Francesco Antonio Bonporti (1672-1749): Inventioni, Op. 10 – Chiara Banchini, violino – Jesper Christensen, cravo – Gaetano Nasillo, violoncelo

Francesco Antonio Bonporti (1672-1749): Inventioni, Op. 10 – Chiara Banchini, violino – Jesper Christensen, cravo – Gaetano Nasillo, violoncelo
  • Bonporti

Invenzioni

 

Senhores, abram espaço nos seus HDs, joguem fora aqueles arquivos de conversas do WhatsApp e baixem isto aqui!

Francesco Antonio Bonporti fazia parte da turma de italianos dilettanti di musica, assim como Benedetto Marcello e Tomaso Albinoni. Nascido em berço de ouro, na cidade de Trento, praticava a arte da música por prazer, era um gentiluomo. Pagou de próprio bolso as publicações de suas obras que foram do Opus 1 até o Opus 12 e circularam muito, mesmo em edições piratas.

Francesco Antonio Bonporti

Como era de se imaginar, vindo de família abastada, Bonporti teve acesso ao melhor do que havia em seu tempo. Aos 19 anos recebeu o grau de Doutor em Filosofia em Innsbruck. Estudou teologia no Collegium Germanicum, em Roma e seguiu carreira eclesiástica.

Estudou música com Ottavio Pitoni, que fora regente da Capela do Collegium Germanicum. É possível que tenha estudado com Corelli e certamente conhecia bem as suas obras.

Nesta postagem temos o que há de mais inovador em sua obra, o Opus 10, que coleta dez Invenzioni para violino solo, mas com detalhado baixo contínuo. As peças são sonatas com diversos movimentos, mas o título indica maior liberdade tomada pelo Bonporti ao compô-las.

Chiara Banchini

Nesta gravação temos a excelente violinista Chiara Banchini, acompanhada por Jesper Christensen ao cravo e Gaetano Nasillo ao violoncelo. Sim, eles usam instrumentos originais, mas não temam aqueles nossos leitores que preferem música com instrumentos modernos. O conjunto é excelente e acham a medida certa para apresentar esta maravilhosa e inovadora música.

E para saber quanto essas peças são boas? Afirmo, são excelentes. Vejam, o grande, o imenso Johann Sebastian Bach tinha conhecimento delas e fez cópias de algumas delas (Nos. 2, 5, 6 e 7). Por esta razão, estas peças foram consideradas como do próprio Bach até 1911, quando tudo foi devidamente esclarecido. É pouco ou quer mais?

O que distingue este este conjunto de peças escrito por Bonporti já é indicado pelo título: Invenzioni, Invenções. Livre das convenções acadêmicas, aqui Bonporti dá rédeas soltas à imaginação. Bizaria, fantasia, capricio, ecco e balletto são alguns dos títulos dados aos diversos movimentos. Ele fala assim desta sua obra: Eu compus estas melodias de acordo com um gosto bem especial, em um estilo totalmente incomum.

Depopis desta foto de Trento já liguei para meu agente de viagens…

Francesco Antonio Bonporti  (1672 – 1749)

Invenzioni a violino solo, Op. 10  – [Bologna 1712, Veneza/Trento 1713]

CD1

[1-5] – Invenzioni prima em lá menor

[6-11] – Invezioni nona em fá sustenido menor

[12-15] – Invenzioni quarta em sol menor

[16-19] – Invenzioni quinta em si bemol maior

[20-23] – Invenzioni ottava em mi mmenor

CD2

[1-4] – Invenzioni terza em fá maior

[5-8] – Invenzioni settima em ré maior

[9-12] – Invenzioni seconda em si menor

[13-16] – Invenzioni sesta em dó menor

[17-20] – Invenzioni decima em mi maior

Chiara Banchini, violino Nicola Amati, Crémone 1674

Gaetano Nasillo, violoncelo Barak Norman, Londres c. 1710

Jesper Christensen, cravo Gianfranco Facchini, Ravenne 1996 (de um modelo italiano de 1700)

CD 1 – BAIXE AQUI – CD 1 – DOWNLOAD HERE

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CD 2 – BAIXE AQUI – CD 2 – DOWNLOAD HERE

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Chiara Banchini

Não é por pouco que Bach tenha se interessado por estas Invenzioni.

Ouçam e depois me contem!

René Denon

.: interlúdio :. Raphael Rabello: Todos os Tons

.: interlúdio :. Raphael Rabello: Todos os Tons

Todos Os Tons

Raphael Rabello

Para este interlúdio escolhi um disco onde tudo é brasileiro: os músicos, os compositores, a gravação e a manufatura do disco. Há um único simpatizante, pero és um hermano.

O personagem principal, Raphael Rabello, merece toda a nossa reverência e apreciação. Músico completo, nasceu e viveu amadrinhado e em claro compadrio com a música. Realmente é muita pena que se tenha ido tão cedo. Neste disco ele toca músicas de Tom Jobim.

Há dois convidados especiais para o disco. Um é Paco de Lucia, que empresta um sotaque flamenco à primeira faixa do disco – o Samba do Avião. O outro é o próprio Tom Jobim, que anuncia sua presença na faixa oito – Garoto, tocando o piano.

Todos os outros músicos são parceiros de Raphael Rabello, pessoal de primeiríssima linha, como o Paulo Moura, o Luiz Avelar. Os créditos estão todos bem indicados na relação das músicas logo a seguir.

Nas faixas cinco e dez – Modinha e Luiza – Raphael Rabello se apresenta solo.

Você poderá ler uma crítica equilibrado do álbum aqui. Além disso, se você quiser saber mais detalhes da vida deste importante músico, poderá se interessar pela sua biografia, escrita por Lucas Nobile, com o atraente título O Violão em ErupçãoVocê poderá ler uma sinopse do livro aqui.

Se exigissem que eu escolhesse a música mais linda do disco eu diria Anos Dourados e Luiza, em nenhuma ordem. Entendo, você deve estar vendo alguma incoerência. Esqueça, não há.

TODOS OS TONS

01. Samba Do Avião

Compositor: Tom Jobim
Músicos: Armando Marçal (Marçalzinho), percussão
Dininho (Horondino Reis da Silva), baixo 5 cordas
Paulinho Braga, bateria
Raphael Rabello, violão
Participação Especial: Paco de Lucia, violão
Arranjos: Raphael Rabello

02. Samba De Uma Nota Só

Compositores: Newton Mendonça e Tom Jobim
Músicos: Dininho (Horondino Reis da Silva), baixo 5 cordas
Mamão (Ivan Conti), bateria
Raphael Rabello, violão
Arranjos: Raphael Rabello

03. Passarim

Compositor: Tom Jobim
Músicos: Dininho (Horondino Reis da Silva), violão baixo
Mamão (Ivan Conti), bateria
Raphael Rabello, violão
Arranjos: Raphael Rabello

4. Retrato Em Branco E Preto

Compositores: Chico Buarque e Tom Jobim
Músicos: Jaques Morelenbaum, violoncelo
Luiz Avellar, piano
Raphael Rabello, violão
Arranjos: Paulo Jobim e Raphael Rabello

05. Modinha

Compositores: Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Músico: Raphael Rabello, violão 7 cordas
Arranjos: Raphael Rabello

06. Garota De Ipanema

Compositores: Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Músicos: Luizão Maia, baixo 5 cordas
Raphael Rabello, violões
Wilson das Neves, bateria
Arranjos: Raphael Rabello

07. Anos Dourados

Compositores: Chico Buarque e Tom Jobim
Músicos: Dininho (Horondino Reis da Silva), baixo 5 cordas
Luiz Avellar, teclados
Luiz Avellar, piano
Raphael Rabello, violão
Arranjos: Luiz Avellar e Raphael Rabello

08. Choro (Garoto)

Compositor: Tom Jobim
Músicos: Leo Gandelman, saxofone soprano
Nico Assumpção, baixo 6 cordas
Raphael Rabello, violão 7 cordas
Wilson das Neves, bateria
Participação Especial: Tom Jobim, piano
Arranjos: Paulo Jobim, Raphael Rabello e Tom Jobim

09. Pois É

Compositores: Chico Buarque e Tom Jobim
Músicos: Nico Assumpção, baixo 6 cordas
Raphael Rabello, violões
Participação Especial: Paulo Moura, saxofone alto
Arranjos: Nico Assumpção, Paulo Moura e Raphael Rabello

10. Luiza

Compositor: Tom Jobim
Músico: Raphael Rabello, violão 7 cordas
Arranjos: Raphael Rabello

Gravadora: RCA – BMG Ariola
Produtor: José Milton

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Aproveite, ouça o disco, são uns quarenta minutos de fina, finíssima música. Depois, conte-me você, qual é a música mais bonita…

René Denon

François Couperin (1668-1733): Peças para Piano – Alexandre Tharaud

François Couperin (1668-1733): Peças para Piano – Alexandre Tharaud

tic, toc, choc

Tharaud joue Couperin

Eu gosto de tudo neste disco. A capa é matadora! A mão com os dedos lembrando uma pessoa correndo, sobre fundo preto é uma imagem e tanto. A escolha dos tipos para compor o título, misturando itálicos com normais, bold com simples, as tonalidades, tudo em letras minúsculas depois uma palavra com letras maiúsculas. E o charme do título – tic, toc, choc! Até a casquinha do nautilus do selo harmonia mundi dá a esta capa um toque especial.

François Couperin

O compositor, Couperin, François Couperin (há outros Couperins), deixou um legado de maravilhosas peças para cravo – e aqui temos um piano, o rei dos instrumentos, um grand piano, capaz de tocar desde o mais leve sussurro da ninfa até entoar a trovoada da tempestade. Esse disco é uma destas vencedoras confluências do antigo e do novo.

Tem a maravilhosa escolha do repertório, começando com uma peça de nome intrigante – Les baricades mistérieuses. A primeira vez que a ouvi foi em um disco com uma coletânea de peças famosas para cravo, interpretado pelo Trevor Pinnock. Desde então essa peça grudou em minha memória musical. Você ouvirá peças com nomes envolvendo carrilhões, querubins. Algumas peças têm até dois nomes, como a que dá título ao disco: Le tic, toc, choc ou les maillotins. Bruit de guerre, Les tricoteuses. Os títulos servem para despertar a imaginação, para criar um clima, uma atmosfera.

Muséte

As peças foram escolhidas das suítes que Couperin publicou ao longo da vida e eram chamadas Ordres. O próprio Couperin esperava que os intérpretes escolhessem as peças e montassem as suas próprias Ordres, como fez aqui o Tharaud.

Ouça o disco, mesmo que você tenha preferência por ouvir música interpretada pelo instrumento para o qual ela foi originalmente escrita. Ande, permita-se esta pequena indulgência, ouça este prazeroso disco. Aposto uma cocada que você não se arrependerá.

François Couperin (1668 – 1733)

  1. Les Baricades Mistérieuses (6e ordre)
  2. Le Tic-Toc-Choc ou Les Maillotins (18e ordre)
  3. La Couperin (21e ordre)
  4. Les Calotines (19e ordre)
  5. Les Ombres Errantes (25e ordre)
  6. Les Tricoteuses (23e ordre)
  7. Le Carillon de Cithére (14e ordre)
  8. Muséte de Taverni (à 5 mains) (15e ordre)
  9. Les Rozeaux (13e ordre)
  10. L’Atalante (12e ordre)
  11. Passacaille (8e ordre)
  12. La Muse Plantine (19e ordre)
  13. Les Tours de passe-passe (22e ordre)
  14. Bruit de guerre (extrait de La Triomphante) (10e ordre)*
  15. Le Dodo ou L’Amour au berceau (15e ordre)
  16. La Visionnaire (25e ordre)
  17. La Logivière (5e ordre)
  18. Les Juméles (12e ordre)
  19. Les Chérubins ou l’aimable Lazure (20e ordre)
  20. Jacques Duphly: La Pothouïn (4e Livre de Pièces pour clavecin)

Alexandre Tharaud, piano

*com a participação de Pablo Pico, tambor Dawul  

Direção artística: Cécile Lenoir

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Alexandre vai sair do concerto direto para a Festa Junina do PQP.

Permita-se esta pequena indulgência, ouça este prazeroso disco. Aposto um pé-de-moleque que você não se arrependerá.

René Denon

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Invenções / Sinfonias / Suíte Francesa Nº 5 – Till Fellner, piano

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Invenções / Sinfonias / Suíte Francesa Nº 5 – Till Fellner, piano
ECM, ótima gravadora, mas as suas capas…

A Arte da Invenção

Este disco poderia ser um exercício didático, e como tal, poderia ser rather dull, como dizem os ingleses, meio chatinho. Mas ao contrário, o disco traz uma coleção de pequenas pérolas, música para se ouvir miles de vezes.

A coleção de Invenções e Sinfonias, quinze de cada, foi escrita para fins didáticos. Johann Sebastian as preparou primeiro para seu filho mais velho, Wilhelm Friedemann. A fonte mais antiga destas composições é o Clavier-Büchlein for Wilhelm Friedemann Bach. Mas toda a filharada e agregados e muitos outros mais usaram dessas obras de Bach para se tornarem excelentes músicos.

As Invenções foram escritas a duas vozes em contraponto e as Sinfonias a três vozes em contraponto. O próprio Bach explica o que se deve esperar ao estudá-las. Veja uma livre tradução do longo título dado à coleção numa bela cópia à mão que chegou até nós:

Instruções para o uso didático das Invenções e Sinfonias

Instrução direta

para aprender a tocar claramente a duas vozes, mas também, para depois de progredir, lidar corretamente e bem com três partes obbligato; e também adquirir ao mesmo tempo não apenas boas inventiones, mas a habilidade de desenvolvê-las bem, e acima de tudo, cultivar um estilo cantabile de tocar e ganhar desde o começo uma forte perspectiva de composição.

Você encontrará mais informações sobre as Invenções e Sinfonias aqui.

Ganha um doce quem descobrir qual destas peças é usada como um ringtone.

O pessoal caprichava na letra! Era uma maneira de mostrar o quanto era valioso esse caderno.

Completando o repertório do disco temos a Suíte Francesa No. 5, em sol maior, BWV 816. A conexão desta peça com as Invenções e Sinfonias é que a suite, de certa forma, também é material instrucional. As cinco primeiras das seis suítes que formam a coleção que chamamos Suítes Francesas, constavam do Notenbüchlein für Anna Magdalena Bach, abrindo este conjunto de obras usadas para fins didáticos e para entretenimento doméstico.

Cada suíte é formada por um conjunto de danças. As danças Allemande, Courante, Sarabande e Gigue são comuns a todas as suítes. Em cada uma delas, Bach introduz mais algumas danças, que variam de suite para suite. No caso da Suíte No. 5, essas danças são Gavotte, Bourrée e Loure. A Suíte Francesa No. 5 é uma das mais tocadas desta coleção e ao chegar na faixa de número 31 deste lindíssimo disco, você entenderá isto perfeitamente.

Till Fellner

Till Fellner é um pianista de pianistas. Ele teve Alfred Brendel entre seus professores. Veja o que Fellner disse desta experiência: Brendel mostrou-me através de sua maneira de tocar e por seus ensinamentos que o compositor vem em primeiro lugar e não o intérprete. Portanto, ao tocar, você deve tentar servir o compositor.

 

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

[1-15] – Invenções, a duas vozes, BWV 772 – 786

[16-30] – Sinfonias, a três vozes, BWV 787 – 801

[31-37] – Suite Francesa No. 5, em sol maior, BWV 816

Till Fellner, piano

Gravação de 2007, no Mozartsaal, Wiener Konzerthaus

Produção de Manfred Eicher

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Till chegando ao PQP Headquarters para dar uma entrevista

Ao ouvir este maravilhoso disco, que é uma perfeição da primeira até a última nota, poderá julgar por você mesmo se ele aprendeu bem a sua lição.

Este disco merece nosso Selo de Qualidade!

René Denon

Josquin Desprez (1450-1521): Missa Pange Lingua – Ensemble Clément Janequin & Ensemble Organum – Marcel Pérès

Josquin Desprez (1450-1521): Missa Pange Lingua – Ensemble Clément Janequin & Ensemble Organum – Marcel Pérès

Josquin Desprez

Missa Pange Lingua

Parece incrível, mas houve um tempo no qual as informações eram difíceis de serem obtidas. Consultávamos livros, tentávamos emprestar de algum amigo um ou outro disco ou gravar uma fita cassete para conhecer uma peça de música da qual havíamos ouvido falar. Lembro-me de estar fazendo hora em uma loja de discos que frequentava e ver surgir um mortal qualquer perguntando sobre gravações de música de câmera de Gabriel Fauré. Hoje uma simples busca na internet ou nas páginas do PQP Bach e você receberá uma inundação de possibilidades.

Demorei anos para notar que há um violino de perfil nesta capa…

Uma das minhas fontes de busca de informações era o livrinho Uma Nova História da Música, do Otto Maria Carpeaux. No final do livro há uma lista de obras consideradas por ele fundamentais na evolução da Música Ocidental, colocadas em ordem cronológica. Você poderá ver essa lista aqui. Eu adorava percorrer a lista buscando as peças que já conhecia e sonhando com aquelas que ainda não ouvira.

