BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Die Geschöpfe des Prometheus, Op. 43 – Orpheus Chamber Orchestra

A curiosa música para Die Geschöpfe des Prometheus (“As Criaturas de Prometeu”) é tão singular quanto as circunstâncias que levaram à sua criação. Quando a famosa companhia de balé de Salvatore Viganò chegou a Viena, em 1801, logo recebeu o convite para se apresentar para a corte imperial. O napolitano Viganò, sobrinho de Luigi Boccherini, normalmente compunha a música para suas próprias coreografias e imaginou um algo ambicioso libreto baseado no mito de Prometeu. Julgando a ocasião e a complexidade da proposta além de suas habilidades como compositor, convidou o ainda entusiasmado Beethoven pré-Heiligenstadt para contribuir com a produção. Ludwig respondeu de maneira pouco usual, escrevendo a música com rapidez e atendendo todos os prazos, de maneira que, quando da estreia no Burgtheater, a obra estava totalmente completa, sem a necessidade do tradicional expediente beethoveniano de copiar as partituras na penúltima hora lá nas coxias.

O enredo conta a história de Prometeu como criador da civilização. No primeiro ato, instila vida em duas estátuas de argila, gerando os primeiros homens, para no segundo ato apresentá-las às artes através de entidades como Apolo, Orfeu, Pã e Baco. As danças coletivas alternam-se com solos – alguns até hoje indicados pelos nomes de seus criadores (Gaetano Gioia, Maria Casentini e o próprio Viganò), até que a musa da Tragédia mostra a que veio e mata Prometeu, demostrando a todos a inevitabilidade da morte. Thalia e Pã não se fazem de rogados e trazem o falecido titã de volta à vida, e todos dançam festivamente num inacreditável, mas previsível final feliz.

Escrita para um conjunto orquestral pequeno e notavelmente mais leve que as outras obras para o palco de Beethoven, Prometheus inclui partes para o corno di bassetto e para a harpa – instrumentos que, sinceramente, não me lembro de ouvir noutras obras beethovenianas – e alguns proeminentes solos para flauta e violoncelo. E a dança final, uma contradança reaproveitada duma composição da juventude  e que ressurgiria também nas variações para piano, Op. 35, ficaria célebre como o tema do colossal finale da sinfonia Eroica – talvez uma citação proposital do criador mitológico da Humanidade numa obra originalmente destinada a Napoleão, que Beethoven considerava até então um herói libertador e inimigo dos déspotas.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Die Geschöpfe des Prometheus, música para o balé em dois atos de Salvatore Viganò, Op. 43
Composto entre 1800-1
Publicado em 1804
Dedicado à princesa Christiane von Lichnowsky

ATO I

1 – Overtura: Adagio – Allegro molto e con brio – attacca:
2 – Introduzione: La Tempesta. Allegro non Troppo – attacca:

3 – No. 1: Poco Adagio
4 – No. 2: Adagio – Allegro con brio
5 – No. 3: Minuetto

ATO II
6 – No. 4: Maestoso – Andante
7 – No. 5: Adagio – Andante quasi allegretto
8 – No. 6: Un poco Adagio – Allegro
9 – No. 7: Grave
10 – No. 8: Allegro con brio – Presto
11 – No. 9: Adagio – Allegro molto
12 – No. 10: Pastorale
13 – No. 11: Andante
14 – No. 12: Maestoso (“Solo di Gioia”)
15 – No. 13: Allegro – Comodo
16 – No. 14: Andante – Adagio (“Solo della Casentini”)
17 – No. 15: Andantino – Adagio (“Solo di Viganó”)
18 – No. 16: Finale

Orpheus Chamber Orchestra

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A Orpheus Chamber Orchestra decidindo o que fazer com o primeiro que perguntar quem é o seu regente.
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

.: interlúdio :. Elmer Bernstein (1922-2004): The Ten Commandments (1956)

.: interlúdio :. Elmer Bernstein (1922-2004): The Ten Commandments (1956)

Elmer Bernstein (1922 – 2004) nasceu nos Estados Unidos, nasceu para Hollywood, nasceu para musicar a sétima arte. Tendo feito cerca de incríveis 150 trilhas sonoras originais, além de quase 80 produções televisivas, Musicais da Broadway, trabalhou também na década de 80 no famoso videoclipe da música “Thriller”, de Michael Jackson. O cara era f…., ao longo de sua carreira Bernstein emplacou um Oscar dos 14 que concorrera no total.

Em sua juventude tocou algumas de suas improvisações para o compositor Aaron Copland, que empolgado com o garoto o aceitou como aluno de composição. Bernstein também atuou como pianista de concertos entre 1939 e 1950 e escreveu numerosas composições clássicas, incluindo três suítes de orquestra, dois ciclos de canções, várias composições para viola e piano e para piano solo, quarteto de cordas e um concerto para guitarra. Na Segunda guerra mundial Elmer foi convocado para a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, onde escreveu músicas para a Rádio das Forças Armadas.

Na década de 50 um executivo de música de estúdio apresentou-o a Cecil B. De Mille, que estava gravando “Os Dez Mandamentos” e que precisava de música com som de época. O compositor Victor Young – que originalmente fora contratado para escrever a música dramática – desistiu por motivos de saúde, e DeMille substituiu o compositor doente pelo jovem promissor. Elmer Bernstein se lembra de seu primeiro encontro com Cecil B. DeMille e sua grande chance em “Os Dez Mandamentos”: “‘Senhor. Bernstein “, disse DeMille em grande voz,” você acha que pode fazer pela música egípcia antiga o que Puccini fez pela música japonesa em “Madame Butterfly?” Ele trabalhou na composição por um ano e meio. Criando uma das maiores trilhas já feitas para o cinema. Se os amigos do blog se interessarem pela brilhante carreira do Elmer segue o link de sua página (https://elmerbernstein.com), vale a pena conhecer as grandes obras deste mestre do século XX.

Ao contrário da suposição popular, ele não era parente do célebre compositor e maestro Leonard Bernstein, mas os dois homens eram amigos.No mundo da música profissional, eles se distinguiram pelo uso dos apelidos Bernstein West (Elmer) e Bernstein East (Leonard). Eles também pronunciaram seus sobrenomes de maneira diferente. Elmer pronunciou seu “BERN-steen”, e Leonard usou “BERN-stine”.

Hoje tenho a alegria de poder compartilhar com os amigos do blog uma das maiores páginas musicais já escritas para o cinema: “The Ten Commandments” do compositor Elmer Bernstein. Eu amo essa composição. Adorei quando criança, adorei quando tocava o LP (aliás a foto da capa é do LP que comprei na década de 80 em uma das lojas mais conceituadas de Sampa) e continuo adorando agora aos cinquenta. Espero que outros possam apreciar o trabalho do Bernstein. Na minha opinião de admirador, essa composição conta a história de Moisés tão bem quanto Charleton Heston e o resto do elenco. Acredito que sem esta ótima composição o filme não seria o mesmo. John Williams utilizou a faixa 19 como base para o final do Star Wars Episode IV. Poderoso, épico e clássico ouçam a magistral página que é a faixa 23! Todo o CD é soberbo !

O filme
Considerado como o maior épico bíblico já feito, “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille, é uma obra-prima. O elenco é incrível e apresenta Charlton Heston, Yul Brynner, Anne Baxter e Edward G. Robinson em performances inesquecíveis. Heston, em particular, apresenta uma performance icônica; como se ele tivesse nascido para brincar de Moisés. Os cenários e figurinos são especialmente ambiciosos e são feitos em uma escala notável. Além disso, DeMille traz uma perspectiva interessante ao material e o enquadra como uma luta entre liberdade e tirania. Os Dez Mandamentos é uma peça extraordinária de cinema e um clássico amado. “Então, deixe que seja escrito, que seja feito”. Baseado nas Escrituras Sagradas, com diálogos adicionais de várias outras mãos, “Os Dez Mandamentos” foi o último filme dirigido por Cecil B. DeMille. A história relata a vida de Moisés, desde o momento em que ele foi descoberto nos juncos quando criança pela filha do faraó, a sua longa e difícil luta para libertar os hebreus da escravidão pelas mãos dos egípcios. Moises (Charlton Heston) começa seguro como o filho adotivo de Faraó (e um gênio em projetar pirâmides, dando conselhos no local de construção), mas quando descobre sua verdadeira herança hebraica, ele tenta: tornar a vida mais fácil para o seu povo. Banido por seu meio-irmão ciumento Ramsés (Yul Brynner), Moisés retorna totalmente barbado à corte do Faraó, avisando que recebeu uma mensagem de Deus e que os egípcios devem libertar os hebreus imediatamente. Somente depois que as pragas mortais dizimaram o Egito, Ramsés cedeu. Quando os hebreus alcançam o Mar Vermelho, eles descobrem que Ramsés voltou à sua palavra e planeja matá-los todos. Mas Moisés resgata seu povo com um pouco de domínio divino, separando os mares. Mais tarde, Moisés é novamente confrontado por Deus no Monte. Sinai, que lhe entrega os Dez Mandamentos.

Os Dez Mandamentos de DeMille pode não ser o entretenimento mais sutil e sofisticado já inventado, mas conta sua história com uma clareza e vitalidade que poucos estudiosos da Bíblia jamais foram capazes de fazer. Com um tempo de execução de quase quatro horas, o último longa-metragem de Cecil B. De Mille não é chato nem por um minuto. O que faz esse filme funcionar – algo que os filmes religiosos recentemente perderam completamente o fio – é que não é um sermão. É atraente, apesar de suas alianças religiosas.

Mesmo para quem não conhece, ainda, o filme muitos temas são familiares. Uma das minhas composições preferidas do século XX. Uma composição refinada e tremenda. Divirtam-se com mais este tesouro da música!

The Ten Commandments by Elmer Bernstein
Ten Commandments -01- Overture
Ten Commandments -02- Main title
Ten Commandments -03- Murder Firstborn, Moses conqueror&cour
Ten Commandments -04- Foods from the Gods
Ten Commandments -05- Treasure City, Erecting monolith
Ten Commandments -06- A city of sethi’s glory
Ten Commandments -07- Hard bondaje
Ten Commandments -08- Nefretiris’ barge
Ten Commandments -09- You are the reedemeri, Lilia begs
Ten Commandments -10- Into blistering wilderness of Shur
Ten Commandments -11- Well of Midiam, Stranger in wise, Stro
Ten Commandments -12- Moses questions Sephora about
Ten Commandments -13- Moses and Sephora to be his wife
Ten Commandments -14- Royal falcon is flown sun, Lilia
Ten Commandments -15- Plague of blood
Ten Commandments -16- Green cloud descends
Ten Commandments -17- Death of Pharaohs son
Ten Commandments -18- I set you free
Ten Commandments -19- A new Day, Exodus
Ten Commandments -20- Ride of the chariots
Ten Commandments -21- And the sea covered him
Ten Commandments -22- His God, Is God, Mount Sinai
Ten Commandments -23- Commandments. Golden Calf
Ten Commandments -24- Wrath of God, Law is restored
Ten Commandments -25- Exit music

Composed & Conducted by Elmer Bernstein
Paramount Pictures Studio Orchestra

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Elmer ensaiando com os egípcios no hall do Grande Salão PQPBach

Ammiratore

“Carlinus Files” – Franz Joseph Haydn (1732-1809) – Piano Sonatas vol. 1, 2 e 3 de 8 – Bavouzet

Front

Repostagem de uma original feita lá em 2013, alguns dias após a visita de nosso querido Carlinus, por isso chamei a série de “Carlinus Files”,  pois trocamos muito material na época. 

Como estamos em pleno ano Beethoven, quando comemoramos os 250 anos de nascimento do genial compositor, acho importante mostrar o que o influenciou e quem era os seus mestres. Curiosamente, a obra pianística de Haydn pouco apareceu aqui no PQPBach. Para ser mais rápido, estou disponibilizando três cds de cada vez. Lembrando que até agora foram lançados 8 volumes. 

Mais um cd com o selo “Carlinus Files”, que ajuda a traduzir a qualidade da gravação e da interpretação.

Facilmente classificável como “IM-PER-DÍ-VEL” !!

