Eu prometo não fazer nenhuma piada de quinta série com o nome do regente até o final, tá? Neste disco maravilhoso, o cellista Miklós Perényi evita qualquer coisa que possa ser considerada virtuosística ou teatral, ele escolhe corretamente se concentrar no lirismo terno de Haydn, acoplado à forma silenciosa de paixão que é a marca registrada do compositor. Também o papel que János Rolla e a Franz Liszt Chamber Orchestra cumpre são fundamentais, fornecendo apoio ao solista. Novamente, não há nada chamativo ou individualista – apenas um suporte sólido para as linhas e motivos de Haydn. Eles são todos capturados em bom som. Eles decidiram que fariam um Haydn perfeito e o fizeram. Aliás, esse Perényi é um monstro! Trata-se de um CD para ser ouvido, reouvido, triouvido, tetraouvido… Prossigam vocês.
F. J. Haydn (1732-1809): Concertos para Violoncelo (Perényi, Rolla)
Cello Concerto No. 1 In C Major
1 Moderato 9:26
2 Adagio 8:48
3 Allegro Molto 6:20
Cello Concerto No. 2 In D Major
4 Allegro Moderato 14:43
5 Adagio 6:04
6 Allegro 5:04
Cello – Miklós Perényi
Conductor – János Rolla
Orchestra – Franz Liszt Chamber Orchestra
Vocês já sabem: Alfred Scholz foi um produtor muito prolífico (!) de gravações de baixo orçamento, que muitas vezes vendia fraudulentamente gravações creditadas a artistas e orquestras inexistentes. Também nomes de pessoas reais — normalmente já falecidas — eram creditados a performances que não eram delas. Trabalhando como maestro, ele gravou algumas coisas. Sabe-se lá se ele mesmo quem rege neste CD. Mas, gente, esta gravação é muito boa, e o repertório é sensacional!
A Sinfonia Nº 104 é a sinfonia final de Haydn . É a última das doze sinfonias de Londres e é conhecida (de forma um tanto arbitrária, dada a existência de outras onze) como a Sinfonia de Londres. Na Alemanha, é comumente conhecida como a Sinfonia de Salomon, em homenagem a Johann Peter Salomon , que organizou as duas turnês de Haydn por Londres. A obra foi composta em 1795, enquanto Haydn vivia em Londres, e estreou lá no King’s Theatre em 4 de maio de 1795, em um concerto com composições exclusivamente do próprio Haydn e dirigido pelo compositor. A estreia foi um sucesso; Haydn escreveu em seu diário “Toda a companhia ficou completamente satisfeita e eu também. Ganhei 4.000 florins nesta noite: tal coisa só é possível na Inglaterra.”
Haydn escreveu a sinfonia em 1791 em Londres durante a primeira de suas visitas à Inglaterra (1791–1792). A estreia ocorreu no Hanover Square Rooms em Londres em 23 de março de 1792, com Haydn liderando a orquestra sentado em um pianoforte. a velhice de Haydn, seu biógrafo Georg August Griesinger perguntou-lhe se ele escreveu essa “Surpresa” para deixar a plateia ligada. Bem, Haydn respondeu:
Não, mas eu estava interessado em surpreender o público com algo novo, e em fazer uma estreia brilhante, para que meu aluno Pleyel, que na época estava contratado por uma orquestra em Londres (em 1792) e cujos concertos tinham estreado uma semana antes do meu, não me superasse. O primeiro Allegro da minha sinfonia já havia encontrado inúmeros Bravos, mas o entusiasmo atingiu seu pico mais alto no Andante com o Drum Stroke. Bis! Bis! soou em cada garganta, e o próprio Pleyel (*) me elogiou pela minha ideia.
(*) Após os fatos narrados acima, Pleyel entrou para o PQP Bach.
F. J. Haydn (1732-1809): Sinfonia Nº 104 / Sinfonia Nº 94 / Divertimento para Sopros (Coral de Santo Antônio) (Vienna Chamber Orch / Alfred Scholz)
Symphony No. 104 In D Major (London)
1 Adagio – Allegro
2 Andante
3 Menuetto – Allegro
4 Allegro Spiritoso
Symphony No. 94 In G Major (Surprise)
5 Adagio Cantabile – Vivace Assai
6 Andante
7 Menuetto: Allegro Molto
8 Allegro Di Molto
9 Wind Quintet Divertimento No. 1 In B Major (Choral St. Antony)
Edgar Moreau já fez sua estreia aqui no blog como camarista, tocando violoncelo em um disco que achei lindo, com peças de Claude Debussy, acompanhado de uma turma de peso. (Aqui…)
Nesta postagem a proposta é outra e o disco é mais antigo, foi o segundo disco do violoncelista, uma coleção de concertos que abrange os períodos barroco e clássico, mas com uma ‘pegada’ mais barroca, com interpretações virtuosísticas e cheias de fantasia, mas também com lindos momentos de ‘galenteios’.
Haydn e Boccherini são compositores do período clássico, enquanto Vivaldi e os menos conhecidos Platti e Graziani são barrocos, se bem que nessa transição é melhor não rotular as coisas tão taxativamente. No momento estou ouvindo o movimento lento do concerto de Grazini, um belíssimo Larghetto grazioso com portamento!
Carlo Graziani, nascido na cidade italiana de Asti por volta de 1710, foi um dos primeiros virtuosos do violoncelo. Viajado, em 1747 ele estava em Paris, depois em Londres, onde tocou com Mozart, em seus 7 anos, em 1764. Graziani se casou com uma cantora de ópera italiana e o casal mudou-se para Frankfurt. Foi contratado pelo príncipe herdeiro do trono da Prússia, que se tornaria Frederico Guilherme II, como seu professor de violoncelo. Aposentou-se da corte prussiana em 1773, sendo sucedido por Jean-Pierre Duport, mas continuou a trabalhar para Frederico Guilherme II com uma pensão muito generosa. Deixou muitos conjuntos de sonatas e vários concertos para seu instrumento.
Giovanni Benedetto Platti era oboísta, mas também um músico muito versátil, pois dominava o violino, cravo, violoncelo, flauta e composição. Com essas características foi contratado pelo Príncipe Arcebispo Johann Philipp Franz von Schönborn, cujo irmão, o Conde Rudolph Franz Erwein von Schönborn era violoncelista amador. O Conde tinha uma coleção de sonatas e concertos de violoncelo, entre eles obras de Vivaldi escritas para ele. Ainda estão na coleção do castelo do Conde, em Wiesentheid, os autógrafos de 22 concertos para violoncelo de Platti, muitos deles comissionados pelo Conde.
Partes da crítica da Gramophone: In fact, Moreau’s ‘giovincello’ qualities are what this disc is all about. The balance is engineered so as to place his singing, silkily intense and muscular tone absolutely in the foreground, along with the sound of his fingerboard and his gasps of exertion. […] the Vivaldi’s dramatic final movement is the perfect vehicle for Moreau’s en pointe virtuosity, while the aria-like central movement of Graziani’s concerto leaves us in no doubt as to his ability to sculpt extended phrases with poetry and sense of line.
Na verdade, as qualidades de ‘giovincello’ de Moreau são a essência deste disco. O equilíbrio é projetado de forma a colocar seu tom cantante, sedosamente intenso e muscular absolutamente em primeiro plano, junto com o som dos seus movimentos de dedos e seus suspiros de esforço. […] o dramático movimento final de Vivaldi é o veículo perfeito para o seu virtuosismo, enquanto o movimento central do Concerto de Graziani, semelhante a uma ária, não nos deixa dúvidas quanto à sua capacidade de esculpir frases extensas com poesia e sentido de linha.
Continuando as homenagens a Antonio Meneses, trago duas gravações: a segunda, direto da rádio alemã, está mais abaixo. Comecemos pelo prato principal, a sua última gravação em estúdio com o Beaux Arts Trio há quase 20 anos, a não ser que apareçam outras até agora engavetadas.
O longevo trio, fundado em 1955 com Pressler como integrante fixo e as cordas mudando, teve Meneses como violoncelista de 1998 até a despedida do trio, em 2008. Depois de 2008, os três músicos seguiram carreiras movimentadas: Pressler tornou-se o decano dos pianistas em atividade, tocando praticamente até a véspera da sua morte aos 99 anos. Em 2007 Pressler e Meneses gravaram uma integral das obras para violoncelo e piano de Beethoven (aqui) e Meneses tocou bastante com orquestras e outros pianistas como Maria João Pires. Assim como Pires e Pressler (dois pianistas de mãos relativamente pequenas), Meneses tinha uma certa discrição que fugia do virtuosismo exagerado: a aparência era bem cuidada, claro, e seus ternos eram elegantes, mas certos detalhes entregavam que a preocupação era mais com o som do que com as câmeras.
Aqui nesta gravação de 2005 pelo trio hiper-cosmopolita (Pressler europeu radicado nos EUA, Meneses brasileiro radicado na Europa, Hope um sul-africano que estudou na Yehudi Menuhin School na Inglaterra), temos obras de fases bem diferentes de Shostakovich: o Trio nº 1, obra de juventude, é composto em um único movimento no qual se alternam momentos rápidos e lentos. O Trio nº 2, com uma divisão bem mais clássica em quatro movimentos como uma obra de Haydn ou Schubert, é um pouco posterior ao Quinteto com Piano e às sinfonias nº 7 e 8, ou seja, época em que Shosta já tinha uma voz bem própria e reconhecida mundialmente. Finalmente os Romances para soprano e trio, Op. 127 (1967), são da última fase do compositor, quando seu temperamento se torna mais calmo e reflexivo, como nas sonatas para violino (1968) e para viola (1975) e nos últimos quartetos.
Dmitri Shostakovich (1906-1975):
1. Trio #1 em dó menor, Op. 8
2-5. Trio #2 em mi menor, Op.67
6-12. Sete Romances sobre versos de Alexander Blok, Op. 127
Beaux Arts Trio (Pressler, Meneses, Hope)
Joan Rodgers, soprano – tracks 6-12
Recorded: Auer Hall, Indiana University, 2005
E fica como sobremesa uma gravação de rádio do então jovem Meneses com a Orquestra da Rádio Bávara e o maestro alemão Michael Gielen. Que eu saiba, Meneses e Gielen nunca lançaram um disco juntos. Nesta gravação de um dos mais belos concertos já compostos para o violoncelo, a orquestra toca com um molho mais encorpado (metáfora de PQPBach), amanteigado, digamos, se comparado com certas interpretações mais secas de Haydn. Mas há, até hoje, gente que gosta desse tipo de som, e aqui ele nunca chega a exageros intoleráveis. É bom lembrar ainda que nos tempos de Haydn as orquestras em Viena, em Esterháza e em Londres, cidades onde Haydn viveu, soavam bem diferentes entre si, então ninguém vai chegar a uma sonoridade matematicamente exata, estamos combinados?
A Sinfonia n.º 45 de Joseph Haydn, também intitulada de “Sinfonia do Adeus”, é música de protesto, um elegante protesto que pretendia convencer o príncipe Nikolaus a não obrigar a orquestra a permanecer mais tempo no Palácio de Esterházy, em 1772, uma estadia que já se prolongava por longos meses e mantinha afastados os músicos das suas famílias. Haydn consentiu em traduzir em música essa insatisfação. No decorrer do último andamento, os músicos terminam sucessivamente as suas partes e retiram-se do palco. No final, não resta ninguém no palco.
Muitas das sinfonias de Haydn contêm “surpresas mais surpreendentes” do que aquela conhecida por “Sinfonia Surpresa”. A surpresa na Sinfonia º 46 aqui vem no movimento final. A abertura é um tema forte que é rapidamente retomado e desenvolvido, com destaque para as trompas. A música avança apenas para parar repentinamente, interrompida por uma passagem final do minueto. As trompas então explodem novamente com o tema principal, mas logo desapareceram e a música quase para. Então as cordas levam o movimento e a sinfonia a um encerramento rápido e abrupto. Embora não se saiba se ele estava familiarizado com esta sinfonia, Ludwig van Beethoven faria mais tarde a mesma coisa no final de sua Quinta Sinfonia, interrompendo o tema com uma reprise do material do movimento anterior antes de retornar.
Por que a Sinfona Nº 47 é chamada de “O Palíndromo”? O “Minuetto al Roverso” é a razão: a segunda parte do Minueto é igual à primeira, mas ao contrário.
