Steve Hackett & Djabe – In the Footsteps of Attila and Genghis

Reconheço que meio que viciei nesse espetacular CD desde que me foi repassado por um querido amigo, que disse com palavras de quem já me conhece há bastante tempo: ouça pois tenho certeza de que vais amar.

E como não amar e se encantar com essa verdadeira viagem pela tal da “World Music” (nem sei se poderia classificá-lo desta forma), que reúne o lendário guitarrista da banda de Rock Progressivo Genesis Steve Hackett e o Grupo de Jazz húngaro Djabe? Poucas vezes ouvi a música ser tão universal, reunindo Ocidente e o Oriente. É até difícil classificá-los, pois o que ouvimos é uma perfeita junção do Jazz ocidental com a música oriental.  Só ouvindo para entenderem o que quero expressar.

Acompanho a carreira de Steve Hackett já há bastante tempo, e nunca deixo de me surpreender com a sua originalidade. Ele nunca teve medo de ousar, desde os tempos do Genesis, quando, ao lado de Peter Gabriel, Phil Collins, Mike Rutherford  e Tony Banks nos proporcionaram momentos de muito prazer com uma discografia impecável, mas isso é assunto para outra postagem. O foco aqui é o “Djabe”. Hackett já os acompanha há bastante tempo, então sua interação é perfeita. O mago inglês da guitarra entende que é apenas mais um, e deixa os outros músicos a vontade para improvisar. O que se ouve é uma aula de como se toca ao vivo, e claro, uma aula de improviso. Destacaria entre estes grandes músicos o baixista Tamás Barabás (seu solo na faixa 7 é algo digno de figurar entre os grandes solos do instrumento na história da música), e os trompetistas Ferenc Kovács e Áron Koós-Hutás (que me proporcionou um dos momentos mais memoráveis do álbum, na faixa “Ace Wands”), mas todos os músicos são excepcionais e fica difícil dizer qual a melhor faixa, mas arriscaria na faixa 7 do CD1, “Distance Dances”, onde os músicos do Djabe se sentem a vontade para improvisar. Coisa de gente grande mesmo.

Espero que apreciem. A empolgação que esse CD me causou me fez sentar novamente na frente do computador para preparar uma postagem depois de alguns meses. Não temo em dizer que é o melhor registro ao vivo que já ouvi em muito tempo.

CD 1

  1. Erdõ, Erdõ
  2. Firth of Fifth
  3. Dark Soup
  4. City of Habi
  5. The Steppes
  6. Pécs
  7. Distance Dances
  8. Clouds Dance
  9. Wind and Bell
  10. Sákira
  11. Ace of Wands

CD 2

  1. Dorombo
  2. Butterfly
  3. Last Train to Istambul
  4. In that Quiet Earth
  5. Genghis´Sword
  6. Behind the Veil
  7. Omachule – excerpt
  8. Steve´s Acoustic Set
  9. Scenes
  10. Los Endos

Steve Hackett – Guitarras elétricas e acústicas

Djabe

Szilárd Banai – Bateria
Tamás Barabás – Baixo
Áttila Égerházi – Guitarra, percussão e vocal
Ferenc Kovács – trompete, violino e vocal
Zoltán Kovács – Teclados
Áron Kóos-Hutas – Trompete

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.: interlúdio :. Goran Bregovic – Black Cat White Cat (Soundtrack) (2000)

.: interlúdio :. Goran Bregovic – Black Cat White Cat (Soundtrack) (2000)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

À exceção de West Side Story, não creio que exista uma trilha sonora de qualidade tão alta quanto Black Cat White Cat. Então… Vamos nos divertir de um jeito diferente hoje. A música popular dos Balcãs é uma coisa de louco. E Goran Bregovic é um dos principais artistas da região. Já tocou muitas vezes no Brasil, inclusive fez duas apresentações em Porto Alegre. Compositor, instrumentista, cantor e extraordinário arranjador, seus discos nunca são esquecíveis. Black Cat White Cat é a trilha sonora do filme homônimo de Emir Kusturica. Depois de vários trabalhos juntos a dupla se desentendeu.

