Vanessa Mae: The Classical Colection – Dimitry Kabalevsky (1904-1987), Piotr Il’yich Tchaikovsky (1840-1893), Ludwig van Beethoven (1770-1827), Fritz Kreisler (1875-1962) e Marius Casadesus (1887-1945) e mais uma porrada de caras [link atualizado 2017]

Hoje os puristas vão estrilar…

(Este post é a reunião de três postagens dessa coleção de fevereiro de 2013)

Vanessa Mae? Aquela, toda pop? Com certeza, muito pop (já foi mais). É uma grande violinista que soube como nenhuma ser comercial (alguém tem que ganhar dinheiro nessa vida, né?).

Mas esqueçam aquela Vanessa que se tornou clichê! Aqui está a menina sem aquelas traquitanas eletrônicas, sem parafernália plugada, sem batidas sintéticas, sem arranjos de gosto duvidoso. Só ela, seu violino e orquestras tradicionais. É aqui que vemos realmente a Mae violinista! Uma senhora violinista!

É uma Janine Jansen? Não, com certeza. Mas ainda assim manda muito bem no simplesmente MARAVILHOSO, conhecido e  batido Concerto para Violino de Tchaikovsky. O fato de ser conhecidíssimo não tira o mérito, muito menos a beleza deste concerto, um dos mais belos já escritos na face deste geóide azul, senão o mais…

Há ainda, do mesmo Tchaikovsky, a Dança Russa do Lago dos Cisnes, mais uma inspirada peça do autor e, para melhorar, o cativante e vibrante Concerto em Dó de Kabalevsky, que debuta aqui no P.Q.P.Bach já com muita propriedade: que música fez esse russo!

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No segundo álbum da trilogia The Classical Colection, a singapurense Vanessa-Mae traz um repertório tão interessante ou mais que o anterior.

Começa com três peças: Schön Rosmarin,  Liebeslied e Liebesfreud, do até então inédito aqui no P.Q.P.Bach, Fritz Kreisler, um dos maiores violinistas do século XX e também expressivo compositor de peças para o instrumento.

Depois ela ataca com o Concerto para violino em Ré ‘Adelaide’, de Marius Casadesus, outro que coloca hoje, pela primeira vez, seu nome no nosso rol com mais de 1200 autores. Ah, e que concerto belo! Vocês se lembram do grande engodo das descobertas forjadas dos irmãos Casadesus (aqui)? Pois é: esse concerto foi composto pelo francês, mas ele e seu grupo afirmavam tê-lo encontrado e ser o mesmo uma peça de autoria de Mozart. Muitos anos depois, apenas após a morte do irmão Henry Casadesus (que também criou composições e as atribuiu falsamente a C.P.E Bach, J.C. Bach e Händel) e do próprio Marius é que se descobriu a farsa. Convencionou-se chamar o concerto de “no estilo de Mozart” e dar-lhe a verdadeira autoria, de Marius Casadesus.

Por fim, um membro da Santíssima Trindade e totalmente assíduo aqui no blog: Ludwig van Beethoven (trindade completa por Bach e Mozart), em mais um Concerto para violino em Ré, talvez a peça mais conhecida deste álbum, e como não poderia deixar de ser, vindo de quem veio, tensa e vibrante.

Vanessa-Mae mostra que não é só um rostinho bonito e um pedaço de mau caminho: toca muito bem. Às vezes um pouco quadradinha e certinha demais, faltando um tanto de sangue na interpretação, mas muito boa, ainda que com esse senão.

Meu interesse maior, para além da interpretação falha ou estupenda, incorreta ou precisa de Mae, é colocar neste espaço composições que por aqui não deram o ar da graça ainda: e hoje temos seis faixas novinhas em folha  (e belíssimas) para vosso deleite auricular.