F. J. Haydn (1732-1809): Symphonie Nr. 45 • Symphonie Nr. 46 • Symphonie Nr. 47 (English Chamber Orchestra, Daniel Barenboim)
Symphonie Nr. 45 F Sharp Minor (Hob. I: 45) “Sinfonia do Adeus”
Allegro Assai 5:36
Adagio 7:32
Menuet 4:02
Finale. Presto Adagio 7:46
Symphonie Nr. 46 H-Dur (Hob. I: 46)
1. Vivace 5:43
2. Poco Adagio 4:00
3. Menuet. Allegretto 3:02
4. Finale. Presto E Scherzando 4:30
Symphonie Nr. 47 G-Dur (Hob. I: 47) “O Palíndromo”
1. (Allegro) 5:52
2. Un Poco Adagio, Cantabile 8:11
3. Menuet Al Roverso 2:27
4. Finale. Presto Assai 4:38
Disse Maria Cooper Janis, esposa do grande pianista: “Fui abençoada com este privilégio, ao longo de 58 anos, de amar e ser amada, não apenas por um dos maiores artistas do século XX, mas por um ser humano excepcional, que elevou à plenitude seu talento”…
Nascido em Mackeesport, Pensilvânia, USA, 1928, Byron Janis estreou no “Carnegie Music Hall”, de Pittsburgh, aos 9 anos. Então, seu professor, Abraham Litow, o levou à New York, onde passou a estudar com Rosina e Josef Lhévine; depois, com Adele Marcus – três renomados mestres…
E aos 16 anos, impressionou Vladimir Horowitz, em performance do “2° concerto para piano”, de Rachmaninoff, tornando-se 1° aluno do célebre pianista, que o orientou até estreia no “Carnegie Hall”, de New York, aos 20 anos…
Horowitz sugeria: “Você brinca um pouco com aquarela, mas poderia brincar mais com óleo…” Aconselhando o jovem a buscar maiores densidade e desenvoltura de concertista…
E assim, o talentoso e promissor Byron Janis era recebido e orientado por elite musical americana, tornando-se solista da “Orquestra NBC”, dirigida por Arturo Toscanini, e aos 18 anos, artista mais jovem da gravadora “RCA Victor”…
Músico versátil, também experimentou-se como compositor, em trilhas sonoras e musicais; além de parcerias com o amigo e premiado jazzista, Cy Coleman. E escreveu música para o documentário “The true Gen”, da amizade do sogro e ator, Gary Cooper, com o escritor Ernst Hemingway… Na vida pessoal, Janis casou-se duas vezes: teve um filho com a 1ª esposa, June Wright; e divorciado, 1966, casou-se com a artista plástica, Maria Cooper…
Então, acidentalmente, descobriu manuscritos de Chopin, embora, de obras publicadas pelo músico polonês, mas que lhe trouxeram notoriedade – duas valsas para piano: “op. 18 e op. 70 n° 1”, num velho baú, no castelo de Thoiry, França; e passados 6 anos, duas outras versões, coincidentemente, das mesmas valsas, na biblioteca da “Univesidade de Yale”, USA…
As versões de “Yale” traziam referência à Chopin, mas não se imaginava, tratarem-se de originais do compositor, então, identificados por Janis – documentos musicais que permitiam comparar diferentes revisões do autor, publicadas em “The most dramatic musical discovery of the Age”…
E durante a “guerra fria” – conflito USA versus URSS – séc. XX, Byron Janis foi convidado para intercâmbio cultural, criado em 1960, após os êxitos do canadense Glenn Gould, em 1957, que surpreendeu público soviético nas interpretações de JS Bach; e do carismático texano Van Cliburn, que venceu “1º Concurso Tchaikovsky”, de Moscou, 1958, tornando-se seu presidente de honra… Todos, jovens artistas, transpondo barreiras culturais e, por fim, calorosamente acolhidos pelo público sovíético…
Da viagem à URSS: “Foi importante porque, para os russos em geral, a ‘América’ só produzia automóveis; e a propaganda local era de sermos totalmente incultos”, disse Janis, no popular “The Ed Sullivan Show”, 1965… E o intercâmbio trazia à New York, o célebre ucraniano, Sviatoslav Richter…
Após atuação e significados, cultural e diplomático, da turnê, agenda de Janis intensificou-se. Fase em que exibia plenamente seus repertório, domínio técnico e expressividade; e sua arte sensibilizava músicos e apreciadores… Então, carreira foi impactada, aos 45 anos – 1973, pelo desenvolvimento de “artrite psoriática”, nas mãos e nos pulsos, o que trouxe sofrimento e apreensão, mas não o impedia de apresentações. E Janis preferia manter certa discrição, do que tornar público o problema…
Inevitavelmente, além das limitações físicas, o distúrbio o atingia emocionalmente, tanto pela perspectiva profissional, quanto pela perda de algo que muito amava e em nível artístico tão elevado… De outro, doença lhe inspirou reação em defesa de maiores atenção e estudos sobre a enfermidade…
Então, decidiu tornar público e compartilhar solidariedade e esperança com outros pacientes. E após 12 anos, entre cuidados e tratamentos, aceitou missão de embaixador nacional da “Arthritis Foundation” – 1985, formalizada em recital na “Casa Branca”, convite de Nancy Reagan, 1ª dama – USA, 1981/89…
E com o tempo, lamentavelmente, enfermidade agravou-se e procedimento cirúrgico, em 1990, deixou seu polegar esquerdo mais curto, impedindo-o retomar as obras românticas que o consagraram – “assim que tiraram os curativos, achei que nunca mais tocaria; tentava pensar positivamente, mas não conseguia”, disse ao “Times”, 1997….
Da artrite: “inflamação ocasionando dores e rigidez nas articulações, que se acentuam com a idade; alguns tipos levam à deformações e atrofia dos membros”…
Em depressão, Janis retirou-se e passou a escrever canções, tal como em sua juventude… E com apoio da amiga e cantora, Juddy Collins, foi contratado pela “Warner Chappell”, para compor 22 canções do musical “Corcunda de Notre-Dame”, estreado em 1993….
E durante tratamento, incerto e pouco alentador, gradualmente, retomou apresentações, dividindo o palco em recitais beneficentes e, depois, em recital solo, no “Alice Tully Hall”, New York, 1998, com relativa mobilidade… Atento e disciplinado, cultivava equilibrio e paciência; também, movia-se por obstinação e paixão, pela música e pela vida…
E disse, a esposa: “apesar das adversidades, ao longo da carreira, Janis reagiu e as superou, sem deixar esmorecer seu talento artístico!” E música, desde sempre, foi sua escolha e ofício…
Por outro lado, mais de 300 mil jovens americanos apresentavam algum tipo de “artrite”. E o músico, sensibilizado e solidário, passava a trabalhar em programas de apoio, convertendo suas dores pessoais, ou parte delas, em generosidade e empatia… Então, em 2012, aos 83 anos, foi homenageado pelo conjunto da obra – por suas trajetória artística e ativismo na área de saúde…
Sobre a discografia
A discografia de Byron Janis tem sido frequentemente relançada. Assim, seus registros, desde a época do vinil, até recentemente, seguem disponibilizados, individualmente ou em coleções – tal como box lançado pela “Mercury records”, atraindo novos apreciadores. Seu afeto pela obra e vida de Frédéric Chopin foi notável; também os registros de Beethoven, nas sonatas “Aurora”, “Tempestade” e op. 109…
Mas, especial destaque ganharam as gravações com orquestra, em autores clássicos, como WA Mozart, ou nos românticos, Schumann, Liszt e Tchaikovsky… Também revelou versatilidade, ao abordar obras de Moussorgsky e de autores do século XX, como Gershwin e Prokofiev; além de registros antológicos dos concertos de Rachmaninoff – “trata-se, portanto, de ‘jurássico autêntico’, diriam os colegas do blog”, quando nos referimos à grandes músicos do passado…
E Janis gravou com renomadas orquestras, entre as sinfônicas de “Chicago”, “Minneapolis”, “Boston”, “Philadelphia” e “London”; também, com as filarmônicas de “New York” e “Moscow”; além de notáveis regentes, como Fritz Reiner, Charles Munch, Antal Dorati, Kyril Kondrashin e outros…
Sobre o solista, Will Crutchfield, do “New York Times” – 1985, escreveu: “de estilo peculiar, Mr. Janis alterna movimentos nervosos, golpes repentinos e saltos; com toques frágeis e carícias hesitantes… E assim a música emerge, por vezes, desconcertante, mas, em geral, envolvente…”
.Registros para download
CD “Mercury records” com suíte “Quadros de uma Exposição”, de Modest Moussorgsky, na versão original, para piano solo; e na versão orquestral, de Maurice Ravel, com a “Minneapolis Symphony”, direção de Antal Dorati:
Movimentos: ”Promenade” (Passeio) – Introdução; ”Gnomus”; ”Promenade”; “Il Vecchio Castello”; “Promenade”; ”Tuileries”; ”Bydlo” (‘Carro de Bois’); ”Promenade”; ”Ballet des petits poussins dans leurs Coques” (‘Balé dos pintinhos nas cascas de Ovos’); ”Samuel Goldenberg et Schmuyle”; ”Promenade”; “Limoges, Le Marché” (‘Mercado, em Limoges’); ”Catacombae, Sepulcrum Romanum”; “Cum mortuis in língua Mortua” (‘Com os mortos em língua Morta’); ”La Cabane de Baba-Yaga sur de pattes de Poule” (‘Cabana de Baba-Yaga sobre patas de Galinha’); ”La Grande porte de Kiev”.
CD “Mercury records”, com o “Concerto n° 1, em si bemol menor, op. 23”, de Piotr Ilitch Tchaikovsky, com “London Symphony”, direção de Herbert Menges:
Movimentos: 1. “Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito”; 2. “Semplice andantino – Prestissimo – Tempo I”; 3. “Allegro con fuoco – Molto meno mosso – Allegro vivo”.
CD “Mercury records” com o “Concerto para piano e orquestra, em lá menor, op. 54”, de Robert Schumann, com “Minneapolis Symphony”, direção de Stanislaw Skrowaczewski; e duas peças para piano solo:
“Concerto para piano e orquestra, op. 54”: 1. “Allegro afetuoso”; 2. “Intermezzo – Andantino grazioso”; 3. “Allegro vivace”;
“Arabeske, op. 18”, para piano solo;
“Quase variações s/Andantino de Clara Wieck” – “3° mov. da sonata, op. 14” (“Concert sans orchestre”), para piano solo.
Da turnê na ex-URSS, 1960, John von Rhein, do “Chicago Tribune”, revelou “surpreendente gravação encontrada na caixa de correio do eng. de som de Byron Janis, enviada por fonte anônima, que resgatava, de disco vinil, performances ‘ao vivo’ – da sonata ‘Marcia funebre’, de Chopin, e outras, capturando reações da plateia russa”…
As gravações, com mais de 50 anos, foram lançadas em 2018, no CD “Live from Leningrad 1960″… As interpretações de Byron Janis, por vezes, livres e originais, são intensas e belas referências; e as décadas de 1950/60 marcaram auge da carreira…
– Segue, áudio youtube da sonata “Marcia funebre”, de Chopin – CD “Live from Leningrad 1960″. (Clique aqui)
Novo intercâmbio cultural – Cuba
“Não toco para governos, toco para pessoas”, disse Byron Janis, quando de sua viagem à Cuba….
E tornou-se primeiro artista americano autorizado a visitar o país caribenho, a convite do governo cubano, 1999; e cerca de 40 anos após turnê, de 1958 – entre os últimos músicos americanos a apresentarem-se na ilha, antes da revolução… Convite ocorreu após prolongado tratamento e parcial retomada da carreira…
Acompanhado da esposa, visita permitiu rever o país, trocar impressões com músicos e professores, realizar “master-classes”, recitais e concertos; também, interagir com a cultura local e acolhedora população. Além de ser homenageado em original montagem do musical “Corcunda de Notre Dame”…
“In music they will find their freedom”, slogan que abre o documentário da turnê…
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Finalmente, com a esposa e artista plástica, Maria Cooper Janis, filha do laureado ator, Gary Cooper, escreveram uma autobiografia, intitulada “Chopin and Beyond: My Extraordinary Life in Music and the Paranormal”, lançada em 2010; e produziram o documentário: “A Voyage with Byron Janis”, que aborda aspectos da vida e obra de Chopin…
Entre os grandes pianistas de sua geração, quem sabe, do século XX, e deixando expressivo legado, humano e artístico, Byron Janis faleceu em Manhattan, New York, 14/03/2024, aos 95 anos…
– Segue, áudio youtube da “Ballada n° 1, op. 23”, de Chopin, registro de 1952. (Clique aqui) – Segue, vídeo youtube da “Rapsodia s/ tema de Paganini”, de Sergey Rachmaninoff, com “Orchestre Philarmonique de L’ORTF”, direção Louis de Froment – Paris, 1968. (Clique aqui)
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Honrarias e documentários
– “Légion d’Honneur – Ordre des Arts et des Lettres – Commandeur”, do Ministério da Cultura, França; – “Stanford Fellowship”, mais alta honraria da “Universidade de Yale”, USA; – “Distinguished Pennsylvania Artist Award”, USA; – “Embaixador Nacional das Artes”, pela “Arthritis Foundation”, USA, 1985; – “Medalha de Ouro – da Sociedade Francesa pelo Incentivo ao Progresso”, 1° músico a receber a comenda;
– Homenagem do “Congresso, USA”: “um músico, um diplomata, uma inspiração”; – “Artista da Yamanha” e 1° conselheiro da “Yamanha Music and Wellness Institut”; – “The Byron Janis Story”, documentário da PBS – direção de Peter Rosen, sobre resiliência e superação, na doença que podia limitá-lo severamente, até interromper carreira…
Conselhos didáticos e vivências
Da livre didática de Janis:“Se algumas de minhas soluções interpretativas não lhes parecer corretas, desconsidere-as”, dizia aos alunos… Pois, o ensino passa por fio tênue, entre o conhecimento e a liberdade interpretativa; entre o que ensinar e o que não ensinar, considerando a identidade artística a ser desenvolvida…
“Por vezes, peço aos alunos cantarem uma melodia e, invariavelmente, realizam em andamento mais calmo, do que a executam no piano. Assim deveriam abordar o teclado, tal como os cantores o fazem”; ou como recomendava Chopin – “não pratique tanto, mas ouça grandes cantores… Vá à ópera e aprenderá a frasear uma melodia!”
Conselhos técnicos:“Estabeleça metas de estudo e utilize tempos lentos e repetição, para obter aprimoramento efetivo. Mantenha concentração e agenda consistente de treinos – observe a qualidade, no lugar da quantidade!”
