no qual algumas notas são cuidadosamente aproximadas e alcançadas para em seguida se quebrarem em dissonâncias.
Debussy e Ravel, é claro, eram compositores de música mais solar, menos noturna, mas ao tocá-los depois de Scriabin, ficam evidentes as semelhanças na linguagem dessas obras do comecinho do século XX. Se as gravações dos Prelúdios de Debussy por Richter não me empolgam tanto, aqui o pianista septuagenário emerge profundamente no mundo de Debussy e sobretudo no de Ravel com seus pássaros tristes, seu barco no oceano, sua alvorada e seu vale de sinos (Oiseaux tristes, Une Barque sur l’Océan, Alborada del gracioso, Vallée des cloches).
E as sonatas de Beethoven, essas pelo jeito nunca estiveram distantes do coração e dos dedos de Richter (aliás os 3 B’s estiveram nos seus programas do início ao fim da carreira). Aqui ele toca a penúltima sonata de Beethoven, uma obra madura interpretada por um Richter maduro que sabia aquilo de trás pra frente mas sempre trazia um algo mais de emoção nessa sonata. Ainda mais considerando que ele havia dedicado o recital à memória de sua amiga pessoal de longa data, a atriz e cantora alemã Marlene Dietrich (Berlim, 27 de dezembro de 1901 — Paris, 6 de maio de 1992).
Sviatoslav Richter – Out of Later Years Vol. 2
01. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Allegro ma non troppo
02. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Scherzo – Allegretto Marcato
03. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Andante
04. Prokofiev: Klaviersonate Nr. 2 D-Moll Op.14, Vivace
05. Scriabin: Klaviersonate Nr.7 Op.64 – Allegro
06. Ravel: Valses nobles et sentimentales
07. Ravel: Miroirs, Noctuelles. Très Léger
08. Ravel: Miroirs, Oiseaux tristes. Très Lent
09. Ravel: Miroirs, Une Barque sur l’Océan. D’un Rythme Souple
10. Ravel: Miroirs, Alborada del gracioso. Assez Vif
11. Ravel: Miroirs, La Vallée des cloches. Très Lent Sviatoslav Richter – piano Ludwigshafen, 1994-05-19
Sviatoslav Richter – Out of Later Years Vol. 3
01. Haydn: Andante con variazioni in F minor H17-6
02. Beethoven: Sonata No.31 in A flat major Op.110 – I Moderato cantabile
03. Beethoven: Sonata No.31 in A flat major Op.110 – II Allegro molto
04. Beethoven: Sonata No.31 in A flat major Op.110 – III Andante molto cantabile
05. Chopin: Polonaise-Fantaisie in A flat major Op.61
06. Scriabin: Mazurka Op.40 No.1 in D flat major
07. Scriabin: Mazurka Op.40 No.2 in F sharp major
08. Scriabin: Poème-Nocturne Op.61
09. Debussy: L’isle joyeuse
10. Ravel: Miroirs, La Vallée des cloches. Très Lent Sviatoslav Richter – piano München (Munich), 1992-05-16
Eis um CD adorável para se ouvir em um sábado de tarde, no primeiro dia de suas férias, assim podendo relaxar para melhor poder apreciar. Quando se fala em interpretação historicamente informada logo nos vem os nomes de Harnoncourt e seus fiéis parceiros, os irmãos Kuijken. Olhando as gravações que já postamos desses irmãos o nome que mais se destaca é o do irmão violinista, Sigiswald, infelizmente relegando a um segundo plano o irmão flautista, Barthold. Mas que família talentosa, não acham ???
Este Cd que ora vos trago pertencia à coleção Vivarte, da gravadora Sony, que muito nos brindou com gravações excepcionais, que iam do barroco ao romantismo, mas sempre do viés do historicamente informado. Temos aqui Concertos para Flauta compostos por contemporâneos de Mozart e de Haydn, e claro, de Beethoven. Stamitz, Xavier-Richter, Haydn, Gluck, compositores do período clássico. Não temos Mozart, o que é uma pena.
O Grupo Tafelmusik acompanha Barthold com a mesma eficiência e categoria de sempre dirigido pela violinista Jeanne Lamon, recentemente falecida, nos brinda com uma direção segura, correta, sem se deixar cair em armadilhas. Espero que apreciem, eu gostei bastante.
Concerto For Flute, Strings, 2 Oboes, 2 Horns And Basso Continuo In G Major, Op. 29
Composed By – Carl Stamitz
1 I. Allegro
2 II. Andante Non Troppo Moderato
3 III. Rondo – Allegro
Concerto For Flute, Strings And Basso Continuo In E Minor
Composed By – Franz Xaver Richter
4 I. Allegro Moderato
5 II. Andantino
6 III. Allegro Non Troppo Presto
Concerto For Flute, Strings And Basso Continuo In G Major
Composed By – Johann Stamitz
7 I. Allegro
8 II. Adagio
9 III. Presto
Concerto For Flute, Strings, 2 Horns And Basso Continuo In D Major
Composed By – Joseph Haydn, Leopold Hofmann
10 I. Allegro Moderato
11 II. Adagio
12 III. Allegro Molto
13 Orphée Et Eurydice ; Ballet Des Ombres Heureuses
Composed By – Christoph Willibald Gluck
FDP: Vamos então concluir esta coleção com chave de ouro, trazendo “Die Sieben letzten Worte unseres Erlöseres am Kreuze”, ou seja, As Sete últimas palavras de Cristo na Cruz, e a belissima “Schöpungsmesse”, a Missa da Criação, que cita algumas frases musicais desse imenso oratório.
Volto a sugerir a leitura do booklet, que traz uma excelente contextualização histórica das obras gravadas magistralmente por Harnoncourt e seu Concentus musicus Wien, apoiados por este que não canso de dizer que é um dos maiores grupos corais do mundo, o Arnold Schöenberg Choir. Para os que não dominam o inglês, usem o Google Translator e um bom dicionário.
Pleyel: Quando Haydn compôs as suas últimas missas, já era uma celebridade internacional, após um sucesso estrondoso na Inglaterra com suas últimas sinfonias. Especialmente as duas últimas missas, compostas após o sucesso do oratório A Criação, que em poucos meses foi ouvido e incensado em Viena, Budapeste, Paris, Amsterdam, São Petersburgo… Em 1801 um Jornal constatava: “Nunca uma obra musical causou tamanha sensação ou teve uma audiência tão grande quanto a Criação de Haydn.”
Então o Haydn dessas últimas missas é um pouco como o Garcia Marquez após Cem anos de solidão, como Beethoven após a Nona ou Picasso após Guernica: um mestre de renome internacional, sem precisar mais provar nada pra ninguém. Imaginem o que representava, para o renome do Príncipe e da Princesa de Esterházy, ter um compositor de tal fama internacional como seu leal servidor… Foi sob o patrocínio dos Esterházy – após o período em que Haydn esteve sem patrão e foi a Londres ganhar dinheiro – que foram compostas essas seis últimas missas, entre 1796 e 1802.
Franz-Joseph Haydn (1732-1809):
CD 5
“Die Sieben letzten Worte unseres Erlöseres am Kreuze”, Hob.XX:2
01 – Intruduzione
02 – I ‘Vater, vergib ihnen’
03 – II ‘Führwahr, ich sag es dir’
04 – III ‘Frau, hier siehe deinen Sohn’
05 – IV ‘Mein Gott, mein Gott’
06 – Introduzione
07 – V ‘Jesus rufet’
08 – VI ‘Es ist vollbracht’
09 – VII ‘Vater, in deine Hande’
10 – Terremoto ‘Er ist nicht mehr’
Inga Nielsen – Soprano
Margareta Hintermeier – Mezzo Soprano
Anthony Rolf Johnson – Tenor
Robert Holl – Bass baritone
Arnold Schöenberg Choir
Concentus musicus Wien
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
CD 6
Missa “da Criação”, “Schöpungsmesse”, Hob. XXII:13, Si bemol maior
01 – I. Kyrie – Adagio
02 – Allegro moderato
03 – II. Gloria
04 – Quonian
05 – III. Credo
06 – Et incarnatus
07 – Et resurrexit
08 – IV. Sanctus
09 – V. Benedictus
10 – VI. Agnus Dei
11 – Dona nobis pacem
FDP: Sempre fico impressionado com a qualidade dos corais haydnianos, desde a primeira vez que ouvi o oratório “A Criação” e aquela que considero sua obra máxima, “As Estações” (sim, podem jogar as pedras para dizer que estou maluco e que a “Criação” é A obra absolutamente imbatível do repertório haydniano) que postei aqui já há alguns anos atrás, e cujos links já devem ter ido pras cucuias, como dizem aqui pelo sul. Mas isso é outra história, porque o que temos aqui é a magnífica “Harmoniemesse”, e para variar, Harnoncourt e sua troupe dão um show.
Pleyel: Os corais em latim das missas Haydn são realmente divinos. Porém, na cantata secular em italiano “Qual Dubbio Ormai?” (Qual dúvida agora?) o coro chega só no último movimento, dá a impressão de que se atrasaram e chegaram na festa já quando a comida estava esfriando. O destaque dessa cantata é a ária para soprano com cordas e uma elaborada parte para teclado obbligato, tocada por um órgão nesta gravação do Concentus musicus Wien. Essa cantata, o Te Deum e o Stabat Mater, são obras de quando Haydn tinha seus trinta e poucos anos, enquanto a “Harmoniemesse”, ele escreveu aos setenta. O nome da missa não foi dado por Haydn: vem da grande quantidade de instrumentos de sopro na orquestração, pois uma “Banda de Harmonia” era o nome alemão para um conjunto de sopros. Naquele momento (1802) o Príncipe Esterházy tinha recontratado os músicos (dois clarinetista, dois fagotistas, etc) que haviam sido dispensados uns anos antes em um momento de relativa pindaíba da família, momento em que Haydn foi duas vezes a Londres ganhar uns trocados de outros patrões e o resto é a história das suas últimas sinfonias (1791-95).
