Nesta postagem especial preparada para homenagear as mulheres nesta semana do Dia Universal da Mulher, escolhi algumas excelentes intérpretes que representam a enorme e inestimável contribuição delas para a música.
Ji Su Jung
Começamos nosso programa com o Concerto para Marimba, escrito pelo jovem compositor norte-americano Kevin Puts. A solista chama-se Ji Su Jung, que foi a primeira percussionista a ganhar a prestigiosa bolsa Avery Fisher Career Grant. Formada pelo Peabody Institute, da Johns Hopkins University, e pela Yale School of Music, Ji Su Jung é agora uma solista requisitada universalmente e professora do Curtis Institute of Music e do Peabody Institute.
Marin Alsop
Sobre o Concerto, o compositor explicou como surgiu a inspiração: A melodia da abertura do Concerto foi provavelmente inspirada quando ouvi o aquecimento de um pianista no placo do Teatro Eastman enquanto por lá passava a caminho da aula. A tonalidade de mi bemol maior sempre me foi muito próxima devido à sua riqueza e também por aparecer com frequência nas obras de Mozart, em particular em dois de seus concertos para piano, que de certa forma serviram como modelo para a minha peça.
Ji Su Jung é acompanhada pela Baltimore Symphony Orchestra, regida pela maestrina Marin Alsop, que foi uma das primeiras a interpretar as obras de Kevin Puts.
M-J Pires
Como eu gosto muito de ouvir o piano, na sequência teremos uma linda Sonata de Schubert interpretada pela maravilhosa pianista Maria João Pires.
Com uma carreira longa e de excelente qualidade, passou pelas gravadoras Denon e Erato e tem sido uma das estrelas do selo amarelo, Deutsche Grammophon. Esta sonata de Schubert é uma das mais belas e faz parte de um lançamento que reúne algumas obras de Schubert gravadas por Maria João Pires.
Gina Bachauer
Para a última etapa da nossa compilação escolhi uma artista que chamou a atenção exatamente por desempenhar um papel que estava quase exclusivamente dominado por homens, interpretando grandes concertos para piano, como o Concerto em si bemol maior, de Brahms, o Concerto de Grieg, Concerto em mi bemol maior de Liszt e o Concerto em si bemol maior, de Tchaikovsky. Gina Bachauer nasceu em Atenas, de pais estrangeiros, e iniciou sua carreira na Grécia. Estudou em Paris com Alfred Cortot e nos anos 1930 trabalhou na França e na Suíça com Rachmaninov em seus Concertos para Piano. Ela tornou-se uma expoente nestes concertos, especialmente no de No. 3. Suas gravações para o selo Mercury são bastante conhecidas. Aqui podemos ouvir suas interpretações de algumas peças solo de Debussy e atuando como solista de um concerto de Mozart. A orquestra da gravação foi fundada pelo seu regente, Alec Sherman que foi o segundo marido de Gina Bachauer.
Eu sempre imagino Papa Haydn já idoso, compositor renomado, mais velho do que Mozart e Beethoven. Mas é fato que houve um jovem Joseph Haydn – cantor de coro que declinou da castrazione para manter a bela voz e que estudou música com outros mestres até tornar-se um mestre ele mesmo. Um destes músicos de uma geração anterior que a dele foi Nicola Porpora, que além de compositor de óperas foi professor de canto. Teve entre seus alunos famosos castrati, como Farinelli e Caffarelli. Haydn trabalhou como factótum (assessor para assuntos gerais) para Porpora enquanto este viveu em Viena e lembrava-se do mestre com um sorriso nos lábios. Aprendeu muito palavras italianas com ele, tais como asino, coglione e birbante. Havia também boas lembranças de cutucões nas costelas…
Foi também coisa da juventude de Haydn a composição de concertos diversos, nos primeiros anos que passou na Petit Versailles, a Corte de Estérhazy, para brindar os bons músicos que serviam a orquestra que estava a sua disposição.
Foi assim que surgiu, nos primeiros anos da década de 1760 o seu primeiro concerto para violoncelo, composto provavelmente para o violoncelista Joseph Weigl, que trabalhava ali. Aliás, o concerto ficou perdido por muito tempo, até ser redescoberto nos arquivos de um museu em Praga, em 1961. O manuscrito estava ao lado de um outro concerto de Joseph Weigl. De qualquer forma, a primeira frase do concerto havia sido registrada por Haydn em um catálogo de obras que ele começara a fazer em Estérhazy.
Julien Chauvin
O segundo concerto é tecnicamente mais difícil e foi escrito em 1783. Este foi atribuído a Anton Kraft, outro violoncelista que atuou em Estérhazy. Anton foi excelente violoncelista e deve ter dado seus pitacos na parte técnica do concerto, coisa que pode ter ajudado a causar a confusão. Kraft foi o violoncelista para quem Beethoven escreveu a parte de violoncelo de seu Concerto Triplo.
Neste ótimo disco os dois concertos são apresentados pelo violoncelista Christian-Pierre La Marca, acompanhado pela orquestra com prática de instrumentos de época, Le Concert de la Loge, regida por Julien Chauvin. O disco traz ainda obras de outros compositores da época, perfazendo um agradável programa musical. Temos uma ária do Nicola Porpora, cantada aqui pelo ótimo contratenor Philippe Jaroussky, um movimento (largo) de um concerto para violoncelo, também de Porpora, uma Sinfonia Concertante, que fora deixada inacabada por Mozart, numa reconstrução feita por Robert Levin. E também uma transcrição para violoncelo da música de balé de Gluck, danse des ombres heureuses, escrita para a ópera Orphée et Eurydice, feita por Christian-Pierre La Marca.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 1 em dó maior, Hob. VIIb:1
Cadenza: Christian-Pierre La Marca
Moderato
Andante
Allegro molto
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Concerto para violoncelo em sol maior
Largo
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Reconstrução: Robert Levin
Sinfonia Concertante em lá maior (KV Anhang 104 / 320E)
Fragmento
Christoph Willibald Gluck (1714 – 1787)
Orphée et Euridice
Dança dos Espíritos Abençoados (Transcrição de Christian-Pierre La Marca)
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Gli orti esperidi
Ária: Giusto amor tu che m’accendi
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 2 em ré maior, Hob. VIIb:2 (Op. 101)
Cadenza: Maurice Gendron
Allegro moderato
Andante
Allegro
Christian-Pierre La Marca, violoncelo
Philippe Jaroussky, contatenor (Gluck)
Julien Chauvin (violino) e Adrien La Marca (viola) (Mozart)
Partes da entrevista dada por Christian-Pierre e Julien:
LM: I wanted this program to introduce new ways of listening to Haydn’s concertos. The title of the album Legacy emphasizes more of the aspect of transmition than that of inheritance – the goodwill one generation passes on to the next, the encounters between musicians who hand down a tradition, the development of styles of writing for the instrument.
JC: Haydns’s concertos are often recorded on their own, the fact that they are ‘enveloped’ in other pieces gives them an additional dimension.
Álbum de 2011 do Quarteto Ébène, ainda com Mathieu Herzog na viola. Ele foi trocado depois pela igualmente ótima Marie Chilemme. Aqui temos dois dos mais belos quartetos de Mozart e ainda o Divertimento K. 138 em versão para Quarteto de Cordas.
O Divertimento também é conhecido — em sua versão para cordas — como Sinfonia de Salzburgo Nº 3. Alguns estudiosos acreditam que os 3 Divertimentos K. 136, 137 e 138, compostos quando Mozart tinha 16 anos, são, na verdade, quartetos de cordas. Outros acham que são sinfonias às quais faltaria acrescentar as partes dos instrumentos de sopro. Entretanto, não parece haver nada de inacabado nessas obras.
O Quarteto de Cordas nº 19 em dó maior , K. 465, “Dissonâncias”, tem este nome devido a sua introdução lenta incomum. É talvez o mais famoso de seus quartetos. É o último do conjunto de seis compostos entre 1782 e 1785 e dedicados a Haydn.
O Quarteto de Cordas nº 15 em ré menor , K. 421, é o segundo dos Quartetos dedicados a Haydn e o único do conjunto em tom menor. Embora não datado no autógrafo, acredita-se que tenha sido concluído em 1783, enquanto sua esposa Constanze Mozart estava em trabalho de parto de seu primeiro filho, Raimund. Constanze afirmou que as figuras de cordas crescentes no segundo movimento correspondiam aos seus gritos da outra sala…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Quartetos K. 421 e 465 (Dissonances) e Divertimento K. 138 (Ébène)
String Quartet Nº 15 K 421 In D Minor
1 I Allegro Moderato 8:05
2 II Andante 6:09
3 III Menuetto And Trio. Allegretto 4:05
4 IV Allegretto Ma Non Troppo 8:35
Divertimento K 138 In F Major
5 I Allegro 3:53
6 II Andante 5:00
7 III Presto 2:24
String Quartet Nº 19 K 465 ‘Dissonance’ In C Major
8 I Adagio – Allegro 11:33
9 II Andante Cantabile 8:14
10 III Menuetto And Trio. Allegro 5:08
11 IV Allegro Molto 7:55
Quarteto Ébène
Cello – Raphaël Merlin
Viola – Mathieu Herzog
Violin – Gabriel Le Magadure, Pierre Colombet
Fãs confessos que somos de Angela Hewitt, cada lançamento seu é muito comemorado por nós. E ganhamos de presente neste Natal de 2022 sua incursão nas sonatas para piano de Mozart. Não sei qual a reação dos senhores, mas cada vez que ouço qualquer uma destas sonatas sinto-me de bem com a vida. Essas obras animam e alegram meu coração, e como não se render a elas, mesmo às primeiras, obras juvenis, que já mostram o imenso talento do compositor?
Não sei se já comentei anteriormente com os senhores, mas estas sonatas me foram apresentadas pela primeira vez por Glenn Gould, e confesso que não entendi nada, ainda era jovem, e na verdade não entendi até hoje o que o grande pianista canadense pretendia. Algum tempo depois conheci Ingrid Haebler, pianista austríaca e uma das maiores intérpretes de Mozart, e foi só então que tive a oportunidade de apreciar melhor essas obras e poder imergir neste universo tão amplo, apesar de certos críticos considerarem as sonatas para piano obras menores dentre outras obras de Mozart.
Curiosamente, temos aqui outra canadense explorando este repertório, mas com maestria e respeito, com todo o respeito aos fãs de Gould, aos quais me incluo, mas mais especificamente às suas intervenções bachianas, estas sim geniais. As excentricidades cometidas por ele nestas obras me assustam até hoje. Para quem não sabe do que estou falando, sugiro uma das melhores postagens já feitas no PQPBach, com autoria do nosso querido Vassily Genrikhovich, que traduziu para nossa lingua uma ‘entrevista’ de Gould, onde ele explica as excentricidades citadas. E obviamente, nos traz as nefastas gravações.
Segundo Hewitt, que por sua vez cita Köchel, o responsável pela catalogação das obras de Mozart, estas sete primeiras sonatas foram datadas em 1778, então temos aqui um jovem de 22 anos de idade explorando todas as possibilidades do pianoforte, instrumento novo que ainda tentava se impor nas salas de concerto.
Neste CD duplo, Angela nos traz estas sete primeiras sonatas, e nos promete mais dois volumes, ambos cds duplos, onde pretende nos trazer a integral dessas obras. Esperamos ansiosamente. Enquanto isso, vamos degustando estas delícias aos poucos, como se estivessemos degustando um bom vinho.