Este CD dá uma mostra de quem é Bregovic. Não há economia, nem de alegria ou de criatividade, e muito menos de recursos. Há cantores, flautistas, cordas, organistas, grupos peruanos, de salsa e muita mas, muita música da Bósnia e da Sérvia com seus metais, metais, metais. O que há de tubas, trombones, trompetes e trompas é um absurdo. Além disso, há um grupo de rock que chega a cantar I want to break free em ritmo marcial… E cada um dos 30 temas têm arranjos inteiramente diferentes, cada um com personalidade própria. Há um compositor alucinado e um arranjador do tamanho de George Martin dentro de Bregovic.

Goran ...
Goran …

Goran Bregovic considera-se iugoslavo e os itálicos a seguir copio uma entrevista que ele concedeu ao El País espanhol em 2009, época do espetacular CD Alkohol:

Si tu país desaparece, descubres que no era algo político ni geográfico, sino emocional. No me siento represente de una nación o un Estado. Sólo represento ese territorio emocional que no tiene nada que ver con la política.

O que diz sobre os criminosos de guerra:

Creo que conozco a casi todos los criminales de guerra. Conozco a Radovan Karadzic, que antes de la guerra era poeta. Algunos de mis profesores de la Facultad de Filosofía están en La Haya. Eran políticos pequeños que creyeron interpretar personajes históricos. Los seres humanos están condicionados. Si les dejas la oportunidad de convertirse en animales se convertirán en animales. La cultura no nos protege.

Sobre o poder da arte mudar as pessoas:

A los artistas occidentales les gusta decir grandes cosas, como que la música puede cambiar el mundo. Vengo de un país comunista y sé dónde está el poder. Aunque trabajo con la misma temperatura que los artistas occidentales, sé que hay un largo camino hasta ser iluminado. Las luces pequeñas ayudan, pero en el fondo no cambian nada.

Sobre uma destas pequenas luzes, ele narra um acontecimento quando de seu primeiro concerto em Buenos Aires:

Al llegar al hotel me dieron un sobre que me habían dejado de parte de Ernesto Sábato. Contenía un libro, Sobre héroes y tumbas, y una carta en la que me pedía disculpas por no acudir al concierto. Me explicaba que mi música le había salvado en momentos de depresión. Lo curioso es que cuando hice el servicio militar en Nis, en la época comunista, robé de la biblioteca del cuartel un ejemplar de ese libro. Lo tuve en mi casa de Sarajevo durante años y lo perdí. Con la guerra perdí todo, también mi biblioteca. Puedes empezar dos veces tu vida, pero no puedes empezar dos veces una biblioteca. Todas las cosas grandes que me han pasado están guiadas por cosas pequeñas que se vuelven grandes, como el libro de Sábato.

Ele surpreende ao falar sobre algumas acusações de plágio:

Me llaman compositor porque compongo lo que ya existe. Así ha sido siempre, desde Stravinski, Gershwin, Bono, Lennon… Se trata de un viejo método: tomas algo de tu tradición, robas y dejas atrás cosas para que otros con talento roben también. La cultura es eso, una transformación continua.

E este filho de pai sérvio e mãe croata, casado com uma muçulmana, finaliza:

La guerra no es sólo matar gente, quemar casas, la guerra mata una infraestructura cultural, edificada por los hombres con gran dificultad durante mucho tiempo.

É uma boa entrevista. O que me emocionou foi a referência que ele fez a sua biblioteca perdida:

Com a guerra perdi tudo e também minha biblioteca. Podes começar tua vida duas vezes, mas não podes começar duas vezes uma biblioteca.