O Stabat Mater, de 1767, tem características da fase de Haydn chamada Sturm und Drang, marcada por forte expressividade e contrastes. A obra foi publicada em Paris e Londres, com cópias também em Madri e Itália. Foi, portanto, um dos primeiros sucessos internacionais de Haydn.
Franz-Joseph Haydn (1732-1809): CD 3 Harmoniemesse, Missa Hob.XXII:14, Si bemol maior
01 – Kyrie
02 – Gloria In Exelsis Deo
03 – Gratias Agimus Tibi
04 – Quoniam Tu Solas Credo
05 – Credo In Unum Deum
06 – Et Incarnatus Est
07 – Et Resurrexit Tertia Die
08 – Sanctus
09 – Benedictus Agnus Dei
10 – Agnus Dei
11 – Dona Nobis Pacem Cantata “Qual Dubbio Ormai?, Hob.XXIVa:4
12 – Recitativo accompagnato: Qual dubbio ormai?
13 – Aria: Se ogni giorno Prence invito
14 – Recitativo Saggio il pensier
15 – Coro: Scenda propzio un raggio Te Deum, Hob.XXIIIc:1, Dó maior
16 – Te Deum Laudamus
17 – Te Ergo Quasumus
18 – Aeterna Fac Cum Sanctis Tuis
Eva Mei – Soprano
Elizabeth von Magnus – Mezzo Soprano
Herbert Lippert – Tenor
Oliver Widmer – Bass baritone
Arnold Schoenberg Choir
Concentus musicus Wien
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
CD 4 Stabat Mater, Hob.XXbis
01 – Stabat Mater Dolorosa
02 – O Quam Tristis Et Afflicta
03 – Quis Est Homo
04 – Quis Non Posset Contristari
05 – Pro Peccatis Suae Gentis
06 – Vidit Suum Dulcem Natum
07 – Eia Mater, Fons Amoris
08 – Sancta Mater, Istud Agas
09 – Fac Me Vere Tecum Flere
10 – Virgo Virginum Praeclara
11 – Flammis Ocri Ne Succedar
12 – Fac Me Cruce Custodiri
13 – Quando Corpus Morietur
14 – Paradisi Gloria
Barbara Bonney – Soprano
Elizabeth von Magnus – Mezzo Soprano
Herbert Lippert – Tenor
Alaistair Miles – Bass Baritone
Arnold Schoenberg Choir
Concentus musicus Wien
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
FDP: Fontes seguras me contaram que a “Nelsonmesse” seria a favorita de PQPBach, que continua em suas férias sabáticas, refletindo sobre o futuro do blog. Mas se for, podemos dizer que o gosto requintado e refinado de nosso mentor intelectual continua apurado. Com certeza, essa missa é uma das mais belas obras de Haydn. E nas mãos de Harnouncourt, e com as vozes do “Arnold Schoenberg Choir” fica ainda mais bela.
Gostaria também de lembrar que nosso querido Nikolaus Harnoncourt é um descendente direto dos Habsburgo, a família real que governou o Império Austro-Húngaro por mais de 200 anos. Abaixo dos Habsburgo, estava a família dos Príncipes de Esterházy, donos de imensas terras ali na região da atual fronteira entre Áustria e a Hungria, e que foram os principais “patrões” do mesmo Haydn, por mais de quarenta anos. Maiores detalhes e informações vão estar no excelente booklet.
Pleyel: A “Nelsonmesse” ganhou esse apelido alguns anos após sua estrreia, porque foi tocada durante a visita do Almirante Nelson a Viena em 1800. Esse Almirante inglês derrotou Napoleão na Batalha do Nilo em 1798, ano em que foi composta a missa citada. A Áustria dos Habsburgos estava sob constante ameaça de ser invadida e aquela derrota dos franceses representou um pequeno alívio. Apelidos à parte, o título que o próprio Haydn deu à obra foi Missa in Angustiis (Missa em angústia). É a única missa de Haydn em um tom menor, com um clima de ansiedade, marcado pelo trompete e percussão. Outra grande gravação é a de Trevor Pinnock/English Concert.
Franz-Joseph Haydn (1732-1809): ‘Missa in augustiis’ – “Nelsonmesse”, Hob. XXII:11
1. Kirie
2. Gloria
3. Credo
4. Sanctus
5. Bendictus
6. Agnus Dei
7. Te Deum, Hob. XXIIXc:2
Luba Organasova – Soprano
Elisabeth von Magnus – Mezzo Soprano
Deon van der Walt – Tenor
Alaistair Miles – Bass baritone
Arnold Schoenberg Choir
Concentus musicus Wien
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
FDP: Ainda dentro da minha modesta comemoração ao aniversário de Haydn, resolvi trazer mais um pacotaço do mestre austríaco, desta vez com outro mestre, descendente direto da família Habsburgo: Nikolaus Harnoncourt, recentemente falecido [em 2016, primeira repostagem desses CDs], e já devidamente reverenciado e homenageado aqui no PQPBach.
Estas missas são um dos pontos altos da imensa obra de Haydn, e Harnoncourt lhe dá a devida e merecida atenção, dirigindo seu excelente conjunto ‘Concentus Musicus Wien’ e o excepcional ‘Arnold Schoenberg Choir’ , e rodeado de excelentes solistas. Vale cada minuto de audição.
Pleyel: Estou repostando essas gravações que FDP trouxe no aniversário de 180 anos de Haydn em 2012. Já começamos com uma das minhas obras preferidas de Haydn, a Missa in tempore belli (Missa em tempos de guerra), nome escrito pelo compositor no alto da partitura. Desde 1792 os Habsburgos estava em guerra com a França Revolucionária, e em 1796, ano em que essa missa foi composta, uma estrela em ascensão chamada General Napoleão Bonaparte vencia várias batalhas na Itália e podia invadir Viena a qualquer momento. Naquela época, era estritamente proibido defender a paz, que significaria uma rendição contra aqueles bárbaros que mataram Maria Antonieta, tia do então Imperador da Áustria. Então o que Haydn fez foi dar enorme ênfase, no trecho final da missa (Agnus Dei), àquela velha frase “Cordeiro de Deus… dai-nos a paz.”
Mas é uma paz em tempos de guerra, tempos revolucionários, tempos imprevisíveis, e Haydn expressa esse clima bélico com o rufar dos tambores… Não conheço outra obra da tradição católica que utilize percussões com tanta intensidade quanto essa, que tem em alemão o apelido Paukenmesse (missa do tímpano).
Franz-Joseph Haydn (1732-1809):
01 – ‘Missa in tempore belli’ HobXXII9 c-dur – I. Kyrie
02 – ‘Missa in tempore belli’ HobXXII9 c-dur – II. Gloria
03 – ‘Missa in tempore belli’ HobXXII9 c-dur – III. Credo
04 – ‘Missa in tempore belli’ HobXXII9 c-dur – IV. Sanctus
05 – ‘Missa in tempore belli’ HobXXII9 c-dur – V. Bendictus
06 – ‘Missa in tempore belli’ HobXXII9 c-dur – VI. Agnus Dei
07 – Salve Regina HobXXIIb2 g-moll – I. Salve regina
08 – Salve Regina HobXXIIb2 g-moll – II. Eja ergo, advocata nostra
09 – Salve Regina HobXXIIb2 g-moll – III. Et Jesum
Dorothea Röschmann – Soprano
Elisabeth von Magnus – Mezzo-Soprano
Herbert Lippert – Tenor
Oliver Widmer – Bass Baritone
Arnold Schoenberg Choir
Concentus musicus Wien
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
Este recentíssimo CD traz de volta a Akademie für Alte Musik Berlin (AKAMUS), desta vez em uma ópera de Haydn. Como eu ouço meus CDs caminhando na rua, sem libreto, a impressão que me ficou foi a de “muito recitativo para poucas árias”, mas deve ser uma limitação causada por minhas condições. Bem, a ópera L’isola disabitata, de Joseph Haydn, traz um excelente quarteto de cantores. Oficialmente chamada de azione teatrale, L’isola é uma ópera séria sobre amor, perda e mal-entendidos com um final feliz, ambientada em uma exótica ilha deserta. O especial nesta ópera é que Haydn escolheu escrever acompanhamentos orquestrais para toda a obra, com recitativos fartamente orquestrados. Na partitura impressa de Haydn, muitas das elaboradas seções instrumentais foram deliberadamente cortadas, porque ele temia que exigissem muito dos músicos e que algumas audiências não fossem cultas o suficiente para apreciá-las plenamente. A Akademie für Alte Musik Berlin, liderada por Bernhard Forck, tocam esplendidamente, enquanto Anett Fritsch (Costanza), Sunhae Im (Silvia), Krystian Adam (Gernando) e André Morsch (Enrico) oferecem uma bela e virtuosística entrega vocal. A Akademie für Alte Musik Berlin é um dos melhores conjuntos de instrumentos de época da atualidade, sem dúvida, e este CD é mais uma comprovação do fato.
F. J. Haydn (1732-1809): L’isola disabitata (Bernhard Forck, André Morsch, Anett Fritsch, Sunhae Im, Krystian Adam & Akademie für Alte Musik Berlin)
01. Overture
02. Recitative : Qual contrasto non vince
03. Recitative : Ah germana! Ah Costanza!
04. Aria : Se non piange un’infelice
05. Recitative : Che ostinato dolor!
06. Recitative : Ma sarà poi, Gernando
07. Aria : Chi nel cammin d’onoro
08. Recitative : Che fu mai quel ch’io vidi!
09. Aria : Fra un dolce deliro
10. Recitative : Ah presaga fu l’alma
11. Aria : Non turbar quand’io mi lagno
12. Recitative : Non s’irriti fra’ primi
13. Aria : Come il vapor s’ascende
14. Aria : Ah, che invan per me pietoso
15. Recitative : Giacché da me lontana
16. Arietta & Recitative : Giacché il pietoso amico
17. Recitative : Ignora il caro amico le sue felicità
18. Recitative : Costanza, Costanza?
19. Quartet : Sono contenta appieno
Bernhard Forck
André Morsch
Anett Fritsch
Krystian Adam
Sunhae Im
Akademie für Alte Musik Berlin
Duas sonatas para piano, do período em que Haydn estava a serviço da família Esterházy, e mais duas compostas na época em que ele estava às voltas com as viagens a Londres. Com esta fórmula Paul Lewis nos brindou com um disco maravilhoso, postado aqui.
