.: interlúdio :. Gilberto Gil ao vivo na USP 1973 (bootleg)

As postagens deste blog são agendadas com alguns dias de antecedência. Após o épico dia 30 de outubro de 2022, não teremos palavras nossas. Deixo vocês com as palavras de Gilberto Gil há quase 50 anos. Naquela época muito distante, a polícia torturava e matava gente. Dois meses após a morte de um estudante da USP, o clima não era leve. Gilberto Gil foi procurado pelos estudantes para tocar de improviso, de graça, antes do show que faria à noite em um teatro paulista. Só com voz e violão, a maneira de João Gilberto e Jorge Ben, Gilberto Gil se soltava mais do que com banda, incorporava várias vozes, inclusive aquelas que estavam lá pra calá-lo. Essa edição não oficial (bootleg) inclui, além da música, as longas conversas com o público. Adicionamos algumas cores abaixo para diferenciar as diferentes vozes/personagens.

São Paulo, 26 de maio de 1973

[Gilberto Gil no bis, quando canta Cálice pela 2ª vez após muitos pedidos da plateia:]

– Pai, afasta de mim esse cálice
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Deixa eu lançar um grito desumano

[Outra voz:] – Cale-se!

Que é uma maneira de ser escutado

–\\–

[Em ‘Oriente’, outra voz: canto sem palavras, cheio de intervalos microtonais como os de povos orientais que Gil certamente conheceu no exílio em Londres, do qual voltou em 72.]

[Voz de Gilberto Gil:] – Esse canto é o mesmo na Arábia Saudita. Nas terra maldita do Nordeste é o mesmo na Arábia Saudita.

[Terceira voz, séria:] – Cala a boca, rapaz.
Ah, esse cara já tá…
Acaba com isso, rapaz
Ah… você aí com esse negócio desse nhanhanha…
[…]
Que cara, que babaca, olha que palhaço… fica com esse nhénhénhé, tem nada do que ver, rapaz, isso aqui é o Brasil, rapaz, Ocidente. Civilização Ocidental, rapaz, industrial, tem nada que ver com isso não! Olha aí, rapaz, o som da gente é outro!
[….] Esse cara é doido mermo…
Vai pra Índia, entendeu… Isso aqui não é… Isso aqui é lugar de produtividade.

[Voz de Gilberto Gil:] – Mas na verdade é o mermo, o mermo lamento, o mermo canto de sofrimento.
Lá nas terra maldita do Norte
Nas terra maldita na Arábia Saudita

[Outra voz: canto sem palavras]

[Voz de Gilberto Gil:] – Se oriente, rapaz…

–\\–

[Após cantar Objeto sim, objeto não]

– Lendas e profecias, é a mesma coisa. As lendas têm caráter profético, elas muitas vezes podem já estar esgotadas no seu sentido profético, ou seja, são relativas a coisas já ocorridas, mas… outras vezes não, outras vezes as lendas são elas, em si mesmo, uma forma de ocultação, ou seja, uma forma [que] Nostradamus usava, pra não ser degolado como Giordano Bruno, pela fogueira da Inquisição, ele pegou e as coisas que ele achava que ele sabia, […] botou tudo em versos ocultos ali, e agora as pessoas pegam…

–\\–

– Pera aí que tem um rapaz aqui que quer fazer uma pergunta?

[Alguém da plateia, voz quase inaudível: … qual o papel do compositor?]

– É um problema muito pessoal, rapaz, depende muito… você quer dizer o seguinte, que existe um sistema, no qual as pessoas vivem, no qual existe a lei, no qual existem as barreiras todas, não é isso? E que o artista se vê na sua criação diante desses problemas todos, no Brasil se chama Censura, e que vai determinar o que é que é, no final é o que vai fazer a seleção, vai dizer qual é a música, qual é a arte que convém ao povo, e etc. etc. Quer dizer, mas isso é um critério pessoal, é um critério deles, quer dizer, não abrange de forma nenhuma a totalidade das coisas, haja vista no Brasil as manifestações que a gente tem frequentemente contrárias a esse tipo de atitude castrativa diante da música. Agora, isso o quê que é, isso é um problema da nossa sociedade, quer dizer, é uma das insinuações do sistema da forma que ele está hoje, no mundo, e a gente tem que enfrentar. […] procuro me comportar, sem me trair, cê tá entendendo? Quer dizer, eu procuro fazer o que eu acho que posso fazer, o que devo fazer, e tudo mais, e eu acho que o comportamento de cada um, que foi o que você perguntou no fim, “O quê que o compositor devia fazer, como ele devia se comportar”, eu não acho que deva haver padrão, cê tá entendendo? Um método, uma cartilha, uma regra para o comportamento do compositor, porque aí seria a merma coisa, seria fazer também uma censura né, do lado de cá, dizer: não, só o comportamento desse tipo é que é válido contra uma barreira qualquer, e acho que não… tem a corrida de obstáculos, o cara vem e pula por cima, o outro passa por baixo… [risos]

Gilberto Gil ao vivo na Escola Politécnica da USP, 1973:
Oriente (Gilberto Gil)
Apresentação (Gilberto Gil)
Chiclete Com Banana (Gordurinha/Almira Castilho)
Minha Nega na Janela (Germano Mathias/Doca)
Senhor Delegado (Antoninho Lopes/Jaú)
Eu Quero um Samba (Haroldo Barbosa/Janet de Almeida)
Meio de Campo (Gilberto Gil)
Cálice (Chico Buarque/Gilberto Gil)
O Sonho Acabou (Gilberto Gil)
Ladeira da Preguiça (Gilberto Gil)
Expresso 2222 (Gilberto Gil)
Procissão (Gilberto Gil)
Domingo No Parque (Gilberto Gil)
Umeboshi (Gilberto Gil)
Objeto Sim, Objeto Não (Gilberto Gil)
Ele e Eu (Gilberto Gil)
Duplo Sentido (Gilberto Gil)
Cidade do Salvador (Gilberto Gil)
Iansã (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos/Anastácia)
Edith Cooper (Gilberto Gil)
Back In Bahia (Gilberto Gil)
Filhos de Gandhi (Gilberto Gil) [inclui: Afoxé (Dorival Caymmi) e Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi)]
Preciso Aprender a Só Ser (Gilberto Gil)
Cálice (Chico Buarque/Gilberto Gil)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Em Buenos Aires. Qualquer semelhança é mera coincidência…

Pleyel

DESAFIO PQP! -> Beethoven (1770 – 1827): Concertos para Piano Nos. 1 & 2 ֍

DESAFIO PQP! -> Beethoven (1770 – 1827): Concertos para Piano Nos. 1 & 2 ֍

BTHVN

Concertos para Piano 1 & 2

Louis Schwizgebel, piano

London Philharmonic Orchestra

Thierry Fischer, regente

 

 

Nos anos 1788 e 1789 Beethoven morava em Bonn e havia composto um concerto para piano (que sobrevive graças à parte de piano e uma redução da parte da orquestra, como WoO 4). Foi neste período que produziu versões do que viria a ser o Concerto para Piano No. 2, em si bemol maior. Este acabou registrado como o Opus 19, em 1801. A estreia fora em 1795 com interpretação de Beethoven e regência de Haydn, em Viena, num primeiro concerto na nova cidade.

O Concerto No. 1 em dó maior, Op. 15 começou a ser composto em 1795, quando Beethoven estava já morando em Viena. Este concerto também ‘evoluiu’ após ser apresentado algumas vezes, antes de sua publicação. Era comum que o compositor-intérprete, como era o caso de Beethoven naqueles dias, ou Mozart, alguns anos antes, reservasse suas obras para os seus próprios concertos, antes de finalmente os publicarem, quando novas obras já estavam prontas para o repertório, mantendo assim o interesse e a curiosidade do público. Além disso, com as publicações e dedicatórias desses dois Concertos para Piano, Beethoven mostrou como era excelente negociador com as editoras.

Eu gosto muito destes dois concertos de Beethoven, que são mais próximos dos modelos clássicos (estilo galante) dos primeiros concertos de Mozart ou do Concerto em ré maior, de Haydn. Eles já mostram a linguagem individual de Beethoven, que se firmaria no Concerto No. 3 em dó menor. Este se pautava nos dois concertos em tons menores, de Mozart. Beethoven realmente admirava estas obras de Mozart, ao ponto de ter deixado cadências compostas para eles.

Mas, o disco da postagem permanece nesse momento pré-romântico – com dois lindos concertos para piano de um jovem compositor-intérprete confiante em seus talentos e com tanto ainda para dizer.

Espero que a gravação que escolhi para o DESAFIO PQP! lhe agrade, lhe traga muito prazer e o ajude a olhar estas duas obras pelo que são, sem comparações com seus Big Brothers que ainda estavam por vir.

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Concerto para Piano No. 1 em dó maior, Op. 15

  1. Allegro con brio
  2. Largo
  3. Rondo (Allegro scherzando)

Concerto para Piano No. 2 em si bemol maior, Op. 19

  1. Allegro con brio
  2. Adagio
  3. Rondo (Allegro molto)

Louis Schwizgebel, piano

London Philharmonic Orchestra

Thierry Fischer

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 147 MBOuça e veja se gosta pelo que seus ouvidos lhe dizem, não a capa do disco (armação minha…) ou as críticas. Depois, tente adivinhar os nomes dos intérpretes. Se descobrires, já sabes, o premio será de uma centena de free-downloads do blog mais sensacional de música que há por aí e uma tradicional cocada virtual!

Como tem sido o caso aqui nesta ‘coluna’, depois de algumas tentativas, os intérpretes receberão os devidos créditos para que ganhem os louros ou os tomates, conforme a turba assim decidir…

A identidade do pianista mascarado foi revelada pelo leitos Albinoni. Vejam os comentários…

Parabéns!

René Denon

Ao vencedor, as cocadas!

Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784): Sinfonias / Suite In G Minor / Concerto For Harpsichord In D Major (Talfelmusik / Lamon)

Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784): Sinfonias / Suite In G Minor / Concerto For Harpsichord In D Major (Talfelmusik / Lamon)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Alguns de vocês devem ter notado que eu — o PQP Bach, pessoalmente — estou fazendo frequentes visitas aos bachinhos, ou seja aos filhos de deus. Este disco tem excelente — notável mesmo! — repertório, mas na primeira audição me pareceu que faltou à Lamon e à Tafelmusik algo de verve. Não pensava, evidentemente, em vibratos e nem de violinistas se rasgando, mas sim em felicidade e entusiasmo. Achei que a excelente Jeanne Lamon (1949-2021) tivesse abordado WF com algum excesso de respeito, sem amor verdadeiro. Já na segunda audição, achei que era um dos melhores discos de WF que já tinha ouvido. E assim ele permanecerá, ao menos para mim. WF era o filho preferido de JS e, na minha opinião, — grande coisa! — era o segundo mais talentoso, logo após CPE. Mas ambos foram GENIAIS.

Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784): Sinfonias / Suite In G Minor / Concerto For Harpsichord In D Major (Talfelmusik / Lamon)

Sinfonia In D Major, F. 64
1 1. Allegro E Maestoso 3:55
2 2. Andante 3:15
3 3. Vivace 3:24

Sinfonia In D Minor, F. 65
4 Adagio & Fugue

Suite In G Minor, BWV 1070 (Attrib.: W. F. Bach)
5 1. Ouverture – Larghetto 4:35
6 2. Torneo 1:58
7 3. Aria – Adagio 5:22
8 4. Menuetto Alternativo – Trio 4:48
9 5. Capriccio 3:31

Concerto For Harpsichord, Strings And Basso Continuo In D Major, F. 41
10 1. Allegro 5:50
11 2. Andante 5:34
12 3. Vivace 4:28

Sinfonia In F Major For Strings, F. 67
13 1. Vivace 4:22
14 2. Andante 4:48
15 3. Allegro 3:18
16 4. Menuetto 1 & 2 2:30

Bassoon – Michael McCraw
Cello – Christina Mahler, Sergei Istomin
Concert Flute – Christopher Krueger, Elissa Poole
Directed By – Jeanne Lamon
Double Bass – Alison Mackay
Harpsichord – Charlotte Nediger
Horn – Derek Conrod, Teresa Wasiak
Oboe – John Abberger, Washington McClain
Orchestra – Tafelmusik Baroque Orchestra
Viola – Elly Winer, Ivars Taurins, Patrick G. Jordan
Violin – Christopher Verrette, David Greenberg, Kevin Mallon, Linda Melsted, Rona Goldensher, Stephen Marvin, Thomas Georgi
Violin [Leader] – Jeanne Lamon

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Wilhelm Friedemann bebeu e viveu muito. Era um sujeito alegre que teve vida complicada e que jamais aceitaria votar num representante das trevas e da morte como Jair Bolsonaro.

PQP

The Neapolitans: Pergolesi, Durante, Leo (Wallfisch, Kraemer)

The Neapolitans: Pergolesi, Durante, Leo (Wallfisch, Kraemer)

Um bom disco que não é de enlouquecer, a não ser o muito surpreendente Allegro – Affettuoso de Durante (faixa 12). Simplificando, se você gosta da música de violino do século XVIII, encontrará uma hora de prazer ouvindo este programa habilmente interpretado com peças raramente ouvidas de compositores napolitanos. Elizabeth Wallfisch e seus colegas têm performances excelentes – com ritmos sensatos, articulados, que vão direto ao ponto. Por exemplo, o Concerto nº 5 para cordas de Francesco Durante é um trabalho de seis minutos ferozmente agitado e vivaz que é ao mesmo tempo aventureiro e emocionante. Considerando a abundância de gravações que apresentam obras dos mestres mais conhecidos do século XVIII, este lançamento é uma alternativa bem-vinda, que acentua claramente as virtudes da música que muitas vezes é preterida ou relegada a um status de segunda linha. O som não poderia ser melhor – ouvimos a solista e o grupo em um ambiente natural que nos permite observar cada detalhe.

Concerto In B Flat For Violin And Strings
Composed By – Giovanni Battista Pergolesi
(11:46)
1 Allegro 4:35
2 Largo 3:22
3 Allegro 3:49

Concerto No 2 In G Minor
Composed By – Francesco Durante
(10:38)
4 Affettuoso – Presto 4:30
5 Largo Affettuoso 3:37
6 Allegro Affettuoso 2:31

7 Sonata In A Major
Composed By – Giovanni Battista Pergolesi
2:03

Concerto In D Major For Four Violins And Strings
Composed By – Leonardo Leo
(11:11)
8 Maestoso 2:43
9 Fuga 2:19
10 (Larghetto) 3:08
11 Allegro 3:01

Concerto No 8 In A Major ‘La Pazzia’
Composed By – Francesco Durante
(9:23)
12 Allegro – Affettuoso 6:15
13 Affettuoso 1:17
14 Allegro 1:51

Sinfonia In F Major
Composed By – Giovanni Battista Pergolesi
(6:39)
15 Maestoso Sostenuto 2:04
16 Andante Grazioso 3:02
17 Allegro 1:33

Concerto No 5 For String Orchestra In A Major
Composed By – Francesco Durante
(6:00)
18 Presto 2:26
19 Largo 2:16
20 Allegro 1:18

Bass – Judith Evans
Cello – Catherine Finnis, Richard Tunnicliffe
Directed By – Nicholas Kraemer
Ensemble – The Raglan Baroque Players*
Lute – Elizabeth Kenny
Viola – Annette Isserlis, Judith Tarling
Violin – Alison Bury, Catherine Weiss, Elizabeth Wallfisch, Hetty Wayne, Jean Paterson, Rachel Isserlis, Susan Carpenter-Jacobs*

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A reação de Elizabeth Wallfisch quando lhe disseram que o Orçamento Secreto nada tinha a ver com corrupção.

PQP

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – CDs 10 e 11 de 11 – Lili Kraus, Simon, VFO

R-10778750-1504172673-3609.jpeg

LINKS ATUALIZADOS !!!

Chegando ao fim de mais uma integral. Espero que tenham gostado.

CD 10

Concerto For Piano And Orchestra No. 24 In C Minor K 491
3-1 I Allegro
3-2 II [Larghetto]
3-3 III [Allegretto]

Concerto For Piano And Orchestra No. 25 In C Major K 503
9-4 I Allegro Maestoso
9-5 II Andante
9-6 III [Allegretto]

CD 11

Concerto For Piano And Orchestra No. 26 In D Major “Coronation” K 537
3-4 I Allegro
3-5 II [Larghetto]
3-6 III [Allegretto]

Concerto For Piano And Orchestra No. 27 In B-flat Major K 595
12-4 I Allegro
12-5 II Larghetto
12-6 III Allegro

Lili Kraus – Piano
Vienna Festival Orchestra
Stephen Simon – Conductor

CD 10 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD 11 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Schubert (1797–1828): Quinteto de Cordas em dó maior, D. 956 & Quartettsatz, D. 703 – Brodsky Quartet & Laura van der Heijden ֍

Schubert (1797–1828): Quinteto de Cordas em dó maior, D. 956 & Quartettsatz, D. 703 – Brodsky Quartet & Laura van der Heijden ֍

Schubert

Quinteto de Cordas, D. 956

& Quartettsatz, D. 703

Brodsky Quartet

Laura van der Heijden, violoncelo

Eu sempre me pergunto – até quando as pessoas seguirão ouvindo música como essa da postagem? Parece não haver mais tempo na vida das pessoas para tão longa música. Só o primeiro movimento do quinteto toma mais de 21 minutos.

Eu, que busco seguir o mandamento de ouvir a peça toda, uma vez iniciada uma audição, já tenho considerado trocar a letra por ‘ouvir o movimento todo’, dada a profusão de ofertas e considerando que os dias, como na canção, parecem tornar-se cada vez mais curtos.

Mas eu não resisto a um novo disco com o Quinteto de Schubert, como foi o caso deste. E gostei tanto que o ouvi até o fim e sempre dá vontade de ouvir de novo. Adoro essa maneira de Schubert parecer recomeçar de novo e de novo. Enfim, adivinhe o que está tocando agora, enquanto escrevo estas mal traçadas?

Laura, ainda jovem…

O disco é todo inglês, uma vez que o Quarteto Brodsky está baseado em Londres e comemora este ano (2022) 50 anos de apresentações. O quinto elemento é uma jovem e mais do que promissora violoncelista inglesa, Laura van der Heijden. O selo CHANDOS é British to the core.

A diferença de idades – de gerações – pode ter trazido uma rara felicidade ao disco, que além da qualidade artística, oferece uma produção excelente.

O que dizer da peça? Certamente é facilmente citada nas famosas listas de ‘as melhores 100 peças de música clássica’ ou ‘peças que levaria para uma ilha deserta’.

Na lista (famigerada e politicamente incorreta) do Otto Maria Carpeaux, é a peça de câmara do ano 1828 e acompanha apenas mais dois Quintetos de Cordas, ambos de Mozart, que usam uma segunda viola, não um segundo violoncelo. As peças de Mozart são Quinteto em sol menor, K. 516 (1787) e Quinteto em mi bemol maior, K. 614 (1791). Depois, só o Sexteto de Schoenberg, o Verklaerte Nacht, de 1899.

Um enorme Allegro, ma non troppo, de 21 minutos, que finge que acaba, apenas para recomeçar no próximo compasso, um Adagio profundo (o coração da peça, para muitos críticos) de 14 minutos seguidos de um Scherzo e terminando num quase dançante Allegretto. Nem dá para dizer que Schubert morreria algumas semanas depois de tê-lo terminado.

O disco é arrematado por uma linda interpretação de um primeiro movimento para algum enorme quarteto de cordas, que Schubert também (pena…) nunca terminou, o Quartettsatz.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Quinteto de Cordas em dó maior, D. 956

  1. Allegro ma non troppo
  2. Adagio
  3. Scherzo
  4. Allegretto

Quarteto de Cordas No. 12 em dó menor, D. 703

  1. Allegro assai

Laura van der Heijden, violoncelo (D. 956)

Brodsky Quartet

              Krysia Osostowicz, violino

              Ian Belton, violino

              Paul Cassidy, viola

              Jacqueline Thomas, violoncelo

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 269 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 155 MB

Quarteto Brodsky pousando para o lambe-lambe oficial do PQP Bach

Schubert’s String Quintet is one of those timeless and universal works, like Beethoven’s late quartets, which can be interpreted in so many different ways and yet be equally valid.

Celebrating its fiftieth anniversary in 2022, the Brodsky Quartet has performed more than 3000 concerts on the major concert stages of the world and has released more than seventy recordings. A natural curiosity and insatiable desire to explore have propelled the group in many artistic directions and continue to ensure it not only a place at the very forefront of the international chamber music scene but also a rich and varied musical existence. As they comment in their booklet note: ‘It seems fitting to mark the milestone by recording this epic and most celebrated of chamber works, Schubert’s String Quintet in C major, a piece which we have lived with since childhood, and which we have played with a long line of illustrious cellists. One of our earliest performances took place with Terence Weil, our mentor at college, at his retirement concert, just as we were starting out on our professional journey. Now the wonderful young Laura van der Heijden, who comes to this recording with a maturity which belies her years, represents with respect to us a similar age gap, proving that age is insignificant where there is a meeting of musical minds. Now we look forward to whatever our sixth decade might bring.’

Laura adorando conhecer o Jardim do PQP Bach, no Tibau

With all the external factors happening in the world we live in, this performance enables us to stop for a brief moment and let its moments of stillness and tranquility create a sense of hope as we ponder and our hearts are warmed.

Aproveite!

René Denon

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Sonatas para Teclado, Vol. 1 (Driver)

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Sonatas para Teclado, Vol. 1 (Driver)

Um bom disco de um pianista inspirado. Danny Driver, que vi uma vez ao vivo apresentando-se no Wigmore Hall, é excelente! Já Carl Philipp Emanuel Bach, segundo filho de Johann Sebastian, foi reverenciado e criticado por seus contemporâneos por suas ousadias em relação aos modos convencionais de expressão musical. Ele aperfeiçoou um estilo de composição altamente original e intensamente pessoal conhecido como empfindsamer Stil (literalmente, o estilo sensível). É estranho, a música dramática de CPE Bach rompe claramente, mas também se baseia no estilo do início do século XVIII aperfeiçoado por seu pai. Suas composições marcam um dos primeiros e uma das mais inspiradas alterações da estética barroca. CPE Bach compôs mais de trezentas obras para teclado durante sua vida. Todas as obras desta gravação foram compostas durante a década de 1740, enquanto ele estava a serviço do rei Frederico II da Prússia.