Divirtam-se…

01 – Sonata No.39 in D major, Hob.XVI 24 – I. Allegro
02 – Sonata No.39 in D major, Hob.XVI 24 – II. Adagio – Larghetto
03 – Sonata No.39 in D major, Hob.XVI 24 – III. Finale Presto
04 – Sonata No.47 in B minor, Hob.XVI 32 – I. Allegro moderato
05 – Sonata No.47 in B minor, Hob.XVI 32 – II. Menuet. Tempo di Menuetto – Trio. Minore
06 – Sonata No.47 in B minor, Hob.XVI 32 – III. Finale Presto
07 – Sonata No.31 in A flat major, Hob.XVI 46 – I. Allegro moderato
08 – Sonata No.31 in A flat major, Hob.XVI 46 – II. Adagio
09 – Sonata No.31 in A flat major, Hob.XVI 46 – III. Finale Presto
10 – Sonata No.49 in C sharp minor, Hob.XVI 36 – I. Moderato
11 – Sonata No.49 in C sharp minor, Hob.XVI 36 – II. Scherzando Allegro con brio
12 – Sonata No.49 in C sharp minor, Hob.XVI 36 – III. Menuetto. Moderato – Trio

Jean-Efflam Bavouzet – Piano

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FDPBach

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Beethovens Bratsche (Noturno para viola e piano, Op. 42 – Zimmermann – Höll)

O catálogo pessoal de obras de Beethoven, que ele tanto relutara em inaugurar, fazendo-o somente aos vinte e quatro anos com três sólidos e meticulosamente revisados trios com piano, começou a romper suas criteriosas costuras naquele fatídico biênio de 1802-3. Não queríamos falar que ele precisava desesperadamente de dinheiro, mas, já que voltamos ao assunto, abordaremos aqui alguns de seus expedientes para tentar fazê-lo. Um deles, cada vez mais frequente, era o de negociar suas obras com vários editores ao mesmo tempo, o que levava muitas vezes a publicações simultâneas da mesma peça em cidades diferentes. O resultado nem sempre era satisfatório, tanto pela falta de cuidado de quem gravava as peças nas pranchas que iam à prensa, quanto pela falta ainda maior de paciência do compositor para revisar as provas gráficas de tantas editoras. Beethoven preferia ver suas composições amplamente publicadas e faturar com elas, mesmo que com o eventual desleixo de algumas edições, a perder totalmente o controle sobre elas, uma vez que, após a primeira edição, não havia qualquer maneira de coibir suas cópias não autorizadas.

Outro expediente comum era resgatar peças antigas e populares e reeditá-las com nova roupagem. O desespero levou-o, como já mencionamos noutro ponto dessa série, a resgatar as simplórias “variações Dressler” de seus onze anos e republicá-las com o mínimo de correções, para tentar tirar com elas algumas patacas.  O crescente descuido com suas próprias obras levou, naturalmente, a uma certa desordem no seu catálogo de publicações. Se inicialmente pretendera acrescentar-lhe somente suas obras mais significativas, com o passar do tempo foram-lhe agregando itens que não eram totalmente de sua lavra, e sim arranjos de suas composições que confiava a outros músicos, tomando para si, quando muito somente a tarefa de revisar e autorizar a publicação. Este caso – de um arranjo alheio que acabou incorporado ao seu catálogo de publicações e ganhando um número de Opus – aplica-se tanto à serenata para flauta que publicamos ontem quanto ao noturno que agora apresento aos leitores-ouvintes.

Trata-se, como já mencionamos, de um arranjo feito por terceiros de uma obra antiga – no caso, a serenata para trio de cordas, Op. 8. Ainda assim, esta peça singular é muito querida pelos violistas, estranhamente desprivilegiados por um compositor que teve na viola um ganha-pão – ou que, talvez, tivesse ressalvas quanto ao instrumento, ademais pouquíssimo usado como solista em seu tempo, exatamente pelas más lembranças dos tempos duros em que, órfão de mãe e com o pai crescentemente ensandecido pelo alcoolista, se via obrigado a sustentar a si e aos irmãos menores. Conjecturas à parte, a gravação que lhes trago é uma das mais interessantes que tinha em minha discoteca. Intitulada Beethovens Bratsche (“A Viola de Beethoven”), sua estrela é – sim – a própria, um instrumento que Beethoven ganhou em 1789 para tocar na orquestra do Eleitor de Bonn. Quem o toca é a excelente Tabea Zimmermann,  aqui acompanhada por Hartmut Höll num piano Conrad Graf de 1824, notável pelos cinco pedais, um dos quais aciona os recursos de percussão usados num dos movimentos. Eu adquiri este CD na Beethoven-Haus de Bonn, que foi o local da gravação e é onde a viola se encontra em exibição permanente. E percebam que eu escrevi que eu a tinha em minha discoteca, pois um triste incidente envolvendo animais domésticos danificou irremediavelmente suas faixas restantes – duas estudos para viola de Franz Anton Hoffmeister (1754-1812) e uma sonata para viola e piano de Johann Nepomuk Hummel (1778-1837). Espero que o que restou das dentadas daqueles cães cretinos lhes seja do agrado, e que os bramidos de ódio que eles de mim ouviram não tenham sido em vão.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Noturno em Ré maior para viola e piano, Op. 42
(arranjo de Franz Xaver Kleinheinz para a serenata para violino, viola e violoncelo, Op. 8)

1 – Marcia: Allegro
2 – Adagio
3 – Menuetto: Allegretto
4 – Adagio – Scherzo: Allegro molto – Adagio – Allegro molto – Adagio
5 – Allegretto alla polacca
6 – Andante quasi allegretto
7 – Marcia: Allegro

Tabea Zimmermann, viola
Hartmut Höll, fortepiano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nos. 25 e 27 – Piotr Anderszewski

Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nos. 25 e 27 – Piotr Anderszewski

Mozart

Concertos para Piano Nos. 25 & 27

Piotr Anderszewski

Chamber Orchestra of Europe

 

Ao terminar uma de minhas postagens, mencionei o Mozart para Milhões:

No fim da década de 1970, as lojas de discos vendiam uma série de LPs produzidos pela Polygram, com selo Deutsche Grammophon, e nomes tais como Schubert para Milhões, Mahler para Milhões e, é claro, Mozart para Milhões. Caso houvesse no Spotify e similares playlists como a destes discos, despertaria em muitas pessoas interesse e curiosidade pela chamada música clássica. Veja a lista das mais mais de Mozart:

Lado A: Sinfonia No. 40 (1º Movimento); Concerto ‘Elvira Madigan’ (2º Movimento); Gran Partita (Finale, com membros da Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara, regida pelo Jochum); Ave Verum Corpus; Marcha de As Bodas de Fígaro.

Lado B: Concerto para piano No. 27 (3º Movimento); Pequena Serenata (2º movimento); Marcha Turca (Kempff); Sinfonia No 34 (último movimento); Coro da Flauta Mágica.

Não resisti a esta lista e busquei uma gravação do Concerto para Piano No. 27 na prateleira… E gostei tanto que aqui estamos, mais um Mozart na lista. Eu já postei a Integral dos Concertos interpretados pelo Jenö Jandó, com a colaboração inestimável de Miles Kendig, mas concerto para piano de Mozart nunca é demais. Vejam que há dois deles na lista do Mozart para Milhões.

Piotr Anderszewski gravou três discos (que eu saiba) com concertos de Mozart, este é o último deles. Ele mesmo rege a excelente Chamber Orchestra of Europe, nossa já boa conhecida, e apresenta dois concertos espetaculares: o virtuosístico e autoconfiante Concerto No. 25  e o enigmático Concerto No. 27. Não me estenderei mais sobre estas obras, basta dizer que são excelentes. No entanto, a perspicácia do nosso concertista sobre estas obras é tão forte que decidi tra(duz)ir suas impressões que estão na contracapa do disco:

Eu percebo cada concerto para piano de Mozart como uma obra de câmera. O piano, a orquestra, os individuais instrumentos da orquestra se engajam em um contínuo diálogo. Além disso, eles são escondidas óperas: cada tema, cada motivo reconta a sua história e interagem uns com os outros, com as suas próprias vozes e suas características particulares. Mozart é por excelência o compositor da ambiguidade. Suas páginas mais luminosas podem assim deixar transparecer uma qualquer coisa de sombria. Onde está a luminosidade, onde está a sombra? Algumas vezes eu realmente não sei. E mesmo assim é música de tamanha evidência e limpidez. É um milagre!

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para piano e orquestra No. 25 em dó maior, KV 503

  1. Allegro majestoso
  2. Andante
  3. Allegretto

Concrto para piano e orquestra no. 27 em si bemol maior, KV 595

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegro

Piotr Anderszewski, piano

Chamber Orchestra of Europe

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FLAC | 236 MB

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MP3 | 320 KBPS | 145 MB

As preocupações com as bagagens sempre presente na vida de um viajante…

A lista de Mozart segue… Aproveite!

René Denon

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) – Sonatas for Violin and fortepiano – Amandine Beyer, Edna Stern

Mais um grande CD do selo Alpha, e mais uma performance de gala de Amandine Beyer, uma das maiores violinistas da atualidade e, ao lado de Rachel Podger, com certeza ela é uma das maiores especialistas em violino barroco da atualidade.

“As sonatas para teclado e violino de Carl Philipp Emanuel Bach são impressionantes por sua originalidade e delicadeza. Embora menos conhecidas do que as sonatas para teclado ou fantasias para cravo, elas oferecem o mesmo sabor pungente que tornou o estilo inimitável na emblemática  sensibilidade pré-romântica alemã. Pois é verdade que esses trabalhos imprevisíveis e extravagantes são permeados por extrema sensibilidade. Mas nisso a arte da surpresa não fica sozinha: o outro lado dessas obras-primas discretas deve muito ao racionalismo e à ciência composicional já cultivada pelo pai de Emanuel, Johann Sebastian, que escreveu sonatas nas quais contava o contraponto, a proporção e a harmonia para fornecer uma arquitetura sólida e qualificada. portanto C. P. E. Bach se esforça, com modéstia e paixão, em conciliar liberdade estilística e rigor composicional.”

Amandine Beyer e Edna Stern dão um show de competência e virtuosismo, o que não é nenhuma novidade em se tratando de intérpretes deste nível. Só lamento ter conhecido tão tarde estas obras.

SONATA IN B FLAT MAJOR H513 WQ 77
1 ALLEGRO DI MOLTO 6’42
2 LARGO 4’47
3 PRESTO 4’17

SONATA IN C MINOR H514 WQ 78
4 ALLEGRO MODERATO 7’19
5 ADAGIO MA NON TROPPO 7’25
6 PRESTO 4’43

SONATA IN G MINOR H545
7 ALLEGRO 3’15
8 ADAGIO 3’10
9 ALLEGRO 3’15

SONATA IN B MINOR H512 WQ 76
10 ALLEGRO MODERATO 7’23
11 POCO ANDANTE 5’45
12 ALLEGRETTO SICILIANO

Amandine Beyer – Baroque Violin
Edna Stern – Pianoforte

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Edna Stern – Dando detalhes sobre a parceria com Amandine Beyer na visita à sede do PQPBach

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Serenata para flauta e piano, Op. 41 – Sonata para flauta e piano, Ahn. 4 – Rampal

Esse disco é quase todo composto por obras de associação pelo menos oblíqua com Beethoven. A serenata para flauta e piano, Op. 41, é uma adaptação da obra homônima para flauta, violino e viola, Op. 25. Embora tenha sido aprovado e corrigido pelo compositor, o arranjo foi provavelmente realizado por terceiros e publicado, sem surpresa, pela desesperada necessidade de dinheiro que se seguiu à infernal temporada em Heiligenstadt. A sonata em Si bemol, Anh. 4, foi encontrada em manuscrito de punho alheio entre os papeis do compositor, depois de sua morte. Os flautistas saudaram a descoberta e, renegados que foram pelo compositor, acabaram por incorporá-la a seu repertório. Os estudiosos, entretanto, nunca tiveram muita certeza de sua autenticidade e atribuiram-lhe um lugar pouco honroso no apêndice (Anhang), e não no rol principal do catálogo Kinsky-Halm. Os editores tampouco lhe deram muito crédito, de maneira que a simpática obra só encontrou a prensa em 1906, cento e dez anos depois de sua composição. Os minúsculos Allegro e Minueto para duas flautas, pelo contrário, são indubitavelmente criações de Beethoven, e inclusive carregam uma dedicatória a um seu amigo, J. M. Degenhart, que era flautista amador. E eu adoraria lhes afirmar que o melífluo trio para flautas que encerra o disco é obra autêntica, mas não lhes sei mentir: ela é considerada espúria e foi aqui incluída porque o artista que o estreou foi o mesmo que adquiriu o manuscrito e que aqui está a executá-la para vocês, e não seremos nós a dizer “não” para Jean-Pierre Rampal, né?

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Serenata em Ré maior para flauta e piano, Op. 41
Arranjo da serenata para flauta, viola e violoncelo, Op. 25
Publicada em 1803

1 – Entrata. Allegro
2 – Tempo ordinario d’un Menuetto
3 – Allegro molto
4 – Andante con Variazioni
5 – Allegro, scherzando e vivace
6 – Adagio
7 – Allegro vivace

Jean-Pierre Rampal, flauta
Robert Veyron-Lacroix, piano

Allegro e minueto em Sol maior para duas flautas, WoO 26
Compostos em 1796
Publicados em 1901
Dedicados a J. M. Degenhart

8 – Allegro con brio
9 – Minuetto quasi allegro

Jean-Pierre Rampal e Alain Marion, flautas

Sonata em Si bemol maior para flauta e piano, Anh. 4
Composta provavelmente entre 1796-98
Publicada em 1906

10 – Allegro
11 – Polacca
12 – Largo
13 – Thema mit variationen: Allegretto

Jean-Pierre Rampal, flauta
Robert Veyron-Lacroix, piano

Trio em Sol maior para três flautas (espúrio)

14 – Allegro
15 – Andante
16 – Rondo: allegretto

Jean-Pierre Rampal, Christian Larde e Alain Marion, flautas

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Uma trilha-bônus: Rampal toca o Romance em Fá maior de Beethoven, originalmente para violino e orquestra, num arranjo que jamais ouvira para flauta e piano. A pianista é Annie D’Arco

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Mozart (1756-1791): Serenata No. 10, K. 361 – Gran Partita – Orchestra of The Age of Enlightenment

Mozart (1756-1791): Serenata No. 10, K. 361 – Gran Partita – Orchestra of The Age of Enlightenment

Mozart

Gran Partita

Orchestra of The Age of Enlightenment

Anthony Halstead

 

Há uma cena antológica no filme Amadeus, de Milos Forman, onde acontece o primeiro encontro de Salieri com Wolfgang, a criatura. Nesta cena de menos de dois minutos, Salieri explica a completa, absoluta genialidade de Mozart.