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Há ainda o terceiro CD, que encerra a trilogia The Classical Collection. Sim, aqui ela já está com saudades do pop e põe as asinhas de fora com o miolo do álbum…

Mas não é esse lampejo de popismo que vai inutilizar o CD. Há muita coisa boa mesmo! Bom, primeiro ela começa muito bem: ataca de Elgar, Bach e Brahms. Depois não resiste e vai para músicas de filmes, musicas, trilhas sonoras até o hino das Olimpíadas de Seul. Depois ela se lembra que a trilogia se chama The CLASSICAL Collection e volta para compositores eruditos, executando coisas belíssimas e deliciosas como a Fantasia de Carmen de Sarasate, e La Campanella  (também super batida, apesar de genial), de Paganini. Dificílimas, para mostrar que, além de tudo (ou apesar de tudo), no violino, ela sabe e ela pode!

Eu não diria que é um CD para se ouvir de cabo a rabo, como são quase todos que postamos aqui, mas tem uma parte considerável de suas músicas que é brilhante e que merece uma audição atenciosa, cuidadosa e, principalmente, prazerosa.

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Dispa-se do ranço e dos preconceitos contra a mocinha singapurense! O repertório é de primeira linha! Ela toca muito! Ouça! Ouça! Deleite-se!

Vanessa Mae
The Classical Colection
CD1: The Russian Album
Dimitry Kabalevsky (1904-1987)
01. Concerto para violino em Dó, I. Allegro
02. Concerto para violino em Dó, II. Andante
03. Concerto para violino em Dó, III. Allegro giocoso
Piotr Il’yich Tchaikovsky (1840-1893)
04. Dança Russa, d’O Lago dos Cisnes’
05. Concerto para violino em Ré, I. Allegro moderato
06. Concerto para violino em Ré, II. Canzonetta (Andante)
07. Concerto para violino em Ré, III. Finale (Allegro vivacissimo)

CD2: The Viennense Album
Fritz Kreisler (1875-1962)
01. Schön Rosmarin
02. Liebeslied
03. Liebesfreud
Marius Casadesus (1887-1945)
04. Concerto para Violino em Ré ‘Adelaide’, no estilo de Mozart, I. Allegro
05. Concerto para Violino em Ré ‘Adelaide’, no estilo de Mozart, II. Adagio
06. Concerto para Violino em Ré ‘Adelaide’, no estilo de Mozart, III. Allegro
Ludwig van Beethoven (1770-1827)
07. Concerto para Violino em Ré, I. Allegro ma non troppo
08. Concerto para Violino em Ré, II. Laghettto
09. Concerto para Violino em Ré, III. Rondo (allegro)

CD3: The Virtuoso Album
Edward Elgar (Broadheath, Inglaterra, 1857 – Worcester, Inglaterra, 1934)
01. Salut D’Armour
Johannes Brahms (Hamburgo, Alemanha, 1833 – Viena, Áustria, 1897)
02. Lullaby
Johann Sebastian Bach (Eisenach, Alemanha, 1685 – Leipzig, alemanha, 1750); 03. Ária da Corda Sol (Suíte Orquestral nº 3 em Ré, II. Adagio)
Richard Charles Rodgers (Nova York, EUA, 1902 – 1979)
04. My Favorit Things (de ‘A Noviça Rebelde’ – The Sound of Music)
Henry Mancini (Cleveland, EUA, 1924 – Beverly Hills, EUA, 1994)
05. The Pink Panter
Michel Legrand (Paris, França, 1932)
06. Les Parapluies de Cherbourg (Os Guarda-chuvas do Amor)
Albert Hammond e John Bettis
07. One moment in time (Hino do Jogos Olímpicos de Seul)
John Lennon (Liverpool, Reino Unido, 1940 – Nova York, EUA, 1980) e Paul McCartney (Liverpool, 1942)
08. Yellow Submarine
Tradicional
09. Frere Jacques
Niccolò Paganini (Gênova, Itália, 1782 – Nice, França, 1840)
10. La Campanella
Sze-Du
11. Chinese Folk Tune
Fritz Kreisler (Viena, Áustria, 1875 – New York, EUA, 1962);
12. Tambourin Chinois
Mario Castelnuovo-Tedesco (Florença, Itália, 1895 – Berverly Hills, EUA, 1968)
13. Fígaro
George Gershwin (Nova York, EUA, 1898 – Hollywood, EUA, 1937)
14. Summertime (da ópera Porgy and Bess)
Pablo Martín de Sarasate (Pamplona, Espanha, 1844 – Biarritz, França, 1908);
15. Concerto-fantasia sobre um tema de ‘Carmen’
Henryk Wieniawski (Lublin, Polônia, 1835 – Moscou, Rússia, 1880)
16. Fantasia Brilhante sobre temas de ‘Fausto’, de Gounod

