"Versos Brasileiros": suítes para coro e/ou cordas de Henrique de Curitiba, Ernst Mahle, Ronaldo Miranda, Edmundo Villani-Côrtes e Edino Krieger – Camerata Antiqua de Curitiba / Wagner Politschuk (2007)

Publicado originalmente em 18.06.2011

Faz 6 meses que venho adiando a postagem deste CD por razões mil: primeiro, esperei que a Fundação Cultural de Curitiba respondesse minha consulta sobre como adquirir o CD (já que não tem na Amazon).

Já entendi que essa resposta não vem, mas aí fiquei achando uma maldade postar a música sem as informações do gordo livreto, e cadê tempo de escanear? Recentemente arranjei algum e escaneei só o que me pareceu mais indispensável. Ficaram de fora – pena – as biografias dos compositores e intérpretes principais, etc. etc.

Aí tinha que achei muito bonito o conceito do CD, e de modo geral também a execução – mas os dois também me suscitaram interrogações e pensamentos que pensava em compartilhar aqui… só que me deu uma BAITA preguiça de esmiuçar e sistematizar!

Então, pra não ficar paralisado, pensei assim: vou postar sem maiores comentários; os leitores que ouçam, e se quiserem apresentem nos comentários sua apreciação ou não, questionamentos e opiniões – e aí, se sentir que é o caso, eu trago ao baile também os meus. Que tal?

Só não quero deixar de contar que o Monge Ranulfus participou como coralista na estréia das “Cantigas do Bem Querer” em 1977, com regência de Samuel Kerr – e não esquece de um detalhe engraçado: o Henrique de Curitiba havia aberto um volume ao acaso numa livraria e gostou dos versos que leu: achou que, mesmo ingênuos, tinham uma certa poesia que lhe inspirava canções. Não tinha a menor idéia de que Cassandra Rios era um nome escandaloso na época, tida como autora erótica que as pessoas liam escondido… e aí houve donzelas participantes do coro que arregalaram os olhos quando viram o nome “Cassandra Rios” na partitura, e cobraram explicações do maestro… hehehe. (E agora me veio a pergunta: será que hoje isso ainda poderia acontecer?)

Bom, agora é com vocês!

“VERSOS BRASILEIROS” (2007)
Coro e orquestra da Camerata Antiqua de Curitiba

Regência: Wagner Politschuk
Soprano solo: Edna D’Oliveira
Piano: Paulo Braga

Henrique de Curitiba (1934-2008)
CANTIGAS DO BEM-QUERER
para coro, cordas, piano e soprano solo
(original: 1977; esta versão, especial para a Camerata: 2003)
Versos de Cassandra Rios

01 I. Chove
02 II. No mar nasceu a cor do teu olhar
03 III. Se me disseres
04 IV. Intermezzo I
05 V. Feche os olhos meu bem
06 VI. Eu te vi (ária soprano)
07 VII. Intermezzo II
08 VIII. Final: Poeta e cancioneiro

Ernst Mahle (*1929)
SUÍTE NORDESTINA (1976) para cordas

09 I. Allegro moderato
10 II. Andantino
11 III. Vivo

Ronaldo Miranda (*1948)
SUÍTE NORDESTINA (1982) para coro a capella

12 I. Morena bonita
13 II. Dendê trapiá
14 III. Bumba chora
15 IV. Eu vou, eu vou

Edmundo Villani-Côrtes (*1930)
CINCO MINIATURAS BRASILEIRAS (1978) para cordas

16 I. Prelúdio
17 II. Toada
18 III. Choro
19 IV. Cantiga de ninar
20 V. Baião

Edino Krieger (*1928)
Duas peças para coro a capella
Versos de Vinicius de Moraes

21 PASSACALHA (1968)
22 FUGA E ANTI-FUGA (1967)

Edmundo Villani-Côrtes (*1930)
Seis peças para coro, cordas e piano

Sobre versos de Mário de Andrade
23 O PASSARINHO DA PRAÇA DA MATRIZ (1994)
24 VALSINHA DE RODA (1979)
25 RUA AURORA (1993)

Sobre versos de Júlio Bellodi
26 PAPAGAIO AZUL (1999)
27 FREVO FUGATO (1987)
28 SINA DE CANTADOR (1998)

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LINK ALTERNATIVO

Ranulfus

.: interlúdio :. Wes Montgomery: Smokin’ at the Half Note

.: interlúdio :. Wes Montgomery: Smokin’ at the Half Note

Sim, é verdade: Blue Dog esteve numa jornada ao centro da Terra e voltou pra contar a história. No entanto, foi constatado mais uma vez que ninguém presta atenção no que diz um cachorro — principalmente quando ele trata de si na terceira pessoa — , e como PQP encerrou o assunto com um peremptório “passa já pra dentro!”, o melhor que ele faz é retomar logo suas antigas atribuições.

Antes de trazer à tona novidades e avantgardismos resultantes das escavações, este post não precisa fazer qualquer esforço para agradar: chega logo propondo um disco de fácil consenso e clara influência. Trata-se de Wes Montgomery e a seção rítmica clássica de Miles Davis. Wes é gentil, faz jazz com aquele acento de blues, pode ser servido à mesa. O ouvinte se pega várias vezes prestando mais atenção na bateria do que no instrumento principal. Estamos todos em casa, felizes? Então bueno, que bueno.


Wes Montgomery – Smokin’ at the Half Note /1965 [V0]
—-> download – 68MB
Wes Montgomery (guitar),
Wynton Kelly (piano),
Paul Chambers (bass),
Jimmy Cobb (drums)
.

Faixas 1 e 2 gravadas ao vivo em junho de 1965. Faixas 3 a 5 gravadas em estúdio, em 22/07/1965. Produzido por Creed Taylor para a Verve

01 No Blues (Davis) 13′
02 If You Could See Me Now (Dameron, Sigman) 6’45
03 Unit 7 (Jones) 7’30
04 Four on Six (Montgomery) 6’45
05 What’s New? (Haggart, Burke) 6’00

Boa audição!
Blue Dog

Haydn: Quarteto Op. 76 No. 2 / Bartók: Quartet No. 3 / Mozart: Quarteto No. 19, K. 465 #BRTK140

Haydn: Quarteto Op. 76 No. 2 / Bartók: Quartet No. 3 / Mozart: Quarteto No. 19, K. 465 #BRTK140

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Reverenciado desde o auge da era clássica até hoje, o quarteto de cordas é o gênero ideal para os compositores darem vazão às suas ideias mais inovadoras. O Quarteto Modigliani ilumina essas obras-primas brilhantes, cada uma testemunhando um ponto de importante na obra de seus autores. Gosto muito de CDs que parecem programas de concertos. É o caso deste. Tudo parece muito coerente, com Bartók colocado entre os dois clássicos. Trata-se de um disco excelente, com interpretações maduras de grandes obras. Todo o Op. 76 de Haydn é espetacular e este Quarteto “Das Quintas” é sensacional. O Quarteto Nº 3 de Bartók já foi muito comentado aqui e  o que dizer do Quarteto das Dissonâncias de Mozart? Bem, está tudo aí.

Haydn: Quarteto Op. 76 No. 2 / Bartók: Quartet No. 3 / Mozart: Quarteto No. 19, K. 465

~ Haydn: Quarteto Op. 76 No. 2
01. String Quartets, Op. 76: I. Allegro (D Minor) (9:52)
02. String Quartets, Op. 76: II. Andante o più tosto allegretto (D Major) (6:10)
03. String Quartets, Op. 76: III. Minuet (D Minor) – Trio (D Major) (3:41)
04. String Quartets, Op. 76: IV. Finale. Vivace assai (D Major) (4:07)

~ Bartók: Quartet No. 3
05. String Quartet No. 3, Sz. 85, Prima parte: I. Moderato (4:50)
06. String Quartet No. 3, Sz. 85, Seconda parte: II. Allegro (5:37)
07. String Quartet No. 3, Sz. 85, Recapitulazione della prima parte: III. Moderato – Coda. Allegro molto (5:05)

~ Mozart: Quarteto No. 19, K. 465
08. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: I. Adagio — Allegro (11:28)
09. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: II. Andante cantabile (F Major) (7:42)
10. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: III. Menuetto and Trio. Allegro (4:46)
11. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: IV. Allegro (8:01)

Quatuor Modigliani

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PQP

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições para violino e órgão (Paulet / Geiger)

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições para violino e órgão (Paulet / Geiger)

Um disco muito interessante. Explorando algumas conhecidas obras de J.S. Bach, a dupla busca iluminar as possibilidades de improvisação da música barroca. Aqui, não temos somente o potente som do órgão. Ele dá espaço ao violino, o que traz à tona novas cores em lindas combinações.

A música era o ofício cotidiano da família Bach: aquele Bach das igrejas, o que se comprometeu a compor e apresentar música instrumental na corte de Koethen, o do Café Zimmermann em Leipzig, ou aquele que era permanentemente executado em sua casa por seus filhos, alunos, internos — todos, de certa forma estão aqui presentes de um modo diferente. Este criativo CD traz uma bonita abordagem àquilo que deveria ser o relacionamento de Bach com aqueles ao seu redor.

J. S. Bach (1685-1750): Obras e transcrições para violino e órgão (Paulet / Geiger)

1. Sonata per il Violino Solo e Basso Continuo, BWV 1021 (Arr. for Violin & Organ): I. Adagio (04:24)
2. Sonata per il Violino Solo e Basso Continuo, BWV 1021 (Arr. for Violin & Organ): II. Vivace (01:07)
3. Sonata per il Violino Solo e Basso Continuo, BWV 1021 (Arr. for Violin & Organ): III. Largo (02:47)
4. Sonata per il Violino Solo e Basso Continuo, BWV 1021 (Arr. for Violin & Organ): IV. Presto (01:38)

5. Sinfonia No. 7 in E Minor, BWV 793 (Arr. for Violin & Organ) (01:54)

6. Sinfonia No. 3 in D Major, BWV 789 (Arr. for Violin & Organ) (01:16)

7. Choral Nun komm, der Heiden Heiland, BWV 659 (Arr. for Violin & Organ) (04:16)

8. Sinfonia No. 8 in F Major, BWV 794 (Arr. for Violin & Organ) (01:18)

9. Sinfonia No. 13 in A Minor, BWV 799 (Arr. for Violin & Organ) (01:28)

10. Sonata per Organo No. 4 in E Minor, BWV 528 (Arr. for Violin & Organ): I. Adagio, Vivace (02:32)
11. Sonata per Organo No. 4 in E Minor, BWV 528 (Arr. for Violin & Organ): II. Andante (05:00)
12. Sonata per Organo No. 4 in E Minor, BWV 528 (Arr. for Violin & Organ): III. Un poco Allegro (02:29)

13. Sinfonia No. 11 in G Minor, BWV 797 (Arr. for Violin & Organ) (02:05)

14. Sinfonia No. 2 in C Minor, BWV 788 (Arr. for Violin & Organ) (01:59)

15. Sinfonia No. 15 in B Minor, BWV 801 (Arr. for Violin & Organ) (01:34)

16. Partita No. 1 in B Minor, BWV 1002 (Arr. for Violin & Organ): I. Allemanda (03:35)
17. Partita No. 1 in B Minor, BWV 1002 (Arr. for Violin & Organ): II. Double (01:49)
18. Partita No. 1 in B Minor, BWV 1002 (Arr. for Violin & Organ): III. Courante – Double (06:27)
19. Partita No. 1 in B Minor, BWV 1002 (Arr. for Violin & Organ): IV. Sarabande – Double (03:32)
20. Partita No. 1 in B Minor, BWV 1002 (Arr. for Violin & Organ): V. Tempo di Borea – Double (03:33)

21. Choral Wachet auf ruft uns die Stimme in E-Flat Major, BWV 645 (Arr. for Violin & Organ) (04:31)

Stéphanie Paulet, violino
Elisabeth Geiger, órgão

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A Família Bach — por Toby Edward Rosenthal, pintura de 1870,.

PQP

Giuseppe Verdi (1813-1901): Alzira (Gazheli, Bothmer, Saito, Gustav Kuhn)

Giuseppe Verdi (1813-1901): Alzira (Gazheli, Bothmer, Saito, Gustav Kuhn)

DIECI – ALZIRA ( DEL PERU )

Semanas após a estreia de “Giovanna d’Arco” Verdi, ultra solicitado, já se comprometia com mais um contrato; em março de 1845 assinou com a editora Lucca uma segunda coleção de seis romances: “Il Tramonto”, “La zingara”, “Ad una stella”, “Lo Varredura”, “O mistério”, “Brindisi”, com textos poéticos de Andrea Maffei e Manfredo Maggioni. Dedicado pela editora a Don José de Salamanca, cavalheiro da câmara da Rainha de Espanha, e imediatamente transcrito para piano pelo genovês Carlo Andrea Gambini, os romances foram apresentados em um aspecto luxuoso, com ilustrações originais de Gandolfi e Focosi. Além dos romances Verdi já havia se comprometido, por contrato, a escrever mais seis óperas. Está a pleno vapor em seus “anos na galera”, quando era obrigado a produzir óperas e pequenas peças por encomenda.

Il Teatro San Carlo di Napoli dove ebbe luogo la prima di Alzira

A conta de novas obras já havia subido, primeiro quatro, depois seis. Depois de alguns passeios na região de Como, a composição de “Alzira”, sua oitava ópera, prosseguiu na primavera de 1845 mesmo com a crônica gastrite que tanto o atrapalhava e fazia sofrer. Havia duas razões pelas quais Alzira era um acontecimento especial. Foi a primeira que escreveu especialmente para o famoso Teatro San Carlo de Nápoles, e assim lhe ofereceu a oportunidade de se confrontar com um público muito significativo e um teatro com o qual ele tinha tido pouco sucesso até então. A segunda razão era a chance de colaborar com Salvadore Cammarano(1801-1852), poeta residente no San Carlo, certamente o mais famoso libretista ainda em atividade na Itália, conhecido por sua sequência de sucessos na década anterior sobretudo com Gaetano Donizetti. Por causa da fama de Cammarano, Verdi parece ter participado pouco ativamente da criação do libreto (ao contrário das obras que preparou com seus principais libretistas, Piave e Solera), estando na maior parte satisfeito em aceitar os ditames e os instintos altamente profissionais de Cammarano desta vez o Maestro pouco ou quase nada interferiu.

Il Librettista Salvatore Cammarano (1801-1852)

Verdi tinha recebido uma sinopse da ópera de Cammarano, e o maestro adotou uma atitude um tanto passiva, talvez encantado em poder trabalhar com este libretista que era tão famoso. Em uma carta de 23 de fevereiro 1845, Verdi tinha expressado seu otimismo de que “a tragédia de Voltaire vai tornar-se um excelente melodrama, com a certeza de que o autor do libreto fosse “colocar alguma paixão” e que ele iria escrever a música para corresponder a esta emoção. Em sua correspondência, parece que Cammarano já tinha enviado alguns versos de exemplo, porque na data desta carta de Verdi também continha o seu entusiasmo para receber mais.: “Peço-lhe que me envie prontamente mais alguns versos. Não é necessário que eu lhe diga para manter o diálogo curto. Você conhece o teatro melhor que eu.”

Talvez a gastrite do Maestro esteja relacionada ao grande acúmulo de responsabilidades ainda aos trinta e um anos de idade, além das composições e montagens ele tinha que ser hábil na venda dos direitos das óperas pelos teatros europeus, e em maio deste ano conheceu os editores franceses León Escudier (1821-1881) e Marie Escudier (1819-1880). O interessante relato dos Escudier mostram claramente o caráter do mestre: “Me deram uma falsa ideia de seu caráter, retratando-o como um homem frio, pouco comunicativo e sempre absorto em sua arte. Verdi me deu as boas-vindas cheias de afabilidade, e recebeu com graça francesa vários amigos que vieram visitá-lo enquanto eu estava com ele…. falamos muito da música francesa e dos compositores que agora escrevem para o cenário parisiense; ele conhece todas as nossas produções musicais que merecem ser conhecidas, e expressa profunda simpatia por tudo o que vem da França.” Nesta época o mestre falava sinceramente com Escudier, já que a França ainda representava, aos olhos de um italiano daqueles anos, uma esperança mais livre de vida intelectual e política, sem falar que Escudier viera a Milão para adquirir todos os direitos de Óperas de Verdi na França e, portanto, seu testemunho foi uma publicidade valiosa para os leitores daquele país. As precisas descrições de Escudier continuaram ilustrando (e ampliando) a atraente figura física do mestre italiano, sua sala de trabalho mobiliada com simplicidade, modéstia e entusiasmo, seus gostos

I fratelli Leon e Marie Escudier

artísticos e o discernimento com que ele adivinhava os mecanismos da música. “Ele queria ver a grande partitura de “Le Désert” do jovem compositor francês Félicien David … Depois de lê-la de uma ponta a outra exclamou: “Oh! Os franceses são realmente bons juízes! Eu esperava ler música densa, carregada de notas; mas vejo, em vez disso, a instrumentação clara e fácil da escola francesa, combinada com a melodia simples e poética da escola italiana. Diga a David que um dia eu terei a sorte de poder pessoalmente expressar minha admiração por seu gênio.”…. Marie Escudier ainda descreve: “Verdi é um belo rapaz de cerca de vinte e oito – vinte e nove… (na verdade estava com trinta e um), tem cabelos castanhos, olhos azuis (na verdade verde acinzentado), com uma expressão doce e viva ao mesmo tempo. Quando ela fala, sua fisionomia ganha vida; a mobilidade incessante de seu olhar reflete a variedade de suas sensações ; tudo nele revela um coração sincero e uma alma sensível. Pedi a Verdi que me deixasse ouvir uma peça do “Lombardi” que sempre me pareceu o melhor trecho desta obra, a Ave Maria. Ele imediatamente foi ao piano e cantou com expressão tocante esta página musical que ele próprio considera uma das suas boas inspirações. As obras do jovem e já famoso compositor são muito procuradas na Itália e pagas em peso de ouro. Tem uma boa fortuna, mas os seus gostos materiais são modestos. Em seu escritório não há nenhum móvel ou mobília que se destaque, mas apenas quatro ou cinco cadeiras, um piano de cauda, sua estatueta e, acima do piso, um quadro e adivinhe? … caricatura Francesa: “Grand chemin de la postérité (O Caminho da Posteridade).” Marie se despede com duas comparações que o leitor de seu país deve ter feito para formar uma opinião muito lisonjeira sobre o homem “que brilhará”, como escreveu Donizetti. “Em poucas palavras, posso traçar o retrato físico e moral do jovem mestre: … em feições e estatura ele se assemelha a Donizetti, e na suavidade da fala com Bellini.” Comparações que vão além de um elogio externo e dizem respeito ao estilo do músico.

Gran Chemin de la postérité di B Rauhaud

Por estes relatos podemos imaginar que Verdi não era tão severo, ele era flexível e acolhedor, é muito diferente do que por carta, onde ele bate com uma indiferença muitas vezes cruel. Ele não admitia ser criticado sobretudo por motivos de saúde, o empresário napolitano Flauto, que depois de algumas considerações sobre o atraso da conclusão da ópera “Alzira” fizeram Verdi dar pulos de indignação, Cammarano já havia alertado que Flauto havia escrito “em certo tom desagradável” que “não gostou nada do atraso”. Verdi desabafa “Nós, artistas, nunca podemos ficar doentes. Precisamos sempre ser homens honestos e cumprir os prazos! … Os empresários acreditam, ou não acreditam, dependendo de seus interesses. Não posso ficar feliz com a maneira como o Sr. Flauto … sempre duvida da minha doença e dos meus atestados ”. A ópera só poderia ser encenada em julho. Por mais indisposto e abatido que estava.