O velho e caquético Salieri conta para o médico que o atende a história e suas reminiscências vão desfilando na tela, criando o contraponto do altivo Salieri (interpretado magistralmente por Murray Abraham) de então com a sombra a que se houvera reduzido.

Salieri adentra um salão onde as pessoas que assistiram a um concerto estão se dispersando. Ele como que casualmente aproxima-se de uma estante na qual se encontra uma partitura com o início do adágio da Gran Partita. Na medida que ele descreve a música, vamos ouvindo-a.

O adágio inicia com uma sequência de quatro notas reunindo o contrabaixo e os dois fagotes e do próximo compasso em diante os segundos oboé, clarinete, corno di basseto e trompas se juntam a eles para criarem uma simples pulsação, quase nada. No terceiro compasso, como se surgisse do nada, um solo do primeiro oboé, pairando sobre esta pulsação – solo este que é entregue ao primeiro clarinete, no meio do próximo compasso – golpe de gênio. Nas palavras do Abraham-Salieri: Não era a composição de um miquinho amestrado. Era uma música como eu nunca houvera ouvido. Cheia de melancolia, melancolia interminável. Me parecia estar ouvindo a voz de Deus.

A música descrita pelo Salieri do filme é o terceiro movimento da Serenata para 13 instrumentos, todos de sopros, a menos de um contrabaixo (que pode ser substituído por um contra fagote). Esta é a música que preenche este despretensioso, mas delicioso disco.

A Criatura…

A também chamada ‘Gran Partita’ é uma das obras primas de Mozart e há miles de gravações disponíveis. Grandes maestros a regeram, excelentes conjuntos a gravaram sem regência, como uma prova de sua expertise. Aqui os membros da excelente e nossa velha conhecida Orchestra of the Age of Enlightenment são dirigidos por um de seus antigos trompistas, Anthony Halstead.

A turma toda…

O curto, mas utilíssimo libreto, cujo pdf se encontra nos arquivos, nos informa que em 1782 o imperador Joseph II fundou a Imperial Harmonie, uma banda de sopros, para tocar as melodias das óperas de maior sucesso e a moda caiu no gosto do povo. Na cena do banquete de Don Giovanni vemos um destes conjuntos em ação, tocando inclusive temas de As Bodas de Fígaro. Mozart adaptou e produziu música para essa formação de oito instrumentos, mas a Gran Partita está acima delas todas e também em número de instrumentos. Tudo indica que ela foi composta para um concerto de Anton Stadler e o maior número de instrumentos busca gerar um efeito de grandeza (que realmente consegue) e contraste. O libreto também traz um guia para o ouvinte descrevendo cada movimento, escrito pelo ótimo Misha Donat.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Serenata em si bemol maior para 13 instrumentos, K 361 ‘Gran Partita’

  1. Largo – Molto alegro
  2. Menuetto
  3. Adagio
  4. Menuetto: Allegretto
  5. Romance: Adagio – Allegretto
  6. Tema com variazioni
  7. Finale: Molto alegro

Membros da Orchestra of The Age of Enlightenment

Anthony Robson e Richard Earle, oboés
Antony Pay e Barnaby Robson, clarinete
Andrew Watts e Jeremy Ward, fagotes
Colin Lawson e Michael Harris, cornos di bassetto
Andrew Clark, Gavin Edwards, Roger Montgomery e Martin Lawrence, trompas
Chi-chi Nwanoku, contrabaixo
Anthony Halstead, regente

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MP3 | 320 KBPS | 115 MB

O pessoal da orquestra passou no barzinho lá perto do PQP Headquarters para uma canja depois da entrevista…

No fim da década de 1970, as lojas de discos vendiam uma série de LPs produzidos pela Polygram, com selo Deutsche Grammophon com nomes como Schubert para Milhões, Mahler para Milhões e, é claro, Mozart para Milhões. Caso houvesse no Spotify e similares playlists como a destes discos, despertaria em muitas pessoas interesse e curiosidade pela chamada música clássica. Veja a lista das mais mais de Mozart:

Lado A: Sinfonia No. 40 (1º Movimento); Concerto ‘Elvira Madigan’ (2º Movimento); Gran Partita (Finale, com membros da Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara, regida pelo Jochum); Ave Verum Corpus; Marcha de As Bodas de Fígaro.

Lado B: Concerto para piano No. 27 (3º Movimento); Pequena Serenata (2º movimento); Marcha Turca (Kempff); Sinfonia No 34 (último movimento); Coro da Flauta Mágica.

Só hits! Quais destes você ouviu recentemente? Nossa Gran Partita está lá. Aproveite!

René Denon

Franz Liszt (1811-1886): Transcrições e peças com o tema B-A-C-H – Leslie John Howard, piano

Este maravilhoso CD que ora compartilho com os amigos do blog traz as transcrições que Liszt fez de algumas das mais sublimes peças de órgão de Bach. Estas transcrições são distintas de suas ‘paráfrases’ (algumas já postadas por AQUI), pois tentam transferir a obra o mais fielmente possível de sua originalidade para o piano. As paráfrases de Liszt são como uma fantasia em constante desenvolvimento, combinação e metamorfose de temas, no caso das paráfrases de ópera, era bem comum o mestre húngaro evocar o virtuosismo. Por outro lado, nas transcrições de Bach, Liszt foi reverente e respeitoso a escrita do mestre alemão adequando a necessidade de incorporar as partes dos pedais à música para piano a duas mãos. Liszt não mostrou nenhuma inclinação para inventar notas e novas sonoridades, manteve-se fiel a escrita. No caso de seus cuidadosos arranjos de sete dos maiores trabalhos de órgão de Bach, deve-se mencionar que Liszt estava na vanguarda do renascimento do estudo sério da reprodução de órgãos polifônicos e do estudo independente da pedaleira, a fim de restaurar o negligenciado Bach para o público. Liszt também publicou uma edição da música de órgão de Bach, na qual ele também adicionou outras duas peças de Bach que transcreveu para o  órgão.

“A la Chapelle Sixtine” é um trabalho muito incomum, inspirado por Liszt ouvindo dois motivos muito diferentes na Capela Sistina: o famoso “Miserere mei Deus” de Gregorio Allegri (1582-1652) e o último trabalho de Mozart desse tipo – o “Ave verum corpus” K618, de 1791. A história da obra de Allegri composta para o coro papal na época de Urbano VIII, conta que a obra não teve permissão para ser publicada e não circulou por séculos. Mozart, de catorze anos, copiou a peça da memória e a levou para o mundo. Embora a peça original seja famosa por seu coro, Liszt concentra-se nas maravilhosas harmonias de seu início e as usa para gerar uma passacaglia cujas variações atingem um clímax tempestuoso antes que a peça de Mozart seja revelada da maneira mais simples. Uma obra linda !

Agora, as obras de órgão de Bach, que apareceram inúmeras vezes aqui no PQP, nos são muito familiares, originalmente datadas da época em que Bach trabalhou em Weimar e Leipzig. Nas suas transcrições, Liszt dobra cuidadosamente a parte do pedal em oitavas, sempre que possível e apropriado, quase nunca alterando a partitura original, além de algumas transposições de oitavas necessárias para permitir que as mãos alcancem todas as vozes.

Ampliar ainda mais a música de J.S.Bach pode parecer um desafio impossível, pois já é perfeito e bonito… mas ao ouvir essas transcrições extraordinárias de F. Liszt, essa impossibilidade se torna uma possibilidade …! Liszt entendeu tão bem o espírito integrando seu gênio, sua ciência e sua técnica, que o que ouvimos há sempre o eco de Bach e incrivelmente soa novamente como um órgão ! Acho todas as transcrições bárbaras, para este simples admirador algumas das obras mais belas que já ouvi na vida são especialmente o “Preludes & Fugues, S 462” (Bach BWV 543, faixa 02 e 03)) e a majestosa “Fantasia & Fugue S 463” (Bach BWV 542, faixa 14 e 15). Reverência total aos dois mestres !!!!!

Leslie Howard in action

Para incrementar mais ainda o post temos o incrível pianista nascido na Austrália, Leslie John Howard (1948). Este artista pesquisou, estudou e gravou tudo o que Liszt escreveu. Estima-se que foram cerca de 14.000 peças para piano! Liszt era f…. e o Leslie que gravou tudo, outro f….dão. Foi um conjunto de caixas contendo 99 discos lançado pela Hyperion Records em 2011 em homenagem ao 200º aniversário do nascimento de Liszt. Ao longo do tempo iremos postando algumas destas preciosidades. O próprio Howard disse que nem todas as obras ele executou “de cabeça”, temos alguns CDs que a interpretação soa pouco fria, mas “katzu”, o cara fez uma pesquisa única, conseguiu reunir as peças que sobreviveram até o nosso século e gravou para nosso deleite incluindo todas as 17 obras para piano e orquestra, merece respeito.

O projeto da Hyperion / Howard foi realizado durante 14 anos, abrange também muitos manuscritos não publicados de Liszt e alguns trabalhos inéditos. O último disco foi gravado em dezembro de 1998 e lançado em outubro de 1999, no aniversário de F. Liszt. Desde a conclusão do projeto, houve dois volumes suplementares, à medida que outros manuscritos de F. Liszt apareceram. Este projeto aclamado pela crítica mereceu a entrada de Leslie Howard no “Guinness Book of World Records”, seis “Grands Prix du Disque”, a “Medalha de Santo Estêvão”, o prêmio “Pro Cultura Hungarica” e um troféu de bronze da mão de Liszt presenteada pelo presidente húngaro.

Este CD é sem dúvida um dos mais bem-sucedidos da série de 99 Cds de Liszt (sim ouvi todos com calma e repetições por quase um ano, amo Liszt) … não apenas pelo seu conteúdo, mas também pela qualidade de sua interpretação …..as críticas e reservas que às vezes se pode emitir à interpretação do Leslie Howard (superficialidade, falta de preparação, impressão de que está lendo a partitura…etc.) está bem longe neste conjunto. Um exemplo é a majestosa “Fantasia & Fugue S 463” (Bach BWV 542), que é sem dúvida uma das obras-primas de Bach, liberdade, modernidade incrível … transcrita por Liszt, respeitando a partitura original, destaca a complexidade contrapontística e a escrita de órgãos (2 mãos + 2 pés …!) ainda permanece legível e claro reduzido a “apenas” 10 dedos ! Não posso esquecer de mencionar de novo a transcrição “A la Chapelle Sixtine”, “Andante” da sexta de Beethoven, as duas versões do  “Praeludium und Fuge uber das Motiv B-a-c-h” são razões mais que suficientes para baixar este CD. São transcrições ótimas, dramáticas e teatrais do mestre  F. Liszt, e Howard toca o seu máximo e com um bom som gravado.

Pessoal, um dos mais belos CDs de piano que tenho. Divirtam-se !

FRANZ LISZT (1811-1886) – Transcrições

01 – A La Chapelle Sixtine,S461-Miserere D’Allegri et Ave veru (1862)
02 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 543 Prelude in Am (1842-1850)
03 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 543 Fugue in Am
04 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 545 Prelude in C
05 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 545 Fugue in C
06 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 546 Prelude in Cm
07 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 546 Fugue in Cm
08 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 547 Prelude in C
09 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 547 Fugue in C
10 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 548 Prelude in Em
11 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 548 Fugue in Em
12 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 544 Prelude in Bm
13 – 6 Preludes & Fugues,S462 =From Bach=BWV 544 Fugue in Bm
14 – Fantasia & Fugue in Gm,S463 =From Bach=BWV 542 Fantasia (1872)
15 – Fantasia & Fugue in Gm,S463 =From Bach=BWV 542 Fugue (1872)
16 – Symphony No.6,S464-6-Szene am Bach-Andante molto moto
17 – Orgel-Fantasie und Fuge in Gm[Bach],S463i-Fantasy[1st ver
18 – Orgel-Fantasie und Fuge in Gm[Bach],S463i-Fugue[1st ver]
19 – Praeludium und Fuge uber das Motiv B-a-c-h,S529i[1st ver]
20 – Fantasie und Fuge,S529-On the Theme of B-A-C-H
21 – Variationen Uber Das Motiv Von Bach,S180

LESLIE HOWARD piano
Gravações de março a outubro de 1990

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Leslie Howard, dando aquele sorriso para as objetivas do PQPBach !

Ammiratore

Franz Danzi (1763-1826) – Concertos para fagote e orquestra – Gower – Holder

Estes quase cinco anos em que infesto este blog podem condensar-se em pouco mais de um. Foram, enfim, seis meses de contribuições diárias logo após minha estreia, e outros tantos desde que voltei. No entremeio desses dois surtos de produção, como se fossem eles Olimpíadas, houve quatro anos de silêncio dedicados ao que costumo chamar de uma temporada no Hades, até porque, dentro do que isso pode significar para alguém a cuja vida nada falta de essencial, eles assim me foram, mesmo.