Então vamos ao que viemos.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano de 1 a 7 (Angela Hewitt)
01. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K279 – 1: Allegro
02. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K279 – 2: Andante
03. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K279 – 3: Allegro
04. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in F major, K280 – 1: Allegro assai
05. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in F major, K280 – 2: Adagio
06. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in F major, K280 – 3: Presto
07. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in B flat major, K281 – 1: Allegro
08. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in B flat major, K281 – 2: Andante amoroso
09. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in B flat major, K281 – 3: Rondeau: Allegro
10. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in E flat major, K282 – 1: Adagio
11. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in E flat major, K282 – 2: Menuetto I & II
12. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in E flat major, K282 – 3: Allegro
13. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in G major, K283 – 1: Allegro
14. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in G major, K283 – 2: Andante
15. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in G major, K283 – 3: Presto
16. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 1: Allegro
17. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 2: Rondeau en polonaise: Andante
18. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 3: Tema: Andante –
19. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 4: Variation 1 –
20. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 5: Variation 2 –
21. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 6: Variation 3 –
22. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 7: Variation 4
23. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 8: Variation 5 –
24. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 9: Variation 6
25. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 10: Variation 7: Minore
26. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 11: Variation 8: Maggiore –
27. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 12: Variation 9 –
28. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 13: Variation 10
29. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 14: Variation 11: Adagio cantabile
30. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 15: Variation 12: Allegro
31. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K309 – 1: Allegro con spirito
32. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K309 – 2: Andante un poco adagio
33. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K309 – 3: Rondo: Allegretto grazioso
Mais uma vez a Terra está a completar uma volta em sua órbita celeste e nos aproximamos do fim deste peculiar ano de 2022. Alguns ciclos se completam, outros estão a vir, já anunciados. É um bom momento para, como Janus, olharmos para trás, considerando o que foi feito e desejarmos o que está chegando. Eu estou tentando criar espaço no presente para receber o que o futuro trará.
Passei em revista minha atividade no blog, entre 1 de dezembro de 2021 e 30 de novembro de 2022. Este ano não tive energia para verificar todas as publicações e limitei às que resultaram de meus próprios esforços. Estas postagens refletem meu envolvimento com música, que posso observar, é grande. Algumas delas foram fáceis de preparar, vindas de alguma boa inspiração, outras demandaram mais estudo e dedicação, mas todas me deram bastante prazer, ao longo do caminho. Prazer em ouvir a música, de eventualmente comparar com outras interpretações ou de seguir as direções que ela me apontava. Prazer também em burilar o texto, em catar as ilustrações e depois esperar que elas surgissem, no blog. Esperar os aguardados comentários, estes mais parcos do que eu gostaria. De qualquer forma, os que recebi ao longo deste período me pareceram sinceros e foi gratificante lê-los.
Olhar estas postagens mais uma vez me fez pensar o quanto é importante valorizar o tempo, que ouvir música demanda tempo. Talvez seja por isso que alguns de nós se agarre a um repertório mais restrito, voltando sempre aos mesmos intérpretes. Eu sou por demais curioso para isso, o que me força a constantemente abrir mão desse tipo de segurança, abrindo espaço para as novidades.
Neste período fiz 64 postagens e acabei selecionando uma playlist entre as peças que considerei representativas do total. Caso você tenha o tempo de ouvir, poderá se interessar em visitar a correspondente postagem e descobrir algumas outras novidades.
Três dessas postagens selecionadas são de nosso padroeiro, São Sebastião Ribeiro. Uma gravação estalando de nova das seis sonatas para cravo e violino, com o violinista Andoni Mercero e o cravista Alfonso Sebastián; um disco com cantatas para baixo interpretadas pelo (jovem) David Greco, acompanhado pelo Luthers Bach Ensemble, sob a direção de Tymen Jan Bronda; uma outra gravação (plena de reflexões feitas durante o afastamento social resultado da pandemia) das seis (maravilhosas) suítes para violoncelo pelo jovem e talentoso Bruno Philippe.
Duas postagens refletem essa minha busca por novidades. Assim, na minha playlist de Retrospectiva 2022 há duas peças que conheci este ano e que me impressionaram: num deles, o Concerto para Piano de Sir Michael Tippett, interpretado pelo veterano pianista Howard Shelley, com a Bournemouth Symphony Orchestra, regida pelo (late) Richard Hickox, num disco do selo Chandos, inglês em todas as instâncias; no outro, o Cantus Articus do compositor finlandês Einojuhani Rautavaara. A peça Cantus Articus foi a que me motivou investigar a música de Rautavaara e o disco também traz a sua Sinfonia No. 7 e o Concerto para flautas.
O repertório de música francesa dos séculos 19 e 20 aparece sempre nas minhas postagens e um exemplo é este disco de músicos poloneses (ótimos) tocando lindas peças de câmara com instrumentos de sopros, o Gruppo di Tempera. Veja o discreto charme deste La chaminée du roi René, de Darius Milhaud.
Outro exemplo é o disco Exotisme, sonorités pittoresques, com peças para piano solo ou a quatro mãos, interpretadas pelos ótimos Ludmilla Guilmaut e Jean-Noël Dubois. Uma mescla de música de compositores mais conhecidos com música de compositores que recebem menos exposição e que merecem maior divulgação. Muita alegria, charme e beleza, como num lindo buque de flores.
Cantores também me interessam muito e adorei ter conhecido o trabalho da mezzo-soprano Elisabeth Kulman cantando algumas canções de Mahler, acompanhada por um pequeno conjunto de músicos com o sugestivo nome Amarcord Wien.
Muito trabalho me deu a postagem das 40 árias, que passou incólume pelos nossos leitores. Muito trabalho, uma vez que ópera é um gênero musical que eu conheço pouco, mas muito prazer também em descobrir um pouco o sentido de tão belos momentos musicais. Para esta Retrospectiva 2022 escolhi algumas das árias que considerei mais emblemáticas. Entre elas Casta Diva, da ópera Norma, composta por Bellini, e Vissi d’arte, de Tosca, composta por Puccini.
Uma grata surpresa neste ano foi a descoberta da música para piano de Radamés Gnattali, num disco primoroso. O intérprete Luís Rabello é sobrinho do violonista Raphael Rabello e ótimo pianista.
Para completar essa retrospectiva, não poderia deixar de mencionar mais música barroca. Escolhi algumas sonatas de Scarlatti, parte da postagem de um disco da espetacular pianista Zhu Xiao-Mei e uma postagem dedicada ao Opus 3 de Vivaldi, pelo Concerto Italiano, sob a direção de Rinaldo Alessandrini. Esta coleção tem de especial o fato de que os concertos de Vivaldi estarem entremeados com algumas das suas transcrições feitas por Bach.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Sonata No. 6 em sol maior, BWV1019
Allegro
Largo
Allegro
Adagio
Allegro
Andoni Mercero, violino
Alfonso Sebastián, cravo
Cantata BWV 82 ‘Ich habe genug’
Ich habe genug
Ich habe genug! Mein Trost ist nur allein
Schlummert ein, ihr matten Augen
Mein Gott! Wann kömmt das schöne
Ich freue mich auf meinen Tod
David Greco, baixo
Joanna Huszcza, violino
Amy Power, oboé
Luthers Bach Ensemble
Tymem Jan Bronda
Suíte para Violoncelo No. 6 in D major, BWV1012
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Gavottes I & II
Gigue
Bruno Philippe, violoncelo
Michael Tippett (1905 – 1998)
Concerto para Piano e Orchestra
I Allegro non troppo
II Molto lento e tranquilo
III Vivace
Howard Shelley, piano
Bournemouth Symphony Orchestra
Richard Hickox
Darius Milhaud (1892 – 1962)
Le cheminée du Roi René, Op. 205
Cortege
Aubade
Jongleurs
La Maousinglade
Joutes sur l’arc
Chasse a Valabre
Madrigal – Nocturne
Gruppo di Tempera
Agnieszka Kopacka, piano
Agata Igras-Sawicka, flauta
Sebastian Aleksandrowicz, oboé
Adrian Janda, clarinete
Artur Kasperek, fagote
Tomasz Bińkowski, trompa
Gustav Mahler (1860 – 1911)
Ging heut morger übers Feld – Mahler (Lieder eines fahrenden Gesellen)
Ich atmet’ einen linden Duft – Rückert-Lieder
Blicke mir nicht in die Lieder – Rückert-Lieder
Liebst du um Schönheit – Rückert-Lieder
Adagietto – 4 movimento da Quinta Sinfonia
Elisabeth Kulman, mezzo-soprano
Amarcord Wien:
Tommaso Huber, acordeão
Sebastian Gürtler, violino
Michael Williams, violoncelo
Gerhard Muthspiel, contrabaixo
Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016)
Cantus Arcticus, Op. 61 (Concerto para Pássaros e Orquestra)
Suo (Pântano)
Melankolia
Joutsenet muuttavat (Cisnes migrando)
Sinfonia Lahti
Osmo Vänskä
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Voiles
Ludmilla Guilmault, piano
Déodat de Séverac (1872 – 1921)
En Vacances, Vol. 1
Où l’on entend une vieille boîte à musique
Valse romantique
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
Gabriel Fauré (1845 – 1924)
Dolly, Op. 56
Le pas espagnol
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
40 Best Arias
Bellini- Norma – Casta Diva – Maria Callas
Verdi- Rigoletto – La Donna E Mobile – Richard Leech
Bizet- Carmen – Habanera – ‘L’amour Est Un Oiseau Rebelle – Julia Migenes
Bizet- Carmen – Flower Song – Placido Domingo
Offenbach- Les Contes d’Hoffmann – Barcarolle – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
Mozart- Don Giovanni – Dalla Sua Pace – [Don Ottavio] – Hans-Peter Blochwitz
Delibes- Lakme – Flower Duet – [Lakme, Mallika]) – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
Verdi- La Traviata – Brindisi- Libiamo Ne’Lieti Calici – Neil Schicoff & Edita Gruberova
Puccini- La Boheme – Che Gelida Manina [Rodolfo]) – Jose Carreras
Puccini- La Boheme – Si. Mi Chiamano Mimi – Barbara Hendricks
Puccini- Tosca – Vissi D’arte’ [Tosca] – Kiri Te Kanawa
Puccini- Tosca – E Lucevan Le Stelle [Cavaradossi] – Placido Domingo
Gluck- Orphee Et Eurydice – J’ai Perdu Mon Eurydice – Susan Graham
Rossini- La Cenerentola – Non Piu Mesta [Angiolina] – Jennifer Larmore
Radamés Gnattali (1906 – 1988)
Rapsódia Brasileira
Poema de Fim de Tarde
Manhosamente
Uma rosa para o Pixinguinha
Luís Rabello, piano
Domenico Scarlatti (1685 – 1757)
Sonata em mi maior, K. 531 (L. 430)
Sonata em si menor, K. 87 (L. 33)
Sonata lá maior, K. 533 (L. 395)
Sonata em ré menor, K. 32 (L. 423)
Sonata em lá maior, K. 39 (L. 391)
Zhu Xiao-Mei, piano
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 8 for 2 Violins in A Minor, Op. 3, RV 522
Allegro
Larghetto
Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto for organ after RV 522 in A Minor, BWV 593
[Allegro]
Adagio
Allegro
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 10 for 4 Violins in B Minor, Op. 3, RV 580
Allegro
Largo
Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto for 4 Harpsichords after RV 580 in A Minor, BWV 1065
Estes dois discos têm me acompanhado no caótico trânsito de minha cidade nas últimas semanas e me dado tanto prazer que decidi fazer a postagem. Se o carro para no sinal, na geleia geral do trânsito ou no posto de gasolina, abro os vidros e deixo que essa exuberante arte do excesso se espalhe e impressione as pessoas, que me olham com alguma curiosidade.