Lewis gostou do passeio na sede de campo do PQP Bach Club de Pomerode
Pois ele repetiu a dose, com a mesma maestria – outro ótimo disco.
As sonatas para piano de Haydn levam uma numeração dada por H. C. Robbins Landon, musicólogo especializado na obra de Haydn, e uma outra mais antiga, proveniente do catálogo Hobken. Por exemplo, temos a Sonata No. 33 (Landon) em dó menor, Hob. XVI: 20 (Hobken), de 1771, e Sonata No. 53 em mi menor, Hob. XVI: 34, de 1778 ou 1783. As outras duas sonatas do disco são as No. 61 em ré maior, Hob. XVI: 51 e No. 62 em mi bemol maior, Hob. XVI: 52, ambas de 1794. Estas duas últimas, juntas com a No. 60 em dó maior, Hob. XVI: 50, gravada no outro disco de Lewis, foram as últimas sonatas compostas por Haydn, em 1794.
Todas estas sonatas são muito lindas e aparecem também no conjunto de sonatas gravadas por Alfred Brendel em vários discos reunidos em um só volume pela Philips, outra grande referência para quem gosta deste tipo de música.
As sonatas deste disco compostas na década de 1770 são próximas das composições de CPE Bach e as outras, da década de 1790, são típicas do estilo clássico vienense, como também são as primeiras sonatas para piano de Beethoven.
Não se iluda com o relativamente baixo número no catálogo da Sonata Hob, XVI: 20, em dó menor. Ela é favorita de pianistas como Alfred Brendel e András Schiff. A sonata começa moderadamente, com um arco inquisitório que vai se resolvendo com a enorme inventividade de Haydn. Não espere uma demonstração de virtuosismo, mas aprecie a elegância e graciosidade tão plenamente realizadas por Paul Lewis.
A Sonata em dó maior, Hob. XVI: 52 é uma das Top 10 da Gramaphone – uma das escolhidas para as melhores dez sonatas para piano, ever! (Pelo menos até que o editor não decida reescrever o artigo…)
O seu movimento final é ótimo exemplo do bom humor de Haydn.
O início da Sonata em mi menor, Hob. XVI: 34 é maravilhosamente borbulhante, cheia de perguntas seguidas de respostas afirmativas, deliciosa. O adagio é seguido de um brilhante finale, molto vivace, com a mesma verve do primeiro movimento, cheio do famoso bom humor haydniano.
Graciosidade também não falta na última sonata, em dois curtos movimentos, mas cheia de novas atitudes.
Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)
Sonata para piano No. 33 em dó menor, Hob.XVI:20
Moderato
Andante con moto
Finale. Allegro
Sonata para piano No. 62 em i bemos maior, Hob.XVI:52
Esse foi olhar que Paul mandou quando perguntamos pelas gaivotas…
In 2018, Paul Lewis embarked on an exploration of one of the richest bodies of work of the Classical era: the keyboard sonatas of Haydn.
For his second volume, the British pianist tackles some of the most remarkable pieces in this vast oeuvre: the exceptionally concise Sonata in D major Hob. XVI:51, for example, which is surprisingly pre-Romantic (Schubert is not far off), or the celebrated Sonata in E flat major Hob. XVI:52, with which Haydn conferred well-nigh symphonic dimensions on the keyboard sonata for the very first time.
Piano do Joe Haydn
Se você gostou desta postagem poderá explorar também esta aqui:
Houve um tempo em que grandes pianistas e violinistas andavam sobre a terra e dominavam o planeta! Inclusive, foi nesta época que os pianos tiveram que ser reforçados, ganharam tonalidades mais escuras e os violinos eram venerados e conhecidos por nomes próprios ou apelidos. Era o período que nós, os estudiosos do que ficou registrado nas fitas magnéticas da época, mastertapes, chamamos de Período Jurássico.
Sempre que surge um registro novo, algo que se encontrava esquecido em alguma prateleira de algum estúdio ou arquivo de rádio, segue um reboliço, um frisson, um alvoroço nesta comunidade de paleantapeólogos…
Firkušný
Pois o que vos trago nesta postagem é uma série de registros deste tempo passado, mas jamais esquecido… O denominador comum é o regente, ele também uma versão de regente-jurássico, que por diversas vezes apareceu em nossas páginas, mas quase sempre em gravações comerciais regendo sinfonias… Aqui ele faz o papel de regente acompanhante, na maioria das obras – Günter Wand a frente de duas orquestras de rádios alemãs.
Explorador de arquivos jurássicos…
Os solistas, como você pode imaginar, são figuras quase míticas, principalmente pianistas, mas um violinista também, a título de diversidade. Esta conversa toda não deve causar qualquer preocupação entre aqueles que, como eu, ao ouvirem falar de grandes nomes e gravações esquecidas já antecipam chiados e pigarros das plateias, sem contar som encaixotado e tenebroso. Não será necessário colocar colete ou chapéu de antropólogo explorador para se enveredar nos arquivos sonoros, pois que o som é sempre para lá de decente.
Magaloff
Temos quatro concertos para piano, quatro ao todo, iniciando no período clássico e culminando em dois enormes cavalos de batalha.
Nikita Magaloff, conhecido por suas gravações de Chopin, aqui faz as honras a um lindo concerto de Haydn, e Rudolf Firkušný, que conhecemos aqui por outras gravações de concertos clássicos, mais uma vez toca um concerto de Mozart. E um em tonalidade menor…
Gilels
Para o grande Emperor foi escalado o lendário pianista Emil Gilels, que deixou pelo menos três registros comerciais deste concerto. Acompanhado pela Orquestra de Cleveland regida por George Szell em uma delas e outra acompanhado pela Philarmonia Orchestra, regida por Leopold Ludwig. Mas há ainda uma gravação, esta sim bem datada, com orquestra regida por Kurt Sanderling.
Bolet
Como para dar um descanso aos seus solistas, Wand rege uma (linda) Serenata de Brahms, que ensaiou bastante antes de escrever sua Primeira Sinfonia.
Avançando com os concertos, temos o mais conhecido dos concertos para piano, se não o mais amado pelos connoisseurs, o Concerto de Tchaikovsky, interpretado pelo virtuose americano de origem cubana, Jorge Bolet. Sparkling!
Outro americano, este violinista de ascendência italiana, Ruggiero Ricci, interpreta um concerto de Camille Saint-Saëns.
Ricci
Para fechar este cortejo, três lindas aberturas de óperas de Mozart…
Estas gravações foram compiladas de uma caixa na qual havia muitas outras coisas, mas o que eu gostei mais está aqui. Tenho certeza de que cada um entre os leitores poderá encontrar aqui um bom trecho de música para se deliciar e apreciar a arte destes grandes intérpretes. As outras coisas da caixa resolvemos deixar para os outros blogs mais especializados…
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano em ré maior, Hob. XVIII/11
Vivace
Un poco Adagio
Rondo all’Ungarese. Allegro assai
Nikita Magaloff, piano
NDR Sinfonieorchester
Günter Wand
Gravação de 2 de dezembro de 1985, Hamburg Musikhalle
Essa foi a cara que o Ruggiero fez quando um de nossos entrevistadores lhe perguntou se ele atuara na série dos Soprano…Rudolf disse que não estava vendo nenhum outro pianista a sua frente
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Richard Tognetti rege a Australian Chamber Orchestra tocando violino. A foto que vi me deixou bem impressionado. Parte dos músicos, como os violinistas, tocam em pé e as partituras estão dispostas em tablets. Que fusão de tecnologias, pois a orquestra pode usar instrumentos de época ou instrumentos modernos, dependendo da situação.
O disco desta postagem reúne três sinfonias do período clássico. Duas de Haydn e uma de Mozart. As Sinfonias No. 49 de Haydn e No. 25 de Mozart foram gravadas em concertos em 2013 e a Sinfonia No. 104, de Haydn, foi gravada também ao vivo cinco anos depois. Apesar de serem típicas obras do classicismo, revelam a incrível evolução do gênero em um curto espaço de tempo, muito por conta da criatividade de Haydn.
Uma ótima La Passione, esta aqui…
A Sinfonia ‘La Passione’ (maravilhosa) é de 1768, quando Mozart tinha 12 anos, e a Sinfonia ‘pequena’ em sol menor, foi escrita por Mozart, um maduro compositor de 17 anos, que saboreava o sucesso de sua ópera séria, Lucio Silla, escrita um ano antes. A Sinfonia ‘La Passione’ é um excelente exemplo das obras produzidas por Haydn em seu período Sturm und Drang.
Já a impressionante Sinfonia ‘London’ veio coroar a série de 12 sinfonias escritas por Haydn para as suas viagens a Londres, a convite do empresário J.P. Salomon, e revela o compositor de 62 anos com completo domínio de sua maestria.
Se você já conhece este repertório, certamente gostará de ouvir a interpretação deste grupo que acompanhou a maravilhosa Angela Hewitt tocando os concertos de Bach. Caso você ainda esteja iniciando sua exploração das sinfonias deste período, certamente terá aqui uma excelente opção. De qualquer forma, um disco na medida certa para o prazer de conhecedores e iniciantes…
Veja o que o pessoal andou falando dos músicos e do disco:
“Richard Tognetti and his group (ACO) produced playing of fabulous alertness and tight ensemble; if there’s a better chamber orchestra in the world today, I haven’t heard it.”
One of the inextinguishable joys of music is hearing another performance of a work you know almost by heart, and hearing something you never heard before. There’s a lot of that in these performances. Want an example? Just listen to the trio section of the third movement of the Mozart “Little G Minor” Symphony. Wow!
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Há vida após a morte. A orquestra Concentus musicus Wien – Ensemble für Alte Musik – foi criada por Nikolaus Harnoncourt bem no início de sua carreira de músico dedicado a interpretação de música antiga na forma como era tocada quando foi composta. A orquestra e seu maestro conviveram por mais de 60 anos desde o início desta jornada em busca de autenticidade.
