Vamos dar continuidade a esta integral dos Concertos para Piano de Mozart, sempre nas competetentes mãos de Mitsuko Uchida e de seu fiel parceiro, Jeffrey Tate, que dirige a sempre ótima English Chamber Orchestra. Uma curiosidade sobre este maestro: também se formou médico, e especializou-se em cirurgia ocular. Infelizmente veio a falecer em 2017.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – CDs 4 – 6 de 9 – Mitsuko Uchida, Jeffrey Tate, Englisch Chamber Orchestra
CD 4
Concerto in D, K. 451, nº 16 – Allegro Assai
Concerto in D, K. 451, nº 16 – Andante
Concerto in D, K. 451, nº 16 – Rondeau (Allegro di molto)
Concerto in G, K. 453, nº 17 – Allegro
Concerto in F, K. 423, nº 17 – Andante
Concerto in F, K. 423, nº 17 – Allegretto
Rondo in D, KV. 382 – Allegretto grazioso
Rondo in D, KV. 382 – Adagio
Rondo in D, KV. 382 – Allegro
CD 5
01. Concerto in B Flat, KV. 456, nº 18 – Allegro Vivace
02. Concerto in B Flat, KV. 456, nº 18 – Andante un poco sotenuto
03. Concerto in B Flat, KV. 456, nº 18 – Allegro Vivace
04. Concerto in F, K. 459, nº 19 – Allegro Vivace
05. Concerto in F, K. 459, nº 19 – Allegretto
06. Concerto in F, K. 459, nº 19 – Allegro Assai\
01. Concerto in D Minor, K. 466, nº 20 – Allegro
02. Concerto in D Minor, K. 466, nº 20 – Romance
03. Concerto in D Minor, K. 466, nº 20 – Allegro Assai
04. Concerto in C, K. 467, nº 21 – Allegro
05. Concerto in C, K. 467, nº 21 – Andante
06. Concerto in C, K. 467, nº 21 – Allegro vivace assai
Assim como eu, muitos foram apresentados aos Concertos de Mozart pelas hábeis e talentosas mãos da pianista Mitsuko Uchida, ali por meados da década de 80. Os bolachões, ou LPs, como quiserem, estavam sempre a venda nas lojas de discos, mas os preços não eram muito acessíveis, podíamos comprar um ou dois por mês, e olha lá. Não cheguei a concluir a coleção, nem lembro quantos discos comprei. Mas era Mozart, e tremendamente bem tocado. Emocionante lembrar daqueles períodos de vacas magras (não que elas tenham conseguido engordar muito), quando fazíamos muitos sacrifícios para termos acesso a música de qualidade. O velho 3×1 da Philips tocava sem parar.
Mitsuko Uchida é uma reconhecida pianista japonesa, porém cidadã britânica, e que gravou muito entre os anos 80 e 90, sempre pelo selo Philips. Hoje, já adentrada nos setenta e poucos anos, ainda grava e se apresenta em recitais. Recentemente postei uma integral dos concertos para piano de Beethoven com ela e com Sir Simon Rattle ainda nos tempos de Filarmônica de Berlim, creio que foi uma das últimas gravações do maestro frente à sua ex-orquestra.
Em pleno ano dedicado às comemorações dos 250 anos de nascimento de Beethoven, impossível deixarmos Mozart de lado. Esse compositor é fundamental, talvez tão necessário quanto o ar que respiramos. Mesmo em obras da mais terna juventude, ou até mesmo infância, a genialidade do gênio de Salzburg é algo que se manifesta a todo momento, impossível negar tal fato. Por isso achei interessante, e oportuno, esta série de postagens.
Uchida se uniu ao maestro Jeffrey Tate para realizar a empreitada. Mozartiano de mão cheia, muito experiente nesse repertório, ele nos entrega um Mozart robusto, coerente, e sua cumplicidade com a solista se sobressai ao não permitir que a orquestra se sobreponha ao piano. Com certeza esta série é uma referência nesse repertório.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – CDs 1 a 3 de 9 – Mitsuko Uchida =, Jeffrey Tate, English Chamber Orchestra
CD 1
01. KV 175 in D, (1) Allegro
02. KV 175 in D, (2) Andante ma poco adagio
03. KV 175 in D, (3) Allegro
04. KV 238 in B flat, (1) Allegro aperto
05. KV 238 in B flat, (2) Andante un poco adagio
06. KV 238 in B flat, (3) Rondeau (Allegro)
07. KV 271 in E flat, Jeunehomme (1) Allegro
08. KV 271 in E flat, Jeunehomme (2) Andantino
09. KV 271 in E flat, Jeunehomme (3) Rondo (Presto)
CD 2
01. Concerto in C, KV 246 Lutzow (1) Allegro aperto
02. Concerto in C, KV 246 Lutzow (2) Andante
03. Concerto in C, KV 246 Lutzow (3) Rondeau (Tempo di menuetto)
04. Concerto in F, KV 413 (1) Allegro
05. Concerto in F, KV 413 (2) Larghetto
06. Concerto in F, KV 413 (3) Tempo di menuetto
07. Concerto in A, KV 414 (1) Allegro
08. Concerto in A, KV 414 (2) Andante
09. Concerto in A, KV 414 (3) Rondeau (Allgretto)
CD 3
01. Concerto in C, KV 415 1. Allegro
02. Concerto in C, KV 415 2. Andante
03. Concerto in C, KV 415 3. Rondeau (Allegretto )
04. Concerto in E flat, KV 449 1. Allegro vivace
05. Concerto in E flat, KV 449 2. Andantino
06. Concerto in E flat, KV 449 3. Allegro ma non troppo
07. Concerto in B flat, KV 450 1. Allegro
08. Concerto in B flat, KV 450 2. Andante
09. Concerto in B flat, KV 450 3. Allegro
Hoje trago uma postagem um pouco diferente para os senhores. O mesmo compositor, a mesma obra, mas interpretadas por músicos e em épocas diferentes.
Tenho um grande apreço muito grande por dois destes concertos que trago hoje, o de nº 20 e o de nº 21. Os considero os melhores, dentre todos o que Mozart compôs.
Importante salientar que são três CDs que foram gravados em períodos bem distintos, quarenta anos se passaram entre um e outro. Mas ambos conseguem extrair aquela magia da música de Mozart que apenas os grandes músicos conseguem extrair. O da dupla Previn / Lupu foi gravado lá no início da década de 80, enquanto que o do pianista norueguês Leif Ove Andsnes foi recém lançado agora mesmo neste mês de maio de 2021. Muita água passou sob a ponte, o Planeta Terra é muito diferente daquele dos anos 80. Não posso dizer que aqueles eram tempos mais liberais (Tatcher / Reagan, Afeganistão), talvez mais intensos, e a interpretação precisa de Lupu demonstra isso, se comparados com este sombrio período que vivemos, em plena Pandemia. Mas a música de Mozart continua fresca, única e muito atual. Existe algo mais delicado e belo que o tema do Andante do Concerto de nº 21? Alguns podem considerar a interpretação de Andsnes um tanto quanto fria, calculista, metódica, mas creio que ele apenas reflete os tempos em que vivemos. A essência continua ali, presente, nas notas extraidas do piano. Cabe a nós localizá-la …
Como diria Mestre Carlinus, uma boa apreciação e que melhores tempos venham pela frente … a trilha sonora o PQPBach vem fornecendo para os senhores.
01. Concerto for 2 Pianos No. 10 in E-Flat Major, K. 365-316a- I. Allegro
02. Concerto for 2 Pianos No. 10 in E-Flat Major, K. 365-316a- II. Andante
03. Concerto for 2 Pianos No. 10 in E-Flat Major, K. 365-316a- III. Rondo. Allegro
04. Piano Concerto No. 20 in D Minor, K. 466- I. Allegro (Cadenza by Beethoven)
05. Piano Concerto No. 20 in D Minor, K. 466- II. Romance
06. Piano Concerto No. 20 in D Minor, K. 466- III. Rondo. Allegro assai (Cadenza by Previn)
Radu Lupu – Piano (Concerto nº20)
André Previn Piano (Concerto nº 10) e Condutor
London Symphony Orchestra
CD 1 01 Piano Concerto No. 20 in D minor K. 466 I. Allegro
02 Piano Concerto No. 20 in D minor K. 466 II. Romanze
03 Piano Concerto No. 20 in D minor K. 466 III. Rondo Allegro assai
04 Piano Concerto No. 21 in C Major K. 467 I. Allegro maestoso
05 Piano Concerto No. 21 in C Major K. 467 II. Andante
06 Piano Concerto No. 21 in C Major K. 467 III. Allegro vivace assai
CD 2
01 Fantasia in C Minor K. 475
02 Piano Quartet in G Minor K.478 I. Allegro
03 Piano Quartet in G Minor K.478 II. Andante
04 Piano Quartet in G Minor K.478 III. Rondo
05 Maurerische Trauermusik (Masonic Funeral Music) in C Minor K. 477 (K. 479a)
06 Piano Concerto No. 22 in Es-Dur Major K. 482 I. Allegro
07 Piano Concerto No. 22 in Es-Dur Major K. 482 II. Andante
08 Piano Concerto No. 22 in Es-Dur Major K. 482 III. Allegro
Leif Ove Landsnes – Piano e Condutor
Mahler Chamber Orchestra
Depois de se estabelecer em Viena, sem se importar com a terrível advertência de papai Leopold, Mozart aproveitou todas as oportunidades para impressioná-lo com a seriedade de seus propósitos. Em abril de 1782, ele informou a seu pai que ‘Todos os domingos, às 12 horas, vou à casa do Barão van Swieten, onde não se toca nada além de Bach e Handel. No momento, estou fazendo uma coleção de fugas de Bach…”. Para as matinês semanais barrocas do Barão, Mozart também transcreveu diversas fugas de Bach para cordas, seis para trio e cinco para quarteto. Seu entusiasmo por Bach pode ter sido estimulado ainda mais por sua noiva, Constanze, que se era uma espécie de fugólatra.
Para seus arranjos de quarteto, Mozart favoreceu as fugas de som mais arcaico. Quando foram publicadas, eram precedidas, de maneira um tanto incongruente, por novos prelúdios de autoria desconhecida — era um Bach filtrado por um prisma galante. A Akademie für Alte Musik complementa três das transcrições de Mozart com arranjos anônimos de quinteto de cordas, com novos prelúdios. Fica tudo muito estranho. Para compensar a severidade potencial em uma sucessão de fugas lentas, a Akademie varia as cores instrumentais: cordas solo, orquestra de cordas, oboés, trombones e fagote.
Um disco interessantíssimo!
W.A. Mozart sobre J.S. Bach: Adagios & Fugues (Akademie Für Alte Musik Berlin)
1 Prelude & Fugue In D Minor K405/4 6:03
2 Larghetto Cantabile In D Major & Fugue K405/5 4:45
3 Adagio & Fugue in A Minor 5:55
4 Allegro In C Minor K Anh 44 & Fuga A Due Cembali K426 4:33
5 Adagio Cantabile & Fugue In E Flat Major 3:55
6 Adagio & Fugue In C Minor K546 6:32
7 Adagio & Fugue in E Major K405/3 5:08
8 Adagio & Fugue in B Minor 6:08
9 Adagio & Fugue in D Minor 7:28
Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.
Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Johannes BRAHMS (1833-1897) Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante
Franz LISZT (1811-1886) Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella
Darius MILHAUD (1892-1974) Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b 6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira
Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos
Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón
Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI (1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón
Ástor PIAZZOLLA 5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”- “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón
Néstor MARCONI 6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)
Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012
Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).
VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS
1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh) Evgeny Kissin, piano
02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks) Alissa Margulis, violino Nathan Braude, viola Polina Leschenko, piano
3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky) Sarina Cohn, voz Philip Catherine, guitarra Oscar Németh, baixo
4 – Deim Fidele (B. Witler) Lola Fuks, voz Michael Guttman, violino
5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler) Paul Ambach, voz
Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder
Wolfgang Amadeus MOZART Do Requiem em Ré menor, K. 626 2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa
Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65
Franz LISZT 5 – Mephisto-Walzer
Robert SCHUMANN De Dichterliebe, Op. 48: 6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’
Dmitri SHOSTAKOVICH Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65 7 – Toccata
8 – Passacaglia
Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie
Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 –Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos
Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)
“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014
Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:
Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.
Robert SCHUMANN Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo
Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)
Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015
Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.
“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.
Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105 1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73 4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer
Johannes BRAHMS Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro
Johann Sebastian BACH Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro
Itzhak Perlman, violino
Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)
Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.
Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique 5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale
Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência
Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.
Claude DEBUSSY De Nocturnes, L. 91 1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)
Anton Gerzenberg, piano II
Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140 2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé
Géza Hosszu-Legocky, violino Evgeni Bozhanov, piano
5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Stephen Kovacevich, piano I
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux
Mischa Maisky, violoncelo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) 9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Nicholas Angelich, piano II
Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain
Alexandra Conunova, violino Edgar Moreau, violoncelo
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace
Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos
5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34
Pablo Barragán, clarinete Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos Lyda Chen, viola Edgar Moreau, violoncelo
Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso
Akane Sakai eAlexander Mogilevsky, pianos
11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante
Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos
Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56 15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante 11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale
Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100 1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)
Akiko Suwanai, violino Nicholas Angelich, piano
Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19 4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso
Camille SAINT-SAËNS 1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
Annie Dutoit, narração Jing Zhao, violoncelo Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg Ion Marin, regência
Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963) Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro
Três danças afro-cubanas, para piano 35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165 38 – No. 2: Tango
Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 – El Choclo
Mauricio Vallina, piano
Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego
Ástor PIAZZOLLA 41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino
Wolfgang Amadeus MOZART 43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)
Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo
Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.
Sergey RACHMANINOV Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18 1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando
Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov
Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018
Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace
Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.
Felix MENDELSSOHN Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato
Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo
Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78 5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato
Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501 1 – Thema – Variationen I-V
Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer” 2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto
Tedi Papavrami, violino
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940 5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco
Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces
Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonatas (Esercizi) para teclado: 1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior
Evgeni Bozhanov, piano
Johann Sebastian BACH Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065 8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro
Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência
Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht
Martha Argerich, piano
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381 1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Martha Argerich e Akane Sakai, piano
Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65 4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet
Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano
Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37 8 – No. 5: Andaluza
Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin
Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano
Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963) Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos
Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11 15 – No. 4: Valsa
A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto
Theodosia Ntokou, piano II
Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020
Das Três sonatas para piano, Op. 31: No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto
Se o novo milênio da Rainha teve poucas gravações em estúdio, ele abundou em registros ao vivo. O Festival de Lugano, que aconteceu entre 2002 e 2016, garantiu pelo menos um álbum triplo anual à discografia de Martha, sempre em companhias por ela escolhidas, e com muitas obras novas em seu repertório. Passaremos ao largo do legado de Lugano, no entanto, pois o colega FDP Bach já vem publicando seus discos há algum tempo e pretende prosseguir sua série. Assim, hemos de lhes alcançar o que La Diosa gravou fora do Ticino, que também privilegia a colaboração com outros artistas, particularmente aqueles bem mais jovens que ela.
A primeira gravação de estúdio da década nada tem de jovem guarda: à mui madura troika de Martha, Kremer e Maisky, veterana de tantas gravações importantes, soma-se a também calejada viola de Yuri Bashmet. O resultado, mais que a soma de solistas, é um conjunto afiado, especialmente no eletrizante Brahms que abre o disco, que desfaz os rumores não só de que Martha não gosta de Brahms, como também de que não o toca bem. Sobre o tópico, aliás, ela declarou ano passado: “quando eu toco [Brahms], eu amo, mas a música dele não é do tipo ao qual sou naturalmente inclinada. Eu estudei o concerto no. 2 com o Gulda [seu professor], mas nunca o toquei em concerto. Pode ser uma história de libido. Certas pianistas adoram sua música: Irene Russo, Hélène Grimaud, Karin Lechner… Elas são talvez mulheres atraídas por homens mais velhos. Esse nunca foi meu caso. Eu toquei sua sonata para piano no. 2 por um tempo porque ela é muito schumanniana (…) Eu gosto de Brahms. Era Gulda que não gostava muito dele”.
O álbum é encerrado pelas Fantasiestücke de Schumann para trio, que, ainda que executadas com muita competência (e talvez vibrato demais pelos cordistas), não deixam de soar um pouco frugais depois da tempestade brahmsiana daquele “Rondó à Moda Cigana” que encerra o quarteto.
Johannes BRAHMS (1833-1897) Quarteto para piano, violino, viola e violoncelo em Sol menor, Op. 25
1 – Allegro
2 – Intermezzo: Allegro ma non troppo – Trio: Animato
3 – Andante con moto
4 – Rondo alla Zingarese
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Fantasiestücke para piano, violino e violoncelo, Op. 88 5 – Romanze: Nicht schnell, mit innigem Ausdruck
6 – Humoreske: Lebhaft
7 – Duett: Langsam und mit Ausdruck
8 – Finale: Im Marschtempo
Martha é uma pianista dos pianistas, e nos perderíamos facilmente na conta dos colegas que a admiram. Mikhail Pletnev, que foi por um tempo seu vizinho na Suíça, é um de seus maiores fãs, e pôs sua admiração à obra, dedicando à Rainha uma transcrição para dois pianos da “Cinderella” de Prokofiev, estreada e gravada por ambos em 2003. A gravação, à qual se segue uma charmosa “Mamãe Gansa” de Ravel, é um deleite, e nos permite saborear os contrastes entre o estilo único de Marthinha (no piano à esquerda em Prokofiev e sentada à esquerda no Ravel) com o clássico sonzão russo de Pletnev (sentado à direita nas duas gravações).
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
1 – Introduction: Andante dolce
2 – Querelle: Allegretto
3 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
4 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
5 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso
6 – Gavotte: Allegretto
7 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
8 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
9 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante
Mikhail Pletnev, piano II
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Ma Mère l’Oye, suíte para piano a quatro mãos, M. 62
10 – Pavane de la Belle au Bois Dormant: Lent
11 – Petit Poucet: Très modéré
12 – Laideronnette, Impératrice des Pagodes: Mouvement de Marche
13 – Les Entretiens de la Belle et de la Bête: Mouvement de Valse très modéré
14 – Le Jardin Féerique: Lent et Grave
Apesar das muitas décadas morando na Europa, de ser cidadã suíça há mais de cinquenta anos, e de ter criado filhas francófonas, Martha nunca deixou de ser argentina, tanto no passaporte, quanto, principalmente, na identidade cultural. Em seus frequentes retornos a seu país, faz breves turnês por cidades do interior, de Rosario a Córdoba, e de Salta a Tucumán, e colabora, sempre que pode, com músicos argentinos.
A colaboração mais marcante, com sobras, foi aquela que aconteceu durante o Festival Argerich, em sua Buenos Aires natal, em setembro de 2003. Na ocasião, Martha e a Camerata Bariloche acompanharam a voz mítica de Mercedes Sosa (1935-2009), que, já abalada pelos problemas de saúde que a calariam alguns anos depois, não deixou de lotar o Teatro Colón e transformar a escadaria da avenida Libertad numa cachoeira de lágrimas. A colaboração foi proposta por Martha, para a completa incredulidade de Mercedes, tesouro nacional argentino e lenda viva da música do continente, que achou estar a receber um trote:
De repente eu peguei o telefone e ouvi ‘sou Martha Argerich’ e eu não entendi nada. Perguntei: ‘Martha, é você mesma?’ A minha surpresa foi tanta que só consegui convidá-la para comer empanadas. Mas ela me disse: ‘quero que você cante comigo no Colón’. Eu pensei que era uma piada. Nunca imaginei… Meus planos iam até cantar com Mina ou com Carlos Santana… E foi a Martha quem me ofereceu isso. Apesar de conhecê-la há muitos anos, nunca imaginei que ela me chamaria para fazer algo juntas. Nunca, nunca… Ela interpreta Prokofiev e nunca se apresentou com um cantor popular. Tenho toda a coleção de Chopin da Martha, comprada na França. Agora vamos fazer juntas obras como ‘A canção da árvore do esquecimento’, de Alberto Ginastera. Isso é um sonho.”
Sonho é uma boa palavra, que também descreve a vontade minha, tiete apaixonado das duas, de virar um besouro para me embrenhar nas coxias do Colón naquela noite portenha de inverno. Para minha, e por certo também nossa alegria, se o único encontro entre La Diosa e La Negra nunca foi lançado em álbum, alguma boa alma fez-nos o favor de colocá-lo no YouTube.