Das aulas com Horowitz:dizia o mestre, “algo não está certo… pense nisto, experimente e traga novamente” – uma orientação vaga, não específica, a induzir reflexão e senso crítico, que instigava soluções próprias, auto confiança e estilo; e recomendava, “seja o 1° Janis, busque sua identidade e supere-se, no lugar de ser um 2° Horowitz”… E após estreia, aos 20 anos, no “Carnegie Hall”, Horowitz o liberou: “agora, você deve seguir. E seus erros e acertos serão seus…”
Da experiência com Rosina e Josef Lhévine: “Certa ocasião, sr. Lhévine discordara de uma interpretação, que acabará de aprender com sra. Lhévine. Foi difícil lidar com opiniões divergentes, no entanto, descobri que sempre existirão outras leituras possíveis, pois havia apreciado ambas… Assim, não havia o certo ou o errado, apenas o diverso…”
Da amizade com Jascha Heifetz:Por um tempo, Janis morou com a família Heifetz e tocou informalmente com o grande violinista. Mal-entendidos empresariais, no entanto, impediram projeto de música de câmara, desejado por Heifetz… E certa ocasião, Byron indagou à Frank Sinatra segredo do belo “cantabile”, ao que o cantor respondeu: “eu ouço Jascha Heifetz!”
.Para download, CD “Live on Tour” – box da “Mercury records”, produzido, inicialmente, pela “Janis Eleven Enterprises Ltda”, incluindo diversos autores, entre Haydn, Chopin e Liszt; além de peças do próprio Byron Janis. E lembramos, que algumas das ilustrações de “capa”, da discografia, são criações da esposa, Maria Cooper Janis:
Conteúdo: Haydn – “Sonata em mi bemol maior”, Hob. XVI.49 (‘Allegro’, ‘Adagio cantabile’, ‘tempo di minuet’); Chopin – “Polonaise em si bemol maior” (ed. póstuma); “Mazurca em fá menor” (ed. póstuma); “Noturno”, op. 27 n° 2; “Valsa”, op. 34 n° 1; “Largo” (3° mov. da sonata op. 58); “Valsa em sol bemol maior” (ed. póstuma); “Valsa”, op. 70 n° 1; Liszt – “Sonetti del Petrarca n° 104”, S. 270 b; “Paraphase s/ Rigoletto, de Verdi“, S. 434; Byron Janis – “You are more”; “David’s star”; “Like any man”; “By and Cy – more Paganini variations” (c/ Cy Coleman).
Sobre Byron Janis, da esposa: “música era sua alma, não um ingresso para o estrelato”… “era paixão e amor, que o alimentou em 95 anos de vida”… Requisitos essenciais para quaisquer atividades artísticas; do aprimoramento e dedicação incessantes – entenda-se, “talento e muito suor”, impossíveis sem amor ou paixão…
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“Um brinde à magia da colaboração criativa e ao vínculo compartilhado e duradouro entre artistas!” (Maria Cooper Janis)
Mais duas maravilhosas sinfonias de Haydn, desta vez à cargo do grande George Szell à frente da Orquestra de Cleveland. Mais uma dupla incrível, que realizou gravações maravilhosas ainda nos anos 60.
Franz Joseph Haydn (1732-1809): Sinfonias Londrinas Nº 95 e 97 (Szell)
1 Symphonie in C Minor nº 95 – Allegro
2 Symphonie in C Minor nº 95 – Andante
7 Symphonie in C Minor nº 95 – Menueto
8 Symphonie in C Minor nº 95 – Finale- Vivace
9 Symphonie in C Major nº 97 – adagio – Vivace
10 Symphonie in C Major nº 97 – Adagio ma non troppo
11 Symphonie in C Major nº 97 – Menuetto – Allegretto
12 Symphonie in C Major nº 97 – Finale – Spirituoso
Três grandes sinfonias de Haydn, interpretadas por um de seus grandes intérpretes, Antal Dorati. Para que pedir mais nesse princípio de Primavera?
As sinfonias “Surpresa”, “Milagre” e “Militar” têm suas peculiaridades, e estes nomes às definem bem. Destaque para a de nº 100, conhecida como “Militar”. O gênio de Haydn inseriu na obra diversos elementos de marchas militares, e percussão em excesso. Muitas vezes podemos imaginar um pelotão marchando.
A interpretação de Dorati é magnífica. Possui um profundo conhecimento da obra de Haydn e estabelece uma cumplicidade com a orquestra que permite um total domínio sobre a mesma. Lembramos que com esta mesma Philarmonia Hungarica ele gravou a integral das sinfonias de Haydn. Ou seja, ambos se conheciam muito bem.
Outro lembrete: com a postagem do cd de Brüggen, regendo as sinfonias de nº 90 e 93, tivemos a partir desta de nº 93 o início do ciclo conhecido como Sinfonias “Londres”. Com estas 12 últimas sinfonias compostas, 93 a 104, Haydn estabeleceu em definitivo o gênero “Sinfonia”, e deu-lhe uma estrutura própria, que só viria a ser modificada com a “Eroica” de Beethoven. Mas isso é outra história.
Franz Joseph Haydn (1732-1809): Sinfonias Londrinas Nº 94, 96 e 100 (Dorati)
1- Symphonie 94 in G Major – Adagio cantabile – vivace assai
2 -Symphonie 94 in G Major – Andante
3 – Symphonie 94 in G Major – Menuetto
4 – Symphonie 94 in G Major – Finale Allegro di molto
5 – Symphonie nº 96 in D – Adagio – Allegro
6 – Symphonie nº 96 in D – Andante
7 – Symphonie nº 96 in D – Menuetto – Allegretto
8 – Symphonie nº 96 in D – Finale – Vivace assai
Não pensem que erramos, é que a Orpheus trabalha sem maestro. Este antigo CD é maravilhoso. Embora a orquestra toque com instrumentos modernos, mas esta longe de ser o oposto da “prática de época” — na minha opinião, esse movimento também informa algumas das maneiras de abordar as obras. Então, não deixa de ser historicamente informado. Ouçam e concluam. A Orpheus dá-nos versões enérgicas, ágeis e maravilhosas de três obras encantadoras. A melhor Sinfonia pode ser a 80, OK, mas sou apaixonado pela 22. O nome (“O Filósofo”) não está no manuscrito original e é improvável que tenha vindo do próprio Haydn. Ele aparece em uma cópia manuscrita da sinfonia encontrada em Modena, datada de 1790. Portanto, o apelido data da época do compositor, mas não da composição (1764). Pensa-se que o título deriva da melodia e do contraponto do primeiro movimento (entre as trompas e o corne inglês), que musicalmente aludem a uma pergunta seguida de uma resposta e paralelamente ao sistema de debate disputatio. O uso de um efeito tique-taque abafado na peça também evoca a imagem de um filósofo imerso em pensamentos enquanto o tempo passa. Só que o apelido torna-se menos apropriado à medida que a sinfonia avança e a seriedade dá lugar ao bom humor…
F. J. Haydn (1732-1809): Sinfonias No. 22 (Der Philosoph) • No. 63 (La Roxelane) • No. 80 (Orpheus Chamber Orchestra)
Haydn escreveu 104 sinfonias, das quais a última é apresentada neste disco interpretado pelos eslovacos da Capella Istropolitana e seu regente inglês Barry Wordsworth, grupo de crescente reputação na Europa. E você vê o porquê neste disco. Eles conseguem levar Haydn de uma forma que captura o espírito e o frescor de seu trabalho. As três sinfonias são tocadas lindamente. E com Haydn isso é muito. Ele é reconhecido hoje como o “pai” da sinfonia, não porque tenha criado a forma — houve sinfonias antes dele, mas não soavam como hoje. Foi Haydn quem moldou e desenvolveu a sinfonia na forma clássica madura. A de Nº 44 é facilmente reconhecida como uma sinfonia moderna com quatro movimentos. É um trabalho agradável, mas certamente não está classificado entre os trabalhos mais importantes de Haydn, mas já dá a promessa das coisas maiores que estão por vir. A música de Haydn está repleta de felicidade e de belas melodias para as quais ele parecia ter um suprimento inesgotável. A Sinfonia Nº 88 representa mais um avanço no crescimento de Haydn como compositor. Continua sendo uma das sinfonias mais populares de Haydn e é frequentemente gravada e tocada em concertos. Aqui temos mais consistência do que na 44. Já é uma joia, mas a pepita do disco, no entanto, é a Sinfonia Nº 104, facilmente uma daquelas poucas sinfonias classificadas entre as maiores já escritas. Este é Haydn no pleno reflexo de sua genialidade. Nela, o compositor combina seu inato senso de estilo com uma grande competência e é uma alegria ouvi-la mais uma vez. Uma palavra sobre a Capella Istropolitana e Wordsworth: cresci numa época em que as sinfonias traziam consigo um molho pesado, às vezes indigesto. Minha introdução à Sinfonia Nº 104 de Haydn foi com Otto Klemperer e a Philharmonia. A interpretação era majestosa, grandiosa, bem executada e totalmente sem noção. Aqui, tudo é mais íntimo. A Capella Istropolitana é uma orquestra menor e de toque muito mais leve. É Haydn. Sua genialidade foi nos levar até às portas de Beethoven, mas ele não foi Beethoven.
Franz Joseph Haydn (1732-1809): Sinfonias Nº 44 “Trauer”, 88 e 104 “London” (Capella Istropolitana, Wordsworth)
Symphony No. 44 in E Minor, Hob.I:44, “Trauersinfonie” (Mourning)
1 I. Allegro con brio 07:08
2 II. Menuet and trio 06:23
3 III. Adagio 04:35
4 IV. Finale: Presto 03:48
Symphony No. 88 in G Major, Hob.I:88
5 I. Adagio – Allegro 06:40
6 II. Largo 05:34
7 III. Menuetto: Allegretto 04:13
8 IV. Finale: Allegro con spirito 03:53
Symphony No. 104 in D Major, Hob.I:104, “London”
9 I. Adagio – Allegro 08:22
10 II. Andante 09:29
11 III. Menuet – Trio 05:26
12 IV. Finale: Spiritoso 06:51
Orchestra: Capella Istropolitana
Conductor: Wordsworth, Barry
Gostei muito. As gravações são todas ao vivo, tomadas na Tonhalle de Zurique, com aplausos. Trata-se de uma coleção dos ‘bis depois de Beethoven’ que András Schiff deu durante seu ciclo das 32 sonatas do mestre entre 2004 e 2006. Com 52 minutos, equivalem a um banquete dos finais clássicos dos recitais do pianista – de Bach, Haydn e Mozart, passando por Beethoven até Schubert. Se você pensa nos bis como coisas leves, bem, eles podem ser ou não ser. Esses compositores escreveram muitas peças características que são menos ambiciosas do que as grandes sonatas, mas que não devem ser descartadas como miniaturas. Composições mais curtas, sim, mas com longas reflexões por trás delas.
O que tocar depois de uma noite de, digamos, cinco sonatas de Beethoven? Nada, afirmariam muitos pianistas. E Schiff está de acordo com aqueles que, depois da última Sonata de todas (a famosa Op. 111), considerariam a adição de qualquer coisa que não fosse o silêncio como um terrível erro. No entanto, ele nos chega com uma atitude do tipo “por que não?, não há razão para negar a um público entusiasmado um pouco mais de música, desde que estejam relacionadas com as sonatas ouvidas anteriormente”. Os bis variam em extensão e escopo, desde a pequena Giga em Sol maior de Mozart, K. 574 (1’42” e bem traiçoeira), até a Sonata em Sol menor de dois movimentos de Haydn (nº 44 em Hob.) que chamou a atenção de vários grandes pianistas, como Sviatoslav Richter. E ainda temos Bach! Uma joia de CD!
J. S. Bach / Beethoven / Haydn / Mozart / Schubert: Encores After Beethoven (Bis depois de Beethoven) (András Schiff)
Three Piano Pieces D 946 (Franz Schubert)
1 No. 1 e- Flat minor. Allegro assai 07:26
2 Allegretto c minor D 915 (Franz Schubert) 04:59
3 Eine kleine Gigue in G Major KV 574 (Wolfgang Amadeus Mozart) 01:42
Sonata g minor Hob XVI :44 (Joseph Haydn)
4 Moderato 09:33
5 Allegretto 04:04
6 Hungarian Melody in b minor D 817 (Franz Schubert) 03:59
7 Andante favori F major WoO 57. Andante grazioso con moto (Ludwig van Beethoven) 08:41
Partita No. 1 B-flat Major BWV 825 (Johann Sebastian Bach)
8 Menuet I & II 02:32
9 Gigue 02:33
Prelude and Fugue b-flat minor BWV 867 (Johann Sebastian Bach)
10 Prelude 02:30
11 Fugue 03:27
A Suíça, vocês sabem… Tem várias cidades médias para padrões europeus e que no Brasil seriam consideradas pequenas, mas onde circula muita grana e, consequentemente, muita arte:
Basel (Basiléia), onde foram estreadas tantas obras de Bartók, Honegger, Stravinsky, Dutilleux, graças ao apoio do bilionário Paul Sacher (músico e empresário, casado com a herdeira da La Roche).
Davos, onde se encontram anualmente os bilionários do Fórum Econômico Mundial para …[o jurídico do PQP Bach sugeriu retirar este trecho para evitar processos]
Montreux e Lugano, famosas pelos seus festivas de jazz… Luzern (Lucerna ou Lucerne), com um importante festival de música de concerto, associado a nomes como Abbado e Boulez.
Lausanne, no mesmo lago de Montreux e da irmã maior Genebra. Lausanne e Genebra são sedes de duas orquestras que gravaram muito por gravadoras como Decca (aqui, com E. Ansermet) e Erato (aqui, com M.J. Pires) nos anos 1950 a 80, com naipes menores e sonoridades mais leves que as das orquestras alemãs.