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Sonatas para Teclado, Vol. 1 (Driver)

Sonata In G Minor H47 Wq65/17 (1746) (15:26)
1 Allegro 5:59
2 Adagio 4:32
3 Allegro Assai 4:55

Sonata In A Major H29 Wq48/6 (1742) (19:20)
4 Allegro 7:22
5 Adagio 4:29
6 Allegro 7:27

Sonata in B flat major H25 Wq48/2 (12:56)
7 Vivace 5:51
8 Adagio 4:01
9 Allegro Assai 3:02

Sonata In C Minor H27 Wq48/4 (14:01)
10 Allegro 6:48
11 Adagio 4:26
12 Presto 2:45

Sonata In E Flat Major H50 Wq52/1 (16:16)
13 Poco Allegro 8:15
14 Adagio Assai 4:55
15 Presto 3:05

Danny Driver, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Danny Driver rindo dos bozolóides lá embaixo.

PQP

Música Española por un poeta del piano – Joaquín Achúcarro ֎

Música Española por un poeta del piano – Joaquín Achúcarro ֎

Música Española

Albéniz, Granados,

Falla, Turina & Mompou

Joaquín Achúcarro, piano

 

Não se deixe enganar pela capa deste disco, certamente o resultado do esforço de algum estagiário que ficou encarregado do Departamento de Arte da gravadora. O disco é ótimo, assim como o título – música espanhola.

Joaquín adorou o trabalho da manicure do pessoal do PQP Bach…

Você deve saber, eu tenho uma queda por esse tipo de música e aqui o programa é todo em torno do excelente pianista basco Joaquín Achúcarro, que no dia 1 de novembro completará 90 anos. A postagem é também uma forma (modesta) de celebrarmos sua arte.

O disco foi lançado em 2014, mas o conteúdo é uma antologia de gravações feitas em 1978.

A primeira peça, Noches en los jardines de España, de Manuel de Falla, ocupa as três primeiras faixas e é para piano e orquestra. A peça que começara como uns noturnos para piano, acabou nesta forma graças ao incentivo do pianista francês Ricardo Viñes – a quem foi dedicada.

A segunda parte do recital, digamos assim, consiste em um conjunto de peças para piano solo. De Isaac Albéniz temos Granada e Sevilla, da Suíte Espanhola, que provavelmente você conhece nas transcrições para violão, nas interpretações de grandes como Andrés Segóvia, Julian Bream ou John Williams. Além dessas, também Navarra, que foi completada por Déodat de Séverac.

As três outras peças são danças. A Danza de la seducción, das Danzas Gitanas de Joaquín Turina; Andaluza, a quinta das Danzas Españolas de Enrique Granados; Canción y danza No. 6, de Federico Mompou.

O libreto descreve tudo: com suas grandes ondulações melódicas. A influência da guitarra com seu som ponteado e seco e, apesar de tudo, rico em harmonias… a influência árabe, cigana. Bom, got it?

SONY DSC

Há um nome não citado no disco, mas que talvez deva ser lembrado, antes de seguirmos para as letrinhas finais. Isaac Albéniz, Enrique Granados e Manuel de Falla estudaram com Felipe Pedrell (1841 – 1922), que dedicou sua vida ao desenvolvimento de uma escola de música espanhola, fundamentada nas canções nacionais folclóricas e nas obras primas do passado. Estes três compositores, assim como os outros dois (mais recentes) Joaquín Turina e Federico Mompou, estudaram em Paris e lá se aperfeiçoaram, mas retornaram à Espanha, onde continuaram a desenvolver suas carreiras. Na música, assim como nas ciências, experiências no exterior são vitais. Pedrell e seu pessoal sabia disso… e hoje?

Manuel de Falla (1876 – 1946)

Noches en los jardines de España
  1. En el Generalife
  2. Danza lejana
  3. En los jardines de la Sierra de Córdoba

Isaac Albéniz (1860 – 1909)

  1. Granada

Joaquín Turina (1882 – 1949)

  1. Danza de la seducción

Issac Albéniz (1860 – 1909)

  1. Sevilla

Enrique Granados (1867 – 1916)

  1. Danza española No. 5: Andaluza

Federico Mompou (1893 – 1987)

  1. Canción y danza No. 6

Isaac Albéniz (1860 – 1909)

  1. Navarra

Joaquín Achúcarro, piano

London Symphony Orchestra

Eduardo Mata

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 192 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 118 MB

Achúcarro, feliz por reaparecer no blog, depois de tantos anos…

Se lamenta Joaquín Achúcarro (Bilbao, 1932) de que los melómanos comiencen a referirse a él como ‘leyenda viva del piano’. “Ni soy tan viejo ni soy tan grande; además, con los años, uno va encogiendo”, dice con sonrisa cómplice y casi picarona. A sus contentas 88 primaveras, el maestro bilbaíno conserva intacta su mirada inteligente, contagiosa y franca. Los ojos transparentes también mantienen la luminosidad de siempre.  Veja a entrevista aqui.

Aproveite!

René Denon

PS: A outra postagem do Joaquín…

Manuel de Falla (1876 — 1946) – Obras Para Piano [link atualizado 2017]

PQP Bach – Quizz:

Quem se parece mais com quem? Saramago ou Mompou?

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Cantatas BWV 170, 54 e 169 (Bowman / King)

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Cantatas BWV 170, 54 e 169 (Bowman / King)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

É sempre complicado elogiar um disco cujo comando é do inglês Robert King. Não, não ignoramos que, em 2007, King foi condenado por quatorze acusações de agressão sexual a cinco meninos, três com menos de dezesseis anos, entre 1982 e 1995. King recebeu uma sentença de prisão de 3 anos e 9 meses e foi colocado no registro de criminosos sexuais por toda a vida. Durante o caso, King negou o abuso, descrevendo os meninos como “mentirosos”. Após o cumprimento da sentença, King não foi proibido de trabalhar com crianças. Em 2013, comentando após ter recebido críticas por ter participado de um concerto beneficente, King afirmou que “aceitei a sentença e paguei minha dívida com a sociedade”. Bem, este disco é de 1988, quando King estava… Sei lá. Só que é muito bom! Aqui temos as Cantatas de Bach BWV 170 (“ Vergnügte Ruh’ .), BWV 54 (“ Wiederstehe doch der Sünde “), e BWV 169 (“Gott soll allein mein Herze haben “). Ou seja, três das quatro cantatas para contralto solo que Bach escreveu estão incluídas aqui. Apenas a BWV 35 , Geist und Seele wird verwirret está faltando. O show é do contratenor James Bowman. Ele e King fazem uma grande dupla, acompanhados maravilhosamente pelo King`s Consort. O grupo ainda existe e é liderado por Robert King himself.

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Cantatas BWV 170, 54 e 169 (Bowman / King)

Cantata: Vergnügte Ruh’, Beliebte Seelenlust, BWV170 (22:04)
1 Aria: Cantata: Vergnügte Ruh’, Beliebte Seelenlust 6:30
2 Recitativo: Die Welt, Das Sündenhaus 1:13
3 Aria: Wie Jammern Mich Doch Die Verkehrten Herzen 6:39
4 Recitativo: Wer Sollte Sich Demnach 1:14
5 Aria: Mir Ekelt Mehr Zu Leben

Cantata: Widerstehe Doch Der Sünde, BWV54 (12:26)
6 Aria: Widerstehe Doch Der Sünde 8:18
7 Recitativo: Die Art Verruchter Sünden 0:57
8 Aria: Wer Sünde Tut, Der Ist Vomteufel 3:04

Cantata: Gott Soll Allein Mein Herze Haben, BWV169 (24:15)
9 Sinfonia 8:30
10 Arioso And Recitativo: Gott Soll Allein Mein Herze Haben 2:27
11 Aria: Gott Soll Allein Mein Herze Haben 6:17
12 Recitativo: Was Ist Die Liebe Gottes? 0:39
13 Aria: Stirb In Mir 4:46
14 Recitativo: Doch Meint Es Auch Dabei 0:22
15 Chorale: De Süsses Liebe, Schenk Und Deine Gunst 1:03

Bass Vocals – Charles Pott (tracks: 15)
Cello – Jane Coe
Countertenor Vocals – James Bowman (2)
Directed By, Organ, Harpsichord – Robert King (9)
Double Bass – Peter Buckoke
Ensemble – The King’s Consort
Oboe Da Caccia – Gail Hennessy (tracks: 9 to 15)
Oboe d’Amore – Catherine Latham (tracks: 9 to 15), Valerie Darke (tracks: 1 to 5, 9 to 15)
Organ – James O’Donnell (2) (tracks: 1 to 5, 9 to 15)
Soprano Vocals – Gillian Fisher (tracks: 15)
Tenor Vocals – John Mark Ainsley (tracks: 15)
Viola – Alan George (tracks: 6 to 8), Jan Schlapp
Violin – Catherine Mackintosh, Miles Golding

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP

Harrison Birtwistle (1934-2022): Responses & Gawain’s Journey – Pierre-Laurent Aimard – SO des Bayerischen Rundfunks & Stefan Asbury ֎

Harrison Birtwistle (1934-2022): Responses & Gawain’s Journey – Pierre-Laurent Aimard – SO des Bayerischen Rundfunks & Stefan Asbury ֎

BIRTWISTLE

Responses

Gawain’ Journey

Pierre-Laurent Aimard, piano

SO des Bayerischen Rundfunks

Stefan Asbury

A tal capa…

Quando vi a notícia da morte de Sir Harrison Birtwistle lembrei-me da capa de um disco que vi em uma das revistas Gramophone, muitos anos atrás. O álbum ficou entre aqueles muitos que, por razões diversas, nunca cheguei a ouvir. Pode parecer um desinteresse pela música do nosso tempo, mas não é, pois que sou demais curioso pelo que se passa em torno de mim. Talvez oferta demais, tempo de menos e limitações físicas (acesso aos discos, pois que ir à concertos é ainda mais complicado, no meu caso). Foi assim, tentando contornar essa falta que coloquei uns dois ou três discos de Sir Harry no meu pen-drive. Ainda estou lidando com eles, mas achei que já era hora de dividir um deles com vocês.

Neste disco temos duas peças – um concerto para piano, música contemporânea, escrito em 2014, e uma suíte da ópera Gawain, a tal música da já mencionada capa de álbum na Gramophone.

Responses (Sweet Disorder) é uma obra comissionada pelo projeto musica viva, que reúne a Bayerischen Rundfunks, London Philharmonic Orchestra, Casa da Música Porto e Boston Symphony Orchestra. Esta é a sua primeira gravação. É um (segundo) concerto para piano (o anterior chama-se Antiphonies) e ganhou o subtítulo do livro de ensaios escrito por Robert Maxwell, amigo de Birtwistle: Sweet Disorder and the Carefully Careless.

Gawayn’s Journey é música adaptada por Elgar Howarth da ópera Gawain, na qual a parte das vozes foi adaptada para instrumentos de sopros, como o flugelhorn, cor anglais e trompete.