MERCEDES SOSA Y MARTHA ARGERICH EN VIVO EN EL TEATRO COLÓN 1 – La tempranera (León Benarós) 00:00 2 – Como pájaros en el aire (Peteco Carabajal) 05:12
3 – El alazán (Atahualpa Yupanqui – Pablo del Cerro) 08:32 4 – Doña Ubensa (Chacho Echeñique) 13:15
5 – Allá lejos y hace tiempo (A. Tejada Gómez – Ariel Ramírez) 16:33 6 – Canción del árbol del olvido (F. Silva Valdés – A. Ginastera) 21:27 7 – Las cartas de Guadalupe (Félix.Luna – Ariel Ramirez) 23:44
8 – El alazán (Atahualpa Yupanqui – Pablo del Cerro) 27:05 9 – Alfonsina y el mar (Félix Luna – Ariel Ramirez) 31:47
Gravado ao vivo no Teatro Colón em Buenos Aires, Argentina, em 8 de setembro de 2003
Um expediente recorrente de Martha no novo milênio passou a ser o de fazer participações especiais em álbuns de jovens colegas, seus protegidos. É o caso deste, da pianista petersburguense Polina Leschenko, com quem Martha divide a saborosa transcrição da por si só deliciosa “Sinfonia Clássica” de seu xodó Prokofiev. Leschenko prossegue com boas companhias, entre as quais o legendário violinista romani Roby Lakatos, que a despeito do shape de cantor de churrascaria e de flertar com ambiências semelhantes às de André Rieu, é um instrumentista e improvisador monstruoso, dos maiores que estão presentemente a respirar nesta mesma atmosfera. Prova disso é a “Dança do Sabre” de Khachaturian que surge como surpresa após o “Vocalise” de Rachmaninov extinguir-se: pura doideira!
Sergey PROKOFIEV Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace
Polina Leschenko, piano II
Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 5 – Allegro inquieto
6 – Andante caloroso
7 – Precipitato
Polina Leschenko, piano
Sonata em Dó maior para violoncelo e piano, Op. 119
8 – Andante grave
9 – Moderato
10 – Allegro ma non troppo
Christian Poltéra, violoncelo
Polina Leschenko, piano
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
De Souvenir d’un lieu cher, para violino e piano, Op. 42:
11 – No. 3: Mélodie
Sergey PROKOFIEV
De Lyubov k Tryom Apelsinam (“Amor das Três Laranjas”), Op. 33:
Arranjo para violino e piano de Jascha Heifetz (1901-1987)
12 – Marcha
Roby Lakatos, violino
Polina Leschenko, piano
Sergey Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943)
Dos Quatorze Romances, Op. 34:
13 – No. 14: Vocalise (arranjo para piano, violino e violoncelo)
Polina Leschenko, piano
Roby Lakatos, violino
Christian Poltéra, violoncelo
BÔNUS – faixa oculta (após o Vocalise):
Aram KHACHATURIAN (1903-1978)
Arranjo para violino e piano de Roby Lakatos (1965) Dança do Sabre, do balé Gayane
Roby Lakatos, violino
Polina Leschenko, piano
Gravado em Bruxelas, Bélgica, março a abril de 2005
Da mesma maneira que colabora com jovens talentos, Martha empresta seu prestígio para impulsionar carreiras de contemporâneas sem muita projeção discográfica. Nascida no Uzbequistão soviético e educada no Conservatório de Moscou, Dora Schwarzberg imigrou para Israel para depois radicar-se em Nova York. Importante pedagoga, cuja aluna mais ilustre é a enfant terrible Patricia Kopatchinskaja, Dora começou a construir sua discografia depois que Martha colou nela e não mais a largou. Aqui, na estreia do duo em álbum próprio – pois já tinham gravado Schumann naquele pacotão que lhes alcancei na postagem passada – elas atravessam um repertório familiar a Martha, especialmente pela sonata de Franck, em que ela já acompanhou inúmeros pianistas, de Accardo a Perlman, passando por Gitlis e Kremer.
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) Sonata em Sol menor para violino e piano
5 – Allegro vivo
6 – Intermède. Fantasque et léger
7 – Finale. Très animé
Robert SCHUMANN Fantasiestücke para violino e piano, Op. 73
8 – Zart und mit Ausdruck
9 – Lebhaft, leicht
10 – Rasch und mit Feuer
Martha dificilmente estará em território mais seguro que o de Schumann, seu grande amor de longuíssima data, e cujas composições seus dedos e temperamento tocam como ninguém. Poucas pessoas conseguem devorar o concerto de Robert como ela, que facilmente o toma como café da manhã, sem a menor taquicardia, nem derramar qualquer gotícula de suor. Martha, que o toca há setenta anos, nunca deixa de voltar a ele, como foi no caso da última vez que a ouvi ao vivo, ou como foi sob a batuta de outro grande schumanniano, Riccardo Chailly, na Gewandhaus da mesma Leipzig em que o compositor viveu tantos momentos fundamentais de sua breve existência. Esse registro é o meu preferido dela para essa obra, e recomendo fortemente aos que puderem assistir ao vídeo correspondente que observem o quão absoluto é o domínio de Martha sobre seu cavalo de batalha, e quão comovente é o contraste com o singelo bis (não incluso no CD) das Kinderszenen que ela toca no final.
Robert SCHUMANN
De Genoveva, ópera em quatro atos, Op. 81:
1 – Abertura
Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54 2 – Allegro affettuoso
3 – Intermezzo: Andantino grazioso
4 – Allegro vivace
Martha reencontra Rabinovitch, e ambos reencontram Varsóvia – e a Rainha presta uma homenagem a seu mestre, Friedrich Gulda, dividindo o palco com dois dos filhos dele no concerto para três pianos de Mozart. A noite seguiu com um ótimo No. 1 de Shostakovich, uma das peças favoritas de Martha (e o verdugo dos pobres trompetistas escalados para acompanhá-la), e concluiu com uma ótima leitura de Rabinovitch para a Nona de Dmitri. Por algum motivo, talvez contingências de espaço, o Mozart não coube no álbum oficial lançado pelo Instituto Nacional Chopin de Varsóvia, mas eu dei um jeito de consegui-lo e oferecê-lo em separado.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Concerto em Fá maior para três pianos e orquestra, K. 242, “Lodron” 1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Rondo: Tempo di minuetto
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
5 – Allegro con brio (bis)
Jakub Waszczeniuk, trompete
Sinfonia no. 9 em Mi bemol maior, Op. 70
6 – Allegro
7 – Moderato
8 – Presto
9 – Largo
10 – Allegretto — Allegro
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, agosto de 2006
Nesta nova parceria com seu amigo letão menos hirsuto, gravada ao vivo na Grande Sala da Philharmonie de Berlim, Martha escolheu repertório familiar a ambos e, a partir dele, teceu um programa engenhoso. O álbum abre com a mais impetuosa das sonatas de Schumann, da qual o duo já nos legou uma das melhores gravações disponíveis, e prossegue com dois números solo. Com a cabeluda sonata para violino solo de Bartók, Kremer passa consideravelmente mais trabalho que Martha, que toca as Kinderszenen que já têm impregnadas no tálamo, e que são sua primeiríssima opção sempre que tem que – como sabemos, a contragosto – voltar sozinha ao palco. A dupla volta a reunir seus esforços para uma elétrica sonata no. 1 de Bartók, uma das especialidades de Gidon, após a qual surpreendentemente restam forças para oferecer os dois singelos bombons de Kreisler.
Robert SCHUMANN Sonata para violino e piano no. 2 em Ré menor, Op. 121
1 – Ziemlich langsam – Lebhaft
2 – Sehr lebhaft
3 – Leise, einfach
4 – Bewegt
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para violino solo, Sz. 117, BB 124 (1943-44)
5 – Tempo di ciaccona
6 – Fuga. Risoluto, non troppo vivo
7 – Melodia. Adagio
8 – Presto
Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15 1 – Von fremden Ländern und Menschen
2 – Kuriose Geschichte
3 – Hasche-Mann
4 – Bittendes Kind
5 – Glückes genug
6 – Wichtige Begebenheit
7 – Träumerei
8 – Am Kamin
9 – Ritter vom Steckenpferd
10 – Fast zu ernst
11 – Fürchtenmachen
12 – Kind im Einschlummern
13 – Der Dichter spricht
Béla BARTÓK
Sonata para violino e piano no. 1, Sz. 75 14 – Allegro appassionato
15 – Adagio
16 – Allegro
Gravado ao vivo em Berlim, Alemanha, dezembro de 2006
O protagonista desde álbum, obviamente, é Vadim Repin e seu belo, nobre timbre que fazem do concerto de Beethoven uma delícia ainda maior de se ouvir, quanto mais sob a batuta de Riccardo Muti. Martha participa com uma de suas especialidades: ser a endiabrada pianista da “Kreutzer”, em contraste vivo com o som mais polido de Repin. O resultado – dir-se-ia um violino apolíneo e um teclado dionisíaco – é excelente e remete a gravações de outras duplas com o mesmo temperamento, como Oistrakh e Richter.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Concerto em Ré maior para violino e orquestra, Op. 61
1 – Allegro ma non troppo
2 – Larghetto
3 – Rondo: Allegro
Vadim Repin, violino
Wiener Philharmoniker
Riccardo Muti, regência
Sonata para violino e piano em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Presto
Dmitri SHOSTAKOVICH Arranjo para violino e piano de Dmitri Tziganov (1903-1992) Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 34 7 – No. 10 em Dó sustenido menor
Vadim Repin, violino
Gravado em Viena, Áustria, fevereiro de 2007 (concerto) e ao vivo em Lugano, Suíça, junho de 2007
Eis que Marthinha faz uma nova participação especial para dar novamente uma força (uma tremenda força) a um muito jovem colega. Pelo obscuro selo Dynamic, ela e o estiloso garoto Gabriele Baldocci – então com tenros dezoito anos – gravaram um recital de muito sumo e com repertório de vasto escopo, de Mozart a Shostakovich. Na Brazileira de Scaramouche, Milhaudcita (sem creditar) temas de Ernesto Nazareth, da mesma forma que fez, décadas antes, em Le Boeuf sur le Toit – também, avacalhadamente, sem crédito algum ao nosso gênio do Morro do Pinto.
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata para dois pianos em Ré maior, K.448 (375a)
1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Allegro molto
Dmitri SHOSTAKOVICH
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
4 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto
Sergei RACHMANINOFF Suíte para dois pianos no. 1 em Sol menor, “Fantaisie-Tableaux”, Op. 5
6 – Barcarolle
7 – La Nuit….L’Amour
8 – Les Larmes
9 – Pâques
Darius MILHAUD (1892-1974) Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b 10 – Vif
11 – Modéré
12 – Brazileira
Maurice RAVEL 13 – La Valse, poema coreográfico
Gabriele Baldocci, piano II
Gravado ao vivo em Livorno, Itália, fevereiro de 2008
O encerramento discográfico da década de Martha deu-se, como ocorrera na anterior, com Chopin. Num de seus muitos retornos a Varsóvia, ela apresentou a oferenda quase compulsória do concerto em Mi menor de Fryderyk, além de peças para violoncelo e piano na companhia de seu irmão quase siamês, Mischa Maisky. As gravações ao vivo resultantes foram realizadas no contexto do Festival “Chopin e sua Europa”, promovido pelo Instituto Nacional Fryderyk Chopin da capital polonesa, para o qual Marthinha e seus amiguinhos costumam ser arroz de festa.
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Sinfonia Varsovia
Jacek Kaspszyk, regência
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 65
4 – Allegro moderato
5 – Scherzo
6 – Largo in B-flat major
7 – Finale. Allegro
Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3 8 – Introduction: Lento – Alla polacca: Allegro con spirito
A década de 90 foi, para Martha, desgraçadamente assombrada pela morte. Além de perder sua mãe, Juanita, e sua melhor amiga, Diane, para o câncer, ela própria viu-se acometida pelo flagelo. Desde o diagnóstico de melanoma, no início da década, até que a declararam curada, no final dela, a Rainha foi submetida a tratamentos dolorosos e duras escolhas. A mais difícil delas deu-se na recidiva, em meados da década, quando o tumor metastatizou para os pulmões e linfonodos. Foi-lhe sugerida uma cirurgia no tórax que poderia salvar a mulher, mas certamente mataria a pianista, cortando vários músculos fundamentais para sua arte. Martha escolheu submeter-se a um tratamento experimental a base de vacinas, que lhe permitiu uma operação menos radical. Deu certo e, num gesto de gratidão ao Instituto de Câncer John Wayne em Santa Mônica, Estados Unidos, onde recebeu o bem-sucedido tratamento, a Rainha voltou a subir sozinha ao palco, depois de quase vinte anos, para dar um recital em prol do Instituto para um Carnegie Hall lotado:
Naturalmente, a luta pela vida repercutiu na carreira de Martha. Sua discografia na década reflete essas imensas dificuldades pessoais – alguns anos passaram completamente em branco, sem gravações – e consolidou as tendências da década anterior: nenhum registro solo, muitas gravações de música de câmara com os velhos parceiros de sempre. Entre as novidades, a exploração de repertório novo e a colaboração estreita com Alexandre Rabinovitch em duos para piano, tocando sob sua regência, e gravando suas composições.
Não me lembro onde, mas tenho impressão de já ter lido que Martha não é muito fã de Rachmaninov. Se isso pode surpreender quem, como eu e o resto do Universo, fica de queixo caído com sua gravação do concerto no. 3 sob Chailly, também parece meio óbvio pela virtual ausência das peças solo de Rach do repertório da Rainha. Em seus recitais em duo, em compensação, Sergei Vasilyevich é figurinha fácil – e tem esse disco todinho dedicado a ele, com a primeira das muitas aparições de Alexandre Rabinovitch na discografia marthinhiana da década de 90, e a primeira das capas da Teldec em que nossa deusa parece estar no meio dum climão com quem era então su guapo.
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 1 em Sol menor, “Fantaisie-Tableaux”, Op. 5
1 – Barcarolle
2 – La Nuit….L’Amour
3 – Les Larmes
4 – Pâques
Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
5 – Introduction
6 – Valse
7 – Romance
8 – Tarantella
Danças Sinfônicas, para orquestra, Op. 45
Transcrição para piano do próprio compositor
9 – Non allegro
10 – Andante con moto
11 – Lento assai
As composições de Alexandre Rabinovitch mereceriam uma postagem à parte, mas, enquanto eu os afogo com melífluas torrentes de Martha, deixo-lhes algumas amostras do que o pibe criou. Nascido e educado na União Soviética, aluno de Dmitry Kabalevsky, Rabinovitch destacou-se como pianista, tocando muita música contemporânea enquanto buscava rumo como compositor. Sua dedicação inicial à música serial, banida pelo regime soviético, foi abandonada depois que Alexei Lubimov lhe apresentou a música dos minimalistas dos Estados Unidos. Deixou o país de origem, por completa falta de perspectivas, para encontrar menos perspectivas ainda em Paris, onde Boulez reinava absoluto e deixava pouca coisa crescer a seu redor. Mudanças para Bruxelas e Genebra acabaram por colocá-lo no caminho de Martha Argerich, com quem dividiu palcos e estúdios, cigarros e dentifrícios – e que é o motivo maior para o moço aparecer por aqui. Sua música é muito interessante, sobretudo por nutrir-se de diversas referências, como poderão perceber pela obra que abre o álbum duplo a seguir, e porque seu estilo contrasta com a música “estática” que desinformados como eu muitas vezes esperam de obras minimalistas. A participação da Rainha na coletânea resume-se à gravação ao vivo da Musique Populaire, assim chamada por basear-se em temas de música popular, notória por ser, depois de meio século de vida e quase isso tanto a tocar pianos acústicos, sua primeira num instrumento plugado.
Alexandre RABINOVITCH Barakovsky (1945)
Six États Intermediaires (1998), sinfonia baseada no livro tibetano dos mortos, “Bardo Thödol” 1 – La Vie
2 – Le Rêve
3 – La Transe
4 – Le Moment de la Mort
5 – La Réalité
6 – L’Existence
Beogradska Filharmonija (Filarmônica de Belgrado)
Alexandre Rabinovitch, regência
7 – Musique Populaire (1980), para dois pianos amplificados
“Musique Populaire” gravada em Varsóvia, Polônia, abril de 1992
Num dos raros retornos a Varsóvia sem tocar Chopin, Martha não esqueceu de trazer a tiracolo seu amigo e vizinho inseparável, Mischa Maisky. A dupla ofereceu um programa inteiramente dedicado a Haydn, com o bônus de uma das poucas gravações lançadas da famosa sonatinha de Scarlatti que nossa deusa costuma tocar como bis – e como ninguém mais entre os terráqueos – para o pasmo das plateias mundo afora.
Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Hob. XVIII:11
1 – Vivace
2 – Un poco adagio
3 – Rondo all’Ungarese: Allegro assai
Orkiestra Kameralna Polskiego Radia Amadeus
Agnieszka Duczmal, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonata em Ré menor, K. 141
4 – Allegro Joseph HAYDN
Concerto para violoncelo e orquestra no. 1 em Dó Maior, Hob. VIIb/1 5 – Moderato
6 – Adagio
7 – Allegro molto
Mischa Maisky, violoncelo
Orkiestra Kameralna Polskiego Radia Amadeus
Agnieszka Duczmal, regência
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Suíte para violoncelo no. 2 em Ré menor, BWV 1008 8 – Sarabande
Da Suíte para violoncelo no. 3 em Dó maior, BWV 1009 9-10 – Bourrée I & II
Da Suíte para violoncelo no. 5 em Dó menor, BWV 1011 11-12 – Sarabande
Mischa Maisky, violoncelo
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, abril de 1992
Para alguém que idolatrava Horowitz a ponto de se mudar de mala e cuia para Nova Iorque para tentar tornar-se sua aluna, é curioso que Scriabin, um dos xodós de Volodya, estivesse fora do repertório e da discografia de Martha até o lançamento desse álbum, dedicado integralmente a obras que tangem o mito de Prometeu. Acompanhada por Claudio Abbado e os filarmônicos de Berlim, a Rainha executa a parte de piano obbligato do “Poema do Fogo” de Scriabin, somando-se às forças orquestrais, a um coro e a uma iluminação colorida prescrita pelo compositor e originalmente destinada a um clavier à lumières inventado por ele. Apesar da baixa qualidade da imagem, vale a pena conferir o vídeo da performance para ter uma ideia aproximada do que tramou Alexander.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Suíte de Die Geschöpfe Des Prometheus, Op. 43
1 – Introduction. Allegro non Troppo
2 – No. 1: Poco adagio – Allegro con brio
3 – No. 9: Adagio – Allegro molto
4 – No. 10: Pastorale. Allegro
5 – No. 14: Allegretto
6 – No. 15: Adagio – Allegro
7 – No. 16: Finale. Allegretto
Franz LISZT (1811-1886) Prometheus, poema sinfônico, S. 99
8 – Allegro energico ed adagio assai – Allegro molto appassionato
Aleksandr Nikolayevich SKRIABIN (1871-1915)
9 – Promethée, Le Poème du Feu, Op. 60
Martha Argerich, piano
Berliner Singakademie
Luigi NONO (1924-1990) Suíte de Prometeo, Tragedia dell’Ascolto
10 – 3 Voci (baseado em texto de Walter Benjamin)
11 – Isola Seconda (baseado em Hyperions Schicksalslied, de Friedrich Hölderlin)
Mathias Schadock e Ulrike Krumbiegel, narradores
Ingrid-Ade Jesemann e Monika Bair-Ivenz, sopranos
Susanne Otto, contralto
Peter Hall, tenor
Michael Hasel, flauta baixo
Manfred Preis, clarinete contrabaixo
Christhard Gössling, eufônio e tuba Solistenchor Freiburg
Peça final de seu triunfo no Concurso Chopin de 1965, o concerto em Mi menor do Frederico é uma das figurinhas mais fáceis na discografia e nos programas dos concertos de Martha mundo afora: difícil, enfim, é que ela volte a Varsóvia e deixe de tocá-lo. O CD a seguir registra um desses retornos, curiosamente pareado com Rossini e Mendelssohn, sob a batuta de Grzegorz Nowak, que mais tarde se tornaria regente associado da Royal Philharmonic em Londres, e com a Sinfonia Varsovia, orquestra fundada e apadrinhada pelo grande Yehudi Menuhin.
Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868) L’italiana in Algeri, drama jocoso em dois atos 1 – Sinfonia
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
2 – Allegro maestoso
3 – Romance. Larghetto
4 – Rondo. Vivace
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847) Sinfonia no. 4 em Lá maior, Op. 90, “Italiana”
5 – Allegro vivace
6 – Andante con moto
7 – Con moto moderato
8 – Presto e finale: Saltarello
Sinfonia Varsovia
Grzegorz Nowak, regência
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, dezembro de 1992
O velho amigo Abbado, lá em 1992, devia estar afiadíssimo na difícil arte de persuadir a nada persuadível Martha a aprender novo repertório: depois do primeiro (e policromático) Scriabin da carreira da distinta senhora, Claudio a pôs para tocar seu primeiro Strauss. Vá lá que a Burleske, composta mais ou menos na época em que Richard atingiu a maioridade penal, seja fichinha para suas hábeis mãos, mas ainda sim deve-se notar sua proeza em dotar essa estranha cria concertística, renegada tanto pelo seu dedicatário, Hans von Bülow, quanto por muito tempo pelo próprio compositor, de um interesse que passa ao largo da maioria das gravações da obra.
Richard Georg STRAUSS (1864-1949)
1 – Don Juan, poema sinfônico, Op. 20
Toru Yasunaga, violino
2 – Burleske em Ré menor, para piano e orquestra
Martha Argerich, piano
3 – Till Eulenspiegels Lustige Streiche, poema sinfônico, Op. 28
Da ópera Der Rosenkavalier, Op. 59 4 – Ato III: Trio e Finale
Kathleen Battle e Renée Fleming, sopranos
Frederica von Stade, mezzo-soprano
Andreas Schmidt, barítono
Berliner Philharmoniker
Claudio Abbado, regência
Gravado em Berlim, Alemanha, em 31 de dezembro de 1992
Um xodó tardio na carreira de Martha é o primeiro concerto de Shosta, uma composição ebuliente e hiperativa, bem no estilo do nicotinado compositor e muito afeita a quem toca o terceiro de Prokofiev como ninguém. Sempre que volta à obra, a Rainha parece se divertir ao fazer um racha com o pobre solista de trompete, que invariavelmente passa por maus lençóis ao tentar acompanhar a velocidade lúbrica dos deditos de Marthinha, que, por sua vez, despacha a obra numa lepidez comparável à do próprio Shosta. Aqui, o trompetista sai-se muito bem – Guy Trouvon é feríssima, fruto mui digno da brilhante escola francesa de seu instrumento – e o registro resultante é um marco tanto na carreira de Martha quanto na discografia da obra, só superado pelo embate épico, de décadas depois, entre a deusa portenha do piano e Sergei Nakariakov, que é chamado de “Paganini do trompete” e não sem bons motivos.
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Guy Touvron, trompete
Joseph HAYDN Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Hob. XVIII:11
4 – Vivace
5 – Un poco adagio (cadenza: Wanda Landowska)
6 – Rondo all’Ungarese: Allegro assai
Esta gravação do inseparável duo Marthita/Nelsito traz aquela peça de resistência de seu repertório – a sensacional Sonata para dois pianos e percussão de Béla Viktor János – acrescida de composições de Ravel para dois pianos… e percussão. A atraente contribuição da carinhosamente chamada “cozinha” aos cordofones solistas foi acrescentada por Peter Sadlo (1962-2016), um tremendo percussionista que também participa desse registro de seus arranjos.
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
1 – Assai lento – Allegro molto
2 – Lento, ma non troppo
3 – Allegro non troppo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Ma Mère l’Oye, suíte para piano a quatro mãos, M. 62
Transcrição para dois pianos: Gaston Choisnel (1857-1921)
Arranjo para dois pianos e percussão: Peter Sadlo (1962-2016)
4 – Pavane de la Belle au Bois Dormant: Lent
5 – Petit Poucet: Très modéré
6 – Laideronnette, Impératrice des Pagodes: Mouvement de Marche
7 – Les Entretiens de la Belle et de la Bête: Mouvement de Valse très modéré
8 – Le Jardin Féerique: Lent et Grave
Rapsodie Espagnole, para orquestra, M. 54
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
Arranjo para dois pianos e percussão de Peter Sadlo
9 – Prélude à la Nuit. Modéré
10 – Malagueña. Assez vif
11 – Habanera. En demi-teinte et d’un rythme las
12 – Feria. Assez vif
Nelson Freire, piano II
Edgar Guggeis e Peter Sadlo, percussão
Gravado em Nijmegen, Países Baixos, fevereiro de 1993
Se há qualquer um entre vós outros que sonhou em ouvir Martha tocar algo que não fosse piano, eu ora anuncio com júbilo:
– Regozijai!
Em mais um álbum dedicado a obras de Rabinovitch, a Rainha não só toca celesta – tanto acústica quanto amplificada – como divide o palco possivelmente pela primeira vez com uma guitarra elétrica, além dum bocado de marimbas e vibrafones. Sua contribuição pianística e desplugada, a quatro mãos com o próprio compositor, é a Liebliches Lied (“Adorável Canção”), baseada em temas de Brahms e de Schubert (a cuja identificação desafio os atentos leitores-ouvintes).
Alexandre RABINOVITCH 1 – Incantations (1996)
Martha Argerich, piano amplificado e celesta
Daisuke Suzuki, guitarra elétrica
Hidemi Nurase, Mitsuyo Wada, Momoko Kamiya e Naoaki Kobayashi, marimbas e vibrafones Hibiki String Orchestra
Alexandre Rabinovitch, regência
2 – Schwanengesang an Apollo (1996)
Yayoi Toda, violino
Martha Argerich, celesta amplificada
Alexandre Rabinovitch, piano
3 – La Belle Musique no. 3 (1977) Budapesti Rádió Szimfonikus Zenekara (Orquestra Sinfônica da Rádio de Budapeste)
György Lehel, regência
4 – Liebliches Lied Alexandre Rabinovitch e Martha Argerich, piano
Gravado em Berna, Suíça, novembro de 1993 (Liebliches Lied) e em Tóquio, Japão, maio de 1998 (Incantations)
A integral das sonatas de Beethoven com Gidon Kremer foi retomada, duma forma surpreendemente ordeira para a carreira de nossa errática Marthinha, na exata ordem de publicação das obras. As três sonatas do Op. 30, em que os dois instrumentos ensaiam a igualdade de tratamento que receberão na “Kreutzer” e na Op. 96, são claramente conduzidas por ela, e dum jeito que nos faz imaginar, uma vez mais, o que ela teria sido capaz de ter feito se tivesse tocado, além de tão só esta, essa e aquela, algumas das outras vinte e nove sonatas para piano do renano.
Ludwig van BEETHOVEN Três sonatas para violino e piano, Op. 30
No. 1 em Lá maior
1 – Allegro
2 – Adagio molto espressivo
3 – Allegretto con variazioni
No. 2 em Dó menor
4 – Allegro con brio
5 – Adagio cantabile
6 – Scherzo: Allegro
7 – Finale: Allegro – Presto
No. 3 em Sol maior
8 – Allegro assai
9 – Tempo di minuetto, ma molto moderato e grazioso
10 – Allegro vivace
A julgar pela capa, as coisas andavam às mil maravilhas entre a pareja Martha & Alexandre durante a gravação desse álbum. O que nele se escuta corrobora a impressão: Rabinovitch é excelente pianista, muito bom intérprete de Mozart, e certamente ajudou a Rainha a sentir-se à vontade com este compositor que, a despeito da farta dose vienense de sua formação pianística, confessamente nunca foi muito seu chão.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para dois pianos em Ré maior, K.448 (375a)
1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Allegro molto
Andante e variações para piano a quatro mãos em Sol maior, K.501 4 – Andante – Variações I-V
Sonata para piano a quatro mãos em Dó maior, K.521
5 – Allegro
6 – Andante
7 – Allegretto
Sonata para piano a quatro mãos em Ré maior, K.381 (123a)
8 – Allegro
9 – Andante
10 – Allegro molto
Martha nunca foi muito de dar alegria aos completistas: só para ficar em Beethoven, levou a público apenas três entre as trinta e duas sonatas para piano, e gravou somente os três primeiros entre os cinco concertos (tocou o “Imperador” apenas duas vezes, e “mal”, e recusou-se a vida toda, e duma maneira quase fóbica, a aprender o concerto no. 4, em função duma epifania que experimentou ao ouvi-lo com Arrau, e arrepiar-se, aos seis anos de idade: “tenho medo do que aconteceria; é muito importante para mim”). Assim, é muito significativo que ela tenha se disposto a gravar, e de fato concluir, a integral das sonatas para violino ao lado do amigo Gidon Kremer. O disco final da série tem, na “Kreutzer”, tudo o que se pode esperar de temperamento argerichiano, embora o ponto alto para mim seja a tão subestimada Op. 96, escrita no limiar do período criativo transcendental do mestre de Bonn, em que o diálogo entre os instrumentos de Martha e Gidon transparece a mesma cumplicidade que suas caras preparadas na capa do álbum.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
Sonata para violino e piano em Sol maior, Op. 96 4 – Allegro moderato
5 – Adagio espressivo
6 – Scherzo: Allegro – Trio
7 – Poco allegretto
Falando em completistas, essa soirée schumanniana gravada por Martha e outras estrelas nos Países Baixos traz quase a integral da música de câmara de Robert Alexander para três ou mais instrumentos. No estrelado elenco, destaco Natalia Gutman, professora do Conservatório de Moscou, que, apesar de muito grata a seu professor Rostropovich, teve como maior mentor um pianista, o gigante Sviatoslav Richter, e se dá muito bem no dueto com Martha. Chamo a atenção também para o Op. 46, que nunca tinha ouvido antes, com sua incomum instrumentação para dois pianos, dois violoncelos e trompa (!), e para a maior obra-prima do álbum, o belíssimo quinteto com piano, ao qual Martha empresta decisivamente seu inigualável élan.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856 Quinteto em Mi bemol maior para piano, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 44
1 – Allegro brillante
2 – In modo d’una marcia (un poco largamente – agitato – a tempo)
3 – Scherzo (molto vivace) & trio
4 – Allegro ma non troppo
Andante e variações em Si bemol maior para dois pianos, dois violoncelos e trompa, Op.46 5 – Sostenuto – Andante espressivo – Un poco piu animato – Più animato – Più lento – Un poco più lento
6 – Più lento – Animato
7 – Doppio movimento – Tempo primo – Più adagio
Alexander Rabinovitch, piano II
Mischa Maisky e Natalla Gutman, violoncelos
Marie-Luise Neunecker, trompa
Quarteto em Mi bemol maior para violino, viola, violoncelo e piano, Op. 47
8 – Sostenuto assai- Allegro ma non troppo
9 – Scherzo (Molto vivace) & Trio
10 – Andante cantabile
11 – Finale (Vivace)
Dora Schwarzberg, violino
Nobuko Imai, viola
Natalia Gutman, violoncelo
Alexander Rabinovitch, piano
Fantasiestücke para violoncelo e piano, Op. 73
1 – Zart und mit Ausdruck
2 – Lebhaft, leicht
3 – Rasch und mit Feuer
Natalia Gutman, violoncelo
Adagio e Allegro em Lá bemol maior para trompa e piano, Op. 70
4 – Langsam, mit innigem Ausdruck
5 – Rasch und feurig
Marie-Luise Neunecker, trompa
Alexandre Rabinovitch, piano
Märchenbilder para viola e piano, Op. 113
6 – Nicht schnell
7 – Lebhaft
8 – Rasch
9 – Langsam, mit melancholischem Ausdruck
Nobuko Imai, viola
Sonata em Ré maior para violino e piano, Op. 121
10 – Zeimlich langsam – Lebhaft
11 – Sehr lebhaft
12 – Leise, einfach
13 – Bewegt
Dora Schwarzberg, violino
Gravado ao vivo em Nijmegen, Países Baixos, setembro de 1994
E dessa capa, o que acham vocês? Martha e Rabinovitch parecem não só num climão meio tenso, como também as últimas pessoas capazes de tocar Mozart em dueto. Felizmente, o álbum é bem melhor que a capa (afirmação quase sempre verdadeira, quando se trata da Teldec): Martha volta ao concerto no. 20, que tocou muitas vezes quando menina e garota, Rabinovitch toca e conduz o de no. 19, e os pombinhos voltam a se reunir no concerto para dois pianos. Seguirão a arrulhar juntos? Resposta no álbum seguinte.
Wolfgang Amadeus MOZART
Concerto para piano e orquestra no. 20 em Ré maior, K. 466 Cadenze: Ludwig van Beethoven
1 – Allegro
2 – Romance
3 – Allegro assai
Orchestra di Padova e del Veneto Alexandre Rabinovitch, regência
Concerto para piano e orquestra no. 19 em Fá maior, K. 459 Cadenze do próprio compositor
4 – Allegro
5 – Allegretto
6 – Allegro assai
Orchestra di Padova e del Veneto Alexandre Rabinovitch, piano e regência
Concerto em Mi bemol maior para dois pianos e orquestra, K. 365 Cadenze do próprio compositor
7 – Allegro
8 – Andante
9 – Rondo. Allegro
Württenbergisches Kammerorchestra Heilbronn
Alexandre Rabinovich, piano I e regência
Gravado em Stuttgart, Alemanha, janeiro de 1995 (K. 365) e em Pádua, Itália, setembro de 1998 (K. 459 e K. 466)
Sim: os pombinhos seguiram juntos e, a julgar pela capa, os tacapes pararam de voar numa certa casa em Genebra. Uma vez mais Martha arrisca repertório novo, e o que há neste disco é muito curioso. Esperava, admito, um pouco mais do “Aprendiz de Feiticeiro”, certamente por estar acostumado ao original e sua espirituosa orquestração, mas reconheço a competência do arranjo de Rabinovitch e a qualidade da execução, adequadamente temperamental. A grande surpresa, sem dúvidas, é o arranjo da “Sinfonia Doméstica” de Strauss, uma obra que nunca me despertou qualquer interesse na versão original, e que cintila sob os vinte talentosos dedinhos do casal. Se duvidam, ouçam a Wiegenlied (“Canção de Ninar”) e o Adagio e depois me contem se não estão entre as melhores coisas que Martha já tocou em duo!
Paul Abraham DUKAS (1865-1935)
Transcrição para dois pianos de Alexandre Rabinovitch
1 – L’Apprenti Sorcier
Richard STRAUSS Transcrição para dois pianos de Otto Singer (1863-1931) Symphonia Domestica, poema sinfônico, Op. 53 2 – Bewegt – Ⅰ. Thema: Sehr lebhaft – Ⅱ. Thema: Ruhig – Ⅲ. Thema
3 – Scherzo: Munter
4 – Wiegenlied: Mäßig langsam
5 – Adagio: Langsam
6 – Finale: Sehr lebhaft
Os quase três anos que separam este álbum do anterior tiveram, para Martha, o emblema do câncer que lhe voltou, que ela enfrentou, e do qual se curou. É bastante significativo, portanto, que, ao retomar sua discografia, ela tenha incorporado peças novas a seu repertório, escolhido a companhia segura de queridos parceiros de palco e da vida, e tocado ante uma plateia no Japão que ela tanto adora. As duas obras-primas incluídas no álbum – o segundo trio de Shostakovich e seu congênere, dedicado por Tchaikovsky à memória de Nikolai Rubinstein – receberam leituras inesquecíveis. Não tenho qualquer prurido em declarar essa interpretação do trio no. 2 de Shosta a melhor que já ouvi dessa obra, nem em reconhecer que o som ultrarromântico e sentimental de Mischa Maisky aqui se encaixa à perfeição com a melancolia da peça de Tchaikovsky, e que Martha e Kremer lhe somam à altura.
1 – Aplauso
Dmitri SHOSTAKOVICH Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
2 – Andante – Moderato – Poco più mosso
3 – Allegro con brio
4 – Largo
5 – Allegretto – Adagio
Pyotr TCHAIKOVSKY Trio em Lá menor para piano, violino e violoncelo, Op. 50
6 – Pezzo Elegiaco: Moderato assai – Allegro giusto – In tempo molto sostenuto – Adagio con duolo e ben sostenuto – Moderato assai – Allegro giusto
7 – Tema con variazioni: Andante con moto
8 – Variazione I
9 – Variazione II: Più mosso
10 -Variazione III: Allegro moderato
11 – Variazione IV: L’istesso tempo (Allegro moderato)
12 – Variazione V: L’istesso tempo
13 – Variazione VI: Tempo di valse
14 – Variazione VII: Allegro moderato
15 – Variazione VIII: Fuga (Allegro moderato)
16 – Variazione IX: Andante flebile, ma non tanto
17 – Variazione X: Tempo di mazurka
18 – Variazione XI: Moderato
19 – Variazione finale e coda: Allegro risoluto e con f
20 – Coda: Andante con moto – Lugubre
Peter KIESEWETTER (1945-2012)
21 – Tango Pathétique
Ao assinar com a EMI, Martha foi prontamente convidada a gravar com outra grande estrela da gravadora, o israelense Itzhak Perlman. A admiração entre ambos, sempre mútua e imensa, teve que esperar até o verão de 1998 para virar parceria nos palcos, durante o Festival de Saratoga Springs, nos Estados Unidos. O repertório não fugiu do habitual: a sonata de Franck, em que a Rainha já acompanhou tantos violinistas, e a “Kreutzer” de Beethoven, para a qual é difícil imaginar pianista melhor. O recital é uma deleite tão grande quanto devem ter sido seus bastidores: Martha é declaradamente viciada em conversar, que é sua droga favorita, e o bonachão Itzhak, com seu vozeirão de barítono, um tremendo contador de histórias.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 4 – Allegretto ben moderato
5 – Allegro
6 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
7 – Allegretto poco mosso
Itzhak Perlman, violino
Gravado ao vivo em Saratoga Springs, Estados Unidos, julho de 1998
A participação de Martha no Festival de Saratoga também incluiu uma parceria com sua alma gêmea, Nelson Freire, no Concerto Pathétique de Liszt, uma interessante peça para dois pianos que antecipa, em muitos aspectos, a revolucionária forma cíclica e mesmo algum material temático de sua obra-prima, a Sonata em Si menor. Antes dele, fez uma vigorosa leitura dos Contrastes de Bartók, tocando a parte que coube ao próprio compositor na primeira gravação da obra, acompanhada do excelente clarinetista Michael Collins e pela violinista Chantal Juillet, amiga de Martha e atual esposa de Charles Dutoit, ex-Don Argerich.
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 1 – Allegro serioso, non troppo
2 – Adagio – Andante – Tempo I
3 – Maestoso e largamente, na non troppo lento – Presto
Chantal Juillet, violino
Truls Mørk, violoncelo
Béla BARTÓK
Contrasts, para violino, clarinete e piano, Sz. 111
4 – Verbunkos
5 – Pihenö
6 – Sebes
Chantal Juillet, violino
Michael Collins, clarinete
Franz LISZT
7 – Concerto Pathétique em Mi menor, para dois pianos e orquestra, S. 258
Nelson Freire, piano II
Gravado ao vivo em Saratoga Springs, Estados Unidos, julho de 1998
Se a instabilidade e o temperamento terrível de Martha sempre garantiram emoções fortes durante seus relacionamentos, tudo indica também que nossa Rainha é uma excelente ex-esposa. Prova disso é que que ela continua não só muito amiga de Charles Dutoit, com quem foi casada entre 1969 e 1973, como segue a gravar e tocar com ele (não sem faíscas, claro, algumas repletas de bom humor). Dutoit é ótimo regente e sabe, como talvez nenhum outro, envolver o indomável som de Martha com a orquestra. Seu período à frente da Sinfônica de Montreal foi um dos melhores de sua carreira e certamente o mais brilhante que esse conjunto já viveu, e acabou coroado com essa soberba gravação dos concertos de Chopin, na qual destaco aquele em Fá menor, que Martha tocou tão raras vezes, e que aqui recria com seu estilo inimitável, quase improvisatório, que torna sua leitura do Larghetto tão especial.
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
4 – Maestoso
5 – Larghetto
6 – Allegro vivace
Orchestre Symphonique de Montréal
Charles Dutoit, regência
Entre os tantos discos que lhes trouxe para celebrar as idades de Marthinha, foi este o mais difícil de conseguir. Lançado somente no Japão, ele celebra a estreia do Festival Argerich na cidade de Beppu, uma estação termal localizada em Kyushu, a mais meridional das grandes ilhas do arquipélago japonês. O parceiro da Rainha no recital de abertura é o velho amigo Ivry Gitlis, e o programa – nenhuma surpresa – traz o tradicional combo Franck-Kreutzer. A surpresa genuína é o quanto Gitlis, um intérprete bastante idiossincrático (para dizer o mínimo) segura sua onda improvisatória na “Kreutzer”: se duvidam, comparem o registro de Beppu com esta outra gravação do duo que vocês me entenderão.