Com exceção de Genebra e da capital Zurich, as outras cidades citadas têm menos de 200 mil habitantes. É o caso ainda de Saint Gallen, próxima de Zurich e a 1/3 do caminho entre esta e Munique. Nessa cidade de umas 80 mil pessoas – mas vai saber quantos milionários e mecenas das artes – existe desde 2006 uma fundação chamada J.S. Bach-Stiftung, St. Gallen, dedicada às obras corais de Bach. A orquestra e o coro que se formaram nesse contexto, após anos dedicados ao repertório de um só compositor, resolveram fazer outras obras, principalmente para coro e orquestra, como a 9ª Sinfonia de Beethoven e esta Missa in tempore belli (Missa em tempos de guerra), assim nomeada por Haydn por ter sido composta em 1796, em meio às longas guerras que se seguiram à Revolução Francesa e mais especificamente no momento em que tropas francesas começavam a ameaçar os países aliados dos Bourbon e do Antigo Regime.
Com instrumentos de época e cantores super entrosados, o time joga realmente em conjunto. Imagino que a maioria seja de suíços e alemães, mas também se destaca a voz de Julia Doyle, soprano inglesa que apareceu aqui recentemente na Paixão de São João regida por Gardiner.
O que surpreende nessa Missa é o uso da percussão: não é que o tímpano fosse uma novidade em música sacra… Na Missa em Si Menor de Bach, por exemplo, ele aparece para reforçar os momentos de exaltação grandiosa, como o Gloria e o Osanna. A genialidade de Haydn foi usar o tímpano como elemento dramático, sobretudo nos dois movimentos finais: o Benedictus se inicia com cordas misteriosas e rufares de tambores em uma longa introdução instrumental, antes dos solistas entrarem, com destaque para a suave voz angelical de Julia Doyle. Não é um tambor de elevação divina, bem pelo contrário, é um tom de ameaça de quem teme que os canhões cheguem perto da sua casa, talvez mesmo tiros de canhão poderiam cair no seu muro… balas perdidas… coisas bem distantes do cotidiano dos brasileiros de 2023, é claro…
E os tambores de guerra seguem soando no movimento final, Agnus Dei – que segundo os especialistas em Haydn é o coração desta missa, com o destaque dado ao “dai-nos a paz”. Imagina-se que este trecho representaria a opinião de Haydn, que só podia ser expressa em latim já que o efetivo fim da guerra contra Napoleão era tema para os mais altos diplomatas e não se esperava, numa sociedade cheia de censura e regras hierárquicas, que um compositor, mesmo respeitado como Haydn, expressasse qualquer opinião sobre o tema em público.
Se a paz imediata era a vontade de Haydn, não foi esse o curso da História: a missa é de 1796, quando o exército austríaco acumulava derrotas e temia-se a invasão de Viena. E essa invasão viria a acontecer bem depois, em maio de 1809: o bairro onde morava Haydn foi bombardeado de 10 a 13 de maio daquele ano. Dias depois, Haydn morria aos 77 anos e foi homenageado por Napoleão, que admirava o compositor, o que não o impedia de travar longa guerra contra os seus parentes e amigos. Os últimos anos de Haydn, assim como os anos do Beethoven “heroico” (Sinfonias 3 a 6, Sonata Appassionata, etc), foram anos de preocupação com guerras bastante violentas: para quem vivia em Viena, uma bala de canhão sempre poderia cair no dia seguinte. Viver em guerra é mais ou menos assim. Não é legal, né?
Franz-Joseph Haydn (1732-1809): Missa in tempore belli, Hob. XXII:9 “Paukenmesse”
1. Kyrie
2. Gloria
3. Credo
4. Sanctus
5. Benedictus
6. Agnus Dei
Julia Doyle, soprano
Claude Eichenberger, alto
Bernhard Berchtold, tenor
Wolf Matthias Friedrich, bass
Choir & Orchestra of the J.S. Bach Foundation, Conductor: Rudolf Lutz
Live Recording
Eis um CD delicioso de se ouvir, daqueles que no deixam felizes, assobiando e loucos para ouvir novamente. A parceria Schiff / Marriner / ASMF funciona perfeitamente aqui, corretos, concisos, mostrando os grandes músicos que eram.
Nem teria muito a comentar sobre o CD, ou até mesmo sobre a música. A comparação com Rostropovich é inevitável, mas também creio que é desnecessária. Talvez o que posso dizer é que a alegria que sinto com esta turma tocando aqui é a mesma que senti quando ouvi o gigante russo tocando estes mesmos concertos e não por acaso, com a mesma Orquestra. O que também poderia dizer é que o famoso disco de Rostropovich foi gravado em um momento em que ele já era uma unanimidade, uma lenda viva, enquanto que Schiff ainda tentava se impor como um intérprete de renome.
Infelizmente, dores nos ombros afastaram Heinrich Schiff dos palcos e nunca mais conseguiu se apresentar ao vivo, falecendo precocemente aos 65 anos, em 2016. Realizou belíssimas gravações pelo selo Philips, tendo a oportunidade de gravar com grandes nomes do selo, como Bernard Haitink, Viktoria Mullova e André Previn.
A Sinfonia Concertante, que aparece neste CD da integral do músico, foi retirada de um outro disco que ele gravou com Salvatore Accardo e a English Chamber Orchestra. Nem preciso dizer que o virtuose italiano do violino também nos proporciona excelentes momentos com sua execução. Infelizmente essa Sinfonia não é tão gravada. Mas o resultado aqui nos deixa perfeitamente satisfeitos.
Sei que estamos em uma época em que estas gravações mais antigas são desconsideradas (e esta aqui nem é tão velha, 1988), consideradas ultrapassadas, diariamente aparecem outros registros com uma nova geração de músicos, mas sempre gosto de voltar a estes ‘dinossauros’. Todos deram sua contribuição para a evolução da interpretação, e até mesmo da gravação. E foram estas gravações que me auxiliaram na descoberta destes repertórios em uma época em que não tínhamos internet, nem streaming, e foram as responsáveis pela nossa formação musical enquanto ouvinte.
Cello Concerto In C, H. VIIb No. 1
1 Moderato
2 Adagio
3 Finale (Allegro Molto) Cello Concerto In D, H. VIIb No.2
4 Allegro Moderato
5 Adagio
6 Rondo (Allegro)
Heinrich Schiff – Cello
Academy of Saint Martin in the Fields
Sir Neville Marriner – Conductor
Sinfonia Concertante in B flat, Op. 94 Hob. 1:105
Allegro
Andante
Allegro con spirito
Heinrich Schiff – Cello
Neil Back – Oboe
Graham Sheen – Fagott
Salvatore Accardo – Violin & Director
English Chamber Orchestra
Roubo? Mas é claro! E digo de onde. Foi roubado do Átila do Prato Feito, um excelente blog. Tudo porque seduziu-me a ideia do CD duplo e o excelente conjunto que interpreta o repertório. O estranho é que não gostei muito da amada (por mim) Ode de Handel, levada um tanto em ponto morto, sem a densidade emocional que PQP exigiria em seus sonhos. Mas pensem bem: três Cecílias, três vezes a padroeira da música, uma vez por Purcell, depois por Handel e Haydn. Não, só roubando mesmo. Leiam o post do Átila, muito melhor do que aquilo que escrevo aqui.
Purcell, Handel e Haydn: To Saint Cecilia
Hail, bright Cecilia, Z 328 “Ode on St Cecilia’s Day” by Henry Purcell
1. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Symphony) 9:49
2. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Hail! Bright Cecilia!’) 4:03
3. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Hark, Each Tree’) 3:45
4. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Tis Nature’s Voice’) 4:28
5. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Soul of the World’) 2:07
6. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Thou Tun’st this World’) 5:11
7. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘With That Sublime Celestial Lay’) 2:49
8. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Wond’rous Machine’) 2:12
9. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘The Airy Violin’) 1:16
10. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (In Vain the Am’rous Flute’) 6:36
11. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘The Fife and All the Harmony of War’) 2:52
12. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (‘Let These Amongst Themselves Contest’) 2:22
13. To Saint Cecilia – Hail! Bright Cecilia (Ode À Sainte Cécile) (Hail! Bright Cecilia!’) 4:09
Ode for St Cecilia’s Day, HWV 76 by George Frideric Handel
14. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (Overture: Larghetto e staccato – Allegro – Minuetto I – Minuetto II) 5:14
15. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘From Harmony’) 0:30
16. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘When Nature’) 2:54
17. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘From Harmony’) 3:17
18. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘What Passion Cannot Music Raise’) 10:12
19. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘The Trumpet’s Loud Clangor’) 3:12
20. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (March) 1:39
Disc 2:
1. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘The Soft Complaining Flute’) 6:28
2. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘Sharp Violins Proclaim’) 3:34
3. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘But Oh! What Art Can Teach’) 5:43
4. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘Orpheus Could Lead’) 1:29
5. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘But Bright Cecilia’) 0:54
6. A Song for St Cecilia’s Day (Ode À Sainte Cécile) (‘As From the Pow’r of Sacred lays’) 7:52
Missa Cellensis in honorem, H 22 no 5 “Cäcilienmesse” by Franz Joseph Haydn
7. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Kyrie I’) 3:09
8. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Christe’) 3:02
9. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Kyrie II’) 2:51
10. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Gloria In Excelsis Deo’) 2:37
11. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Laudamus Te’) (‘Laudamus Te’) 3:35
12. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Gratias Agimus Tibi’) (‘Gratias Agimus Tibi’) 2:49
13. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Domine Deus’) 5:03
14. Cäcilienmessemissa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Qui Tollis Peccata Mundi’) 5:15
15. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Quoniam Tu Solus Sanctus’) (‘Quoniam Tu Solus Sanctus’) 2:53
16. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Cum Sancto Spiritu’) (‘Cum Sancto Spiritu’) 0:27
17. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘In Gloria Dei Patris’) (‘In Gloria Dei Patris’) 3:03
18. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Et Incarnatus Est’) (‘Et Incarnatus Est’) 8:33
19. Cäcilienmesse|Missa Cellensis In Honorem Beatissimæ Virginis Mariæ Hob. Xxii:5 1766 (‘Et Resurrexit’) (‘Et Resurrexit’) 4:36
Anders J. Dahlin (Tenor)
Lucy Crowe (Soprano)
Richard Croft (Tenor)
Nathalie Stutzmann (Alto)
David Bates (Countertenor)
Luca Tittoto (Bass)
Neil Baker (Baritone)
Regência: Marc Minkowski
Les Musiciens du Louvre
Choeur des Musiciens du Louvre
Celebramos mais um aniversário da Rainha, e ela não dá sinais de arrefecer o radiador. Vá lá, volta e meia a assombrosa octogenária nos dá um susto, só para daí voltar com tudo – cancelando um concerto ou outro, naturalmente, como sói acontecer desde que Martha é Martha – e nos fazer sonhar com mais uma década todinha (a nona de sua vida, e a oitava como pianista) com ela a forrar nossos tímpanos de deleite.
Já é meu bem surrado costume cantar-lhe parabéns pelo cumple e celebrar a data gaiatamente, compartilhando presentes gravados pela própria aniversariante. Marthinha segue tão ativa fazendo música quanto afastada dos estúdios, de modo que todos os novos registros de sua arte, como há já algumas décadas, provêm somente de apresentações ao vivo. Entre as adições à discografia marthinhiana lançadas desde o 5 de junho passado – as quais passo a lhes oferecer a seguir -, apenas uma foi gravada, conforme a promessa do título desta postagem, na nona década de vida da Rainha. Trata-se de um recital em duo com o violinista Renaud Capuçon, gravado no ano passado, em que ela nos serve algumas de suas especialidades: além de uma das sonatas de Schumann, que a mantém entre os poucos grandes intérpretes a prestigiá-las em seu repertório, ela demonstra seguir afiada como sempre na realização das eletrizantes partes pianísticas da “Kreutzer” e da sonata de Franck.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105
1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 7 – Allegretto ben moderato
8 – Allegro
9 – Recitativo – Fantasia. Ben moderato
10 – Allegretto poco mosso
Renaud Capuçon, violino
Gravado ao vivo no Grand Théâtre de Provence em Aix-en-Provence (França) em 22 de abril de 2022.
Apesar de já não serem exatamente novidades, por circularem há algumas décadas entre pirat…, er, fãs incondicionais afeitos a compartilhar gravações não oficiais, os muitos registros ao vivo presentes nos oito volumes duplos lançados pelo selo Doremi ao longo do último ano são muito bem-vindos à discografia de Marthinha. Chamo atenção para as sonatas de Beethoven, particularmente sua elétrica – diria até demais! – leitura da “Waldstein” (volume 10) e uma belíssima interpretação da Op. 101 (vol. 11), que, até prova em contrário, são suas únicas para estas obras-primas; uma rara aparição do Concerto no. 3, aquele que ela menos toca entre os três de Ludwig que estão em seu repertório, e que viria a gravar oficialmente só décadas mais tarde (vol. 9); um Rach 3 ainda menos comum, captado durante a brevíssima janela em que ela o tocou (vol. 13); e colaborações com regentes notáveis como Rafael Kubelík (vol. 13), Lorin Maazel (vol. 10), Claudio Abbado (vols. 10 e 11), além de Charles Dutoit – seu ex-marido, amigo e parceiro artístico de tantas décadas, que se faz presente na maior parte dos tomos dessa coleção, acompanhando Martha por toda parte.
