Recebi uma pasta musical que prometia – Concerto para Piano No. 2 de Brahms mais as Quatro Peças para Piano, op. 119 – um total de oito arquivos na pasta, um disco virtual com oito faixas, quatro do concerto e as outras quatro, das lindas peças. O selo holandês Brillant não é assim, uma Brastemp, mas traz ótimas gravações e oferece muitas outras possibilidades além do que costuma ser gravado de novo e de novo. A pianista Karin Lechner pode não ser muito conhecida, mas foi protegida de Martha Argerich e isso não costuma acontecer por nada. A expectativa pelo disco era alta, mas ao colocar para tocar a música que surgiu foi bem outra. Escondidas atrás das informações sobre a música de Brahms estava um recital para piano, música do período romântico. Pois a deliciosa dúvida imediatamente se pôs – o que e quem estaria tocando? Até parecia um desafio do PQP Bach.
As quatro primeiras faixas eram familiares, melodias bem conhecidas, mas eu não conseguia exatamente descobrir o que estava tocando. Depois de uma segunda audição, algumas cascatas de notas começaram a se revelar. Busquei a confirmação comparando com arquivos do meu acervo (atividade bem divertida) e assim surgiu o primeiro nome – Gnomenreigen, de Liszt. Eu confesso não ter muita paciência com Liszt, mas não faz muito tempo postei dois discos de Murray Perahia e lá estava a confirmação. Daí para descobrir que a faixa quatro era a Valsa Mefisto foi um pulo, pois ela também estava num disco que havia ouvido há pouco, um disco com valsas gravado pelo pianista Vassilis Varvareso. A terceira faixa foi a que mais me iludiu. Eu achava que poderia ser um noturno de Chopin, mas não conseguia nenhuma coincidência. Fui para outra parte do disco e duas faixas descobri de cara. Schubert, Impromptu, só faltou verificar qual deles. O disco mais a mão era uma gravação de Marc-André Hamelin. Logo em seguida a faixa oito, a Primeira Balada de Chopin, linda, como interpretada por Nobuyuki Tsujii. Fui dormir com o placar empatado, quatro a quatro. No outro dia, cedo, outra faixa logo se revelou, Arabesco de Schumann, como não percebi antes? Lá estava a prova, no disco do Fabrizio Chiovetta. Mas essas vitórias empalideciam quando eu pensava na terceira faixa, tão perto, mas tão distante. Dei tratos à bola, mas nada… Neste ponto me ocorreu algo, e você pode até dizer que foi golpe baixo, mas a curiosidade me aguçava e então, apelei: Google Search – Pesquisar uma música – e a peça revelou-se o Sonho de Amor, de Liszt. Como não pude ver antes? Como dizem os gringos, I was barking to the wrong tree, pensando que pudesse ser algo de Chopin. Aí o recital se revelou por inteiro. A primeira peça, o outro estudo de Liszt, também gravado pelo Perahia, Ruídos da Floresta, e a quinta faixa, outra famosíssima, Les Jeux d’eau à la Villa D’Este, que tenho tocada pelos dedos de outro grande pianista, Pierre-Laurent Aimard. De posse do programa, faltava descobrir o pianista, mas com a lista dos nomes das peças, não foi difícil localizar. O Google logo deu o serviço, a pianista é a ótima Klára Würtz, que já teve discos aqui por mim postados, num disco do mesmo selo Brillant, com o sugestivo nome ‘Música Romântica para Piano’. O tal disco da Klára tem, na verdade, mais duas faixas, outra de Chopin, a lindíssima Barcarolle, e uma peça virtuosística de Debussy, L’isle joyeuse. Eu já havia montado um disco paralelo com as peças interpretadas pelos outros pianistas, que havia usado como referência para confirmar as peças do disco misterioso. Gostei tanto da atividade que resolvi postar assim, o romântico recital de Klára Würtz e depois, tudo de novo, com os outros intérpretes. Fica com você ouvir tudo e depois me contar do que gostou mais…
Franz Liszt (1811 – 1886)
Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
Liebestraume, S. 541 / R. 211
Valsa Mefisto No. 1
Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este
Franz Schubert (1797 – 1828)
Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior
Robert Schumann (1810 – 1856)
Arabeske em dó maior, Op. 18
Frédéric Chopin (1810 – 1849)
Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23
Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60
Claude Debussy (1862 – 1918)
L’isle joyeuse
Klára Würtz, piano
Klara Würtz
Disco Paralelo
Franz Liszt (1811 – 1886)
Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
Murray Perahia, piano
Liebestraume, S. 541 / R. 211
Nobuyuki Tsujii, piano
Valsa Mefisto No. 1
Vassilis Varvareso, piano
Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este
When chosen Gramophone’s Pick of the Month (May 2022), the review sums up: “Würtz’s performances have disarming freshness which throws our listening emphases away from her and back on to the music.” The Hungarian-born pianist Klára Würtz is based in The Netherlands and is best known for her numerous recordings on Brilliant Classics.
O mundo da música clássica tem uma paixão quase esportiva por concursos, já há muitas e muitas décadas. Jovens músicos foram alçados ao estrelato e carreiras foram feitas a partir de premiações em competições internacionais. Em meio a essa mitologia, um dos mais tradicionais e prestigiosos quando se trata de pianistas é o Concurso Internacional Tchaikovsky, que acontece a cada quatro anos em Moscou e São Petersburgo desde 1958. Depois meses antes de Bellini se tornar o primeiro brasileiro a erguer a Jules Rimet, Van Cliburn arrebatou o prêmio em Moscou, aos 23 anos.
Ao centro, a partir da esquerda: Ashkenazy, o premiê soviético Nikita Kruschov e Ogdon
A edição seguinte, em 1962, ficou marcada por um empate entre dois jovens, futuros titãs, mas que já experimentavam ali algum sucesso internacional: o russo Vladimir Ashkenazy, 24 anos, e o inglês John Ogdon, 25. O júri tinha gente do mais alto calibre: além do presidente Emil Gilels, estavam nomes como Nadia Boulanger, Lev Oborin, Yakov Flier e a nossa dame Magdalena Tagliaferro. A Guerra Fria estava, como dizem os jovens hoje em dia, torando – o episódio que ficou conhecido como Crise dos Mísseis, em que o planeta quase foi pro beleléu, estava logo ali na esquina: aconteceu em outubro daquele ano.
Nadia Boulanger e Emil Gilels julgando pacas
Este disco traz as gravações das finais do concurso. Ashkenazy interpreta duas peças do padroeiro do concurso, ele mesmo, Piotr Ilyich Tchaikovsky: o Concerto para Piano nº 1, em si bemol menor, op. 23 e Dumka, op. 59. Já Ogdon optou por duas peças do húngaro Franz Liszt: O Concerto para Piano nº 1, em mi bemol maior, e a Valsa Mefisto nº 1.
O encarte do disco traz um interessante relato de Ashkenazy, pinçado de sua autobiografia Beyond Frontiers, de 1984, escrita em parceria com o tycoon de agenciamento de artistas eruditos Jasper Parrott:
“Eu disse [ao Ministro da Cultura] que não queria participar, sobretudo porque não era o meu tipo de música. Eles responderam: ‘Como assim? Como você pode dizer que Tchaikovsky, nosso grande compositor russo, não é o seu tipo de música?’ Então, no fim, eu tive que engolir minhas palavras – simplesmente não havia maneiras de fazê-los entender que um artista pode ser mais adequado para tocar, digamos, Beethoven que Tchaikovsky…
De todo modo, eu ainda era muito jovem e acostumado a aceitar que na União Soviética você não resiste por muito tempo à pressão que vem de cima se você não quer a sua vida arruinada das mais diferentes formas. Por fim, como esperava-se tanto de mim, foi difícil não aceitar o desafio: ainda que não fosse a competição certa para que eu mostrasse o meu melhor trabalho.
Mas, ainda que eu não tenha gostado da competição por causa de todas as pressões artificiais e musicais, assim que eu ouvi a maioria dos outros competidores eu realmente senti que tinha mais a dizer. Mas ganhar o primeiro prêmio era outra história. Até porque, no fim, ganhar depende muito de como você toca naquele dia em particular, e com toda a atenção voltada para o concerto em si bemol menor de Tchaikovsky na rodada final, o resultado era especialmente incerto. Para tocar toda aquela bravura, que eu na verdade detestava, você tem que crer de forma apaixonada além de ter o ‘equipamento’. E aquele tipo de tocar oitavado realmente não era o meu negócio – aquilo era pra John Ogdon, Van Cliburn e Horowitz.”
Ogdon realmente esmirilhava nas oitavas, mas era muito mais do que isso: foi um estupendo intérprete de Liszt, e esse disco mostra o brilho incandescente e vigoroso de seu pianismo. Também gravou alguns compositores menos óbvios, como Carl Nielsen e Charles-Valentin Alkan. Discípulo de Egon Petri, Ogdon teve sua carreira e sua vida tragicamente abreviados por uma esquizofrenia aguda, vindo a falecer precocemente em 1989, aos 51 anos.
Senhoras e senhores, sem mais delongas, apertem os cintos, pois vamos voar para Moscou, 1962. счастливого пути!
ps: Se alguém quiser brincar de jurado, a caixa de comentários está aberta e pitacos são muito bem vindos. Quem você premiaria?
1962 International Tchaikovsky Competition – The Draw
Piotr Ilyich Tchaikovsky (1840-93)
Concerto para Piano nº 1, op. 23, em si bemol menor 1. Allegro non troppo e molto maestoso; Allegro con spirito
2. Andantino semplice; Prestissimo
3. Allegro con fuoco
4. Dumka, op. 59 (“Scene from Russian country life”)
Vladimir Ashkenazy, piano
Orquestra Sinfônica Estatal da URSS
Konstantin Ivanov, regência
Franz Liszt (1811-86)
Concerto para Piano nº 1, em mi bemol maior 5. Allegro maestoso
6. Quasi adagio
7. Scherzo
8. Finale: Allegro marciale animato
9. Valsa Mefisto nº 1 (“A dança na estalagem”)
John Ogdon, piano
Orquestra Sinfônica Estatal da URSS
Victor Dubrovsky, regência
Cécile Ousset, pianista francesa, nascida em Tarbes, França, 1936.
Cécile Ousset é destas pianistas com imensa verve musical e domínio técnico. De forma generosa e incansável, ao longo da carreira, entregou-se ao lapidar da interpretação – às novas percepções e possibilidades… E o fez com cuidados de ourivesaria, tanto no repertório solo, quanto nas massas sonoras e grandiloquência dos concertos com orquestra…
Neste sentido, as bases da “escola russa”, realizada com Marcel Ciampi, em Paris, final dos anos 40, lhe proporcionaram vigor e aguçado controle técnico. De resto, personalidade artística e sensibilidade se agregaram à paixão e originalidade…
No “concurso Queen Elizabeth”, 1956, vencido por Vladimir Ashkenazy, a pianista francesa, então com 20 anos, obteve 4° lugar, quem sabe, posição desconfortável para quem almejasse carreira internacional. Mas, se pensarmos que Lazar Berman e Tamas Vasary ficaram em 5ª e 6ª colocação, podemos ter ideia do nível da competição e dimensão da jovem musicista…
Prodígio musical, Cécile Ousset ingressou no “Conservatório de Paris” aos 10 anos e estudou com o pianista Marcel Ciampi, que havia orientado Hephzibah e Yaltah Menuhin… A pianista recordou a técnica de Ciampi: “Meu treinamento era baseado na ‘escola russa’, não na francesa. E o método, então, modelado em Anton Rubinstein, com ênfase em dedos fortes e ombros livres, para garantir precisão e ‘peso de braço’… Quando Ciampi percebeu meus dedos curvados, no clássico estilo francês, ficou horrorizado”… E mudou tudo…
Arthur Rubinstein, pianista polonês (1887-1982)
A estreia profissional de Cécile ocorreu na “salle Gaveau”, Paris, organizada por Arthur Rubinstein, ninguém menos, impressionado com a musicalidade e potencial da pianista. Membro do júri, no concurso “Marguerite Long – Jacques Thibaud”, de 1953, o polonês ficou descontente com o 4° lugar obtido por Cécile Ousset, então, aos 17 anos… E a opinião de Rubinstein, neste caso, foi premiação maior que qualquer classificação…
Finalmente, Cécile Ousset obteria 2° lugar no concurso “Busoni”, 1959, sem vencedor em 1° lugar… E ainda perseguida pelo número quatro, outra 4ª colocação, no concurso “van Cliburn”, 1962, mas sempre entre os primeiros colocados… Tais competições eram e continuam sendo vitrines a projetar solistas e dar início à carreiras internacionais…
A projeção artística de Ousset foi gradual. A partir dos anos 80, após substituir Martha Argerich no “Festival de Edimburgo”, Escócia, os convites aumentaram consideravelmente… E suas gravações ofereciam conjunto soberbo em performances, onde destacavam-se autores românticos e repertório francês – registros de sua amplitude técnica e sensibilidade…
Cécile Ousset, notável pianista, especialmente, no repertório romântico e francês.
Entre público e crítica, em geral, há diversidade de opiniões e muita controvérsia… Mas, Cécile Ousset convida e conduz o ouvinte, seduzindo-o através do fraseado, ritmo e sonoridades – com toque intenso, busca densidade e encantamento. Seus registros de “Alborada del Gracioso” ou “Une barque sur l’océan”, de Ravel, são preciosos… E sua discografia oferece fidelidade estilística, beleza e prazer. “The Musical Times” referiu-se como “pianista estimulante, pelas sonoridades robustas e virtuosismo incontestável”, mas que ia além, “ao buscar cor e clareza”…
Se pensarmos que emotividade e sensorialidade controlam o toque… E que leitura e técnica, passo a passo, permitem descobrir efeitos sonoros e expressivos que, por fim, resultam em concepção poética e musical… Então, imaginem-se os desafios contidos em grandes obras musicais…
“Entre os mais notáveis pianistas da atualidade” – “Financial Times”.
Assim, o pianismo de Ousset é um mundo sonoro a descobrir e encantar-se. E não por acaso, trabalhou com regentes do porte de Simon Rattle – a quem profetizou “brilhante carreira”, em 1985; além de Ghünther Herbig, Rudolf Barshai e Neville Marriner… E com Kurt Masur e a “Gewandhausorchester”, de Leipzig, obteve “Gran prix du Disque” da “Académie Charles Cros”, de Paris, com o “2° concerto para Piano”, de Brahms…
Com renovado interesse, clareza e originalidade emergem de obras amplamente conhecidas, como “La campanella”, de Liszt; ou “Impromptu” op. 31 n°2, de Fauré. Mas, sobretudo, em obras de fôlego e “alto romantismo”, como “Sonata em si menor”, de Liszt; “2ª Ballada” e sonata “Marcha fúnebre”, de Chopin; ou nas desafiantes “Variações sobre tema de Paganini”, de Brahms, revela-se a intérprete soberana…
Capítulo especial ocupa a música francesa, em gravações integrais de Debussy e Ravel… Na imensa riqueza harmônica e variedades de cores e nuances, de “Ce qu’a vu le vent d’ouest”, “Poisson d’or” e “Feux d’Artifice”, de Debussy; ou de “Jeux d’eau”, “Le tombeau de Couperin” e “Valses nobles et sentimentales”, de Ravel…
Também realizou notáveis performances em concertos para piano, marcadas pelo diálogo intenso com os conjuntos orquestrais e pelas sonoridades exuberantes do piano, expertises da “escola russa”, em Tchaikowsky, Grieg, Rachmaninov, Poulenc e Prokofiev; além de peculiar leitura das “33 Variações sobre valsa de Diabelli”, de Beethoven…
Yaltah Menuhin, pianista e poetisa, irmã caçula de Yehudi e Hephzibah Menuhin (1962).
Vocacionada para docência, a partir de 1984, ofereceu “Master Classes” anuais, na vila medieval de Puycelsi, França. E ministrou cursos nos USA, Canadá, Europa, Austrália e extremo Oriente, além de integrar júri em grandes competições internacionais, como “van Cliburn”, “Rubinstein”, “Leeds” e “Queen Elisabeth”…
Pelo dinamismo e contribuição artística, tornou-se patrona honorária do “Yaltah Menuhin Memorial Fund” – memorial à poetisa e pianista Yaltah Menuhin, sediado na Holanda, em apoio à jovens músicos… Problemas de saúde levaram Cécile Ousset encerrar apresentações públicas, em 2006. Atualmente, conta 87 anos, com relevantes discografia e trajetória musical…
Download no PQP Bach
Cécile Ousset deixou belíssimo legado e ganhou abrangente edição da “Warner Classics” – Box com 16 CDs, excetuando-se o “2° concerto para Piano”, de Brahms, com Kurt Masur, que não integra a coleção…
Capa da “Warner Classics”, Box 16 CDs, com acervo completo de Cécile Ousset.
Para download no PQP Bach, seguem três CDs:
CD 07, com obras de Franz Liszt – “Sonata em si menor” e “6 Études d’exécucion transcendante d’après Paganini”, piano solo…
CD 13, com obras de Maurice Ravel – “Valses nobles et sentimentales”, “Jeux d’eau”, “Menuet sur le nom de Haydn”, “Sonatine”, “Pavane pour une infante Défunte”, “Mirroirs”, piano solo…
CD 16, com obras de Maurice Ravel – “Concerto em Sol” e “Concerto para mão Esquerda”, para piano e orquestra, com “Birminghan Symphony Orchestra”, direção de Simon Rattle; e suíte “Le tombeau de Couperin”, piano solo…
1. Áudio youtube “EMI classics” – Claude Debussy, “Images, Book 2” – I. “Cloches à travers les feuilles”; II. “Et la lune descend sur le temple qui fut”; III. “Poissons d’or”, com Cécile Ousset…
2. Áudio youtube “EMI classics” – Francis Poulenc, “Concerto para Piano”, Cécile Ousset com a “Bournemouth Symphony Orchestra”, direção Rudolf Barshai…
Movimentos: I. “Allegretto” – II. “Andante con moto” – III. “Rondeau à la Française”
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“Nesta edição, nossa gratidão e homenagem às mulheres!”
(e ainda: 1ª Balada, 4º Scherzo, Norturnos, 1º Concerto de Liszt…) Chopin: O Aristocrata, o Escultor, o Poeta
Artur Rubinstein (1887-1982)
O Chopin aristocrata Se seu rosto mostrava algumas rugas, se seus cabelos eram prateados, um bom observador teria visto nisso as marcas da paixão e os sulcos do prazer, pois os característicos pés de galinha nas têmporas e os degraus do palácio na testa eram rugas elegantes. Tudo nele revelava os modos do homem que teve muitas mulheres.
Sem exagerar no cheiro, o cavaleiro exalava como um perfume de juventude que refrescava seu ar. Suas mãos de aristocrata, bem cuidadas como as de uma donzela, chamavam a atenção para as unhas rosadas e bem cortadas. Finalmente, sem seu nariz magistral e superlativo, seu rosto seria um tanto infantil.
Se ele tinha a virtude de não repetir seus bon mots pessoais e nunca falar de seus amores, suas graças e seus sorrisos cometiam deliciosas indiscrições. Seu principal vício era o tabaco que tirava de uma velha caixa dourada adornada com o retrato de uma princesa.
Além disso, o Chevalier de Valois redimia seus defeitos por tantas outras graças que a sociedade devia se sentir suficientemente indenizada. Ele se esforçava realmente bastante para esconder seus anos e agradar seus conhecidos. É preciso destacar o extremo cuidado que tinha com suas camisas de linho, sempre brancas, limpas e de uma fineza aristocrática. Quanto ao paletó, embora notavelmente limpo, era sempre usado, mas sem manchas.
O digno fidalgo, que jantava fora todos os dias e voltava na hora de se deitar. Seu único gasto com alimentação era, portanto, pela manhã: uma taça de chocolate acompanhada de manteiga e de frutas da estação. Ele só acendia a lareira nos invernos mais pesados, e somente de madrugada. Nas mesas de jantar mais distintas de Alençon ele era um convidado permanente. Seus talentos como jogador de baralho, contador de histórias e boa companhia eram apreciados: os donos das casas tinham necessidade do seu olhar de aprovação. Quando uma mulher ouvia o chevalier dizer em um baile: “a senhora está adoravelmente bem vestida!”, ela ficava mais alegre com este elogio do que com o desespero de sua rival.
(Trechos de La Vieille Fille [A Solteirona], por Honoré de Balzac, 1836)
A mãe de Chopin era uma senhora de origem aristocrática, mas de uma família sem dinheiro, de modo que se viu obrigada a trabalhar (expressão que aristocratas pronunciam como uma das maiores desgraças possíveis). Já George Sand, maior amor da vida de Chopin, não apenas tinha sangue nobre – era prima distante dos reis da França – como também era herdeira de uma charmosa casa no norte de Paris (atual Musée de la vie romantique) e de uma casa de campo em Nohant. Ou seja, Chopin esteve nesses meios de aristocratas com um sabor de ruína do passado que, na obra de Balzac, parece sempre prestes a ser varrida pelo capitalismo (tudo que é sólido desmancha no ar, escreveu um leitor atento de Balzac).
Rubinstein às vezes era descrito como um pianista aristocrático, o que talvez queira dizer que ele seguia apenas seus caprichos. Mais fiel ao espírito do que ao texto de Chopin, portanto, embora ele também não esbofeteie o texto e mantenha, sobretudo, sempre as boas maneiras, transgredindo sem perder a elegância. Reparem, por exemplo, a partir dos 5min45s do movimento lento central, uma cascata de notas descendentes que normalmente os pianistas fazem mais lenta e suave, mas Rubinstein faz rápida, como quem sorri e diz: me deu vontade. (A partitura é dúbia quanto ao andamento, expressando apenas o estado de espírito: “legatissimo dolcissimo”).
No fundo, estamos falando menos do suposto sangue azul e mais de um tipo de atitude aristocrática, uma forma imaginária de se existir no mundo, pois há também gente de linhagem nobre fazendo as manobras mais baixas como as do Princípe Andrew, filho mais novo da Rainha Elizabeth II, que conseguiu abafar todas as investigações sobre estupro de uma menor de idade.
Em Edinburgh, Escócia, durante o cortejo fúnebre do caixão da finada rainha, um jovem gritou que Andrew era um velho doente (aqui o vídeo), em seguida o jovem foi colocado no chão por policiais, preso e processado. Assim agem alguns aristocratas da vida real, mas a aristocracia expressa na música de Artur Rubinstein (como já em 1840 na de Balzac) era mais um personagem da ficção, um estereótipo como os da commedia dell’arte, ou o “núcleo rico” de uma novela da Globo sempre ao som de bossa nova.
Claudio Arrau (1901-1991): Tela sob carvão
O Chopin escultor
A cadeira onde Balzac escrevia (sua casa é o atual Museu Balzac, em Paris) – o busto atrás é de 1844 por David d’Angers
Articular o passado historicamente não significa conhecê-lo “tal como ele propriamente foi”. Significa apoderar-se de uma lembrança tal como ela lampeja num instante de perigo. (Walter Benjamin, Teses sobre o conceito de História)
Claudio Arrau foi descrito como um pianista-filósofo por alguns críticos, e não discordo desse adjetivo. Porém, lembrando que na Grécia Antiga e em tantos outros lugares os filósofos – como os aristocratas – evitavam qualquer tipo de trabalho braçal, me parece mais adequado descrever o que Arrau faz aqui com os concertos de Chopin (2º) e de Liszt (1º) a partir da metáfora do escultor.
Distante do ar despreocupado de Rubinstein, Arrau parece preocupadíssimo em não deixar de sublinhar nenhuma intenção do compositor. Enquanto Rubinstein parece estar improvisando melodias que ele conhece desde o berço, Arrau parece estar talhando o relevo melódico e harmônico na pedra ou na madeira, com esforço evidente. A tensão em diversos momentos é fortemente romântica, acompanhada por uma orquestra com gestos grandiosos.