Na verdade, o mestre estava trabalhando muito naquele momento para encontrar uma saída para suas obras na praça de Paris, e ele vai se aconselhar com Rossini, que responderá a frequente preocupação do jovem colega, especificando os termos em que deverá atuar, acrescenta uma afabilidade que é toda uma programação: “Na Opéra os royalties são 250 francos pelas primeiras 40 apresentações, após as quais diminuem e em seguida vem a venda aos editores da propriedade da música, que pode ser calculada para o bom Verdi de 20 a 30 milhões de francos. Devido à incerteza do sucesso, o amigo poderia pedir um prêmio de alguns milhares de liras, para cobrir despesas de viagem e estadia. ” A sutileza administrativa de Rossini estava neste caso em perfeita sintonia com a parcimônia de Verdi, também porque se tem a impressão de que este procurava um caminho para Paris para viver em paz. Talvez a ideia de se estabelecer ali com, a ainda “crush”, Giuseppina Strepponi, longe de olhares indiscretos. Strepponi estava em Milão. A grande estrela dos palcos estava em declínio vocal. Naquela época o excesso de trabalho e a falta de cuidados abreviavam a saúde vocal dos cantores principais: as críticas dos jornais milaneses eram implacáveis: “No passado, era rodeada por um halo de glória. Mas a estrela brilhante que presidia seus destinos teatrais parece perto do crepúsculo, portanto, apenas envia uma luz débil… sobre os louros conquistados, ela nunca será esquecida por ninguém foi um dos belos orgulhos da Itália.” Os caras gostavam de queimar os artistas.

Casa da Verdi – via principal di Busseto

Apesar destas crises, Verdi partiu para Nápoles em 20 de junho com a composição quase encerrada; faltava o final, porque Cammarano ainda não lhe tinha escrito os versos correspondentes, mas na prática “Alzira”, com ou sem gastrite, iria estrear em Nápoles. Antes de partir o mestre teve uma conversa epistolar com Barezzi acho que vale a pena escrever porque é uma história deliciosa: “Barezzone” e sua família cultivaram a ideia de um teatro a ser construído em Busseto, inaugurado com uma obra do grande Giuseppe. A questão do teatro de Busseto terá alguns desdobramentos, vai merecer respostas mais ásperas do maestro, mas mesmo assim a iniciativa completamente ingênua dos seus concidadãos deu-lhe o ponto de partida para uma briga “a là italiana”. Um tanto exagerado, para falar francamente, um pouco histérico, como sempre acontecia com Verdi quando discutia com a família, é claro que pertence à categoria das brigas domésticas, fruto de tensões viscerais, noturnas, eu diria envolto na escuridão do tempo, que vão muito além dos eventos visíveis. “Estudei o projeto teatral e direi com a minha habitual franqueza que estou muito insatisfeito com ele. Na verdade não é muito delicado julgar e comprometer o meu nome perante as Autoridades, por uma palavra a amigos e uma carta de confiança “, começa. Os precedentes não nos são conhecidos, mas Verdi aí permite-nos compreender muito bem: “Todos os países do mundo fizeram teatro sem ter quem escrevesse e cantasse a ópera” Parece que o povo de Busseto já tivesse marcado o tempo para a inauguração do edifício, quando as obras ainda nem tinham começado. Deduzimos que eles mencionaram uma possibilidade para 1847. “Não retiro a minha palavra, mas sabes que em 47 tenho que escrever duas obras para Nápoles e para o editor Lucca; nem tenho estômago de bronze que possa suportar”. Na verdade, ele disse a Finola, “em três anos … seis obras”, e assim foi: em 1847 ele tinha “Alzira”, “Luisa Miller”, “Il corsaro”, “Attila”, “Macbeth” e “I masnadieri” representados.

Teatro Verdi – Busseto

Aqui está o verdadeiro motivo de seu alarme. O final é muito elevado em sua aparente modéstia: “Repito que não foi necessário me citar em sua decisão, muito mais do que meu nome me parece ambicioso para ter um teatro intitulado e um busto. Parte dos italianos sabem por prova de como me oponho, quando posso, a esta publicidade.” Porém o pessoal do Busseto inchou o peito e o teatro foi construído, não imediatamente, mas eles fizeram. E hoje, apesar de Verdi que não o queria, está lá para sua reverente honra. O Teatro Giuseppe Verdi hoje é uma pequena casa de ópera localizado numa ala da Rocca dei Marchesi Pallavicino na Piazza Giuseppe Verdi em Busseto, o teatro foi inaugurado em 15 de agosto de 1868 e tem capacidade para 300 pessoas. Apesar de Verdi se opor à sua construção (seria “muito caro e inútil no futuro”, disse ele) e ter a reputação de nunca ter colocado os pés nele, ele contribuiu com 10.000 liras para a construção. Na noite de abertura, todos os funcionários se vestiram de verde, os homens todos usando gravatas verdes, as mulheres usando vestidos verdes. Duas óperas de Verdi foram apresentadas: “Rigoletto” e “Un ballo in maschera” . Verdi não compareceu, embora vivesse a apenas 3 km de distância em sua casa, a Villa Verdi, na aldeia de Sant’Agata, em Villanova sull’Arda. Italianada brava, rapaiz….

Il Teatro San Carlo di Napoli

Vamos voltar a Nápoles: “os napolitanos são curiosos: uma parte é tão rude, tão incivilizada, que é preciso vencê-la para ser respeitado, a outra o cerca com um calor de bondade que o sufoca. Para falar a verdade, só posso ficar feliz, porque até os empresários (o que é dizer muito) são gentis comigo.” Estando em território napolitano mais de um mês, Verdi escreveu sobre a Andrea Maffei (seu orientador na escolha dos temas ou no retoque dos versos). Mostrou-se seguro, mesmo que o ambiente não fosse o mais favorável ao moral de um compositor em voga, portanto, alvo da inveja de seus colegas e da imprensa local, que fomentava rivalidades para a diversão do pequeno público, ou daqueles que bocejavam em torno das apresentações. “Não tenho inimigos em Nápoles. Qualquer que seja o resultado da minha música, não se assuste ao ler os jornais. Eles dirão todo o mal imaginável: tenho certeza disso…. se Alzira vier a falhar, não irá me perturbar.” Na verdade, o libreto estava sendo aceito por Verdi porque ele estava ainda “altamente encantado” com a figura do libretista. No entanto, como o conteúdo do livro de Voltaire foi reduzido a um mínimo do envolvimento da religião e da política, as duas razões de ser do drama, que ficaram pouco mencionados, e do confronto de diferentes credos, diferentes civilizações e mundos diferentes, a obra tornava-se apenas mais uma variante do eterno triângulo. No entanto Verdi se lembrará dos murmúrios, mesmo um pouco tolos, provincianos, levantados pela imprensa napolitana sobre sua pessoa e a protagonista da ópera, Eugenia Tadolini. “…. escrevo continuamente há seis anos, viajando de cidade em cidade e nunca disse uma palavra a um jornalista, nunca implorei a um amigo, nunca utilizei influência de um homem rico para obter um resultado. Nunca, nunca: sempre desprezarei esses meios. Faço o meu melhor com as obras: deixo as coisas correrem sem nunca influenciar a opinião do público em nada.”

Caricatura raffigurante la Stampa Napoletana (caricatura dos críticos especializados)

Mas Verdi, digamos, ficou realmente ofendido com as picadas dos jornalistas ou melhor, com o desfecho de “Alzira”, que não teve sucesso e além disso lançou críticas maliciosas. Quando chegou a Nápoles, não tinha do que reclamar e as suas cartas refletem muito bem o estado de quem gozava da confiança da maioria. Por ocasião de uma apresentação do Due Foscari, na noite de sua chegada, a notícia de que ele estaria no teatro atraiu um grande público. Os intérpretes, “animados pela presença de Verdi, como se por uma faísca elétrica, se superaram”, e o público “amontoado” nas poltronas, “entusiasmados quiseram testemunhar ao autor sua admiração, chamando-o repetidamente ao palco.” A crítica mais meticulosa e implacável foi a de Vicenzo Torelli (1807–1882), que deve ter sido um verdadeiro mastim (cão gigante) nas notícias. Ele registrou cada sinal de desaprovação, cada silêncio, cada aplauso perdido. Mas, com igual escrúpulo, aprovou as passagens da ópera que tocaram a sensibilidade do público, nada preconceituoso, aliás, muito disposto a saudar aquele que tão bem se apresentara no “Due Foscari”. Como disse: “A história da música italiana não oferece um exemplo de compositor mais afortunado que Verdi, tem o grande segredo de ser popular, e este é o triunfo mais invejável do que qualquer outro, já que a música dos teatros é feita para as multidões. Este amor, junto com a imparcialidade judiciosa de quem aplaude a beleza onde quer que esteja, dominou a mente dos espectadores no San Carlo, daí os vários juízes, as discrepâncias, as decepções perdidas e as grandes esperanças para o futuro… Tenho certeza que esta amarga lição que o nosso público lhe deu, servirá para torná-lo mais consciente, mais certo no futuro, para que mais trabalhe e aproveite de forma mais adequada o seu valor musical que hoje é universalmente reconhecido; especialmente por escrever menos, isto é com maior maturidade do tempo, não podendo fazer como engenhosidade humana duas ou três grandes obras por ano. E embora esteja convicto de que a severidade com que foi julgada era demais, e aquele silêncio bastava, mas mesmo assim acredito que jovens talentos precisam desses contratempos, para se sacudirem, se aperfeiçoarem cada vez mais”.

Vincenzo Torelli

São quase as mesmas reclamações, que ele vai dirigir ao empresário Flauto, ele já as havia expressado, e tanto que chegaram aos ouvidos dos jornalistas. Seu julgamento sobre o trabalho e o resultado é, em vez disso, coletado em observações por correspondência que se contradizem. A princípio, ele esperava que Alzira fosse bem-vindo. Depois da primeira apresentação, ele ainda mostrou um certo otimismo: “Graças a Deus isso também está feito. O Alzira está no palco. Esses napolitanos são ferozes, mas aplaudiram.” Verdi admitiu que o mal estava “nas entranhas”, que por mais que tivesse estudado ali não encontraria maneira de curá-lo e que no entanto a Sinfonia e o último final deveria ter salvado a reputação afinal “evidente que o trabalho lhe era caro nem mais nem menos do que os outros, e que não se sentia tão indiferente ao futuro da “Alzira”. Muito se ocuparam críticos e biógrafos desta ópera, mas parece que não conheciam suficientemente porque lendo os artigos publicados, deparam-se contradições flagrantes, dizendo uns precisamente o contrário do que outros afirmam.

Eugenia Tadolini, la prima Alzira

Como dissemos Cammarano foi inspirado por uma tragédia de Voltaire, “Alzire ou les Américains” de 1736, então considerada uma mensagem a favor do Cristianismo, enquanto Voltaire a havia escrito para condenar todas as formas de fanatismo religioso, não apenas o do antigo Peru. “Quem são esses peruanos na tragédia de Voltaire? Eles, olhando mais de perto, não são senão franceses disfarçados de selvagens. Cammarano não levava esses peruanos a sério, sem perceber que, por seus dizeres e fatos, pareciam ter vivido muito bem na Europa. Verdi foi mais circunspecto, que, para sair da armadilha, tratou-os todos igualmente como filhos do velho mundo com a sua música. E também estava certo quanto aos méritos da música de Verdi que, uma vez que rejeitou o exotismo no prefácio (a Sinfonia), colocou notas europeias na boca dos personagens, não tanto francesas, mas notas puramente ítalo-nortenhas. O libreto, então, não se concentrava no significado moral, mas nos elementos espetaculares, de confronto e paixão.

Frontespizio del libretto

A Sinfonia é uma música de sucesso e até sugestiva, além disso é um passo em frente em relação a outras páginas iniciais escritas anteriormente: e isto mesmo que não contenha ideias muito distintas. Modelado em materiais que recentemente se assemelham a “Giovanna d’Arco” e “Oberto”, ele revela inteligência e medida. Os efeitos das madeiras no primeiro movimento conduzem às florestas exóticas aos longos trinados que se perdem no meio das árvores, onde vagueiam pássaros raros com penas coloridas e flautistas experientes, com arabescos móveis: todos portanto digno de arte plumaria e instrumental Inca, o povo sul-americano onde o assunto se passa. Essa leveza quase pétala é abalada por uma tempestade furiosa bastante breve, que termina em uma melodia romântica patética exposta pelo clarinete, uma lembrança do tema de Jacopo Foscari. A alegre dança de encerramento é semelhante à conclusão de Giovanna, exceto que ela era marcial ali e pulava aqui, com um crescendo rossiniano e uma elegante sucessão de tons. A performance de abertura recebeu uma nota de aprovação da ‘Gazzetta Musicale’ de Nápoles: “Belezas tão delicadamente inventadas”… No entanto, a reação geral dos napolitanos não foi positiva, ainda pior quando “Alzira” foi encenada em Roma, em novembro de 1845 e, pior ainda, em 1846 nas apresentações no La Scala, resultando na pior matéria da imprensa que o compositor tinha visto desde o fracasso da “Un giorno di Regno” em 1840. Foi encenada em Ferrara, como parte da temporada da Primavera de 1847 após o que desapareceu do repertório. Antes de 1940, a ópera não foi realizada com muita frequência. A partir de 2000 “Alzira” vem se apresentando com regularidade, na maioria das vezes representada em forma de concerto (como a gravação que hoje vamos compartilhar com os amigos do blog).

O Enredo

Tragedia lirica em um prólogo e dois atos de Giuseppe Verdi para libreto de Salvadore Cammarano baseada na peça de Voltaire “Alzire”, ou Les Americains”; Nápoles, Teatro San Carlo, 12 de agosto de 1845.

Local: Peru

Época: século XVI

Estamos no Peru na época dos “conquistadores”. As tribos locais lideradas por Otumbo e rebeldes ao jugo da Espanha estão prestes a executar o velho Álvaro, o governador espanhol.

Prólogo: Il prigioniero (O prisioneiro)
A ação decorre no Peru em meados do século XVI, e o Prólogo, com o título de “O Prisioneiro”, passa-se numa grande planície atravessada pelo rio Rima onde Alvaro, o velho governador espanhol, está amarrado a um tronco à espera da morte. Ele foi feito prisioneiro por uma tribo Inca que vai executá-lo pela tortura e ao som de cânticos duma alegria selvagem e diabólica “Muoia , muoia coverto d’insulti” (faixa 02). A sua morte, sob grande sofrimento, deverá pagar a morte de muitos membros da tribo que combatiam o invasor, e que morreram de forma igualmente cruel. Enquanto os selvagens guerreiros incas o torturam num ritmo cada vez mais frenético, o espanhol reza ao seu Deus pedindo-lhe que perdoe os seus algozes. Eles estão prestes a despachá-lo horrivelmente quando um barco é avistado carregando Zamoro, seu jovem líder que eles acreditavam estar morto. Ele é recebido com gritos de alegria pelos outros índios que se jogam aos seus pés. Zamoro, estranhamente comovido com a visão de Álvaro, o liberta e ordena que ele retorne ao seu povo, justificando este seu gesto com o fato de ter sido salvo por um espanhol generoso. Com a partida de Alvaro, o andante incomumente estendido de Zamoro, “Un Inca … eccesso orribile!” (faixa 04), conta à tribo sobre seu tratamento brutal nas mãos do perverso espanhol Gusmano, filho do velho governador. Ele, um príncipe Inca, foi entregue ao carrasco por esse bárbaro cristão de quem agora jura vingar-se. Então Zamoro é informado por Otumbo, um dos seus guerreiros, que os espanhóis raptaram e encarceraram Alzira em Lima, a sua noiva, bem como o pai dela, Ataliba, o velho chefe. Esta notícia terrível não faz se não aumentar a ira de Zamoro contra os invasores. É assim que anuncia que mil guerreiros de outras tribos se vêm juntar a eles para derrotar os espanhóis. Zamoro jura resgatá-los e se junta a seus guerreiros em uma cabala belicosa, “Dio della guerra” (faixa 05) a quem os selvagens pedem para que torne a sua crueldade ainda maior que a dos espanhóis encerrando o prólogo.

Ato 01: Vita per vita (Vida por vida )
Cena 01: A praça principal de Lima
No mercado de Lima os soldados espanhóis juram fidelidade ao rei, declarando-se prontos a conquistar para ele novos reino. Um robusto movimento coral, reforçado pela banda, apresenta Alvaro, que anuncia que está cedendo, em nome do rei, a sua demissão como governador do Peru e passando o poder a seu filho Gusmano. Este imediatamente declara uma paz geral, entre o povo Inca e os espanhóis, com o chefe Inca Ataliba, lembrando-lhe que a filha de Ataliba, Alzira, foi aceita como recompensa de Gusmano. Depois de jurar submissão, Ataliba é pressionado por Gusmano para cumprir a promessa dando-lhe a mão da filha Alzira em casamento. Mas no andante de sua ária, “Eterna la memoria” (faixa 08), Gusmano admite que os sentimentos de Alzira por Zamoro, seu amado, continuam fortes demais para ele superar. Ataliba exorta Gusmano a ser paciente; mas o novo governador não pode tolerar atrasos e, na cabaleta “Quanto un mortal puo chiedere” (faixa 09), lamenta o espírito maligno do seu rival, bem como o poder que ele ainda exerce sobre o coração de Alzira. Mesmo morto, Zamoro atemoriza-o, e torna-o a ele, vencedor de tantas batalhas, incapaz de conseguir conquistar o amor duma mulher. Ataliba volta a pedir mais algum tempo, mas Gusmano, louco de desejo, não quer esperar. Venceu, o mundo está aos seus pés, falta-lhe apenas apaziguar a alma. Sem Alzira nada tem qualquer significado.

Cena 02: Os aposentos de Ataliba
No palácio do governador Tremolando, numa sala reservada aos príncipes Incas que estão prisioneiros, encontramos enfraquecida pelo muito que chorou pelo seu amado Zamoro, Alzira que está adormecida, e é cuidada carinhosamente pela sua irmã Zuma e por algumas outras mulheres, ela acorda para pronunciar o nome de Zamoro e insiste em contar a todos um sonho estranho: “Da Gusman, su fragil barca” (faixa 11) narra como ela sonhava em fugir de Gusmano em um barco, sendo pega em uma tempestade e resgatada por um nobre espírito; ela reconhecera nesse espírito o seu amado Zamoro, a ária segue corajosamente o padrão do conto, em vez de duplicar a forma de um andante italiano convencional. Apesar das advertências de sua comitiva, ela orgulhosamente declara seu amor por Zamoro na cabaleta “Nell’astro che piu fulgido” (faixa 12).

Ataliba chega, dispensa Zuma e o coro e, num recitativo simples, implora a Alzira que se case com Gusmano, mas ela odeia o opressor cruel, e recorda ao pai que ele usurpou o trono, e, sobretudo, mandou matar Zamoro, o seu prometido. Ataliba insiste. Ele acredita que o consentimento de Alzira irá trazer a Paz ao seu povo. Mas Alzira mantém-se irredutível.

Enquanto Ataliba sai, Zuma anuncia um “membro da tribo” e Alzira fica em êxtase ao ver ninguém menos que Zamoro. O primeiro movimento do dueto, “Anima mia!” (faixa 14), é uma troca rápida de palavras amorosas, unidas da maneira tradicional por uma melodia orquestral impulsionadora. Passadas as primeiras emoções, Zamoro fala das suas suspeitas levantadas por um rumor que diz que Alzira está prometida em casamento ao odiável espanhol. Alzira dissipa de imediato os ciúmes do seu amado, e jura-lhe fidelidade eterna. Cammarano e Verdi passaram imediatamente para a animada cabaleta, “Risorge ne’ tuoi lumi” (faixa 15).

