Haydn (1732-1809) • Beethoven (1770-1828) • Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano – Rafal Blechacz ֎

Haydn (1732-1809) • Beethoven (1770-1828) • Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano – Rafal Blechacz ֎

Haydn • Beethoven

Mozart

Sonatas para Piano

Rafal Blechacz, piano

 

O disco desta postagem já apareceu PQP Bach em 27 de fevereiro de 2013. Foram duas as postagens feitas naquele dia, segundo palavras do Presidente-Diretor, o próprio PQP Bach, autor da postagem de então. Ele gostou do disco, confiram lá!

Rafal Blechacz, pianista do dia…

De qualquer forma, os links não estão mais ativos, há muito sumidos com o vanished rapidshare. Como gostei bastante, tratei de dedicar-lhe nova postagem, que aqui vai.

Ele reúne três sonatas para piano de três compositores clássicos, que viveram partes de suas vidas em Viena e, de certa forma, se conheceram bem uns aos outros, apesar de Beethoven e Mozart terem se encontrado pessoalmente muito brevemente.

As sonatas são representantes do gênero clássico e trazem características deste período, mas as similaridades acabam por aqui. Elas foram compostas em momentos totalmente diferentes nas carreiras de cada um deles e cada uma delas revela em parte as personalidades de seus criadores, que não poderiam ser mais diferentes.

A Sonata em mi bemol maior, Hob. XVI: 52 (Hoboken), também conhecida pela numeração L. 62 (Landon), é a última sonata para piano composta por Haydn, em 1794, no seu último período criativo. Ele estava no auge da fama, já aposentado dos serviços à família Esterházy, viajando para Londres a convite do empresário J.P. Salomon. A sonata foi dedicada à pianista inglesa Therese Jansen, de quem foi padrinho de casamento e a quem dedicou os Trios com Piano Hob. XV: 27-29.

Esta é possivelmente a sonata mais conhecida de Haydn e merece a fama. As características de bom humor e ótimo gosto estão presentes e eu fiquei muito impressionado com a transição do segundo (Adagio) para o terceiro movimento (Presto) nesta interpretação do Rafal Blechacz, em geral mais identificado com o repertório romântico, como a música de Chopin.

A Sonata em lá maior, op. 2, 2 faz parte do primeiro grupo de sonatas para piano que Beethoven publicou e foi dedicada a Haydn, de quem Beethoven foi ‘aluno’. Apesar do baixo número de opus, ela foi composta em 1796, quando Beethoven tinha 26 anos e algumas sonatas para piano em seu portfólio. É bom lembrar também que Beethoven oscilou, no início de sua carreira, entre intérprete e compositor. Naqueles dias sua fama recaia principalmente em seus talentos como improvisador. A sua sonata já se distingue das demais no disco por ter quatro movimentos, sonata grande, com um brincalhão scherzo seguindo o Largo appassionato, Beethoven sempre quebrando o clima, e é arrematada por um gracioso rondó.

A última sonata do disco é a mais antiga delas, Sonata em ré maior, K. 311, composta por Mozart em 1777 em sua estada em Augsburg e Mannheim, no caminho de Paris. Ela foi publicada lá, em conjunto com as Sonatas K. 309 e 310 e são de um período intermediário do compositor. O primeiro movimento é o que eu considero um exemplo de música líquida, devido à sua fluidez, especialmente na interpretação de Rafal Blechacz. Com sua elusiva simplicidade, é uma típica obra de Mozart – que nos conquista sem que saibamos por que, basta ouvir e sorrir.

Joseph Haydn (1732 – 1809)

Sonata para Piano em mi bemol maior, Hob. XVI:52
  1. Allegro (Moderato)
  2. Adagio
  3. Presto

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano em lá maior, Op. 2 No. 2
  1. Allegro vivace
  2. Largo appassionato
  3. Allegretto
  4. Grazioso

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Sonata para Piano em ré maior, K. 311
  1. Allegro con spirito
  2. Andantino con espressione
  3. Allegro

Rafal Blechacz, piano

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MP3 | 320 KBPS | 139 MB

Rafał Blechacz has been named the 2014 PQP Bach Artist…

Textural transparency, expressive economy, creative inspiration, high humour and strategically placed silences characterise these three Haydn, Beethoven and Mozart sonatas, as well as Rafal Blechacz’s splendid, beautifully recorded interpretations. […] . In short, Blechacz’s third solo release (his second for DG) is by far his strongest yet.

Aproveite!

René Denon

PS: Se você gostou desta postagem, poderá se interessar por estas outras.

Aqui, sonatas de Beethoven intercaladas com sonatas de Beethoven…

Haydn (1732-1809) & Beethoven (1770-1827): Sonatas para Piano – Olivier Cavé #BTHVN250

Aqui, uma excelente opção para as três sonatas do Opus 2 de Beethoven:

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Três sonatas para piano, Op. 2 – Perahia

Nas duas a seguir, Sonatas de Haydn, incluindo as três últimas:

Joseph Haydn (1732 – 1809): Sonatas para Piano – Paul Lewis, piano (2021) ֍

Haydn (1732-1809): Sonatas para Piano – Paul Lewis

Para arrematar, uma opção interessante para algumas sonatas de Mozart (parte de um integral) incluindo as Sonatas K. 309-311:

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 2/3 ֎

.: interlúdio :. Tigran Hamasyan + Areni Agbabian

Não gosto de começar uma resenha de música pelas credenciais do protagonista; parece um apelo à autoridade, um canetaço ineficaz (adianta carteirinha de virtuose se a obra não fala por si?), e um habeas corpus preventivo da resenhista em questão. Mas vejam bem, por favor me permitam notar, que o pequeno Tigran tocou piano em um palco pela primeira vez aos TRÊS ANOS de idade. Não, não sei qual palco, nem de que tamanho, nem se tocou Mozart ou a versão local de Atirei o pau no gato; não especificaram. De toda forma, em 2006 ele conquistou o 1º lugar no prêmio do Thelonious Monk Institute of Jazz, então taí a prova de que aquele talento infantil floresceu e se concretizou. (Se é que prêmio prova alguma coisa. Não, não sei se o instituto de jazz é quente, mas sob o nome do Monk, vale botar fé; ainda que confusamente tenha sido renomeado pra Herbie Hancock Institute of Jazz em 2019. Achei deselegante. Nada contra o Hancock, mas… enfim, essa é outra conversa.)

Hamasyan foi pra escola de jazz aos 9, e continuou os estudos de música na adolescência, quando sua família se mudou para a Califórnia. Mais tarde, retornou à Armênia, e fixou residência em Yerevan. Esse movimento é claro em sua música, que não somente tem influência do jazz west coast americano (e do prog rock), mas também da tradição do folk armênio, incorporando suas escalas e tonalidades. Da mais de dezena de álbuns lançados desde 2006, Shadow Theater, seu segundo para a Verve, é o que mais permanece comigo; em especial pela faixa abaixo, “The Poet”, uma deliciosa e sensível jornada de sofisticado jazz-pop que gruda no ouvido e narra melancolicamente noites tristes e solitárias.

Mas não fica por isso; Tigran demonstra um vocabulário bastante variado, que vai de momentos jazz-trio tradicional e baladas neoclássicas a composições sincopadas que remetem ao zeuhl, como “Alternative Universe”, também nesse álbum. Mas é só dar uma pesquisada no youtube pra perceber que, enquanto bom jazzista, o bicho brilha mesmo é ao vivo — como nessa versão de solos empolgantes da faixa acima, e que bate nos 20 minutos. Outro ponto forte desse álbum é a banda que lhe acompanha, e chama a atenção imediatamente o etéreo canto feminino que divide os vocais.

Não fui só eu que notei; depois de gravar e fazer tournées com Hamasyan, e lançar um disco independente, a sempre antenada ECM foi lá e pescou Areni Agbabian. A americana, que segue a carreira de seu pai, um folclorista armênio, desenvolve sua música calcada na linguagem musical de seus ancestrais, também tomando o piano como instrumento principal, complementando sua voz. O resultado surgiu em Bloom, de 2019; um álbum de canções leves, esparsas, de qualidade quase espectral. “Sereno e surreal na mesma medida“, como bem definiu a AllAboutJazz. Tendo a seu lado um percussionista, que se mantém respeitosamente tímido e, de forma brilhante, se contenta em meramente pontuar e acentuar os devaneios sonoros de Areni, o disco se revela frágil, intimista, e definitivamente belo. Mas não apenas; entre as canções, pequenas vinhetas visitam o avant-garde e trazem experimentações cinemáticas e desconcertantes, demonstrando a curiosidade e as pretensões da jovem artista.

Tigran Hamasyan – Shadow Theater (2013). Aqui.
Areni Agbabian – Bloom (2019). Aqui.

— Blue Dog
bjinos pro Caxo pela dica do Tigran~

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições – Gordon Fergus-Thompson, piano ֎

J. S. Bach (1685-1750): Transcrições – Gordon Fergus-Thompson, piano ֎

 

Bach

Transcrições

Gordon Fergus-Thompson

 

 

Traduttore – traditore, diria Umberto Eco, um autor largamente traduzido e um tradutor extremamente prolífico. Quando alguém traduz, precisa inventar, recriar, e, portanto, trair. Mas não fossem as traduções, quantas obras-primas ficariam restritas aos seus espaços culturais de origem? Não resisto a fazer um paralelo entre a literatura e a música e, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu com Johann Sebastian Bach.

Fico imaginando a avidez com que ele deve ter devorado as partituras de músicas italianas e francesas – Vivaldi e tantos outros – levadas pelo príncipe Johann Ernst, sobrinho do Duque de Saxe-Weimar, para esta corte, em sua visita por lá, por volta de 1713, após viajar pela Bélgica e Holanda.

