Aqui pertinho de casa, numa esquina, junto a uma pracinha, mas ainda em frente ao muro de uma casa, há um remanescente do passado, estoico, arcaico, um orelhão. Creio que este remanescente foi deixado lá para que os avós o mostrem aos netos, em seus passeios matinais – foi de um desses que eu convidei sua avó para sair, pela primeira vez…
Imagino que foi de um desses jurássicos objetos que Miles (Miles Kendig, o aposentado espião que ama a música de Mozart, você deve saber) me ligou, dia desses.
MK: Hey, René, how are ya?
RD: Kendig! What an unexpected pleasure.
MK: May I have it, please?
RD: Have what?
MK: It has been half an eternity since you posted some Mozart, specially piano concertos. Oh c’mon, this is ultageous!
RD: Well, it is good that you brought that… I’ve just spotted a great disc with three wonderful piano concertos, including the Jeunehomme. I know you have a soft spot for it.
MK: So, don’t delay it any further, get it done. And talk with that cranky boss of yours to get it posted as soon as possible. I don’t wanna wait months for it to surface!
RD: I’ll let him know. And you, now, don’t be a stranger, keep in touch…
MK: I will! Take care!
Pois assim, a pedidos do Selim Gidnek, como ele às vezes gosta de ser chamado, vamos a postagem do dia… Mozart, Concertos para piano. Este é um disco com três concertos. O primeiro foi composto quando ele ainda estava em Salzburg, mas os outros dois já fazem parte dos primeiros a serem compostos para suas apresentações em Viena. O Concerto ‘Jeunehomme’ pensava-se ter sido composto para uma pianista francesa, Mademoiselle Jeunehomme, que teria visitado Salzburgo em 1777. Em suas cartas Mozart tratava de uma certa Jenomé. Agora acredita-se que o concerto foi escrito para Louise-Victoire Jenamy, filha de um famoso dançarino francês, amigo de Mozart. A obra é um passo a frente dos típicos concertos no estilo galante, com um movimento lento que revela o grande compositor de óperas que foi Mozart.
Os Concertos Nos. 12 e 14 (assim como o irmão do meio, No. 13) foram compostos no primeiro ano de Mozart em Viena e podem parecer até um passo atrás, comparados com o Concerto No. 9, pois que são simples em escopo, podendo ser interpretados apenas com piano e quarteto de cordas. Mas não se deixe iludir por essa aparente simplicidade, pois que ambos concertos reservam belezuras para quem os ouvir com atenção, especialmente em uma interpretação assim como a da postagem.
Edna Stern é uma pianista já bem conhecida aqui do pessoal do blog, onde já se apresentou acompanhando a violinista Amandine Beyer e também em um disco tocando peças de Bach. Ela é especialmente talentosa e teve formação primorosa, estudando com grandes nomes, como Martha Argerich, Krystian Zimerman e Leon Fleisher.
Ela tem fortes ideias sobre como devem ser produzidas suas gravações, evitando ao máximo o exercício de ‘cut and paste’, e a Orchestre d’Auverne colaborou com ela buscando cumprir a risca esse princípio. É ouvir o disco para conferir. Depois, me conte!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Piano Concerto No. 9 in E-flat major, K271 “Jeunehomme”
Seção ‘The Book is on the Table’: Stern’s performances are all about intimacy: intimacy of sound, manifested in a close, dry (and sometimes rather unlovely) recording offering sharp textural clarity and emphasising the tightness for the Orchestre d’Auvergne’s ensemble-playing; and intimacy of thought, for this is an artist with a delicate touch who likes to shape every detail of phrasing and articulation as if polishing a tiny gem.
[Gramophone, May 2011]
Stern’s instrument is modern, though her dry attack and clarity suggest time spent with a period piano. Even so there’s an ease to phrasing and touch in the Jeunehomme concerto…Sparkling music-making
A última ópera de Mozart foi um dos grandes sucessos de público de sua carreira, talvez o maior de todos, com a marca de 100 apresentações sendo batida em pouco mais de um ano, quando o compositor já havia passado desta pra melhor. O que explica esse sucesso? A comoção com a morte do gênio pesa um pouco, claro, mas também as primeiras performances – das quais a primeira, em setembro de 1791, teve Mozart como regente – já haviam sido sucessos gigantes. Tenho uma teoria: nesta ópera, como em pouquíssimas obras, ele conseguiu formar uma unanimidade ao agradar a públicos muito diversos: quem gosta de árias difíceis tem aqui aquela que é talvez a mais famosa, virtuosa e atlética ária para uma voz feminina em toda a música europeia, a 2ª da Rainha da Noite, mas A Flauta Mágica também traz cenas cômicas, um par romântico, alusões à maçonaria, vários tipos de ouvinte encontram aquilo que lhes agrada.
Essa multiplicidade de estilos e histórias em uma só obra me faz até pensar naquelas novelas das nove, antes das oito, que tinham essa ambição de agradar a todo o conjunto da população, neste caso a do Brasil do século XXI e, naquele caso o povo do Império Austro-Húngaro (em Praga a Ópera logo foi um sucesso pouco depois da estreia em Viena, chegando depois à Alemanha). Não é apenas uma comparação superficial: também nas novelas da TV as várias tramas se entrecruzam com relativa independência e não é raro que um casal inicialmente protagonista (como Pamina e Tamino) acabe ganhando menos simpatia do público do que personagens supostamente menores (como Papageno e a Rainha da Noite). Vocês se lembram daquela novela na Índia em que a heroína foi casada à força pela família? Com o carisma do marido – inicialmente um quase-vilão – ganhando o público, o par inicial da heroína – que, no enredo planejado, iria recuperar sua amada do injusto casamento de conveniência – terminou como um coadjuvante secundário.
Temos aqui, então, um tipo de arte que se ajusta aos anseios das massas e, como por um milagre, o grande artista consegue fazê-lo sem rebaixar o nível da música, sem demagogias populistas e usando os lugares-comuns com criatividade. Em todo caso, por mais genial que seja, por esse caráter popular é uma obra que expressa mais uma coletividade do que a interioridade de Wolfgnang Amadeus Mozart: para isso, mais vale ouvir trechos do Requiem ou dos Concertos para Piano. No Concerto nº 20, por exemplo, temos o Mozart misterioso e noturno, nos Concertos nº 25 e 26 o Mozart grandioso, no nº 17 uma alegria mais jovial e no nº 27 uma certa maturidade que evita os excessos. Cada um desses traz, então, algo como retratos da alma do compositor – que era também pianista – enquanto na Flauta Mágica ele escreve mais distanciado, o conceito de personalidade, de individualidade do compositor cabe menos aqui, Mozart torna-se bem maior do que ele próprio e passam por ele os temperamentos dos seus contemporâneos, assim como resquícios musicais dos grandes autores de obras vocais seculares do seu século 18, quase todos italianos (como A. Scarlatti, Vivaldi e vários outros em Veneza) ou tendo vivido na Itália (Händel e Hasse). Por exemplo as melodias de Sarastro soam próximas dos baixos profundos dos italianos (aqui) e poucos seriam momentos semelhantes nas óperas do século XIX, quando os barítonos com voz não tão grave reinariam.
Por esse aspecto que vai além de Mozart tanto em termos de indivíduo quanto de tempo, acho bastante razoável amar essa gravação de Otto Klemperer, maestro que eu dificilmente consideraria uma das primeiras opções para as Sinfonias ou Concertos: nestes últimos, prefiro o Mozart mais leve das gerações mais recentes (Savall, os pianistas Brautigam e Lubimov…) ou nem tão recentes (Brendel/Marriner, Pires/Abbado…) Nessa Flauta Mágica, porém, após a solene abertura – aqui mais solene – Klemperer e Philharmonia Orchestra fazem um acompanhamento sem qualquer exagero ou maneirismo ruim. E os cantores são o que me faz realmente amar, fazem o coração bater mais forte: a Rainha da Noite por Lucia Popp, o Papageno por Walter Berry, o Sarastro por Gottlob Frick alcançam, juntos, um carisma e um nível técnico absurdo e que dificilmente alguma outra gravação alcançaria.
Mozart (1756-1791): A Flauta Mágica (Die Zauberflöte), K. 620
Philharmonia Orchestra, Otto Klemperer (conductor), Wilhelm Pitz (chorus master)
Lucia Popp, Walter Berry, Gottlob Frick, Nicolai Gedda, Gundula Janowitz, Ruth-Margret Pütz, Elisabeth Schwarzkopf, Christa Ludwig, Marga Höffgen
Recording: Kingsway Hall, London 1964 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps
A música para piano solo de Mozart tem um traço galante, clássico, que pode soar superficial. Muitas peças foram escritas na sua juventude e em vários casos eram dedicadas a seus alunos. Mas, este disco tem um programa bem peculiar, que mostra uma outra dimensão nesse tipo de repertório.
A Sonata em lá menor K. 310 foi escrita sob o impacto da morte de sua mãe, que o acompanhava em uma viagem à Paris. O seu enorme movimento lento, andante cantabile, transcende todos os outros escritos até então. Mas, não espere lacrimosas notas, pois que mesmo na maior das tristezas, o compositor é Wolfgang e sua genialidade e elegância transparecem.
A brilhante marcha que segue após a sonata é uma transcrição feita por Mozart de uma peça orquestral, uma abertura para uma serenata.
A courante e a giga que seguem a marcha refletem o profundo interesse que Mozart teve pela música de Bach e de Handel, com as quais teve contato através do entusiasta por esses mestres, o Barão Gottfried van Swieten.
A próxima peça descrita assim pelo escritor do libreto, Michael Steinberg: O que ouvimos no Rondó em lá menor é tristeza, tristeza que vai além de um possível consolo, vai mesmo além das lágrimas. É a música mais triste que eu conheço que não é de Schubert. Escrito em 1787, reflete o estado de espírito de Wolfgang naqueles dias. Nas cartas escritas nessa época para o amigo Michael Puchberg, colega maçom a quem Mozart recorria em busca de ajuda financeira, e para Constanze, aparecem frases como: ‘uma tristeza constante’ e ‘um vazio que está sempre lá e cresce dia após dia’. O Rondó tem o tipo de tristeza que também está no Quinteto para Cordas K. 516 e na ária de Pamina, ‘Ach, ich fuhl’s’, de A Flauta Mágica. Hã… han, fica a dica, pode ser que você ache essas peças procurando bem, aqui nas páginas do PQP Bach.
Para terminar o disco, outra Sonata para piano K. 533/494, escrita em duas etapas. O último movimento foi escrito em 1786, ano de composição do Fígaro, e que foi posteriormente adaptado para seguir os dois primeiros movimentos da sonata, escritos em 1788.