As óperas têm estado presentes no blog, especialmente nas edições completas (e vastamente comentadas), mas aqui temos uma proposta diferente – coleção de árias – o crème de la crème. Veja o título: 40 Most Beautiful Arias – 40 Mais Belas Árias !
Há uma certa simplificação, pois que nem todas as faixas são árias, há alguns duetos também.
Eu confesso que costumava olhar com um certo desdém para este tipo de edição, por parecer um pouco populista, mas rendi-me à efetividade do produto, adorei ouvir essas belezuras, uma depois da outra… Realmente, é fácil criticar este tipo de lançamento, inclusive por deixar esta ou aquela outra ária de fora, pois que há muitas tantas tão bonitas, mas no fim dos discos chegamos ao entendimento de porque tantas pessoas se apaixonam por ópera. Além disso, a alternância tanto dos tipos de vozes quanto de estilos funcionou bem para mim.
No pacote há 18 compositores representados e o campeão é Puccini, com 11 árias, seguido de Mozart e Verdi, cada um com 5 números. Bizet tem 4 faixas, Handel 2 e o resto, uma cada.
Na escolha dos intérpretes os produtores devem ter tido um olho nos contratos, de forma que se poderia dizer que este ou aquele intérprete teria sido uma melhor opção. Mas não nos prendamos a essas coisas e se deixe levar pela onda da ópera, no que ela tem de melhor.
Há uma certa aura em torno de música clássica, ópera em especial, deixando uma impressão de inacessibilidade, que é necessário ter um gosto adquirido para de fato apreciar, mas isso é falso. As pessoas gostam (sempre gostaram) de ópera. Eu gosto do filme ‘O Feitiço da Lua’ (Moonstruck) pela história, mas também pela cena da ópera. O mocinho do filme (Nicholas Cage, quando jovem) é um padeiro que ama ópera e consegue levar a mocinha (Cher, a noiva de seu irmão mais velho) para uma noite na ópera. Mas não é um teatro qualquer, é o Metropolitan! A cena transmite toda a excitação e expectativa que antecede o espetáculo e mostra como as pessoas se envolvem com a apresentação. Pois bem, nem precisa vestir sua roupa de domingo, apenas ouça e deixe-se encantar pela magia dessas peças.
Moonstruck – Loretta e Ronny vão à Opera
As estrelas do disco:
Disco 1
Nessun dorma (Ninguém durma) – ária do Ato III de Turandot (1926), de Giacomo Puccini. A princesa Turandot decretara que ninguém poderia dormir na cidade de Pequim até o nome do príncipe (Calaf) lhe ser revelado. Calaf havia concordado que morreria caso seu nome fosse descoberto antes do amanhecer. Ele canta certo de que o esforço será em vão e que ao amanhecer ele mesmo dirá seu nome à princesa ganhando assim a sua mão em casamento. O papel é de um tenor. Neste disco, a ária é cantada por Placido Domingo que teve uma voz maravilhosa…
Turandot, no Met…Carmen foi uma ópera revolucionária
L’amour est un oiseau rebelle (O amor é um pássaro rebelde) – Habanera – Ária do Ato I de Carmen (1875), de Georges Bizet. A ária é cantada pela própria protagonista, ao sair do trabalho, na fábrica de charutos. Carmen é a própria sedução, falando sobre o amor e as loucuras de amar. O papel é escrito para um mezzo-soprano, e a intérprete é Julia Migenes. Carmen é uma ópera especial entre todas, não só pela música maravilhosa, mas pela audácia dos temas e, é claro, termina em tragédia.
Una furtiva lacrima – ária de L’elisir d’amore (1832), ópera de Gaetano Donizetti, cantada por Nemorino, um jovem camponês. Ele está cheio de confiança por ter tomado a segunda dose da Poção do Amor (na verdade, apenas vinho) e esnoba todas as belas da vila, reunidas e interessadas nele devido à fortuna que acabara de herdar. Entre elas está Adina, que fica magoada com sua indiferença e sai. Nemorino assim descobre que ela está interessada nele e canta sua alegria por descobrir que ela o ama. Aqui o tenor é Roberto Alagna.
Je dis que rien ne m’épouvante (Posso dizer que nada me assusta…) – ària de Carmen, cantada por Micaëla, uma jovem da vila de Don José e que está apaixonada por ele. Carmen mete Don José em tantas confusões que a ele só resta unir-se aos contrabandistas (Dancaïre e Remendado, ótimos nomes…) que vivem escondidos nas montanhas. A pobrezinha Micaëla vai a sua procura e para afugentar seu próprio medo, canta essa canção.
Bizet
Au fond du temple saint também é de Bizet, mas da ópera Les pêcheurs de perles (1863) e não é uma ária, é um dueto. Os personagens são Nadir e Zurga, dois vértices de um (surpresa) triângulo amoroso. Os cantores aqui são Jerry Hadley e Thomas Hampson.
Ombra mai fu (também conhecida como Largo de Handel) – é uma ária da ópera Xérxes (1739), de Georg Frideric Handel. Muito conhecida, a ária é cantada por Xérxes para uma árvore, um plátano, louvando suas maravilhas… Aqui Xérxes é a cantora Jennifer Larmore.
When I am laid in earth – é um lamento cantado por Dido, na ópera Dido and Aeneas (década de 1680) de Henry Purcell. O sem-coração do Aeneas se apaixona por Dido, uma rainha, mas deve retornar à sua pátria e a abandona. É claro que ela vai se matar por isso, mas não sem antes nos cantar este maravilhoso lamento… Remember me, remember me, but ah! forget my fate! Aqui o lamento é da maravilhosa Véronique Gens.
Voi che sapete che cosa è amor – ária da ópera Le Nozze di Figaro (1786) do cara que sabia de tudo sobre ópera, Wolfgang Amadeus Mozart. A ária é cantada por Cherubino, um jovem pajem que vive apaixonado por todas as mulheres da ópera e canta para elas essa linda canção sobre o amor de dentro de seu uniforme militar… É claro que o papel é sempre de uma cantora (contralto) e aqui é a spettacolare Cecilia Bartoli.
Soave sia il vento – duetto de Così fan tutte (1790), outra do grande Mozart. Esta ópera é sobre (in)fidelidade no amor – rola uma aposta e dois casais serão submetidos a uma série de provas. Os mocinhos partem em um barco (de mentirinha, é claro) e as mocinhas, Dorabella e Fiordiligi, junto ao cético Don Alfonso, dão adeusinhos a eles, desejando que bons ventos os levem… As cantoras aqui são as famosas Kiri Te Kanawa e Frederica von Stade, que leva nobreza até no nome.
Mon coeur s’ouvre à ta voix – ária da ópera Samson and Delilah (1877) de Camille Saint-Saëns. Não consigo pensar nessa ópera sem lembrar dos filmes de Cecil B. DeMille, com Victor Mature e a deslumbrante Hedy Lamarr (deve ser um lance de numerologia, esse nome). Mas, voltando ao assunto, temas bíblicos como esse eram usados para um bom libreto, e essa ária é o momento no qual Dalila encanta e seduz o povero Sansão. A cantora aqui é o mezzo-soprano Olga Borodina e no finalzinho da ária o tenor José Cura da a voz a um balbuciante Sansão.
Nossa foto é apenas ilustrativa…
Pourquoi me réveiller, ária da ópera Werther (1887), de Jules Massenet. Você provavelmente sabe, Os Sofrimentos do Jovem Werther é um livrinho escrito por Goethe contando a história do mísero Werther, que está apaixonado pela Charlotte, que o ama de volta, mas está casada com outro homem. Sofrência no úrtimo com o terrível desfecho, suicídio do pobrezinho. O livro é um clássico, dizem autobiográfico (menos a parte do suicídio…) e gerou uma onda de suicídios nos dias de seu lançamento. Nesta ária, Werther lembra-se, ao lado de Charlotte, das suas leituras de poesias… O cantor é o tenor Jerry Hadley.
La donna è mobile, canzone do ato III, de Rigoletto (1851) ópera de Giuseppe Verdi. Essa é uma dessas óperas que você precisa ouvir pelo menos uma vez. Aqui o Duque de Mantua, um grande mulherengo, a là Don Giovanni, canta disfarçado de soldado está linda ária com palavras nada altaneiras sobre o caráter mundano das mulheres… O tenor aqui é Richard Leech.
Canção da Lua é uma ária da ópera Rusalka (1901), de Antonín Dvořák, mais conhecido pelo seu belíssimo Concerto para Violoncelo e pela Sinfonia ‘do Novo Mundo’. Rusalka conta a história de uma ninfa aquática que se apaixona por um humano. Aqui ela implora à Lua que revele ao príncipe (claro que o humano seria um príncipe…) o seu amor. A popularidade da ária sobrepujou a ópera e faz parte do repertório de grandes sopranos. Aqui está a cargo de Eva Urbanová.
Un bel di é uma ária de nosso campeão Puccini, da ópera Madama Butterfly (1904). Cio-Cio-San, a Madame Butterfly, espera já há três anos a volta de seu marido americano. Sua empregada Suzuki tenta convence-la que ele não retornará, mas ela crê na volta dele – Un bel di, vedreno o barco chegando e tal… Aqui a cantora é Cristina Gallardo-Domâs.
Donna non vidi mai é uma ária da ópera Monon Lescaut (1893), de (ta dã…) Puccini. O jovem cavaleiro Renato des Grieux acaba de conhecer e se apaixonar por Manon Lescaut. Desafortunadamente ela deve atender ao chamado de seu irmão, mas promete retornar. Ficando sozinho des Grieux canta nesta ária todo o seu amor por Manon. Quem empresta a voz a des Grieux aqui é José Cura.
Brindisi, de outra maravilhosa ópera de Verdi. Mais uma que precisa ser ouvida – La Traviata (1853). Alfredo, o mocinho da ópera, é convencido por Gastone e Violetta, a mocinha, a exibir sua voz. Ele então canta esta Canção de Brindar. Na gravação Alfredo é Neil Shicoff.
La Divina interpretou Tosca como poucas…
Vissi d’arte é a ária! Como todas as próximas neste disco, é de Puccini, da ópera Tosca (1900), talvez a ópera das óperas. A mocinha é ela mesma uma cantora de ópera (o cara era bom). Amor e música – as razões de viver de Tosca (Vissi d’arte = Eu vivo para a arte). A primeira cantora a cantar no papel de Tosca foi Giuditta Pasta, a mais famosa cantora lírica do século XIX. Foi Desdemona em Otello e teve três grandes óperas escritas para ela – Anna Bolena, La Sonnambula e Norma, na qual está a ária Casta Diva, que faz parte do segundo CD. Foi a partir daí que se passou a chamar essas mega artistas de Diva. Giuditta Pasta foi a primeira Diva! Aqui a Diva é Kiri Te Kanawa.
Che gelida manina (Que mãozinha gelada!) ária cantada por Rodolfo para Mimi, quando eles se encontram pela primeira vez. Eles são os protagonistas de mais uma ópera emblemática, La Bohème (1896), de (adivinhe) Giacomino Puccini. Ele aproveita para dizer que está apaixonado por ela. Aqui, o Rodolfo é o ótimo José Carreras.
Si, mi chiamano Mimi é da mesma ópera, mesmo momento. Rodolfo acabou de se declarar a Mimi e pede que lhe fale algo sobre ela. Bom, ela então lhe diz (cantando lindamente) que a chamam Mimi, apesar de seu nome ser Lucia. Ah, o amor! Mimi aqui é interpretada pela espetacular Barbara Hendricks.