Vanessa Mae, violino
CD1:
London Mozart Players (faixas 01 a 03 e 06 a 07)
Anthony Inglis, regente (faixas 01 a 03 e 06 a 07)
New Belgian Chamber Orchestra (faixa 04)
Nicholas Cleobury, regente (faixa 04)
CD2:
New Belgian Chamber Orchestra (faixas 01 a 03)
Nicholas Cleobury, regente (faixas 01 a 03)
London Mozart Players (faixas 04 a 06)
Anthony Inglis, regente (faixas 04 a 06)
London Symphony Orchestra (faixas 07 a 09)
Kees Bakels (faixas 07 a 09)
CD3:
New Belgian Chamber Orchestra (faixas 01 a 14)
Nicholas Cleobury, regente (faixas 01 a 14)
London Mozart Players (faixas 15, 16)
Anthony Inglis, regente (faixas 15, 16)
1991

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – 3CD (449Mb)

…Mas comente… Não me deixe apenas com o silêncio…

Kabalevsky era a cara do…
… Woody Allen!

Bisnaga

Sir Paul McCartney (1942) – Duas canções do Oratório de Liverpool

Quando Paul foi mencionado numa postagem de Karl Jenkins que fiz, lembrei que faltava eu postar mais coisas do ex-Beatle aqui no blog. Ano passado teve a Standing Stone (cujo link deve ter expirado há tempos – não vou renová-lo), agora posto duas canções de sua obra de estreia na música clássica: o indisfarçavelmente autobiográfico Oratório de Liverpool, de 1991, escrito com a ajuda do maestro Carl Davis nas orquestrações. Como os arquivos do oratório completo estão em algum back up recôndito em minhas tralhas, disponibilizo este CD demo com as duas melhores canções da obra – dá pra achar a letra na Internet sem muito esforço.

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Oratório de Liverpool

1. Save the child
Soprano: Kiri Te Kanawa; meio-soprano: Sally Burgess; tenor: Jerry Hadley

2. The drinking song
Baixo: Willard White

Orchestra: Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
Conductor: Carl Davis

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CVL

Sir Paul McCartney (1942) – Ecce cor meum

Graças a Händel, o oratório – seja sacro, seja profano – transformou-se em um gênero de composição inglês por excelência, tanto pelas características que adquiriu quanto pela predileção de compositores e público. Por isso mesmo, quando Paul se aventurou pelas searas da música de concerto decidiu seguir o caminho mais previsível, através do Oratório de Liverpool. Não foi lá essas coisas todas, mas rendeu o encorajamento suficiente para não parar. Depois vieram Standing Stone, o CD A garland for Linda e Working Classical, até surgir este segundo oratório, Ecce cor meum (Eis meu coração), que – se não chega a ser Händel (“é, né?”) – ficou muito bem acabado. O álbum acabou rendendo a Paul o Classical British Award de melhor CD em 2007, numa votação em que o segundo lugar foi Canções do Labirinto, de Sting. Tudo bem, foi voto popular, mas eu também daria esse crédito ao ex-Beatle pelo esforço. Vejamos o que vocês dizem.