A Mozart programme such as this, which includes two of the greatest sonatas and the A minor Rondo, leaves absolutely no margin for error or insufficiency, nor indeed for anything at all approximate or generalised. It’s given to very few to play Mozart as well as Richard Goode[…]
It’s quite big playing, and the range of sonority is appropriate to the A minor Sonata, K310, in particular; […] Goode has a characteristic touch of urgency that has nothing to do with impetuosity or agitation of the surface, but rather with carrying the discourse forward and making us curious about what will happen next. In the presto finale, […] Goode is exciting and articulate, wonderfully adept at getting from one thing to another. […] The shorter pieces, enterprisingly chosen, set off the great works admirably. Exceptional sound throughout – like the playing, quite out of the ordinary run. [Gramophone]
Mais um belo lançamento do selo Alpha, com um Mozart impecavelmente interpretado, e historicamente informado. A sonoridade da orquestra nos surpreende primeiramente, mas depois nos acostumamos, e o som amadeirado da flauta de François Lazarevitch ajuda a emoldurar em um belo quadro estas obras primas do repertório para a Flauta.
Já trouxe outras gravações para os senhores destes mesmos concertos, e cada uma delas tem seus méritos, sem exceção. Fã incondicional que sou de Jean Pierre Rampal, ainda considero suas gravações as mais importantes, já históricas, por que não dizer, assim como a de Aurèle Nicolet, todas presentes e com os links ativos para os senhores apreciarem.
O que posso destacar destes registros que ora vos trago é sua atualidade, não apenas pelo fato de ser um CD recém lançado, mas também pela questão de interpretação mesmo. François Lazarevitch é um flautista muito seguro e competente, lembrando que ele também tem de dirigir a orquestra. As cadenzas são de sua própria autoria, e não posso deixar de citar o comentário do próprio solista falando sobre elas, que por sua vez cita um musicólogo do século XVIII, Daniel Gottlob Türk, livremente traduzido por este que vos escreve ( texto incluído no booklet):
“Pode não ser inapropriado comparar uma cadência a um sonho. Muitas vezes sonhamos no espaço de alguns minutos sobre eventos reais que vivenciamos nos termos mais vívidos e marcantes, mas sem coerência ou consciência clara. O mesmo vale para uma cadência: graças às suas mudanças repentinas e às surpresas que cultiva, a cadência é como o sonho do movimento ao qual está ligada”.
Que mais poderia acrescentar a esta belíssima passagem? Espero que apreciem. Como comentei, trata-se de um lançamento muito recente do sempre ótimo selo Alpha.
CONCERTO POUR FLÛTE EN RÉ MAJEUR, KV 314
1 I. Allegro aperto 2 II. Adagio ma non troppo 5’52
3 III. Rondeau. Allegro
CONCERTO POUR FLÛTE ET HARPE EN DO MAJEUR, KV 299
4 I. Allegro
5 II. Andantino
6 III. Rondeau. Allegro
CONCERTO POUR FLÛTE EN SOL MAJEUR, KV 313
7 I. Allegro maestoso
8 II. Adagio ma non troppo
9 III. Rondo. Tempo di Menuetto
François Lazarevitch – Flûte & Direction
Sandrine Chatron – Harpe
Les Musicien de Saint-Julien
O que primeiro chama a atenção nesse lançamento é como parece jovem esse regente! Tarmo Peltokoski é finlandês e desde muito jovem decidiu por se tornar regente. Nascido em 2000, já é reconhecido como um “um talento de um século” (Tagesspiegel). Seu conhecimento e versatilidade permitem que ele se apresente em concertos e em óperas – ele conduziu seu primeiro ciclo completo do Anel aos 22 anos – em um repertório que varia do clássico ao contemporâneo. No espaço de apenas dois anos, ele foi nomeado Diretor Musical Designado da Orchestre National du Capitole de Toulouse, Diretor Musical e Artístico da Orquestra Sinfônica Nacional da Letônia e Maestro Convidado Principal da Orquestra Filarmônica de Roterdã, bem como da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen. Tarmo sentiu-se atraído para a regência muito cedo, ao assistir no YouTube um trecho da obra de Wagner.
No entanto, em seu primeiro disco, três sinfonias (maravilhosas) de Mozart! O que dizer? Eu digo: gostei do disco! Esse é sempre o critério para que eu escolha um disco para postar. A interpretação é bastante contemporânea, digamos assim. A orquestra usa instrumentos modernos, mas adota uma postura atenta às práticas de instrumentos de época, com pouco vibrato e com tímpanos bem presentes (até demais, poderiam dizer alguns).
Como se fosse um bônus, entre as sinfonias você poderá ouvir o jovem maestro Tarmo exibir seus talentos como pianista, improvisando sobre temas das sinfonias. Eu não sei se ouviria essas improvisações todas as vezes que ouvisse o disco, mas certamente ouvirei as sinfonias mais vezes.
Sobre as obras, eu diria que as sinfonias de Mozart não ocupam em sua obra o mesmo espaço que as óperas e os concertos para piano, mas as seis últimas são obras primas. As primeiras, compostas na infância e juventude são brilhantes e bem-acabadas, mas superficiais. Entre as que foram compostas no período mediano destacam-se as Sinfonias No. 25 em sol menor e No. 29 em lá maior, na minha opinião. Todas essas obras foram compostas no período em que Mozart vivia em Salzburgo, apesar de suas muitas viagens.
A Sinfonia No. 35 é a primeira da série de seis últimas e foi composta em 1782 quando Wolfgang já morava em Viena, mas foi resultado de uma encomenda que viera de Salzburgo, da família Haffner, enviado pelo papá Leopold. O pedido veio na forma de uma serenata, como uma que já havia sido composta quando Wolfie ainda morava lá. Mozart estava atolado de trabalho, aulas, cuidando de terminar o Rapto do Serralho, sem contar as coisas mundanas como casamento, mudanças, essas coisas. Mesmo assim, um a um os movimentos da nova serenata seguiam para Salzburgo, apesar de provavelmente não ter cumprido o prazo. Pois ao fim de tudo, não é que a música ficou supimpa… tanto que ele resolveu adaptá-la na forma de uma sinfonia, que assim tornou-se a Sinfonia No. 35 – ‘Haffner’.
Algum tempo depois, em 1783, Mozart estava de volta de uma visita a Salzburgo, acompanhado da patroa, Sra. Constanze, e decidiu fazer uma parada em Linz, para visitar um velho amigo da família, o Conde de Thun. O conde queria uma apresentação de Mozart com a orquestra local, mas nenhuma partitura de sinfonia estava à mão. Isso não era um problema para o gênio criativo que em apenas três dias compôs um primor de sinfonia, esta belezura que conhecemos como Sinfonia No. 36, propriamente apelidada ‘Linz’.
Mozart ainda comporia quatro mais sinfonias, uma em Praga, em 1786, e as três últimas no verão de 1788. Apenas a Sinfonia No. 40 é em tom menor e é justamente famosa por sua profundidade e intensidade emocional, refletindo um lado mais sombrio e turbulento da personalidade musical de Mozart. Este período foi marcado por dificuldades pessoais e financeiras, o que pode ter influenciado o tom sombrio da peça.
Summing up his relationship with his players and the works on this album, Peltokoski says, “It’s a luxury to perform Mozart with The Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, and to put these three symphonies on record is a dream come true.”
Domingo chuvoso de inverno, e nada melhor que Mozart para nos acompanhar como trilha sonora. É incrível como a música desse gênio é capaz de tornar as coisas mais fáceis, deve atingir certas áreas de nosso cérebro que causam essa sensação de bem estar, de estar bem consigo mesmo. Vocês não sentem isso também?
Lembro que essas sinfonias me foram apresentadas por esse mesmo maestro, em um CD do antigo selo CBS, com essa mesma orquestra, e quando vi aquela capa com aquele homem com cabelo esquisito pensei, será que isso aqui é bom? Mas aí entrou em ação o velho clichê que diz que não devemos julgar um livro pela capa, e nada mais correto em se afirmar com relação àquele CD, que não tenho mais, perdeu-se nas areias do tempo. Mas reencontrei estes três mesmos atores, Orquestra, Maestro e Mozart, em uma bela caixa que traz gravações ao vivo, com o mesmo repertório, a saber, as Sinfonias de nº 40 e 41. Que bela sensação a de sentir as mesmas emoções depois de tanto tempo. Até parece que Rafael Kubelik e a Orquestra da Rádio Bávara nasceram um para o outro, e Mozart serviu de elemento de ligação.
Tudo aqui flui tão facilmente, tão leve, que nem parece que é ao vivo. Só no final das obras ouvimos as palmas, acaloradas como não poderia deixar de ser. Essas últimas sinfonias nunca soaram tão perfeitas, elegantes, quanto nas mãos de Kubelik, mesmo gostando muito de outros maestros regendo. Talvez Karl Böhm seja o que soe mais próximo em termos de coesão e coerências sonoras.
O monumental último movimento da Sinfonia nº 41, provavelmente a mais perfeita tradução da genialidade de Mozart em suas sinfonias, traduz um pouco o que quero dizer. Enxergamos nessa música tão forte, tão envolvente, aquele elemento transformador, aquele “IT”, aquela coisa que torna tudo tão perfeito, e nos faz acreditar que sim, a vida vale a pena, apesar de todo o mal que nos cerca. Kubelik, neste registro, já idoso, maduro, ciente de toda a grandeza daquela partitura, em seus últimos anos de vida, traduz e deixa transparecer essa sensação de bem-estar.
E viva a música !!!
Symphony No. 40 In G Minor, K. 550
1 Molto Allegro
2 Andante
3 Menuetto: Allegretto
4 Allegro Assai
Symphony No. 41 In C Major, K. 551 (“Jupiter”)
5 Allegro Vivace
6 Andante Cantabile
7 Menuetto: Allegretto
8 Molto Allegro
Symphonie-Orchester Des Bayerischen Rundfunks
Rafael Kubelik – Conductor
Chega de tanto videogame, eu disse aos meus filhos, vamos assistir a uma ópera de Mozart, algo que alegre o coração e nos afaste dessa violência virtual desses jogos… Assim, fomos ver (no DVD da sala, é claro), o Rapto do Serralho!
Pois eles adoraram e Osmin foi, por um bom tempo, um dos seus personagens preferidos, ao lado do Goku e do Vedita. E eu gostei tanto da música e dos costumes turcos que institui lá em casa uma espécie de ritual. Sempre que voltava do trabalho a esposa colocava em fila quem estivesse na área, filhos, cachorrada, e assim que eu adentrasse pelo portão soava em altos brados o coro dos janissários saudando o Paxá Selim:
Singt dem großen Bassa Lieder
Töne feuriger Gesang;
Und vom Ufer halle wieder
Unsrer Lieder Jubelklang!