Arrau parece ir apontando para que o ouvinte não perca nada de importante: “veja, aqui Chopin cria tensão para depois afrouxar, ali Chopin abunda em brilho com essa cascata de notas agudas” – a que mencionamos alguns parágrafos acima, Arrau a executa de forma doce, rigorosa e sempre atenta a partir dos 6min13s.
Daniel Barenboim, em entrevista com Joseph Horowitz, disse sobre o então veterano pianista: “quando Arrau toca, uma das forças que conduzem a música é a tensão harmônica. Bem mais do que a beleza melódica de uma frase; mais ainda do que a pulsão rítmica. (…) Quando ele toca acordes, eles soam sempre tão cheios e equilibrados de forma que ouvimos tudo: não só as notas de cima e as de baixo.”
O Arrau que Barenboim conheceu era o grande mestre que trazia conhecimentos de tempos idos. Mas quando Arrau começava sua carreira, na Alemanha, a maior parte do público e dos pianistas considerava a música de Chopin apenas agradável, charmosa. Os sérios alemães não sabiam bem que estatuto dar a um compositor que se abstém da música de câmara e orquestral. O agrado fácil ao público nunca foi a ambição do artista Arrau: ele argumentaria que, uma vez tendo superado seu medo inicial de desagradar ao público, o artista deve desenvolver em seguida o medo de agradar.
Aprendendo, ao longo dos anos, a ver em Chopin música pura e abstrata, e não apenas música de salão, Arrau se afastou da dança que é o pretexto, ao menos nominal, de tantas de suas obras – Valsas, Polonaises, Mazurkas. É a harmonia, não o ritmo, o essencial em suas gravações que, como apontado por Benjamin, buscam menos recriar o mundo de Chopin “tal como ele propriamente foi”, mas sobretudo recriar as lembranças em um mármore, granito ou madeira, dando cores e texturas grandiosas às intenções e tensões do compositor.
Maria João em Belgais, Portugal (março/2020)
O Chopin poeta
Se Arrau é como um escultor que, com suas ferramentas, dá vida ao espírito que Chopin deixou preso nas partituras, Pires se comporta um pouco como atriz e sobretudo como poetisa. Como diria o Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
Pires, portanto, encarna as expressões de Chopin quando vai ligando as notas como se fossem palavras, sempre com um ar de facilidade, que é pura interpretação: para ela, com suas mãos pequenas, quase nada lhe é fácil de tocar, mas ela nos engana deliciosamente. A cascata aguda que já mencionamos, Pires também toca de forma delicadíssima como manda a partitura, aos 6min15s do movimento lento.
Em 2019 as plateias em São Paulo e Belo Horizonte tiveram o provilégio de ouvir Pires tocar uma monumental, equilibrada sonata op. 111 de Beethoven e uma finíssima seleção de noturnos de Chopin: os três do op. 9 (escritos em 1830-32), os dois do op. 27 (1835) e o nº 1 op. 72 (1827-29). Do ponto de vista formal, os noturnos não são tão exigentes quanto Beethoven, é verdade. Mas o seu melodismo poético talvez não encontre paralelos na história da música. E se o público já estava dominado pelo Beethoven, aqui foi uma elevação. A interpretação de Maria João Pires, seu senso de agógica, sem nenhum maneirismo, atinge um grau de expressão artística raro mesmo entre os grandes músicos da atualidade.
(palavras de Nelson Rubens Kunze)
E também temos as palavras da poeta ou poetisa, pois no libreto dessa gravação ao vivo na Polônia, Maria João Pires se solta em uma longa entrevista: “Eu amo os dois concertos e nunca deixo de tocá-los. Também gosto das outras obras de Chopin para piano e orquestra. E ao contrário daqueles que criticam sua habilidade de orquestração, eu acho que há também muita beleza nas partes orquestras dos concertos. Ambos são cheios de mágica, cheios de sonhos…”
“O que eu mais amo na música de Chopin é sua impermanência: ali, nada é fixo para sempre, nada é definitivo. Como na vida. Tudo muda. Normalmente as pessoas gostam de um sentimento de segurança. Não querem aceitar o fato de envelhecerem, adorariam manter suas posses, viver para sempre, mas para mim ser permanente e possessivo é contra a natureza transitória de nossa existência. E Chopin nos dá a maior lição nesse aspecto, pois nos mostra como aceitar a impermanência da vida. Nesse sentido ele é o maior dos poetas entre os músicos.”
Frédéric Chopin:
1-3. Piano Concerto No. 2, in F minor
4. Ballade No.1 in G minor Op. 23
5. Mazurka in C minor Op.56 No.3
6. Scherzo in E major Op.54
7-9. Etudes Op.10 No.6, 8, 9
10-11. Grande Polonaise brillante précédée d’un Andante spinato, Op.22
Artur Rubinstein, piano
Philharmonia Orchestra
Carlo Maria Giulini, conductor
Recorded: Royal Festival Hall, London, 16 May 1961 (Concerto), Concert Hall, Broadcasting House, London,6 Oct. 1959 (Solo Piano)
1-3. Frédéric Chopin: Piano Concerto No. 2, in F minor
4-7. Franz Liszt: Piano Concerto No. 1, in E flat major
Claudio Arrau, piano
Danish National Symphony Orchestra
Conductor: Miltiades Caridis.
Recorded: Radiohuset’s Concert Hall, 25 Nov. 1967
Frédéric Chopin:
1-3. Piano Concerto No. 2, in F minor
4-10. Nocturnes Op.9 (No. 1-3), Op.27 (No. 1-2), Op.48 (No. 2), Op. posth. (Lento con gran espressione)
Maria João Pires, piano
Sinfonia Varsovia
Christopher Warren-Green, conductor
Recorded: Warsaw, 29 aug. 2010 (Concerto), 29 aug. 2014 (Nocturnes)
Entre 1973 e 1989 os colecionadores de LPs e, posteriormente CDs, especialmente aqueles que apreciavam música para piano, puderam colecionar uma série de ótimos discos, lançados pelo selo CBS Masterworks e, posteriormente Sony. Eram álbuns trazendo o solista Murray Perahia, que ficava melhor a cada disco, mas sempre em repertório bastante clássico: Schumann, Chopin, Schubert, Mozart (a série de Concertos para Piano, com a ASMF). Havia também Mendelssohn (incluindo os Concertos para Piano) e, um pouco depois, Beethoven. Algumas Sonatas para Piano e a série dos Concertos para Piano, acompanhado pela Orquestra do Concertgebouw, regida por seu titular – Bernard Haitink. Além desses, esporádico Bartók, um Quarteto com Piano de Brahms, com o Quarteto Amadeus, e a dobradinha de Concertos para Piano de Schumann e Grieg. Aqui, a Orquestra da Rádio Bávara regida por Sir Colin Davis.
Este fluxo de belezuras, que seguiria depois com mais outras maravilhas, como o disco das Baladas de Chopin, o das Sonatas para Piano de Mozart, e de algumas tantas parcerias, foi turbilhonado em 1990 e 1991 por dois discos fora da curva – não em qualidade técnica ou beleza sonora, mas sim na escolha do repertório. Em 1990 foi lançado o disco The Aldeburgh Recital, com as Variações em dó menor, de Beethoven, o Carnaval de Viena, de Schumann e … tá dam… Liszt e Rachmaninov. E em 1991, um disco com o Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck e mais Liszt. Muito bem, são estes os discos da postagem.
Depois, o fluxo retomou sua regularidade, com bons discos de parcerias. Aliás, quando se juntava em parceria era sempre de nível excelente – Sir Georg Solti e Radu Lupu, ao piano, acompanhou Dietrich Fischer-Dieskau em uma gravação do Winterreise, o remake do Concerto de Schumann, agora com Claudio Abbado regendo a Berliner Philharmoniker. Aí vieram os discos com música mais antiga. Primeiro o maravilhoso álbum com música de Handel e Scarlatti, depois Bach – Suítes Inglesas, Variações Goldberg, Concertos para Piano, Partitas! Ah, as Partitas! E, para não dizer que tenha deixado de lado os clássicos, um e outro disco de Beethoven (ainda na Sony), o espetacular disco dos Estudos de Chopin e o tremendo disco com música de Brahms – Variações sobre um tema de Handel. Houve a mudança de casa, as Suítes Francesas, de Bach, inaugurando o selo amarelo, e finalmente o disco com a Hammerklavier e a Ao Luar. A qualidade sempre muito alta, mas os hiatos passaram a ser grandes – houve o ferimento no dedo com as complicações que seguiram. Mas essa lengalenga toda é para enfatizar o quanto os dois discos desta postagem são estranhos no ninho. A música de César Franck, Rachmaninov e Liszt não mais voltaram a frequentar os discos de Murray Perahia. Como essas peças foram para aí? A resposta tem a ver com Vladimir Horowitz.
Murray Perahia tinha 17 anos quando Horowitz bateu na porta de sua casa e disse: Poderia falar com o Sr. Perahia? Murray respondeu: Vou chamar meu pai. Não, respondeu Volodya, eu quero falar com Murray Perahia. Eu sou o Sr. Horowitz. O jovem Perahia ainda não havia realmente entendido de quem se tratava. A casa ficava em Nova Iorque, no bairro do Bronx, com muitos judeus. Todo o mundo se chamava Horowitz lá, disse Perahia na entrevista em que contou esta história.
Murray Perahia ainda não havia se decidido completamente pela carreira de pianista e enrolou. Horowitz esperou mais treze anos para finalmente aproximar-se de Murray Perahia, ganhar a sua amizade e tornar-se seu professor. Neste tempo, ele já era famoso e tinha uma carreira estabelecida. Era o pouco que faltava para definitivamente estabelecer Perahia como o pianista especialíssimo que ele tem sido.
Sobre essa experiência, Murray disse: Nós exploramos o piano ‘virtuoso’. Quando se aprende as cores que o piano pode oferecer, se descobre também o escopo do que se pode alcançar ao tocar o piano.
Horowitz lhe disse: Se você quer ser mais do que um virtuoso, primeiro você precisa se tornar um virtuoso!
Creio que esses dois discos são resultado dessa experiência, de chegar lá e depois ir além…
BD: Do you play differently for the microphone than you do for a live audience?
MP: I think yes. There’s an excitement that goes into a live concert that’s very hard to capture in a recording. Sometimes it works; sometimes it goes. It’s not to say that it’s impossible, but I do find that it’s different to play for an audience.
Traduttore – traditore, diria Umberto Eco, um autor largamente traduzido e um tradutor extremamente prolífico. Quando alguém traduz, precisa inventar, recriar, e, portanto, trair. Mas não fossem as traduções, quantas obras-primas ficariam restritas aos seus espaços culturais de origem? Não resisto a fazer um paralelo entre a literatura e a música e, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu com Johann Sebastian Bach.
Fico imaginando a avidez com que ele deve ter devorado as partituras de músicas italianas e francesas – Vivaldi e tantos outros – levadas pelo príncipe Johann Ernst, sobrinho do Duque de Saxe-Weimar, para esta corte, em sua visita por lá, por volta de 1713, após viajar pela Bélgica e Holanda.
Bach e seu amigo Telemann seguiam o conceito de imitatio e aemulatio,o princípio da imitação inicial, passando então a um estágio de desenvolvimento que buscava superar a imitação – vide o Concerto Italiano.
Bach começou a copiar as obras italianas e ao mesmo tempo passou a arranja-las, transcrevê-las para os seus próprios instrumentos – o cravo e o órgão.
Isso certamente legitima todos os compositores, maiores e menores, que se debruçaram sobre suas obras e as estudaram e as transcreveram, relendo-as segundo suas próprias perspectivas artísticas e seus próprios talentos. Com isso, as tornaram ainda mais acessíveis e as disponibilizaram para um público maior.
Algumas peças de Bach – a Chaconne da Partita em ré menor para violino eu conheci primeiro na transcrição feita por Ferruccio Busoni, para piano, peça que abre este disco. Algumas transcrições são mais traidoras, assim como esta Chaconne de Busoni, que parece maior, mais tonitruante, do que a peça original, para violino solo. Mas, quem sabe se essa mesma não seria uma transcrição de uma peça ainda mais anterior, para órgão?
Capitão Nemo verificando se a afinação do órgão estava adequada…
Outras guardam mais a singeleza do original, como ocorre nas transcrições feitas por Dame Myra Hess (Jesus, Alegria dos Homens…) e pelo incansável Wilhelm Kempff (Siciliano). Se o seu coração não se derreter com As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, transcrição de Christopher Le Fleming, pode ir correndo fazer um exame no cardiologista mais próximo, pois que ele se transmutou em pedra.
A Suíte de Rachamaninov, arranjada de três peças da Partita em mi maior, vai surpreender muita gente, que associa este compositor aos arroubos românticos e acordes inalcançáveis.
E para arrematar, imagine o Capitão Nemo, tendo que ficar alguns dias em um porto, sem poder se deliciar com os sons do órgão, esperando uma completa revisão no Nautilus. É claro, ele alugaria um flat com um piano e atacaria a Toccata e Fuga em ré menor, na transgressão de Ferruccio Busoni, assim como está na peça que arremata o disco.
Este é um entre muitos discos com transcrições das obras de Bach para piano que tenho ouvido. Pretendo postar alguns mais, acrescentando mais insultos à esta injúria… O pianista da vez é inglês e bem conhecido por suas gravações das obras de Ravel, Debussy e Scriabin. Ele é atualmente professor do Royal College of Music de Londres.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Transcrições:
Ferruccio Busoni (1866 – 1924)
Chaconne da Partita em ré menor para violino, BWV 1004
Prelúdio Coral BWV645 ‘Wachet auf, ruft uns die Stimme’
Prelúdio Coral BWV659 ‘Nun komm, der Heiden Heiland’
Gordon Fergus-Thompson no Salão de Pianos do PQP BachLord Berners mostrando para a equipe do PQP Bach o piano no qual fez sua transcrição…
De todos os transcritores deste disco, de longe, o mais impressionante, não por sua obra, mas por sua excentricidade, é Lord Berners. Como não sou de dar spoiler, espero que você faça o dever de casa e descubra por você mesmo…
O piano brasileiro perde uma brilhante intérprete: a carioca Diana Kacso, que marcou sua trajetória por especial interesse no repertório romântico. Neste 1º de março, próximo passado, aos 68 anos, veio a falecer, após enfrentamento de câncer… Formada no “Conservatório brasileiro de Música”, Rio de Janeiro, com Elzira Amábile, 1971; e, mais tarde, na “Juilliard School”, de Nova York, com Sascha Gorodnitzski, 1972/75, Diana optou por fixar residência nos EUA…
Ao longo da carreira, realizou recitais no “Carnegie Hall”, de New York; no “Concertgebouw”, de Amsterdam; e no “Queen Elizabeth Hall”, de Londres, além de diversas programações para rádio e TV… E como solista, em cocertos com a “London Players” e as filarmônicas de Munique, Israel e Londres; nos USA, Europa e Ásia...Destacaram-se também trabalhos em música de câmara, com Nancy Green (cello), Jennifer Devore (cello), e Rosemary Glyde (violista)…
Diana Kacso – finalista no “Concurso Chopin”, Varsóvia, 1975.
Premiada em diversos concursos, nacionais e internacionais, obteve 6º lugar no “Concurso Chopin”, de Varsóvia, 1975, quando Krystian Zimermann foi 1º colocado; 2º lugar no “Concurso Rubinstein”, de Tel Aviv, 1977; e 1º lugar no “Concurso de Viña del Mar”, Chile, 1978… Após inicio promissor, Diana priorizou a vida familiar, além de dedicar-se a movimentos pela causa animal. Assim, por 20 anos, evitou intensificar a carreira internacional e dedicou-se ao ensino… Sua musicalidade e apresentações, no entanto, eram marcantes e sua presença nos palcos, solicitada!
Diana Kacso – segunda à esquerda, entre os seis finalistas do “Concurso Chopin”, 1975, com Krystian Zimermann, 1º colocado, à direita.
Entre os apreciadores do piano, muito se fala em intérpretes que, francamente, exploram o virtuosismo mais técnico, e aqueles que, pela musicalidade, invariavelmente, priorizam a expressividade… Diana Kacso buscava certo equilibrio, entre vigor e expressividade… A partir de 2006, esteve diversas vezes no Brasil, para rever amigos, realizar masterclasses e também recitais, na “Sala Cecília Meireles”, Rio de Janeiro; e nos “Conservatório de Tatuí” , “OSMC de Campinas” e “Festivais de Campo do Jordão”, em São Paulo…
E, entre os registros que permanecem, suas interpretações da “Sonata em si menor”, de Liszt, da “Polonaise-Fantasie” ou da “Ballada em fá menor”, de Chopin, são reveladoras da leitura acurada, personalidade e amplo domínio técnico… Uma grande artista, cujas qualidade e musicalidade ficam nos poucos registros fonográficos que realizou…
Após atuação no “Concurso de Leeds”, Inglaterra, 1978, surgiu interesse da gravadora alemã “Deutsche Grammophon”, que resultou na bela gravação com obras de Liszt e Chopin, de 1980…Aos 68 anos, penso, Diana nos deixa precocemente… Ficam a gratidão e carinho por seu trabalho e atuações. E, pelo talento e alto nível artístico, lugar especial na memória e no pianismo brasileiro. Descanse em paz…
Premiações
“Concurso Internacional do Rio de Janeiro” (1976) – 3º lugar “9º Concurso Internacional Chopin” (Varsóvia, 1975) – 6º lugar “Teresa Carreño Concurso Internacional Latino-Americano” (Caracas, 1976) – 1º lugar “Concurso Internacional Artur Rubinstein” (Tel Aviv, 1977) – 2º lugar “Concurso Internacional de Leeds” (Inglaterra, 1978) – 2º lugar “Concurso Internacional de Viña del Mar” (Chile, 1978) – 1º lugar “Concurso Internacional Gina Bechauer” (Atenas, 1982) – 2º lugar
Aos seus alunos, Diana aconselhava: “sobre técnica, a concentração; e sobre o coração, a parte que transmite sentimentos, através da música”…
Em minha modestíssima e insignificante opinião, a russa Yulianna Avdeeva é o grande nome feminino do piano da atualidade, e uma fortíssima candidata a ocupar o trono de Martha Argerich. Seu repertório vai de Bach a Prokofiev sem maiores problemas. Não teme se expor nas redes sociais, a acompanho no Facebook, onde de vez em quando faz postagens muito interessantes sobre as obras que está estudando. Quem tiver tempo livre, procurem no Youtube suas lives sobre o Cravo Bem Temperado. Como boa filha de seu tempo, Avdeeva sente-se perfeitamente a vontade na frente de uma câmera para analisar cada um dos prelúdios e fugas e expor suas dificuldades de interpretação.
Neste CD que ora vos trago, temos obras de três compositores bem diferentes. Começando com a maravilhosa ‘Fantasia in Fá Menor, op 49’, de Chopin, que já trouxe em outra ocasião com a mesma pianista, mas em outro contexto, gravado ao vivo. Aqui Yulianna está dentro de um estúdio, então temos uma abordagem diferente, mas igualmente de altíssima qualidade, afinal estamos falando de uma vencedora do dificílimo Concurso Chopin de Varsóvia. E isso é para poucos. Para mostrar ainda mais sua versatilidade e talento, ainda temos A Sonata nº6 de Mozart e duas obras de Liszt, incluíndo a dificílima ‘Après Une lecture Du Dante’, um tour de force para a nossa intérprete.
Chopin:
1 Fantasie In F Minor Op.49
Mozart:
Piano Sonata No.6 In D Major K.284
2 Allegro
3 Rondeau En Polonaise. Andante
4 Tema Con Variazione
Liszt:
5 Après Une Lecture Du Dante – Fantasia Quasi Sonata
6 Aida Di Giuseppe Verdi – Danza Sacra E Duetto Finale S.436
Eu costumo ser (muito) hostil a Liszt. Por isso, quando comecei a ouvir e a gostar (muito) deste disco, fiquei surpreso. Fui atrás deste CD por causa da Sonata, uma das poucas obras de Liszt que admiro, mas acabei feliz com tudo o que ele traz. Por falar na Sonata, esta de Hamelin é uma das melhores gravações dela que já ouvi. A complicada obra se desdobra com uma espontaneidade e aparente inevitabilidade que entusiasma. Isso logo após depois da Tarantella de Venezia e Napoli, tocada com uma velocidade e clareza que talvez leve alguns colegas do pianista ao desespero. Não é uma questão de virtuosismo por si só. A rapidez das notas repetidas de Hamelin na Tarantella é quase inacreditável, mas ele mantém a poesia e o refinamento. Mesmo assim, o lugar de honra vai para a Sonata. Bah, que Sonata linda, um Sonatão! Adoro!
Franz Liszt (1811-1886): Peças para Piano e Sonata S178
1)Fantasie und Fuge über das Thema B-A-C-H S529ii [12:36]
2)Bénédiction de Dieu dans la solitude (No 03 of Harmonies poétiques et religieuses, S173) [17:54]
Venezia e Napoli – Supplement aux Années de Pèlerinage seconde volume S162
3) No 1: Gondoliera [5:15]
4) No 2: Canzone [3:06]
5) No 3: Tarantella [9:22]
Sonate “Piano Sonata in B minor” S178
6) Movement 1: Lento assai [11:58]
7) Movement 2: Andante sostenuto [7:55]
8) Movement 3: Allegro energico [1:50]
9) Movement 4: Allegro energico – Più mosso [5:40]
10) Movement 5: Andante sostenuto [3:43]
Os prelúdios de Chopin são obras-primas das variações de humor, alternando entre a alegria, a melancolia e outros sentimentos típicos do romantismo. Os primeiros prelúdios seguem o contraste mais comum entre tom maior (alegre, expansivo, com uma simplicidade quase infantil) e tom menor (lento, calmo). Mas ao longo da obra, a partir do 7º “Andantino” e do 8º “Molto agitato“, as coisas vão ficando mais complicadas e há uma certa inversão de papéis, pois os de tom maior maior vão se tornando mais sutis e lentos – como o prelúdio nº 15, apelidado de gota d’água, e que é de certa forma o centro dramático desse arco narrativo – e os de tom menor vão ficando apressados, tensos, ansiosos, com a agitação nervosa típica de um Schumann, que aliás é o outro grande mestre desse tipo de obra de contrastes.
E na gravação de Daniil Trifonov, esses contrates são exacerbados: acho que nunca ouvi o prelúdio nº 3 “Vivace” tão vivo, ou o 8º e o 22º “Molto agitato” tão agitados por uma certa energia oculta, demoníaca, como bem perceberam Martha Argerich e Gilles Macassar:
O que ele faz com suas mãos é tecnicamente incrível. Mas também o seu toque – tem a delicadeza mas também um elemento demoníaco. – Martha Argerich sobre Daniil Trifonov
Daniil Trifonov dá vida as partituras de Liszt, Scriabin ou Chopin com um virtuosismo nas fronteiras do sobrenatural. – Gilles Macassar, revista Télérama
Em alguns dos prelúdios mais animados e virtuosísticos, Trifonov se apressa enormemente, correndo riscos ao vivo, e dá até a impressão de ser apenas mais um pianista ruso querendo mostrar sua técnica prodigiosa para o público nova-iorquino, que já idolatrou tantos outros pianistas russos… Mas em alguns prelúdios mais introspectivos, Trifonov desacelera e vai a passos lentos, apreciando a paisagem. Por exemplo no prelúdio 21, “Cantabile“, no qual a mão direita deve cantar como em uma ária, ele segue um ritmo bem mais lento que os de Argerich, Nelson Freire ou Rafal Blechacz, tocando com a tranquilidade similar à de Maria João Pires, embora não tão devagar quanto o sui generis Grigory Sokolov – lembrando que este último é bem diferente dos clichês sobre pianistas russos, e não por acaso, faz muito mais sucesso na Europa do que nos EUA.
