[Restaurado] Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Abertura de “Le Nozze di Figaro” – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Maurice Ravel (1875-1937): Rapsodie Espagnole – Pavane pour une Infante Défunte – Alborada del Gracioso – Boléro – Argerich – Barenboim #BTHVN250

Vocês me permitem só mais uma gravação de Martha tocando o concerto em Dó maior de Ludwig?

Só mais uminha?

Pois bem: ela é a minha favorita, a mais brilhante, fluida e à vontade que ela já fez dessa obra que toca quase desde a mórula. O ambiente certamente ajuda: o magnífico Teatro Colón, onde ela estreou há mais de setenta anos, em sua Buenos Aires natal, na qual passa uma aclamada temporada por ano e é merecidamente tratada como divindade terrena. A companhia, seguramente também: nenhum parceiro artístico a conhece há tanto tempo quanto seu conterrâneo Daniel Barenboim, com o qual formou a mais notória dupla portenha de crianças-prodígio e brincava de esconde-esconde sob os pianos das soirées em que tocaram juntos, antes das carreiras os levarem para distintas plagas e se reencontrarem tantas vezes pelo mundo. Daniel é extremamente reverente a Martha, e isso fica claro nessa interpretação do concerto: a solista parece tocar com total liberdade, e o regente a segue impecavelmente. O restante da gravação, feita ao vivo, traz a abertura de “As Bodas de Fígaro”, aquele clássico pontapé inicial dos concertos em matinês, e uma seleção considerável da obra de Maurice Ravel para seu instrumento favorito, a orquestra sinfônica. Barenboim e sua West-Eastern Divan estão tão confortáveis nesse repertório que lhes sobra energia para um extenso bis, com uma das suítes de excertos orquestrais da “Carmen” de Bizet e um tango de Mariano Mores – Martha, mantendo seu costume, dá um rápido bis com Schumann antes de sumir para as coxias para mais um de seus compulsórios cigarrillos. Apesar da sempre tussígena e algo alvoroçada plateia do Colón, a gravação do selo Peral (“Pereira” em espanhol, que é “Birnbaum” em alemão e “Barenboim” em iídiche) consegue captar bem o que deve ter sido uma noite e tanto naquela banda do rio da Prata.

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Le Nozze di Figaro, K. 491
01 – Abertura

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Dó maior para piano e orquestra, Op. 15
02 – Allegro con brio
03 – Largo
04 – Rondo. Allegro scherzando

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Fantasiestücke, Op. 12
05 – No. 7: Traumes-Wirren

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

Rapsodie Espagnole, M. 54
06 – Prélude à la Nuit
07 – Malagueña
08 – Habanera
09 – Feria

Alborada del Gracioso, M. 43
10 – Assez vif

Pavane pour une Infante Défunte, M. 19
11 – Assez doux, mais avec d’une sonorité large

Boléro, M. 81
12 – Tempo di bolero moderato assai

Alexandre César Léopold (Georges) BIZET (1838-1875)

Suíte no. 1 da ópera “Carmen”
13 – Aragonaise
14 – Intermezzo
15 – Les Dragons d’Alcalà
16 – Les Toréadors

Mariano Alberto Martínez, dito MARIANO MORES (1918-2016)
17 – El Firulete, tango

Martha Argerich, piano
West-Eastern Divan Orchestra
Daniel Barenboim, regência

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Sete décadas de parceria ❤️

Vassily

[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Szenen aus Goethes «Faust», WoO 3 – Herreweghe

Encerramos nosso “Festival Schumann” com sua composição de mais largo escopo, a mais ambiciosa e talvez – mesmo imperfeita e desigual como é – sua obra-prima.

O imenso “Fausto” de Goethe, o ponto mais alto da literatura alemã, instigou desde sua publicação a imaginação de compositores. O próprio autor reconheceu, em sua correspondência, que muitas partes de sua obra “clamavam por música”. A primeira parte do “Fausto”, publicada em 1806, prestava-se bem para isso e, com algumas podas aqui e ali, tinha uma narrativa linear e recheada de heróis e antagonistas o bastante para ser levada aos palcos, como o fizeram Berlioz e Gounod em suas óperas. Já a esotérica segunda parte, publicada em 1831, foi solenemente ignorada por músicos e, embora instantaneamente considerada a obra-prima de Goethe, também ganhou uma reputação de pouco acessível em seu enorme escopo, narrativa não linear e personagens místicos.

Schumann – a quem nunca poderíamos acusar de falta de ousadia artística – resolveu encarar o himalaico desafio e começou, claro, pelo mais difícil. Assim, em 1844, compôs as cenas da transfiguração de Fausto, do final da segunda parte, numa imensa cantata que conjura todos os personagens das partes anteriores e que reúne algumas das páginas mais belas que escreveu. Seu feito é ainda mais notável quando nos damos conta de que, com a exceção da abordagem bem ligeira de Liszt em sua “Sinfonia Fausto”, essas palavras só seriam postas novamente em música por Gustav Mahler, já no século XX.

Na década que lhe restaria de carreira, Schumann voltaria ao texto no começo de 1849 para compor as cenas de 1 a 3 (os únicos trechos da primeira parte do “Fausto” que musicaria), a cena 4 no final do mesmo ano e, em 1850, as cenas 5 e 6. A abertura foi escrita por último e concluída em 1853, um ano antes do colapso que o levaria ao hospício. Não sabemos, pelos seus diários e correspondência, se ele planejava colocar a obra toda em música. Ao que tudo indica, no entanto, ele próprio não concebia essas cenas todas, escritas em diferentes momentos de sua vida, como partes de uma só grande obra, nem que as pretendesse escutar assim. A execução do todo, uma tradição que só se consolidou no século XX, não deixa de soar como uma vasta colcha de belíssimos retalhos. Da angustiada e algo crua abertura, no estilo bem típico de seus últimos anos, passando por trechos que soam como operetas (como o dueto no jardim de Martha), grande ópera (a aterrorizante cena na catedral), ópera romântica (a cena à meia-noite,  que tem todo drama que faltou a “Genoveva”, sua única ópera), intercalando melodias ora de sabor folclórico, ora reminiscentes de seus melhores Lieder, e culminando com a supracitada cantata final, que a um só tempo mostra sua reverência a Bach como também que não seria possível sem a Missa Solemnis de Beethoven, essa coleção de instantâneos da segunda metade da carreira do compositor forma uma imensa rapsódia que é, acredito, seu melhor testamento musical. E com essa leitura de Philippe Herreweghe, sempre elegante e atenta ao detalhe, e um belo time vocal, no qual destaco o maravilhoso baixo islandês Kristinn Sigmundsson como Mefistófeles, espero que ela encontre o lugar que creio merecer no carinho dos leitores-ouvintes, enquanto agradeço a atenção que dedicaram à individualíssima música de Schumann ao longo dessas três últimas semanas.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Szenen aus Goethes “Faust” (“Cenas do ‘Fausto’ de Goethe”), para solistas, coro e orquestra, WoO 3

1 – Abertura

PRIMEIRA PARTE

2 – No. 1: Szene im Garten (Gretchen, Faust, Mephistopheles, Marthe) –  “Du kanntest mich, o kleiner Engel, wieder”
3 – No. 2: Gretchen vor dem Bild der Mater Dolorosa (Gretchen) – “Ach neige, du Schmerzensreiche”
4 – No. 3: Szene in Dom (Böser Geist, Gretchen, Chor) – “Wie anders, Gretchen, war dir’s”

SEGUNDA PARTE

5 – No. 4: Sonnenaufgang (Ariel, Faust, Chor) – “Die ihr dies Haupt umschwebt im luft’gen Kreise”
6 – No. 5: Mitternacht (Mangel, Schuld, Sorge, Not, Faust) – “Ich heiße der Mangel”
7 – No. 6: Fausts Tod (Mephistopheles, Lemuren, Faust, Chor) – “Herbei, herbei! Herein, herein!”

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TERCEIRA PARTE

1 – No. 7, parte 1: Fausts Verklärung (Chor) – “Waldung, sie schwankt heran”
2 – No. 7, parte 2 (Pater Ecstaticus) – “Ewiger Wonnebrand”
3 – No. 7, parte 3: Fausts Verklärung (Pater Profundus, Pater Seraphicus, Selige Knaben) – “Wie Felsenabgrund mir zu Füßen”
4 – No. 7, parte 4 – Fausts Verklärung (Engel, Selige Knaben, Chor) – “Gerettet ist das edle Glied”
5 – No. 7, parte 5 – Fausts Verklärung (Doctor Marianus) -“Hier ist die Aussicht frei”
6 – No. 7, parte 6 – Fausts Verklärung (Doctor Marianus, Chor, Büsserinnen, Magna Peccatrix, Mulier Samaritana, Maria Aegyptiaca, Una Poenitentium, Selige Knaben, Mater Gloriosa) – “Dir, der Unberührbaren”
7 – No. 7, parte 7 –  Fausts Verklärung (Chorus Mysticus) – “Alles Vergängliche”

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Camilla Nylund, soprano (Gretchen, Not, Una Poenitentium)
Simone Nold, soprano (Sorge, Magna Peccatrix)
Ingeborg Danz, contralto (Mangel, Mater Gloriosa, Mulier Samaritana)
Louise Mott, contralto (Marthe, Schuld, Maria Aegyptiaca)
Hans-Peter Blochwitz, tenor (Ariel)
Christian Voigt, tenor (Pater Ecstaticus)
William Dazeley,
barítono (Faust, Doktor Marianus, Pater Seraphicus)
Kristinn Sigmundsson, baixo (Mephistopheles, Böser Geist, Pater Profundus)

Collegium Vocale
La Chapelle Royale
RIAS-Kammerchor
Orchestre des Champs-Élysées
Philippe Herreweghe, regência

Link para o libreto

Herreweghe brincando com o gerador de van de Graaf

Vassily

R. Schumann (1810–1856): Kreisleriana ; F. Chopin (1810-1849): 2 Noturnos, Scherzo nº 3, Fantasia (Linda Bustani)

“Sentimos em certas obras de Schumann a ausência de certa razão soberana. Ao menor desvio, a ideia escapa ao compositor e, quando ele consegue reencontrá-la, é depois de uma corrida contra mil obstáculos” Camille Bellaigue (1885)

Se Beethoven, para alguns, era uma divindade soberana, Schumann era humano, demasiado humano. Seus ciclos estão sempre refletindo os sentimentos do ser humano: a solidão, a alegria, a melancolia… A Kreisleriana, fantasia para piano em oito movimentos, é um dos melhores exemplos: além das diferenças entre os movimentos, cada um deles também apresenta várias mudanças. É uma estética curiosamente parecida com os nossos tempos em que ouvimos canções curtas de 2 minutos ou damos risadas com memes de 3 segundos… Como vocês sabem, as tecnologias trouxeram o encurtamento do que em inglês se chama attention span (nos explica a wikipedia: quantidade de tempo em que uma pessoa consegue se concentrar em uma tarefa sem se distrair).

O título da obra é inspirado no personagem Johannes Kreisler, criado pelo autor romântico alemão E. T. A. Hoffmann (1776-1822), personagem também marcado por uma sensibilidade exagerada e por mudanças de humor.

A Kreisleriana foi dedicada a Frédéric Chopin, por quem Schumann tinha uma forte admiração. A admiração, ao que parece, não foi muito correspondida. Já que comecei com os perfis psicológicos de botequim, vou continuar com eles: Schumann era famoso por seu humor instável, mas por outro lado foi um crítico musical com vasta cultura e um gosto estável e influente: foi um dos responsáveis pela entronização de J.S.Bach e Beethoven no panteão germânico e um hábil cultivador de relações, elogiando a música de Chopin, Mendelssohn, Berlioz e Brahms. Já Chopin, socialmente, parece ter sido muito mais tímido: suas principais relações intelectuais (escândalo na época!) aparentemente foram com mulheres: suas alunas na alta sociedade parisiense e a escritora George Sand. Ao contrário de Schumann, nunca atuou como maestro. Tocou muito mais vezes em salões aristocráticos do que em salas de concerto. O polonês era, em suma, um sonhador recluso, enquanto seu contemporâneo alemão era um sonhador extremamente sociável, com episódios de delírios ou depressão aqui e ali, mas sempre ajudando os amigos.

A pianista Linda Bustani nasceu em Rondônia, estudou com Arnaldo Estrella e Antonio Guedes Barbosa no Rio de Janeiro – onde vive até hoje – e com Elisso Virsaladze em Moscou. Estreou no Brasil alguns concertos pouco tocados, como o 4º de Prokofiev, para a mão equerda. Suas interpretações dos compositores românticos – Chopin, Schumann, Tchaikovsky – são celebradas, sobretudo as de Schumann, compositor com o qual ela tem forte ligação desde a juventude. Tem tocado a música de câmara de Schumann por todo o Brasil, principalmente o quinteto e o quarteto para piano e cordas. Também é parceira do Quinteto Villa-Lobos, extraordinário grupo de sopros fundado em 1962, o mais antigo em atuação ininterrupta no Brasil (os músicos foram passando o bastão). Já que estamos falando de flutuações emocionais, de instabilidade e estabilidade, finalizo tirando o chapéu para Linda e seus parceiros de música de câmara, que representam há décadas uma estabilidade rara na música de nosso país, tão cheia de voos de galinha.

R. Schumann (1810–1856): Kreisleriana, opus 16 – Phantasien für das Pianoforte
1. Äußerst bewegt (Extremely animated), D minor
2. Sehr innig und nicht zu rasch (Very inwardly and not too quickly), B♭ major.
3. Sehr aufgeregt (Very agitated), G minor
4. Sehr langsam (Very slowly), B♭ major/G minor
5. Sehr lebhaft (Very lively), G minor
6. Sehr langsam (Very slowly), B♭ major
7. Sehr rasch (Very fast), C minor/E♭ major
8. Schnell und spielend (Fast and playful), G minor

F. Chopin (1810-1849):
9. Nocturne opus 27 n° 2 en ré dièse mineur
10. Nocturne opus 48 n° 1 en ut mineur
11. Fantaisie opus 49 en fa mineur
12. Scherzo N° 3 opus 39 en ut dièse mineur

Linda Bustani, piano

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BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – MP3 320 kbps

Linda no Teatro Solís, em Montevideo

Pleyel

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856) – Missa, Op. 147 – Sawallisch – Requiem, Op. 148 – Requiem für Mignon, Op. 98b – Klee

Mais duas obras corais de Schumann resgatadas das trevas.

A primeira é a missa, obra curiosa vinda dum compositor nada devoto e ademais sem qualquer interesse pela música sacra. Composta dois anos antes do surto que o levaria à tentativa de suicídio no Reno e a internação no hospício, teve seus dois primeiros movimentos estreados juntamente com a sinfonia no. 4. Schumann jamais a escutaria completa, e a primeira audição integral aconteceria em Aachen, cinco anos depois de sua morte, com algum sucesso e – talvez seu maior triunfo – levando Clara a mudar seus planos de deixá-la inédita para sempre. Imagino o quão despojada ela deve ter soado para ouvidos acostumados a retumbâncias como as da Missa Solemnis de Beethoven ou mesmo da Grande Missa de Mozart, que não devem ter percebido que sua inspiração jazesse num passado mais remoto, nas missas de Palestrina, cujas partituras corais Robert adorava e ensaiava com frequência em Leipzig e Dresden. Alternando partes entusiasmantes, sobretudo o Kyrie e o Agnus Dei, com outras meramente formulaicas, a missa de Schumann chama também a atenção pelas diminutas partes atribuídas aos solistas que pouco abrem suas bocas. A exceção é o Offertorium – uma elaborada ária para soprano com acompanhamento de órgão e violoncelo, que já ouvimos aqui e foi adicionada a posteriori, provavelmente com alguma cantora específica em mente. A gravação dessa raridade, feita ao vivo em 1977 na Philharmonie da então Berlim Ocidental, conta com a soprano nipo-alemã Mitsuko Shirai, que recentemente vencera um concurso em Zwickau, cidade natal do compositor, e a condução magistral de Wolfgang Sawallisch, que ajuda a manter o interesse mesmo nos momentos menos inspirados e faz justiça às belezas da desgraçada obra.

Na mesma caixa da EMI – conhecida pelos combos-bastantões com obras sem-cerimoniosamente atrolhadas em dois CDs – ainda estavam, além da gravação de Der Rose Pilgerfahrt com Rafael Frühbeck, que já lhes alcancei ontem, também a Missa de Réquiem, Op. 148, e o Requiem für Mignon, que já ouvimos com Gardiner. Este último estava incongruentemente colocado no final do disco da gravação com Frühbeck, como um poslúdio soturno à singela historieta da rosa que vira Rosa, de modo que resolvi trazê-lo para junto do outro Réquiem, não tanto pelo título em comum, pois as obras têm pouquíssimas semelhanças, e sim porque ambos estão aqui a cargo do mesmo intérprete.

Bernhard Klee faz uma leitura emocionante da missa dos mortos de Schumann, que estranhamente deixou de lado quaisquer tinturas apocalípticas e fortíssimos a esvurmarem enxofre, para oferecer-nos um curso intensivo de serena aceitação da morte. Nada há aqui da fúria dos réquiens de Verdi e Berlioz, nem dos ostinati e coros ameaçadores daquele de Mozart. Até a doce contraparte de Fauré parece tempestuosa em comparação com esta obra, composta na etérea, rara tonalidade de Ré bemol maior, que faz muito sentido para os pianistas, mas deve fazer todos coros que a encaram amaldiçoarem uma pobre tumba num cemitério de Bonn.