Que se elevem ao grande Paxá nossas vozes em ardente aclamação;
Que desde a praia ecoem os alegres sons de nossa canção!
Vivíamos então propriamente em Piratininga…
1781 foi um daqueles anos ainda mais complicados na vida de Mozart. Foi o ano no qual ele finalmente levou um pé-no-traseiro, livrando-se de vez do Arcebispo Coloredo, indo morar em Viena. Apesar de todas as incertezas financeiras e das confusões com os assuntos pessoais, em função de sua relação com Constanze, Mozart era agora dono de seu próprio nariz.
O Rapto do Serralho é fruto de uma encomenda para o National Singspiegel, que havia sido fundado há poucos três anos pelo Imperador José II. A obra devia ser uma espécie de ópera cantada em alemão, mas também com diálogos, e era vista como uma forma menor do que as óperas em italiano. Essa perspectiva certamente era reforçada pelos cantores italianos que viviam em Viena, assim como pelos compositores de ópera em italiano.
A obra foi sendo composta calmamente, mas desde sua estreia em julho de 1782 experimentou um enorme e imorredouro sucesso – o primeiro de Mozart em Viena. Tanto que quase instantaneamente suas melodias foram arranjadas para conjuntos de sopros e eram tocadas em todas as partes.
O Serralho é o palácio do Paxá, onde ele mantém seu harém e onde estão presos a mocinha Konstanze (coincidência?), sua criada inglesa, Blonde, e Pedrillo, o servo de um nobre espanhol, o amado da Konstanze, chamado Belmonte, que está em busca dos três. Eles foram raptados por piratas turcos e vendidos como escravos para o Paxá Selim.
É claro que o Paxá está de olho na mocinha, mas ele é do tipo que não gosta de forçar a barra, e está dando um tempo para a moça aceita-lo.
Tudo isso sabemos por ter-nos sido contado por um passarinho verde e a ópera começa com Belmonte chegando ao Serralho em busca de informações, perguntando por Pedrillo a Osmin, o guardião e buldogue do Paxá, e que adoraria mostrar ao rascal Pedrillo todas as belas formas de torturas locais, entre elas as famosas bastonadas…
Como há de se esperar, mil confusões se seguem, com o astucioso Pedrillo apresentando o amo Belmonte ao Paxá como se fosse um arquiteto que dará um repaginada no Serralho.
Neste ponto é impossível não traçar um paralelo entre alguns dos personagens dessa ópera com membros do elenco de outro grande sucesso de Mozart: a Flauta Mágica: O casal Konstanze/Belmonte está para Tamina/Pamino assim como Pedrillo/Blonde está para Papagena/Papageno. O Paxá Selim corresponde a Sarastro e Osmin lembra um de alguma forma a Monostatos, apesar da grande diferença dos tipos vocais – baixo e tenor.
Voltando ao Rapto, o plano de fuga tramado pelos reféns envolve embriagar Osmin e raptar as moças, fugindo em seguida para a Espanha. A trama começa, mas, como se poderia esperar, as coisas desandam e eles são pegos. Belmonte então se apresenta como filho de um nobre espanhol, dando uma clara carteirada, tão nossa conhecida. Pois o tiro sai pela culatra, o tal nobre espanhol pai de Belmonte é o desafeto-mor do Paxá, ele mesmo tendo sido outrora nobre espanhol que fora traído justamente pelo dono da carteira usada pelo Belmonte – vá saber o que bebiam ou fumavam os libretistas daqueles dias.
Com o filho de seu arqui-inimigo nas mãos, já se pensa, Osmin em grande alegria planeja os requintes de sofrimentos a serem infligidos aos sacripantas. No entanto, mais uma vez seus desejos serão adiados, o Paxá decide pagar com o bem os maus tratos de outrora e perdoa a todos e os manda de volta para casa. Os quatro partem com os bons votos do magnânimo Paxá que recebe mais uma vez o exultante Coro dos Janízaros, assim como pode ser visto na sequência do lindo filme Amadeus.
Uma das razões para o instantâneo sucesso dessa obra foi o uso da chamada música turca, que andava especialmente no gosto dos vienenses naqueles dias. Quem não conhece o movimento de Sonata para Piano, chamada Marcha Turca, de Mozart? Outros exemplos de música turca são encontrados nas obras de Haydn e mesmo Beethoven. Veja mais aqui e aqui.
Outro aspecto interessante sobre o Rapto é o fato de que Mozart não refrescou para os cantores e criou para ela algumas de suas árias mais difíceis. Uma delas é a ária de Konstanze chamada Martern aller Arten, na qual Konstanze explica ao atônito Paxá que preferiria experimentar os requintes de tortura turca a trair a memória de seu antigo amor.
Escolher uma boa gravação para a postagem se revelou uma tarefa a um só tempo divertida e difícil. Há muitas escolhas e na rodada final restaram muitas possibilidades na mesa. Das gravações mais antigas cogitei uma com Karl Böhm na regência, mas apesar das vozes maravilhosas, achei que a segunda gravação de Josef Krips, com selo EMI, é imbatível nesse segmento. Mas queria alguma coisa mais recente. Uma gravação destas que gostei bastante é a (segunda) de George Solti (quem diria?). Aqui a orquestra é a Wiener Philharmoniker e Kathleen Battle canta lindamente. Acabei optando por uma gravação historicamente informada, mas não apenas por isso. Acho que essa gravação, com a direção do maestro John Eliot (Manitas de Piedra) Gardiner, é uma das que mais facilmente eu retornaria, em qualquer situação. No entanto, se você tiver a oportunidade, há também gravações com Christopher Hogwood, René Jacobs, William Christie e Nikolaus Harnoncourt que valem a pena de serem ouvidas. De qualquer forma, talvez alguma das versões mencionadas possa aparecer num futuro não muito distante.
Considerei, no processo da montagem da postagem, que uma outra bela possibilidade para a audição seria a gravação com Colin Davis regendo a Academy of St. Martin-in-the-Fields. Essa gravação está na caixa da Philips com a ‘Obra Completa’ de Mozart, editada por volta de 1991, para faturar bastante, na esteira das edições em datas significativas, no caso, duzentos anos de morte de Mozart. Afinal, os filhos dos donos das gravadoras precisam manter suas Ferraris, Lamborghinis ou Bugattis.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)
One of the main attractions to this recording is the rarely recorded Luba Orgonášová. This Slovakian soprano reminds me of what Joan Sutherland might have sounded like if she performed the entirety of Konstanze’s music. She brings a large beautiful sound to the coloratura and long sensitive phrasing, however, at times her interpretation lacks feeling and clear diction.
Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)
Trecho de um blog interessante: When I began listening to Mozart, Colin Davis’ interpretations were always my first pick. Not only do his records showcase some of the best singers in these roles, but he also brings out fine details in the orchestra while at the same time letting the voices shine. Despite approaching the score with a full orchestra rather than one with period instruments, Davis still manages to let the music stay light and breathe.
In addition to Davis, this recording is great for beginners because the German dialogue is severally reduced leaving only the essentials.
Um lindo CD cheio de obras desconhecidas! Depois de 1683, quando as tropas polonesas salvaram Viena da invasão turca, esta, a Turquia, já não era uma ameaça para a Europa Ocidental e se tornou um símbolo do Oriente misterioso. Para os músicos europeus, no entanto, a Turquia era menos nebulosa. Alguns instrumentos turcos (incluindo tambores, pratos e triângulos) entraram nas orquestras europeias, com compositores emulando o som das bandas militares turcos. A introdução deste orientalismo musical na Europa é mostrada neste sensacional álbum com excelentes performances do Concerto Köln e da Sarband, um conjunto tradicional turco.
Dream Of The Orient, peças de compositores ou inspiradas pelo Oriente
1 –Concerto Köln & Sarband Introduction 1:18
2 –Concerto Köln & Sarband Overture To “Die Entführung Aus Dem Serail” 4:39
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart
3 –Sarband Introduction 1:22
4 –Concerto Köln & Sarband Concerto Turco Nominate “Izia Semaisi” 4:16
5 –Sarband Son Yürük Sema’i 0:55
Composed By – Traditional
6 –Concerto Köln & Sarband Overture To “La Rencontre Imprévue”
Composed By – C. W. Gluck*
2:28
7 –Sarband Introduction 0:59
8 –Sarband Uşşak Peşrevi
Composed By – Zurnazen Ibrahim Ağa 2:31
9 –Sarband & Concerto Köln Mahur Peşrevi 3:02
Composed By – Tatar Han Gazi Giray*
10 –Concerto Köln & Sarband Ballet From “Soliman II, Eller De Tre Sultaninnorna” – Allegro 3:40
Composed By – Joseph Martin Kraus
– Ballet From “Soliman II”
Composed By – Joseph Martin Kraus
13 –Concerto Köln & Sarband Marcia Del Sultano 0:58
14 –Concerto Köln Marcia Degli Schiavi 1:32
15 –Concerto Köln & Sarband Danza Di Elmira 1:07
16 –Concerto Köln & Sarband Marcia Dei Giannizzari 1:25
17 –Sarband Neva Ilahi – Improvisation – Neva Ilahi 5:58
Composed By – Traditional
18 –Concerto Köln Ballet from “Soliman II” – Marcia Di Roxelana 1:09
Composed By – Joseph Martin Kraus
19 –Sarband Introduction 1:15
20 –Concerto Köln Ballet from “Soliman II” – La Coronazione 1:34
Composed By – Joseph Martin Kraus
21 –Sarband Hüseyni Ilahi 1:34
Composed By – Traditional
22 –Concerto Köln Ballet from “Soliman II” – Marcia Dei Dervisci 1:12
Composed By – Joseph Martin Kraus
“Sinfonia Turchesca” In C Major
Composed By – Franz Xaver Süssmayr
23 –Concerto Köln & Sarband 1. Allegro 6:58
24 –Concerto Köln & Sarband 2. Adagio 4:08
25 –Concerto Köln & Sarband 3. [Minuetto] – Trio 3:12
26 –Concerto Köln & Sarband 4. Finale 3:51
Concerto Köln & Sarband
Vladimir Ivanoff, Werner Ehrhardt – direção
Esse incrível disco foi gravado em 1979, no formato analógico, e é parte do projeto de gravar todas as sinfonias de Mozart usando instrumentos e práticas de época. Este pioneiro projeto lançado pelo selo L’Oiseau-Lyre, a versão ‘Archive Produktion’ da companhia inglesa Decca, foi completado e a caça pelas caixinhas com os discos nas lojas daqui, naqueles dias, era uma verdadeira caça ao tesouro. O projeto Haydn, bem mais extenso, não teve a mesma sorte, as agruras das gravadoras o atingiram ainda em pleno voo. O disco da postagem terminou como o terceiro do Volume 5, cuja capa ilustra a abertura da postagem.