Assim como Trifonov (3ª e 9ª sonata) e Freire (4ª sonata), que já postei aqui tocando Scriabin ao vivo, Trifonov faz uma interpretação brilhante do compositor russo, com uma certa energia que dificilmente se encontra nas gravações de estúdio. Publicada em 1898, essa sonata tem um pequeno programa escrito por Scriabin:
“A primeira seção representa a calma de uma noite à beira do mar; o desenvolvimento é a agitação do mar profundo. A seção central mostra a lua aparecendo após a escuridão do começo da noite. O segundo movimento representa o oceano agitado em uma tempestade.”
Quero lembrar aqui que Debussy compôs La Mer apenas em 1905, o que mostra uma das várias coincidências entre esses dois compositores que provavelmente se conheceram muito pouco, mas viveram o mesmo ‘espírito do tempo’ (zeitgeist).
A Sonata de Liszt é uma das obras tecnicamente mais difíceis do repertório para piano. Não vou me alongar sobre ela, apenas comentar que – enquanto a 5ª sinfonia de Beethoven supostamente começaria com o destino batendo à porta – Liszt inicia sua obra com uma nota solitária, uma nota sol, com a marcação sotto voce, um sussuro ou, alternativamente, uma chamada no escuro, do tipo: tem alguém aí? Após a sonata marítima de Scriabin, Trifonov inicia essa sonata de Liszt com toda a calma do mundo, deixando o sussuro de Liszt se projetar em meio ao silêncio, como aquelas aves marinhas que cantam em uma só nota em meio ao vento e às ondas, sem saber se alguém vai ouvir. Uma nota é só uma nota e ao mesmo tempo é muito mais.
Alexander Scriabin: Piano Sonata No. 2 In G Sharp Minor Op, 19 “Sonata-Fantasy”
1 Andante 7:05
2 Presto 3:26
Franz Liszt: Piano Sonata In B Minor S 178
3 Lento Assai – Allegro Energico 11:13
4 Più Mosso – Andante Sostenuto 7:37
5 Allegro Energico – Andante Sostenuto – Lento Assai 10:59
Frédéric Chopin: 24 Preludes Op. 28
6 Nr. 1 In C Major 0:38
7 Nr. 2 In A Minor 2:03
8 Nr. 3 In G Major 0:49
9 Nr. 4 In E Minor 1:40
10 Nr. 5 In D Major 0:32
11 Nr. 6 In B Minor 1:51
12 Nr. 7 In A Major 0:47
13 Nr. 8 In F Sharp Minor 1:40
14 Nr. 9 In E Major 1:30
15 Nr. 10 In C Sharp Minor 0:28
16 Nr. 11 In B Major 0:38
17 Nr. 12 In G Sharp Minor 1:11
18 Nr. 13 In F Sharp Major 3:08
19 Nr. 14 In E Flat Minor 0:32
20 Nr. 15 In D Flat Major 5:25
21 Nr. 16 In B Flat Minor 1:04
22 Nr. 17 In A Flat Major 5:58
23 Nr. 18 In F Minor 0:50
24 Nr. 19 In E Flat Major 1:06
25 Nr. 20 In C Minor 1:30
26 Nr. 21 In B Flat Major 2:15
27 Nr. 22 In G Minor 0:40
28 Nr. 23 In F Major 1:06
29 Nr. 24 In D Minor 2:43
Nikolai Karlovich Medtner (1880-1951) (Encore)
30 Skazki Op. 26 – Fairy Tales – No. 2 In E Flat Major 1:25
Daniil Trifonov – piano
Live at Carnegie Hall, New York, USA, February 2013
Bem, meus caros. Eu não sou a pessoa mais indicada para comentar este disco. Sei de sua alta qualidade artística, mas não consegui ouvir até o final. É muito romantismo para meu coração duro e burro. É tudo muito bonito, mas penso que faltam sangue e música, sobrando ornamentos e virtuosismo. Aliás, esta é uma tola opinião (e agressão beócia) pessoal de quem não aprecia o gênero. É claro que o disco é incensado e todos o elogiam, é claro que trata-se de um real consenso, é claro que há poesia e conteúdo sob a técnica vistosa, mas o que posso fazer se não me dou conta deles? Sim, sei: Nelson Freire é um autêntico gênio. É também uma pessoa modesta e inteligente, cujo virtuosismo e sensibilidade são lendários, mas sabe quando é não pra gente? Pois é. Só que jamais deixaria de postar um disco do qual tantos de vocês fruirão sem dar a mínima para PQP Bach. E ele (o disco) está aí.
Franz Liszt (1811-1886): Harmonies Du Soir (Nelson Freire)
2 Etudes De Concert, S.145
1 No.1 Waldesrauschen 04:00
Années De Pèlerinage: 2ème Année: Italie, S.161
2 Sonetto 104 Del Petrarca 05:57
Valse Oubliée No.1 In F Sharp, S.215
3 Valse Oubliée No.1 In F Sharp, S.215 02:45
Ballade No.2 In B Minor, S.171
4 Ballade No.2 In B Minor, S.171 13:43
Années De Pèlerinage: 1e Année: Suisse, S.160
5 Au Lac De Wallenstadt 02:45
Hungarian Rhapsody No.3 In B Flat, S.244
6 Hungarian Rhapsody No.3 In B Flat, S.244 04:25
6 Consolations, S. 172
7 No. 1 In E Major (Andante Con Moto) 01:42
8 No. 2 In E Major (Un Poco Più Mosso) 02:31
9 No. 3 In D Flat Major (Lento, Placido) 04:22
10 No. 4 In D Flat Major (Quasi Adagio) 02:59
11 No. 5 In E Major (Andantino) 02:21
12 No. 6 In E Major (Allegretto, Sempre Cantabile) 02:11
Escrevo este textinho em 12 de junho, Dia dos Namorados, mas ele está programado para ir ao ar lá em 5 de julho, data em que está marcada a segunda dose de minha amada AstraZeneca, além de ser a dia de aniversário de minha mãe — ela faria 94 anos — e daquela pessoa que posso chamar de meu melhor amigo. Todas datas especiais, portanto. O disco do esplêndido Murray Perahia não tem nada a ver com isso. Mas é um bom disco, um disco, antes de tudo, inteligente. Ele explora os vários pontos fortes de Perahia. Estas peças exigem acima de tudo a capacidade de projetar e sustentar uma linha de canto, de moldar e dar forma a um som belo e cheio de nuances e de evocar a atmosfera de cada inspiração poética. Em suma, eles exigem um pianista com a sensibilidade e o temperamento de Perahia. Os Prelúdios Corais de Bach/Busoni são tocados com andamentos inteiramente naturais, não tão fúnebres como Nikolai Demidenko, mas nunca permitindo que os acompanhamentos, por mais floreados que sejam, soem apressados ou agitados. Na seleção de canções de Mendelssohn, Perahia jamais chafurda nas peças mais lentas — um pecado comum em pianistas que as interpretam. Ele consegue trazer um sorriso ao nosso rosto com o final espirituoso. De todas essas riquezas, no entanto, eu estava mais interessado nas transcrições das canções de Schubert/Liszt. Perahia, um schubertiano natural e pianista de calor e pureza lírica, parece-me um candidato óbvio para esses arranjos maravilhosos e os resultados são sempre envolventes. A poesia pura deste disco é algo para se alegrar e a arte de Perahia brilha em cada compasso.
Bach/Busoni, Mendelssohn, Schubert/Liszt: Canções sem Palavras (Songs Without Words — Perahia)
Johann Sebastian Bach / Ferruccio Busoni
1 “Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme,” BWV 645 3:24
2 “Nun Komm, Der Heiden Heiland,” BWV 659 4:14
3 “Nun Freut Euch, Lieben Christen,” BWV 734 2:03
4 “Ich Ruf’ Zu Dir, Herr Jesu Christ,” BWV 639 3:04
Felix Mendelssohn
Lieder Ohne Worte
5 Opus 19, No. 3 2:07
6 Opus 67, No. 2 1:57
7 Opus 30, No. 4 2:27
8 Opus 19, No. 1 3:14
9 Opus 19, No. 5 2:13
10 Opus 30, No. 6 2:54
11 Opus 38, No. 3 2:13
12 Opus 102, No. 5 1:12
13 Opus 38, No. 2 1:58
14 Opus 30, No. 2 1:57
15 Opus 67, No. 1 2:02
16 Opus 38, No. 6 3:08
17 Opus 67, No. 4 1:43
18 Opus 53, No. 4 2:25
19 Opus 62, No. 2 1:47
Franz Schubert / Franz Liszt
20 “Auf Dem Wasser Zu Singen” 3:52
21 “In Der Ferne” 6:35
22 “Ständchen” 5:17
23 “Erlkönig” 4:28
Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.
Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Johannes BRAHMS (1833-1897) Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante
Franz LISZT (1811-1886) Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella
Darius MILHAUD (1892-1974) Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b 6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira
Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos
Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón
Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI (1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón
Ástor PIAZZOLLA 5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”- “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón
Néstor MARCONI 6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)
Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012
Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).
VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS
1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh) Evgeny Kissin, piano
02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks) Alissa Margulis, violino Nathan Braude, viola Polina Leschenko, piano
3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky) Sarina Cohn, voz Philip Catherine, guitarra Oscar Németh, baixo
4 – Deim Fidele (B. Witler) Lola Fuks, voz Michael Guttman, violino
5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler) Paul Ambach, voz
Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder
Wolfgang Amadeus MOZART Do Requiem em Ré menor, K. 626 2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa
Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65
Franz LISZT 5 – Mephisto-Walzer
Robert SCHUMANN De Dichterliebe, Op. 48: 6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’
Dmitri SHOSTAKOVICH Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65 7 – Toccata
8 – Passacaglia
Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie
Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 –Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos
Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)
“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014
Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:
Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.
Robert SCHUMANN Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo
Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)
Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015
Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.
“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.
Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105 1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73 4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer
Johannes BRAHMS Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro
Johann Sebastian BACH Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro
Itzhak Perlman, violino
Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)
Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.
Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique 5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale
Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência
Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.
Claude DEBUSSY De Nocturnes, L. 91 1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)
Anton Gerzenberg, piano II
Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140 2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé
Géza Hosszu-Legocky, violino Evgeni Bozhanov, piano
5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Stephen Kovacevich, piano I
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux
Mischa Maisky, violoncelo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) 9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Nicholas Angelich, piano II
Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain
Alexandra Conunova, violino Edgar Moreau, violoncelo
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace
Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos
5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34
Pablo Barragán, clarinete Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos Lyda Chen, viola Edgar Moreau, violoncelo
Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso
Akane Sakai eAlexander Mogilevsky, pianos
11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante
Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos
Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56 15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante 11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale
Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100 1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)
Akiko Suwanai, violino Nicholas Angelich, piano
Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19 4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso
Camille SAINT-SAËNS 1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
Annie Dutoit, narração Jing Zhao, violoncelo Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg Ion Marin, regência
Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963) Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro
Três danças afro-cubanas, para piano 35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165 38 – No. 2: Tango
Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 – El Choclo
Mauricio Vallina, piano
Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego
Ástor PIAZZOLLA 41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino
Wolfgang Amadeus MOZART 43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)
Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo
Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.
Sergey RACHMANINOV Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18 1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando
Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov
Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018
Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace
Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.
Felix MENDELSSOHN Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato
Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo
Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78 5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato
Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501 1 – Thema – Variationen I-V
Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer” 2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto
Tedi Papavrami, violino
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940 5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco
Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces
Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonatas (Esercizi) para teclado: 1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior
Evgeni Bozhanov, piano
Johann Sebastian BACH Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065 8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro
Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência
Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht
Martha Argerich, piano
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381 1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Martha Argerich e Akane Sakai, piano
Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65 4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet
Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano
Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37 8 – No. 5: Andaluza
Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin
Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano
Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963) Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos
Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11 15 – No. 4: Valsa
A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto
Theodosia Ntokou, piano II
Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020
Das Três sonatas para piano, Op. 31: No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto
A década de 90 foi, para Martha, desgraçadamente assombrada pela morte. Além de perder sua mãe, Juanita, e sua melhor amiga, Diane, para o câncer, ela própria viu-se acometida pelo flagelo. Desde o diagnóstico de melanoma, no início da década, até que a declararam curada, no final dela, a Rainha foi submetida a tratamentos dolorosos e duras escolhas. A mais difícil delas deu-se na recidiva, em meados da década, quando o tumor metastatizou para os pulmões e linfonodos. Foi-lhe sugerida uma cirurgia no tórax que poderia salvar a mulher, mas certamente mataria a pianista, cortando vários músculos fundamentais para sua arte. Martha escolheu submeter-se a um tratamento experimental a base de vacinas, que lhe permitiu uma operação menos radical. Deu certo e, num gesto de gratidão ao Instituto de Câncer John Wayne em Santa Mônica, Estados Unidos, onde recebeu o bem-sucedido tratamento, a Rainha voltou a subir sozinha ao palco, depois de quase vinte anos, para dar um recital em prol do Instituto para um Carnegie Hall lotado:
Naturalmente, a luta pela vida repercutiu na carreira de Martha. Sua discografia na década reflete essas imensas dificuldades pessoais – alguns anos passaram completamente em branco, sem gravações – e consolidou as tendências da década anterior: nenhum registro solo, muitas gravações de música de câmara com os velhos parceiros de sempre. Entre as novidades, a exploração de repertório novo e a colaboração estreita com Alexandre Rabinovitch em duos para piano, tocando sob sua regência, e gravando suas composições.
Não me lembro onde, mas tenho impressão de já ter lido que Martha não é muito fã de Rachmaninov. Se isso pode surpreender quem, como eu e o resto do Universo, fica de queixo caído com sua gravação do concerto no. 3 sob Chailly, também parece meio óbvio pela virtual ausência das peças solo de Rach do repertório da Rainha. Em seus recitais em duo, em compensação, Sergei Vasilyevich é figurinha fácil – e tem esse disco todinho dedicado a ele, com a primeira das muitas aparições de Alexandre Rabinovitch na discografia marthinhiana da década de 90, e a primeira das capas da Teldec em que nossa deusa parece estar no meio dum climão com quem era então su guapo.
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 1 em Sol menor, “Fantaisie-Tableaux”, Op. 5
1 – Barcarolle
2 – La Nuit….L’Amour
3 – Les Larmes
4 – Pâques
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
5 – Introduction
6 – Valse
7 – Romance
8 – Tarantella
Danças Sinfônicas, para orquestra, Op. 45
Transcrição para piano do próprio compositor
9 – Non allegro
10 – Andante con moto
11 – Lento assai
As composições de Alexandre Rabinovitch mereceriam uma postagem à parte, mas, enquanto eu os afogo com melífluas torrentes de Martha, deixo-lhes algumas amostras do que o pibe criou. Nascido e educado na União Soviética, aluno de Dmitry Kabalevsky, Rabinovitch destacou-se como pianista, tocando muita música contemporânea enquanto buscava rumo como compositor. Sua dedicação inicial à música serial, banida pelo regime soviético, foi abandonada depois que Alexei Lubimov lhe apresentou a música dos minimalistas dos Estados Unidos. Deixou o país de origem, por completa falta de perspectivas, para encontrar menos perspectivas ainda em Paris, onde Boulez reinava absoluto e deixava pouca coisa crescer a seu redor. Mudanças para Bruxelas e Genebra acabaram por colocá-lo no caminho de Martha Argerich, com quem dividiu palcos e estúdios, cigarros e dentifrícios – e que é o motivo maior para o moço aparecer por aqui. Sua música é muito interessante, sobretudo por nutrir-se de diversas referências, como poderão perceber pela obra que abre o álbum duplo a seguir, e porque seu estilo contrasta com a música “estática” que desinformados como eu muitas vezes esperam de obras minimalistas. A participação da Rainha na coletânea resume-se à gravação ao vivo da Musique Populaire, assim chamada por basear-se em temas de música popular, notória por ser, depois de meio século de vida e quase isso tanto a tocar pianos acústicos, sua primeira num instrumento plugado.
Alexandre RABINOVITCH Barakovsky (1945)
Six États Intermediaires (1998), sinfonia baseada no livro tibetano dos mortos, “Bardo Thödol” 1 – La Vie
2 – Le Rêve
3 – La Transe
4 – Le Moment de la Mort
5 – La Réalité
6 – L’Existence
Beogradska Filharmonija (Filarmônica de Belgrado)
Alexandre Rabinovitch, regência
7 – Musique Populaire (1980), para dois pianos amplificados
“Musique Populaire” gravada em Varsóvia, Polônia, abril de 1992
Num dos raros retornos a Varsóvia sem tocar Chopin, Martha não esqueceu de trazer a tiracolo seu amigo e vizinho inseparável, Mischa Maisky. A dupla ofereceu um programa inteiramente dedicado a Haydn, com o bônus de uma das poucas gravações lançadas da famosa sonatinha de Scarlatti que nossa deusa costuma tocar como bis – e como ninguém mais entre os terráqueos – para o pasmo das plateias mundo afora.
Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Hob. XVIII:11
1 – Vivace
2 – Un poco adagio
3 – Rondo all’Ungarese: Allegro assai
Orkiestra Kameralna Polskiego Radia Amadeus
Agnieszka Duczmal, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonata em Ré menor, K. 141
4 – Allegro Joseph HAYDN
Concerto para violoncelo e orquestra no. 1 em Dó Maior, Hob. VIIb/1 5 – Moderato
6 – Adagio
7 – Allegro molto
Mischa Maisky, violoncelo
Orkiestra Kameralna Polskiego Radia Amadeus
Agnieszka Duczmal, regência
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Suíte para violoncelo no. 2 em Ré menor, BWV 1008 8 – Sarabande
Da Suíte para violoncelo no. 3 em Dó maior, BWV 1009 9-10 – Bourrée I & II
Da Suíte para violoncelo no. 5 em Dó menor, BWV 1011 11-12 – Sarabande
Mischa Maisky, violoncelo
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, abril de 1992
Para alguém que idolatrava Horowitz a ponto de se mudar de mala e cuia para Nova Iorque para tentar tornar-se sua aluna, é curioso que Scriabin, um dos xodós de Volodya, estivesse fora do repertório e da discografia de Martha até o lançamento desse álbum, dedicado integralmente a obras que tangem o mito de Prometeu. Acompanhada por Claudio Abbado e os filarmônicos de Berlim, a Rainha executa a parte de piano obbligato do “Poema do Fogo” de Scriabin, somando-se às forças orquestrais, a um coro e a uma iluminação colorida prescrita pelo compositor e originalmente destinada a um clavier à lumières inventado por ele. Apesar da baixa qualidade da imagem, vale a pena conferir o vídeo da performance para ter uma ideia aproximada do que tramou Alexander.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Suíte de Die Geschöpfe Des Prometheus, Op. 43
1 – Introduction. Allegro non Troppo
2 – No. 1: Poco adagio – Allegro con brio
3 – No. 9: Adagio – Allegro molto
4 – No. 10: Pastorale. Allegro
5 – No. 14: Allegretto
6 – No. 15: Adagio – Allegro
7 – No. 16: Finale. Allegretto
Franz LISZT (1811-1886) Prometheus, poema sinfônico, S. 99
8 – Allegro energico ed adagio assai – Allegro molto appassionato
Aleksandr Nikolayevich SKRIABIN (1871-1915)
9 – Promethée, Le Poème du Feu, Op. 60
Martha Argerich, piano
Berliner Singakademie
Luigi NONO (1924-1990) Suíte de Prometeo, Tragedia dell’Ascolto
10 – 3 Voci (baseado em texto de Walter Benjamin)
11 – Isola Seconda (baseado em Hyperions Schicksalslied, de Friedrich Hölderlin)
Mathias Schadock e Ulrike Krumbiegel, narradores
Ingrid-Ade Jesemann e Monika Bair-Ivenz, sopranos
Susanne Otto, contralto
Peter Hall, tenor
Michael Hasel, flauta baixo
Manfred Preis, clarinete contrabaixo
Christhard Gössling, eufônio e tuba Solistenchor Freiburg
Peça final de seu triunfo no Concurso Chopin de 1965, o concerto em Mi menor do Frederico é uma das figurinhas mais fáceis na discografia e nos programas dos concertos de Martha mundo afora: difícil, enfim, é que ela volte a Varsóvia e deixe de tocá-lo. O CD a seguir registra um desses retornos, curiosamente pareado com Rossini e Mendelssohn, sob a batuta de Grzegorz Nowak, que mais tarde se tornaria regente associado da Royal Philharmonic em Londres, e com a Sinfonia Varsovia, orquestra fundada e apadrinhada pelo grande Yehudi Menuhin.
Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868) L’italiana in Algeri, drama jocoso em dois atos 1 – Sinfonia
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
2 – Allegro maestoso
3 – Romance. Larghetto
4 – Rondo. Vivace
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847) Sinfonia no. 4 em Lá maior, Op. 90, “Italiana”
5 – Allegro vivace
6 – Andante con moto
7 – Con moto moderato
8 – Presto e finale: Saltarello
Sinfonia Varsovia
Grzegorz Nowak, regência
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, dezembro de 1992
O velho amigo Abbado, lá em 1992, devia estar afiadíssimo na difícil arte de persuadir a nada persuadível Martha a aprender novo repertório: depois do primeiro (e policromático) Scriabin da carreira da distinta senhora, Claudio a pôs para tocar seu primeiro Strauss. Vá lá que a Burleske, composta mais ou menos na época em que Richard atingiu a maioridade penal, seja fichinha para suas hábeis mãos, mas ainda sim deve-se notar sua proeza em dotar essa estranha cria concertística, renegada tanto pelo seu dedicatário, Hans von Bülow, quanto por muito tempo pelo próprio compositor, de um interesse que passa ao largo da maioria das gravações da obra.
Richard Georg STRAUSS (1864-1949)
1 – Don Juan, poema sinfônico, Op. 20
Toru Yasunaga, violino
2 – Burleske em Ré menor, para piano e orquestra
Martha Argerich, piano
3 – Till Eulenspiegels Lustige Streiche, poema sinfônico, Op. 28
Da ópera Der Rosenkavalier, Op. 59 4 – Ato III: Trio e Finale
Kathleen Battle e Renée Fleming, sopranos
Frederica von Stade, mezzo-soprano
Andreas Schmidt, barítono
Berliner Philharmoniker
Claudio Abbado, regência
Gravado em Berlim, Alemanha, em 31 de dezembro de 1992
Um xodó tardio na carreira de Martha é o primeiro concerto de Shosta, uma composição ebuliente e hiperativa, bem no estilo do nicotinado compositor e muito afeita a quem toca o terceiro de Prokofiev como ninguém. Sempre que volta à obra, a Rainha parece se divertir ao fazer um racha com o pobre solista de trompete, que invariavelmente passa por maus lençóis ao tentar acompanhar a velocidade lúbrica dos deditos de Marthinha, que, por sua vez, despacha a obra numa lepidez comparável à do próprio Shosta. Aqui, o trompetista sai-se muito bem – Guy Trouvon é feríssima, fruto mui digno da brilhante escola francesa de seu instrumento – e o registro resultante é um marco tanto na carreira de Martha quanto na discografia da obra, só superado pelo embate épico, de décadas depois, entre a deusa portenha do piano e Sergei Nakariakov, que é chamado de “Paganini do trompete” e não sem bons motivos.
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Guy Touvron, trompete
Joseph HAYDN Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Hob. XVIII:11
4 – Vivace
5 – Un poco adagio (cadenza: Wanda Landowska)
6 – Rondo all’Ungarese: Allegro assai
Esta gravação do inseparável duo Marthita/Nelsito traz aquela peça de resistência de seu repertório – a sensacional Sonata para dois pianos e percussão de Béla Viktor János – acrescida de composições de Ravel para dois pianos… e percussão. A atraente contribuição da carinhosamente chamada “cozinha” aos cordofones solistas foi acrescentada por Peter Sadlo (1962-2016), um tremendo percussionista que também participa desse registro de seus arranjos.