O trabalho deles certamente contribuiu para que tivéssemos uma perspectiva mais realista da música antiga, mas o mais importante para nós, amantes da boa música, é que eles enriqueceram nossas audições com ótimas interpretações vibrantes e intensas.
Apesar do interesse em música ‘antiga’, o lema de Harnoncourt era ‘Arte é sempre nova’ (Art is always new) e esteve sempre presente em suas interpretações e reinterpretações das principais obras do repertório musical.
Pois foi com muita alegria que ouvi este disco com duas lindas sinfonias de compositores vienenses gravadas ao vivo e mostrando que a vida e a orquestra continuam sua vibrante jornada.
O novo diretor musical é o regente Stefan Gottfried e nomes ligados a orquestra, como Erich Höbarth e Andrea Bischof (membros do Quatuor Mosaïques) estão também presentes.
No programa uma sinfonia de Haydn, de seu período de maturidade, e uma sinfonia do jovem e talentosíssimo Schubert. A Sinfonia No. 99 é uma das que foram escritas para serem apresentadas em Londres nos concertos promovidos por Salomon, o empresário que promoveu duas visitas de Haydn a Londres. Esta foi estreada em 10 de fevereiro de 1794 no Hanover Square Rooms e possivelmente por influência de Mozart é a primeira das sinfonias de Haydn onde é usado clarinete na orquestração. Isso mostra que mesmo aos 61 anos, ele estava aberto a inovações.
A Sinfonia No. 5 de Schubert, apesar de ter sido composta quando o compositor ainda estava com 19 anos, mostra todo o seu talento. Apesar de uma orquestração mais modesta, sem uso de clarinete, trompete ou tímpano, talvez considerando as reais chances de ter a obra apresentada por alguma orquestra, esta obra tem uma grande afinidade com a música de Mozart.
A década de 90 foi, para Martha, desgraçadamente assombrada pela morte. Além de perder sua mãe, Juanita, e sua melhor amiga, Diane, para o câncer, ela própria viu-se acometida pelo flagelo. Desde o diagnóstico de melanoma, no início da década, até que a declararam curada, no final dela, a Rainha foi submetida a tratamentos dolorosos e duras escolhas. A mais difícil delas deu-se na recidiva, em meados da década, quando o tumor metastatizou para os pulmões e linfonodos. Foi-lhe sugerida uma cirurgia no tórax que poderia salvar a mulher, mas certamente mataria a pianista, cortando vários músculos fundamentais para sua arte. Martha escolheu submeter-se a um tratamento experimental a base de vacinas, que lhe permitiu uma operação menos radical. Deu certo e, num gesto de gratidão ao Instituto de Câncer John Wayne em Santa Mônica, Estados Unidos, onde recebeu o bem-sucedido tratamento, a Rainha voltou a subir sozinha ao palco, depois de quase vinte anos, para dar um recital em prol do Instituto para um Carnegie Hall lotado:
Naturalmente, a luta pela vida repercutiu na carreira de Martha. Sua discografia na década reflete essas imensas dificuldades pessoais – alguns anos passaram completamente em branco, sem gravações – e consolidou as tendências da década anterior: nenhum registro solo, muitas gravações de música de câmara com os velhos parceiros de sempre. Entre as novidades, a exploração de repertório novo e a colaboração estreita com Alexandre Rabinovitch em duos para piano, tocando sob sua regência, e gravando suas composições.
Não me lembro onde, mas tenho impressão de já ter lido que Martha não é muito fã de Rachmaninov. Se isso pode surpreender quem, como eu e o resto do Universo, fica de queixo caído com sua gravação do concerto no. 3 sob Chailly, também parece meio óbvio pela virtual ausência das peças solo de Rach do repertório da Rainha. Em seus recitais em duo, em compensação, Sergei Vasilyevich é figurinha fácil – e tem esse disco todinho dedicado a ele, com a primeira das muitas aparições de Alexandre Rabinovitch na discografia marthinhiana da década de 90, e a primeira das capas da Teldec em que nossa deusa parece estar no meio dum climão com quem era então su guapo.
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 1 em Sol menor, “Fantaisie-Tableaux”, Op. 5
1 – Barcarolle
2 – La Nuit….L’Amour
3 – Les Larmes
4 – Pâques
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
5 – Introduction
6 – Valse
7 – Romance
8 – Tarantella
Danças Sinfônicas, para orquestra, Op. 45
Transcrição para piano do próprio compositor
9 – Non allegro
10 – Andante con moto
11 – Lento assai
As composições de Alexandre Rabinovitch mereceriam uma postagem à parte, mas, enquanto eu os afogo com melífluas torrentes de Martha, deixo-lhes algumas amostras do que o pibe criou. Nascido e educado na União Soviética, aluno de Dmitry Kabalevsky, Rabinovitch destacou-se como pianista, tocando muita música contemporânea enquanto buscava rumo como compositor. Sua dedicação inicial à música serial, banida pelo regime soviético, foi abandonada depois que Alexei Lubimov lhe apresentou a música dos minimalistas dos Estados Unidos. Deixou o país de origem, por completa falta de perspectivas, para encontrar menos perspectivas ainda em Paris, onde Boulez reinava absoluto e deixava pouca coisa crescer a seu redor. Mudanças para Bruxelas e Genebra acabaram por colocá-lo no caminho de Martha Argerich, com quem dividiu palcos e estúdios, cigarros e dentifrícios – e que é o motivo maior para o moço aparecer por aqui. Sua música é muito interessante, sobretudo por nutrir-se de diversas referências, como poderão perceber pela obra que abre o álbum duplo a seguir, e porque seu estilo contrasta com a música “estática” que desinformados como eu muitas vezes esperam de obras minimalistas. A participação da Rainha na coletânea resume-se à gravação ao vivo da Musique Populaire, assim chamada por basear-se em temas de música popular, notória por ser, depois de meio século de vida e quase isso tanto a tocar pianos acústicos, sua primeira num instrumento plugado.
Alexandre RABINOVITCH Barakovsky (1945)
Six États Intermediaires (1998), sinfonia baseada no livro tibetano dos mortos, “Bardo Thödol” 1 – La Vie
2 – Le Rêve
3 – La Transe
4 – Le Moment de la Mort
5 – La Réalité
6 – L’Existence
Beogradska Filharmonija (Filarmônica de Belgrado)
Alexandre Rabinovitch, regência
7 – Musique Populaire (1980), para dois pianos amplificados
“Musique Populaire” gravada em Varsóvia, Polônia, abril de 1992
Num dos raros retornos a Varsóvia sem tocar Chopin, Martha não esqueceu de trazer a tiracolo seu amigo e vizinho inseparável, Mischa Maisky. A dupla ofereceu um programa inteiramente dedicado a Haydn, com o bônus de uma das poucas gravações lançadas da famosa sonatinha de Scarlatti que nossa deusa costuma tocar como bis – e como ninguém mais entre os terráqueos – para o pasmo das plateias mundo afora.
Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Hob. XVIII:11
1 – Vivace
2 – Un poco adagio
3 – Rondo all’Ungarese: Allegro assai
Orkiestra Kameralna Polskiego Radia Amadeus
Agnieszka Duczmal, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonata em Ré menor, K. 141
4 – Allegro Joseph HAYDN
Concerto para violoncelo e orquestra no. 1 em Dó Maior, Hob. VIIb/1 5 – Moderato
6 – Adagio
7 – Allegro molto
Mischa Maisky, violoncelo
Orkiestra Kameralna Polskiego Radia Amadeus
Agnieszka Duczmal, regência
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Suíte para violoncelo no. 2 em Ré menor, BWV 1008 8 – Sarabande
Da Suíte para violoncelo no. 3 em Dó maior, BWV 1009 9-10 – Bourrée I & II
Da Suíte para violoncelo no. 5 em Dó menor, BWV 1011 11-12 – Sarabande
Mischa Maisky, violoncelo
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, abril de 1992
Para alguém que idolatrava Horowitz a ponto de se mudar de mala e cuia para Nova Iorque para tentar tornar-se sua aluna, é curioso que Scriabin, um dos xodós de Volodya, estivesse fora do repertório e da discografia de Martha até o lançamento desse álbum, dedicado integralmente a obras que tangem o mito de Prometeu. Acompanhada por Claudio Abbado e os filarmônicos de Berlim, a Rainha executa a parte de piano obbligato do “Poema do Fogo” de Scriabin, somando-se às forças orquestrais, a um coro e a uma iluminação colorida prescrita pelo compositor e originalmente destinada a um clavier à lumières inventado por ele. Apesar da baixa qualidade da imagem, vale a pena conferir o vídeo da performance para ter uma ideia aproximada do que tramou Alexander.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Suíte de Die Geschöpfe Des Prometheus, Op. 43
1 – Introduction. Allegro non Troppo
2 – No. 1: Poco adagio – Allegro con brio
3 – No. 9: Adagio – Allegro molto
4 – No. 10: Pastorale. Allegro
5 – No. 14: Allegretto
6 – No. 15: Adagio – Allegro
7 – No. 16: Finale. Allegretto
Franz LISZT (1811-1886) Prometheus, poema sinfônico, S. 99
8 – Allegro energico ed adagio assai – Allegro molto appassionato
Aleksandr Nikolayevich SKRIABIN (1871-1915)
9 – Promethée, Le Poème du Feu, Op. 60
Martha Argerich, piano
Berliner Singakademie
Luigi NONO (1924-1990) Suíte de Prometeo, Tragedia dell’Ascolto
10 – 3 Voci (baseado em texto de Walter Benjamin)
11 – Isola Seconda (baseado em Hyperions Schicksalslied, de Friedrich Hölderlin)
Mathias Schadock e Ulrike Krumbiegel, narradores
Ingrid-Ade Jesemann e Monika Bair-Ivenz, sopranos
Susanne Otto, contralto
Peter Hall, tenor
Michael Hasel, flauta baixo
Manfred Preis, clarinete contrabaixo
Christhard Gössling, eufônio e tuba Solistenchor Freiburg
Peça final de seu triunfo no Concurso Chopin de 1965, o concerto em Mi menor do Frederico é uma das figurinhas mais fáceis na discografia e nos programas dos concertos de Martha mundo afora: difícil, enfim, é que ela volte a Varsóvia e deixe de tocá-lo. O CD a seguir registra um desses retornos, curiosamente pareado com Rossini e Mendelssohn, sob a batuta de Grzegorz Nowak, que mais tarde se tornaria regente associado da Royal Philharmonic em Londres, e com a Sinfonia Varsovia, orquestra fundada e apadrinhada pelo grande Yehudi Menuhin.
Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868) L’italiana in Algeri, drama jocoso em dois atos 1 – Sinfonia
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
2 – Allegro maestoso
3 – Romance. Larghetto
4 – Rondo. Vivace
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847) Sinfonia no. 4 em Lá maior, Op. 90, “Italiana”
5 – Allegro vivace
6 – Andante con moto
7 – Con moto moderato
8 – Presto e finale: Saltarello
Sinfonia Varsovia
Grzegorz Nowak, regência
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, dezembro de 1992
O velho amigo Abbado, lá em 1992, devia estar afiadíssimo na difícil arte de persuadir a nada persuadível Martha a aprender novo repertório: depois do primeiro (e policromático) Scriabin da carreira da distinta senhora, Claudio a pôs para tocar seu primeiro Strauss. Vá lá que a Burleske, composta mais ou menos na época em que Richard atingiu a maioridade penal, seja fichinha para suas hábeis mãos, mas ainda sim deve-se notar sua proeza em dotar essa estranha cria concertística, renegada tanto pelo seu dedicatário, Hans von Bülow, quanto por muito tempo pelo próprio compositor, de um interesse que passa ao largo da maioria das gravações da obra.
Richard Georg STRAUSS (1864-1949)
1 – Don Juan, poema sinfônico, Op. 20
Toru Yasunaga, violino
2 – Burleske em Ré menor, para piano e orquestra
Martha Argerich, piano
3 – Till Eulenspiegels Lustige Streiche, poema sinfônico, Op. 28
Da ópera Der Rosenkavalier, Op. 59 4 – Ato III: Trio e Finale
Kathleen Battle e Renée Fleming, sopranos
Frederica von Stade, mezzo-soprano
Andreas Schmidt, barítono
Berliner Philharmoniker
Claudio Abbado, regência
Gravado em Berlim, Alemanha, em 31 de dezembro de 1992
Um xodó tardio na carreira de Martha é o primeiro concerto de Shosta, uma composição ebuliente e hiperativa, bem no estilo do nicotinado compositor e muito afeita a quem toca o terceiro de Prokofiev como ninguém. Sempre que volta à obra, a Rainha parece se divertir ao fazer um racha com o pobre solista de trompete, que invariavelmente passa por maus lençóis ao tentar acompanhar a velocidade lúbrica dos deditos de Marthinha, que, por sua vez, despacha a obra numa lepidez comparável à do próprio Shosta. Aqui, o trompetista sai-se muito bem – Guy Trouvon é feríssima, fruto mui digno da brilhante escola francesa de seu instrumento – e o registro resultante é um marco tanto na carreira de Martha quanto na discografia da obra, só superado pelo embate épico, de décadas depois, entre a deusa portenha do piano e Sergei Nakariakov, que é chamado de “Paganini do trompete” e não sem bons motivos.
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Guy Touvron, trompete
Joseph HAYDN Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Hob. XVIII:11
4 – Vivace
5 – Un poco adagio (cadenza: Wanda Landowska)
6 – Rondo all’Ungarese: Allegro assai
Esta gravação do inseparável duo Marthita/Nelsito traz aquela peça de resistência de seu repertório – a sensacional Sonata para dois pianos e percussão de Béla Viktor János – acrescida de composições de Ravel para dois pianos… e percussão. A atraente contribuição da carinhosamente chamada “cozinha” aos cordofones solistas foi acrescentada por Peter Sadlo (1962-2016), um tremendo percussionista que também participa desse registro de seus arranjos.
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
1 – Assai lento – Allegro molto
2 – Lento, ma non troppo
3 – Allegro non troppo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Ma Mère l’Oye, suíte para piano a quatro mãos, M. 62
Transcrição para dois pianos: Gaston Choisnel (1857-1921)
Arranjo para dois pianos e percussão: Peter Sadlo (1962-2016)
4 – Pavane de la Belle au Bois Dormant: Lent
5 – Petit Poucet: Très modéré
6 – Laideronnette, Impératrice des Pagodes: Mouvement de Marche
7 – Les Entretiens de la Belle et de la Bête: Mouvement de Valse très modéré
8 – Le Jardin Féerique: Lent et Grave
Rapsodie Espagnole, para orquestra, M. 54
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
Arranjo para dois pianos e percussão de Peter Sadlo
9 – Prélude à la Nuit. Modéré
10 – Malagueña. Assez vif
11 – Habanera. En demi-teinte et d’un rythme las
12 – Feria. Assez vif
Nelson Freire, piano II
Edgar Guggeis e Peter Sadlo, percussão
Gravado em Nijmegen, Países Baixos, fevereiro de 1993
Se há qualquer um entre vós outros que sonhou em ouvir Martha tocar algo que não fosse piano, eu ora anuncio com júbilo:
– Regozijai!
Em mais um álbum dedicado a obras de Rabinovitch, a Rainha não só toca celesta – tanto acústica quanto amplificada – como divide o palco possivelmente pela primeira vez com uma guitarra elétrica, além dum bocado de marimbas e vibrafones. Sua contribuição pianística e desplugada, a quatro mãos com o próprio compositor, é a Liebliches Lied (“Adorável Canção”), baseada em temas de Brahms e de Schubert (a cuja identificação desafio os atentos leitores-ouvintes).
Alexandre RABINOVITCH 1 – Incantations (1996)
Martha Argerich, piano amplificado e celesta
Daisuke Suzuki, guitarra elétrica
Hidemi Nurase, Mitsuyo Wada, Momoko Kamiya e Naoaki Kobayashi, marimbas e vibrafones Hibiki String Orchestra
Alexandre Rabinovitch, regência
2 – Schwanengesang an Apollo (1996)
Yayoi Toda, violino
Martha Argerich, celesta amplificada
Alexandre Rabinovitch, piano
3 – La Belle Musique no. 3 (1977) Budapesti Rádió Szimfonikus Zenekara (Orquestra Sinfônica da Rádio de Budapeste)
György Lehel, regência
4 – Liebliches Lied Alexandre Rabinovitch e Martha Argerich, piano
Gravado em Berna, Suíça, novembro de 1993 (Liebliches Lied) e em Tóquio, Japão, maio de 1998 (Incantations)
A integral das sonatas de Beethoven com Gidon Kremer foi retomada, duma forma surpreendemente ordeira para a carreira de nossa errática Marthinha, na exata ordem de publicação das obras. As três sonatas do Op. 30, em que os dois instrumentos ensaiam a igualdade de tratamento que receberão na “Kreutzer” e na Op. 96, são claramente conduzidas por ela, e dum jeito que nos faz imaginar, uma vez mais, o que ela teria sido capaz de ter feito se tivesse tocado, além de tão só esta, essa e aquela, algumas das outras vinte e nove sonatas para piano do renano.