Aparece então Gusmano acompanhado de Ataliba, e depara, estupefato, com o seu pior inimigo: Zamoro está vivo… e nos braços da sua amada. O jovem chefe dos Incas dá-se orgulhosamente a conhecer, e reivindica o eterno amor de Alzira. Furioso, Gusmano manda-o prender, e ordena a sua imediata execução e, em um Allegro impetuoso, Zamoro responde chamando-lhe carniceiro e carrasco. Entra então Álvaro que revela a Gusmano a atitude humana daquele selvagem que lhe salvara a vida numa situação semelhante. Apesar de surpreendido por aquele revelação, Gusmano não revoga a sua decisão. Desesperados, Alzira e Zamoro repetem juras de amor. O palco está armado para um concertato extraordinariamente grandioso e lento, “Nella polve, genuflesso”(faixa 18), que começa com uma estrutura de diálogo mais livre do que o normal e, talvez por esse motivo, leva a um clímax final incomumente impressionante. O concertato acabou, uma música selvagem e exótica ouve-se ao longe: um mensageiro informa que um exército hostil está fora, exigindo a volta de Zamoro. Os guerreiros Incas já atravessaram o rio Rima em direção a Lima, exigindo a libertação do seu chefe Zamoro. Só então Gusmano cede ao pedido do pai dando a liberdade a Zamoro para poder cortar-lhe a cabeça no campo de batalha. Ao que Zamoro responde dizendo que será ele próprio quem o irá escalpar ao iniciar a stretta final, “Trema, trema … a ritorti fra l’armi” (faixa 20), ele avisa Zamoro de que eles se encontrarão novamente no campo de batalha. Alzira junta-se a Zamoro, enquanto Álvaro, Ataliba e as mulheres anteveem uma carnificina terrível.

Ato 02: La vendetta di’un selvaggio (A vingança de um selvagem)
Cena 01: Dentro das fortificações de Lima
Os incas perderam novamente a batalha; soldados espanhóis vitoriosos se entregam a um tumultuoso brindisi “Mesci, mesci” (faixa 21) brindam pela Espanha e por mais um triunfo sobre os bárbaros, interrompido apenas brevemente pela visão triste de Zamoro e seus seguidores marchando pelo palco. Gusmano promete dividir com os seus homens o ouro da rapina. Ovando, um oficial, traz a sentença do tribunal militar sobre o destino de Zamoro: a pena capital. É com um prazer evidente que Gusmano assina a sentença, que lê em voz alta para que Alzira a escute. Diante disso, Alzira corre para implorar clemência e Gusmano oferece a ela uma barganha: a vida de Zamoro pela mão de Alzira em casamento. O impasse é explorado em um Andante, “Il pianto … l’angoscia” (faixa 23), os soluços sem fôlego de Alzira contrastando com o suave (talvez muito suave) cantabile de Gusmano. Eventualmente, ela concorda, o governador não cabe em si de contente, e anuncia grandes festejos. Depois declara à jovem o seu amor, que nada significa para Alzira que lamenta a sua sorte e o pacto é selado por um animado dueto na cabaleta, “Colma di gioia ho l’anima”.

Cena 02: Uma caverna sombria
Uma sombria introdução orquestral, apropriada à cena desolada, apresenta Otumbo, que diz a seus amigos que garantiu a libertação de Zamoro subornando seus guardas espanhóis. Zamoro aparece e no Andante “Irne lungi ancor dovrei” (faixa 26) se declara desolado sem sua amada Alzira. Otumbo piora as coisas ao lhe dizer que Alzira está prestes a se casar com Gusmano. Nada pode conter a fúria de Zamoro, e na cabaleta “Non di codarde lagrime” (faixa 27) desesperado ele decide aparecer no casamento como um convidado inoportuno para executar uma vingança terrível.

Cena 03: Um grande salão na residência do governador
O coro nupcial, “Tergi del pianto América” (faixa 28), canta a esperança das prisioneiras Incas duma forma positiva dizendo que aquele casamento irá trazer a reconciliação dos dois mundos. Gusmano aparece com o uniforme de gala, anuncia aos soldados a sua vitória sobre os selvagens, e apresenta-lhes oficialmente Alzira como a sua futura mulher, dizendo que a alegria que sente em casar-se com ela é maior do que a que sentiria se vencesse uma centena de batalhas. Alzira mantém-se em silêncio ao seu lado. Tem o coração despedaçado, e espera apenas a morte. Ele está prestes a pegar a mão de Alzira quando Zamoro (disfarçado de soldado espanhol) irrompe em cena, crava uma adaga no coração de Gusmano e aguarda uma retribuição sangrenta. Mas Gusmano guarda uma surpresa: aprendeu com Alzira as alegrias da paz e da misericórdia e, numa ária final acompanhada de coro “I numi tuoi” (faixa 30), dá aos dois amantes a sua bênção. Por caridade cristã perdoa ao seu assassino, e diz a Alzira que quer que ela seja feliz ao lado de Zamoro. Depois morre nos braços do pai. É um final impressionante, aqui pela primeira vez está um final aberto com a oportunidade real de felicidade para os amantes. Uma mudança marcante da prática aceita.

Cai o pano
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Jean Huber – Voltaire – Il librettista Cammarano si ispiro alla sua tragedia Alzire ou les Americains per la vicenda di Alzira

O próprio Verdi anos depois pronunciou Alzira como “proprio brutta” (francamente feia), e a ópera é, sem dúvida, uma das menos prováveis de suas obras a serem representadas, mesmo na atmosfera consciente do avivamento de hoje. Talvez, como aconteceu em outras ocasiões, a estima que Verdi tinha por seu libretista fosse uma desvantagem, inibindo-o de seguir livremente seus instintos dramáticos. No entanto, como todas as óperas menores de Verdi, Alzira tem muitas passagens bonitas, os grandes conjuntos em particular. Vimos que a composição de Alzira foi turbulenta, sobretudo por problemas de saúde. O elenco para a estréia era excepcionalmente forte, incluindo Filippo Coletti (Gusmano), Gaetano Fraschini (Zamoro) e Eugenia Tadolini (Alzira), mas a primeira apresentação foi, na melhor das hipóteses, apenas um sucesso parcial e em poucos anos a ópera logo desapareceu inteiramente do repertório. Ocasionalmente, foi revivido nos tempos modernos, mas continua sendo uma das duas ou três óperas menos executadas do compositor. A maior crítica que se pode fazer a esta ópera é, de fato, o libreto. Não apenas o libreto mas a fonte a que Cammarano recorreu – ou seja: a peça “Alzira” de Voltaire. Na verdade, ao escutarmos a forma como esta história nos é contada, ficamos, no mínimo, estarrecidos. Como é possível que alguém como Voltaire tenha esta visão sobre a conquista das Américas ? Fica esta interrogação. Quanto à música… é Verdi bello!!!

Giuseppe Verdi – Alzira
Personagens e inérpretes

A verdade é que gostei muito desta versão de Alzira em concerto, tem seus bons momentos, o elenco é muito equilibrado e apesar de ser uma versão de concerto, os cantores são bastante expressivos é muito bem executada, nota-se o empenho em expressar a verdade dramática que o compositor buscou alcançar, esta versão do “projeto Tutto Verdi” gravado em 2012 e lançado no início de 2013 pode, e com sobras, demonstrar a genialidade de Verdi mesmo na ópera que o próprio maestro confessou ser a menor. Alzira, porém, para este obtuso admirador foi um gosto mais recente, adquirido. Depois de experimentar essa produção concertante, me perguntei o que me levou tanto tempo para descobrir os encantos escondidos nesta “má” ópera de Verdi. Quem aprecia Verdi deve levar em conta ouvir esta produção. Existem realidades atemporais de racismo, ciúme, coragem e amor abnegado a serem descobertos nesta ópera. Se ao menos pudéssemos deixar de lado nossos preconceitos e deixar que o compositor ainda jovem os revele para nós, enquanto desenvolve sua habilidade. A música do maestro é bonita sim, é uma cascata interminável de melodias, muitas delas muito enérgicas, e uma apresentação de concerto pode muito bem ser seu melhor local, para evitar a negatividade do preconceito racial de dramas defeituosos.

A turma em ação

Todos os cantores se saem bem, com especial “Braaavissimiii !!” para o soprano Junko Saito (Alzira), o tenor Ferdinand Von Bothmer (Zamoro) e o barítono Thomas Gazheli (Gusmano). Von Bothmer foi particularmente notável com um tom vibrante e alcance estendido. A orquestra e o coro sob a batuta do austríaco Gustav Kuhn (1947) fizeram um excelente trabalho com a partitura. As apresentações de concertos colocam peso adicional sobre os artistas, pois o público tem uma oportunidade maior de ouvir o canto sem a adição de atuação.

Para este admirador há muito o que gostar em Alzira seja ou não válido o comentário “proprio brutta” do Maestro de olhos verdes acinzentados de Roncole. Que subam as cortinas e inicie o espetáculo ! Háaa também tem um link “bônus” das obras que Verdi fez nas temporadas de 1844-1845.

Boa diversão !!!!!

Alvaro, pai de Gusmano, inicialmente Governador do Peru – Francesco Facini, baixo
Gusmano, Governador do Peru – Thomas Gazheli, barítono
Ovando, a duque Espanhol – Joshua Lindsay, tenor
Zamoro, líder de uma tribo peruana – Ferdinand von Bothmer, tenor
Ataliba, líder de uma tribo peruana – Yasushi Hirano, baixo
Alzira, filha de Ataliba – Junko Saito, soprano
Zuma, sua irmã – Anna Lucia Nardi, meio-soprano
Otumbo, um guerreiro – Joe Tsuchizaki, tenor

Orchestra Haydn de Bolzano e Trento
Instituto corale ed Orchestrale di Dobbiacc
Conductor: Gustav Kuhn

Release: 14 janeiro 2013

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Bônus

Frontespizi originali delle sei romanze per l’editore Lucca

1844 – E la vita d’un mar d’affanni
Mariella Devia
Parma Opera Ensemble
Chamber

1844 – Romanza Senza Parole for piano
Andrea Bacchetti – Piano

1845 – 6 Romanze Canzoni
01 – Il Tramonto [Maffei] – Michele Pertusi, Parma Opera Ensemble
02 – La Zingara [S.M.Maggioni] – Michele Pertusi, Parma Opera Ensemble
03 – Ad Una Stella [Maffei] – Michele Pertusi, Parma Opera Ensemble
04 – Lo Spazzacamino [F.Romani] – Mirella Devia, Parma Opera Ensemble
05 – Il Mistero [Romani] – Sergej Larin, Parma Opera Ensemble
06 – Brindisi [Maffei] – Michele Pertusi, Parma Opera Ensemble

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Gustav Kuhn numa calorosa discussão no PQPBach 60 minutes

Ammiratore

Aaron Copland (1900-1990) & Gerald Finzi (1901-1956): Concertos para Clarinete – Sarah Williamson ֎

Copland – Finzi

Concertos para Clarinete

Sarah Williamson

Orchestra of the Swan

David Curtis

É bem possível que a menção ‘Concerto para Clarinete’ remeta ao concerto escrito por Mozart para seu amigo Anton Stadler, mas há mais música para clarinete e orquestra além dele. Este lindo disco mostra isto, de sobra.

Dois concertos de dois compositores que nasceram muito próximos no tempo, mas separados por um oceano.

Em 1947 o clarinetista de jazz, Benny Goodman, pediu a Aaron Copland que lhe compusesse um concerto, se possível, puxado para o jazz… Copland foi muito feliz em sua composição do concerto, que abre o disco com um belíssimo primeiro movimento.

O clima muda de América para uma pastoril Inglaterra – a segunda peça do disco é um Romance, para orquestra de cordas, uma peça de uns sete minutos, muito inglesa, composta por Gerald Finzi. Na sequência, o seu Concerto para Clarinete. Este concerto também teve um padrinho, o clarinetista Frederick Thurston, que foi o solista na primeira apresentação, sob a regência do próprio Gerald Finzi. Eu não consigo ouvir só uma vez o último movimento deste concerto, um belíssimo Rondo – Allegro giocoso – música verdadeiramente deliciosa de se ouvir.

Para completar o programa, uma das peças mais conhecidas de Aaron Copland – a Suíte do Balé Appalachian Spring, na qual continua brilhando o clarinete. Eu mal consigo me conter a espera do hino dos Shakers, o Simple Gifts. Como não gostar?

Aaron Copland (1900 – 1990)

Concerto para clarinete

  1. Very Slow
  2. Cadenza & III. Rather fast

Gerald Finzi (1901 – 1956)

Romance para orquestra de Cordas

  1. Romance

Concerto para clarinete

  1. Allegro vigoroso
  2. Adagio ma senza rigore
  3. Rondo. Allegro giocoso

Aaron Copland (1900 – 1990)

Appalachian Spring

  1. Very slow
  2. Fast
  3. Moderato
  4. Fast & V. Still faster
  5. As at first (slowly)
  6. Calm and flowing (Simple Gifts)
  7. Moderato: Coda

Sarah Williamson, clarinete

Orchestra of the Swan

David Curtis

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FLAC | 327 MB

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MP3 | 320 KBPS | 189 MB

A clarinetista, na época da gravação do disco (2009) estava no início de sua carreira como solista e a gravação faz parte de uma série que dá exatamente oportunidade a talentos em início de carreira. O colunista do The Guardian, Andrew Clements, esperava mais da orquestra, e eu entendo. Mas, considerando a beleza da música acho que vale a pena ouvir, a menos que você seja por demais exigente…

Eu gostei muito e aqui está, um sopro de beleza em meio a tanto desalento.

Aproveite!

René Denon

PS: Para você que também mal consegue esperar pela melodia dos Shakers – Simple Gifts – não deixe de ouvir a faixa 10 deste aqui:

.: interlúdio :. The Gift ∞ Música para o dia de Natal ∞

Se você gostou especialmente da música de Gerald Finzi, talvez queira ouvir este disco:

Butterworth (1885-1916) / Parry (1848-1918) / Bridge (1879-1941) – Música para Orquestra de Câmara – English String Orchestra – William Boughton

J. S. Bach (1685-1750): Concertos de Brandenburgo – The Amsterdam Baroque Orchestra & Ton Koopman ֎ #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685-1750): Concertos de Brandenburgo – The Amsterdam Baroque Orchestra & Ton Koopman ֎ #BRANDENBURGAÇO

Bach

Concertos de Brandenburgo

The Amsterdam Baroque Orchestra

Ton Koopman

 

A gravação dos Brandenburgos oferecida pela The Amsterdam Baroque Orquestra regida pelo multitalentoso (organista, cravista, regente…) Ton Koopman é uma excelente opção ao lado da gravação feita por Pinnock (AP), especialmente para quem prefere expressivos contrastes menos precisamente marcados.

Mais ou menos assim começa o verbete no The Penguin Guide to Compact Disc, editado por Ivan March e pals, em 1996. Incríveis 25 anos se passaram e o álbum continua gracioso como sempre. O utilíssimo comentário, que atribui três estrelinhas à gravação, acrescenta o fato de que no Terceiro Concerto, a título de movimento lento, Koopman nos oferece a Toccata em sol maior, BWV 916, fazendo uma ponte entre os dois movimentos rápidos.

Esta postagem é uma revalidação (pelo menos dos Concertos de Brandenburgo) de outra, que foi ao ar em 21 de março de 2012, postada pelo Carlinus – justamente para comemorar o níver do João Sebastião Ribeiro. Aqui temos a revalidação com links novos para as versões flac e mp3 na nossa série PQP-Originals.

Veja o texto da postagem original:

Em homenagem ao dia natalício de Johann Sebastian Bach!!! Os Concertos de Brandenburgo são uma das páginas mais famosas e importantes da música barroca, além do que é uma das obras mais populares do vasto material de Johann Sebastian Bach. Estes concertos foram compostos no período que vai de 1718 a 1721 e ficaram esquecidos após o ano de 1734. Somente no século XIX é que voltaram a ser explorados e tocados. São uma das obras mais belas de todos os tempos. Vale a pena ouvir e se entusiasmar. Existe uma outra gravação aqui no blog com o inglês Trevor Pinnock, alguém que é especialista no repertório barroco e, principalmente, em Bach. Dessa vez, apresento o holandês Ton Koopman, outro especialista em Bach. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Concertos de Brandenburgo

CD 1

Concerto No.1 em fá maior, Bwv 1046

  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro
  4. Minuet -Trio 1 – Minuet 2 – Polonaise – Minuet 3 – Trio 2 – Minuet 4
Monica Hugget, violino piccolo
Ku Ebbinge · Michel Henry Dombrecht, oboés
Michel Garcin Marrou · Jos Konings, trompas

Concerto No. 2 em fá maior, BWV 1047

  1. [Allegro]
  2. Andante
  3. Allegro assai
Ricardo Kanji, flauta doce
Alison Bury, violino
Ku Ebbinge, oboé
Crispian Steele Perkins, trompete

Concerto No.3 em sol maior, Bwv 1048

  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro
Monica Hugget · Alison Bury · Graham Cracknell, violinos
Jan Schlap · Trevor Jones · Nicola Cleminson, violas
Jaap Ter Linden · Richte Van Der Meer · Wouter Möller, violoncelos

CD 2

Concerto No.4 em sol maior, Bwv 1049

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Presto
Monica Hugget, violino
Ricardo Kanji · Reine-Marie Verhagen, flautas doces

Concerto No. 5 em ré maior, BWV 1050

  1. Allegro
  2. Affetuoso
  3. Allegro
Wilbert Hazelzet, flauta
Roy Goodman, violino
Ton Koopman, cravo

Concerto No. 6 em si bemol maior, BWV 1051

  1. [Allegro]
  2. Adagio ma non tanto
  3. Allegro
Jan Schlapp · Trevor Jones, violas
Christopher Coin · Sarah Cunningham, violas da gamba
Jaap Ter Linden, violoncelo

The Amsterdam Baroque Orchestra

Ton Koopman

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FLAC | 534 MB

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MP3 | 320 KBPS | 253 MB

A The Amsterdam Baroque Orquestra recebeu um reforço considerável de uma constelação de solistas ingleses. Veja os nomes listados…

Ton ensaiando a Orquestra PQP Bach no PQP Bach Hall de Nictheroy

Aproveite!
René Denon

J. S. Bach (1685–1750): Concertos de Brandenburgo em transcrições de Max Reger para piano a quatro mãos (Takahashi / Lehmann) #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685–1750): Concertos de Brandenburgo em transcrições de Max Reger para piano a quatro mãos (Takahashi / Lehmann)  #BRANDENBURGAÇO

Que os Concertos de Brandenburgo, em sua forma original, fazem parte de um seleto grupo de criações que representam o que há de mais valoroso na música, todos nós do século XXI já sabemos ! Estas transcrições que o compositor alemão Max Reger (1873-1916) fez para piano a quatro mãos que ora vamos compartilhar com os amigos do blog, são um verdadeiro  delight ! Max foi uma figura fundamental para o renascimento de Bach no início do século XX e as transcrições deste álbum são um ótimo exemplo do seu magnífico trabalho.