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
1 – Assai lento – Allegro molto
2 – Lento, ma non troppo
3 – Allegro non troppo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Ma Mère l’Oye, suíte para piano a quatro mãos, M. 62
Transcrição para dois pianos: Gaston Choisnel (1857-1921)
Arranjo para dois pianos e percussão: Peter Sadlo (1962-2016)
4 – Pavane de la Belle au Bois Dormant: Lent
5 – Petit Poucet: Très modéré
6 – Laideronnette, Impératrice des Pagodes: Mouvement de Marche
7 – Les Entretiens de la Belle et de la Bête: Mouvement de Valse très modéré
8 – Le Jardin Féerique: Lent et Grave
Rapsodie Espagnole, para orquestra, M. 54
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
Arranjo para dois pianos e percussão de Peter Sadlo
9 – Prélude à la Nuit. Modéré
10 – Malagueña. Assez vif
11 – Habanera. En demi-teinte et d’un rythme las
12 – Feria. Assez vif
Nelson Freire, piano II
Edgar Guggeis e Peter Sadlo, percussão
Gravado em Nijmegen, Países Baixos, fevereiro de 1993
Se há qualquer um entre vós outros que sonhou em ouvir Martha tocar algo que não fosse piano, eu ora anuncio com júbilo:
– Regozijai!
Em mais um álbum dedicado a obras de Rabinovitch, a Rainha não só toca celesta – tanto acústica quanto amplificada – como divide o palco possivelmente pela primeira vez com uma guitarra elétrica, além dum bocado de marimbas e vibrafones. Sua contribuição pianística e desplugada, a quatro mãos com o próprio compositor, é a Liebliches Lied (“Adorável Canção”), baseada em temas de Brahms e de Schubert (a cuja identificação desafio os atentos leitores-ouvintes).
Alexandre RABINOVITCH 1 – Incantations (1996)
Martha Argerich, piano amplificado e celesta
Daisuke Suzuki, guitarra elétrica
Hidemi Nurase, Mitsuyo Wada, Momoko Kamiya e Naoaki Kobayashi, marimbas e vibrafones Hibiki String Orchestra
Alexandre Rabinovitch, regência
2 – Schwanengesang an Apollo (1996)
Yayoi Toda, violino
Martha Argerich, celesta amplificada
Alexandre Rabinovitch, piano
3 – La Belle Musique no. 3 (1977) Budapesti Rádió Szimfonikus Zenekara (Orquestra Sinfônica da Rádio de Budapeste)
György Lehel, regência
4 – Liebliches Lied Alexandre Rabinovitch e Martha Argerich, piano
Gravado em Berna, Suíça, novembro de 1993 (Liebliches Lied) e em Tóquio, Japão, maio de 1998 (Incantations)
A integral das sonatas de Beethoven com Gidon Kremer foi retomada, duma forma surpreendemente ordeira para a carreira de nossa errática Marthinha, na exata ordem de publicação das obras. As três sonatas do Op. 30, em que os dois instrumentos ensaiam a igualdade de tratamento que receberão na “Kreutzer” e na Op. 96, são claramente conduzidas por ela, e dum jeito que nos faz imaginar, uma vez mais, o que ela teria sido capaz de ter feito se tivesse tocado, além de tão só esta, essa e aquela, algumas das outras vinte e nove sonatas para piano do renano.
Ludwig van BEETHOVEN Três sonatas para violino e piano, Op. 30
No. 1 em Lá maior
1 – Allegro
2 – Adagio molto espressivo
3 – Allegretto con variazioni
No. 2 em Dó menor
4 – Allegro con brio
5 – Adagio cantabile
6 – Scherzo: Allegro
7 – Finale: Allegro – Presto
No. 3 em Sol maior
8 – Allegro assai
9 – Tempo di minuetto, ma molto moderato e grazioso
10 – Allegro vivace
A julgar pela capa, as coisas andavam às mil maravilhas entre a pareja Martha & Alexandre durante a gravação desse álbum. O que nele se escuta corrobora a impressão: Rabinovitch é excelente pianista, muito bom intérprete de Mozart, e certamente ajudou a Rainha a sentir-se à vontade com este compositor que, a despeito da farta dose vienense de sua formação pianística, confessamente nunca foi muito seu chão.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para dois pianos em Ré maior, K.448 (375a)
1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Allegro molto
Andante e variações para piano a quatro mãos em Sol maior, K.501 4 – Andante – Variações I-V
Sonata para piano a quatro mãos em Dó maior, K.521
5 – Allegro
6 – Andante
7 – Allegretto
Sonata para piano a quatro mãos em Ré maior, K.381 (123a)
8 – Allegro
9 – Andante
10 – Allegro molto
Martha nunca foi muito de dar alegria aos completistas: só para ficar em Beethoven, levou a público apenas três entre as trinta e duas sonatas para piano, e gravou somente os três primeiros entre os cinco concertos (tocou o “Imperador” apenas duas vezes, e “mal”, e recusou-se a vida toda, e duma maneira quase fóbica, a aprender o concerto no. 4, em função duma epifania que experimentou ao ouvi-lo com Arrau, e arrepiar-se, aos seis anos de idade: “tenho medo do que aconteceria; é muito importante para mim”). Assim, é muito significativo que ela tenha se disposto a gravar, e de fato concluir, a integral das sonatas para violino ao lado do amigo Gidon Kremer. O disco final da série tem, na “Kreutzer”, tudo o que se pode esperar de temperamento argerichiano, embora o ponto alto para mim seja a tão subestimada Op. 96, escrita no limiar do período criativo transcendental do mestre de Bonn, em que o diálogo entre os instrumentos de Martha e Gidon transparece a mesma cumplicidade que suas caras preparadas na capa do álbum.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
Sonata para violino e piano em Sol maior, Op. 96 4 – Allegro moderato
5 – Adagio espressivo
6 – Scherzo: Allegro – Trio
7 – Poco allegretto
Falando em completistas, essa soirée schumanniana gravada por Martha e outras estrelas nos Países Baixos traz quase a integral da música de câmara de Robert Alexander para três ou mais instrumentos. No estrelado elenco, destaco Natalia Gutman, professora do Conservatório de Moscou, que, apesar de muito grata a seu professor Rostropovich, teve como maior mentor um pianista, o gigante Sviatoslav Richter, e se dá muito bem no dueto com Martha. Chamo a atenção também para o Op. 46, que nunca tinha ouvido antes, com sua incomum instrumentação para dois pianos, dois violoncelos e trompa (!), e para a maior obra-prima do álbum, o belíssimo quinteto com piano, ao qual Martha empresta decisivamente seu inigualável élan.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856 Quinteto em Mi bemol maior para piano, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 44
1 – Allegro brillante
2 – In modo d’una marcia (un poco largamente – agitato – a tempo)
3 – Scherzo (molto vivace) & trio
4 – Allegro ma non troppo
Andante e variações em Si bemol maior para dois pianos, dois violoncelos e trompa, Op.46 5 – Sostenuto – Andante espressivo – Un poco piu animato – Più animato – Più lento – Un poco più lento
6 – Più lento – Animato
7 – Doppio movimento – Tempo primo – Più adagio
Alexander Rabinovitch, piano II
Mischa Maisky e Natalla Gutman, violoncelos
Marie-Luise Neunecker, trompa
Quarteto em Mi bemol maior para violino, viola, violoncelo e piano, Op. 47
8 – Sostenuto assai- Allegro ma non troppo
9 – Scherzo (Molto vivace) & Trio
10 – Andante cantabile
11 – Finale (Vivace)
Dora Schwarzberg, violino
Nobuko Imai, viola
Natalia Gutman, violoncelo
Alexander Rabinovitch, piano
Fantasiestücke para violoncelo e piano, Op. 73
1 – Zart und mit Ausdruck
2 – Lebhaft, leicht
3 – Rasch und mit Feuer
Natalia Gutman, violoncelo
Adagio e Allegro em Lá bemol maior para trompa e piano, Op. 70
4 – Langsam, mit innigem Ausdruck
5 – Rasch und feurig
Marie-Luise Neunecker, trompa
Alexandre Rabinovitch, piano
Märchenbilder para viola e piano, Op. 113
6 – Nicht schnell
7 – Lebhaft
8 – Rasch
9 – Langsam, mit melancholischem Ausdruck
Nobuko Imai, viola
Sonata em Ré maior para violino e piano, Op. 121
10 – Zeimlich langsam – Lebhaft
11 – Sehr lebhaft
12 – Leise, einfach
13 – Bewegt
Dora Schwarzberg, violino
Gravado ao vivo em Nijmegen, Países Baixos, setembro de 1994
E dessa capa, o que acham vocês? Martha e Rabinovitch parecem não só num climão meio tenso, como também as últimas pessoas capazes de tocar Mozart em dueto. Felizmente, o álbum é bem melhor que a capa (afirmação quase sempre verdadeira, quando se trata da Teldec): Martha volta ao concerto no. 20, que tocou muitas vezes quando menina e garota, Rabinovitch toca e conduz o de no. 19, e os pombinhos voltam a se reunir no concerto para dois pianos. Seguirão a arrulhar juntos? Resposta no álbum seguinte.
Wolfgang Amadeus MOZART
Concerto para piano e orquestra no. 20 em Ré maior, K. 466 Cadenze: Ludwig van Beethoven
1 – Allegro
2 – Romance
3 – Allegro assai
Orchestra di Padova e del Veneto Alexandre Rabinovitch, regência
Concerto para piano e orquestra no. 19 em Fá maior, K. 459 Cadenze do próprio compositor
4 – Allegro
5 – Allegretto
6 – Allegro assai
Orchestra di Padova e del Veneto Alexandre Rabinovitch, piano e regência
Concerto em Mi bemol maior para dois pianos e orquestra, K. 365 Cadenze do próprio compositor
7 – Allegro
8 – Andante
9 – Rondo. Allegro
Württenbergisches Kammerorchestra Heilbronn
Alexandre Rabinovich, piano I e regência
Gravado em Stuttgart, Alemanha, janeiro de 1995 (K. 365) e em Pádua, Itália, setembro de 1998 (K. 459 e K. 466)
Sim: os pombinhos seguiram juntos e, a julgar pela capa, os tacapes pararam de voar numa certa casa em Genebra. Uma vez mais Martha arrisca repertório novo, e o que há neste disco é muito curioso. Esperava, admito, um pouco mais do “Aprendiz de Feiticeiro”, certamente por estar acostumado ao original e sua espirituosa orquestração, mas reconheço a competência do arranjo de Rabinovitch e a qualidade da execução, adequadamente temperamental. A grande surpresa, sem dúvidas, é o arranjo da “Sinfonia Doméstica” de Strauss, uma obra que nunca me despertou qualquer interesse na versão original, e que cintila sob os vinte talentosos dedinhos do casal. Se duvidam, ouçam a Wiegenlied (“Canção de Ninar”) e o Adagio e depois me contem se não estão entre as melhores coisas que Martha já tocou em duo!
Paul Abraham DUKAS (1865-1935)
Transcrição para dois pianos de Alexandre Rabinovitch
1 – L’Apprenti Sorcier
Richard STRAUSS Transcrição para dois pianos de Otto Singer (1863-1931) Symphonia Domestica, poema sinfônico, Op. 53 2 – Bewegt – Ⅰ. Thema: Sehr lebhaft – Ⅱ. Thema: Ruhig – Ⅲ. Thema
3 – Scherzo: Munter
4 – Wiegenlied: Mäßig langsam
5 – Adagio: Langsam
6 – Finale: Sehr lebhaft
Os quase três anos que separam este álbum do anterior tiveram, para Martha, o emblema do câncer que lhe voltou, que ela enfrentou, e do qual se curou. É bastante significativo, portanto, que, ao retomar sua discografia, ela tenha incorporado peças novas a seu repertório, escolhido a companhia segura de queridos parceiros de palco e da vida, e tocado ante uma plateia no Japão que ela tanto adora. As duas obras-primas incluídas no álbum – o segundo trio de Shostakovich e seu congênere, dedicado por Tchaikovsky à memória de Nikolai Rubinstein – receberam leituras inesquecíveis. Não tenho qualquer prurido em declarar essa interpretação do trio no. 2 de Shosta a melhor que já ouvi dessa obra, nem em reconhecer que o som ultrarromântico e sentimental de Mischa Maisky aqui se encaixa à perfeição com a melancolia da peça de Tchaikovsky, e que Martha e Kremer lhe somam à altura.
1 – Aplauso
Dmitri SHOSTAKOVICH Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
2 – Andante – Moderato – Poco più mosso
3 – Allegro con brio
4 – Largo
5 – Allegretto – Adagio
Pyotr TCHAIKOVSKY Trio em Lá menor para piano, violino e violoncelo, Op. 50
6 – Pezzo Elegiaco: Moderato assai – Allegro giusto – In tempo molto sostenuto – Adagio con duolo e ben sostenuto – Moderato assai – Allegro giusto
7 – Tema con variazioni: Andante con moto
8 – Variazione I
9 – Variazione II: Più mosso
10 -Variazione III: Allegro moderato
11 – Variazione IV: L’istesso tempo (Allegro moderato)
12 – Variazione V: L’istesso tempo
13 – Variazione VI: Tempo di valse
14 – Variazione VII: Allegro moderato
15 – Variazione VIII: Fuga (Allegro moderato)
16 – Variazione IX: Andante flebile, ma non tanto
17 – Variazione X: Tempo di mazurka
18 – Variazione XI: Moderato
19 – Variazione finale e coda: Allegro risoluto e con f
20 – Coda: Andante con moto – Lugubre
Peter KIESEWETTER (1945-2012)
21 – Tango Pathétique
Ao assinar com a EMI, Martha foi prontamente convidada a gravar com outra grande estrela da gravadora, o israelense Itzhak Perlman. A admiração entre ambos, sempre mútua e imensa, teve que esperar até o verão de 1998 para virar parceria nos palcos, durante o Festival de Saratoga Springs, nos Estados Unidos. O repertório não fugiu do habitual: a sonata de Franck, em que a Rainha já acompanhou tantos violinistas, e a “Kreutzer” de Beethoven, para a qual é difícil imaginar pianista melhor. O recital é uma deleite tão grande quanto devem ter sido seus bastidores: Martha é declaradamente viciada em conversar, que é sua droga favorita, e o bonachão Itzhak, com seu vozeirão de barítono, um tremendo contador de histórias.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 4 – Allegretto ben moderato
5 – Allegro
6 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
7 – Allegretto poco mosso
Itzhak Perlman, violino
Gravado ao vivo em Saratoga Springs, Estados Unidos, julho de 1998
A participação de Martha no Festival de Saratoga também incluiu uma parceria com sua alma gêmea, Nelson Freire, no Concerto Pathétique de Liszt, uma interessante peça para dois pianos que antecipa, em muitos aspectos, a revolucionária forma cíclica e mesmo algum material temático de sua obra-prima, a Sonata em Si menor. Antes dele, fez uma vigorosa leitura dos Contrastes de Bartók, tocando a parte que coube ao próprio compositor na primeira gravação da obra, acompanhada do excelente clarinetista Michael Collins e pela violinista Chantal Juillet, amiga de Martha e atual esposa de Charles Dutoit, ex-Don Argerich.
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 1 – Allegro serioso, non troppo
2 – Adagio – Andante – Tempo I
3 – Maestoso e largamente, na non troppo lento – Presto
Chantal Juillet, violino
Truls Mørk, violoncelo
Béla BARTÓK
Contrasts, para violino, clarinete e piano, Sz. 111
4 – Verbunkos
5 – Pihenö
6 – Sebes
Chantal Juillet, violino
Michael Collins, clarinete
Franz LISZT
7 – Concerto Pathétique em Mi menor, para dois pianos e orquestra, S. 258
Nelson Freire, piano II
Gravado ao vivo em Saratoga Springs, Estados Unidos, julho de 1998
Se a instabilidade e o temperamento terrível de Martha sempre garantiram emoções fortes durante seus relacionamentos, tudo indica também que nossa Rainha é uma excelente ex-esposa. Prova disso é que que ela continua não só muito amiga de Charles Dutoit, com quem foi casada entre 1969 e 1973, como segue a gravar e tocar com ele (não sem faíscas, claro, algumas repletas de bom humor). Dutoit é ótimo regente e sabe, como talvez nenhum outro, envolver o indomável som de Martha com a orquestra. Seu período à frente da Sinfônica de Montreal foi um dos melhores de sua carreira e certamente o mais brilhante que esse conjunto já viveu, e acabou coroado com essa soberba gravação dos concertos de Chopin, na qual destaco aquele em Fá menor, que Martha tocou tão raras vezes, e que aqui recria com seu estilo inimitável, quase improvisatório, que torna sua leitura do Larghetto tão especial.
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
4 – Maestoso
5 – Larghetto
6 – Allegro vivace
Orchestre Symphonique de Montréal
Charles Dutoit, regência
Entre os tantos discos que lhes trouxe para celebrar as idades de Marthinha, foi este o mais difícil de conseguir. Lançado somente no Japão, ele celebra a estreia do Festival Argerich na cidade de Beppu, uma estação termal localizada em Kyushu, a mais meridional das grandes ilhas do arquipélago japonês. O parceiro da Rainha no recital de abertura é o velho amigo Ivry Gitlis, e o programa – nenhuma surpresa – traz o tradicional combo Franck-Kreutzer. A surpresa genuína é o quanto Gitlis, um intérprete bastante idiossincrático (para dizer o mínimo) segura sua onda improvisatória na “Kreutzer”: se duvidam, comparem o registro de Beppu com esta outra gravação do duo que vocês me entenderão.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
César FRANCK Sonata em Lá maior para violino e piano 4 – Allegretto ben moderato
5 – Allegro
6 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
7 – Allegretto poco mosso
Ivry Gitlis, violino
Gravado em Beppu, Japão, novembro de 1998 (Beethoven) e novembro de 1999 (Franck)
Assim como o Japão, a Polônia é um dos locais a que Martha mais gosta de voltar. Não surpreende, pois, que ela tenha celebrado a notícia de sua cura, em 1999, com uma série de concertos em Varsóvia, cidade donde foi catapultada para a fama mundial mais de três décadas antes. Este CD, gravado ao vivo, registra uma das poucas noites em que Martha ofereceu dois concertos para piano no mesmo programa: antes de encerrar com seu tradicional cavalo de batalha, o primeiro concerto de Chopin, que ela nunca deixa de tocar quando volta à capital polonesa, a Rainha conduz a plateia por uma alucinante travessia do primeiro concerto de Liszt. La re putissima madre, Marthinha.
Wolfgang Amadeus MOZART
Sinfonia no. 35 em Ré maior, K. 385, “Haffner” 1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Menuetto
4 – Presto
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra nº 1 em Mi bemol maior, S.124 5 – Allegro maestoso
6 – Quasi adagio
7 – Allegretto vivace – Allegro animato
8 – Allegro marziale animato
Fryderyk CHOPIN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
9 – Allegro maestoso
10 – Romance. Larghetto
11 – Rondo. Vivace
Sinfonia Varsovia
Alexandre Rabinovitch, regência
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, maio de 1999
A sexta década da discografia de Martha encerrou em território amigo: tocando Schumann com o vizinho Mischa Maisky – que sempre cresce nas parcerias com sua vizinha – e fotografada para a capa pela caçula Stéphanie, responsável pela maior janela que já tivemos ao palácio interior de nossa Rainha. Este álbum bonito, ainda que sem grandes surpresas, é encerrado por uma ótima gravação do concerto de Robert por Maisky e pela Orpheus.
Robert SCHUMANN
Adagio e Allegro em Lá bemol menor para violoncelo e piano, Op. 70
1 – Langsam, mit innigem Ausdruck
2 – Rasch und feurig
Fantasiestücke para violoncelo e piano, Op. 73 3 – Zart und mit Ausdruck
4 – Lebhaft, leicht
5 – Rasch und mit Feuer
Dos Três Romanzen, Op. 94
6 – No. 1: Nicht schnell
Fünf Stücke im Volkston, Op. 102 7 – “Vanitas Vanitatum”, mit Humor
8 – Langsam
9 – Nicht schnell, mit viel Ton zu spielen
10 – Nicht zu rasch
11 – Stark und Markiert
De Märchenbilder, para viola e piano, Op. 113 Transcrição de Mischa Maisky para violoncelo e piano
12 – No. 1: Nicht schnell
Mischa Maisky, violoncelo
Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129
13 – Nicht zu schnell
14 – Langsam
15 – Sehr lebhaft
Martha chegou aos trinta anos com a carreira já consolidada, após o triunfo no VII Concurso Internacional Chopin. Baseada na Suíça Romanda e casada com o regente Charles Dutoit, via-se bastante requisitada pelos estúdios e em turnês pela Europa, Américas e Japão. Restava pouco tempo para a família que crescia: além da genebrina Lyda e da bernesa Anne-Catherine, filha de Dutoit, a década ainda veria o nascimento de outra menina, Stéphanie, fruto de seu breve relacionamento com o pianista Stephen Kovacevich – e que, após um frugal cara e coroa, recebeu o sobrenome da mãe.
Passaremos ao largo da colorida, dir-se-ia rocambolesca vida pessoal de nossa deusa, uma porque jamais conseguiríamos contá-la de maneira tão deliciosa quanto a do documentário que Stéphanie lhe dedicou, outra porque, no que tange ao nosso interesse maior, que é a grande música que faz a Rainha, sua década foi por demais prolífica para perdermos tempo com ninharias que envolvam fraldas e ruidosos compartilhamentos de lençóis.
Vamos, pois, à música:
A primeira gravação da quarta década de Martha inclui aquela que é, talvez, a mais sensacional leitura jamais feita da sonata de Liszt. Sei que muitos preferem a atenção ao detalhe à pirotecnia, mas, claramente inspirada no legendário registro de seu ídolo Horowitz, a Rainha aqui entrega puro frenesi. Muitas vezes vejo-me em saturação sensorial após ouvir essa sonata, mas sempre vale a pena. Completa o disco a sonata em Sol menor de Schumann, uma obra menos visitada desse compositor que é, confessadamente, o xodó da vovó.
Franz LISZT (1811-1886) Sonata para piano em Si menor, S. 178 1 – Lento assai – Allegro energico
2 – Grandioso
3 – Cantando espressivo
4 – Pesante – Recitativo
5 – Andante Sostenuto
6 – Quasi adagio
7 – Allegro energico
8 – Più mosso
9 – Cantando espressivo senza slentare
10 – Stretta quasi presto – Presto – Prestissimo
11 – Andante Sostenuto – Allegro Moderato – Lento Assai
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
12 – So rasch wie möglich
13 – Andantino
14 – Scherzo. Sehr rasch und markiert
15 – Satz: Rondo. Presto – Etwas langsamer – Prestissimo
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em junho de 1971
É curioso que, numa discografia relativamente pequena como a de Martha, haja duas gravações tocando uma das quatro partes para piano da “cantata dançada” Les Noces, de Stravinsky. Nesta, que é a primeira delas, ela colabora com o então esposo, Charles Dutoit, e inaugura em disco a parceria com Nelson Freire, seu velho amigo desde os tempos de estudantes em Viena (a segunda gravação de Les Noces, sob Bernstein e na distinta companhia de Krystian Zimerman, já apareceu antes por aqui)
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
1 – La tresse
2 – Chez le Marié
3 – Le Départ de la Mariée
4 – Le Repas de Noces
Basia Retchitzka, soprano
Arlette Chedel, contralto
Eric Tappy, tenor
Philippe Huttenlocher, baixo
Chœur Universitaire de Lausanne
Michel Corboz, regente do coro
Harald Glamsch, Jean-Claude Forestier, Markus Ernst, Rafael Zambrano, Roland Manigley e Urs Herdi, percussão
Edward Auer, Nelson Freire e Suzanne Husson, pianos
Charles Dutoit, regência
Os raros registros seguintes, jamais lançados em mídia digital, são provavelmente os primeiros testemunhos de três vertentes que viriam a ter importância crescente na carreira da Rainha: sua participação em festivais, muitas vezes centrados nela; a colaboração com outros virtuoses em música de câmara; e as gravações ao vivo. Dignos de nota são os belíssimos quintetos com piano de Dvořák e de Schumann, em colaboração com Salvatore Accardo, diretor do Festival Internazionale di Musica d’Insieme, durante o qual foram feitas as gravações. Note-se também, ainda que sem a participação de Martha, a primeira gravação de que se tem registro do Quartettsatz, a única obra que Mahler deixou para um conjunto de câmara.