... Bregovic
… Bregovic

Eu nunca tinha pensado nisso. Uma biblioteca pessoal é algo que não se recomeça. Ou ela é inteira ou é um amontoado. Uma biblioteca sem as tantas bobagens lidas durante a adolescência, sem as anotações que não consigo deixar de fazer nos livros e sem as anotações dos amigos, deixaria de contar à sua maneira minha história e a de meu tempo. Eu não iria morrer sem esses 3000 ou mais paralelepípedos cheios de pó mal organizados às minhas costas. Mas perderia o meu mais importante meio de recordações, pois só consigo chegar ao PQP de 15 anos quando abro O Lobo da Estepe e constato o quanto amei e manuseei aquele exato livro que hoje leria com enfado. E quando abro Baía dos Tigres sei onde estava e o que pensava enquanto o lia e o mesmo ocorre com quase todos os outros. Sei lá por quê, minha vida tem largos períodos sem fotos e minha memória associa-se sempre aos livros. Não sei se esta é uma sensação comum às pessoas que leem permanentemente. Não sei mesmo. Aliás, antes do dia de hoje nem sabia que uma biblioteca não se recomeçava…

Goran Bregovic – Black Cat White Cat (Soundtrack) (2000)

01. Intro (El Pasa)
02. El Bubamara Pasa
03. Black Cat White Cat
04. Daddy Dance
05. The Szombathely Jiga (Ashik Cygan)
06. Bubamara (Main Version)
07. Daddy’s gone
08. Czardsz (Ashik Cygan)
09. Dejo dance
10. Lies
11. Flor De Venganza
12. Duj Sandale
13. Hunting
14. Bubamara (Spij Kochanie)
15. Spij Kochanie, Spij (Kayah)
16. Vivaldi (Bubamara Version)
17. Jek Di Tharin
18. Long Vehicle
19. Pit bull (Mixed by Pink Evolution)
20. Ja volim te jos – Meine Stadt
21. Bulgarian dance
22. Bubamara (Sunflower)
23. To Nie Ptak (Kayah)
24. Railway Station
25. Jek Di Tharin II (New Version)
26. Daddy, don’t ever die on a friday
27. 100 Lat Mlodej Parze (Kayah)
28. Bubamara (Tree Stump)
29. Prawy Do Lewego (Kayah)
30. Bubamara (Final)

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Bregovic + Kusturica: músicos por todo lado
Bregovic + Kusturica: músicos por todo lado

PQP

.: interlúdio :. Goran Bregovic – Silence Of The Balkans

.: interlúdio :. Goran Bregovic – Silence Of The Balkans

Este disco é chamado de “Silêncio dos Balcãs”, mas na verdade é o registro dos sons e do ritmo dos Bálcãs e da Geórgia. O álbum foi gravado ao vivo em Tessalônica, Grécia, em 30 de dezembro de 1997. Foi o espetáculo final da cidade como Capital Europeia da Cultura de 1997. Na apresentação da última música, 3 crianças (uma da Sérvia, uma muçulmana e uma do Croata) de um orfanato em Sarajevo, pedem paz. Funções ao vivo de: Orquestra Municipal de Tessalônica (47 membros), o Coro de Tessalônica (50), 4 cantoras búlgaros que trabalham com Bregović em todas as suas apresentações, o conjunto de dança búlgaro ‘Filip Kutev’), 45 dançarinas da Grécia, uma grupo polifônico da Albânia, o cantor da ex-Iugoslávia Zdravko Čolić, o grupo de Aristidis Moshos, etc. Ou seja, foi um super show que não conseguiu sufocar a bela música deste artista filho de um croata e de uma sérvia, casado com uma muçulmana, que teve sua casa destruída durante a guerra. Ele só lamenta o incêndio de sua biblioteca:

Com a guerra perdi tudo e também minha biblioteca. Podes começar tua vida duas vezes, mas não podes começar duas vezes uma biblioteca.