Era maravilhosamente surpreendente ouvir essa música interpretada nessa forma autêntica. A música de Mozart surgia sob uma nova luz, como as pinturas de Rembrandt após a limpeza da sujeira e das camadas de verniz. Os grandes intérpretes de Mozart naqueles dias eram regentessáuros tais como Bohm, Karajan, Szell, Kubelik, Jochum, Solti… Entre os mais antigos venerados por muitos, mas que já estavam no caminho da fossilização, tínhamos Bruno Walter, Josef Krips, Otto Klemperer.
Havia os mais moderninhos, que tocavam com bandas menores, como Marriner e a ASMF, Jeffrey Tate e a ECO, Sir Charles Mackerras e a Orquestra de Câmara de Praga, mas o som da L’Oiseau-Lyre era libertador.
Escolhi esse disco para postar por gostar da música e por achá-lo sempre atual e destacando-o assim da coleção com todas as outras sinfonias. Integralidade nem sempre a maneira mais interessante de ouvir a música de Mozart, na minha opinião.
A Sinfonia No. 35 nasceu como mais uma possível Serenata a ser composta por Mozart para o pessoal da família Haffner, de Salzburgo. A encomenda havia chegado a Viena, onde Mozart morava em 1782, enviada pelo seu pai, Leopold Mozart. Wolfgang havia composto uma ‘Serenata Haffner’ enquanto ainda morava em Salzburgo e que fizera muito sucesso, tanto que ganhou o apelido.
Mas Mozart agora estava ocupadíssimo, trabalhando na ópera ‘O Rapto do Serralho’, às voltas com sua noiva e futura esposa, além de aulas muitas. Mesmo assim, foi compondo partes da Serenata e enviando para Salzburgo. O prazo da encomenda venceu e Mozart pediu de volta o que já havia mandado. Gostou tanto do que estava pronto (imagine a pressa com que foi compondo…) que rearranjou o material, acrescentou instrumentos na orquestração e assim surgiu a que agora conhecemos como ‘Sinfonia Haffner’.
A outra sinfonia (pela qual tenho uma especial afeição) é a Sinfonia No. 36, escrita em 1783: A Sinfonia “Linz” foi escrita em três dias! Em 1783, Mozart e sua mulher, Constanza, fazem uma viagem a Salzburgo, para verem o pai e a irmã do compositor. No regresso a Viena, o casal detém-se em Linz, em visita ao velho conde de Thun, grande amigo da família. O conde queria muito que Wolfgang se apresentasse com a orquestra local, mas Mozart não tinha nenhuma de suas partituras à mão. Desejoso de agradecer a boa acolhida, começa uma nova sinfonia e consegue estreá-la no dia programado. [Veja o texto completo aqui]. Essa seria a ‘Sinfonia Linz’.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Symphony No. 35 In D Major “Haffner” K.385
March K. 408 No. 2 [K.385a]
Allegro Con Spirito
Andante
Menuetto & Trio
Presto
Symphony In C Major “Linz” K.425
Adagio – Allegro Spiritoso
Andante
Menuetto & Trio
Presto
The Academy of Ancient Music [on period instruments]
Christopher Hogwood – conductor
Recording locations: St. Jude’s, Hampstead Garden Suburb & St. Paul’s, Arnos Grove,
Nesta gravação eles mantiveram a marcha que havia sido composta para a versão original na forma de uma serenata, mas que foi descartada por Mozart na versão final como Sinfonia. Acho que eles fizeram isso para exibir os tímpanos…
You cannot get any better than this set. It is outstanding. All of the Mozart Symphonies in one package is impressive enough on its own. But this is a very special package. The Academy of Ancient music under Christopher Hogwood have always been a quality act and their work on this set is no exception.
Não posso deixar de concordar…
Aproveite!
René Denon
PS: Não deixe de visitar essa outra postagem com os mesmos artistas…
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, … Você seria capaz de adivinhar qual seria o próximo número? E o outro?
Essa que parece uma charada de Facebook ou pergunta típica de matemático amador é o início da famosa Sequência de Fibonacci.
Fibonacci, o filho de Bonacci, foi um matemático italiano que viveu entre 1170 e 1250, era chamado Leonardo e exatamente por ser filho de Bonacci foi educado no Norte da África, na cidade hoje conhecida como Bugia, na Argélia, onde seu pai era representante comercial da então República de Pisa.
Leonardo desde muito jovem aprendeu a matemática praticada no mundo árabe, especialmente o sistema numérico hindu-arábico e divulgou esses conhecimentos pela Europa Medieval.
Quando meu pai, que havia sido nomeado por seu país como notário público na alfândega de Bugia, atuando em nome dos mercadores de Pisa, me convocou quando eu ainda era uma criança, e pensando na utilidade e conveniência futura, desejou que eu ficasse lá e recebesse instrução na escola de contabilidade. Lá, quando fui apresentado à arte dos nove símbolos hindu através de ensinamentos notáveis, o conhecimento da arte logo me agradou acima de tudo […]
Ele escreveu vários livros, entre eles o Liber abaci, que contém uma coleção de problemas, entre eles o dos coelhos, que se refere à sequência famosa:
Um certo homem colocou um par de coelhos em um lugar cercado por um muro por todos os lados. Quantos pares de coelhos podem ser produzidos a partir desse par num ano se for suposto que todos os meses cada par gera um novo par que a partir do segundo mês se torna produtivo?
Apesar da inicial resistência, típica dos retrógados, as boas novas matemáticas divulgadas por Fibonacci se estabeleceram como a prática. A enorme vantagem do sistema numérico hindu-arábico sobre o sistema numérico greco-romano, então usado, é o fato de ser um sistema posicional. Tente multiplicar, usando algarismos romanos, 17.347 por 23.781…
Mas por que estou falando disso tudo? Bem, porque eu gosto dessas coisas e o nome do conjunto musical que gravou esse belíssimo disco é justamente The Fibonacci Sequence. Há algum tempo postei uma série de cinco discos gravados por eles, três deles destacando um certo instrumento musical, um disco com música de Messiaen e um com o Octeto de Schubert. Esse deve ser um disco deles que eu perdi na pilha que se amontoa aqui, na mesa de trabalho do PQP Bach Co.
As peças são maravilhosas, começando com o famoso poema sinfônico As Aventuras de Till Eulenspiegel, numa redução para cinco instrumentos feita por Franz Hasenöhrl, passando pelo conhecido Quinteto com Trompa, de Mozart e seguido por outros compositores bem diversos. Cada peça tem uma diferente distribuição de instrumentos tornando a audição bastante interessante. Mais um disco para a coleção do conjunto como nome de objeto matemático…
Composto por músicos de renome internacional, o conjunto musical Sequência Fibonancci distingue-se pela variedade e imaginação da sua programação. Aqui, eles exploram o repertório de trompa com o membro fundador e renomado trompista Stephen Stirling como músico de câmara.
Ricahrd Strauss (1864 – 1949)
Till Eulenspiegel einmal anders!
(arranjo de Franz Hasenöhrl, para violino, contrabaixo, clarinete, fagote e trompa)
Till Eulenspiegels lustige Streiche
Alexander Glazunov (1865 – 1936)
Idyll, para trompa e quarteto de cordas
Idílio
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Quinteto para trompa e cordas em mi bemol maior, K407
Allegro
Andante
Allegro
Charles Koechlin (1867 – 1950)
Quatre Petites Pièces
Andante
Très modere
Allegretto
Scherzando
Carl Nielsen (1865 – 1931)
Serenata in Vano, para violoncelo, contrabaixo, clarineta, fagote e trompa
Para esta postagem, fiz questão de fotografar e recortar a capa do meu CD. Observem bem o número de prêmios que o Talich recebeu por esta gravação. A gente nem consegue ver direito o quadro reproduzido na capa. Parece que os tchecos acertaram mesmo! Desnecessário dizer que esta é uma gravação maravilhosa dos grandes Quintetos de Cordas K. 515 e K. 516 de Mozart, interpretada pelo Quarteto Talich com Karel Řehák no violoncelo a mais. Aqui, podemos ouvir muita e sólida cultura musical. É um CD de 1990 com excelente som. Comprei-o lá pelos anos 90. Havia algum tempo que me contentava com a excelente versão do Alban Berg Quartet (1986), mas sempre achei que esta era muito suave para obter explorar a profundidade dessas duas grandes obras. Há maior drama e intensidade nos Talichs, um maior senso de urgência que me agrada. O som é próximo, claro e muito envolvente. Pode-se ouvir todos os instrumentos individualmente e eles estão muito bem equilibrados como grupo. São performances poderosas dessas grandes obras e tenho o prazer de recomendá-las.
W. A. Mozart: Quintetos K. 515 & 516 (Talich)
Quintette À Cordes En Sol Mineur K. 516 (34:01)
1 Allegro 10:27
2 Menuetto 5:05
3 Adagio Ma Non Troppo 8:34
4 Adagio. Allegro 9:43
Quintette À Cordes En Ut Majeur K. 515 (36:10)
5 Allegro 13:16
6 Menuetto Allegretto 5:17
7 Andante 9:53
8 Allegro 7:34
Cello – Evžen Rattay, Karel Řehák
Ensemble – Le Quatuor Talich*
Viola – Jan Talich
Violin – Jan Kvapil, Petr Messiereur
Hoje estava ouvindo a Rádio da Ufrgs e, de repente, entrou a Sinfonia N° 99 de Haydn, regida por Alfred Scholz. Esse Scholz foi um sujeito… Bem, ele foi um maestro e produtor musical que comprava a preço de banana gravações feitas atrás da chamada Cortina de Ferro e as vendia no Ocidente com nomes de orquestras, maestros e solistas que simplesmente não existiam. Às vezes, punha seu próprio nome, quando eram muito boas. Aqui no Brasil esses CDs chegavam pela MoviePlay. Alberto Lizzio era o pseudônimo mais usado. A orquestra Musici di San Marco e Philharmonia Slavonica, colaboradoras habituais de Lizzio, também jamais existiram… É claro que a Rádio da Universidade não vai examinar a biografia de cada músico, só que, como disse, Scholz atribuiu a si algumas boas gravações, além de ter escrito a biografia do grande Alberto Lizzio.
Porque falo nisto? Ora, porque me deparei hoje com este bom CD gravado por Scholz. Eu não tenho como saber quem é o verdadeiro maestro, quem vocês estarão ouvindo.