O soave fanciulla– Depois dessas duas árias, os enamorados se reúnem nesse dueto que encerra o Primeiro Ato da ópera La Bohème. De novo, José Carreras e Barbara Hendricks são Rodolfo e Mimi.
Disco 2
O mio babbino caro (cuidado, não é ‘bambino’!) é uma ária famosa de uma (não tão famosa) ópera de um ato de Puccini, chamada Gianni Schicchi (1918). A ária é cantada por Lauretta, que implora a seu pai (babbino) – Ganni Sichicchi – que a ajude casar-se com o amor de sua vida, Rinuccio. Bom, nem os nomes ajudam muito, mas a ária é daquelas que está no repertório de todas as grandes cantoras. Aqui, Lauretta é interpretada por Cristina Gallardo-Domâs.
Ebben? Ne Andrò Lontana é uma ária da ópera La Wally (1892), escrita por Alfredo Catalani. Essa ária é cantada pela heroína, quando ela decide sair de casa para sempre. Bom, ela é uma garota tirolesa que morre jogando-se em uma avalanche de neve… Pois é, vá entender libretos de óperas. A cantora aqui também é Cristina Gallardo-Domâs.
Les Contes d’Hoffmann, no Met!
Barcarolle é um dueto para soprano e mezzo-soprano de Les Contes d’Hoffmann (1881), a última ópera de Jacques Offenbach. Offenbach foi ótimo violoncelista e compôs inúmeras operetas de enorme sucesso. Essa Barcarolle tem uma das melodias mais populares do mundo e aposto como você vai se lembrar de já tê-la ouvido antes. Aqui as intérpretes são Jennifer Larmore e Hei-Kyung Hong.
La fleur que tu m’avais jetéeé outra pérola de Carmen, de Bizet. A canção da flor é um dos momentos mais líricos da ópera e traz o motivo do destino. Don José aqui é interpretado por Placido Domingo.
Puccini
Signore, ascolta! É uma ária de Turandot, que como você já sabe, é de Puccini. A ária é cantada por Liu, uma escrava, para o príncipe Calaf, por quem está secretamente apaixonada! Ela o alerta para não arriscar sua vida pela fria princesa Turandot… Liu aqui é interpretada por Kiri Te Kanawa.
Un di felice é um dueto do primeiro ato da espetacular La Traviata (1853) de Giuseppe Verdi. Alfredo e Violetta cantam o tema mais famoso da ópera, que aqui são interpretados por Neil Shicoff e Edita Gruberova.
Dôme épais le jasmin– dueto da ópera Lakmé (1883), de Léo Delibes, cantado por Lakmé e sua serva Mallika, enquanto vão colher flores às margens de um rio. Um destes temas que são maiores do que a própria ópera, assim como a Barcarolle, de Offenbach. Aliás, cantados aqui pelas mesmas intérpretes, Jennifer Larmore e Hei-Kyung Hong.
Porgi amor– Cavatina do Segundo Ato de Le Nozze di Figaro (1786), de Mozart. A condessa, Rosina, só em seu quarto, lamenta a infidelidade de seu marido, o Conde de Almaviva. Ária curta, sem repetições, na qual a quase impossível simplicidade de Mozart transborda numa pequena joia. Aqui a condessa é Lella Cuberli.
Esse sabia de tudo e mais ainda, sobre óperas…
Dalla sua pace – Ária da ópera Don Giovanni (1787), composta pelo divino Mozart, e é cantada por Don Otavio, noivo de Donna Anna. Eu tinha um amigo que o chamava Don Otário, pois o personagem é assim, um dois de paus, nada faz de interessante, mas é o tenor da ópera, onde o Don, Leporello e Masetto são todos baixo-barítonos. Isso sem contar o Comendador, que é um baixo à la Ghiaurov. Dalla sua pace foi composta para a apresentação da ópera em Viena, depois do sucesso em Praga, pois o tenor do dia não conseguia cantar a segunda ária de Don Otavio – Il mio tesoro – cuja parte …cercate…, é de matar de difícil. Aqui a bela Della sua pace está aos encargos de Hans Peter Blochwitz.
Casta Diva, assim como Vissi d’arte, é uma das mais famosas árias do repertório de soprano. A ópera é Norma (1831), de Bellini. Não é o capitão da Seleção Brasileira de Futebol de 1958, cuja estátua se encontra em frente ao Maracanã, mas Vincenzo Bellini, que escreveu o papel para Giuditta Pasta, a primeira das Divas. Aqui, a intérprete é Maria Callas, a Diva do século XX. O que realmente torna uma cantora uma Diva é a paixão que coloca em suas interpretações, assim como seu senso teatral.
Lascia ch’io pianga – Retornando no tempo, essa é uma ária da ópera Rinaldo (1705), de Handel. Como você pode imaginar, este é um lamento, construído sobre uma sarabanda. Logo após se casar com Rinaldo, Almirena é raptada por Armida. Ela está só no jardim de Armida e canta este seu lamento. A cantora na gravação é Marilyn Horne.
J’ai perdu mon Eurydice – essa memorável ária é da versão em francês de Orpheé et Eurydice (adaptada em 1774 da versão em italiano). Em italiano é Che faro senza Euridice (1762). Uma das mais lindas melodias colocadas em uma ária. Inesquecível mesmo após a primeira audição. A cantora aqui é Susan Graham.
Bein Männern, welche Liebe fuhlen – é um dueto da ópera Die Zauberflöte (1791), de Mozart. Pamina e Papageno cantam juntos um dueto sobre o amor em geral, mas não cantam um para outro, pois que não são parte de um par amoroso. Nesta gravação os cantores são Rosa Mannion e Anton Scharinger
Celeste Aidaé a ária na qual Radamés, escolhido para comandar os invasores etíopes, canta sua esperança de ser o grande vencedor para assim ganhar também o amor de Aida. A ópera Aida (1871), de Giuseppe Verdi, é uma daquelas obras que é reconhecida por todos e as suas montagens podem envolver quase um universo. Aqui Radamés está ao encargo de Placido Domingo.
Chi il bel sogno di Doretta, da ópera La Rondine (A Andorinha) (1917) de Puccini. Nesta ária a protagonista Magda conta como Doretta se apaixonou por um estudante. Na ópera, por sua performace, Magda ganha um colar de pérolas, que aqui vai para Kiri Te Kanawa.
Quizz do PQP Bach: Qual é a série de cuja trilha sonora esta ária faz parte?
Amor ti vieta é uma ária da ópera Fedora, de Umberto Giordano. Como parte de seu plano de vingança, Fedora (1898) seduz o Conde Loris Ipanov. Nesta ária eles se encontram em uma festa e ele diz a ela que realmente a ama. O conde aqui é Placido Domingo.
Es lebt eine Vilja (Vilja-Lied) é da ópera Die Lustige Witwe (1905), de Franz Lehár. Em sua festa Hanna conta a história de um espírito da montanha, uma Vilja, que vaga por lá e seduz os caçadores com sua beleza. A cantora aqui é Karita Mattila.
E lucevan le stelle é do Terceiro Ato de Tosca, de Puccini. Mario Cavaradossi é o mocinho (literalmente) da ópera, um jovem e liberal pintor, amante de Tosca. Nesta belíssima ária Cavaradossi troca sua última posse, um anel, para que um guarda leve uma carta para sua amada Tosca. Enquanto ele escreve a carta, canta seu amor por Tosca e pela vida. Mais uma vez, a voz linda de Placido Domingo.
Verdi
Ave Maria é uma ária da ópera de maturidade de Verdi, Otello (1887). Desdemona reza à Virgem Maria um pouco antes de Otello entrar e cego de ciúmes, matá-la. Pois é, feminicídio é comum nas óperas… A Desdemona da vez é Cristina Gallardo-Domâs.
Non più mesta accanto al fuoco é da ópera La Cenerentola (1817), de Gioacchino Rossini. Ele mão poderia faltar , este genial compositor. Essa ópera é baseada no conto de fadas Cinderela, e foi composta em apenas 24 dias. Este é um dos momentos finais da ópera, onde a Cinderela canta que já não fica mais triste perto do fogo. Muito virtuosismo, mas a melodia aqui é a mesma de uma ária cantada pelo Conde Almaviva no final de O Barbeiro de Sevilha. Não por pouco que Rossini tinha fama de preguiçoso. Compunha deitado em sua cama. Se a folha em que estava escrevendo caísse, em vez de pegá-la do chão, ele começava tudo novamente em uma outra mais à mão. A cantora aqui é Jennifer Larmore.
Julien mostrando toda a alegria de aparecer de novo no PQP Bach…
Com a caneta ainda quente da última postagem, ouvi este disco e (quase) pude afirmar – é ainda melhor! O Concerto para Piano No. 23 de Mozart é um primor de simplicidade! E ainda temos um solista espetacular. Os discos de Andreas Staier podem ser um pouco estranhos, mas são sempre interessantes. Aqui ele é o solista de uma das obras e precisa ser ouvido. O piano participa (discretamente) do tutti inicial, como deve ter sido nos dias de Mozart, aguça a nossa curiosidade, antecipando sua entrada como solista.
O formato do disco segue o do álbum anterior – uma abertura de ópera, um concerto e uma sinfonia. Enquanto no disco anterior, a abertura do Fígaro era pura alegria e júbilo, a do Don Giovanni tem também um clima de mistério, de tons ameaçadores, como era de se esperar para uma ópera que mistura com maestria drama, comédia e uma dose de sobrenatural.
No concerto temos uma aula prática de ornamentação, pois que Andreas Staier é um solista sensacional. E a aula continua numa ótima entrevista dele no livreto. Ele fala de uma partitura com anotações de Barbara Ployel, uma aluna de Mozart. Essas anotações teriam sido feitas logo após uma das aulas com o compositor. Staier, no entanto, diz: Boa ornamentação não é como colocar maionese e ketchup sobre todas as (batatas) fritas, mas é preciso saber quando deixar espaços entre certas passagens, ornamentando outras, de maneira bem elaborada. Staier também tem uma palavra sobre o instrumento usado: magnífico, construído por Christoph Kern, uma cópia de um fortepiano construído por Anton Walter, por volta de 1790. Para a música de Mozart, você precisa de um teclado que possa cantar…
Para concluir, a Sinfonia No. 40, em sol maior, que contrasta com sua irmã – Júpiter – que está no outro disco, por ser um pouco mais tímida, mas quem pode esquecer de seus primeiros acordes – ta-da-dam, ta-da-dam, ta-da-dam-tam… e que aqui termina com uma imensa alegria. Um disco para ouvir várias, várias vezes!
Uma das críticas: But all-in-all these are challenging and rewarding performances of familiar masterpieces that make the listener prick up his ears anew, not always a foregone conclusion. Brian Robins
O ano de 1782 encontrou Haydn trabalhando para o príncipe Miklós (Nicolau) Esterházy e já no auge de sua maturidade como compositor. Nessa época ocorre a publicação de seus Seis Quartetos Op. 33, pela firma Artaria, de Viena, que estabelece um nível altíssimo para esse gênero. É também dessa época o Concerto para Piano em ré maior, sua última composição desse tipo, que foi publicado em 1784. Assim como os concertos contemporâneos de Mozart é uma peça no Estilo Galante e uma das melhores. O seu último movimento, um Rondó Húngaro, tem todas as características do que Haydn fazia de melhor…
A orquestra em frente ao Musikkollegium esperando o pessoal do PQP Bach que viria para fazer umas entrevistas…
Enquanto Haydn vivia e produzia no palácio Hesterhaza, em 1782 Mozart estava finalmente em Viena, fora dos muros de Salzburgo. Neste ano, em 16 de julho, estreia no Burgtheater a ópera (deliciosa) Die Entführung aus dem Serail. O Concerto em lá maior, K. 414, foi composto no outono, junto com seus irmãos K. 413 e 415 (Nos. 11 – 13) como parte das obras a serem apresentadas para o público de Viena nos Lenten Concertos (Concertos do Período da Quaresma, quando os teatros de ópera ficavam fechados), em janeiro de 1783. O Concerto No. 12 tem em seu movimento lento a menção de um tema de Johann Christian Bach, o Bach de Londres, que morrera no início do ano, e era muito admirado por Mozart.