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Quinteto para piano, dois violinos, viola e violoncelo em Lá maior, Op. 81
1 – Allegro, ma non tanto
2 – Dumka: Andante con moto
3 – Scherzo (Furiant): Molto vivace
4 – Finale: Allegro
Salvatore Accardo e Pierre Amoyal, violinos
Luigi Alberto Bianchi, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo
Robert SCHUMANN Quinteto para piano, dois violinos, viola e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 44
1 – Allegro brillante
2 – In modo d’una marcia
3 – Scherzo: Molto vivace. Trio
4 – Allegro ma non troppo
Salvatore Accardo e Felice Cusano, violinos
Dino Asciolla, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Salvatore Accardo, violino
Gustav MAHLER (1860-1911) Quartettsatz em Lá menor para piano, violino, viola e violoncelo 5 – Nicht zu schnell
Claude Levoix, piano
Salvatore Accardo, violino
Pasquale Pellegrino, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo
Evidente que não faltaria Chopin a essa década, e Martha capricha neste álbum: a sonata em Si bemol menor tem uma marcha fúnebre impressionante e o mais líquido e tempestuoso de todos seus finales. Completam o disco um scherzo – talvez o gênero na obra do polonês mais afeito à personalidade artística da Rainha – e uma Grande Polonaise realmente brilhante, antecedida dum Andante spianato tão delicado que a gente chega quase a duvidar de que os dedos que o fizeram foram os mesmos que causaram a torrente da faixa anterior.
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Sonata para piano no. 2 em Si bemol maior, Op. 35
1 – Grave – Doppio movimento
2 – Scherzo
3 – Marche Funèbre. Lento
4 – Finale. Presto
Grande Polonaise Brillante para piano em Mi bemol maior, precedida de um Andante spianato, Op. 22
5 – Andante spianato: Tranquillo – Polonaise: Allegro molto
Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
6 – Presto
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em julho de 1974
Ravel é outro xodó a quem Martha dedicou gravações insuperáveis. Este é possivelmente o melhor Gaspard de la Nuit jamais gravado e, uma vez que se o escuta, torna-se impossível confundi-lo com qualquer outro: somente a Rainha, afinal, seria capaz de fazer um Scarbo tão veloz, soturno e grotesco (muito embora, como bem lembrou um amigo, Martha tenha declarado que quis morrer ao ouvir o produto dessa gravação, pois estava grávida e achou que tocara “muito devagar” (!))
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand, M. 55 1 – Ondine
2 – Le gibet
3 – Scarbo
Sonatina para piano
4 – Modéré
5 – Mouvement de Menuet
6 – Animé
Valses Nobles et Sentimentales, para piano
7 – Modéré – Très franc
8 – Assez lent – Avec une expression intense
9 – Modéré
10 – Assez animé
11 – Presque lent – Dans un sentiment intime
12 – Vif
13 – Moins vif
14 – Epilogue. Lent
Gravado em Berlim Ocidental, Alemanha Ocidental, em novembro de 1974
Se foram os prelúdios que começaram a mudar a história de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, aqui se tem uma ótima prova: o Op. 28, com suas miniaturas concisas e expressivas, é perfeitamente afeito ao toque da Rainha. A curiosa inclusão dos pouquíssimo gravados prelúdios Op. 45 e Op. póstumo sugere que esta gravação fizesse parte dos planos de uma integral chopiniana, que jamais foi adiante.
Fryderyk CHOPIN Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 28
1 – No. 1 em Dó maior: Agitato
2 -No. 2 em Lá menor: Lento
3 – No. 3 em So maior: Vivace
4 – No. 4 em Mi menor: Largo
5 – No. 5 em Ré maior: Molto allegro
6 – No. 6 em Si menor: Lento assai
7 – No. 7 em Lá maior: Andantino
8 – No. 8 em Fá sustenido menor: Molto agitato
9 – No. 9 em Mi maior: Largo
10 – No. 10 em Dó sustenido menor: Molto allegro
11 – No. 11 em Si maior: Vivace
12 – No. 12 em Sol sustenido menor: Presto
13 – No. 13 em Fá sustenido maior: Lento
14 – No. 14 em Mi bemol menor: Allegro
15 – No. 15 em Ré bemol maior: Sostenuto
16 – No. 16 em Si bemol menor: Presto con fuoco
17 – No. 17 em Lá bemol maior: Allegretto
18 – No. 18 em Fá menor: Molto allegro
19 – No. 19 em Mi bemol maior: Vivace
20 – No. 20 em Dó menor: Largo
21 – No. 21 em Si bemol maior: Cantabile
22 – No. 22 em Sol menor: Molto agitato
23 – No. 23 em Fá maior: Moderato
24 – No. 24 em Ré menor: Allegro appassionato
Prelúdio para piano em Dó sustenido menor, Op. 45
25 – Sostenuto
Prelúdio para piano em Lá bemol maior, Op. Posth.
26 – Presto con leggierezza
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em outubro de 1975 (Op. 28) e Watford, Reino Unido, em fevereiro de 1977 (Op. 45, Op. Posth.)
O violinista israelo-francês Ivry Gitlis (1922-2020) foi amigo de Martha por mais de seis décadas e com ela tocou em muitos festivais, sobretudo a sonata de Franck. Esta é a única gravação que fizeram em estúdio e, embora eu não seja fã nem do timbre, nem do rubato de Gitlis, ela vale para imaginar o que a Rainha seria capaz de fazer se tocasse mais Debussy.
César FRANCK Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) Sonata em Sol menor para violino e piano
5 – Allegro vivo
6 – Intermède. Fantasque et léger
7 – Finale. Très animé
Ainda que realizadas no final dos anos 70, estas gravações ao vivo naquele templo da perfeita acústica que é o Concertgebouw de Amsterdã foram lançadas somente em nosso século. Nelas pode-se apreciar uma parte do vasto repertório que a Rainha jamais trouxe aos estúdios e perceber que seu temperamento artístico em performances ao vivo é ainda mais ebuliente. Martha não teme correr riscos – poucos se animam a encarar o Gaspard de la Nuit ante uma plateia, ainda mais com tanta agilidade – e tampouco liga para as eventuais esbarradas. Se o Scherzo de Chopin certamente não é o seu melhor, as seleções de Bartók e Prokofiev seguramente estão entre seus mais sensacionais momentos. Ouvi-la in natura é, enfim, expor-se a um fenômeno da Natureza, sem abrigos, nem truques, e com absoluta certeza do estupor: já tive esse privilégio duas vezes, e ainda quererei tê-lo outra vez, enquanto a deusa quiser dar os ares de sua imensa graça num palco que eu possa visitar.
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
1 – Sinfonia — Grave. Adagio
2 – Sinfonia – Andante
3 – Allemande
4 – Courante
5 – Sarabande
6 – Rondeau – Capriccio
Fryderyk CHOPIN Dos Dois noturnos para piano, Op. 48:
7 – No. 1 em Dó menor: Lento
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 8 – Presto con fuoco
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano, Sz. 80
9 – Allegro moderato
10 – Sostenuto e pesante
11 – Allegro molto
Alberto Evaristo GINASTERA (1916-1983) Danzas Argentinas, para piano, Op. 2 12 – Danza del Viejo Boyero
13 – Danza de la Moza Donosa
14 – Danza del Gaucho Matrero
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 15 – Allegro inquieto — Andantino
16 – Andante caloroso
17 – Precipitato
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonata em Ré menor, K. 141/L. 422 18 – Allegro
Johann Sebastian BACH
Da Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807:
19 – Bourrée
Gravado em Amsterdã, Países Baixos em maio de 1978 (7-14, 18-19) e abril de 1979 (1-6, 15-17)
Se a Rainha tem os seus xodós musicais, ela também tem seus países favoritos. Um deles é a Polônia, onde venceu o concurso que lhe foi a catapulta para o superestrelato, e para a qual volta com muita frequência. Nessa gravação, ela se faz acompanhar da mesma orquestra com que tocou na fase final do VII Concurso Chopin, ainda que curiosamente passe ao largo das obras do polonês em prol de dois de seus outros cavalos de batalha: o concerto no. 1 de Tchaikovsky, do qual ela fez gravações famosas com Kondrashin e Dutoit, e o concerto de Schumann, que ela toca praticamente desde o ovo.
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo Ⅰ
3 – Allegro con fuoco
Robert SCHUMANN Concerto para piano e orquestra em Lá menor, Op. 54
4 – Allegro affetuoso
5 – Intermezzo. Andante grazioso – attacca:
6 – Allegro vivace
Orkiestra Filharmonii Narodowej w Warszawie
Kazimierz Kord, regência
Johann Sebastian Bach
Da Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807: 7 – Bourrée
Fryderyk Chopin Das Três mazurcas para piano, Op. 63:
8 – No. 2 em Fá menor
Domenico SCARLATTI Sonata em Ré menor, K. 141/L. 422
9 – Allegro
Alberto Ginastera
Das Danzas argentinas, Op. 2
10 – No. 2: Danza de la Moza Donosa
Por fim, uma gravação pouco conhecida em que Martha não só nos encanta ao teclado, como também dirige a orquestra. Em seu único registro fonográfico como regente, o concerto de Haydn – o gênio que ela gravou tão pouco – com a London Sinfonietta é especialmente delicioso.
Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondò. Molto allegro
Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto para piano em Ré maior, Hob. ⅩⅧ-11 4 – Vivace
5 – Un poco adagio
6 – Rondo all’ungherese. Allegro assai London Sinfonietta
Nona Liddell, spalla
Martha Argerich, regência
Os conturbados anos sessenta foram um turbilhão para Martha. Depois dum breve período a morar sozinha, longe do jugo da mãe, a viver la vida loca em Viena, desiludiu-se com a carreira de concertista e cogitou de tudo, até estudar Medicina (!). Insegura sobre sua capacidade como artista, resolveu dar um tempo ao piano e mudou-se para Nova York.
Martha soube que sua gravação da Rapsódia Húngara no. 6 impressionara Volodya e achou que isso seria credencial bastante para tornar-se aluna do ídolo. Enganou-se: nunca se encontraram e, para desnortear ainda mais seus rumos, ela viu-se grávida de sua primeira filha, Lyda.
Depois de três anos sem tocar, Martha retornou ao piano. Seu objetivo é o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia, em 1965.
Logo na primeira etapa da competição, ficou óbvio que seu maior concorrente seria o brasileiro Arthur Moreira Lima, aluno do Conservatório de Moscou, que conquistou o público com suas interpretações e com sua semelhança física com o próprio Chopin, de quem se tornaria um dos mais distintos intérpretes. Arthur venceu a primeira etapa, Martha, as duas seguintes, e na grande final, com sua interpretação do concerto em Mi menor, ela acabou por conquistar o primeiro prêmio.
Ei-los
O resto, como dizem, é história.
ooOoo
A década de Martha, no entanto, começou numa posição até então inédita: a de camerista. Como nada em sua carreira indicara, até então, a importância que a música de câmara teria para os anos de sua maturidade, presumo que foram as prementes necessidades de juntar dinheiro e de afastar-se das saias de Juanita, sua mãe, que a levaram à União Soviética para duas apresentações em Leningrado (atual São Petersburgo). Ainda mais inusitado que o local foi seu parceiro de palco: o violinista Ruggiero Ricci (1918-2012), nascido Woodrow Wilson Rich (!) na Califórnia e, vinte e três anos mais velho que Martha, já mundialmente famoso. Quem não o soubesse percebê-lo-ia rapidamente pelo predomínio de peças repletas de pirotecnias para violino, algumas delas a dispensarem o piano – incluindo as cabeludíssimas variações de Paganini sobre “Nel cor non più me sento”, que estão entre as coisas mais difíceis jamais escritas para o instrumento. Exceto pelas duas sonatas do jovem Beethoven e por aquela de Franck – que ela viria a tocar com praticamente todo violinista com que fizesse duo -, o papel da Rainha resume-se a acompanhar o astro do arco em partes frugais, como a da peça de Sarasate ou a célebre sonata de Tartini. A dupla improvável, no entanto, deu liga tanto no palco quanto fora deles: Ricci não só seria seu amigo por toda longa vida (ei-los em 2009, nos noventa anos do mestre!), como também demonstrou inúmeras vezes orgulho de ter proporcionado à futura estrela seus primeiros passos fora da germanosfera.
1 – Anúncio (em russo)
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Das Três sonatas para violino e piano, Op. 12: Sonata no. 3 em Mi bemol maior 2 – Allegro con spirito
3 – Adagio con molta espressione
4 – Rondo: Allegro molto
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sonata em Ré maior para violino solo, Op. 115 5 – Moderato
6 – Andante dolce. Tema con variazioni
7 – Con brio. Allegro precipitato
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata em Ré maior para violino e piano sobre canções folclóricas da Transilvânia
Arranjo da sonatina para piano, Sz. 55 (1915) por André Gertler (1907-1998)
8 – Dudások (gaitas de foles). Allegretto
9 – Medvetánc (dança do urso). Moderato
10 – Finale. Allegro vivace
Sonata para violino solo, Sz. 117
11 – Tempo di ciaccona
12 – Fuga: Risoluto, non troppo vivo
13 – Melodia: Adagio
14 – Presto
Pablo Martín Melitón de SARASATE y Navascués (1844-1908) Introdução e tarantela para violino e piano, Op. 43
15 – Introduction: Moderato – Tarantella: Allegro vivace
Ruggiero Ricci, violino
Gravado ao vivo em Leningrado, União Soviética, em 21 de abril de 1961
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Partita para violino solo no. 2 em Ré menor, BWV 1004: 1 – Ciaconna
Ludwig van BEETHOVEN Das Três sonatas para violino e piano, Op. 12:
Sonata no. 1 em Ré maior 2 – Allegro con brio
3 – Tema con variazioni: Andante con moto
4 – Rondo: Allegro
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 5 – Allegretto ben moderato
6 – Allegro
7 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
8 – Allegretto poco mosso
Béla BARTÓK
Danças folclóricas romenas, para violino e piano
Transcrição do original para piano (Sz. 56) por Zoltán Székely (1903-2001)
9 – Jocul cu bâtă (Allegro moderato) – Brâul (Allegro) – Pe loc (Andante) – Buciumeana (Moderato) – Poarga Românească (Allegro) – Mărunțel
Niccolò PAGANINI (1782-1840)
10 – Introdução e variações sobre “Nel cor non più me sento”, de “L’amor contrastato”, de Giovanni Paisiello, para violino solo, Op. 38
Giuseppe TARTINI (1692-1770) Sonata para violino em Sol menor, “O Trilo do Diabo” (arranjo para violino e piano)
11 – Larghetto – Affettuoso
12 – Allegro
13 – Grave – Allegro assai
Gravado ao vivo em Leningrado, União Soviética, em 21 de abril de 1961
Tomo a liberdade de quebrar a ordem mormente cronológica dessa discografia para, com um salto de dezoito anos, mostrar-lhes o lugar especial que Ruggiero e Martha mantiveram na vida um do outro. Por ocasião do jubileu de ouro da carreira de Ricci, ele apresentou-se no mesmo Carnegie Hall em que estreara aos onze anos, e convidou a velha amiga – agora consagrada como a deusa maior do piano – para dividir o palco consigo. Em alusão, talvez, aos recitais de Leningrado, eles tocaram novamente a sonata de Franck e concluíram a colaboração com o arranjo para violino da bela sonata para flauta de Prokofiev, que Martha já gravara com James Galway. Como sobremesa, o sessentão Ruggiero serviu dois números cabeludos – a mais exigente das sonatas de Ysaÿe e as impressionantes variações de Paganini sobre o hino britânico – e encerrou a noite com uma refrescante gavota de Sebastião Ribeiro.
César FRANCK
1-4 – Sonata em Lá maior para violino e piano
Sergey PROKOFIEV Sonata em Ré maior para violino e piano, Op. 94a
5 – Moderato
6 – Scherzo: Presto
7 – Andante
8 – Allegro con brio
Eugène-Auguste YSAŸE (1858-1931) Das Seis sonatas para violino solo, Op. 27 9 – No. 3 em Ré menor, “Ballade”
Niccolò PAGANINI
10 – Variações sobre “God Save The King”, para violino solo, Op. 9
Johann Sebastian BACH
Da Partita para violino solo no. 3 em Mi maior, BWV 1006 11 – Gavotte en rondeau
Ruggiero Ricci, violino
Gravado ao vivo em Nova York, Estados Unidos, em 20 de outubro de 1979
Voltamos para a década de 60, e quase quatro anos depois de Martha voltar da turnê soviética com Ricci. Três deles foram passados completamente longe de qualquer teclado, boa parte deles em Nova York, tentando encontrar Horowitz e achar um novo rumo para sua vida, e outro bom naco desse tempo na Suíça, onde nasceria Lyda, sua primogênita. O entrevero entre nossa Rainha e seu instrumento – ou, mais acuradamente, entre ela e a vida de pianista – acabou graças à participação decisiva de Stefan Askenase, que lhe deu aulas e restituiu sua autoconfiança, e da esposa dele, Anny, que estimulou Marthinha a preparar-se para o Concurso Internacional Chopin de 1965. As Kinderszenen que abrem o upload seguinte, gravadas ao vivo em Colônia, são o primeiro registro de que se tem notícia da Rainha a tocar dessa coleção que lhe é tão cara que, hoje em dia, é praticamente a única coisa que ela toca sozinha no palco. Completam o arquivo um Gaspard de la Nuit despachado da costumeira e assombrosa maneira, aquela gravação do scherzo de Chopin que muitos de vocês já viram, feita para a televisão polonesa imediatamente após o triunfo no Concurso Chopin, e o primeiro registro de Martha a tocar aquele seu familiar cavalo de batalha, o terceiro concerto de Prokofiev.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
1 – Kinderszenen, para piano, Op. 15
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand), M. 55 2 – Ondine
3 – Le Gibet
4 – Scarbo
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em 27 de janeiro de 1965
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
5 – Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
Gravado em Varsóvia, Polônia, em março de 1965
Sergey PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26 6 – Andante – Allegro
7 – Tema con variazioni
8 – Allegro ma non troppo
WDR Sinfonieorchester Köln
Karl Melles, regência
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em 10 de dezembro de 1965
Apresento-lhes agora todas as gravações que consegui recolher da trajetória de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, em 1965 (e, a despeito de muito vasculhar a cyberesfera, nunca encontrei o estudo do Op. 25 que dizem que ela tocou). Elas deixam óbvio por que nossa Rainha conquistou o júri, atacando o teclado com a fúria e a paixão habituais, sem medo de correr riscos (ao que abdicam muitos participantes de concursos pianísticos). O mais impressionante, talvez, é que não fosse a qualidade medíocre do som, poderíamos jurar que as performances são de anteontem, tamanha era a maturidade da artista, então com 23 anos, e tão espetacular que é sua técnica hoje, depois dos oitenta.
PRIMEIRA ETAPA – 22 de fevereiro de 1965
1 – Apresentação (em polonês)
Fryderyk CHOPIN
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
2 – No. 1 em Fá maior
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
3 – No. 1 em Dó maior
4 – No. 4 em Dó sustenido menor
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica” 5 – Maestoso
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 28
6 – No. 19 em Mi bemol maior
7 – No. 20 em Dó menor
8 – No. 21 em Si bemol maior
9 – No. 22 em Sol menor
10 – No. 23 em Fá maior
11 – No. 24 em Ré menor
Para a grande final, Arthur e Martha escolheram concertos diferentes – ambos, felizmente, lançados pela primeira vez numa remasterização decente, publicada pelo Instituto Fryderyk Chopin, e que ora lhes apresento, tanto para lembrar o triunfo da Rainha, como também para homenagear nosso compatriota, um magnífico chopinista. A título de curiosidade, aponto que quase todos os vencedores do Concurso tocaram na final o concerto em Mi menor – o último a triunfar com o concerto em Fá menor foi Đặng Thái Sơn em 1980, edição que se celebrizou pela intempestiva saída de nossa deusa do júri, em protesto à eliminação a seu ver injustificada de Ivo Pogorelić, a quem chamou de “gênio”.
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Martha Argerich, piano
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
4 – Maestoso
5 – Larghetto
6 – Allegro vivace
Arthur Moreira Lima, piano
Orkiestra Filharmonii Narodowej w Warszawie (Orquestra Filarmônica Nacional de Varsóvia) Witold Rowicki, regência
Gravações feitas ao vivo na Sala Filarmônica de Varsóvia, Polônia, durante o VII Concurso Internacional Fryderyk Chopin
Trailer do documentário “Martha Argerich in Warsaw 1965”, que aborda o marco zero do nascimento da superestrela. Notem a participação de Arthur Moreira Lima, um excelente artista que, convenhamos, teve pouca sorte de disputar a primazia na competição com uma das melhores pianistas de todos os tempos.
Programa original da participação de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, em 1965. Notem que há diferenças entre o programa previsto e aquele realmente executado, mais notavelmente o concerto da etapa final.
Ao triunfo no Concurso Chopin só poderia, naturalmente, se seguir demanda por mais Chopin. A EMI agiu rápido e trouxe a Rainha a Londres, onde colocou a serviço de Sua Majestade Marthínhica seus ótimos estúdios e excelentes engenheiros de som. Para profunda decepção dos ingleses, no entanto, um contrato que se descobriu vigente com a Polygram impossibilitou o lançamento da gravação, que só veio a público em 1999. Como atesta o depoimento a seguir, de Suvi Raj Grubb, que produziu o álbum, a espera valeu a pena:
“’Argerich foi, entre todos músicos, a mais formidável que já encontramos’, escreve o produtor do álbum, Suvi Raj Grubb, ‘Nada estava fora do alcance dessa mulher’ (…)”
“Quando comecei a me interessar por música, levei algum tempo para me acostumar com o piano. Mas, quando entrei na EMI (agora Warner Classics), eu já adorava música para piano e tinha muito conhecimento sobre ela. Assim, sempre que um novo pianista aparecia, eu era a primeira escolha como produtor.”
“Em 1966, eu já produzira um punhado de discos de piano, um dos melhores dos quais nunca viu a luz do dia. Quando Martha Argerich entrou no estúdio, foram seus olhares sombrios e ardentes que me impressionaram pela primeira vez. Assim que chegou, pediu café; quando lhe ofereci uma xícara, ela a engoliu de uma só vez e pediu mais. Sentei-a no estúdio com um grande bule de café e entrei na sala de controle.”
“No início, suas mãos se moviam despreocupadamente sobre o teclado enquanto ela testava o piano. Então ela despejou a Polonaise [Op.53] de Chopin. Sentei-me na minha cadeira com um longo ‘Jee-sus’ – e o engenheiro de som disse ‘Uau!'”
“Se isso fora uma amostra de seu pianismo, então Argerich era a pianista mais formidável que já encontráramos. Os grandes acordes soaram enormes, as passagens entre eles, limpas; no trio, um grande espetáculo, as difíceis passagens em oitava à esquerda eram equilibradas, e o crescendo, controlado. Dei uma espiada no estúdio para ter certeza de que essa torrente de som era realmente originária do toque de uma garota sentada ao piano. Foi verdadeiramente inacreditável.”
“Sorri ao lembrar do comentário de Clara Schumann a Brahms sobre as ‘Variações Paganini’, lamentando que estivesse além da capacidade de uma pianista. Nada estaria fora do alcance daquela mulher.”
“Ela entrou na sala de controle, olhou para mim e sorriu, pois sabia que tivera um impacto devastador sobre mim. Nos dias seguintes, energizada por galões de café preto e forte, ela terminou um recital de Chopin que incluía a terceira sonata, o terceiro scherzo e, modelados como joias em miniatura, um grupo de mazurcas e noturnos. O último movimento da sonata foi feito num só take impecável. Ela disse que gostou das sessões; que gostou do som do piano no disco e que estava ansiosa para trabalhar comigo novamente.”