Bach e seu amigo Telemann seguiam o conceito de imitatio e aemulatio,o princípio da imitação inicial, passando então a um estágio de desenvolvimento que buscava superar a imitação – vide o Concerto Italiano.

Bach começou a copiar as obras italianas e ao mesmo tempo passou a arranja-las, transcrevê-las para os seus próprios instrumentos – o cravo e o órgão.

Isso certamente legitima todos os compositores, maiores e menores, que se debruçaram sobre suas obras e as estudaram e as transcreveram, relendo-as segundo suas próprias perspectivas artísticas e seus próprios talentos. Com isso, as tornaram ainda mais acessíveis e as disponibilizaram para um público maior.

Algumas peças de Bach – a Chaconne da Partita em ré menor para violino eu conheci primeiro na transcrição feita por Ferruccio Busoni, para piano, peça que abre este disco. Algumas transcrições são mais traidoras, assim como esta Chaconne de Busoni, que parece maior, mais tonitruante, do que a peça original, para violino solo. Mas, quem sabe se essa mesma não seria uma transcrição de uma peça ainda mais anterior, para órgão?

Capitão Nemo verificando se a afinação do órgão estava adequada…

Outras guardam mais a singeleza do original, como ocorre nas transcrições feitas por Dame Myra Hess (Jesus, Alegria dos Homens…) e pelo incansável Wilhelm Kempff (Siciliano). Se o seu coração não se derreter com As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, transcrição de Christopher Le Fleming, pode ir correndo fazer um exame no cardiologista mais próximo, pois que ele se transmutou em pedra.

A Suíte de Rachamaninov, arranjada de três peças da Partita em mi maior, vai surpreender muita gente, que associa este compositor aos arroubos românticos e acordes inalcançáveis.

E para arrematar, imagine o Capitão Nemo, tendo que ficar alguns dias em um porto, sem poder se deliciar com os sons do órgão, esperando uma completa revisão no Nautilus. É claro, ele alugaria um flat com um piano e atacaria a Toccata e Fuga em ré menor, na transgressão de Ferruccio Busoni, assim como está na peça que arremata o disco.

Este é um entre muitos discos com transcrições das obras de Bach para piano que tenho ouvido. Pretendo postar alguns mais, acrescentando mais insultos à esta injúria… O pianista da vez é inglês e bem conhecido por suas gravações das obras de Ravel, Debussy e Scriabin. Ele é atualmente professor do Royal College of Music de Londres.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Transcrições:

Ferruccio Busoni (1866 – 1924)

  1. Chaconne da Partita em ré menor para violino, BWV 1004
  2. Prelúdio Coral BWV645 ‘Wachet auf, ruft uns die Stimme’
  3. Prelúdio Coral BWV659 ‘Nun komm, der Heiden Heiland’
  4. Prelúdio Coral BWV734 ‘Nun freut euch, lieben Christen gmein’
  5. Prelúdio Coral BWV639 ‘Ich ruf’ zu dir, Herr Jesu Christ’

Franz Liszt (1811 – 1886)

Prelúdio e Fuga em lá menor, BWV543
  1. Prelúdio
  2. Fuga

Lord Berners (1883 – 1950)

  1. In Dulci Jubilo, BWV 729

Dame Myra Hess (1890 – 1965)

Cantata BWV147 ‘Herz und Mund und Tat und Leben’
  1. Jesus, Alegria dos Homens

Wilhelm Kempff (1895 – 1991)

Sonata para flauta em mi bemol maior, BWV1031
  1. Siciliano
Christopher Le Fleming chegou atrasado para a foto e o DP de Arte do PQP Bach atacou de Christopher Lee…

Christopher Le Fleming (1908 – 1985)

  1. As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, da Cantata BWV208

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

Suíte da Partita em mi maior para violino, BWV1006
  1. Preludio
  2. Gavotte
  3. Gigue

Ferruccio Busoni

Toccata e Fuga em ré menor, BWV565
  1. Toccata e Fuga

Gordon Fergus-Thompson, piano

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Gordon Fergus-Thompson no Salão de Pianos do PQP Bach
Lord Berners mostrando para a equipe do PQP Bach o piano no qual fez sua transcrição…

De todos os transcritores deste disco, de longe, o mais impressionante, não por sua obra, mas por sua excentricidade, é Lord Berners. Como não sou de dar spoiler, espero que você faça o dever de casa e descubra por você mesmo…

Aproveite!

René Denon

Alexander Scriabin (1871-1915): Prelúdios, Poemas, Polonaise (Lisitsa, piano)

No release de imprensa da pianista ucraniana consta o seguinte: Valentina Lisitsa é não só a primeira “Youtube Star” da música clássica; sobretudo, ela é a primeira artista clássica que converteu seu sucesso na internet em uma carreira de concertista nas principais salas da Europa, América do Norte e do Sul e Ásia.

Seu repertório é imenso: já gravou todas as sonatas de Beethoven, todos os concertos de Rachmaninoff, toda a obra de Tchaikovsky para piano… E neste ano de 2022 ela já lançou, por sua nova gravadora, três discos: Scriabin, Ravel/Rach, Chopin.

Neste disco dedicado a Scriabin, Lisitsa passou longe das obras mais conhecidas: nenhuma sonata e nenhum estudo. Ao invés disso, ela escolheu os Prelúdios e Poemas, mas mesmo o poema mais famoso (Op.32 nº 1, favorito de Horowitz e Freire), ela não tocou. Ou seja, um programa raro, cheio de surpresas.

O Scriabin de Lisitsa tem um certo peso, densidade emocional e andamentos pendendo para o lento, o que a coloca em uma tradição de intérpretes russos como Sokolov, Richter, Gilels… Nos prelúdios, por exemplo, esses andamentos se traduzem em uma música muito diferente da de Gieseking (aqui), que gravou os Prelúdios opus 11 com um pianismo suave, apressado e despreocupado, com resultados excepcionais. Aqui com Lisitsa é um Scriabin mais próximo dos acordes de Rachmaninof: batendo como poderosos sinos de igreja.

E aqui – ao contrário de suas gravações completas de Beethoven e Tchaikovsky – Valentina Lisitsa não faz todos os prelúdios, ela cria seu recital escolhendo a dedo os prelúdios e poemas que lhe interessam, como também o faziam Sofronitsky (genro de Scriabin), Horowitz e provavelmente a maioria dos pianistas da época do compositor. Basta lembrarmos que os Prelúdios de Debussy foram sendo estreados em grupos de quatro ou três… (Livro I: Nº 1, 2, 10, 11 por Debussy, 25/5/1910. Nº 5, 8, 9 por Ricardo Viñes, 14/1/1911. Nº 3, 4, 6, 12 por Debussy, 29/3/1911)

Alexander Scriabin (1871-1915): Prelúdios, Poemas, Polonaise

1. 3 Pieces, Op. 2: Prelude No. 2 in B Major 1:06
2. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 2 in A Minor 2:24
3. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 4 in E Minor 2:32
4. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 5 in D Major 1:37
5. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 10 in C-Sharp Minor 1:18
6. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 14 in E-Flat Minor 0:49
7. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 15 in D-Flat Major 2:38
8. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 16 in B-Flat Minor 2:02
9. 24 Preludes, Op. 11: Prelude No. 20 in C Minor 1:14
10. 4 Preludes, Op. 22: Prelude No. 1 in G-Sharp Minor 1:44
11. 2 Preludes, Op. 27: Prelude No. 1 in G Minor 1:54
12. 3 Preludes, Op. 35: Prelude No. 2 in B-Flat Major 3:40
13. Poème satanique, Op. 36 4:44
14. Prelude and Nocturne for the Left Hand, Op. 9: No. 1, Prelude 3:32
15. Poème, Op. 41 4:23
16. Polonaise in B-Flat Minor, Op. 21 5:59
17. 2 Dances, Op. 73: Flammes sombres 1:53
18. Poème tragique, Op. 34 2:54

Valentina Lisitsa, piano

PS: normalmente gosto de inserir a data da gravação. Neste caso, tenho minhas dúvidas se a gravação é posterior a seu contrato com a Naïve ou se remonta a 2015, quando Lisitsa tocou e gravou muito Scriabin quando do seu centenário de morte. Talvez tenha ficado na gaveta.
PS2: cuidado com a ordem das faixas 15 e 16, em alguns sites o Poema op.41 foi listado como Polonaise e vice-versa.

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Alexander Scriabin por Leonid Osipovic Pasternak (1909)

O autor do Poema do Êxtase não deve nada à escola nacionalista russa, aos “Cinco” [grupo que incluía Mussorgsky e Rimsky-Korsakov]; ele aparece à primeira vista, por seu vocabulário sonoro, como um europeu. É a falha percebida por alguns críticos, que buscam exositmo. Ora, exótico ele é, mas em um outro plano: este europeu refinado ataca as próprias bases da cultura estética ocidental. O “extatismo”, a exaltação mística, o entusiasmo heróico dessa alma bêbada são a negação mesma do espírito realista, do espírito de ordem, de medida e de compromisso ao qual se aspira em Europa…
(trecho de artigo de 1925 do escritor Boris Schlœzer, russo emigrado para a França)

Pleyel

Janacek (1854-1928), Haas (1899-1944), Szymanowski (1882-1937): Quartetos de Cordas arranjados para Orquestra de Câmara (Australian Chamber Orch / Tognetti)

Janacek (1854-1928), Haas (1899-1944), Szymanowski (1882-1937): Quartetos de Cordas arranjados para Orquestra de Câmara (Australian Chamber Orch / Tognetti)

O que liga Tolstói, Beethoven, um violinista virtuoso e uma mulher checa jovem, linda e casada? Ora, a inspiração para os quartetos de cordas do idoso Janacek. Este é um bonito disco do pessoal da Australian Chamber Orchestra. Tenho especialíssima predileção pelo Quarteto Nº 1 de Janacek e o arranjo para orquestra de câmara me satisfaz inteiramente. Menos conhecido, o Sr. Pavel Haas apresenta excelente e nada tímida música. Haas foi assassinado durante o Holocausto judeu da Segunda Guerra. E daí chega Szymanowski com, na minha humilde opinião, a peça mais fraca do disco. Ou será que a expressividade extrema de Janacek e Haas não teriam me preparado para a classe de mestre Szy, a qual normalmente aprecio? Fica a pergunta.