Sergei Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
1 – Andante
2 – Tema con variazioni
3 – Allegro, ma non troppo
Orquestra Sinfónica del SODRE Charles Dutoit, regência
Gravado em Montevideo (Uruguai) em 14 de junho de 1969
Robert SCHUMANN Toccata em Dó maior para piano, Op. 7 4 – Allegro
Fantasia em Dó maior para piano, Op. 17
5 – Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen. Im Legenden-Ton 6 – Mäßig. Durchaus energisch 7 – Langsam getragen. Durchweg leise zu halten
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849) Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60 8 – Allegretto
Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39 9 – Presto con fuoco
Gravado em Edinburgh (Escócia) em 6 de setembro de 1966
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807 10 – Prélude
11 – Allemande
12 – Courante
13 – Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
14 – Bourrée I & II
15 – Gigue
Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22 16 – So rasch wie möglich
17 – Andantino
18 – Scherzo
19 – Rondo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Jeux d’eau, para piano 20 – Très doux
Franz LISZT Das Harmonies poétiques et religieuses para piano, S. 173:
21 – No. 7: Funérailles
Fryderyk CHOPIN Balada para piano no. 3 em Lá bemol maior, Op. 47 22 – Allegretto
Das Quatro mazurcas para piano, Op. 41: 23 – No. 4 em Lá bemol maior
Das Três mazurcas para piano, Op. 63: 24 – No. 2 em Fá menor
Das Quatro mazurcas para piano, Op. 33:
25 – No. 2 em Ré maior
Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31 26 – Presto
Das Quatro mazurcas para piano, Op. 24:
27 – No. 2 em Dó maior
Gravado em Edinburgh (Escócia) em 8 de setembro de 1967
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice
3 – Allegro con fuoco
Göteborgs Symfoniker Charles Dutoit, regência
Gravado em Göteborg (Suécia) em 27 de outubro de 1972
Robert SCHUMANN Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54 4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo
6 – Allegro vivace
Česká Filharmonie Václav Neumann, regência
Gravado em München (Alemanha Ocidental) em 29 de março de 1971
Ludwig van BEETHOVEN Das Três sonatas para piano, Op. 10: No. 3 em Ré maior
7 – Presto
8 – Largo e mesto
9 – Minuet. Allegro
10 – Rondo. Allegro
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano. BB 88, Sz. 80
11 – Allegro moderato
12 – Sostenuto e pesante
13 – Allegro molto
Fryderyk CHOPIN Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28 14 – No. 1 em Dó maior
15 – No. 2 em Lá menor
16 – No. 3 em Sol maior
17 – No. 4 em Mi menor
18 – No. 5 em Ré maior
19 – No. 6 em Si menor
20 – No. 7 em Lá maior
21 – No. 8 em Fá sustenido menor
22 – No. 9 em Mi maior
23 – No. 10 em Dó sustenido menor
24 – No. 11 em Si maior
25 – No. 12 em Sol sustenido menor
26 – No. 13 em Fá sustenido maior
27 – No. 14 em Mi bemol menor
28 – No. 15 em Ré bemol maior
29 – No. 16 em Si bemol menor
30 – No. 17 em Lá bemol maior
31 – No. 18: em Fá menor
32 – No. 19 em Mi bemol maior
33 – No. 20 em Dó menor
34 – No. 21 em Si bemol maior
35 – No. 22 em Sol menor
36 – No. 23 em Fá maior
37 – No. 24 em Ré menor
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
38 – Sonata em Ré menor, K. 141
Fryderyk CHOPIN
Das Três Mazurcas para piano, Op. 63:
39 – No. 2 em Fá menor
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para piano em Dó maior, Op. 53, “Waldstein”
1 – Allegro con brio
2 – Introduzione. Adagio molto
3 – Rondo. Allegretto moderato – Prestissimo
Fryderyk CHOPIN Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58 4 – Allegro maestoso
5 – Scherzo. Molto vivace
6 – Largo
7 – Finale. Presto non tanto
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
Das Estampes para piano, L. 100:
8 – No. 3: Jardins sous la pluie
Gravado em Tokyo (Japão) em 4 de outubro de 1970
Maurice RAVEL Concerto em Sol maior para piano e orquestra
9 – Allegramente
10 – Adagio assai
11 – Presto
Radio-Sinfonieorchester Stuttgart Peter Maag, regência
Gravado em Stuttgart (Alemanha Ocidental) em 10 de outubro de 1969
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
Radio-Sinfonieorchester Berlin Lorin Maazel, regência
Gravado em Berlim Ocidental (Alemanha Ocidental) em 1972
Sergei PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26
4 – Andante
5 – Tema con variazioni
6 – Allegro, ma non troppo
Orchestre National de la Radiodiffusion Française Claudio Abbado, regência
Gravado na França em 7 de dezembro de 1967
Robert SCHUMANN
Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22 7 – So rasch wie möglich
8 – Andantino
9 – Scherzo
10 – Rondo
Gravado em New York City (Estados Unidos) em 7 de abril de 1973
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo: Allegro scherzando
Česká Filharmonie
Claudio Abbado, regência
Gravado em Salzburg (Áustria) em 4 de agosto de 1971
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
4 – Allegro maestoso – Quasi adagio – Allegretto vivace – Allegro animato – Allegro marziale animato
NDR Symphonieorchester Moshe Atzmon, regência
Gravado em Hamburg (Alemanha Ocidental) em 8 de novembro de 1971
Fryderyk CHOPIN Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 35 5 – Grave. Doppio movimento
6 – Scherzo
7 – Marche funèbre: Lento
8 – Finale: Presto
Gravado em New York City (Estados Unidos) em 2 de outubro de 1974
Johann Sebastian BACH Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807 1 – Prélude
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
5 – Bourrée I & II
6 – Gigue
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para piano em Lá maior, Op. 101
7 – Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung
8 – Lebhaft. Marschmäßig
9 – Langsam und sehnsuchtsvoll
10 – Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit
Robert SCHUMANN Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen – Kuriose Geschichte – Hasche-Mann – Bittendes Kind – Glückes genug – Wichtige Begebenheit – Träumerei – Am Kamin – Ritter vom Steckenpferd – Fast zu ernst – Fürchtenmachen – Kind im Einschlummern – Der Dichter spricht
Gravado em Veneza (Itália) em 10 de fevereiro de 1969
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para piano em Lá maior, K. 310 12 – Allegro maestoso
13 – Andante cantabile con espressione
14 – Presto
Gravado em Colônia (Alemanha Ocidental) em 8 de setembro de 1960
Fryderyk CHOPIN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21 1 – Maestoso
2 – Larghetto
3 – Allegro vivace
Detroit Symphony Orchestra Klaus Tennstedt, regência
Gravado em Detroit (Estados Unidos) em 9 de fevereiro de 1978
Robert SCHUMANN Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54 4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo
6 – Allegro vivace
Orchestre de l’Office de Radiodiffusion-Télévision Française Charles Dutoit, regência
Gravado em Paris (França) em 6 de setembro de 1973
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
7 – Allegro maestoso – Quasi adagio – Allegretto vivace – Allegro animato – Allegro marziale animato
Göteborgs Symfoniker Norman del Mar, regência
Gravado em Göteborg (Suécia) em 18 de março de 1971
Johann Sebastian BACH Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826 1 – Sinfonia
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande
5 – Rondeau
6 – Capriccio
Sergei PROKOFIEV Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 7 – Allegro inquieto
8 – Andante caloroso
9 – Precipitato
Robert SCHUMANN
Fantasiestücke, para piano, Op. 12 10 – Des Abends – Aufschwung – Warum? – Grillen – In der Nacht – Fabel – Traumes Wirren – Ende vom Lied
Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39 11 – Presto con fuoco
Fryderyk CHOPIN
12 – Andante Spianato e Grande Polonaise Brillante para piano, Op. 22
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
13 – Sonata em Ré menor, K. 141
Gravado em Toronto (Canadá) em 3 de novembro de 1978
Wolfgang Amadeus MOZART Concerto para piano e orquestra no. 25 em Dó maior, K. 503 1 – Allegro Maestoso
2 – Andante
3 – Allegretto
New York Philharmonic Rafael Kubelík, regência
Gravado em New York City (Estados Unidos) em 7 de fevereiro de 1978
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Concerto para piano e orquestra no. 3 em Ré menor, Op. 30 4 – Allegro ma non tanto
5 – Intermezzo. Adagio
6 – Finale. Alla breve
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15 1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo. Allegro scherzando
NDR Orchester Moshe Atzmon, regência
Gravado em Hamburgo (Alemanha Ocidental) em 23 de agosto de 1976
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23
4 – Allegro non troppo e molto maestoso
5 – Andantino semplice
6 – Allegro con fuoco
Orchestre de la Suisse Romande Charles Dutoit, regência
Gravado em Génève (Suíça) em 24 de outubro de 1973
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Jeux d’eau, para piano 7 – Très doux
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
8 – Sonata em Ré menor, K. 141
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano. BB 88, Sz. 80
1 – Allegro moderato
2 – Sostenuto e pesante
3 – Allegro molto
Robert SCHUMANN
Fantasiestücke, para piano, Op. 12 4 – Des Abends – Aufschwung – Warum? – Grillen – In der Nacht – Fabel – Traumes Wirren – Ende vom Lied
Maurice RAVEL Gaspard de la nuit, Trois poèmes pour piano d’après Aloysius Bertrand, M. 55 5 – Ondine
6 – Le gibet
7 – Scarbo
Fryderyk CHOPIN Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60 8 – Allegretto
Dos Dois noturnos para piano, Op. 48 9 – No. 1 em Dó menor
Scherzo em Dó sustenido menor para piano, Op. 39 10 – Presto con fuoco
“Siri com Toddy”, diriam alguns, ao verem o lépido trio de Haydn pareado com o demoníaco Concerto no. 3 de Prokofiev, ambos gravados durante participações da Rainha no Festival de Verbier. Mas quem pode reclamar, quando o Haydn é tão lindamente tocado, e o Prokofiev vem num dos melhores registros desta que é, há décadas, uma de suas mais magmáticas intérpretes?
Joseph HAYDN (1732-1809) Trio para piano, violino e violoncelo no. 39 em Sol maior, Hob.XV:25 1 – Andante
2 – Poco adagio
3 – Rondo all’Ongarese (Presto)
Vadim Repin, violino Mischa Maisky, violoncelo
Gravado em Verbier (Suíça) em 27 de julho de 2000
Sergei PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 30 4 – Andante – Allegro
5 – Tema con variazioni
6 – Allegro ma non troppo
Verbier Festival Orchestra
Yuri Temirkanov, regência
Falando em reclamar, chegou a minha vez: reconheço os méritos da longa carreira e extraordinária vida de Ivry Gitlis, mas não me conto entre seus fãs como intérprete. Martha, aparentemente, nunca ligou para minha opinião desimportante (no que age muito bem), e foi muito amiga do violinista israelense, a quem acompanhou em muitos recitais, excertos dos quais apareceram nesse volume duplo e meio mal ajambrado da Doremi. Só porque sou implicante, incluí somente as faixas com participação da Rainha – se os aficionados por Gitlis me xingarem o bastante nos comentários, talvez eu lhes traga, algum dia, as faixas que arbitrariamente limei.
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para violino e piano no. 18 em Sol maior, K. 301 1 – Allegro con spirito
2 – Allegro
Ludwig van BEETHOVEN Da Sonata para violino e piano em Fá maior, Op. 24, “Primavera”: 3 – Rondo
Gravado em Lugano (Suíça) em 14 de junho de 2006
Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto
Friedrich (“Fritz”) KREISLER (1875-1962)
7 – Liebesleid
Gravado em Lugano em 7 de junho de 2003
Claude DEBUSSY
Sonata para violino e piano em Sol menor, L. 140
8 – Allegro vivo
9 – Fantasque et léger
10 – Finale. Très animé
Gravado em Lugano em 24 de junho de 2004
Fritz KREISLER
11 – Schön Rosmarin
12 – Liebesleid
A já longa recusa a tocar solo, tanto nos palcos quanto nos estúdios, naturalmente direcionou Marthinha para rumos e repertórios novos como camerista. Suas participações em festivais, em especial o de Lugano, costumam trazer surpresas, entre as quais poucas poderiam ser mais obscuras que o duo pianístico Bilder aus Osten (“Quadros do Oriente”) de Schumann, aqui num arranjo do clarinetista Mark Denemark, e a seleção de peças de Bruch para piano, clarinete e viola (tocada por Lyda, a filha mais velha da Diva) que encerra o disco a seguir.
Robert SCHUMANN
Bilder aus Osten, para piano a quatro mãos, Op. 66 (arranjo de Mark Denemark para piano, clarinete, viola e violoncelo) 1 – Lebhaft
2 – Nicht schnell und sehr gesangvoll zu spielen
3 – Im Volkston
4 – Nicht schnell ‘Chanson Orientale’
5 – Lebhaft
6 – Reuig andächtig
Mark Denemark, clarinete Lyda Chen, viola Mark Drobinsky, violoncelo
Gravado em Lugano (Suíça) em 16 de junho de 2007
Max Christian Friedrich BRUCH (1838-1920)
Das Oito peças para clarinete, viola e piano, Op. 83: 7 – No. 5: Rumänische Melodie: Andante
8 – No. 6: Nachtgesang: Andante con moto
9 – No. 7: Allegro vivace, ma non troppo
10 – No. 8: Moderato
A um só tempo celebração dos noventa anos de Rodion Shchedrin e um bom apanhado geral de sua fascinante e multifacetada obra, a compilação a seguir, que reúne gravações ao vivo em diversas edições do Festival de Verbier, nos faz ouvir Martha e seu amicíssimo ex-vizinho Mischa Maisky no Concerto Duplo para violoncelo e piano – a única obra de Shchedrin que tem em seu repertório -, além duma minigaláxia de celebridades musicais que inclui o próprio compositor, um excelente pianista.