Symphonie Nr. 40 G-moll K 550 = Symphony No.40 In G Minor K 550
1 Molto Allegro 6:34
2 Andante 12:05
3 Menuetto – Allegretto 3:41
4 Finale: Allegro Assai 6:46
Symphonie Nr. 41 C-dur K 551 “Jupiter” = Symphony No.41 In C Major K 551
5 Allegro Vivace 11:20
6 Andante Cantabile 9:26
7 Menuetto – Allegro 5:01
8 Molto Allegro 8:49
Conductor – Alfred Scholz
Orchestra – London Philharmonic Orchestra
Dois discos gravados ao vivo com orquestras alemãs na década de 1980. Dois discos com concertos de Mozart, um deles também com um de Beethoven. Dois pianistas de imensa reputação nesse repertório. Nem preciso apresentar Alicia de Larrocha (1923-2009) e Arturo Benedetti Michelangeli (1920-1995), então falarei um pouco das orquestras.
Alicia tocou esses concertos com duas orquestras do sul da Alemanha, em Stuttgart e Baden-Baden, e os concertos foram gravados pelas rádios alemãs: o lançamento em CD foi décadas depois. Em um ou outro detalhe, soam diferentes das orquestras novíssimas que, nos últimos 15 ou 20 anos, têm mostrado um Mozart mais leve. Mas esses músicos alemães, em 1986, defendiam de modo muito convincente o Mozart criador de tensões sonoras que já soam como profecias dos exageros do romantismo. Sobretudo a percussão: neste Concerto nº 22 – como aliás em outros concertos do Mozart maduro: o 25º, o 26… – as pauladas no tambor são intensas como em Beethoven ou, se corrermos um pouco no túnel do tempo, lembram até os tambores e martelos de Mahler.
E tenho para mim que os músicos de Stuttgart fazem um Mozart mais rico em detalhes do que os da English Chamber Orchestra, com quem Larrocha gravaria este Concerto nº 22 nos anos 90. Também no 3º Concerto de Beethoven o desempenho da orquestra é bastante interessante, ao menos para quem gosta de Beethoven tocado por orquestras com um número generoso de cordas.
O disco de Arturo, também ao vivo, é com a orquestra da Rádio do Norte Alemão (NDR-Sinfonieorchester), em Hamburgo. No Concerto nº 20, o primeiro composto por Mozart em um tom menor, a orquestra faz milagres que nunca ouvi em outras gravações deste concerto. Um som cheio de mistérios, sombras e nuvens. Também Michelangeli está em excelente forma e muto bem gravado, fazendo cada um dos ornamentos com o cuidado e perfeccionismo que eram sua marca registrada. E ele usa a cadência de Beethoven. No Concerto nº 25, porém, a orquestra exagera na intensidade do 1º movimento (Allegro maestoso) e hoje em dia, com tantas gravações historicamente mais informadas, fica difícil perdoar alguns exageros que eram comuns na época. Ou seja: pare o que estiver fazendo agora para ouvir o Concerto em ré menor, mas o outro em dó maior dá pra deixar pra ouvir outro dia.
A notícia surgiu logo de manhã, no grupo de WhatsApp, e depois se confirmou ao longo do dia nas mídias sociais e jornais on line: Maurizio Pollini è morto.
Maurizio Pollini, pianist who defined modernism, dies at 82
Eu não consigo deixar de lembrar o punch line da anedota sobre o político: Pois sim, morreu para você, filho ingrato! É assim que nos sentimos, na morte de certos artistas. Apesar de tudo, a arte e seus efeitos sobre nós continuarão, por mais algum tempo.
O pianista Maurizio Pollini, através de suas gravações, especialmente aquelas das décadas de 1970, 80 e 90, tem feito parte de meu universo musical desde o início e suas interpretações certamente ajudaram a moldar minhas preferências musicais.
O disco mencionado na postagem, dos concertos de Mozart, é de 1976, quando comecei a comprar meus primeiros LPs. Aqui está minha lista de joias, que levaria para aquela ilha deserta:
Estudos de Chopin (1972); Prelúdios de Chopin (1975); Últimas Sonatas para Piano de Beethoven (1976); Concertos de Mozart (1976) e Imperador, de Beethoven (1979), ambos com Böhm regendo a Filarmônica de Viena; Concertos para piano Nos. 1 e 2, de Bartók (1979), com Abbado regendo a Sinfônica de Chicago, o Quinteto com piano de Brahms (1980), com o Quarteto Italiano, as Sonatas para piano Nos. 2 e 3, de Chopin (1986); Últimas Sonatas para piano de Schubert (1989) e um disco no qual Pollini gravou ao vivo algumas Sonatas para piano de Beethoven, especialmente a Waldstein (1998). Os discos de Chopin ainda tenho em uma caixota, que tem também as Polonaises, feitos pela Microservice, Disco é Cultura.
Veja o que foi lembrado sobre o Pollini (nunca consegui chamá-lo Maurizio…) neste dia:
Harris Goldsmith, a critic who made a specialty of writing about the piano, called Mr. Pollini’s playing “almost entirely geometric” and said he was “a musical counterpart of Mondrian.” Harris Goldsmith, um crítico que se especializou em escrever sobre piano, chamou a interpretação de Pollini de “quase inteiramente geométrica” e disse que ele era “uma contraparte musical de Mondrian”.
Conductor and composer Boulez tried to describe Mr. Pollini for the New York Times in 1993. “He does not say very much, but he thinks quite a lot,” Boulez said. “I find him very concentrated on what he is doing. He goes into depth in the music, and is not superficial, and his attitude as a musician is exactly his attitude as a man. He is as interesting as anyone could be.” O maestro e compositor Boulez tentou descrever Pollini para o New York Times em 1993. “Ele não diz muito, mas pensa bastante”, disse Boulez. “Acho ele muito concentrado no que está fazendo. Ele se aprofunda na música, e não é superficial, e sua atitude como músico é exatamente sua atitude como homem. Ele é tão interessante quanto qualquer um poderia ser.”
Pollini não tocava música de Bach ao piano por razões intelectuais, uma vez que o compositor não as havia escrito para piano. Mas, para nossa fortuna, ele reconsiderou isso posteriormente.
“The important thing with him was the structure, the idea, and not so much the sound or the instrument,” Mr. Pollini told Newsday. “And Bach himself made many, many transcriptions of his work, taking it from one instrument and giving it to another. And so I finally decided that the piano was all right.” “O importante com ele era a estrutura, a ideia, e não tanto o som ou o instrumento”, disse Pollini ao Newsday. “E o próprio Bach fez muitas, muitas transcrições de sua obra, pegando-a de um instrumento e dando-a a outro. E então finalmente decidi que o piano estava bem.”
Graças a essa mudança de atitude temos uma gravação feita em 2009 do Primeiro Livro do Cravo Bem Temperado.
O disco com os Estudos de Chopin foi gravado em setembro de 1960 pela EMI, no famoso Studio No. 1, Abbey Road, Londres, mas não chegou a ser lançado na época. O produtor foi Peter Andry e o disco foi lançado em 2011 pelo selo Testament, em homenagem a Andry. Vale a pena a comparação com a agora consagrada gravação feita posteriormente, para o selo Deutsche Grammophon.
Além de grande artista, ele também esteve atento aos movimentos políticos, chegando a se filiar ao Partido Comunista Italiano por um tempo. “Corre-se o risco de estar em um compartimento fechado como um pianista de concerto”, disse Pollini em 1975. “Acho que um artista deve manter os olhos abertos para o que está acontecendo ao seu redor.”
Definitivamente, uma ótima sugestão para artistas e amantes das artes em geral.
Gostei muito. As gravações são todas ao vivo, tomadas na Tonhalle de Zurique, com aplausos. Trata-se de uma coleção dos ‘bis depois de Beethoven’ que András Schiff deu durante seu ciclo das 32 sonatas do mestre entre 2004 e 2006. Com 52 minutos, equivalem a um banquete dos finais clássicos dos recitais do pianista – de Bach, Haydn e Mozart, passando por Beethoven até Schubert. Se você pensa nos bis como coisas leves, bem, eles podem ser ou não ser. Esses compositores escreveram muitas peças características que são menos ambiciosas do que as grandes sonatas, mas que não devem ser descartadas como miniaturas. Composições mais curtas, sim, mas com longas reflexões por trás delas.
O que tocar depois de uma noite de, digamos, cinco sonatas de Beethoven? Nada, afirmariam muitos pianistas. E Schiff está de acordo com aqueles que, depois da última Sonata de todas (a famosa Op. 111), considerariam a adição de qualquer coisa que não fosse o silêncio como um terrível erro. No entanto, ele nos chega com uma atitude do tipo “por que não?, não há razão para negar a um público entusiasmado um pouco mais de música, desde que estejam relacionadas com as sonatas ouvidas anteriormente”. Os bis variam em extensão e escopo, desde a pequena Giga em Sol maior de Mozart, K. 574 (1’42” e bem traiçoeira), até a Sonata em Sol menor de dois movimentos de Haydn (nº 44 em Hob.) que chamou a atenção de vários grandes pianistas, como Sviatoslav Richter. E ainda temos Bach! Uma joia de CD!
J. S. Bach / Beethoven / Haydn / Mozart / Schubert: Encores After Beethoven (Bis depois de Beethoven) (András Schiff)
Three Piano Pieces D 946 (Franz Schubert)
1 No. 1 e- Flat minor. Allegro assai 07:26
2 Allegretto c minor D 915 (Franz Schubert) 04:59
3 Eine kleine Gigue in G Major KV 574 (Wolfgang Amadeus Mozart) 01:42
Sonata g minor Hob XVI :44 (Joseph Haydn)
4 Moderato 09:33
5 Allegretto 04:04
6 Hungarian Melody in b minor D 817 (Franz Schubert) 03:59
7 Andante favori F major WoO 57. Andante grazioso con moto (Ludwig van Beethoven) 08:41
Partita No. 1 B-flat Major BWV 825 (Johann Sebastian Bach)
8 Menuet I & II 02:32
9 Gigue 02:33
Prelude and Fugue b-flat minor BWV 867 (Johann Sebastian Bach)
10 Prelude 02:30
11 Fugue 03:27
Para os fãs das interpretações historicamente informadas, o nome de Robert Levin é bem conhecido. Trata-se de um exímio pianista, e musicólogo e desde 1993, professor em Harvard, que realizou diversas gravações com a Academy of Ancient Music, em seus áureos tempos com Christopher Hogwood como diretor, pelo saudoso selo L´Oiseau-Lyre, cujos lançamentos aguardávamos ansiosos ali em meados da década de 1980, principalmente suas gravações dos Concertos para Piano de Mozart.