A postagem de hoje traz a segunda peça da lista do Carpeaux – a Missa Pange Lingua, de Josquin Desprez. Pode ser Des Près ou des Prez. De qualquer forma, Josquin é suficiente.

A missa é de 1516, aproximadamente, e é a peça mais antiga que tenho em minha coleção de música. Josquin é da escola franco-flamenga e foi um compositor importante. Era admirado por Martinho Lutero, que disse sobre ele: “É um mestre das notas, que obedecem aos seus desejos, enquanto outros compositores fazem o que as notas desejam”.

Foi um dos primeiros mestres do estilo de música vocal polifônica da Renascença, que estava surgindo durante seu período de vida. A música que prevalecia antes era o Canto Gregoriano, onde todos cantavam juntos a melodia. A transição deste tipo de música para a música polifônica ocorreu ao longo de séculos e os dois estilos conviveram lado a lado por bom tempo. Josquin certamente tinha conhecimento dos dois estilos.

O nome Missa Pange Lingua se deve ao fato de Josquin ter usado em toda a sua composição a melodia de um hino conhecido, chamado Pange Lingua. O hino é em louvor ao Corpus Christi e a missa claramente foi feita para a Festa de Corpus Christi. Em 1345 uma hóstia foi miraculosamente resgatada intacta de um fogo no qual havia caído. Este fato ficou conhecido como o Milagre de Amsterdam. A devoção que havia ao Santo Sacramento nesta época ajudou a tornar a missa muito conhecida em toda a Europa. Uma outra gravação da Missa Pange Lingua pode ser obtida aqui (Viva, Avicenna!).

Usar uma melodia, mesmo que de obra profana, para uma composição sacra, era comum. Por exemplo, uma melodia conhecida como L’homme armè foi usada por Dufay, por Ockeghem e por Josquin para a composição de famosas missas que levam este nome.

Uma palavra sobre esta específica gravação. A missa é composta do Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei. Na prática, estes movimentos eram diluídos em um contexto que incluía outros cantos, o Introito, Gradual, Aleluia, Ofertório, e o canto da comunhão. A gravação deste disco faz isto. Você notará que estes movimentos são cantados a uma só voz (plainchant). Estes movimentos não foram compostos por Josquin. A maioria são de autores anônimos. Nos movimentos da missa propriamente dita, você ouvirá a polifonia. Além disso, a última faixa do disco é o hino Pange Lingua. Há, portanto, várias possibilidades de audição. É claro que, se os artistas e produtores prepararam assim o disco, é assim que eles esperam que você o ouça. Mas, aqui está a minha sugestão: ouça, nesta ordem, as faixas 11, 2, 3, 6, 8 e 10. O hino é cantado a uma só voz e a sua melodia será usada imediatamente no Kyrie e assim por diante. Depois, faça como quiser… O contraste dos movimentos cantados a uma voz com os movimentos polifônicos é bem interessante. Aqui está a letra do hino Pange Lingua. Nesta gravação não são cantados todos os versos como está nesta letra, mas você perceberá…

Interior da Catedral de São João, em ‘s-Hertogenbosch, Holanda

Assistindo a um documentário sobre Hieronimus Bosch, pintor que morreu em 1516, ano da composição da missa, ouvi uma explicação sobre este tipo de música que tento transcrever aqui. A explicação foi dada por Stratton Bull, o diretor artístico e membro da Cappella Pratensis, conjunto que canta algumas das peças no documentário. “Se Hieronymus Bosch entrasse nesta igreja (em ‘s-Hertogen-bosch, a cidade em que viveu Bosch) em um dia qualquer da semana, ele ouviria uma grande variedade de música. Naquele tempo, a voz humana era essencial para a música devocional. Isto não quer dizer que instrumentos não estavam envolvidos. Haveria um maravilhoso órgão com um organista no prédio e há muitos registros de instrumentos tocando com as vozes. Mas as vozes são, é claro, essenciais para o tipo de música que expressa devoção a Deus. Especialmente através de textos bíblicos e outros textos religiosos. De novo, é a ideia de tomar a palavra e quando a palavra se torna importante, dar a ela uma adicional dimensão. Isto é exatamente o que cantar faz, no lugar de apenas falar. Isto dá a ela uma extra cor e quando se adiciona mais vozes, tudo torna-se mais ornado e complexo”. Josquin sabia disso como poucos.

The Haywain Triptych (1512 – 1515), H. Bosch

Josquin Desprez (1450 – 1521)

  1. Intoït
  2. Kyrie – (Josquin)
  3. Gloria – (Josquin)
  4. Graduel
  5. Alleluia
  6. Credo – (Josquin)
  7. Offertoire
  8. Sanctus – (Josquin)
  9. O Salutaris
  10. Agnus Dei – (Josquin)
  11. Hymne “Pange Lingua”

Ensemble Clément Janequin                          Ensemble Organum

Dominique Visse, contratenor                            Gérard Lesne, contratenor

Michel Laplénie, tenor                                         Josep Benet, tenor

Philippe Cantor, barítono                                     Josep Cabré, barítono

Antoine Sicot, baixo                                             François Fauché, baixo

Direção: Marcel Pérès

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Otto achando muita graça de mim por eu não ter visto antes o violino, na capa do livro dele…

Não é necessário ser religioso para se sentir elevado por esta música. Espero que ouvir o disco seja uma experiência tão gratificante para você quanto tem sido para mim.

René Denon

Domenico Scarlatti (1685-1757): 18 Sonatas – Alexandre Tharaud, piano

Domenico Scarlatti (1685-1757): 18 Sonatas – Alexandre Tharaud, piano

Scarlatti – 18 Sonatas

Como o personagem do livro de Virginia Woolf, Domenico Scarlatti viveu duas vidas em uma, mas não fez mudança de sexo.

Nascido no mesmo ano em que nasceram Johann Sebastian Bach e George Frideric Handel, mostrou talento fenomenal para música desde cedo. Seu pai, Alessandro Scarlatti, era músico famoso e muito bem estabelecido em Nápoles. Exerceu grande influência sobre a carreira do filho. Após a sua morte, em 1725, Domenico começou uma outra vida, pelo menos para a música, e produziu a obra pela qual agora é justamente famoso. Se a sua vida tivesse terminado na primeira etapa, ele teria sido um mestre menor. O que lhe garante o destaque na História da Música são as perto de 550 sonatas para cravo que produziu em sua segunda vida.

Scarlatti, por Velasco, em trajes de Cavaleiro da Ordem de Santiago

Produzidas como exercícios, nelas ele explorou e desenvolveu a técnica do teclado imensamente, mas produziu também verdadeiras pérolas que estão no repertório dos maiores (e menores) pianistas. Nestas peças exuberantes notamos ritmos de danças, muita alegria e elementos da música folclórica da Espanha. Scarlatti, com respeito a técnica do teclado, foi tão inovador quanto seriam, muitos anos depois, Liszt e Chopin. Saltos e arpejos extensíssimos, notas de passagens duplas, cruzamentos de mãos e rápidas repetições de notas. Chopin tinha grande admiração pelas peças de Scarlatti. Vladimir Horowitz sempre teve as suas sonatas em seu repertório e muito fez para o seu reconhecimento. Suas gravações ainda hoje são referências.

Scarlatti conviveu com os nobres e os grandes artistas de seu tempo. Em Roma frequentava os encontros musicais promovidos pelo Cardeal Pietro Ottoboni, que em uma destas ocasiões foi o juiz de um duelo entre os jovens Scarlatti e Handel. Considerados empatados no cravo, o enorme saxão levou a melhor no órgão. A disputa não impediu que os dois extraordinários músicos fossem amigos por toda a vida. Neste círculo de convivência conheceu o Embaixador de Portugal, o Marques de Fontes. Esta conexão o levou posteriormente, após um período em Londres, à Lisboa, onde o rei D. João V o tornou professor de música da Princesa Maria Bárbara de Bragança. A princesa casou-se em 1729 com o Príncipe Fernando de Astúrias, de Espanha, e assim Scarlatti mudou-se para Madri. Scarlatti e sua música tornaram-se espanhóis. A princesa tornou-se rainha e o protegeu por toda a vida.

Maria Barbara quando era a Princesa de Astúrias

Neste disco temos o pianista francês, Alexandre Tharaud, que nos explica a escolha do repertório. As Sonatas K. 239, K. 420 e K. 141 trazem o elemento folclórico da Música Espanhola e o Flamenco. Nas Sonatas K. 72, K. 29, K. 514 e K. 3 destaca-se o estilo virtuosístico. As Danças da Corte estão presentes nas Sonatas K. 430 e K. 64, enquanto as Sonatas K. 208, K. 32 e K. 132 lembram árias de óperas. As Sonatas K. 380, K. 9 e K. 481 são figurinhas carimbadas, aparecem em quase todos os álbuns de música de Scarlatti e Tharaud as estudava desde a adolescência.

Apesar de suas sonatas terem sido compostas para cravo, elas adaptam-se maravilhosamente ao piano. Eu tenho grande predileção pelas gravações de Horowitz, Perahia, Pogorelich, Pletnev e Subdin. Mesmo o despretensioso disco da pianista eslovena Dubravka Tomšič merece atenção. Mas o artista da vez, Alexandre Tharaud, é de primeira grandeza e o disco, com selo Virgin Classics, é muito bem produzido por Cécile Lenoir.

Minha Sonata preferida é a dolente K. 208. Cuidado, ela derreterá seu coração!

A aula da princesa, pintada por Gaspare Traversi

Domenico Scarlatti (1685 – 1757)

  1. Sonata K. 239 em fá maior – Allegro
  2. Sonata K. 208 em lá maior – Adagio è cantabile
  3. Sonata K. 72 em dó maior – Allegro
  4. Sonata K. 8 em sol menor – Allegro
  5. Sonata K. 29 em ré maior – Presto
  6. Sonata K. 132 em dó maior – Cantabile
  7. Sonata K. 430 em ré maior – Non presto mà a tempo di ballo
  8. Sonata K. 420 em dó maior – Allegro
  9. Sonata K 481 em fá menor – Andante è cantabile
  10. Sonata K. 514 em dó amior – Allegro
  11. Sonata K. 64 em ré menor – Gavota: Allegro
  12. Sonata K. 32 em menor – Aria
  13. Sonata K. 141 em ré menor – Allegro
  14. Sonata K. 472 em si bemol maior – Andante
  15. Sonata K. 3 em lá menor – Presto
  16. Sonata K. 380 em mi maior – Andante commodo
  17. Sonata K. 431 em sol maior – Allegro
  18. Sonata K. 9 em ré menor – Allegro

Alexandre Tharaud, piano

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Alexandre agradecendo aos leitores do blog!

A música de Scarlatti é perfeita para ser ouvida numa manhã ensolarada de domingo, garantia-me um querido amigo matemático inglês, já há muitos anos. Agora eu o entendo, perfeitamente!

René Denon

J. S. Bach (1685-1750): Motetos, BWV 225 – 230 & BWV Anh. 159 – The Hilliard Ensemble

J. S. Bach (1685-1750): Motetos, BWV 225 – 230 & BWV Anh. 159 – The Hilliard Ensemble
Não precisa limpar os óculos, a ECM gosta destas capas assim, modernosas…

Motetos, um mar de ondulantes harmonias!

 

Este disco é um forte candidato a meu Disco-do-Ano, mesmo que não tenha sido lançado este ano. Se levarmos em conta a rapidez com que os discos atualmente veem e vão, um disco de 2007 (gravado em 2003) é uma velharia. Mas eu uso outras medidas, outros calendários. Estava de olho nele há tempo e finalmente os nossos caminhos se cruzaram.

O que torna um disco significativo para você, antes mesmo que ouça ainda que seja um pedacinho dele?

É claro que a combinação compositor-repertório atrai logo a atenção. Neste caso, Bach-Motetos, temos uma combinação vencedora. Logo em seguida, e aí quase deterministicamente, intérprete(s). Neste quesito, o disco oferece uma opção interessantíssima, levando os níveis de curiosidade à estratosfera. Mas, antecipo, a combinação autor-repertório-intérpretes, neste caso, não é óbvia, mas absolutamente intrigante. O Hilliard Ensemble é bem conhecido por suas interpretações de música anterior ao período barroco e teve que ser expandido, acrescentando os dois sopranos, um contra tenor e um baixo para realizar o disco. As vozes dos sopranos tornam o som dos Hilliard diferente, mas adequado para o repertório.

No conjunto da música sacra de Bach – Cantatas, Magnificat, Missas, Paixões, Oratórios e mesmo outras peças menores, os Motetos têm uma posição singular.

Veja a definição – moteto é uma composição vocal em estilo polifônico (muitas vozes) sobre um texto bíblico ou prosa similar, para ser usado em um serviço religioso. A palavra moteto tem origem latina, assim como mote (lema, tema, assunto), mot (palavra, em francês), motejo (zombaria). Bon mot – um chiste.

Mesmo nos dias de Bach, esta forma musical era arcaica. Apesar disso, os motetos foram as suas peças vocais que continuaram a ser interpretadas após a sua morte até o renascimento do interesse do público em geral por sua obra, nos fins do Século XIX.

Singet dem Herren…

Em abril de 1789, Mozart fez uma parada em Leipzig durante uma viagem a Berlim. Mozart teria feito improvisações no órgão da Igreja de São Tomás e ficou surpreso ao ouvir o Moteto Singet dem Herren ein neus Lied, cantado pelo Coro de Meninos da Igreja. Ele teria dito: “Finalmente algo do qual se possa aprender”. Pediu que as partituras das diferentes vozes fossem dispostas em cadeiras em torno dele, para que pudesse estudar a música. Ele levou consigo uma cópia da peça. Esta cópia se encontra em uma instituição em Viena e tem uma anotação feita por ele: “Uma orquestra completa deve ser acrescentada”.

Essa observação nos leva às diferentes maneiras de interpretar os Motetos. As suas partituras constam apenas de vozes – soprano, contralto, tenor e baixo. Apenas em um deles tem indicação de acompanhamento de baixo contínuo (Lobet den Herrn, alle Heiden). Alguns são em oito vozes (duplo coro), outros em quatro (ou cinco) vozes. Mas, tradicionalmente, usa-se instrumentos (colla parte) para reforçar as vozes. Outra grande diferença está no número de cantores para cada parte (cada voz). Os grandes coros das interpretações de Karl Richter, Fritz Werner, Wolfgang Gönnenwein cederam vez aos coros com poucos cantores em cada voz, seguindo a tendência das interpretações que observam os instrumentos e técnicas usadas na época das composições. Entre essas distinguem-se as gravações de Gardiner (duas), Herreweghe, Ton Koopmann e Sigiswald Kuijken.

A gravação que postamos aqui vai ainda mais longe. Seguindo a teoria de Joshua Rifkin, temos uma gravação com um cantor apenas para cada voz e nada de instrumentos acompanhando. Apenas no Moteto Lobet den Herrn, alle Heiden temos um acompanhamento de órgão tocando o contínuo da partitura. Temos, portanto, uma versão minimalista das peças, mas nada pequena.

Independentemente do tipo de interpretação ao qual você está apegado, se é que você tem alguma, ouça o disco. Essa formação, aliada à expertise e dedicação do grupo permite que observemos essa maravilhosa música de uma forma nova e essencialmente natural, quase primeva. Vozes humanas recriando um universo sonoro sofisticadíssimo. O escritor E.T.A. Hoffmann comparou os motetos a oito vozes às “ousadas e maravilhosas estruturas da Catedral de Strasbourg…” Recriar catedrais à oito vozes é o desafio a que se propõem os cantores deste disco. Em minha opinião, eles o superam galhardamente.

Vista da Catedral de Strasbourg

Os Motetos Singet dem Herrn ein neues Lied; Der Geist hilft unser Schwachheit auf; Fürchte dich nicht, ich bin bei dir; Komm, Jesu, komm e Ich lasse dich nicht, du segnest mich denn, são a oito vozes (duplo coro). Os dois outros Motetos são a quatro ou cinco (dois sopranos) vozes.

No início de carreira, Richard Wagner foi regente em Dresden. Ele regeu um concerto no dia 22 de janeiro de 1848. No programa, a Sinfonia “Praga”, de Mozart,  o Moteto Singet dem Herrn ein neues Lied, uma cena de Medea, de Cherubini e a Sinfonia Eroica, de Beethoven. Posteriormente, em um ensaio intitulado “A Música do Futuro”, escreveu loas ao moteto, “pelo valor lírico de sua melodia rítmica … ressurgindo em um mar de ondulantes harmonias”. Poético e sensível Richard.