Rodion Konstantinovich SHCHEDRIN (1932) Concerto duplo para piano, violoncelo e orquestra, “Oferenda Romântica” 1 – Moderato quasi andantino
2 – Allegro
3 – Sostenuto assai
Mischa Maisky, violoncelo Verbier Festival Orchestra
Neeme Järvi, regência
Gravado em Verbier (Suíça) em 30 de julho de 2012
Antigas Melodias Tradicionais Russas, para violoncelo e piano 4 – Lento un poco rubato
5 – Allegro, ma non troppo
6 – Maestoso
7 – Adagietto
8 – Moderato
Rodion Shchedrin, piano Sol Gabetta, violoncelo
Duetos Românticos, para piano a quatro mãos
9 – Andante cantabile
10 – Allegro sotto voce
11 – Maestoso con moto
12 – Allegretto moderato, a la gypsy
13 – Allegro, ma non troppo
14 – Andante recitando
15 – (Coda) Prestissimo
Rodion Shchedrin e Roland Pöntinen, piano
16 – Concerto no. 1 para orquestra, ‘Tschastuschi’
Verbier Festival Orchestra
Mikhail Pletnev, regência
Improvisos para piano, “Páginas sem Arte” 17 – No. 1, Romantic Etude (Staccato-Etude)
18 – No. 2, Unforgettable Micaëla
19 – No. 3, Music to Chekhov’s Play
20 – No. 4, The Tsar’s Cortege
21 – No. 5, Aria
22 – No. 6, Reminiscenses of Old-Age Romances…
23 – No. 7, The Politician Speaks … !
Um dos veios mais belos e imutáveis da personalidade de Martha é a generosidade com que ela acolhe, prestigia e promove jovens artistas. A suíça Maria Solozobova tinha um pouco mais da metade da idade da Rainha quando tornou-se sua parceira de duo e, como quase sempre acontece com quem dela se aproxima, também sua amiga. O relato seguinte de Maria, parte duma entrevista a uma agência russa, é puro suco de Argerich:
“Nos conhecemos por acaso. As estrelas deviam estar alinhadas, ou algo assim. Certa vez, dei um concerto com a Orquestra Filarmônica do Sul da Alemanha em Konstanz e um amigo nosso, um advogado, me apresentou a uma jovem pianista nos bastidores. Ele disse que precisávamos nos conhecer, pois ela era uma ótima artista. Essa pessoa era Cristina Marton-Argerich, que é casada com o sobrinho de Martha. Cristina e eu imediatamente nos tornamos amigas e começamos a tocar juntas e isso acabou me levando a conhecer Martha. (…) não é fácil conhecer uma artista do calibre de Martha, então pedi a Cristina para me apresentar a ela. Na época, o festival de Martha ainda acontecia em Lugano, então fui para lá e, depois de nos apresentarmos, decidimos nos encontrar e tocar algumas peças juntas, por pura diversão, em casa. Nos encontramos então na casa dela em Genebra [para tocar] a sonata de Franck. Há uma história quanto a esse encontro: fiquei presa em um engarrafamento e cheguei duas horas atrasada. Martha é uma pessoa muito fora do comum: ela quase nunca atende o telefone, então ela me esperou na rua – quer dizer, ela ficou ali o tempo todo, mulher pequena e frágil que ela é. Fiquei terrivelmente envergonhada, pois mal nos conhecíamos na época e ainda não tínhamos nos tornado amigas. Quando tocamos a peça juntas pela primeira vez, parecia tão natural que mal pude acreditar. Nós a executamos perfeitamente do começo ao fim na primeira tentativa, e então ela disse: ‘Vamos para a cozinha comer algumas guloseimas’. Fiquei sem palavras e não pude deixar de perguntar: ‘Podemos tocar mais uma vez?’ Ela se virou e perguntou: ‘Para quê?’ Fiquei novamente sem palavras, mas rapidamente pensei na resposta: ‘Não poderíamos… Só por prazer?’. Martha é muito brincalhona. Ela é tão efervescente, e tem esse olhar brilhante, especial. Ela me olhou bem e disse “Tudo bem”, e tocamos pela segunda vez, de uma forma completamente diferente! Foi incrível, e eu realmente adorei. Ela sente a música tão profundamente, duma maneira tão colorida… As palavras não podem expressar o quão bom foi. Você realmente tem que experimentar para entender”.
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Finale. Presto
Sergei PROKOFIEV Sonata para violino e piano no. 2 em Ré maior, Op. 94a 4 – Moderato
5 – Scherzo. Presto
6 – Andante
7 – Allegro con brio
Maria Solozobova, violino
Gravado em Zürich (Suíça) em 23 de dezembro de 2014
Acolher jovens como Solozobova não significa, para Martha, deixar de lado seus velhos parceiros na Música. O mais antigo deles é seu conterrâneo Daniel Barenboim, que ela conhece desde os tempos em que ambos eram as mais famosas crianças-prodígio de Buenos Aires. A gravação a seguir, lançada pelo selo Peral, do próprio Barenboim, não poderia trazer Martha em situação mais confortável: o No. 2 de Beethoven, que ela tocaria de olhos vendados, na companhia de Daniel, com uma orquestra idealizada e burilada pelo próprio ao longo de algumas décadas, e no mesmo venerando palco do Teatro Colón em que ela estreara incríveis… sessenta e seis anos antes!
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
West-Eastern Divan Orchestra Daniel Barenboim, regência
Gravado no Teatro Colón em Buenos Aires (Argentina), julho de 2015
Encerrando nosso tributo anual à deusa maior do piano, o Concerto no. 2 de Beethoven volta, pareado com outro cavalo de batalha de Martha: o Concerto em Sol de Ravel, do qual legou à eternidade a gravação para mim definitiva com Abbado, e que ela toca aqui na companhia de seu mais novo queridinho, o israelense Lahav Shani. Shani tem colaborado estreitamente com a Rainha (e talvez tanto quanto denote a ilustração da capa do álbum, que os torna um só ser bicéfalo), ora como pianista, ora frente a Filarmônica de Israel, do qual é atualmente o diretor musical. Cinquenta inacreditáveis anos separam essas duas leituras de Ravel, e é assombroso como a passagem do tempo só se faz notar pela engenharia de som, pois ninguém o diria pela agilidade, elã e consumada arte de Marthinha ao teclado.
Feliz cumple, Reina – e que nunca pares de nos encantar ❤
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
Gravado em Tel Aviv (Israel) em 22 de dezembro de 2019
Maurice RAVEL Concerto em Sol maior para piano e orquestra
4 – Allegramente
5 – Adagio assai
6 – Presto
Gravado em Tel Aviv em 24 e 27 de dezembro de 2019
Ampliar o repertório depois dos oitenta anos? Sim, se tu és Marthinha: ei-la tocando pela primeira vez em público o pouquíssimo conhecido Souvenir de Paganini, um memento musical composto por Chopin aos 19 anos, instigado por um concerto do célebre violinista em Varsóvia.
Neste interessante CD, Marc-André Hamelin interpreta gente como ele, ou seja, compositores-pianistas. OK, quase todos são, mas Hamelin se dedica aos grandíssimos virtuoses que, de vez em quando, achatam suas bundas numa cadeira para compor. O resultado é uma série de obras onde, em sua maioria, são exigidas habilidades demoníacas dos pianistas, o que não é problema para Hamelin, um pianista que parece ter e controlar uns 36 dedos sem se confundir. Há umas coisas decididamente bobas, outras lindas e outras em que a gente fica pensando: como ele consegue tocar essa coisa? Bem coloquemos as coisas em seus devidos lugares: o pianista canadense Marc-Andre Hamelin é um fenômeno, tendo uma série de gravações de tirar o fôlego. Ele se estabeleceu mais ou menos como o maior virtuose do planeta, e este disco só irá aumentar essa reputação — isto não significa que ele seja o melhor, claro. Hamelin faz parte de uma longa linhagem de compositores-pianistas. Alguns compuseram obras de dificuldade sobre-humana para exibir suas próprias proezas e fazer seus colegas se acovardarem, outros o fizeram para se apresentaram em público, ou seja, por razões financeiras (Rachmaninov e Medtner são bons exemplos). Este disco contém uma amostra representativa destes trabalhos, muitos dos quais não foram gravados anteriormente ou pelo menos são difíceis de encontrar. O CD também traz músicas de dois “gênios reclusos”: Charles-Valentin Alkan e Kaikhosru Shapurji Sorabji, ambos homens que produziram obras de desafios técnicos diabólicos enquanto se isolavam de quase todo contato humano e musical.
1 Toccata In G Flat Major Op 13
Composed By – Leopold Godowsky
3:18
2 Poème Tragique Op 34
Composed By – Alexander Scriabin*
3:13
3 Etude No 9 (D’après Rossini)
Composed By – Marc-André Hamelin
3:48
4 Etude No 10 (D’après Chopin) (‘Pour Les Idées Noires’) 2:01
5 Schübler Chorale No 6 (transcription)
Composed By – Bach*
Transcription By – Samuel Feinberg*
3:29
6 Andante From Symphony No 94 (transcription)
Composed By – Haydn*
Transcription By – Charles-Valentin Alkan
5:48
Esquisses Op 63
Composed By – Charles-Valentin Alkan
7 No 46: Le Premier Billet Doux 1:05
8 No 47: Scherzetto 2:11
9 Fantasia Nach J S Bach
Composed By – Ferruccio Busoni
13:37
10 Moment Musical In E Flat Minor Op 16 No 2 (Revised Version 1940)
Composed By – Sergei Rachmaninov*
2:45
11 Etude-Tableau In E Flat Op 33 No 4 (Originally No 7)
Composed By – Sergei Rachmaninov*
1:37
Deux Poèmes Op 71
Composed By – Alexander Scriabin*
12 No 1: Fantastique 1:18
13 No 2: En Rêvant, Avec Une Grande Douceur 1:51
14 Berceuse Op 19a
Composed By – Samuel Feinberg*
4:53
15 Improvisation No 1 In B Flat Minor Op 31 No 1
Composed By – Nikolai Medtner
7:02
16 Pastiche On The Hindu Merchant’s Song From ‘Sadko’ By Rimsky-Korsakov
Composed By – Kaikhosru Shapurji Sorabji
4:05
17 Prelude And Fugue (Etude No 12)
Composed By – Marc-André Hamelin
O ano era 1988. O CD acabava de chegar ao Brasil, depois de uns 4 ou 5 anos de atraso em relação ao resto do mundo. Eu e meus amigos melômanos, no alto de nossos 14, 15 anos, ouvíamos entusiasmados sobre a novidade pelos noticiários da TV e reportagens nos grandes jornais, todos anunciando em letras garrafais: o LP morreu. O mundo se convertia gradativamente ao digital, os computadores pessoais entravam nos lares e se falava de uma grande e obscura rede de comunicação chamada internet.
Para nós, o pacote era realmente convidativo e não tínhamos nenhum saudosismo, pois significava, como decorrência, o fim dos chiados e dos riscos do disco. Justamente um dos chamarizes de marketing: o CD era indestrutível, som puro para toda a vida. Não demorou muito tempo para que percebêssemos que essa historia estava mal contada, o CD não era eterno, mas realmente tinha duas enormes vantagens: não tinha chiado e não se desgastava em cada reprodução.
Nossos olhos se enchiam quando começamos a ver as primeiras prateleiras das lojas de discos acomodando CDs, e mais: muita música clássica, como nunca tínhamos visto antes. Um paraíso. Talvez pela questão da novidade, mudança de hábitos, e tal, os lojistas começaram pelos clássicos, que justamente levantava a bandeira do scratch-free. A empolgação era tamanha que nem me dei conta de que muitas daquelas gravações não eram as mesmas que comprávamos em LP ou K7. Na verdade, nem atinei para a apresentação dos discos. Como seriam suas capas? Iguais à dos LPs? Capas genéricas iam surgindo e, cegos pela avidez, nem nos tocamos que estávamos comprando budget-price.
Comecei comprando uma gravação do Concerto no.3 de Beethoven, e percebi que aquele som era bem diferente do que estava acostumado. Não era ruim a interpretação, mas como vivíamos em lojas de discos, sabíamos todos os grandes intérpretes. Pollini, Argerich, Michelangeli, Arrau, Weissenberg, Brendel, Kempff, e não era nenhum deles. Para usar uma expressão da época, as fichas começaram a cair: fui conferir e não tinha o nome dos intérpretes na capa! Isso nunca tinha acontecido. Olhei a contracapa (foi difícil achar), e vi que a (ou o, não dava para dizer naquela situação) pianista era uma tal de Dubravka Tomsic e o maestro era um certo Sr. Anton Nanut com uma Sinfõnica da Rádio de Ljiubjana, que sei lá onde era, nem como se pronunciava.
Pouco depois, com o aumento das vendas dos CDs, começaram a chegar também as gravações dos grandes selos, DG, PHILIPS, DECCA, SONY e EMI. Mas este? MOVIEPLAY?? Que diabos?? E por fim as diferenças de preços, não deixavam mentir: eram gravações low budget price, ou como começamos a chamar, CDs de “Baciada”, já que eram oferecidos em grandes lotes como ofertas e pontas de estoque.
Qual era a mágica? Basicamente, uma gravadora espanhola e portuguesa chamada Sonoplay, fundada em meados dos anos 1960 por um dissidente da PHILIPS, teve acesso a fonogramas originais de orquestras e solistas obscuros, principalmente do leste europeu, que, depois da 2a.Guerra, ficaram à mercê de contratos irrisórios para aumentar o orçamento, sem garantia de que seriam lançados algum dia. Em 1968, a gravadora se tornou MOVIEPLAY, e gravava nada além de música folclórica portuguesa e pot-pourris de disco-dance.
O golpe veio com a mudança de suporte. Com o CD, a reciclagem desse material se tornava possível e legítima. Pegaram esses velhos fonogramas, digitalizaram e começaram a vender como produtos novos, em série, alterando os nomes dos intérpretes, omitindo as datas de gravação e afirmando que se tratavam de gravações digitais (a sigla DDD estava sempre presente). Chegaram a inventar alguns nomes: Henry Adolph e Alberto Lizzio são personagens fictícios, este ultimo deliberadamente um pseudônimo do maestro e produtor musical Alfred Scholz, que provavelmente vendeu alguns desses fonogramas. Um disco com o Concerto para Flauta e Harpa de Mozart, regido por esse sr. Lizzio (provavelmente Scholz), e tendo à harpa uma tal Renata Modron – que também não possui NENHUMA referência na internet inteira – ganharia facilmente o prêmio de pior gravação desse concerto. Nível amador. A festa era tamanha que um mesmo fonograma circulava por vários selos de baixo orçamento, e como ninguém sabia ao certo de quem eram os detentores dos direitos, lançavam e relançavam sem nenhum pudor. A gravadora NAXOS começou fazendo algo muito semelhante, mas tomou o caminho da aprovação crítica e busca pela consagração de qualidade. No caso desses budgets, isso não era sequer cogitado.