No livreto que se encontra junto aos arquivos, podemos ler que Birtwistle é um arquiteto do som em uma estranha geometria. Mais: ‘No teatro da imaginação orquestral de Harrison Birtwistle o concerto é um diálogo entre o indivíduo e a multidão. O indivíduo pode ser um herói sendo aclamado, um político sendo questionado, um acusado sendo julgado, um imigrante encontrado dificuldades em ser entendido, um oficial tentando manter a ordem, um investigador recebendo respostas conflitantes’.

Realmente, há um forte elemento de teatro na música de Birtwistle e através dela começo a fazer uma imagem da pessoa que ele foi – uma voz essencialmente individual.

No artigo sobre ele, escrito por Andrew Clements, que você poderá ler na íntegra aqui, descobrimos mais um pedacinho do que ele foi. Clements menciona um importante compositor que lhe teria dito: ‘Quando eu ou você olhamos por uma janela, nós vemos mais ou menos as mesmas coisas. Mas, se Harry olhasse pela janela, ele veria algo totalmente diferente’.

Sir Harrison Birtwistle (1934 – 2022)

Responses (Sweet Disorder) (2014)

Gawain’s Journey

Pierre-Laurent Aimard, piano

Symphonieorchester des Bayersichen Rundfunks

Stefan Asbury

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 266 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 131 MB

Aimard mandou esse sorriso quando soube da postagem!

Birtwistle is a towering figure in British music. His language, though complex and modernistic, is distictive and exhilarating.

Veja o artigo aqui…

Aproveite!
René Denon

 

Birtwistle adorando os jardins da PQP Bach Foundation de Itaipuaçu

Adriano Banchieri (1568-1634): Gemelli Armonico & Metamorfosi Musicale (Ensemble Hypothesis)

Adriano Banchieri (1568-1634): Gemelli Armonico & Metamorfosi Musicale (Ensemble Hypothesis)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Adriano Banchieri é DIVERTIDO! Ele foi um compositor, organista, teórico e poeta italiano do Renascimento tardio e princípios do Barroco. Fundou a Accademia dei Floridi em Bolonha. Aliás, nasceu e morreu em Bolonha. Em 1587 tomou os hábitos da ordem beneditina e fez os seus votos em 1590, mudando o nome para Adriano. Um dos seus mestres no mosteiro foi Gioseffo Guami, que moldou o seu estilo. Sabe-se que conheceu Claudio Monteverdi e fez com ele trabalhos de teoria musical. Em sua obra, Banchieri procurou converter o madrigal para fins dramáticos. Especificamente, foi um dos criadores do gênero chamado “comédia madrigal” que, sem chegar a ser representada em cena, narrava uma história mediante o canto sequencial de uma coleção de madrigais. Muitas destas coleções foram compostas para divertir as reuniões dos círculos sociais de Bolonha. A comédia madrigal era considerada uma das percursoras da ópera, mas a maioria dos estudiosos considera-a uma coisa separada, consequência do interesse geral na Itália da época em criar formas músico-dramáticas. Banchieri foi ainda importante compositor de canzonettas, alternativa ligeira e popular aos madrigais nos finais do século XVI.

Adriano Banchieri (1568-1634): Gemelli Armonico & Metamorfosi Musicale (Ensemble Hypothesis)

1 Prologue: Su Rallegrate I Cuori 1:33
2 Primo Trattenimento: Passo A Mezzo Con Il Liuto 0:42
3 Part I: Primo Discorso: Non Piu Parol (Mich, Stef) 1:34
4 Part I: Primo Discorso: Sinfonia: Viri Sancti – In Convertendo Dominus – Vox Dilecti Mei – Sinfonia: Adversum Me 7:34
5 Part I: Secondo Discorso: Flavia Gentile, Adio! (Liv, Fla) 2:05
6 Part I: Terzo 1:57
7 Part I: Quarto Discorso: Ninetta, Bella Nitetta (Stef, Nin) 2:03
8 Secondo Trattenimento: Villotta Alla Contadinesca Nel Chitarrino 1:18
9 Hora Tertia: Sinfonia: Domine Audivi – Pastires Ad Pastores Inquirebant – Haec Loquutus Sum Vobis – Ibant Apostoli – Sinfonia: Domine, Dominus 9:08
10 Part II: Primo Discorso: Ahime, Come Faro? (Flo) 2:15
11 Part II: Secondo Discorso: Ascolta Pedrolin (Stef, Ped) 2:10
12 Part II: Terzo Discorso: Bondi, Sposo Dolcissimo (Stef, Ped, Mich) 1:28
13 Hora Sexta: Sinfonia: Equitatui Meo – Bonum Mihi Domie – Misericordias Domini – Qui Vult Venire Post Me 7:49
14 Part II: Quarto Discorso: Tic Toc! Signora Laura (Zan, Lau) 2:24
15 Hora Nona: Sinfonia: Exaude Domine Orationem – Sancta Cecilia Virgo – O, Vere Digan Ostia – O Quam Pulchra Es 7:14
16 Il Metamorfosi Musicale: Liquide Perle Amor Dagli Occhi Sparse 2:45
17 Part II: Quinto Discorso: Liquide Per L’amor Ranocchie Sparse (Stef, Ped) 3:11
18 Part II: Sesto Discorso: Deh, Laura, Che Farai (Lau) 2:46
19 Vesperae: Sinfonia: Beati Omnes – Deus Canticum Novum – Isti Sunt Triumphatores Qui Vivente – Estote Fortes In Bello 6:36
20 Terzo Trattinimento: Non E Esercizio In Terra (Mascherrata di Soldati) 1:07
21 Part III: Primo Discorso: Ahime! Chi Miro? (Lau, Flo) 2:58
22 Part III: Secondo Discorso: Fate Festa E Allegrezza! (Flo, Liv, Ped) 1:45
23 Bizzarria 1:13

Music Director – Leopoldo D’Agostino
Countertenor Vocals, Baritone Vocals – Bertrand Dazin
Ensemble – Ensemble Hypothesis
Organ, Spinet – Carole Parer
Percussion – Donato Sansone
Theorbo, Lute, Chitarrone – Ugo Nastrucci
Viola da Gamba – Cinzia Zotti
Violoncello – Gioele Gusberti

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Adriano Banchieri fotografado durante visita à sede bolonhesa do PQP Bach no ano de 1599, localizada na sala VIP da Torre dos Asinelli. Eu disse Asinelli, nada a ver com presidente asno que ora nos desgoverna.

PQP

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – Cds 7, 8 e 9 de 11 – Lili Kraus, Simon, VFO

R-10778750-1504172673-3609.jpeg

LINKS ATUALIZADOS !!! APROVEITEM !!!

Mais três cds desta coleção que considero além de IM-PER-DÍ-VEL, IN-DIS-PEN-SÁ-VEL !!! na cdteca de qualquer amante da boa musica.

Vou propor aos senhores, como ‘tarefa’ de férias de Natal e Ano Novo, a audição por inteiro desta integral, começando pelo começo. Lembro que quando adquiri estes mesmos concertos com o grande Alfred Brendel fiz a mesma coisa: os ouvi na ordem crescente, desde o começo. Assim podemos entender a evolução do processo criativo de Mozart.  Só um detalhe: Brendel não toca em sua integral os quatro primeiros concertos, que não considerados de autoria de Mozart. Mas isso é outra história. Nestes cds de hoje temos três obras primas absolutas, os concertos de nº 20, 21 e o de nº 23.  Somando-se ao de nº 17, poderia dizer que são os meus favoritos.

CD 7
Concerto For Piano And Orchestra No. 18 In B-flat Major K 456
1-4 I Allegro Vivace
1-5 II Andante Un Poco Sostenuto
1-6 III Allegro Vivace

Concerto For Piano And Orchestra No. 19 In F Major K 459
6-1 I Allegro
6-2 II Allegretto
6-3 III Allegro Assai

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 8

Concerto For Piano And Orchestra No. 20 In D Minor K 466
2-1 I Allegro
2-2 II Romance
2-3 III [Allegro assai]

Concerto For Piano And Orchestra No. 21 In C Major K 467
12-1 I Allegro Maestoso
12-2 II Andante
12-3 III Allegro Vivace Assai

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 9

Concerto For Piano And Orchestra No. 22 In E-flat Major K 482
6-4 I Allegro
6-5 II Andante
6-6 III Allegro – Andantino Cantabile – Tempo I

Concerto For Piano And Orchestra No. 23 In A Major K 488
2-4 I Allegro
2-5 II Adagio
2-6 III Allegro Assai

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Lili Kraus – Piano
Vienne Festival Orchestra
Stephen Simon – Conductor

 

Frédéric Chopin (1810-1849): Valsas (Dinu Lipatti)

A pianista brasileira Guiomar Novaes costumava dizer que Chopin exige tudo do intérprete, “que precisa tocá-lo com cabeça, coração, com o pé, com a mão, com tudo”. Entre outras grandes gravações de Novaes (só de Chopin: Concertos, Noturnos, Mazurkas, Sonatas…), são também notáveis as 15 valsas que ela gravou, incluindo 13 publicadas em vida pelo polonês e duas póstumas. Nikita Magaloff, Claudio Arrau e Dang Thai Son gravaram 19 valsas de Chopin, pois incluíram um total de seis valsas póstumas. Mais o mais comum é que a coleção de valsas “principais” fique restrita a 14, foram essas as que gravaram, entre outros, A. Rubinstein, A.G. Barbosa, M.J. Pires, entre tantos outros… e Lipatti.

E aqui eu vou me contradizer: sempre tenho defendido em minhas postagens a importância de se conhecer várias interpretações das grandes obras, para percebermos as nuances e diferentes possibilidades… Mas com essas valsas, vocês vão me perdoar, mas e tenho dificuldades para ouvir qualquer um que não seja o pianista romeno Dinu Lipatti (1917-1950).

A forma como Lipatti executa as valsas de Chopin coloca a melancolia do compositor polonês sempre em segundo plano, como um sentimento presente mas sublimado pela dança. A vida é dura, as doenças, a estupidez e a maldade são dados da realidade, e na música de Chopin não temos a profunda religiosidade de Bach ou Messiaen, não temos tanta certeza da presença de um ser supremo para livrar-nos do Mal, parece que a energia deve ser buscada no fundo de nós mesmos, como mostra Lipatti ao interpretar Chopin: mesmo nas valsas em tom menor, há uma alegria interior, um agridoce e uma vontade irresistível de dançar.

E ao mesmo tempo, estamos falando de gravações do fim da curta vida de um pianista diagnosticado com uma grave leucemia: eu consigo imaginar Lipatti falando o seguinte para a plateia de seu último recital em Besançon, onde ele tocou 13 valsas de Chopin: “não sei se vou durar muito, mas sobretudo não parem de dançar!”