Goran Bregovic – Silence Of The Balkans

1 Silence 1 5:22
Voice [Speech] – Winston Churchill

2 Delicious Solitude 3:58
Lyrics By – Andrew Marvell
Vocals – Lena Jinnegren

3 Train 7:41
Orchestrated By – Ognjan Radivojevic*
Vocals – Zdravko Colic*

4 Silence 2 1:50

5 Wedding 6:38
Lyrics By – Christina Turcu Preda*
Orchestrated By – Slobodan Markovic*
Vocals – Dunja Simic*, Gordana Tomic*, Ileana Okolisan*, Jelena Vlahovic*

6 Ederlezi 4:50
Vocals – Vaska Jankovska

7 Silence 3 3:28
8 Chupchik 3:36
Backing Band – Wedding & Funeral Band
Vocals – Daniela Radkova, Lidia Dakova*, Ludmila Radkova*, Snejanka Borisova

9 Babylon 6:08
Choir – Choir Of Thessaloniki
Orchestra – Symphonic Orchestra Of The Municipality Of Thessaloniki
Orchestrated By – Ana Mihailovic*
Vocals – Projekt Jon

10 Green Thought 6:48
Lyrics By – Andrew Marvell
Performer – Aristidis Moschos & His Orchestra
Vocals – Lena Jinnegren, Kostas Mantzopoulos*

11 Silence 4 1:46

12 Mocking Song 3:04
Vocals – Zdravko Colic*

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Goran Bregovic, nada de silêncio
Goran Bregovic, nada de silêncio

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.: interlúdio :. The No Smoking Orchestra / Time of the Gypsies 2007 (Punk Opera)

.: interlúdio :. The No Smoking Orchestra / Time of the Gypsies 2007 (Punk Opera)


Gosto muito da música popular dos Bálcãs. Conheço pouco, como vocês logo saberão. Tudo começou enquanto via os filmes do grande Emir Kusturica — Tempo de Ciganos, Underground, Quando papai saiu em viagem de negócios, Black cat white cat, A vida é um milagre e outros. Ali, conheci o excelente Goran Bregovic, músico, band leader e compositor responsável pelas trilhas. Depois, Bregovic e Kusturica brigaram e o próprio Kusturica fundou a No Smoking Orchestra, parceira habitual da Garbage Serbian Philharmonia.

Na verdade, conheço apenas esses dois, mas já gostei de quase todos os outros. Ah, pois é, apaixono-me facilmente. A música dos Bálcãs é informada — pois é muito bem escrita e tocada — e é UMA FESTA SÓ. Este Time of the Gypsies é das coisas mais tranquilas que tenho ouvido, mas há os bons músicos e cantores, além da alegria, mesmo que mezzo contida. Já a ironia e o deboche são o subtexto desta música.

Ah, importante: nunca percam um show desses caras. Vi a No Smoking na Inglaterra e Bregovic com sua Wedding and Funeral Band em Porto Alegre. Suas músicas e festas são um arraso.

Ouça porque vale a pena! Um pouco de álcool no sangue não fará nada mal para acompanhar as canções.

The No Smoking Orchestra / Time of the Gypsies 2007 (Punk Opera)

1. Efta Purane Ikone (Seven Old Icons)
2. Djilaben Promalen (Sing People Sing)
3. San Francisco (San Francisco)
4. O Chaveja (Oh, My Children)
5. Hederlezi (St. George Day)
6. Cik Cik Pogodi (Guess Guess Who Is Coming)
7. Crazy About Money (Crazy About Money)
8. Del Dija (Lord Gave Us)
9. Kana O del Baravel (When Lord Gives)
10. Evropa (Europe)
11. Pharimasa Va Inzares (The Beggars)
12. Perhan Sovel (Perhan Is Dreaming)
13. Lorenzzo (Lorenzzo)
14. Sas Jekh Len (There Was a River Once)

Music by Emir Kusturica, Dejan Sparavalo, Nenad Jankovic and Stribor.
With the participation of the No Smoking Orchestra and of the Garbage Serbian Philharmonia.

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Emir Kusturica e a No Smoking Orchestra
Emir Kusturica e a No Smoking Orchestra: eles são assim

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