“Para minha amarga decepção, soubemos algumas semanas depois que seu compromisso com outra empresa não nos permitiria publicar o disco e, nem pela primeira nem pela última vez, desejei que não houvesse cláusulas de exclusividade. No devido tempo, um disco com o mesmo repertório foi lançado pelos nossos rivais – quando o ouvi, soube que nossa Argerich era a melhor das duas.”
Certeza de que era.
Fryderyk CHOPIN
Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58
1 – Allegro maestoso
2 – Scherzo: Molto vivace
3 – Largo
4 – Finale: Presto non tanto
Três mazurcas para piano, Op. 59 5 – No. 1 em Lá menor
6 – No. 2 em Lá bemol maior
7 – No. 3 em Fá sustenido menor
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
8 – No. 1 em Fá maior
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 9 – Presto con fuoco
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica” 10 – Maestoso
A alta demanda do planeta por sua nova superestrela do piano deu poucas oportunidades a Martha para ampliar seu repertório. Assim, às peças que ela preparara para o concurso Chopin, somaram-se aquelas que ela já aprendera antes de seus três anos sabáticos. O rol de obras resultante repete-se em quase todas as gravações até o final da década, que hemos de apresentar a seguir, e sem maiores comentários, que resultariam necessariamente repetitivos. Limitamo-nos a apontar, como adições mais notáveis ao repertório da Rainha, a impressionante Fantasia de seu queridinho Schumann, a toccata em Dó menor de J. S. Bach e, de Chopin, o outro queridinho, o segundo scherzo e a transcendental Polonaise-Fantaisie – além do já citado terceiro concerto de Prokofiev e dos primeiros concertos de Tchaikovsky e Liszt, já publicados anteriormente aqui no PQP Bach.
Sergey PROKOFIEV Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 1 – Allegro inquieto – Poco meno – Andantino
2 – Andante caloroso – Poco più animato – più largamente – Un poco agitato
3 – Precipitato
Franz LISZT (1811-1886)
Dos Três estudos de concerto para piano, S. 144:
4 – No. 2 em Fá menor, “La leggierezza”
Fryderyk CHOPIN
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
5 – No. 4 em Dó sustenido menor
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
6 – No. 1 em Fá maior
Barcarola em Fá sustenido maior, Op. 60 7 – Allegretto
Três mazurcas para piano, Op. 59 8 – No. 1 em Lá menor
9 – No. 2 em Lá bemol maior
10 – No. 3 em Fá sustenido menor
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 11 – Presto con fuoco
Robert SCHUMANN Fantasia em Dó maior para piano, Op. 17 12 – Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen; Im Legenden-Ton
13 – Mäßig. Durchaus energisch
14 – Langsam getragen. Durchweg leise zu halten
Gravado ao vivo no Carnegie Hall, Nova York, Estados Unidos, em 16 de janeiro de 1966
Fryderyk CHOPIN 1-3 –Três mazurcas para piano, Op. 59
Sergey PROKOFIEV
4-6 – Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83
Toccata para piano em Ré menor, Op. 11
7 – Allegro marcato
Maurice RAVEL
8-10 – Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand), M. 55
Sergey PROKOFIEV Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28
11 – Allegro tempestoso – Moderato – Allegro tempestoso – Moderato – Più lento – Più animato – Allegro I – Poco più mosso
Maurice RAVEL
Sonatina para piano em Fá sustenido menor, M. 40 12 – Modéré
13 – Mouvement de Menuet
14 – Animé
Gravado em Colônia, Alemanha Ocidental, outubro de 1967
Os ebulientes concertos em Sol de Ravel e o no. 3 de Prokofiev, naquelas que são talvez suas gravações definitivas, sob a batuta de Claudio Abbado (1967)
Logo que ficou ficou óbvio que não haveria professores no Hemisfério Sul capazes de darem conta da pequena María Martha (porque eu tinha HOJE anos de idade quando descobri que Martha também é María), começaram as tratativas para que a niña precoz fosse estudar na Europa. A escolha de María era clara: queria ir para Viena estudar com Friedrich Gulda, um pianista brilhante que já granjeara fama de excêntrico e anticonvencional, e cujo antiacademicismo mui provocativo o tornava o mais improvável dos professores.
E isso tudo antes de adotar o visual que, a partir dos anos 70, fê-lo ser mimosamente comparado a um “cafetão sérvio”.
Como os Argerich não nadavam em recursos, a mãe de María resolveu tomar providências. A (assim a chamemos) mui assertiva Juanita, com quem Martha sempre teria uma relação complicada, resolveu as coisas com ninguém menos que Juan Domingo Perón. Nas palavras da filha:
Eu tinha pouco mais de 12 anos, tinha tocado no Teatro Colón e o Perón tinha me convidado para um encontro na residência presidencial. Mamãe perguntou se ela poderia vir comigo, e eles disseram que sim, é claro. Eu não era muito peronista; lembro-me que estava sempre colando pedacinhos de papel em todos os lugares que diziam “Balbín-Frondizi” [antiperonistas ferrenhos e candidatos da oposição às eleições de 1951]. Perón nos recebeu e me perguntou: “E para onde você quer ir, ñatita?” E eu queria ir para Viena, estudar com Friedrich Gulda. Ele gostou de eu não querer ir para os Estados Unidos. O mais engraçado foi que minha mãe, para bajulá-lo, disse a ele que eu adoraria fazer um show na UES [União dos Alunos do Ensino Médio]. E devo ter feito uma cara um tanto reveladora de que não gostei da ideia, pois o Perón começou a concordar com mamãe, dizendo “claro senhora, vamos organizar”, enquanto piscava para mim e, por baixo da mesa, fazia com um dedo que não. Ele estava contendo mamãe e isso me acalmou – percebeu que eu não queria. Fantástico, não é? E ele deu um emprego ao meu pai. Ele o nomeou adido econômico em Viena. E disse à mamãe que a achava também muito inteligente, empreendedora e capaz, e que conseguiu outro cargo para ela na embaixada.
Naqueles tempos, o que Perón mandava, o governo fazia: no ano seguinte, os Argerich deixariam Buenos Aires com mala e cuias, rumo a Viena e ao encontro de Gulda.
Martha e Gulda em Viena, sob o olhar atento do filho mais ilustre de Aracati, o grande Jacques Klein (à esquerda). Foto do acervo de Nelson Freire, disponibilizada pelo Instituto Piano Brasileiro.
Foram apenas dezoito meses de estudo, durante os quais Martha foi a única aluna de Gulda, um mestre apenas onze anos mais velho que ela e de ademais pouquíssimos alunos. Ainda que viesse a receber lições de outros pianistas (sobre os quais o colega Pleyel gentilmente versou no primeiro comentário dessa postagem), Gulda foi a mais decisiva influência na carreira de nossa Rainha. Ela, que sempre o idolatrou, frequentemente o cita em suas entrevistas. O austríaco, no entanto, não se impressionou com o estrelato posterior de sua aluna, aparentemente por achá-lo convencional demais para seus heterodoxos parâmetros. E a vida pessoal de Martha, também, parecia bater recordes mesmo para os caóticos padrões guldanianos: ao encontrá-la num camarim, décadas depois, depois de um recital, Gulda – que ficaria notório por divulgar a notícia de sua morte um ano antes de morrer de fato, e que intitulou seu concerto seguinte “Festa da Ressurreição” – tascou:
O que fizeste da tua vida???
O que fazer da vida é a preocupação de todas as ex-crianças prodígio, e Martha, egressa dos estudos com Gulda, não sabia o que fazer da. Estava longe da bajulação que tinha na Argentina, mas ainda controlada a cabresto pela mãe, e no coração dum continente onde saíam enxames de pianistas promissores debaixo de qualquer pedra que se levantasse. A saída mais óbvia eram as láureas em concursos de piano, e ela conseguiu duas em menos de um mês, em 1957: no Concurso Internacional Busoni em Bolzano (Itália), e no Concurso Internacional de Genebra (Suíça), o qual Gulda também vencera com 16 anos.
Enquanto botava as manguinhas de fora para morar sozinha, Martha excursionava extensamente pelo continente e, antes dos vinte anos, fez sua estreia discográfica oficial pela prestigiosa Deutsche Grammophon, ostentando na capa os cabelos cacheados e o olhar tristonho típicos daquela década:
MARTHA ARGERICH – PIANO
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
1 – Presto con fuoco
Johannes BRAHMS (1833-1897) Duas rapsódias para piano, Op. 79
2 – Agitato, em Si menor
3 – Molto passionato, ma non troppo allegro, em Sol menor
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Toccata para piano em Ré menor, Op. 11 4 – Allegro marcato
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Jeux d’eau, para piano, M. 30
5 – Très doux
Fryderyk CHOPIN Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60 6 – Allegretto
Franz LISZT Rapsódia Húngara no. 6 em Ré bemol maior, para piano, S. 244 7 – Introduction (Tempo giusto – Presto) – Lassan (Andante) – Friska (Allegro)
Gravado em Hannover, Alemanha Ocidental, de 4 a 8 de julho de 1960
A relação da promissora jovem com seu instrumento, enfim, sempre tivera profundas rachaduras e muito poucas alegrias. Num dos trechos mais tocantes do documentário assinado por sua filha, Stéphanie, Martha está a olhar álbuns da infância e estimar sua idade nas fotos pela presença do sorriso – sinal de que o piano ainda não entrara em sua vida.
Esse difícil período de transição entre ex-criança prodígio e superestrela do teclado será ilustrado pelas gravações seguintes, que mostram nossa Rainha como uma artista consumada antes mesmo de completar 20 anos. Em diversos registros ao vivo de qualidade variável, principalmente para rádios alemãs, são óbvias as qualidades que até hoje, mais de sessenta anos depois, nos deixam boquiabertos. Perceba-se também que, com a notável exceção de Mozart, cujo espaço diminuiria um tanto em seu repertório na maturidade, já estava escalado o time de compositores a que ela mais se dedicaria: Beethoven; Chopin e Schumann; Prokofiev e Ravel.
Como o sucesso universal de Martha, sobretudo após o triunfo do Concurso Internacional Chopin de 1965, reavivou o interesse em suas gravações antigas, elas acabaram relançadas num sem-número de discos, sempre com os mesmos fonogramas, em ordens sortidas. Para facilitar a vida dos leitores-ouvintes, resolvi fazer uma compilação das melhores fontes disponíveis e organizá-las em ordem cronológica, com a exceção de dois álbuns com orquestra, que virão na sequência
Fryderyk CHOPIN
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
1 – No. 1 em Dó maior Gravado em 1955 em Buenos Aires
Franz LISZT Dos Três estudos de concerto, S. 144: 2 – No. 2: La Leggerezza Gravado ao vivo em Bolzano, Itália, agosto de 1957, durante o Concurso Internacional Busoni
Sergey PROKOFIEV Toccata para piano em Ré menor, Op. 11 3 – Allegro marcato Gravada ao vivo em Bolzano, Itália, agosto de 1957, durante o Concurso Internacional Busoni
Franz LISZT Rapsódia Húngara no. 6 em Ré bemol maior, para piano, S. 244 4 – Introduction (Tempo giusto – Presto) – Lassan (Andante) – Friska (Allegro) Gravada ao vivo em Genebra, Suíça, setembro de 1957, durante o Concurso Internacional de Genebra
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1956)
Do Concerto para piano e orquestra em Lá menor, Op. 54: 5 – Allegro affettuoso
Orchestre de la Suisse Romande Samuel Baud-Bovy, regência Gravado ao vivo em Genebra, Suíça, setembro de 1957, durante o Concurso Internacional de Genebra
Fryderyk CHOPIN Balada para piano no. 1 em Sol menor, Op. 23 6 – Largo – Lento – Moderato – Presto in coda Gravada em Berlim Ocidental, janeiro de 1959
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para piano no. 18 em Ré maior, K. 576 7 – Allegro
8 – Andante cantabile
9 – Allegretto grazioso
Gravada em Colônia, Alemanha Ocidental, janeiro de 1960
Fryderyk CHOPIN
Balada para piano no. 4 em Fá menor, Op. 52 10 – Andante con moto Gravada em Colônia, Alemanha Ocidental, janeiro de 1960
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la Nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand, M. 55
1 – Ondine
2 – Le Gibet
3 – Scarbo
Sergey PROKOFIEV Toccata para piano em Ré menor, Op. 11 4 – Allegro marcato
Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28 5 – Allegro tempestoso – Moderato – Allegro tempestoso – Moderato – Più lento – Più animato – Allegro I – Poco più mosso
Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 6 – Allegro inquieto
7 – Andante caloroso
8 – Precipitato
Gravados em Hamburgo, Alemanha Ocidental, março de 1960
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para piano no. 8 em Lá menor, K. 310 9 – Allegro maestoso
10 – Andante cantabile con espressione
11 – Presto Gravada em Munique, Alemanha Ocidental, abril de 1960
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para piano no. 13 em Si bemol maior, K. 333, “Linz” 1 – Allegro
2 – Andante cantabile
3 – Allegretto grazioso
Gravada em Munique, Alemanha Ocidental, abril de 1960
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Das Três sonatas para piano, Op. 10: No. 3 em Ré maior
4 – Presto
5 – Largo e Mesto
6 – Menuetto. Allegro
7 – Rondo. Allegro
Maurice RAVEL
Sonatina para piano em Fá sustenido menor, M. 40 8 – Modéré
9 – Mouvement de Menuet
10 – Animé
Robert SCHUMANN Toccata em Dó maior para piano, Op. 7
11 – Allegro
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata para piano no. 18 em Ré maior, K. 576 12 – Allegro
13 – Andante cantabile
14 – Allegretto grazioso
Gravadas em Colônia, Alemanha Ocidental, setembro de 1960
Completam a discografia da segunda década de Marthinha esses dois álbuns com gravações ao vivo, feitas durante transmissões radiofônicas. O primeiro é notório tanto por conter os mais antigos registros de nossa deusa tocando dois de seus mais famosos cavalos de batalha- o Concerto em Sol de Ravel e o Mi menor de Chopin – quanto por marcar a primeira parceria dela com seu amigo de toda a vida e futuro marido, Charles Dutoit, que a acompanha no Ravel. O segundo, feito com orquestras alemãs, alinha o concerto de Ravel com o no. 21 de Mozart, que Martha tocou muito em sua juventude e, parece, abandonou na maturidade. Maurice RAVEL Concerto em Sol maior para piano e orquestra, M. 83
1 – Allegramente
2 – Allegro assai
3 – Presto
Orchestre de Chambre de Lausanne
Charles Dutoit, regência
Gravado em Lausanne, Suíça, em 19 de janeiro de 1959
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11 4 – Allegro maestoso
5 – Romanze – Larghetto
6 – Rondo – Vivace
Orchestre de la Suisse Romande
Louis Martin, regência
Gravado em Genebra, Suíça, em 25 de setembro de 1959
Maurice RAVEL 1 – 3 Concerto em Sol maior para piano e orquestra, M. 83 Südwestfunk-Sinfonieorchester Baden-Baden
Ernest Bour, regência
Gravado em Baden-Baden, Alemanha Ocidental, em 4 de fevereiro de 1960
Wolfgang Amadeus MOZART Concerto para piano e orquestra no. 21 em Dó maior, K. 467 4 – Allegro maestoso
5 – Andante
6 – Allegro vivace assai
Kölner Rundfunk-Sinfonieorchester
Peter Maag, regência
Este disco é uma pérola para os amantes da boa música para piano! É o disco de estreia de Benjamin Grosvenor no selo DECCA em 2011, já faz meia eternidade, quando a data é vista sob a perspectiva de hoje. O então bem jovem pianista de 19 anos reuniu no disco os Scherzos de Chopin e Gaspard de la nuit, de Ravel, peças que constavam constantemente de seus recitais. Ele explica que as peças de Liszt servem como uma ponte entre esses dois compositores e não por acaso. O livreto tem um texto com título ‘From Chopin via Liszt to Ravel’.
O conjunto todo reúne uma coleção de peças produzidas por compositores-pianistas, Chopin e Liszt, além de Ravel, cuja composição excedia sua própria técnica de piano.
O disco inicia com o Scherzo No. 1 de Chopin com sua impetuosidade e passando pelo episódio mais sonhador – afinal, Chopin era um renomado romântico.
Em lugar de seguir apresentando os outros Scherzos, em ordem de publicação, assim como fazia nos recitais, para nos dar uma oportunidade de apreciar ainda mais as diferenças existentes entre um e outro, Grosvenor os intermedia com outras obras, três Noturnos.
O libreto nos ensina que Chopin foi o primeiro compositor a considerar um scherzo como uma peça independente, destacada de uma sonata ou sinfonia.
Depois disso, funcionando como o intermezzo, fazendo uma ponte para a grande peça final, três lindas peças de Liszt: duas transcrições para piano de canções de Chopin e um Noturno, de nome ‘En rêve’. Afinal, Chopin não foi o único nem o primeiro a compor noturnos.
Para arrematar, o Gaspard de la nuit, três poemas para piano segundo poemas de Aloysius Bertrand. Esta peça de Ravel destaca-se como uma das mais difíceis da literatura para piano e foi composta também com este propósito. Uma espécie de suíte, consta de três movimentos, de nomes Ondine, Le Gibet e Scarbo. Da literatura onde buscou a inspiração, Ravel traz um clima noturno, fantasmagórico, presente mesmo no nome. Ondine é uma ninfa que representa o perigo da atração da sereia, enquanto Le Gibet ressoa um sino que dobra ao longe enquanto se avista no horizonte o corpo de um enforcado sob a luz do por do Sol. Ravel se propôs o desafio de superar com Scarbo o já formidável virtuosismo do Islamey de Balakirev, que ocupava a posição de peça mais difícil da literatura para piano. Certas passagens, com um ritmo fascinante, em particular as repetidas notas em staccato, evocam claramente o piano de Liszt, em particular a Valsa-Mefisto, tendo Ravel pretendido, com esta partitura, “exorcizar o romantismo”, segundo a sua própria expressão.
Frédéric Chopin (1810 – 1849)
Scherzo No. 1 em si menor, Op. 20
Noturno No. 5 em fá sustenido maior, Op. 15 No. 2
Scherzo No. 4 em mi maior, Op. 54
Noturno No. 19 em mi menor, Op. 72 No. 1
Scherzo No. 3 em dó sustenido menor, Op. 39
Noturno No. 20 em dó sustenido menor, Op. post.
Scherzo No. 2 em si bemol menor, Op. 31
Franz Liszt (1811 – 1886)
Transcrição para Piano de Duas Canções de Chopin
Moja pieszczotka (Minha Querida)
Życzenie (O Desejo da Donzela)
Noturno
‘En rêve’, S207
Maurice Ravel (1875 – 1937)
Gaspard de la Nuit
Ondine
Le gibet
Scarbo
Benjamin Grosvenor, piano
Gravado no Lyndhurst Hall, Londres, em 26 de abril de 2011
Benjamin experimentando o grand piano do Salão de Retratos do PQP Bach Hall de Itaperuna
Ravel’s Gaspard holds no terrors for him. He is at his fluid best in Ondine. Others have created a darker atmosphere in Le Gibet (Pogorelich) and provided more attack in Scarbo (Berezovsky). This is to judge Grosvenor by the highest standards, as his brilliant pianism demands.
Phillip Scott
One of the most individual things about this stunning debut by Benjamin Grosvenor is his pervasive sense of balance and his unerring blend of Classical restraint and Romantic ardour…He is a virtuoso who declines the mantle of virtuoso, every gestures being put exclusively and exhilaratingly at the service of the music. Grosvenor’s playing exudes joy and spontaneity, seeming to release rather than interpret the music.
BBC Music Magazine, outubro de 2011
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou deste álbum, não deixe de visitar…
Ontem, trouxe aqui as antológicas gravações da música para piano de Bartók por Andor Foldes. Hoje, seguimos com o mesmo pianista interpretando música húngara.
Andor Foldes é acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Berlim, com uma sonoridade romântica potente que se encaixa muito melhor nesses concertos do que, por exemplo, nos de Beethoven. Os concertos para piano de Liszt não seguem o esquema tradicional em três movimentos. Os temas vão se transformando de forma mais livre, liberdade característica do romantismo e que Liszt explicou assim: “vinho novo exige garrafa nova”.
Liszt, aqui, se distancia de seus contemporâneos Chopin, Mendelssohn e Schumann, que compuseram em formas inovadoras para piano solo, mas não alteraram significativamente a forma do concerto para piano e orquestra que Mozart havia levado à perfeição. Eu gosto especialmente do concerto nº 1, que já começa com um tema muito interessante, que vai aparecer até o final. O genro de Liszt, Hans von Bülow, dizia que as notas do tema podiam ser cantadas como “das versteht ihr alle nicht, haha! (“Vocês não entendem nada, haha!”, ou em inglês, de sonoridade mais próxima do alemão: You don’t understand a thing, haha!). Segundo von Bülow, tratava-se de um aviso aos críticos musicais, o que torna este concerto uma espécie de Roman à clef*. Estreado em Weimar em 1855, com Hector Berlioz na regência, o concerto abriu as portas para obras inovadores para piano e orquestra das gerações seguintes, como os concertos de Brahms, as Variações Sinfônicas de Franck, as Noites nos jardins de Espanha, de Falla, e a Bachianas nº 3 de Villa-Lobos.
O segundo concerto de Liszt, estreado em 1857, também em Weimar, tem uma forma ainda mais diferentona, em um movimento único, assim como a assim como a sua sonata para piano.
Franz Liszt (1811-1886): Piano Concertos
1–3 Piano Concerto No. 1 in E flat major, S.124
4–9 Piano Concerto No. 2 in A major, S.125
Andor Foldes, piano
Berliner Philharmoniker
Leopold Ludwig
Recording: Jesus-Christus-Kirche, Berlin, Germany, February 1953
* Roman à clef – romance com chave, que adquiriria um novo significado quando lido a partir de uma certa chave de entendimento ligada a pessoas e situações da vida real. Em um romance do escritor Will Self, o protagonista afirma: a única possibilidade de eu escrever um roman à clef seria se eu perdesse as chaves do carro. Ao longo do livro a chaves somem várias vezes.
“Boldog születésnapot!” não é uma sopa de letrinhas, e sim “feliz aniversário!” em húngaro – e as felicitações, claro, vão para o genial Béla Viktor János Bartók, em seu idioma nativo, no dia em que completaria 140 anos.
Não falo húngaro, nem jamais falarei. Limito-me a estudá-lo mui diletantemente, sem progresso algum, e há tantos anos que reconheço em meus esforços mais uma contemplação amedrontrada da legendária complexidade do magiar, com seus dezoito casos e vocabulário alheio ao léxico indo-europeu, do que uma pretensão real de algum dia dominar o Leviatã. Ainda assim, resolvi que os títulos das postagens de hoje seriam bilíngues, não para ostentar minha confessa semi-ignorância, e sim para homenagear devidamente o aniversariante, que tanto orgulho tinha de seu país, de sua cultura e de seu idioma, e que – mesmo notável poliglota – contemplava o resto do mundo a partir dessa inexpugnável ilha linguística.
Bartók, claro, também tocava piano (que o magiar, aliás, resolveu chamar de nada parecido com o italiano piano ou o alemão Klavier, e sim de ZONGORA). Reconhecia ritmos e melodias antes de balbuciar frases completas, e, antes de completar quatro anos, já estava tão familiarizado ao teclado que seu repertório contava com quarenta peças. Sua maior aliada era a mãe, Paula, uma professora de piano que começou a lhe dar aulas a partir dos cinco anos e não mediria esforços para garantir a melhor educação musical possível a seu filho, o que envolveu heroísmo depois da morte inesperada do marido, quando o menino tinha meros cinco anos. Sua admissão na classe de piano de István Thomán na Real Academia de Música de Budapest, aos dezoito anos, coroou a abnegação de Paula, a quem Béla permaneceria devotamente ligado até a morte dela.