Rosácea, Catedral de Strasbourg

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Motetos BWV 225 – 230 e BWV Anh. 159

  1. Singet dem Herrn ein neues Lied, BWV 225
  2. Der Geist hilft unser Schwachheit auf, BWV 226
  3. Jesu, meine Freude, BWV 227
  4. Fürchte dich nicht, ich bin bei dir, BWV 228
  5. Komm, Jesu, komm, BWV 229
  6. Lobet den Herrn, alle Heiden, BWV 230
  7. Ich lasse dich nicht, du segnest mich denn, BWV Anh. 159

The Hilliard Ensemble

Joanne Lunn, soprano

Rebecca Outram, soprano

David James, contra tenor

David Gould, contra tenor

Rogers Covey-Crump, tenor, órgão

Steven Harrold, tenor

Gordon Jones, barítono

Robert Macdonald, baixo

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Aproveite, nem sempre temos anjos cantando um mar de ondulantes harmonias!

René Denon

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos de Cordas, Op. 18, 4; Op. 135; Op. 95 – Pavel Haas Quartet

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos de Cordas, Op. 18, 4; Op. 135; Op. 95 – Pavel Haas Quartet

Quarteto de Cordas em dó menor, Op. 18, 4

Quarteto de Cordas em fá maior, Op. 135

Quarteto de Cordas em fá nenor, Op. 95 – Quarteto Serioso

A Integral das Sonatas para Piano ou dos Quartetos de Cordas de Beethoven tornou-se por demais comum neste nosso mundo de excessos. Há uma infinidade de opções de gravações das sonatas e meia infinidade de gravações dos quartetos. Ficamos assim assoberbados com essas possibilidades e até esquecemos que essas obras foram produzidas vagarosamente, ao longo de toda a vida criativa do genioso e genial Ludovico.

Trinta e duas sonatas e dezesseis quartetos, mais uma enorme fuga, formam realmente um conjunto imponente. Onde começar? O que ouvir primeiro?

Começaremos deixando as sonatas para outra ocasião e vamos nos concentrar nos quartetos.

Assim como no caso das sonatas, a composição dos quartetos ocupou Beethoven ao longo de toda a sua carreira de compositor, que é dividida (apenas por razões práticas) em três períodos: Primeiros Anos (1792-1802); Período Heroico (iniciando em 1803, com a Sinfonia Eroica); Fase Final (iniciando em 1814, com a Hammerklavier).

Neste disco temos uma ótima introdução aos Quartetos de Cordas. Portanto, é um excelente convite para quem gostaria de explorar mais este repertório, mas se sente um pouco assoberbado pelo volume da obra. Ah, mas também é uma maravilha para quem já navega bem nestas águas, pois o disco é supimpa!

O disco reúne várias características que eu prezo bastante. É um disco (de certa forma) despretensioso. Gravado pela BBC Music foi vendido nas bancas com o Volume 17, No. 9, da revista. O Quarteto Paavel Haas, que interpreta as obras, é famoso e detentor de inúmeros prêmios, mas em 2007 estava vivendo seus primeiros sucessos. Assim, suas performances neste disco tem um frescor, um sabor de descoberta e uma certa impetuosidade e audácia que geralmente caracterizam as interpretações de jovens e talentosos artistas. Fundado em 2002, o PHQ ganhou em 2007 o título Rising Stars, da European Concert Hall Organization, e de 2007 a 2010 foi o quarteto da BBC New Generation Artists. Além disso, este é o único disco com quartetos de Beethoven na discografia deles ?.

Veja também por que o repertório do disco é interessante.

No seu período inicial, Beethoven produziu seis quartetos, todos publicados como o Opus 18. Isso de publicar em grupos de seis (ou três) peças era típico da época e foi mudando ao longo da vida de Beethoven.

Deste primeiro conjunto temos o Quarteto em dó menor, Op. 18, No. 4. É uma peça bem representativa deste Primeiro Período. Segue os moldes tradicionais vigentes, mas revela vários traços da personalidade do autor: impetuosidade, autoconfiança, bom humor, e tem uma boa pitada de inovação. Estas características são deixadas bem evidentes pelo PHQ. Impetuosidade descreve o primeiro movimento. O segundo, um Scherzo, revela autoconfiança. Não deixe de notar o rascante sotaque do violoncelo. O Menuetto no terceiro movimento é cheio de urgência e o quarteto é arrematado com um Allegretto que revela alguma serenidade e bastante decisão. Os movimentos dos quartetos são descritos (quase que sempre) pelos títulos em italiano e lê-los já é uma fonte de prazer.

O segundo quarteto do disco é a última obra completa que Beethoven compôs. Após este quarteto ele compôs apenas o movimento final (mais curto) do quarteto Op. 130, que usou para substituir o original, que foi publicado separadamente como a Grosse Fuge, Op. 133. Este é o mais compacto dos últimos quartetos e ainda segue o padrão de quatro distintos movimentos. No primeiro movimento você notará certos padrões, como o questionamento e resposta, tensão e distensão, que tornam as peças desse compositor tão atraentes. No segundo movimento, Vivace, note os contrastes sonoros obtidos com as diferentes maneiras de usar os arcos que tocam os instrumentos. A palavra contemplação resume o terceiro e lindo movimento Lento assai, cantante e tranquilo. Este movimento rivaliza-se em beleza com o Heiliger Dankgesang eines Genesenen an die Gottheit, in der Lydischen Tonart. Molto adagio – Andante, o terceiro movimento do Quarteto No. 15, em lá menor, Op. 132 (fica aqui uma dica).

O quarto e último movimento tem uma inscrição que o precede: Der schwer gefasste Entschluss. Muss es sein? Es muss sein! (A difícil decisão: Tem que ser? Tem que ser!) Esta frase está associada ao sentimento de inevitabilidade. O destino: o que tem que ser, será! (Veja o conhecido livro do Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.) O movimento tem toda essa coisa de pergunta e afirmação, tensão e resolução, completando assim, a obra.

Para completar o disco, o último dos quartetos considerados do Período Heroico. O Quarteto No. 11, em fá menor, Op. 95, tem o título Quarteto Serioso, devido ao terceiro movimento, Allegro assai vivace ma serioso. Este também é um quarteto compacto, que novamente inicia com muita impetuosidade, típica desta fase do compositor. O quarteto foi composto na mesma época que a Abertura Egmont. Beethoven afirmou em uma carta a Georg Smart que “o Quarteto [Op. 95] foi escrito para um restrito ciclo de connoisseurs e nunca deve ser tocado em público”. A afirmação deve ser considerada em contexto. Na composição deste quarteto Beethoven experimentou várias novas técnicas: desenvolvimentos mais curtos, uso mais acentuado de silêncio e outras coisas mais técnicas. Nada que você não possa lidar… Não deixe de perceber os momentos finais do disco, uma coda para arrematar lindamente um belíssimo e singelo disco.

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Quarteto de Cordas em dó menor, Op. 18, 4

  1. Allegro ma non tanto
  2. Scherzo: Andante scherzoso quasi allegretto
  3. Menuetto: Allegro
  4. Allegretto

Quarteto de Cordas em fá maior, Op. 135

  1. Allegretto
  2. Vivace
  3. Lento assai, cantante e tranquillo
  4. Der schwer gefasste Entschluss: Grave, ma non troppo tratto – ůAllegro

Quarteto de Cordas em fá menor, Op. 95 – Quarteto Serioso

  1. Allegro com brio
  2. Allegretto ma non troppo
  3. Allegro assai vivace ma serioso
  4. Larghetto espressivo – Allegretto agitato – Allegro

Pavel Haas Quartet

Veronika Jarůškova, violino

Eva Karová, violino (Op. 18, 4 e Op. 135)

Maria Fuxová, violino (Op. 95)

Pavel Nikl, viola

Peter Jarůšek, violoncelo

Gravado no Warehouse, Londres, em 2008

Produção: Lindsay Kemp

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Aproveite, baixe o disco, ouça uma vez, duas. Verá que há um universo entre quatro instrumentos de cordas!

René Denon

Gabriel Fauré (1845-1924): Sonatas para Violino – Krysia Osostowicz & Susan Tomes

Gabriel Fauré (1845-1924): Sonatas para Violino – Krysia Osostowicz & Susan Tomes
Place du Théâtre français (1898), por Camille Pissarro (1830-1903)

Sonata para violino No. 1 em lá maior, Op. 13

Sonata para violino No. 2 em mi menor, op. 108

A combinação de um instrumento melódico e um instrumento com teclado (piano, pianoforte ou cravo, dependendo da época) é muito apreciada pelos compositores e há uma enormidade de obras-primas com este formato.

Eu tenho uma especial predileção pelas sonatas para violino e piano produzidas por compositores franceses (e adjacências). Essas peças geralmente combinam graça, sutileza, elegância e sofisticação. Este disco traz duas delas: as sonatas de Gabriel Fauré.

Fauré viveu um período de tremendas mudanças, tanto na música quanto nas coisas do mundo. Quando iniciou sua vida de compositor, na década de sessenta do Século XIX, Chopin, Liszt e Wagner eram compositores de vanguarda. Quando morreu, seis anos depois de Debussy, o mundo havia passado pela Primeira Grande Guerra, Schoenberg era a vanguarda na música e até a Sagração da Primavera havia sido estreada.

Gabriel Urbain Fauré, 1907

Fauré foi membro fundador da Société Nationale de Musique, junto com Saint-Saëns (de quem fora aluno), Bizet, Chabrier, Franck e Massenet. A primeira das duas sonata para violino de Fauré teve sua estreia em um dos concertos da Société, que estimulou enormemente a produção de música de câmera francesa.

Compor era apenas uma das muitas atividades musicais de Fauré, que foi organista, professor e diretor do Conservatório de Paris. Em 1905, Maurice Ravel, que era aluno de Fauré, foi eliminado prematuramente de concorrer ao Prix de Roma (uma importante competição que garantia ao vencedor uma estada de um ano estudando em Roma) pela sexta vez. Essa controvérsia acabou com a demissão do antigo diretor do Conservatório e a indicação de Fauré em seu lugar. Ele mudou radicalmente a administração e o currículo do Conservatório. Instituiu bancas com membros externos e independentes para decidir as novas admissões, exames e competições. Isso acabou com antigos privilégios e favorecimentos que eram dados aos alunos particulares dos professores.

Krysia Osostowicz

A primeira sonata foi entusiasticamente recebida em janeiro de 1877 num concerto da Société National de Musique e ganhou uma ótima resenha no Journal de Musique, escrita por Saint-Saëns. A sonata chama a atenção pela sua verve e frescor, revelando a juventude do compositor.

A segunda sonata foi a primeira de uma série de obras-primas camerísticas compostas por Fauré. A sonata tem uma linguagem harmônica mais complexa do que a primeira e transparece as atribulações pelas quais o compositor passava. Fauré, como Beethoven, viveu na surdez seus últimos anos. Além disso, durante a composição da sonata, entre 1916 e 1917, seu filho estava em serviço militar.

Susan Tomes

Mas nada de preocupações, o disco é excelente, as intérpretes, Krysia Osostowicz, violino, e Susan Tomes, piano, são excelentes. Ambas são membros do Quarteto Domus e experts em música de câmera. A produção do disco, aos cuidados de Andrew Keener, é excelente. O selo Hyperion empacota tudo e arremata a encomenda com mais uma de suas capas maravilhosas.

Gabriel Fauré (1845 – 1924)

Sonata para violino No. 1, em lá maior, Op. 13
  1. Allegro molto
  2. Andante
  3. Allegro vivo
  4. Allegro quasi presto
Sonata para violino No. 2, em mi menor, Op. 108
  1. Allegro non troppo
  2. Andante
  3. Allegro non troppo

Krysia Osostowski, violino

Susan Tomes, piano

Produção: Andrew Keener

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Aproveite para apreciar a juventude da primeira e a maturidade da segunda sonata!

René Denon

Stephen Hough’s Spanish Album – Peças de A. Soler, E. Granados, I. Albeniz, F. Mompou, F. Longas, C. Debussy, M. Ravel, F. X. Scharwenka, W. Niemann e S. Hough

Stephen Hough’s Spanish Album – Peças de A. Soler, E. Granados, I. Albeniz, F. Mompou, F. Longas, C. Debussy, M. Ravel, F. X. Scharwenka, W. Niemann e S. Hough

Peças para Piano 

Vários Compositores

 

Uma alusão à música espanhola nos traz à memória uma variedade de ritmos e estilos que vão do violão clássico, passando pelo flamenco, zarzuela e outros. Esses ritmos e estilos inspiraram compositores de Espanha e de outros países também.

Como não pensar no Capricho Espanhol, de Rimsky-Korsakov, na ópera Carmen, de Bizet ou no balé El amor brujo, de Manuel de Falla?

A música tem esse poder de evocar lembranças em todos os nossos sentidos: sons, cores, temperatura e sabores – tudo junto e misturado.

O disco desta postagem nos transporta para um mundo de paixões e misticismo. Você identificará em cada faixa algum aspecto da cultura espanhola e ficará surpreso ao perceber que nem todas as peças foram compostas por espanhóis.

O disco merece ser ouvido muitas vezes. Primeiro por sua simples beleza e sensualidade. Depois você perceberá a altíssima qualidade técnica do pianista Stephen Hough, um dos melhores em atividade.

A maneira como o disco foi concebido, desfilando compositores espanhóis, fraceses e de outras nacionalidades, mas também guardando alguma ordem cronológica mostra o cuidado da produção.

Real Alcazar, Sevilha

A sonata do padre Antonio Soler nos lança imediatamente no clima de ritmos empolgantes, de clara evocação espanhola. Soler aprendeu muita coisa com o Domenico Scarlatti!

A sequência também apresenta peças mais poéticas, onde ritmos mais dolentes revelam o caráter apaixonado da cultura espanhola.

Os compositores franceses agregam muita sofisticação e refinamento ao disco.

Stephen Hough

As últimas faixas exibem o aspecto virtuosístico do pianista que compôs a última delas. É a técnica colocada ao serviço da música (e do nosso prazer), não o contrário.

O selo Hyperion é mais uma garantia de qualidade na produção sonora, nas notas do livreto e na escolha da (magnífica) capa. Veja o que disse a Classic CD sobre o álbum: “This is a terrific disc. A master pianist reminds us that the piano can delight, surprise and enchant!”

Stephen Hough’s Spanish Album

  1. Antonio Soler (1729-1783) – Sonata em fá sustenido maior
  2. Enrique Granados (1867-1916) – Valses poéticos
  3. Isaac Albéniz (1860-1909) – Evocación, do livro I, de Iberia
  4. Isaac Albéniz – Triana, do livro II, de Iberia
  5. Frederico Mompou (1893-1987) – Pájaro triste, de Impressiones íntimas
  6. Frederico Mompou – La barca, de Impressiones íntimas
  7. Frederico Mompou – Secreto, de Impressiones íntimas
  8. Frederico Mompou – Gitano, de Impressiones íntimas
  9. Federico Longas (1893-1968) – Aragón
  10. Claude Debussy (1862-1918) – La soirée dans Grenade, de Estampes
  11. Claude Debussy – La sérenade interrompue, dos Préludes, livro I
  12. Claude Debussy – La Puerta del Vino, dos Préludes, livro II
  13. Maurice Ravel (1875-1937) – Pièce em forme de Habanera, arranjo de Maurice Dumesnil (1886-1974)
  14. Isaac Albéniz – Tango, arranjo de Leopold Godowsky (1870-1938)
  15. Franz Xaver Scharwenka (1850-1924) – Spanisches Ständchen, Op. 63, 1
  16. Walter Niemann (1876-1953) – Evening in Seville, Op. 55, 2
  17. Stephen Hough (b 1961) – On Falla (2005)

Stephen Hough, piano

Produção: Andrew Keener

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Stephen Hough esperando a van do PQP para levá-lo ao Castelo do PQP para um fim de semana com a turma…

Se você não ficar fascinado, adicto e dependente deste disco, então eu não sei de mais nada. Este merece nosso Selo RD de (Ótima) Qualidade!

Anda, vai, baixa logo, mas cuidado, material altamente contagiante!

René Denon

J. S. Bach (1685-1750): Partita & Sonatas (Anner Bylsma, Violoncello Piccolo)

J. S. Bach (1685-1750): Partita & Sonatas (Anner Bylsma, Violoncello Piccolo)

Partita em mi maior, BWV 1006

Sonata em sol menor, BWV 1013

Sonata em lá menor, BWV 1003

Anner Bylsma, Violoncello Piccolo

Na primeira vez que este CD cruzou meu caminho, eu não estava preparado para ele. Quando tive uma segunda chance, o dito cujo surgindo de dentro de uma caixa de CDs usados, em um empoeirado sebo, não hesitei e o arrematei na hora.

Música de Johann Sebastian Bach embalada em um excelente selo (deutsche harmonia mundi) com um intérprete famoso – Anner Bylsma – tudo conjurando para que eu sacasse da carteira. Mesmo assim, havia algo estranho no ar, uma duvidazinha restante. Assim como em uma postagem recente aqui no PQP, onde uma violinista famosa toca (ao violino) as Suites para Violoncelo Solo, temos música originalmente escrita para outros instrumentos, aqui interpretada em um violoncelo. Na verdade, um piccolo violoncelo.