Seria muito fácil jogar esse silêncio todo na conta daquilo que convencionamos chamar CORRERIA. Não considero justo, no entanto, atribuir a meu esmigalhante ganha-pão a total responsabilidade pelo meu sumiço. Por vários motivos, adotei prioridades que me fizeram distanciar e mesmo, vejam só, prescindir da música – uma estultice tão grande que dá às senhoras e aos senhores uma medida das escolhas de jerico que fiz na vida. E assim, sem muito ouvi-la, não me sentia instigado a escrever sobre ela e, por não escrever, perdi completamente o cacoete de fazê-lo. E assim, cada vez que ensaiava um retorno, o monstro do far niente percebia minha hesitação e me atirava novamente à torrente.

Ao regressar, há alguns meses, eu o fiz pela gentil insistência dos colegas e, ao atirar-me novamente nos braços da Música e voltar escrever para o PQP Bach, percebi que toda minha motivação para dedicar tanto tempo e muito de meus fosfatos a este espaço resumia-se àquela tríade tão essencial à vida: explorar, aprender e compartir.

E é por conta do compartir que eu, nada afeito a expor coisas de minha ademais desinteressante vida, lhes trago todas essas considerações. Tenho ciência de que não escrevo para deixar mementos para mim mesmo, ou para uma posteridade que sequer tenho ideia se vai sobreviver à distopia corrente. Escrevo, sim, para uma imensa massa de nomes que desconheço, oferecendo-lhe que considero digno de compartir, tanto em texto quanto, sempre o mais importante, no que a música tem de mais intangível, e que palavra alguma conseguiria expressar.

Não espero, ao contrário do que vós outros poderiam imaginar, qualquer retribuição. Exceto por alguns habitués que muito nos honram com seus comentários, eu morreria seco se esperasse por ela. A justificativa para as publicações já se consuma quando elas entram no ar, e muito pouco do que vem depois – e, novamente, com as notáveis exceções que já mencionei – costuma mudar suas razões de ser.

Dito isso, confesso – e falo aqui só por mim, e não pelos meus colegas – meu fastio crescente para com alguns tipos, especialmente aqueles que desprezam o que aqui despendemos na curadoria e na construção dum acervo musical significativo e que, sem qualquer moção ao nosso empenho cotidiano em trazer coisas novas ao blog, preferem apontar nossas omissões e pedir-nos mais e mais coisas, de maneira pervasiva e descortês, como se disc jockeys fôssemos, à mercê de suas obsessões particulares, ou guardiões duma cornucópia musical que nada mais tivessem a fazer.

Não estou aqui para servir esses chupins. Paguem-me alguns boletos e, daí, talvez possamos conversar. Até lá, preferirei que infestem outros ninhos.

E o que isso tem a ver com Franz Danzi?

Nada, claro.

Franz Danzi tem a ver com as exceções:

Uma delas foi o João Ferreira, que dia desses nos escreveu, com a cortesia e educação que chupim algum sonha em ter:

“Bom dia,
Seria possível, para amenizar minha quarentena – estou no grupo de risco -, os Srs conseguirem
os Concertos para Fagote e Orquestra, de Franz Danzi?
Agradecimentos de um resignado confinado,
Sds”

É claro que sim, João. Aqui estão não só um, mas dois discos com os concertos para fagote de Danzi.

Que a quarentena lhe seja leve, que você se cuide, e que aqueles que restarem dessa triste espécie possam ser melhores no afã de explorar, aprender e compartir.

Franz Ignaz DANZI (1763-1826)

1 – Abertura em Mi maior

Kölner Akademie
Michael Alexander Willens, regência

Concerto em Sol menor para fagote e orquestra

2 – Allegro maestoso
3 – Andante
4 – Polacca – Allegretto

Concerto em Dó maior para fagote e orquestra

5 – Allegro non troppo
6 – Andante
7 – Rondo – Allegretto

Concerto em Fá maior para fagote e orquestra

8 – Allegro
9  – Andante
10 – Polacca

Jane Gower, fagote
Kölner Akademie
Michael Alexander Willens, regência

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Concerto em Sol menor para fagote e orquestra

1 – Allegro maestoso
2 – Andante
3 – Polacca – Allegretto


Concerto em Fá maior para fagote e orquestra

4 – Allegro
5 – Andantino
6 – Allegretto non troppo

Concerto em Dó maior para fagote e orquestra

7 – Allegro non troppo
8 – Andante
9 – Rondo – Allegretto

Concerto em Fá maior para fagote e orquestra

10 – Allegro
11  – Andante
12 – Polacca

Albrecht Holder, fagote
Neubrandenburger Philharmonie
Nicolás Pasquet,
regência

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Franz Danzi (1763-1826)
Um filhote de Molothrus boniarensis

Vassily

Schubert (1797-1828): Sonatas para Piano D. 537 & D. 664– Alfred Brendel

Schubert (1797-1828): Sonatas para Piano D. 537 & D. 664– Alfred Brendel

Schubert

Sonatas para Piano D 664 & D 537

Alfred Brendel

 

Alfred Brendel é um pianista (agora aposentado das gravações e concertos) especialista em Beethoven, Schubert e Liszt, entre alguns outros compositores. Sua gravação dos Concertos para Piano de Mozart, com a Academy of St. Martin-in-the-Fields, regida por Neville Marriner, é uma referência para este repertório e com o devido mérito.

Eu ouvi muitas vezes um de seus discos tocando Schubert, da Coleção Silver Line Classics, com a Fantasia Wanderer e a Grande Sonata D. 960. Mas o que me chamava a atenção para seus discos era algo do visual. Os retratos com sua proeminente e enrugada testa, os óculos de míope com aros escuros e pesados e um eventual sorriso torto. Mas havia ainda umas estranhas máscaras, que em minha crassa ignorância acreditava serem vagamente ‘africanas’. Assim, quando este disco apareceu eu tratei de investiga-lo com mais atenção. A máscara é arte primitiva de Nova Guiné e o interesse por esse objeto revela como é abrangente o interesse de Brendel por arte. Ele escreveu sobre arte Dada, sobre poesia e muito sobre música.

Neste disco adorável ele apresenta duas sonatas de juventude de Schubert, mas que revelam já o excelente compositor. Eu gosto demais destas duas sonatas. O livreto que acompanha os arquivos conta que estas sonatas são a primeira e a última das sonatas de juventude e que foram completadas. Isto por que Schubert era ousado e aventureiro nestas suas descobertas de composição.

A Sonata em lá maior, D. 664, já está a meio caminho do modelo das sonatas de Mozart e do próprio estilo que Schubert desenvolveria depois – do ‘comprimento celeste’. O Andante da Sonata em lá menor, D, 534, reaparece como o movimento final da Sonata em lá maior, D. 959, Rondo – Allegretto. Quem nos diz isto tudo é o próprio Brendel, que escreveu os comentários do libreto. Ele menciona uma observação de Schnabel dizendo que Schubert, além de lírico e melodioso, é capaz de produzir drama. Schnabel e Kempff que eram modelos de pianistas para Alfred Brendel. Você tem aqui a oportunidade de comparar a interpretação destas sonatas por Brendel com as deixadas pelo grande Wilhelm Kempff, uma vez que Ammiratore postou as gravações feitas por Kempff.

Franz Schubert (1797 – 18282)

Sonata para piano em lá maior, D. 664

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Allegro

Sonata para piano em lá menor, D. 537

  1. Allegro, ma non tropo
  2. Allegretto quasi andantino
  3. Allegro vivace

Alfred Brendel, piano

Gravado em Londres, 1982

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FLAC | 161 MB

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MP3 | 320 KBPS | 135 MB

Não se impressione com as máscaras e baixe o disco. Aproveite que é ‘papa-fina’!!

René Denon

Richard Wagner (1813-1883) – Tannhäuser – Georg Solti / Franz Konwitschny

Chegou a hora de trazermos para os senhores a monumental “Tannhäuser”, a obra prima de Richard Wagner (1813-1883), provavelmente a ópera mais famosa do compositor, ou pelo menos, que tem a mais famosa das aberturas e, claro, o Coro dos Peregrinos. Ouvi a abertura pela primeira vez ainda adolescente e fiquei totalmente absorvido pela música. Só anos depois tive acesso a obra completa, com o libreto e tudo.

Como já é tradição nas postagens de Wagner vamos contar um pouco de historinha…. Nos difíceis dois anos em que Richard Wagner viveu em Paris, basicamente voltando seu talento para o ensino, arranjos e composições de “post-pourris”, e enquanto esperava pelas oportunidades que nunca viriam na capital francesa, ele teve acesso a muita literatura e dois trabalhos lhe chamaram a atenção: o poema “Der getreue Eckart und der Tannhäuser” de Ludwig Tieck (1773-1853) que lhe causara boa impressão assim como a leitura do conto de E. T. Hoffmann (1776-1822) “O Torneio dos Cantores” que descreve um concurso de canções no castelo de Wartburg, com relato das atividades libidinosas de Tannhäuser, no Venusberg (o monte Hörselberg, na Turíngia), sua peregrinação a Roma, com vistas a obter o perdão do Papa, a fim de poder ser digno de corresponder à paixão da sobrinha do Landgrave, princesa Elisabeth, virgem e de coração puro. Pronto, uma idéia de ópera lhe ocorrera. Enredão! Porém em Paris as coisas não vão bem e Richard resolve partir. Então no início da primavera de 1842, a diligência do jovem casal Wilhelm e Minna atravessa a planície da Turíngia, rumo a uma vida melhor em Dresden, Paris a muitos quilômetros atrás não deixou saudades.

Wartburg Castle

Pela janela da diligência, Wagner vê a colina sobre a qual se ergue o Castelo de Wartburg, a idéia, ainda adormecida, dos contos lidos em Paris desperta e ele teve aquele momento de inspiração para compor Tannhäuser. Em sua autobiografia, Wagner diria que, naquele trecho da viagem, pode visualizar a ação do drama. Foi quando delineou as primeiras linhas dos temas musicais, após ser levado pela sorte sobre sucessivos sons que lhe inspiram a volta do caminho da pátria. Ele se imagina no meio de peregrinos, no desfiladeiro, diante do som de gaita pastoril abaixo no vale. Assim, se vê na segunda cena em que Tannhäuser descortina a procissão dos peregrinos carregando uma pesada cruz em marcha para Roma. Reteria na memória cada detalhe da paisagem para orientar, anos depois, já em Dresden, os preparativos da primeira representação do seu segundo “drama musical”, música e versos fundindo-se numa unidade. O libreto foi concluído em maio de 1843, passando a ocupar-se da composição até meados de 1844.

Wagner conseguiu nesta nova obra que a realidade e a ficção fossem fundidas como num belo aço de padrão Damasco, dificilmente notamos os traços da misteriosa e bela lenda de Tannhäuser e em que ponto começava ou terminava o registro dos fatos históricos. De fato, sabe-se que em princípios do século XIII, o príncepe Hermann, da Turíngia, costumava organizar torneios poéticos no Castelo de Wartburg, com a participação de célebres cavalheiros menestréis da época, como Henrich von Ofterdingen, que Wagner fundiu para criar a personalidade do herói Tannhäuser.

Um causo curioso: Wagner estava orquestrando a sua nova ópera então batizada como “Der Venusberg” (Monte de Vênus), todavia amigos em Dresden o convenceram a desistir desse nome por ser um termo familiar para designar, digamos, uma parte íntima da anatomia feminina; assim, sua ópera poderia ser ridicularizada (que dúvida!). Por essa razão ele a rebatizou de Tannhäuser que completou em abril de 1845.

Wilhelmine Schröder

Em 19 de outubro, sob a regência do compositor a ópera foi estreada. Não foi uma noite muito feliz, o cenário não estava completo (muitas partes não ficaram prontas a tempo), foi o primeiro motivo para o povão não ficar feliz. A segunda razão era que para o público da época o fato de um músico se fazer de filósofo, e de tendências pessimistas, era chocante; a música deveria servir para alegrar e distrair e não obrigar a pensar; as pessoas pediam danças e árias mas Wagner lhes oferecia ação e drama. O papel principal foi atribuído a Joseph Tichatschek, um leal amigo, de uma magnífica voz, todavia, como ator, medíocre e ultrapassado para os seus desígnios. Era capaz unicamente de decorar os recitativos e a fonética. A prima do compositor, Johanna, interpretou Elisabeth. Vênus ficou a cargo de Wilhelmine Schöder, a grande soprano alemã da época. Com alguma razão, Wagner atribuiu aos cantores parte da responsabilidade pelo êxito restrito de Tannhäuser. Após a primeira apresentação, fez-se um intervalo de uma semana para que o tenor se recuperasse de forte rouquidão. Wagner aproveitou esta semana para fazer cortes e adaptações para a segunda representação que já contava com os novos cenários. Ao todo foram sete apresentações, sem alcançar pleno êxito nem cair no fracasso.