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Ecce cor meum

1. I. Spiritus
2. II. Gratia
3. Interlude (Lament)
4. III. Musica
5. IV. Ecce Cor Meum

# Performer: David Theodore, Colm Carey, Mark Law, Kate Royal
# Orchestra: Academy of St. Martin-in-the-Fields
# Conductor: Gavin Greenaway

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CVL

Paul McCartney (1942) – Standing Stone

Não, este post não é um Interlúdio. Desde 1991 que o ex-baixista dos Beatles sente que tem algo a dizer nas salas de concertos e esta obra aqui é um de seus acertos (o outro é o oratório Ecce Cor Meum).

As opiniões dos ouvintes se dividem sobre a experiência erudita de McCartney: ou ele é um grande fazedor de obras clichês, que conta com a ajuda de uns amigos orquestradores (não sei se há um deles por trás de Standing Stone – nas outras peças eu sei quem são), ou é esforçado e competente e vai mais longe; ou ele está se metendo a fazer obras que não passarão de medianas e que serão ouvidas porque ele é um figurão, ou elas são melhores do que muita coisa por aí feitas por compositores com mais tempo de estrada.

Acompanho tudo o que Paul vem compondo e fico com as segundas opiniões acima. Não posso exigir que ele seja o que não é [nem poderá ser], mas parte do que ele faz para as salas de concerto tem seus bons méritos e calhou dessa parte conter as peças de maior porte.

Sobre a trajetória erudita de Paul até aqui:

O Oratório de Liverpool (1991) é uma ópera não declaradamente autobiográfica para sala de concerto orquestrada por [e com muitas intervenções de] Carl Davies – tem árias bonitas mas carece muito de coesão dramática. Tratando-se de “opus 1”, os solistas da primeira execução mundial ajudaram a atrair os holofotes: Kiri Te Kanawa, Sally Burgess, Jerry Hadley e Willard White (Paul é Paul e a EMI ajuda, não é?).

Standing Stone (1997) – algo como “a pedra que se encontra de pé”, um termo em inglês para menir (as pedras que Obelix fabrica) – é um poema sinfônico em quatro movimentos e 19 partes (!?), que duram 80 minutos. Na verdade, um longo poema [literário] de Paul baseado em temas celtas deu origem à obra sinfônica e ainda a duas telas a óleo, reproduzidos no encarte do álbum.

A garland for Linda (2000) não entra na contagem. É uma coletânea de peças corais dos amigos de Paul – a única que ele compôs para o álbum foi Nova.

Working classical (1999) se trata de uma compilação de obras não eruditas de Paul arranjadas para quarteto de cordas (pelos tais amigos orquestradores) ao lado de composições originais, como Junk, e ainda três peças sinfônicas. Não empolga.

Sobre Ecce cor meum (2005) falarei alguma coisa em breve. Quanto a Standing Stone, os títulos dos movimentos e das partes da obra, reproduzidos abaixo, dão ideia do argumento que a construiu.

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Standing Stone

Movement I – After heavy light years

1. “Fire/Rain” Allegro energico – 4:30
2. “Cell Growth” Semplice – 8:30
3. “‘Human’ Theme” Maestoso – 3:36

Movement II – He awoke startled

1. “Meditation” Contemplativo – 3:57
2. “Crystal Ship” Con moto scherzando – 2:02
3. “Sea Voyage” Pulsating, with cool jazz feel – 3:39
4. “Lost At Sea” Sognando – 4:37
5. “Release” Allegro con spirito – 1:54

Movement III – Subtle colours merged soft contours

1. “Safe Haven/Standing Stone” Pastorale con moto – 4:11
2. “Peaceful moment” Andante tranquillo – 2:09
3. “Messenger” Energico – 3:35
4. “Lament” Lamentoso – 2:26
5. “Trance” Misterioso – 5:32
6. “Eclipse” Eroico – 4:57

Movement IV – Strings pluck, horns blow, drums beat

1. “Glory Tales” Trionfale – 2:40
2. “Fugal Celebration” L’istesso tempo. Fresco – 4:25
3. “Rustic Dance” Rustico – 2:00
4. “Love Duet” Andante intimo – 3:43
5. “Celebration” Andante – 6:15

Sinfônica de Londres e coro, regidos por Lawrence Foster

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