As Valsas de Chopin foram compostas ao longo de quase vinte anos, ao contrário dos Prelúdios ou dos Estudos que foram pensados e publicados em grupos grandes e coesos, com uma ordem bem definida, alternando tons maiores e menores. Por isso, as valsas se prestam bem ao tipo de ordenamento pessoal que fez Lipatti, começando com algumas das mais calmas e sofisticadas e terminando com as duas primeiras a serem publicadas, as mais brilhantes e alegres. Se um pianista fosse seguir a ordem cronológica estrita, seria preciso começar com aquelas que foram publicadas postumamente, algumas das quais ele compôs aos 19-20 anos e não enviou para editoras, apenas dedicando versões manuscritas a amigos e sobretudo amigas, às vezes mais do que amizades… como a “Valsa do adeus” op. posth. 69 nº 1, dedicada primeiro a Maria Wodzińska, polonesa autora do retrato abaixo, e de quem Chopin foi noivo. A família de Wodzińska impediu o casamento e, talvez por isso, Chopin dedicou anos depois a mesma valsa – em manuscritos – a Eliza Peruzzi e a Charlotte de Rothschild. Ambas foram suas alunas: Peruzzi tornou-se um grande nome do piano nos salões de Paris: em 1843 e 44, organizou soirées em que ela e Chopin tocaram os concertos do polonês em versão para dois pianos. A riquíssima Mademoiselle de Rothschild também dava algumas das recepções mais cotadas entre os intelectuais de Paris, recebendo em sua casa artistas como Chopin, Honoré de Balzac, Eugène Delacroix e Heinrich Heine. No “tempo perdido” de Proust, temos descrições de alguns desses salões parisienses sempre comandados por mulheres ricas, que bancavam o jantar e os drinques, reunindo cuidadosamente, como jardineiras, uma flora diversificada de artistas, aristocratas endividados, contadores de piadas, burgueses de gosto conservador e raros burgueses de gosto mais exótico.

Frédéric Chopin (1810-1849):
14 Valses

Dinu Lipatti, piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Maria Wodzińska foi a autora desta aquarela, em 1835, ano da Valsa op. 69 nº 1

E para completarmos o momento “túnel do tempo”, trago um outro intérprete da tradição francesa de se tocar Chopin, tradição que inclui também os imensos nomes já citados de Novaes e Magaloff, que estudaram, ambos, com o francês Isidor Philipp. Já Samson François (1924-1970) e Dinu Lipatti, que aliás eram da mesma geração, ambos estudaram com Alfred Cortot. Chopin viveu seus últimos 18 anos em Paris, então tanto Philipp como Cortot conheceram pessoas que conheceram Chopin, se inscrevendo em uma tradição oral e performática de ideias sobre como a música de Chopin devia soar. Nos últimos anos, com o famoso Concurso Chopin de Varsóvia, tem sido mais destacado o lado polonês do compositor, mas não tenho dúvidas de que a metade francesa por adoção é tão importante quanto a metade polonesa de berço.

As mazurkas por Samson François, assim como as valsas por Dinu Lipatti, são sobretudo miniaturas musicais dançantes: não temos aqui a seriedade das interpretações de Michelangeli. O tempo rubato às vezes pode soar um pouco exagerado, como é o caso também nas gravações de Cortot, mas em geral me agrada bastante a forma como François vai se expressando por meio de fraseados elegantes e dançantes. Embora não me faça esquecer totalmente as outras gravações como acontece quando eu ouço um único segundo de Lipatti.

Frédéric Chopin (1810-1849):
Sonates nº 2 & 3
51 Mazurkas

Samson François, piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Frédéric Chopin (desenho a lápis por George Sand, 1841)

Pleyel

.: interlúdio :. Keith Jarrett: Bordeaux Concert (Live)

.: interlúdio :. Keith Jarrett: Bordeaux Concert (Live)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Em 1975, a verdadeira odisseia musical chamada The Köln Concert tornou-se o mais improvável produto de vendas multimilionárias. No Köln, Keith Jarrett revelou como uma relação privada, não planejada, desplugada e não comercial — entre apenas ele e um piano tradicional — poderia hipnotizar ouvintes em todo o mundo. Jarrett também tocou bastante música clássica e em grupos de jazz com grandes estrelas. Gravou dezenas de discos com mil artistas diferentes. Mas seguiu valorizando corajosamente sua arte sem esconderijos da improvisação em piano solo, como testemunhado por álbuns ao vivo, incluindo o Carnegie Hall Concert de 2006, o Rio de 2011 e, claro, aquela obra de 1975. Em 2018, dois golpes sucessivos interromperam essa alquimia espontânea — assim como as outras –, o que torna esta performance a final solo de Jarrett. Ela foi gravada em julho de 2016. Depois, Jarrett sofreu dois grandes AVCs em fevereiro e maio de 2018. Após o segundo, ficou paralisado e passou quase dois anos em uma clínica de reabilitação. Embora ele tenha recuperado a capacidade limitada de andar com bengala e possa tocar piano com a mão direita, permanece parcialmente paralisado do lado esquerdo e não deve se apresentar novamente. “Não sei como deve ser meu futuro. Não me sinto agora como um pianista”, disse Jarrett ao The New York Times em outubro de 2020. Neste disco, tudo começa com longos fragmentos de improvisação livre, cheio de agudos brilhantes e acordes melancólicos, enquanto Jarrett sente o instrumento e a sala. Quando um gospel de balanço lento surge na Parte III, seus assobios e ganidos irrompem, e quando os loops minimalistas frenéticos da Parte V param, o público entra em erupção. No final, tudo, desde as baladas improvisadas mais suaves até os blues mais exuberantemente pesados, é sensacional. E é notável a variação entre as partes. O público viu surgir uma música única que morava apenas na cabeça de Jarrett, naquele espaço, naquela tarde. Uma pena esses AVCs de merda.

.: interlúdio :. Keith Jarrett: Bordeaux Concert (Live)

1. Keith Jarrett – Part I (Live)
2. Keith Jarrett – Part II (Live)
3. Keith Jarrett – Part III (Live)
4. Keith Jarrett – Part IV (Live)
5. Keith Jarrett – Part V (Live)
6. Keith Jarrett – Part VI (Live)
7. Keith Jarrett – Part VII (Live)
8. Keith Jarrett – Part VIII (Live)
9. Keith Jarrett – Part IX (Live)
10. Keith Jarrett – Part X (Live)
11. Keith Jarrett – Part XI (Live)
12. Keith Jarrett – Part XII (Live)
13. Keith Jarrett – Part XIII (Live)

Keith Jarrett, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

O gênio extirpando música de sua cabeça. O jazz é algo livre, que morre se vê um Ustra ser elogiado por uma besta repugnante

PQP

W. F. Bach (1710-1784): Sonatas e Trios para Flauta (Hazelzet, Moonen, etc.)

W. F. Bach (1710-1784): Sonatas e Trios para Flauta (Hazelzet, Moonen, etc.)

Excelente CD! Apresenta as obras para flauta do mano bachinho Wilhelm Friedemann, sejam Sonatas para flauta solo ou em Trio. Trata-se de música de grande beleza, encanto melódico e invenção e brilho instrumental. Embora a produção do filho mais velho de Johann Sebastian seja relativamente pequena, o significado de seu estilo, como sucessor lógico e verdadeiro de seu pai, é grande. Seu estilo, ainda baseado nos princípios barrocos, é livre, aventureiro e voltado para o futuro. Serve de ponte entre o Barroco e o Período Clássico. O grupo instrumetal holandês é sensacional.

W. F. Bach (1710-1784): Sonatas e Trios para Flauta (Hazelzet, Moonen, etc.)

Sonata In E Minor For Flute, Harpsichord And Cello, Fk. 52
1 I. Allegro Ma Non Tanto 5:39
2 II. Siciliano 2:53
3 III. Vivace 3:12

4 Trio In A Minor For Two Flutes And Piano, Fk. 49 (Allegro) 5:02

Sonata In F Major For Flute And Piano
5 I. Largo 3:03
6 II. Allegretto 5:05
7 III. Allegro Assai E Scherzando 3:14

Trio In D Major For Two Flutes, Harpsichord And Cello, Fk. 48
8 I. Andante 2:03
9 II. Allegro 2:33
10 III. Vivace 4:02

Sonata In F Major For Flute And Piano, Fk. 51
11 I. Allegro Non Troppo 5:13
12 II. Andantino 1:29
13 III. Vivace 5:03

Trio In D Major For Two Flutes, Piano And Cello, Fk. 47
14 I. Allegro Ma Non Troppo 3:32
15 II. Largo 7:04
16 III. Vivace 4:14

Wilbert Hazelzet (transverse flute)
Marion Moonen (transverse flute)
Jaap ter Linden (cello)
Jacques Ogg (harpsichord, pianoforte)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A cara alegre do filho predileto. Esse não era um cidadão de bem, desses que defendem preconceitos, avalizam opressão, manutenção de desigualdades, aprovam orçamento secreto, etc.

PQP

Frédéric Chopin (1810-1849): 4 Scherzi, Berceuse, Barcarolle (Maurizio Pollini)

Após já ter feito gravações antológicas dos Estudos, Prelúdios e Polonaises de Chopin, Pollini passou boa parte das décadas de 1970 e 80 dedicado a outros compositores, mostrando não ser pianista de um compositor só. Foram discos de Beethoven, Schumann e Schoenberg que muita gente, incluindo o Sr. PQP Bach, coloca lá no topo das gravações desses compositores. Em 1986 Pollini voltou a gravar o polonês (Sonatas 2 e 3) e em 1990 gravou este álbum com os 4 Scherzos – ou Scherzi em italiano – e duas obras da fase final do compositor. Chopin é muito diferente de Beethoven e tinha uma admiração muito menor pelo renano do que por Mozart, mas o fato é que ambos (mais do que Mozart) têm um certo estilo tardio, estilo que, mutatis mutandi, se caracteriza por obras inovadoras, um tanto pensativas e equilibradas, em oposição ao romantismo exacerbado dos Scherzos. Estilo tardio que se encaixa muito bem nas mãos de Pollini.

A barcarola é um tipo de ritmo popular no século XIX, com um compasso ternário composto (6 ou 12 tempos por compasso) e baseada nas canções dos gondoleiros de Veneza que moveram as imaginações românticas. Mendelssohn, Offenbach e muitos outros contemporâneos de Chopin também compuseram barcarolas. Em uma carta endereçada a sua família que permanecia na Polônia, Chopin escreveu em 12 de dezembro de 1845:

“Eu pretendo terminar em breve uma sonata para violoncelo, uma barcarola e uma outra coisa* que não sei ainda como nomear… Me perguntam com frequência se eu darei novos concertos. Eu duvido.” (*referência à Polonaise-Fantaisie, Op. 61)

Essas três peças citadas na carta – Barcarolle, Polonaise-Fantaisie, Sonata para Violoncelo e Piano – seriam as três grandes obras de peso do seu período maduro, que também tem algumas obras mais curtas como noturnos e mazurkas e a Berceuse. Entre as características desse último período de Chopin, se destacam os ornamentos e passagens cromáticas que se emancipam da harmonia mais tradicional dos períodos anteriores. As sutilezas harmônicas desse último Chopin antecipam muito da harmonia de Fauré ou Debussy. Outra característica da Barcarolle, da Polonaise-Fantaisie e da Berceuse (mas não da Sonata para cello ou da 3ª Sonata para Piano, também tardia) é a vontade de ir além das formas que ele tinha estabelecido para si próprio como as formas Scherzo, Ballade e Polonaise. Na Barcarolle, portanto, o ritmo das águas serve sobretudo para um passeio muito livre com incontáveis transições harmônicas e ornamentos inesperados. A Berceuse (canção de ninar, em francês) é uma série de variações sobre um baixo constante, também com rica ornamentação, e na Polonaise-Fantaisie o ritmo típico da dança polonesa aparece na seção central mais como uma lembrança difusa do que como uma dança que estruture a peça.