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata para violino e piano em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
1 – Adagio sostenuto – Presto
2 – Andante con variazioni
3 – Presto
César FRANCK Sonata em Lá maior para violino e piano 4 – Allegretto ben moderato
5 – Allegro
6 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
7 – Allegretto poco mosso
Ivry Gitlis, violino
Gravado em Beppu, Japão, novembro de 1998 (Beethoven) e novembro de 1999 (Franck)
Assim como o Japão, a Polônia é um dos locais a que Martha mais gosta de voltar. Não surpreende, pois, que ela tenha celebrado a notícia de sua cura, em 1999, com uma série de concertos em Varsóvia, cidade donde foi catapultada para a fama mundial mais de três décadas antes. Este CD, gravado ao vivo, registra uma das poucas noites em que Martha ofereceu dois concertos para piano no mesmo programa: antes de encerrar com seu tradicional cavalo de batalha, o primeiro concerto de Chopin, que ela nunca deixa de tocar quando volta à capital polonesa, a Rainha conduz a plateia por uma alucinante travessia do primeiro concerto de Liszt. La re putissima madre, Marthinha.
Wolfgang Amadeus MOZART
Sinfonia no. 35 em Ré maior, K. 385, “Haffner” 1 – Allegro con spirito
2 – Andante
3 – Menuetto
4 – Presto
Franz LISZT
Concerto para piano e orquestra nº 1 em Mi bemol maior, S.124 5 – Allegro maestoso
6 – Quasi adagio
7 – Allegretto vivace – Allegro animato
8 – Allegro marziale animato
Fryderyk CHOPIN Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
9 – Allegro maestoso
10 – Romance. Larghetto
11 – Rondo. Vivace
Sinfonia Varsovia
Alexandre Rabinovitch, regência
Gravado ao vivo em Varsóvia, Polônia, maio de 1999
A sexta década da discografia de Martha encerrou em território amigo: tocando Schumann com o vizinho Mischa Maisky – que sempre cresce nas parcerias com sua vizinha – e fotografada para a capa pela caçula Stéphanie, responsável pela maior janela que já tivemos ao palácio interior de nossa Rainha. Este álbum bonito, ainda que sem grandes surpresas, é encerrado por uma ótima gravação do concerto de Robert por Maisky e pela Orpheus.
Robert SCHUMANN
Adagio e Allegro em Lá bemol menor para violoncelo e piano, Op. 70
1 – Langsam, mit innigem Ausdruck
2 – Rasch und feurig
Fantasiestücke para violoncelo e piano, Op. 73 3 – Zart und mit Ausdruck
4 – Lebhaft, leicht
5 – Rasch und mit Feuer
Dos Três Romanzen, Op. 94
6 – No. 1: Nicht schnell
Fünf Stücke im Volkston, Op. 102 7 – “Vanitas Vanitatum”, mit Humor
8 – Langsam
9 – Nicht schnell, mit viel Ton zu spielen
10 – Nicht zu rasch
11 – Stark und Markiert
De Märchenbilder, para viola e piano, Op. 113 Transcrição de Mischa Maisky para violoncelo e piano
12 – No. 1: Nicht schnell
Mischa Maisky, violoncelo
Concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129
13 – Nicht zu schnell
14 – Langsam
15 – Sehr lebhaft
Martha chegou aos trinta anos com a carreira já consolidada, após o triunfo no VII Concurso Internacional Chopin. Baseada na Suíça Romanda e casada com o regente Charles Dutoit, via-se bastante requisitada pelos estúdios e em turnês pela Europa, Américas e Japão. Restava pouco tempo para a família que crescia: além da genebrina Lyda e da bernesa Anne-Catherine, filha de Dutoit, a década ainda veria o nascimento de outra menina, Stéphanie, fruto de seu breve relacionamento com o pianista Stephen Kovacevich – e que, após um frugal cara e coroa, recebeu o sobrenome da mãe.
Passaremos ao largo da colorida, dir-se-ia rocambolesca vida pessoal de nossa deusa, uma porque jamais conseguiríamos contá-la de maneira tão deliciosa quanto a do documentário que Stéphanie lhe dedicou, outra porque, no que tange ao nosso interesse maior, que é a grande música que faz a Rainha, sua década foi por demais prolífica para perdermos tempo com ninharias que envolvam fraldas e ruidosos compartilhamentos de lençóis.
Vamos, pois, à música:
A primeira gravação da quarta década de Martha inclui aquela que é, talvez, a mais sensacional leitura jamais feita da sonata de Liszt. Sei que muitos preferem a atenção ao detalhe à pirotecnia, mas, claramente inspirada no legendário registro de seu ídolo Horowitz, a Rainha aqui entrega puro frenesi. Muitas vezes vejo-me em saturação sensorial após ouvir essa sonata, mas sempre vale a pena. Completa o disco a sonata em Sol menor de Schumann, uma obra menos visitada desse compositor que é, confessadamente, o xodó da vovó.
Franz LISZT (1811-1886) Sonata para piano em Si menor, S. 178 1 – Lento assai – Allegro energico
2 – Grandioso
3 – Cantando espressivo
4 – Pesante – Recitativo
5 – Andante Sostenuto
6 – Quasi adagio
7 – Allegro energico
8 – Più mosso
9 – Cantando espressivo senza slentare
10 – Stretta quasi presto – Presto – Prestissimo
11 – Andante Sostenuto – Allegro Moderato – Lento Assai
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Sonata para piano no. 2 em Sol menor, Op. 22
12 – So rasch wie möglich
13 – Andantino
14 – Scherzo. Sehr rasch und markiert
15 – Satz: Rondo. Presto – Etwas langsamer – Prestissimo
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em junho de 1971
É curioso que, numa discografia relativamente pequena como a de Martha, haja duas gravações tocando uma das quatro partes para piano da “cantata dançada” Les Noces, de Stravinsky. Nesta, que é a primeira delas, ela colabora com o então esposo, Charles Dutoit, e inaugura em disco a parceria com Nelson Freire, seu velho amigo desde os tempos de estudantes em Viena (a segunda gravação de Les Noces, sob Bernstein e na distinta companhia de Krystian Zimerman, já apareceu antes por aqui)
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
1 – La tresse
2 – Chez le Marié
3 – Le Départ de la Mariée
4 – Le Repas de Noces
Basia Retchitzka, soprano
Arlette Chedel, contralto
Eric Tappy, tenor
Philippe Huttenlocher, baixo
Chœur Universitaire de Lausanne
Michel Corboz, regente do coro
Harald Glamsch, Jean-Claude Forestier, Markus Ernst, Rafael Zambrano, Roland Manigley e Urs Herdi, percussão
Edward Auer, Nelson Freire e Suzanne Husson, pianos
Charles Dutoit, regência
Os raros registros seguintes, jamais lançados em mídia digital, são provavelmente os primeiros testemunhos de três vertentes que viriam a ter importância crescente na carreira da Rainha: sua participação em festivais, muitas vezes centrados nela; a colaboração com outros virtuoses em música de câmara; e as gravações ao vivo. Dignos de nota são os belíssimos quintetos com piano de Dvořák e de Schumann, em colaboração com Salvatore Accardo, diretor do Festival Internazionale di Musica d’Insieme, durante o qual foram feitas as gravações. Note-se também, ainda que sem a participação de Martha, a primeira gravação de que se tem registro do Quartettsatz, a única obra que Mahler deixou para um conjunto de câmara.
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Quinteto para piano, dois violinos, viola e violoncelo em Lá maior, Op. 81
1 – Allegro, ma non tanto
2 – Dumka: Andante con moto
3 – Scherzo (Furiant): Molto vivace
4 – Finale: Allegro
Salvatore Accardo e Pierre Amoyal, violinos
Luigi Alberto Bianchi, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo
Robert SCHUMANN Quinteto para piano, dois violinos, viola e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 44
1 – Allegro brillante
2 – In modo d’una marcia
3 – Scherzo: Molto vivace. Trio
4 – Allegro ma non troppo
Salvatore Accardo e Felice Cusano, violinos
Dino Asciolla, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Salvatore Accardo, violino
Gustav MAHLER (1860-1911) Quartettsatz em Lá menor para piano, violino, viola e violoncelo 5 – Nicht zu schnell
Claude Levoix, piano
Salvatore Accardo, violino
Pasquale Pellegrino, viola
Klaus Kanngiesser, violoncelo
Evidente que não faltaria Chopin a essa década, e Martha capricha neste álbum: a sonata em Si bemol menor tem uma marcha fúnebre impressionante e o mais líquido e tempestuoso de todos seus finales. Completam o disco um scherzo – talvez o gênero na obra do polonês mais afeito à personalidade artística da Rainha – e uma Grande Polonaise realmente brilhante, antecedida dum Andante spianato tão delicado que a gente chega quase a duvidar de que os dedos que o fizeram foram os mesmos que causaram a torrente da faixa anterior.
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Sonata para piano no. 2 em Si bemol maior, Op. 35
1 – Grave – Doppio movimento
2 – Scherzo
3 – Marche Funèbre. Lento
4 – Finale. Presto
Grande Polonaise Brillante para piano em Mi bemol maior, precedida de um Andante spianato, Op. 22
5 – Andante spianato: Tranquillo – Polonaise: Allegro molto
Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
6 – Presto
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em julho de 1974
Ravel é outro xodó a quem Martha dedicou gravações insuperáveis. Este é possivelmente o melhor Gaspard de la Nuit jamais gravado e, uma vez que se o escuta, torna-se impossível confundi-lo com qualquer outro: somente a Rainha, afinal, seria capaz de fazer um Scarbo tão veloz, soturno e grotesco (muito embora, como bem lembrou um amigo, Martha tenha declarado que quis morrer ao ouvir o produto dessa gravação, pois estava grávida e achou que tocara “muito devagar” (!))
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand, M. 55 1 – Ondine
2 – Le gibet
3 – Scarbo
Sonatina para piano
4 – Modéré
5 – Mouvement de Menuet
6 – Animé
Valses Nobles et Sentimentales, para piano
7 – Modéré – Très franc
8 – Assez lent – Avec une expression intense
9 – Modéré
10 – Assez animé
11 – Presque lent – Dans un sentiment intime
12 – Vif
13 – Moins vif
14 – Epilogue. Lent
Gravado em Berlim Ocidental, Alemanha Ocidental, em novembro de 1974
Se foram os prelúdios que começaram a mudar a história de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, aqui se tem uma ótima prova: o Op. 28, com suas miniaturas concisas e expressivas, é perfeitamente afeito ao toque da Rainha. A curiosa inclusão dos pouquíssimo gravados prelúdios Op. 45 e Op. póstumo sugere que esta gravação fizesse parte dos planos de uma integral chopiniana, que jamais foi adiante.
Fryderyk CHOPIN Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 28
1 – No. 1 em Dó maior: Agitato
2 -No. 2 em Lá menor: Lento
3 – No. 3 em So maior: Vivace
4 – No. 4 em Mi menor: Largo
5 – No. 5 em Ré maior: Molto allegro
6 – No. 6 em Si menor: Lento assai
7 – No. 7 em Lá maior: Andantino
8 – No. 8 em Fá sustenido menor: Molto agitato
9 – No. 9 em Mi maior: Largo
10 – No. 10 em Dó sustenido menor: Molto allegro
11 – No. 11 em Si maior: Vivace
12 – No. 12 em Sol sustenido menor: Presto
13 – No. 13 em Fá sustenido maior: Lento
14 – No. 14 em Mi bemol menor: Allegro
15 – No. 15 em Ré bemol maior: Sostenuto
16 – No. 16 em Si bemol menor: Presto con fuoco
17 – No. 17 em Lá bemol maior: Allegretto
18 – No. 18 em Fá menor: Molto allegro
19 – No. 19 em Mi bemol maior: Vivace
20 – No. 20 em Dó menor: Largo
21 – No. 21 em Si bemol maior: Cantabile
22 – No. 22 em Sol menor: Molto agitato
23 – No. 23 em Fá maior: Moderato
24 – No. 24 em Ré menor: Allegro appassionato
Prelúdio para piano em Dó sustenido menor, Op. 45
25 – Sostenuto
Prelúdio para piano em Lá bemol maior, Op. Posth.
26 – Presto con leggierezza
Gravado em Munique, Alemanha Ocidental, em outubro de 1975 (Op. 28) e Watford, Reino Unido, em fevereiro de 1977 (Op. 45, Op. Posth.)
O violinista israelo-francês Ivry Gitlis (1922-2020) foi amigo de Martha por mais de seis décadas e com ela tocou em muitos festivais, sobretudo a sonata de Franck. Esta é a única gravação que fizeram em estúdio e, embora eu não seja fã nem do timbre, nem do rubato de Gitlis, ela vale para imaginar o que a Rainha seria capaz de fazer se tocasse mais Debussy.
César FRANCK Sonata em Lá maior para violino e piano 1 – Allegretto ben moderato
2 – Allegro
3 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
4 – Allegretto poco mosso
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) Sonata em Sol menor para violino e piano
5 – Allegro vivo
6 – Intermède. Fantasque et léger
7 – Finale. Très animé
Ainda que realizadas no final dos anos 70, estas gravações ao vivo naquele templo da perfeita acústica que é o Concertgebouw de Amsterdã foram lançadas somente em nosso século. Nelas pode-se apreciar uma parte do vasto repertório que a Rainha jamais trouxe aos estúdios e perceber que seu temperamento artístico em performances ao vivo é ainda mais ebuliente. Martha não teme correr riscos – poucos se animam a encarar o Gaspard de la Nuit ante uma plateia, ainda mais com tanta agilidade – e tampouco liga para as eventuais esbarradas. Se o Scherzo de Chopin certamente não é o seu melhor, as seleções de Bartók e Prokofiev seguramente estão entre seus mais sensacionais momentos. Ouvi-la in natura é, enfim, expor-se a um fenômeno da Natureza, sem abrigos, nem truques, e com absoluta certeza do estupor: já tive esse privilégio duas vezes, e ainda quererei tê-lo outra vez, enquanto a deusa quiser dar os ares de sua imensa graça num palco que eu possa visitar.
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
1 – Sinfonia — Grave. Adagio
2 – Sinfonia – Andante
3 – Allemande
4 – Courante
5 – Sarabande
6 – Rondeau – Capriccio
Fryderyk CHOPIN Dos Dois noturnos para piano, Op. 48:
7 – No. 1 em Dó menor: Lento
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 8 – Presto con fuoco
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para piano, Sz. 80
9 – Allegro moderato
10 – Sostenuto e pesante
11 – Allegro molto
Alberto Evaristo GINASTERA (1916-1983) Danzas Argentinas, para piano, Op. 2 12 – Danza del Viejo Boyero
13 – Danza de la Moza Donosa
14 – Danza del Gaucho Matrero
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 15 – Allegro inquieto — Andantino
16 – Andante caloroso
17 – Precipitato
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonata em Ré menor, K. 141/L. 422 18 – Allegro
Johann Sebastian BACH
Da Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807:
19 – Bourrée
Gravado em Amsterdã, Países Baixos em maio de 1978 (7-14, 18-19) e abril de 1979 (1-6, 15-17)
Se a Rainha tem os seus xodós musicais, ela também tem seus países favoritos. Um deles é a Polônia, onde venceu o concurso que lhe foi a catapulta para o superestrelato, e para a qual volta com muita frequência. Nessa gravação, ela se faz acompanhar da mesma orquestra com que tocou na fase final do VII Concurso Chopin, ainda que curiosamente passe ao largo das obras do polonês em prol de dois de seus outros cavalos de batalha: o concerto no. 1 de Tchaikovsky, do qual ela fez gravações famosas com Kondrashin e Dutoit, e o concerto de Schumann, que ela toca praticamente desde o ovo.
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo Ⅰ
3 – Allegro con fuoco
Robert SCHUMANN Concerto para piano e orquestra em Lá menor, Op. 54
4 – Allegro affetuoso
5 – Intermezzo. Andante grazioso – attacca:
6 – Allegro vivace
Orkiestra Filharmonii Narodowej w Warszawie
Kazimierz Kord, regência
Johann Sebastian Bach
Da Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807: 7 – Bourrée
Fryderyk Chopin Das Três mazurcas para piano, Op. 63:
8 – No. 2 em Fá menor
Domenico SCARLATTI Sonata em Ré menor, K. 141/L. 422
9 – Allegro
Alberto Ginastera
Das Danzas argentinas, Op. 2
10 – No. 2: Danza de la Moza Donosa
Por fim, uma gravação pouco conhecida em que Martha não só nos encanta ao teclado, como também dirige a orquestra. Em seu único registro fonográfico como regente, o concerto de Haydn – o gênio que ela gravou tão pouco – com a London Sinfonietta é especialmente delicioso.
Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondò. Molto allegro
Joseph HAYDN (1732-1809) Concerto para piano em Ré maior, Hob. ⅩⅧ-11 4 – Vivace
5 – Un poco adagio
6 – Rondo all’ungherese. Allegro assai London Sinfonietta
Nona Liddell, spalla
Martha Argerich, regência
Os conturbados anos sessenta foram um turbilhão para Martha. Depois dum breve período a morar sozinha, longe do jugo da mãe, a viver la vida loca em Viena, desiludiu-se com a carreira de concertista e cogitou de tudo, até estudar Medicina (!). Insegura sobre sua capacidade como artista, resolveu dar um tempo ao piano e mudou-se para Nova York.
Martha soube que sua gravação da Rapsódia Húngara no. 6 impressionara Volodya e achou que isso seria credencial bastante para tornar-se aluna do ídolo. Enganou-se: nunca se encontraram e, para desnortear ainda mais seus rumos, ela viu-se grávida de sua primeira filha, Lyda.
Depois de três anos sem tocar, Martha retornou ao piano. Seu objetivo é o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia, em 1965.
Logo na primeira etapa da competição, ficou óbvio que seu maior concorrente seria o brasileiro Arthur Moreira Lima, aluno do Conservatório de Moscou, que conquistou o público com suas interpretações e com sua semelhança física com o próprio Chopin, de quem se tornaria um dos mais distintos intérpretes. Arthur venceu a primeira etapa, Martha, as duas seguintes, e na grande final, com sua interpretação do concerto em Mi menor, ela acabou por conquistar o primeiro prêmio.
O resto, como dizem, é história.
ooOoo
A década de Martha, no entanto, começou numa posição até então inédita: a de camerista. Como nada em sua carreira indicara, até então, a importância que a música de câmara teria para os anos de sua maturidade, presumo que foram as prementes necessidades de juntar dinheiro e de afastar-se das saias de Juanita, sua mãe, que a levaram à União Soviética para duas apresentações em Leningrado (atual São Petersburgo). Ainda mais inusitado que o local foi seu parceiro de palco: o violinista Ruggiero Ricci (1918-2012), nascido Woodrow Wilson Rich (!) na Califórnia e, vinte e três anos mais velho que Martha, já mundialmente famoso. Quem não o soubesse percebê-lo-ia rapidamente pelo predomínio de peças repletas de pirotecnias para violino, algumas delas a dispensarem o piano – incluindo as cabeludíssimas variações de Paganini sobre “Nel cor non più me sento”, que estão entre as coisas mais difíceis jamais escritas para o instrumento. Exceto pelas duas sonatas do jovem Beethoven e por aquela de Franck – que ela viria a tocar com praticamente todo violinista com que fizesse duo -, o papel da Rainha resume-se a acompanhar o astro do arco em partes frugais, como a da peça de Sarasate ou a célebre sonata de Tartini. A dupla improvável, no entanto, deu liga tanto no palco quanto fora deles: Ricci não só seria seu amigo por toda longa vida (ei-los em 2009, nos noventa anos do mestre!), como também demonstrou inúmeras vezes orgulho de ter proporcionado à futura estrela seus primeiros passos fora da germanosfera.
