Franz Danzi (1763-1826) – Concertos para fagote e orquestra – Gower – Holder

Estes quase cinco anos em que infesto este blog podem condensar-se em pouco mais de um. Foram, enfim, seis meses de contribuições diárias logo após minha estreia, e outros tantos desde que voltei. No entremeio desses dois surtos de produção, como se fossem eles Olimpíadas, houve quatro anos de silêncio dedicados ao que costumo chamar de uma temporada no Hades, até porque, dentro do que isso pode significar para alguém a cuja vida nada falta de essencial, eles assim me foram, mesmo.

Seria muito fácil jogar esse silêncio todo na conta daquilo que convencionamos chamar CORRERIA. Não considero justo, no entanto, atribuir a meu esmigalhante ganha-pão a total responsabilidade pelo meu sumiço. Por vários motivos, adotei prioridades que me fizeram distanciar e mesmo, vejam só, prescindir da música – uma estultice tão grande que dá às senhoras e aos senhores uma medida das escolhas de jerico que fiz na vida. E assim, sem muito ouvi-la, não me sentia instigado a escrever sobre ela e, por não escrever, perdi completamente o cacoete de fazê-lo. E assim, cada vez que ensaiava um retorno, o monstro do far niente percebia minha hesitação e me atirava novamente à torrente.

Ao regressar, há alguns meses, eu o fiz pela gentil insistência dos colegas e, ao atirar-me novamente nos braços da Música e voltar escrever para o PQP Bach, percebi que toda minha motivação para dedicar tanto tempo e muito de meus fosfatos a este espaço resumia-se àquela tríade tão essencial à vida: explorar, aprender e compartir.

E é por conta do compartir que eu, nada afeito a expor coisas de minha ademais desinteressante vida, lhes trago todas essas considerações. Tenho ciência de que não escrevo para deixar mementos para mim mesmo, ou para uma posteridade que sequer tenho ideia se vai sobreviver à distopia corrente. Escrevo, sim, para uma imensa massa de nomes que desconheço, oferecendo-lhe que considero digno de compartir, tanto em texto quanto, sempre o mais importante, no que a música tem de mais intangível, e que palavra alguma conseguiria expressar.

Não espero, ao contrário do que vós outros poderiam imaginar, qualquer retribuição. Exceto por alguns habitués que muito nos honram com seus comentários, eu morreria seco se esperasse por ela. A justificativa para as publicações já se consuma quando elas entram no ar, e muito pouco do que vem depois – e, novamente, com as notáveis exceções que já mencionei – costuma mudar suas razões de ser.

Dito isso, confesso – e falo aqui só por mim, e não pelos meus colegas – meu fastio crescente para com alguns tipos, especialmente aqueles que desprezam o que aqui despendemos na curadoria e na construção dum acervo musical significativo e que, sem qualquer moção ao nosso empenho cotidiano em trazer coisas novas ao blog, preferem apontar nossas omissões e pedir-nos mais e mais coisas, de maneira pervasiva e descortês, como se disc jockeys fôssemos, à mercê de suas obsessões particulares, ou guardiões duma cornucópia musical que nada mais tivessem a fazer.

Não estou aqui para servir esses chupins. Paguem-me alguns boletos e, daí, talvez possamos conversar. Até lá, preferirei que infestem outros ninhos.

E o que isso tem a ver com Franz Danzi?

Nada, claro.

Franz Danzi tem a ver com as exceções:

Uma delas foi o João Ferreira, que dia desses nos escreveu, com a cortesia e educação que chupim algum sonha em ter:

“Bom dia,
Seria possível, para amenizar minha quarentena – estou no grupo de risco -, os Srs conseguirem
os Concertos para Fagote e Orquestra, de Franz Danzi?
Agradecimentos de um resignado confinado,
Sds”

É claro que sim, João. Aqui estão não só um, mas dois discos com os concertos para fagote de Danzi.

Que a quarentena lhe seja leve, que você se cuide, e que aqueles que restarem dessa triste espécie possam ser melhores no afã de explorar, aprender e compartir.

Franz Ignaz DANZI (1763-1826)

1 – Abertura em Mi maior

Kölner Akademie
Michael Alexander Willens, regência

Concerto em Sol menor para fagote e orquestra

2 – Allegro maestoso
3 – Andante
4 – Polacca – Allegretto

Concerto em Dó maior para fagote e orquestra

5 – Allegro non troppo
6 – Andante
7 – Rondo – Allegretto

Concerto em Fá maior para fagote e orquestra

8 – Allegro
9  – Andante
10 – Polacca

Jane Gower, fagote
Kölner Akademie
Michael Alexander Willens, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Concerto em Sol menor para fagote e orquestra

1 – Allegro maestoso
2 – Andante
3 – Polacca – Allegretto


Concerto em Fá maior para fagote e orquestra

4 – Allegro
5 – Andantino
6 – Allegretto non troppo

Concerto em Dó maior para fagote e orquestra

7 – Allegro non troppo
8 – Andante
9 – Rondo – Allegretto

Concerto em Fá maior para fagote e orquestra

10 – Allegro
11  – Andante
12 – Polacca

Albrecht Holder, fagote
Neubrandenburger Philharmonie
Nicolás Pasquet,
regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Franz Danzi (1763-1826)
Um filhote de Molothrus boniarensis

Vassily

11 comments / Add your comment below

  1. Amei seu comentário. Creio que nunca fiz qualquer destes, talvez seja a quarentena que me faz ler mais e ouvir mais música. Quero quarentena sem vírus. Estabeleçamos o contágio da leitura e da música pela quarentena e fora dela.