Poster da premiere – Paris-1861

Wagner fez uma grande revisão na ópera, em 1861, depois que Napoleão III lhe encomendou uma produção do Tannhäuser para a Ópera de Paris. A obra deveria ser cantada em francês e possuir um ballet com grande destaque. Era costume na ópera parisiense incluir um bailado no segundo ato de qualquer ópera ali encenada. E por um motivo prático. Em geral, a hora do início dos espetáculos coincidia com o horário de jantar de boa parte dos frequentadores e como estes acabassem por comparecer somente no segundo ato os compositores incluíam propositadamente o momento mais apreciado pelos franceses, o bailado (em outros textos escrevemos que antigamente era um entra e sai danado nas apresentações de óperas, não era nem de longe como hoje, todo mundo quietinho). Wagner claro que resistiu pois não concordava em satisfazer retardatários com mania por ballet, mas como geralmente esse pessoal era o da grana ele acabou concordando, mas do jeito dele. E agradando a direção da Ópera, criou um bailado no começo do primeiro ato não no segundo. O ballet é frenético, com um Bacanal em Venusberg, tornando a abertura mais longa. Assim a nova abertura ficou pronta fazendo com que a “overture” original se interrompesse com os primeiros compassos do tema do “Venusberg”: nesse momento abrem-se as cortinas para a apresentação do bailado. Nessa versão, as direções cênicas orientavam para uma gruta com náiades se banhando, sereias reclinadas e ninfas dançando. Vênus aparece recostada num divã, sob uma luz rósea, tendo a seus pés Tannhäuser, com a cabeça em seu colo e apoiado sobre um joelho, a nova música para as danças eróticas no Venusberg correspondiam ao espírito sedutor, típico de Wagner, e sua localização com a abertura teve um efeito dramático que ultrapassava de longe o que Wagner tinha escrito originalmente. Por isso, criou diferenças na partitura que passou a ser duplamente considerada: a versão de Dresden e a versão de Paris.

Após Tannhäuser, Wagner consolidou seu prestígio e posição profissional. Os anos difíceis em Paris estavam sepultados, assim como o princípio igualmente árduo de sua carreira.

O Enredo (baseado no livro “Outras Óperas Famosas” – Milton Cross)
Na base desta grande ópera de uma lenda medieval alemã vamos encontrar uma parte de história, outra parte de mitologia, e uma terceira parte da própria e rica imaginação de Wagner. A ação tem lugar na Turíngia, Alemanha, no início do século XIII, onde se localiza o poderoso castelo de Wartburg. Próximo do castelo há um sítio escondido, conhecido como Horselberg ou Venusberg (Gruta de Vênus), de acordo com a lenda era debaixo desta montanha que a deusa Vênus tinha sua morada. O próprio Wagner visitou o castelo e tirou a história das antigas tradições centralizadas em torno daquela pitoresca e antiga construção, onde, seis séculos antes, os cavalheiros menestréis, ou minnesingers, se reuniam em seu grande salão para torneios de canções.

A ópera se desenvolve em torno de um desses legendários cavalheiros menestréis, o apaixonado e brigão Tannhäuser. Buscando refúgio dos tormentos do mundo, Tannhäuser deixou sua existência terrena para viver sob o mágico encanto de Vênus, a deusa do amor. Quando a ópera começa, Tannhäuser está com Vênus há um ano e um dia.

Essa história do amor sagrado e do amor profano ofereceu a Wagner excelentes oportunidades para as cenas coloridas, rica música e flagrantes contrastes, como, por exemplo, entre o sedutor encanto de Vênus e seu reino fantástico, e a nobreza simples da fervente multidão de peregrinos, que caminham conosco durante toda a ópera.

A ópera começa com a sua conhecida abertura, aparece o tema “dos peregrinos”, à medida que cresce a sensual melodia da “Música de Venusberg” a cortina se abre para a cena inicial que decorre na misteriosa e fantástica gruta no interior de Venusberg, onde a deusa tem sua corte, e mantém aprisionadas as almas dos homens.

Ato 01
Cena 01

A gruta de Vênus. Quando a cortina se abre, revela uma sedutora cena. No ponto visível mais distante, de uma caverna aparentemente sem fim, vê-se um lago azulado, no qual estão nadando náiades, enquanto sereias reclinam-se nas suas margens. No centro, grupos de ninfas dançantes. Reclinados em montículos nas margens estão casais, alguns dos quais se unem às danças das ninfas no coro da cena. Em primeiro plano, Vênus está deitada em um sofá, cercada pelas Três Graças. Ajoelhado diante dela está Tannhäuser. A caverna é iluminada por uma estranha luz rósea.

Várias bacantes irrompem do fundo da gruta em uma tumultuosa dança. Passam selvagemente através de grupos de ninfas e casais, incitando-os a uma frenética e voluptuosa “Bacanal”. Os dançarinos de súbito fazem uma pausa, e passam a escutar o belo canto do “Coro das Sereias”, e depois voltam a danças, atingindo uma selvagem excitação na famosa “Música de Venusberg”.

Quando o frenesi está no auge, um súbito cansaço acomete os dançarinos. Os pares se separam, e permanecem perto da entrada da caverna. As bacantes desaparecem à medida que uma névoa se forma e se espalha com crescente densidade, envolvendo gradualmente os adormecidos. Apenas um pequeno espaço no primeiro plano permanece visível, onde Vênus, Tannhäuser e as Três Graças são vistos. As Três Graças realizam sua dança interpretativa das histórias de Europa e do Touro Branco, e de Leda e do Cine, enquanto aquelas cenas são vislumbradas ao fundo. Depois, elas saem, deixando apenas Vênus e Tannhäuser.

De repente, Tannhäuser ergue a cabeça, como se estivesse acordado de um sonho. Vênus o empurra para trás, acariciando-o. Ela pergunta ao cavalheiro o que o está perturbando, e ele responde que estava sonhando com a vida que levava na Terra. Por insistência dela, Tannhäuser pega da harpa, e canta apaixonadamente seu “Hino de Vênus”. Mas ele canta também que está cansado da vida sensual que está levando, e afinal clama por se libertar de encanto dela, de modo que possa voltar para a Terra, onde há um misto de dor e prazer. Irritada porque seu amor está sendo desprezado, Vênus exclama que ele não partirá. Tannhäuser insiste em que o destino impele sua escolha.

Vênus, com um grito, volta-se para ele, com o rosto entre as mãos. Procura gradualmente vencer as defesas de Tannhäuser mais uma vez, e volta-se para ele com um sorriso sedutor, cantando “Amado, vem!”. As sereias são ouvidas de novo, cantando suavemente à distância. Vênus usa de seus poderes de sedução tentando enfeitiça-lo sem parar. Com grande emoção, ele toma novamente sua harpa, e mais uma vez repete seus pedidos para ser libertado dali. Em seguida, Vênus, em grande fúria, o ameaça. Diz-lhe que será rejeitado na Terra, um proscrito, e que seu deus cristão nunca o perdoará. Tannhäuser responde simplesmente que coloca sua fé na Virgem Maria.

TannhäuserMeu orgulho me convida ao combate, eu não buscarei de novo a voluptuosidade nem o prazer. Ah, se pudesses me compreender, deusa! A morte é a minha única busca! É na verdade a morte que me dá pressa de ir!
VenusSe a morte fugir de ti, se a própria sepultura se recusar receber-te, então retomarás para junto de mim.
TannhäuserMinha morte e minha sepultura eu já as trago aqui no coração; só pelo arrependimento e pela penitência é que poderei encontrar repouso!
VenusNunca terás descanso, Nunca encontrarás a paz! Retorna para mim se qualquer dia buscares a tua salvação!
TannhäuserDeusa de todas as delícias e do prazer, não! Ah, não será em ti que a minha alma encontrará a paz nem o repouso! Minha salvação está somente em Maria!

À menção do nome da Virgem, quebra-se o feitiço. Com um grito, Vênus desaparece. Há um barulho de alguma coisa se partindo, e uma completa escuridão quando a cena muda.

Cena 02
Um vale perto de Wartburg. Tannhäuser, de repente, se vê no meio de um vale tranquilo, o Sol brilhando, e o céu azul acima. Sua vida em Venusberg acabou. Ao fundo, aparece o poderoso Wartburg, com um caminho pela montanha levando até ele. No primeiro plano, um oratório da Virgem. De um monte próximo vem o tilintar de sinos de ovelhas. Sentado num rochedo, um jovem pastor toca sua flauta. Ele canta uma melodia pastoral folclórica para Holda, deusa da primavera.

O PastorSenhora Holda, venha para fora da montanha, para passear pelos campos e prados, e ouvir os doces sons perceptíveis aos meus ouvidos e que meus olhos desejam espiar; aqui eu sonhei alguns maravilhosos sonhos, e mal eu abri os olhos lá brilhava o ardente sol, o mês de maio estava chegando. Agora eu toco alegremente o meu pífaro: maio está aí, o adorável maio.

Vários peregrinos passam à distância na sua jornada para Roma, e entoam o “Coro dos Peregrinos” à medida que eles seguem seu caminho na direção da montanha. O pastor, ouvindo o canto deles, para de tocar a flauta ouvindo reverentemente. Balançando seu boné, ele pede que rezem por ele quando chegarem a Roma.

Canto dos Mais Velhos Peregrinos – Para ti eu marcho, meu Jesus Cristo, pois és a esperança dos peregrinos! Louvada sejas, ó virgem doce e pura, à nossa peregrinação digna-te lançar tua bênção! O duro fardo dos meus pecados eu já não posso suportar, antes cuidados e aflições do que repouso e bem-estar. Bendito aquele que, fiel à graça, na santa festa da indulgência, encontra enfim o seu perdão, por contrição e penitência. O Pastor – Feliz viagem! Boa viagem a Roma! Rezai pela minha pobre alma!

Durante todo este tempo, Tannhäuser manteve-se parado, como enfeitiçado, embevecido com a beleza da cena. Profundamente comovido, ele cai de joelhos em oração quando a processão passa pelo escrínio da Virgem, e desaparece no caminho da montanha. O pastor também segue seu caminho, e os sinos das ovelhas são ouvidos cada vez mais fracos à distância. Tannhäuser permanece ajoelhado, absorto em prece fervorosa. As lágrimas embargam-lhe a voz. Curva a cabeça até o chão, e parece chorar amargamente. Ouvem-se sinos distantes quando o canto dos peregrinos morre ao longe.

Depois, vem o som de trompas de caça, aproximando-se cada vez mais. Surge um grupo de homens em trajes de caça. Trata-se de Hermann, o Landgrave, com sua comitiva. No grupo está Wolfram, que reconhece seu velho amigo Tannhäuser. Atônito ele se ergue rapidamente, e faz uma reverência silenciosa ao Landgrave, que saúda seu favorito há tanto tempo desaparecido. Tannhäuser responde às suas perguntas com evasivas, e diz que estava viajando por terras estranhas. Tenta se esquivar deles, dizendo que foi condenado a vaguear sozinho, mas ele pedem para que ele fique por ali. Quando Wolfram menciona o nome da encantadora Princesa Elisabeth, Tannhäuser para, embevecido. Wolfram diz que Elisabeth tem sofrido por causa dele, saudosa de suas canções, desde que ele deixou Wartburg, e não entrou no recinto dos menestréis durante sua ausência. Ele apela para que Tannhäuser volte. A música deste apelo é especialmente expressiva, enquanto os outros também fazem coro aos pedidos de Wolfram. Tannhäuser está profundamente comovido. Ele se joga nos braços de Wolfram, agradece depois aos menestréis, faz uma reverência ao Lendgrave, confessando sua alegria em se reunir a seus velhos companheiros. Outros membros da comitiva do Landgrave aparecem na cena. Os caçadores tocam suas trompas. Depois, Tannhäuser alegremente se une a eles, cantando em coro.

O LandgrafÓ retoma para nós valoroso menestrel! Dá trégua aos conflitos e às disputas!
Tannhäuser – Para junto dela! Para junto dela! Oh, conduzi-me perante ela! Ah, agora eu reconheço novamente o esplêndido mundo do qual eu estive separado! O céu se debruça sobre mim, os prados resplandecem nos seus mais belos adornos. A primavera, jubilante, entrou na minha alma, acompanhada de mil canções arrebatadoras; na suavidade, na urgente avidez, meu coração chora e clama em voz alta, “A ela!” “A ela!” Conduzi-me perante ela!
O Landgraf, os Menestréis – Ele que esteve perdido retornou! Um milagre o trouxe de volta! Bendito seja o doce poder, que baniu do seu coração o orgulho! Que tenha novamente a Adorada seus ouvidos ligados aos nossos hinos, exaltando a sua nobreza! E que estes aqui, plenos de um novo ardor, jorrem alegria de suas gargantas e almas!

Ato 02
O Salão dos Menestréis no Wartburg. Através da espaçosa abertura ao fundo vemos um panorama do pátio e do vale abaixo. Entra Elisabeth, e apaixonadamente louva o salão, que será novamente alegrado com a voz de Tannhäuser, que tanto o glorificou, e diz sua alegria na área: “Querido salão, eu te saúdo de novo, com alegria, de todo o meu coração eu te saúdo, adorável lugar! Em ti as canções dele nasceram e me despertaram das sombras. Desde que ele partiu tu me pareces vazio! A paz me abandonou, e a alegria desapareceu de ti! Como agora meu coração se exalta e tu transpareces, outra vez, imponente, nobre e receptivo! Aquele que dá vida a ti e a mim não está mais distante! Eu te saúdo! Eu te saúdo! A ti amado salão, eu te saúdo!”