A sonoridade dos instrumentos utilizados nas gravações em um primeiro momento nos deixou boquiabertos, não conhecíamos nada parecido. O som ao qual estávamos acostumados era o dos pianos Steinway, Bossenfelder ou Yamaha, e aquilo ali parecia muito seco, sem nenhuma amplitude sonora. E de Orquestras como Filarmônica de Berlim, de Viena, dentre outros grandes conjuntos europeus e norte americanos. Eram outros tempos, não tínhamos Internet, nossa opção e talvez única forma de obter maiores informações era ler as matérias assinadas por ‘especialistas’ nos jornais e revistas da época. Então, quando estes LPs começaram a chegar aqui no Brasil, meio que virou uma febre. Aliados à qualidade das interpretações, outro detalhe a se destacar eram as capas.
Bem, e assim se passaram algumas décadas, e até mesmo aquele estilo de interpretação conhecido como historicamente informado evoluiu, muito devido a pesquisas de musicólogos como o próprio Robert Levin. Os instrumentos utilizados nesta gravação foram construídos baseados em um modelo de pianoforte que o próprio Mozart utilizava.
Ao lado de sua esposa, a também pianista Ya-Fei Chuang, Levin nos brinda com um belo CD para se ouvir o bom e velho Mozart como deveria soar lá no século XVIII. Quem nunca ouviu vai estranhar a sonoridade, não apenas do pianoforte, mas também da própria orquestra, criada há cinquenta anos por Christopher Hogwood exatamente para interpretações historicamente informadas. Atualmente ela é dirigida por Lawrence Cummings, e também já tem seu próprio selo.
Além dos conhecidos Concertos K. 242 (de nº 7) e do K. 365 (nº10), temos também uma rara gravação de uma obra que Mozart nunca concluiu, o K.Anh.56 (K315f), do qual se conheciam apenas fragmentos. A versão aqui apresentada foi reconstruída e concluida pelo próprio Robert Levin, mas com apenas um movimento. Trata-se de um Concerto para Piano e Violino, e aqui temos como solista o Spalla da AAM, Bojan Čičić. O colega René Denon já postou um CD desta mesma turma há alguns meses, que traz o imenso e poderoso Concerto de nº 21, o meu favorito e o de muita gente que conheço.
Ouvir Mozart sempre é um prazer para os ouvidos. E Robert Levin e sua turma aumenta ainda mais este prazer, nos proporcionando um Mozart leve, solto, divertido. Discaço, que vale e muito sua audição.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concertos para Piano K. 242, K. 365 e K. 315f – AAM, Robert Levin, Ya-Fei Chuang
Concerto No. 7 For Two Pianos And Orchestra In F Major K242
1 I Allegro
2 II Adagio 7:57
3 III Rondo. Tempo Di Minuetto 5:47
4 Concerto Movement For Piano, Violin, And Orchestra In D Major KAnh56 (315f)
Composed By [Completed By] – Robert Levin
Concerto No. 10 In E-flat Major For Two Pianos And Orchestra K365 (316a)
5 I Allegro
6 II Andante
7 III Rondo. Allegro
Obs. de PQP: Neste ano de 2016, o mundo falará muito em Florence Foster Jenkins. Afinal, Stephen Frears acaba de finalizar a cinebiografia desta absurda, patética e desafinadíssima cantora com Meryl Streep no papel principal. Ela é simplesmente hilariante. As plateias desenvolveram uma curiosa convenção. Quando ela chegava em momentos particularmente horríveis em que eles tinham que rir, eles explodiam em aplausos e assobios para poderem rir livremente, sem machucar tanto a auto-estima — na verdade uma inabalável fortaleza — da pobre cantora. Ouçam o que ela consegue fazer nesta que é sua melhor gravação (não estou ironizando). Ouvir ‘A Faust Travesty’ é algo só para os fortes, mas ‘A Rainha da Noite’, ‘Biassy’ e ‘Like a Bird’ também quase me mataram. Mas deixemos a palavra para Das Chucruten.
Hoje vou postar uma pérola da indústria fonográfica do século XX, que de vez em quando deixa escapar suas máculas de maneira muito divertida. Esta é o que podemos chamar de raridade humorística da música.
Florence Foster Jenkins foi uma moça da alta sociedade americana, nascida ainda no final do séc.XIX, casada durante pouco tempo com um médico, e depois com um ator que virou seu empresário. Ao que parece sua família era muito rica e lhe permitiu manter-se de forma extravagante mesmo depois de uma separação. Consta que ela sempre quis ser cantora, mas nem seus pais nem seu marido deram bola, então ela resolveu seguir por conta própria. O resultado é que ela se autopromoveu e começou a organizar apresentações de canto às próprias custas.
Chamou a atenção dos críticos porque era totalmente desprovida de qualquer musicalidade mínima: não entendia a pulsação rítmica, era incapaz de manter-se no ritmo; não conseguia afinar-se minimamente e tinha uma pronúncia de língua estrangeira que beirava o ridículo. Não obstante, suas apresentações se tornaram “cult”, e, mesmo sabendo que o público ia assisti-la para o escárnio, dizia que os risos eram “inveja profissional”.
Pouco antes de morrer, em 1944, conseguiu apresentar-se no Carnegie Hall e gravou seu único disco de 78 rotações (aos 70 anos de idade!), que é a pérola que aqui vos apresento. O mérito do pianista acompanhador é grande, um verdadeiro malabarista que consegue, com maestria, seguir um motorista bêbado. O CD ainda tem umas faixas bônus com uma sátira ao Fausto de Gounod, cantado de forma invertida, e muito propriamente, chamado “A Faust Travesty”. Agradeço à minha amiga Ana Lucia pela introdução desta Diva na minha discografia
Abraços.
FLORENCE FOSTER JENKINS – THE GLORY (???) OF HUMAN VOICE / A FAUST TRAVESTY
01 Mozart: Die Zauberflöte, K 620 – Queen Of The Night Aria
02 Lyadov: Die Musikdose, Op. 32
03 Cosme McMoon: Like A Bird
04 Delibes: Lakme – Ou Va La Jeune Hindoue_
05 Cosme McMoon: Serenata Mexicano
06 David: La Perle Du Bresil – Charmant Oiseau
07 Bach,J.S. / Pavlov: Biassy
08 Strauss, Jr.: Die Fledermaus – La Chauve-Souris_ Adele’s Laughing Son – Air D’adele – ‘mein Herr Marquis’
09 Gounod: A Faust Travesty: Valentine’s Aria (Ere I Leave My Native Land)
10 Gounod: A Faust Travesty: Jewel Song (O Heavenly Jewels)
11 Gounod: A Faust Travesty: Salut, Demeure Chaste Et Pure (Emotions Strange)
12 Gounod: A Faust Travesty: Final Trio (My Heart Is Overcome With Terror)
Florence Foster Jenkins, Soprano
Cosme McMoon, pianist
Jenny Williams – Thomas Burns, singing the Faust parody
Dois dos melhores Divertimentos de Mozart. O Divertimento K. 287 é formado por seis movimentos tranquilos e gentis, sendo que seu Adágio (4º mov.) tem uma melodia sublime, do melhor Mozart. Não me canso de ouvi-lo. Diga-se de passagem que o K. 131 também apresenta seis movimentos… A performance da Capella Istropolitana é, como sempre, de alto nível. Hoje, eles foram rebatizados como Orquestra de Câmara da Cidade de Bratislava. Aquela região sabe o que é um bom Mozart. Aliás, sabem que Bratislava já foi chamada de Istrópolis? Bem, o Divertimento é uma forma musical que se caracteriza pela leveza. Pode ser composto para um ou vários instrumentos e consta em geral de uma série de movimentos alternados e livres. O termo indica, sobretudo na França, um intermezzo com dança, que no século XVII e XVIII se inseria nas óperas e comédias-balés.
W. A. Mozart (1756-1791): Divertimentos K. 287 e 131 (Capella Ostropolitana / Nerat)
Divertimento No. 15 in B flat major, K. 287, “Lodron Night Music No. 2”
Performed by: Capella Istropolitana
Conducted by: Harald Nerat
1. I. Allegro 09:42
2. II. Andante grazioso con variazioni 08:35
3. III. Menuetto 03:41
4. IV. Adagio 08:35
5. V. Menuetto 04:12
6. VI. Andante – Allegro molto 08:05
Divertimento in D major, K. 131
Performed by: Capella Istropolitana
Conducted by: Harald Nerat
7. I. Allegro 05:19
8. II. Adagio 06:10
9. III. Menuetto 05:35
10. IV. Allegretto 03:06
11. V. Menuetto 04:09
12. VI. Adagio – Allegro molto – Allegro assai 06:12
Alfred Brendel (nasc. 5 jan. 1931) hoje completa 93 anos e vamos aproveitar a data para completar uma série de postagens que vinha lá de 2007, primórdios deste blog e época em que o veterano pianista dava seus últimos concertos e recitais antes de se aposentar. Depois eu, Pleyel, reativei os links em 2019 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) adicionando algumas opiniões e imagens.
E depois de todo esse tempo, finalmente adicionamos esse lote com quase metade dos concertos do gênio de Salzburgo (aqui estamos excluindo da conta os concertos nº 1 a 4, exercícios infantis nos quais Mozart fez arranjos de música de outros autores). Provavelmente, pensarão vocês, se esses concertos demoraram tanto para aparecer é porque não importam tanto assim. E é verdade que a maior parte das apresentações ao vivo e discos se dedicam à metade final dos concertos para piano de Mozart. Mas no meio de alguns concertos um tanto burocráticos (para o meu gosto, do 5º ao 8º e o 13º), há algumas pérolas aqui. A tarefa de identificar as pérolas depende um pouco do gosto do freguês, mas há uma certa unanimidade sobre o fato de que o concerto divisor de águas, o “nada será como antes” desse grupo é o Concerto nº 9, de apelido “Jeunehomme” (que é mais ou menos o equivalente masculino de “mademoiselle” – senhorita -, ou seja, a forma educada de se chamar com um homem jovem em francês). Esse apelido foi usado por séculos, e é apropriado pois Mozart tinha apenas 21 anos quando o compôs! Mas recentemente descobriram que o concerto provavelmente se referia a Victoire Jenamy, jovem e admirada pianista da época, filha de um amigo de Mozart. Mais um caso de silenciamento do papel de mulheres na História.