  2. Caríssimo, ao ler o texto pensei em exprimir alguns curtos apontamentos da parte de cá, de um mero leitor. Poderia, antes, lembrar de uma fala do Coriolano “(…) mostrar-lhes as cicatrizes indolores que deveria esconder, como se as tivesse recebido somente como salário de seus murmúrios elogiosos!” ou remeter àquele conflito entre Josefina e os camundongos (a estes o canto daquela é fundamental, mas há um desconchavo inerente, uma confrontação), ou mesmo lembrar do abismo existente (para citar um exemplo um pouco próximo) entre uma postagem do Sr. Ivo Barroso, em seu blog, destrinchando Rilke, por ex., e seus leitores – mas tudo isso seria uma injustiça ou presunção, porque tens de fato razão e talvez devêssemos repensar e melhorar a postura no âmbito dos leitores, ao que o silêncio talvez seja o mais adequado, o mais oportuno. Mesmo assim, sigo.
    Para um iniciante, sobretudo afastado material e socialmente, a música clássica é muito fechada e de difícil acesso; acredito que isso persista mesmo com a internet. Nubla seu horizonte expressivo, além disso, certa ideia que serviria para estudar ou relaxar (até dormir!) e que é um simples apetrecho ou capricho da erudição. Deparei-me com essas sombras há não muito tempo; e, como desdobramento de certo senso tenaz, com o tempo a música se tornou fundamental para mim. Não é algo nítido e evidente, aos poucos fui apreendendo. Em meu caso, não houve menção à música clássica na faculdade, entre os colegas, tampouco no contexto de minha rua. Sentia algo vago em relação aos grandes compositores. Na internet, lá estava o Spotify, com infinitas listas, classificações e álbuns; felizmente, no meio de tal confusão difusa, o imperativo Beethoven emergiu em minha vida, por meio de Klemperer e Harnoncourt, até Gould: que temperamento colossal deste compositor!, ouvia-o de boca aberta, quando começava a esboçar algum entendimento. Aí, penso, entra o efeito do referido compartir: encontrei no PQPbach um esteio à formação humanística. A comunicação material, dos arquivos, é importante, sinto-me grato por acessá-la, contiguamente a ela, nos textos, sinto sobretudo certa seiva, cultura que estimula a explorar ainda mais as obras. É um contato impessoal e, ao mesmo tempo, ao tocar no terreno de formação das pessoas, indiretamente que seja, íntimo. Hoje meu modo de escutar sofre fortes influências do blog. Claro, não posso falar por outras pessoas, mas não tenho dúvida de que aqui pulsa diariamente o amor à música, e espero que não desistam dele, embora este voto seja talvez inútil, sendo a justificativa desse trabalho, como dito, o próprio valor em si que gerou a postagem, anterior ao que vem depois; porém, o voto se calca no desejo de que, em meio à distopia também virtual, continue existindo uma exceção benfazeja à sensibilidade.

  3. 21 de dezembro de 2019 às 16:02

    Olá Vassily
    Em 21 de dezembro de 2019 você postou
    Prelúdios e Fugas para piano, Op. 87 (seleção) – Dmitri Shostakovich, piano
    Este CD é parte de uma série de 7 CDs THE CLASSICAL RUSSIAN REVELATION
    Os CDs estão listados aqui:
    http://recordings.online.fr/record.php?i=196&m=4
    Você me disse que poderia postar os demais
    Agora estou em ‘setentena’, porque sou septuagenário.
    Veja se pode postar os demais, então
    Agradeço muito, abraços
    Fausto Neves

  4. Boa tarde,
    Fiz aniversário por esses dias e o presente veio em dobro…. muito obrigado!
    Abraços de um confinado, agora, mais animado…
    João Ferreira

  5. Vassily,
    Peço desculpas, pois fiquei tão feliz e empolgado com os links ( há mais de um ano procurava pelos concertos), que só depois me aprofundei no seu belo e sentido relato… como escreveu a Adélia Prado, “às vezes Deus me tira a poesia, olho pedra e vejo pedra mesmo…”. Parece que é muito humano vagar durante a nossa vida por um imenso deserto existencial, o importante é termos o apoio, da música, por exemplo, para recuperarmos nosso rumo nessa vida tão sem ele…
    “A fé não nos tira a cruz, mas dá um sentido à dor – confere a esperança, que permite a alegria” (Adélia Prado)

Deixe um comentário