String Quartets arranged for String Orchestra

Leos Janacek (1854-1928)
String Quartet No. 1 ‘Kreutzer Sonata’ 19:19
1 I Adagio 4:07
2 II Con moto 4:36
3 III Con moto 4:34
4 IV Adagio con moto 5:49

Pavel Haas (1899-1944)
String Quartet No. 2, Op. 7 ‘From the Monkey Mountains’ 32:48
5 I Landscape 10:19
6 II Cart, Driver and Horse 4:53
7 III The Moon and I 8:50
8 IV A Wild Night 8:29

Karol Maciej Szymanowski (1882-1937)
String Quartet No. 2, Op. 56 19:17
9 I Moderato, dolce e tranquillo 8:27
10 II Vivace, scherzando 4:54
11 III Lento 5:48

Australian Chamber Orchestra
Richard Tognetti

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Olha aí o pessoal da Australian Chamber Orchestra
Olha aí o pessoal da Australian Chamber Orchestra

PQP

W. A. Mozart (1756-1791) – Concertos para Clarinete e Oboé (Hogwood, Pay, Piguet)

Essa postagem é lá de 2007, nos primórdios do PQPBach, quinze anos se passaram, muita água passou por baixo da ponte, estamos mais velhos, com cabelos brancos já quase dominando nossas cabeças,  mas continuamos firmes e fortes com o propósito de trazer boa música para os senhores.

Esse disco traz uma das melhores gravações já realizadas do maravilhoso Concerto para Clarinete de Mozart, nas mãos competentíssimas de Antony Pay, acompanhado pela excelente orquestra dirigida por Christopher Hogwood, lá no seu auge, em meados da década de 80, a Academy of Ancient Music.  De quebra ainda temos outra obra prima mozartiana, o Concerto para Oboé, que tem como solista Miguel Piguet. Lembro que sempre que saía um disco dessa série do Hoogwood me desdobrava para conseguir o dinheiro para comprar. Não era fácil. Tinhamos duas excelentes lojas de disco em Florianópolis na época, e quando lá chegávamos o gerente, que já nos conhecia, vinha mostrar as novidades. Bons tempos. Vacas magras, é verdade. Minha mãe brigava comigo pois gastava o dinheiro que ganhava comprando discos e livros.

Mas vamos de Mozart novamente, nunca é demais, não concordam?

1. Clarinet Concerto In A Major, K622: I Allegro
2. Clarinet Concerto In A Major, K622: II Adagio
3. Clarinet Concerto In A Major, K622: III Rondo: Allegro

Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of Ancient Music (UK)
with Antony Pay
Conducted by Christopher Hogwood

4. Oboe Concerto In C Major, K314: I Allegro aperto
5. Oboe Concerto In C Major, K314: II Adagio non troppo
6. Oboe Concerto In C Major, K314: III Rondo: Allegretto

Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of Ancient Music (UK)
with Michel Piguet
Conducted by Christopher Hogwood

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FDP

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concertos nº4, op. 58 e op. 61a – Nino Gvetadze, Phion, Orchestra of Gelderland & Overijssel, Benjamin Levy

Graças a internet temos acesso a CDs que nos apresentam instrumentistas que raramente entram no mainstream tradicional. É para se ouvir com atenção a performance de Nino Gvetadze encarando Beethoven. Podemos identificar uma instrumentista madura, focada e muito concentrada.
A moça foi ousada no repertório de CD interpretando duas obras de fôlego de Beethoven, além do Quarto Concerto também temos a versão para piano do op. 61, o maravilhoso Concerto para Violino, transcrito pelo próprio Beethoven para Piano, apesar de ser uma obra que soe meio estranha, acostumados que estamos com a obra para violino, principalmente sua bizarra cadenza com tímpanos. Maiores informações sobre essa obra aqui. 

O belíssimo Concerto de nº 4 é meio que desprezado no repertório tradicional, o que é uma pena. Além de belíssimo também é altamente revolucionário em sua estrutura. Lembro que demorei para ter uma gravação dele, nem lembro qual foi a primeira, provavelmente Arthur Rubinstein em uma fita cassete.

Não é a estréia de Nino Gvetadze aqui no PQPBach. Ela já apareceu aqui, em postagem do colega René Denon, que está sempre em busca de novidades.

Em seu site oficial encontramos estes dois comentários da imprensa européia:

Gvetadze makes her grand piano whisper and sing and let the rich colorite of the music shine beautifully. With her refined touch, she manages to touch the nocturnal, dreamy atmosphere” Het Parool, The Netherlands

It is clear: Nino Gvetadze is a pianist to discover!” Radio Klara, Belgium

Abaixo, algumas informações sobre a solista, tiradas de seu próprio site:

Born and raised in Tbilisi, Georgian pianist Nino Gvetadze leads an active international music life as a soloist and a chamber musician. Her performances have been praised by many critics throughout the Europe and Asia. Nino received various awards, the most important were the Second Prize, Press Prize and Audience Award at the International Franz Liszt Piano Competition 2008. She became the winner of prestigious Borletti-Buitoni Trust Award in 2010.
Nino Gvetadze has performed with many outstanding conductors such as Michel Plasson, Yannick Nézet-Séguin, Michel Tabachnik, John Axelrod and Jaap van Zweden and with orchestras such as the Rotterdam, Brussels, Warsaw, Seoul and Netherlands Philharmonic, Bergische and the Rheinische Philharmonie, Münchner Symphoniker, North Netherlands  and Residentie  Orchestra amongst others. She toured with the Mahler Chamber Orchestra, Kammerakademie Potsdam, Netherlands Youth Orchestra and Amsterdam Sinfonietta.”

Belíssimo currículo, não acham?

Com relação a Orquestra, por mim também desconhecida, encontrei estas informações:

“Phion, Orchestra of Gelderland & Overijssel, is the product of a merger in 2019 between The Arnhem Philharmonic Orchestra and the Netherlands Symphony Orchestra. The Arnhem Philharmonic Orchestra has roots dating back to 1889. Over recent decades, the orchestra was led by chief conductors Roberto Benzi, Lawrence Renes, Martin Sieghart and Antonello Manacorda. Under conductors including Martin Sieghart and Antonello Manacorda, it recorded several CDs with works by Mahler, Schubert and Brahms, among other composers.”

O maestro aqui é Benjamin Levy, que administra a performance com eficiência e competência. Espero que apreciem, afinal de contas temos obras de Beethoven por aqui, ora bolas, e lembro que o compositor tinha laços familiares na Holanda. Então ele praticamente está em casa.

01. Piano Concerto No. 4, Op. 58- I. Allegro moderato
02. Piano Concerto No. 4, Op. 58- II. Andante con moto
03. Piano Concerto No. 4, Op. 58- III. Rondo. Vivace
04. Piano Concerto, Op. 61a- I. Allegro ma non troppo
05. Piano Concerto, Op. 61a- II. Larghetto
06. Piano Concerto, Op. 61a- III. Rondo

Nino Gvetadze – Piano

Phion, Orchestra of Gelderland & Overijssel

Benjamin Levy – Conductor

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Peggy Glanville-Hicks (1912-1990) e Alan Hovhaness (1911-2000): Concertos para piano (Keith Jarrett)

Este é um daqueles álbuns em que o intérprete é mais famoso do que os compositores. Keith Jarrett foi campeão de vendas desde os anos 1970 com seus álbuns de jazz, tanto os improvisos sozinho ao piano como os álbuns com seu trio americano e seu quarteto europeu. Mas ele também gravou Bach, Mozart, Shostakovich e estes dois concertos compostos em meados do século XX.

Glanville-Hicks

Peggy Glanville-Hicks (29 de dezembro de 1912 – 25 de junho de 1990) foi uma compositora australiana. Também foi crítica musical do New York Herald Tribune. Sua ópera Sappho, composta em 1963 para a Ópera de São Francisco, teria Maria Callas cantando o papel-título da poetisa lésbica grega, mas os empresários rejeitaram o projeto de última hora (em nome da moral e bons costumes?)

Seu “Concerto Etrusco”, para piano e orquestra de câmara (1956), para os meus ouvidos alterna entre momentos interessantes e outros que se parecem com trilha sonora de Hollywood, ou seja, meio previsível… Deu mais vontade de ouvir a ópera Sappho, que finalmente foi gravada em 2012, ano do centenário da compositora.

Hovhaness

Muito menos previsível é o Concerto “Lousadzak” (1944) de Hovhaness, nascido em Massachusetts, EUA, em uma família de origem Armênia. A música Armênia e de outras tradições asiáticas é muito iportante na obra de Hovhaness, como se nota já desde o início orquestral do concerto. O piano demora um pouco para entrar e tem vários momentos tocando sozinho com frases repetitivas e hipnóticas, o que Jarrett tira de letra. A harmonia não segue progressões de acordes: são vários trechos modais sobre a mesma base harmônica, mas sempre com novidades.