Após compor essas obras longas que certamente lhe deram muito trabalho, Chopin viveria mais dois anos sem conseguir se dedicar a composições de tanto fôlego, por dois motivos: a piora da doença pulmonar que o fazia cuspir sangue e a belicosa separação com George Sand que o colocou em maus lençóis financeiros, levando-o a fazer uma longa viagem pelo Reino Unido onde finalmente faturou um pouco com seu já célebre nome, em muitas soirées pianísticas em casas ricas e alguns últimos concertos que lhe eram especialmente cansativos. Uma lista com a maioria desses concertos privados e públicos pode ser encontrada aqui, dos quais listamos alguns:

16 de fevereiro de 1848: seu último concerto público em Paris. No repertório, além de estudos, prelúdios, mazurkas e valsas, também a Berceuse, a Barcarolle, a Sonata para Violoncelo e Piano e o Trio em Mi maior de Mozart.

Primavera e verão de 1848: Chopin viaja pela Inglaterra e Escócia. Em carta, diz: “Não toquei na residência da rainha, mas toquei para ela na casa do Duque de Sutherland”. Naquela noite, além de suas obras, ele tocou Mozart e acompanhou três cantores. Também tocou para a Sra. Rothschild, que disse que ele cobrava muito caro. Em cartas para seu amigo polonês Grzymała, Chopin escreveu: “A Philharmonia ofereceu um concerto comigo, mas eu não quero tocar com orquestra” (maio de 48); “Se não estivesse cuspindo sangue por vários dias seguidos e fosse mais jovem, talvez poderia começar uma nova vida aqui.” (junho de 48)

Em outra carta, ele descreve para sua família: “Se Londres não fosse tão escura e com tanto cheiro de carvão e fog, eu teria aprendido inglês, também. Mas esses ingleses são tão diferentes dos franceses… eles colocam preço em tudo, gostam de arte porque é um luxo; bons corações, mas vejo como as pessoas podem se tornar máquinas. Se eu fosse mais novo, poderia me render e me tornar uma máquina, teria dado concertos por todos os lados e tocar as coisas mais escandalosas e sem gosto (mas apenas por dinheiro!); mas agora…”

Meses depois, após um concerto no Manchester’s Concert Hall, um crítico considera que “sem dúvida, ele toca de forma extremamente refinada – talvez até demais, e mereceria o termo ‘finesse’.” Enfim, após essa longa turnê para levantar algum dinheiro, Chopin voltou para Paris em novembro de 1848 mais doente do que antes, e passou seus últimos meses na companhia de amigos como Solange Clésinger (filha de George Sand e um dos pivôs da briga com a mãe) e o pintor Eugène Delacroix. Sem forças para criar obras de fôlego, Chopin compôs apenas algumas curtas mazurkas e valsas. Em 1849, Delacroix anota em seu diário mais de uma visita a Chopin já bastante doente, uma delas em um passeio de carruagem pelos Champs Elysées: “Quando falamos de música, isso o reanimou. Eu lhe perguntei sobre o que estabelecia a lógica na música. Segundo ele, são a harmonia e o contraponto; de forma que a fuga é como a lógica pura na música, e estudar a fuga é conhecer o elemento racional da música.” Assim como Beethoven, portanto, Chopin se preocupava com o contraponto em seus últimos anos e, sem dúvida, ainda folheava sua edição do Cravo Bem Temperado de Bach.

Chopin por Eugène Delacroix (1838)

A Barcarolle de Chopin era uma obra favorita nos programas dos grandes mestres Arthur Rubinstein e Vladimir Horowitz. Outros grandes intérpretes dessa obra já apareceram neste blog, como Nikita Magaloff e Alexei Lubimov. Pollini, em sua gravação, utiliza com frequência um tempo rubato muito elegante, ao mesmo tempo em que suas duas mãos são muito equilibradas e cuidadosas com todos os fraseados e sutilezas harmônicas. Ou seja, por um lado sua interpretação é cerebral, atenta ao tipo de lógica racional que aparece no diálogo de Chopin com Delacroix, mas o rubato está ali de forma que o movimento das águas e da gôndola veneziana faz um vai-e-vem diferente do tempo rígido do relógio.

Frédéric Chopin (1810-1849):
1. Scherzo No. 1, Op. 20 em Si menor
2. Scherzo No. 2, Op. 31 em Si bemol menor
3. Scherzo No. 3, Op. 39 em Dó sustenido menor
4. Scherzo No. 4, Op. 54 em Mi maior
5. Berceuse Op. 57 em Ré bemol maior
6. Barcarolle Op. 60 em Fá sustenido maior

Maurizio Pollini, Piano
Recording: München, Herkulessaal, 1990

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Os poetas Homero, Ovídio, Estácio e Horácio saúdam Dante [Chopin] guiado pela mão por Virgílio (Delacroix, c.1845)
Por volta de 1845, Delacroix pintou a cúpula central do Palais de Luxembourg em Paris, atual Senado francês. Os biógrafos asseguram que Chopin serviu de modelo para Dante, guiado por Virgílio. Trata-se, portanto, da segunda vez em que o pintor representa seu grande amigo, após o famoso retrato de 1838.

Pleyel

C.P.E. Bach (1714-1788): Essai sur l’art véritable de jouer les instruments à clavier (Ensaio sobre a verdadeira arte de tocar instrumentos de teclado) (Holtz)

C.P.E. Bach (1714-1788): Essai sur l’art véritable de jouer les instruments à clavier (Ensaio sobre a verdadeira arte de tocar instrumentos de teclado) (Holtz)

Um disco muito bom e interessante, tocado com extrema perícia pelo brasileiro Cristiano Holtz, que iniciou os seus estudos de cravo aos doze anos de idade, no Brasil, com Pedro Persone. Aos quinze, a convite de Jacques Ogg, foi viver nos Países Baixos, com quem prosseguiu os seus estudos musicais. Permaneceu neste país durante dez anos estudando com vários outros professores, entre os quais Anneke Uittenbosch e Meno van Delft. Desde muito novo, a sua maior influência foi Gustav Leonhardt, que o aceitou excepcionalmente como seu último estudante oficial. Igualmente marcante na sua formação foram os estudos privados com Pierre Hantaï, Marco Mencoboni e Miklós Spányi. Este CD tem generosos 78 minutos e mostra novamente a grande arte de CPE Bach. Mas acho que Cristiano poderia ter mais fantasia e ser mais ousado, sei lá. Isto cai bem em CPE.

C.P.E. Bach (1714-1788): Essai sur l’art véritable de jouer les instruments à clavier (Ensaio sobre a verdadeira arte de tocar instrumentos de teclado) (Holtz)

1 Keyboard Sonata in C Major, Wq. 63/1: I. Allegretto tranquillamente 2:26
2 Keyboard Sonata in C Major, Wq. 63/1: II. Andante mà innocentemente 1:58
3 Keyboard Sonata in C Major, Wq. 63/1: III. Tempo di minuetto con tenerezza 2:32

4 Keyboard Sonata in D Minor, Wq. 63/2: I. Allegro con spirito 2:23
5 Keyboard Sonata in D Minor, Wq. 63/2: II. Adagio sostenuto 3:15
6 Keyboard Sonata in D Minor, Wq. 63/2: III. Presto 2:27

7 Keyboard Sonata in A Major, Wq. 63/3: I. Poco allegro ma cantabile 4:08
8 Keyboard Sonata in A Major, Wq. 63/3: II. Andante lusingando 1:47
9 Keyboard Sonata in A Major, Wq. 63/3: III. Allegro 4:55

10 Keyboard Sonata in B Minor, Wq. 63/4: I. Allegro grazioso 4:00
11 Keyboard Sonata in B Minor, Wq. 63/4: II. Largo maestoso 4:38
12 Keyboard Sonata in B Minor, Wq. 63/4: III. Allegro siciliano scherzando 2:54

13 Keyboard Sonata in E-Flat Major, Wq. 63/5: I. Allegro di molto 1:35
14 Keyboard Sonata in E-Flat Major, Wq. 63/5: II. Adagio assai mesto e sostenuto 5:44
15 Keyboard Sonata in E-Flat Major, Wq. 63/5: III. Allegretto, arioso ed amoroso 4:32

16 Keyboard Sonata in F Minor, Wq. 63/6: I. Allegro di molto 3:19
17 Keyboard Sonata in F Minor, Wq. 63/6: II. Adagio affetuoso e sostenuto 5:14
18 Keyboard Sonata in F Minor, Wq. 63/6: III. Fantasia (Allegro moderato – Largo – Allegro moderato) 6:39

19 Keyboard Sonatina in G Major (In 2 Sonaten), Wq. 63/7 2:20

20 Keyboard Sonatina in E Major (In 2 Sonaten), Wq. 63/8 2:50

21 Keyboard Sonatina in D Major (In 2 Sonaten), Wq. 63/9 2:20

22 Keyboard Sonatina in B-Flat Major (In 2 Sonaten), Wq. 63/10 2:02

23 Keyboard Sonatina in F Major (In 2 Sonaten), Wq. 63/11 2:57

24 Keyboard Sonatina in D Minor (In 2 Sonaten), Wq. 63/12 0:59

Cristiano Holtz, cravo, clavicórdio

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Pelas fotos, adivinha-se um homem sério, que não aprecia brincadeiras… Mas não creio que ele votaria num idiota que faz arminha e diz-se imbroxável.

PQP

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para muitos instrumentos (Beyer)

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para muitos instrumentos (Beyer)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um disco cheio de recantos aprazíveis e interessantes. Uma viagem maravilhosa onde somos conduzidos pelas mãos da esplêndida Amandine Beyer. Há desde coisas marciais até extremas delicadezas. Um baita CD. Os concertos con molti stromenti de Vivaldi são verdadeiros precursores da sinfonia em sua amplitude, sonoridade e audácia. Nestas peças, o ‘Padre Ruivo’ divertia-se a inventar combinações de timbres literalmente inéditas. No famoso concerto Il Mondo al rovescio (O mundo de cabeça para baixo), ele convidou flautas, oboés e cravos para se unirem a violino e violoncelo em um turbilhão colorido. Esta gravação de Amandine Beyer e Gli Incogniti oferece a oportunidade de descobrir essas composições incrivelmente modernas.

Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para muitos instrumentos (Beyer)

1. Concerto in D Major, RV 562 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: I. Andante – Allegro (05:04)
2. Concerto in D Major, RV 562 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: II. Grave (02:51)
3. Concerto in D Major, RV 562 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: III. Allegro (06:21)

4. Flute Concerto in E Minor, RV 432: I. Allegro (02:40)
5. Flute Concerto in E Minor, RV 432: II. Grave sopra il Libro (02:08)

6. Concerto in C Major, RV 556 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: I. Largo – Allegro molto (04:55)
7. Concerto in C Major, RV 556 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: II. Largo e cantabile (02:51)
8. Concerto in C Major, RV 556 “Per la Solennità di S. Lorenzo”: III. [Allegro] (04:03)

9. Concerto in F Major, RV 571: I. Allegro (04:03)
10. Concerto in F Major, RV 571: II. Largo (02:24)
11. Concerto in F Major, RV 571: III. [Allegro] (03:42)

12. Concerto for Violin and Oboe in G Minor, RV 576: I. [Allegro] (03:53)
13. Concerto for Violin and Oboe in G Minor, RV 576: II. Larghetto (02:06)
14. Concerto for Violin and Oboe in G Minor, RV 576: III. Allegro (03:32)

15. Violin Concerto in A Major, RV 344: I. Allegro (04:25)
16. Violin Concerto in A Major, RV 344: II. Largo (01:50)
17. Violin Concerto in A Major, RV 344: III. [Allegro] (04:11)

18. Concerto for 2 Oboes in A Minor, RV 536: I. [Allegro] (02:29)
19. Concerto for 2 Oboes in A Minor, RV 536: II. Largo (01:52)
20. Concerto for 2 Oboes in A Minor, RV 536: III. Allegro (01:34)

21. Concerto in F Major, RV 572 “Il Proteo o sià Il Mondo al rovescio”: I. Allegro (03:51)
22. Concerto in F Major, RV 572 “Il Proteo o sià Il Mondo al rovescio”: II. Largo (02:28)
23. Concerto in F Major, RV 572 “Il Proteo o sià Il Mondo al rovescio”: III. [Allegro] (03:08)

Amandine Beyer & Gli incogniti

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Quem não ama a talentosa magrelinha Beyer, aqui duplicada pra vocês? Imaginem se alguém talentosa e inteligente como ela votaria numa besta como Bolsonaro?

PQP

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos CDs 4, 5 e 6 – Lili Kraus

Postei esta série há alguns anos, mas acabei fazendo uma tremenda confusão e acabou faltando os cds intermédiários. Estou com esta postagem cobrindo essa falha, e aproveito para atualizar os demais links dos restantes CDs. Peço desculpas pela demora, mas a vida tem destas coisas, somos engolidos pela nossa rotina.

Mesmo passados mais de sessenta anos da realização destas gravações elas continuam sendo as minhas favoritas, dentre as dezenas de gravações que já tive a oportunidade de ouvir destas obras.

CD 4

01. Concerto For Piano And Orchestra No. 12 In A Major K 414 I Allegro
02. II Andante
03. III Rondeau. Allegretto
04. Concerto For Piano And Orchestra No. 13 In C Major K 415 I Allegro
05. II Andante
06. III Rondeau. Allegro – Adagio – Allegro

CD 5

01. Concerto For Piano And Orchestra No. 14 In E-flat Major K 449 I Allegro Vivace
02. II Andantino
03. III Allegro Ma Non Troppo
04. Concerto For Piano And Orchestra No. 15 In B-flat Major K 450 I Allegro
05. II [Andante]
06. III Allegro

CD 6

01. Concerto For Piano And Orchestra No. 16 In D Major K 451 I Allegro Assai
02. II Andante
03. III Allegro Di Molto
04. Concerto For Piano And Orchestra No. 17 In G Major K 453 I Allegro
05. II Andante
06. III Allegretto – Finale. Presto

Lili Kraus – Piano
Vienne Festival Orchestra
Stephen Simon – Conductor

BAIXAR AQUI – DOWNLOAD HERE

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Rondos & Fantasias (Christine Schornsheim)

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Rondos & Fantasias (Christine Schornsheim)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um CD lindo, com várias faixas impressionantes e uma interpretação idem! Ouça esta maravilha para entrar em contato com o que há de moderno na família Bach. Sim, A Arte da Fuga de papai já é pura modernidade, mas aqui você tem contato com a improvisação do mano CPE. Às vezes, parece que estamos ouvindo Ligeti ou Cage. Embora Christine Schornsheim tenha excelentes registros de J.S. Bach, ela realmente se solta com seu filho Carl Philipp Emanuel. Seu teclado de eleição é um ‘Tangentenklavier’ de 1801 que pretende fundir o melhor que o clavicórdio, o cravo e o pianoforte têm para oferecer em termos de timbre e dinâmica. Pode não ser um instrumento do qual o compositor tivesse conhecimento, mas se presta perfeitamente ao idioma imaginativo de CPE e de Christine Schornsheim. Ela dá forma dramática e colorida aos arpejos e apimenta o capricho melódico de CPE. Efeitos de pedal discretos, mas perceptíveis, sublinham as cadências imprevisíveis e as pepitas dissonantes, já que a música vagueia por tantos humores quanto mudanças de tom. Uma entrevista com Schornsheim revela que ela é tão inteligente, perspicaz e espirituosa longe do teclado quanto frente a ele. Em suma, um CD absolutamente delicioso.

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Rondos & Fantasias (Christine Schornsheim)

1 Fantasia I Es-Dur Wq 58/6 5:42
2 Rondo III B-Dur Wq 58/5 5:12
3 Rondo II c-Moll Wq 59/4 4:36
4 Rondo I C-Dur Wq 56/1 6:53
5 Rondo III a-Moll Wq 56/5 7:54
6 Rondo II E-Dur Wq 58/3 4:57
7 Fantasia II C-Dur Wq 59/6 7:26
8 Rondo II G-Dur Wq 57/3 4:38
9 Rondo III F-Dur Wq 57/5 5:06
10 Rondo II d-Moll Wq 61/4 3:53
11 Fantasia I F-Dur Wq 59/5 4:06
12 Rondo I E-Dur Wq 57/1 7:47
13 Fantasia II C-Dur Wq 61/6 5:05

Christine Schornsheim: Tangentenklavier

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Este é um Tangentenklavier. (Você não vai votar no Bolsonaro, certo? Ninguém do PQP votará no lixo)

PQP

Sergei Prokofiev (1891-1953): Sinfonia Nº 6, Op.111

“Os dolorosos resultados da guerra”, disse Prokofiev sobre sua 6ª sinfonia.

O primeiro movimento é tenso em alguns momentos, delicado em outros. Às vezes o naipe de metais parece interromper o andar da carruagem, o que traz à memória as sinfonias de Shostakovich (os dois devem ter se influenciado mutuamente, mas Shosta deve ter imitado mais seu colega 15 anos mais velho com mais frequência do que o inverso). Aliás, Shostakovich foi uma das cerca de 30 pessoas no funeral de Prokofiev enquanto a multidão chorava por Stalin.

O longo movimento lento (“largo“) segue o clima do anterior e deixa tudo ainda mais enigmático, como se Prokofiev estivesse jogando sem abrir as cartas que tem na mão: elas vão aparecendo uma por uma e não vemos a mão inteira. No último movimento, com interrupções de metais que lembram Shosta mas dessa vez mais circenses e menos sérias, novamente o clima é de enigma… e o fim da sinfonia é sui generis, porque Prokofiev termina do jeito que outros começam. Senão, vejamos…

A 6ª de Prokofiev termina com percussões enunciando o mesmo tema rítmico da 5ª sinfonia de Beethoven. Se a 5ª de Mahler também começava com essa célula rítmica de curto-curto-curto-longo, como uma pergunta que inicia as discussões, nesta 6ª de Prokofiev a pergunta fica no fim, obviamente sem resposta. Deve ser por isso que – nos ensina a wikipedia em inglês – durante os ensaios para a primeira apresentação, Prokofiev descreveu a coda (fim) da sinfonia como “questões colocadas para a eternidade”.

Para uma gravação ao vivo desta sinfonia que enfatiza os aspectos rítmicos e essa “pergunta final”, confira neste blog da concorrência. Mas esta interpretação aqui, com a orquestra de Köln e o maestro russo Kitajenko, tem outra proposta igualmente válida, mais lenta e pensativa no movimento central e mais pesada, brutalista, nos outros movimentos.

Sergei Prokofiev: Symphony No. 6 in E flat minor, op. 111
I. Allegro moderato
II. Largo
III. Vivace

Gürzenich-Orchester Köln
Dimitri Kitajenko
Recorded: Kölner Philharmonie, 12/2007

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PS: Querem ter uma ideia do tramanho do repertório sinfônico russo e soviético?
Desde a década de 1990, quando saiu da Rússia em desintegração, Dimitri Kitajenko construiu uma sólida reputação na Alemanha, Suíça e Coreia do Sul regendo praticamente só música russa e soviética (não estritamente russa, pois inclui gente como o armênio Khachaturian). Em uma entrevista, ele disse:

Em Moscou [até 1990], eu conduzi as obras sinfônicas completas de Richard Strauss e também a estreia russa da oitava de Mahler. Mas hoje, as orquestras me chamam principalmente para o repertório russo. Elas querem um intérprete autêntico dessa música. E eu devo dizer que uma grande parte do repertório russo – pense nos Sinos de Rachmaninoff, em Ivan o Terrível de Prokofiev, nas sinfonias de Scriabin… – é ainda pouco conhecida na Europa. Talvez seja uma certa missão para mim reger esse tipo de música e torná-la mais popular.

D. Kitajenko e F.X. Roth, nos camarins em 2016 após uma apresentação da orquestra de Köln da qual o russo é o maestro honorário e o francês o maestro principal

Pleyel

W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 12, K. 414, e Nº 24, K. 491 (Pollini)

W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 12, K. 414, e Nº 24, K. 491 (Pollini)

A lendária habilidade de Pollini (ainda fabulosa), suas intuições musicais infalíveis e seu bom gosto são aqui provocados pela música maravilhosa que ele toca. Cada pequena estrutura, cada linha melódica, cada detalhe harmônico, recebe uma luz simples e adequada, seu peso próprio. O resultado é maravilhoso, não só por haver uma parceria de superclasse — envolvendo Pollini como solista e maestro e a excelente orquestra da Filarmônica de Viena –, mas principalmente por Pollini recuperar o gosto pelo detalhe e pelo cantabile, além da alegria de improvisar enquanto ilumina rigorosamente uma música. Temos aqui é um bom K. 414 e um ótimo K.491. O fato de serem apresentações ao vivo torna o esforço ainda mais impressionante. À medida que Pollini se aproxima do fim de uma carreira lendária, este disco é um testemunho de um homem cuja técnica já foi verdadeiramente impressionante e que agora tem classe de sobra.

W. A. Mozart (1756-1791): Concertos Nº 12 e 24 (Pollini)

Concerto For Piano And Orchestra No. 12 In A Major, K. 414 (24:42)
1. Allegro 10:05
2. Andante 8:09
3. Rondeau: Allegretto 6:20

Concerto For Piano And Orchestra No. 24 In C Minor, K. 491 (20:23)
1. Allegro 12:31
2. Larghetto 8:11
3. Allegretto 9:40

Maurizio Pollini, piano
Wiener Philharmoniker

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Maurizio Pollini: não adianta criticá-lo. Sou fã e e fã não discute, apenas ama.

PQP

Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Pièces de Clavecin en Concerts (Les Timbres)

Inspirado pelas peças para cravo com acompanhamento de violino (6 pièces de clavecin en sonates) publicadas por Mondonville em 1738, Rameau decidiu desenvolver essa ideia em suas peças para cravo com dois acompanhantes: violino ou flauta nos agudos e viola da gamba nos graves. O violino sola, mas sola menos do que nas sonatas italianas (onde o cravo é mero acompanhante fazendo baixo contínuo), a viola passa o tempo todo de uma linha de baixo para linhas melódicas mais agudas, o cravo aparece no título mas não se sobrepõe sobre os colegas. A obra é exigente no plano técnico, com os três instrumentos dialogando de igual para igual: poucas gravações conseguiram dar esse destaque igual para as três partes, esta gravação pelo conjunto belga Les Timbres (2013) foi uma das mais elogiadas pela crítica especializada nesse sentido não só da performance mas também da delicada tarefa de gravar e mixar tudo sem que um instrumento abafe o outro.