Além dum time de solistas com Nicolai Gedda e Dietrich Fischer-Dieskau, Klee conduz forças que nada seriam estranhas a Schumann. Os conjuntos de Düsseldorf – tanto sua orquestra sinfônica quanto o coro – têm suas raízes na mesma Musikverein cujo comando o compositor assumiu como mestre de capela (Kapellmeister), muito para seu desgosto. Além da instabilidade de seu humor e do que hoje confortavelmente se admite como incompetência com a batuta, havia seu pouco tino para funções oficiais, parca habilidade para lidar com questões burocráticas e nenhum cacoete para dar conta das complicadas interações sociais e políticas inerentes a um cargo dessa importância. Suas desavenças crônicas com os músicos e com seus superiores, que retribuíam o caos trazido pela escolha infeliz de seu Kapellmeister com hostilidade e troça, possivelmente contribuíram com alguns empurrõezinhos para com o desesperado gesto que o levaria à tentativa de morte ao atirar-se nas águas do Reno e à morte em vida no hospício. Num dos últimos cadernos de diários, um de seus poucos apontamentos acerca do Requiem tascava: “compõe-se um réquiem para si mesmo”. Assim, nada mais apropriado que esses conjuntos renanos ofereçam-lhe, com esta bela gravação, reparo e tributo.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Missa em Dó menor para solistas, coro e orquestra, Op. 148

1 – Kyrie
2 – Gloria
3 – Credo
4 – Offertorium: Tota pulchra es, Maria
5 – Sanctus
6 – Agnus Dei

Mitsuko Shirai, soprano
Peter Seiffert, tenor
Jan-Hendrik Rootering, baixo
Chor des Städtischen Musikvereins zu Düsseldorf
Berliner Philharmoniker
Wolfgang Sawallisch, regência

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Requiem em Ré bemol maior para solistas, coro e orquestra, Op. 148

1 – Requiem Aeternam
2 – Te Decet Hymnus
3 – Dies Irae
4 – Liber Scriptus Proferetur
5 – Qui Mariam Absolvisti
6 – Domine Jesu Christe
7 – Hostias
8 – Sanctus
9 – Benedictus

Réquiem para Mignon, do “Wilhelm Meister” de Goethe, para solistas, coro e orquestra, Op. 98b

10 – No. 1: “Wen bringt ihr uns zur stillen Gesellschaft?” – No. 2: “Ach! Wie ungern brachten wir ihn her!” – No. 3: “Seht die mächtigen Flügel doch an!” – No. 4: “In euch Lebe die bildende Kraft” – No. 5: “Kinder! Kehret ins Leben zurück!” – No. 6: “Kinder! Eilet ins Leben hinan!”

Helen Donath, soprano
Doris Soffel, mezzo-soprano
Nicolai Gedda, tenor
Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Chor des Städtischen Musikvereins zu Düsseldorf
Düsseldorfer Symphoniker
Bernhard Klee, regência

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Decididamente NÃO a concepção do Dia da Ira de Schumann (e deem tchauzinho pra mim de braços erguidos ali, na chama à direita)

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Der Rose Pilgerfahrt, Op. 112 – Creed – de Burgos

Dentro da obscuridade em que jaz a obra coral de Schumann, talvez as maiores trevas estejam a cair sobre Der Rose Pilgerfahrt (“A Peregrinação da Rosa”), seu oratório de sabor decididamente folclórico, a primeira obra significativa que compôs depois da mudança para Düsseldorf, sua escala final antes do colapso mental que o levaria ao asilo. É uma pena, pois a obra toda – mais uma coleção engenhosamente alinhavada de coros e canções que um oratório no pomposo, dramático sentido do termo até então – é uma delícia de se escutar. As semelhanças com Die Paradis und die Peri, sua experiência anterior no gênero, são notórias e certamente não uma coincidência: o autor do libreto, Moritz Horn, impressionara-se com o oratório anterior e escreveu o texto sob sua instigação. O enredo é simplérrimo: uma rosa roga à Rainha dos Elfos para vir ao mundo na forma humana, para ser amada tanto quando os humanos se amam; a Rainha concede-lhe o desejo e a rosa vem ao mundo na forma de uma linda moça chamada, adivinhem? – Rosa; ela carrega sempre consigo uma flor – que vocês já adivinharam qual é – que serve como repositório de sua alegria; após algumas dificuldades em se integrar aos humanos, ela sente pena – seu primeiro sentimento humano – ao ver um sepultamento; o coveiro a abriga enquanto os elfos tentam chamá-la de volta; um moleiro que perdera sua filha, vítima dum coração partido, reconhece-a no semblante de Rosa e a convida para viver no vilarejo; Rosa casa-se com Max, um aldeão, e tem um filho com ele; quando o bebê nasce, Rosa deixa a flor em sua mão e, numa “morte cheia de amanhecer”, volta para seu mundo, onde é recebida por um coro angélico.

A música despretensiosa, ainda que cuidadosamente burilada, é talvez uma das maiores provas contra os detratores de Schumann, ligeiros em dizerem que tudo que ele escreveu em Düsseldorf foi impulsivo e descuidado. O compositor pretendia que oratório fosse ouvido em sua forma original, com pequeno coro e acompanhamento de piano, e foi nessa forma que ele foi estreado em sua casa por um coro de amigos e, naturalmente, Clara ao piano. Em seguida, dedicou-se à orquestração, uma tarefa que lhe foi muito árdua, talvez porque dividida com a atribulada atividade de Kapellmeister que tanto odiava, ainda que lhe fosse o caminho para suturar os brios cronicamente feridos pela celebridade da esposa, sempre o arrimo da família. Quem escuta a versão orquestral, no entanto, não percebe qualquer sinal de tanto desgosto e da crescente instabilidade que o levaria, alguns anos depois, a encontrar as águas do Reno numa tentativa de aniquilar-se.

Na minha desimportante opinião, as duas versões merecem ser ouvidas, e por isso ofereço-lhes ambas. Sugiro escutarem primeiro a versão com piano, aqui interpretada por um coro impecavelmente ensaiado, se possível na companhia do libreto – a singeleza das melodias e o tom folclórico podem tornar monótona a audição desatenta. Depois, escutem a versão com orquestra e perguntem-se por que um regente do porte Rafael Frühbeck (porque o “de Burgos” foi acrescentado a pedido de Franco, para que tivesse um sobrenome menos alemão) aparece recém pela primeira vez em minhas postagens – porque, se me perguntarem, eu não lhes saberei responder.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Der Rose Pilgerfahrt, Op. 112, sobre textos de Moritz Horn
Link para o libreto

Parte I

1 – “Die Frühlingslüfte bringen”
2 – “Johannis war gekommen”
3 – Elfenreigen. “Wir tanzen, wir tanzen”
4 – “Und wie sie sangen”
5 – “So sangen sie”
6 – “Bin ein armes Waisenkind”
7 – “Es war der Rose erster Schmerz!”
8 – “Wie Blätter am Baum”
9 – “Die letzte Scholl’ hinunterrollt”
10 – “Dank, Herr, dir dort im Sternenland”

Parte II

11 – “Ins Haus des Totengräbers”
12 – “Zwischen grünen Bäumen”
13 – “Von dem Greis geleitet”
14 – “Bald hat das neue Töchterlein”
15 – “Bist du im Wald gewandelt”
16 – “Im Wald, gelehnt am Stamme”
17 – “Der Abendschlummer”
18 – “O sel’ge Zeit”
19 – “Wer kommt am Sonntagsmorgen”
20 – “Ei Mühle, liebe Mühle”
21 – “Was klingen denn die Hörner”
22 – “Im Hause des Müllers”
23 – “Und wie ein Jahr verronnen ist”
24 – “Röslein!”

Versão para solistas, coro e orquestra

Helen Donath e Kari Lövaas, sopranos
Julia Hamari, contralto
Theo Altmeyer, tenor
Bruno Pola, barítono
Hans Sotin, baixo
Chor des Städtischen Musikvereins e.V. Düsseldorf
Düsseldorfer Symphoniker
Rafael Frühbeck de Burgos,
regência

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Versão para solistas, coro e piano

Christiane Oelze, soprano
Birgit Remmert, contralto
Werner Güra, tenor
Klaus Thiem, barítono
Hanno Müller-Brachmann, baixo
Philip Mayers, piano
RIAS-Kammerchor
Marcus Creed, 
regência

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Uma ótima gravação do oratório, com orquestra de instrumentos de época, foi restaurada AQUI.

 

Já tinham visto Schumann menino?

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Requiem für Mignon, Op. 98b – Nachtlied, Op. 108 – Das Paradies und die Peri, Op. 50 – Gardiner

Gardiner acerta em cheio nesse álbum duplo dedicado a obra coral de Schumann, e o resultado é um dos melhores discos de música coral entre os tantos que tenho, inda mais ouro puro desse Midas da Música.

Os trabalhos começam com o breve (e o primeiro mandamento de nosso guia schumanniano é exatamente esse: quanto mais breve, melhor) “Requiem für Mignon”, baseado na triste menina do “Wilhelm Meister” de Goethe. Apesar do título, e da lamúria do coro de meninos, o tom é menos funesto do que a promessa, muito por conta dos “In euch lebe das bildende Kraft” (“Em vós vive a força formativa”) entoados pelo coro masculino, e o resultado é muito mais um convite a conformar-se e a tocar a vida do que a carpir a garota morta. A peça seguinte, “Nachtlied”, é tanto uma belíssima descrição da imponência da noite e do céu estrelado quanto um sentido embate entre o medo da morte e a resignação ante a mesma, representada por um sono eterno. Este rico arco sonoro, muito evocativo do anoitecer, é uma obra-prima consumada e pouquíssimo conhecida, realizada à perfeição pelo Coro Monteverdi.

Por fim, o imponente e raramente executado oratório “Das Paradies und die Peri” (“O Paraíso e a Peri”), que conseguiu tanto a proeza (rara na vida do compositor) de ser um imenso sucesso quando de sua estreia, como uma outra, ainda maior, de promover a reconciliação de Schumann e seu sogro, Friedrich Wieck, que despendeu tanta energia para impedir o casamento de Clara quanto investira para torná-la uma das melhores pianistas da Europa. Baseado num dos segmentos de “Lalla-Rokh”, um poema do irlandês Thomas Moore (não confundir com Sir Thomas More, o grande filósofo e desgraçado chanceler de Henry VIII), ele narra a história da redenção duma peri – criatura alada da mitologia persa – que, expulsa do Paraíso, tenta a ele regressar trazendo um bem precioso: a lágrima dum pecador arrependido que viu uma criança a rezar. Surfando na onda do orientalismo muito em voga da época (e o “Divã Oriento-Ocidental” de Goethe estava na biblioteca de Schumann), o exotismo está muito mais na rebuscada prosa do que em clichês musicais. O oratório é arrasadoramente lindo, e a leitura de Gardiner e seus músicos é maravilhosa. Destaco a etérea voz de Barbara Bonney, no papel da peri, que embarca com delicadeza na jornada da criatura que busca se redimir ante o Paraíso, sem que lhe falte potência para ouvir-se sobre todos os tutti orquestrais. Se há algum disco de Schumann entre esses tantos que venho publicando que escolheria para vocês não perderem, sem dúvidas é esse: asseguro-lhes de que não se arrependerão por ouvi-lo

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Réquiem para Mignon, do “Wilhelm Meister” de Goethe, para solistas, coro e orquestra, Op. 98b

1 – No. 1: “Wen bringt ihr uns zur stillen Gesellschaft?” – No. 2: “Ach! Wie ungern brachten wir ihn her!” – No. 3: “Seht die mächtigen Flügel doch an!” – No. 4: “In euch Lebe die bildende Kraft” – No. 5: “Kinder! Kehret ins Leben zurück!” – No. 6: “Kinder! Eilet ins Leben hinan!”

William Dazeley, barítono
Membros do Knabenchor Hannover
The Monteverdi Choir
Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner, regência

Nachtlied, para coro e orquestra, sobre um poema de Friedrich Hebbel, Op. 108
2 – “Quellende, schwellende Nacht”

The Monteverdi Choir
Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner, regência

Das Paradies und die Peri, oratório para solistas, coro e orquestra, Op. 50
Libreto do compositor e de Emil Flechsig, baseado em “Lalla-Rokh”, de Thomas Moore

Primeira Parte

3 – No. 1: “Vor Edens Tor im Morgenprangen”
4 – No. 2: “Wie glücklich sie wandeln, die sel’gen Geister”
5 – No. 3: “Der hehre Engel … Dir, Kind des Stamms”
6 – No. 4: “Wo find’ ich sie? Wo blüht, wo liegt die Gabe”
7 – No. 5: “So sann sie nach … O süßes Land!”
8 – No. 6: “Doch seine Ströme sind jetzt rot”
9 – No. 7: “Und einsam … Komm,kühner Held …Du schlugst”
10 – No. 8: “Weh, weh, weh, er fehlte das Ziel”
11 – No. 9 “Die Peri sah das Mal …Sei dies,mein Geschenk”

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Segunda parte

1 – No. 10: “Die Peri tritt mit … Gern grüßen wir”
2 – No. 11: “Ihr erstes Himmelshoffen … Hervor aus den”
3 – No. 12: “Fort streift von hier … Für euren ersten”
4 – No. 13: “Die Peri weint”
5 – No. 14: “Im Waldesgrün am … Ach, einen Tropfen nur”
6 – No. 15: “Verlassener Jüngling… Doch sieh… Du hier?”
7 – No. 16: “O laß mich von der Luft… Sie wankt – sie sinkt”
8 – No. 17: “Schlaf nun und ruhe in Träumen voll Duft”
9 – No. 18: “Schmücket die… Auch der Geliebten… Seht da”

Terceira parte

10 – No. 19: “Dem Sang von Ferne… Noch nicht! Treu war”
11 – No. 20: “Verstoßen! Verschlossen aufs neu das Goldportal”
12 – No. 21: “Jetzt sank des Abends goldner Schein”
13 – No. 22: “Und wie sie… Peri, ist’s wahr… Mit ihrer”
14 – No. 23: “Hinab zu… Sie schwebt… Doch horch… Und was”
15 – No. 24: “O heil’ge Tränen inn’ger Reue”

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Libreto do oratório (em alemão e outras línguas) AQUI

A Peri, imaginada por três artistas

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856) – Concerto para violoncelo, Op. 129 – Antonín Dvořák (1841-1904): Concerto para violoncelo, Op. 104 – Pyotr Tchaikovsky (1840-1893) – Pezzo capriccioso, Op. 62 – Rostropovich – Britten – Svetlanov

Há muito queria alcançar esse disco a vocês, mas ora me faltava a oportunidade, ora completamente o elã. Essa celebração do aniversário de Schumann, que já está na terceira semana, deu-me o pretexto que faltava. Ei-lo!

Imenso músico, cidadão do mundo, incrível figura humana: difícil falar mal de Mstislav Rostropovich, a quem a família e as multidões chamavam de Slava. Isso, claro, se tu não dessem ouvidos ao Politburo soviético, sempre reticente em permitir as turnês do grande homem pelo Exterior, onde encontrava-se abertamente com dissidentes do regime e nunca deixava de expressar sua opinião em prol da abertura de seu país.

Nunca lhe faltaram amigos, e estes lhe foram essenciais no início de seu exílio, depois que – muito por conta de suas ações cada vez mais francas de apoio à dissidência, que incluíram acolher em sua casa o desgraçado escritor Aleksandr Solzhenitsyn – teve que fugir da União Soviética com a roupa do corpo e buscar guarida nos Estados Unidos. Um de seus mais leais colaboradores no Ocidente era Benjamin Britten, que não só lhe dedicou o considerável conjunto de uma sonata para violoncelo e piano, três suítes para violoncelo solo e uma sinfonia para violoncelo e orquestra, como também o acompanhou ao piano e na regência em muitas de suas apresentações. Nesta gravação, os dois juntam forças numa apaixonada leitura do concerto de Schumann e numa breve peça de Tchaikovsky que, apesar do título caprichoso, conjura suas dores pela perda de um amigo. Apesar da qualidade da gravação deixar bastante a desejar – são, afinal, registros de rádio e televisão, coletados e lançados pela BBC -, o “som Rostropovich” e a afinação de sua parceria com Britten valem a audição.