20th Century concertos (Jarrett, Davies)
Peggy Glanville-Hicks:
Etruscan Concerto
1. Promenade
2. Meditation
3. Scherzo
Keith Jarrett (p) Dennis Russell Davies (dir) Brooklyn Philharmonic, 1992

Alan Hovhaness:
4. Lousadzak (Coming of Light), op. 48
Keith Jarrett (p) Dennis Russell Davies (dir) American Composers Orchestra, 1989

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Keith Jarrett ficou emocionado, e não foi só ele

Pleyel

Johannes Brahms (1833-1897) e Carl Maria von Weber (1786-1826): Clarinet Quintets

Johannes Brahms (1833-1897) e Carl Maria von Weber (1786-1826): Clarinet Quintets


IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma das maiores obras de câmara compostas por um dos maiores compositores de música de câmara de todos os tempos, o Quinteto para Clarinete de Brahms é uma obra que tem repercussão inclusive na literatura brasileira. A autobiografia de Erico Verissimo chama-se Solo de Clarineta por quê? Bem, é óbvio.

A versão de Richard Stoltzman e do Tokyo String Quartet não é para puristas, mas deve ser conhecida, principalmente para quem desconhece esta peça de Brahms.

Weber? Weber era um bom restaurante ao qual minha família costumava ir em Tramandaí nos anos 60 e 70. Minhas papilas gustativas ainda sentem saudades da casquinha de siri perfeita dos caras. (Tá bom, o jocoso minueto do Quinteto do Weber é irresistível…)

Johannes Brahms – Clarinet Quintet in B minor, Op. 115 

1 Allegro
2 Adagio
3 Andantino… Presto non assai, ma con sentimento
4 Con moto

Carl Maria von Weber – Quintet for clarinet & strings in B flat major, J. 182 (Op. 34)
5 No. 1, Allegro
6 No. 2, Fantasia. Adagio
7 No. 3, Menuetto
8 No. 4, Rondo. Allegro giojoso

Richard Stoltzman
Tokyo String Quartet

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Richard Stoltzman: boa abordagem a Brahms
Richard Stoltzman: boa abordagem a Brahms

PQP

Georg Muffat (1653-1704): Armonico tributo (1682)

Georg Muffat (1653-1704): Armonico tributo (1682)

Muitas vezes fico pensando no tamanho da música barroca. É algo verdadeiramente interminável. Este Armonico tributo, desconhecido para mim até dez dias atrás não é algo absolutamente necessário a sua cedeteca, mas em hipótese alguma são obras de desprezíveis ou esquecíveis. A gravadora deste excelente registro deve ter falido, pois, mesmo o disco sendo novo, de 2005, a Amazon já acusa que sua produção foi descontinuada. Uma pena, é um belíssimo e super-informativo CD.

Georg Muffat nasceu na França em 1653. Foi organista em Estrasburgo, depois em Salzburgo e mestre de capela em Passau. Deixou suítes para orquestra, sonatas, concerti grossi e peças para órgão.

Muffat – Armonico tributo (1682)

Sonata I 13’28”

1 Grave
2 Allegro e presto
3 Allemanda Grave e forte
4 Grave
5 Gavotta Allegro e forte
6 Grave
7 Menuet Allegro e forte

Sonata II 13’50”

8 Grave
9 Allegro
10 Grave
11 Forte e allegro
12 Aria
13 Grave
14 Sarabanda Grave
15 Grave
16 Borea Alla breve

Sonata III 8’35”

17 Grave
18 Allegro
19 Corrente
20 Adagio
21 Gavotta
22 Rondeau

Sonata IV 8’43”

23 Grave
24 Balletto
25 Adagio
26 Menuet
27 Adagio
28 Aria Presto

Sonata V 21’31”

29 Allemanda Grave
30 Adagio
31 Fuga
32 Adagio
33 Passacaglia Grave

TEMPO TOTALE 66’35”

Ars Antiqua Austria, dir. Gunar Letzbor
violini: Gunar Letzbor, Ilia Korol
viole: Peter Aigner, Susanna Haslinger
viola da gamba, violoncello: Claire Pottinger-Schmidt
arciliuto: Luciano Contini
clavicembalo, organo: Norbert Zeilberger

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Muffatão
Muffatão

PQP

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonias Nº 5, 7, 8 e 9 (4 CDs) (Van Beinum)

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonias Nº 5, 7, 8 e 9 (4 CDs) (Van Beinum)

Recadinho de PQP: esta é uma gravação dos nos 40 e 50. O som não é aquilo tudo.

É curioso este fato, mas ouvir Bruckner é ser remetido a galáxias luminosas e de profundo recolhimento. Nunca ouvi música tão luminosa, tão repleta por sensos de devoção elevante. A consequência da relação com a música de Bruckner nos engravida de um idealismo espiritualizante. Sentimo-nos nas altas montanhas, verdadeiros monges; um anacoreta, fugitivo dos mundos mesquinhos. Isso é tão bom que chega a nos fazer mal! É esse paradoxo que cria, em muitos casos, simpatias e antipatias pela música do compositor austríaco. Já fui bastante contestador da música desse seguidor de Wagner, mas aos poucos aprendi a reverenciá-lo. Suas sinfonias são tratados gigantes, serpentes com corpos elásticos, que se estendem por galáxias e galáxias. Essas sinfonias podem nos conduzir a mundos magicizantes ou nos esmagar por completo. Tudo depende da relação que estabelecemos com elas. Já tive os ossos esmagados uma porção de vezes, mas aprendi a me deixar levar por elas, nesse balanço, nessa viagem prolixa, que se repete, que se replica, que se repisa e nos mostra abismos, céus, paraísos, zonas escuras. É preciso aprender a ouvir Bruckner para poder suportar Bruckner. Resolvi postar estes quatro CDs como um convite ao aprendizando. As sinfonias aqui apresentadas são hinos a cultos e reverências sacralizantes. Van Beinum é o sacerdote que realiza liturgia. Bruckner é o querubim que nos faz viajar e conhecer o eterno, o puro, o santo. Uma boa apreciação!

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonias Nº 5, 7, 8 e 9 (4 CDs) (Van Beinum)

DISCO 01

Symphony No. 5 in B flat,, WAB 105
01. 1. Introduction: Adagio – Allegro
02. 2. Sehr langsam
03. 3. Scherzo: Molto vivace – Trio
04. 4. Finale: Adagio – Allegro molto

DISCO 02

Sinfonia No. 7 em Mi Maior
01. I. Allegro moderato
02. II. Adagio (Sehr feierlich und sehr langsam)
03. III. Scherzo (Sehr schnell) & Trio (Etwas lang
04. IV. Finale (Bewegt, doch nicht zu schnell)

DISCO 03

Symphony No. 8 in C minor, WAB 108
01. I. Allegro moderato
02. II. Scherzo. Allegro moderato
03. III. Adagio. Feierlich langsam_ doch nicht schleppend
04. IV. Finale. Feierlich, nicht schnell

DISCO 04

Sinfonia No. 9 em Ré menor
01. I. Feierlich, Misterioso
02. II. Scherzo. Bewegt, lebhaft – Trio. Schnell
03. III. Adagio. Langsam, Feierlich

Royal Concertgebouw Orchestra
Eduard van Beinum, regente

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Eduard van Beinum (1901-1959) estudando Bruckner.

Carlinus

W.A. Mozart (1756-1791): Trabalhos para Clavicórdio, Árias, Exsultate Jubilate, Missa K.427 e Réquiem…

W.A. Mozart (1756-1791): Trabalhos para Clavicórdio, Árias, Exsultate Jubilate, Missa K.427 e Réquiem…

… tudo com Christopher Hogwood — como intérprete e regente — em 5 esplêndidos CDs.

Ninguém reclamou da minha ausência, mas também ninguém reclamará do retorno porque chego torpedeando com uma postagem de indiscutível qualidade.

De resto, adeus, Dunga.

The Secret Mozart: Works for Clavichord

1. Allegro in G minor, K. 312 8:21

2. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Andante (Thema) 1:20
3. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 1 1:18
4. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 2 1:14
5. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 3 1:15
6. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 4 (minore) 1:30
7. Andante & 5 Variations in G, K. 501: Var. 5 (maggiore) 2:19

8. Minuetto in D, K. 355/Trio da M. Stadler: Minuetto 3:07
9. Minuetto in D, K. 355/Trio da M. Stadler: Trio & Minuetto reprise 4:05

10. Marche funebre, K. 453a 2:14

11. Andantino, K. 236 1:41
12. Klavierstück in F, K. 33b 0:57

13. Adagio for Glass Harmonica, K. 356 2:51

14. Laßt uns mit geschlungen Händen K. 623 1:32

15. Rondo in F, K. 494 6:29

16. Theme & 2 Variations in A, K. 460: Theme 1:13
17. Theme & 2 Variations in A, K. 460: Var. 1 1:18
18. Theme & 2 Variations in A, K. 460: Var. 2 1:24

19. Fantasia in D minor, K. 397 5:18

20. Sonata in D, K. 381: I. Allegro 5:35
21. Sonata in D, K. 381: II. Andante 7:35
22. Sonata in D, K. 381: III. Allegro molto 4:21

23. Fantasia in D minor, K.397 (with coda) 5:44

Christopher Hogwood, clavicórdio

Mozart Arias

1. Mozart – Aer tranquillo e di sereni KV208 6:16
2. Mozart – L’amero saro costante KV208 6:08
3. Mozart – Voi avete un cor fedele KV217 6:21
4. Mozart – Ah lo previdi! KV272 11:24
5. Mozart – Ruhe sanht, mein holdes leben KV344 5:29
6. Mozart – Trostlos schluchzet Philomele KV344 5:27
7. Mozart – Nehmt meinen dank, ihr holden Gonner KV383 3:39
8. Mozart – Ch’io mi scordi di te KV505 10:18

Emma Kirkby (soprano)
Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood (cond)

Mozart: Exsultate Jubilate; Motets

1. Exsultate,Jjubilate, K.165 – 1. Exsultate, Jubilate 4:38
2. Exsultate, Jubilate, K.165 – Tandem Advenit Hora 0:47
3. Exsultate, Jubilate, K.165 – 3. Tu Virginum Corona 5:35
4. Exsultate, Jubilate, K.165 – 4. Alleluia 2:29