Tudo isto demanda atenção e algumas explicações. Vamos a elas. Primeiro, a música. Temos a Partita em lá menor, BWV 1006, e a Sonata em lá menor, BWV 1003, ambas escritas para violino solo. Além delas, a Sonata em lá menor, BWV 1013, originalmente em lá menor, escrita para flauta solo.

Primeira página do Prelúdio da Partita BWV 1006

Você pode estar se perguntando: qual é a diferença entre uma Partita e uma Sonata? Lembre-se, Bach escreveu diversas Sonatas e Partitas e também Suítes para instrumentos vários. Para saber a diferença, damos a palavra aos especialistas. Uma Sonata é [uma composição] tradicionalmente na forma de quatro movimentos e uma Partita (ou Suíte) é um grupo de danças, às vezes precedido de um Prelúdio.

Isto dito, reina a confusão. Em alguns discos, a peça originalmente para flauta é chamada de Partita, aqui é chamada de Sonata. E aí?

Devemos lembrar que no período barroco as formas ainda não estavam bem estabelecidas e uma sonata ou uma sinfonia deste período não tem a mesma formalidade que tomaria no vindouro período clássico. E esse rigor seria devidamente quebrado pelos compositores que viriam ainda depois.

Portanto, por agora, fica assim: movimentos com nomes de danças, como Gavota, Allemande, Sarabanda ou Giga, então é Partita ou Suíte; se os nomes são formais, tais como Allegro, Grave, Largo, Allegretto, então é uma Sonata. Mas há muito mais nesse interessantíssimo tema e você pode aprofundar-se um pouquinho mais aqui ou aqui.

Anner Bylsma

A próxima pergunta é: como um violinista resolve tocar as Suítes para Violoncelo (no seu violino)? No passado, violistas e violonistas se aventuraram nestas águas. Assim como o nosso violoncelista desta postagem, se aventurando em música escrita para instrumentos com registro bem mais alto. O desafio que isto apresenta certamente é uma coisa (a grama do vizinho sempre parece mais verdinha), mas acho que o principal apelo deve vir da música. O próprio Anner Bylsma nos fala um pouco sobre esse disco. Em uma entrevista com Bruce Duffie, que você pode ler aqui, ele explica que o violoncelo piccolo é um instrumento feito para crianças e tem a mesma afinação que um violino. “I couldn’t keep myself from doing the A Minor Sonata for Violin Solo and the E Major Partita”. Perguntado sobre a dificuldade de sobrepor todos os dedos para tocar as peças, ele explica: Sim. O violoncelo piccolo tem mais espaço do que o violino, e soa muito bem porque tem um tom que se mantem, continua soando um pouco mais do que um violino. Isso permite apresentar o contraponto maravilhosamente.

Então é isso, o homem já explicou, a música dança na Partita, é mais solene e dolente nas Sonatas e faz você esquecer qual instrumento está sendo tocado. Assim, como em todo bom disco, depois de um tempo, o que realmente importa é a música. E a se a música é de Bach, então é música que transcende…

Capa de outra edição do disco

Partita em mi maior, BWV 1006

  1. Preludio
  2. Loure
  3. Gavotte en Rondeau
  4. Menuett 1 & 2
  5. Bourrée
  6. Gigue

Sonata em sol menor (original: em lá menor), BWV 1013

  1. Allemande
  2. Corrente
  3. Sarabande
  4. Bourrée anlaise

Sonata em lá menor, BWV 1003

  1. Grave
  2. Fuga
  3. Andante
  4. Allegro

Anner Bylsma, Violoncello Piccolo

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Aproveite esta piccola música do grande Bach, pelas mãos do Anner Bylsma!

René Denon

C.P.E. Bach (1714-1788): Chamber Works (Rachel Podger & Friends)

C.P.E. Bach (1714-1788): Chamber Works (Rachel Podger & Friends)

Carl Philipp Emanuel Bach (1714 – 1788)

Música de Câmera 

 

Eu adoro lojas de discos usados – sebos! A vida toda frequentei estes lugares um pouco mágicos, um pouco marginais, mas sempre interessantes. E os personagens? Os donos, atendentes, frequentadores… Uma verdadeira galeria de personagens. Seria um perfeito ambiente para um bom filme. Sempre que posso, visito um (dos poucos que restaram) na rua Augusta, em São Paulo, e outro, na rua da Travessa, no centro do Rio.

Agora há o sebo virtual. Vocês sabem, lá na internet. Este dá para visitar sem sair de casa. Não é a mesma coisa. Não tem cheiro (só quando a compra chega), não tem papo agradável com a turma, sobre o que está rolando na novela, qual foi o melhor jogador do clássico, essas coisas que a gente só dá valor quando não as tem. Mas, reserva umas boas surpresas, como este disquinho aqui da postagem. A BBC Music Magazine, muito boa revista sobre música e discos, tem a tradição desde seu lançamento de oferecer de brinde, em cada número, um CD com gravações dos seus arquivos. Este da postagem é um deles.

O disco foi gravado em 28 de julho de 2014, no Cadogan Hall, durante o BBC Proms, na seção de música de câmera. O concerto marcou a data histórica dos 300 anos de nascimento de Carl Philip Emanuel Bach.

A violinista barroca, musa de metade e meia da turma do PQP, Rachel Podger, juntou uma patota e preparou um concerto com quatro obras do CPE, que ilustram a sua produção de música de câmera.

Rachel Podger
Carl Philipp Emanuel Bach

As críticas e resenhas falam de Carl Philipp Emanuel Bach como uma figura de ligação entre a música barroca (especialmente a obra de J.S.Bach) e a música clássica (representada pela obra de Haydn e Mozart). No entanto, não é necessário muita leitura, basta relaxar naquela poltrona na qual você se senta para ouvir os arquivos que baixa daqui, e desfrutar um excelente programa de música.

Veja, um disco deste tipo é um retrato de um momento, de um concerto ao vivo, onde imperfeições são parte do pacote, aplausos após cada peça e algum barulho que revela o clima alegre da ocasião.

A seguir, uma livre tradução da resenha que você poderá ler na íntegra aqui.

O programa começa e termina com duas trio sonatas, que ladeiam uma sonata para violino e fortepiano e uma sonata para fortepiano.

A trio sonata para flauta, violino e contínuo, que abre o programa, foi escrita ainda na juventude de CPE, provavelmente sob a supervisão do pai, mas revista posteriormente, em 1747.

A sonata para violino e fortepiano em dó menor, de 1763, é uma peça substancial e mostra o lado mais dramático de CPE. O movimento lento é particularmente sublime e a sonata termina com uma vibrante tarantella.

Na sequência, uma sonata para fortepiano que pertence ao conjunto intitulado für Kenner und Liebhaber (para profissionais e amadores), publicadas em 1785. A sonata tem as típicas características de CPE – grandes contrastes, vôos de fantasia, excentricidade e vivacidade.

A segunda das duas trio sonatas, em dó menor, Sanguineus and Melancholicus, de 1749, é uma obra altamente individual – um animado diálogo entre dois violinos, um alegre e otimista (Rachel Podger) e o outro profundamente melancólico (Bojan Čičić). Basicamente Sanguineus tenta animar Melancholicus, que permanece inconsolável até o último movimento, quando eles se reunem num animado dueto. A obra realmente sumariza o espírito de CPE Bach.

O time liderado pela Rachel Podger é excelente e conta com maravilhoso suporte do tecladista Kristian Bezuidenhout. Se depender de mim, os senhores ouvirão mais coisas deste ótimo músico.

Kristian Bezuidenhout

Carl Philipp Emanuel Bach (1714 – 1788)

1-3. Trio Sonata para flauta, violino e contínuo, em lá maior, H570, Wq. 146

4-6. Sonata para violino em dó menor, H514, Wq. 78

7-9. Sonata para pianoforte em mi menor, No. 5 da Coleção ‘Kenner und Liebhaber’, H281, Wq. 59/1

10-12. Trio Sonata em dó menor, ‘Sanguineus & Melancholicus’, H579, Wq. 161/1

Rachel Podger, violino

Katy Bircher, flauta

Bojan Čičić, violino

Tomasz Pokrzywiński, violoncelo

Kristian Bezuidenhout, pianoforte

 

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Emanuel, dando um suporte para sua majestade!

Que este concerto desperte a sua curiosidade para a música do Calos Felipe Emanuel Ribeiro!

René Denon

 

J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 131 – 182 – 4 (Solistas – Ricercar Consort & Philippe Pierlot)

J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 131 – 182 – 4 (Solistas – Ricercar Consort & Philippe Pierlot)

Johann Sebastian Bach

Cantata BWV 131, Aus Der Tieffen Ruffe Ich Herr Zu Dir

Cantata BWV 182, Himmelskonig Sei Wilkommen

Cantata BWV 4, Christ Lag in Todesbanden

Ao observarmos a numeração do Bach-Werke-Verzeichnis, o Catálogo das Obras de Bach, poderíamos imaginar que ele teria produzido a Cantata BWV 1, depois BWV 2 e assim por diante, até a Arte da Fuga, BWV 1080, que faltou só um pouquinho para terminar. A verdade está longe disto, linearidade não se aplica aqui.

João Sebastião Ribeiro, retrato quando jovem

As três cantatas deste CD têm números de catálogo 131, 182 e 4, mas foram escritas no início da carreira do jovem compositor que viria a se tornar o Kantor da St. Thomaskirche, em Leipzig. A cantata Auf der Tieffen, BWV 131, e bem possivelmente a primeira obra sacra escrita por Johann Sebastian.

Já contamos aqui no PQP da enorme viagem que Bach empreendeu para encontrar o compositor mais velho, Dietrich Buxtehude. Foi o jovem desta aventura que as compôs quando assumiu seus primeiros postos como Kapellmeister em Mühlhausen e Weimar.

Na entrevista com o conselho, em Mühlhausen, faltaram três conselheiros, resultado de um calamitoso incêndio que ocorrera duas semanas antes e destruíra boa parte da cidade.

Blasiuskirche -Orgel

Bach assumiu o cargo de organista da Blasiuskirche, mas encontrou muito mais afinidade na Marienkirche cujo pastor, Georg Christoph Eilmar, tinha uma atitude liberal sobre a música, bem diferente dos pietistas da Blasiuskirche. Uma amizade se estabeleceu e Eilmar foi o padrinho da primeira filha de Bach, que havia se casado recentemente com Maria Barbara.

A Cantata Aus der Tieffen, BWV 131, foi composta a pedido de Eilmar para um serviço penitencial em razão do incêndio. Toda ela é impregnada de um tom sóbrio, com música muito sensível ao texto, mas também carregada de uma forte mensagem de esperança.

No texto temos o Salmo De Profundis:

Aus der Tieffen ruffe ich, Herr, zu dir.     Das profundezas eu clamo por ti, Senhor!

Herr, höre meine Stimme.                       Senhor, ouça a minha súplica!

O coral final termina com os versos:

Israel, hoffe auf den Herrn;                                                  Israel, espere no Senhor;

Und er wird Israel erlösen aus allen seinen Sünden.      E ele redimirá Israel de todos os seus pecados.

Mühlhausen com vista da Marienkirche

A Cantata Christ lag in Todesbanden, BWV 4 também é desta época e foi provavelmente escrita para a Páscoa. Esta peça tem uma estrutura única entre as cantatas: uma Sinfonia que é seguida de sete versos, todos terminando com a palavra Aleluia. Esta cantata trata da celebração da vitória de Cristo sobre a morte, livrando assim os homens da condenação eterna.

 

Es war ein wunderlicher Krieg,            Foi uma admirável batalha
Da Tod und Leben rungen,                 
Onde se enfrentaram a morte e a vida.
Das Leben behielt den Sieg,               
A vida conquistou a vitória,
Es hat den Tod verschlungen.             
A morte foi derrotada.

Bach não aguentou o clima da Blasiuskirche e em sua carta de demissão fala de dificuldades e tormentos. Fala também de seu desejo de escrever um programa completo de música para igreja, um ciclo completo de cantatas. Esse desejo só viria a ser cumprido em Leipzig.

Seu próximo posto foi em Weimar, onde a 25 de março de 1714 foi apresentada a Cantata Himmelskönig sei willkommen, BWV 182, escrita para o Domingo de Ramos. A cantata tem uma abertura festiva para saudar a entrada (gloriosa) do Rei (em Jerusalém). A abertura é seguida de um coro, um recitativo, ária, ária, ária, coral e o coro final. Esta estrutura também é bastante incomum. A cantata teve seis performances durante a vida de Bach.

Ricercar Consort

Neste disco as cantatas são interpretadas com instrumentos de época, com um cantor para cada voz, nos coros. O conjunto Ricercar Consort, sob a direção de Philippe Pierlot, também segue a prática de um instrumento para cada parte e isto contribui para gerar um clima de intimidade e delicadeza, mas sem perder o tom festivo quando for o caso. Basta ver o coro final da Cantata Himmelskönig sei willkommen, com a flauta doce e os outros instrumentos seguindo as vozes.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Cantatas

1-5. Aus Der Tieffen Ruffe Ich Herr Zu Dir, BWV 131

6-13. Himmelskonig Sei Wilkommen, BWV 182

14-21. Christ Lag in Todesbanden, BWV 4

Katharine Fuge, soprano

Carlos Mena, contra-tenor

Hans Jörg Mammel, tenor

Stephan MacLeod, baixo

Ricercar Consort

Philippe Pierlot

Para mais detalhes sobre as faixas do disco e sobre os intérpretes, veja aqui.

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Philippe Pierlot e a sua viola… da gamba!

Eu tenho uma queda pela Christ lag in Todesbaden e foi por ela que cheguei a este disco. Espero que agrade a você tanto quanto agradou a mim.

René Denon

W. A. Mozart (1756-1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 5 de 5

W. A. Mozart (1756-1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 5 de 5
The Miles Kendig Post 5

Wolfgang Amadeus Mozart Integral dos Concertos para Piano

Jenö Jandó

Esta postagem, a última de uma série de cinco, é dedicada à lembrança de Miles Kendig.

Caso você perceba uma pessoa cantarolando uma melodia de Mozart, apure os seus sentidos, Miles pode estar por perto. A última vez que imagino tê-lo encontrado foi quando suspeitei de meu indiano professor de inglês. Ele descuidadamente cantarolou o que depois percebi ser o solo para oboé do início do Andante do Concerto para Piano No. 17, de Mozart. Total evidência de Miles. Não por acaso meu sotaque é único!

Hopscotch – O universo de Miles Kendig
Jenö Jando, enturmado com o pessoal!

Jenö Jandó, nosso guia por esta jornada aos Concertos para piano de Mozart é ótimo pianista húngaro. Versatilíssimo, ajudou a construir boa parte do catálogo da gravadora Naxos. O homem produziu a Integral das Sonatas para piano de Beethoven, de Haydn, de Schubert. O que Wilhelm Kempff fez para a Deutsche Grammophon, ele fez para a Naxos e sempre com competência e sensibilidade.

Acredito ainda que, deste período de construção do catálogo da Naxos, sua contribuição maior, mais duradoura, tem sido essa série de Concertos para Piano de Mozart. As gravações do Jenö Jandó, acompanhado pela Concentus Hungaricus, regida por Mátyás Antal ou András Ligeti, vale a nota e a divulgação. Todas as gravações foram feitas no Instituo Italiano de Budapeste, entre 1989 e 1991, com a produção de Ibolya Tóth.

Alguma informação sobre os concertos desta postagem:

O Concertos No. 17, em sol maior, K. 453 e o Concerto No. 18, em si bemol maior, K. 456 foram escritos, como seus dois concertos predecessores, em 1784. Mas são de natureza mais simples do que os anteriores. O Concerto No. 17 foi estreado por Barbara Ployer, aluna de Mozart, num concerto para o qual Mozart convidara Giovanni Paisiello.  Neste mesmo concerto também foram tocados o Quinteto com piano e sopros, K. 452 e a Sonata para dois pianos, K. 448.

O início do Andante do Concerto No. 17, seu movimento lento, é particularmente bonito, começando com as cordas e no momento que esperamos a entrada do piano, ouvimos antes um pequeno episódio nos instrumentos de sopros. Primeiro o oboé, que é seguido pela flauta, e continua assim por algum tempo, até a entrada do piano. Belíssimo. O último movimento é uma série de variações sobre um tema que Mozart teria anotado como sendo o canto de seu estorninho de estimação.

O Concerto No. 18 foi escrito para uma pianista cega Maria Tereza von Paradis. Novamente temos uma elaborada parte orquestral nos sopros. O movimento lento agora traz um conjunto de variações, mas ainda sim de grande força expressiva. O último movimento é apresentado diretamente pelo piano seguido pelo tutti, num brilhante movimento que encerra o concerto.

Como não poderia deixar de ser, o melhor ficou para o final. O Concerto No. 23, em lá maior, K. 488 e Concerto No. 24, em dó menor, K. 491 foram escritos em março de 1786. Eles são também um par de concertos muito diferentes entre si e há famosas gravações que os colocam um ao lado do outro, como que para se complementarem. Uma destas gravações é de Kempff e Leitner. Outra é esta que apresentamos aqui. Há também um disco do Solomon, mas é mono.