Embora tenha feito várias turnês ao longo da vida – a primeira delas pela Alemanha, em 1903, ao graduar-se da Academia -, a carreira de Bartók como concertista sempre lhe teve um papel secundário, inda mais depois de ingressar no corpo docente da Academia, em 1908, como professor de piano. Com um emprego prestigioso e salário fixo, já não dependia mais dos recitais como ganha-pão, e podia assim lançar-se ao pleno cultivo de suas maiores paixões – a composição e o estudo da música folclórica húngara – até a reta final de sua vida, quando o fascismo e o envolvimento da Hungria na guerra obrigaram-no a refugiar-se nos Estados Unidos, onde viu-se obrigado novamente a sentar-se ao teclado para sustentar-se.
Mesmo com essa baixa prioridade dada à ribalta, Bartók legou-nos um número razoável de gravações em diferentes meios – incluindo cilindros de cera e o processo Welte-Mignon, semelhante à pianola – que não só servem como documentos fascinantes de seu pianismo, com também são testemunhos preciosos das concepções artísticas do gênio. A qualidade do som registrado pelos processos arcaicos não consegue, naturalmente, trazer a nossos tempos uma das virtudes mais laudadas por aqueles que ouviram Béla ao teclado: seu timbre, descrito como “belo”, “caloroso” e “profundamente convincente”. Muito evidentes, entretanto, são outras qualidades descritas por seus contemporâneos: a concentração (“sua execução de piano era desprovida de qualquer floreio superficial e irrelevante; cada tom era pura essência ”, segundo Lajos Hernádi), a inventividade (“ele foi um revolucionário na composição; sua performance ao piano também estava sob a égide da renovação, desprovida de qualquer rotina”, nas palavras de Géza Frid) e a espontaneidade (“há uma espécie de pureza virginal até em suas marteladas mais infernais… Isso é mais que o gênio do artista-intérprete; é o gênio inerente do artista criativo para tudo o que é criação”, como descreveu Aladár Tóth, esposo da grande pianista Annie Fischer).
As preciosidades que lhes apresento a seguir foram lançadas pelo selo Hungaroton em 1981, por ocasião do centenário do compositor, e compreendem a quase totalidade do legado fonográfico de Béla Bartók (a notória exceção é um recital com Joseph Szigeti na Livraria do Congresso em Washington, D. C., nos Estados Unidos, que será oportunamente publicada pelo colega Pleyel). Elas refletem o conforto com que ele assumia as funções de recitalista, camerista, acompanhador, pianista de duo e concertista, e atestam categoricamente sua destreza ao teclado. Alguns registros, como as sonatas de Scarlatti, dão a impressão de que o sisudo, quase ascético homem chegava mesmo divertir-se ao tocar piano. Outros, como o fragmento do “Concerto Patético” de Liszt, tocado com o colega de Academia e também compositor Dohnányi, contrastam seu estilo econômico com o som efusivo e ultrarromântico do segundo. E eletrizantes, acima de tudo, são as leituras suas próprias obras (algumas delas anunciadas em húngaros pelo próprio compositor), um legado inestimável para os pianistas que as desejam incorporar a seus repertórios e, pelo menos para mim, seu fã incondicional, fascinantes janelas para um passado não tão remoto em que o gênio estava entre nós.
BARTÓK HANGFELVÉTELEI CENTENÁRIUMI ÖSSZKIADÁS (“Edição do centenário das gravações de Bartók”)
Editores: László Somfai, Zoltán Kocsis, János Sebestyén
Hungaroton, 1991
I. BARTÓK ZONGORÁZIK 1920-1945 (“Bartók ao piano”)
Gravações em piano de rolo (processo Welte-Mignon)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
1 – Das Dez peças fáceis, BB 51 – No. 5: Este a székelyeknél – Das Quinze canções camponesas húngaras, BB 79 – No. 6: Ballada
2 – Quinze canções camponesas húngaras, BB 79, Sz. 71 – Nos. 7-10, 12, 14, 15
3 – Sonatina para piano, BB 69, Sz. 55
4 – Danças folclóricas romenas para piano, Sz. 56, BB 68
Gravações fonográficas
5 – Das Dez peças fáceis, BB 51 – No. 5: Este a székelyeknél – No. 10: Medvetanc (“Dança do Urso”)
6 – Das Duas danças romenas, Op. 8a, Sz. 43, BB56 – No. 1: Allegro vivace
7 – Das Quatorze bagatelas para piano, Op. 6, BB 50 – No. 2: Allegro giocoso – Das Três Burlesques, BB 55 – No. 2: Kicsit azottan
8 – Allegro barbaro, BB 63, Sz. 49
Suíte para piano, BB 70, Sz. 62, Op. 14
9 – I. Allegretto
10 – II. Scherzo
11 – III. Allegro molto – IV. Sostenuto
Suíte para piano, BB 70, Sz. 62, Op. 14
12 – I. Allegretto
13 – II. Scherzo
14 – III. Allegro molto – IV. Sostenuto
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
15 – Sonata em Sol maior, K. 427/L. 286/P. 286 – Sonata em Lá maior, K. 212/L. 135/P. 155
16 – Sonata em Lá maior, K. 537/L. 293/P. 541 – Sonata em Si bemol maior, K. 70/L. 50/P. 21
Ferenc LISZT (1811-1886)
Années de Pèlerinage, 3ème Année, S. 163
17 – No. 7: Sursum corda
Béla BARTÓK
18 – Das Quinze canções húngaras para piano, BB 79, Sz. 71 – Nos. 7-10, 12, 14, 15
19 – Dos Três rondós sobre melodias folclóricas eslovacas, BB 92, Sz. 84 – No. 1: Andante
20 – Das Nove pequenas peças para piano, BB 90 – No. 6: Dal – No. 8: Csorgotanc – Petite Suite, BB 113 – No. 5: Szol
Cinco canções folclóricas húngaras, BB 97, Sz. 33
1 – No. 1: Elindultam – No. 2. Altal – No. 3: A gyulai
2 – No. 4: Nem messze van ide – No. 5: Vegigmentem a tarkanyi
Vilma Medgyaszay, soprano Béla Bartók, piano
Canções folclóricas húngaras, Sz. 42
3 – No. 1: Fekete fod – No. 3: Asszonyok, asszonyok
4 – No. 2: Istenem, istenem – No. 5: Ha kimegyek
5 – No. 6. Toltik a – No. 7: Eddig valo dolgom – No. 8: Olvad a ho
Mária Basilides, contralto Ferenc Székelyhidy, tenor Béla Bartók, piano
6 – Melodias folclóricas húngaras (arranjo de Jozséf Szigeti para violino e piano)
7 – Danças folclóricas romenas para piano, Sz. 56, BB 68 (arranjo de Zoltán Székely para violino e piano)
Rapsódia no. 1 para violino e piano, BB 94a, Sz. 86
8 – Lassú
9 – Friss
József Szigeti, violino Béla Bartók, piano
Contrastes, para violino, clarinete e piano, BB 116, Sz. 111
10 – I. Verbunkos
11 – II. Piheno
12 – III. Sebes
József Szigeti, violino Benny Goodman, clarinete
Béla Bartók, piano
Béla BARTÓK
Concerto para piano e orquestra no. 2, BB 101
1 – I. Allegro – II. Adagio – III. Allegro molto (excertos)
Béla Bartók, piano Budapesti Szimfonikus Zenekara (Orquestra Sinfônica de Budapeste) Ernest Ansermet, regência
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
2 – Seis variações sobre um tema original em Fá maior, Op. 34 (excerto)
Johannes BRAHMS (1833-1897)
3 – Das Klavierstücke, Op. 76 – No. 2: Capriccio in Si menor
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
4 – Dos Dois noturnos, Op. 27 – No. 1 em Dó sustenido menor
Béla BARTÓK De Mikrokosmos, BB 105: 5 – Vol. 5: No. 138. Gaita de foles
6 – Vol. 4: No. 109. Da ilha de Bali (excerto)
7 – Vol. 6: No. 148. Seis danças em ritmo búlgaro: No. 1 (excerto)
Béla Bartók, piano
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para dois pianos em Ré maior, K. 448
8 – I. Allegro con spirito (excerto)
9 – II. Andante (excerto)
10 – III. Allegro molto (excerto)
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En blanc et noir, para dois pianos, L. 134
11 – I. Avec emportement (excerto)
12 – II. Lent, Sombre (excertos)
13 – III. Scherzando (excertos)
Béla BARTÓK
1 – Rapsódia para piano e orquestra, Op. 1, Sz. 27 (excertos)
Béla Bartók, piano Magyar Királyi Operaház Zenekara (Orquestra da Ópera Real Húngara) Ernő Dohnányi, regência
Johannes BRAHMS Sonata para dois pianos em Fá menor, Op. 34bis
2 – I. Allegro non troppo
3 – II. Andante un poco adagio
4 – III. Scherzo: Allegro
5 – IV. Finale: Poco sostenuto – Allegro non troppo
Béla BARTÓK 1 – Rapsódia no. 1 para violino e piano, Sz. 86, BB 94 2 – Magyar népdalok (Canções folclóricas húngaras), BB 109 (arranjo de Tivadar Országh para violino e piano)
Ede Zathureczky, violino Béla Bartók, piano
Ferenc LISZT 3 – Concerto pathétique, para dois pianos, S258/R 356
Béla Bartók eErnő Dohnányi, pianos
Prózai Anyagok (“material falado”)
Béla BARTÓK
Entrevistas, conferências e pronunciamentos:
4 – Texto da “Cantata profana” (em húngaro)
5 – Conferência sobre a expedição à Anatólia (em húngaro)
6 – Entrevista na Radio Bruxelles (em francês)
7 – Entrevista para a série “Ask the Composer” (em inglês)
8 – Gravações familiares (em húngaro)
Tinha separado essa gravação para publicá-la na série com a obra integral de Beethoven para, no fim, preteri-la. Gosto muito de Buchbinder, que há anos nos vem presenteando com gravações muito boas de Ludwig, de Wolfgang e de Franz Peter, mas sua nova leitura das “Diabelli”, que ocupa o primeiro disco desse álbum duplo, soou-me um tanto insossa: tecnicamente impecável, mas sem o colorido e os contrastes dinâmicos com que os grandes pianistas costumam tratar esse monumento da literatura para teclado.
O segundo disco, muito mais interessante, traz variações modernas sobre a valsa de Diabelli, dedicadas ao próprio pianista, somadas a algumas daquelas da Vaterländische Künstlerverein de que Buchbinder fez uma das primeiras gravações completas. A abordagem conservadora das variações de Beethoven, assim, acaba aumentando a surpresa com as frescas peças que abrem o segundo disco e trazem ao primeiro uma perspectiva diferente. Se isso foi ou não intencional, eu não lhes saberia dizer, mas recomendo a experiência, nem que seja só pelas obras modernas, e pela homenagem que o pianista faz ao compositor e à obra que mais marcaram sua vida.
Em suas próprias palavras,
“Nenhum compositor esteve ao meu lado com tanta intensidade quanto Ludwig van Beethoven, e nenhuma de suas obras se tornou um leitmotiv de minha vida como suas Variações Diabelli. Sessenta anos atrás, meu professor de piano Bruno Seidlhofer deu sua partitura a mim, seu aluno mais jovem na Academia de Música de Viena, a quem gostava de chamar de “Burli” (“rapazinho”). ‘Ao meu querido Rudolf Buchbinder, os melhores votos para o futuro’, escreveu ele com uma caneta esferográfica na primeira página. A ‘última valsa’ de Beethoven está comigo desde então.
Foi também Seidlhofer quem me deixou tocar as primeiras 25 de um total de 50 variações da chamada “Vaterländischer Künstlerverein” em um concerto de estudantes – variações feitas por contemporâneos de Beethoven que também haviam se baseado no tema da valsa de Diabelli. Entre eles estavam Carl Czerny, aluno de Beethoven, e seu aluno de 11 anos, Franz Liszt; o professor de Czerny, Johann Nepomuk Hummel; o filho de Mozart, Franz Xaver Wolfgang Mozart; e Franz Schubert, cuja variação em Dó menor deve ter parecido sobrenatural até para os ouvintes daquela época.
Quando, em 1973, fui aos estúdios Teldec de Berlim para gravar as Variações Diabelli de Beethoven pela primeira vez, foi-me natural registrar também as variações de seus contemporâneos. Afinal, suas peças eram um passeio musical pela Viena de Beethoven. Quando retomei o ciclo, apenas três anos depois, alguns colegas já me haviam apelidado de “Monsieur Diabelli”. Em 2007, eu, com muito gosto, contribuí com um concerto beneficente para ajudar a Beethovenhaus em Bonn a adquirir o manuscrito autógrafo desta peça, um documento que nos permite um vislumbre do meticuloso processo de trabalho de Beethoven: de ataques de raiva ilegíveis a correções cuidadosas. Tinta preta, verde e vermelha e lápis – música que Beethoven rabiscou parcialmente no papel.
E, de fato, até hoje, as Variações Diabelli continuam sendo uma das minhas peças mais executadas. Meu tio, que desde cedo reconheceu e cultivou meu talento musical, anotou minhas apresentações em uma pasta preta, um hábito que continuei, por curiosidade, após sua morte. É por isso que sei que executei o ciclo das Diabelli em público exatamente 99 vezes antes do aniversário de Beethoven em 2020. “Diabelli 2020” é, portanto, também um jubileu privado para mim e para minha relação com Beethoven.
Era, assim, natural que eu quisesse retomar o ciclo de variações no ano do jubileu, bem como minhas variações favoritas dos outros 50 compositores. Eles formam o contraste camerístico com minhas gravações dos concertos de piano de aniversário com Andris Nelsons e a Orquestra Gewandhaus, Mariss Jansons e a Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks, Valery Gergiev e a Filarmônica de Munique, Christian Thielemann e a Staatskapelle Dresden e com Riccardo Muti e a Filarmônica de Viena.
Anton Diabelli não era apenas um editor, mas também um empresário muito astuto. O volume com as 50 variações impressas de sua valsa era algo como as paradas de sucesso de seu tempo, obras de superestrelas musicais que podiam ser tocadas nos salões. Uma estratégia de marketing engenhosa, que Beethoven, entretanto, evitou. Isso se deveu, por um lado, ao grande número de suas 33 variações, que ultrapassaram todos os limites, e, por outro, à sua (naquela época) pura impossibilidade de serem tocadas! Somente 30 anos após sua publicação é que o Op. 120 foi executado pela primeira vez pelo pianista e maestro Hans von Bülow e, mesmo depois disso, as Variações Diabelli, que Bülow chamou de “microcosmo do gênio de Beethoven”, continuaram a serem vistas como dificuldades.
Para mim, as Variações Diabelli são talvez a obra mais emocionante de Beethoven. Eles são música sobre música. Beethoven foi evidentemente inspirado pelas “Variações Goldberg” de Bach, mas também cita outros “deuses”, como Haydn ou Mozart, a quem dedica a 22ª variação com o tema do “Don Giovanni”. No final, Beethoven volta a si mesmo, citando sua última sonata, Op.111, na 33ª variação, e revelando sua genialidade ao desmontar uma simples valsa em suas partes estruturais para remontá-las em toda a sua complexidade à sua própria imagem. Você também poderia dizer: Beethoven come a valsa de Diabelli e a digere ante nossos ouvidos.
Isso por si só já seria notável; o que é, em última análise, um golpe de gênio é que Beethoven não conduz esse processo só pelo processo em si, mas usa as etapas das variações individuais para levantar um compêndio de questões humanas fundamentais e, com base nas variações, explorar a diversidade da natureza humana. Beethoven coloca cada elemento da valsa de Diabelli contra a luz da história da Música e conscientemente o atribui ao ideal de seu presente. Para mim, a 33ª variação entra em um estado em que minhas associações sobre Beethoven, sobre tocar piano e sobre as Variações Diabelli também evanescem em outras esferas.
Ficou claro para mim: meu projeto “Diabelli 2020” iria transpor uma lacuna do tempo, e uma nova gravação do ciclo Diabelli só faria sentido se pedisse a compositores contemporâneos que contribuíssem com uma variação sobre a valsa. Claro, hoje não pensamos mais regionalmente ou nacionalmente como Diabelli, mas sabemos que, em 2020, Beethoven já chegou ao nosso mundo global.
Estou orgulhoso da gama de compositores envolvidos neste projeto: da maravilhosa Lera Auerbach a Max Richter. Também estou encantado com a participação de Tan Dun, que eu, como cinéfilo, naturalmente admiro por sua música vencedora do Oscar para o clássico de cinema de Ang Lee “O Tigre e o Dragão”. Toshio Hosokawa, provavelmente o mais importante compositor contemporâneo do Japão, apresentou-me sua partitura após um concerto em seu país: caracteres japoneses escritos a lápis na página de rosto.
O australiano Brett Dean dedicou sua variação, e essa é uma grande honra para mim, “para RB com admiração” e abre com um con fuoco louco; Toshio Hosokawa batizou sua obra de “Perda”, começa com um Adagio sostenuto e então – como é sua marca registrada – passeia pelas paisagens sonoras de Diabelli com serenidade japonesa. Não importa o quão casualmente o compositor austríaco Johannes Maria Staud intitulou sua variação “A propos … de Diabelli” e pediu ao intérprete para tocar “suavemente e obstinadamente”: ele certamente me desafiou com sua notação extremamente criativa. Já para o maestro e compositor alemão Christian Jost, a valsa de Diabelli é uma inspiração para uma performance alegre, como pode ser visto no título “Rock it, Rudi!“, que realmente me inspirou enquanto a estudava. Brad Lubman também traça um arco através da história da música em sua “Variação para RB“, assim como o compositor francês Philippe Manoury, que programaticamente chama sua peça de “Dois Séculos Depois” e prepara o palco para o metrônomo (uma ferramenta que se tornou popular no tempo de Beethoven). Ele prescreve pelo menos 12 indicações metronômicas diferentes. O compositor russo Rodion Shchedrin começa sua variação quase improvisato, e o compositor e clarinetista Jörg Widmann explora traços característicos de Beethoven em sua variação detalhada e com várias partes – fiquei particularmente encantado quando encontrei o subtítulo “Boogie Woogie“, porque é música que também gosto de associar a Beethoven.
Muitas vezes me perguntam o que se passa em minha mente enquanto toco uma obra como as Variações Diabelli. Minha resposta é simples: não muito! O processo de pensar e se envolver com Beethoven deve ser concluído muito antes de a primeira nota ser tocada. Durante um concerto, Beethoven convida o pianista a se deixar levar. Não quero dizer nadar sem rumo nas ondas de som. Deixar-se flutuar com Beethoven exige saber onde se está o tempo todo, conhecer a navegação musical, o céu estrelado, os ventos e os pontos cardeais do cosmos de Beethoven.
Qualquer pessoa que tenha estudado a música para piano de Beethoven intensamente sabe que Beethoven conhecia-nos, pianistas, assustadoramente bem, e nossas fraquezas e impaciência quando se trata de obter efeitos baratos, tomar o tempo em nossas próprias mãos ou impressionar o público com um design dinâmico idiossincrático. Vamos considerar a 10ª variação: ela começa com as palavras sempre staccato, ma leggiermente. Então, Beethoven quer ouvir um staccato leve. Com a indicação dinâmica pp, ou seja, pianíssimo, ele descreve o nada de que se origina essa variação. Apenas oito compassos depois, ele já parece não confiar mais em nós. Só assim se pode explicar porque levanta o dedo e volta a escrever na partitura: sempre staccato e pianissimo. Como Beethoven não forneceu nenhuma nova marcação dinâmica até este ponto, não deveria ser preciso dizer que ainda estamos em pianíssimo no oitavo compasso. Mas Beethoven suspeita que a velocidade da variação, associada ao staccato, pode nos seduzir a tocar mais alto. Ele poderia ter escrito: ‘Caro pianista, mesmo que você queira tocar mais alto aqui, controle-se e fique em pianíssimo um pouco mais!’
Tudo isso só é revelado quando você compara as edições individuais, porque absurdamente, algumas editoras eliminaram essas duplicações da impressão como erros. É importante se manter próximo ao texto original de Beethoven. Porque quanto mais alguém está preparado para curvar sua própria vontade ante a vontade do compositor, mais certo é que atingirá o tom que Beethoven pretendia. Para encurtar a história: é tarde demais para começar a pensar antes de tocar a primeira nota das Variações Diabelli. No momento do concerto, o que importa é confiar em Beethoven e deixar-se levar pela enorme criatividade de suas variações”
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trinta e três variações em Dó maior para piano sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120 Compostas entre 1819–23 Publicadas em 1823 Dedicadas a Antonie Brentano
1 – Thema: Vivace
2 – Variation 1: Alla marcia maestoso
3 – Variation 2: Poco allegro
4 – Variation 3: L’istesso tempo
5 – Variation 4: Un poco più vivace
6 – Variation 5: Allegro vivace
7 – Variation 6: Allegro ma non troppo e serioso
8 – Variation 7: Un poco più allegro
9 – Variation 8: Poco vivace
10 – Variation 9: Allegro pesante e risoluto
11 – Variation 10: Presto
12 – Variation 11: Allegretto
13 – Variation 12: Un poco più moto
14 – Variation 13: Vivace
15 – Variation 14: Grave e maestoso
16 – Variation 15: Presto scherzando
17 – Variation 16: Allegro
18 – Variation 17: Allegro
19 – Variation 18: Poco moderato
20 – Variation 19: Presto
21 – Variation 20: Andante
22 – Variation 21: Allegro con brio – Meno allegro – Tempo primo
23 – Variation 22: Allegro molto, alla « Notte e giorno faticar » di Mozart
24 – Variation 23: Allegro assai
25 – Variation 24: Fughetta (Andante)
26 – Variation 25: Allegro
27 – Variation 26: (Piacevole)
28 – Variation 27: Vivace
29 – Variation 28: Allegro
30 – Variation 29: Adagio ma non troppo
31 – Variation 30: Andante, sempre cantabile
32 – Variation 31: Largo, molto espressivo
33 – Variation 32: Fuga: Allegro
34 – Variation 33: Tempo di Menuetto moderato
Lera AUERBACH (1973)
35 – Diabellical Waltz
Brett DEAN (1961)
36 – Variation For Rudi
Toshio HOSOKAWA (1955)
37 – Verlust
Christian JOST (1963)
38 – Rock It, Rudi!
Brad LUBMAN
39 – Variation For RB
Philippe MANOURY (1952)
40 – Zwei Jahrhunderte Später…
Max RICHTER (1966)
41 – Diabelli
Rodion Konstantinovich SHCHEDRIN (1932)
42 – Variation On A Theme Of Diabelli
Johannes MariaSTAUD (1974)
43 – À propos de… Diabelli
Tan DUN (1957)
44 – Blue Orchid
Jörg WIDMANN (1973)
45 – Diabelli-Variation
Da parte II da Vaterländischer Künstlerverein (“Associação Patriótica de Artistas”)
Johann Nepomuk HUMMEL (1778–1837)
46 – Variação XVI [Sem indicação de andamento]
Friedrich KALKBRENNER (1785–1849)
47 – Variação XVIII: Allegro non troppo
Certa vez, há muitos anos, o irmão de um amigo estava num bar com um pequeno palco e um violão à disposição daqueles que quisessem fazer um pouco de música. Ele, um bom violonista, animou-se e lá foi tocar algumas coisinhas. Recebeu aplausos sinceros e, enquanto voltava ao seu lugar, viu o dono do estabelecimento afobar-se rumo ao microfone:
– Gurizada, acabo de saber que está aqui conosco uma das maiores revelações da Música brasileira, e queria chamá-lo agora ao palco.