5. Regina Coeli In C, K.108 13:37

6. Ergo Interest… Quaere Superna, K.143 5:20

7. Regina Coeli In B Flat, K.127 14:47

Emma Kirkby, soprano
Academy of Ancient Music
Westminster Cathedral Boys Choir
Christopher Hogwood

Mozart – Great Mass in C Minor K. 427

1. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Kyrie 6:59
2. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” – Gloria 2:21
3. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Laudamus Te 4:39
4. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Gratias 1:13
5. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Domine 2:42
6. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Qui tollis 4:50
7. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Quonium 3:48
8. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Jesu Christe-Cum Sancto 4:26
9. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Credo 3:05
10. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” – Et incarnus est 7:44
11. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Sanctus 3:43
12. Mass in C minor, K.427 “Grosse Messe” Benedictus 5:51

Arleen Auger
Lynne Dawson
David Thomas
John Mark Ainsley
The Academy of Ancient Music
Winchester Cathedral Choir
Christopher Hogwood

Mozart – Requiem

1. Requiem in D minor, K.626 – Introitus, Requiem aeternum 5:09
2. Requiem in D minor, K.626 – Kyrie eleison 2:31
3. Requiem in D minor, K.626 – Dies Irae 1:52
4. Requiem in D minor, K.626 – Tuba mirum 3:52
5. Requiem in D minor, K.626 – Rex tremendae majestatis 1:57
6. Requiem in D minor, K.626 – Recordare, Jesu pie 6:10
7. Requiem in D minor, K.626 – Confutatis maledictis 2:23
8. Requiem in D minor, K.626 – Lacrymosa dies illa 2:17
9. Requiem in D minor, K.626 – Amen 1:32
10. Requiem in D minor, K.626 – Domine Jesu Christe 3:39
11. Requiem in D minor, K.626 – Versus: Hostias et preces 3:47
12. Requiem in D minor, K.626 – Agnus Dei 2:38
13. Requiem in D minor, K.626 – Communio. Lux aeterna – Cum sanctis tuis 5:39

Emma Kirkby
Carolyn Watkinson
David ThomasAnthony Rolfe Johnson
The Academy of Ancient Music
Westminster Cathedral Choir
Christopher Hogwood

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O tempo passa pra todo mundo, né, Chris?
O tempo passa pra todo mundo, né, Chris?

PQP

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 9 em Ré menor, Op. 125 – "Coral" (Furtwängler)

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 9 em Ré menor, Op. 125 – "Coral" (Furtwängler)

Não reclamem se insisto com mais uma gravação de Beethoven (e se reclamarem, não estarei nem aí). E no mais, não se trata de qualquer documento. É uma gravação de peso. Daquelas que dispensam comentários, simplesmente, pela relevância histórica que evoca. Furtwängler e Beethoven, uma combinação que deu certo, chegou a moldes de perfeição. Wilhelm Furtwängler nasceu em Berlim, no ano de 1886. Desde muito cedo estabeleceu uma relação de muita intimidade com a música. Aos 20 anos, já possuía várias peças compostas. Alguns estudiosos da vida do regente afirmam que Furtwängler tornou-se condutor com o escopo de executar suas próprias músicas. O  regente criou peças de certa relevância. Destaca-se a Sinfonia No. 2, composta nos momentos mais quentes da Segunda Grande Guerra. Inclusive, já subi o arquivo para postar por esses dias. A peça é regida pelo próprio Furtwängler. Os fatos mais discutíveis acerca da vida de Furtwängler transladam em torno da sua suposta relação com o nazismo. Segundo Alex Ross, Hitler tinha Furtwängler como o seu regente favorito. Várias foram as vezes que o líder supremo do Terceiro Reich compareceu aos ensaios da Filarmônica de Berlim para ver o regente em ação. Por exemplo, em 1938 Furtwängler foi diretor para os concertos da Juventude Hitlerista, conduzindo Os Mestres Cantores de Nurenberg, de Wagner, o compositor preferido de Adolf Hitler. O regente era imbatível conduzindo Beethoven, Brahms, Bruckner e Wagner. Com a derrocada do nazismo não ficou provada a sua relação de aprovação para com as sandices de Hitler. Talvez tenha sido coagido pelas circunstâncias assim como se deu com Richard Strauss. Com relação à gravação que ora posto, acredito que tenha sido uma das maiores que já ouvi da Nona Sinfonia. Por isso, não deixe de ouvir! Boa apreciação incontida!

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia No. 9 em Ré menor, Op. 125 – “Coral”

01. Furtwangler parle de la Newvieme Symphonie
02. Allegro ma non troppo, un poco maestoso
03. Molto vivace
04. Adagio molto e cantabile
05. Presto
06. Allegro assai
07. Allegro assai vivace
08. Andante maestoso – allegro energico – prestissimo

*Gravado em 1954 no Festival de Lucerne

Philharmonia Orchestra
Wilhelm Furtwängler, regente
Elisabeth Schwarzkopf, soprano
Elsa Cavelti, contralto
Ernst Häfliger, tenor
Otto Edelmann, baixo

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Wilhelm Furtwängler desesperado com as violas

Carlinus

Arvo Pärt (1935): Passio Domini Nostri Jesu Christi Secundum Joannem (The Hilliard Ensemble)

Arvo Pärt (1935): Passio Domini Nostri Jesu Christi Secundum Joannem (The Hilliard Ensemble)

O Hilliard Ensemble apresenta solenemente a que deve ser a Paixão mais sombria e ritualística composta desde Heinrich Schutz em meados do século XVII. Arvo Pärt selecionou o estilo musical mais severo, distante e econômico para esta Paixão segundo São João. Mais um ato litúrgico do que uma peça de concerto, não faz nenhuma concessão às convenções modernas. Teimosamente repetitiva e monocromática, deliberadamente antidramático e neutra, alcança seu efeito extraordinário e nobre através dos meios mais simples: recitativos, refrões e um pequeno conjunto instrumental. A obra tem 70 minutos sem interrupções, fato enfatizado pelos engenheiros da ECM.

Arvo Pärt (1935): Passio Domini Nostri Jesu Christi Secundum Joannem (The Hilliard Ensemble)

1 Passio Domini Nostri Jesu Christi Secundum Joannem (1982) 1:10:52

Baritone Vocals [Evangelist Quartet] – Gordon Jones (2)
Bass Vocals [Jesus] – Michael George (3)
Bassoon – Catherine Duckett
Cello – Elisabeth Wilson (2)
Choir – The Western Wind Chamber Choir
Conductor – Paul Hillier
Countertenor Vocals [Evangelist Quartet] – David James (13)
Ensemble – Evangelist Quartet, The Hilliard Ensemble
Oboe – Melinda Maxwell
Organ – Christopher Bowers-Broadbent
Soprano Vocals [Evangelist Quartet] – Lynne Dawson
Tenor Vocals [Evangelist Quartet] – Rogers Covey-Crump
Tenor Vocals [Pilate] – John Potter (2)
Violin – Elizabeth Layton

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Arvo Pärt em visita à sede Rolling Estoniana da PQP Bach Corp.

PQP

Olivier Messiaen (1908 – 1992): Des Canyons aux étoiles… (Chung, Muraro)

Olivier Messiaen foi um continuador dos caminhos trilhados por Claude Debussy, que morreu em 1918 e, como em tantos outros casos, tornou-se muito mais conhecido e respeitado logo após sua morte, quando Messiaen era um estudante em formação. Debussy escrevia que as mais belas descobertas musicais eram as impressões que nos trazem “o barulho do mar, a curva de um horizonte, o vento nas folhas, o grito de um pássaro” (Monsieur Croche et autres écrits, 1901-1914). Católico e amante dos pássaros, Messiaen dedicou boa parte de sua música a Deus e suas criações divinas. Aqui apresentamos uma de suas mais importantes obras: Des Canyons aux étoiles… (Dos cânions às estrelas), música em doze movimentos inspirada nos cânions em Utah, EUA. Há representações musicais das imensas rochas em tons alaranjados, do céu estrelado e de vários pássaros. Realmente um mundo absurdamente criativo esse que Messiaen imaginou.

Coloco esta obra como um complemento instrumental da Paixão Segundo Mateus, pois ressalta que não apenas as pessoas podem ser divinas, mas a própria natureza rochosa, o deserto, os pássaros, as estrelas numa noite escura sem poluição luminosa… Essa religiosidade e reverência à criação são ingredientes tão tocantes e profundos que abalam as convicções de um ateu melômano… bem, pelo menos durante a audição dessa música tão sincera. Talvez eu arrisque uma pergunta polêmica: A música religiosa pode ser sentida e apreciada em sua totalidade por um ouvinte ateu? Philippe Herreweghe disse que fez duas gravações da Paixão Segundo São Mateus: a primeira, quando era um “believer” (já postada aqui) e a segunda (aqui), quando virou ateu. Ele disse que “é possível que tão contrastantes fases em minha vida tenham atingido essas interpretações”. Alguém arrisca dizer qual a melhor? Já um amigo ateu me confessou ouvir Bach da mesma maneira que Bruckner ouvia Wagner, sem entender o texto. No caso de “Des Canyons aux étoiles…”, não há menção explícita do seu catolicismo, por isso, ouvintes de outras crenças vão se sentir em terreno seguro e os ateus podem trocar Deus por Natureza. Os cânions, se vocês não se lembram, são ribanceiras ou falésias esculpidas por rios na escala de tempo geológica, ou seja, de milhões de anos. Essas grandes estruturas e o céu estrelado nos remetem a escalas de tempo e espaço muito diferentes das nossas micro-preocupações usuais…

Bryce Canyon com neve (Fonte: Wikimedia commons)

Mas ao contrário do que possa parecer essa introdução meio nonsense, a música que ouviremos é moderníssima, muitas vezes brutal, com sonoridades estranhas, sons produzidos por ventos. Pode ser confundidao com um concerto para piano gigantesco, mas para Messiaen, a forma “concerto para piano” em três movimentos e com demonstrações de técnica e bravura era coisa do passado e era necessário inovar: aqui, como em obras anteriores (Turangalîla-Symphonie, Réveil des Oiseaux, Oiseaux exotiques), o piano faz intervenções solistas, sobretudo no campo agudo e muitas vezes representando o canto dos pássaros.