Parceiros no palco…
… amigos na vida

A gravação mais notável do disco – e uma das mais eletrizantes de todos os tempos – é a do concerto de Dvořák, uma obra-prima apreciada mesmo por quem detesta o compositor. Realizada ao vivo em Londres durante o festival The BBC Proms em 21 de agosto de 1968, tornou-se notória por acontecer exatamente no dia em que as forças do Pacto de Varsóvia, lideradas pela União Soviética, invadiram a Tchecoslováquia para esmagar os movimentos de reforma liderados por Alexander Dubček, conhecidos pela posteridade como a Primavera de Praga. Rostropovich, que amava a magnífica capital da Boêmia – onde tocava com frequência, tinha muitos amigos e, o mais especial para ele, conhecera Galina, sua esposa – ouviu impotente as notícias da invasão, enquanto colocava-se na terrível situação de a um só tempo desejar alcançar apoio e solidariedade aos tchecoslovacos enquanto personificava, como cidadão soviético, o detestado agressor ante o engajado público londrino. A ironia de estar escalado para tocar exatamente uma obra do compositor mais célebre do país invadido não colaborou para melhorar o clima da acolhida, e protestos muito pervasivos ocorreram dentro e fora do Royal Albert Hall, tanto de quem pretendia impedir os soviéticos de tocarem, quanto daqueles que defendiam seu direito de escutá-los. Slava, enfim, decidiu tocar. A Orquestra Sinfônica Estatal da União Soviética foi recebida no palco com muita hostilidade, que só aumentou quando solista e regente – o legendário Evgeny Svetlanov – entraram em cena. Os protestos continuaram – ouvem-se gritos e apupos logo no começo da gravação – e, não obstante, o concerto continuou. O que aconteceu em seguida as senhoras e os senhores poderão bem ouvir, se não quiserem em minhas palavras fúteis: uma interpretação elétrica, emocionada, incomparável da obra-prima. Conta-se que Rostropovich chorava a terminar o Adagio e que passou o resto da peça a morder os lábios. Quando terminou e veio a chuva de aplausos, Slava ergueu sobre a cabeça uma partitura com o nome do compositor, dando uma demonstração clara de sua solidariedade aos tchecoslovacos e de seu amor pelo país e por sua cultura. Mesmo temendo pelos entes que estavam na União Soviética e pela própria segurança, ele – um corajoso inimigo da injustiça – não poderia deixar de se posicionar. Fê-lo com o gesto, fê-lo com a música – e esse registro do concerto de Dvořák, especialmente seu Adagio, nunca deixará de me emocionar como uma das mais incríveis gravações jamais realizadas.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129

1 – Nicht zu schnell
2 – Langsam
3 – Sehr lebhaft

Mstislav Rostropovich, violoncelo
London Symphony Orchestra
Benjamin Britten, regência

Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)

Concerto em Si menor para violoncelo e orquestra, Op. 104

4 – Allegro
5 – Adagio, ma non troppo
6 – Finale: Allegro moderato — Andante — Allegro vivo

Mstislav Rostropovich, violoncelo
Orquestra Sinfônica Estatal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Evgeny Svetlanov, regência

 

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Pezzo capriccioso em Si menor para violoncelo e orquestra, Op. 62

07 – Andante con moto

Mstislav Rostropovich, violoncelo
English Chamber Orchestra
Benjamin Britten, regência

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21-8-1968

Vassily

 

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856) – Variations sur le nom d’Abegg, op. 1, Papillons, op. 2, Fantaisie en ut majeur, op.17,

Sim, eu sei, estou chegando um pouco atrasado nestas comemorações aos 210 anos de aniversário de Robert Schumann. Estive enrolado em outros projetos, e o dia a dia no serviço também me estressa bastante, por isso me afastei um pouco.

Minha contribuição será bem simples, mas de coração: Claudio Arrau tocando a Fantasia op. 17, dentre outras obras do mesmo compositor, senhores, que coisa mais linda. Não é a toa que é considerado um dos maiores pianistas do século XX. Esse registro é lá dos anos 60, a gravação ainda não é digital, mas mesmo assim, é impecável, um grande trabalho dos engenheiros da PHILIPS. Facilmente classificável com o selo de ‘IM-PER-DÍ-VEL’ do PQPBach.

01. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Thema
02. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Var. I
03. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Var. Il
04. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Var.Ill
05. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Cantabile
06. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Finale alla Fantasia
07. Papillons, op. 2
08. Fantaisie en ut majeur, op.17 – Il tutto fantastico ed appasionato
09. Fantaisie en ut majeur, op.17 – Moderato con energia
10. Fantaisie en ut majeur, op.17 – Lento sostenuo
11. Nachstücke, op. 23 – Mehr langsam, oft zur ck haltend
12. Nachstücke, op. 23 – Markiert und lebhaft
13. Nachstücke, op. 23 – Mit grosser Lebhaftigkeit
14. Nachstücke, op. 23 – Einfach

Claudio Arrau – Piano

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#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Obra completa para violino e orquestra – Wallin – Beermann

As três obras desse disco foram compostas no final da carreira de Schumann, um pouco antes de seu internamento no hospício em que terminou seus dias. Elas, que são tudo o que Robert escreveu para violino e orquestra, foram decisivamente inspiradas por Joseph Joachim, amigo seu e de Clara, maior violinista da época e, claro, dedicatário delas.

A primeira delas a ser composta, e a única a ser tocada na vida do compositor, foi a fantasia em Dó maior, estreada por Joachim com imenso sucesso em 1853. Lamentavelmente, acabou por cair em esquecimento, muito por conta da tendência então prevalente de rejeitar as obras tardias de Schumann como fruto de insanidade, praxe reforçada por Clara, que escondeu muitas delas e destruiu algumas. Joachim, por sua vez, foi decisivo pelo chá de sumiço das duas obras restantes. Ele chegou a ensaiar o concerto em Ré menor, pelo qual nunca teve qualquer entusiasmo, para logo em seguida, ante a deterioração da saúde mental e subsequente tentativa de suicídio do compositor, escondê-lo para sempre. Já na velhice – na mesma época em que fez algumas gravações fonográficas – legou o manuscrito a uma biblioteca, com instruções expressas de que só viesse a público cem anos após a morte de Schumann. A redescoberta do concerto – uma trama inacreditável que envolve vozes do além, Yehudi Menuhin  e as sobrinhas-netas de Joachim – parece produto de muita psilocibina e já foi descrita aqui. Pior sorte ainda teve o arranjo de Schumann de seu concerto para violoncelo, que aparentemente estava fora do alcance das vozes do além e foi tão bem escondido por Joachim que só foi descoberto em 1987 – ano em que o mundo estava mais preocupado em escutar isso:

E isso:

Para nossa sorte, leitores-ouvintes, há nesse globo cacofônico gente como Ulf Wallin, que estudou os manuscritos de Schumann e se esmerou para produzir estas gravações que, assegura, são tão fiéis às intenções do compositor quanto possível. Sua companhia aqui é muito boa: a Robert-Schumann-Philharmonie, uma ótima orquestra alemã sediada na cidade saxã de Chemnitz, que fica a um pulinho só de Zwickau, onde Robert veio ao mundo da manhã de 8 de junho de 1810.


Robert Alexander SCHUMANN
 (1810-1856)

Concerto em Lá menor para violino e orquestra
(arranjo do compositor para seu concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129)

1 – Nicht zu schnell
2 – Langsam
3 – Sehr lebhaft

Fantasia em Dó maior para violino e orquestra, Op. 131

4- In mässigen Tempo

Concerto em Ré menor para violino e orquestra, WoO 23

5 – In kräftigem, nicht zu schnellem Tempo
6 – Langsam
7 – Lebhaft, doch nicht schnell

Ulf Wallin, violino
Robert-Schumann-Philharmonie
Frank Beermann, regência

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Sou só eu que acho as fotos do casal Schumann perturbadoras?

Vassily

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival – 2008

Fiz uma pausa nas postagens dessa série da nossa amada Martha Argerich em seu Festival de Lugano para dar lugar às comemorações dos 210 anos de nascimento de Robert Schumann. Hoje trago mais um volume, mais três CDs que mostram todo talento e versatilidade desta excepcional artista.

Não preciso dizer o quanto Martha ama Schumann, tanto que temos aqui no primeiro CD a belíssima Sonata nº 2 para Violino e Piano, acompanhando o violinista Renaud Capuçon. Outro momento a destacar é sua parceria com o ex marido pianista Stephen Kovacevich, tocando uma peça de Mozart.

Mas o mais belo, lírico e pungente é o terceiro CD, onde abre tocando seu conterrâneo Piazzolla, em versões matadoras para dois pianos, claro que ele não poderia faltar, assim como Ravel. Martha distribui o repertório desta série entre seus convidados, alguns conhecidos, outros desconhecidos, dando chance e permitindo que sejam conhecidos.

A relação dos músicos envolvidos está no booklet em anexo.

Vamos ao que viemos?

CD 1
01. Variations (5) on an original theme for piano, 4 hands in G major, K. 501
02. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 1. Ziemlich langsam – Le
03. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 2. Sehr lebhaft
04. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 3. Leise, einfach
05. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 4. Bewegt
06. Piano Quintet in D major, Op. 51- 1. Allegro moderato
07. Piano Quintet in D major, Op. 51- 2. Andante con variazioni
08. Piano Quintet in D major, Op. 51- 3. Scherzo- Allegro vivace
09. Piano Quintet in D major, Op. 51- 4. Allegro moderato
10. Scherzo for 2 pianos, Op. 87

CD 2
01. Piano Trio No. 1 in C minor, Op. 8
02. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 1. Barcarolle
03. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 2. La Nuit
04. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 3. Les Larmes
05. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 4. Pâques
06. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 1
07. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 2
08. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 3
09. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 4
10. Slavonic Dance No. 1 for piano, 4 hands in C major, B. 78-1 (Op. 46-1)
11. Slavonic Dance No. 12 for piano, 4 hands in D flat major, B. 145-4 (Op. 72-4)
12. Slavonic Dance No. 7 for piano, 4 hands in C minor, B. 78-7 (Op. 46-7)
13. Slavonic Dance No. 10 for piano, 4 hands in E minor, B. 145-2 (Op. 72-2)

CD 3

01. Tres minutos con la realidad, tango
02. Oblivion, tango
03. Libertango, tango
04. Introduction & Allegro for harp, flute, clarinet & string quartet
05. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 1. Verano porteño
06. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 2. Otoño porteño
07. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 3. Invierno porteño
08. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 4. Primavera porteña
09. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 1. Maestoso
10. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 2. Tranquillo
11. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 3. Tempo di marcia – Andante
12. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 4. Tempo di polka – Piú vivo – Allegro

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BOOKLET – BAIXE AQUI

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Concerto para violoncelo e orquestra, Op. 129 – Obras para violoncelo e piano – Woldemar Bargiel (1828-1897) – Adagio para violoncelo e orquestra – Isserlis – Eschenbach

Sim, prometera uma quinzena só de Schumann para então voltar com nosso Projeto Beethoven, mas tem sido tão bom escrever sobre o saxão que peço ao renano mais uma semana de licença para alcançar-lhes mais algumas coisas do tão triste Robert.

Lembrei desse disco de Steven Isserlis, sempre alguém que vale a pena ser ouvido, que incluía não só o concerto para violoncelo e as obras “oficiais” para violoncelo e piano, como também trechos alternativos do concerto, arranjos de outras obras e, de lambujem, um trecho da Missa de Schumann e uma obra do obscuro Woldemar Bargiel, obliquamente relacionado a Robert (tentem entender: era filho da primeira esposa do sogro dele). E lembrei, também, dum artigo que Isserlis – que escreve espirituosamente e sempre é garantia de boa leitura nos encartes de suas gravações – publicou na Gramophone em 2010, quando do bicentenário do compositor. Recordo vivamente de como, na época, pensei em traduzir o artigo e enviá-lo ao PQP Bach, do qual já era contumaz leitor. Agora que estou do lado de cá do portal, resolvi enfim colocar meu velho plano em prática. De antemão, reconhecendo a máxima do traduttore, traditore, peço desculpas por qualquer inacurácia em minha tradução muito livre do texto de Isserlis.

O complicado gênio musical de Robert Schumann
Steven Isserlis

“A ele, acima de tudo, pertence o meu coração; eu o amo como um honrado amigo, a ele devo minhas horas mais bonitas – lamento profundamente por ele também, pelas trevas da tristeza – a tristeza que sentimos em suas canções – que caiu cada vez mais sobre ele … O que sabemos de seu ser interior, o que podemos conhecer ali, onde a razão cessa e a loucura começa?”

As palavras poéticas de Edwin Fischer falam a todos que amam Schumann – o compositor e o homem. Schumann parece um amigo íntimo, talvez mais do que qualquer outro compositor. Estranho que alguém possa se sentir tão próximo de um homem morto há mais de 150 anos e que, durante sua vida, era famoso por ser taciturno e tímido; através de sua música, no entanto, Schumann nos confessa seus segredos mais profundos – nos trata, os ouvintes, como companheiros de fé em todos os seus humores. Ele é talvez o mais autobiográfico de todos os compositores, confidenciando-nos coisas duma maneira que compositores anteriores teriam considerado impensável. Entretanto, apesar dessa abertura, há muitas facetas de Schumann, o homem e o músico, que eu sinto serem frequentemente mal compreendidas. Até as palavras de Fischer, por mais afetuosas que sejam, parecem-me um pouco ambíguas.

Certamente, trevas caíram sobre Schumann, e há uma grande tristeza em algumas de suas músicas tardias, assim como em seus primeiros trabalhos; mas também há alegria, humor, esperança. É significativo que Schumann tendesse a não compor durante seus períodos de depressão: ele esperaria até se sentir melhor, ou usaria a música como um caminho de volta à saúde. Descrever qualquer uma de suas obras como o produto da loucura, implicando assim que ele não estava no controle total do processo de composição, é enganoso. O resultado mais sério desse equívoco é que apenas cerca de um terço das obras de Schumann são ouvidas regularmente nas salas de concerto hoje em dia; é justo dizer que ele, provavelmente, é o menos valorizado dos grandes compositores.

Schumann e o passado

A visão de Schumann como a personificação do romantismo ignora seu profundo conhecimento da música e das tradições do passado. Como toda música verdadeiramente inovadora, a dele tem fortes raízes no mundo de seus antecessores. Em muitas das principais obras de Schumann – as sinfonias, por exemplo, e grande parte da música de câmara – pode-se ouvir como ele estava mergulhado nas grandes tradições clássicas alemãs, influenciado particularmente por Händel, Beethoven, Schubert, e seu próprio amigo e douto contemporâneo, Mendelssohn. Sua dívida com Bach também é óbvia: suas muitas fugas, incluindo um conjunto com o nome de Bach, prestam um tributo claro ao grande mestre. Mas outros trabalhos, particularmente alguns dos últimos, olham para trás ainda mais. A Missa em Dó menor, Op 147, e o Réquiem, Op 148, por exemplo, devem algo de seu espírito ao da música da igreja primitiva, às obras de Palestrina e outros, cuja música ele gostava de reger com seu coro em Dresden. Ouvindo essas belas obras tardias, é difícil identificar seu criador como o compositor de Carnaval, Dichterliebe – ou mesmo a música de câmara e para piano que ele escrevia nesses mesmos anos.

E depois há as baladas corais de 1851-53 – “Des Sängers Fluch” (“A maldição do cantor”), e outras. Estranho pensar em Schumann como companheiro de jornada de Wagner – os dois homens dificilmente poderiam ter sido mais diferentes em todos os aspectos; mas há aqui um elo definido, nessas composições poderosamente nacionalistas, baseadas em lendas alemãs. Também se pode ouvir mais evidências do fascínio de Schumann pelo mundo do mito antigo em outras obras – em canções como “Der Handschuh”, Op 87 (sobre texto de Schiller) ou até (acredito) nos ecos de melodias semelhantes às de trovadores na Quarta Sinfonia.

Schumann e o futuro

É impressionante – e traz alegria ao coração dos devotos schumannianos de todo o mundo – observar como compositores de quase todos os movimentos nacionais reverenciaram Schumann. Mesmo aqueles que tendiam a rejeitar Beethoven (e detestavam Brahms) – Debussy, Ravel, Tchaikovsky e Britten, por exemplo – amavam Schumann. Em nossos dias, inúmeros compositores prestaram homenagem a ele em suas composições – certamente mais do que a qualquer outro compositor.

Por que isso acontece? Minha explicação é que Schumann, apesar de toda a sua disciplina clássica, parece compor sem regras. Se em uma obra ele está escrevendo em formas (aparentemente) conservadoras, na próxima ele estará escrevendo músicas em fluxo de consciência que nos levam a reinos não sonhados por outros compositores de seu tempo. Tomemos, como um exemplo, a abertura do movimento lento do Primeiro Trio para Piano, Op 63: nesta passagem extraordinária, somos levados ao mundo da depressão, a uma sala misteriosa sem uma janela de esperança (e ainda impregnada de extraordinária beleza )

Ou o Gesänge der Frühe, Op 133, para piano solo: sobre essas peças, Schumann escreveu que “descrevem as emoções na proximidade do amanhecer e na alvorada, embora mais como sentimentos do que como pintura”. Para nossos ouvidos, eles soam futuristas – mahlerianos ou além. Como eles devem ter soado para seus contemporâneos? Não admira que Clara nunca as tenha apresentado em público. Mesmo quando em sua música posterior Schumann escolheu escrever dentro das formas das disciplinas clássicas, sempre há experiências escondidas logo abaixo da superfície. Seu espírito inquieto está constantemente procurando, sondando, encontrando – ou demandando – novas maneiras de expressar sua estranha vida interior. Talvez mais do que qualquer outro compositor, Schumann consegue levar-nos à terra dos sonhos.

Schumann e as crianças

Embora muitos compositores tenham escrito música para crianças, Schumann talvez tenha sido o primeiro a realmente entrar na mente e na alma dos jovens, às vezes retratando, às vezes revivendo a experiência de ser criança. De fato, Cyril Scott chegou ao ponto de sugerir que a música de Schumann para jovens havia afetado toda a atitude dos alemães em relação às crianças. O “Álbum para a Juventude” para piano é o exemplo mais famoso de sua escrita para (e não sobre) crianças, mas também há um álbum de Lieder para jovens, três Kindersonaten para piano e assim por diante. Em todos eles, ele combina humor, ternura e um domínio que garante que ele nunca dando sermões a seu jovem público ou intérprete. Quando ele retrata a infância do ponto de vista do adulto (como em Kinderszenen), é com um profundo entendimento da alegria e tristeza da juventude.