O piano do PQP Bach Lounge deixou o Wong de cabeça para baixo…
O disco completo deve conter mais uma Sinfonia e outras peças orquestrais, mas os Concertos e uma minúscula peça para piano solo foi o que consegui. Demorei um pouco até chegar ao disco, mas depois que o ouvi, gostei tanto que tenho o ouvido com alguma frequência agora. Como vocês sabem, quando isso acontece, acabo trazendo para vocês também aproveitarem. O See Siang Wong é ótimo, muito simpático e foi aluno do Bruno Canino no Hochschule der Künste Bern.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano No. 11 em ré maior, Hob. XVIII: 11
Mozart e Haydn se conheciam e tinham uma alta estima mútua. Há também relatos de ocasiões nas quais ambos tomaram parte de concertos de música de câmara. Dizem os detratores que eles tocavam bem viola…
Aproveite!
René Denon
PQP Bach – Quizz: Quem é o músico tocando viola na foto a seguir?
Aqui [em Praga] todos só falam de uma coisa – Fígaro;
Nada é tocado, assobiado, cantado ou cantarolado como – Fígaro!
Mozart escreveu de Praga para um Gottfried Emilian, de Viena: Eu vejo com enorme prazer as pessoas saltitando de puro deleite ao som da música de meu Fígaro, arranjado inteiramente como contradanças ou danças alemãs – Figaro, um não mais se acabar de Fígaro! Uma enorme honra para mim!
Teatro em Praga, onde Mozart regeu o Fígaro…
Pois é uma alegria saber que Mozart desfrutou do sucesso dessa ópera com música maravilhosa. Pois é com a abertura dessa obra que começa esse disco, da orquestra HIP, Le Concert de la Loge, regida pelo seu fundador, que também toca o violino e é o solista na próxima peça – o Concerto No. 3, em sol maior, K. 216, com seu deliciosos rondó final.
Talvez eles assustem um pouco, no início, pois que se atracam com o Fígaro em high speeds, mas depois as coisas vão se serenando um pouco mais. As peças são muito bem escolhidas, a Sinfonia Júpiter, enorme para os padrões da época, é uma maravilhosa peça e devia ser mais tocada.
Enfim, um programa especial para quem gosta da música de Mozart, mas com ares mais clássicos do que românticos, se é que você me entende…
Julien Chauvin
Julien Chauvin estudou violino, especializou-se em música antiga, ganhou vários prêmios e, por dez anos, participou do grupo Le Cercle de l’Harmonie, cuja direção dividiu com Jérémie Rhorer. Julien também tocou em vários grupo e orquestras barrocas até que em 2015 fundou uma nova orquestra especializada em música antiga, a Le Concert de la Loge. A inspiração veio de uma orquestra que fora fundada em 1783 pelo Conde d’Ogny – Concert de la Loge Olympique, o conjunto que encomendou as Sinfonias Paris, de Haydn. Aliás, esse grupo [o grupo do Chauvin, é claro… ah, marvada língua…] gravou essas sinfonias, intercaladas com obras de compositores franceses que fizeram sucesso naqueles dias, mas que hoje raramente têm suas obras executadas.
O disco tem todas as características dos álbuns de grupos que usam instrumentos e práticas de época, como os ritmos mais rápidos, maior transparência no som, maior equilíbrio entre os grupos de instrumentos. Acho que vale a pena ouvi-los!
A alegria de Mozart certamente seria grande, caso ele soubesse!
In any case, the French musicians’ view of Mozart represents an interesting alternative to that of the competition from other historically informed ensembles. The successful recording technique of this download does the rest to make the Mozart album by Le Concert de la Loge recommendable.
Julien bem mais relaxado, na entrevista com o pessoal do PQP Bach, depois que o post foi ao ar…
Mais três cds desta coleção que considero além de IM-PER-DÍ-VEL, IN-DIS-PEN-SÁ-VEL !!! na cdteca de qualquer amante da boa musica.
Vou propor aos senhores, como ‘tarefa’ de férias de Natal e Ano Novo, a audição por inteiro desta integral, começando pelo começo. Lembro que quando adquiri estes mesmos concertos com o grande Alfred Brendel fiz a mesma coisa: os ouvi na ordem crescente, desde o começo. Assim podemos entender a evolução do processo criativo de Mozart. Só um detalhe: Brendel não toca em sua integral os quatro primeiros concertos, que não considerados de autoria de Mozart. Mas isso é outra história. Nestes cds de hoje temos três obras primas absolutas, os concertos de nº 20, 21 e o de nº 23. Somando-se ao de nº 17, poderia dizer que são os meus favoritos.
CD 7
Concerto For Piano And Orchestra No. 18 In B-flat Major K 456
1-4 I Allegro Vivace
1-5 II Andante Un Poco Sostenuto
1-6 III Allegro Vivace
Concerto For Piano And Orchestra No. 19 In F Major K 459
6-1 I Allegro
6-2 II Allegretto
6-3 III Allegro Assai
Postei esta série há alguns anos, mas acabei fazendo uma tremenda confusão e acabou faltando os cds intermédiários. Estou com esta postagem cobrindo essa falha, e aproveito para atualizar os demais links dos restantes CDs. Peço desculpas pela demora, mas a vida tem destas coisas, somos engolidos pela nossa rotina.
Mesmo passados mais de sessenta anos da realização destas gravações elas continuam sendo as minhas favoritas, dentre as dezenas de gravações que já tive a oportunidade de ouvir destas obras.
CD 4
01. Concerto For Piano And Orchestra No. 12 In A Major K 414 I Allegro
02. II Andante
03. III Rondeau. Allegretto
04. Concerto For Piano And Orchestra No. 13 In C Major K 415 I Allegro
05. II Andante
06. III Rondeau. Allegro – Adagio – Allegro
CD 5
01. Concerto For Piano And Orchestra No. 14 In E-flat Major K 449 I Allegro Vivace
02. II Andantino
03. III Allegro Ma Non Troppo
04. Concerto For Piano And Orchestra No. 15 In B-flat Major K 450 I Allegro
05. II [Andante]
06. III Allegro
CD 6
01. Concerto For Piano And Orchestra No. 16 In D Major K 451 I Allegro Assai
02. II Andante
03. III Allegro Di Molto
04. Concerto For Piano And Orchestra No. 17 In G Major K 453 I Allegro
05. II Andante
06. III Allegretto – Finale. Presto
Lili Kraus – Piano
Vienne Festival Orchestra
Stephen Simon – Conductor
A lendária habilidade de Pollini (ainda fabulosa), suas intuições musicais infalíveis e seu bom gosto são aqui provocados pela música maravilhosa que ele toca. Cada pequena estrutura, cada linha melódica, cada detalhe harmônico, recebe uma luz simples e adequada, seu peso próprio. O resultado é maravilhoso, não só por haver uma parceria de superclasse — envolvendo Pollini como solista e maestro e a excelente orquestra da Filarmônica de Viena –, mas principalmente por Pollini recuperar o gosto pelo detalhe e pelo cantabile, além da alegria de improvisar enquanto ilumina rigorosamente uma música. Temos aqui é um bom K. 414 e um ótimo K.491. O fato de serem apresentações ao vivo torna o esforço ainda mais impressionante. À medida que Pollini se aproxima do fim de uma carreira lendária, este disco é um testemunho de um homem cuja técnica já foi verdadeiramente impressionante e que agora tem classe de sobra.
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos Nº 12 e 24 (Pollini)
Concerto For Piano And Orchestra No. 12 In A Major, K. 414 (24:42)
1. Allegro 10:05
2. Andante 8:09
3. Rondeau: Allegretto 6:20
Concerto For Piano And Orchestra No. 24 In C Minor, K. 491 (20:23)
1. Allegro 12:31
2. Larghetto 8:11
3. Allegretto 9:40
Provavelmente meu primeiro contato com os concertos para piano de Mozart foi exatamente com Lili Kraus, com um velho LP que apareceu em casa, creio que trazido por meu irmão mais velho. Eu deveria ter entre doze e quinze anos, e estava começando a definir meu gosto musical. Não lembro quais eram os concertos, só sei que gostei muito, como não poderia deixar de ser.
O nome de Lili Kraus é quase que sempre associado a Mozart. Assim como Rubinstein – Chopin, Gould – Bach, Lili Krauss é referência quando falamos no genial compositor austríaco.
Vou trazer então para os senhores nas próximas postagens a integral dos concertos para piano de Mozart interpretados por esta gigante dos teclados, nascida na Hungria em 1903, terra de onde vieram grandes intérpretes do século XX, como Ferenc Fricsay e Géza Anda, e faleceu em 1986, nos Estados Unidos. Felizmente, ao contrário dos outros dois citados, Lili viveu bastante para aproveitar a fama e mostrar ás novas gerações todo o seu talento.
CD 1
Concerto For Piano And Orchestra No. 1 In F Major K 37
1. I Allegro
2. II Andante
3. III [Allegro]
Concerto For Piano And Orchestra No. 2 in B-flat major K 39
4. I Allegro Spiritoso
5. II Andante
6. III Molto Allegro
Concerto For Piano And Orchestra No. 3 In D Major K 40
7.I Allegro Maestoso
8 1.II Andante
9.III Presto
Concerto For Piano And Orchestra No. 4 In G Major K 41
10. I Allegro
11. II Andante
12. III Molto Allegro
CD 2
Concerto For Piano And Orchestra No. 5 In D Major K 175
1 I Allegro
2 II Andante Ma Un Poco Adagio
3 III Allegro
Concerto For Piano And Orchestra No. 6 In B-flat Major K 238
4 I Allegro Aperto
5 II Andante Un Poco Adagio
6 III Rondeau. Allegro
Concerto For Piano And Orchestra No. 8 In C Major K 246
I Allegro Aperto
II Andante
III Rondeau. Tempo di Menuetto
CD 3
1 Concerto For Piano And Orchestra No. 9 In E-flat Major “Jeunehomme” K 271
1 I Allegro
2 Andantino
3 III Rondeau. Presto
4 Concerto For Piano And Orchestra No. 11 In F Major K 413 (387a)
5 I Allegro
6 II Larghetto
7 III Tempo di Menuetto
Esta é uma gravação clássica e poderosa, antiquada e convincente. Karl Böhm e os Filarmônicos de Viena dão uma bela e exagerada demonstração do que era um bom Mozart lá nos anos 70.
O Réquiem em ré menor (K. 626), encomendado pelo Conte Franz von Walsegg, foi deixado incompleto devido à morte de Mozart em 5 de dezembro de 1791, sendo completado posteriormente pelos amigos e discípulos de Mozart, Franz Xaver Süßmayr, Joseph Leopold Eybler e possivelmente Franz Jacob Freystädtler. É sua última composição, talvez uma de suas mais famosas obras, não apenas pela música em si, mas também pelos debates em torno de até qual parte da obra foi preparada por Mozart antes de sua morte. Essa obra também se destaca pelo enorme número de versões e revisões feitas à versão de Süßmayr desde o século XX.