1 – Anúncio (em russo)
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Das Três sonatas para violino e piano, Op. 12: Sonata no. 3 em Mi bemol maior 2 – Allegro con spirito
3 – Adagio con molta espressione
4 – Rondo: Allegro molto
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sonata em Ré maior para violino solo, Op. 115 5 – Moderato
6 – Andante dolce. Tema con variazioni
7 – Con brio. Allegro precipitato
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata em Ré maior para violino e piano sobre canções folclóricas da Transilvânia
Arranjo da sonatina para piano, Sz. 55 (1915) por André Gertler (1907-1998)
8 – Dudások (gaitas de foles). Allegretto
9 – Medvetánc (dança do urso). Moderato
10 – Finale. Allegro vivace
Sonata para violino solo, Sz. 117
11 – Tempo di ciaccona
12 – Fuga: Risoluto, non troppo vivo
13 – Melodia: Adagio
14 – Presto
Pablo Martín Melitón de SARASATE y Navascués (1844-1908) Introdução e tarantela para violino e piano, Op. 43
15 – Introduction: Moderato – Tarantella: Allegro vivace
Ruggiero Ricci, violino
Gravado ao vivo em Leningrado, União Soviética, em 21 de abril de 1961
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Partita para violino solo no. 2 em Ré menor, BWV 1004: 1 – Ciaconna
Ludwig van BEETHOVEN Das Três sonatas para violino e piano, Op. 12:
Sonata no. 1 em Ré maior 2 – Allegro con brio
3 – Tema con variazioni: Andante con moto
4 – Rondo: Allegro
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 5 – Allegretto ben moderato
6 – Allegro
7 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
8 – Allegretto poco mosso
Béla BARTÓK
Danças folclóricas romenas, para violino e piano
Transcrição do original para piano (Sz. 56) por Zoltán Székely (1903-2001)
9 – Jocul cu bâtă (Allegro moderato) – Brâul (Allegro) – Pe loc (Andante) – Buciumeana (Moderato) – Poarga Românească (Allegro) – Mărunțel
Niccolò PAGANINI (1782-1840)
10 – Introdução e variações sobre “Nel cor non più me sento”, de “L’amor contrastato”, de Giovanni Paisiello, para violino solo, Op. 38
Giuseppe TARTINI (1692-1770) Sonata para violino em Sol menor, “O Trilo do Diabo” (arranjo para violino e piano)
11 – Larghetto – Affettuoso
12 – Allegro
13 – Grave – Allegro assai
Gravado ao vivo em Leningrado, União Soviética, em 21 de abril de 1961
Tomo a liberdade de quebrar a ordem mormente cronológica dessa discografia para, com um salto de dezoito anos, mostrar-lhes o lugar especial que Ruggiero e Martha mantiveram na vida um do outro. Por ocasião do jubileu de ouro da carreira de Ricci, ele apresentou-se no mesmo Carnegie Hall em que estreara aos onze anos, e convidou a velha amiga – agora consagrada como a deusa maior do piano – para dividir o palco consigo. Em alusão, talvez, aos recitais de Leningrado, eles tocaram novamente a sonata de Franck e concluíram a colaboração com o arranjo para violino da bela sonata para flauta de Prokofiev, que Martha já gravara com James Galway. Como sobremesa, o sessentão Ruggiero serviu dois números cabeludos – a mais exigente das sonatas de Ysaÿe e as impressionantes variações de Paganini sobre o hino britânico – e encerrou a noite com uma refrescante gavota de Sebastião Ribeiro.
César FRANCK
1-4 – Sonata em Lá maior para violino e piano
Sergey PROKOFIEV Sonata em Ré maior para violino e piano, Op. 94a
5 – Moderato
6 – Scherzo: Presto
7 – Andante
8 – Allegro con brio
Eugène-Auguste YSAŸE (1858-1931) Das Seis sonatas para violino solo, Op. 27 9 – No. 3 em Ré menor, “Ballade”
Niccolò PAGANINI
10 – Variações sobre “God Save The King”, para violino solo, Op. 9
Johann Sebastian BACH
Da Partita para violino solo no. 3 em Mi maior, BWV 1006 11 – Gavotte en rondeau
Ruggiero Ricci, violino
Gravado ao vivo em Nova York, Estados Unidos, em 20 de outubro de 1979
Voltamos para a década de 60, e quase quatro anos depois de Martha voltar da turnê soviética com Ricci. Três deles foram passados completamente longe de qualquer teclado, boa parte deles em Nova York, tentando encontrar Horowitz e achar um novo rumo para sua vida, e outro bom naco desse tempo na Suíça, onde nasceria Lyda, sua primogênita. O entrevero entre nossa Rainha e seu instrumento – ou, mais acuradamente, entre ela e a vida de pianista – acabou graças à participação decisiva de Stefan Askenase, que lhe deu aulas e restituiu sua autoconfiança, e da esposa dele, Anny, que estimulou Marthinha a preparar-se para o Concurso Internacional Chopin de 1965. As Kinderszenen que abrem o upload seguinte, gravadas ao vivo em Colônia, são o primeiro registro de que se tem notícia da Rainha a tocar dessa coleção que lhe é tão cara que, hoje em dia, é praticamente a única coisa que ela toca sozinha no palco. Completam o arquivo um Gaspard de la Nuit despachado da costumeira e assombrosa maneira, aquela gravação do scherzo de Chopin que muitos de vocês já viram, feita para a televisão polonesa imediatamente após o triunfo no Concurso Chopin, e o primeiro registro de Martha a tocar aquele seu familiar cavalo de batalha, o terceiro concerto de Prokofiev.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
1 – Kinderszenen, para piano, Op. 15
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand), M. 55 2 – Ondine
3 – Le Gibet
4 – Scarbo
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em 27 de janeiro de 1965
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
5 – Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
Gravado em Varsóvia, Polônia, em março de 1965
Sergey PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26 6 – Andante – Allegro
7 – Tema con variazioni
8 – Allegro ma non troppo
WDR Sinfonieorchester Köln
Karl Melles, regência
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em 10 de dezembro de 1965
Apresento-lhes agora todas as gravações que consegui recolher da trajetória de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, em 1965 (e, a despeito de muito vasculhar a cyberesfera, nunca encontrei o estudo do Op. 25 que dizem que ela tocou). Elas deixam óbvio por que nossa Rainha conquistou o júri, atacando o teclado com a fúria e a paixão habituais, sem medo de correr riscos (ao que abdicam muitos participantes de concursos pianísticos). O mais impressionante, talvez, é que não fosse a qualidade medíocre do som, poderíamos jurar que as performances são de anteontem, tamanha era a maturidade da artista, então com 23 anos, e tão espetacular que é sua técnica hoje, depois dos oitenta.
PRIMEIRA ETAPA – 22 de fevereiro de 1965
1 – Apresentação (em polonês)
Fryderyk CHOPIN
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
2 – No. 1 em Fá maior
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
3 – No. 1 em Dó maior
4 – No. 4 em Dó sustenido menor
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica” 5 – Maestoso
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 28
6 – No. 19 em Mi bemol maior
7 – No. 20 em Dó menor
8 – No. 21 em Si bemol maior
9 – No. 22 em Sol menor
10 – No. 23 em Fá maior
11 – No. 24 em Ré menor
Para a grande final, Arthur e Martha escolheram concertos diferentes – ambos, felizmente, lançados pela primeira vez numa remasterização decente, publicada pelo Instituto Fryderyk Chopin, e que ora lhes apresento, tanto para lembrar o triunfo da Rainha, como também para homenagear nosso compatriota, um magnífico chopinista. A título de curiosidade, aponto que quase todos os vencedores do Concurso tocaram na final o concerto em Mi menor – o último a triunfar com o concerto em Fá menor foi Đặng Thái Sơn em 1980, edição que se celebrizou pela intempestiva saída de nossa deusa do júri, em protesto à eliminação a seu ver injustificada de Ivo Pogorelić, a quem chamou de “gênio”.
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Martha Argerich, piano
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
4 – Maestoso
5 – Larghetto
6 – Allegro vivace
Arthur Moreira Lima, piano
Orkiestra Filharmonii Narodowej w Warszawie (Orquestra Filarmônica Nacional de Varsóvia) Witold Rowicki, regência
Gravações feitas ao vivo na Sala Filarmônica de Varsóvia, Polônia, durante o VII Concurso Internacional Fryderyk Chopin
Trailer do documentário “Martha Argerich in Warsaw 1965”, que aborda o marco zero do nascimento da superestrela. Notem a participação de Arthur Moreira Lima, um excelente artista que, convenhamos, teve pouca sorte de disputar a primazia na competição com uma das melhores pianistas de todos os tempos.
Ao triunfo no Concurso Chopin só poderia, naturalmente, se seguir demanda por mais Chopin. A EMI agiu rápido e trouxe a Rainha a Londres, onde colocou a serviço de Sua Majestade Marthínhica seus ótimos estúdios e excelentes engenheiros de som. Para profunda decepção dos ingleses, no entanto, um contrato que se descobriu vigente com a Polygram impossibilitou o lançamento da gravação, que só veio a público em 1999. Como atesta o depoimento a seguir, de Suvi Raj Grubb, que produziu o álbum, a espera valeu a pena:
“’Argerich foi, entre todos músicos, a mais formidável que já encontramos’, escreve o produtor do álbum, Suvi Raj Grubb, ‘Nada estava fora do alcance dessa mulher’ (…)”
“Quando comecei a me interessar por música, levei algum tempo para me acostumar com o piano. Mas, quando entrei na EMI (agora Warner Classics), eu já adorava música para piano e tinha muito conhecimento sobre ela. Assim, sempre que um novo pianista aparecia, eu era a primeira escolha como produtor.”
“Em 1966, eu já produzira um punhado de discos de piano, um dos melhores dos quais nunca viu a luz do dia. Quando Martha Argerich entrou no estúdio, foram seus olhares sombrios e ardentes que me impressionaram pela primeira vez. Assim que chegou, pediu café; quando lhe ofereci uma xícara, ela a engoliu de uma só vez e pediu mais. Sentei-a no estúdio com um grande bule de café e entrei na sala de controle.”
“No início, suas mãos se moviam despreocupadamente sobre o teclado enquanto ela testava o piano. Então ela despejou a Polonaise [Op.53] de Chopin. Sentei-me na minha cadeira com um longo ‘Jee-sus’ – e o engenheiro de som disse ‘Uau!'”
“Se isso fora uma amostra de seu pianismo, então Argerich era a pianista mais formidável que já encontráramos. Os grandes acordes soaram enormes, as passagens entre eles, limpas; no trio, um grande espetáculo, as difíceis passagens em oitava à esquerda eram equilibradas, e o crescendo, controlado. Dei uma espiada no estúdio para ter certeza de que essa torrente de som era realmente originária do toque de uma garota sentada ao piano. Foi verdadeiramente inacreditável.”
“Sorri ao lembrar do comentário de Clara Schumann a Brahms sobre as ‘Variações Paganini’, lamentando que estivesse além da capacidade de uma pianista. Nada estaria fora do alcance daquela mulher.”
“Ela entrou na sala de controle, olhou para mim e sorriu, pois sabia que tivera um impacto devastador sobre mim. Nos dias seguintes, energizada por galões de café preto e forte, ela terminou um recital de Chopin que incluía a terceira sonata, o terceiro scherzo e, modelados como joias em miniatura, um grupo de mazurcas e noturnos. O último movimento da sonata foi feito num só take impecável. Ela disse que gostou das sessões; que gostou do som do piano no disco e que estava ansiosa para trabalhar comigo novamente.”
“Para minha amarga decepção, soubemos algumas semanas depois que seu compromisso com outra empresa não nos permitiria publicar o disco e, nem pela primeira nem pela última vez, desejei que não houvesse cláusulas de exclusividade. No devido tempo, um disco com o mesmo repertório foi lançado pelos nossos rivais – quando o ouvi, soube que nossa Argerich era a melhor das duas.”
Certeza de que era.
Fryderyk CHOPIN
Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58
1 – Allegro maestoso
2 – Scherzo: Molto vivace
3 – Largo
4 – Finale: Presto non tanto
Três mazurcas para piano, Op. 59 5 – No. 1 em Lá menor
6 – No. 2 em Lá bemol maior
7 – No. 3 em Fá sustenido menor
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
8 – No. 1 em Fá maior
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 9 – Presto con fuoco
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica” 10 – Maestoso
A alta demanda do planeta por sua nova superestrela do piano deu poucas oportunidades a Martha para ampliar seu repertório. Assim, às peças que ela preparara para o concurso Chopin, somaram-se aquelas que ela já aprendera antes de seus três anos sabáticos. O rol de obras resultante repete-se em quase todas as gravações até o final da década, que hemos de apresentar a seguir, e sem maiores comentários, que resultariam necessariamente repetitivos. Limitamo-nos a apontar, como adições mais notáveis ao repertório da Rainha, a impressionante Fantasia de seu queridinho Schumann, a toccata em Dó menor de J. S. Bach e, de Chopin, o outro queridinho, o segundo scherzo e a transcendental Polonaise-Fantaisie – além do já citado terceiro concerto de Prokofiev e dos primeiros concertos de Tchaikovsky e Liszt, já publicados anteriormente aqui no PQP Bach.
Sergey PROKOFIEV Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 1 – Allegro inquieto – Poco meno – Andantino
2 – Andante caloroso – Poco più animato – più largamente – Un poco agitato
3 – Precipitato
Franz LISZT (1811-1886)
Dos Três estudos de concerto para piano, S. 144:
4 – No. 2 em Fá menor, “La leggierezza”
Fryderyk CHOPIN
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
5 – No. 4 em Dó sustenido menor
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
6 – No. 1 em Fá maior
Barcarola em Fá sustenido maior, Op. 60 7 – Allegretto
Três mazurcas para piano, Op. 59 8 – No. 1 em Lá menor
9 – No. 2 em Lá bemol maior
10 – No. 3 em Fá sustenido menor
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 11 – Presto con fuoco
Robert SCHUMANN Fantasia em Dó maior para piano, Op. 17 12 – Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen; Im Legenden-Ton
13 – Mäßig. Durchaus energisch
14 – Langsam getragen. Durchweg leise zu halten
Gravado ao vivo no Carnegie Hall, Nova York, Estados Unidos, em 16 de janeiro de 1966
Fryderyk CHOPIN 1-3 –Três mazurcas para piano, Op. 59
Sergey PROKOFIEV
4-6 – Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83
Toccata para piano em Ré menor, Op. 11
7 – Allegro marcato
Maurice RAVEL
8-10 – Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand), M. 55
Sergey PROKOFIEV Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28
11 – Allegro tempestoso – Moderato – Allegro tempestoso – Moderato – Più lento – Più animato – Allegro I – Poco più mosso
Maurice RAVEL
Sonatina para piano em Fá sustenido menor, M. 40 12 – Modéré
13 – Mouvement de Menuet
14 – Animé
Gravado em Colônia, Alemanha Ocidental, outubro de 1967
Os ebulientes concertos em Sol de Ravel e o no. 3 de Prokofiev, naquelas que são talvez suas gravações definitivas, sob a batuta de Claudio Abbado (1967)
Logo que ficou ficou óbvio que não haveria professores no Hemisfério Sul capazes de darem conta da pequena María Martha (porque eu tinha HOJE anos de idade quando descobri que Martha também é María), começaram as tratativas para que a niña precoz fosse estudar na Europa. A escolha de María era clara: queria ir para Viena estudar com Friedrich Gulda, um pianista brilhante que já granjeara fama de excêntrico e anticonvencional, e cujo antiacademicismo mui provocativo o tornava o mais improvável dos professores.
Como os Argerich não nadavam em recursos, a mãe de María resolveu tomar providências. A (assim a chamemos) mui assertiva Juanita, com quem Martha sempre teria uma relação complicada, resolveu as coisas com ninguém menos que Juan Domingo Perón. Nas palavras da filha:
Eu tinha pouco mais de 12 anos, tinha tocado no Teatro Colón e o Perón tinha me convidado para um encontro na residência presidencial. Mamãe perguntou se ela poderia vir comigo, e eles disseram que sim, é claro. Eu não era muito peronista; lembro-me que estava sempre colando pedacinhos de papel em todos os lugares que diziam “Balbín-Frondizi” [antiperonistas ferrenhos e candidatos da oposição às eleições de 1951]. Perón nos recebeu e me perguntou: “E para onde você quer ir, ñatita?” E eu queria ir para Viena, estudar com Friedrich Gulda. Ele gostou de eu não querer ir para os Estados Unidos. O mais engraçado foi que minha mãe, para bajulá-lo, disse a ele que eu adoraria fazer um show na UES [União dos Alunos do Ensino Médio]. E devo ter feito uma cara um tanto reveladora de que não gostei da ideia, pois o Perón começou a concordar com mamãe, dizendo “claro senhora, vamos organizar”, enquanto piscava para mim e, por baixo da mesa, fazia com um dedo que não. Ele estava contendo mamãe e isso me acalmou – percebeu que eu não queria. Fantástico, não é? E ele deu um emprego ao meu pai. Ele o nomeou adido econômico em Viena. E disse à mamãe que a achava também muito inteligente, empreendedora e capaz, e que conseguiu outro cargo para ela na embaixada.
Naqueles tempos, o que Perón mandava, o governo fazia: no ano seguinte, os Argerich deixariam Buenos Aires com mala e cuias, rumo a Viena e ao encontro de Gulda.
Foram apenas dezoito meses de estudo, durante os quais Martha foi a única aluna de Gulda, um mestre apenas onze anos mais velho que ela e de ademais pouquíssimos alunos. Ainda que viesse a receber lições de outros pianistas (sobre os quais o colega Pleyel gentilmente versou no primeiro comentário dessa postagem), Gulda foi a mais decisiva influência na carreira de nossa Rainha. Ela, que sempre o idolatrou, frequentemente o cita em suas entrevistas. O austríaco, no entanto, não se impressionou com o estrelato posterior de sua aluna, aparentemente por achá-lo convencional demais para seus heterodoxos parâmetros. E a vida pessoal de Martha, também, parecia bater recordes mesmo para os caóticos padrões guldanianos: ao encontrá-la num camarim, décadas depois, depois de um recital, Gulda – que ficaria notório por divulgar a notícia de sua morte um ano antes de morrer de fato, e que intitulou seu concerto seguinte “Festa da Ressurreição” – tascou:
O que fizeste da tua vida???
O que fazer da vida é a preocupação de todas as ex-crianças prodígio, e Martha, egressa dos estudos com Gulda, não sabia o que fazer da. Estava longe da bajulação que tinha na Argentina, mas ainda controlada a cabresto pela mãe, e no coração dum continente onde saíam enxames de pianistas promissores debaixo de qualquer pedra que se levantasse. A saída mais óbvia eram as láureas em concursos de piano, e ela conseguiu duas em menos de um mês, em 1957: no Concurso Internacional Busoni em Bolzano (Itália), e no Concurso Internacional de Genebra (Suíça), o qual Gulda também vencera com 16 anos.
Enquanto botava as manguinhas de fora para morar sozinha, Martha excursionava extensamente pelo continente e, antes dos vinte anos, fez sua estreia discográfica oficial pela prestigiosa Deutsche Grammophon, ostentando na capa os cabelos cacheados e o olhar tristonho típicos daquela década:
MARTHA ARGERICH – PIANO
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
1 – Presto con fuoco
Johannes BRAHMS (1833-1897) Duas rapsódias para piano, Op. 79
2 – Agitato, em Si menor
3 – Molto passionato, ma non troppo allegro, em Sol menor
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Toccata para piano em Ré menor, Op. 11 4 – Allegro marcato
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Jeux d’eau, para piano, M. 30
5 – Très doux
Fryderyk CHOPIN Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60 6 – Allegretto
Franz LISZT Rapsódia Húngara no. 6 em Ré bemol maior, para piano, S. 244 7 – Introduction (Tempo giusto – Presto) – Lassan (Andante) – Friska (Allegro)
Gravado em Hannover, Alemanha Ocidental, de 4 a 8 de julho de 1960
A relação da promissora jovem com seu instrumento, enfim, sempre tivera profundas rachaduras e muito poucas alegrias. Num dos trechos mais tocantes do documentário assinado por sua filha, Stéphanie, Martha está a olhar álbuns da infância e estimar sua idade nas fotos pela presença do sorriso – sinal de que o piano ainda não entrara em sua vida.
Esse difícil período de transição entre ex-criança prodígio e superestrela do teclado será ilustrado pelas gravações seguintes, que mostram nossa Rainha como uma artista consumada antes mesmo de completar 20 anos. Em diversos registros ao vivo de qualidade variável, principalmente para rádios alemãs, são óbvias as qualidades que até hoje, mais de sessenta anos depois, nos deixam boquiabertos. Perceba-se também que, com a notável exceção de Mozart, cujo espaço diminuiria um tanto em seu repertório na maturidade, já estava escalado o time de compositores a que ela mais se dedicaria: Beethoven; Chopin e Schumann; Prokofiev e Ravel.