Ludwig van BEETHOVEN Três sonatas para violino e piano, Op. 30
No. 1 em Lá maior
1 – Allegro
2 – Adagio molto espressivo
3 – Allegretto con variazioni
No. 2 em Dó menor
4 – Allegro con brio
5 – Adagio cantabile
6 – Scherzo: Allegro
7 – Finale: Allegro – Presto
No. 3 em Sol maior
8 – Allegro assai
9 – Tempo di minuetto, ma molto moderato e grazioso
10 – Allegro vivace
A julgar pela capa, as coisas andavam às mil maravilhas entre a pareja Martha & Alexandre durante a gravação desse álbum. O que nele se escuta corrobora a impressão: Rabinovitch é excelente pianista, muito bom intérprete de Mozart, e certamente ajudou a Rainha a sentir-se à vontade com este compositor que, a despeito da farta dose vienense de sua formação pianística, confessamente nunca foi muito seu chão.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para dois pianos em Ré maior, K.448 (375a)
1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Allegro molto
Andante e variações para piano a quatro mãos em Sol maior, K.501 4 – Andante – Variações I-V
Sonata para piano a quatro mãos em Dó maior, K.521
5 – Allegro
6 – Andante
7 – Allegretto
Sonata para piano a quatro mãos em Ré maior, K.381 (123a)
8 – Allegro
9 – Andante
10 – Allegro molto
Martha nunca foi muito de dar alegria aos completistas: só para ficar em Beethoven, levou a público apenas três entre as trinta e duas sonatas para piano, e gravou somente os três primeiros entre os cinco concertos (tocou o “Imperador” apenas duas vezes, e “mal”, e recusou-se a vida toda, e duma maneira quase fóbica, a aprender o concerto no. 4, em função duma epifania que experimentou ao ouvi-lo com Arrau, e arrepiar-se, aos seis anos de idade: “tenho medo do que aconteceria; é muito importante para mim”). Assim, é muito significativo que ela tenha se disposto a gravar, e de fato concluir, a integral das sonatas para violino ao lado do amigo Gidon Kremer. O disco final da série tem, na “Kreutzer”, tudo o que se pode esperar de temperamento argerichiano, embora o ponto alto para mim seja a tão subestimada Op. 96, escrita no limiar do período criativo transcendental do mestre de Bonn, em que o diálogo entre os instrumentos de Martha e Gidon transparece a mesma cumplicidade que suas caras preparadas na capa do álbum.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
Sonata para violino e piano em Sol maior, Op. 96 4 – Allegro moderato
5 – Adagio espressivo
6 – Scherzo: Allegro – Trio
7 – Poco allegretto
Falando em completistas, essa soirée schumanniana gravada por Martha e outras estrelas nos Países Baixos traz quase a integral da música de câmara de Robert Alexander para três ou mais instrumentos. No estrelado elenco, destaco Natalia Gutman, professora do Conservatório de Moscou, que, apesar de muito grata a seu professor Rostropovich, teve como maior mentor um pianista, o gigante Sviatoslav Richter, e se dá muito bem no dueto com Martha. Chamo a atenção também para o Op. 46, que nunca tinha ouvido antes, com sua incomum instrumentação para dois pianos, dois violoncelos e trompa (!), e para a maior obra-prima do álbum, o belíssimo quinteto com piano, ao qual Martha empresta decisivamente seu inigualável élan.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856 Quinteto em Mi bemol maior para piano, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 44
1 – Allegro brillante
2 – In modo d’una marcia (un poco largamente – agitato – a tempo)
3 – Scherzo (molto vivace) & trio
4 – Allegro ma non troppo
Andante e variações em Si bemol maior para dois pianos, dois violoncelos e trompa, Op.46 5 – Sostenuto – Andante espressivo – Un poco piu animato – Più animato – Più lento – Un poco più lento
6 – Più lento – Animato
7 – Doppio movimento – Tempo primo – Più adagio
Alexander Rabinovitch, piano II
Mischa Maisky e Natalla Gutman, violoncelos
Marie-Luise Neunecker, trompa
Quarteto em Mi bemol maior para violino, viola, violoncelo e piano, Op. 47
8 – Sostenuto assai- Allegro ma non troppo
9 – Scherzo (Molto vivace) & Trio
10 – Andante cantabile
11 – Finale (Vivace)
Dora Schwarzberg, violino
Nobuko Imai, viola
Natalia Gutman, violoncelo
Alexander Rabinovitch, piano
Fantasiestücke para violoncelo e piano, Op. 73
1 – Zart und mit Ausdruck
2 – Lebhaft, leicht
3 – Rasch und mit Feuer
Natalia Gutman, violoncelo
Adagio e Allegro em Lá bemol maior para trompa e piano, Op. 70
4 – Langsam, mit innigem Ausdruck
5 – Rasch und feurig
Marie-Luise Neunecker, trompa
Alexandre Rabinovitch, piano
Märchenbilder para viola e piano, Op. 113
6 – Nicht schnell
7 – Lebhaft
8 – Rasch
9 – Langsam, mit melancholischem Ausdruck
Nobuko Imai, viola
Sonata em Ré maior para violino e piano, Op. 121
10 – Zeimlich langsam – Lebhaft
11 – Sehr lebhaft
12 – Leise, einfach
13 – Bewegt
Dora Schwarzberg, violino
Gravado ao vivo em Nijmegen, Países Baixos, setembro de 1994
E dessa capa, o que acham vocês? Martha e Rabinovitch parecem não só num climão meio tenso, como também as últimas pessoas capazes de tocar Mozart em dueto. Felizmente, o álbum é bem melhor que a capa (afirmação quase sempre verdadeira, quando se trata da Teldec): Martha volta ao concerto no. 20, que tocou muitas vezes quando menina e garota, Rabinovitch toca e conduz o de no. 19, e os pombinhos voltam a se reunir no concerto para dois pianos. Seguirão a arrulhar juntos? Resposta no álbum seguinte.
Wolfgang Amadeus MOZART
Concerto para piano e orquestra no. 20 em Ré maior, K. 466 Cadenze: Ludwig van Beethoven
1 – Allegro
2 – Romance
3 – Allegro assai
Orchestra di Padova e del Veneto Alexandre Rabinovitch, regência
Concerto para piano e orquestra no. 19 em Fá maior, K. 459 Cadenze do próprio compositor
4 – Allegro
5 – Allegretto
6 – Allegro assai
Orchestra di Padova e del Veneto Alexandre Rabinovitch, piano e regência
Concerto em Mi bemol maior para dois pianos e orquestra, K. 365 Cadenze do próprio compositor
7 – Allegro
8 – Andante
9 – Rondo. Allegro
Württenbergisches Kammerorchestra Heilbronn
Alexandre Rabinovich, piano I e regência
Gravado em Stuttgart, Alemanha, janeiro de 1995 (K. 365) e em Pádua, Itália, setembro de 1998 (K. 459 e K. 466)
Sim: os pombinhos seguiram juntos e, a julgar pela capa, os tacapes pararam de voar numa certa casa em Genebra. Uma vez mais Martha arrisca repertório novo, e o que há neste disco é muito curioso. Esperava, admito, um pouco mais do “Aprendiz de Feiticeiro”, certamente por estar acostumado ao original e sua espirituosa orquestração, mas reconheço a competência do arranjo de Rabinovitch e a qualidade da execução, adequadamente temperamental. A grande surpresa, sem dúvidas, é o arranjo da “Sinfonia Doméstica” de Strauss, uma obra que nunca me despertou qualquer interesse na versão original, e que cintila sob os vinte talentosos dedinhos do casal. Se duvidam, ouçam a Wiegenlied (“Canção de Ninar”) e o Adagio e depois me contem se não estão entre as melhores coisas que Martha já tocou em duo!
Paul Abraham DUKAS (1865-1935)
Transcrição para dois pianos de Alexandre Rabinovitch
1 – L’Apprenti Sorcier
Richard STRAUSS Transcrição para dois pianos de Otto Singer (1863-1931) Symphonia Domestica, poema sinfônico, Op. 53 2 – Bewegt – Ⅰ. Thema: Sehr lebhaft – Ⅱ. Thema: Ruhig – Ⅲ. Thema
3 – Scherzo: Munter
4 – Wiegenlied: Mäßig langsam
5 – Adagio: Langsam
6 – Finale: Sehr lebhaft
Os quase três anos que separam este álbum do anterior tiveram, para Martha, o emblema do câncer que lhe voltou, que ela enfrentou, e do qual se curou. É bastante significativo, portanto, que, ao retomar sua discografia, ela tenha incorporado peças novas a seu repertório, escolhido a companhia segura de queridos parceiros de palco e da vida, e tocado ante uma plateia no Japão que ela tanto adora. As duas obras-primas incluídas no álbum – o segundo trio de Shostakovich e seu congênere, dedicado por Tchaikovsky à memória de Nikolai Rubinstein – receberam leituras inesquecíveis. Não tenho qualquer prurido em declarar essa interpretação do trio no. 2 de Shosta a melhor que já ouvi dessa obra, nem em reconhecer que o som ultrarromântico e sentimental de Mischa Maisky aqui se encaixa à perfeição com a melancolia da peça de Tchaikovsky, e que Martha e Kremer lhe somam à altura.
1 – Aplauso
Dmitri SHOSTAKOVICH Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
2 – Andante – Moderato – Poco più mosso
3 – Allegro con brio
4 – Largo
5 – Allegretto – Adagio
Pyotr TCHAIKOVSKY Trio em Lá menor para piano, violino e violoncelo, Op. 50
6 – Pezzo Elegiaco: Moderato assai – Allegro giusto – In tempo molto sostenuto – Adagio con duolo e ben sostenuto – Moderato assai – Allegro giusto
7 – Tema con variazioni: Andante con moto
8 – Variazione I
9 – Variazione II: Più mosso
10 -Variazione III: Allegro moderato
11 – Variazione IV: L’istesso tempo (Allegro moderato)
12 – Variazione V: L’istesso tempo
13 – Variazione VI: Tempo di valse
14 – Variazione VII: Allegro moderato
15 – Variazione VIII: Fuga (Allegro moderato)
16 – Variazione IX: Andante flebile, ma non tanto
17 – Variazione X: Tempo di mazurka
18 – Variazione XI: Moderato
19 – Variazione finale e coda: Allegro risoluto e con f
20 – Coda: Andante con moto – Lugubre
Peter KIESEWETTER (1945-2012)
21 – Tango Pathétique
Ao assinar com a EMI, Martha foi prontamente convidada a gravar com outra grande estrela da gravadora, o israelense Itzhak Perlman. A admiração entre ambos, sempre mútua e imensa, teve que esperar até o verão de 1998 para virar parceria nos palcos, durante o Festival de Saratoga Springs, nos Estados Unidos. O repertório não fugiu do habitual: a sonata de Franck, em que a Rainha já acompanhou tantos violinistas, e a “Kreutzer” de Beethoven, para a qual é difícil imaginar pianista melhor. O recital é uma deleite tão grande quanto devem ter sido seus bastidores: Martha é declaradamente viciada em conversar, que é sua droga favorita, e o bonachão Itzhak, com seu vozeirão de barítono, um tremendo contador de histórias.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 4 – Allegretto ben moderato
5 – Allegro
6 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
7 – Allegretto poco mosso
Itzhak Perlman, violino
Gravado ao vivo em Saratoga Springs, Estados Unidos, julho de 1998
A participação de Martha no Festival de Saratoga também incluiu uma parceria com sua alma gêmea, Nelson Freire, no Concerto Pathétique de Liszt, uma interessante peça para dois pianos que antecipa, em muitos aspectos, a revolucionária forma cíclica e mesmo algum material temático de sua obra-prima, a Sonata em Si menor. Antes dele, fez uma vigorosa leitura dos Contrastes de Bartók, tocando a parte que coube ao próprio compositor na primeira gravação da obra, acompanhada do excelente clarinetista Michael Collins e pela violinista Chantal Juillet, amiga de Martha e atual esposa de Charles Dutoit, ex-Don Argerich.