Schumann, o escritor

O jovem Schumann foi talvez o mais influente – e certamente o mais perspicaz – crítico de sua época. De fato, sua formação era literária, e não musical, embora não se pudesse supor isso a partir desse trecho duma história escrita no final da adolescência de Schumann:

– Ela correu pelo cemitério, de seios nus, e com uma camisola branca comprida, pendurada descuidadamente em seu corpo, para ler uma inscrição na lápide. “Aqui está um coração partido.” Sorrindo, ela se sentou na sepultura. Então um esqueleto… sentou-se ao lado dela e passou o braço em sua volta. “Você quer um beijo”, ela disse timidamente. O esqueleto riu, deu-lhe um beijo gélido e foi embora. “Eu devo ter pecado”, ela gritou, e foi para a igreja, onde o esqueleto estava sentado no órgão, tocando uma valsa.”

Hmm… ainda mais embaraçoso que sua música escrita na mesma época (como o primeiro quarteto de piano em dó menor – não exatamente uma obra-prima). Mas, a partir daqueles inícios pouco promissores, ele rapidamente desenvolveu um estilo literário que, embora ainda um pouco estranho aos nossos olhos, teve em seu tempo (e ainda tem, até certo ponto) um efeito poderoso. Sua famosa primeira resenha, das variações de Chopin no “Là ci darem la mano” de Mozart, nos dá um forte sabor dele:

“Eusebius abriu silenciosamente a porta outro dia. Você conhece o sorriso irônico em seu rosto pálido, com o qual ele chama a atenção. Eu estava sentado ao piano com Florestan. Como você sabe, ele é uma daquelas raras personalidades musicais que parecem antecipar tudo o que é novo, extraordinário e destinado ao futuro. Mas hoje ele teve uma surpresa. Eusébio nos mostrou uma peça musical e exclamou: ‘Tirem o chapéu, senhores, um gênio’.”

Gostaria de saber como o editor da Gramophone reagiria a um crítico que lhe entregasse uma crítica desse tipo, hoje. Com um amável discurso sobre os perigos da bebida, talvez. Mas esse artigo transformou a reputação de Chopin no mundo de língua alemã. A perspicácia de Schumann é ainda mais impressionante, já que essas variações iniciais de Chopin dão ao ouvinte médio pouca pista do que estava por vir em seus trabalhos maduros. Igualmente impressionante é a gigantesca crítica que ele fez da Symphonie fantastique de Berlioz, dispondo apenas do arranjo para piano de Liszt. Seus escritos sobre compositores menores são também instrutivos – sempre gentis, mas firmes, apontando amavelmente suas falhas e incentivando-os a fazer melhor. Interessante lembrar, também, que nessa fase a própria música de Schumann era quase totalmente desconhecida. Tendo ouvido compositores atuais discutindo as obras de seus colegas de maior sucesso, posso atestar que, a menos que a natureza humana básica tenha mudado consideravelmente ao longo dos anos, a generosidade de Schumann é – bem, incomum!

O estilo literário de Schumann – e o estilo de escritores que ele amava – transplanta-se para sua música de uma maneira única. O Carnaval é fortemente influenciado pelos escritos fantásticos de Jean-Paul; Kreisleriana baseia-se numa invenção literária de E. T. A. Hoffmann – e assim por diante. Obviamente, essas conexões são bem conhecidas hoje; mas lembre-se de quão longe essa sensibilidade literária/musical está de praticamente qualquer outra música escrita naquela época (de meados a final da década de 1830), e o frescor do gênio de Schumann brilha novamente.

Relacionamentos com seu círculo interno

Um homem complicado, Schumann tinha com seus amigos mais próximos relacionamentos muitas vezes profundamente enrolados. Sua figura paterna musical, o pai de Clara, Friedrich Wieck, azedou-se além da conta quando o jovem casal ficou noivo (embora ainda se mudassem para Dresden, onde Wieck estava morando, em 1845 – curioso). Outra figura paterna (ou pelo menos de irmão mais velho) era Mendelssohn, apenas um ano mais velho que Schumann, mas anos-luz à frente em termos de sucesso e confiança. “Ele é um deus real”, escreveu Schumann sobre seu colega mais velho, seu empregador e divulgador.

Mas havia tensões, também. Alguém se pergunta se Mendelssohn – a quem, como muitos contemporâneos, encontrou Schumann pela primeira vez como crítico – já conhecia completamente a extensão do gênio de Schumann? Ficamos com a nítida impressão de que os dois compositores ficariam bastante surpresos ao saber que a estrela de Schumann anda um pouco mais alta atualmente do que a de Mendelssohn. No entanto, Schumann foi lealmente dedicado, devastado pela morte tragicamente precoce de Mendelssohn, e ficou encantado quando Clara chamou o último filho dos Schumann (a quem Robert nunca viu) de Felix, em homenagem ao homem que ambos reverenciavam.

O famoso triângulo Robert/Clara/Brahms já foi discutido o suficiente. Frequentemente esquecido, porém, é o curto espaço de tempo da amizade entre os dois homens. Eles se conheceram apenas cinco meses antes de Schumann ser levado para o asilo. Torna-se ainda mais comovente, portanto, ler sobre o quão importante Brahms se tornou para seu ex-mentor, tanto pessoal quanto musicalmente. Ele foi um dos poucos a visitá-lo no asilo e manteve Schumann atualizado com suas últimas composições – uma tábua de salvação para aquele pobre fantasma esquecido de um compositor.

A influência de Schumann em Brahms também é fascinante. A música que Brahms tocou para os Schumanns durante seu primeiro encontro foi quase completamente diferente da música pela qual ele agora é mais famoso. Era selvagem, cheio de fantasia demoníaca – adolescente, até (embora um adolescente dotado de extraordinária genialidade). Mais tarde, tendo estudado incessantemente o conteúdo da enorme biblioteca musical de Schumann, Brahms metamorfoseou-se do romântico comparativamente desenfreado ao grande clássico musical da segunda metade do século XIX.

Também se pergunta se não foi apenas a biblioteca de Schumann, mas seu destino trágico e a profunda mágoa que isso causou a Brahms em tantos níveis que causou essa transformação. Poucas obras de Brahms escritas após a morte de Schumann têm aquela sensação distintamente “inacabada”, que é tão típica de Schumann. Vão-se também, na maior parte, as mensagens pessoais para amigos próximos, na forma de citações musicais; sua música amadurece [no original, grows a beard, “cresce-lhe uma barba”], por assim dizer, o romantismo mantido firmemente sob controle, como é fortemente sentido no mundo emocional subjacente. É como se o Brahms maduro devesse ter vivido antes do Schumann maduro, e não o contrário – uma curiosidade intrigante da história musical.

Robert e Clara

Bem, esse relacionamento é muito complicado para ser retratado agora com qualquer autoridade real. No entanto, o modo como é frequentemente descrito – como o casamento romântico ideal – está claramente equivocado. As tensões eram enormes. A ambição de Clara e sua frustração compreensível com o papel de assistente de Robert e como dona de casa/mãe foram certamente fatores da tensão conjugal. Mas Robert, por mais gentil que fosse, também era extremamente difícil e, às vezes, passivo-agressivo. Além disso, ele se recusou a compartilhar seus novos projetos de composição com sua antiga musa; quão doloroso isso deve ter sido para Clara! É claro que houve diferenças crescentes entre eles.

As composições de Clara, por mais adoráveis ​​que sejam, habitam firmemente o mundo de Mendelssohn; as de Robert vêm de um planeta diferente – ou melhor, de muitos planetas diferentes. Sua recusa em tocar a música tardia do marido e as tentativas dela (às vezes bem-sucedidas) de destruí-la dizem tudo.

De fato, havia mundos a separá-los até o final de seu tempo juntos. A vida sexual deles ainda parece bastante animada (de acordo com os diários de Schumann, talvez-por-demais-cheios-de-informação), enquanto emocionalmente, porém, a impressão é de quase desespero entre eles. Numa ironia hollywoodiana, na mesma época em que Brahms apareceu pela primeira vez em cena, Schumann estava lendo Siebenkas de Jean-Paul, um romance em que um homem foge de um casamento infeliz, deixando um amigo mais compatível em seu lugar. Chegando ao asilo em Endenich em 1854, Schumann informou o médico que sua primeira esposa estava morta; lembrado de que ele tinha apenas uma esposa e que ela ainda estava muito viva, ele aparentemente “riu com gosto”. Tudo muito estranho. Eu tenho que confessar que sou menos que um fã de Clara – não apenas porque ela destruiu o penúltimo trabalho de Schumann, os Cinco Romances para violoncelo e piano, mas por causa de sua (a meu ver) extrema frieza para com as crianças. A carta que ela escreveu às duas filhas mais velhas no dia seguinte à morte de Schumann não é exatamente uma lição de sensibilidade: “Ele era uma pessoa maravilhosa – que vocês, que o amavam tanto, se tornem dignas de um pai assim. Elise, você pode mudar sua maneira de ser, vocês podem tentar me fazer o mais feliz possível”. Não é a maneira mais gentil de dar notícias trágicas. No entanto, isso foi há muito tempo. É impossível entender todas as complexidades dessas personalidades e suas interações umas com as outras.

Então, por que isso importa? Por que nos interessamos tanto por Schumann – não apenas pelo compositor, mas também pelo homem e seu destino? Porque ele nos faz interessar. Ele nos interessa ao atrair-nos através de sua música, convidando-nos a compreendê-lo, a amá-lo. Como ele próprio descrever: “Ame-me bastante… Eu exijo muito, porque muito eu dou”

Steven Isserlis, junho de 2010
Traduzido por Vassily em junho de 2020

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129

1 – Nicht zu schnell
2 – Langsam
3 – Sehr lebhaft
4 – Cadenza

Woldemar BARGIEL (1828-1897)

5 – Adagio para violoncelo e orquestra

Steven Isserlis, violoncelo
Deutsche Kammerphilharmonie
Christoph Eschenbach, regência

Robert Alexander SCHUMANN

Fantasiestücke (Peças de Fantasia), para piano e clarinete (ou violino ou violoncelo), Op. 73

6 – Zart und mit Ausdruck
7 – Lebhaft, leicht
8 – Rasch und mit Feuer

Adagio e Allegro para piano e trompa (ou violino ou violoncelo), Op. 70

9 – Adagio
10 – Allegro

Fünf Stücke im Volkston (Cinco peças em tom popular), para violoncelo e piano, Op. 102

11 – Mit Humor
12 – Langsam
13 – Nicht schnell, mit viel Ton zu spielen
14 – Nicht zu rasch
15 – Stark und markiert

Steven Isserlis, violoncelo
Christoph Eschenbach, piano

Missa em Dó menor para solistas, coro e orquestra, Op. 147

16 – Offertorium

Dame Felicity Lott, soprano
David King, órgão
Steven Isserlis, violoncelo

17 – Faixa silenciosa (3 minutos)

Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129

18 – Cadenza e final original

Steven Isserlis, violoncelo
Deutsche Kammerphilharmonie
Christoph Eschenbach, regência

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Steven Isserlis é apaixonado por Schumann, e suas interpretações das obras do mestre alemão são condizentes com essa paixão. Além do repertório do disco de hoje, ele e o pianista húngaro Dénes Várjon (foto) gravaram um outro álbum com peças para violoncelo e piano, incluindo um arranjo de Isserlis da sonata no. 3 para violino – numa tentativa de compensação, conforme descreve no livreto, pelos cinco romances para violoncelo e piano que Clara destruiu após a morte de Robert. Essa bela gravação já foi publicada no PQP Bach. Como seus links estavam inativos, eu a restaurei para que a possam apreciar.

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Lieder – Fischer-Dieskau


Tinha outros planos para contribuir com mais Lieder nesse minifestival Schumann, até dar-me conta de que, com a exceção duma gravação sui generis de Dichterliebe (mais sobre ela adiante), não havia em nosso acervo qualquer dos preciosos registros  dessas obras que a maior voz do século passado, Dietrich Fischer-Dieskau, legou a nós outros, felizardos que o podemos ouvir.

Isso, claro, não poderia continuar assim, de modo que tratarei de expiar com juros e correções esse incompreensível lapso nosso. Para tanto, trago-lhes quatro gravações que abrangem os três grandes ciclos (Dichterliebe e os Liederkreise de Heine e Eichendorff, Opp. 24 e 39) e várias canções e baladas que abrangem tanto aquele milagroso “Ano das Canções” (Liederjahr) de 1840 quanto obras tardias e menos escutadas.

As imensas qualidades de Fischer-Dieskau estão sempre lá – a entonação e dicção impecáveis, o belíssimo timbre, o controle incomparável sobre todos requintes da expressão. Como os voos desse maravilhoso artista são sempre muito altos, e quase nada resta para lhe falar em termos de reparos (o único, talvez, é que suas expressões de dor e pesar são menos convincentes que as de júbilo, o que é ademais natural para quem tem um timbre tão brilhante e caloroso), falemos então dos pianistas. Jörg Demus e Christoph Eschenbach são bem acostumados ao afã de acompanhista, e eu os achei muito bem escalados ao longo desses álbuns: Eschenbach nos ciclos, que requerem um pouco mais de músculo pianístico, e Demus no Liederkreis de Heine e em obras de escritura pianística relativamente mais concisa, embora ele saiba lançar bem mão da pujança, como na famosa balada d’Os Dois Granadeiros. Esta, aliás, é uma das obras que aparecerão em duplicata, assim como a sublime Widmung (“Dedicatória”), o que espero que não lhes seja um problema.

O terceiro acompanhista é uma atração à parte: Vladimir Horowitz, que eu nunca antes ouvira acompanhar cantores, prestou-se a essa função junto a Fischer-Dieskau num concerto festivo em homenagem aos 85 anos do Carnegie Hall. Sinceramente, não sei como alguém ainda não teve a de lançá-lo comercialmente em separado, pois a parceria entre Fischer-Dieskau e Horowitz resultou na minha gravação favorita do ciclo. Como talvez o Dichterliebe tenha passado despercebido no miolo da colcha de retalhos daquele álbum, ou provavelmente alguns entre vós outros sentiram-se intimidados pela perspectiva de baixar um disco com Volodya, Rostropovich, Menuhin e Stern cantando, resolvi postar Dichterliebe separadamente para vocês.


Não – não estávamos exagerando.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Ciclo de canções sobre poemas de Joseph Eichendorff, Op. 39 (“Eichendorff-Liederkreis”)

1 – In der Fremde
2 – Intermezzo
3 – Waldesgespräch
4 – Die Stille
5 – Mondnacht
6 – Schöne Fremde
7 – Auf einer Burg
8 – In der Fremde
9 – Wehmut
10 – Zwielicht
11 – Im Walde
12 – Frühlingsnacht

Dichterliebe, ciclo de canções sobre textos do Lyrisches Intermezzo de Das Buch der Lieder de Heinrich Heine, Op. 48

13 – Im wunderschönen Monat Mai
14 – Aus meinen Tränen sprießen
15 – Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
16 – Wenn ich in deine Augen seh’
17 – Ich will meine Seele tauchen
18- Im Rhein, im heiligen Strome
19 – Ich grolle nicht
20 – Und wüßten’s die Blumen, die kleinen

Ciclo de canções sobre poemas de Heinrich Heine, Op. 24 (“Heine-Liederkreis”)

21 -Morgens steh’ ich auf
22 – Es treibt mich hin
23 – Ich wandelte unter den Bäumen
24 – Lieb’ Liebchen
25 – Schöne Wiege meine Leiden
26 – Warte, warte, wilder Schiffsmann
27 – Berg und Burgen schau’n herunter
28 – Anfangs wollt’ ich fast verzagen
29 – Mit Myrthen und Rosen

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Christoph Eschenbach, piano

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De Sechs Gedichte aus dem Liederbuch eines Malers, Op. 36
1 – No. 6: Liebesbotschaft
2 – No. 3: Nichts schöneres
3 – No. 4: An den Sonnenschein
4 – No. 1: Sonntags am Rhein, op. 36
5 – No. 5: Dichters Genesung

De Lieder und Gesänge, Op. 27
6 – No. 3: Was soll ich sagen?