As transcrições dos seis concertos de Brandenburgo datam do início de 1900, Max era um talentoso compositor e organista e seu trabalho bastante reconhecido na Alamanha do início do século XX, tinha um profundo conhecimento de contraponto que torna esses arranjos de Brandemburgo tão lindos de ouvir. As transcrições destas obras primas de Bach feitas por Reger, na minha humilde opinião, são ótimas. Porém não são fáceis de tocar, requer também um alto conhecimento de Bach e a dupla deste álbum beira a perfeição são dois grandes intérpretes, a japonesa Norie Takahashi (1978) e o alemão Björn Lehmann (1973) o que mais me impressionou é o entrosamento sobretudo no ritmo, andamentos adequadamente rápidos, o uso mínimo de pedal que ajuda a deixar a música de Bach mais cristalina.

Norie Takahashi e Björn Lehmann na noite de autógrafos no PQPBach Music Center

No que diz respeito às transcrições das peças para órgão, Takahashi e Lehmann nos oferecem duas obras (a onipresente Tocata e Fuga em Ré Menor e o Prelúdio e Fuga de Santa Ana), juntamente com sua versão da poderosa, magnifica, linda, tesuda Passacaglia BWV 582 (adoro com todas as forças esta obra…). Eles fornecem um contraste de bom gosto, um belo “brake” entre Concertos de Brandenburgo.

As interpretações são bastante técnicas, é uma delicia ouvir este álbum: a mais pura e maravilhosa música do divino Bach. Para quem ainda não conhece estas transcrições, Reger conseguiu de maneira perfeita reproduzir as características sonoras da orquestra e do órgão para o piano. Divirtam-se !!!!!

Max Reger (1873-1916)

“Sebastian Bach é para mim o começo e o fim de toda música; sobre ele repousa, e dele se origina o novo! O fato de Bach ter sido mal interpretado por tanto tempo é o maior escândalo para a ‘sabedoria crítica’ dos séculos XVIII e XIX.”

Johann Baptist Joseph Maximilian Reger (1873-1916)

1 – Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: I. Allegro
2 – Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: II. Andante
3 – Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: III. Allegro Assai

4 – Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: I. Allegro
5 – Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: II. Affettuoso
6 – Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: III. Allegro

7 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: I. Allegro
8 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: II. Adagio
9 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: III. Allegro
10 – Brandenburg Concerto No. 1 in F Major, BWV 1046: IV. Menuetto – Trio I – Polacca – Trio II

11 – Passacaglia in C Minor, BWV 582

12 – Toccata and Fugue in D Minor, BWV 565

13 – Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: I. Allegro
14 – Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: II. Andante
15 – Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: III. Presto

16 – Brandenburg Concerto No. 6 in B-Flat Major, BWV 1051: I. Allegro non
17 – Brandenburg Concerto No. 6 in B-Flat Major, BWV 1051: II. Adagio ma non Tanto
18 – Brandenburg Concerto No. 6 in B-Flat Major, BWV 1051: III. Allegro

19 – Brandenburg Concerto No. 3 in G Major, BWV 1048: I. Allegro con spirito – II. Adagio
20 – Brandenburg Concerto No. 3 in G Major, BWV 1048: III.

21 – Prelude and Fugue in E-Flat Major, BWV 552: I. Prelude
22 – Prelude and Fugue in E-Flat Major, BWV 552: II. Fugue

Piano: Norie Takahashi e Björn Lehmann

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Concertos de Brandenburgo, há 300 anos nas paradas de sucesso!

Ammiratore

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concertos de Brandenburgo (Sigiswald Kuijken, La Petite Bande) #BRANDENBURGAÇO

Neste dia 24 de março os Concertos de Brandenburgo completam 300 anos. A importância destas obras na história da música ocidental é incontestável. Esta espetacular série de Seis Concertos, um totalmente diferente do outro, faz minha alegria há décadas, e com certeza, vai me acompanhar até o final de meus dias.

Estamos fazendo postagens temáticas nos últimos tempos, como foi a bela homenagem a Piazzolla, e agora, temos estes Concertos tão especiais. Novamente, todos os participantes do blog vão contribuir, dentro de suas restrições de tempo e trabalho.

Escolhi esta gravação dos belgas da ‘La Petite Bande’ por vários motivos, e um deles, além da óbvia qualidade dos músicos envolvidos, é a presença do cravista Pierre Hantaï, um dos principais intérpretes de Bach deste século XXI. Tudo o que este rapaz toca vira ouro, e aqui não é diferente.
Então aproveitem este dia do #BRANDENBURGAÇO !!!

CD 1

01. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – I Allegro
02. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – II Adagio
03. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – III Allegro
04. Brandenburgisches Konzert No.1 F-Dur BWV 1046 – IV Menuetto, 2 Trios & Polacca

Horn – Claude Maury, Piet Dombrecht
Oboe – Marcel Ponseele, Taka Kitazato, Ann Vanlancker
Fagotte – Marc Vallon
Violino Piccolo – Sigiswald Kuijken

05. Brandenburgisches Konzert No.2 F-Dur BWV 1047 – I Allegro
06. Brandenburgisches Konzert No.2 F-Dur BWV 1047 – II Andante
07. Brandenburgisches Konzert No.2 G-Dur BWV 1047 – III Allegro Assai

Horn – Claude Mauri
Recorder – Barthold Kuijken
Oboe – Marcel Ponseele
Violin – Sigiswald Kuijken

08. Brandenburgisches Konzert No.3 G-Dur BWV 1048 – I-II Allegro-Adagio
09. Brandenburgisches Konzert No.3 G-Dur BWV 1048 – III Allegro

CD 2

01. Brandenburgisches Konzert Nr.4 – G-Dur BWV 1049 – I Allegro
02. Brandenburgisches Konzert Nr.4 – G-Dur BWV 1049 – II Andante
03. Brandenburgisches Konzert Nr.4 – G-Dur BWV 1049 – III Presto

Violin – Sigiswald Kuijken
Recorder – Barthold Kuijken, Koen Dieltens

04. Brandenburgisches Konzert Nr.5 – D-Dur BWV 1050 – I Allegro
05. Brandenburgisches Konzert Nr.5 – D-Dur BWV 1050 – II Affettuoso
06. Brandenburgisches Konzert Nr.5 – D-Dur BWV 1050 – III Allegro

Violin – Sigiswald Kuijken
Transverse Flute – Barthold Kuijken
Harpsichord – Pierre Hantaï

07. Brandenburgisches Konzert Nr.6 – B-Dur BWV 1051 – I Allegro
08. Brandenburgisches Konzert Nr.6 – B-Dur BWV 1051 – II Adagio ma non tanto
09. Brandenburgisches Konzert Nr.6 – B-Dur BWV 1051 – III Allegro

Viola – Sigiswald Kuijken, Ryo Terakado
Viola da Gamba – Wieland Kuijken, Emmanuel Balssa
Violoncelo – Hidemi Suzuki
Double Bass – James Munro
Harpsichord – Pierre Hantaï

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#BRANDENBURGAÇO

FDP

J. S. Bach (1685 – 1750): Concertos de Brandenburgo – Hanover Band & Anthony Halstead ֎ #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685 – 1750): Concertos de Brandenburgo – Hanover Band & Anthony Halstead ֎ #BRANDENBURGAÇO

Bach

Concertos de Brandenburgo

Hanover Band

Anthony Halstead

 

Em 1977 duas sondas espaciais, Voyager I e II, foram lançadas no espaço pela NASA com o objetivo de explorar os planetas do sistema solar e usando a força gravitacional dos bitelões serem lançadas no espaço interestelar. Coisa de filme de ficção científica. Clicando aqui você poderá descobrir onde elas estão neste momento.

Uma das missões destas viajantes estelares é levar a quem interessar possa, mensagens do planeta Terra. Nestes terríveis dias em que estamos vivendo, particularmente aqui no Brasil, não creio que algum tipo de vida ‘inteligente’ venha nos pagar uma visitinha, tomar um café. Mas eles terão a oportunidade de ver algumas imagens de como é a vida na Terra ou pelo menos como era em 1977. Isto porque as naves levam um disco com informações do tipo imagens, sons e até músicas e recados dados pelas pessoas que prepararam e lançaram as naves e, portanto, leva a perspectiva deles do que há na Terra. Como tudo foi supervisionado pelo Carl Sagan, podemos esperar, pelo menos boas e bem fundadas intenções.

No topo da lista das músicas gravadas no tal disco de ouro está o primeiro movimento do Concerto de Brandenburgo No. 2, interpretado pelo que na época era o melhor intérprete de Bach – Karl Richter regendo sua Orquestra Bach de Munique.

Christian Ludwig Markgraf von Brandenburg

Como o tempo voa, fosse hoje possivelmente a mensagem não estaria em um disco, mas em um pen drive e poderia levar todos os seis concertos reunidos por Bach para encher os olhos do Margrave de Brandenburgo para que este lhe oferecesse um emprego. Certamente a disputa para ser o escolhido como o melhor intérprete dos Brandenburgos seria muito acirrada. Instrumentos de época, um instrumento apenas para cada parte, escolha do tom e essas coisas dariam panos para mangas.

Halstead

O fato é que neste 24 de março de 2021 a famosa dedicatória lisonjeira escrita por Bach para o Margrave completa 300 anos e como nós aqui do PQP Bach não perdemos a oportunidade de postar as coisas que gostamos, aqui vai mais uma ótima gravação destes seis lindíssimos concertos. A Hanover Band é uma das muitas pioneiras orquestras inglesas que se especializou em interpretar música antiga (barroca, clássica) usando instrumentos e práticas de época. Na verdade, se você observar os nomes dos instrumentistas verá que eles se repetem em várias outras orquestras similares. Mas aqui eles estão, nesta gravação, sob a regência e liderança de Anthony Halstead, que toca cravo em essencialmente todos os concertos, mas toca trompa no primeiro deles.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Concertos de Brandenburgo

CD 1

Concerto No.1 em fá maior, Bwv 1046

  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro
  4. Minuet -Trio 1 – Minuet 2 – Polonaise – Minuet 3 – Trio 2 – Minuet 4 7

Concerto No.3 em sol maior, Bwv 1048

  1. [Allegro]
  2. Adagio
  3. Allegro

Concerto No.4 em sol maior, Bwv 1049

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Presto

CD 2

Concerto No. 5 em ré maior, BWV 1050

  1. Allegro
  2. Affetuoso
  3. Allegro

Concerto No. 2 em fá maior, BWV 1047

  1. [Allegro]
  2. Andante
  3. Allegro assai

Concerto No. 6 em si bemol maior, BWV 1051

  1. [Allegro]
  2. Adagio ma non tanto
  3. Allegro

Hanover Band

Anthony Halstead

(Os nomes dos músicos em cada um dos concertos se encontram no encarte, junto com os arquivos musicais)

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FLAC | 477 MB

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MP3 | 320 KBPS | 300 MB

“The spacecraft will be encountered and the record played only if there are advanced spacefaring civilizations in interstellar space.”

– Carl Sagan

The Hanover Band’s gutsy playing stripped decades of varnish from the score with sound that was full-blooded…”

THE TIMES, EDINBURGH FESTIVAL

Aproveite!

René Denon

PS: Outra gravação porreta dos concertos do Margrave você encontrará aqui:

J. S. Bach (1685-1750): Concertos de Brandenburgo – Concerto Italiano & Rinaldo Alessandrini

J. S. Bach (1685-1750): Os Concertos de Brandenburgo (Freiburger Barockorchester) #BRANDENBURGAÇO

J. S. Bach (1685-1750): Os Concertos de Brandenburgo (Freiburger Barockorchester) #BRANDENBURGAÇO

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Neste 24 de março, os Concertos de Brandenburgo completam 300 anos de VIDA. Durante o dia de hoje, nós postaremos várias versões inéditas em nosso blog destes concertos. Já publicamos umas vinte, sei lá, mas hoje teremos um #BRANDENBURGAÇO

Eu, PQP Bach, escolhi postar a segunda versão da Freiburger Barockorchester, sem dúvida um dos maiores conjuntos barrocos em atividade. A gravação é estupenda! O 3º Concerto está vertiginoso e os restantes belíssimos!

O texto abaixo é a base de uma palestra sobre os Concertos de Brandenburgo que PQP Bach proferiu no StudioClio em 2017.  Divirtam-se. A palestra foi um sucesso. Também, né?, com esse tema…

.oOo.

Há uma série cômica de livros ingleses que nos ensina a como blefar culturalmente, a como falar sobre coisas que absolutamente desconhecemos. A série chama-se Manual do Blefador e divide-se em Literatura, Música, Filosofia, Artes Plásticas, etc. No livrinho de Música, o verbete Bach diz o seguinte: se você quiser impressionar um chefe ou uma potencial futura namorada ou namorado que conheça Bach, jamais tente enganá-los, pois a obra do compositor é muito extensa, há muita coisa de alta qualidade — as pessoas tornam-se fanáticas por ele — e não se pode adivinhar sobre o que fanático vai querer falar aquele dia. Então o jeito é preparar o melhor suspiro possível e dizer dramaticamente “Ah…, Bach!”, indicando que está absolutamente sem palavras. Deixe que o outro fale.

01 johann-sebastian-bach

Pois é surpreendente o porte e o grau de influência de Bach, assim como sua colocação como pedra fundamental de toda a nossa cultura musical. O mundo criado por Bach foi desenvolvido numa época em que não havia plena noção de obra; ou seja, Bach não se colecionava para servir à posteridade como os autores passaram a fazer logo depois. Ele escrevia para si, para seus alunos e contemporâneos. O que se sabe é que ele gostava das coisas bem feitas e era um brigão — passava grande parte de seu tempo solicitando mais e melhores músicos e procurando empregos mais rendosos. Tinha família enorme, conta-se 20 filhos, dos quais dez passaram pela alta mortalidade infantil do início do século XVIII.

À época, procurar empregos mais rendosos poderia ser um grande problema. Os empregadores consideravam traidores quem fazia isso. Por exemplo, quando Bach recebeu uma oferta do Príncipe Leopold, de Köthen – falaremos dele depois – Bach pediu permissão para deixar Weimar, onde trabalhava. Mas o Duque de Weimar não quis perder os serviços de seu brilhante músico e recusou o pedido. Como Bach insistisse, o Duque não teve dúvidas em colocá-lo na prisão, isso sem nenhum processo. Bach passou trinta dias preso.Porém, ao sair da prisão, em dezembro de 1717, partiu imediatamente para Köthen com sua família já de quatro filhos, sendo nomeado mestre de capela da corte do Príncipe Leopold.

Sabe-se pouco a respeito das opiniões e da vida não profissional de Bach, há apenas um episódio pessoal bem conhecido.

Johann_Sebastian_Bach_beer copy

Ele havia feito uma longa viagem de trabalho e ficara dois meses fora. Ao retornar, soube que sua mulher Maria Barbara e dois de seus filhos haviam falecido. Dias depois, Bach limitou-se a escrever no alto de uma partitura uma frase: “Deus, fazei com que seja preservada a alegria que há em mim!”. Pouco tempo depois ele casou de novo, continuou fazendo um filho depois do outro e, como não existiam, na época, equipes de futebol, ele pode criar, em seu próprio seio familiar, uma orquestra de câmara…

Bach costumava ganhar mais que seus colegas, mas nada que fosse espantoso. Ele era respeitado mais como virtuose do que como compositor — Telemann era considerado o maior compositor de sua época. Nosso herói também produzia cerveja em casa, mas este é um tema sobre o qual podemos falar outro dia. Pois ele, com toda esta família e mais alunos, produzia cerveja em enormes quantidades.

Príncipe Leopoldo de Köthen
Príncipe Leopoldo de Köthen

Por falar em quantidade, a perfeição e o número de obras que Bach criava e que era rápida e desatentamente fruída pelos habitantes das cidades onde viveu, era inacreditável. Tentaremos dar dois exemplos: (1) Suas obras completas, presentes na coleção Bach 2000, estão gravadas em 153 CDs. Grosso modo, 153 CDs são 153 horas ou 6 dias e nove horas ininterruptas de música… original.

Mas, como se não bastasse (2), ele parecia divertir-se criando dificuldades adicionais em seus trabalhos. Muitas vezes o número de compassos de uma ária de Cantata ou Paixão, corresponde ao capítulo da Bíblia onde está o texto daquilo que está sendo cantado. Em seus temas também aparecem palavras — pois a notação alemã (não apenas a alemã) é feita com letras. Ou seja, pode-se dizer que ele sobrava…

E imaginem que durante boa parte de sua vida Bach escrevia uma Cantata por semana. Em média, cada uma tem 20 minutos de música. Tal cota, estabelecida por contrato, tornava impossível qualquer “bloqueio criativo”. Pensem que ele tinha que escrever a música, copiar as partes e ainda ensaiar para apresentar domingo, todo domingo.

A capa dos concertos dedicados ao Margrave de Brandenburgo
A capa dos concertos dedicados ao Margrave de Brandenburgo

Poucas obras musicais são tão amadas e interpretadas como os seis Concertos de Brandenburgo. Tais concertos exibem uma face mais leve do gênio de Bach e, na verdade, fizeram parte de um pedido de emprego. Em 1721, aos 36 anos, Bach parecia feliz em Köthen. Ganhava adequadamente, seu patrono não só amava a música como era um músico competente.

O príncipe Leopoldo de Köthen, parte do Sacro Império Romano Germânico, gastava boa parte de sua renda para manter uma orquestra privada de 18 membros e convidava artistas viajantes para tocar com eles. A orquestra era excelente, com alguns dos melhores músicos daquela parte da atual Alemanha. Como calvinista, o Príncipe Leopoldo utilizava pouca música religiosa, liberando Bach para compor e ensaiar música instrumental. No entanto, o relacionamento pode ter azedado quando Bach solicitou a compra de um órgão. O pedido foi rejeitado. E vocês sabem como Bach era brigão.

O Margrave de Brandenburgo Christian Ludwig
O Margrave de Brandenburgo Christian Ludwig

Então, em 1721, Bach apresentou-se ao Margrave (comandante militar) Christian Ludwig de Brandenburgo. Ele foi com um manuscrito encadernado contendo seis concertos para orquestra de câmara com base nos Concertos Grossos italianos. Não há registro de que o Margrave tenha sequer agradecido a Bach pelo trabalho. Ele jamais imaginaria que aquele caderno — mais tarde chamado de Concertos de Brandenburgo — se tornaria uma referência da música barroca e ainda teria o poder de mover as pessoas quase três séculos mais tarde.

Em outras palavras, Bach escreveu os Brandenburgo como uma espécie de demonstração de suas qualidades, um currículo para um novo emprego. A tentativa deu errado. O Margrave de Brandenburgo nunca respondeu ao compositor e as peças foram abandonadas, sendo vendidas por uma ninharia após sua morte. Mesmo rejeitados, os Concertos de Brandenburgo sobreviveram em seus manuscritos originais, aqueles mesmos que tinham sido enviados para o Margrave de Brandenburgo no final de março de 1721. O título que Bach lhes dera era o de: “Seis Concertos para diversos instrumentos”).

Como foram encontrados? Ora, no inventário do Margrave dentro de um lote maior de 177 concertos de “obras mais importantes” de Valentini, Venturini e Brescianello.

Logo após a morte de Bach, sua música instrumental foi esquecida. Só sua música religiosa permaneceu, ainda que pouco interpretada.

Os Concertos de Brandenburgo são destaques de um dos períodos mais felizes e mais produtivos da vida de Bach. É provável que o próprio Bach tenha dirigido as primeiras apresentações em Köthen. O nome pelo qual a obra é hoje conhecida só apareceu 150 anos mais tarde, quando o biógrafo de Bach, Philipp Spitta, chamou-os assim pela primeira vez. O nome pegou.