A orquestração também é inovadora, com apenas 13 cordas (6 violinos, 3 violas, 3 cellos, 1 contrabaixo) e muitos sopros e percussões. Nesse sentido, de entender que as formas de orquestração, de ritmo e de estrutura da música ocidental precisavam progredir, Messiaen era bastante moderno, e por isso era respeitado pelos vanguardistas das gerações seguintes como Boulez, Stockhausen, Murail, Almeida Prado… Todos esses, em algum momento, foram seus alunos. Mas ao contrário de atonais mais radicais como Boulez ou Schoenberg, Messiaen não proibia os acordes mais comuns em sua música: acordes maiores ou menores aparecem aqui ou ali, com uma função decorativa. Ao contrário da ideia de progressão harmônica em que as dissonâncias se resolvem em consonâncias, para Messiaen tanto os acordes dissonantes como os consonantes interessam pelos timbres, cores, atmosferas que eles trazem, ou seja: nenhum tipo de som ou intervalo é proibido, mas é evitado o procedimento – típico na tradição europeia e levado à perfeição por exemplo por Beethoven – de se usar os intervalos para alternar tensão (busca por resolução) e relaxamento (resolução tonal).

Já ouviram um coral de pássaros ou de sapos? Essa música não se estrutura em acordes consonantes ou dissonantes. Messiaen foi ao mesmo tempo um inovador moderníssimo e o dono um ouvido muito atento a sons do vento e outros tão antigos quanto os canyons de Utah. Dizia ele sobre os pássaros: “Eles cantaram muito antes de nós. E inventaram a improvisação coletiva, pois cada pássaro, junto com os outros, faz um concerto geral”.

Olivier Messiaen (1908-1992): Des canyons aux étoiles… (1974)

As gravações de Messiaen por Chung têm sempre o som mais leve, etéreo, flutuando

Part 1:
1. Le Désert (The desert)
2. Les orioles (The orioles)
3. Ce qui est écrit sur les étoiles (What is written in the stars)
4. Le Cossyphe d’Heuglin (The white-browed robin-chat)
5. Cedar Breaks et le don de crainte (Cedar Breaks and the gift of awe)

Part 2:
6. Appel interstellaire (Interstellar call)
7. Bryce Canyon et les rochers rouge-orange (Bryce Canyon and the red-orange rocks)

Mockingbird, ou sabiá-do-norte (Mimus polyglottos), solista do 9º movimento e parente do sabiá-da-praia da América do Sul

Part 3:
8. Les Ressuscités et le chant de l’étoile Aldebaran (The resurrected and the song of the star Aldebaran)
9. Le Moqueur polyglotte (The mockingbird)
10. La Grive des bois (The wood thrush)
11. Omao, leiothrix, elepaio, shama (Omao, leiothrix, ʻelepaio, shama)
12. Zion Park et la cité céleste (Zion Park and the celestial city)

Roger Muraro (piano); Francis Petit (xylorimba); Renaud Muzzolini (glockenspiel); Jean-Jacques Justafré (horn)
Orchestre Philharmonique de Radio France, Myung-Whun Chung (conductor)
Recording: Paris, Maison de Radio France, Salle Olivier Messiaen, July 2001

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A postagem original é de 2008, 3º ano de existência do blog. CDF, irmão de PQP e FDP, anda meio sumido, qualquer dia ele aparece!

C.D.F. Bach (2008) / Pleyel fez algumas mudanças e palpites (2022)

Dmitri Shostakovich (1906-1975): As Sinfonias Completas (Prague Symphony Orchestra, Maxím Shostakovich)

Dmitri Shostakovich (1906-1975): As Sinfonias Completas (Prague Symphony Orchestra, Maxím Shostakovich)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu sempre admirei muito a versão em vinil que tenho da Sinfonia Nº 15 de Shostakovich regida por seu filho Maxím (1938) em 1972. É uma gravação da Melodiya com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Moscou. Adoro aquele LP.

A ele, Maxím, foi dedicado o Concerto Nº 2 para Piano e Orquestra. Ele foi o solista na estreia da peça do pai. Conhecido por muitas obras dramáticas compostas à sombra de Stalin e outros líderes soviéticos, Dmitri mostrou um lado diferente – cheio de humor e carinho – neste lindo Concerto para Piano. Maxím estreou a peça em sua formatura no Conservatório de Moscou em maio de 1957. Questões de afeto.

Depois, o pianista Maxim transformou-se num renomado maestro, tendo gravado, com a maravilhosa Orquestra Sinfônica de Praga, a integral das sinfonias do pai. Ignoro se o segundo filho de Dmitri e Nina Varzar ainda está ativo aos 84 anos, mas sei que está vivo e que trabalhou muito em São Petersburgo e nos EUA. Foi regente titular da Sinfônica de New Orleans, assim como artista condecorado na URSS. Esta gravação é de 2006, para a Supraphon da República Tcheca, em homenagem aos 100 anos de nascimento de papai Shosta. Em 2013, vi esta orquestra em ação interpretando Dvořák e Prokofiev no Rudolfinum de Praga, onde arrancaram compulsoriamente meu casaco e o de minha filha antes de entrarmos na sala. Para os tchecos, entrar de casaco na maravilhosa sala calafetada de concertos da cidade é uma completa heresia. A orquestra, garanto-lhes, é fantástica e não nos decepciona. Mas voltando a nosso assunto, Maxím é seguro e conhece como poucos a obra orquestral de papai.

A maioria das sinfonias foi gravada como se deve, ao vivo, e tanto as versões ao vivo quanto as de estúdio têm alta qualidade sonora. Aliás, as ao vivo são melhores. Maxim vai muito bem nos extremos — nos movimentos lentos e na pauleira — e o sotaque diferente da orquestra e do regente dão um colorido especial à coleção. Eu gostei muito de passar 10 dias com os 10 CDs dos Shostakovich nos ouvidos. Gravação altamente recomendada.

Maxim com seu pai.

Dmitri Shostakovich (1906-1975): As Sinfonias Completas (Prague Symphony Orchestra, Maxim Shostakovich)

Sinfonia Nº 1 F Moll
1-1 Allegretto 8:21
1-2 Allegro 4:40
1-3 Lento 9:36
1-4 Allegro Molto 9:56

Sinfonia Nº 12 D Moll “Rok 1917”
1-5 Revoluční Petrohrad. Moderato. Allegro 13:39
1-6 Razliv. Allegro. Adagio 11:47
1-7 Aurora. L’istesso Tempo. Allegro 4:38
1-8 Úsvit člověčenstva. L’istesso Tempo 10:58

2-1 Sinfonia Nº 2 H Dur “Věnováno Říjnu” Pro Sbor A Orchestr 18:25

Sinfonia Nº 10 E Moll
2-2 Moderato 24:26
2-3 Allegro 4:18
2-4 Allegretto 12:28
2-5 Andante. Allegro 12:33

3-1 Sinfonia Nº 3 Es Dur “Prvomájová” Pro Sbor A Orchestr 29:19

Sinfonia Nº 14 Pro Soprán, Bas A Komorní Orchestr
3-2 De Profundis 4:31
3-3 Malagueňa 3:03
3-4 Lorelei 8:47
3-5 Sebevrah 7:02
3-6 Ve Střehu 3:07
3-7 Madam, Pohleďte! 1:54
3-8 Ve Vězení la Santé 8:43
3-9 Odpověď Záporožských Kozáků Cařihradskému Sultánovi 1:49
3-10 Ach, Dělvigu, Dělvigu! 4:13
3-11 Smrt Básníka 4:13
3-12 Závěr 4:42

Sinfonia Nº 4 C Moll
4-1 Allegro Poco Moderato 27:33
4-2 Moderato Con Moto 8:34
4-3 Largo. Allegro 28:51

Sinfonia Nº 5 D Moll, Op. 47
5-1 Moderato – Allegro Non Troppo 19:24
5-2 Allegretto 5:10
5-3 Largo 14:20
5-4 Allegro Non Troppo 12:22

Maxim já sem papai

Sinfonia Nº 9 Es Dur
5-5 Allegro 5:19
5-6 Moderato 6:47
5-7 Presto 3:13
5-8 Largo 3:20
5-9 Allegretto 6:46

Sinfonia Nº 6 H Moll
6-1 Largo 18:56
6-2 Allegro 6:37
6-3 Finale. Presto 6:47

Sinfonia Nº 15 A Dur
6-4 Allegretto 7:56
6-5 Adagio 14:33
6-6 Allegretto 4:20
6-7 Adagio. Allegretto 16:27

Sinfonia Nº 7 C Dur “Leningradská”
7-1 Allegretto 27:11
7-2 Moderato. Poco Allegretto 11:13
7-3 Adagio 20:09
7-4 Allegro Non Troppo 19:22

Maxim sendo ferido em Leningrado

Sinfonia Nº 8 C Moll
8-1 Adagio. Allegro Non Troppo. Adagio 27:04
8-2 Allegretto 6:37
8-3 Allegro Non Troppo 6:18
8-4 Largo 10:51
8-5 Allegretto 15:12