Eu já ouvi muitas, muitas vezes o Concerto No. 23 e estou convencido que nesta época Mozart já havia passado além da dor. O Adagio deste concerto é transfixiante, se é que você me entende. Os críticos falam em pathos e poesia. Aprendi muito sobre essas coisas ouvindo o concerto. A orquestra usa clarinete, mas não trompetes ou tímpanos.

Beethoven

O Concerto No. 24, em dó menor, usa oboés e clarinetes. Como o solista seria o próprio Mozart, para a estreia ele não havia escrito totalmente a parte do solo. O concerto certamente impressionou o jovem Beethoven, que o teria tomado como modelo para o seu Concerto No. 3. Como disse o crítico Jerry Dubins, da Fanfare: Estou convencido que foi este concerto que fez com que Beethoven dissesse a Ferdinand Ries que apesar dele (Beethoven) ter estudado com Haydn, aprendera tudo o que precisava saber de Mozart. De qualquer forma, muito diferente de todos os outros concertos de Mozart, este é o que mais se aproxima de um concerto de Beethoven. O movimento final, mais uma vez, é um tema e variações. Nesta gravação, a cadenza do primeiro movimento é de Johann Nepomuk Hummel.

Complete Piano Concertos – Volume 5

Concerto No. 17 em sol maior, K. 453

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegretto

Concerto No. 18 em si bemol maior, K. 456

  1. Allegro vivace
  2. Andante un poco sostenuto
  3. Allegro vivace

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & Mátyás Antal

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Complete Piano Concertos – Volume 4

Concerto No. 23 em lá maior, K. 488

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegro assai

Concerto No. 24 em dó menor, K. 491

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegretto

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & Mátyás Antal

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O amor está no ar!

Chegamos ao fim da jornada e como diria o tenor, la commedia è finita! Espero que esta série de postagens lhe aproxime do legado maravilhoso que é a obra de Mozart, em particular de seus concertos para piano. Faça como Miles Kendig, ouça Mozart!

René Denon

W. A. Mozart (1756 – 1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 4 de 5

W. A. Mozart (1756 – 1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 4 de 5
The Miles Kendig Post 4

Wolfgang Amadeus Mozart Integral dos Concertos para Piano

Jenö Jandó

Esta postagem, a quarta de uma série de cinco, é dedicada à lembrança de Miles Kendig.

Quando precisa dirigir, mesmo que em estradas sinuosas dos Alpes, ou nos arredores de Londres, Miles Kiling não deixa de levar seus cassettes com concertos para piano de Mozart. Ingrid Haebler e Géza Anda são alguns de seus intérpretes preferidos.

Hopscotch – O universo de Miles Kendig
Jenö Jandó

Jenö Jandó, nosso guia por esta jornada aos Concertos para piano de Mozart é ótimo pianista húngaro. Versatilíssimo, ajudou a construir boa parte do catálogo da gravadora Naxos. O homem produziu a Integral das Sonatas para piano de Beethoven, de Haydn, de Schubert. O que Wilhelm Kempff fez para a Deutsche Grammophon, ele fez para a Naxos e sempre com competência e sensibilidade.

Acredito ainda que, deste período de construção do catálogo da Naxos, sua contribuição maior, mais duradoura, tem sido essa série de Concertos para Piano de Mozart. As gravações do Jenö Jandó, acompanhado pela Concentus Hungaricus, regida por Mátyás Antal ou András Ligeti, vale a nota e a divulgação. Todas as gravações foram feitas no Instituo Italiano de Budapeste, entre 1989 e 1991, com a produção de Ibolya Tóth.

A partir de 1781, quando Mozart se mudou para Viena, os concertos para piano ganharam um papel de destaque (ao lado das óperas) entre as suas composições. O concerto para piano era o veículo ideal para que ele se apresentasse como solista e compositor.

Alguma informação sobre os concertos desta postagem:

Os Concertos Nos. 11, 12 e 13 fazem parte de um conjunto de três e foram os primeiros produzidos em Viena. O Concerto No. 13, em dó maior, K. 415 aproxima-se bastante das sinfonias escritas em dó maior, num estilo pomposos e formal, com ritmos militares e passagens de virtuosismo. São estes os concertos sobre os quais Mozart dizia nas cartas a seu pai serem uma média acertada entre o excessivamente fácil e o excessivamente difícil.

Os Concertos No 15, em si bemol maior, K. 450 e No. 16, em ré maior, K. 451 foram escritos em 1784 para apresentações do próprio Mozart. Em carta de 26 de maio, para seu pai, ele fala desses dois concertos que fazem suar. No concerto No. 15 os sopros rebem um tratamento mais elaborado.  O Concerto No. 16, em ré maior, K. 451, escrito em uma tonalidade tradicionalmente brilhante, tem a orquestra acrescida de trompetes e tímpanos.

No início de 1875 Mozart compôs dois concertos para piano – os Concertos Nos. 20 e 21 não poderiam ser mais diferentes. O Concerto No. 20, em ré menor, K. 466 é o primeiro concerto a ser escrito em tonalidade menor e só haveria mais um, também escrito em tonalidade menor, o Concerto No. 24, em dó menor, K. 491. O Concerto No. 20, em ré menor, tem os mesmos ares da ópera Don Giovanni, e também do Réquiem. Ele começa com um tema sombrio nas cordas, estabelecendo um ar fatídico (dämonisch, dizem os alemães) que ajudou a tornar este um dos concertos de Mozart preferido pelos jovens românticos (mesmo os que não sabiam serem românticos). Beethoven o mantinha em seu repertório. Nesta gravação, Jenö Jandó usa as cadenzas de Beethoven.

Os Concertos Nos. 20 e 21 dão um passo avante em relação aos anteriores (só Mozart para melhorar a perfeição). Antes o solista e o tutti dividiam o mesmo material temático. Aqui temos uma nova relação estabelecida entre o solista e a orquestra.  O movimento final, um Rondo allegro assai, é lançado por uma figura chamada o foguete de Mannheim.  Para as pessoas de nossa época a palavra foguete está associada a artefatos espaciais e coisas assim, mas aqui estamos mais para fogos de artifício. Mas essa figura é bastante presente em peças desta época, com o início do quarto movimento da Sinfonia No. 40 ou o primeiro movimento da Sonata para piano, No. 1, Op. 2, 1, de Beethoven.

O Concerto No. 25, em dó maior, K 503 é contemporâneo da Sinfonia No. 38, Praga, K. 504. O Concerto inicia em tons marciais, como o Concerto No. 5, de Beethoven. O primeiro movimento tem proporções bem sinfônicas e seus ritmos de marcha lembram a Marseillaise, que ainda não havia sido composta. Johann Nepomuk Hummel, do lindíssimo Concerto para trompete, tinha esse concerto em alta conta. A gravação deste concerto feita por Stephen Kovacevich e Colin Davis é um primor e em momento oportuno poderá surgir por aqui.

Complete Piano Concertos – Volume 1

Concerto No. 20 em ré menor, K. 466

  1. Allegro
  2. Romance
  3. Allegro assai

Concerto No. 13 em dó maior, K. 415

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Rondeau: Allegro

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & András Ligeti

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Complete Piano Concetos – Volume 7

Concerto No. 25 em dó maior, K. 503

  1. Allegro maestoso
  2. Andante
  3. Allegretto

Concerto No. 16 em ré maior, K. 451

  1. Allegro assai
  2. Andante
  3. Allegro di molto
  4. Rondo em lá maior, K. 386

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & Mátyás Antal

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Espero que esta série de postagens lhe aproxime do legado maravilhoso que é a obra de Mozart, em particular de seus concertos para piano. Faça como Miles Kendig, ouça Mozart!

René Denon

W. A. Mozart (1756 – 1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 3 de 5

W. A. Mozart (1756 – 1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 3 de 5
The Miles Kendig Post 3

Wolfgang Amadeus Mozart Integral dos Concertos para Piano

Jenö Jandó

Esta postagem, a terceira de uma série de cinco, é dedicada à lembrança de Miles Kendig.

Amante da música de Mozart, Miles Kendig tem em sua musa e eterna namorada, Isobel von Schonenberg, uma companhia constante nos programas culturais. Após assistirem diversas vezes ao filme Elvira Madigan, instalou-se um debate sobre o trágico final. Inevitabilidade. Mas, há rumores que Miles queria mesmo ouvir a trilha sonora.

O universo de Miles Kendig
Jenö Jandó

Jenö Jandó, nosso guia por esta jornada aos Concertos para piano de Mozart é ótimo pianista húngaro. Versatilíssimo, ajudou a construir boa parte do catálogo da gravadora Naxos. O homem produziu a Integral das Sonatas para piano de Beethoven, de Haydn, de Schubert. O que Wilhelm Kempff fez para a Deutsche Grammophon, ele fez para a Naxos e sempre com competência e sensibilidade.

Acredito ainda que, deste período de construção do catálogo da Naxos, sua contribuição maior, mais duradoura, tem sido essa série de Concertos para Piano de Mozart. As gravações do Jenö Jandó, acompanhado pela Concentus Hungaricus, regida por Mátyás Antal ou András Ligeti, vale a nota e a divulgação. Todas as gravações foram feitas no Instituo Italiano de Budapeste, entre 1989 e 1991, com a produção de Ibolya Tóth.

A partir de 1781, quando Mozart se mudou para Viena, os concertos para piano ganharam um papel de destaque (ao lado das óperas) entre as suas composições. O concerto para piano era o veículo ideal para que ele se apresentasse como solista e compositor. Veja o que diz Stanley Sadie, no seu livro sobre Mozart: Os concertos para piano que Mozart compôs em Viena podem ser considerados como a sua maior realização na música instrumental. Eles representam um conjunto musical de qualidade e originalidade excepcionais, muito além dos concertos de seus predecessores ou de seus contemporâneos no que diz respeito à sua dimensão, riqueza temática e a relação sutil e altamente desenvolvida entre o solista e a orquestra.

Alguma informação sobre os concertos desta postagem:

J. C. Bach, por T. Gainsborough

Os Concertos No. 11, em fá maior, K. 413 e No. 12, em lá maior, K. 414 fazem parte de um conjunto de três, que inclui o Concerto No. 13, em dó maior, K. 415. O Concerto de No. 11 é o mais simples deles e o Concerto No. 12 o mais gracioso. Possivelmente este concerto foi composto enquanto Mozart soube da morte de Johann Christian Bach. No seu movimento lento, um Andante, Mozart usa um tema da abertura de uma ópera de Johann Christian.  São estes os concertos sobre os quais Mozart dizia nas cartas a seu pai serem uma média acertada entre o excessivamente fácil e o excessivamente difícil.

O Concerto No. 14, em mi bemol maior, K. 449 já faz parte de um segundo conjunto, agora de seis, e foi composto para uma aluna, Barbara Ployel. Apesar de sua orquestração ainda mais elaborada do que a dos anteriores, todos estes concertos também podiam ser interpretados com piano e quarteto de cordas. Essa possibilidade permitia maior divulgação das peças.

Desenho de B. Ployer

No início de 1875 Mozart compôs dois concertos para piano – os Concertos Nos. 20, em ré menor, K. 466 e No. 21, em dó maior, K. 467 não poderiam ser mais diferentes. O Concerto No. 21 ganhou o apelido Elvira Madigan por ter seu divino Andante como trilha sonora do filme cult de 1967 com este nome. Nesta gravação, Jenö Jandó usa cadenzas de Robert Casadesus.

No fim do ano 1785 Mozart ainda compôs o Concerto No. 22, em mi bemol maior, K. 482 na mesma época em que compunha As Bodas de Figaro. Este é o primeiro concerto a incluir clarinete na orquestração e o papel dos sopros na apresentação dos materiais temáticos é ainda mais importante. Nesta gravação, Jenö Jandó usa cadenzas de Johann Nepomuk Hummel. O concerto tem um ar despreocupado e expansivo com um andante na forma de variações e um finale com a típica música de caça. Lembre-se do primeiro movimento do Quarteto em K. 458, Quarteto da Caça.

Complete Piano Concertos – Volume 6

Concerto No. 22 em mi bemol maior, K. 482

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegro – Andantino cantabile – Allegro

Concerto No. 11 em fá maior, K. 413

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Tempo di menuetto

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & Mátyás Antal

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Complete Piano Concertos – Volume 2

Concerto para piano No. 21 em dó maior, K. 467 – ‘Elvira Madigan’

  1. Allegro maestoso
  2. Andante
  3. Allegro vivace assai

Concerto No. 12 em lá maior, K. 414

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegretto

Concerto No. 14 em mi bemol maior, K. 449

  1. Allegro vivace
  2. Andantino/Andante
  3. Allegro ma non troppo

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & András Ligeti

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Espero que esta série de postagens lhe aproxime do legado maravilhoso que é a obra de Mozart, em particular de seus concertos para piano. Faça como Miles Kendig, ouça Mozart!

René Denon

Antonio Vivaldi (1678-1741): As Quatro Estações – Roberto Michelucci & I Musici / Giuliano Carmignola & Sonatori de la Gioiosa Marca

Antonio Vivaldi (1678-1741): As Quatro Estações – Roberto Michelucci & I Musici / Giuliano Carmignola & Sonatori de la Gioiosa Marca

Vivaldi

As Quatro Estações

Roberto Michelucci  –  I Musici

Aqui é assim: se um dos nossos dezessete leitores pede alguma coisa, paramos tudo, desde a pesquisa sobre música folclórica do Azerbaijão até a audição das trinta e sete diferentes gravações dos quartetos de Beethoven, só para atendê-los! E quando o pedido envolve o nome de uma instituição italiana monumentalíssima como o I Musici, a presteza é redobrada.

Pessoal do I Musici visitando um parque em Ashkelon. Ótimos músico, fotografos nem tanto…

I Musici foi fundado em 1951 e é ativo até hoje. Doze jovens artistas formados pela Accademia di Santa Cecilia, de Roma, que se reuniram para formar uma orquestra de câmera sem maestro. E que nome escolheram para o grupo: Os Músicos! Rapidamente chamaram a atenção de todos pelas suas interpretações de música barroca, especialmente Vivaldi, mas também Albinoni e outros.

Até o advento do movimento de música com instrumentos de época, que varreu o cenário musical desde os anos oitenta, I Musici era uma das principais referências para música barroca. Mesmo depois, o grupo manteve um público fiel.

Com esse background, pode-se esperar que eles tenham gravado As Quatro Estações, de Vivaldi, diversas vezes. Posso mencionar pelo menos três delas: uma com o Felix Ayo, outra com Roberto Michelucci e uma ainda com a Pina Carmirelli. Aqui temos a gravação com Roberto Michelucci, feita na Suiça, em 1969.

As Estações de Vivaldi dispensam apresentações, mas é bom lembrar duas coisas: apesar de serem vistos como um grupo de quatro concertos, eles fazem parte de uma publicação de 12 concertos. São os quatro primeiros concertos da obra Il cimento dell’armonia e dell’inventione, Op. 8. A união da harmonia com a invenção! Os concertos evocam as estações do ano, sendo assim o que se chama música programática. Há quatro poemas, um sobre cada um dos concertos, que possivelmente foram escritos pelo próprio Vivaldi.

Completam o disco do I Musici dois lindos concertos de Vivaldi: Concerto em si bemol maior, Op. 8, No. 10, La caccia, e Concerto em lá maior, Per ecco in lontano. O concerto em si bemol maior foi gravado em Roma, em 1961, com solo de Felix Ayo, e o concerto em lá maior, em La Chaux-de-Fonds, Neuchâtel, Suiça, no ano de 1965, tendo como solistas Walter Gallozzi e Franco Tamponi.

Vivaldi

As Quatro Estações

Sonatori de la Gioiosa Marca

Giuliano Carmignola

Com o intuito de tornar a postagem atraente a pelo menos mais alguns dos outros dezesseis leitores, resolvi fazer uma postagem dupla e trazer também uma outra gravação das estações vivaldianas. Escolhi, para fazer contraponto ao I Musici, uma gravação feita por um grupo que toca com instrumentos de época, mas também italiano. O nome de Giuliano Carmignola é consenso como um dos melhores violinistas barroco em atividade e isso é muito justo. Nesta gravação feita para a DIVOX Antiqua, em 1994, ele está acompanhado pelo Sonatori de la Gioiosa Marca e eles soam maravilhosos aos meus ouvidos. Este grupo é de Treviso, uma cidade que está na fronteira (marca) da Sereníssima República de Veneza. Portanto, assim fica o nome do grupo: Músicos da Festiva Fronteira. Só para lembrar do I Musici!!

Carmignola e o Sonatori de la Gioiosa Marca

Aqui completam o disco também dois concertos.