Bem, em 14 de fevereiro de 1791, Anna Walsegg, esposa de Franz von Walsegg faleceu aos 20 anos. Em julho do mesmo ano, bateu à porta de Mozart um desconhecido (possivelmente Franz Anton Leitgeb ou Johann Nepomuk Sortschan) a mando de Walsegg, que desejava uma missa de réquiem para o memorial de sua falecida esposa, mas que planejava dizer que fora ele quem compusera a obra (por isso o anonimato). Recusando-se a se identificar, o mensageiro deixa Mozart encarregado da composição de um Réquiem. Deu-lhe um adiantamento de 25 ducados e avisou que retornaria em um mês com os outros 25 restantes. Mas, pouco tempo depois, o compositor foi chamado para Praga com o pedido de que ele escrevesse a ópera A Clemência de Tito, para festejar a coroação de Leopoldo II. Quando subia com sua esposa Constanze na carruagem que os levaria a esta cidade, o desconhecido ter-se-ia apresentado outra vez, perguntando por sua encomenda. Mozart lhe prometeu que a completaria assim que voltasse de sua viagem.
Todavia, Mozart conseguiu terminar apenas poucas partes do Réquiem antes da sua morte: toda a orquestração da Réquiem Aethernam, um rascunho detalhado da Kyrie, trechos instrumentais, o coro e o baixo cifrado da Sequentia até a Lacrymosa, esta que apresenta apenas 8 compassos. Também havia todas as vozes e baixos cifrados do Domine Jesu e da Hostias. Wolfgang também deixou alguns rascunhos, dentre eles uma fuga Amém e outros papéis perdidos. Cinco dias após sua morte, em 10 de dezembro de 1791, a introdução foi tocada em um serviço memorial para o próprio Mozart na Igreja de Miguel Arcanjo em Vienna, tendo quase toda sua orquestração completada por Franz Jacob Freystädtler (madeiras, cordas e trombones), tendo os seus tímpanos e trompetes adicionados posteriormente por Franz Xaver Süßmayr. Vale ressaltar que a participação de Freystädtler não é uma certeza, sendo alvo de discussões entre diversos historiadores e musicologistas.
Em 21 de dezembro de 1791, o jovem Joseph Eybler foi encarregado por Constanze de terminar a obra, afinal, Mozart deixou dívidas enormes para Constanze, fazendo com que ela precisasse dos outros 25 ducats restantes da comissão. No entanto, após completar todas as partes dos instrumentos de cordas da Sequentia e toda a orquestração do Dies Irae e do Confutatis, além de ter adicionado dois compassos na linha do soprano da Lacrymosa, Eybler desistiu por razões desconhecidas.
Após tentar com que vários compositores terminassem a obra, Constanze enfim se aproximou de Süßmayr. Ele coletou diversos rascunhos e finalizou a orquestração da obra, além de compôr o resto da Lacrymosa, todo o Sanctus, Benedictus e Agnus Dei, e repetir parte do Réquiem Aethernam para a Lux Aetherna e a Kyrie para o Cum Sanctis Tuis.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Requiem K. 626 (Böhm, WP)
1. Introit: Requiem Aethernam / Kyrie 9:30
2. Dies Irae 1:58
3. Tuba Mirum 4:15
4. Rex Tremendae 3:09
5. Recordare 7:00
6. Confutatis 3:50
7. Lacrimosa 4:07
8. Domine Jesu 4:37
9. Hostias 5:03
10. Sanctus 1:55
11. Benedictus 6:50
12. Agnus Dei 11:24
Bass Vocals – Karl Ridderbusch
Choir – Wiener Staatsopernchor
Conductor – Karl Böhm
Conductor [Choir] – Norbert Balatsch
Contralto Vocals – Julia Hamari
Orchestra – Wiener Philharmoniker
Organ – Hans Haselböck
Soprano Vocals – Edith Mathis
Tenor Vocals – Wiesław Ochman
Apollo et Hyacinthus é uma ópera em latim, composta por Wolfgang Amadeus Mozart entre 1766 e 1767 com base no texto de R. Widl. Isto é, ele começou a escrevê-la aos 10 anos de idade e finalizou-a aos 11… Leva o número K. 38. É uma música escrita por um gênio, mas também por uma criança. Ou seja, é apenas bonitinha e sem grandes voos. Ouvi com a atenção e é uma ópera toda perfeitinha e sem graça, certamente retocada por papai — e explorador do filho? — Leopold. Surgiu a pedido da Universidade de Salzburgo, como complemento musical a uma tragédia que seria representada ao final de um curso. Sua estreia foi em 13 de maio de 1767 na Aula Magna da mesma Universidade. É um intermezzo musical dentro do estilo do barroco italiano. É a primeira ópera de Mozart. Tem três atos. Como sugere o nome, é baseada no mito grego de Jacinto e Apolo, contado pelo poeta romano Ovídio em suas Metamorfoses. Rufinus Widl escreveu o libreto em latim.
W. A. Mozart (1756-1791): Apollo et Hyacinthus, K. 38 (Pommer) — Ein Lateinisches Intermedium In Drei Akten Zu Dem Schuldrama “Clementia Croesi”
Actus 1
1 Intrada 2:56
2 Recitativo: Amice! Iam Parata Sunt Omnia 3:20
3 No. 1 Chorus: Numen O Latonium/O Apollo 5:38
4 Recitativo: Heu Me! Periimus 1:45
5 No. 2 Aria: Saepe Terrent Numina 9:02
6 Recitativo: Ah Nate! Vera Poqueris 3:27
7 No. 3 Aria: Iam Pastor Apollo 3:28
Actus 3
2-3 Recitativo. Non Est – Quis Ergo 2:56
2-4 Aria. Ut Navis In Aequore Luxuriante 7:49
2-5 Recitativo. Quocumque Me Converto 3:07
2-6 No. 8. Duetto. Natus Cadit, Atque Deus 6:07
2-7 Recitativo. Rex! Me Redire Cogit 5:43
2-8 Terzetto. Tandem Post Purbida Fulmina 2:52
Alto Vocals [Apollo, Friend Staying With Oebalus] – Ralf Popken
Alto Vocals [Zephyrus, Confidant Of Hyacinthus] – Axel Köhler
Chorus – Rundfunkchor Leipzig
Conductor – Max Pommer
Lyrics By [Text] – P. Rufinus Widl
Orchestra – Rundfunk-Sinfonieorchester Leipzig*
Soprano Vocals [Melia, His Daughter] – Venceslava Hruba-Freiberger*
Tenor Vocals [Oebalus, King Of Lacedemonia] – John Dickie
Vocals [Discantus] [Hyacinthus, His Son] – Arno Raunig
Este disco está a um passo de ser um disco de gatinhos. Para quem teve o privilégio de viver o suficiente sabe que havia discos de (capas com) gatinhos, recheados com os melhores movimentos de música ‘clássica’, retirados do acervo (monumental) da gravadora Philips.
É claro que o resultado costumava ser uma coleção, uma antologia com os melhores momentos, mas que assim reunidos poderia resultar de uma Dança do Sabre, de Katchaturian, surgir após a Ária da Suíte Orquestral No. 3, de Bach… e ainda, a tal endiabrada dança dos furiosos guerreiros anteceder o (possivelmente) mais famoso movimento de uma Suíte Francesa – Clair de Lune, de Debussy. Mas os discos de gatinhos vendiam muito bem e levaram as sementes da música clássica para muitos futuros apreciadores.
Aqui temos assim uma coleção de ‘melhores momentos’, mas com um repertório que guarda uma maior afinidade, girando em torno de peças de música francesa ou próxima, para piano a duas ou a quatro mãos. Os dois intérpretes, Ludmilla Guilmault e Jean-Noël Dubois intercalam-se nos solos e eventualmente se juntam em algumas das faixas.
Este disco reúne peças de compositores de grande renome com peças brilhantes de compositores menos conhecidos e me surpreendeu pela sua contagiante amabilidade e alegria. Minha simpatia foi totalmente conquistada pelas duas peças de Séverac, que ocupam as faixas dois e três. Essas duas peças interpretadas a quatro mãos revelam lindas sonoridades e um frescor contagiante.
Assim, sem qualquer pudor de esbanjar alegria, o disco desfila peças de Debussy – alguns prelúdios, a já mencionada Clair de lune e dois irresistíveis movimentos da Petit Suite. A escolha entre os muitos prelúdios é bem interessante e diversa. O disco começa calmamente com Voiles, depois haverá poesia de Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir, as brincadeiras da Serenata interrompida e completará com as pirotecnias de Feux d’artifice.
Há duas nobres e sentimentais valsas de Ravel, assim como os tristes pássaros e dois deliciosos números da Suíte da Mamães Gansa.
Não poderia faltar alguma coisa bem-humorada da música de Camille Saint-Saëns, dois movimentos do Carnaval dos Animais: os contrastantes Hémiones e Aquarium. Fauré inaugura o clima fandango espanhol com o espetacular Le pas espagnol, da Suíte Dolly, e o clima continua com duas peças de Manuel de Falla – uma dança espanhola (de La Vida Breve) e a Dança Ritual do Fogo (de El Amor Brujo).
Para fechar o cortejo, em clima de bis, a Marcha Turca de Mozart, que em certos trechos ganha um reforço sonoro…
Um disco para ser ouvido pelo prazer das lindas peças e que para algumas pessoas pode servir para despertar o interesse por este tipo de música, assim como no passado fizeram os discos de gatinhos.
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Voiles
Ludmilla Guilmault, piano
Déodat de Séverac (1872 – 1921)
En Vacances, Vol. 1
Où l’on entend une vieille boîte à musique
Valse romantique
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
Maurice Ravel (1875 – 1937)
Valses nobles et sentimentales, M. 61
Assez lent, avec une expression intense
Vif
Ludmilla Guilmault, piano
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir
Plus d’infos sur le ”Exotisme, Sonorités pittoresques” Concert-spectacle pour piano solo et à 4 mains par le Duo Cziffra à Paris
Dans ce choix de répertoire que j’ai choisie de Debussy, ravel, Fauré, Saint-Säens, séverac, De Falla, Mozart sont des compositeurs qui nous font voyager par leur couleur locale de leur nouveaux timbres pianistiques avec notamment ce prélude les Sons et les Parfums de Debussy, des accords qui habillent des harmonies voluptueuses au rythme impressionnisme.
L’odeur hispanisante.
Exotisme exprime pour moi une harmonie du soir, propice à l’évocation d’un lointain passé.
Exotisme, des images qui semblent solliciter, l’ouïe, la vue, le toucher, l’odorat, établissant en musique ces correspondances ténues que Baudelaire, le premier devina en poésie.
Des sensations de couleurs d’exotisme.
Des odeurs d’oeuillet et d’arguardiente, une atmosphère de castagnettes avec la Sérénade Interrompue de Claude Debussy.
Ces pièces orientales de Ravel, Laideronette, impératrice des pagodes pour piano à 4 mains nous évoque ces pays lointains, ce dépaysement par le recours au patrimoine musical de chaque compositeur.
Falla tient à faire son miel des fleurs du folklore.
Falla, c’est l’Andalousie et son flamenco, des voluptueux jardins andalous, des Nuits à l’âpre.
Séverac, possède une sonorité charnue, couleur en taches plus vives, en pâte plus épaisse, ce goût des échelles modales. Il nous conte les paysages traversés, inspiration de sa chère Méditerranée.