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 1 – Allegro serioso, non troppo
2 – Adagio – Andante – Tempo I
3 – Maestoso e largamente, na non troppo lento – Presto
Chantal Juillet, violino
Truls Mørk, violoncelo
Béla BARTÓK
Contrasts, para violino, clarinete e piano, Sz. 111
4 – Verbunkos
5 – Pihenö
6 – Sebes
Chantal Juillet, violino
Michael Collins, clarinete
Franz LISZT
7 – Concerto Pathétique em Mi menor, para dois pianos e orquestra, S. 258
Nelson Freire, piano II
Gravado ao vivo em Saratoga Springs, Estados Unidos, julho de 1998
Se a instabilidade e o temperamento terrível de Martha sempre garantiram emoções fortes durante seus relacionamentos, tudo indica também que nossa Rainha é uma excelente ex-esposa. Prova disso é que que ela continua não só muito amiga de Charles Dutoit, com quem foi casada entre 1969 e 1973, como segue a gravar e tocar com ele (não sem faíscas, claro, algumas repletas de bom humor). Dutoit é ótimo regente e sabe, como talvez nenhum outro, envolver o indomável som de Martha com a orquestra. Seu período à frente da Sinfônica de Montreal foi um dos melhores de sua carreira e certamente o mais brilhante que esse conjunto já viveu, e acabou coroado com essa soberba gravação dos concertos de Chopin, na qual destaco aquele em Fá menor, que Martha tocou tão raras vezes, e que aqui recria com seu estilo inimitável, quase improvisatório, que torna sua leitura do Larghetto tão especial.
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
4 – Maestoso
5 – Larghetto
6 – Allegro vivace
Orchestre Symphonique de Montréal
Charles Dutoit, regência
Entre os tantos discos que lhes trouxe para celebrar as idades de Marthinha, foi este o mais difícil de conseguir. Lançado somente no Japão, ele celebra a estreia do Festival Argerich na cidade de Beppu, uma estação termal localizada em Kyushu, a mais meridional das grandes ilhas do arquipélago japonês. O parceiro da Rainha no recital de abertura é o velho amigo Ivry Gitlis, e o programa – nenhuma surpresa – traz o tradicional combo Franck-Kreutzer. A surpresa genuína é o quanto Gitlis, um intérprete bastante idiossincrático (para dizer o mínimo) segura sua onda improvisatória na “Kreutzer”: se duvidam, comparem o registro de Beppu com esta outra gravação do duo que vocês me entenderão.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
César FRANCK Sonata em Lá maior para violino e piano 4 – Allegretto ben moderato
5 – Allegro
6 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
7 – Allegretto poco mosso
Ivry Gitlis, violino
Gravado em Beppu, Japão, novembro de 1998 (Beethoven) e novembro de 1999 (Franck)
Assim como o Japão, a Polônia é um dos locais a que Martha mais gosta de voltar. Não surpreende, pois, que ela tenha celebrado a notícia de sua cura, em 1999, com uma série de concertos em Varsóvia, cidade donde foi catapultada para a fama mundial mais de três décadas antes. Este CD, gravado ao vivo, registra uma das poucas noites em que Martha ofereceu dois concertos para piano no mesmo programa: antes de encerrar com seu tradicional cavalo de batalha, o primeiro concerto de Chopin, que ela nunca deixa de tocar quando volta à capital polonesa, a Rainha conduz a plateia por uma alucinante travessia do primeiro concerto de Liszt. La re putissima madre, Marthinha.
Wolfgang Amadeus MOZART
Sinfonia no. 35 em Ré maior, K. 385, “Haffner” 1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Menuetto
4 – Presto
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra nº 1 em Mi bemol maior, S.124 5 – Allegro maestoso
6 – Quasi adagio
7 – Allegretto vivace – Allegro animato
8 – Allegro marziale animato
Fryderyk CHOPIN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
9 – Allegro maestoso
10 – Romance. Larghetto
11 – Rondo. Vivace
Sinfonia Varsovia
Alexandre Rabinovitch, regência
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, maio de 1999
A sexta década da discografia de Martha encerrou em território amigo: tocando Schumann com o vizinho Mischa Maisky – que sempre cresce nas parcerias com sua vizinha – e fotografada para a capa pela caçula Stéphanie, responsável pela maior janela que já tivemos ao palácio interior de nossa Rainha. Este álbum bonito, ainda que sem grandes surpresas, é encerrado por uma ótima gravação do concerto de Robert por Maisky e pela Orpheus.
Robert SCHUMANN
Adagio e Allegro em Lá bemol menor para violoncelo e piano, Op. 70
1 – Langsam, mit innigem Ausdruck
2 – Rasch und feurig
Fantasiestücke para violoncelo e piano, Op. 73 3 – Zart und mit Ausdruck
4 – Lebhaft, leicht
5 – Rasch und mit Feuer
Dos Três Romanzen, Op. 94
6 – No. 1: Nicht schnell
Fünf Stücke im Volkston, Op. 102 7 – “Vanitas Vanitatum”, mit Humor
8 – Langsam
9 – Nicht schnell, mit viel Ton zu spielen
10 – Nicht zu rasch
11 – Stark und Markiert
De Märchenbilder, para viola e piano, Op. 113 Transcrição de Mischa Maisky para violoncelo e piano
12 – No. 1: Nicht schnell
Mischa Maisky, violoncelo
Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129
13 – Nicht zu schnell
14 – Langsam
15 – Sehr lebhaft
Martha chegou aos trinta anos com a carreira já consolidada, após o triunfo no VII Concurso Internacional Chopin. Baseada na Suíça Romanda e casada com o regente Charles Dutoit, via-se bastante requisitada pelos estúdios e em turnês pela Europa, Américas e Japão. Restava pouco tempo para a família que crescia: além da genebrina Lyda e da bernesa Anne-Catherine, filha de Dutoit, a década ainda veria o nascimento de outra menina, Stéphanie, fruto de seu breve relacionamento com o pianista Stephen Kovacevich – e que, após um frugal cara e coroa, recebeu o sobrenome da mãe.
Passaremos ao largo da colorida, dir-se-ia rocambolesca vida pessoal de nossa deusa, uma porque jamais conseguiríamos contá-la de maneira tão deliciosa quanto a do documentário que Stéphanie lhe dedicou, outra porque, no que tange ao nosso interesse maior, que é a grande música que faz a Rainha, sua década foi por demais prolífica para perdermos tempo com ninharias que envolvam fraldas e ruidosos compartilhamentos de lençóis.
Vamos, pois, à música:
A primeira gravação da quarta década de Martha inclui aquela que é, talvez, a mais sensacional leitura jamais feita da sonata de Liszt. Sei que muitos preferem a atenção ao detalhe à pirotecnia, mas, claramente inspirada no legendário registro de seu ídolo Horowitz, a Rainha aqui entrega puro frenesi. Muitas vezes vejo-me em saturação sensorial após ouvir essa sonata, mas sempre vale a pena. Completa o disco a sonata em Sol menor de Schumann, uma obra menos visitada desse compositor que é, confessadamente, o xodó da vovó.
Franz LISZT (1811-1886) Sonata para piano em Si menor, S. 178 1 – Lento assai – Allegro energico
2 – Grandioso
3 – Cantando espressivo
4 – Pesante – Recitativo
5 – Andante Sostenuto
6 – Quasi adagio
7 – Allegro energico
8 – Più mosso
9 – Cantando espressivo senza slentare
10 – Stretta quasi presto – Presto – Prestissimo
11 – Andante Sostenuto – Allegro Moderato – Lento Assai
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
12 – So rasch wie möglich
13 – Andantino
14 – Scherzo. Sehr rasch und markiert
15 – Satz: Rondo. Presto – Etwas langsamer – Prestissimo
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em junho de 1971
É curioso que, numa discografia relativamente pequena como a de Martha, haja duas gravações tocando uma das quatro partes para piano da “cantata dançada” Les Noces, de Stravinsky. Nesta, que é a primeira delas, ela colabora com o então esposo, Charles Dutoit, e inaugura em disco a parceria com Nelson Freire, seu velho amigo desde os tempos de estudantes em Viena (a segunda gravação de Les Noces, sob Bernstein e na distinta companhia de Krystian Zimerman, já apareceu antes por aqui)
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
1 – La tresse
2 – Chez le Marié
3 – Le Départ de la Mariée
4 – Le Repas de Noces
Basia Retchitzka, soprano
Arlette Chedel, contralto
Eric Tappy, tenor
Philippe Huttenlocher, baixo
Chœur Universitaire de Lausanne
Michel Corboz, regente do coro
Harald Glamsch, Jean-Claude Forestier, Markus Ernst, Rafael Zambrano, Roland Manigley e Urs Herdi, percussão
Edward Auer, Nelson Freire e Suzanne Husson, pianos
Charles Dutoit, regência
Os raros registros seguintes, jamais lançados em mídia digital, são provavelmente os primeiros testemunhos de três vertentes que viriam a ter importância crescente na carreira da Rainha: sua participação em festivais, muitas vezes centrados nela; a colaboração com outros virtuoses em música de câmara; e as gravações ao vivo. Dignos de nota são os belíssimos quintetos com piano de Dvořák e de Schumann, em colaboração com Salvatore Accardo, diretor do Festival Internazionale di Musica d’Insieme, durante o qual foram feitas as gravações. Note-se também, ainda que sem a participação de Martha, a primeira gravação de que se tem registro do Quartettsatz, a única obra que Mahler deixou para um conjunto de câmara.
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Quinteto para piano, dois violinos, viola e violoncelo em Lá maior, Op. 81
1 – Allegro, ma non tanto
2 – Dumka: Andante con moto
3 – Scherzo (Furiant): Molto vivace
4 – Finale: Allegro
Salvatore Accardo e Pierre Amoyal, violinos
Luigi Alberto Bianchi, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo
Robert SCHUMANN Quinteto para piano, dois violinos, viola e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 44
1 – Allegro brillante
2 – In modo d’una marcia
3 – Scherzo: Molto vivace. Trio
4 – Allegro ma non troppo
Salvatore Accardo e Felice Cusano, violinos
Dino Asciolla, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Salvatore Accardo, violino
Gustav MAHLER (1860-1911) Quartettsatz em Lá menor para piano, violino, viola e violoncelo 5 – Nicht zu schnell
Claude Levoix, piano
Salvatore Accardo, violino
Pasquale Pellegrino, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo
Evidente que não faltaria Chopin a essa década, e Martha capricha neste álbum: a sonata em Si bemol menor tem uma marcha fúnebre impressionante e o mais líquido e tempestuoso de todos seus finales. Completam o disco um scherzo – talvez o gênero na obra do polonês mais afeito à personalidade artística da Rainha – e uma Grande Polonaise realmente brilhante, antecedida dum Andante spianato tão delicado que a gente chega quase a duvidar de que os dedos que o fizeram foram os mesmos que causaram a torrente da faixa anterior.