De Drei Gesänge, op. 31
7 – No. 1: Die Löwenbraut

De Drei Gedichte, Op. 30
8 – No. 1: Der Knabe mit dem Wunderhorn
9 – No. 2: Der Page

De Myrthen, Op. 25
10 – No. 16: Rätsel, op.25
11 – No. 17: Venezianische Lieder
12 – No. 18: Venezianische Lieder

De Lieder und Gesänge, Op. 27
13 – No. 1: “Sag an, o lieber Vogel mein”
14 – No. 4: Jasminenstrauch, op. 27

De Myrthen, Op. 25
15 – No. 25: Aus den östlichen Rosen

De Lieder und Gesänge, Op. 27
16 – No. 5: “Nur ein laechelnder Blick”
17 – No. 2: “Dem roten Roesslein gleicht mein Lieb”

De Myrthen, Op. 25
18 – No. 22: Niemand
19 – No. 13: Hochländers Abschied
20 – No. 19: Hauptmanns Weib
21 – No. 2: Freisinn
22 – No. 8: Talismane
23 – No. 1: Widmung
24 – No. 3: Der Nussbaum
25 – No. 7: Die Lotosblume

De Vier Gesänge, Op. 142
26 – No. 2: “Lehn deine Wang”

De Romanzen und Balladen, Op. 64
27 – No. 3: Tragödie

De Fünf Lieder und Gesänge, Op. 127
28 – No. 2: Dein Angesicht

De Romanzen und Balladen, Op. 53
29 – No. 3: Der arme Peter

De Fünf Lieder und Gesänge, Op. 127
30 – No. 3: “Es leuchtet die Liebe”

31 – Belsatzar, Op. 57

De Romanzen und Balladen, Op. 49
32 – No. 1: “Die beiden Grenadiere”

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Jörg Demus, piano

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Heine-Liederkreis, Op. 24

1 -Morgens steh’ ich auf
2 – Es treibt mich hin
3 – Ich wandelte unter den Bäumen
4 – Lieb’ Liebchen
5 – Schöne Wiege meine Leiden
6 – Warte, warte, wilder Schiffsmann
7 – Berg und Burgen schau’n herunter
8 – Anfangs wollt’ ich fast verzagen
9 – Mit Myrthen und Rosen

De Spanisches Liederspiel, Op. 74
10 – No. 10: Der Kontrabandiste

De Liederalbum für die Jugend, Op. 74
11 – No. 7a: Zigeunerliedchen I (Unter die Soldaten)
12 – No. 7b: Zigeunerliedchen II (Jeden Morgen, in der Frühe)

De Spanische Liebeslieder, Op. 138
13 – No. 4: Tief im Herzen trag ich Pein

De Spanisches Liederspiel, Op. 74
14 – No. 6: Melancholie

De Lieder und Gesänge, Op. 51
15 – No. 6: Sehnsucht

De Spanisches Liederspiel, Op. 74
16 – No. 7: Geständnis

De Spanische Liebeslieder, Op. 138
17 – No. 3: O wie lieblich ist das Mädchen
18 – No. 7: Weh, wie zornig ist das Mädchen

De Drei Gedichte, Op. 30
19 – No. 3: Der Hidalgo

De Spanische Liebeslieder, Op. 138
20 – No. 5: Romanze

De Myrten, Op. 25
21 – No. 1: Widmung
22 – No. 3: Der Nussbaum
23 – No. 5: Lied aus dem Schenkenbuch I
24 – No. 6: Lied aus dem Schenkenbuch II
25 – No. 7: Die Lotosblume
26 – No. 24: Du bist wie eine Blume
27 – No. 15: Mein Herz ist schwer
28 – No. 21: Was will die einsame Träne
29 – No. 26: Zum Schluss

De Romanzen und Balladen, Op. 49
30 – No. 2: “Die feindlichen Brüder”

De Romanzen und Balladen, Op. 45
31 – No. 3: Abends am Strand

De Romanzen und Balladen, Op. 49
32 – No. 1: “Die beiden Grenadiere”

De Minnespiel, Op. 101
33 – No. 4: Mein schöner Stern

De Vier Gesänge, Op. 142
34 – No. 4: Wein Wagen rollet langsam

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Jörg Demus, piano

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Dichterliebe, Op. 48

01 – Im wunderschönen Monat Mai
02 – Aus meinen Tränen sprießen
03 – Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
04 – Wenn ich in deine Augen seh’
05 – Ich will meine Seele tauchen
06- Im Rhein, im heiligen Strome
07 – Ich grolle nicht
08 – Und wüßten’s die Blumen, die kleinen

Dietrich Fischer-Dieskau,barítono
Vladimir Horowitz,
piano

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No centenário de Schumann, em 1956, a Alemanha Oriental lançou um selo comemorativo (acima) que trazia o retrato de Robert sobre, num célebre engano filatélico uma peça de Schubert. O erro foi corrigido, e o selo foi emitido com uma partitura de Schumann (abaixo). A canção de Schubert foi relativamente fácil de identificar: pela tonalidade incomum e pela letra, vi que era “Wandrers Nachtlied I”, D. 224. Será que algum dos leitores-ouvintes consegue descobrir qual das canções de Schumann ilustra o selo sem erros? Dica: ela faz parte de um dos ciclos que postamos hoje.

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Obra completa para piano com pedaleira – Schmeding/Obra completa para órgão – Rothkopf – Zerfass

Em 1844, depois de acompanhar Clara numa turnê pela Rússia, Robert Schumann mergulhou outra vez em crise pessoal. Os sintomas depressivos agravaram-se e, tanto quanto eles, suas incertezas acerca de seu rumo profissional. A esposa, uma pianista de imenso sucesso e ocupadíssima carreira internacional, era a provedora da casa, e isso o incomodava muito. Do mesmo modo, duvidava de sua capacidade como compositor. Como panaceia para todas essas dificuldades, mergulhou em estudos de contraponto, debruçando-se especialmente sobre obras de Johann Sebastian Bach. Na mesma época, o conservatório de Leipzig adquirira um piano com pedaleira – um piano com uma série extra de cordas graves acionadas por um pedal, no feitio dos cravos e clavicórdios com pedaleira que já existiam há muito tempo, usados por organistas para estudos em casa. A coincidência entre seu interesse pelo contraponto e a descoberta desse novo instrumento inspirou Robert a um breve surto de composição para o mesmo, o que resultou em três séries de peças: os seis estudos, Op. 56; os quatro esboços, Op. 58; e seis fugas sobre o tema B-A-C-H (na notação alemã, si bemol-lá-dó-si natural), Op. 60.

O piano com pedaleira caiu rapidamente em desuso e, embora Schumann tenha declarado que esperava ser lembrado por apenas uma composição, e que ela era o Op. 60, as três coleções de peças para o instrumento também caíram no vale do oblívio, de lá resgatadas apenas por um que outro organista mais aventuroso. Com o advento da gravação fonográfica e o aperfeiçoamento de suas técnicas, que permitiram o registro da complexidade dos sons do órgão, as obras de Schumann para teclado com pedaleira tiveram alguma voga, mesmo porque seu conjunto cabia comodamente num LP.

O organista Martin Schmeding, que já as tinha no repertório, nunca se satisfez completamente com tocá-las em seu instrumento. Apesar das seis fugas soarem bastante idiomáticas ao órgão, com suas notas longas e muitos legatos, as duas outras séries pareciam exigir o piano, especialmente as do Op. 58, com seus mui pianísticos acordes em staccato. Além disso, sua experiência com o piano com pedaleiras restringia-se a algumas tentativas, que pouco o entusiasmaram, numa engenhoca moderna em que, diferentemente do instrumento que Schumann tinha em mente, dois imensos pianos de cauda são acoplados por um mecanismo bolado por alguém que certamente tem muita imaginação e pianos de sobra em sua casa.

 

Fala sério

O desinteresse de Schmeding pelo piano com pedaleira durou até que, numa viagem a Bélgica, ele encontrou um piano de desenho semelhante àquele do conservatório de Leipzig e, melhor ainda, em condições de ser tocado. Rapidamente, então, organizou esta gravação, que é a primeira integral das obras de Schumann para esse raro instrumento, mais de cento e sessenta anos depois de sua composição.


Schmeding decidiu colocar os microfones dentro do instrumento, perto dos pedais. Isso ajudaria os ouvintes a apreciarem as qualidades únicas do piano com pedaleira, a despeito de um que outro ruído de marcenaria e o dos próprios pés do pianista. Para termos de comparação, incluiu também três versões da mesma peça – o breve cânone das “Folhas de Álbum”, Op. 124 – com diferentes posições do microfone, para demonstrar as diferenças na captação do som e dos efeitos atingidos pelo instrumento. A interpretação é muito competente e clara, extremamente desromantizada, e deixa claro que as fugas, como já dissemos, soam bem melhor quando realizadas no órgão.

Dessa feita, também resolvi trazer-lhes duas gravações feitas em órgãos. A primeira é a de Andreas Rothkopf, no órgão histórico da igrejinha de Hoffenheim, com muita clareza na execução e tino na escolha dos registros, preferindo aqueles evocativos dos sopros de madeira, resultando numa interpretação muito bonita e calorosa, sem grandes arroubos. Quem preferir órgãos com baixos poderosos e mais tonitruância preferirá a gravação de Dan Zerfaß no instrumento moderno da grande catedral de Worms, com maior variedade de registros e uma ressonância bem mais parruda. Embora a primeira seja minha preferida, acho que a segunda tem mais potencial de conquistar novos ouvintes para essas obras tão pouco conhecidas. Assim, recomendo que comecem por Schmeding, sigam com Zerfaß, concluam com Rothkopf, e depois me digam se não é mesmo de se lamentar que Schumann não tenha escrito mais para esses instrumentos.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Studien für den Pedalflügel, Op. 56
01 – No. 1 em Dó maior
02 – No. 2 em Lá menor
03 – No. 3 em Mi maior
04 – No. 4 em Lá bemol maior
05 – No. 5 em Si menor
06 – No. 6 em Si maior

De Albumblätter, Op. 124
07 – No. 20: Canon

Skizzen für den Pedalflügel, Op. 58
08 – No. 1: Nicht schnell und sehr markiert
09 – No. 2: Nicht schnell und sehr markiert
10 – No. 3: Lebhaft
11 – No. 4: Allegretto

De Albumblätter, Op. 124
12 – No. 20: Canon

Seis fugas sobre B-A-C-H, Op. 60
13 – No. 1: Langsam
14 – No. 2: Lebhaft
15 – No. 3: Mit sanften Stimmen
16 – No. 4: Mässig, doch nicht zu langsam
17 – No. 5: Lebhaft
18 – No. 6. Mässig, nach und nach schneller

De Albumblätter, Op. 124
19 – No. 20: Canon

Martin Schmeding, piano com pedaleira

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Skizzen für den Pedalflügel, Op. 58
01 – No. 1: Nicht schnell und sehr markiert
02 – No. 2: Nicht schnell und sehr markiert
03 – No. 3: Lebhaft
04 – No. 4: Allegretto

Studien für den Pedalflügel, Op. 56
05 – No. 1 em Dó maior
06 – No. 2 em Lá menor
07 – No. 3 em Mi maior
08 – No. 4 em Lá bemol maior
09 – No. 5 em Si menor
10 – No. 6 em Si maior

Seis fugas sobre B-A-C-H, Op. 60
11 – No. 1: Langsam
12 – No. 2: Lebhaft
13 – No. 3: Mit sanften Stimmen
14 – No. 4: Mässig, doch nicht zu langsam
15 – No. 5: Lebhaft
16 – No. 6. Mässig, nach und nach schneller

Andreas Rothkopf, órgão da igreja evangélica de Hoffenheim, Alemanha (1846)
Construtor: Eberhard Friedrich Walcker (1794-1872)

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Studien für den Pedalflügel, Op. 56
01 – No. 1 em Dó maior
02 – No. 2 em Lá menor
03 – No. 3 em Mi maior
04 – No. 4 em Lá bemol maior
05 – No. 5 em Si menor
06 – No. 6 em Si maior

Skizzen für den Pedalflügel, Op. 58
07 – No. 1: Nicht schnell und sehr markiert
08 – No. 2: Nicht schnell und sehr markiert
09 – No. 3: Lebhaft
10 – No. 4: Allegretto

Seis fugas sobre B-A-C-H, Op. 60
11 – No. 1: Langsam
12 – No. 2: Lebhaft
13 – No. 3: Mit sanften Stimmen
14 – No. 4: Mässig, doch nicht zu langsam
15 – No. 5: Lebhaft
16 – No. 6. Mässig, nach und nach schneller

Dan Zerfaß, órgão da catedral de São Pedro em Worms, Alemanha (1985)
Construtor: Johannes Klais Orgelbau GmbH, Bonn

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Isso a Globo não mostra

Vassily

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival – 2007 #BTHVN250

De acordo com a Wikipedia, Lugano é uma cidade com 65 mil habitantes, localizada no Sul da Suíça, um local paradisíaco, ao lado de um lago absolutamente magnífico.

Foi ali que Martha Argerich organizou por muitos anos um Festival de Música, revelando muitos músicos talentosos, e outros já famosos aproveitaram para desfilarem ainda mais seu talento.

A série começa com o genial Trio para Piano ‘Ghost’ de Beethoven, belamente interpretado por Martha, o Capuçon violinista, Renaud, e Mischa Maisky, que dispensa apresentações. Músicos deste nível tocando juntos, em um lugar como este, com certeza seria o passeio dos sonhos de muita gente.

CD 1:

Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Trio in D major “Ghost”, Op. 70,1

Ferruccio Busoni (1866-1924) / Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
Fantasie für eine Orgelwalze, arrangement for 2 pianos in F minor (after Mozart, K. 608)

Robert Schumann (1810-1856):
Andante and Variations for 2 pianos in B flat major, Op. 46
Kinderszenen, Op. 15

Martha Argerich – piano
Lilya Zilberstein – piano
Gabriela Montero – piano
Renaud Capuçon – violin
Mischa Maisky – cello

CD 2:

Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Quartet No. 2 in D major, WoO 36,2

Maurice Ravel (1875-1937):
Ma mère l’oye, suite for piano 4 hands

Mikhail Glinka (1804-1857):
Grand Sextet for piano, two violins, viola, cello and double-bass

Olivier Messiaen (1908-1992):
Theme and Variations, for violin & piano

Maurice Ravel (1875-1937):
Daphnis et Chloé, suite No. 2 (transcr. 2 pianos Lucien Garban)

Martha Argerich – piano
Alexander Mogilevsky – piano
Karin Lechner – piano
Francesco Piemontesi – piano
Sergio Tiempo – piano
Lucia Hall – violin
Alissa Margulis – violin
Lida Chen – viola
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Mark Drobinsky – cello
Enrico Fagone – double bass

CD 3:

Béla Bartók (1881-1945):
Violin Sonata No.1 Sz75

Ernő von Dohnányi (1877-1960):
Piano Quintet No.1 in C minor, op.1

Witold Lutosławski (1913-1994):
Variations on a Theme by Paganini for 2 pianos

Martha Argerich – piano
Nicholas Angelich – piano
Mauricio Vallina – piano
Renaud Capuçon – violin
Dora Schwarzerg – violin
Lucia Hall – violin
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Jorge Bosso – cello

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#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Lieder, transcritos para piano por Clara Schumann (1819-1896) – Garben


Dia dos Namorados? Nah, só aqui no Brasil. É véspera do dia de Santo Antônio e, mais que isso, aquela efeméride marqueteira inventada para que as pessoas consumam alguma coisa em junho, pois o Dia de São Valentim é em fevereiro, no meio das férias, época ruim para consumo, e porque abril já tem a Páscoa e maio já tem as noivas e o Dia das Mães, e julho… Bem, julho já é de férias de novo, então o melhor seria que realmente os casais enchessem os restaurantes e fizessem fila no motel em junho mesmo, nem que fosse para dar o pretexto a Vassily para, pela primeira e provavelmente última vez, escrever a palavra “motel” aqui no PQP Bach.

Eu ligo tchongas para o Dia dos Namorados, mas já que estamos em nosso minifestival Schumann, escolhi como música de fundo para os arrulhos dos pombinhos que o celebram essas bonitas canções de Robert, habilmente transcritas por Clara para o piano, e aqui interpretadas por Cord Garben, um bom pianista que ficou mais conhecido como produtor e gerente de egos da Deutsche Grammophon.

Apesar de todas aparências, e de toda fama que granjearam como Casal 20 (termo que atesta minha velhice) da música de concerto, a relação entre Clara e Robert não tinha calmarias. A casa dos Schumann sempre oscilou entre brasas e chamas: Robert era devotamente apaixonado pela esposa, mas extremamente possessivo, o que se agravava ainda mais pelo fato de Clara, uma das melhores pianistas da Europa, excursionar extensamente e com muita frequência. Dóia-lhe em especial na machidão, também, o fato da esposa ser tanto a provedora da casa quanto a Schumann famosa no mundo da época. Clara, por sua vez, sempre teve foi muito crítica a Robert como compositor, e a tal ponto que, com algumas exceções, só incorporou as obras dele ao seu repertório depois de enviuvar. Nos quarenta anos em que viveu sem ele, dedicou-se à preservação de seu legado, não sem dar chá de sumiço em algumas partituras que considerava indignas de serem lembradas, o que levou muito papel para a fogueira, enquanto batalhava para sustentar os sete filhos que sobreviveram à infância, e aos netos que os filhos lhe traziam.