Quando Elisabeth termina, Tannhäuser é conduzido por Wolfram pelo fundo da cena, e entram no salão. Por alguns momentos ele se encosta num pilar, e depois se arroja aos pés de Elisabeth. Em tímida confusão, a jovem pede que ele se levante, dizendo que aquele lugar é de domínio dele, que ele conquistou com suas canções. Gentilmente, Elisabeth porgunta aonde esteve. Erguendo-se lentamente, Tannhäuser diz que um véu caiu para sempre entre ontem e hoje, pois os céus operaram uma mudança no seu espírito. “Esse milagre eu louvo do fundo do meu coração”, diz Elisabeth. Tannhäuser e ela se unem em um fervente dueto:

TannhäuserDeves exaltar o deus do amor, que me tocou! É ele que inspirava meus versos; é ele que te falava através dos meus cantos; é ele que me reconduziu até aqui perante ti!
Elisabeth / TannhäuserBendito seja este instante, abençoada seja a força que pela tua presença me mostrou um tão doce segredo!
TanhnhäuserA esta nova vida encontrada possa eu, agora, ser devotado inteiramente; tremendo de alegria, eu chamo esse milagre de o mais belo!
ElisabethAureolado de um esplendor radiante, um sol refulgente sorri para mim; despertada para uma nova vida, eu chamo enfim a alegria de minha companheira!

Wolfram permaneceu ao fundo. Verifica agora que se desvaneceram suas esperanças com Elisabeth. Sua grave e digna confissão forma um contraste com o enlevo de Tannhäuser e Elisabeth.

Quando Tannhäuser e Wolfram saem, o Landgrave faz seu aparecimento, saudando Elisabeth por vê-la naquele lugar, onde há muito não entrava, e proclamando-a a rainha do festival de canção. Diz-lhe que todos os nobres estarão ali, porque, mais uma vez, o vencedor receberá o laurel das mãos dela.

A Corte se reúne agora com muita pompa. Quatro pajens anunciam a chegada dos vários grupos de convidados. Os cavalheiros, nobres, damas, e damas de companhia entram e são recebidos pelo Landgrave e por Elisabeth. Esta cerimônia é uma cena muito inspirada, e a “marcha de Tannhäuser” atinge um magnífico clímax. O coro dos cavalheiros e dos nobres se une ao coro das damas.

Cavaleiros e Nobres DamasCheios de alegria saudamos o nobre Salão, onde de todos os tempos a arte e a paz sempre e somente moram; que por longos tempos ainda a fama ressoa: glória ao Landgraf Hermann, o príncipe da Turíngia. Glória! Glória! Ao Príncipe da Turíngia! Ao protetor da mais graciosa das artes. Glória! Glória! Glória!

Os nobres e as damas tomam seus lugares de um lado do grande salão para a competição de canção, e o Landgrave e Elisabeth ocupam os dois lugares de honra.

Entram agora os menestréis, saudando a assembleia de maneira pomposa, e tomam seus lugares no lado oposto do salão. O Landgrave se levanta, e anuncia que o Amor será o tema do concurso de canção, e que a própria mão de Elisabeth premiará o vencedor.

Começa a competição. OS quatro pajens recolhem de cada cantor um rolinho de papel contendo seu nome. Os rolos são colocados em uma taça de ouro, que é apresentada a Elisabeth. Ela escolhe um dos papéis, entrega-o aos pajens, que, em quarteto, anunciam o nome. Wolfram foi o primeiro sorteado. Ele canta com poder e eloquência seu “Elogio do Amor”. É uma canção de plácido amor por Elisabeth, onde diz que a adora à distância. É muito aplaudido pelos menestréis e nobres.

Wolfram Eu direciono minha vista para esta nobre assembleia, o meu coração palpita e se inflama com tão augusta visão! Vejo aqui heróis, alemães, valentes e sábios, altivos, imponentes como carvalhos, de vivo e verde vigor; e vejo damas belas e virtuosas, com diademas perfumados com finas e amáveis flores. Eu sinto que meu olhar se enleva com essa visão, meu canto é silenciado ante semelhante encanto e esplendor. Então eu elevo meu olhar até uma única estrela, lá no alto dos céus, onde brilha para mim: meu espírito é confortado pela radiante distância e minha alma se prostra e se submerge em piedosa prece. E, vede, eu contemplo uma fonte de delícias, à qual meu espírito se transporta no mais elevado êxtase, e ao seu manancial ele retira as delícias da mais santa indulgência, bálsamo indizível com o qual refresco o meu coração. E nunca mais eu quero profanar essa fonte, ou turvar suas águas com pensamentos impuros: em devoção a ela eu a mim me sacrificaria e com prazer derramaria até a última gota do meu coração! A vós, nobres, desejo expressar nessas palavras como a mim me parece ser a pura essência do amor.

Durante a canção de Wolfram, a atitude de Tannhäuser é de impaciência e desdém. Subitamente, sua expressão se transforma em estranha alegria. Ele se ergue como se estivesse sonhando. Tange as cordas da sua harpa, e um sorriso sinistro indica que uma estranha emoção tomou conta dele. Depois, toca a harpa com fúria, todo o seu ser demosntrando que está fora de si. Parece até ignorar Elisabeth quando irrompe em uma canção de paixão sensual: “Oh, Wolfram, se é este o teu canto, desfiguraste mui claramente o amor! Se tu o limitas a mórbidos suspiros, com certeza o mundo inteiro logo se esgotaria. Para glorificar a Deus, nas sublimes alturas celestiais, levemos os olhos para os céus, contemplemos as estrelas: a adoração convém a tais maravilhas porque elas são inacessíveis! Mas aquilo que se abre ao nosso afago, que se deleita perto de nosso coração e de nossos sentidos, o que foi criado como matéria e se curva para nós como suave carne, corajosamente devemos beber da fonte do prazer: o manancial de delícias, ao qual não se deve ter medo de misturar-se; eu de um salto junto-me a fonte tão inesgotável com meu inexaurível desejo. Tu, que jamais escorregaste para a fraqueza, fica ciente de que a fonte jamais se esgota, por isso meu desejo é sempre apetecível. Assim, ansioso por um eterno desejo, eu descubro nessa fonte eterno reconforto. Aprende bem, Wolfram, tal é para mim a mais autêntica essência do amor!”

Há uma consternação geral entre os presentes. A casta Elisabeth fica perplexa ante o conflito de emoções de amor e ansiosa surpresa. Biterolf, um cavalheiro arrojado, ergue-se rapidamente, e reprime Tannhäuser, mas este, com veemência sempre crescente, pergunta a Biterolf o que ele sabe a respeito de tal prazer, e reitera seu ponto de vista acerca do amor. Os nobres, agora em grande excitação, acreditam que ele ficou louco, Biterolf saca da espada. O Landgrave, entretanto, pede ordem.

Wolfram tenta acalmar o crescente nervosismo com um segundo elogio ao amor. Tannhäuser, completamente fora de si, lança-se agora num “Hino a Vênus”, gritando que somente ele, entre todos os tolos mortais, provou a plenitude do amor, e que somente Vênus pode ensinar a respeito do amor. Há uma desordem geral, e horror, pois agora ficam sabemdo que Tannhäuser visitou Venusberg.

WolframO céu, deixa-me agora implorar-te! Dá a minha canção a consagração do prêmio! Deixa-me ver banido o pecado desta nobre e pura assembleia! Deixa minha canção ressoar. A ti, sublime amor, celebro a minha canção, que penetrou em mim com beleza angelical e profundamente com ímpeto na alma! Tu vens de Deus, és seu enviado, reverente eu te sou na distância: assim, guia-me pela terra, onde para sempre brilha a tua estrela!
Tannhäuser – Para ti, deusa do amor faz ressoar minha canção, bem alto, deixa-me agora cantar em teu louvor! Teu doce encanto e charme é a fonte de toda beleza! E cada terno prodígio provém de ti! Somente quem se estreitou nos teus ardentes braços conhece o que é o amor – somente ele pode sabê-lo. Tristes e necessitados, que ignoreis como ela ama, ide, ide à montanha de Venus!

Todos os OutrosAh! O infame! Fugitivo!
O que ouvistes! Ele esteve no Venusberg!
As Nobres DamasFora! Fora! Fora de sua presença!

As damas deixam o salão em grande confusão. Elisabeth, pálida e trêmula, é a única a permanecer. O Landgrave, os cavalheiros e os menestréis levantam-se e se reúnem. Tannhäuser permanece de pé, estático, como em transe. Os cavalheiros e os nobres se aglomeram à volta dele, com as espadas desembainhadas, ameaçando mata-lo por causa de suas blasfêmias. Elisabeth corre a se interpor entre eles, detendo-os, e todos recuam quando ela faz de seu corpo um escudo para Tannhäuser. Mais uma vez eles tentam se aproximar do menestrel, e mais uma vez Elisabeth intervém, dizendo que não lhes cabe julgá-lo, que ele deve ter sua oportunidade para alcançar a salvação divina. Pergunta-lhe que ferida mortal poderiam abrir-lhe, em comparação com a que Tannhäuser lhe fez no coração. Acrescenta que, por ela, ele aprenderá a vontade de Deus, pois ela rezará por sua alma.

ElisabethAfastai-vos dele! Vós não sois seus juízes! Bárbaros! Lançai à parte as vossas selvagens espadas e escutai as palavras de uma virgem sem mancha! Aprendei por minha voz a vontade de Deus! Esse infeliz homem, que um terrível, poderoso feitiço o segurou cativo, – o quê! Pode ele nunca encontrar a salvação através do arrependimento e da expiação neste mundo? Vós que vos proclamais tão fortes na verdadeira fé, desconheceis assim o ensinamento do Todo Poderoso? Quereis vós subtrair a esperança para o pecador, então dizei, o que ele fez de mal para vós? Olhai-me, a jovem virgem, na qual ele despedaçou com um golpe brutal o prazer de viver, a mim que o amava do mais profundo do meu ser, ele traspassou o coração, que era só júbilo! Imploro por ele, imploro por sua vida, A fim de que, arrependido, ele encontre seu caminho de penitente! Deixai-o recobrar o ânimo da fé porque o Salvador outrora também padeceu por ele!

Tannhäuser é agora acometido de vergonha e contrição e, caindo ao chão, pede perdão para sua alma. O Landgrave, com grande solenidade, avança e dá seu julgamento. Tannhäuser é banido de seus domínios. O Landgrave sugere que o cavalheiro se uma a um grupo de peregrinos que estão de partida para buscar a absolvição em Roma, enquanto Elisabeth chama a atenção para a confortadora promessa do “Coro dos peregrinos”, que ecoa no vale.

O LandgrafUm crime abominável vem de ser aqui cometido. Carregado de maldição, sob uma máscara de hipocrisia, o filho do pecado foi introdu- zido em nosso meio. Nós te expulsamos de nosso grupo – te proibimos de habitar perto de nós; nossa mesa por ti foi profanada; o céu ele mesmo te observa, ameaçador, neste teto que há muito te abrigou. Portanto, ao envolvido pela condenação eterna, um caminho resta aberto que conduz à tua salvação: ao te banir desta terra eu te o indico. Toma-o e salva a tua alma! Reunidos se encontram em minhas terras peregrinos penitentes, em grande número; os mais velhos já marcham à frente; os mais jovens descansam ainda no vale. Para confessar seus pecados, os mais veniais, não concedem ao seu coração nenhum repouso. Para apaziguar suas paixões com penitência, eles se dirigem a Roma, às festas do perdão.
Os Jovens Peregrinos – Na sublime festa do perdão e da graça humildemente expiarei meus pecados! Abençoado o que se mantém fiel à sua fé: pela penitência e arrependimento será salvo.

Um súbito raio de esperança inspira Tannhäuser. Ele se joga aos pés de Elisabeth, e beijando-lhe devotadamente a barra do seu vestido, exclama que se unirá ao grupo de peregrinos, dizendo em exaltação “Para Roma”. O coro dos nobres repete essas palavras, e Elisabeth o olha num misto de desespero e piedade.

Uma curiosidade, no meio do conjunto que encerra o ato dois, Elisabeth e depois os outros cantam um tema muito parecido com o que foi utilizado na Branca de Neve e depois se tornou um dos temas símbolo da Disney, coincidência ?

Ato 03

Um vale perto de Wartburg. É a mesma cena tranquila, na qual Tannhäuser se encontrou depois de ter abandonado Vênus. Elisabeth rezou, cheia de esperanças, aguardando o retorno de Tannhäuser de sua peregrinação, mas foi em vão. Diversos meses decorreram, e o cavalheiro errante não regressou.

O crepúsculo está próximo. Diante do oratório da Virgem, Elisabeth, toda de branco, está ajoelhada e rezando. Wolfram se aproxima, vindo de uma trilha no bosque, e percebe a presença de Elisabeth. Medita sobre a atitude da jovem, sempre rezando pelo retorno de Tannhäuser, porém suas preces não foram atendidas.