Como o sucesso universal de Martha, sobretudo após o triunfo do Concurso Internacional Chopin de 1965, reavivou o interesse em suas gravações antigas, elas acabaram relançadas num sem-número de discos, sempre com os mesmos fonogramas, em ordens sortidas. Para facilitar a vida dos leitores-ouvintes, resolvi fazer uma compilação das melhores fontes disponíveis e organizá-las em ordem cronológica, com a exceção de dois álbuns com orquestra, que virão na sequência
Fryderyk CHOPIN
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
1 – No. 1 em Dó maior Gravado em 1955 em Buenos Aires
Franz LISZT Dos Três estudos de concerto, S. 144: 2 – No. 2: La Leggerezza Gravado ao vivo em Bolzano, Itália, agosto de 1957, durante o Concurso Internacional Busoni
Sergey PROKOFIEV Toccata para piano em Ré menor, Op. 11 3 – Allegro marcato Gravada ao vivo em Bolzano, Itália, agosto de 1957, durante o Concurso Internacional Busoni
Franz LISZT Rapsódia Húngara no. 6 em Ré bemol maior, para piano, S. 244 4 – Introduction (Tempo giusto – Presto) – Lassan (Andante) – Friska (Allegro) Gravada ao vivo em Genebra, Suíça, setembro de 1957, durante o Concurso Internacional de Genebra
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1956)
Do Concerto para piano e orquestra em Lá menor, Op. 54: 5 – Allegro affettuoso
Orchestre de la Suisse Romande Samuel Baud-Bovy, regência Gravado ao vivo em Genebra, Suíça, setembro de 1957, durante o Concurso Internacional de Genebra
Fryderyk CHOPIN Balada para piano no. 1 em Sol menor, Op. 23 6 – Largo – Lento – Moderato – Presto in coda Gravada em Berlim Ocidental, janeiro de 1959
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata para piano no. 18 em Ré maior, K. 576 7 – Allegro
8 – Andante cantabile
9 – Allegretto grazioso
Gravada em Colônia, Alemanha Ocidental, janeiro de 1960
Fryderyk CHOPIN
Balada para piano no. 4 em Fá menor, Op. 52 10 – Andante con moto Gravada em Colônia, Alemanha Ocidental, janeiro de 1960
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la Nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand, M. 55
1 – Ondine
2 – Le Gibet
3 – Scarbo
Sergey PROKOFIEV Toccata para piano em Ré menor, Op. 11 4 – Allegro marcato
Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28 5 – Allegro tempestoso – Moderato – Allegro tempestoso – Moderato – Più lento – Più animato – Allegro I – Poco più mosso
Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 6 – Allegro inquieto
7 – Andante caloroso
8 – Precipitato
Gravados em Hamburgo, Alemanha Ocidental, março de 1960
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para piano no. 8 em Lá menor, K. 310 9 – Allegro maestoso
10 – Andante cantabile con espressione
11 – Presto Gravada em Munique, Alemanha Ocidental, abril de 1960
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para piano no. 13 em Si bemol maior, K. 333, “Linz” 1 – Allegro
2 – Andante cantabile
3 – Allegretto grazioso
Gravada em Munique, Alemanha Ocidental, abril de 1960
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Das Três sonatas para piano, Op. 10: No. 3 em Ré maior
4 – Presto
5 – Largo e Mesto
6 – Menuetto. Allegro
7 – Rondo. Allegro
Maurice RAVEL
Sonatina para piano em Fá sustenido menor, M. 40 8 – Modéré
9 – Mouvement de Menuet
10 – Animé
Robert SCHUMANN Toccata em Dó maior para piano, Op. 7
11 – Allegro
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata para piano no. 18 em Ré maior, K. 576 12 – Allegro
13 – Andante cantabile
14 – Allegretto grazioso
Gravadas em Colônia, Alemanha Ocidental, setembro de 1960
Completam a discografia da segunda década de Marthinha esses dois álbuns com gravações ao vivo, feitas durante transmissões radiofônicas. O primeiro é notório tanto por conter os mais antigos registros de nossa deusa tocando dois de seus mais famosos cavalos de batalha- o Concerto em Sol de Ravel e o Mi menor de Chopin – quanto por marcar a primeira parceria dela com seu amigo de toda a vida e futuro marido, Charles Dutoit, que a acompanha no Ravel. O segundo, feito com orquestras alemãs, alinha o concerto de Ravel com o no. 21 de Mozart, que Martha tocou muito em sua juventude e, parece, abandonou na maturidade. Maurice RAVEL Concerto em Sol maior para piano e orquestra, M. 83
1 – Allegramente
2 – Allegro assai
3 – Presto
Orchestre de Chambre de Lausanne
Charles Dutoit, regência
Gravado em Lausanne, Suíça, em 19 de janeiro de 1959
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11 4 – Allegro maestoso
5 – Romanze – Larghetto
6 – Rondo – Vivace
Orchestre de la Suisse Romande
Louis Martin, regência
Gravado em Genebra, Suíça, em 25 de setembro de 1959
Maurice RAVEL 1 – 3 Concerto em Sol maior para piano e orquestra, M. 83 Südwestfunk-Sinfonieorchester Baden-Baden
Ernest Bour, regência
Gravado em Baden-Baden, Alemanha Ocidental, em 4 de fevereiro de 1960
Wolfgang Amadeus MOZART Concerto para piano e orquestra no. 21 em Dó maior, K. 467 4 – Allegro maestoso
5 – Andante
6 – Allegro vivace assai
Kölner Rundfunk-Sinfonieorchester
Peter Maag, regência
Marthinha, nossa Rainha, começou a tocar piano aos três anos.
Ela foi tão escandalosamente bem que, ao cinco, arranjaram-lhe aulas com o mais famoso professor de Buenos Aires, o calabrês Scaramuzza.
Scaramuzza era austero e feroz, mas bom pedagogo, e alguns anos sob sua tutela foram bastantes para que a menina virasse, juntamente com o garoto Daniel, a mais célebre Wunderkind portenha. Daí para que ela estreasse nos palcos foi um tapinha:
Seus programas, além do concerto em Ré menor de Mozart, incluíam duas obras que seriam pedras angulares de seu repertório: o concerto no. 1 de Beethoven, e o concerto em Lá menor de Schumann – exatamente aqueles que, pelo resto da vida, seriam seus compositores favoritos. As gravações a seguir, restauradas a partir de registros de rádios argentinas, mostram a pequena notável já em grande forma, devorando os concertos com a naturalidade que lhe é tão peculiar.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo: Allegro
Martha Argerich, piano (aos oito anos) Orquesta Sinfónica de Radio El Mundo Alberto Castellanos, regência
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54
4 – Allegro affettuoso
5 – Intermezzo: Andantino grazioso
6 – Allegro vivace
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Toccata em Sol maior, BWV 916: 7 – Presto
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Dos Três Caprichos para piano, Op. 33: 8 – No. 1 em Lá menor
Martha Argerich, piano (aos onze anos) Orquesta Sinfónica de la Ciudad de Buenos Aires Washington Castro, regência
BÔNUS: o concerto em Ré menor de Mozart, numa transmissão radiofônica cujo locutor, curiosamente, atribui sete anos à solista de oito (o que, obviamente, não diminui meu pasmo com a precocidade de nossa Rainha)
1 – Introdução em espanhol (excerto)
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Concerto para piano e orquestra no. 20 em Ré maior, K. 466
2 – Allegro
3 – Romanze
4 – Rondo: Allegro assai
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Dó maior, Op. 15 4 – Allegro con brio
5 – Largo
6 – Rondo: Allegro
Martha Argerich, piano (aos oito anos) Gran Orquesta Clásica de LR1 Alberto Castellanos, regência
Já ouvi tantas vezes estes Concertos para Violino de Mozart que praticamente os sei de cor. Cada detalhe, cada nuance, enfim, são mais de trinta anos que os ouço, com os mais variados solistas e orquestras. Mesmo depois de tanto tempo, nunca cheguei a uma conclusão ou definição de quais seriam as minhas gravações favoritas. Talvez o bom e velho Henryk Szeryng figure no topo da lista das 10 melhores, dentre as mais antigas, e recentemente, a ótima violinista alemã Isabelle Faust também realizou um notável trabalho em sua incursão nestas obras.
Mas estou sempre a procura de novas gravações, de novas possibilidades, de novas e inovadoras soluções (fui redundante?), afinal trata-se de Mozart, e quando se trata de Mozart, sabemos que nada nunca será definitivo. Esta gravação que ora vos trago me chamou a atenção por ter o maestro Reinhold Goebel, nosso velho conhecido, à frente de uma orquestra até então para mim desconhecida, e acompanhando uma solista que também confesso que não conhecia, Mirijan Contzen. Goebel tem um currículo respeitável em se tratando de gravações historicamente informadas, e não me surpreendeu ouvi-lo trazer aquilo que sempre procuro em minha incansável caça por Cds: novas soluções para velhos problemas.
Estes registros já tem dez anos mas não sofreram a ação do tempo, como tantas gravações que conhecemos tão bem. Talvez a novidade seja exatamente a solista que corajosamente escreveu as cadenzas dos concertos. Ato de coragem, repito, pois em se tratando de obras tão conhecidas, apresentar algo novo e diferente pode não agradar a todos. Sabemos que nós melômanos temos nossas manias e alguns são (somos) extremamente conservadores. Fui procurar maiores informações e principalmente, as críticas referentes a estas gravações, mas só as encontrei na amazon alemã (tradução nas coxas, com a ajuda do tradutor do Google):
“Uma gravação de alto nível, historicamente informada, dos concertos para violino de Mozart, que também é sonoramente convincente. Elogios aos intérpretes e ao engenheiro de som!” (5 estrelas)
Outro foi mais incisivo em declarar que não gostou:
“Esta gravação não pode ser levada a sério, mas como uma piada de festa ou susto, é muito cara, mesmo pelo preço comparativamente baixo. Interpretações absurdas e toque de violino sem gosto. Felizmente, ninguém precisa decidir quem está jogando pior aqui. Maestro, solista e orquestra estão igualmente além do bem e do mal.” (Apenas 1 estrela)
Bem, confesso que realmente levei alguns sustos na audição, mas nada que pudesse mudar minhas convicções: os músicos envolvidos foram corajosos e ousados. Vale a pena conhecer.
Segue booklet em anexo. Sugiro muito sua leitura, altamente informativa.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concertos para Violino – Contzen, Goebel, Bayerische Kammerphilarmonie
CD 1
Konzert in B-Dur für Violine und Orchester KV 207
[01] I. Allegro moderato
[02] II. Adagio
[03] III. Presto
Konzert in D-Dur für Violine und Orchester KV 211
[04] I. Allegro moderato
[05] II. Andante
[06] III. Rondeau. Allegro
Konzert in G-Dur für Violine und Orchester KV 216
[07] I. Allegro
[08] II. Adagio
[09] III. Rondeau. Allegro
CD 2
Konzert in D-Dur für Violine und Orchester KV 218
[01] I. Allegro 08:13
[02] II. Andante cantabile
[03] III. Rondeau. Andante grazioso 06:11
Konzert in A-Dur für Violine und Orchester KV 219
[04] I. Allegro aperto – Adagio –
Allegro aperto
[05] II. Adagio
[06] III. Rondeau. Tempo di Menuetto
Konzert in D-Dur für Violine und Orchester KV 271a
[07] I. Allegro maestoso
[08] II. Andante
[09] III. Rondo. Allegro
As cadenzas são da própria solista, Mirijam Contzen
Para homenagear nosso gentil e saudoso amigo, compare Ammiratore, como eu gostava de chamá-lo, decidi postar uma linda ópera. Não vou tentar fazer uma postagem no estilo dele, resultado de meticulosa pesquisa, com detalhes históricos e ilustrações bem específicas, além da apresentação de diferentes gravações… Eu não tenho estas habilidades que eram típicas dele. Costumava dizer-lhe que minhas (poucas) postagens de óperas buscam mais contagiar os visitantes do blog pelo meu amor por elas, por uma pequena anedota eventualmente introduzida e que o atraísse para a obra, contando que ela (a música) fizesse então a mágica. Ainda aposto nesta abordagem e tenho certeza de que nosso querido amigo aprovaria a postagem.
Così fan tutte é a terceira ópera surgida da colaboração de Mozart e Lorenzo da Ponte. As duas anteriores, Le Nozze di Figaro e Don Giovanni, não poderiam ser mais diferentes desta última. Enquanto Figaro e Don Giovanni estão repletas de personagens marcantes e árias fenomenais, Così se destaca por números apresentados por conjuntos de cantores: duos, trios, sextetos. As personagens aparecem aos pares: duas mocinhas, dois galãs e um casal formado pelo cínico filósofo e sua colaboradora, a camareira das moças. Outro aspecto que distingue esta obra das anteriores é ser politicamente incorreta e mais deliciosa ainda por isso. Afinal, o título, Così fan tutte, fala por si, mesmo sem tradução.
Veja como a trama é descrita em um dos sites que andei visitando: ‘Uma comédia com elementos nitidamente sérios, a peça traz um conto satírico de traição, onde a confiança é testada até o limite. Afinal, é possível que dois casais aparentemente fiéis tenham suas vidas afetivas arruinadas por um jogo de traições aparentemente inofensivo?’
Assim é a ópera, repleta de troca de papéis, de disfarces e confusões. O libreto foi escrito por da Ponte sem um especial modelo literário e aparentemente tudo surgiu de uma história que lhe foi contada pelo próprio imperador austríaco. É claro que o tema não era de todo ausente da literatura, mas certamente chocou muitas pessoas na época de sua composição. A ópera também não ficou muito tempo em cartaz devido a morte do imperador. Assim, Così fan tutte firmou-se mesmo como uma das grandes óperas de Mozart, passando a integrar o repertório dos principais teatros do mundo a partir do século XX.
Quando Mozart iniciou a sua composição em novembro de 1789, estava financeiramente quebrado e a obra foi composta em tempo recorde – com a primeira apresentação em fins de janeiro de 1790. As reservas das pessoas sobre o tema e a morte do imperador, fechando os teatros para o luto oficial, contribuíram para que a ópera não salvasse as finanças de Mozart, o que foi realmente uma pena. A experiência de Mozart na composição de música de câmera certamente influenciou nas suas composições para grupos de cantores.
A história inicia com uma aposta feita pelo experiente Don Alfonso com os jovens Guglielmo e Ferrando, confiantes na fidelidade de suas amadas Fiordiligi e Dorabella. É claro que segue uma enfiada de confusões, disfarces e idas e vindas que incluem envenenamento e seções de mesmerização, até que as duas lindas se rendem aos encantos dos mocinhos disfarçados de bigodudos albaneses. Afinal, così fan tutte…
Bom, é curioso que naqueles dias Mozart havia escrito uma carta para a sua Constanze, que passava uns dias em uma estância de águas em Baden recuperando a saúde, admoestando-a a ser mais… discreta. Mas Mozart era realmente um ser humano diferenciado. Veja um outro trecho de carta, da mesma época: An astonishing number of kisses are flying about! I see a whole crowd of them. Ha! Ha! I have just caught three — They are delicious… I kiss you millions of times.
A gravação da postagem é clássica. Alguns diriam até jurássica. Bem, eu digo impecável, inigualável. As cantoras Elisabeth Schwarzkopf e Christa Ludwig (a quem aqui mais uma vez prestamos homenagem) estão perfeitas. O tenor Alfredo Kraus como Ferrando e Giuseppe Taddei como Guglielmo completam o quarteto central. Walter Berry, que fora casado com a Christa Ludwig, é Don Alfonso e Hanny Steffek uma ótima Despina. A Philharmonia Orchestra está sob o comando de Karl Böhm, cuja expertise em Mozart era indisputável naqueles dias, e a produção de Walter Legge completa o conjunto magnificamente.
Böhm já havia gravado a ópera para a DECCA em 1955 e voltaria a gravá-la em 1977 para o selo amarelo. Mas esta gravação, feita sob a supervisão de Walter Legge e com um time dos sonhos de cantores é, sem dúvida, a melhor escolha. O Penguin Guide diz: Its glorius singing is headed by the incomparable Fiordiligi of Schwazkopf and the equally moving Dorabella of Christa Ludwig; it remains a superb memento of Walter Legge’s recording genius and remains unserpassed…
Aproveite!
RD
Para uma visão geral da ópera, visite este site aqui.
Como eu gosto muito de música que envolva piano – sonatas, concertos – acabo negligenciando um pouco os outros gêneros. Para manter uma dieta musical equilibrada é necessário, portanto, um certo planejamento. Foi assim que escolhi uma cesta de discos com sinfonias e me dei conta que estava há um bom tempo sem ouvir sinfonias de Mozart.
Wolfferl escreveu sinfonias desde que usava calças curtas e podemos dizer que ao longo de sua vida o gênero floresceu e ganhou proporções maiores. Certamente as sinfonias compostas por Haydn eram muito estimulantes, mas as últimas sinfonias produzidas por Mozart (que foram compostas quase três anos antes de sua morte) estabelecem elas próprias novos espetaculares padrões.
Confesso razoável desinteresse pelas pequenas obras de juventude e os discos que reuni com o mais destas obras ficaram pouco tempo sob a agulha da minha vitrola. Mesmo os conjuntos historicamente informados, com suas muitas repetições não ajudaram muito.
Assim, foi com bastante prazer que encontrei um pacote com várias sinfonias (já de maturidade) mas que ainda antecedem as grandes quatro últimas poderosas sinfonias. A orquestra, pasmem, Berliner Philharmoniker! Mas, acalmem seus desnecessários temores, em vez de Darth Vader, segurando a batuta está o gentil Claudio Abbado. Estas sinfonias são parte de uma série de gravações feitas pela Berliner Philharmoniker sob a regência de Abbado para a Sony, numa das primeiras gravações da orquestra fora do yellow label em muitos anos.
Como vocês possivelmente sabem, Claudio Abbado foi escolhido para suceder a Herbert von Karajan como o regente principal da orquestra e permaneceu neste cargo de 1990 até 2002. Com as simples e revolucionárias palavras ‘I’m Claudio for everyone. No titles!’ ele se apresentou e inaugurou uma nova etapa na vida artística de uma das maiores orquestras de todos os tempos.
Como os berlinenses estavam em busca de uma imagem diferente daquela associada a HvK, as interpretações destas obras sob a batuta do novo Herr Direktor, que não queria ser assim chamado, soam bastante inovadoras – um som mais translúcido, mais leve. Houve até um certo ranger de dentes entre os críticos e fãs mais arraigados às velhas práticas da orquestra de som laqueado e opulento. Eu gostei bastante da nova abordagem. Como achei o material um pouco extenso, acabei fazendo uma seleção com as ‘mais-mais’. Espero que você goste.
No pacote temos duas sinfonias intermediárias – a ‘Pequena’ Sinfonia em sol menor, assim chamada para diferenciá-la da Sinfonia No. 40, também em sol menor, e a adorável Sinfonia No. 29 em lá maior. Depois temos uma Sinfonia Parisiense, em três movimentos, feita para agradar os ouvidos franceses. Em seguida duas maravilhosas sinfonias compostas para ocasiões específicas – a Sinfonia ‘Haffner’ e a Sinfonia ‘Linz’. Estas sinfonias são o prelúdio das quatro últimas majestosas que ainda estavam a caminho. Como gosto muito desta obra, inclui também a Sinfonia Concertante para Viola e Violino e uma ‘Sinfonia’ formada por três movimentos extraídos da Serenata Posthorn, uma espécie de encore para terminar o alentado programa.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Sinfonia No. 25 em sol menor, K183
Allegro con brio
Andante
Menuetto – Trio
Allegro
Sinfonia No. 29 em lá maior, K. 201
Allegro moderato
Andante
Menuetto
Allegro con spirito
Sinfonia No. 31 em ré maior, K297 ‘Paris’
Allegro assai
Andantino
Allegro
Sinfonia No. 35 em ré maior, K. 385 “Haffner”
Allegro con spirito
Andante
Menuetto
Finale. Presto
Sinfonia No. 36 em dó maior, K. 425 “Linz”
Adagio – Allegro spiritoso
Andante
Menuetto – Trio
Presto
Sinfonia concertante em mi bemol maior, K. 364
Allegro maestoso
Andante
Presto
Sinfonia da Serenade No. 9 em ré maior, K320 ‘Posthorn’
One bad review from Amazon-critics: Revisiting this disc was an act of penance. Was it efficacious? Not in the least. In fact, it just stoked my anger – a mortal sin in itself – that the most over-rated conductor on the planet would so mutilate the Berlin Phil to gain street-cred with the likes of Jeggy and Norrington. Nor am I that much of a sinner, sad to say, that I need to undergo this trial again in preparation for the Pascal Mystery to come.