Sinfonia Nº 11 G Moll “Rok 1905”
9-1 Palácové Náměstí. Adagio Att. 14:21
9-2 Devátý Leden. Allegro Att. 18:49
9-3 Na Věčnou Paměť. Adagio Att. 12:05
9-4 Zvon Bouře. Allegro – Moderato 14:53

Sinfonia Nº 13 B Moll “Babí Jar” Pro Bas, Sbor A Orchestr
10-1 Babí Jar. Adagio 16:47
10-2 Humor. Allegretto 8:26
10-3 V Obchodě. Adagio 12:53
10-4 Strachy. Largo 13:30
10-5 Kariéra. Allegretto 13:37

Bass Vocals – Peter Mikuláš (faixas: 10-1 to 10-5), Mikhail Ryssov* (faixas: 3-2 to 3-12)
Choir – Kühn Mixed Chorus* (faixas: 10-1 to 10-5), Prague Philharmonic Choir* (faixas: 2-1, 3-1, 10-1 to 10-5)
Chorus Master – Jan Rozehnal (faixas: 3-1), Jan Svejkovský (faixas: 2-1), Pavel Kühn (faixas: 10-1 to 10-5)
Composed By – Dmitri Shostakovich
Conductor – Maxim Shostakovich
Orchestra – The Prague Symphony Orchestra
Soprano Vocals – Marina Shaguch (faixas: 3-2 to 3-12)

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PQP

Oliver Messiaen (1908-1992): Vingt regards sur l’enfant Jésus (Yvonne Loriod, piano)

Os “20 Olhares sobre o menino Jesus” foram compostos em 1944 e estreados em março de 1945. Portanto, vieram pouco depois do famoso Quarteto composto em um campo de prisioneiros de guerra. Naquele momento, Messiaen já estava de volta em Paris, vivendo toda a ansiedade daquele período de guerra, alguns colegas deviam imaginar que ele faria como Honneger (sinfonia nº 3), Prokofiev (sinfonia nº 5), Shostakovich (sinfonia nº 7) e comporia uma sinfonia grandiosa, talvez uma homenagem aos mortos ou talvez um grande hino à paz antevendo o fim das guerras… Mas ele não fez nada disso: pelo contrário, evitou comentar o dia-a-dia em que vivia e voltou-se para temas espirituais, tanto nos “20 Olhares” para piano solo, estreados por Yvonne Loriod, como nas “Visões do Amém” para dois pianos, estreadas por Loriod e Messiaen dois anos antes, na Paris ainda ocupada pelos nazistas contra os quais ele havia lutado cinco anos antes.

Rembrandt: Adoração
dos pastores 1646

Na década anterior Messiaen já tinha composto um outro ciclo de temática natalina, com diversas cenas ao redor do recém-nascido Jesus: La Nativité (1935) foi sua segunda obra de fôlego para órgão, depois de L’Ascension e antes de Les Corps Glorieux. Em La Nativité, com a rica palheta de timbres do órgão, Messiaen traz personagens que reaparecerão nos “20 olhares”: os anjos, os pastores, os reis magos, o verbo/logos divino (“no princípio, era o verbo…”)

Talvez devido à resposta negativa às referências religiosas por uma parte da crítica e público franceses, no fim dos anos 1940 Messiaen reduz as referências cristãs explícitas na maior parte de suas obras. Mas ele continuaria profundamente religioso: a obsessão do compositor nas décadas seguintes com pássaros e paisagens naturais é, para ele, um permanente fascínio pela criação divina. Viriam assim o “Catálogo de pássaros” (1956-58) para piano solo e obras para piano e orquestra como o “Despertar dos pássaros” (1953), os “Pássaros exóticos” (1956) e “Des canyons aux étoiles…” (1974).

Adoração dos Magos, Rubens, 1618

Voltando cronologicamente para os “20 Olhares”, temos portanto um Messiaen que usa a música para fazer referências a temas religiosos, algo que artistas de vários séculos também fizeram: para ficarmos no menino Jesus, há centenas de quadros famosos com os nomes “Adoração dos Pastores” ou “Adoração dos Reis Magos” (Giotto, Caravaggio, Rubens, El Greco, Rembrandt…) Para pintar essas cenas com música instrumental, Messiaen faz uso de alguns temas que voltam ciclicamente, como o “Tema de Deus” e o “Tema da estrela e da cruz”. E o toque suave da pianista Yvonne Loriod, a mesma que estreou a obra, traz aqui características de um certo pianismo francês muito tributário da famosa frase de Debussy: “é preciso fazer esquecer que o piano tem martelos”. Não significa que tudo seja tocado pianissimo, pelo contrário, há rompantes de muita energia – por exemplo nos graves impressionantes dos movimentos 12 e 16, respectivamente representando o Verbo onipotente e o olhar dos profetas – mas sempre com um cuidado para evitar as sonoridades percussivas, de forma que a música parece sempre flutuar acima do chão. Nesse sentido do cuidado permanente para evitar sonoridades “pesadas” ou “duras” Loriod lembra um pouco o estilo perfeccionista de Michelangeli nos prelúdios de Debussy que reativamos dias atrás.

Yvonne Loriod (1924-2010)

Os “20 Olhares” aparecem neste blog pela segunda vez: a primeira foi na interpretação do norueguês Håkon Austbø, que estudou essas obras com Loriod e também tem muito a dizer. Como sempre, repito aqui: façam as comparações e constatem que as grandes obras merecem ser ouvidas com diversas roupas e sotaques.

Oliver Messiaen (1908-1992): Vingt regards sur l’enfant Jésus
1. Regard du Père
2. Regard de I’étoile
3. L’echange
4. Regard de la Vierge
5. Regard du Fils suer le Fils
6. Par lui tout a été fait
7. Regard de la Croix
8. Regard des hauteurs
9. Regard du temps
10. Regard de I’Esprit de joie
11. Première communion de la Vierge
12. La Parole toute-puissante
13. Noël
14. Regard des Anges
15. Le baiser de I’enfant Jesus
16. Regard des prophètes, des bergers et des mages
17. Regard du silence
18. Regard de I’onction terrible
19. Je dors, mais mon coeur veille
20. Regard de I’Eglise d’amour

Yvonne Loriod, piano
Gravado em Paris, 1973

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Yvonne Loriod, Zubin Mehta, Daniel Barenboim e Olivier Messiaen (Paris, c. 1970)

Pleyel

Bach (1685-1750): Orgelbüchlein BWV 599 – 644 /-\ Simon Preston ֍

Bach (1685-1750): Orgelbüchlein BWV 599 – 644 /-\ Simon Preston ֍

 

Bach

Orgelbüchlein

Simon Preston

 

 

No dia 13 de maio de 2022 faleceu o organista Simon Preston. Em 4 de agosto ele completaria 84 anos. Simon Preston teve contato com a música muito cedo e aos cinco anos já havia se decidido pelo órgão. Foi organista de Westminster e Oxford até 1987, quando assumiu uma carreira de organista de concerto, apresentando-se pelo mundo todo.

Retrato do artista quando jovem

Seguindo um vago plano de postar as gravações das obras para órgão de Bach que ele gravou para a Deutsche Grammophon, decidi acrescentar este disco com o Pequeno Livro para Órgão, como uma homenagem em sua memória.

O título Orgelbüchlein pode dar uma impressão de despretensiosa, mas é o resultado de um planejamento até ousado. Em um realmente pequeno livro de 15,5 por 19 cm, Bach escreveu no alto de cada página nomes de 164 corais e tratou de preencher o livro com as composições que estão neste disco – 45 Prelúdios Corais. Essas composições foram criadas no período em que Bach passou em Weimar (1708 a 1717) mas o projeto ficou inconcluso com sua mudança para Cöthem. Em Weimar Bach dispunha do órgão da capela da corte que foi reconstruído entre 1712 e 1714 sob a sua orientação e determinações.

O título da obra, escrito pelo próprio Bach, diz: Pequeno Livro de Órgão, no qual o estudante de órgão é instruído sobre como deve desenvolver de diversas maneiras um coral e, ao mesmo tempo, adquirir experiência no uso do pedal, o qual, em cada um destes corais, é tratado como inteiramente obbligato.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Orgelbüchlein, BWV 599 – 845

Simon Preston, órgão

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FLAC | 330 MB

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MP3 | 320 KBPS | 178 MB

Na edição de 1996 de The Penguin Guide to CD, o verbete dedicado a este disco é curto, mas eloquente: Simon Preston conveniently gathers all 45 chorales of the Orgelbüchlein on to a single (74-minute) CD and plays them with persuasive musicianship on a fine Danish organ.

Realmente, o disco foi gravado na Igreja Abbey, Sorø, na Dinamarca. Uma lista com os corais se encontra nos arquivos.

Simon Preston (1943 – 2022)

Outras postagens da série:

Bach (1685-1750): Toccata e Fuga BWV 565 e outras peças para órgão – Simon Preston ֎

J. S. Bach (1685-1750): Concertos para Órgão, BWV 592 – 596 – Simon Preston ֍

J. S. Bach (1685–1750): Trio Sonatas – Simon Preston, órgão ֍

 

Claude Debussy (1862-1918) – Prelúdios Completos, Children’s Corner, Images I e II (Michelangeli)

Se o nome Arturo Benedetti Michelangeli (1920-1995) não significa nada para você, tudo mudará a partir do momento em que você baixar esta maravilha trazida por F.D.P. Bach. São dois CDs com os Prelúdios Completos – primeiro e segundo livros -, mais as Images I e II e o Children’s Corner, também completos.