Bach pensava nos concertos como um conjunto separado de peças. Cada um dos seis requer uma combinação diferente de instrumentos, assim como solistas altamente qualificados. O Margrave tinha sua própria orquestra em Berlim, mas era um grupo de executantes em sua maioria medíocre. Todas as evidências sugerem que estes concertos adequavam-se mais aos talentos dos músicos de Köthen.

Joshua Rifkin oferece uma explicação para que os Brandenburgo fosse ignorados por quem os recebera: “Como iria acontecer tantas vezes em sua vida, o gênio de Bach criava obras acima das capacidades dos músicos comuns e por isso eram esquecidas. Só mesmo em Coethen poderiam ser interpretadas!”. Com efeito, os Concertos permaneceram desconhecidos por meia dúzia de gerações, até que foram finalmente publicados em 1850, em comemoração ao centenário da morte de Bach. Mesmo assim, sua popularidade teria de esperar pelos toca-discos.

Os Concertos de Brandenburgo talvez sejam um dos maiores exemplos do pensamento criativo de Bach, pois compreende estilo contrapontístico, variedade de instrumentação, complexa estrutura interna e enorme profundidade. Eles não se destinavam a deslumbrar teóricos ou a desafiar intelectuais, mas sim causar puro prazer a músicos e ouvintes.

Manuscrito do terceiro Concerto de Brandeburgo de Bach
Manuscrito do terceiro Concerto de Brandeburgo de Bach

O concerto era a forma mais popular de música instrumental durante o barroco tardio, o principal veículo de expressão para os sentimentos, papel depois assumido pela sinfonia. Cada Brandenburgo segue a convenção do concerto grosso, em que dois ou mais instrumentos solo são destacados de um conjunto orquestral. Os concertos também observam a convenção de três movimentos, rápido-lento-rápido.

O único Concerto em quatro movimentos é o primeiro, ao qual foi adicionada uma dança final. Sua orquestração é incomum, podendo quase ser chamado de uma sinfonia. Talvez Bach quisesse dar um começo forte e rústico, destinado a alguém preguiçoso que fosse julgar o conjunto apenas por sua abertura.

Como dissemos, a inventividade de Bach também reside nas curiosas combinações instrumentais: no quarto concerto, por exemplo, o grupo habitual de cordas e contínuo acompanham o violino solo e duas flautas em um discurso musical brilhante. No quinto, Bach faz uso de uma flauta transversal, de violino e do cravo, mas o que resulta parece ser um antecessor dos grandes concertos para teclado. Ouçam, para exemplo, sua elaboradíssima cadenza do primeiro movimento.

Os outros concertos – a partir do N 2 – estão mais próximos do modelo de concerto grosso padrão. Para o meu gosto, apesar de suas qualidades, o Concerto Nº 1 é o patinho feio da coleção.

É a partir do segundo — para violino, flauta, oboé e trompete — que a leveza, a ousadia e a invenção tomam conta do conjunto, indo até o final. O concerto Nº 3 for escrito para 3 violinos, 3 violas, 3 violoncelos e contínuo, formado normalmente por cravo e contrabaixo. O Nº 4 foi escrito para violino e duas flautas. O 5º para flauta transversa, violino e cravo. O 6º é uma festa para as violas. Nem tem violinos.

Sem prejuízo dos outros concertos do ciclo, faço uma menção àquele que me trouxe para “dentro” da música erudita: o terceiro, que foi projetado para três grupos instrumentais que consistem em três violinos, três violas e três violoncelos, mais baixo contínuo. Escrito em três movimentos, com o segundo sendo um passeio no campo da improvisação, tem no primeiro e terceiro movimentos fascinantes e alegres temas e contrapontos, verdadeira exposição do virtuosismo de Bach como compositor. Para mim, ele é “o concerto barroco por excelência”.

(Sim, eu estava no banheiro quando meu pai colocou a agulha do toca-discos no começo do Concerto Nº 3. Saí de lá aos gritos, perguntando o que era aquilo. Nunca me recuperei).

(Em minha cabeça, esses concertos são das peças mais tocadas. Muitas vezes caminho pelas ruas assobiando-as. E tenho a melhor das convivências com elas).

J. S. Bach (1685-1750): Os Concertos de Brandenburgo (Freiburger Barockorchester)

Concerto No.1 In F Major BWV 1046
1-1 I. [Ohne Satzbezeichnung] 3:52
1-2 II. Adagio 3:40
1-3 III. Allegro 3:51
1-4 IV. Menuet – Trio I – Polonaise – Trio II 6:31

Concerto No.6 In B Flat Major BWV 1051
1-5 I. [Ohne Satzbezeichnung] 5:31
1-6 II. Adagio Ma Non Tanto 4:05
1-7 III. Allegro 5:38

Concerto No.2 In F Major BWV 1047
1-8 I. [Ohne Satzbezeichnung] 4:49
1-9 II. Andante 4:04
1-10 III. Allegro assai 2:37

Concerto No.3 In G Major BWV 1048
2-1 I. [Ohne Satzbezeichnung] – II. Adagio 5:37
2-2 III. Allegro 4:41

Concerto No.5 In D Major BWV 1050
2-3 I. Allegro 9:26
2-4 II. Affettuoso 5:44
2-5 III. Allegro 5:10

Concerto No.4 In G Major BWV 1049
2-6 I. Allegro 6:42
2-7 II. Andante 3:39
2-8 III. Presto 4:24

Freiburger Barockorchester

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A Freiburger Barockorchester ao chegar na recepção da PQP Bach Corp. a fim de suplicar que postássemos logo este CD.

PQP

C.P.E. Bach (1714-1788): Integral dos Concertos para Flauta e Orquestra

C.P.E. Bach (1714-1788): Integral dos Concertos para Flauta e Orquestra

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Sou apaixonado por vários destes concertos em que mano CPE se esmera a fim de dar boa música para o iluminista Frederico II. A propósito, vocês deveriam ler Uma Noite no Palácio da Razão, onde é narrado o encontro de J.S. Bach com Frederico, o Grande. O encontro, como vocês devem saber, foi patrocinado por Carl Philipp Emanuel. A obra é de James R. Gaines.

Este CD é extraordinário. Embora empregado por mais de 25 anos pelo mais poderoso de todos os flautistas, Frederico II, Carl Philipp Emanuel Bach escreveu apenas uma vez um concerto especificamente para flauta. Mas, como seu pai, ele às vezes transcrevia a mesma obra para diferentes solistas. Ele fez versões para flauta de vários concertos para teclado (três também têm versões para violoncelo) com tal habilidade que nem por um momento parecem arranjos. O estilo de CPE não tem nada de convencional. Ele é exclamativo e fragmentário, muito diferente de tudo o que foi feito antes ou depois. É também altamente expressivo e lírico, difícil de descrever em palavras.

Patrick Gallois, flauta principal da Orquestra Nacional da França, é um instrumentista preciso e de belo fraseado, à altura das exigências técnicas da música. Ele toca a sonata solo de um modo bastante improvisado. Kevin Mallon dirige o Toronto Camerata com muito espírito. Mas acho que esses concertos soariam melhor com instrumentos de época.

C.P.E. Bach (1714-1788): Integral dos Concertos para Flauta e Orquestra

Disc 1:

Flute Concerto in A minor, Wq. 26, H. 430
I. Allegro assai 00:09:15
II. Andante 00:06:48
III. Allegro assai 00:07:15

Flute Concerto in B flat major, Wq. 167, H. 435
I. Allegretto 00:07:58
II. Adagio 00:07:32
III. Allegro assai 00:05:55

Sonata in A minor for Solo Flute, Wq. 132, H. 562
I. Poco adagio 00:03:19
II. Allegro 00:04:47
III. Allegro 00:04:19

Disc 2:

Flute Concerto in A major, Wq. 168, H. 438
I. Allegro 00:05:43
II. Largo con sordini, mesto 00:09:00
III. Allegro assai 00:05:13

Flute Concerto in G major, Wq. 169, H. 445
I. Allegro di molto 00:11:09
II. Largo 00:08:01
III. Presto 00:05:20

Flute Concerto in D minor, Wq. 22, H. 484/1
I. Allegro 00:08:42
II. Un poco andante 00:08:47
III. Allegro di molto 00:06:53

Patrick Gallois, flute
Toronto Chamber Orchestra
Kevon Mallon, Conductor

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Patrick Gallois em tons de cinza

PQP

J. S. Bach (1685-1750): As Seis Suítes para Violoncelo (Truls Mørk)

J. S. Bach (1685-1750): As Seis Suítes para Violoncelo (Truls Mørk)

Passei um tempo pensando por onde começar. Acho muito importante iniciar um trabalho que você curte fazer com o pé direito. Minha dúvida era: “qual compositor?”. Acabei por fazer a escolha mais óbvia. As Seis Suítes para Violoncelo de J. S. Bach é minha obra favorita. Tenho muitas versões destas suítes. Escolhi esta por ser a que mais estudo, escuto, admiro e gosto. Existem centenas de composições para violoncelo.  Algumas boas, outras nem tanto. Sempre encontro algum movimento meio chato ou desnecessário em obras de outros compositores. Mas com Bach é diferente. Afinal, Bach é Bach. Todas as seis suítes são maravilhosas. A primeira é fantástica. A segunda também. A terceira… E assim por diante! Nada aqui é ruim. E isso é muito raro de se encontrar em outras obras. Truls Mørk  é o violoncelista responsável por mudar minhas convicções! Por muito tempo considerei a versão do mestre Anner Bylsma como a versão definitiva. Então, Steven Isserlis apareceu e me fez ficar dividido. Truls Mørk apareceu e me fez não abandonar Isserlis e Bylsma , mas os colocar em segundo e terceiro lugar, respectivamente.  Por quê? Ora, tudo, absolutamente tudo o que o violoncelista norueguês faz aqui é extremamente barroco. É a música de Bach. E ela flui com perfeição! Para mim, esta é a MELHOR versão das suítes para violoncelo de Bach! Duvida? Baixe e prove – me o contrário! ^^

Obs.: Para mais informações sobre Truls Mørk , clique aqui.

J. S. Bach (1685-1750): As Seis Suítes para Violoncelo (Truls Mørk)

CD 01
1. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Prélude (Moderato)
2. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Allemande (Molto moderato)
3. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Courante (Allegro non troppo)
4. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Sarabande (Lento)
5. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Menuett I & II (Allegro moderato)
6. Suite No. 1 in G Major, BWV 1007: Gigue (Vivace)

7. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Préludium
8. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Allemande
9. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Courante
10. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Sarabande
11. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Menuett I & II
12. Suite No. 2 in D minor, BWV 1008: Gigue

13. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Préludium
14. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Allemande
15. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Courante
16. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Sarabande
17. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Bourrées I & II
18. Suite No. 3 in C major BWV 1009: Gigue

CD 02
1. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Prélude (allegro maestoso)
2. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Allemande (Allegro moderato)
3. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Courante (Allegro non troppo)
4. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Sarabande (Lento)
5. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Bourrée I & II
6. Suite No. 4 in E flat Major, BWV 1010: Gigue (Vivace)

7. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Prélude (Adagio – Allegro moderato)
8. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Allemande (Molto moderato)
9. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Courante (Allegro non troppo)
10. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Sarabande (Lento)
11. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Gavotte I & II
12. Suite No. 5 in C minor, BWV 1011: Gigue (Allegretto)

13. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Prélude (Allegro moderato)
14. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Allemande (Quasi adagio)
15. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Courante (Allegro non troppo)
16. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Sarabande (Lento)
17. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Gavotte I & II (Allegro moderato)
18. Suite No. 6 in D major BWV 1012: Gigue (Vivace)

Cello – Truls Mørk

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Truls Mørk na masmorra heterossexual do PQP Bach. Lá, são oferecida(o)s virgens do sexo oposto aos presos, os homens recebem mulheres, as mulheres, homens, 10 por noite, às 10 da noite.

Alfred Schnittke (1934-1998): Peças para Violino e Piano (Hope / Botvinov)

Alfred Schnittke (1934-1998): Peças para Violino e Piano (Hope / Botvinov)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu gosto muito da música de Schnittke. Seu estilo altamente culto e poliestilístico me agradam muito. A gente está ouvindo uma obra moderna quando entra um tango, um Mozart ou algo burlesco. Ele sempre foi muito bem humorado, porém, em 1985, sofreu o primeiro de vários AVCs. À medida que sua saúde se deteriorava, o compositor foi abandonando a extroversão do poliestilismo, adotando um estilo mais introspectivo e sombrio.

Este disco é muito eclético. Hope disse em entrevistas que refletiu muito sobre as peças do mesmo, mas o resultado parece desorganizado. A Suíte no Estilo Antigo é colocada em primeiro lugar, e a Sonata Nº 1 é cercada por um grupo de cinco peças avulsas. É estranho que a Segunda Sonata não esteja incluída, especialmente porque é a única grande obra de câmara para violino de Schnittke que Hope ainda não gravou. Presumivelmente, isso reflete uma preocupação de que a Segunda Sonata possa ofuscar a Primeira, que é claramente o objeto principal das afeições de Hope aqui. Mas o programa variado tem a vantagem de incluir muitos aspectos da produção de Schnittke, a precoce e a tardia, a séria e a irreverente.

A Noite Feliz dele é… Bem, ouçam! Vale a pena! E esplêndida a Sonata Nº 1 que termina com La Cucaracha? E a sentida homenagem a Kagan?

Alfred Schnittke (1934-1998): Peças para Violino e Piano

Suite In The Old Style
01 I. Pastorale 2:59
02 II. Ballet 2:15
03 III. Minuet 3:07
04 IV. Fugue 2:40
05 V. Pantomime 4:05

06 Polka 1:47

07 Tango 3:01

Sonata No. 1
08 I. Andante 2:47
09 II. Allegretto 4:56
10 III. Largo 5:17
11 IV. Allegretto Scherzando 4:53

12 Madrigal In Memoriam Oleg Kagan 9:13

13 Congratulatory Rondo 7:24

14 Silent Night 4:46

Daniel Hope, violino
Alexey Botvinov, piano

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Schnittke

PQP

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Um bom disco que vale a pena pela peça de Julian Marshall e pela de Arvo Pärt.

Out of the Darkness, de Marshall, é uma cantata, mas talvez fosse melhor descrita como uma linda sequência de canções. Spiegel im Spiegel, de Pärt, dispensa comentários. E achei The Island Chapel , de Bryars, meio chatinha.

Out of the Darkness é uma cantata secular para mezzo-soprano, dois violoncelos e oito vozes. A inspiração para a peça é o poema Aus dem Dunkel (Out of the Darkness), de Gertrud Kolmar. Kolmar viveu em Berlim por grande parte de sua vida, mas foi transportada para Auschwitz em 1943, onde morreu. Sua poesia é surpreendentemente cheia de vida Aus dem Dunkel, é certamente uma das mais belas. Escrito em 1937, o poema evoca o desmoronamento e a decadência – servindo como uma predição assustadora da onda iminente de horror prestes a atingir o mundo.

Spiegel im Spiegel pode significar literalmente tanto “espelho no espelho” quanto “espelhos no espelho”, referindo-se a um espelho infinito , que produz uma infinidade de imagens refletidas por espelhos planos paralelos. A peça foi escrita originalmente para um violino e piano e violino — embora o violino tenha sido frequentemente substituído por um violoncelo — como no caso deste CD —  ou uma viola . Também existem versões para contrabaixo, clarinete, trompa, flugelhorn, flauta, oboé, fagote, trombone e percussão.

The Island Chapel foi escrita para ser apresentada na Capela de St. Nicholas, St. Ives, bem no sudoeste da Inglaterra, na Cornualha. A capela é um edifício simples e minúsculo, isolado e com vista para o mar por três lados. Então a “Ilha” é estritamente uma península (para James Joyce, “a disappointed island”) e no quarto lado ela olha para trás em direção à cidade e à Tate Gallery.

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Marshall, Julian: Out of the Darkness

1 Prologue 3:46
2 One 5:49
3 Two 4:50
4 Three 4:30
5 Four 4:06
6 The River 6:22
7 Six 6:00

Melanie Pappenheim (mezzo-soprano)
Sophie Harris (cello)
Lucy Railton (cello)
School House 6 Ensemble
Howard Moody

8 Bryars, Gavin: The Island Chapel 17:06

Melanie Pappenheim (mezzo-soprano)
Sophie Harris (cello)
Ian Belton (keyboards)

9 Pärt, Arvo: Spiegel im Spiegel 8:23

Sophie Harris (cello)
Ian Belton (piano)

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Melanie Pappenheim não apenas canta esplendidamente como costuma pifar os atacantes de seu time

PQP

.: interlúdio, pero no mucho :. Pat Metheny: Road to the Sun (2021)

.: interlúdio, pero no mucho :. Pat Metheny: Road to the Sun (2021)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

A carreira de quase 50 anos de Pat Metheny sempre equilibrou a tensão entre dois polos de desenvolvimento: (1) o refinamento e a expansão do alcance técnico e estético de sua “voz” virtuosa e exuberantemente romântica e (2) a construção de uma linguagem composicional ampla e em constante evolução que combina sofisticação harmônica e rítmica com acessibilidade. Road to the Sun é uma obra-prima e é o primeiro mergulho do violonista na composição de música clássica para violão.

O conjunto é composto primeiramente por duas longas suítes. A primeira metade do CD é dedicada aos quatro movimentos Four Paths of Light, escrita e interpretada pela sensação do violão clássico Jason Vieaux, cujas gravações abraçam o cânone do violão clássico, mas também o expandem para incluir modernistas como Astor Piazzolla, Baden Powell e Ernst Mahle. (Em 2005, Vieaux lançou Images of Metheny , no qual ele recriou as composições do jazzista para violão clássico solo). Como um todo, Four Paths of Light não lembra muito… Metheny. O primeiro e o quarto movimentos, altamente arpejados, cruzam o flamenco, o choro, o samba e os estudos clássicos pós-românticos, sem nunca revelar uma forma dominante. O segundo movimento lânguido é mais esparso e, bem, aqui parece o Metheny de New Chautauqua, de 1979 .

A suíte título em seis movimentos é composta para e executada pelo Los Angeles Guitar Quartet, formado por John Dearman , William Kanengiser , Scott Tennant e Matthew Greif. A estilo deles é o crossover. Seus shows e gravações envolvem de tudo, desde clássico e flamenco até o bluegrass, o rockabilly e o death metal. Road to the Sun une o impressionismo clássico de Debussy e Ravel a Django Reinhard. Os elementos de chamada e resposta são fundamentais no primeiro movimento, ao mesmo tempo hipnótico e sedutor. Reflete a influência de compositores clássicos canônicos como Francisco Tárrega. Depois, temos um familiar estilo “brasileiro”. Dá para pensar na obra César Guerra-Peixe. A parte quatro é construída de glissandi dos violões antes que a percussão dos mesmos nos dê uma sensação de desorientação e deslocamento. No quinto movimento, o dedilhar veloz de Metheny se junta ao do quarteto. Seu toque é inconfundível.

O CD é finalizado por uma leitura solo da peça para piano Für Alina de Arvo Pärt, tocada por Metheny no violão Pikasso I de 42 cordas e múltiplos braços. Road to the Sun apresenta as marcas musicais de Metheny, mas com um toque de coragem que vou lhes contar. E ele se sai brilhantemente na empreitada, revelando novas maneiras de confundir as fronteiras entre os gêneros.

O guitarrista e compositor Pat Metheny ganhou 20 prêmios Grammy em 12 categorias diferentes, incluindo Melhor Rock Instrumental, Melhor Gravação de Jazz Contemporâneo, Melhor Solo Instrumental de Jazz e Melhor Composição Instrumental. O Pat Metheny Group ganhou sete Grammys consecutivos em sete álbuns consecutivos. Sim, não é mole.