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Sonata para piano no. 2 em Si bemol maior, Op. 35
1 – Grave – Doppio movimento
2 – Scherzo
3 – Marche Funèbre. Lento
4 – Finale. Presto
Grande Polonaise Brillante para piano em Mi bemol maior, precedida de um Andante spianato, Op. 22
5 – Andante spianato: Tranquillo – Polonaise: Allegro molto
Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
6 – Presto
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em julho de 1974
Ravel é outro xodó a quem Martha dedicou gravações insuperáveis. Este é possivelmente o melhor Gaspard de la Nuit jamais gravado e, uma vez que se o escuta, torna-se impossível confundi-lo com qualquer outro: somente a Rainha, afinal, seria capaz de fazer um Scarbo tão veloz, soturno e grotesco (muito embora, como bem lembrou um amigo, Martha tenha declarado que quis morrer ao ouvir o produto dessa gravação, pois estava grávida e achou que tocara “muito devagar” (!))
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand, M. 55 1 – Ondine
2 – Le gibet
3 – Scarbo
Sonatina para piano
4 – Modéré
5 – Mouvement de Menuet
6 – Animé
Valses Nobles et Sentimentales, para piano
7 – Modéré – Très franc
8 – Assez lent – Avec une expression intense
9 – Modéré
10 – Assez animé
11 – Presque lent – Dans un sentiment intime
12 – Vif
13 – Moins vif
14 – Epilogue. Lent
Gravado em Berlim Ocidental, Alemanha Ocidental, em novembro de 1974
Se foram os prelúdios que começaram a mudar a história de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, aqui se tem uma ótima prova: o Op. 28, com suas miniaturas concisas e expressivas, é perfeitamente afeito ao toque da Rainha. A curiosa inclusão dos pouquíssimo gravados prelúdios Op. 45 e Op. póstumo sugere que esta gravação fizesse parte dos planos de uma integral chopiniana, que jamais foi adiante.
Fryderyk CHOPIN Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 28
1 – No. 1 em Dó maior: Agitato
2 -No. 2 em Lá menor: Lento
3 – No. 3 em So maior: Vivace
4 – No. 4 em Mi menor: Largo
5 – No. 5 em Ré maior: Molto allegro
6 – No. 6 em Si menor: Lento assai
7 – No. 7 em Lá maior: Andantino
8 – No. 8 em Fá sustenido menor: Molto agitato
9 – No. 9 em Mi maior: Largo
10 – No. 10 em Dó sustenido menor: Molto allegro
11 – No. 11 em Si maior: Vivace
12 – No. 12 em Sol sustenido menor: Presto
13 – No. 13 em Fá sustenido maior: Lento
14 – No. 14 em Mi bemol menor: Allegro
15 – No. 15 em Ré bemol maior: Sostenuto
16 – No. 16 em Si bemol menor: Presto con fuoco
17 – No. 17 em Lá bemol maior: Allegretto
18 – No. 18 em Fá menor: Molto allegro
19 – No. 19 em Mi bemol maior: Vivace
20 – No. 20 em Dó menor: Largo
21 – No. 21 em Si bemol maior: Cantabile
22 – No. 22 em Sol menor: Molto agitato
23 – No. 23 em Fá maior: Moderato
24 – No. 24 em Ré menor: Allegro appassionato
Prelúdio para piano em Dó sustenido menor, Op. 45
25 – Sostenuto
Prelúdio para piano em Lá bemol maior, Op. Posth.
26 – Presto con leggierezza
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em outubro de 1975 (Op. 28) e Watford, Reino Unido, em fevereiro de 1977 (Op. 45, Op. Posth.)
O violinista israelo-francês Ivry Gitlis (1922-2020) foi amigo de Martha por mais de seis décadas e com ela tocou em muitos festivais, sobretudo a sonata de Franck. Esta é a única gravação que fizeram em estúdio e, embora eu não seja fã nem do timbre, nem do rubato de Gitlis, ela vale para imaginar o que a Rainha seria capaz de fazer se tocasse mais Debussy.
César FRANCK Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) Sonata em Sol menor para violino e piano
5 – Allegro vivo
6 – Intermède. Fantasque et léger
7 – Finale. Très animé
Ainda que realizadas no final dos anos 70, estas gravações ao vivo naquele templo da perfeita acústica que é o Concertgebouw de Amsterdã foram lançadas somente em nosso século. Nelas pode-se apreciar uma parte do vasto repertório que a Rainha jamais trouxe aos estúdios e perceber que seu temperamento artístico em performances ao vivo é ainda mais ebuliente. Martha não teme correr riscos – poucos se animam a encarar o Gaspard de la Nuit ante uma plateia, ainda mais com tanta agilidade – e tampouco liga para as eventuais esbarradas. Se o Scherzo de Chopin certamente não é o seu melhor, as seleções de Bartók e Prokofiev seguramente estão entre seus mais sensacionais momentos. Ouvi-la in natura é, enfim, expor-se a um fenômeno da Natureza, sem abrigos, nem truques, e com absoluta certeza do estupor: já tive esse privilégio duas vezes, e ainda quererei tê-lo outra vez, enquanto a deusa quiser dar os ares de sua imensa graça num palco que eu possa visitar.
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
1 – Sinfonia — Grave. Adagio
2 – Sinfonia – Andante
3 – Allemande
4 – Courante
5 – Sarabande
6 – Rondeau – Capriccio
Fryderyk CHOPIN Dos Dois noturnos para piano, Op. 48:
7 – No. 1 em Dó menor: Lento
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 8 – Presto con fuoco
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano, Sz. 80
9 – Allegro moderato
10 – Sostenuto e pesante
11 – Allegro molto
Alberto Evaristo GINASTERA (1916-1983) Danzas Argentinas, para piano, Op. 2 12 – Danza del Viejo Boyero
13 – Danza de la Moza Donosa
14 – Danza del Gaucho Matrero
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 15 – Allegro inquieto — Andantino
16 – Andante caloroso
17 – Precipitato
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonata em Ré menor, K. 141/L. 422 18 – Allegro
Johann Sebastian BACH
Da Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807:
19 – Bourrée
Gravado em Amsterdã, Países Baixos em maio de 1978 (7-14, 18-19) e abril de 1979 (1-6, 15-17)
Se a Rainha tem os seus xodós musicais, ela também tem seus países favoritos. Um deles é a Polônia, onde venceu o concurso que lhe foi a catapulta para o superestrelato, e para a qual volta com muita frequência. Nessa gravação, ela se faz acompanhar da mesma orquestra com que tocou na fase final do VII Concurso Chopin, ainda que curiosamente passe ao largo das obras do polonês em prol de dois de seus outros cavalos de batalha: o concerto no. 1 de Tchaikovsky, do qual ela fez gravações famosas com Kondrashin e Dutoit, e o concerto de Schumann, que ela toca praticamente desde o ovo.
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo Ⅰ
3 – Allegro con fuoco
Robert SCHUMANN Concerto para piano e orquestra em Lá menor, Op. 54
4 – Allegro affetuoso
5 – Intermezzo. Andante grazioso – attacca:
6 – Allegro vivace
Orkiestra Filharmonii Narodowej w Warszawie
Kazimierz Kord, regência
Johann Sebastian Bach
Da Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807: 7 – Bourrée
Fryderyk Chopin Das Três mazurcas para piano, Op. 63:
8 – No. 2 em Fá menor
Domenico SCARLATTI Sonata em Ré menor, K. 141/L. 422
9 – Allegro
Alberto Ginastera
Das Danzas argentinas, Op. 2
10 – No. 2: Danza de la Moza Donosa
Por fim, uma gravação pouco conhecida em que Martha não só nos encanta ao teclado, como também dirige a orquestra. Em seu único registro fonográfico como regente, o concerto de Haydn – o gênio que ela gravou tão pouco – com a London Sinfonietta é especialmente delicioso.
Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondò. Molto allegro
Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto para piano em Ré maior, Hob. ⅩⅧ-11 4 – Vivace
5 – Un poco adagio
6 – Rondo all’ungherese. Allegro assai London Sinfonietta
Nona Liddell, spalla
Martha Argerich, regência
Reverenciado desde o auge da era clássica até hoje, o quarteto de cordas é o gênero ideal para os compositores darem vazão às suas ideias mais inovadoras. O Quarteto Modigliani ilumina essas obras-primas brilhantes, cada uma testemunhando um ponto de importante na obra de seus autores. Gosto muito de CDs que parecem programas de concertos. É o caso deste. Tudo parece muito coerente, com Bartók colocado entre os dois clássicos. Trata-se de um disco excelente, com interpretações maduras de grandes obras. Todo o Op. 76 de Haydn é espetacular e este Quarteto “Das Quintas” é sensacional. O Quarteto Nº 3 de Bartók já foi muito comentado aqui e o que dizer do Quarteto das Dissonâncias de Mozart? Bem, está tudo aí.
~ Haydn: Quarteto Op. 76 No. 2
01. String Quartets, Op. 76: I. Allegro (D Minor) (9:52)
02. String Quartets, Op. 76: II. Andante o più tosto allegretto (D Major) (6:10)
03. String Quartets, Op. 76: III. Minuet (D Minor) – Trio (D Major) (3:41)
04. String Quartets, Op. 76: IV. Finale. Vivace assai (D Major) (4:07)
~ Bartók: Quartet No. 3
05. String Quartet No. 3, Sz. 85, Prima parte: I. Moderato (4:50)
06. String Quartet No. 3, Sz. 85, Seconda parte: II. Allegro (5:37)
07. String Quartet No. 3, Sz. 85, Recapitulazione della prima parte: III. Moderato – Coda. Allegro molto (5:05)
~ Mozart: Quarteto No. 19, K. 465
08. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: I. Adagio — Allegro (11:28)
09. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: II. Andante cantabile (F Major) (7:42)
10. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: III. Menuetto and Trio. Allegro (4:46)
11. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: IV. Allegro (8:01)