Outra característica dessa e outras obras de Rameau é o espírito dançante, teatral, sorridente, diferente do tipo de seriedade de outros barrocos que já davam alguns passos iniciais no espírito romântico e sentimental (penso aqui em C.P.E. Bach e mesmo em algumas obras de seu pai como o Concerto para Cravo em ré menor). Os títulos dos movimentos, como “La timide, Les Tambourins, L’Indiscrète” (A Tímida, Os tamborins, A indiscreta) ou mesmo a autobiográfica “La Rameau” já deixam claro que o clima é sempre bem humorado, com a grande complexidade do diálogo entre os três instrumentos aparecendo apenas em uma audição mais atenta, pois na primeira impressão o que se destaca – sobretudo nesta gravação por Les Timbres – é o tom de leveza constante. Música para esquecer por uma hora e nove minutos todas as tristezas, as contas a pagar e os deputados do centrão que se reelegeram.

Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Pièces de Clavecin en Concerts (Paris, 1741)

1-3. Premier Concert
1 La Coulicam: Rondement
2 La Livri: Rondeau Gracieux
3 La Vezinet: Gaiment, sans vîtesse

4-7. Deuxième Concert
1 La Laborde: Rondement
2 La Boucon: Air Gracieux
3 L’Agacante: Rondement
4 Menuets I & II

8-10. Troisième Concert
1 La Poplinière: Rondement
2 La Timide: Rondeaux gracieux I & II
3 Tambourins I & II en Rondeau

11-13. Quatrième Concert
1 La Pantomime: Loure vive
2 L’Indiscrète: Rondeau, Vivement
3 La Rameau: Rondement

14-16. Cinquième Concert
1 La Forqueray: Fugue
2 La Cupis: Air tendre
3 La Marais: Rondement

Yoko Kawakubo – violon de Pierre Jaquier, fait à Cucuron (France) d’après des instruments crémonais do XVIIIe siècle
Myriam Rignol – viole de gambe à 8 cordes de Tilman Muthesius faite à Potsdam (Allemagne) d’après un instrument de Benoist Fleury (Paris, 1759)
Julien Wolfs – clavecin fait par Jean-Luc Wolfs-Dachy à Lathuy (Belgique) d’après un instrument de Henri Hemsch (Paris, 1751)
Enregistré: novembre 2013 à Beaufays (Belgique)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320kbps)

Escultura de Rameau em 1760, quando o compositor se aproximava dos 80 anos

Pleyel

Johannes Brahms (1833-1897) – Piano Concertos – Alfred Brendel, Hans Schmidt-Isserstedt, Haitink, Concertgebow Orchestra

Garimpando em um sebo em minha cidade deparei com essa gravação do Segundo Concerto de Brahms com o pianista Alfred Brendel acompanhado pelo maestro holandês Bernard Haitink frente a imensa Orquestra do Concertgebow, de Amsterdam. Não conhecia essa gravação até então. Pesquisando em sites especializados, fiquei sabendo que Brendel gravara anteriormente o Primeiro Concerto com a mesma orquestra porém o maestro era Hans Schmidt-Isserstedt, que morreria ainda no mesmo ano da gravação. E para completar a série, a Philips chamou Bernard Haitink para gravarem o Segundo Concerto.

Enfim, depois de fuçar o sebo por quase uma hora, saí de lá muito satisfeito com a aquisição. E fiz questão de mostrar para os colegas do PQPBach, e pasmem, nem mesmo nosso Vassily, uma verdadeira enciclopédia da música erudita, com um acervo magnífico, nem mesmo Vassily conhecia essa gravação. Afinal, quase que instantaneamente associamos Brendel a Claudio Abbado quando nos referimos a esses concertos. E Haitink / Brendel em Amsterdam, bah, isso é muito bom. Lembro que quando os dois gravaram os concertos de Beethoven,  quase na mesma época, a orquestra escolhida foi a Sinfônica de Londres.

Bem, estas são pequenas curiosidades, que achei interessante expor para os senhores. Mas o mais importante de tudo são estas gravações. Consegui localizar em meu acervo o Primeiro Concerto, com o maestro Hans Schmidt-Isserstedt, e ouvindo o Primeiro Movimento já entendi a dimensão da coisa. Quase cinquenta anos após seu lançamento estes registros permanecem com a mesma qualidade, envelheceram muito bem. A Orquestra do Concertgebow com sua exuberante sonoridade me faz apreciá-la ainda mais. Espero que apreciem.

Klavierkonzert No.1 in D moll, op.15
1. Maestoso – Poco Più Moderato
2. Adagio
3. Rondo (Allegro Non Troppo – Più Animato – Tempo I)

Alfred Brendel – Piano
Concertgebouw Orchestra, Amsterdam
Hans Schmidt-Isserstedt – Conductor

Klavierkonzert No.2 B-dur op. 83
1. Allegro non troppo
02. Allegro appassionato
03. 3. Andante – Piú adagio
04. 4. Allegretto grazioso – Un poco piú presto

Alfred Brendel – Piano
Concertgebouw Orchestra, Amsterdam
Bernard Haitink – Conductor

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Peter Maxwell Davies (1934-2016), Malcolm Williamson (1931-2003), Jonathan Harvey (1939-2012): Obras para órgão (Kevin Bowyer)

Sir Peter Maxwell Davies, the Master of the Queen’s Music, has said that ‘God Save the Queen’ is “very boring” and should be replaced with a new “more stirring” anthem, which he’s offered to write. “The national anthems of other countries, such as France and Germany, are a lot more impressive and tend to have a more galvanising effect on their peoples”, he told The Daily Telegraph. “Benjamin Britten’s arrangement of our anthem was probably the best there has ever been, but he didn’t honestly have a lot to work with.”
Following his victory at the German Grand Prix on Sunday, racing driver Lewis Hamilton also complained about the national anthem, saying it was much shorter than other nation’s anthems. He wanted his moment of glory on the podium to last longer than the 44 seconds it took to play one verse of ‘God save the Queen’. Felipe Massa, a Brazillian race driver, gets to savour Francisco Manuel da Silva’s composition for two minutes, substantially longer than the British anthem. (The Telegraph, 2011)

Max Reger, o maior compositor para órgão do início do século XX, colocava Bach em um pedestal. Alguns modernistas dos anos 1920, por outro lado, tinham a necessidade de esculhambar todos os antecessores para poderem se afirmar. Na música de alguns grandes compositores do fim do século XX, o confronto entre velho e novo ganha outros contornos. Messiaen, por exemplo, nunca fez música neobarroca ou neoclássica, mas sua linguagem única devia muito ao canto gregoriano e aos sons atemporais da natureza: pássaros, córregos, vento…

Neste disco de hoje temos um compositor que nos anos 1960 era considerado iconoclasta e irônico – Em Darmstadt [a Meca do serialismo dos hiper-sérios Boulez e Stockhausen], eu caí em disgraça ao rir em um ou dois concertos”, disse ele – e que em 2004 foi nomeado Master of Music da rainha, cargo chapa-branca que não o impediu de falar que achava o hino God Save the Queen muito chato ou monótono, a depender da tradução. Maxwell-Davies é alguém que equilibra e faz dialogar o canto coral e as dissonâncias, criando um efeito de humor. Um vanguardista que foi se radicar no remoto norte da Escócia. Ou, usando uma palavra bem inglesa: um excêntrico.

As Three Organ Voluntaries de Maxwell Davies se baseiam em melodias escocesas do século XVI. A primeira das três (Salmo 124) é apresentada de forma singela pelos graves dos pedais e, quando parece que tudo vai correr dentro dos padrões, entra um outro registro agudo, lembrando sinos totalmente dissonantes, enquanto os graves continuam cantando o salmo, tudo isso coexistindo em curiosa harmonia até o final. As outras duas melodias (O God Abufe [grafia escocesa para o inglês above] e All Sons of Adam) não convivem com tanta dissonância assim, mas há sempre um registro com som estranho ou uma nota ‘fora do lugar’ para quebrar as expectativas neorrenascentistas.

Na sonata para órgão, composta em 1982, cada um dos quatro movimentos se desenvolve a partir de um mesmo fragmento de cantochão cantado tradicionalmente na quinta-feira santa. O primeiro movimento se resume a alguns segundos de melodia cantabile, o segundo é um contraponto um pouco mais longo, o terceiro, uma meditação lenta e o último, uma toccata virtuosa em que a dissonância e os centros tonais se alternam. Esse procedimento é o mesmo das Partitas Corais e Fantasias Corais de Böhm, Buxtehude e Bach: primeiro a apresentação do canto sacro, depois as variações com grau crescente de complexidade e de liberdade.

Desde 1625 já existia o cargo então chamado Master of the King’s Musick – sim, com k – , ocupado por uma só pessoa de cada vez, assim como seu  equivalente literário, o título de “Poet Laureate”. O australiano Malcolm Williamson foi o antecessor de Maxwell Davies no cargo: segundo alguns críticos, a nomeação teve motivos menos musicais e mais de manutenção do soft power inglês sobre as ex-colônias do Commonwealth (a tristeza de australianos e canadenses com a morte recente da rainha lembra o clássico livro A Servidão Voluntária, não é? E o que dizer do luto do pessoal da Barra da Tijuca? Deixa pra lá…)

O cargo foi ocupado por alguns compositores interessantes e também uma penca de ingleses pomposos e tediosos como Bax e Elgar. Williamson foi o último a ser nomeado até a morte (a Rainha Elizabeth II redefiniu as expectativas sobre “até a morte”) e, a partir de Maxwell Davies, o cargo passou a ter a duração fixa de dez anos. Desde 2014 é ocupado por Judith Weir, a primeira mulher a receber esse título.

Jonathan Harvey (1939-2012):
1. Fantasia (8:49)
2 Laus Deo (3:02)

Malcolm Williamson (1931-2003):
3-4. Two Epitaphs For Edith Sitwell
No. 1 Adagio (3:090
No. 2 Adagio (2:09)
5. Vision Of Christ-Phoenix (9:02)

Peter Maxwell Davies (1934-2016):
6. Fantasia on O Magnum Mysterium (14:16)
7-10. Three Voluntaries, Op. 61
I. Psalm 124 (after David Peebles) (3:04)
II. O God Abufe (after John Fethy) (1:16)
III. All Sons Of Adam (2:09)
10. Reliqui Domum Meum (3:19)
11-14. Organ Sonata
I. Movement 1 (0:41)
II. Movement 2 (1:54)
III. Movement 3 (13:50)
IV. Toccata (9:01)

Kevin Bowyer, organist
Recorded at the Marcussen Organ – Chapel of Saint Augustine, Tonbridge School, Kent, England
Released: 1997

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Sir Peter Maxwell Davies, Master of the Queen’s Music, sobre o hino nacional britânico: “é muito chato”

Pleyel