Pat Metheny: Road to the Sun (2021)

1. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 1
2. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 2
3. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 3
4. Jason Vieaux – Pat Metheny: Four Paths of Light, Pt. 4

5. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 1
6. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 2
7. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 3
8. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 4
9. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 5
10. Los Angeles Guitar Quartet – Pat Metheny: Road to the Sun, Pt. 6

11. Pat Metheny – Arvo Pärt: Für Alina (arr. Pat Metheny for 42 string guitar)

Los Angeles Guitar Quartet
Pat Metheny
Jason Vieaux

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A Pikasso I foi criada e feita à mão pela luthier canadense Linda Manzer, a qual demorou dois anos para fabricá-la. Este violão acústico de 42 cordas e três braços foi popularizada por Pat Metheny.

PQP

Bach (1685-1750): Variações Goldberg, BWV 988 – Maggie Cole, cravo ֎

Bach (1685-1750): Variações Goldberg, BWV 988 – Maggie Cole, cravo ֎

 

Bach

Variações Goldberg

Maggie Cole, cravo

 

 

Depois de tanto tempo sentado diante de suas anotações cheias de diagramas e fórmulas, o homem começou a pestanejar, entrando em um estado de torpor. A luz tremula vinda das chamas da lareira ajudava a fazer com que as fórmulas e esquemas começassem lentamente a se mover, primeiro no papel, depois pairando sobre a atulhada mesa de trabalho, girando numa estranha dança.

Havia já bastante tempo que ele buscava uma representação para a descoberta que satisfizesse os axiomas da teoria, mas era um terrível quebra-cabeça que sempre terminava com alguma peça sobrando ou faltando. Tantas vezes percorrera aquelas sendas e caminhos em seus pensamentos que só mesmo com muita persistência continuava tentando descobrir a solução do desafio.

August Kekulé

Foi então que entre as fórmulas que lhe dançavam diante dos olhos percebeu algo de novo, uma cobra que se enrolava, se enroscava e finalmente, abocanhava o próprio rabo. Ele acordou subitamente e num estalo fechou a questão. A cobra engolindo seu próprio rabo é um símbolo que lhe indicou a solução para o problema que tanto lhe desafiara – uma estrutura cíclica – um anel acomodando os seis átomos de carbono, cada um com quatro ligações, e mais seis átomos de hidrogênio com uma ligação cada – a molécula de benzeno! Quem contou esta história foi o próprio cientista, o químico Friedrich August Kekulé, que em 1865, aos 36 anos resolveu com um insight o problema de encontrar o modelo da estrutura da molécula de benzeno, inspirado no famoso símbolo da cobra engolindo o próprio rabo – ouroboros – que lhe ocorrera em um sonho.

A sensação de fazer uma descoberta como esta é inebriante e é uma das razões pelas quais muitas pessoas dedicam seu tempo e energia e talentos buscando ampliar o que já conhecemos. Mesmo modestas, pequenas descobertas ou até a resolução de um pequeno problema já indica como isto pode ser atraente e fascinante.

Eu lembrei desta história, de uma estrutura circular, quando estava a caça de uma boa gravação das Variações Goldberg, parte da minha busca de gravações das obras para teclado de João Sebastião Ribeiro interpretadas ao cravo. Eu sempre me esforço para poder ouvir a obra toda, o ciclo que se fecha na repetição da ária, ouroboros!

Maggie Cole

Dois critérios são importantes para minhas escolhas nestas postagens com música interpretada ao cravo. A qualidade do som e o andamento usado pelo intérprete, itens essenciais, na minha opinião. Meus candidatos para a postagem envolviam, além da escolhida Maggie Cole, Kenneth Gilbert no selo harmonia mundi e Pierre Hantaï, na primeira de suas gravações, no selo Opus 111. Hantaï é o queridinho de vários de nossos blogueiros e não é por pouca coisa, o cara é um bamba. Portanto, sua gravação já foi postada aqui. Assim, fiquei ouvindo Maggie, depois Kenneth, Kenneth de novo, depois Maggie, que acabou ganhando por pequeniníssimos detalhes. A gravação dela tem as repetições, por exemplo. O disco tem uma capa muito bonita e o selo Virgin Classics deixou saudades. De qualquer forma, para os dias com menos tempo para música, Kenneth Gilbert will fill the bill, nicely!

A música, bem, o que dizer? Que é uma das mais lindas que o grande João compôs? Que o Quodlieb e a Pérola Negra são as coisas mais lindas que você já ouviu? Que quando a ária é tocada pela primeira vez e ao seu final, ao passar para a primeira das variações, meu coração se enche de alegria? Bom, a tudo isto acrescento que quando a ária retorna, fechando o ciclo, sinto grande satisfação e tenho que me conter para não recomeçar tudo de novo.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Variações Goldberg

Maggie Cole, cravo

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FLAC | 514 MB

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MP3 | 320 KBPS | 180 MB

“A graceful, vital musician with an elegant technique and a razor-sharp feeling for phrasing and accent.”

New York Times

“Maggie Cole’s spirited, poetic and disciplined playing illuminates each and every one of Bach’s Goldberg Variations on her Virgin Classics recording.”

Gramophone

“Cole’s recording of the Goldberg Variations is a wonderful surprise musically and acoustically. She glides across the keyboard with great grace, and in the technically demanding passages, Bach’s intricate music is displayed to awesome effect.”

Billboard

Está esperando o que?

Aproveite!

René Denon

Maggie Cole nos jardins do Palacete PQP Bach no Cosme Velho, explicando como consegue aquelas perfeitas cruzadas de mãos para o atônito comitê do PQP Bach local…

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893): Concertos para Piano Nº 1 e 2 (Matsuev / Gergiev)

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893): Concertos para Piano Nº 1 e 2 (Matsuev / Gergiev)

Os dois concertos para piano de Tchaikovsky (que cabem convenientemente em um CD) exibem suas melodias exuberantes, às vezes folclóricas e abraçando o nacionalismo russo, mas mostrando sua capacidade de elevar a música além do rótulo nacionalista. Embora a história tenha um pano de fundo especial para essas obras, elas são apreciadas por suas qualidades musicais, pois são ousadas, virtuosas e resistiram ao teste do tempo. O segundo concerto menos conhecido é igualmente melódico, inovador e emocionante por si só. Eu não sou um apaixonado pelo Concerto Nº 1, mas pelo segundo. Porém, em ambos os concertos, é difícil não gostar da execução de Denis Matsuev e da Orquestra Mariinsky de Valery Gergiev. São registros entusiasmados e com momentos empolgantes. Mesmo nas passagens altamente elaboradas do Nº 2 — ele toca a revisão do Concerto do próprio Tchaikovsky –, Matsuev aparece tocando com enorme e verdadeiro prazer, enquanto também há muito refinamento no movimento lento com seus solos de violino e violoncelo, o que faz com que ele praticamente se torne um concerto triplo. Um bom disco!

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893): Concertos para Piano Nº 1 e 2 (Matsuev / Gergiev)

Piano Concerto No. 1
1 l. Allego Non Troppo E Molto Maestoso Allegro con Spirito 22:02
2 ll. Andantino Semplice – Prestissimo 6:35
3 lll. Allegro Con Fuoco 6:50

Piano Concerto No. 2
4 l. Allegro Brillante E Molto Vivace 21:21
5 ll. Andante Non Troppo 14:32
6 lll. Allegro Con Fuoco 7:12

Denis Matsuev
Orchestra Of The Mariinsky Theatre
Valery Gergiev

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Matsuev e Gergiev agradecem seu aplauso

PQP

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945): Obras para Violino e Piano (Ehnes / Armstrong) #BRTK140

A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945): Obras para Violino e Piano (Ehnes / Armstrong) #BRTK140

A Voz do Dono

O ideal seria que todos os violinos desta cidade e de cada aldeia fossem cortados em dois. Depois, seriam pendurados em salgueiros, e os violinistas que tocam as danças seriam pendurados pelas pernas ao lado deles.

De uma publicação religiosa húngara de 1681

Nos filmes de Kusturica são ciganos. Quando estão pedindo no metrô, são romenos. Quando vivem em casas, são “ex-ciganos.” Quando muito pobres, são ladrões. Quando têm bons carros, também são ladrões. A imagem negativa é a do pobre nômade pedinte e sem lei. A positiva é a ser rebelde orgulhoso, livre e… músico, quase sempre violinista.

A música para violino da Hungria, Romênia, Moldávia e adjacências é conhecida em todo o mundo por sua paixão e virtuosismo e, para os não nativos, tal música é sinônimo de fogueira, estrada e ciganos. A música para violino húngara é música cigana? Sim, pois, no mínimo, ela foi muito influenciada. No entanto, dentro do país você encontrará um ressentimento considerável em relação a esse estereótipo e, embora haja muito apreço pela habilidade dos violinistas ciganos, ela é considerada música húngara, não música cigana. Mas a polêmica ainda é quente.

O húngaro Franz Liszt deu o tiro de abertura ao publicar seu livro Os ciganos e sua música na Hungria em 1859. Ele já era conhecido por apreciar a música cigana e pela publicação, em 1853, de suas Rapsódias Húngaras. O que causou ira entre seus conterrâneos foi sua afirmação de que, embora a música tradicional de aldeia na Hungria seja “modesta e imperfeita” e digna de pouco respeito, a música instrumental das orquestras ciganas húngaras é “capaz de competir com qualquer coisa em sua sublimidade e na ousadia de emoção, além da perfeição de sua forma”. Este não era um assunto a ser tratado levianamente. Dificilmente haverá um país tão intensamente patriótico do que a Hungria, e os meados do século XIX foi um período de grande nacionalismo, pois o país tentava, sem sucesso, libertar-se do Império Habsburgo. A música tornou-se o foco deste florescimento do nacionalismo só que, desde os anos 1760, a música húngara esteve em grande parte nas mãos de orquestras ciganas. O que Liszt afirmava era que sem os ciganos, a música húngara seria insignificante, enquanto seus detratores afirmavam que, embora ninguém duvidasse ou deixasse de valorizar a contribuição dos “novos húngaros” — como eram eufemisticamente conhecidos os ciganos –, o que eles tocavam era fundamentalmente música húngara.

Pondo lenha na fogueira, Kodaly escreveu em 1960: A música folclórica húngara não é de forma alguma uma criação dos ciganos, como ainda é frequentemente afirmado como resultado do erro monumental de Franz Liszt. Os anti-Liszt, por assim dizer, acusavam o compositor de nem ter aprendido húngaro em sua vida, de ter passado a maior parte de sua vida no exterior e de, portanto, não estar bem posicionado para comentar com precisão o que compreendia da música folclórica húngara. Faltaria a ele o tal lugar de fala.

Os ciganos viviam na Hungria desde o século XV. Um rei lhes deu liberdade de movimentos em 1423. O século XVII viu a partida dos turcos e a abertura do país às influências ocidentais e da igreja — o que foi particularmente importante para a introdução do conceito de harmonia. Para os músicos nativos de aldeias húngaras, a Reforma da igreja, como em muitas partes da Europa Ocidental, foi sentida como um endurecimento das atitudes em relação à música, dança e prazer pecaminoso geral.

No século XX, com a sofisticação crescente do repertório urbano, um grande abismo começava a se abrir entre este e o repertório rural mais simples, terreno e rústico. Inevitavelmente, alguns intelectuais começaram a considerar o repertório urbano muito longínquo de sua fonte. Foi assim que Bartók, ainda muito jovem e impressionado ao ouvir uma empregada da vizinhança cantando em linda melodia que a maçã vermelha caiu na lama, começou a desenvolver um fascínio pessoal pela música primitiva do interior da Hungria, e iniciou uma busca para coletar o máximo que pudesse. “Nos chamados círculos urbanos de cultura” observou Bartók, “o tesouro inacreditavelmente rico da música folclórica era inteiramente desconhecido. Ninguém sequer suspeitou que esse tipo de música existisse”. Usando uma máquina de gravação cilíndrica Edison, ele começou em 1906 uma série de expedições, gravando e transcrevendo um total impressionante de 10.000 músicas. Muitas delas foram coletadas nas áreas de língua húngara além das fronteiras atuais, como a Transilvânia da atual Romênia. Bartók, junto com seu colega e compositor Kodály, incorporou muitos dos temas, formas e modalidades em suas composições, criando com sucesso uma música que era ao mesmo tempo muito moderna e repleta do que era visto como o verdadeiro espírito da Hungria antiga. Eles trabalharam em conjunto, dividindo sistematicamente entre si as regiões do país e outras regiões de língua húngara para pesquisa e estudo.

Eles também reabriram a controvérsia Liszt, rejeitando a ideia de que a música cigana e a húngara estivessem inextricavelmente ligadas. Ao colecionar melodias, procuravam sempre selecionar materiais que não tivessem sido “contaminados” pela influência cigana. Para citar Sarosi; “Aos olhos de Bartók e Kodaly, o grave pecado dos músicos ciganos desde o final do século XVIII foi servir à moda e ao entretenimento de quem os pagava, intrometendo um decadente repertório urbano mais recente na autêntica cultura popular. ” Essa visão ainda é controversa, até porque no passado a aristocracia húngara patrocinava ciganos e sua música de verbunkos e csardas. Sugerir que o coração da cultura húngara não estava com eles, mas com os camponeses iletrados, é uma ideia estranha, bem polêmica.

Não vamos resolver a questão aqui, é claro. A nobreza europeia, especialmente em países como Rússia, Romênia e Hungria, há muito tem um fascínio pelo romance, pelo mistério e pelo exotismo dos ciganos e têm sido patrocinadores voluntários deles. No século XIX, a Hungria, a maioria da nobreza rural mantinha sua própria orquestra cigana. Não existe um estilo de música cigano único. Pensem na extensão coberta pelo flamenco, pelo jazz cigano de Django Reinhardt, pelo hard jazz / rock romeno de Ivo Popozov, pela música crua de Taraf de Haiduks, por Goran Bregovic, etc.

O que é comum a todos é a grande aptidão dos músicos, adotando sistematicamente a postura de aprender os repertórios locais e, geralmente, aprimorando-os através do virtuosismo, da improvisação e do fato de serem showmen. Como viajantes periódicos, os ciganos têm sido uma força importante na polinização musical, pois além de dominarem o repertório local, podem introduzir técnicas e sabores que parecem misteriosos e exóticos.

Resumido e (muito) adaptado a partir deste texto de Chris Haigh.

.oOo.

James Ehnes tem uma notável noção de conteúdo musical. Faz música russa com sotaque russo, faz bartók com sotaque, bem, local… É um violinista maior, sem dúvida, alguém de vasta cultura musical. O que ele faz sempre corre o risco de tornar-se a nova lei.  Neste CD duplo, há, por baixo, quatro obras-primas: as Sonatas Nº 1 e 2, a Sonata para Violino Solo e as Danças Folclóricas Romenas.

A Sonata para Violino Solo Sz. 117, BB 124, foi estreada por Yehudi Menuhin, a quem foi dedicada, em Nova York em 26 de novembro de 1944. Menuhin encomendara um trabalho para violino solo em novembro de 1943. Ele foi escrito em Nova York e em Asheville, Carolina do Norte, onde Bartók fazia tratamento para leucemia. Bartók terminou de compor a peça em março de 1944. Ele escreveu cartas a Menuhin em abril e junho de 1944 para concordar com pequenas alterações para tornar a Sonata mais fácil de tocar. A Sonata Solo apresenta muitas dificuldades aos violinistas e utiliza toda uma gama de técnicas — várias notas tocadas simultaneamente, pizzicato para a mão esquerda executado simultaneamente com uma melodia tocada com o arco, etc.

A primeira sonata de Bartok para violino e piano foi escrita em 1903 — CD 2, faixas de 5 a 7 — e friamente recebida por Leopold Auer e outros membros do júri do Prix Rubinstein em Paris em 1905. A primeira sonata numerada e publicada, a Sonata para Violino No.1, em três movimentos, foi escrita nos últimos três meses de 1921 e dedicada à violinista húngara Jelly d’Aranyi, sobrinha-neta de Joachim, que estreou a obra com Bartók em Londres no dia 24 de março de 1922, seguida de uma performance em Paris. Entre julho e novembro do mesmo ano, ele escreveu uma segunda sonata para Jelly d’Aranyi, que ela executou pela primeira vez com o compositor em Londres em 7 de maio de 1923. Ambas as sonatas são altamente originais e muitas vezes adstringentes, mostrando evidente influência húngara na figuração rítmica, na escolha de certos intervalos melódicos e no humor. Foi também para Jelly d’Aranyi que Ravel, um compositor também fascinado pelos problemas de combinar o timbre das cordas com as qualidades percussivas do piano, escreveu sua Tzigane.

As Danças Folclóricas Romenas formam uma suíte de seis peças curtas para piano compostas por Béla Bartók em 1915. Mais tarde, ele as orquestrou para duos e pequeno conjunto. É baseada em sete canções romenas da Transilvânia, originalmente tocadas com violino ou flauta de pastor.

Béla Bartók (1881-1945): Obras Completas para Violino e Piano (Ehnes / Armstrong) #BRTK140


CD 1

Rhapsody No. 1, BB 94a (Folk Dances) (1928) (10:25)
1 I. (‘Lassú’.) Moderato – 4:32
2 II. (‘Friss’.) Allegretto Moderato – 3:47
3 [Agitato] 2:06

Sonata No. 2, BB 85 (In C Major) (1921) (20:07)
4 I. Molto Moderato – 8:29
5 II. Allegretto 11:36
Rhapsody No. 2, BB 96a (Folk Dances) (10:33)
6 I. (‘Lassú’.) Moderato – 4:20
7 II. (‘Friss’.) Allegretto Moderato – 6:11

Sonata No. 1, BB 84 (In C Sharp Minor) (1921) (33:35)
8 I. Allegro Appassionato 12:23
9 II. Adagio 11:23
10 III. Allegro 9:47

11 Andante, BB 26b In A Major Compiled By [Edited By] – László Somfai 4:00

Alternative Ending For Part II Of Rhapsody No. 1
12 Accelerando – A Tempo ♩ = 168 0:24
13 [Agitato] 1:23

CD 2

Sonata, BB 124 (1944) (25:43)
1 Tempo Di Ciaccona 9:06
2 Fuga 4:18
3 Melodia 7:13
4 Presto 5:05

Sonata, BB 28 (1903) (30:05)
5 Allegro Moderato (molto Rubato) – Maestoso – Meno Mosso (Moderato) – Più Vivo – Meno Mosso – Quieto – Più Vivo – Moderato – Quieto, Rubato – Moderato – Quieto Molto 9:39
6 Andante – Più Vivo – Poco Maestoso – Quieto – Tempo I 10:52
7 Vivace – Vivace Molto – Presto 9:31

Hungarian Folksongs, BB 109 (1931) Transcriptions Of Nine Pieces From For Children, BB 53 (9:14)
8 Book II No. 34. Andante – Un Poco Più Lento – 1:30
9 Book II No. 36. Allegretto – 0:28
10 Book I No. 17. Lento, Ma Non Troppo – 1:17
11 Book II No. 31. Allegro 0:59
12 Book I No. 16. Lento, Poco Rubato – 1:35
13 Book I No. 14. Allegretto – 0:26
14 Book I No. 19. Allegretto Scherzando – 0:34
15 Book I No. 8. Sostenuto – Allegro – Adagio – Sostenuto – Allegro – Adagio – Sostenuto – Allegro – Adagio – 1:18
16 Book I No. 21. Allegro Robusto – Sostenuto – Tempo I – Un Poco Sostenuto – Tempo I – Sostenuto – Tempo I – Sostenuto – Tempo I 0:59

Hungarian Folk Tunes (1926 – 27), Transcriptions Of Seven Pieces From For Children, BB 53 (7:41)
17 Book II No. 28. Parlando – 1:05
18 Book I No. 18. Andante Non Molto – 0:54
19 Book II No. 42. Allegro Vivace 1:33
20 Book II No. 33. Andante Sostenuto – 1:32
21 Book I No. 6. Allegro – 0:40
22 Book I No. 13. Andante – 0:54
23 Book II No. 38. Poco Vivace 0:56

Romanian Folk Dances (1915 – 16), Transcriptions For Violin And Piano Of Romanian Folk Dances, BB 68 (5:23)
24 (Joc Cu Bâtă (Stick Dance].) Allegro Moderato 1:13
25 (Brâul.) Allegro – 0:26
26 (Pe Loc [In One Spot].) Andante 0:58
27 (Buciumeana [Dance Of Bucium].) Molto Moderato 1:17
28 (Poargă Românească [Romanian Polka].) Allegro – 0:30
29 (Mărunţel [Fast Dance].) Allegro – Più Allegro 0:55

James Ehnes – Violin
Andrew Armstrong – Piano

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PQP

.: interlúdio :. Keith Jarrett e seu Quarteto Escandinavo: Sleeper

.: interlúdio :. Keith Jarrett e seu Quarteto Escandinavo: Sleeper

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Um tremendo disco. Houve época em que Keith Jarrett tinha dois quartetos, um estadunidense e um escandinavo. Os dois eram fantásticos, mas sempre preferi o escandinavo. Talvez fosse o repertório, talvez fosse a presença do esplêndido saxofonista norueguês Jan Garbarek. Este concerto, gravado em Tóquio no dia de 16 de abril de 1979, traz algumas das melhores coisas do grupo escandinavo: a espetacular Personal Mountains — impossível de ouvir apenas uma vez — , a canção de Innocence, o quase pop de Chant Of The Soil e também New Dance. Um concerto absolutamente anormal.