Além do nº 9, meu coração bate mais forte pelo 10º, para dois pianos, pelo 11º, pelo 12º e pelo 14º, por motivos bem diferentes referentes a cada um deles. O 10º tem melodias e ritmos que lembram a Marselhesa, hino da França composto poucos anos depois. Os de nº 11 a 13 são os primeiros após a chegada de Mozart em Viena, onde ele teve contato com novas orquestras, com novos amigos e com antigas partituras de mestres como J.S. Bach, de modo que esses três concertos têm uma discreta inclinação para o contraponto bachiano.
Neste blog, além das integrais já postadas com Mitsuko Uchida e com Lili Kraus, destaco ainda as grandes gravações do 12º com Maurizio Pollini e a do 14º com Maria João Pires, que vocês conseguem encontrar pelo mecanismo de busca no alto da tela. Mas o austríaco Brendel e os ingleses da Academy of Saint Martin in the Fields não fazem feio frente a essa concorrência não, pelo contrário, são leituras que apontam para vários detalhes nessas obras que às vezes as outras gravações não apontaram, ou ao menos não do mesmo jeito. A suavidade, os detalhes e a leveza do toque de Brendel, nunca pesado ou sério, nem sempre me agrada quando ele toca Beethoven ou Schubert, mas com Mozart, se a memória não me falha, é sempre excelente.
W. A. Mozart (1756-1791):
Concertos para Piano e Orquestra Nº 5 a 14
Rondós para Piano e Orquestra KV 382 e 386
Alfred Brendel- piano
Neville Marriner – conductor
Academy of Saint Martin in the Fields
Esta gravação foi encontrada por aí; não lembro onde. Trata-se de uma conversão de LP para MP3 tal quais muitas do Avicenna. E trata-se também de um tesouro. O divertido K. 522 é tão famoso quanto raro e a interpretação do grande Rudolf Barshai com a Orquestra de Câmara de Moscou vale o resgate. OK, o som não é tudo aquilo, mas e daí? O Divertimento K. 136 é bem mais gravado e é a melhor companhia para a genial brincadeira de Mozart. Uma joia para os pequepianos. Barshai foi um enorme regente. Confiram!
W.A.Mozart – Musical Joke K522, Divertimento No.1 in D K136
LP Conversion | MP3-320kbps
Contents:
W.A.Mozart (1756-1791)
Side 1
Musical Joke ‘The village musicians sextet’ (Village Symphony) in F major K.522
– 1. Allegro
– 2. Menuetto (Maestoso) – Trio
– 3. Adagio cantabile
– 4. Presto
Side 2
Divertimento No.1 for the string orchestra in D major K.136
– 1. Allegro
– 2. Andante
– 3. Presto
Melodija 1980
Muita gente tem pedido a repostagem destes concertos de Violino de Mozart com o Carmignola e com o Claudio Abbado, postagem de uns três anos atrás, creio. Porém, no momento, não é possível fazer esta repostagem pelo simples fato de não ter mais este cd, devido a diversos problemas que tive nos últimos tempos com meu computador pessoal, onde ele estava armazenado.
Para os mais necessitados, digamos assim, por uma gravação histórica, resolvi tirar do baú esta gravação do Simon Standage, nos tempos em que ele era o spalla da “Academy of Ancient Music”, nos bons tempos do Christopher Hogwood. Esta gravação foi realizada em 1987, e o Standage ainda não tinha criado seu excelente conjunto “Colegium Musicum 90” . Sua parceria com o Hogwood nos anos 80 rendeu gravações antológicas, alimentando mais o comércio das gravações de orquestras que tocavam com instrumentos de época. Nesta gravação específica, o violino de Standage é uma réplica de um Stradivarius de 1703.
Adoro estes concertos, já devo tê-los ouvido umas cinquenta vezes cada um. Gosto muito das gravações do Oistrakh, realizadas ainda nos anos 60, se não me engano, e entre as recentes, a Julia Fischer fez um trabalho extraordinário. Não posso esquecer de nossa eterna musa, Anne-Sophie Mutter que há uns 5 anos atrás regravou os cinco concertos, além da Sinfonia Concertante.
Um detalhe interessante: as cadenzas são do próprio Standage. O homem não é fraco não, como diziam na minha terra.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Os Concertos para Violino (Standage / Hogwood)
CD 1
1 Violin Concerto n°1, in B Flat major, K. 207 – I – Allegro moderato
2 II – Adagio
3 III – Presto
4 Violin Concerto n°2, in D major, K. 211 – I – Allegro moderato
5 – II – Andante
6 – III – Rondeau
7 – Violin Concerto in G Major, K. 216 – I – Allegro
8 – II – Adagio
9 – III – Rondeau: Allegro
10 – Rondo in B Flat Major, K. 269
CD 2
1 – Violin Concerto n° 4, in D Major, K. 218 – I – Allegro
2 – II – Andante Cantabile
3 – III – Rondeau: Andante grazioso
4 – Violin Concerto n°5, in D Major, K. 219 – I – Allegro aperto
5 – II – Adagio
6 – III – Rondeau: Tempo de menuetto
7 – Adagio in E major, K. 261
8 – Rondo in C Major, K. 373
Simon Standage – Violin
The Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood – Director
The Guardian sentenciou: “Absolutamente de primeira linha… entre as performances mais frescas e lindamente tocadas que você pode encontrar em qualquer lugar, maravilhosamente gravadas.” Este é o disco mais leve dos cinco das Sinfonias de Mozart com Wordsworth. Ele destaca as virtudes de sua abordagem. As articulações superprecisas e despojadas, embora estimulantes nas sinfonias maiores, ficariam arrogantes com peças lúdicas como a Sinfonia nº 27. uma qualidade de Wordsworth reside em sua disposição de deixar a música respirar. O movimento de abertura da Nº 33 é lento o suficiente para exibir o gracioso senso da obra: nada melancólico, mas majestoso (isso vale também para o fantástico primeiro movimento adagio-come-allegro da Nº 36). Os movimentos lentos têm a alegria suave e pensativa da famosa pintura de uma jovem e seu livro de Fragonard. E os alegres movimentos finais giram em alegria. A combinação de instrumentos modernos e a presença de câmara da Capella Istropolitana ajudam muito a tornar esta música perfeita.
Rampal e Mozart, que dupla…! Já me emocionei muito com estas gravações, que apenas consolidaram minha opinião a respeito de Rampal… gênio, mestre absoluto da flauta. Confesso que minha gravação favorita do concerto para flauta e harpa é com o Aurele Nicolet, acompanhado pelo Karl Richter… mas sejamos fiéis à coleção… tenho certeza de que ninguém vai se arrepender. E estou preparando outra postagem com esta dupla Nicolet / Richter… Para quem não conhece a obra, preste atenção no andantino do Concerto para flauta, harpa e orquestra. É um dos mais belos momentos da história da música. A delicadeza do dedilhar da harpa, acompanhada pelo sopro divino que emana dos pulmões de Rampal é de ressuscitar até defunto, de tão emocionante…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Flute Concerto No. 1 in G Major, No. 2 in D major, Concerto for flute and Harp
O que posso dizer de um Don Giovanni com a Orquestra Barroca de Freiburg sob a regência de René Jacobs? Eu achei que nem precisava ouvi-lo para entregar-me a Don Juan, mas ouvi e o resultado foi o esperado. Entreguei-me a ele desde os primeiros compassos. Olha, é tão bom que nem parece ópera, ops, melhor dizendo, este Don Giovanni pode ser ouvido como se fosse um concerto sem maiores problemas.
Anos atrás, Maria Callas — que não era exatamente uma débil mental –, criticou os artistas que costumam cantar e tocar Mozart como se estivessem nas “pontas dos pés”. René Jacobs obedece à diva: disse que seus cantores deviam usar “apenas a voz”. O resultado são 3 CDs de música onde a gente não precisa pular os recitativos. Os personagens estão plenamente desenvolvidos, com o conjunto instrumental fornecendo o suporte perfeito para a ação. É um verdadeiro drama musical: às vezes suave, às vezes bombástico, às vezes hilariante, às vezes austera e terrível, cheia daqueilo que o século XVIII chamava de “Sturm und Drang”. Ponto.