Era Yamandu Costa, que atendeu ao chamado e, claro, logo começou a derramar maravilhas do violão. Enquanto isso, o irmão de meu amigo, sentindo-se um procarionte, saía de fininho e, até onde sei, nunca mais tocou em público.
ooOoo
Sentimento semelhante deve ter tomado conta de cinquenta entre os cinquenta e um colaboradores do projeto Vaterländischer Künstlerverein, quando o colaborador restante, um alemão de nome Beethoven, enviou ao editor Diabelli não somente a variação que este pedira sobre uma sua valsinha, mas trinta e três transfigurações dela que, juntas, formam a maior obra em variações da história da Música.
Ei-las
Ninguém tem certeza sobre os motivos que levaram Diabelli, um pianista e violonista amador cuja notoriedade resumia-se à composição de numerosas bagatelas pedagógicas, a organizar o projeto. Como sócio duma editora, pode-se sempre supor que o motivo fosse caçar bufunfa. Corre a lenda, no entanto, de que ele, horrorizado com a penúria dos órfãos e feridos de guerra em Viena, resolveu convocar a Associação Patriótica de Artistas (uma das traduções possíveis para Vaterländischer Künstlerverein) para aliviar o sofrimento daqueles miseráveis, através duma composição beneficente. O fato é que esse alívio, se de fato houve, demorou a chegar, pois, entre a composição da primeira variação (por Czerny, em 1819) e a da última (por Wittasek, em 1824), cinco anos se passaram. Nesse meio-tempo, Beethoven – obviamente obcecado pelo tema de Diabelli – pariu trinta e três variações, escritas entre os exigentes trabalhos da Missa Solemnis e das três últimas sonatas para piano, e as publicou antes de todas as demais, em 1823, como o primeiro volume da Vaterländischer Künstlerverein. As cinquenta contribuições restantes só iriam à prensa no ano seguinte, formando seu segundo e obscuro volume.
Ninguém sabe, tampouco, a quantos compositores Diabelli enviou seu convite e a cópia da hoje célebre valsinha. O que houve, e disso já sabemos, foram cinquenta e uma respostas. Afora o renano aberrante com suas trinta e três geniais variações, houve dois outros compositores que se deram ao trabalho de escrever mais de uma variação. Gottfried Rieger e Franz Xaver Wolfgang Mozart (filho de Amadeus e por isso chamado, na primeira edição, de “Wolfgang Amadeus Mozart Filho”) contribuíram cada qual com um par, do qual Diabelli escolheu apenas uma (as outras, que acabaram descartadas, estão inclusas na gravação que ouvirão).
Entre os outros quarenta e oito, há um gênio: o então pouco conhecido Franz Schubert, cuja singela variação praticamente grita sua autoria e soa como um dos seus “moments musicaux”. Há também músicos que fizeram o movimento oposto e desceram do alto do panteão musical para um relativo esquecimento, como o mui competente Johann Nepomuk Hummel, cujo maior defeito e tremendo azar foi ser contemporâneo de Ludwig. Entre as muitas celebridades pianísticas da época que legaram suas variações, duas eram muito próximas a Beethoven: Carl Czerny, seu aluno de piano e fundador duma linha pedagógica que chegou a nossos tempos, e Ignaz Moscheles, que o auxiliou na organização de Fidelio e lhe foi um amigo extraordinário nos dolorosos anos finais. Outras dessas celebridades hoje mal ocupam notas de rodapé, como Friedrich Kalkbrenner, o mais famoso pianista de Paris quando da chegada de Chopin àquela cidade e dedicatário do primeiro concerto para piano do polonês (Op. 11), e de J. P. Pixis, um artista famoso pelo nariz descomunal e que também recebeu uma dedicatória de Chopin – aquela da Fantasia sobre Temas Poloneses (Op. 13). Escondidos sob a forma alemã de seus sobrenomes – Tomaschek e Worzischek – estão dois bons compositores boêmios, Václav Tomášek e Jan Voříšek. Também encontramos no rol alguns cidadãos de oblíqua fama, como Michael Umlauf, o regente de fato da première da Nona Sinfonia de Beethoven (pois o regente oficial era Beethoven, que nada mais escutava e menos ainda regia), e Anselm Hüttenbrenner, amigo de Schubert e fiel depositário dos manuscritos da Sinfonia Inacabada. Encontramos alguns falsos cognatos – um Czerny que nada tem a ver com o Czerny famoso, autor daquelas centenas de estudos que são o terror dos estudantes de piano, e um Kreutzer sem relações com aquele que esnobou a sonata que imortalizou seu nome. No mais, somente nomes dos quais nada mais sabemos, nem por notas de rodapé, com duas exceções.
A primeira exceção é a sigla S. R. D., que para os íntimos significa Serenissimus Rudolphus Dux e designa o arquiduque Rudolph da Áustria, grande amigo e generoso patrono de Beethoven, de quem foi o único aluno de composição. Rudolph, que se preparava para assumir a arquidiocese de Olmütz (atual Olomouc, Tchéquia), estava um tanto afastado da Música e deve ter, por isso, preferido a discrição.
A segunda é um “menino de onze anos, nascido na Hungria”, de nome…
O então desconhecido moleque de Raiding tinha oito anos quando Czerny, seu influente professor, escreveu sua variação, e treze quando sua própria variação foi publicada. Liszt ainda não sonhava com a fama e a histeria em que surfaria por toda a Europa nas décadas seguintes, e certamente ingressou no rol de Diabelli por influência de Czerny. Curiosamente, Liszt, Czerny e o supracitado Pixis juntar-se-iam futuramente a Chopin, Thalberg e Herz na publicação duma outra obra colaborativa: o Hexameron (1837), composto por variações sobre uma marcha de Bellini e organizado por Liszt.
Convites enviados, variações recebidas, restava organizá-las para publicação. E qual o critério escolhido para fazê-lo? O mais mocorongo possível: a ordem alfabética.
Francamente, Herr Diabelli!
Para não ficar tão feio, Diabelli pediu a Czerny, seu primeiro colaborador no projeto, que compusesse uma coda que arrematasse a colcha de retalhos. Apesar de seu cuidado, o mexidão pianístico não deu tão certo e, mesmo que lhe concedamos a cortesia de não escutarmos as “Diabelli” de Beethoven primeiro, o segundo volume da Vaterländische Künstlerverein é dureza de ouvir. A posteridade foi rápida no veredito e concedeu-lhe, por fim, a mais definitiva das cortesias: o completo esquecimento.
Não fosse a abnegação de gente como Rudolf Buchbinder a tirar-lhes o bolor, soprar-lhes a poeira e volta e meia tocá-las (Buchbinder significa “encadernador”, e talvez isso explique sua predileção por papel roído por cupins), vocês só saberiam dessas cinquenta outras variações através de poentos volumes e debaixo de violentos acessos de rinite. Por isso, agradeçam a Buchbinder e ao PQP Bach pelo duvidoso privilégio, sem esquecer daquele valeuzinho para mim, que tanto trabalho tive digitando nomes obscuros para identificar as faixas e as categorias na lista de compositores publicados aqui no blog – o qual, certamente, nunca ganhou tantas figurinhas novas num só dia.
De nada.
Anton DIABELLI (1781–1858) [organizador]
Vaterländischer Künstlerverein – Veränderungen für das Piano-Forte über ein vorgelegtes Thema componiert von den vorzüglichsten Tonzetzern und Virtuosen Wiens und der kaiserlichen-königlichen österreichischen Staaten (“Associação Patriótica de Artistas – Variações sobre um tema proposto, compostas pelos mais renomados compositores e virtuosos de Viena e dos estados imperiais e reais da Áustria”)
PARTE I
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trinta e três variações em Dó maior para piano sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120 Compostas entre 1819–23 Publicadas em 1823 Dedicadas a Antonie Brentano
1 – Thema: Vivace
2 – Variation 1: Alla marcia maestoso
3 – Variation 2: Poco allegro
4 – Variation 3: L’istesso tempo
5 – Variation 4: Un poco più vivace
6 – Variation 5: Allegro vivace
7 – Variation 6: Allegro ma non troppo e serioso
8 – Variation 7: Un poco più allegro
9 – Variation 8: Poco vivace
10 – Variation 9: Allegro pesante e risoluto
11 – Variation 10: Presto
12 – Variation 11: Allegretto
13 – Variation 12: Un poco più moto
14 – Variation 13: Vivace
15 – Variation 14: Grave e maestoso
16 – Variation 15: Presto scherzando
17 – Variation 16: Allegro
18 – Variation 17: Allegro
19 – Variation 18: Poco moderato
20 – Variation 19: Presto
21 – Variation 20: Andante
22 – Variation 21: Allegro con brio – Meno allegro – Tempo primo
23 – Variation 22: Allegro molto, alla « Notte e giorno faticar » di Mozart
24 – Variation 23: Allegro assai
25 – Variation 24: Fughetta (Andante)
26 – Variation 25: Allegro
27 – Variation 26: (Piacevole)
28 – Variation 27: Vivace
29 – Variation 28: Allegro
30 – Variation 29: Adagio ma non troppo
31 – Variation 30: Andante, sempre cantabile
32 – Variation 31: Largo, molto espressivo
33 – Variation 32: Fuga: Allegro
34 – Variation 33: Tempo di Menuetto moderato
Ignaz Franz Edler von MOSEL (1772–1844)
28 – Variação XXVII [Sem indicação de andamento]
Franz Xaver Wolfgang MOZART (1791–1844), listado como “Wolfgang Amadeus Mozart Filho”
29 – Variação XXVIIIa: Con fuoco
30 – Variação XXVIIIb [Sem indicação de andamento]
Joseph PANNY (1796–1838)
31 – Variação XXIX: Allegro con brio
Sou ávido ouvinte da chamada interpretação historicamente informada, a ponto de ter uma discografia historicamente informada paralela à de interpretações, assim digamos, convencionais. A música de Beethoven, que esteve por décadas além dos limites de exploração da turma dos instrumentos originais, foi por ela enfim acolhida, e a produção pianística de Ludwig, tão fundamental ao repertório, não ficou de fora, e o mundo viu surgirem muitas atraentes leituras das sonatas, tocadas em fortepianos por mestres como Paul Badura-Skoda e Ronald Brautigam.
Faltavam, no entanto, as Variações Diabelli.
É bem provável que, por sua transcendência e exigências ao instrumento e ao executante, elas tenham ficado fora da alçada das aventuras dos primeiros fortepianistas contemporâneos. Beethoven, que já estava completamente surdo quando compôs as “Diabelli”, nunca as escutou, exceto em sua imaginação. Suas frequentes reclamações quanto às limitações dos pianos de sua época, no entanto, permitem-nos supor que ele desejasse para as “Diabelli” um instrumento mais potente, com timbre mais uniforme entre os registros, e vasta gama dinâmica – um instrumento, enfim, como os modernos pianos de concerto.
Entra em cena Andreas Staier, um fortepianista com toque de Midas, disposto a recriar as “Diabelli” dum modo que ninguém antes as ouvira: numa cópia dum instrumento de Conrad Graf, semelhante ao que o compositor mantinha em seu caótico apartamento, e baseado no manuscrito autógrafo que, depois de cento e oitenta anos flanando entre coleções privadas, foi enfim adquirido pela Beethovenhaus em Bonn.
Tão logo anunciaram esse projeto de Staier, passei a esperar, claro, pelo sublime. Não me frustrei: sua gravação, parida em 2012, nasceu clássica. Mesmo se tivesse sido feita num piano moderno, ela seria excelente, pelo afinco com que Staier abraçou o conceito beethoveniano de sintetizar, com as “Diabelli”, o estado da arte pianístico daqueles 1820’s. À sua exploração aventurosa do teclado soma-se o domínio dos timbres do fortepiano, usados em todos seus recursos – incluindo seus pedais de abafamento e efeitos de registros, como o de fagote (que dá um toque fanhoso às notas) e o dito “registro janízaro”, que tenta emular a percussão das bandas de regimentos otomanos, feito para saciar o apetite europeu por “música turca”, naquela época.
Staier não para por aí: ele adiciona ornamentos e ligeiras variações às repetições; usa as pausas de maneira extremamente expressiva – por vezes irônica, noutras muito dramática – tanto durante as variações quanto entre elas; e, não menos importante, abre a gravação com doze das variações que diversos compositores (entre eles Liszt e Schubert) mandaram a Diabelli, para que sirvam de prelúdio à obra-prima de Beethoven. Para arredondar, presenteia-nos com uma introdução improvisada antes da obra de Beethoven, que é sua própria variação sobre a marota valsinha.
Nas palavras de Staier:
Minha intenção com a introdução foi criar um espaço sonoro que separa os doze ‘prelúdios’, de Czerny a Schubert, do grande ciclo de Beethoven. É uma pausa para respirar no meio do que, de outra forma, seria música rigorosamente composta. Por isso, eu acho que o elemento improvisado é aqui perfeitamente apropriado. Dessa forma, pode-se garantir que a valsa de Diabelli tenha o frescor necessário na segunda vez que for tocada. […] Este manuscrito fascinante nos permite inferir o lado colérico e impaciente de Beethoven, mas não o lado irônico de seu caráter. As anotações mostram suas preocupações e dificuldades durante um processo de composição bastante trabalhoso. O que começou como uma cópia limpo se transforma cada vez mais em um manuscrito funcional. Com a dinâmica da caligrafia e as muitas correções e rasuras, ele fornece toda uma gama de indicadores para as intenções do compositor. É um tesouro para o intérprete”
Nada que eu e Staier lhes contemos será capaz de dar-lhes ideia da delícia que é ouvir este álbum, uma apoteose do fortepiano e, acima de tudo, uma afirmação de suas qualidades ante suas potentes contrapartes modernas. Calo-me, portanto, para que vocês se deleitem.
Bom proveito!
Anton DIABELLI (1781–1858) [organizador]
De Vaterländischer Künstlerverein – Veränderungen über ein vorgelegtes Thema componiert von den vorzüglichsten Tonzetzern und Virtuosen Wiens und der kaiserlichen-königlichrn österreichischen Staaten (“Associação de Artistas Patrióticos – Variações sobre um tema proposto, compostas pelos mais renomados compositores e virtuosos de Viena e dos estados imperiais e reais da Áustria”)
Anton DIABELLI
1 – Thema: Vivace
Carl CZERNY (1791–1857)
2 – Variação IV [Sem indicação de andamento]
Johann Nepomuk HUMMEL (1778–1837)
3 – Variação XVI [Sem indicação de andamento]
Friedrich Wilhelm Michael KALKBRENNER (1785–1849)
4 – Variação XVIII: Allegro non troppo
Joseph KERZKOWSKY (1791?)
5 – Variação XX: Moderato con espressione
Ignaz MOSCHELES (1794–1870)
8- Variação XXVI [Sem indicação de andamento]
Johann Peter PIXIS (1788–1874)
9 – Variação XXXI [Sem indicação de andamento]
Franz Xaver Wolfgang MOZART (1791–1844)
10 – Variação XXVIIIa: Con fuoco
Franz Peter SCHUBERT (1797–1828)
11 – Variação XXXVIII [Sem indicação de andamento]
Andreas STAIER (1955) 12 – Introduktion (improvisação)
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trinta e três variações em Dó maior para piano sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120 Compostas entre 1819–23 Publicadas em 1823 Dedicadas a Antonie Brentano
13 – Thema: Vivace
14 – Variation 1: Alla marcia maestoso
15 – Variation 2: Poco allegro
16 – Variation 3: L’istesso tempo
17 – Variation 4: Un poco più vivace
18 – Variation 5: Allegro vivace
19- Variation 6: Allegro ma non troppo e serioso
20 – Variation 7: Un poco più allegro
21 – Variation 8: Poco vivace
22 – Variation 9: Allegro pesante e risoluto
23 – Variation 10: Presto
24 – Variation 11: Allegretto
25 – Variation 12: Un poco più moto
26 – Variation 13: Vivace
27 – Variation 14: Grave e maestoso
28 – Variation 15: Presto scherzando
29 – Variation 16: Allegro
30 – Variation 17: Allegro
31 – Variation 18: Poco moderato
32 – Variation 19: Presto
33 – Variation 20: Andante
34 – Variation 21: Allegro con brio – Meno allegro – Tempo primo
35 – Variation 22: Allegro molto, alla « Notte e giorno faticar » di Mozart
36 – Variation 23: Allegro assai
37 – Variation 24: Fughetta (Andante)
38 – Variation 25: Allegro
39 – Variation 26: (Piacevole)
40 – Variation 27: Vivace
41 – Variation 28: Allegro
42 – Variation 29: Adagio ma non troppo
43 – Variation 30: Andante, sempre cantabile
44 – Variation 31: Largo, molto espressivo
45 – Variation 32: Fuga: Allegro
46 – Variation 33: Tempo di Menuetto moderato
Andreas Staier, fortepiano (baseado num modelo de Conrad Graf)
“Conrad Graf – Fabricante de Fortepianos da Corte Imperial e Real – Viena – Próximo à Igreja de São Carlos, na rua Mondschein [“Luar”], no. 102″ Da coleção do Metropolitan Museum of Art, New York City, Estados Unidos (licença Creative Commons CC0 1.0)BTHVN250, por René Denon
O álbum desta postagem parte de uma ideia simples – excelente – e é muito bem feito. Achei a capa ótima, com os nomes dos compositores e o do intérprete grafitados sobre uma foto informal, alegre, jovial. Traduz o espírito do disco.
Imagine reunir um grupo de compositores que também foram grandes intérpretes de suas obras e improvisadores em torno de um piano – numa espécie de jam session. Eles se alternam ao teclado, apresentando suas habilidades e seus poderes de improvisação. O tema do disco – Impromptu – é uma forma musical que, apesar de completamente escrita pelo compositor, é o que temos de mais próximo de suas improvisações. Assim como as peças intituladas Fantasias.
Uma maneira divertida de ouvir o disco é fazê-lo sem decorar a lista das peças e ir adivinhando qual é o compositor da vez ou qual deles ‘sentou-se’ ao piano naquele momento.
Agora é a minha vez…
Schubert é assim um pouco o anfitrião, o dono do piano, pois ao longo do recital ouvimos quatro dos seus impromptus. Temos também algumas surpreendentes presenças, mesmo que mais momentâneas, com Liszt, Dvořák, Gershwin e – pasmem – Charles Ives. Adorei ouvir o ensolarado Impromptu em lá bemol maior de Chopin surgindo logo após uma peça de Gershwin. Chopin senta-se três vezes ao piano e o grande Ludovico, apesar de só sentar-se uma vez, fica por lá quase dez minutos. Sua estranha Fantasia é um exemplo escrito de suas muitas e famosas improvisações, que a classifica para a lista do disco.
O pianista israelense Shai Wosner é excelente. Estudou com Andre Hajdu, professor que valorizava a improvisação e a considerava uma forma de busca do entendimento musical.
“Música Clássica para Leigos” (“Classical Music For Dummies”) é uma série de lançamentos projetados pela Deutsche Grammophon para oferecer aos leigos recém-chegados uma introdução perfeita ao mundo da música clássica.
A série é composta por 50 CDs de música clássica dedicados a diferentes compositores, maestros, pianistas, violinistas e cantores, a maioria contratados ou ex-contratados pela gravadora.
Vladimir Horowitz – The Essentials
Vladimir Samoylovych Horowitz, Kiev, 1 de outubro de 1903 – Nova Iorque, 5 de novembro de 1989) foi um pianista russo-americano. É considerado como um dos mais brilhantes pianistas de todos os tempos, devido à sua excepcional técnica aliada às suas performances contagiantes. (1) Destacou-se pelo seu toucher sem igual, pelo controle dinâmico excepcional e pela sua mecânica única. As suas interpretações mais conhecidas e tidas como inigualáveis se referem às obras que variam do barroco Domenico Scarlatti, passando pelos românticos Chopin, Schumann, Liszt e chegando ao moderno Prokofiev. É considerado por muitos o indiscutível mestre em Scriabin e Rachmaninoff.
Horowitz diz que nasceu em Kiev, Império Russo, mas algumas fontes indicam que ele nasceu em Berdichev. Sua prima Natasha Saitzoff, em uma entrevista concedida em 1991, confirma que Horowitz nasceu em Kiev; no entanto, a esposa de Horowitz, Wanda Toscanini diz que o nascimento em Berdichev é possível.
Ele nasceu em 1903, mas para evitar o serviço militar e assim evitar lesionar suas mãos, seu pai declarava que seu filho nascera em 1904 (este fictício ano de nascimento ainda é encontrado em algumas fontes de referência, mas de fato Horowitz nasceu em 1903, como ele mesmo depois declarou).
Seu talento se destacou e foi reconhecido rapidamente, e então começou a fazer apresentações pela Rússia, onde frequentemente era pago com pão, manteiga e chocolate em vez de dinheiro, devido à miséria econômica vivida no país. Durante o período de 1922 a 1923, ele fez apresentações de 23 concertos de onze diferentes repertórios em Leningrado.
Em 1925, recebeu permissão para sair da Rússia a pretexto de estudar com o pianista austríaco Artur Schnabel. Mas já estava decidido a não voltar.
Horowitz tornou-se um cidadão americano em 1945. (ex-Wikipedia)
Vladimir Horowitz – The essentials Robert Schumann (Alemanha, 1810-1856) 01. Kinderszenen, Op. 15 : 7. Träumerei Fransz List (Áustria, 1811 – Alemanha, 1886) 02. chwanengesang, S.560 : No. 4 Ständchen Johann Sebastian Bach (Alemanha, 1685-1750) 03. Nun komm, der Heiden Heiland, BWV 659 (Transcr. for Piano By Ferruccio Busoni) Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791) 04. Piano Sonata No. 3 in B-Flat Major, K. 281 : 1. Allegro 05. Piano Sonata No. 3 in B-Flat Major, K. 281 : 2. Andante amoroso 06. Piano Sonata No. 3 in B-Flat Major, K. 281 : 3. Rondeau. Allegro Franz Schubert (Austria, 1797-1828) 07. 6 Moments musicaux, Op. 94, D. 780 : No. 3 in F Minor. Allegro moderato Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791) 08. Adagio in B Minor, K.540 Robert Schumann (Alemanha, 1810-1856) 09. Noveletten, Op. 21 : No. 1 in F (markiert und kräftig) Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791) 10. Rondo in D Major, K.485 11. Piano Sonata No.13 in B Flat Major, K.333 : 1. Allegro 12. Piano Sonata No.13 in B Flat Major, K.333 : 2. Andante cantabile 13. Piano Sonata No.13 in B Flat Major, K.333 : 3. Allegretto grazioso Franz Schubert (Austria, 1797-1828) 14. Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960 : 1. Molto moderato 15. Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960 : 2. Andante sostenuto 16. Piano Sonata No. 21 in B-Flat Major, D. 960 : 3. Scherzo. Allegro vivace con delicatezza Fransz List (Áustria, 1811 – Alemanha, 1886) 17. Impromptu “Nocturne”, S.191 Fryderyk Francyszek Chopin (Polônia, 1810 – França, 1849) 18. Scherzo No. 1 in B Minor, Op. 20 Robert Schumann (Alemanha, 1810-1856) 19. Kreisleriana, Op. 16 : 2. Sehr innig und nicht zu rasch – Intermezzo I (Sehr lebhaft) – Tempo I – Intermezzo II (Etwas bewegter) – Tempo I Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791) 20. Piano Concerto No. 23 in A Major, K. 488 : 2. Adagio Domenico Scarlatti (Nápoles, 1685 – Espanha, 1757) 21. Sonata in B Minor, K.87 Franz Schubert (Austria, 1797-1828) 22. Impromptu in B-Flat Major, D.935 No.3 23. 3 marches militaires, D.733 (Op.51) : No. 1 in D-Flat Major Fryderyk Francyszek Chopin (Polônia, 1810 – França, 1849) 24. Mazurka No. 13 in A Minor, Op. 17 No. 4 25. Polonaise No. 6 in A-Flat Major, Op. 53 “Heroic”
(1) Horowitz aos 85 anos explicando o que significa “Destacou-se pelo seu toucher sem igual, pelo controle dinâmico excepcional e pela sua mecânica única.”
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