A much warmer one: When first issued in 1993-94, these Mozart performances from Abbado and the Berlin Phil. were ill-fated. No one could quite accept that long-time DG artists had switched to Sony, and sales were poor. Now the performances have resurfaced in impeccable “enhanced” DSD sound, and they couldn’t be better. A direct comparison to Levine’s Sym. 31 with the Vienna Phil. (DG) is telling: it’s the Berliners who sound free, joyous, and alive inside–all Viennese virtues–while the Viennese themselves sound rushed and indifferent.
Here a professional one, on the Symphonies Nos. 29 & 35: Though Abbado’s Berlin sound is weighty, the results are not just big-scale but elegante too, with horns whooping out brightly. Abbado is never mannered and his phrasing and pointing of rhythm are delicately affectionate, conveying na element of fun and with speeds never allowed to drag. Slow movements are kept flowing, and finales are hectically fast, but played with such a verve and diamond-bright articulation that there is no feeling of breathlessness. [Trecho do Penguin’s Guide to CDs]
Eu ia postar um álbum de Alberto Ginastera rico em trechos misteriosos, noites cheias de estrelas e cenas impressionistas. Mas Ginastera vai ter que esperar. Após a morte de nosso colega de blog, o saudoso Ammiratore, que nos deixou chocados e indignados, não consigo postar nada que não seja Mozart. O mal tem vencido diariamente. Por isso mesmo, como diria Walter Benjamin (6ª Tese sobre a História), é preciso acender as centelhas, as faíscas da esperança.
Mozart é necessário em tempos de tristeza. A música dele não é sempre solar e esperançosa, é claro. Mas há inúmeras obras que nos deixam de queixo caído com a forma como tudo se encaixa positivamente e tudo se encaminha para a alegria. É o caso de alguns dos concertos para piano, algumas das sinfonias e também estes três trios. Mesmo os movimentos lentos aqui são um larghetto e dois andantes de uma beleza bucólica: um é grazioso, o outro é cantabile.
As interpretações deste disco, em instrumentos de época por um músico holandês e dois japoneses, colocam os três instrumentos no mesmo nível, como três personagens de um diálogo. Mozart foi um dos maiores mestres da ópera (teatro com música) e conhecia a arte de fazer também os instrumentos dialogarem em réplicas e tréplicas mas, como falei logo acima, as discussões aqui sempre tendem para a paz e o entendimento. Todas as gerações têm algo a aprender com o gênio de Salzburgo.
W. A. Mozart (1756-1791): Trios para Piano K. 502, 542 & 548
1 Piano Trio in B-flat major, KV 502: I. Allegro
2 Piano Trio in B-flat major, KV 502: II. Larghetto
3 Piano Trio in B-flat major, KV 502: III. Allegretto
4 Piano Trio in E major, KV 542: I. Allegro
5 Piano Trio in E major, KV 542: II. Andante grazioso
6 Piano Trio in E major, KV 542: III. Allegro
7 Piano Trio in C major, KV 548: I. Allegro
8 Piano Trio in C major, KV 548: II. Andante cantabile
9 Piano Trio in C major, KV 548: III. Allegro
Há um crítico de música que se encaminhou para esta carreira com um único propósito – mostrar falsa a afirmação feita com empáfia pelo arrogante professor de Apreciação Musical:
Mozart é perfeito!
‘I bristled and set out to prove the man wrong!’
Ele escreveu em um de seus artigos: ‘Uma profunda resistência a Mozart não aprecia um bom augúrio para alguém que pretendia iniciar uma carreira que tivesse qualquer coisa a ver com música clássica!’ Se fosse Shostakovich, Hindemith ou Schoenberg, talvez fosse ainda possível, mas Mozart, pensei…
Realmente, pode parecer um pouco chocante ouvir alguém com interesse em música dita clássica uma afirmação como – não suporto Mozart!
Mesmo tendo mais de …. anos, continuo a me espantar quando ouço alguém afirmar com ênfase, e em alguns casos, até disfarçado prazer, que ‘não suporta a música de tal ou tal compositor’. Espanta-me afirmações assim peremptórias – detesto Rachmaninov! Tal radicalidade me parece tão improvável quanto o reverso – Ora, todo o mundo adora Rachamaninov!
Certa vez, um colega da universidade levou-me a fita cassete com a Sinfonia do Novo Mundo, que eu gostava tanto, para devolvê-la no outro dia e dizer, com um muxoxo: É bonitinha, mas meio cansativa, com tantas repetições dos temas. Ela acabou ficando um pouco chatinha… Disse assim e deixou-me, com a fita na mão. Que amigo urso! A Sinfonia nunca mais me foi a mesma. Amigos, cuidado com a má palavra descuidadamente lançada…
Estou mencionando tudo isto por razão de ser o tema da postagem Concertos para Piano de Mozart. Para mim eles são, senão provas, pelo menos evidências da quase perfeição de Mozart. Quem me garante isso é alguém que tem até mais experiência do que eu, não é, Miles?
Não sei que pensava o tal professor daquele que depois se fez crítico, mas definitivamente há Mozart e há Mozart. Dia destes a tentativa de audição de algumas sinfonias juvenis do nosso herói redundou em completo fracasso. Não passei da primeira. E olha que eram regidas pelo recomendado Jeffrey Tate!
Assim, começo a perceber que quando imagino perfeição e Mozart, certamente há que se fazer opções. Cada um de nós deve ter seu repertório de perfeições mozartianas. Até o próprio James Oestreich reconhece certos lampejos, rasgos de perfeição: ‘Minha resistência ao compositor gradualmente se erodiu em face de descobertas como ‘Le Nozze di Figaro’, especialmente as arrepiantes harmonias do final do ato II, a Gran-Partita para sopros, especialmente o primeiro Adagio que é de outro mundo’… E ele segue enumerando mais algumas obras, incluindo o Concerto para Clarinete.
Ele volta a resmungar sobre certas outras coisas, mas acabei por considerar que o Andante do Concerto para Piano No. 18 facilmente estaria na minha lista das perfeições do Wolferl! Especialmente quando interpretado pelo pianista Rudolf Firkušný, acompanhado pela Orquestra da Radio Alemã, regida pelo Ernest Bour. Este disco é da mesma safra do que foi postado anteriormente aqui.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para Piano No. 25 em dó maior, K. 503
Allegro maestoso
Andante
Allegretto
Concerto para Piano No. 18 em si bemol maior, K. 456
Reverenciado desde o auge da era clássica até hoje, o quarteto de cordas é o gênero ideal para os compositores darem vazão às suas ideias mais inovadoras. O Quarteto Modigliani ilumina essas obras-primas brilhantes, cada uma testemunhando um ponto de importante na obra de seus autores. Gosto muito de CDs que parecem programas de concertos. É o caso deste. Tudo parece muito coerente, com Bartók colocado entre os dois clássicos. Trata-se de um disco excelente, com interpretações maduras de grandes obras. Todo o Op. 76 de Haydn é espetacular e este Quarteto “Das Quintas” é sensacional. O Quarteto Nº 3 de Bartók já foi muito comentado aqui e o que dizer do Quarteto das Dissonâncias de Mozart? Bem, está tudo aí.
~ Haydn: Quarteto Op. 76 No. 2
01. String Quartets, Op. 76: I. Allegro (D Minor) (9:52)
02. String Quartets, Op. 76: II. Andante o più tosto allegretto (D Major) (6:10)
03. String Quartets, Op. 76: III. Minuet (D Minor) – Trio (D Major) (3:41)
04. String Quartets, Op. 76: IV. Finale. Vivace assai (D Major) (4:07)
~ Bartók: Quartet No. 3
05. String Quartet No. 3, Sz. 85, Prima parte: I. Moderato (4:50)
06. String Quartet No. 3, Sz. 85, Seconda parte: II. Allegro (5:37)
07. String Quartet No. 3, Sz. 85, Recapitulazione della prima parte: III. Moderato – Coda. Allegro molto (5:05)
~ Mozart: Quarteto No. 19, K. 465
08. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: I. Adagio — Allegro (11:28)
09. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: II. Andante cantabile (F Major) (7:42)
10. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: III. Menuetto and Trio. Allegro (4:46)
11. String Quartet No. 19 in C Major, K. 465: IV. Allegro (8:01)
“Boldog születésnapot!” não é uma sopa de letrinhas, e sim “feliz aniversário!” em húngaro – e as felicitações, claro, vão para o genial Béla Viktor János Bartók, em seu idioma nativo, no dia em que completaria 140 anos.
Não falo húngaro, nem jamais falarei. Limito-me a estudá-lo mui diletantemente, sem progresso algum, e há tantos anos que reconheço em meus esforços mais uma contemplação amedrontrada da legendária complexidade do magiar, com seus dezoito casos e vocabulário alheio ao léxico indo-europeu, do que uma pretensão real de algum dia dominar o Leviatã. Ainda assim, resolvi que os títulos das postagens de hoje seriam bilíngues, não para ostentar minha confessa semi-ignorância, e sim para homenagear devidamente o aniversariante, que tanto orgulho tinha de seu país, de sua cultura e de seu idioma, e que – mesmo notável poliglota – contemplava o resto do mundo a partir dessa inexpugnável ilha linguística.
Bartók, claro, também tocava piano (que o magiar, aliás, resolveu chamar de nada parecido com o italiano piano ou o alemão Klavier, e sim de ZONGORA). Reconhecia ritmos e melodias antes de balbuciar frases completas, e, antes de completar quatro anos, já estava tão familiarizado ao teclado que seu repertório contava com quarenta peças. Sua maior aliada era a mãe, Paula, uma professora de piano que começou a lhe dar aulas a partir dos cinco anos e não mediria esforços para garantir a melhor educação musical possível a seu filho, o que envolveu heroísmo depois da morte inesperada do marido, quando o menino tinha meros cinco anos. Sua admissão na classe de piano de István Thomán na Real Academia de Música de Budapest, aos dezoito anos, coroou a abnegação de Paula, a quem Béla permaneceria devotamente ligado até a morte dela.
Embora tenha feito várias turnês ao longo da vida – a primeira delas pela Alemanha, em 1903, ao graduar-se da Academia -, a carreira de Bartók como concertista sempre lhe teve um papel secundário, inda mais depois de ingressar no corpo docente da Academia, em 1908, como professor de piano. Com um emprego prestigioso e salário fixo, já não dependia mais dos recitais como ganha-pão, e podia assim lançar-se ao pleno cultivo de suas maiores paixões – a composição e o estudo da música folclórica húngara – até a reta final de sua vida, quando o fascismo e o envolvimento da Hungria na guerra obrigaram-no a refugiar-se nos Estados Unidos, onde viu-se obrigado novamente a sentar-se ao teclado para sustentar-se.
Mesmo com essa baixa prioridade dada à ribalta, Bartók legou-nos um número razoável de gravações em diferentes meios – incluindo cilindros de cera e o processo Welte-Mignon, semelhante à pianola – que não só servem como documentos fascinantes de seu pianismo, com também são testemunhos preciosos das concepções artísticas do gênio. A qualidade do som registrado pelos processos arcaicos não consegue, naturalmente, trazer a nossos tempos uma das virtudes mais laudadas por aqueles que ouviram Béla ao teclado: seu timbre, descrito como “belo”, “caloroso” e “profundamente convincente”. Muito evidentes, entretanto, são outras qualidades descritas por seus contemporâneos: a concentração (“sua execução de piano era desprovida de qualquer floreio superficial e irrelevante; cada tom era pura essência ”, segundo Lajos Hernádi), a inventividade (“ele foi um revolucionário na composição; sua performance ao piano também estava sob a égide da renovação, desprovida de qualquer rotina”, nas palavras de Géza Frid) e a espontaneidade (“há uma espécie de pureza virginal até em suas marteladas mais infernais… Isso é mais que o gênio do artista-intérprete; é o gênio inerente do artista criativo para tudo o que é criação”, como descreveu Aladár Tóth, esposo da grande pianista Annie Fischer).
As preciosidades que lhes apresento a seguir foram lançadas pelo selo Hungaroton em 1981, por ocasião do centenário do compositor, e compreendem a quase totalidade do legado fonográfico de Béla Bartók (a notória exceção é um recital com Joseph Szigeti na Livraria do Congresso em Washington, D. C., nos Estados Unidos, que será oportunamente publicada pelo colega Pleyel). Elas refletem o conforto com que ele assumia as funções de recitalista, camerista, acompanhador, pianista de duo e concertista, e atestam categoricamente sua destreza ao teclado. Alguns registros, como as sonatas de Scarlatti, dão a impressão de que o sisudo, quase ascético homem chegava mesmo divertir-se ao tocar piano. Outros, como o fragmento do “Concerto Patético” de Liszt, tocado com o colega de Academia e também compositor Dohnányi, contrastam seu estilo econômico com o som efusivo e ultrarromântico do segundo. E eletrizantes, acima de tudo, são as leituras suas próprias obras (algumas delas anunciadas em húngaros pelo próprio compositor), um legado inestimável para os pianistas que as desejam incorporar a seus repertórios e, pelo menos para mim, seu fã incondicional, fascinantes janelas para um passado não tão remoto em que o gênio estava entre nós.
BARTÓK HANGFELVÉTELEI CENTENÁRIUMI ÖSSZKIADÁS (“Edição do centenário das gravações de Bartók”)
Editores: László Somfai, Zoltán Kocsis, János Sebestyén
Hungaroton, 1991
I. BARTÓK ZONGORÁZIK 1920-1945 (“Bartók ao piano”)
Gravações em piano de rolo (processo Welte-Mignon)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
1 – Das Dez peças fáceis, BB 51 – No. 5: Este a székelyeknél – Das Quinze canções camponesas húngaras, BB 79 – No. 6: Ballada
2 – Quinze canções camponesas húngaras, BB 79, Sz. 71 – Nos. 7-10, 12, 14, 15
3 – Sonatina para piano, BB 69, Sz. 55
4 – Danças folclóricas romenas para piano, Sz. 56, BB 68
Gravações fonográficas
5 – Das Dez peças fáceis, BB 51 – No. 5: Este a székelyeknél – No. 10: Medvetanc (“Dança do Urso”)
6 – Das Duas danças romenas, Op. 8a, Sz. 43, BB56 – No. 1: Allegro vivace
7 – Das Quatorze bagatelas para piano, Op. 6, BB 50 – No. 2: Allegro giocoso – Das Três Burlesques, BB 55 – No. 2: Kicsit azottan
8 – Allegro barbaro, BB 63, Sz. 49
Suíte para piano, BB 70, Sz. 62, Op. 14
9 – I. Allegretto
10 – II. Scherzo
11 – III. Allegro molto – IV. Sostenuto
Suíte para piano, BB 70, Sz. 62, Op. 14
12 – I. Allegretto
13 – II. Scherzo
14 – III. Allegro molto – IV. Sostenuto
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
15 – Sonata em Sol maior, K. 427/L. 286/P. 286 – Sonata em Lá maior, K. 212/L. 135/P. 155
16 – Sonata em Lá maior, K. 537/L. 293/P. 541 – Sonata em Si bemol maior, K. 70/L. 50/P. 21
Ferenc LISZT (1811-1886)
Années de Pèlerinage, 3ème Année, S. 163
17 – No. 7: Sursum corda
Béla BARTÓK
18 – Das Quinze canções húngaras para piano, BB 79, Sz. 71 – Nos. 7-10, 12, 14, 15
19 – Dos Três rondós sobre melodias folclóricas eslovacas, BB 92, Sz. 84 – No. 1: Andante
20 – Das Nove pequenas peças para piano, BB 90 – No. 6: Dal – No. 8: Csorgotanc – Petite Suite, BB 113 – No. 5: Szol
Cinco canções folclóricas húngaras, BB 97, Sz. 33
1 – No. 1: Elindultam – No. 2. Altal – No. 3: A gyulai
2 – No. 4: Nem messze van ide – No. 5: Vegigmentem a tarkanyi
Vilma Medgyaszay, soprano Béla Bartók, piano
Canções folclóricas húngaras, Sz. 42
3 – No. 1: Fekete fod – No. 3: Asszonyok, asszonyok
4 – No. 2: Istenem, istenem – No. 5: Ha kimegyek
5 – No. 6. Toltik a – No. 7: Eddig valo dolgom – No. 8: Olvad a ho
Mária Basilides, contralto Ferenc Székelyhidy, tenor Béla Bartók, piano
6 – Melodias folclóricas húngaras (arranjo de Jozséf Szigeti para violino e piano)
7 – Danças folclóricas romenas para piano, Sz. 56, BB 68 (arranjo de Zoltán Székely para violino e piano)
Rapsódia no. 1 para violino e piano, BB 94a, Sz. 86
8 – Lassú
9 – Friss
József Szigeti, violino Béla Bartók, piano
Contrastes, para violino, clarinete e piano, BB 116, Sz. 111
10 – I. Verbunkos
11 – II. Piheno
12 – III. Sebes
József Szigeti, violino Benny Goodman, clarinete
Béla Bartók, piano
Béla BARTÓK
Concerto para piano e orquestra no. 2, BB 101
1 – I. Allegro – II. Adagio – III. Allegro molto (excertos)
Béla Bartók, piano Budapesti Szimfonikus Zenekara (Orquestra Sinfônica de Budapeste) Ernest Ansermet, regência
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
2 – Seis variações sobre um tema original em Fá maior, Op. 34 (excerto)
Johannes BRAHMS (1833-1897)
3 – Das Klavierstücke, Op. 76 – No. 2: Capriccio in Si menor
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
4 – Dos Dois noturnos, Op. 27 – No. 1 em Dó sustenido menor
Béla BARTÓK De Mikrokosmos, BB 105: 5 – Vol. 5: No. 138. Gaita de foles
6 – Vol. 4: No. 109. Da ilha de Bali (excerto)
7 – Vol. 6: No. 148. Seis danças em ritmo búlgaro: No. 1 (excerto)
Béla Bartók, piano
Wolfgang Amadeus MOZART
Sonata para dois pianos em Ré maior, K. 448
8 – I. Allegro con spirito (excerto)
9 – II. Andante (excerto)
10 – III. Allegro molto (excerto)
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En blanc et noir, para dois pianos, L. 134
11 – I. Avec emportement (excerto)
12 – II. Lent, Sombre (excertos)
13 – III. Scherzando (excertos)
Béla BARTÓK
1 – Rapsódia para piano e orquestra, Op. 1, Sz. 27 (excertos)
Béla Bartók, piano Magyar Királyi Operaház Zenekara (Orquestra da Ópera Real Húngara) Ernő Dohnányi, regência
Johannes BRAHMS Sonata para dois pianos em Fá menor, Op. 34bis
2 – I. Allegro non troppo
3 – II. Andante un poco adagio
4 – III. Scherzo: Allegro
5 – IV. Finale: Poco sostenuto – Allegro non troppo
Béla BARTÓK 1 – Rapsódia no. 1 para violino e piano, Sz. 86, BB 94 2 – Magyar népdalok (Canções folclóricas húngaras), BB 109 (arranjo de Tivadar Országh para violino e piano)
Ede Zathureczky, violino Béla Bartók, piano
Ferenc LISZT 3 – Concerto pathétique, para dois pianos, S258/R 356
Béla Bartók eErnő Dohnányi, pianos
Prózai Anyagok (“material falado”)
Béla BARTÓK
Entrevistas, conferências e pronunciamentos:
4 – Texto da “Cantata profana” (em húngaro)
5 – Conferência sobre a expedição à Anatólia (em húngaro)
6 – Entrevista na Radio Bruxelles (em francês)
7 – Entrevista para a série “Ask the Composer” (em inglês)
8 – Gravações familiares (em húngaro)
Pegue sua carteira e tome seu cartão de crédito. Calma, não pediremos qualquer número, não se preocupe, isto será apenas uma pequena experiência matemática. Usando uma régua, meça em milímetros as dimensões de seu cartão. Pronto? Fazendo a experiência aqui obtive 86mm de largura por 54mm de altura. A proporção 86/54 é ‘quase’ harmoniosa. O pessoal que lida com finanças sabe das coisas, mas melhor teria sido 89/55, a relação entre dois números subsequentes da Sequência de Fibonacci.
Há uma relação entre a Sequência de Fibonacci e a Razão Áurea ou o Número de Ouro, representado geralmente pela letra grega Φ (phi). Em matematiquês,
Ou seja, Φ é o limite dos quocientes dos números subsequentes da Sequência de Fibonacci.
Lembrando, F1 = 1, F2 = 1 e Fn+1 = Fn+ Fn-1. Assim, F1 = 1, F2 = 1, F3 = 2, F4 = 3, F5 = 5, F6 = 8, F7 = 13, F8 = 21, F9 = 34, e assim por diante.
