G. F. Handel (1685-1759): Suítes para Teclado – /|\ – D. Scarlatti (1685-1757): Sonatas – \|/ – Murray Perahia, piano

Handel – Suítes Nos. 2, 3 e 5

&

Chaconne

Scarlatti – 7 Sonatas

 

O que torna um disco avassaladoramente bom? Qual é a medida? Quais são os ingredientes ou as circunstâncias? A norma atual são discos tecnicamente bem produzidos com ótimos intérpretes, não há muito espaço para amadores. Mas há circunstâncias que permitem um disco quebrar, de longe, todas as possíveis graduações de bom, muito bom, ótimo, excelente…

Pois é o caso deste disco, um caso bem acima da curva. É certamente um dos meus dez melhores discos, talvez fique entre os cinco melhores…

Sei, estou um pouco eufórico, mas este disco faz isto comigo. Portanto, peço-vos, ouçam a música!

Mr. Handel

Vamos às circunstâncias do disco. Imagine um pianista renomado, no auge de sua carreira, sofre um corte em um de seus polegares, feito por uma folha de papel. O corte inflama e a coisa toda torna-se um pesadelo. Antibióticos, complicações diversas, até cirurgias. Como resultado, o pianista é forçado a um sabático de suas atividades. Mas música é a sua vida e ele precisa viver. Ouvir música, estudar música, talvez um pouco de regência.

Foi isso o que aconteceu com Murray Perahia no início da década de 1990. As complicações realmente o deixaram sem poder tocar por anos. Talvez para variar de suas principais escolhas musicais: Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, um pouco de música barroca. Afinal, na juventude convivera em Vermont com Pablo Casals e CIA. Bach, é claro, mas também os outros dois fenomenais compositores que nasceram no ano de 1685. Deve ter havido um grande alinhamento de planetas!

Diz a lenda que em um passeio qualquer, Perahia entrou em um sebo de livros e saiu de lá com uma partitura das Grandes Suítes de Handel. As sonatas de Scarlatti ele certamente conhecia de sua amizade e convivência com Horowitz. Se bem que suas interpretações são diferentes das do Volodya. Pois foi assim que, ao recobrar-se, Perahia gravou uma série de discos excepcionais com música de Bach, além deste aqui, com algumas das Suítes de Handel e umas Sonatas de Scarlatti.

Don Domenico

Entre as oito Grandes Suítes de Handel, escolheu as de Nos. 5, 3 e 2. A Suíte No. 5 termina com o mais famoso de todos os movimentos, as variações chamadas “The Harmonious Blacksmith” – “O Ferreiro Harmonioso”. Estas e a belíssima Chaconne.

A música de Handel, se comparada à música de Bach, parece mais simples, mais fácil, para não dizer mundana (a comparação me faz pensar em Tamino e Papageno). Mas a interpretação de Perahia realiza esta simplicidade, naturalidade, mas também um aspecto de solenidade que é fundamental. A fluidez desta música é irresistível. Se você não conseguir parar de ouvir a Chaconne, vez e de novo, não se preocupe, isto ocorre com frequência entre os ouvintes deste disco. Lembre-se que Handel era muito admirado por Mozart, Beethoven e Brahms.

No disco, a transição de Handel para Scarlatti é impactante. Saímos da solene Inglaterra para a estonteante Espanha, com suas procissões e igrejas, cavalheiros, guitarras e lindas damas. Preste atenção, está tudo aí na música. Se não perceberes, é só ouvir novamente.

Ande, baixe o disco e prepare-se para um período puro deleite musical.

George Frideric Handel (1685-1759)

Suíte No. 5 em mi maior, HWV 430

  1. Preludio
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Air con Variazioni – ‘The Harmonious Blacksmith’

Chaconne em sol maior, HWV 435

  1. Chaconne

Suíte No. 3 em ré menor, HWV 428

  1. Preludio – Presto
  2. Allegro
  3. Allemande
  4. Courante
  5. Air con Variazioni
  6. Presto

Suíte No. 2 em fá maior, HWV 427

  1. Adagio
  2. Allegro
  3. Adagio
  4. Allegro [Fugue]

Domenico Scarlatti (1685-1757)

  1. Sonata em ré maior, K. 491
  2. Sonata em si menor, K. 27
  3. Sonata em dó sustenido menor, K. 247
  4. Sonata em ré maior, K. 29
  5. Sonata em lá maior, K. 537
  6. Sonata em mi maior, K. 206
  7. Sonata em lá maior, K. 212

Murray Perahia, piano

Produção: Andreas Neubronner
Gravado em 1996

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FLAC |210 MB

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MP3 | 320 KBPS | 158 MB

Murray Perahia

Você poderá ler uma interessante entrevista com Murray Perahia aqui. Lamentavelmente há notícias que ele passa novamente por um período de dificuldades com a saúde. Que seja rápida a recuperação!

Enquanto isso, aproveite! Este disco merece o nosso selo altíssima qualidade!René Denon

7 comments / Add your comment below

  1. Comprei esse disco numa lojinha de cds que tinha no segundo andar de um shopping perto do Teatro Municipal em São Paulo, na virada para os anos 2000. Já tinha lido uma resenha o elogiando, mas eu realmente não podia esperar o que me aguardava. Foi com esse disco que descobri a peça Harmonious Blacksmith, numa gravação que considero imbatível. Até hoje acho que a melodia principal de Quadros em Exposição, de Moussorgsky, deve em muito a essa peça de Handel. Esse disco é, como diria Glenn Gould, uma “audição dos deuses”…

  2. Certamente é um dos melhores discos que tenho – tão bom que até o normalmente sério Perahia abre um sorriso na capa. Infelizmente, sua saúde continua a fazê-lo cancelar seus compromissos. Para seu bem e o da Música, espero que se recupere e que, como foi com este maravilhoso disco, seu retorno à ribalta seja glorioso, com mais registros dignos do selo RD de qualidade! Grato!

  3. Que disco! Obrigado. Recentemente, em uma de suas postagens, aparecia a ideia de reflexão e maturação frente à música, e nessa linha talvez minha adjetivação não passe de bazófia, pois são coisas recentes; de todo modo, porém, é possível perceber, já agora, certo impacto de discos como este. A Chaconne é de outro mundo, parece que a conheço desde sempre…ou, mesmo, que ocorra a rememoração poética descrita por Keats. Aproveito para dizer, ainda, que ouço com frequência alguns dos discos de postagens anteriores, em seu caso sobretudo https://pqpbach.ars.blog.br/2019/03/22/johannes-brahms-1833-1897-piano-pieces-arcadi-volodos/e, também do Perahia, https://pqpbach.ars.blog.br/2019/08/09/w-a-mozart-1756-1791-sonatas-para-piano-murray-perahia/

    1. Olá, Otávio!
      Creio que estes dois discos que você mencionou, o Brahms/Volodos e o Mozart/Sonatas/Perahia, sejam destes discos atemporais. Talvez vá dormir ouvindo Mozart, hoje. Isto por que estas peças mais outonais do Brahms mexem muito comigo…
      Abraços!
      René

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