Da distância vem o som de um grupo de peregrinos. Elisabeth se ergue ansiosa. Ouvimos, então, o belo “Coro dos Peregrinos”, crescendo gradualmente à medida que o grupo de penitentes, passando se dirige lentamente através do vale. Elisabeth procura ansiosa Tannhäuser entre os peregrinos de volta, mas ele não está ali. Ela cai de joelhos mais uma vez, e ora à Virgem Maria para que ela a venha buscar, e que o pecado de Tannhaäuser seja perdoado. Esta linda ária é a “Oração de Elisabeth”.

Os Peregrinos mais Idosos – Eu ofereci ao Senhor minha contrição, minha penitência; meu coração lhe pertence porque sua bênção coroou meu arrependimento! Louvor a ti, Senhor! A graça da salvação é garantida com a penitência, ela me conduzirá um dia à paz da eterna bem-aventurança; inferno e morte não mais me amedrontam, por toda a vida exaltarei o nome de Deus. Aleluia! Aleluia, até a eternidade!

ElisabethEle não retomou!
Os PeregrinosO minha pátria, é-me permitido enfim te contemplar e alegremente saudar-te nos teus queridos prados. Agora me deixa fazer repousar meu cajado de peregrino.
ElisabethVirgem toda poderosa, escuta minha prece! Rainha da Glória, eu te imploro! Deixa-me diante de ti ser eliminada no pó. Oh, leva-me deste mundo! Faze que, pura e semelhante aos teus anjos, eu entre em teu santo regaço! A cada vez que, prisioneira de tolas ilusões, meu coração se houver afastado de ti, se um desejo maligno, mais de inclinação aos prazeres do mundo, persuadiu o meu espírito, eu te asseguro que me esforcei, sofrendo muitas dores, para os destruir em meu seio. Se não pude penitenciar-me por cada erro, então, apieda-te de mim, a fim de que mui humildemente te renda devoção e dignamente possa me aproximar de ti, como serva fiel, e confiante em tua mais abundante graça misericordiosa, possa implorar teu perdão por seus pecados.

Durante muito tempo, ela permanece ajoelhada, depois lentamente se levanta, como se estivesse em transe. Wolfram se aproxima para falar-lhe, mas ela lhe pede que fique em silêncio, e por gestos expressa-lhe seus profundos agradecimentos pelo fiel amor dele. O caminho dela agora a leva para o céu, onde terá uma elevada tarefa a realizar. Ela não quer que ele a acompanhe ou siga. Lentamente subindo o caminho que leva ao Wartburg, desaparece da vista. O vale se escurece com a aproximação da noite. O fiel Wolfram senta-se ao pé da montanha, e começa a tocar sua harpa lentamente. Quando a estrela vespertina brilha no céu distante, ele dirige seu canto a ela, pedindo que abençoe e guie Elisabeth. Para este que vos escreve esta “Canção da Estrela Vespertina” é uma das mais belas melodias desta ópera de Wagner.

WolframPremonição fúnebre, esse crepúsculo sobre a terra, envolvendo o vale com sua sombra cinza; até a alma que deseja elevar-se ao céu estremece ao ouvir as asas esta noite lúgubre. Mas tu apareces então, oh, tu a mais charmosa das estrelas, e nos envia de longe o reconforto da tua luminosidade; teu caro raio traspassa o crepúsculo e suas trevas, e tu nos mostras, ó amiga, por onde sair do vale. Ó tu, minha mui tema e gentil estrela vespertina, ditoso eu te saúdo sempre com grande prazer; do fundo de um oração que nunca a traiu, eu te peço, saúda-a por mim, quando ela passar perto de ti, quando ela deixar este vale de lágrimas, para começar a ser, no céu, um anjo bem-aventurado.

Na noite escura, uma figura sombria surge, vestindo uma túnica de peregrino. Sua face está pálida e contraída, e ele caminha com dificuldade, apoiado em um bordão. Wolfram reconhece Tannhäuser e pergunta-lhe por que voltou se ainda não foi perdoado. Tannhäuser, selvagemente, declara-lhe que vai voltar para Venusberg. Wolfram, horrorizado, pergunta-lhe se ele não foi a Roma e amargamente ele responde que sim. Quando Wolfram pergunta-lhe o que aconteceu. Tannhäuser senta desesperado. Wolfram vai se sentar a seu lado, mas Tannhäuser diz que não o faça, acrescentando que ele, Tannhäuser é amaldiçoado. Conta como o papa absolveu todos os peregrinos, mas se voltou para ele com uma terrível denúncia. Como ele tinha provado das delícias proibidas de Venusberg, disse o papa, então estava condenado para sempre. O Santo Padre acrescentou: “Como nesse bastão em minha mão nunca mais nascerá uma folha viva, assim de ardente marca do inferno a salvação nunca florescerá para ti!”. Abandonado por todos, exclama Tannhäuser, somente poderá ser recebido por Vênus. Sim, ele novamente está a caminho de Venusberg. Wolfram tenta detê-lo nessa sua louca determinação.

As nuvens gradualmente enchem a cena. Tannhäuser invoca Vênus. Um confuso turbilhão de formas dançantes torna-se visível com os acordes da “Musica de Venusberg”, a medida que Vênus aparece, reclinada em seu leito, cantando sua deliciosa e sedutora melodia. Ele está quase se lkançando nos braços dela, mas Wolfram o detém, e roga-lhe que alcance a salvação da alma. Os dois cavalheiros lutam violentamente. Tannhäuser não ouve as súplicas de Wolfram. Quando Tannhäuser se liberta, gritando que o céu esta fechado para ele, Wolfram diz que a salvação está nele porque um anjo reza por ele, Elisabeth. Tannhäuser ára como que enfeitiçado. Ele repeto o nome, “Elisabeth”, à medida que sua mente se volta mais uma vez para o verdadeiro e puro amor daquela suave princesa. Vênus grita: “Infeliz de mim! Perdi-o” e a visão desaparece.

As nuvens se adensam, e através delas brilha a luz de tochas. Depois, à medida que os primeiros raios da manhã começam a brilhar, aproxima-se um cortejo fúnebre, vindo de Wartburg, se encaminhando para o vale. Peregrinos, seguidos por menestréis, carregam um caixão aberto, onde jaz o cadáver de Elisabeth. São seguidos pelo Landgrave, cavalheiros e nobres, cantando que Tannhäuser foi absolvido pelo amor de Elisabeth. Wolfram leva Tannhäuser até o caixão de Elisabeth. Caindo para trás, ele grita “Santa Elisabeth, ora por mim!” Ele morre. Todos depositam suas tochas no chão e as apagam. A aurora traz completa claridade à cena! Entra um coro de jovens peregrinos, cantando o milagre que acabam de ver. Com eles, trazem o bastão do papa, que milagrosamente floresceu com folhas novas, um sinal do perdão de Deus.

TannhäuserSanta Elisabeth, orai por mim!
Os Jovens PeregrinosGlória! Glória! Glória ao milagre da graça! O mundo obteve a redenção! Nesta santa hora da noite do Senhor, Ele mesmo se manifesta através de um milagre: o báculo seco na mão do pontífice, Ele o fez reverdecer, ele o ornou de ramos verdes; Assim, para o pecador à margem da fogueira do inferno, a redenção pode desabrochar um dia! Proclamai isto por toda a terra, que através deste milagre ele encontrou a salvação! No alto, acima de tudo, está Deus e sua misericórdia nunca será procurada em vão! Aleluia! Aleluia! Aleluia!
O Landgraf, os Menestréis, os Velhos PeregrinosA graça de Deus foi garantia ao penitente, ele agora entra na paz da bem-aventurança!

Enquanto cantam a redenção de Tannhäuser, lentamente a cortina se fecha.

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Personagens e intérpretes

Vamos compartilhar duas versões maravilhosas da ópera com os amigos do blog: A versão Dresden com o maestro Franz Konwitschny e a versão Paris com o maestro Georg Solti, na minha modesta opinião, considero esta como sendo um dos seus melhores Wagner e a tenho como a melhor leitura deste trabalho, é pura tensão e eletricidade com tempos rápidos. O Konwitschny é mais lento e calmo, um Wagner “domado” pelo grande maestro da então Alemanha Oriental.

Tannhäuser (Dresden)
Essa produção de 1961 com excelente som estéreo, rico, completo, nítido e com um elenco cuja qualidade combinada seria impossível de replicar hoje, para este admirador esta é uma das melhores versões de Dresden desta ópera. Grandes cantores, coro e orquestra. As duas protagonistas femininas são excelentes, Schech e Grummer, ambas no auge. A qualidade virginal de Elisabeth por Elisabeth Grümmer, a sutileza lírica requintada do então jovem Dietrich Fischer-Dieskau como Wolfram e o inimitável tenor Fritz Wunderlich como Walther. A voz opulenta de Gottlob Frick transmite autoridade e sentimentos como o Landgrave Hermann, Frick tem uma voz impressionante por sua solidez, nem quente demais e nem aveludado, com um tom levemente seco. O Tannhäuser de Hans Hopf com seus registros baixos escuros muito ricos e seus altos que brilham, uma voz muito bonita com bela entonação, seu desempenho é ótimo. A condução do maestro Franz Konwitschny é lírica, pensativa e contida o conjunto é realmente impressionante, poderoso, musical e afinado. A orquestra toca soberbamente do início ao fim e Konwitschny guia magistralmente o drama, nem pesado nem rápido demais. Li algumas críticas negativas dos profissionais mais velhos e rabugentos dos anos 60 e 70. É uma interpretação que é um verdadeiro banquete musical, maravilhoso.

Elisabeth Grümmer – Elisabeth
Hans Hopf – Heinrich Tannhäuser
Dietrich Fischer-Dieskau – Wolfram von Eschenbach
Gottlob Frick – Hermann, Landgraf
Marianne Schech – Vênus
Fritz Wunderlich – Walther von der Vogelweide
Gerhard Unger – Heinrich der Schreiber
Reiner Süss – Reinmar von Zweter
Rudolf Gonszar – Biterolf

Chor der Staatsoper Berlin
Orchester der Staatsoper Berlin -Franz Konwitschny
Gravação – 1961

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Tannhäuser (Paris)

Esta monstruosa gravação dos idos de 1971 nos oferece um Wagner excelente ! Uma das gravações de Wagner que mais gosto. Christa Ludwig é uma Vênus sedutora, brilhante e ela está com uma voz maravilhosa: quente e rica em tom, uma Vênus irresistível. Helga Dernesch, uma doce Elisabeth, René Kollo numa grande performance. A firmeza no canto de Hans Sotin soa gentil e bem sonoro. O resto do elenco se encaixa perfeitamente, vozes poderosas e lindamente conduzidas por Solti que consegue encontrar o “ponto ideal” dos seus cantores. Este é aquele tipo de gravação que podemos ouvir o “coro” de vozes no final do Ato Dois não se misturar em uma espécie de confusão sonora: podemos seguir uma ou mais das vozes por palavra durante os minutos finais, ESPLÊNDIDO! A Filarmônica de Viena é excelente como de costume, oferecendo acompanhamento orquestral perfeito. Solti conduz com paixão e determinação. Os efeitos estereofônicos são usados de maneira ambiciosa um exemplo é o coro de peregrinos que “anda” da esquerda para a direita nas caixas de som ou fones de ouvido.

Hans Sotin – Hermann o Landgrave
Helga Dernesch – Elizabeth
René Kollo – Heinrich Tannhäuser
Victor Braun – Wolfram von Eschenbach
Werner Hollweg – Walter von der Vogelweide
Kurt Equiluz – Heinrich der Schreiber
Manfred Jungwirth – Biterolf
Norman Bailey – Reinmar von Zweter
Christa Ludwig – Venus

The Vienna Boys’ Choir, Vienna State Opera Chorus
The Vienna Philharmonic Orchestra – Georg Solti
Gravação – 1971

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Libreto no velho e bom português AQUI

Hoje sem gracinhas, por favor !

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (9/9) #BTHVN250

Kovacevich encerra sua travessia com uma leitura elétrica das três últimas, visionárias sonatas. Quando parece que não lhe vai mais sobrar energia depois da fuga do final da Op. 110, ele começa a Op. 111 com toda pilha, cantarolando com o mesmo vigor com que toca – percebam que ele fica ultra-alegre cada vez que ataca os baixos -, e quem o acompanhou até aqui sabe o que esperar das variações que coroam toda série: brilho e expressividade, incluindo um proto-jazz especialmente pirotécnico.

O que vocês talvez não saibam é que a Warner, aquela marota distribuidora que tragou Philips e EMI e com elas o próprio Kovacevich, colocou bizarramente esta sonata sozinha no nono disco, fazendo-a – o que é ainda mais bizarro – seguir-se com as duas séries de bagatelas Opp. 119 e 126. Como nós adoramos Beethoven e sabemos o poder do Op. 111, transplantamos as “ninharias” para o disco anterior, deixando-as na mesma jaula da feroz Hammerklavier. Afinal de contas, nós lemos Thomas Mann, seu “Doutor Fausto” e, por termos aprendido a famosa lição do professor Kretzschmar, sabemos a única coisa que se pode seguir a seu segundo movimento…

“Um terceiro movimento? Um reinício depois desse adeus? Impossível! Acontecera que a sonata no segundo, no imenso segundo movimento, havia alcançado seu fim, um fim sem nenhum retorno. E, ao referir-se ‘à sonata’, não pensava apenas nessa, em dó menor, e sim na Sonata em si, na forma, no gênero artístico tradicional: ela mesma tinha sido levada ao seu término, cumprira seu destino, além do qual não existia caminho, anulara-se e dissolvera-se, despedira-se; o aceno de adeus, dado pelo motivo de ré-sol-sol, melodicamente consolado pelo dó sustenido, era despedida também nesse sentido, despedida grande como a peça, despedida da Sonata.”