W. A. Mozart (1756-1791): Don Giovanni
Disc: 1
1. Ouvertura
2. No.1 Introuzione: Notte E Giorno Faticar
3. Recitativo: Leporello, Ove Sei?
4. Recitativo: Ah Del Padre In Periglio/No.2 Recitativo Accomp.: Ma Qual Mai S’offre, O Dei
5. Duetto: Fuggi, Crudele, Fuggi!
6. Recitativo: Orsu, Spicciati Presto
7. No.3 Aria: Ah Chi Mi Dice Mai
8. Recitativo: Chi E La?
9. No.4 Aria: Madamina, Il Catalogo E Questo
10. Recitativo: In Questa Forma Dunque
11. No.5 Coro: Giovinette Che Fate All’amore
12. Recitativo: Manco Male E Partita
13. No.6 Aria: Ho Capito, Signor Si
14. Recitativo: Alfin Siam Liberati
15. No.7 Duettino: La Ci Darem La Mano
16. Recitativo: Fermati Scellerato
17. No.8 Aria: Ah Fuggi Il Traditor
18. Recitativo: Mi Par Ch’oggi Il Demonio Si Diverta
19. Recitativo: Ah Ti Ritrovo Ancor/No.9 Quartetto: Non Ti Fidar, O Misera
20. Recitativo: Povera Sventurata!
21. No.10 Recitativo Accomp.: Don Ottavio, Son Morta!
22. Aria: Or Sai Chi L’onore
23. Recitativo: Come Mai Creder Deggio
24. No.10a Aria: Dalla Sua Pace
Disc: 2
1. Recitativo: Lo Deggio Ad Ogni Patto
2. No.11 Aria: Fin Ch’han Dal Vino
3. Recitativo: Masetto: Senti Un Po’
4. No.12 Aria: Batti, Batti, O Bel Masetto
5. Recitativo: Guarda Un Po’ Come Seppe
6. No.13 Finale: Presto Presto Pria Ch’ei Venga/Su Svegliatevi, Da Bravi
7. Tra Quest’arbori Celeta
8. Bisogna Aver Coraggio
9. Riposate, Vezzose Ragazze
10. No.14 Duetto: Eh Via Buffone
11. Recitativo: Leporello/Signore
12. No.15 Terzetto: Ah Taci, Ingiusto Core
13. Recitativo: Amico, Che Ti Par?/Recitativo: Eccomi a Voi!
14. No.16 Canzonetta: Deh Vieni Alla Finestra
15. Recitativo: V’e Gente Alla Finestra!/Recitativo: Non Ci Stanchiamo
16. No.17 Aria: Meta Di Voi Qua Vadano
17. Recitativo: Zitto! Lascia Ch’io Senta/Ahi Ahi! La Testa Mia!
18. No.18 Aria: Vedrai, Carino
19. Recitativo: Di Molte Faci Il Lume
20. No.19 Sestetto: Sola Sola In Buio Loco/Ferma, Briccone
Disc: 3
1. Recitativo: Dunque Quello Sei Tu/Recitativo: Ah Pieta…/Recitativo: Ferma, Perfido, Ferma…
2. Recitativo: Restati Qua!
3. No.21a Duetto: Per Queste Tue Manine
4. Recitativo: (Amico…) Guarda Un Po’come Stretto
5. Recitativo: Andiam, Andiam, Signora
6. No.21b Recitativo Accompagnato: In Quali Eccessi, O Numi
7. Aria: Mi Tradi Quell’alma Ingrata
8. Recitat.: Ah Ah Ah Ah, Questa E Buona
9. No.22 Duetto: O Statua Gentillissima
10. Recitativo: Calmatevi, Idol Mio
11. No.23 Recitativo Accompagnato: Crudele! Ah No, Mio Bene!
12. Rondo: Non Mi Dir, Bell’idol Mio
13. Recitativo: Ah, Si Segua Il Suo Passo
14. No.24 Finale: Gia La Mensa E Preparata
15. L’ultima Prova
16. Don Giovanni, a Cenar Teco
17. Ah Dove E Il Perfido
18. Recitativo: Dunque Quello Sei Tu
19. No.20 Aria: Ah Pieta, Signori Miei
20. Recitativo: Ferma, Perfido, Ferma
21. No.21 Aria: Il Mio Tesoro Intanto
Johannes Weisser, Don Giovanni
Lorenzo Regazzo, Leporello
Alexandrina Pendatchanska, Donna Elvira
Olga Pasichnyk, Donna Anna
Kenneth Tarver, Don Ottavio
Sunhae Im, Zerlina
Nikolay Borchev, Masetto
Alessandro Guerzoni, Il Commendatore
Freiburger Barockorchester
RIAS Kammerchor
René Jacobs
Quando Maurizio Pollini completou 70 anos, a DG fez-lhe esta homenagem em 3 CDs. A boa curiosidade que são seleções pessoais do pianista de suas gravações para a Deutsche Grammophon: de Petrushka de Stravinsky e Estudos de Chopin a concertos de Beethoven e Mozart. Também inclui sua primeira e rara gravação de sua premiada performance do Primeiro Concerto para Piano de Chopin em Varsóvia, em 1960. Ganhei este álbum de alguém — desculpe, esqueci de quem. Os 3 CDs vêm acoplados num um livro de capa dura colorido de 120 páginas, com muitas fotos e a discografia completa de Pollini na DG. Para um fã do pianista, imperdível é pouco.
Aliás, em junho deste ano, o grande pianista nos deu um belo susto. Aos 81 anos, ele esqueceu da obra que estava tocando e se atrapalhou totalmente. Pior, passou a tocar uma que viria depois e passou longe de seus habituais e altíssimos padrões de interpretação. Tudo aconteceu no imenso Royal Festival Hall, do Southbank Center, local onde vi Pollini tocar esplendidamente em fevereiro de 2014. A primeira peça do programa, o Arabesque de Schumann, foi interpretada lindamente de memória, mas em seguida, em vez da anunciada Fantasia de Schumann, ele começou uma Mazurka de Chopin, que deveria vir no segundo bloco. Ele pareceu se perder (ou possivelmente lembrou de que estava na peça errada) e de repente parou e saiu do palco por alguns minutos. Voltou com uma partitura da Fantasia de Schumann e começou a tocá-la, mas continuou folheando as páginas aparentemente ao acaso. Algumas das páginas estavam soltas e foram parar no chão, então ele caiu em verdadeira confusão, muitas vezes parando e arruinando qualquer senso de fluxo da música. Deve ter sido muito triste de assistir. Pollini sempre foi perfeito, imaculado, dando grande sentido a cada nota. Na segunda metade, um vira-páginas esteve presente e a execução foi muito mais parecida com o que temos experimentado com ele nos últimos anos. Foi certamente uma bela execução, mas também com algumas notas erradas e passagens confusas. Ele toca há décadas de memória, sempre. É claro que ele foi aplaudido de pé, mas nenhum bis foi oferecido. A experiência deve tê-lo abalado.
Para tirar o gosto amargo do parágrafo acima, coloco aqui o texto que publiquei em meu perfil do Facebook logo após ver Pollini p0wela primeira vez ao vivo em 18 de fevereiro de 2014:
“Hoje foi um dia especialíssimo e irrepetível — quem sabe? — em Londres. Eu e Elena assistimos ao concerto de Maurizio Pollini no Royal Festival Hall, sala principal do Southbank Center. O programa era vasto, mas centrado em peças de Chopin e Debussy. Ele tocou o primeiro livro dos prelúdios do francês e peças esparsas do primeiro. O concerto foi dedicado por Pollini à memória de Claudio Abbado. Talvez isso explique a recolocação no programa da Sonata nº 2 para piano, Op. 35, cujo terceiro movimento é a célebre Marcha Fúnebre. Tudo isso contribuiu para que a eletricidade estivesse no ar. Mas talvez o melhor seja passar a palavra para a Elena, que não tinha tido ainda muito contato com Pollini, enquanto que eu o conheço desde os anos 70, chamo-o de deus no PQP Bach e considero-o um dos maiores artistas vivos de nosso planeta, tão vulgar. No intervalo, após uma série de Chopins, a Elena já me dizia: “Ele tem altíssima cultura musical e concisão. Enquanto o ouvia, pensava em diversas formas de reciclagem: ecológica, emocional, psíquica… Sua interpretação é a de um asceta que pode tudo, mas demonstra humildade e grandeza em trabalhar apenas para a música. Pollini não fica jogando rubatos e efeitos fáceis para o próprio brilho, mas me fez rezar e chorar. Que humanidade, que sabedoria! Depois desse concerto, minha vida não será a mesma”. Foi a primeira vez que vi Pollini em ação, após ouvir dúzias de seus discos. Acho que não vou esquecer da emoção puramente musical — pois ela existe, como não? — de ouvir meu pianista predileto. Para Pollini ser absolutamente fabuloso, só falta o que não quero que aconteça e que já ocorreu com Abbado.
Stravinsky / Chopin / Beethoven / Webern / Liszt / Debussy / Mozart / Bach: The Art of Maurizio Pollini
Three Movements From Petrushka
Composed By – Igor Stravinsky
1-1 Danse Russe: Allegro Giusto 2:32
1-2 Chez Petrouchka 4:18
1-3 Le Semaine Grasse: Con Moto – Allegretto – Tempo Giusto – Agitato 8:28
12 Etudes, Op.25
Composed By – Frédéric Chopin
1-4 No: 1 In A Flat Major: Allegro Sostenuto 2:13
1-5 No: 2 In F Minor: Presto 1:27
1-6 No: 3 In F Major: Allegro 1:53
1-7 No: 4 In A Minor: Agitato 1:41
1-8 No: 5 In E Minor: Vivace 2:56
1-9 No: 6 In G Sharp Minor: Allegro 2:04
1-10 No: 7 In C Sharp Minor: Lento 4:52
1-11 No: 8 In D Flat Major: Vivace 1:04
1-12 No: 9 In G Flat Major: Allegro Assai 0:57
1-13 No: 10 In B Minor: Allegro Con Fuoco 3:58
1-14 No: 11 In A Minor: Lento – Allegro Con Brio 3:32
1-15 No: 12 In C Minor: Molto Allegro, Con Fuoco 2:31
Piano Sonata No: 32 In C Minor, Op.111
Composed By – Ludwig van Beethoven
1-16 Maestoso – Allegro Con Brio Ed Appassionato 8:47
1-17 Arietta: Adagio Molto Semplice E Cantabile 17:22
Variations For Piano, Op.27
Composed By – Anton Webern
1-18 Sehr Maassig 1:53
1-19 Sehr Schnell 0:40
1-20 Ruhig Fliessend 3:26
2-1 Polonaise In F Sharp Minor, Op.44 – Tempo Di Polacca-Doppio Movimento, Tempo Di Mazurka-Tempo I
Composed By – Frédéric Chopin
10:51
2-2 Polonaise In A Flat Major, Op.53 “Heroic” – Maestoso
Composed By – Frédéric Chopin
7:02
Piano Concerto No: 5 In E Flat Major, Op. 73 “Emperor”
Composed By – Ludwig van Beethoven
Conductor – Karl Böhm
Orchestra – Wiener Philharmoniker
2-3 Allegro 20:28
2-4 Adagio Un Poco Mosso – Attaca 8:02
2-5 Rondo: Allegro 10:15
2-6 La Lugubre Gondola I, S200 No: 1
Composed By – Franz Liszt
4:04
2-7 R.W. – Venezia, S201
Composed By – Franz Liszt
3:45
Preludes, Book 1
Composed By – Claude Debussy
2-8 VI: Des Pas Sur La Neige. Triste Et Lent. 3:45
2-9 Vii: Ce Qu’A Vu Le Vent D’Ouest. Anime Et Tumultueux. 3:06
2-10 X: La Cathedrale Engloutie Profondement Calme 6:10
Piano Concerto No: 24 In C Minor, K. 491
Cadenza – Salvatore Sciarrino
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart
Leader – Maurizio Pollini
Orchestra – Wiener Philharmoniker
3-1 Allegro 12:33
3-2 Larghetto 8:12
3-3 Allegretto 9:23
The Well-Tempered Clavier, Book 1 – “Prelude And Fugue In C Sharp Minor”, Bwv 849
Composed By – Johann Sebastian Bach
3-4 Praeludium IV 2:43
3-5 Fuga IV 4:48
The Well-Tempered Clavier, Book 1 – “Prelude And Fugue In G Major”, Bwv 860
Composed By – Johann Sebastian Bach
3-6 Praeludium XV 0:57
3-7 Fuga XV 2:52
Piano Concerto No: 1 In E Minor, Op. 11
Composed By – Frédéric Chopin
Conductor – Jerzy Katlewicz
Orchestra – Warsaw Philharmonic Orchestra*
3-8 Allegro Maestoso 16:10
3-9 Romance: Larghetto 9:44
3-10 Rondo: Vivace 9:32
Conductor – Jerzy Katlewicz (faixas: CD 3 (8 to 10)), Karl Böhm (faixas: CD 2 (3 to 5))
Orchestra – Warsaw Philharmonic Orchestra* (faixas: CD 3 (8 to 10)), Wiener Philharmoniker (faixas: CD 2 (3 to 5); CD 3 (1 to 3))
Piano – Maurizio Pollini (faixas: All Tracks)