Keith Jarrett e seu Quarteto Escandinavo: Sleeper

CD1:
1. Personal Mountains
2. Innocence
3. So Tender

CD2:
1. Oasis
2. Chant Of The Soil
3. Prism
4. New Dance

Personnel:

Keith Jarrett: piano, percussion
Jan Garbarek: tenor and soprano saxophones, flute, percussion
Palle Danielsson: double-bass
Jon Christensen: drums, percussion

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A moda em 1979 era bem diferente e pioraria muito nos horrendos anos 80.
A moda em 1979 era bem diferente da de nossos dias. Ela só pioraria nos anos 80…

PQP

Giuseppe Verdi (1813-1901): Giovanna d’Arco (Caballé, Domingo, Milnes, Levine)

Giuseppe Verdi (1813-1901): Giovanna d’Arco (Caballé, Domingo, Milnes, Levine)

NOVE – GIOVANNA D’ARCO” MA SENZA ROGO

Pode ser que algumas obras de Verdi não originem hoje as emoções, não provoquem o delírio que despertavam naquela época atribulada na Itália; nem por isso deixaram de prosseguir seus caminhos. Compostas, orquestradas para o público contemporâneo, por estes foram escutadas, preferidas, festejadas. Naquela temporada de 1844-45 Roma era um barril de pólvora, os Estados Papais e os Estados de Bourbon foram testemunhas de ações revolucionárias promovidas por partidários de Giuseppe Mazzini (os Mazzinianos extremistas, organizaram um movimento político chamado Jovem Itália. O lema era “Deus e o povo” e o seu objetivo era a união dos estados italianos numa única república). Tinham começado em Savigno Bolognese e Imola, com resultados muito graves para os insurgentes, detenções e muitas mortes.

Giuseppe Mazzini (1805-1872)

Verdi aparentemente não participou de nada além do trabalho para o teatro. Após as positivas apresentações de “Idue Foscari”, em Roma, o maestro voltou a Milão. Lá ele era aguardado com alegria pelos amigos Toccagni, Tito Ricordi, Pedroni (também amigo de Donizetti) e pelo irreprimível “Calimero” Pasetti. No dia seguinte a sua chegada, almoçaram juntos e brindaram com vinhos franceses. Foram eles os únicos a lhe fazer companhia, além de Muzio, naquele outono e inverno milaneses que, generosamente, distribuía frio e neve em grandes quantidades.

Una prova al teatro alla Scala secondo un dipinto del Focosi

Em dezembro, a composição da então “Joana d’Arc” começou, quase imediatamente interrompida pelos ensaios e preparação de “I Lombardi” que ocorreria em 26 de dezembro no La Scala. Os ensaios (I Lombardi ) deram muito trabalho ao compositor e, mesmo que trabalhasse com determinação e fúria, não ficou satisfeito; na verdade, ele nem mesmo compareceu às primeiras apresentações no teatro tal o desapontamento com a falta de recursos disponibilizados pela gerência na montagem. Conta-se que o maestro durante os ensaios dos lombardos tivesse decidido não mais compor para o Scala.

O biógrafo milanês Carlo Gatti (1876-1965) nos conta que “A tendência das apresentações musicais no La Scala tornaram-se insuportáveis. A festa de vaidades e arrogância que imperava entre as “estrelas” dominavam: são duas ou três, pagas com abundância pelo empresário, que gasta até o que não tem, contando com este poder das “estrelas” para atrair o público, e é obrigado a economizar em todo o restante. A orquestra insuficiente em termos de instrumentistas e mal distribuída. Os coros são desajeitados na movimentação e na organização. Os cenários e as roupas muitas vezes antigos e remendados. Contra este mau hábito surge o vigor de Verdi, chama para si a responsabilidade de melhorar as apresentações do La Scala. Ele se prepara para reconstruir a orquestra, para equilibrá-la, para completá-la nas várias famílias de instrumentos. Em seguida, ele se volta para melhorar o desenho dos cenários, as luzes, a disposição das salas; ele espera dos cantores uma participação mais próxima e calorosa na representação das histórias dramáticas. O compositor pula no palco, estala os dedos, marca o tempo com os pés como se quisesse tirar dele um lampejo de chama. Em muitas outras montagens pelos palcos que atuou ele se entregará com a mesma energia. Essa energia, esbanjada em cada momento de sua atividade e em cada problema, fez com que superasse com excelentes resultados, muitas vezes extraordinários, o altíssimo número de produções teatrais montadas depois de 1842: “De Nabucco em diante não tive, pode se dizer, uma hora de calmaria. Foram dezesseis anos de trabalho ininterrupto! “, ele escreveu a Maffei em maio de 1858.”

L’interno di un palco di quinta fila del Teatro alla Scala 1844

As cartas que Muzio escrevia a Barezzi (ou Barezzone, como os amigos o chamavam) deste tumultuado dezembro de 1844 são interessantes: “Vou aos ensaios com o Maestro e lamento vê-lo cansado; grita que parece desesperado; bate o pé tanto que parece tocar órgão com pedaleira; transpira tanto que cai na partitura. O Maestro não assistiu às primeiras apresentações do “I Lombardi”… se ele estivesse lá teriam corrido bem, pois nos ensaios a música estava melhor do que nas apresentações. Falei isso para o Maestro, de que quando ele está lá um simples olhar, um sinal dele e os cantores, os coros e a orquestra parecem ser tocados por uma faísca elétrica, e então vão muito bem… ”

Após alterações dos censores a ópera muda de nome para “Giovanna d’Arco” que é um “dramma” lirico dividido em um prólogo e três atos, o maestro havia sugerido ao empresário Merelli que Temistocle Solera fosse contratado como o libretista. Solera foi devidamente contratado e – com típico exagero – destacou o fato de que seu libreto sobre a vida de Joana d’Arc era “original”, não devendo nada a Shakespeare ou a Schiller. Podemos afirmar então que o libreto de Solera foi inspirado apenas “vagamente” na peça “Die Jungfrau von Orleans” de Friedrich von Schiller (1759-1805). Ela é a sétima ópera de Verdi. Verdade seja dita que a obra reflete, apenas em parte, a história de Joana d’Arc. Verdi retoma, assim, a veia épica religioso-popular e faz da famosa história uma lenda, uma carta sagrada que deriva não só do libreto, mas da música.

Schiller (1759-1805) – il tuo libretto ricorda “vagamente” la mia storia, va bene Temistocle, va bene.

A Sinfonia, dividida em três partes, coloca na primeira uma atmosfera de tragedia tempestuosa, em que o motivo pastoral que se segue evoca a vida pacífica dos suíços, como em “Guilherme Tell” de Rossini, retratando a feliz menina do campo Giovanna. Mas o final “Allegro”, que assume o clima de uma grande tragédia, acolhe o tema do triunfo militar, o coro do povo, na abertura do prólogo, sente a força esmagadora do opressor. Embora inspirado nos grandes coros patrióticos de obras anteriores, tem a angústia, a força dobrada da “pátria oprimida”. As injúrias contra os estrangeiros são sensacionais, os gritos das mulheres são igualmente comoventes.

A partitura foi escrita durante o outono e inverno de 1844-45. Sua primeira apresentação no La Scala em 15 de fevereiro de 1845 foi um grande sucesso de público, apesar de que os críticos foram bastante desdenhosos com a ópera. Porém naquela temporada foi um “êxtase recebido” pelo público e foram dadas respeitáveis 17 performances. Porém ao final, pelo fato do envolvimento exaustivo do maestro em todas as fases da montagem, como dissemos, os padrões de produção estavam muito abaixo das suas expectativas e causaram uma rixa entre ele e Merelli que resultou em anos sem estreias das obras de Verdi no La Scala: a Giovanna original era Erminia Frezzolini, que já havia estreado “I Lombardi alla prima crociata”, dois anos antes. O próprio Verdi estimava seu trabalho, mas estava descontente com a forma como ela havia sido imposta para o papel pelo teatro, caracterizando as normas da deterioração das produções de Merelli. Além disso, devido a subterfúgios nas negociações de Merelli para adquirir os direitos de pontuação junto a editora Ricordi, o compositor jurou nunca mais lidar com o empresário, e nem a pisar no palco do La Scala. Na verdade, o teatro teria que esperar por 36 anos para outra estréia da obra de Verdi, que seria a versão revisada do “Simon Boccanegra”.

Frontespizio d’epoca di Giovanna d’Arco

Giovanna, uma sagrada guerreira, incomodou os apáticos habitantes do teatro milanês durante os ensaios da ópera a ela dedicada. Na verdade, também parecia contrastar outras produções em andamento, como se o arcanjo da confusão tivesse entrado nas “dependências” do La Scala. As fieis descrições que Muzio fazia para Barezzi contava a vida no teatro: “Giovanna está sempre sendo representada às quartas, quintas, sábados e domingos; e estes dias o teatro fica lotado como nas primeiras noites … se não fosse essa ópera o negócio da companhia ia mal. Merelli ainda queria contratar o Sr. Maestro para mais algumas temporadas por qualquer valor po ele estipulado, mas o Maestro não quer mais escrever para o La Scala; nem encenar ou dirigir nenhuma de suas obras; e ele diz que não vai pisar naquele palco novamente.” E como que para reforçar a ameaça dessas nuvens negras e raios, ele conta sobre um infortúnio acontecido naqueles dias nas dependências do grande teatro: “No La Scala também temos um grande baile, do qual gostamos muito, é decorado com um luxo de surpreender, em dado momento o palco se transforma no Grande Teatro Fenice iluminado para festa; com um surpreendente e variado número de máscaras, uma delícia. Ontem à noite despencou um dos cenários enquanto se fazia o baile, a madeira que a sustenta estava rachada há muito tempo e ontem ela quebrou e caiu em cima de quatro pessoas nos ombros, foi uma confusão; a vida era temida; a cortina caiu; as senhoras que estavam no baile ficaram com muito medo; e dizem que uma chegou a dar à luz (uma menina). Foi muito assustador.”

Giovanna d’Arco

Mas além do “mau-olhado”, como Giovanna se saiu ? Muzio sugeriu um resultado muito bom; basicamente a música de Giovanna deu certo e em abril já se ouviam na rua: “Já temos a música da Giovanna nos órgãos que funcionam e as bandas sempre tocam”, confirma Muzio. A ópera não foi um triunfo. As falhas de Giovanna recaíam principalmente no libreto, e Donizetti também defendeu isso ao escrever ao cunhado Antonio Vasselli: “Você viu que a música de Verdi foi muito bem em Milão. Dizem que ele escreveu boa música para um libreto infame”. Solera guardou as inexatidões históricas esquecendo a visão poética, e procurando antes o sensacionalismo teatral reduzindo a três as personagens principais: Giovanna e o Delfim de França (Carlo VII) protagonistas de um amor amaldiçoado e Giacomo, o pai de Giovanna, que surge como denunciante da própria filha a qual, além de práticas de bruxaria, acredita ter uma ligação amorosa com o Delfim, os críticos não perdoaram. Mas, enfatizamos, Verdi estava na crista da onda e dificilmente teria caido dela; uma recepção fria não era suficiente para mortificá-lo: em suas obras o público agora reconhecia uma grande parte de si mesmo, de suas esperanças, afetos e sofrimentos. Até os grandes da ópera o reconheciam com mérito, e o próprio

Rossini (1792-1868) – scusa, ma non sono andato all’opera per il mio punto di ebollizione, sai com’è giusto Giuseppe?

Rossini, ao enviar-lhe votos de felicidades para Giovanna a partir do final de janeiro, escrevera-lhe de maneira familiar, com estima, o aposentado maestro o agradece por ter gentilmente escrito para seu amigo, o tenor Nicola Ivanoff, um novo Finale da segunda parte de Ernani. O tenor a cantou em Parma com grande satisfação, e deve-se acrescentar que Verdi também gostou. Além disso, Rossini pagou generosamente a Verdi pela inserção da área, e informou que tinha ouvido falar da “fúria” causada em Florença pelo “Due Foscari” e pediu desculpas por não ter respondido antes devido a uma espinha que tinha “pernas e braços comprometidos e sem falar da dor que sentia”. Reza a lenda quando um Rossini vem falar com você sobre seus furúnculos, significa que você está “dentro” de sua estima sincera. E isso significa que é hora de ir em frente sem desacelerar. “Tampe seus ouvidos à crítica (nenhum crítico jamais foi capaz de determinar as escolhas de um músico), cerrar os dentes e pronto”. Verdi então se declarou satisfeito com o trabalho realizado, amou Giovanna com amor convicto.

Frontespizio del libretto di Orietta di Lesbo titolo imposto della censura papalitina alla Giovanna d’Arco

Para a primeira produção da ópera em Roma, três meses após a estréia de Milão, a trama teve de ser alterada sem qualquer conotação religiosa por ordem do censor papal. O título foi alterado para “Orietta di Lesbo”, a ação foi deslocada para a ilha grega da heroína, agora de origem genovesa, que tornou-se uma líder contra os turcos. Performances deste título foram também dada em Palermo, em 1848. Para os próximos 20 anos, Giovanna d’Arco teve sucesso contínuo na Itália, aparecendo em Florença, Lucca, e Senigallia, em 1845, Turim e Veneza, em 1846, Mantua, em 1848, o Milão novamente mais três vezes em 1851, 1858 e 1865.

 

O Enredo
Dramma lirico em um prólogo e três atos de giuseppe Verdi para um libreto de Temistocle Solera, baseado “só de leve” na peça “Die Jungfrau von Orleans” de Friedrich von Schiller; Milão, Teatro alla Scala, 15 de fevereiro de 1845.

Local: Dom-Rémy, Reims e perto de Rouen em 1429

Como dissemos a bela abertura está dividida em três movimentos. O primeiro é tempestuoso e incerto; o segundo é um Andante pastorale com flauta solo, oboé e clarinete (com os tons da abertura “Guillaume Tell” de Rossini); o último retorna ao tempestuoso menor, mas termina em um triunfante e belicoso maior. Não chega a ser uma obra-prima, mas ocasionalmente é apresentado nas salas de concertos.
O prólogo, dividido em duas seções, é repleto de eventos.

Prólogo.
Cena 1 – Um grande salão em Dom-Rémy
O Prólogo passa-se em Dom-Rémy, terra natal de Giovanna d’Arco, onde os habitantes se inquietam com as notícias da guerra trazidas pelos oficiais do exército francês que dizem que o país está a ser destruído por bárbaros ingleses, e que Orleans está sitiada devendo sucumbir a qualquer momento. A cena de abertura é uma cavatina convencional para o tenor, embora com intervenções corais invulgarmente importantes (Verdi e Solera sem dúvida desejavam manter sua imagem com os milaneses depois de Nabucco e eu Lombardi). Mesmo antes de o tenor entrar, o coro uníssono condena o triste destino da França em “Maledetti cui spinge rea voglia”, e as forças corais são novamente proeminentes nos movimentos líricos do solista, particularmente em um tempo di mezzo excepcionalmente longo. O rei Carlo VII, após admitir a derrota, narra um sonho (“Sotto una quercia”, faixa 04). Ele diz que uma imagem da Virgem que encontrara num altar na floresta lhe dera ordem para entregar as armas. Pela descrição que faz do local, os aldeões dizem tratar-se duma região assombrada habitada por espíritos malignos. Mas o Delfim ri-se dessa superstição popular, e dirige-se para o local da floresta onde está o altar com a imagem da Virgem para aí depor a sua espada e o seu elmo dizendo ser seu desejo de libertar-se do peso da coroa.

Cena 2 – Uma floresta
Giacomo aparece para uma breve cena, expressando temores de que sua filha Giovanna possa estar aliada ao diabo. Em um andante beliniano altamente ornamentado (“Sempre all’alba ed alla sera”, faixa 09), ela ora por armas na batalha que se aproxima. No interior da floresta, junto do altar, Giovanna reza revelando à Virgem o estranho pressentimento que a persegue e que lhe diz ter sido incumbida duma missão. Faz então um pedido: “uma espada e um elmo para ir combater o invasor”. E continua a repetir “uma espada e um elmo” até adormecer. Quando ela adormece, um coro de demônios (recomendando alegremente os pecados da carne) e de anjos (prometendo sua glória como salvadora de seu país) brigam por sua atenção. Chega então o Delfim que vem cumprir o prometido, e coloca aos pés da imagem da Virgem as suas armas. Enquanto isso acontece Giovanna continua a sonhar: espíritos malignos dizem-lhe para reparar no jovem que a observa com olhar apaixonado, enquanto visões celestiais a aconselham a abdicar do amor carnal, e a entregar-se à missão de libertar a França em nome de Deus. A esta exortação Giovanna responde estar pronta. O Delfim ouve o grito da jovem e aproxima-se. Giovanna reconhece-o, e devolve-lhe a espada e o elmo que encontrara junto do altar, suplicando-lhe que não abandone o combate, e dizendo que irá estar ao seu lado comandando os seus exércitos. Impressionado com o tom profético do apelo da jovem o Delfim cede. Eles se unem em uma cabaleta animada e sincopada, durante a qual Giacomo os vê juntos e conclui que sua filha enfeitiçou de alguma forma o rei originada pela influência dos espíritos malignos. Profere então uma maldição contra a filha. (a belíssima faixa 12, o Placidão, Milnes e Caballé estão excelentes! ).