Essas transcrições que ora lhes alcanço, em sua maior parte feitas depois da morte de Robert, são tão fiéis ao seu texto e essenciais quanto poderiam ser. Não há aqui a grandiloquência, nem os arroubos prestidigitadores de tantas das transcrições de Liszt, feitas para o húngaro brilhar nos palcos. Clara, ao contrário, lançou mão de sua sabedoria pianística para incorporar a melodia do canto àquele que é, com raras exceções, o acompanhamento original de Schumann. Essas apaixonadas canções sem palavras, muitas delas compostas naquele incrível “Ano das Canções” do 1840, são um sensível memorial de Clara para Robert – talvez a sonhar com um amor como o de “Widmung”, poema que abre a coleção “Myrthen”:

“Du meine Seele, du mein Herz,
Du meine Wonn’, O du mein Schmerz,
Du meine Welt, in der ich lebe,
Mein Himmel du, darein ich schwebe,
O du mein Grab, in das hinab
Ich ewig meinen Kummer gab”

 

“Tu, minha alma; tu, meu coração,
Tu, meu prazer; oh tu, minha dor,
Tu, meu mundo, no qual eu vivo,
Meu céu, tu – no qual flutuo,
Tu és o túmulo onde sepultei
Minhas mágoas para sempre”

 

 

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Transcrições para piano de Clara Josephine SCHUMANN (1819-1896)

1 – Widmung, Op. 25 no.1: “Du meine Seele, du mein Herz”
2 – Dein Angesicht, Op. 127 no. 2: “Dein Angesicht, so lieb und schön”
3 – Er, der Herrlichste von allen, Op. 42 no. 2
4 – Du bist wie eine Blume, Op. 25 no. 24
5 – Der Nussbaum, Op. 25 no. 3: “Es grünet ein Nussbaum vor dem Haus”
6 – Singet nicht in Trauertönen, Op. 98a no. 7 (Philinens Lied)
7 – Ich wandre nicht, Op. 51 no. 3
8 – Sehnsucht, Op. 51 no. 1: “Ich blick in mein Herz und ich blick in die Welt”
9 – Helft mir, ihr Schwestern, Op. 42 no. 5
10 – Die Lotosblume, Op. 25 no. 7: “Die Lotosblume ängstigt sich vor der Sonne Pracht”
11 – Nichts schöneres, Op. 36 no. 3: “Als ich zuerst dich hab gesehn”
12 – Märzveilchen, Op. 40 no. 1: “Der Himmel wölbt sich rein und blau”
13 – Sonntags am Rhein, Op. 36 no. 1: “Des Sonntags in der Morgenstund”
14 – Mit Myrthen und Rosen, Op. 24 no. 9
15 – Berg und Burgen schau’n herunter, Op. 27 no. 7
16 – Dem roten Röslein gleicht mein Lieb, Op. 27 no. 2
17 – In der Fremde, Op. 39 no. 1: “Aus der Heimat hinter den Blitzen rot”
18 – Intermezzo, Op. 39 no. 2: “Dein Bildnis wunderselig”
19 – Mondnacht, Op. 39 no. 5: “Es war, als hätt’ der Himmel”
20 – Frühlingsnacht, Op. 39 no. 12: “Über’n Garten durch die Lüfte”
21 – Rose, Meer und Sonne, Op. 37 no. 9: “Rose, Meer und Sonne sind ein Bild der Liebsten mein”
22 – Der Knabe mit dem Wunderhorn, Op. 30 no. 1: “Ich bin ein lust’ger Geselle”
23 – Er ist’s, Op. 79 no. 23: “Frühling läßt sein blaues Band'”
24 – An den Sonnenschein, Op. 36 no. 4: “O Sonnenschein! Wie scheinst du mir…”
25 – Ständchen, Op. 36 no. 2: “Komm in die stille Nacht…”
26 – Die Stille, Op. 39/4: “Es weiß und rät es doch keiner”
27 – Volksliedchen, Op. 51 no. 2: “Wenn ich früh in den Garten geh'”
28 – Geständnis, Op. 74 no. 7: “Also lieb ich euch”

Cord Garben, piano

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Para que não fiquem achando que eu não gosto das transcrições de Liszt, aqui está Nelson Freire tocando – à primeira vista! – a bonita transcrição de Franz para “Widmung”. Quem lhe vira as páginas é sua ultra-amiga Martha Argerich, que faz uma participação muito especial do documentário “Nelson Freire”, de Walter Salles, do qual esse vídeo é um extra.

 


Instigada por Nelson, Martha incorporou a transcrição de “Widmung” a seu repertório e passou a tocá-lo como bis – como fez no ano passado para esses felizardos na Itália. Sua leitura, expressiva e brilhante, é extraordinária – como tudo o que vem dela…


… e que não reparem nas águas-vivas no fundo e nos cortes no começo e no fim do vídeo: Jessye Norman era o de que melhor havia no planeta, e sua interpretação de “Widmung” nunca deixa meus olhos secos.

Vassily

#SCHMNN210 – Niccolò Paganini (1782-1840): Caprichos para violino, Op. 1, com acompanhamento de piano por Robert Schumann – Garrett – Canino

Depois da tomatina que deve ter chovido sobre Robert ontem, quando aqui revelamos sua inana, ainda que bem intencionada tentativa de engrossar um pouco o que se achava ser o ralo caldo das sonatas e partitas para violino de J. S. Bach, vocês tirarão esse CD de letra.

Uma porque os caprichos de Paganini, apesar de todas suas qualidades, não merecem ser mencionados na mesma frase que as supremas obras-primas que ontem publicamos, também com um acompanhamento para piano proposto por Schumann.

Outra porque Paganini, mesmo ao criar praticamente uma enciclopédia dos recursos então conhecidos ao instrumento, não teve interesse particular em explorar sua escrita polifônica, como Bach fez genialmente em suas seis criaturas, de modo que um acompanhamento para piano para os caprichos parece mais útil e muito menos redundante.

Inda outra porque Schumann, aqui, se deu o trabalho de elaborar um pouco mais a parte para piano, que sublinha e comenta – algo pachorrentamente, é verdade – as ideias expostas pelo violino, enquanto este se estrebucha em suas cordas e quase arrebenta suas costuras para dar voz às medonhas dificuldades propostas por Paganini.

E a última, talvez a mais importante: o violinista da gravação que ora lhes apresentamos, David Garrett, é muito competente e, depois que deixou de lado o terno furta-cor e o cabelinho nerd da capa do disco e arranjou um megahair e um nicho na milionária indústria do crossover, ficou realmente muito gato – tão gato que faz uma cara igual à do meu bichano quando fareja ferormônios.


O gatão Garrett, claro, passa muito mais trabalho que seu colega Canino (trocadilho do ano, hein?), e o resultado acaba sendo mais recomendável que a gravação que postamos ontem. Talvez o próprio Garrett tenha se enfastiado com a contribuição de Schumann e, por isso, decidiu tocar sozinho o célebre capricho final. Antes que os completistas fiquem contrariados, informamos que o inesquecível Jascha Heifetz será convidado a tocar, com Emanuel Bay, a peça faltante e fechar a fatura. Ok, eu sei que é sabotagem botar qualquer violinista para tocar antes de Heifetz, mas Garrett é lindo e rico, e eu nada disso, de modo que uso as pobres armas que tenho para destilar minha amarga inveja.

A quem estranhar as diferenças na parte de violino, peço que não culpem o grande Jascha, e sim Leopold Auer, seu professor e editor da publicação dos caprichos usada neste filme. E para quem quiser conhecer os caprichos in natura, ou refrescar os ouvidos revisitando-os após a intervenção de Schumann, restaurei os links para duas das melhores gravações que deles temos no acervo pequepiano: aquela com o brilhante Ilya Kaler, um mestre que é menos conhecido do que merece, e a outra, com Shlomo Mintz (uma terceira, minha favorita, com a incrível Julia Fischer, segue firme no ar).

Niccolò PAGANINI (1782-1840)

Vinte e quatro caprichos para violino solo, Op. 1

Acompanhamento para piano composto por
Robert Alexander SCHUMANN
(1810-1856)

01 – Andante (Mi maior)
02 – Moderato (Si menor)
03 – Sostenuto – Presto – Sostenuto (Mi menor)
04 – Maestoso (Dó menor)
05 – Agitato (Lá menor)
06 – Lento (Sol menor)
07 – Posato (Lá menor)
08 – Maestoso (Mi bemol maior)
09 – Allegretto (Mi menor)
10 – Vivace (Sol menor)
11 – Andante – Presto – Tempo I (Dó maior)
12 – Allegro (Lá bemol maior)
13 – Allegro (Si bemol maior)
14 – Moderato (Mi bemol maior)
15 – Posato (Mi menor)
16 – Presto (Sol menor)
17 – Sostenuto – Andante (Mi bemol maior)
18 – Corrente – Allegro (Dó maior)
19 – Lento – Allegro assai (Mi bemol maior)
20 – Allegretto (Ré maior)
21 – Amoroso – Presto (Lá maior)
22 – Marcato (Fá maior)
23 – Posato (Mi bemol maior)
24 – Tema, quasi Presto – Variazioni – Finale (Lá menor)

David Garrett, violino
Bruno Canino, piano

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Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Fantasia op. 17; Fantasiestücke op. 12 (Martha Argerich)

Neste mês de aniversário de Robert Schumann, estava faltando uma de suas mais famosas obras para piano: a Fantasia em Dó Maior. A peça começou a ser composta em 1836, quando o pai de Clara Wieck havia proibido Schumann de vê-la. Ele escreveu para Clara, a respeito da Fantasia: “o primeiro movimento deve ser o mais apaixonado que já compus – um profundo lamento por você.” Eles ainda passariam por muitas turbulências até se casarem quatro anos depois.

A gravação que Martha Argerich fez com seus 30 e poucos anos é famosa por ser explosiva, descontrolada, características que fazem da pianista argentina uma grande intérprete de Schumann. Não é à toa que, em entrevistas, Martha fala de sua relação próxima e especial com a música desse compositor:

Schumann!
Sua música me toca muito diretamente… Uma espontaneidade, uma pureza. E também, claro, a loucura, as mudanças de humor. Posso até chorar. Quando o toco, fico com lágrimas nos olhos.

Yves Nat dizia que Beethoven era um deus e Schumann, um amigo.
Ah! sim, é possível. Ele tem uma imaginação louca, ele abre mundos, com sua linguagem própria, inconfundível. Um amigo da alma, sim.

E Chopin? Você estará no juri do concurso em Varsóvia este ano…
Chopin é terrivelmente difícil. Faz muito tempo que não toco… É meu amor impossível. Ele é muito ciumento.

Martha, como Richter, pertence ao grupo de pianistas que extravasam as mais fortes emoções nos momentos mais desconrolados de Schumann. O piano chega a apresentar um som metálico em certos momentos, dá a impressão de que as cordas vão falhar. Não é uma gravação perfeitinha, definitivamente. A segunda metade do CD (originalmene, lado B do LP) traz as “Peças de Fantasia”, Fantasiestücke, compostas na mesma fase da vida de Schumann e também cheias de contrastes e mudanças de humor. Vejam as traduções dos nomes das peças abaixo: são várias miniaturas noturnas, com aquela atmosfera de escuridão, mistério e sonhos tão típica do Romantismo.

Fantasia em Dó maior, opus 17
Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen; Im Legenden-Ton – Tocar do começo ao fim de maneira fantástica e apaixonada; Em tom de lenda
Mäßig. Durchaus energisch – Moderado, sempre enérgico
Langsam getragen. Durchweg leise zu halten – Lento e constante. Manter quieto

Fantasiestücke, opus 12
Des Abends – “De noite”
Aufschwung – “Elevação”
Warum? – “Por quê?”
Grillen – “Quimeras”
In der Nacht – “De madrugada”
Fabel – “Fábula”
Traumes Wirren – “Sonhos confusos”
Ende vom Lied – “Fim da canção”

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A clássica pose pensativa com a mão no rosto

Pleyel

#SCHMNN210 – Johann Sebastian Bach (1685-1750): Sonatas e Partitas para violino, com acompanhamento de piano por Robert Schumann – Bedelian – Griffitt

Nenhuma festa de aniversário é completa sem que se fale mal do aniversariante, não é mesmo?

Então vamos falar mal de Robert: em algum momento de sua vida, ele resolveu seguir a voga e adicionar acompanhamento de piano a obras alheias. Não contente, olhou para sua prateleira de partituras e, fuçando a aba “Bach, J. S.”, dela catou um volume em que toda música se resumia a uma parte em clave de sol e, incontinenti, pôs-se a completar aquela paçoca com as carninhas de acordes e baixos que, pensava ele, tanto lhe faltavam.

O resultado é o que vocês aqui ouvem: do Alfa e do Ômega da Música, do maior gênio que já viveu neste triste planeta, do imenso Johann Sebastian Bach, as sacrossantas sonatas e partitas para violino – às quais não se pode apor o “solo”, porque aqui estão com… acompanhamento de piano.

Admito que o conceito, que me sugeriu uma ultrajante pichação, me foi muito pior que o que de fato ouvi: uma parte para piano realmente supérflua, a realizar alguns dos acordes e notas que o Demiurgo, numa de suas obras supremas, um exercício de contingências ao compor polifonicamente para um instrumento mormente monófono, resolvera tão só sugerir ao ouvinte.

Se há algum mérito nela, é o de que a contribuição de Schumann não é pervasiva. Com alguns minutos de audição, conseguimos nos acostumar a elas e pescar, vá lá, um que outro arroubo criativo nela. Advirto, no entanto, que é especialmente duro ouvir as geniais fugas das sonatas com a camada de pichação pianística – ao passo que a Chacona, talvez o ponto mais alto de toda Música, é menos pior do que se espera.

Para quem não me acusem de anacronismos, dou o braço a torcer: Schumann adorava Bach e escreveu o acompanhamento para suas obras com as melhores intenções. Apesar de amplamente reconhecido entre seus colegas músicos como um dos maiores mestres do passado, a redescoberta de suas obras para o público musical em geral – impulsionada por Felix Mendelssohn, que apresentou a Paixão segundo Mateus com imenso sucesso em Berlim – ainda era incipiente. Muitas das obras para instrumentos solo, incluindo quase toda literatura para teclado e as suítes, sonatas e partitas para cordas, eram tidas como obras-primas e valioso material de estudo, mas pouco apeteciam às plateias acostumadas a ver Liszts e Paganinis (mais sobre ele em breve) rugirem com seus instrumentos. Assim, entendemos os esforços de Robert como uma amorosa e, a meu ouvir, inana tentativa de tornar as grandes obras do velho Bach mais atraentes e, quiçá, menos estranhas aos ouvidos de sua época. Sua reverência ao mestre era tão grande que seu acompanhamento foi publicado exatamente como tal: somente uma partitura para piano, com pequenos excertos da parte de violino impressos em tipo miúdo para servirem como deixas ao intérprete. E, se vocês perceberem alguma diferença entre o que o violinista aqui tocar e o que estão acostumados a ouvir, não culpem o pobre Robert, e sim a edição das obras de Bach que ele tinha à disposição na época, com indicações dinâmicas e interpretativas acrescentadas por outrem, à qual ainda não se adicionara o valioso produto do trabalho musicológico que culminaria com as primeiras edições críticas da obra do Maior de Todos.

Os intérpretes nesta gravação desincumbem-se direitinho da tarefa inglória. O violinista Bedelian, cuja nacionalidade não descobri, mas que é de origem armênia e fez carreira no Reino Unido e nos Estados Unidos, dá algum tempero romântico – ma non troppo – aos frutos de Bach, a despeito de algumas barbeiradinhas, enquanto Lorna (adoro o nome!) Griffitt transpira bastante menos com a parte de Schumann. Baixem, ouçam, odeiem – e aproveitem para falar mal do aniversariante, que em breve voltamos com suas obras-primas. Ah – e quem achar que precisa de desinfetante para os ouvidos depois do que escutar, ofereço a restauração de duas postagens das sonatas e partitas in natura: uma com violino barroco, por John Holloway, e outra com violino moderno, por Christian Tetzlaff.

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Sonatas e partitas para violino solo, BWV 1001-1006

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Acompanhamento para as sonatas e partitas de J. S. Bach para piano, WoO 8

Sonata no.1 em Sol menor para violino solo, BWV 1001
1 – Adagio
2 – Fuga
3 – Siciliana
4 – Presto

Partita no.1 in Si menor para violino solo, BWV 1002
5 – Allemanda
6 – Double
7 – Corrente
8 – Double
9 – Sarabande
10 – Double
11 – Tempo di Borea
12 – Double

Sonata no.2 in Lá menor para violino solo, BWV 1003
13 – Grave
14 – Fuga
15 – Andante
16 – Allegro

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DISCO 2

Partita no. 2 em Ré menor para violino solo, BWV 1004
1 – Allemanda
2 – Corrente
3 – Sarabanda
4 – Giga
5 – Ciaccona

Sonata no.3 em Dó maior para violino solo, BWV 1005
6 – Adagio
7 – Fuga
8 – Largo
9 – Allegro assai

Partita no.3 em Mi maior para violino solo, BWV 1006
10 – Preludio
11 – Loure
12 – Gavotte en Rondeau
13 – Menuet I
14 – Menuet II
15 – Bourrée
16 – Gigue

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Haroutune Bedelian, violino
Lorna Griffitt, piano


Para quem odiou o bedelho de Schumann e quiser ouvir Johann Sebastian sans Robert, recomendo “Bach in Tiradentes”, o primeiro registro em DVD das Sonatas e Partitas completas do Colosso de Eisenach, em que o mesmo Haroutune Bedelian interpreta, sem piano, as mesmas obras na belíssima igreja de Santo Antônio em Tiradentes, Minas Gerais.

Vassily

Schumann (1810-1856): Concerto para Piano – Jan Lisiecki

Schumann (1810-1856): Concerto para Piano – Jan Lisiecki

S C H U M A N N

Concerto para Piano

Obras para Piano e Orquestra

Jan Lisiecki, piano

 

No meio do mês de junho do ano passado (2019) assisti a um concerto na Sala Cecília Meireles no qual a Orquestra Sinfônica CESGRANRIO, sob a regência de Eder Paolozzi, acompanhou a pianista Sylvia Thereza tocando o Concerto de Schumann. Foi uma noite inspiradora. O Concerto de Schumann foi o ponto alto e o bis da pianista, o belíssimo ‘Reflets dans l’eau’, de Debussy, ‘extrapetacular’!!

Nestes dias em que estou trancado em casa, estas lembranças parecem ainda mais caras. Mas deixemos de tristezas, pois como se diz, suspiro de vaca não arranca estaca! Mas tenho ouvido várias gravações do Concerto do Robert por conta das lembranças daquela noite.

A postagem também é para homenagear os 210 anos de seu nascimento.

Houve um tempo em que achava que os concertos de Schumann e de Grieg haviam sido compostos para serem apresentados juntos, tipo Concertos-Cosme e Damião. Havia o disco de Arrau, de Kovacevich, Leon Fleisher, Radu Lupu, Perahia e outros. Entre as gravações mais recentes destes dois concertos reunidos, recomendo fortemente a do Leif ove Andsnes. Nesta gravação o acompanham nada menos que a Berliner Philharmoniker regida pelo saudoso Mariss Jonsons. Se bem que esta gravação já não é mais ‘tão’ recente, o tempo voa!

Algumas destas gravações mencionadas devem ser postadas pelos meus amigos aqui do blog. Assim, optei por postar uma gravação do Concerto para Piano de Schumann de 2016 que no lugar do Concerto de Grieg tem a companhia de outras peças de Schumann.

Just when I thought I was out, they pull me back in!