Na prática, isto quer dizer que os quocientes Fn+1/Fn são mais e mais próximos de Φ. Aqui, para falar em ‘proximidade’, lembramos que a distância entre dois números é o valor absoluto da diferença entre eles. Por exemplo, usando a calculadora do celular obtemos 89/55 = 1,61818181… e 1595/987 = 1,6180344478… O valor exato de Φ é
Antes que o papo se torne ainda mais técnico, vamos dizer que esta constante aparece com frequência em fenômenos da natureza e especialmente nas artes clássicas, remontando aos gregos. As proporções do Panteão, por exemplo, seguem esses padrões. Você poderá explorar mais este tema começando por aqui.
E agora, a música da postagem. Em 1781 Mozart estava numa feliz viagem até Munique, onde estava ocupado com a composição da ópera Idomeneo e a orquestra que se preparava para apresentá-la contava com o melhor oboísta daqueles dias, um dos primeiros virtuoses do instrumento, Friedrich Romm. Mozart escreveu o Quarteto com Oboé inspirado por este artista. ‘… ninguém é capaz de produzir um som tão bonito, redondo, gentil e puro…’
Já o Adagio K. 580a foi composto em 1789, na mesma época da composição do Quinteto com Clarinete e de Cosi fan tutte. Mozart completou a parte do solo do corne inglês, mas deixou outras partes incompletas. Esta é a gravação da partitura completada por Lowicki.
O Trio com Oboé de Poulenc é figurinha carimbada em minhas postagens, adoro esta peça. Temos em seguida uma obra de Jean Françaix, que foi aluno de Nadia Boulanger e compôs muito, até os últimos dias de vida. A julgar pela belezura desta peça aqui, sua obra bem merece ser explorada.
Para completar, temos uma Suíte escrita por Alwyn para o casal de virtuoses Léon e Sidonie Goossens, ele tocava oboé e ela harpa.
O Salut d’Amour, também para oboé e harpa foi composto por Elgar como um presente para sua amada, que havia composto um poema para o agradar…
O Divertimento para Oboé é uma obra de Bernhard Crusell, que é mais conhecido por suas composições para clarinete. Ele foi o principal clarinetista da Royal Court Orchestra de Estocolmo por muitos e muitos anos. Suas obras são típicas do período de transição do clássico para o romantismo.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Quarteto para oboé, violino, viola e piano em fá maior, K370
Allegro
Adagio
Rondeau
Francis Poulenc (1899 – 1963)
Trio para oboé, fagote e piano
Presto
Andante
Rondo
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Adagio para trompa inglesa, violino, viola e violoncelo, KV 580a (Arr. de Lowicky)
Adagio
Jean Françaix (1912 – 1997)
Quatuor à vents para flauta, oboé, clarinete e fagote
O rapazinho entrou sorrateiro pela porta e sentou-se discretamente no fundo da sala a tempo de ouvir as primeiras frases da aula do grande mestre: “Estas são as nove figuras usadas pelos hindus…” Ele desenhou então no quadro nossos conhecidos
9 8 7 6 5 4 3 2 1
e prosseguiu: “…com estas nove figuras e o zefir podemos escrever qualquer número, como vocês aprenderão aqui”.
Leonardo sentiu que a viagem desde a sua cidade natal, cruzando o mar e chegando àquele estranho e novo mundo onde seu pai estava, começava a valer a pena.
Tudo era diferente – a língua, a religião, os costumes. Até os cheiros e sabores e mesmo a luz do dia lhe diziam que vivia agora em outro universo. Mas o que ele aprendeu naqueles anos que passou ali valeria por uma vida inteira.
Leonardo viera de Pisa e o navio que o trouxera ao porto de Bugia, na Cabília, Argélia, passara por Bonifácio, no estreito entre a Córsega e a Sardenha, onde também passou por Cagliari. Depois costeou a África desde Túnis até chegar a Bugia, que hoje é conhecida por Béjaïa.
Assim como as suas rivais repúblicas – Veneza, Gênova e Amalfi -, Pisa tinha grandes interesses comerciais em toda aquela área. O pai do nosso herói chamava-se Guglielmo Bonacci e era escrivão da aduana, junto aos representantes dos mercadores de sua terra natal. Pisa tinha representantes diplomáticos tanto em Bugia quanto em Túnis e mantinham seus próprios funduqs e magazines. Guglielmo sabia dos pendores matemáticos de seu filho e o chamara para estudar com os mestres daquela cidade tanto seus métodos de cálculo quanto suas soluções para diversos problemas envolvendo contabilidade e finanças, pois que Mestre Guglielmo era um homem prático.
Leonardo viveu nesta região de algo como 1185 até 1220. Ele não ficou apenas em Bejaïa, mas também visitou o Egito, a Síria, Grécia, Sicília e a região de Provença, sempre aprendendo. Com os conhecimentos que adquiriu mais seus próprios grandes talentos, tornou-se o maior matemático de sua época e contribuiu enormemente para o renascimento científico que a Europa viveria proximamente.
Na sua volta para Pisa, escreveu um livro que foi divulgado em 1202 (naquela época só havia cópias feitas à mão), o Liber abaci, no qual explica o sistema numérico Hindu-Arábico, que era praticamente desconhecido na Europa, assim como usá-lo nos cálculos, mostrando as enormes virtudes deste sistema posicional.
Se você acha pouco, tente efetuar a multiplicação dos números MMDXCIV e MMMCCCLXXIII.
Ao longo das quatro outras postagens desta série contaremos mais algumas coisas sobre Fibonacci, que tem seu nome associado a uma famosa sequência de números e que dá nome ao conjunto que toca a música – The Fibonacci Sequence.
O conjunto The Fibonacci Sequence foi fundado pelo pianista Kathron Sturrock e fará 30 anos em 2024. É formado por renomados músicos e famoso por apresentar uma programação variada e imaginativa. A escolha do nome do conjunto foi motivada pelo fato dos números da tal sequência aparecerem, surgirem como mágica nas mais diversas situações, como na natureza, no número de ramos das árvores, nas pétalas das flores, nas espirais e de muitas outras formas. Além disso, há uma relação entre a razão dos seus números subsequentes e o número conhecido como a Proporção Áurea ou Número de Ouro, que para muitos determina as mais harmoniosas proporções nas artes e música.
Esta sequência será tema da próxima conversa, que estará disponível no seu distribuidor PQP Bach mais próximo em breve.
Os discos desta série são divididos em dois grupos temáticos. Os três primeiros trazem música de câmara com um instrumento de sopro (madeira) em destaque. Começamos com o fagote. Os dois últimos são dedicados cada um a um único compositor. Você não perde por esperar.
Neste disco temos música de cinco diferentes compositores. Dois são franceses, um é inglês, mais um alemão e um conhecido austríaco.
Carl Maria von Weber surgiu para a música com a ópera Der Freischutz e foi um precursor do romantismo. Neste sentido foi inovador, mas em suas outras composições foi mais convencional. Isso não quer dizer que suas outras obras não sejam interessantes e ele compôs com especial qualidade para clarinete.
Compositor menos conhecido, Henri Sauguet adorava música desde cedo e teve ajuda inicialmente de Canteloube e Millhaud. Estudou com Max Jacob, Satie e Koechlin. Compôs balés, sinfonias e muita música de câmara.
Assim como Sauguet, Jacques Ibert compôs balés, sinfonias e muita música de câmara, especialmente para formações com instrumentos de sopro. Estudou com Fauré e de 1946 até 1960 foi o diretor do Conservatório de Paris.
Do outro lado do Canal da Mancha, temos uma peça de Gordon Jacob que foi prolífico compositor e deixou também livros sobre composição e orquestração.
Para encerrar o disco, temos um compositor austríaco que dispensa apresentações.
Carl Maria von Weber (1786 – 1826)
Andante e Rondo ‘Ungarese’ para fagote, violino, viola e violoncelo (arr. Mordechai Rechtman)
Andante
Rondo
Henri Sauguet (1901 – 1989)
Barcarolle para fagote e harpa
Barcarolle
Jacques Ibert (1890 – 1962)
Cinco peças para Trio com oboé, clarinete e fagote
Allegro vivo
Andantino
Allegro assai
Andante
Allegro quasi marziale
Gordon Jacob (1895 – 1984)
Suíte para fagote, dois violinos, viola e violoncelo
Prelude
Caprice
Elegy
Rondo
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Quinteto em mi bemol maior para oboé, clarinete, trompa, fagote e piano, K. 452
Some beautiful sonorities coming up now from the Fibonacci Sequence, one of the UK’s most prominent chamber ensembles who were founded back in 1994 by pianist, Kathron Sturrock.[…] Certainly this combination allows the bassoon to sing out and display its virtuosity.
Sou fã dos belgas do Anima Eterna Brugge já há bastante tempo, e sempre que possível acompanho seus lançamentos, sempre de excelente qualidade. Joos van Immerseel já esta há bastante tempo na estrada e estes anos de experiência tem tornado suas interpretações mais seguras e maduras.
Adepto das interpretações historicamente informadas, van Immerseel gravou estas sinfonias já lá no início do século, 2001, para ser mais exato, e mais tarde também gravou a integral dos Concertos para Piano, atuando como solista, utilizando um Pianoforte. Trouxe essa integral já há alguns anos e ela teve uma ótima recepção. Espero que os senhores também apreciem estas Sinfonias. Quem não está acostumado a este estilo de interpretação pode estranhar a sonoridade, a escolha dos tempos, enfim, é Mozart sob uma perspectiva diferente da de um maestro como Karl Böhm, por exemplo.
O texto abaixo foi retirado do libreto que segue em anexo, e é uma síntese, definida pelo próprio maestro, destas últimas três sinfonias:
“Mozart the man, with his individual temperament, was above all a musician. In this symphonic ‘trilogy’, he illuminated all aspects of human expression, quite independently of his personal situation. Each work presents a different character. No.39 in E fl at major contains numerous elements reminiscent of chamber music, while no.40 in G minor makes clear references to opera. No.41 in C major includes formal elements from Baroque music (overture, concerto, fugue). Its synthesis of sonata form and fugue was, and still is, a tour de force that could only have been written by Mozart.”
CD 1
SYMPHONY NO.39 IN E FLAT MAJOR, K543
1 ADAGIO – ALLEGRO
2 ANDANTE CON MOTO
3 MENUETTO. ALLEGRETTO
4 FINALE. ALLEGRO
SYMPHONY NO.40 IN G MINOR, K550
5 ALLEGRO MOLTO
6 ANDANTE
7 MENUETTO. ALLEGRETTO
8 ALLEGRO ASSAI
CD 2
SYMPHONY NO.41 IN C MAJOR, K551 ‘JUPITER’
1 ALLEGRO VIVACE
2 ANDANTE CANTABILE
3 MENUETTO. ALLEGRETTO
4 FINALE. MOLTO ALLEGRO
BASSOON CONCERTO IN B FLAT MAJOR, K191
5 ALLEGRO
6 ANDANTE MA ADAGIO
7 RONDO, TEMPO DI MENUETTO
Jane Gower – Basson
Anima Eterna Brugge
Jos van Immerseel – Conductor
Não faltam gravações de primeira linha do Réquiem de Mozart. Esta é uma delas. É uma abordagem bastante íntima e relaxada e, para meus ouvidos, de atmosfera não muito devocional, o que é ótimo. O canto é tranquilo e os ritmos às vezes parecem um pouco alegres demais para um Réquiem. A gravação é 1991 e, no início dos anos 90, ainda havia um sentimento persistente de seriedade acadêmica sobre a maior parte do desempenho de instrumentos de época, mas Jordi Savall demonstra o valor de um toque leve, que desde então se tornou mais ou menos a convenção. No contexto do Réquiem de Mozart, isso não se coaduna com a gravidade do tema, embora sirva para destacar a elegância clássica que nunca está longe da superfície de Mozart. Não há andamentos super-rápidos aqui, pelo menos para os padrões de desempenho da época. No geral, a orquestra é mais impressionante do que o coro, e colocar a música fúnebre maçônica no início do disco dá a eles uma excelente chance de mostrar suas qualidades. Savall dá grande importância ao fato de que corni di bassetto de época são usadas. Eles são proeminentes na abertura e adicionam um maravilhoso colorido ao registro do meio dos instrumentos de sopro. Os metais são tocados de maneira rouca e agradável e os tímpanos soam adequadamente arcaicos. Este disco vai agradar mais aos fãs de Jordi Savall do que aos fãs de Mozart, penso eu.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Réquiem / Maurerische Trauermusik (Savall)
1 Maurerische Trauermusik, K 477 5:21
Requiem, K 626
2 Requiem 6:48
3 Dies Irae 1:41
4 Tuba Mirum 2:53
5 Rex Tremendae 1:37
6 Recordare 5:11
7 Confutatis 2:10
8 Lacrimosa 3:00
9 Domine Jesu 3:21
10 Hostias 3:32
11 Sanctus 1:14
12 Benedictus 4:55
13 Agnus Dei 8:33
Bass Vocals – Stephan Schreckenberger
Chorus – La Capella Reial De Catalunya
Conductor – Jordi Savall
Mezzo-soprano Vocals – Claudia Schubert
Orchestra – Le Concert Des nations
Soprano Vocals – Montserrat Figueras
Tenor Vocals – Gerd Türk
Este foi um LP que ouvi quase até furar quando adolescente. Era apaixonado por estas obras e pelo Griller. Voltando a ele após décadas, digo que a paixão não foi a mesma, mas que gostei bastante. Claro, a gravação de 1964 sentiu o peso dos anos e do estilo pouco usual atualmente, quando se toca Mozart de uma forma muito mais leve. Mas deu pra se divertir bastante, principalmente pela ausência dos espocares dos vinis. Meu LP — tenho-o até hoje, assim como todos o que comprei — é exatamente ao da capa ao lado, da série Historical Anthology Of Music, do selo The Bach Guild. Porém, sem dúvida, esta é uma das maiores gravações de música de câmara já feitas. Os ingleses do Griller String Quartet continua a ser uma lenda entre os entusiastas e é fácil entender os motivos. Junto com o violista convidado William Primrose, eles tocam com uma combinação de vitalidade rítmica, equilíbrio perfeito do conjunto e pura beleza tonal que incomoda. O líder Sidney Griller, com sua atenção escrupulosa ao fraseado e à dinâmica, arranca cada gota de humanidade de seus solos. Uma joia fora de moda, mas uma joia!
W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos K. 515 e 516 (Griller)
String Quintet In G Minor, K. 516 (31:34)
A1 Allegro
A2 Menuetto (Allegretto)
A3 Adagio Ma Non Troppo
A4 Adagio-Allegro
Quintet For Strings In C Major, K.515 (30:54)
B1 Allegro
B2 Menuetto (Allegretto)
B3 Andante
B4 Allegro
The Griller String Quartet with William Primrose:
Cello – Colin Hampton
Viola – Philip Burton, William Primrose
Violin – Sidney Griller, Jack O’Brien
Indiscutivelmente, uma das melhores gravações destas extraordinárias obras. A Orpheus Chamber Orchestra realiza aqui um trabalho de rara sensibilidade. São 212 minutos de grande Mozart. Que música, meus amigos!
A Orpheus é um conjunto que trabalha sem maestro. Os solistas para este conjunto de discos são todos membros da Orpheus e, presumivelmente, bem conhecidos de seus colegas. O resultado é esplêndido. Destaque para o Concerto para Clarinete, o para Flauta e Harpa e os para Flauta solo, além da Sinfonia Concertante. Divirtam-se.
Mozart: Concertos para Sopros (Completo)
CD1
01 Sinfonia Concertante in E flat, (297b) -1) Allegro
02 Sinfonia Concertante in E flat, (297b) -2) Adagio
03 Sinfonia Concertante in E flat, (297b) -3) Andantino con variazio
04 Clarinet Concerto in A, K 622 -1) Allegro
05 Clarinet Concerto in A, K 622 -2) Adagio
06 Clarinet Concerto in A, K 622 -3) Rondo. Allegro
07 Andante for Flute and Orchestra in C, K 315 (285e)
# Sinfonia concertante for oboe, clarinet, horn, bassoon & orchestra in E flat major, K(3) 297b (K. Anh. C 14.01) (spurious)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with David Singer, Stephen Taylor, William Purvis, Steven Dibner
# Clarinet Concerto in A major, K. 622
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with Charles Neidich
# Andante for flute & orchestra in C major, K. 315 (K. 285e)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with Susan Palma
-=-=-=-=-=-
CD2
01 Bassoon Concerto in B-flat K 191 (186e) -1) Allegro
02 Bassoon Concerto in B-flat K 191 (186e) -2) Andante ma adagio
03 Bassoon Concerto in B-flat K 191 (186e) -3) Rondo. Tempo di Menuetto
04 Horn Concerto No 2 in E-flat, K 417 -1) Allegro
05 Horn Concerto No 2 in E-flat, K 417 -2) Andante
06 Horn Concerto No 2 in E-flat, K 417 -3) Rondo. Allegro
07 Horn Concerto No 1 in D, K 412 (386b) -1) Allegro
08 Horn Concerto No 1 in D, K 412 (386b) -2) Rondo. Allegro
09 Horn Concerto No 3 in E-flat, K 447 -1) Allegro
10 Horn Concerto No 3 in E-flat, K 447 -2) Romance. Larghetto
11 Horn Concerto No 3 in E-flat, K 447 -3) Allegro
12 Horn Concerto No 4 in E-flat, K 495 -1) Allegro maestoso
13 Horn Concerto No 4 in E-flat, K 495 -2) Romance. Andante cantabile
14 Horn Concerto No 4 in E-flat, K 495 -3) Rondo. Allegro vivace
# Bassoon Concerto in B flat major, K. 191 (K. 186e)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with Frank Morelli
# Horn Concerto No. 2 in E flat major, K. 417
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with William Purvis
# Horn Concerto No. 1 in D major, K. 412/514 (K. 386b)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with David Jolley
# Horn Concerto No. 3 in E flat major, K. 447
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with William Purvis
# Horn Concerto No. 4 in E flat major, K. 495
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with David Jolley
-=-=-=-=-=-
CD3
01 Oboe Concerto in C, K 314 (285d; 271k ) -1) Allegro Aperto
02 Oboe Concerto in C, K 314 (285d; 271k ) -2) Adagio non Troppo
03 Oboe Concerto in C, K 314 (285d; 271k ) -3) Rondo. Allegretto
04 Flute Concerto No 1 in G, K 313 (285c) -1) Allegro Maestoso
05 Flute Concerto No 1 in G, K 313 (285c) -2) Adagio ma non Troppo
06 Flute Concerto No 1 in G, K 313 (285c) -3) Rondo. Tempo di Menuetto
07 Flute, Harp Concerto in C, K 299 (297c) -1) Allegro
08 Flute, Harp Concerto in C, K 299 (297c) -2) Andantino
09 Flute, Harp Concerto in C, K 299 (297c) -3) Rondeau. Allegro
# Oboe Concerto in C major, K. 314 (K. 285d)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with Randall Wolfgang
# Flute Concerto No. 1 in G major, K. 313 (K. 285c)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with Susan Palma
# Concerto for flute, harp & orchestra in C major, K. 299 (K. 297c)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Orpheus Chamber Orchestra
with Susan Palma, Nancy Allen
Vamos então de Keith Jarrett em sua experiência mozartiana. Antes, porém, peço que deixem de lado seus intérpretes favoritos, como Géza Anda, Mitsuko Uchida, Alfred Brendel, Arhut Rubinstein, entre tantos outros, e prestem atenção à esta interpretação de Jarrett. Esqueçam as peripécias virtuosísticas que estão acostumados a ouvir dos dedos de Jarrett e se surpreendam com o lirismo e a tranquilidade que ele consegue transmitir com sua interpretação. Nem parece o mesmo músico que se torce, retorce, geme, grita, quando toca jazz. Aqui temos um músico plenamente consciente de seu talento, de sua capacidade, e que se rende ao gênio mozartiano, prestando-lhe uma belissima homenagem. Lento em alguns momentos? Pode até ser, mas desta forma ele consegue extrair da música elementos e detalhes que não se encontram em outras interpretações mais, digamos, virtuosísticas.
O acompanhamento é de primeiríssimo nível, com uma Sttugarter Kammerorchester simplesmente perfeita, com um balanço impecável, dirigida por outro grande pianista, Dennis Russel Davies.
De quebra, vai de brinde uma Sinfonia nº40 e a Maurerische Trauermusik, (Masonic Funeral Music), k. 477.
Espero que apreciem.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concertos para Piano 23, 27 e 21 / Música Funeral Maçônica / Sinfonia Nº 40 (Jarrett-Davies)