Bozzetti di Giuseppe Bertoja

Ato 1
Cena 1 – Um lugar remoto espalhado por pedras no acampamento inglês perto de Reims
A música gloriosa que inicia o ato é a peça coral “Ai, lari … Alla pátria” (faixa 13 – ela foi posteriormente “reciclada” no “Requiem”).Os soldados ingleses foram derrotados e lamentam os seus mortos dizendo que a derrota se deveu a poderes sobrenaturais que protegem os franceses desde o aparecimento do novo comandante dos exércitos, uma camponesa de Dom-rémy. Mas o comandante Talbot discorda, diz que é tudo imaginação originada pelo medo. . Giacomo chega para anunciar que a mulher que inspira as forças francesas pode ser sua prisioneira naquela noite. Num sostenuto Andante, “Franco son io” (faixa 15), ele vem oferecer-se para lhe entregar a filha que acredita ter desonrado o seu nome ao ligar-se a Carlos VII; a cabaleta seguinte, “So che per via di triboli” (faixa 16), explora os sentimentos ternos de um pai. A progressão usual do lacrimoso Andante para a cabaleta energética é então revertida, o que permite uma cabaleta Donizettiana de ritmo moderado e incomumente comovente, totalmente carente do impulso rítmico Verdiano característico.

Cena 2 – Nos jardins da corte em Reims
Giovanna diz sentir-se feliz por se ver livre do elmo e da espada, e por poder descansar em trajes de mulher sem ser importunada pelos clamores da multidão Mas não está disposta a deixar Carlos e a corte: as vozes demoníacas ainda a atormentam. Ela canta sobre sua casa na floresta simples em “O fatidica foresta” (faixa 18) outro exemplo delicioso de pastoral Verdiana. Particularmente notável e lindíssimo é o adagio “T’arretri e palpiti!” (faixa 20), Carlos VII oscila entre o desconforto com o comportamento dela e as tentativas de acalmá-la com expressões de amor. Num instante de fraqueza Giovanna responde que também o ama. Mas as vozes celestiais voltam a manifestar-se dizendo-lhe que deve resistir a todos os desejos terrenos. O Delfim não ouve as vozes, e não entende a reação da jovem que inexplicavelmente recusa o seu amor. Chega então um oficial que diz que o povo está junto da catedral para assistir à cerimônia da coroação. O Delfim diz a Giovanna que será ela quem o irá coroar e que só aceitará a coroa se for posta pelas suas mãos. Enquanto os dois seguem juntos para a catedral ouvem-se as vozes dos espíritos malignos que rejubilam por aquela que julgam ser a sua vitória sobre a inocência de Giovanna. “Vieni al tempio” (faixa 22).

Bozzetti di Giuseppe Bertoja

Ato 2
Uma praça em Reims junto da catedral
Uma “grande marcha triunfal” em louvor de Giovanna e Carlo VII e da sua vitória sobre o invasor. A procissão entra na catedral. Giacomo entra também: ele pretende denunciar a filha publicamente. É assim que, depois da coroação, quando o Delfim proclama Giovanna padroeira da França, Giacomo observa, dando vazão ao seu zelo religioso em uma romanza menor-maior, “Speme al vecchio era una figlia” (faixa 24), denuncia sua filha sai de entre a multidão acusando-a de blasfêmia, e dizendo que a filha foi buscar os seus poderes nas práticas de bruxaria. O movimento mais interessante é o Andante, “No! forme d’angelo” (faixa 27): fragmentos de duetos desacompanhados de Carlos VII e Giacomo são justapostos com um cantabile estendido para Giovanna; ai Verdi encontra espaço para dar asas à sua sensívell personalidade musical. O Delfim não acredita, defende Giovanna com veemência, mas a jovem fizera um voto de silêncio e nada declara em sua defesa se recusa três vezes a negar as acusações de sacrilégio de Giacomo. Esse silêncio é interpretado por todos como uma confissão de culpa, e o Delfim vê-se obrigado a entregá-la aos ingleses que lhe reservam o destino da fogueira, o dramático e grandioso fim do ato, “Ti descolpa” (faixa 28).

Ato 3
Dentro de uma fortaleza inglesa junto do campo de batalha
Giovanna está presa por correntes a um banco, observa enquanto os ingleses e franceses lutam, notando com consternação que Carlos VII foi cercado e ao ouvir as sentinelas falar da batalha implora que a soltem para poder ir combater. Chega Giacomo, seu pai. Ele acredita que Giovanna continua a pensar no amante, mas acaba por compreender que ela reza e que as suas orações se dirigem a Deus, portanto ela é inocente daquilo que ele a acusara. As fervorosas orações de Giovanna alertam Giacomo para o erro da acusação, e eles se unem em um dueto de explicação e reconciliação, cuja seção mais impressionante é o lento movimento lírico, “Amai, ma un solo istante” (faixa 30), no qual uma sucessão comovente de as ideias melódicas sustentam a aceitação gradual do pai da pureza da filha. Decide então libertá-la, e abençoa-a.

Depois de aceitar a benção do pai, Giovanna corre para ajudar os franceses, pega a sua espada e parte para o campo de batalha. É pela voz de Giacomo que ouvimos a descrição da batalha, que com a ajuda de sua filha a balança pendeu decisivamente contra os ingleses. Carlos VII sai vitorioso, perdoa Giacomo, mas fica sabendo que Giovanna foi gravemente ferida. Na romanza “Quale più fido amico” (faixa 35), delicadamente composta para trompa inglesa solo e violoncelo, ele lamenta sua perda. Giovanna é levada ao ritmo de uma marcha fúnebre e tem força suficiente para saudar o pai e o rei e aguardar as boas-vindas no céu. Ela lidera o conjunto final com um solo elaboradamente ornamentado acompanhado por violoncelo de obbligato antes de um longo tema, a donzela, cujo rosto parece iluminado por uma aura misteriosa, ouve uma última vez as vozes celestiais antes de morrer.

Cai o pano
——————————

O libretto de Solera é bem distante dos fatos históricos e pode deixar a desejar, mas a música é de Verdi, o jovem gênio de 31 anos que mostra muitas dicas emocionantes do que está por vir. Uma das coisas mais interessantes que este obscuro admirador percebeu ao elaborar os textos e performances destas primeiras óperas de seus “anos de galera” é ouvir os pré-ecos das obras-primas do futuro. Verdade que não há uma única melodia famosa na bela Giovanna d’Arco, mas eu adorei cada momento. É como ir ao “Cirque du Soleil” e voltar para casa com imagens vagas das maravilhas da vida na Terra. Os fãs de Verdi, assim como os que não o conhecem, vão se deliciar com esta ópera! É mais uma bela jóia Verdiana negligenciada. Então aí está, vale a pena sim a audição. Que subam as cortinas e se inicie o estpetáculo !!!!!

Giuseppe Verdi – Giovanna d’Arco
Personagens e Intérpretes

Vamos compartilhar com os amigos do blog esta clássica gravação feita em 1972 que dificilmente acusa sua idade. Esta gravação da ópera merece ser ouvida por seus ritmos enérgicos, instrumentação de metal, melodias folclóricas e lirismo, além de ser bem curtinha (quase duas horas). É uma bela obra de Vedi mas com ecos de Donizetti, cada personagem recebe uma parte justa de árias solo, assim como eram as ópera sérias dos tempos passados, as cabalettas voam, permitindo amplo espaço para interpolação e exibição de notas altas. A Giovanna de Caballe tem a maior parte da glória da interpolação, e aqui está ela, flutuando sua marca registrada o pianissimi

Placidão fazendo uma massagem para a Montserrat relaxar.

em peças como “O fatidica foresta” (faixa 18), a peça mais lírica da obra, e último trio “Che mia fu” (faixa 37). Caballe lida facilmente com a coloratura do papel-título. A voz da Montserrat nesta gravação, para este admirador, é um pote de ouro puro 18k, e seu envolvimento e entrega por si só valeria o download, eu posso entender claramente porque ela tem tantos fãs. O jovem Plácido Domingo em seu auge vocal inicial, estava com 31 anos nesta gravação, no qual a voz está em seu estado mais doce e totalmente impassível. A nota alta no final da cabaleta de “Pondo e latal, martiro” (faixa 06) raramente é ouvida nas produções de Domingo em seus anos mais maduros me lembra “di quella pira”. Esses foram os primeiros anos de sua carreira e o estímulo da crítica ainda não havia impulsionado o cantor a expandir os centros para emular a sensualidade carusiana. Domingo mostra-se totalmente à vontade e também sempre foi um excelente intérprete, capaz de explorar da melhor forma a beleza do timbre para fins amorosos, com um sotaque nobre e eloquente . A excelente dicção faz o resto. Faço um discurso semelhante para Milnes. A voz extensa era usada com frequência em papéis dramáticos de barítono, seus melhores momentos foram os líricos, e de fato no papel deste Giacomo consegue encontrar-se perfeitamente à vontade tanto no erro como na dor do pai. Robert Lloyd também em ótima forma oferece um belo canto em seu poderoso baixo.

A qualidade do som é excelente e o então promissor maestro de 29 anos, James Levine, faz um trabalho maravilhoso, começando com a abertura deliciosa, até os refrões finais. Levine tem uma afinidade especial por esse repertório. Sua energia irresistível, até atrevida, mantém as atenções presas, uma explêndida execução. O coro ambrosiano e a The London Symphony Orchestra são excelentes como sempre. Esta gravação eu recomento fortemente, muito bem feita.

Giovanna – Montserrat Caballé
Carlo VII – Placido Domingo
Giacomo – Sherrill Milnes
Delil – Keith Erwen
Talbot – Robert Lloyd

The Ambrosian Opera Chorus – Chorus Master – John McCarthy
The London Symphony Orchestra
James Levine
Recorded: 01 sep 1972

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Milnes, Montserrat, Levine e Placido acertando os últimos detalhes para uma canja no PQPBach Ópera House – sede Itatiaia-RJ

Ammiratore

Obrigado, Julio!

Obrigado, Julio!

Não que queiramos nos gabar ou provocar inveja em ninguém — até porque não é do nosso feitio –, mas ontem postamos justas e copiosamente homenagens a Astor Piazzolla.

Pois bem, e recebemos este comentário desde Buenos Aires:

Espero que a algún bloguero argentino se le ocurra hacer un homenaje a Ástor tan bueno como el de ustedes.
Un abrazo emocionado,

Juliowolfgang desde Buenos Aires (a diez cuadras del Abasto, donde vivió Gardel).

Tão chato ser gostoso.

(O pessoal da  PQP Bach Corp. agradece igualmente emocionada).

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Escalandrum ‎– Piazzolla Plays Piazzolla #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Escalandrum ‎– Piazzolla Plays Piazzolla #Piazzolla100

Um bom disco de Piazzolla para fechar o dia dos 100 anos de Piazzolla. Escalandrum é um dos conjuntos musicais de tango e jazz mais bem-sucedidos da Argentina, liderado por Daniel “Pipi” Piazzolla, baterista e compositor multipremiado e neto do mestre do tango Astor Piazzolla. O repertório de Escalandrum inclui uma ampla gama de composições de tango de Astor Piazzolla, bem como a própria música da banda, que se baseia muito mais no jazz contemporâneo e reúne o melhor desses dois mundos. Curiosamente, Escalandrum não inclui bandoneonista nem vocalista.

Bem, poucas figuras na história da música argentina levaram o conceito de vanguarda tão a sério quanto Piazzolla. Traidor do tango para alguns, renovador do tango para outros, é inegável sua contribuição para que o ritmo portenho por excelência rompesse com uma certa rigidez do compasso de dois por quatro e voasse mais livre, como só o jazz pode ser. Aqui, temos um grupo competentíssimo comprovando isso.

Escalandrum ‎– Piazzolla Plays Piazzolla

1 Lunfardo 6:27
2 Buenos Aires Hora Cero 5:17
3 Vayamos Al Diablo 3:41
4 Oblivion 4:56
5 Tanguedia 1 4:37
6 Fuga 9 5:04
7 Escualo 4:00
8 Romance Del Diablo 5:37
9 Adios Nonino 8:52
10 Libertango 8:25

Alto Saxophone, Soprano Saxophone – Gustavo Musso
Bass Clarinet, Baritone Saxophone – Martin Pantyrer
Double Bass – Mariano Sivori
Drums – Daniel “Pipi” Piazzolla
Piano, Arranged By – Nicolás Guerschberg
Tenor Saxophone – Damián Fogiel

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A alegria contagiante do Escacandrum durante a festa de inauguração da sede portenha do PQP Bach.

PQP

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla ‘78 #Piazzolla100

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Piazzolla ‘78 #Piazzolla100

11 de março de 2021 – ‘Astor faz Cem Anos’- poderia ser título de um filme de Saura, ele que nos deu o magnífico ‘Tango’. Enfim, aos grandes, a grandeza. E Astor, como seu nome bem o denota, andava neste mundo desviando a fronte das tramas estelares, donde vez por outra colhia melodias sem igual. Despertei essa manhã com a súbita consciência de que sendo um Piazzóllatra apaixonado não poderia cometer o desatino de não homenageá-lo com uma postagem. Sem qualquer receio de jazer datado, quero dizer que na noite ontem, dia 6 de março, no Teatro Colón, se deu o segundo concerto da série de 13 dedicados ao mestre, transmitidos ao vivo pelas rádios de Buenos Aires. Que noite, amigos! Que música, que músicos, que arranjos, que emoções! Foi revivido o seu octeto eletrônico com o repertório dos tempos de Libertango; mais a presença da monumental Amelita Baltar cantando os seus lapidares sucessos junto a Astor. A mais plena glória concedida ao que muitos chamaram de “assassino do tango”. Consideremos, Astor era pirracento e costumava lançar um balde de gasolina nesse fogaréu, falando por exemplo que La Cumparsita seria o pior dos tangos que já tocara ou criticando antigos mestres e estilos nos quais sua própria obra encontrava raízes. Peço perdão se esse texto sai engessado, carente de graça ou leveza. Nesse momento, sob um mundo adoecido e a cidade em estado de lei seca, devo poupar os últimos quatro dedos de whisky para o terceiro concerto logo mais às 17 horas. Caminhemos, como diria Herivelto Martins.

Esse disco, também lançado como ‘Mundial 78’ na época, foi um trabalho ligado a um campeonato de futebol. Seus títulos se remetem ao nobre esporte. Sou a pessoa menos indicada do mundo para falar de futebol, tarefa que deveria, pelo maior zelo da justiça, caber ao compadre mestre Milton Ribeiro. Todavia, na infância, em casa dos meus avós e pais, testemunhava a emoção que efervescia nas Copas do Mundo. Lembro de momentos verdadeiramente mágicos, onde via nomes como Garrincha, Pelé, Rivelino, Tostão, um filosófico e etílico Dr. Sócrates; e nomes estranhos como Cafuringa e Beto Fuscão. Sei que eram verdadeiros deuses, voavam, para eles não existiria limites de gravidade e inércia. A bola os obedecia. Eram magos, certamente. Hoje não sei se isso ainda existe. Astor não foi ligado ao futebol até se encantar com o magnífico Maradona. Preferia pescar tubarões, conforme nos conta a excelente biografia de Maria Susana Azzi, que tive a grande sorte de conseguir. Que livro, uma obra definitiva sobre Piazzolla. No presente disco, cada faixa se remete a elementos do futebol, como poderemos ler abaixo. É um disco pequeno, porém concentrado. Um pequeno frasco com matéria radioativa. Toda beleza e intensidade da música de Astor se encontra nessa miniatura. Seu estilo, diríamos, melodinâmico, que evoca pelejas de facas e amores lancinantes, emoções intensas e melodias inebriantes, se adapta perfeitamente à ideia da peleja esportiva, com suas tensões, disputas, anseios, suor e esforços, tropeços, faltas, pênaltis, gols, fracassos, esperanças, vitórias por vezes amargas…

Sintonizo agora a rádio La 2×4 de Buenos Aires, já vai começar o terceiro concerto em honra ao grande Piazzolla. Não perderei nenhum. Encerro esse texto mal engendrado com um breve trecho do filósofo romeno Emil Cioran, como prece e reflexão nesses tempos enfermos. E que as emoções e a beleza da obra de Astor nos fortaleçam, encorajem e abençoem.

“Que o entusiasmo irrompa na existência e que a alegria se assemelhe aos grandes êxtases, e que nosso desejo de ser seja tão universal quanto a tristeza de ser. Em sua luta, que o desejo de ser encha de paixão as trevas das tristezas e que nossa sede de absoluto sacie sua infinitude na obscuridade.”

Astor Piazzolla: Piazzolla ‘78

1 Mundial 78
2 Marcación
3 Penal
4 Gambeta
5 Golazo
6 Wing
7 Corner
8 Campeón

Astor Piazzolla – Bandoneón, arranjos e direção
Arnaldo Ciato – Piano
Giani Zilioli – Órgão
Sergio Farina – Guitarra
Gigi Cappellotto, Giorgio Azzolini – Eletric Bass
Tullio de Piscopo – Drums
Sergio Almagano – Violino
Elsa Parravicini – Sax Alto
Hugo Heredia, Sergio Rigon, Giuseppe Parmigiani – Flautas
Paulo Salvi – Cello

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Astor faz 100 Anos

Wellbach

.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Luna #Piazzolla100

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Este incrível álbum é um dos poucos documentos registrados do sex-tet e que representa a última fase da carreira de Astor Pantaleón Piazzolla (1921-1992). A música é extremamente apaixonante e intensa. Este CD apresenta sete faixas extraídos de um concerto ao vivo em Amsterdam gravado em junho de 1989, as notas do álbum afirmam que foi o último concerto de Piazzolla com o seu sex-tet. Inclui clássicos do repertório como “Hora Cero” (originalmente intitulada “Buenos Aires Hora Cero”), “Milonga del Angel” e “Preludio y Fuga”. As outras quatro composições são geralmente menos conhecidas e pertencem ao período mais inovador do compositor, ou seja, quando a sua música se afastou mais do que nunca do ritmo estruturado do tango ao encontro do jazz do clássico moderno, influenciado por Bartók.

As faixas evoluem e o sex-tet toca mais como um apoio ao gênio de Piazzolla, sem solos prolongados de violino ou piano. Além disso, são usados dois bandoneons em vez de um, o violoncello substitui o violino e as partes do piano e da guitarra reforçam os tempos rítmicos juntamente com o uso de um contrabaixo. A interpretação soberba e a gravação excelente.

Apesar das inúmeras gravações feitas por este gigante do Bandoeon, esta gravação é uma das que mais gosto. Nas mãos de Astor e do sex-tet, a expressão da música é elevada, as modulações, dissonâncias, mudanças dinâmicas conferem a este álbum um dos melhores do mestre.

As faixas maravilhosas seriam “Hora Cero”, “Tanguedia”, a impressionante atuação de “Milonga del Angel”, o mestre está em ótima forma, o que dizer do duelo com o piano de Gerardo Gandini em “Camorra 3” com virtuosismo quase violento, e a maravilhosa “Luna” que encerra o álbum – pode ser esta versão a mais rica e sublime das inúmeras atuações feitas por este músico da poesia – nos transportam ao núcleo deste sensual, misterioso e fascinante universo de sombras, parcialmente iluminado onde a desilusão e a fragmentação se fundem para conformar uma espécie de tragédia noturna delirante.

Divirtam-se com a grande viagem pelo maravilhoso álbum “Luna”, como concerto final do mestre, gravado ao vivo em Amsterdam, a 26 de junho de 1989.

Astor Piazzolla – LUNA

1-Hora Cero
2-Tanguedia
3-Milonga del Angel
4-Camorra 3
5-Preludio y Fuga
6-Sex-Tet
7-Luna

Astor Piazzolla New Tango Sex-Tet
Astor Piazzolla – Bandoneon
Daniel Binelli – Bandoneon
Horacio Malvicino – Guitar
Gerardo Gandini – Piano
José Bragato – Violoncello
Hector Console – Double Bass

Amsterdam, a 26 de junho de 1989

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Ammiratore