O jovem pianista canadense Jan Lisiecki já apareceu por aqui sob os auspícios do FDP Bach. A Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia tem muita tradição, foi regida por Carlo Maria Giulini entre outros. Sob a direção de Antonio Pappano, um grande regente em muitas gravações com solistas, nos oferece interpretações excelentes das peças.

As duas peças para piano e orquestra que dão continuidade ao concerto são mais raramente apresentadas e tem ótimos momentos. A Introdução e Allegro appassionato em sol maior e foi estreada por Clara Schumann em 4 de fevereiro de 1850. A Introdução e Allegro de concerto em ré menor foi composta em 1853, uma das últimas composições de Schumann e foi dada como presente de aniversário à Clara.

O maestro e o solista em pose para a coluna do PQP Bach Publishing House

Para completar o disco, Jan Lisiecki oferece a famosíssima Träumerei, um número de Kinderszenen.

Na minha opinião, o ponto forte do disco é apresentar um repertório romântico de forma equilibrada, com suficiente bravura e impetuosidade, mas permitindo seus momentos de ‘devaneios’. Isto tudo sem incorrer em excessos, que pode ser bastante perigoso neste tipo de repertório.

Veja um resumo da crítica feita ao álbum no ‘The Guardian’: Esta gravação revela uma performance extraordinária. A música de Schumann pode não ser a mais tecnicamente difícil do repertório romântico, mas seus momentos de bravura, especialmente o gesto de abertura do concerto e a parte atlética de seu movimento final, foram realizados com absoluta autoridade. Mais precisamente, a parte que requer mais sensibilidade e introversão na maior parte do solo foi realizada com excepcional maturidade e equilíbrio. Pappano e seus músicos uniram-se de maneira impecável ao pianista, com destaques especial aos solos das madeiras.

Robert Schumann (1810 – 1856)

Concerto para piano e orquestra em lá menor, op. 54

  1. I. Allegro afetuoso
  2. II. Intermezzo. Andantino grazioso  &  III. Allegro vivace

Introdução e Allegro appasionato em sol maior, Op. 92

  1. I. Introdução
  2. II. Allegro appassionato

Introdução e Allegro de Concerto em ré menor, Op. 134

  1. Introdução e Allegro

Kinderszenen, Op. 15

  1. Träumerei

Jan Lisiecki, piano

Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia

Antonio Pappano

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FLAC | 213 MB

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MP3 | 320 KBPS | 139 MB

Quem foi que me chamou de prodígio aí???

Para você praticar suas habilidades linguísticas:

What a lovely CD, great, clear and neat recording!

Intelligent and inspiring performance.

This young man from Calgary, Canada, is one hell of a piano player. The orchestra isn’t all that shabby either. Gorgeous stuff!!!

Molto interesse per questo prodigio giovanissimo, e conferma ora, che sempre giovane è, ma con tanta esperienza in più, il Direttore Pappano non ha bisogno di presentazioni

Aproveite!

René Denon

Schumann (1810-1856): Peças para Piano – Klara Würtz

Schumann (1810-1856): Peças para Piano – Klara Würtz

Schumann

Fantasiestücke

Waldszenen

Arabeske

Kinderszenen

Klára Würtz

Schumann demorou a decidir-se entre a literatura e a música e quando a música foi escolhida, oscilou entre compor e tornar-se um virtuose. Esta última opção, alas, não pode acontecer, mas ele encontrou na pequena Clara uma intérprete para realizar qualquer dificuldade técnica que fosse necessária para realizar musicalmente suas inspirações.

Inicialmente compôs música para piano e posteriormente passou a produzir música de câmera e para orquestra, assim como as suas maravilhosas canções.

Mesmo compondo três sonatas para piano, que talvez venham a aparecer por aqui, sua música para piano é formada principalmente por conjuntos de peças.

Este disco maravilhoso que foi produzido pelo selo holandês Brilliant, que parece ter um orçamento bastante regrado, têm como intérprete a excepcional pianista húngara Klára Würtz.

Não se deixe enganar pela capa um pouco simples e concentre-se na música. No repertório três coleções – Fantasiestücke, Walderszenen e Kinderszenen, além de uma peça única, o Arabeske.

Klára Würtz

As três coleções de peças devem bastante à literatura, mas falarei um pouquinho aqui da Fantasiestücke, na qual coabitam dois aspectos da personalidade de Schumann que pode ser interessante conhecer: Florestan e Eusebius. Enquanto Eusebius é o sonhador, Florestan representa o lado passional. Ou ainda, Eusebius é introvertido (triste) enquanto Florestan é extrovertido (alegre). Sei que colocando assim pode parecer muito simplista, mas a intensão aqui é mais sugerir pistas para futuras investigações. Veja, mesmo que seja apenas a primeira página do artigo escrito por Judith Chernaik para o Musical Times, que poderá ser acessado aqui.

Nas primeiras peças de Fantasiestücke os dois aspectos se alternam, primeiro o sonhador, depois o passional. Eventualmente nas outras peças eles são reunidos e se alternam até a última peça. Pode ser interessante ouvir a música tendo estas diferenças em mente, mas non tanto

Robert Schumann (1810 – 1856)

Fantasiestücke, Op. 12

  1. Des Abends
  2. Aufschwung
  3. Warum?
  4. Grillen
  5. In der Nacht
  6. Fabel
  7. Traumes Wirren
  8. Ende vom Lied

Waldszenen, Op. 82

  1. Eintritt
  2. Jäger auf der Lauer
  3. Einsame Blumen
  4. Verrufene Stelle
  5. Freundliche Landschaft
  6. Herberge
  7. Vogel als Prophet
  8. Jagdlied
  9. Abschied

Arabeske, Op. 18

  1. Arabeske

Kinderszenen, Op. 15

  1. Von fremden Ländern und Menschen
  2. Kuriöse Geschichte
  3. Hasche-Mann
  4. Bittendes Kind
  5. Glückes genug
  6. Wichtige Begebenheit
  7. Träumerei
  8. Am Kamin
  9. Ritter vom Steckenpferd
  10. Fast zu ernst
  11. Fürchtenmachen
  12. Kind im Einschlummern
  13. Der Dichter spricht

Klára Würzt, piano

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FLAC | 205 MB

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MP3 | 320 KBPS | 167 MB

Klára Würtz tocando no concerto de fim de ano para a turma do PQP Bach e convidados…

Possivelmente a peça mais conhecida deste disco seja Träumerei, que está na coleção Kinderszenen e merece toda a fama que tem. Esta coleção também está em um disco postado há algum tempo, mas cujo link está ativo e muito se alegrará se receber uma visita. Para descobrir qual é, clique aqui.

Aproveite!
René Denon

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Liederkreis, Op. 39 – Frauenliebe und -leben, Op. 42 – Norman – Gage

1840 foi o Liederjahr (“Ano das Canções”) de Schumann, marcado pela impressionante enxurrada de dezenas de Lieder do mais alto nível. O motivo para tamanha torrente de canções, numa carreira até então dedicada quase que exclusivamente a composições para o piano, foi certamente o desenlace da longa batalha judicial para casar-se com Clara, filha de Friedrich Wieck, que se opunha com ferocidade hidrófoba à união dos dois. Os poemas escolhidos por Schumann exprimem com constrição e frequente desesperança as incertezas quanto aos seus rumos com Clara, bem como os ideais que tinha para a vida com a amada. Seu empenho em casar-se foi enfim recompensado em 12 de setembro de 1840 – a véspera do aniversário de 21 anos de Clara e de sua maioridade legal. A postura de casar-se no último dia em que ela precisaria do consentimento do pai foi uma das incontáveis demonstrações do teimoso apego de Robert a seus princípios e de sua disposição em encarar todas contendas para defendê-los.

A amada, certamente, foi a inspiração para Frauenliebe und -Leben, o primeiro dos frutos daquele milagroso 1840 que lhes oferecemos hoje. Baseado em poemas do pitoresco poeta-botânico-milico franco-alemão Adelbert von Chamisso, o ciclo conta, do ponto de vista feminino, a história de uma relação desde o primeiro encontro (“Desde que eu o vi”) até a viuvez (“Hoje me causaste dor pela primeira vez”). Essas oito canções devem ter soado dolorosamente irônicas para Clara, a cuja carreira Robert muito se opôs, ainda que ela fosse o arrimo da casa e dos sete filhos, e a quem Robert muitas dores causou antes de perder seu juízo e sua vida. A dor da ironia só deve ter aumentado nos quarenta anos de viuvez, em que nunca largou as cores de luto e muito se dedicou à preservação do legado do marido.

O outro ciclo, redundantemente conhecido como Liederkreis (er, “Ciclo de Canções”), é uma das duas coleções de canções com esse título na schumanniana. O que alcanço hoje a vocês, do Op. 39, é conhecido como “Eichendorff Liederkreis”, por basear-se na coleção de poemas “Intermezzo” de Joseph Eichendorff, um dos grandes nomes do romantismo alemão. As doze canções descrevem as impressões do poeta sobre diferentes paisagens, que Schumann consegue evocar com muita sutileza, lançando mão duma rica e independente escritura pianística que não só acompanha, mas sublinha, comenta e – nos frequentes poslúdios em que o piano encerra sozinho uma canção – amplifica e arremata as evocações feitas pela voz.

E, já que falamos em voz, esta que ora lhes trago é das mais extraordinárias que já vieram a este pobre globo cacofônico. Sim, Jessye Norman (1945-2019) era tudo isso e, paralelamente à brilhante carreira em ópera, foi uma camerista muito versátil. É incrível ouvi-la modular seu poderoso instrumento vocal para exprimir com tanta delicadeza, e tão fascinante dicção, os tantos constritos sussurros prescritos por Schumann ao cantor que lhe empresta a voz. Quem só conhece Jessye pela potência de Carmens, Salomés e Isoldes ficará surpreso com essa faceta mais comedida de seu talento, aqui congenialmente acompanhado pelo também saudoso Irwin Gage (1939-2018).

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Frauenliebe und -Leben, ciclo de canções sobre poemas de Adelbert von Chamisso, Op. 42

1 – Seit ich ihn gesehen
2 – Er, der herrlichste von Allen
3 – Ich kann’s nicht fassen, nicht glauben
4 – Du Ring an meinem Finger
5 – Helft mir, Ihr Schwestern
6 – Süßer Freund, du blickest mich verwundert an
7 – An meinem Herzen, an meiner Brust
8 – Nun hast du mir den ersten Schmerz getan

Liederkreis, ciclo de canções sobre poemas de Joseph Eichendorff, Op. 39 (“Eichendorff-Liederkreis”)

9 – In der Fremde
10 – Intermezzo
11 – Waldesgespräch
12 – Die Stille
13 – Mondnacht
14 – Schöne Fremde
15 – Auf einer Burg
16 – In der Fremde
17 – Wehmut
18 – Zwielicht
19 – Im Walde
20 – Frühlingsnacht

Jessye Norman, soprano
Irwin Gage, piano

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Saudades – atrozes saudades

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Dichterliebe, Op. 48 – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Lieder – Franz Schubert (1797-1828): Lieder – Wunderlich – Giesen #BTHVN250

Hoje, aniversário de Schumann, nosso bolo de duzentas e dez velinhas vai-lhe na forma duma das mais preciosas gravações de sua obra-prima: os divinos Lieder do Dichterliebe no mais lindo instrumento vocal que a Alemanha já pariu.

Sim, Fritz Wunderlich era tudo isso, e nós outros, seus tietes, ficamos aqui a imaginar o que ele teria sido se tivesse atingido a maturidade artística, e não sucumbido a um acidente doméstico idiota antes de completar 36 anos. Seu Dichterliebe está à altura da elevada poesia de Heine e da música congenial do aniversariante de hoje e, mesmo que eu tenha conhecido a obra através da voz emblemática de Fischer-Dieskau, certamente o maior camerista de todos os tempos, o expressivo tenor de Wunderlich me deu a mais amada gravação deste ciclo que eu tanto amo.

Fica difícil ouvir qualquer outra coisa depois dum Dichterliebe desses, mas a gravação segue com alguns dos melhores Lieder de duas feras. Primeiramente, do herói de nossa saga BTHVN250, vocês escutarão a mesma seleção que vocês já ouviram aqui, mas com um som um pouquinho melhor, com destaque para a maravilhosa Adelaide e para a pérola cômica Der Kuss, uma arieta a narrar a história dum beijo roubado, composta entre os trabalhos das intrincadas Variações Diabelli e da mastodôntica Missa Solemnis. Por fim, uma significativa seleção do mestre maior do gênero, Franz Schubert, que encerra com meu Lied favorito, An die Musik, que aqueles entre vocês que não me odeiam poderão cantar em minha tumba – isso, claro, se eu tiver direito a uma, e se dela não brotar uma flor púrpura a gritar “Adelaide”.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Dichterliebe, ciclo de canções sobre textos do Lyrisches Intermezzo de Das Buch der Lieder de Heinrich Heine, Op. 48

1 – Im wunderschönen Monat Mai
2 – Aus meinen Tränen sprießen
3 – Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
4 – Wenn ich in deine Augen seh’
5 – Ich will meine Seele tauchen
6 – Im Rhein, im heiligen Strome
7 – Ich grolle nicht
8 – Und wüßten’s die Blumen, die kleinen
9 – Das ist ein Flöten und Geigen
10 – Hör ich das Liedchen klingen
11 – Ein Jüngling liebt ein Mädchen
12 – Am leuchtenden Sommermorgen
13 – Ich hab’ im Traum geweinet
14 – Allnächtlich im Traume
15 – Aus alten Märchen
16 – Die alten, bösen Lieder

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

17 – Zärtliche Liebe, WoO 123
18 – Adelaïde, Op.46
19 – Resignation, WoO 149
20 – Der Kuss, Op.128

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

21  – An Sylvia, Op. 106 No. 4, D. 891
22 – Lied eines Schiffers an die Dioskuren, Op.65, D.360
23 – Liebhaber in allen Gestalten, D.558
24 – Der Einsame, Op.14, D.800
25 – Im Abendrot, D.799
26 – Schwanengesang, D. 957 – Ständchen “Leise flehen meine Lieder”
27 – An die Laute, Op.81, No.2, D. 905
28 – Der Musensohn, Op.92, No.1, D. 764
29 – An die Musik, Op.88, No.4, D.547

Fritz Wunderlich, tenor
Hubert Giesen, piano

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Wie geht’s, Hund?

Vassily

Robert Schumann (1810-1856): As 4 Sinfonias – Staatskapelle Dresden – Wolfgang Sawallisch

Robert Schumann (1810-1856): As 4 Sinfonias – Staatskapelle Dresden – Wolfgang Sawallisch

 

SCHUMANN

S I N F O N I A S

SAWALLISCH

 

Neste peculiar ano de 2020, além do #BTHVN250, temos no dia 8 de junho a comemoração pelos 210 anos de nascimento do romântico e atormentado Robert Schumann. Para juntar esforços meus aos dos entusiasmados pela sua música e aumentar os festejos, escolhi postar algumas gravações das obras deste compositor que ouço com mais frequência.

Começamos em grande estilo (assim espero) com estas elogiadíssimas gravações das sinfonias. A orquestra Staatskapelle Dresden tem todas as credenciais para dar vida a estas peças sob a regência inspirada de Wolfgang Sawallisch numa combinação vencedora.

Veja o que o Penguin Guide to CDs disse sobre este time: ‘A interpretação da orquestra combina excelente disciplina com uma estimulante naturalidade e espontaneidade. Sawallisch apresenta todas as variações de humor de Schumann e sua regência tem um vigor esplendoroso’.

A primeira das sinfonias de Schumann que ouvi foi a Sinfonia Renana, de que gostei desde sempre. A gravação fazia parte de uma coleção de LPs contidos em uma caixa editada pela Reader’s Digest com discos do selo RCA. O Reno e a linda cidade de Colônia, com sua desafiante Catedral sempre foram fonte de inspiração para Robert.

Depois ouvi a Primeira Sinfonia, A Primavera, que também achei adorável. (Eu sei, sou fácil de ser agradado…) Esta sinfonia foi composta em pouquíssimo tempo no ano de 1841, ano que também viu a composição de uma primeira versão da que seria reformulada como a Quarta Sinfonia, em 1851.

Depois vieram outras gravações e tornei-me ouvinte de frequência constante destas lindas peças. A Primavera regida pelo Karajan, em dobradinha com a Primeira de Brahms, A Segunda Sinfonia na gravação do Thielemann regendo a Philharmonia, a Quarta regida por Szell e sua incrível orquestra do Meio-Oeste Americano e tantas outras gravações. Entre elas, com lugar de honra, esta integral que vos apresento.

Robert Schumann (1810 – 1856)

CD1

Sinfonia No. 1 em si bemol maior, Op. 38 ‘Primavera’

  1. Andante poco majestoso – Allegro molto vivace
  2. Larghetto
  3. Scherzo
  4. Allegro animato e grazioso

Sinfonia No. 4 em ré menor, Op. 120

  1. Ziemlich langsam – Lebhaft
  2. Romanze (Ziemlich langsam)
  3. Scherzo Lebhaft & IV. Langsam – Lebhaft

Abertura, Scherzo e Finale, Op. 52

  1. Abertura (Andante con moto – Allegro)
  2. Scherzo (Vivo)
  3. Finale (Allegro olto vivace)

CD 2

Sinfonia No. 2 em dó maior, Op. 61

  1. Sostenuto assai – Allegro ma non tropo
  2. Scherzo (Allegro vivace)
  3. Adagio expressivo
  4. Allegro molto vivace

Sinfonia No. 3 em mi bemol maior, Op. 97 ‘Renana’

  1. Lebhaft
  2. Scherzo (Sehr mässig)
  3. Nicht schnell
  4. Feierlich
  5. Lebhaft

Staatskapelle Dresden

Wolfgang Sawallisch

Gravações feitas em 1972 na Lukaskirche, Dresden

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FLAC | 702 MB

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MP3 | 320 KBPS | 338 MB

O Reno e a Catedral de Colônia…

Outras gravações que você poderia considerar:

Wiener Philharmoniker & Leonard Bernstein (Big band, gravação ao vivo, um dos regentes mais carismáticos que já houve…) Clique aqui, aqui e aqui;

Apesar do comentário do FDP Bach, eu gosto da Sinfonia No. 2…

Chamber Orchestra of Europe & Yannick Nézet-Séguin (Visão contemporânea com ótimo som, mesmo que gravado ao vivo em 2012, na Cité de la Musique, Paris) Clique aqui.