O disco desta postagem já apareceu PQP Bach em 27 de fevereiro de 2013. Foram duas as postagens feitas naquele dia, segundo palavras do Presidente-Diretor, o próprio PQP Bach, autor da postagem de então. Ele gostou do disco, confiram lá!
Rafal Blechacz, pianista do dia…
De qualquer forma, os links não estão mais ativos, há muito sumidos com o vanished rapidshare. Como gostei bastante, tratei de dedicar-lhe nova postagem, que aqui vai.
Ele reúne três sonatas para piano de três compositores clássicos, que viveram partes de suas vidas em Viena e, de certa forma, se conheceram bem uns aos outros, apesar de Beethoven e Mozart terem se encontrado pessoalmente muito brevemente.
As sonatas são representantes do gênero clássico e trazem características deste período, mas as similaridades acabam por aqui. Elas foram compostas em momentos totalmente diferentes nas carreiras de cada um deles e cada uma delas revela em parte as personalidades de seus criadores, que não poderiam ser mais diferentes.
A Sonata em mi bemol maior, Hob. XVI: 52 (Hoboken), também conhecida pela numeração L. 62 (Landon), é a última sonata para piano composta por Haydn, em 1794, no seu último período criativo. Ele estava no auge da fama, já aposentado dos serviços à família Esterházy, viajando para Londres a convite do empresário J.P. Salomon. A sonata foi dedicada à pianista inglesa Therese Jansen, de quem foi padrinho de casamento e a quem dedicou os Trios com Piano Hob. XV: 27-29.
Esta é possivelmente a sonata mais conhecida de Haydn e merece a fama. As características de bom humor e ótimo gosto estão presentes e eu fiquei muito impressionado com a transição do segundo (Adagio) para o terceiro movimento (Presto) nesta interpretação do Rafal Blechacz, em geral mais identificado com o repertório romântico, como a música de Chopin.
A Sonata em lá maior, op. 2, 2 faz parte do primeiro grupo de sonatas para piano que Beethoven publicou e foi dedicada a Haydn, de quem Beethoven foi ‘aluno’. Apesar do baixo número de opus, ela foi composta em 1796, quando Beethoven tinha 26 anos e algumas sonatas para piano em seu portfólio. É bom lembrar também que Beethoven oscilou, no início de sua carreira, entre intérprete e compositor. Naqueles dias sua fama recaia principalmente em seus talentos como improvisador. A sua sonata já se distingue das demais no disco por ter quatro movimentos, sonata grande, com um brincalhão scherzo seguindo o Largo appassionato, Beethoven sempre quebrando o clima, e é arrematada por um gracioso rondó.
A última sonata do disco é a mais antiga delas, Sonata em ré maior, K. 311, composta por Mozart em 1777 em sua estada em Augsburg e Mannheim, no caminho de Paris. Ela foi publicada lá, em conjunto com as Sonatas K. 309 e 310 e são de um período intermediário do compositor. O primeiro movimento é o que eu considero um exemplo de música líquida, devido à sua fluidez, especialmente na interpretação de Rafal Blechacz. Com sua elusiva simplicidade, é uma típica obra de Mozart – que nos conquista sem que saibamos por que, basta ouvir e sorrir.
Rafał Blechacz has been named the 2014 PQP Bach Artist…
Textural transparency, expressive economy, creative inspiration, high humour and strategically placed silences characterise these three Haydn, Beethoven and Mozart sonatas, as well as Rafal Blechacz’s splendid, beautifully recorded interpretations. […] . In short, Blechacz’s third solo release (his second for DG) is by far his strongest yet.
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou desta postagem, poderá se interessar por estas outras.
Aqui, sonatas de Beethoven intercaladas com sonatas de Beethoven…
Essa postagem é lá de 2007, nos primórdios do PQPBach, quinze anos se passaram, muita água passou por baixo da ponte, estamos mais velhos, com cabelos brancos já quase dominando nossas cabeças, mas continuamos firmes e fortes com o propósito de trazer boa música para os senhores.
Esse disco traz uma das melhores gravações já realizadas do maravilhoso Concerto para Clarinete de Mozart, nas mãos competentíssimas de Antony Pay, acompanhado pela excelente orquestra dirigida por Christopher Hogwood, lá no seu auge, em meados da década de 80, a Academy of Ancient Music. De quebra ainda temos outra obra prima mozartiana, o Concerto para Oboé, que tem como solista Miguel Piguet. Lembro que sempre que saía um disco dessa série do Hoogwood me desdobrava para conseguir o dinheiro para comprar. Não era fácil. Tinhamos duas excelentes lojas de disco em Florianópolis na época, e quando lá chegávamos o gerente, que já nos conhecia, vinha mostrar as novidades. Bons tempos. Vacas magras, é verdade. Minha mãe brigava comigo pois gastava o dinheiro que ganhava comprando discos e livros.
Mas vamos de Mozart novamente, nunca é demais, não concordam?
1. Clarinet Concerto In A Major, K622: I Allegro
2. Clarinet Concerto In A Major, K622: II Adagio
3. Clarinet Concerto In A Major, K622: III Rondo: Allegro
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of Ancient Music (UK)
with Antony Pay
Conducted by Christopher Hogwood
4. Oboe Concerto In C Major, K314: I Allegro aperto
5. Oboe Concerto In C Major, K314: II Adagio non troppo
6. Oboe Concerto In C Major, K314: III Rondo: Allegretto
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of Ancient Music (UK)
with Michel Piguet
Conducted by Christopher Hogwood
… tudo com Christopher Hogwood — como intérprete e regente — em 5 esplêndidos CDs.
Ninguém reclamou da minha ausência, mas também ninguém reclamará do retorno porque chego torpedeando com uma postagem de indiscutível qualidade.
De resto, adeus, Dunga.
The Secret Mozart: Works for Clavichord
1. Allegro in G minor, K. 312 8:21
2. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Andante (Thema) 1:20
3. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 1 1:18
4. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 2 1:14
5. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 3 1:15
6. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 4 (minore) 1:30
7. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 5 (maggiore) 2:19
8. Minuetto in D, K. 355/Trio da M. Stadler: Minuetto 3:07
9. Minuetto in D, K. 355/Trio da M. Stadler: Trio & Minuetto reprise 4:05
10. Marche funebre, K. 453a 2:14
11. Andantino, K. 236 1:41
12. Klavierstück in F, K. 33b 0:57
13. Adagio for Glass Harmonica, K. 356 2:51
14. Laßt uns mit geschlungen Händen K. 623 1:32
15. Rondo in F, K. 494 6:29
16. Theme & 2 Variations in A, K. 460: Theme 1:13
17. Theme & 2 Variations in A, K. 460: Var. 1 1:18
18. Theme & 2 Variations in A, K. 460: Var. 2 1:24
19. Fantasia in D minor, K. 397 5:18
20. Sonata in D, K. 381: I. Allegro 5:35
21. Sonata in D, K. 381: II. Andante 7:35
22. Sonata in D, K. 381: III. Allegro molto 4:21
23. Fantasia in D minor, K.397 (with coda) 5:44
Christopher Hogwood, clavicórdio
Mozart Arias
1. Mozart – Aer tranquillo e di sereni KV208 6:16
2. Mozart – L’amero saro costante KV208 6:08
3. Mozart – Voi avete un cor fedele KV217 6:21
4. Mozart – Ah lo previdi! KV272 11:24
5. Mozart – Ruhe sanht, mein holdes leben KV344 5:29
6. Mozart – Trostlos schluchzet Philomele KV344 5:27
7. Mozart – Nehmt meinen dank, ihr holden Gonner KV383 3:39
8. Mozart – Ch’io mi scordi di te KV505 10:18
Emma Kirkby (soprano)
Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood (cond)
Emma Kirkby, soprano
Academy of Ancient Music
Westminster Cathedral Boys Choir
Christopher Hogwood
Mozart – Great Mass in C Minor K. 427
1. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Kyrie 6:59
2. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” – Gloria 2:21
3. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Laudamus Te 4:39
4. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Gratias 1:13
5. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Domine 2:42
6. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Qui tollis 4:50
7. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Quonium 3:48
8. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Jesu Christe-Cum Sancto 4:26
9. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Credo 3:05
10. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” – Et incarnus est 7:44
11. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Sanctus 3:43
12. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Benedictus 5:51
Arleen Auger
Lynne Dawson
David Thomas
John Mark Ainsley
The Academy of Ancient Music
Winchester Cathedral Choir
Christopher Hogwood
Mozart – Requiem
1. Requiem in D minor, K.626 – Introitus, Requiem aeternum 5:09
2. Requiem in D minor, K.626 – Kyrie eleison 2:31
3. Requiem in D minor, K.626 – Dies Irae 1:52
4. Requiem in D minor, K.626 – Tuba mirum 3:52
5. Requiem in D minor, K.626 – Rex tremendae majestatis 1:57
6. Requiem in D minor, K.626 – Recordare, Jesu pie 6:10
7. Requiem in D minor, K.626 – Confutatis maledictis 2:23
8. Requiem in D minor, K.626 – Lacrymosa dies illa 2:17
9. Requiem in D minor, K.626 – Amen 1:32
10. Requiem in D minor, K.626 – Domine Jesu Christe 3:39
11. Requiem in D minor, K.626 – Versus: Hostias et preces 3:47
12. Requiem in D minor, K.626 – Agnus Dei 2:38
13. Requiem in D minor, K.626 – Communio. Lux aeterna – Cum sanctis tuis 5:39
Emma Kirkby
Carolyn Watkinson
David ThomasAnthony Rolfe Johnson
The Academy of Ancient Music
Westminster Cathedral Choir
Christopher Hogwood
Um baita CD. O Mozart final tem sempre coisas lindas e estimulantes. O que este cara se tornaria se não tivesse morrido aos 35 anos! O Divertimento K.563 é relativamente pouco conhecido, mas é, na minha opinião, uma obra-prima. Mozart estava no auge absoluto como compositor. Aqui você ouve camadas de significados sob uma superfície impecavelmente polida. Cada vez que ouço isso, parece que aprendo algo novo. Mozart tenta sublimar seus sofrimentos, mas não consegue. Em parte do primeiro movimento e no Adágio em sua totalidade, está a dor em toda a sua crueza. Não fica pedra sobre pedra. No final, o “coração dança, mas não de alegria”. Ouça e comprove.
W. A. Mozart (1756-1791): Trio K. 563 / Adágio e Fuga K. 546 (Kremer, Kashkashian, Ma)
Adagio And Fugue, K. 546 For String Quartet
1 I. Adagio 3:04
2 II. Fugue 3:58
Divertimento For Violin , Viola And Cello In E-Flat Major, K.563
3 I. Allegro 12:42
4 II. Adagio 13:15
5 III. Menuetto. Allegretto – Trio 4:50
6 IV. Andante 7:29
7 V. Menuetto. Allegretto – Trio I – Trio II 5:12
8 VI. Allegro 6:11
Cello – Yo-Yo Ma (em todas as faixas)
Viola – Kim Kashkashian (em todas as faixas)
Violin – Daniel Phillips (tracks: 1, 2), Gidon Kremer (em todas as faixas)
Eis mais uma gravação do excelente selo alemão Hänssler com a dupla Moravec & Marriner tocando os Concertos para Piano de nº 20 e 23 de Mozart. E sempre com o excelente conjunto inglês “Academy of Saint Martin on the Fields”. É mais uma belezura de cd, daqueles que a gente pode ouvir sem parar, pois além da música maravilhosa de Mozart temos essa cumplicidade entre Marriner e sua orquestra, que já tocam juntos há décadas. E aqui pesa outro fator importantíssimo: os concertos aqui interpretados são os favoritos de muita gente que conheço, incluíndo esse que vos escreve.