Vivaldi

Concerto No. 1, em mi maior, RV 269, La primavera

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro (Danza Pastorale)

Concerto No. 2 em sol maior, RV 315, L’estate

  1. Allegro non molto – Allegro
  2. Adagio – Presto – Adagio
  3. Presto (Tempo impetuoso d’estate)

Concerto No. 3, em fá maior, RV 293, L’autunno

  1. Allegro (Ballo e canto de villanelli)
  2. Adagio molto (Ubriachi dormienti)
  3. Allegro (La caccia)

Concerto No. 4, em fá maior, RV 297, L’inverno

  1. Allegro non molto
  2. Largo
  3. Allegro

Concerto No. 10, em si bemol maior, RV 362, La caccia

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegro

Concerto em lá maior, RV 552, Per ecco in lontano

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegro

Roberto Michelucci, violino (1-12)

Felix Ayo, violino (13-15)

Walter Gallozzi e Franco Tamponi, violinos (16-18)

I Musici

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Giuliano Carmignola

 

Concerto No. 1, em mi maior, RV 269, La primavera

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro (Danza Pastorale)

Concerto No. 2 em sol maior, RV 315, L’estate

  1. Allegro non molto – Allegro
  2. Adagio – Presto – Adagio
  3. Presto (Tempo impetuoso d’estate)

Concerto No. 3, em fá maior, RV 293, L’autunno

  1. Allegro (Ballo e canto de villanelli)
  2. Adagio molto (Ubriachi dormienti)
  3. Allegro (La caccia)

Concerto No. 4, em fá maior, RV 297, L’inverno

  1. Allegro non molto
  2. Largo
  3. Allegro

Concerto para três violinos, viola e baixo contínuo, em fá maior, RV 551

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegro

Concerto em ré menor, RV 128

  1. Allegro non molto
  2. Largo
  3. Allegro

Giuliano Carmignola, violino

Sonatori de La Gioiosa Marca

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Treviso, cidade do Sonatori de la Gioiosa Marca

Assim, espero que todos possam desfrutar desta meravigliosa música vivaldiana!!

René Denon

W. A. Mozart (1756 – 1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 2 de 5

W. A. Mozart (1756 – 1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 2 de 5
The Miles Kendig Post 2

Wolfgang Amadeus Mozart Integral dos Concertos para Piano

Jenö Jandó

Esta postagem, a segunda de uma série de cinco, é dedicada à lembrança de Miles Kendig.

Em uma de suas intensas discussões com Yaskov, seu principal oponente enquanto esteve na ativa, Miles Kendig teria feito comentários desabonadores sobre os intérpretes russos da música de Mozart. É bem provável que tudo fazia parte de alguma grande trama para encobrir outras coisas. Pena que os registros sonoros desta elevada conversação não tenham sido claramente captados pela equipe de áudio da contraespionagem escalada para a ocasião. Afinal os dois se encontraram em uma praça só para dificultar o trabalho do pessoal. Por outro lado, os resultados do grupo de captação de imagens levam a crer que ambos concordam que Emil Gilels é um dos melhores intérpretes do Concerto No. 27 em si bemol maior, K 595.

Hopscotch – o universo de Miles Kendig
Jenö Jandó

Jenö Jandó, nosso guia por esta jornada aos Concertos para piano de Mozart é ótimo pianista húngaro. Versatilíssimo, ajudou a construir boa parte do catálogo da gravadora Naxos. O homem produziu a Integral das Sonatas para piano de Beethoven, de Haydn, de Schubert. O que Wilhelm Kempff fez para a Deutsche Grammophon, ele fez para a Naxos e sempre com competência e sensibilidade.

Acredito ainda que, deste período de construção do catálogo da Naxos, sua contribuição maior, mais duradoura, tem sido essa série de Concertos para Piano de Mozart. As gravações do Jenö Jandó, acompanhado pela Concentus Hungaricus, regida por Mátyás Antal ou András Ligeti, vale a nota e a divulgação. Todas as gravações foram feitas no Instituo Italiano de Budapeste, entre 1989 e 1991, com a produção de Ibolya Tóth.

Alguma informação sobre os concertos desta postagem:

O Concerto No. 7, em fá maior, K. 242 foi escrito para três pianos em 1776, comissionado pela Condessa Antonia Lodron, que seria a solista em companhia de suas duas filhas, Aloysia e Giuseppa. A parte destinada a filha mais nova é relativamente simples e em 1780 Mozart arranjou o concerto para dois pianos, a versão que temos aqui. Assim como no caso do Concerto No. 8, chamado Lützow, foi dedicado a pessoas de famílias nobres com importante posição social em Salzburgo. Estes concertos de Nos. 6, 7 e 8 são peças feitas para agradar ao público, obras típicas do estilo galante. Não deixe de notar o lindo diálogo entre os solistas no movimento lento e deleitar-se com essas lindas peças musicais. Há uma bonita gravação deste concerto feita com os solistas Leon Fleisher e sua mulher Katherine Jacobson Fleisher.

O Concerto No. 10, em mi bemol maior, K. 365 é para dois pianos e deve ter sido composto em 1779, pouco antes da mudança para Viena. O concerto é uma obra de vivacidade e charme, com muitos diálogos engenhosos. Ele deve ter sido interpretado por Mozart e sua irmã, Nannerl e também foi interpretado com Josephine von Auernhammer, sua primeira aluna em Viena. Há uma linda gravação feita por Emil Gilels e sua filha Elena Gilels que vale futura investigação.

O Concerto No. 9, em mi bemol maior, K. 271 destaca-se como um dos melhores desta fase inicial, mesmo se contarmos os primeiros concertos que Mozart compôs quando se mudou para Viena. Foi descrito por Charles Rosen (autor de o livro The Classical Style) como perhaps the first unequivocal masterpiece of the classical style. Masterpiece você sabe o que é… Apesar do apelido Jeunehomme, pois pensava-se que havia sido escrito para um jovem pianista frances que estaria visitando Salzburgo, o concerto foi escrito para Victorie Jenany. Ela era filha de Jean-Georges Noverre, dançarino francês, amigo de Mozart. Ele os conheceu em 1773, em uma visita a Viena. A moça deve ter sido uma pianista e tanto. O Andantino é um movimento sombrio em dó menor, particularmente notável. O concerto foi escrito por Mozart aos vinte e um anos e mostra sua maturidade artística.

Os Concertos No 15, em si bemol maior, K. 450 e No. 16, em ré maior, K. 451 foram escritos em 1784 para apresentações do próprio Mozart. Em carta de 26 de maio, para seu pai, ele fala desses dois concertos que fazem suar. No concerto No. 15 os sopros rebem um tratamento mais elaborado.  O Concerto No. 16 é em ré maior, uma tonalidade tradicionalmente brilhante, tem a orquestra acrescida de trompetes e tímpanos.

Palais Auersperg

Datado de 5 de janeiro de 1790, o Concerto No. 27, em si bemol maior, K. 595 deve ter sido estreado por Mozart em 4 de março de 1791, num concerto dado por ele e pelo clarinetista Joseph Beer. Se foi esse o caso, esta deve ter sido a última apresentação pública de Mozart. A outra possibilidade é de que o concerto tenha sido estreado por Barbar Ployer, aluna de Mozart, em janeiro de 1791 em um concerto no Palais Auersperg, um lindo palácio barroco que fica em Viena. Após este concerto, a única composição orquestral de Mozart seria o Concerto para Clarinete.

Complete Piano Concertos – Volume 10

Concerto No. 15 em si bemol maior, K. 450

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegro

Concerto para dois pianos No. 7 em fá maior, K. 242 – ‘Londron’

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Rondeau: Tempo di Menuetto

Concerto para dois pianos No. 10 em mi bemol maior, K. 365

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Rondeau: Allegro

Jenö Jandó, piano

Dénes Várjon, piano

Concentus Hungaricus & Mátyás Antal

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Complete Piano Concertos – Volume 3

Concerto No. 9 em mi bemol maior, K. 271 – ‘Jeunehomme’

  1. Allegro
  2. Andantino
  3. Rondeau: Presto

Concerto No. 27 em si bemol maior, K. 595

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegro

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & András Ligeti

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Espero que esta série de postagens lhe aproxime do legado maravilhoso que é a obra de Mozart, em particular de seus concertos para piano. Faça como Miles Kendig, ouça Mozart!

René Denon

V O L O D O S – Piano Transcriptions

V O L O D O S – Piano Transcriptions

V O L O D O S

Piano Transcriptions

Este disco é um ultraje! TRANSCRIÇÕES – TRAIÇÕES? – TRADIÇÕES!!

É um disco para quem ama o som do piano, do grande, enorme instrumento que se tornou o piano.

Os principais personagens deste disco são Arcadi Volodos e Thomas Frost. O nome do primeiro está na capa e o do segundo, na contracapa.

Volodos, retrato do artista quando jovem!

Arcadi Volodos gravou este disco em 1996, o primeiro resultado de seu (exclusivo) contrato com a Sony Classical. Thomas Frost é um veterano produtor de discos que trabalhou com artistas como Horowitz, Eugene Ormandy, George Szell e Rudolf Serkin e produziu este disco.

Por que o disco é um ultraje? Ora, um disco que tem faixas como O Voo do Besouro e A Marcha Turca (de Mozart) tem uma grande chance de fazer torcer os narizes e de fazer franzir os cenhos de ouvintes mais puristas (digamos). Mas acreditem, esse disco vai além disso.

Transcrições soam como violações das sacrossantas vontades dos compositores e expressões hifenadas como Bach-Busoni, Bach-Siloti, Schubert-Liszt geram em certos setores grandes desconfianças. Mas as transcrições estão há muito enraizadas na cultura musical. Basta lembrar que Bach transcreveu música de Vivaldi, de Alessandro Marcelo, de Albinoni e até dele mesmo. Mozart arranjou umas fugas de Bach para trio de cordas, transcreveu sonatas de Johann Christian Bach para piano e orquestra. Mozart até reorquestrou o Messias de Handel.

Mas o que está mais próximo do que temos neste disco são as transcrições e arranjos feitos pelos virtuoses de piano e de violino para suas próprias apresentações. Liszt foi um precursor. Peças de Bach originalmente para órgão, Lieder de Schubert, óperas da época – tudo para piano. Inclusive as Sinfonias de Beethoven! Fritz Kreisler, compositor e violinista chegou a escrever música original, peças de encore, que atribuiu a outros compositores como se fossem transcrições, verdadeiros pastiches.

Assim, prepare-se para um programa repleto de excelente música, bastante diversificado, maravilhosamente executado e gravado! IM-PRE-NA-BLE! Um MUST!

A primeira peça, Carmen Variations, é um arranjo de Horowitz sobre o tema da ópera de Bizet. Conta o livreto que Volodos teve que tirar de ouvido a peça gravado em 1968 por Volodya.

A quarta faixa também tem a assinatura de Horowitz, que tinha a sua própria versão da Rapsódia Húngara No. 2, de Liszt.

Rachmaninov em ação!

Rachmaninov escreveu algumas canções e ele mesmo transcreveu duas delas para piano solo: Lilacs e Daisies. As faixas 2 e 3 são transcrições feitas para piano solo de outras duas canções de Rachmaninov – Utro (Manhã) e Melodiya (Melodia) – pelo próprio Volodos, tomando as transcrições já existentes como modelos. Rachmaninov, que além de compositor ganhava a vida como pianista, fez várias transcrições. Dia destes postaremos um lindo disco com algumas delas.

Nas faixas de 5 a 7 temos três transcrições feitas por Liszt de canções de Schubert: Litanei, Aufenthalt e Liebesbotschaft. O desafio é tocar não só o acompanhamento da canção original para piano, mas também a parte do cantor.

Chegamos na faixa 8, talvez a peça mais transcrita de todas: The Flight of the Bumblebee – O Vôo do Besouro. A peça original escrita por Rimsky-Korsakoff para orquestra (o cara era um bamba em orquestração, foi professor de Stravinsky…) teve versões para piano e violino, guitarra, flauta e acho que até para ukulele. A transcrição deste disco foi feita por um pianista húngaro, aluno de aluno de Liszt, que  demanda maior investigação, George Cziffra.

As faixas 9, 10 e 11 são transcrições autênticas. Prokofiev arranjou para piano música de seus balés e de peças orquestrais. Fez muito sucesso dez dos números de Romeu e Julieta transcritas para piano e ele repetiu a dose com música do balé Cinderela. Aqui temos uma Gavota, uma Dança Oriental e uma Valsa. Qualquer dia destes, postaremos um lindo disco com essas peças do  balé Romeu e Julieta.

Feinberg pensando: Quando esses caras do PQP vão postar uns disquinhos meus?

Samuel Feinberg foi um grande virtuose de piano que viveu atrás da chamada Cortina de Ferro e temos poucas gravações suas. Mas podemos avaliar seu calibre pelas transcrições que deixou, por exemplo, das Sinfonias Nos. 4, 5 e 6 de Tchaikovsky. A faixa 12 deste disco traz o Scherzo, o terceiro movimento da Sinfonia No. 6, a Patética. A interpretação do Volodos faz justiça tanto a Tchaikovsky quanto a Feinberg. Esta faixa é a minha escolha de cereja do bolo!

Uma outra transcrição de Feinberg, agora do Largo da Triosonata No. 5, BWV 529, de Bach, dá um tom reflexivo ao disco.

A última faixa é mais uma transcrição de Volodos, agora da Marcha Turca, o último movimento da Sonata para piano No. 11, em lá maior, K. 331. A sonata é uma das mais bonitas de Mozart. O primeiro movimento é um lindíssimo tema com variações, o segundo movimento é um Menuetto. O terceiro movimento, no entanto, é irresistível, uma marcha turca. Viena tinha uma queda pela chamada música turca e  O Rapto do Serralho vai nessa onda. Até Beethoven tem uma Marcha Turca. Bom, aqui temos para fechar o disco uma Marcha Turca de Mozart-Volodos. Faz sucesso. Já ouvi essa peça interpretada por outra virtuose do piano.

Piano Transcriptions

Georges Bizet (1838 – 1875) – Vladimir Horowitz (1903 – 1989)

  1. Carmen Variations

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943) – Arcadi Volodos (1972  –       )

  1. Utro (Morning)
  2. Melodyia (Melodia)

Franz Liszt (1811 – 1886) – Vladimir Horowitz (1903 – 1989)

  1. Hungarian Rhapsody No. 2

Franz Schubert (1797 – 1828) – Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Litanei
  2. Aufenthalt
  3. Liebesbotschaft

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844 – 1908)  –  György Cziffra (1921 – 1994)

  1. Flight of the Bumblebee

Sergei Prokofiev (1891 – 1953)

  1. Gavotte
  2. Orientale
  3. Valse

Piotr Tchaikovsky (1840 – 1893)  – Samuel Feinberg (1890 – 1962)

  1. Scherzo (Symphony No. 6)

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)  –  Samuel Feinberg (1890 – 1962)

  1. Largo (Triosonata No. 5, BWV 529)

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) – Arcadi Volodos (1972  –       )

  1. Turkish March

Arcadi Volodos, piano

Gravação: Snape Maltings Concert Hall, Snape, Suffolk, England & American Academy of Arts & Letters, New York, 1996

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FLAC | 187 MB

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MP3 | 320 KBPS | 140 MB

Volodya achando tudo um grande barato!

Assim é o universo deste ótimo disco: exibição de virtuosismo que torna o piano em um emulador de outras combinações de instrumentos e vozes, até mesmo da orquestra. Aproveite!!

René Denon

.: interlúdio :. The Intimate Ella – Ella Fitzgerald & Paul Smith, piano

.: interlúdio :. The Intimate Ella – Ella Fitzgerald & Paul Smith, piano

The Intimate Ella

Em 1960 um álbum de Jazz gravado ao vivo em Berlim ganhou dois prêmios Grammy. Ella Fitzgerald foi a grande vencedora e o álbum Ella in Berlim foi um sucesso fenomenal. O mundo assistia a chamada Guerra Fria na qual as duas grandes potências da época se opunham em várias frentes, inclusive numa disputa tecnológica, chamada Corrida Espacial. Na década que se seguiria o mundo viveira muitas turbulências políticas e também assistiria o início de grandes transformações tecnológicas. Mas, apesar das muitas maldades das quais o mundo sempre foi cheio, vivia-se uma era de ingenuidade.

Ella Fitzgerald e Norman Granz

A gravadora deste álbum, a Verve Records, havia sido fundada em 1956 por Noman Granz para produzir os álbuns de Ella Fitzgerald. Norman Granz foi uma das pessoas mais influentes no Jazz e suas gravadoras sempre promoveram excelentes músicos. Na Verve, além de Ella Fitzgerald, gravavam Nina Simone, Stan Getz, Billie Holliday, Oscar Peterson. Uma verdadeira constelação. Um outro aspecto muito significativo que devemos sublinhar é a postura de Norman Granz contra a segregação racial, sempre dando apoio e tratamento igual aos músicos com os quais era associado.

Paul Smith

Mas em 1960 Ella trabalhou em um filme chamado Let No Man Write My Epitaph, que apesar deste lindo nome, foi um fracasso. Neste filme sobre drogas e corrupção, Ella Fitzgerald aparece cantando e dando a impressão acompanhar-se ao piano, que era tocado na verdade por Cliff Smalls. Norman Granz viu a possibilidade e gravou em estúdio as cancões do filme, agora com Ella acompanhada por Paul Smith, que também tocara no disco que ganhara os prêmios. O disco com o nome Ella Fitzgerald sings songs from the soundtrack of ‘Let no man write my epitaph’ passou desapercebido das gentes. Ella então com 42 anos estava no melhor momento de sua carreira.