… o silêncio, tão só.

ooOoo

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Mi maior, Op. 109
Composta em 1820
Publicada em 1821
Dedicada a Maximiliane Brentano

1 – Vivace ma non troppo – Adagio espressivo
2 – Prestissimo
3 – Andante – molto cantabile ed espressivo
4 – Var. I – Molto espressivo
5 – Var. II – Leggermente
6 – Var. III – Allegro vivace
7 – Var. IV – Un poco meno andante
8 – Var. V – Allegro ma non troppo
9 – Var. VI – Tempo I del tema

Sonata para piano em Lá bemol maior, Op. 110
Composta em 1821
Publicada em 1822

10 – Moderato cantabile – Molto espressivo
11 – Allegro molto
12 – Adagio ma non troppo
13 – Adagio, ma non troppo – Arioso
14 – Fuga – Allegro ma non troppo
15 – L’istesso tempo di arioso
16 – L’istesso tempo della Fuga poi a poi di nuovo vivente

Sonata para piano em Dó menor, Op. 111
Composta em 1821-22
Publicada em 1823
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustra

17 – Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
18 – Arietta – Adagio molto semplice e cantabile

Stephen Kovacevich, piano

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Retrato de família: Marthinha (com cara de quem preferia estar com seus gatos) e Stephen com sua filha, Stéphanie. A moça à direita, praticamente uma releitura asiática de Martha, é sua filha, a violista Lyda Chen-Argerich.

Vassily

Tchaikovsky (1840-1893) / Grieg (1843-1907): Cordas e mais cordas (Serenata, Souvenir, Holberg)

Tchaikovsky (1840-1893) / Grieg (1843-1907): Cordas e mais cordas (Serenata, Souvenir, Holberg)

Um excelente repertório numa interpretação que está fora de moda, mas que foi de alto nível em sua época. Também não sei porque Grieg ficou fora da capa — ou se esta é realmente a capa do CD. Sua Suíte Holberg é belíssima e não merece este descaso…

Sobre a Serenata para Cordas de Tchai: ele pretendia que o primeiro movimento fosse uma imitação do estilo de Mozart, e foi baseado na forma da sonatina clássica, com uma introdução lenta. A agitada introdução do Andante é marcada como “sempre marcatissimo”. A introdução é reafirmada no final do movimento, e depois reaparece, transformada, no quarto movimento, unindo toda a obra. Na segunda página da partitura, Tchaikovski escreveu: “Quanto maior o número de músicos na orquestra de cordas, mais isso estará de acordo com os desejos do autor.” O segundo movimento, Valse, tornou-se uma peça popular por si só.

Souvenir de Florence, também de Tchai, é originalmente um sexteto, mas não chega aos pés da Serenata.

Já a Suíte Holberg, de Grieg, é demais! A Suíte Holberg, op. 40, mais propriamente “Da época de Holberg”, com o subtítulo “Suite in olden style” é uma suíte de cinco movimentos baseados nas formas de dança do século XVIII, escritos por Edvard Grieg em 1884 para celebrar o 200º aniversário do nascimento do dramaturgo humanista Ludvig Holberg. Ela foi originalmente composta para piano, mas um ano depois foi adaptada pelo próprio Grieg para orquestra de cordas. A suíte consiste em uma introdução e um conjunto de danças. É um ensaio inicial do neoclassicismo, uma tentativa de ecoar tanto quanto se sabia no tempo de Grieg da música da época de Holberg. Embora não seja tão famosa quanto a música incidental de Grieg de Peer Gynt, muita gente boa consideram ambas como obras como de igual mérito.

É claro que as interpretações modernas da Holberg são muito melhores.

Tchaikovsky (1840-1893) / Grieg (1843-1907): Cordas e mais cordas (Serenata, Souvenir, Holberg)

Tchaikovsky (1840-1893): Serenade for strings in C major, Op.48
01. I. Pezzo in forma di sonatina_ Andante non troppo — Allegro moderato
02. II. Walzer_ Moderato, tempo di valse
03. III. Elégie_ Larghetto elegiaco
04. IV. Finale (Tema russo)_ Andante — Allegro con spirito

Tchaikovsky (1840-1893): Souvenir de Florence, Op.70
05. I. Allegro con spirito
06. II. Adagio cantabile e con moto
07. III. Allegro moderato
08. IV. Allegro vivace

Edvard Grieg (1843-1907): Holberg Suite, Op.40

09. I. Praeludium_ Allegro vivace
10. II. Sarabande_ Andante
11. III. Gavotte_ Allegretto — Musette_ Poco più mosso
12. IV. Air_ Andante religioso
13. V. Rigaudon_ Allegro con brio

Academy of St. Martin in the Fields
Sir Neville Marriner

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Tchai

PQP

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Six Suites for Viola Solo – Kim Kashkashian

Vou começar o mês de maio trazendo Bach para os senhores. Deixemos Beethoven um pouco de lado, e vamos nos deliciar com este CD absolutamente estonteante da violista armênia Kim Kashkashian.
Este CD foi lançado em outubro de 2018, e o baixei praticamente na mesma época, e ficou guardado em um HD externo, aguardando ser ouvido, porém com o passar do tempo, acabei esquecendo dele. Estive nos dois últimos meses envolvido na recuperação desse HD externo, que apresentava problemas na leitura. Felizmente consegui recuperar praticamente 90% de seu conteúdo.
Kim Kashkashian não é nenhuma novata, ao contrário, sua discografia fala por si só. Sempre envolvida com o repertório mais atual, ela é contratada já há décadas do selo ECM, e seus CDs sempre são muito bem produzidos e gravados, característica dessa gravadora.
Aproveitem que hoje é feriado para degustar esse show de virtuosismo e técnica dessa que é uma das maiores violistas de todos os tempos. Dependendo dos comentários, trago outro CD imperdível dela.
Por algum motivo, a forma com que o CD foi gravado não foi na sequência natural das obras. Não sei a razão, mas é apenas um pequeno detalhe que de forma alguma atrapalha o conjunto da obra.

1. Cello Suite No. 2 in D Minor, BWV 1008 – Transcr. for Viola : 1. Prélude
2. Cello Suite No. 2 in D Minor, BWV 1008 – Transcr. for Viola : 2. Allemande
3. Cello Suite No. 2 in D Minor, BWV 1008 – Transcr. for Viola : 3. Courante
4. Cello Suite No. 2 in D Minor, BWV 1008 – Transcr. for Viola : 4. Sarabande
5. Cello Suite No. 2 in D Minor, BWV 1008 – Transcr. for Viola : 5. Menuet I-II
6. Cello Suite No. 2 in D Minor, BWV 1008 – Transcr. for Viola : 6. Gigue
7. Cello Suite No. 1 in G Major, BWV 1007 – Transcr. for Viola : 1. Prélude
8. Cello Suite No. 1 in G Major, BWV 1007 – Transcr. for Viola : 2. Allemande
9. Cello Suite No. 1 in G Major, BWV 1007 – Transcr. for Viola : 3. Courante
10. Cello Suite No. 1 in G Major, BWV 1007 – Transcr. for Viola : 4. Sarabande
11. Cello Suite No. 1 in G Major, BWV 1007 – Transcr. for Viola : 5. Menuet I-II
12. Cello Suite No. 1 in G Major, BWV 1007 – Transcr. for Viola : 6. Gigue
13. Cello Suite No. 5 in C Minor, BWV 1011 – Transcr. for Viola : 1. Prélude
14. Cello Suite No. 5 in C Minor, BWV 1011 – Transcr. for Viola : 2. Allemande
15. Cello Suite No. 5 in C Minor, BWV 1011 – Transcr. for Viola : 3. Courante
16. Cello Suite No. 5 in C Minor, BWV 1011 – Transcr. for Viola : 4. Sarabande
17. Cello Suite No. 5 in C Minor, BWV 1011 – Transcr. for Viola : 5. Gavotte I-II
18. Cello Suite No. 5 in C Minor, BWV 1011 – Transcr. for Viola : 6. Gigue
19. Cello Suite No. 4 in E-Flat Major, BWV 1010 – Transcr. for Viola : 1. Prélude
20. Cello Suite No. 4 in E-Flat Major, BWV 1010 – Transcr. for Viola : 2. Allemande
21. Cello Suite No. 4 in E-Flat Major, BWV 1010 – Transcr. for Viola : 3. Courante
22. Cello Suite No. 4 in E-Flat Major, BWV 1010 – Transcr. for Viola : 4. Sarabande
23. Cello Suite No. 4 in E-Flat Major, BWV 1010 – Transcr. for Viola : 5. Bourrée I-II
24. Cello Suite No. 4 in E-Flat Major, BWV 1010 – Transcr. for Viola : 6. Gigue
25. Cello Suite No. 3 in C Major, BWV 1009 – Transcr. for Viola : 1. Prélude
26. Cello Suite No. 3 in C Major, BWV 1009 – Transcr. for Viola : 2. Allemande
27. Cello Suite No. 3 in C Major, BWV 1009 – Transcr. for Viola : 3. Courante
28. Cello Suite No. 3 in C Major, BWV 1009 – Transcr. for Viola : 4. Sarabande
29. Cello Suite No. 3 in C Major, BWV 1009 – Transcr. for Viola : 5. Bourrée I-II
30. Cello Suite No. 3 in C Major, BWV 1009 – Transcr. for Viola : 6. Gigue
31. Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012 – Transcr. for Viola : 1. Prélude
32. Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012 – Transcr. for Viola : 2. Allemande
33. Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012 – Transcr. for Viola : 3. Courante
34. Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012 – Transcr. for Viola : 4. Sarabande
35. Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012 – Transcr. for Viola : 5. Gavotte I-II
36. Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012 – Transcr. for Viola : 6. Gigue

Kim Kashkashian – Viola

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Kim Kashkashian dá uma palhinha no salão principal da sede do PQPBach

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (8/9) #BTHVN250

Embora recomende a qualquer pessoa que me inquira acerca da qualidade desta ou daquela integral de Beethoven a técnica certeira do patrão PQP Bach – ouvir a Waldstein e dela tirar a medida do restante -, eu próprio não resisto e começo minha audição sempre pela descabelante Hammerklavier. Admito que haja mesmo algo de Schadenfreude a me impelir ao costume, e que desfrutar de três quartos de hora testemunhando os melhores pianistas do mundo a sangrarem as unhas, as juntas e as ventas para parir esta criatura horrendamente complicada seja um petisco sádico a nutrir a inveja medíocre do tocadordepiano que sempre fui e serei, incapaz de tocar a colossal ultrassonata mesmo que dispusesse de dois telencéfalos e cinquenta e cinco dedos. Quando o pianista a termina vivo e a criatura tem boa forma no redentor si bemol final, eu então recolho minha inveja e passo ao restante da integral.


Aw,yea

Informo-lhes, pois, que depois de dar à luz sua Hammerklavier, Stephen Kovacevich passa muito bem. Sua leitura parece dar-se sem esforço, sublinhando certos padrões rítmicos e melódicos que nunca tinha percebido (reflexo, talvez, do meu apetite por Schadenfreude). O Adagio sostenuto, cerne da obra, tem aqui uma qualidade mais terrena do que a diafaneidade usual e parece desembocar naturalmente na introdução da imensa fuga “com algumas licenças” que a encerra. O disco terminava originalmente com a sonata Op. 110, mas eu achei por bem, e por motivos que exporei na postagem seguinte, subverter a ordem proposta pela Warner e colocar as bagatelas aqui, como diminutos poslúdios para a feroz mastodonta.

Julguem-me.

Ludwig van BEETHOVEN
 (1770-1827)

Grande Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 106, “Hammerklavier”
Composta entre 1817-18
Publicada em 1819
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustria

1 – Allegro
2 – Scherzo: Assai vivace
3 – Adagio sostenuto
4 – Introduzione: Largo – Allegro – Fuga: Allegro risoluto

Onze novas bagatelas para piano, Op. 119
Compostas entre 1820-1822
Nos. 7-11 publicadas no tratado de piano de F. Starke em 1821
Coleção completa publicada em 1823

05 – Allegretto
06 – Andante con moto
07 – A l’Allemande
08 – Andante cantabile
09 – Risoluto
10 – Andante — Allegretto
11 – Allegro, ma non troppo
12 – Moderato cantabile
13 – Vivace moderato
14 – Allegramente
15 – Andante, ma non troppo

Seis bagatelas para piano, Op. 126
Compostas em 1824
Publicadas em 1825

16 – Andante con moto, cantabile e compiacevole
17 – Allegro
18 – Andante, cantabile e grazioso
19 – Presto
20 – Quasi allegretto
21 – Presto – Andante amabile e con moto

Stephen Kovacevich, piano

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“La reputissima madre, Esteban, ¿qué estás a hacer?”

Vassily