Outros maestros e solistas, talvez por ainda estarem vivos e atuantes, acabaram exigindo contratos e direitos sobre as gravações, mas mesmo assim, sendo desconhecidos do circuito Star System dos grandes selos, faziam ou vendiam suas gravações por preços bem mais baixos. O leste europeu às vésperas da Perestroika era um mercado imenso a se explorar.
Neste momento final dos anos 80, a Movieplay começou a lançar essas gravações por toda a Europa e também no Brasil, numa divisão de clássicos que envolvia uma série chamada ‘Digital Concerto’, e uma outra, composta basicamente de coletâneas ao estilo dos pot-pourris antigos, chamada ‘Romantic Classics’, todas com o mesmo design padrão, cuja única variação possível era a pintura de fundo. No meio de um monte de fonogramas genéricos, alguns sem dono e/ou sem registro de intérprete, combinados com outros legítimos, começam a aparecer verdadeiras pérolas: gravações de baixo custo, com esses maestros/orquestras/solistas pouco festejados, mas que se destacam como leituras e interpretações que, não fosse o descaso do marketing envolvido, poderiam sem problemas situarem-se entre os grandes selos e as performances lendárias. Ok, um pouco exagerado, mas quero dizer que sim, há boas gravações no meio da baciada. ‘Barganhas’ como se costuma dizer. Trouxe algumas aqui, que considero realmente registros de excelência que valem a pena divulgar:
1.Haydn: String Quartets – op.1 no.1 ‘Hunting quartet’, op.64 no.5 ‘The Lark’ & op.76 no.3 ‘ Emperor’ – Caspar da Salo Quartet Este é um caso típico dessas apropriações para evitar pagamento de direitos. O Quarteto ‘Caspar da Salo’, nomeado em função de um famoso Luthier do séc.XVI, Gasparo de Saló, é um embuste, um conjunto fictício, criado por Alfred Scholz para vender fonogramas alheios na onda do digital. Felizmente, a leitura desses quartetos é límpida e precisa, o conjunto tem um equilíbrio sonoro incrivelmente coeso, com uma técnica segura e clara que destaca todo o esplendor das abundantes invenções melódicas de Haydn. Infelizmente jamais saberemos quem está realmente tocando ou quando a gravação foi feita.
2.Beethoven: Piano Concerto no.3, Pathétique Sonata – Dubravka Tomsic, piano – Anton Nanut, Radio Symphony Orchestra Ljubljana Sim, Dubravka Tomšič Srebotnjak existe mesmo, nasceu na Eslovênia em 1940 e ainda está viva (Wikipedia). Infelizmente, ficava muito difícil, no meio de um monte de nomes eslavos desconhecidos, saber quem era quem. Foi preciso um amigo, o saudoso pianista e professor Antonio Bezzan, para nos chamar a atenção para seu talento. E realmente, ao ouvirmos com mais atenção, seu acento eslavo realça uma interpretação bastante pessoal e nada frívola. Técnica e esteticamente, Tomsic demonstra sensibilidade e desenvoltura. Se não chega a impressionar, também não faz feio, e nos revela uma interessante verve russa em Beethoven.
3.Dvórak: Symphony no.9 ‘From the New World’; Smetana: Die Moldau – Anton Nanut, Radio Symphony Orchestra Ljubljana No fim das contas, Anton Nanut, que também existe e é real (Norman Lebrecht, em seu blog, até publicou uma nota sobre seu falecimento), acaba se mostrando um regente de primeira grandeza. Comprometido com uma tradição sonora imponente, que mescla reminiscências do império Austro-Húngaro com a verve russa, essa é uma das mais contundentes versões da Sinfonia Novo Mundo. Se não soubéssemos quem está regendo, poderíamos facilmente tomar esta como uma gravação de Szell ou Doráti. Mas o grande destaque deste disco é o Moldau. Sim, nem Kubelik fez um Moldau tão sensível e autêntico. Recomendo sem restrições.
A parte ruim é que também não temos certeza de quem está realmente regendo e nem quando foi feita a gravação. Há vários selos e edições que usam esse mesmo fonograma, e há indicações dúbias nos sites de streaming e lojas virtuais, de que esse Moldau talvez tenha sido regido por Alfred Scholz. Mas uma pesquisa exaustiva nos dá mais referências (e também referências mais antigas) indicando ser de Nanut. Ficamos com ele, por enquanto. O descaso do selo budget inclui também a indicação errada de uma Dança Eslava de Dvorak. Ao invés da op.72 no.1, é na verdade a op.46 no.1. O fato é que é um disco memorável, bom e barato, apesar disso fazer pouca diferença hoje em dia.
4.Mahler: Symphony no.6 – Hartmut Haenchen, Philharmonia Slavonica Esta é uma gravação realmente legítima. Haenchen (nascido em 1943) é um maestro relativamente conhecido na Europa, que tem referências autênticas e um site próprio, com uma discografia imensa e um invejável currículo, que inclui até mesmo participações recentes no Festival de Bayreuth. Talvez seja mais conhecido no Brasil por ser especialista em C.P.E. Bach, mas suas incursões na música romântica e pós-romântica são bastante relevantes, tendo sido recentemente apontado como um destaque de profunda conexão com Bruckner e Mahler. É curioso que um regente dessa estatura nunca tenha assinado contratos fixos com grandes selos (aparece de vez em quando na SONY), mas de qualquer modo, essa gravação não nos deixa mentir: é a mais convincente Sexta de Mahler que já ouvi. A fúria com que destaca a sonoridade das angústias mahlerianas é irresistível, ao mesmo tempo que contrabalança o lírico Andante com uma doçura tocante. A percussão é onipresente, as pratadas são épicas, e os golpes do martelo e do tam-tam do último movimento, os mais sonoros que já ouvi. Devastador. A gravação é realmente surpreendente, não apenas pela contundência da leitura, mas também pelo equilíbrio das forças maciças que Mahler evoca. Provavelmente foi o CD de melhor relação custo/benefício que já comprei.
Haenchen gravou outras vezes essa sinfonia, até com a Netherlands Philharmonic, mas essa me parece a mais relevante. Conforme uma crítica que recebeu na Amazon, “an energetic, dinamic, colourful interpretation in only one CD, in a bargain collection. Haenchen is an inmense conductor and I think the appropiate conductor for (for example) Philadelphia or NY orchestras in USA. ” Fica a dica.
Este disco pode assustar alguns desavisados. Brautigam toca o pianoforte do tempo de Haydn e, para ficar ainda mais estranho, temos um baixo contínuo feito pelo cravo no belo e divertido Concerto Nº 11, que abre o CD. O instrumento de Brautigam soa particularmente bem escolhido para esta música. Tem uma ação rápida que faz com que os movimentos externos realmente brilhem, mas também permite o canto nos movimentos lentos. Os concertos são maravilhosos: leves, brilhantes, efervescentes, cheios de humanidade e repletos de poesia. O tom de Brautigam é claro e vibrante, seu toque é gracioso, suas interpretações, cheias de personalidade. Tudo isso acompanhado pelo elegante Concerto Copenhagen sob regência de Lars Ulrik Mortensen ,
Joseph Haydn (1732-1809): 4 Concertos para Piano (Brautigam / Concerto Copenhagen)
01. Concerto in D major, H.XVIII/11 – I. Vivace
02. II. Un poco adagio
03. III. Rondo all’Ungarese (Allegro assai)
04. Concerto in F major, H.XVIII/3 – I. Allegro
05. I. Largo cantabile
06. III. Presto
07. Concerto in D major, H.XVIII/2 – I. Allegro moderato
08. II. Adagio molto
09. III. Allegro
10. Concerto in G major, H.XVIII/4 – I. Allegro
11. II. Adagio
12. III. Rondo (Presto)
Ronald Brautigam – Pianoforte
Concerto Copenhagen
Lars Ulrik Mortensen – Conductor
Eu sempre imagino Papa Haydn já idoso, compositor renomado, mais velho do que Mozart e Beethoven. Mas é fato que houve um jovem Joseph Haydn – cantor de coro que declinou da castrazione para manter a bela voz e que estudou música com outros mestres até tornar-se um mestre ele mesmo. Um destes músicos de uma geração anterior que a dele foi Nicola Porpora, que além de compositor de óperas foi professor de canto. Teve entre seus alunos famosos castrati, como Farinelli e Caffarelli. Haydn trabalhou como factótum (assessor para assuntos gerais) para Porpora enquanto este viveu em Viena e lembrava-se do mestre com um sorriso nos lábios. Aprendeu muito palavras italianas com ele, tais como asino, coglione e birbante. Havia também boas lembranças de cutucões nas costelas…
Foi também coisa da juventude de Haydn a composição de concertos diversos, nos primeiros anos que passou na Petit Versailles, a Corte de Estérhazy, para brindar os bons músicos que serviam a orquestra que estava a sua disposição.
Foi assim que surgiu, nos primeiros anos da década de 1760 o seu primeiro concerto para violoncelo, composto provavelmente para o violoncelista Joseph Weigl, que trabalhava ali. Aliás, o concerto ficou perdido por muito tempo, até ser redescoberto nos arquivos de um museu em Praga, em 1961. O manuscrito estava ao lado de um outro concerto de Joseph Weigl. De qualquer forma, a primeira frase do concerto havia sido registrada por Haydn em um catálogo de obras que ele começara a fazer em Estérhazy.
O segundo concerto é tecnicamente mais difícil e foi escrito em 1783. Este foi atribuído a Anton Kraft, outro violoncelista que atuou em Estérhazy. Anton foi excelente violoncelista e deve ter dado seus pitacos na parte técnica do concerto, coisa que pode ter ajudado a causar a confusão. Kraft foi o violoncelista para quem Beethoven escreveu a parte de violoncelo de seu Concerto Triplo.
Neste ótimo disco os dois concertos são apresentados pelo violoncelista Christian-Pierre La Marca, acompanhado pela orquestra com prática de instrumentos de época, Le Concert de la Loge, regida por Julien Chauvin. O disco traz ainda obras de outros compositores da época, perfazendo um agradável programa musical. Temos uma ária do Nicola Porpora, cantada aqui pelo ótimo contratenor Philippe Jaroussky, um movimento (largo) de um concerto para violoncelo, também de Porpora, uma Sinfonia Concertante, que fora deixada inacabada por Mozart, numa reconstrução feita por Robert Levin. E também uma transcrição para violoncelo da música de balé de Gluck, danse des ombres heureuses, escrita para a ópera Orphée et Eurydice, feita por Christian-Pierre La Marca.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 1 em dó maior, Hob. VIIb:1
Cadenza: Christian-Pierre La Marca
Moderato
Andante
Allegro molto
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Concerto para violoncelo em sol maior
Largo
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Reconstrução: Robert Levin
Sinfonia Concertante em lá maior (KV Anhang 104 / 320E)
Fragmento
Christoph Willibald Gluck (1714 – 1787)
Orphée et Euridice
Dança dos Espíritos Abençoados (Transcrição de Christian-Pierre La Marca)
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Gli orti esperidi
Ária: Giusto amor tu che m’accendi
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 2 em ré maior, Hob. VIIb:2 (Op. 101)
Cadenza: Maurice Gendron
Allegro moderato
Andante
Allegro
Christian-Pierre La Marca, violoncelo
Philippe Jaroussky, contatenor (Gluck)
Julien Chauvin (violino) e Adrien La Marca (viola) (Mozart)
Partes da entrevista dada por Christian-Pierre e Julien:
LM: I wanted this program to introduce new ways of listening to Haydn’s concertos. The title of the album Legacy emphasizes more of the aspect of transmition than that of inheritance – the goodwill one generation passes on to the next, the encounters between musicians who hand down a tradition, the development of styles of writing for the instrument.
JC: Haydns’s concertos are often recorded on their own, the fact that they are ‘enveloped’ in other pieces gives them an additional dimension.
O número 2023 é uma permutação de 2032, ano no qual se completará 3 séculos desde o nascimento de Franz Joseph Haydn. Ora, vocês sabem, o marketing da indústria fonográfica adora estas efemérides. Prepare-se para um tsunami de integrais de trios com piano, quartetos de cordas, sonatas para piano e, é claro, sinfonias. Já vimos algumas destas integrais no passado, como Antal Dorati ou Adam Fischer nas sinfonias, Quatuor Festetics nos quartetos ou Beaux Arts Trio nos trios com piano. Até 2032 veremos várias destas coleções reeditadas e a curiosidade maior é quanto a mídia – streaming, mais certamente. Acho que as gerações dos compradores de LPs, cassetes e CDs estarão se esvaindo até lá, restando apenas alguns highlanders…
No entanto, um projeto que tenho acompanhado com particular interesse atende pelo singelo nome Haydn 2032. A Joseph Haydn Foundation, na Basileia (Basel), está organizando, produzindo e financiando a performance e gravação das 107 sinfonias de Haydn pelo Il Giardino Armonico ou a Kammerorchester Basel, com a direção artística de Giovanni Antonini. Até agora detectei 12 volumes e um 13º chegará em breve.