O filme completo está no Youtube, mas eu não consegui vê-lo. De qualquer forma, vale procurar uma cena na qual Ricardo (Ilha da Fantasia) Montalban banca o malvado e dá uma prensa na pobrezinha da Ella.

O disco que postamos é o relançamento deste álbum de 1960 feito em 1990 com o bem mais interessante nome The Intimate Ella. A voz da First Lady of song, acompanhada apenas do piano de Paul Smith desfila 13 canções que variam do suave ao ligeiramente melancólico. Minhas preferidas são Black Coffee, que abre o disco, Misty, que também está no Ella in Berlim, e Who’s Sorry Now. Outra deliciosa é One for my baby (one more for the road). Esta expressão, and one more for the road, tipo ‘a saideira’, é muito cool!

Mas a cereja do bolo, na minha opinião, a mais-mais, é a September song. Se você for ouvir uma destas canções apenas, ouça esta. Música de Kurt Weill e letra de Maxwell Anderson, é um primor. Escrita para um musical da Broadway em 1938, ao longo do tempo a canção sofreu algumas pequenas subtrações e é um clássico da música americana. Na peça, Walter Huston fazia o papel de um idoso governador e insistiu para que seu personagem tivesse um solo. Então, em duas horas, Weill e Anderson produziram essa maravilha. Esta canção toca em um tema muito especial. Ela nos lembra que o tempo passa, e que se torna mais e mais precioso na medida que chegamos ao outono da vida. These precious days, I’ll spend with you. Estes preciosos dias, eu passarei com você! Bonito, não? Este verso vale o disco.

The Intimate Ella

1. Black coffee
2. Angel Eyes
3. I cryed for you
4. I can’t give you anything but love, baby
5. Then you’ve never been blue
6. I hadn’t anyone ‘till you
7. My melancholy baby
8. Misty
9. September song
10. One for my baby (and one more for the road)
11. Who’s sorry now
12. I’m getting sentimental over you
13. Reach for tomorrow

Ella Fitzgerald

Paul Smith, piano

Produção de Norman Granz

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FLAC | 214 MB

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MP3 | 320 KBPS | 98,2 MB

And these precious days, I’ll spend with you.

René Denon

W. A. Mozart (1756-1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 1 de 5

W. A. Mozart (1756-1791): Integral Concertos para Piano – Jenö Jandó – Post 1 de 5
The Miles Kendig Post 1

Wolfgang Amadeus Mozart Integral dos Concertos para Piano

Jenö Jandó

Esta postagem, a primeira de uma série de cinco, é dedicada à lembrança de Miles Kendig.

Onde quer que Miles esteja, será difícil identificá-lo prontamente, pois como é da natureza de sua profissão, estará disfarçado. Como Miles é um profissional muito bem treinado e altamente experiente, é também um mestre na arte do disfarce. Mas, se você for um atento observador, sua chance de descobri-lo está na seguinte pista: Miles poderá estar assobiando algum trecho de uma obra de Mozart. Um rondó para piano, alguma sinfonia ou uma sonata. Isso porque uma das coisas que o torna Miles Kendig é seu amor pela música de Mozart. Em raríssimas ocasiões foi pego em flagrante delito cortejando a música de algum outro compositor. Uma destas ocasiões foi reportada por guardas da fronteira entre a Alemanha e a Suíça, na qual ele foi visto cantando o Largo al factotum, do outro Fígaro. Presume-se tenha sido com a clara intensão de confundir os diligentes guardas fronteiriços.

Este é o universo de Miles Kendig!

Se você ouvir os discos desta postagem, assim como os das próximas quatro que seguirão, entenderá um pouco mais porque Miles, mesmo vivendo uma vida agitada, encontra alguma forma para se deleitar com a música do Wolfganger.

Jenö Jandó

O outro importante personagem desta série é bastante conhecido no mundo musical – Jenö Jandó, ótimo pianista húngaro, versatilíssimo, ajudou a construir (literalmente com suas próprias mãos) boa parte do edifício que se tornou a gravadora Naxos.

Nos dias que antecederam os arquivos digitais de música, os CDs da Naxos ofereciam aos amantes da música menos providos de fundos uma oportunidade de ouvir boas (e em muitos casos excelentes) gravações tanto do repertório tradicional quanto de setores menos visitados pelas interestelares gravadoras. Basta lembrar da Missa Papae Marcelli, de Palestrina, com a Oxford Camerata ou a Sinfonia Turangalîla, de Messiaen, nas mãos do maestro Antoni Witt.

Falávamos do Jandó. O homem produziu a integral das Sonatas para piano de Beethoven, de Haydn, de Schubert. O que o Wilhelm Kempff fez para a Deutsche Grammophon, ele fez para a Naxos, e mais. Sempre com competência e sensibilidade. Jenö, aliás, tem nos visitado aqui no PQP Bach com regularidade, sendo as duas mais recentes passadas estampadas com o cobiçado carimbo de IM-PER-DÍ-VEL pregado pelo próprio PQP. Bartók, Brahms e Schumann no programa.

Acredito ainda que, deste período de construção do catálogo da Naxos, sua contribuição maior, mais duradoura, tem sido essa série de Concertos para Piano de Mozart. A integral dos Concertos para Piano tem excelentes possíveis gravações, como a do Perahia, a do Brendel & Marriner ou a de Daniel Barenboim (retrato do artista quando jovem-EMI), só para não deixar palavras soltas ao vento. Mas as gravações do JJ, acompanhado pela Concentus Hungaricus, regida por Mátyás Antal ou András Ligeti, vale a nota e a divulgação. Todas as gravações foram feitas no Instituo Italiano de Budapeste, entre 1989 e 1991, com a produção de Ibolya Tóth.

O Concerto para piano e orquestra – de Bach até Mozart!

O gênero musical que conhecemos como concerto para piano (e orquestra) nasceu antes mesmo que o piano. Johann Sebastian Bach (ele, de novo…) adaptou alguns de seus antigos concertos para instrumentos melódicos (violino ou oboé) para cravo e cordas para apresentá-los no Collegium Musicum, em Leipzig. Bach já vinha elevando o papel do cravo de parte do baixo contínuo para protagonista do discurso musical em várias obras. Os clássicos exemplos são o Concerto de Brandenburgo No. 5 e as Sonatas para Violino e Cravo. Ele menciona que o cravo é obbligato. A composição de concertos para klavier teve continuidade com seus filhos compositores, especialmente Carl Philipp Emanuel e Johann Christian, o Bach de Londres.

Outros compositores se dedicaram ao gênero, inclusive Joseph Haydn, mas Mozart foi quem levou o gênero à sua primeira etapa de excelência. Podemos visualizar o desenvolvimento musical de Mozart na sua produção de concertos para piano – desde a quase perfeição até o nirvana!

Lembremos que essa evolução ocorreu concomitantemente com o desenvolvimento do próprio instrumento. O pianoforte surgiu nos últimos dias de Bach e foi aprimorado nos dias de Mozart e, depois, mais ainda, na época de Beethoven e Schubert. Os instrumentos que Mozart dispunha eram particularmente leves ao toque com um tipo de mecanismo que permitia grande delicadeza e articulação, entre outras coisas. Esses instrumentos eram muito adequados a maneira de Mozart tocar e faziam as pessoas acharem o estilo de Beethoven mais duro e agressivo.

Amadeus!

As duas principais etapas da vida de Mozart são antes e depois de 1781. Antes de 1781, vida em Salzburgo recheada de viagens aos grandes centros musicais da Europa, mas submetido ao emprego como músico do Arcebispo Colloredo. Depois de 1781, vida em Viena e músico independente, para o bem e para o mal (o Yin e o Yang) que essa mudança acarretou. Na primeira fase, Mozart produziu seis genuinamente seus concertos para piano, começando do Concerto No. 5. Na segunda fase, em Viena, produziu dezessete concertos – verdadeiras maravilhas que testemunham o desenvolvimento musical de Mozart. Por que Wolfgang escreveu tantos concertos para piano? Ele chegou a produzir até seis concertos em um período de um ano. A resposta está no entendimento de como se vivia naquela época. Afinal, História, Sociologia e até mesmo a Filosofia servem para algumas coisas.

O concerto para piano era o meio ideal para Mozart apresentar-se ao público vienense e ao resto do mundo (dele, é claro!) como compositor excelente e intérprete magistral.


A maioria dos concertos dados em Viena nesta época eram privados. Muitos ocorriam nas casas e palácios dos nobres, que tinham músicos como empregados regulares. Algumas famílias (Esterhàzys e Lobkowitzes, por exemplo) tinham verdadeiras orquestras a seu dispor.  As pessoas de classes mais alta e os burgueses também criavam demanda para a música de salão. Os próprios músicos, como Mozart, também promoviam pequenos concertos em suas próprias acomodações. Mozart participava destes concertos mesmo sem a expectativa de ser pago, mas contando com valorosos presentes e boa comida. Havia também a autopromoção gerando possíveis alunos e alunas e demanda para sua música impressa.

Além disso, um artista podia também promover um concerto, alugando um teatro, contratando os músicos, fazendo a divulgação, com a expectativa de retorno financeiro. A maneira mais fácil de ter sucesso nestas empreitadas era preparar tudo para promover esses concertos durante a Quaresma. Neste período não havia apresentação de óperas e os músicos estavam disponíveis e cobravam menos.

Havia também as séries de concertos por assinatura. Há documentação em cartas de Mozart para família falando de uma destas séries que aconteceu em 1784. Há inclusive a lista dos assinantes – uma espécie de Who is Who da nobreza de Viena. Em três quartas-feiras seguidas, Mozart apresentou concertos nos quais os Concertos para piano Nos. 14, 15 e 16 foram apresentados. Os concertos para piano de Mozart são como um resumo de sua obra e podemos aquilatar seus maravilhosos talentos.

Alguma informação sobre os concertos desta postagem:

Johann Christian Bach

O Concerto No. 5 em ré maior, K. 175 é o primeiro concerto para piano original composto por Mozart em 1773. Wolfganger tinha 15 anos. [Os concertos anteriores eram arranjos de sonatas de Johann Christian Bach, o Bach de Londres. Mozart o conhecera quando, em 1764, fora levado a Londres por seu pai. Johann Christian conviveu alguns meses com Mozart, então com 8 anos. Nas cartas para casa, Leopold Mozart revelava que os dois eram inseparáveis. Mozart teve sempre grande admiração e afeto por Johann Christian.] O concerto No. 5 foi composto em Salzburgo após uma viagem de umas dez semanas a Viena. Além de encontrar várias figuras culturais importantes, Mozart entrou em contato com a música de Haydn (Quartetos, Op. 9, 17 e 20). Apesar de seguir o modelo de suas paródias de concerto anteriores, este é de maior escala e tem um ótimo finale. Sua orquestração, além dos usuais oboés, fagotes e trompas, há também a presença de trompetes e tímpanos, que só reapareceriam no Concerto No. 13, em dó maior, K. 415. Mozart teve sempre uma predileção pelo Concerto No. 5 e o interpretou diversas vezes ao longo da vida. Para uma apresentação em 1782, em Viena, compôs o Rondo em ré maior, K. 382 como um final alternativo. O Rondó é uma encantadora série de variações. Miles Kending gosta bastante deste Rondo. O Concerto No. 5 é vizinho do primeiro quinteto para cordas (K. 174) composto por Mozart nesta época, tendo como modelo quintetos de Michael Haydn, o outro Haydn por quem Mozart tinha grande consideração. Quintetos de Mozart são peças que merecem cuidadosa investigação.

Os Concertos No. 6, em si bemol maior, K. 238 e o No. 8, em dó maior, K. 246 são obras típicas do estilo galante. A orquestração é básica, dois oboés (ou flautas no caso do No. 6), duas trompas e cordas, além do solista. No Concerto No. 6 as trompas marcam alegre presença em vários momentos. O Concerto No. 8 tem o apelido Lützow por ter sido destinado à Condessa Antonia Lützow, dizem uma excelente pianista.

O Concerto No. 19, em fá maior, K. 459 é a cereja deste bolo. Composto por Mozart para seu próprio uso, reúne graça vigor. Este concerto foi o último da série de concertos compostos em 1784 e termina com um dos melhores movimentos escritos por Mozart nesta época. Nele há equilíbrio entre as lindas melodias e o aspecto formal e estrutural da peça. O princípio do que agrada a leigos e entendidos levado à perfeição.

Tendo exaustivamente composto concertos ao longo dos anos 1784 até 1786, Mozart não compôs concertos para piano em 1787. Parece inacreditável, mas a popularidade de Mozart, como intérprete, começara a esvanecer e em Viena não houve mais comissões musicais, até 1790. Neste ano, a ópera Così fan tutte foi estreada, mas teve suas performances suspensas pela morte do Imperador.

Manuscrito de uma parte do solo do Concerto para Piano No. 26

O Concerto No. 26 em ré maior, K. 537 foi terminado em 24 de fevereiro de 1788, possivelmente para uma série de concertos a serem dados durante a Quaresma. O concerto No. 26 ganhou o apelido de Concerto da Coroação por ter sido apresentado por Mozart em 15 de outubro de 1790, em Frankfurt, durante a coroação do novo Imperador, Leopold II. Não é o mais bem desenvolvido dos concertos, mas especialmente seu finale Allegretto é cheio de ecos e cores que lembram ao Papageno. O concerto é a prova de Mozart conseguia ser ótimo mesmo quando não estava em perfeita forma. A parte da mão esquerda do solo não está escrita no manuscrito, uma prova de que o concerto fora concebido para ser interpretado pelo próprio Mozart.

Complete Piano Concertos – Volume 9

Concerto No. 26 em ré maior, K. 537 – ‘Coronation’

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegretto

Concerto No. 5 em ré maior, K. 175

  1. Allegro
  2. Andante ma poco adagio
  3. Allegro
  4. Rondo em ré maior, K. 382

Jenö Jandó, piano

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Complete Piano Concertos – Volume 8

Concerto No. 19 em fá maior, K. 459

  1. Allegro
  2. Allegretto
  3. Allegro assai

Concerto No. 6 em si bemol maior, K. 238

  1. Allegro aperto
  2. Andante un poco adagio
  3. Rondeau: Allegro

Concerto No. 8 em dó maior, K. 246

  1. Allegro aperto
  2. Andante
  3. Rondeau: Tempo di Menuetto

Jenö Jandó, piano

Concentus Hungaricus & Mátyás Antal

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MP3 | 320 KBPS | 156 MB

Espero que esta série de postagens lhe aproxime do legado maravilhoso que é a obra de Mozart, em particular de seus concertos para piano. Faça como Miles Kendig, ouça Mozart!

René Denon

J. S. Bach (1685-1750): A Oferenda Musical – Ensemble Sonnerie

J. S. Bach (1685-1750): A Oferenda Musical – Ensemble Sonnerie

Musikalisches Opfer, BWV 1079

A Oferenda Musical, BWV 1079

A obra desta postagem – Musikalisches Opfer – nasceu de um episódio muito especial que ocorreu em 1747, quase no fim da vida de Johann Sebastian Bach. Ele havia sido praticamente intimado a visitar a corte de Frederico, O Grande, para quem trabalhava seu segundo filho, Carl Philippe Emanuel, como músico e cravista. A viagem de Leipzig até Potsdam deve ter sido difícil para um senhor de mais de sessenta anos. Além disso, Frederico não era exatamente um amigável anfitrião. Costumava fazer pesadas brincadeiras mesmo com importantes figuras que visitavam a corte. Estava no ar o confronto entre o passado, na figura de Bach, que reverenciava a tradição de uma arte musical, que ele havia levado a um altíssimo estado de desenvolvimento, e a nova música, de estilo galante, que era cultivada naquela corte.  Esta é uma maneira de ver este episódio e é assim descrito no livro Uma Noite no Palácio da Razão, de James R. Gaines. Mas há outras coisas para também considerarmos.

Os últimos 27 anos de vida de Bach foram vividos em Leipzig, onde ocupou um importante cargo musical na Igreja de São Tomás. As condições de trabalho eram difíceis e o gênio de Bach deve ter criado muitas, muitas dificuldades para todo mundo.

De 1740 em diante, a Escola de São Tomás nomeou um novo mestre para Teoria Musical e Bach passou a dedicar-se menos às obrigações de seu cargo, concentrando-se mais em compor e revisar as obras que já havia produzido, preparando-as para publicação.

A vida também tinha seus bons momentos. Ele acompanhava com interesse as atividades da erudita Sociedade para a Promoção das Ciências Musicais, fundada por Lorenz Mizler e que publicava uma revista a cada quatro semanas. Ele só propôs sua candidatura a tal sociedade em junho de 1747, quando tornou-se o décimo quarto membro. Em tal ocasião teve um retrato pintado por E. G. Haussmann, no qual aparece segurando uma peça musical que havia sido oferecida como prova de sua erudição. O número 14 era significativo para Bach (B=2, A=1, C=3, H=8; 2+1+3+8=14). Ele também presentou a sociedade com uma composição para órgão, as variações canônicas Von Himmel Hoch, BWV 769. É claro que ele se comprazia com charadas e quebra-cabeças musicais e numéricos.