Então para vosso deleite, mais Mozart. Alguém aí vai reclamar? Não creio.
01 – Piano Concerto No.20, Kv.466 in D minor 1. Allegro
02 – Piano Concerto No.20, Kv.466 in D minor 2. Romance
03 – Piano Concerto No.20, Kv.466 in D minor 3. Rondo (Allegro assai)
04 – Piano Concerto No.23, Kv.488 in A major 1. Allegro
05 – Piano Concerto No.23, Kv.488 in A major 2. Adagio
06 – Piano Concerto No.23, Kv.488 in A major 3. Allegro assai
Ivan Moravec – Piano
Academy of Saint Martin in the Fields
Sir Neville Marriner – Conductor
O som e o mundo perderam Radu Lupu no último dia 17, e novamente vejo-me aqui a tentar homenagear, com minha escrita capenga, alguém que era tremendamente mais do que ela. E, se não podemos dizer que a morte nos privou de um artista que ainda teria o que nos legar – pois o Mestre, que não gravava havia décadas, escolhera deixar os palcos há três anos -, eu reconheço que seu desaparecimento frustrou a nesguinha de esperança que eu ainda tinha de ouvi-lo ao vivo. Quem teve esse privilégio – entre eles, muitos de seus colegas de instrumento, que invariavelmente o idolatravam – conta que ninguém, vivo ou morto, se comparava a Lupu.
… que chega bem perto de definir o Mestre que, no entanto, era muito inseguro acerca de suas tremendas capacidades. Ao amigo Kirill Gerstein, afirmou que não era realmente um pianista, mas que sabia “tocar frases musicais”. A um produtor, tascou: “você gosta de boa articulação? Ouça Perahia“! À insegurança, que o fazia odiar estúdios de gravação e a perenidade de seus registros, somava-se um perfeccionismo notório, ainda que mais preocupado com a coerência da narrativa musical do que com a perfeição nota a nota: o mesmo produtor que foi mandado ouvir Perahia afirmou, em sua eulogia, que “suas gravações quase sempre foram sensacionalmente bem recebidas, mas tendo ouvido os takes que ele rejeitou, só posso recomendar que, se você encontrar suas gravações ao vivo, é nelas que você ouvirá o autêntico Lupu”.
(o Mestre, infelizmente, não se deixava gravar ao vivo – a não ser que o desobedecessem, como foi no caso dessa gravação do concerto no. 27 de Amadeus que o Pleyel conseguiu, e que FDP Bach publicou ontem, juntamente com, vejam só, um disco do duo Lupu-Perahia)
Um “pianista dos pianistas”? Provavelmente, a julgar pelos tantos nomes célebres que se apinhavam em seu camarim nos raríssimos recitais, e pela frequência com que sua figura hirsuta e brahmsiana, mas também sorridente e bonachona, aparecia nas redes sociais de outros músicos menos afeitos à reclusão, como vemos acima. E também aos completos diletantes, aos tocadoresdepiano como eu, Lupu soava como nenhum outro: era, mais que músico maiúsculo, um consumado poeta do piano. Se não acreditam em mim, hão de se convencer por este punhado de gravações que ora lhes alcanço, que se juntará ao outro punhado que já existia aqui no PQP Bach, e que não estará muito longe de formar a discografia completa desse gênio tão bissexto aos estúdios. A primeira, com os improvisos de Schubert, foi a que me tornou lupumaníaco para sempre: nunca escutei qualquer gravação que se lhe comparasse. A segunda, com a impressionante sonata que Brahms escreveu aos tenros 20 anos, já tinha sido recomendada até pelo patrão, mas ainda não aparecera aqui. Completo meu tributo a mostrar-lhes outros veios do talento do Mestre: seu camerismo nos quintetos para piano e sopros de Mozart e Beethoven; prestando um acompanhamento de luxo para Barbara Hendricks num belo CD com Lieder de Schubert, que faz par com outro que o chefinho já postara aqui; e como concertista, tocando um Primeiro de Brahms cheio de nuances que, como sói acontecer sob seus dedos, soa igual a nenhum outro.
In memoriam Radu Lupu (Galaţi, Romênia, 30/11/1945 – Lausanne, Suíça, 17/4/2022)
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Improvisos para piano, D. 899 (Op. 90)
1 – No. 1 em Dó menor: Allegro molto moderato
2 – No. 2 em Mi bemol maior: Allegro
3 – No. 3 em Sol bemol maior: Andante
4 – No. 4 em Lá bemol maior: Allegretto
Improvisos para piano, D.935 (Op. 142)
5 – No. 1 em Fá menor: Allegro moderato
6 – No. 2 em Lá bemol maior: Allegretto
7 – No. 3 em Si bemol maior: Tema e variações
8 – No. 4 em Fá menor: Allegro scherzando
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Quinteto em Mi bemol maior para piano e sopros, K. 452
1 – Largo – Allegro moderato
2 – Larghetto
3 – Rondo: Allegretto
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Quinteto em Mi bemol maior para piano e sopros, Op. 16
4 – Grave – Allegro ma non troppo
5 – Andante cantabile
6 – Rondo: Allegro ma non troppo
Han de Vries, oboé George Pieterson, clarinete Vicente Zarzo, trompa Brian Pollard, fagote
De Schwanengesang, D. 957 1 – No. 1: Liebesbotschaft (Rellstab)
2 – No. 2: Ständchen (Rellstab)
3 – Lachen und weinen, D. 777 (Rückert)
De Refrainlieder, D. 866 4 – No. 3: Die Männer sind mechant! (Seidl)
5 – Auf dem Strom, D. 943 (Rellstab)
com Bruno Schneider, trompa
6 – Sehnsucht, D. 879 (Seidl)
7 – An den Mond, D. 193 (Hölty)
8 – Versunken, D. 715 (Goethe)
9 – Der Hirt Auf Dem Felsen, D. 965 (von Chézy/Müller)
com Sabine Meyer, clarinete
10 – Du liebst mich nicht, D. 756 (von Platen-Hallermünde)
11 – Die Liebe hat gelogen, D. 751 (von Platen-Hallermünde)
12 – Die junge Nonne, D. 828 (Jachelutta)
13 – Klaglied, D. 23 (Rochlitz)
14 – Ellen’s Dritter Gesang (Ave Maria), D. 839 (Scott)
De Zwei Szenen aus dem Schauspiel ‘Lacrimas’, D. 857:
15 – No. 1: Delphine (Schütz)
IN MEMORIAM – RADU LUPU (1945-2022) – Então é assim: aos poucos nossos ídolos estão morrendo, e isso é muito triste. Lembro quando ouvi esse CD (ainda em LP) pela primeira vez e o quanto gostava dele. Foi na casa de um amigo, que também o elogiou bastante, dizendo que eu tinha de ouvi-lo. Alguns anos depois tive acesso ao CD. O famoso crítico Norman Lebrecht em seu obituário colocou que seu Schubert era transcedental, e ouvindo novamente depois de alguns anos, tenho de concordar, assim como sua definição de que Lupu e que era um músico surreal e sensivel. E acrescenta mais embaixo do texto que ele era inimitável. Ouçam com atenção, e verão que é difícil não concordarmos. Um dos melhores discos de meu acervo. Radu Lupu lançou poucos discos, mas os que lançou são verdadeiras pérolas. Valem cada minuto de sua audição. Lembro que essa postagem é de 2013. Apenas atualizei o link.
Outras belíssimas gravações de Lupu podem ser encontradas aqui.
O colega Pleyel nos repassou este concerto aqui, gravado ao vivo:
Mozart: Konzert für Klavier und Orchester Nr. 27 B-Dur KV 595
Radu Lupu, Klavier
Radio-Symphonie-Orchester Berlin
Riccardo Chailly
07 Dezember 1986 – Berlin, Großer Sendesaal im Haus des Rundfunks
re-broadcast 30.08.2020, DVB-S, FLAC BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
(Postagem de 2013) Uma pequena pausa nas postagens de Liszt para trazer este belíssimo CD, cinco estrelas unânimes entre os clientes da amazon, um CD que a CBS/Sony nunca deixou faltar em seu catálogo desde seu lançamento, creio que em 1987. Murray Perahia e Radu Lupu estão absolutamente perfeitos, no apogeu de suas carreiras, ao executarem estas duas peças, principalmente na Fantasia para Piano a Quatro Mãos, creio que a obra schubertiana favorita do Monge Ranulfus. E a Sonata de Mozart também está impecável na execução, na qualidade do som, no tempo, enfim, é para se ouvir dezenas de vezes sem se cansar. Coisa de gente grande. Aliás, fazia tempo que eu não ouvia um cd, ou postava um CD com tanto entusiasmo.
P.S – Claro que ele leva o selo de qualidade do PQPBach: IM-PER-DÍ-VEL !!!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
01 – Sonata for Two Pianos in D major, K. 375a-448 – I. Allegro con spirito
02 – Sonata for Two Pianos in D major, K. 375a-448 – II. Andante
03 – Sonata for Two Pianos in D major, K. 375a-448 – III. Molto allegro Franz Schubert (1797-1828):
04 – Fantasia for Piano, Four Hands in F minor D 940 – Allegro molto moderato – Largo – Allegro vivace – Con delicatezza
Este repertório sempre lembra meu pai, falecido em 1993. Ele amava os Concertos para Piano de Mozart e, mesmo que não saiba qual é qual, conheço cada nota de todos eles e, quando acaba um movimento, a jukebox do meu cérebro já começa a antecipar os primeiros compassos do próximo. Esta gravação de Grimaud é um tremendo acerto. Sou um pouco avesso à pianista, às vezes ela me parece padecer de falta de expressividade. Talvez ela precise do calor do público para render mais, sei lá — e este registro é ao vivo. O que sei é que ela dá um show neste CD. Os dois concertos, ambos em ensolaradas tonalidades maiores, não estão entre os mais gravados da produção do compositor. E há uma adição substancial na forma de uma ária de concerto, originária de Idomeneo, para soprano e orquestra, com piano obbligato. Este não é o gentil e acariciante Mozart de Maria João Pires. Grimaud encontra força e profundidade no movimento Adagio do Concerto Nº 23, tornado mais devagar do que o habitual, e uma vivacidade borbulhante no Allegro final. Da mesma forma, ela vai muto bem no Concerto Nº 19, onde transmite a natureza despreocupada de uma das obras mais brilhantes e alegres de Mozart. Erdmann canta belamente a ária. E, nestas peça, novamente o piano de Grimaud é um trunfo.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 19 & 23 (Grimaud, Erdmann)
Piano Concerto No.19 in F, K.459
Cadenzas: W.A. Mozart
1. Allegro [11:58]
2. Allegretto [7:59]
3. Allegro assai – Cadenza: Wolfgang Amadeus Mozart [7:53]
Ch’io mi scordi di te… Non temer, amato bene, K.505
(Varesco)
4. Ch’io mi scordi di te? [1:53]
5. Non temer, amato bene [3:15]
6. Alme belle, che vedete [5:07]
Piano Concerto No.23 in A, K.488
Cadenza: Ferruccio Busoni
7. Allegro [10:42]
8. Adagio [7:38]
9. Allegro assai [7:56]
Hélène Grimaud – Piano
Mojca Erdmann – Soprano
Kammerochester des Bayerischen Rundfunk