Talvez devido a (minha) idade e a enorme curiosidade de ouvir música, não consegui ouvir os 12 discos inteiros. Mas não resisti e montei uma playlist com as sinfonias minhas mais conhecidas – todas com apelidos – e gostei tanto que decidi postar. Talvez algum de nossos colaboradores se anime e traga a coleção na integral (que contém também música de alguns contemporâneos do Haydn, para dar uma contextualização) e torne assim esta postagem obsoleta. Mas, até lá, dependendo apenas de minhas energias, aqui vai este pot-pourri.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Sinfonia No. 39 em sol menor – Tempesta di mare
Allegro assai
Andante
Menuet – Trio
Finale (Allegro di molto)
Sinfonia No. 49 em fá menor – La Passione
Adagio
Allegro di molto
Menuet – Trio
Finale (Presto)
Sinfonia No. 22 em mi bemol maior – Der Philosoph
Adagio
Presto
Menuetto & Trio
Finale (Presto)
Sinfonia No. 60 em dó maior – Il distratto
Adagio – Allegro di molto
Andante
Menuetto – Trio
Presto
Adagio – Allegro
Finale (Prestissimo)
Sinfonia No. 26 em ré menor – Lamentatione
Allegro assai con spirito
Adagio
Minuet – Trio
Sinfonia No. 30 em dó maior – Alleluia
Allegro
Andante
Finale
Sinfonia No. 63 em dó maior – La Roxolana
Allegro
La Roxolana – Allegretto piu tosto allegro
Menuet – Trio
Finale
Sinfonia No. 43 em mi bemol maior – Mercury
Allegro
Adagio
Menuet – Trio
Finale (Allegro)
Sinfonia No. 45 em fá sustenido menor – L’addio
Allegro assai
Adagio
Menuet (Allegretto) – Trio
Finale (Presto)
Adagio
Sinfonia No. 82 em dó maior – L’ours
Vivace
Allegretto
Minuet – Trio
Finale (Vivace assai)
Il Giardino Armonico (Nos. 39, 49, 22, 60, 63, 43 e 45)
Vai aqui um CD luminoso, presentinho de Natal! Nesta gravação a orquestra conta com 18 músicos, o mesmo número com que contava a orquestra a disposição de Haydn quando este compôs estas sinfonias, em 1761. Isso aconteceu logo que ele chegou a Esterhazy, para a alegria do príncipe que o contratara e que encomendou algumas peças programáticas, a là Quatro Estações.
Os nossos seguidores que moram próximos ao Rio de Janeiro e ouvem a Rádio MEC, certamente vão reconhecer trechos da Sinfonia No. 6, usados pela Rádio como vinhetas em alguns momentos.
Além de terem este aspecto programático, as três sinfonias apresentam momentos em que este ou aquele instrumento se apresenta como solista. Desde a flauta até o contrabaixo, passando pelas trompas, os músicos têm suas oportunidades de brilhar. Especialmente os operáticos violino e violoncelo.
Certamente os mais saudosistas vão suspirar pela ótima gravação da Academy of St. Martin-in-the-Fields, sob a regência de Neville Marriner, mas quem se aventurar a navegar por estas novas águas e ouvir esta gravação feita em Londres, em março deste ano (2022), será recompensado pela habilidade dos músicos em realizar tudo o que Haydn preparou para impressionar o príncipe e sua corte. Sem esquecer também a espetacular produção do selo Channel Classics.
Ashley Solomon é flautista e regente da orquestra Florilegium que atua há muitos anos e grava para o selo Channel Classics desde 1995. Com bastante flexibilidade, o grupo conta com excelentes músicos, como Bojan Čičič (violino), Jennifer Morsches (violoncelo), Reiko Ichise (viola da gamba) e Terence Charlston (cravo/órgão).
Solomon’s luminous tone and unfussy command of the complicated melodies conflate into something utterly beautiful. Slow movements are soulful in their infinite variety, fast ones are clever and with a wealth of invention behind them.
Solomon coaxes lively performances out of the members of Florilegium, with the depictions of rain, lightning and thunder conjured up by Haydn in the concluding storm movement of ‘Le Soir’ sounding particularly vivid.
O ano de 1782 encontrou Haydn trabalhando para o príncipe Miklós (Nicolau) Esterházy e já no auge de sua maturidade como compositor. Nessa época ocorre a publicação de seus Seis Quartetos Op. 33, pela firma Artaria, de Viena, que estabelece um nível altíssimo para esse gênero. É também dessa época o Concerto para Piano em ré maior, sua última composição desse tipo, que foi publicado em 1784. Assim como os concertos contemporâneos de Mozart é uma peça no Estilo Galante e uma das melhores. O seu último movimento, um Rondó Húngaro, tem todas as características do que Haydn fazia de melhor…
Enquanto Haydn vivia e produzia no palácio Hesterhaza, em 1782 Mozart estava finalmente em Viena, fora dos muros de Salzburgo. Neste ano, em 16 de julho, estreia no Burgtheater a ópera (deliciosa) Die Entführung aus dem Serail. O Concerto em lá maior, K. 414, foi composto no outono, junto com seus irmãos K. 413 e 415 (Nos. 11 – 13) como parte das obras a serem apresentadas para o público de Viena nos Lenten Concertos (Concertos do Período da Quaresma, quando os teatros de ópera ficavam fechados), em janeiro de 1783. O Concerto No. 12 tem em seu movimento lento a menção de um tema de Johann Christian Bach, o Bach de Londres, que morrera no início do ano, e era muito admirado por Mozart.
O disco completo deve conter mais uma Sinfonia e outras peças orquestrais, mas os Concertos e uma minúscula peça para piano solo foi o que consegui. Demorei um pouco até chegar ao disco, mas depois que o ouvi, gostei tanto que tenho o ouvido com alguma frequência agora. Como vocês sabem, quando isso acontece, acabo trazendo para vocês também aproveitarem. O See Siang Wong é ótimo, muito simpático e foi aluno do Bruno Canino no Hochschule der Künste Bern.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano No. 11 em ré maior, Hob. XVIII: 11
Mozart e Haydn se conheciam e tinham uma alta estima mútua. Há também relatos de ocasiões nas quais ambos tomaram parte de concertos de música de câmara. Dizem os detratores que eles tocavam bem viola…
Aproveite!
René Denon
PQP Bach – Quizz: Quem é o músico tocando viola na foto a seguir?
Complementamos a postagem dessa caixa essencial de Haydn, na leitura de Alfred Brendel, com seus dois últimos CDs.
O Franz de Haydn é o nome de santo de Haydn (batizado Franciscus Josephus Haydn), e que era dado, conforme costume da época, em homenagem ao santo celebrado no dia de seu batismo (São Francisco de Paula, 2 de abril). Esse prenome quase nunca usado pelo próprio compositor, que invariavelmente se assinava “Joseph” ou “Giuseppe Haydn”. Um leitor apontou isso num comentário à postagem original e eu, que não fazia a menor ideia do assunto, resolvi aceder. Assim, mantemos a coerência com a prática que nos leva a chamar a pessoa batizada Johannes Chrysostomus Wolfgangus Teophilus Mozart, nascida no dia de São João Crisóstomo (27 de dezembro), de Wolfgang Amadeus Mozart.
Vassily
POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH EM 18/2/2010
Eis então os dois CDs que faltavam para essa série do grande pianista Alfred Brendel interpretando Haydn. Trata-se de uma série conceituadíssima, que não pode faltar na discoteca dos amantes da obra do mestre austríaco.
Enfim, para tornar mais agradável este feriadão eis os dois últimos cds desta excelente série da Philips.
IM-PER-DÍ-VEL !!!
Franz-Joseph Haydn (1732-1809): 11 Piano Sonatas – Alfred Brendel (Parte 2 de 2)
Alfred Brendel, piano
CD 3
01 – Sonata in C, Hob. XVI_48 – 1. Andante con espressione
01 – Sonata in C, Hob. XVI_48 – 2. Rondo (Presto)
02 – Sonata in D, Hob. XVI_51 – 1. Andante
03 – Sonata in D, Hob. XVI_51 – 2. Finale (Presto)
04 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 1. Allegro
05 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 2. Adagio
06 – Sonata in C, Hob. XVI_50 – 3. Allegro molto
CD 4
01 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 1. Allegro
02 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 2. Adagio
03 – Sonata in E flat, Hob. XVI_52 – 3. Finale (Presto)
04 – Sonata in G, Hob. XVI_40 – 1. Allegretto e innocente
05 – Sonata in G, Hob. XVI_40 – 2. Presto
06 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 1. Allegro con brio
07 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 2. Largo e sostenuto
08 – Sonata in D, Hob. XVI_37 – 3. Finale (Presto, ma non troppo)
09 – Andante con variazioni in F minor, Hob. XVII_6
Dia desses alguém pediu ao nosso SAC a repostagem desta excelente gravação de Brendel. Atendemos prontamente, pois acreditamos que ela não possa faltar em qualquer discografia.
Vassily
Postagem original de FDP Bach:
Minha vida anda muito corrida, e com esse calor que fez nos últimos dias não tenho vontade de fazer nada, desculpem, nem respondo meus emails. Aliado à isso, estou com problemas de saúde na família, então, a vontade de responder se resume a nenhuma.
Essa série do Brendel tocando Haydn já está no rapidshare há algum tempo. São quatro cds, estou postando dois, e outra hora coloco os outros dois.
Material de primeira linha, poderia classificá-lo facilmente como IM-PER-Dí-VEL. Divirtam-se.
Franz-Joseph Haydn – 11 Piano Sonatas (Parte 1 de 2)
Alfred Brendel, piano
CD 1:
1. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 1. Moderato
2. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 2. Andante con moto
3. Keyboard Sonata in C minor, H. 16/20: 3. Finale. Allegro
4. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 1. Allegro
5. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 2. Adagio e cantabile
6. Keyboard Sonata in E flat major, H. 16/49: 3. Finale. Tempo di minuetto
CD 2:
1. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 1. Presto
2. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 2. Adagio
3. Keyboard Sonata in E minor, H. 16/34: 3. Vivace molto, innocentemente
4. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 1. Allegro moderato
5. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 2. Menuet. Tempo di menuet
6. Keyboard Sonata in B minor, H. 16/32: 3. Finale. Presto
7. Keyboard Sonata in D major, H. 16/42: 1. Andante con espressione
8. Keyboard Sonata in D major, H. 16/42: 2. Vivace assai
9. Fantasia (Capriccio) for piano in C major, H. 17/4
O disco desta postagem já apareceu PQP Bach em 27 de fevereiro de 2013. Foram duas as postagens feitas naquele dia, segundo palavras do Presidente-Diretor, o próprio PQP Bach, autor da postagem de então. Ele gostou do disco, confiram lá!
De qualquer forma, os links não estão mais ativos, há muito sumidos com o vanished rapidshare. Como gostei bastante, tratei de dedicar-lhe nova postagem, que aqui vai.
Ele reúne três sonatas para piano de três compositores clássicos, que viveram partes de suas vidas em Viena e, de certa forma, se conheceram bem uns aos outros, apesar de Beethoven e Mozart terem se encontrado pessoalmente muito brevemente.
As sonatas são representantes do gênero clássico e trazem características deste período, mas as similaridades acabam por aqui. Elas foram compostas em momentos totalmente diferentes nas carreiras de cada um deles e cada uma delas revela em parte as personalidades de seus criadores, que não poderiam ser mais diferentes.
A Sonata em mi bemol maior, Hob. XVI: 52 (Hoboken), também conhecida pela numeração L. 62 (Landon), é a última sonata para piano composta por Haydn, em 1794, no seu último período criativo. Ele estava no auge da fama, já aposentado dos serviços à família Esterházy, viajando para Londres a convite do empresário J.P. Salomon. A sonata foi dedicada à pianista inglesa Therese Jansen, de quem foi padrinho de casamento e a quem dedicou os Trios com Piano Hob. XV: 27-29.
Esta é possivelmente a sonata mais conhecida de Haydn e merece a fama. As características de bom humor e ótimo gosto estão presentes e eu fiquei muito impressionado com a transição do segundo (Adagio) para o terceiro movimento (Presto) nesta interpretação do Rafal Blechacz, em geral mais identificado com o repertório romântico, como a música de Chopin.
A Sonata em lá maior, op. 2, 2 faz parte do primeiro grupo de sonatas para piano que Beethoven publicou e foi dedicada a Haydn, de quem Beethoven foi ‘aluno’. Apesar do baixo número de opus, ela foi composta em 1796, quando Beethoven tinha 26 anos e algumas sonatas para piano em seu portfólio. É bom lembrar também que Beethoven oscilou, no início de sua carreira, entre intérprete e compositor. Naqueles dias sua fama recaia principalmente em seus talentos como improvisador. A sua sonata já se distingue das demais no disco por ter quatro movimentos, sonata grande, com um brincalhão scherzo seguindo o Largo appassionato, Beethoven sempre quebrando o clima, e é arrematada por um gracioso rondó.
A última sonata do disco é a mais antiga delas, Sonata em ré maior, K. 311, composta por Mozart em 1777 em sua estada em Augsburg e Mannheim, no caminho de Paris. Ela foi publicada lá, em conjunto com as Sonatas K. 309 e 310 e são de um período intermediário do compositor. O primeiro movimento é o que eu considero um exemplo de música líquida, devido à sua fluidez, especialmente na interpretação de Rafal Blechacz. Com sua elusiva simplicidade, é uma típica obra de Mozart – que nos conquista sem que saibamos por que, basta ouvir e sorrir.
Textural transparency, expressive economy, creative inspiration, high humour and strategically placed silences characterise these three Haydn, Beethoven and Mozart sonatas, as well as Rafal Blechacz’s splendid, beautifully recorded interpretations. […] . In short, Blechacz’s third solo release (his second for DG) is by far his strongest yet.
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou desta postagem, poderá se interessar por estas outras.
Aqui, sonatas de Beethoven intercaladas com sonatas de Beethoven…