Bach era constantemente convidado a testar órgãos e aceitava com prazer a esses convites. Passava também tempo em Dresden, a capital da Saxônia, dando recitais de órgão e tocando com os músicos da capital, que retribuíam essas visitas indo a Leipzig para tocar com ele. Há cartas deste período trocadas com parentes que falam de presentes tais como barris de vinho. A viagem a Potsdam deve ter sido uma decisão mais difícil. Mas, afinal Frederico era o patrão de Emanuel e tinha suas maneiras de conseguir o que queria. Na visita Bach teve a alegria de conhecer seu primeiro neto.

Frederico tocando a sonata que Bach escreveu para ele. Emanuel ao cravo!

Podemos dizer que a visita foi um sucesso. Bach improvisou uma fuga a três vozes sobre um tema que o próprio rei lhe apresentou, coisa que deixou a todos verdadeiramente extasiados. Mas o rei queria mais e pediu uma fuga a seis vozes. Só uma pessoa como Bach poderia declinar a tal pedido, pois tal fuga a seis vozes sobre o tema do rei demandava mais tempo para devida composição. Naquela ocasião, Bach apresentou uma fuga a seis vozes sobre um tema próprio. De qualquer forma, prometeu ao rei que levaria a cabo tal façanha quando estivesse de volta recolhido ao seu próprio local de trabalho. Dessa promessa surgiu, alguns meses depois a peça que aqui temos. A Oferenda Musical, uma coleção de fugas e cânones mais uma sonata para flauta, violino e cravo. Nesta coleção, duas peças especiais, as quais Bach denominou ricercares, uma a três e a outra a seis vozes. Lembremos que o rei tocava flauta e compunha, mas no estilo galante. Ricercar remete ao passado, uma maneira de dizer que aquela era uma arte que provinha de passadas experiências e traz o significado de buscar com diligência. Além disso, a palavra é parte de um acróstico. Estava escrito na impressão do Ricercar a 6: ‘Regis Iussu Cantio Et Reliqua Canonica Arte Resoluta’ (Ao comando do Rei, a canção [o Ricercar a 6] e as peças remanescentes resolvidas canonicamente [segundo os cânones, as regras]). Até a escolha do nome, Musikalisches OpferOferenda Musical, traz alguma sutileza, uma vez que Opfer, oferenda, oferta, remete ao óbvio significado, mas também a sacrifício…

A interpretação desta obra demanda muito dos intérpretes, uma vez que a indicação dos instrumentos a serem usados ocorre apenas na sonata. Na verdade, esse aspecto de proposta ao intérprete aparece em algumas dicas deixadas pelo autor. Um dos cânones vem com a instrução em Latim: Quaerendo Invenietis, busque e encontrarás! Nesta gravação, além da interpretação do Ricercar a 6 ao cravo, também temos uma gravação como seis instrumentos melódicos. Esta música desafia o intérprete e o ouvinte, assim como a última obra que a seguiu, Die Kunst der FugeA Arte da Fuga. Espero que você possa desfrutar tanto do aspecto intelectual quanto do sensual que nos é proposto aqui. O balanço entre estes aspectos da arte musical nos oferece boa motivação para continuar buscando novas músicas e novas maneiras de ouvir.

Gostaria de mencionar o livro sobre J. S. Bach escrito por Karl Geiringer como referência.

Igor Stravinsky, um músico muito mais próximo do nosso tempo, disse de maneira muito arguta: To listen is na effort, and just to hear is no merit. A duck hears also. Arriscando uma tradução (e já fazendo alguma traição): Ouvir demanda um esforço e não há mérito em apenas escutar. Até um pato escuta.

Assim, aqui está o disco com suas delícias e suas demandas. Espero que aprecie.

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Musikalisches Opfer – Oferenda Musical

1. Ricercar a 3
2. Canon perpetuus super Thema Regium
3-7. Canones diversi super Thema Regium
8. Fuga canonica in Epidiapente
9. Ricercar a 6
10. Canon a 2. Quaerando Invenientis
11. Canon a 4
12-15. Sonata sopr’il Soggeto Reale
16. Canon perpetuus
17. Ricercar a 6

Ensemble Sonnerie

Monica Huggett, violin
Sarah Cunningham, viola da gamba
Gary Cooper, harpsichord
Wilbert Hazelzet, flauta
Paul Goodwin, oboe, aboe d’amore, oboe da caccia
Pavlo Beznosiuk, violin, viola, tenor viola
Frances Eustace, basson

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João Sebastião Ribeiro chegando apressado para o encontro com Frederico…

Esperando que você aceite a oferta, do

René Denon

Mendelssohn (1809-1847): Sinfonia Italiana / Brahms (1833-1897): Sinfonia No. 2 (National Ph. Orch. & Leopold Stokowski)

Mendelssohn (1809-1847): Sinfonia Italiana / Brahms (1833-1897): Sinfonia No. 2 (National Ph. Orch. & Leopold Stokowski)

Mendelssohn – Sinfonia Italiana

Brahms – Sinfonia No. 2

A principal razão para esta postagem é este disco maravilhoso, que merece ser ouvido muitas e muitas vezes. A Sinfonia Italiana de Mendelssohn recebe uma de suas interpretações mais alerta e ensolarada de que se tem notícia. A Segunda Sinfonia de Brahms, com a repetição do primeiro movimento observada, está gloriosa. A orquestra formada para gravações com os melhores músicos das orquestras de Londres, foi reunida no lendário Studio 1 da EMI, na Abbey Road.

Capa de LP da CBS com a Sinfonia Italiana

Ouvindo o disco podemos imaginar um maestro vigoroso, mas flexível – características facilmente associadas a um jovem. Na verdade, estas foram praticamente as últimas gravações de Leopold Stokowski, aos 95 anos.

O produtor Roy Emerson conta que quando não estava no pódio, Stokowski era uma figura frágil, mas assim que começava qualquer atividade relacionada à música, seja estudando as partituras, ouvindo as gravações realizadas e, sobretudo, quando regendo, ele se revelava ativo e cheio de energia.

Para a maioria das pessoas da minha geração (e das gerações próximas, também), o nome Stokowsky está associado ao filme Fantasia, produzido por Walt Disney. Este filme foi feito em 1940! Foram usadas pela primeira vez técnicas de gravações em multiple audio channels e o filme apresentado em stereophonic sound. A Sagração da Primavera, que havia sido escrita em 1913 por Stravinsky, é um dos números do filme. A transcrição para orquestra da Toccata e Fuga em ré menor, de Bach, que abre o filme, lembra o começo da carreira de Stokowski como organista. Naquele tempo ele fazia o contrário, transcrevendo para órgão famosas peças orquestrais. Popularização de música erudita foi também uma das coisas para as quais Stokowski contribuiu.

Leopold Stokowski

Nascido em Londres, foi na Filadélfia que encontrou a oportunidade de desenvolver sua arte, tornando a Orquestra da Filadélfia uma das melhores do mundo. Numa época de regentes quase icônicos – Toscanini, Furtwängler, Klemperer, Bruno Walter – Stokowski foi capaz de imprimir sua própria personalidade na maneira de fazer música, produzindo seu típico som, com graves pronunciados, como o que você vai ouvir, se baixar este lindo disco.

Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847)

Sinfonia No. 4 em lá maior, Op. 90, Italiana

  1. Allegro vivace
  2. Andante con moto
  3. Con moto moderato
  4. Saltarello: presto

Johannes Brahms (1833-1897)

Sinfonia No. 2 em ré maior, Op. 73

  1. Allegro non troppo
  2. Adagio non troppo
  3. Allegretto grazioso
  4. Allegro con spirito

National Philharmonic Orchestra

Leopold Stokowski

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Clique e dançarei para você!

Aproveite!

René Denon

J. S. Bach (1685-1750): Oratório da Páscoa & Ascension Oratorio – Masaaki Suzuki

J. S. Bach (1685-1750): Oratório da Páscoa & Ascension Oratorio – Masaaki Suzuki


Osteroratorium – Oratório da Páscoa 

Himmelfahrtsoratorium – Oratório da Ascensão

Bach deixou três peças sacras as quais denominou Oratórios. A mais famosa é o Oratório de Natal, um conjunto de seis cantatas que foram apresentadas pela primeira  vez nos dias 25, 26 e 27 de dezembro de 1734. Os outros dois Oratórios estão reunidos neste espetacular disco. Ambos fazem referência à Páscoa.

Masaaki Suzuki

O mais antigo, Osteroratorium – Oratório da Páscoa – teve sua primeira audição em 1 de abril de 1725 e era uma paródia de uma cantata produzida umas semanas antes, para o aniversário do Duque Christian de Saxe-Weissenfels. Bach deve ter tido esta música em alta conta, pois a reapresentou em mais três ocasiões ao longo de sua vida, sempre adaptando ou arranjando algo novo. Em 1735 passou a chamá-la de Oratório. A última vez que a apresentou, na forma como aqui foi gravada, ocorreu em 1749. O Oratório inicia com dois movimentos puramente orquestrais, provavelmente provenientes de algum concerto que Bach escrevera em Koethen, onde trabalhou antes de mudar-se para Leipzig. O primeiro deles é festivo, com trompetes e tímpanos. O segundo é um adágio lindíssimo: sobre as cordas em suspiros, um instrumento melódico, aqui uma flauta transversa, que eleva o sentimento de espiritualidade. Segue um movimento que seria o final do concerto, agora adaptado para incluir o coro, e o todo funciona como uma grande abertura do oratório.

Em seguida uma série de recitativos e árias, uma delas para contralto que segue por onze minutos, onde novamente a flauta exerce papel proeminente, num diálogo com a solista. O Oratório concluiu com um coro acompanhado com toda a força da orquestra. É possível até imaginar o contentamento que o príncipe aniversariante deve ter sentido.

O outro oratório – Himmelfahrtsoratorium – arranjado para a Festa da Ascensão, também é catalogado como uma cantata, Lobet Gott in seinen Reichen, BWV 11. Foi estreado em 19 de maio de 1735 e é a adaptação de uma cantata não religiosa que não existe mais. Aqui os recitativos do tenor fazem o papel do Evangelista conduzindo a história.

De novo trompetes, tímpanos, flautas, oboés e cordas dão o tom solene e alegre, com o devido equilíbrio de momentos mais reflexivos, como é próprio para a ocasião.

Esta gravação é um primor. Foi feita na Capela da Kobe Shoin Women’s University, e pela foto do libreto deve ser espetacular. O Bach Collegium Japan, sob a direção de Masaaki Suzuki, artistas do selo sueco BIS Records é de altíssimo nível e uma referência mundial na interpretação da música de Bach. Suzuki estudou com os maiores especialistas em Bach e música antiga. É cravista, organista, regente, músico completo. Com o Bach Collegium Japan, fundado por ele, já gravou todas as cantatas de Bach assim como as outras grandes obras sacras, sempre para o selo BIS.

 

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Easter Oratorio. Kommt, eilet und laufet, BWV 249

01          I. Sinfonia

02          II. Adagio

03          III. Chorus – Kommt, eilet und laufet

04          IV. Recitativo (soprano, alto, tenore, basso) – O kalter Männer Sinn!…

05          V. Aria (soprano) – Seele, deine Spezereien…

06          VI. Recitativo (alto, tenore, basso) – Hier ist die Gruft…

07          VII. Aria (tenore) – Sanfte soll mein Todeskummer…

08          VIII. Recitativo (soprano, alto) – Indessen seufzen wir…

09          IX. Aria (alto) – Saget, saget mir geschwinde…

10          X. Recitativo (basso) – Wir sind erfreut…

11          XI. Chorus – Preis und Dank…

Ascension Oratorio. Lobet Gott in seinen Reichen, BWV 11

12          I. Chorus – Lobet Gott in seinen Reichen

13          II. Recitativo (tenore) – Der Herr Jesus hub seine Hände auf…

14          III. Recitativo (basso) – Ach, Jesu, ist dein Abschied schon so nah?…

15          IV. Aria (alto) – Ach, bleibe doch, mein liebstes Leben…

16          V. Recitativo (tenore) – Und ward aufgehaben zusehends…

17          VI. Choral – Nun liget alles unter dir…

18          VII. Recitativo (tenore, basso) – Und da sie ihm nachsahen… Recitativo (alto) – Ach ja! so komme bald zurück… Recitativo (tenore) – Sie aber beteten ihn an…

19          VIII. Aria (soprano)- Jesu, deine Gnadenblicke…

20          IX. Choral – Wenn soll es doch geschehen…

Patrick van Goethem, contra-tenor
Jan Kobow, tenor
Yukari Nonoshita, soprano
Chiyuki Urano, baixo
Bach Collegium Japan
Masaaki Suzuki, conductor

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Aproveite a oportunidade para ouvir boa música e refletir nas coisas mais altas e misteriosas da vida.

René Denon

Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 6, Op. 68 – Pastoral – Leningrad PO & Evgeny Mravinsky

Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 6, Op. 68 – Pastoral – Leningrad PO & Evgeny Mravinsky

Beethoven 

Pastoral

Há tempos não ouvia a Pastoral e quando este CD cruzou o meu caminho, não hesitei, saltei-lhe em cima.

Eu sabia desta gravação desde quando havia lido em uma revista especializada em som e aparelhos eletrônicos um artigo sobre portable players. Alguém se lembra do Walkman Sony? Pois então, o autor do artigo colocou esta Pastoral num destes aparelhinhos e foi dar uma volta na Beethovenhaus, em Bonn. Chique, não? Morri de inveja.

Quando o CD chegou, você pode imaginar o meu estado de antecipação – como será a gravação (ao vivo)? Barulhos estranhos (tosses cavernosas e outras coisas estranhas) assombram várias gravações ao vivo oriundas dos setores russos. E a interpretação? Mravinsky e sua orquestra são lendários, mas…

Bem, sosseguem, realmente é uma ótima Pastoral, vocês poderão experimentar por si próprios. No entanto, vale a pena notar algumas coisas. Mravinsky não faz a repetição indicada na partitura, no primeiro movimento, que ainda assim leva pouco menos do que dez minutos. Ou seja, esta Pastoral não vai correndo como a maioria das apresentadas por grupos de instrumentos de época (ou orientados pelo movimento HIP – historically informed performance), mas flui com majestade e não se arrasta, o que, para mim, é fundamental. Chamou-me a atenção em toda a performance como os diferentes grupos de instrumentos – sopros, madeiras, cordas – têm sua proeminência, seu destaque. Oboés e fagotes!

A tempestade é ameaçadora suficiente e a festa final é de contentamento, mas sem faltar a devida vitalidade. Realmente, uma gravação que merece destaque, como um revelador retrato de um grande regente em ação.

Evgeny Mravinsky, em momento de puro dleite com a Pastoral…

O livreto conta histórias ótimas. O depoimento de Lev Markitz, violinista e maestro, revela parte da relação do grande regente com a orquestra que dirigiu por cinquenta anos. Segundo ele, Mavrinsky era um tremendo tirano. Todos na orquestra tinham medo dele. Quando o maestro chegava em frente ao prédio da orquestra para os ensaios (que eram muitos e longos) ouviam-se aos sussurros – fozduch – que significa algo como abriguem-se, inimigo à vista!

Mravinsky demandava muitas horas de ensaios mesmo para peças que já havia tocado com a orquestra muitas vezes. Paradoxalmente, ele tinha uma certa fobia da apresentação pública e por diversas vezes foi substituído em um concerto preparado por ele por um dos seus maestros assistentes. Entre eles nomes hoje famosos, como Mariss Jansons, Neeme Järvi e Valerie Gergiev. Este último disse que, mesmo nestas ocasiões, não importava qual fosse o maestro no pódio, a influência do grande maestro estava sempre brilhantemente presente: ele está lá conosco, não importa quais sejam as nossas próprias ideias.

Ludwig van BEETHOVEN (1770 – 1827)

Sinfonia No. 6 em fá maior, Op. 68  “Pastoral”

  1. Allegro ma non troppo
  2. Andante molto mosso
  3. Allegro
  4. Allegro
  5. Allegretto

Leningrad Philharmonic Orchestra

Evgeny MRAVINSKY

Gravação ao vivo em 17 de outubro de 1982, no auditória da orquestra.

Na ripagem do disco em mp3 resolvi reunir em um único arquivo as três últimas faixas. A razão disto é que, apesar de três faixas, quando tocadas diretamente do CD, a música flui de um movimento para o outro, sem interrupção. Já o leitor de mp3 que uso (no carro, por exemplo) sempre faz uma pausa entre um arquivo e o outro e em tais situações, interrompe a música, coisa que acho bastante desagradável.  Desta forma, espero evitar as interrupções. Aguardo comentários dos leitores atentos.

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Ludovico, dando uma volta, pensando naquelas harmonias…

Boa Pastoral para você também!

René Denon