Aproveite!

René Denon

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): duas Sinfonias, dois Concertos, Adagio e Allegro para Trompa, Manfredo (Ansermet, Lipatti, Gendron)

Robert Schumann apagaria 210 velinhas no dia 8 de junho de 2020!

Manfred, drama em versos do poeta inglês Lord Byron, impressionou o jovem Robert Schumann de 17 anos, que escreveu no seu diário em 1829: “Estado de espírito agitado – leitura antes de dormir: Manfred de Lord Byron – noite terrível”. Só muito mais tarde o compositor começaria a trabalhar num projeto baseado no poema, pelo qual manteve grande entusiasmo (“nunca me dediquei a uma composição com tanto gosto e energia como a Manfred”). A música de cena para o poema, composta em 1848-1849, com o título Manfred: Poema Dramático com Música em Três Partes, op. 115, ecoa o remorso do misterioso conde Manfred. Hoje em dia, apenas a abertura aparece às vezes nas salas de concerto. Mas, no século XIX, Manfred era considerada uma das obras-primas da música romântica. Vejamos o que escreveu em 1885 o crítico Camille Bellaigue:

As duas obras-primas de Schumann, para nós, são Manfred e Fausto. Fausto é uma suíte de cenas baseadas na tragédia de Goethe; Manfred é o poema de Lord Byron musicado. Schumann abordou a ópera uma só vez com Genoveva, que teve uma recepção merecidamente fria. Schumann não é um homem de teatro. Sua fantasia exige a maior liberdade. Ele não consegue lidar com obstáculos bloqueando seu horizonte, com figuras materiais dando um excesso de realidade às criações de seu espírito.
Se ao menos essa dor nos dissesse suas razões. Se Manfred admitisse por que o remorso lhe come por dentro. Se nós soubéssemos quem foi essa Astarte, misterioso fantasma que lhe promete a morte; essa Astarte, único ser que ele amou, a companheira de seus sonhos, cujo segredo está escondido em uma eterna reticência.
Schumann fez de Manfred uma obra curta e potente. O sentimento mal definido de revolta e de dor convêm admiravelmente à música, menos precisa que as outras artes, mesmo a poesia.

Esse é o lado mais sombrio das últimas obras de Schumann, quando o compositor ouvia vozes. Como Robert e também Clara Schumann deixaram milhares de páginas de diários, artigos e cartas, nós sabemos que ele começou a ouvir uma nota persistente nos últimos anos de sua vida. Cientistas discutem até hoje se essa alucinação auditiva estaria ligada a um tumor no cérebro ou se seria psicossomática, ligada a episódios de depressão. Depois, Robert começou a ter outras alucinações auditivas além daquela nota permanente. Clara escreveu em seus diários que ele ouvia “música gloriosa, com instrumentos soando mais maravilhosos do que os que nós ouvimos na terra”, mas em outra passagem do diário ela escreve: “uma mudança perigosa! As vozes de anjos se transformaram em vozes de demônios, com música horrível.”

Pode ser coincidência, mas os dois grandes concertos escritos por Schumann são em Lá menor. O Concerto para Piano é famosíssimo, mas não menos importante é o Concerto para Violoncelo, uma de suas obras maduras mais inovadoras, quebrando padrões, talvez (quem sabe?) ditada pelas vozes de sua cabeça.

Por outro lado as duas primeiras sinfonias de Schumann, que ocupam o 1º disco de hoje, são felizes e otimistas. Especialmente a primeira, apelidada Primavera, que foi composta em 1841, logo após o casamento de Robert e Clara. Após anos de brigas com o pai de Clara Wieck, finalmente o casal vivia uma longa lua de mel. Mais bucólica do que a própria Sinfonia Pastoral de Beethoven (que tem uma pesada tempestade, inexistente na Sinfonia Primavera), trata-se de um caso raro entre as obras deste compositor romântico tão famoso por suas mudanças de humor e por ir de um extremo a outro em poucos segundos.

Nas sinfonias, Ernest Ansermet escolhe andamentos mais rápidos do que os de maestros como Klemperer e Thieleman. Se estes andamentos são “historicamente corretos”, não sei, mas é bem possível que sim e que os alemães do século XX, influenciados pelo grandioso Furtwangler e por seus adagios a ritmo de tartaruga, tenham imaginado um Schumann demasiado solene.

Nos concertos, os intérpretes são do mais alto nível. Dinu Lipatti é uma lenda: não conheço um único pianista que não fique de queixo caído ao ouvir suas interpretações cheias de sentimento e tecnicamente impecáveis. Lipatti morreu em 1950 aos 33 anos, poucos meses depois dessa gravação ao vivo com Ansermet. A qualidade de som é pior do que a das outras obras, mas não se deve perder a oportunidade de ouvir Lipatti ao vivo, com seu rubato livre e original, ao contrário da gravação que ele fez do mesmo concerto com Karajan anos antes, que soa muito menos espontânea.

O concerto para violoncelo, como dizíamos, é tão atormentado quanto o personagem Manfred. Enquanto 99% dos concertos clássicos e românticos começam com um Allegro, Schumann descreve o andamento do seu primeiro movimento assim: nicht zu schnell (non troppo allegro). A interpretação do violoncelista Maurice Gendron traz todos os sentimentos necessários a esse outro concerto em lá menor, ao contrário da gravação mais recente de Queyras, que, com todo respeito, toca Schumann como se fosse Bach, com uma fluidez admirável mas com poucos sentimentos à flor da pele. Para uma versão recente e cheia de romantismo, recomendo o CD de 2017 do violoncelista Antonio Meneses.

Bach, até onde sabemos, não ouvia vozes em sua cabeça ou, no máximo, ouvia uma só voz, a de seu amigo imaginário (peço perdão aos que creem Nele). E, ao menos na estética do Romantismo, a vida afeta a obra e a obra afeta a vida. Voltemos ao caso de Manfred, personagem que, nos Alpes Suíços, vive atormentado por sua relação passada com Astarte – em uma melancolia carregada de culpa que leva a delírios, cujos motivos reais ficam encobertos por uma nuvem de mistério. Lord Byron criou o personagem quando ele próprio estava exilado na Suíça, após seu divórcio escandaloso em meio a acusações de um caso incestuoso entre Byron e sua meia-irmã. A obra é considerada autobiográfica, ou até mesmo confessional. Estamos distantes das cantatas de Bach ou das óperas de Mozart, escritas com um certo distanciamento entre o autor e o libreto. Aqui, o artista romântico se funde com o personagem principal torturado por seu sentimento de culpa por um crime inconfessável.

Não sabemos ao certo o que diziam as vozes na cabeça de Schumann, nem sabemos muito bem os detalhes picantes de sua relação com Clara (tirando o célebre e também nebuloso ménage à trois com Brahms). É possível que alguns dos sintomas de Schumann sejam ligados à sífilis – mas como explicar que Clara Schumann tenha vivido até os 76 anos sem sintomas da doença? Se tudo fosse mais bem explicado e menos misterioso, provavelmente a música de Schumann não seria tão fascinante.

Robert Schumann (1810–1856)
CD 1
1-4. Symphonie Nr. 1 B-dur «Frühling», Op. 38
5-8. Symphonie Nr. 2 C-dur, Op. 61

CD2
1-3. Klavierkonzert a-moll, Op. 54
4-6. Violoncellokonzert a-moll, Op. 129
7. Adagio und Allegro für Horn und Orchester As-dur (orch. Ernest Ansermet), Op. 70
8. Manfred-Ouvertüre, Op. 115

  • Dinu Lipatti, piano (3)
  • Maurice Gendron, cello (4)
  • Edmund Leloir, horn (5)
  • L’Orchestre de la Suisse Romande
  • Ernest Ansermet, conductor

Recorded: Victoria Hall, Geneva, II.1950 (3), III.1951 (1), XI.1953 (4), XI.1957 (5), IV.1965 (2, 6)

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Capa do LP com a “Sinfonia Primavera” (1951). Cuidado, nem tudo em Schumann são flores!

Pleyel

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Concerto para Piano em Lá menor – Três gravações históricas (Michelangeli, Arrau, Richter)

Robert Schumann apagaria 210 velinhas no dia 8 de junho de 2020!

Vamos começar pelo futuro de Schumann. O Concerto para Piano em lá menor tem sido muito tocado por todo o mundo, talvez com mais frequência do que qualquer outra obra do compositor alemão. Se por acaso o vietnamita Dang Thai Son, os brasileiros Nelson Freire ou Linda Bustani, a russa Eliso Virsaladze ou a argentina Martha Argerich forem tocar esse concerto numa sala próxima a você, não pense duas vezes. São grandes artistas, já com cabelos brancos, mas com muitos anos de Schumann pela frente. Sem falar na geração mais nova. Prestigie os artistas vivos!

Hoje, porém, com temporadas de concertos adiadas, vamos aproveitar o aniversário do compositor  para ouvir, comparar, saborear três gravações antológicas do seu Concerto  com três grandes pianistas do passado: Michelangeli, Arrau e Richter. O concerto foi estreado em Dresden, com Clara Schumann ao piano. Desde então, quase todos os grandes pianistas já o tocaram, emprestando a ele sotaques e ritmos diferentes. Como toda obra-prima, o concerto é multifacetado e se encaixa com diversos pontos de vista.

lo scambiano per accelerando o rallentando: è invece il modo di respirare(confundem o rubato com aceleradas e freios: é, em vez disso, a forma de respirar)
Arturo Benedetti Michelangeli (1920 – 1995), sobre o rubato

A descrição mais simples e mais comum de Michelangeli cabe em uma palavra: perfeccionista. Alguns críticos consideraram suas interpretações dos concertos românticos um tanto fria, contida, sem emoção (as mesma críticas são feitas ao seu aluno Maurizio Pollini). Muita gente, por outro lado, ficava de queixo caído com a técnica espetacular e o cuidado meticuloso com cada nota do pequeno repertório que o pianista italiano tocava. De Schumann, salvo engano, ele tocava em seus recitais apenas o Carnaval op. 9 e o Carnaval de Viena op. 26.  E tocou este concerto inúmeras vezes pelo mundo, é claro. Há gravações que vão da década de 1950 até 1992, poucos meses antes de Michelangeli se aposentar e três anos antes de sua morte. Michelangeli soa mais espontâneo nessa gravação que trago hoje, de 1962 com a Orchestra Sinfonica della RAI di Roma, Gianandrea Gavazzeni, do que na gravação de 1992 com Celibidache/Munique. Se quiserem podem ir no Youtube e confiram como as gravações diferem em andamentos, concepção sonora, etc. Essas diferenças mostram que o perfeccionismo do pianista, longe de gerar uma interpretação fixa e rígida, levava a um cuidado cada vez maior com cada detalhe, com novas descobertas ao longo dos anos.

O perfeccionismo de Michelangeli, para os ouvidos deste humilde escriba, se apresenta mais claramente nos ornamentos, que são aquelas notas curtas coladas na nota principal. Enquanto outros pianistas como Arrau e Lipatti aproveitavam esses momentos para aproximar a nota principal como quem faz uma carícia, Michelangeli faz quase sempre os ornamentos com o mesmo peso no dedo da nota curta (ornamento) e da principal, lembrando um pouco os abundantes ornamentos nas obras para cravo de Bach, Rameau ou Scarlatti. São em aspectos como esse que Michelangeli parece estar sempre exibindo sua técnica impecável, mesmo nas gravações ao vivo (que são quase todas: como Richter e Celibidache, ele detestava gravar em estúdio).

Esta gravação que trago aqui, por exemplo, foi realizada ao vivo no Vaticano, com a presença do Papa João XXIII na plateia. Em seguida, Michelangeli ainda tocou a Totentanz (Dança dos Mortos) de Liszt. É preciso fazer um último elogio à gravação da Radio Vaticana, que provavelmente tinha mais experiência com gravações de discursos do Papa e de cardeais, mas realizou um excelente trabalho: esta gravação de 1962 soa muito melhor do que a gravação ao vivo de Lipatti e não deve nada à respeitada equipe de gravação da Philips/Concertgebouw de Amsterdam.

1. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – I. Allegro affetuoso
2. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – II. Intermezzo, III. Allegro vivace
3. Liszt – Totentanz, Paraphrase sur le Dies iræ, for Piano and Orchestra

Arturo Benedetti Michelangeli, piano
Orchestra Sinfonica della RAI di Roma, Gianandrea Gavazzeni
Live Recording – 28/04/1962, Vatican

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Michelangeli fumava: os perfeccionistas também têm seus pequenos pecados

“A música de Schumann nunca é quieta. Sempre, mesmo nos trechos líricos, há uma turbulência subterrânea.”
Claudio Arrau (1903 – 1991)

O Schumann de Arrau/Concertgebouw já tinha aparecido aqui nos primórdios deste blog, em 2008, quando FDP apresentou Arrau como um grande especialista nos românticos, e definiu o pianista chileno assim: Seu fraseado é claro, e é muito contido. Extrai da melodia toda a beleza nela contida, sem cair em tentações maiores. Aqui é ajudado pelo grande Christoph von Dohnanyi, que dirige a excecpional Royal Concertgebouw Orchestra, Amsterdam. Com certeza, um grande momento do piano romântico.

No disco de Arrau, o concerto de Schumann faz uma dobradinha com o de Grieg, dupla muito comum nos LPs e CDs: são dois concertos em lá menor, os únicos para piano que cada compostor escreveu, e além disso a influência de Schumann sobre Grieg é explicita no ataque dramático do piano logo no início do concerto após um dramático acorde orquestral.

Arrau, que era vendido pelas gravadoras ao mesmo tempo como “pianista-pensador” e como “o último dos românticos” (houve tantos últimos, né?),  se equilibra o tempo todo entre seu lado erudito, que buscava expressar com fidelidade as intenções do compositor, e seu lado romântico com as credenciais de quem teve como mentor pianístico um alemão que foi aluno de Liszt. É nesse tênue equilíbrio que o Schumann não soa nem muito livre nem muito certinho, equilíbrio essencial também no concerto de Grieg, representante do romantismo tardio e exagerado no mesmo estilo de Tchaikovsky e Rachmaninoff.

1. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
2. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
3. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
4. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
5. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
6. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace

Claudio Arrau, piano
Royal Concertgebouw Orchestra, Christoph von Dohnányi
Recording – May 1963, Concertgebouw, Amsterdam

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Arrau fazia a linha do “pianista-pensador”: gostava de posar com livros, ainda mais com este sobre ele próprio

Richter me magnetizava, como ele fazia com muitos outros, e eu não perdia um concerto dele por nada. Eu entendo agora que o mais forte elemento no seu apelo magnético às plateias é a sua convicção de que o que ele está fazendo é absolutamente certo naquele momento exato. Isso vem do fato de que ele criou seu próprio mundo interior, e se você discutir com ele sobre alguma coisa, não adianta quase nada. Após a performance, muitas vezes eu discordo das suas escolhas, mas enquanto ouço eu percebo que tudo se encaixa e é completamente sincero, o que me convence.
Sviatoslav Richter (1915 – 1997), nas palavras do pianista russo Vladimir Ashkenazy

Richter é o terceiro grande pianista desta série. Suas gravações de Schumann são sempre impressionantes: ele não tinha medo de socar o piano tirando um som forte, quase percussivo, nas passagens mais enérgicas. É impressionante, também, que este blog não tivesse até hoje nenhuma gravação de Schumann por Richter. Neste CD, temos também o ultrarromântico concerto de Grieg e os Papillons, obra de juventude de Schumann. Outros pianistas, como Guiomar Novaes, Nelson Freire ou Wilhelm Kempff, realizaram gravações antológicas de Papillons, poéticas, sonhadoras… Arrau, como mostra a citação acima, busca mostrar a cada momento os dois lados de Schumann ao mesmo tempo. Pois Richter é bem diferente: está sempre buscando enfatizar os contrastes entre as duas faces de Schumann: em um momento o calmo e afetuoso Eusebius e em seguida o furioso, impetuoso Florestan. Richter, como de costume, usa toda a sonoridade do piano moderno, um pouco diferente de como soavam os instrumentos em meados do século XIX, é claro, mas ainda assim uma interpretação única, inconfundível.

1. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
2. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
3. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
4. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
5. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
6. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace
7. Schumann – Papillons, op. 2

Sviatoslav Richter, piano
Orchestre National de l’Opéra de Monte-Carlo, Lovro Von Matačić
Recording – November 1974, Palais Garnier, Monte Carlo (1 to 6); live recording 21/10/1962, Florence (7).

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Richter por vezes era brutal ao piano. Espero que não tenha socado o idoso Rubinstein
O casal Schumann: Clara estreou o concerto em 1845. Ela também compôs um concerto que está disponível no PQP, cliquem no nome dela na nossa lista de compositores à direita ––>

Pleyel