O pianista Arturo Benedetti Michelangeli tinha algo de João Gilberto. Absolutamente maníaco, só tocava em seu Steinway e viajava sempre com o mesmo afinador. Compreesivelmente, cada turnê era um suplício para seus acompanhantes. Quando não podia levar seu piano, fazia tantas exigências que até os japoneses perderam a paciência com ele. Mas há o outro lado: foi o primeiro pianista que impressionou este humilde P.Q.P. pela sonoridade perfeita. Era uma sonata de Schubert e fiquei paralisado pela qualidade da interpretação e pelo som do pianista, que parecia ter planejado cada nota. Arturo era tão perfeccionista que, mesmo tendo vivido 75 anos, nunca teve um repertório imenso. Como João Gilberto, trilhava por muito tempo as mesmas obras até deixá-las per-fei-ti-nhas.

Embriague-se com Michelangeli.

Claude Debussy (1862-1918) – Prelúdios livros I e II, Children`s Corner, Images livros I e II
CD 1
1. Préludes (Livre I): Danseuses de Delphes
2. Préludes (Livre I): Voiles
3. Préludes (Livre I): Le Vent dans la plaine
4. Préludes (Livre I): ‘Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir’
5. Préludes (Livre I): Les collines d’Anacapri
6. Préludes (Livre I): Des pas sur la neige
7. Préludes (Livre I): Ce qu’a vu le vent d’ouest
8. Préludes (Livre I): La Fille aux cheveux de lin
9. Préludes (Livre I): La Sérénade interroumpue
10. Préludes (Livre I): La Cathédrale engloutie
11. Préludes (Livre I): La Danse de Pluck
12. Préludes (Livre I): Minstrels
13. Children’s Corner: Docteur Gradus ad Parnassum
14. Children’s Corner: Jimbo’s lullaby
15. Children’s Corner: Serenade for the doll
16. Children’s Corner: The snow is dancing
17. Children’s Corner: The little shepherd
18. Children’s Corner: Golliwogg’s Cake-Walk

CD 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – FLAC
CD 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

CD 2
1. Préludes (Livre II): Brouillards
2. Préludes (Livre II): Feuilles mortes
3. Préludes (Livre II): La Puerta del Vino
4. Préludes (Livre II): ‘Les fées sont d’exquises danseuses’
5. Préludes (Livre II): Bruyères
6. Préludes (Livre II): ‘General Lavine’ – eccentric
7. Préludes (Livre II): La terrasse des audiences du clair de lune
8. Préludes (Livre II): Ondine
9. Préludes (Livre II): Hommage à S. Pickwick Esq. P.P.MP.C.
10. Préludes (Livre II): Canope
11. Préludes (Livre II): Les Tierces alternées
12. Préludes (Livre II): Feux d’artifice
13. Images I: Reflets dans l’eau
14. Images I: Hommage à Rameau
15. Images I: Mouvement
16. Images II: Cloches à travers les feuilles
17. Images II: Et la lune descend sur le temple qui fut
18. Images II: Poissons d’or

CD 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – FLAC
CD 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320kbps

O jovem Debussy na capa do vinil

Arturo Benedetti Michelangeli, piano (DG 1971, Images, Children’s Corner; DG 1978, Préludes Livre I; DG 1988, Préludes Livre II)

PS: Em 2008 tivemos o comentário de Junior de Oliveira:
“Ótima gravação de Michelangeli como sempre!!! eu sei que é pedir demais .mas vocês poderiam postar mais gravações desse genio da musica”
Com a lentidão habitual do nosso SAC, informamos que o pedido foi atendido aqui (Haydn), aqui (Galuppi, Bach/Busoni), aqui (Chopin) e aqui (Schumann no Vaticano). O pedido mais recente do Bernardo também foi atendido aqui (Beethoven em Viena).

PS2: Nem deu tempo de comentar os Prelúdios, essa obra prima pianística sem igual. Deixo apenas uma impressão, a ser confirmada ou negada por cada ouvinte. O livro I (1909-10) é cheio de paisagens e cores iluminadas pela luz do sol: a Catedral submersa, as colinas de Anacapri, os passos sobre a neve que são uma caminhada tranquila, bem diferente da tensão de um gelado caminhar noturno. Já o livro II (1912-13) tem muitos momentos boêmios ou irônicos ou sombrios, um clima bem mais noturno: a porta do vinho, as folhas mortas, os fogos de artifício… Assim como em uma das Images (1907) e também no seu anterior Clair de lune (1905), no 2º livro dos Prelúdios Debussy lembra-se novamente da lua, companheira dos poetas. Mais sobre os prelúdios aqui e aqui.

Por que o terno e gravata na praia, Monsieur Debussy? Ele é cheio de mistérios…

PQP e FDP Bach (2007) / Pleyel (2022)

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concertos nº 1 e 3 – Michelangeli, Giulini, Sinfônica de Viena

71ArBE8JV3L._SX425_Gosto muito desse CD, que reúne dois dos grandes músicos italianos do século XX no apogeu de suas carreiras.  Os dois concertos para piano de Beethoven aqui reunidos estão em muito boas mãos. Dizem que o Arturo Benedeti Michelangeli era uma figura ímpar, excêntrico em algumas manias, e eram raros os seus recitais. Aparentemente não gostava de multidões reunidas em um local fechado. Estranha mania para quem resolveu viver como músico.
Independente de suas manias, Michelangeli foi um dos maiores pianistas do século XX. Suas gravações das obras de Debussy são consideradas definitivas. Infelizmente não gravou muito. Esse Beethoven que ora vos trago me é conhecido já há alguns anos, e gosto muito dos andamentos escolhidos por Giulini e pelo próprio Michelangeli. Mesmo gravados quando ambos os músicos já eram músicos maduros, eles transmitem uma jovialidade poucas vezes encontrada em outras gravações. Pensando em cores, quando ouço por exemplo, a abertura do Concerto nº 3 as cores que enxergo são sempre alegres, claras, vivas. Como comentei no início da postagem, foram dois músicos excepcionais e no momento em que se juntaram para realizarem estas gravações estavam no apogeu de suas carreiras.

Beethoven (1770-1827) – Concertos para piano e orquestra nº 1 e 3
01. I. Piano Concerto nº 1 in C major, op. 15 – Allegro con brio
02. II. Largo
03. III. Rondo. Allegro
04. Piano Concerto nº3 in C minor – I. Allegro con brio
05. II. Largo
06. III. Rondo. Allegro

Arturo Benedetti Michelangeli – Piano
Wiener Symphoniker
Carlo Maria Giulini – Conductor
Recorded: 1980 (1st), 1987 (3rd)

BAIXE AQUI- DOWNLOAD HERE

maxresdefault
A expressão concentrada de Arturo Benedeti Michelangeli já nos dá uma amostra do excepcional músico que ele foi.

FDP

J. S. Bach (1685-1750) / W. F. Bach (1710-1784): Concertos para 2 Cravos (Hantaï / Häkkinen)

J. S. Bach (1685-1750) / W. F. Bach (1710-1784): Concertos para 2 Cravos (Hantaï / Häkkinen)

IM-PER-DÍVEL !!!

Aapo Häkkinen toca junto com ninguém menos que Pierre Hantaï, seu ex-professor, estes Concertos para 2 Cravos de (dos) Bach. Temos 3 Concertos de Papai Bach acompanhado de uma obra raramente tocada, mas muito interessante, de Wilhelm Friedmann Bach. Este último é o concerto para dois cravos (sem orquestra). Duas reconstruções de concertos para cravos do círculo íntimo de Bach são tocadas. O som gravado privilegia os teclados sobre as cordas, com microfones fixados diretamente no corpo de cada cravo. Os cravos soam ricos e ressonantes. Estas são performances admiravelmente livres e fluidas. Ambos os solistas têm um senso aguçado para o rubato e os fraseados eficazes, mas na maioria dos casos isso é tão sutil que você precisa realmente ouvir para descobrir como é feito. As cordas são igualmente vibrantes, com excelente conjunto e belo timbre rico para sustentar os solistas. À primeira audição, o disco pode parecer austero. A escala da instrumentação, embora historicamente justificada, parece muito pequena, um sentimento que é exacerbado pelos microfones muito próximos e pelo som relativamente seco. Mas o nível de musicalidade é excelente e, embora a clareza da textura seja o objetivo principal, o interesse musical nunca esmorece. O CD foi multipremiado. Merecido!

J. S. Bach (1685-1750) / W. F. Bach (1710-1784): Concertos para 2 Cravos (Hantaï / Häkkinen)

Concerto In C Minor, BWV 1060
Composed By – J.S.Bach*
1 Allegro 5:03
2 Largo 4:38
3 Allegro 3:26

Concerto In C Major, BWV 1061
Composed By – J.S.Bach*
4 Allegro 7:02
5 Adagio 4:23
6 Vivace 5:43

Concerto In C Minor, BWV 1062
Composed By – J.S.Bach*
7 Allegro 3:52
8 Andante 5:40
9 Allegro Assai 4:41

Concerto In F Major, Fk 10, For 2 Harpsichords
Composed By – Wilhelm Friedemann Bach
10 Allegro Moderato 8:51
11 Andante 4:43
12 Presto 4:10

Harpsichord – Aapo Häkkinen, Pierre Hantaï
Orchestra – Helsinki Baroque Orchestra

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PQP

Johann Sebastian Bach (1685-1750) Goldberg Variations – Jean Rondeau

Muitas vezes comento aqui que falta sangue, suor e lágrimas para os intérpretes mais jovens, que ainda estão na faixa dos vinte e poucos anos de idade e que esperava ansioso sua ‘volta’ àquela obra, para mostrar sua evolução enquanto músico e ser humano. Felizmente toda regra tem sua exceção e fico feliz em afirmar isso. Temos aqui o jovem cravista francês Jean Rondeau (nasceu em 1991)  encarando nossas amadas “Variações Goldberg” com muita propriedade e maturidade, mesmo para alguém de sua idade. Eu particularmente já vinha assistindo há algum tempo a um vídeo dele no Youtube onde toca essa obra em sua íntegra e já me chamava a atenção exatamente sua capacidade de concentração.

Enfim, finalmente Jean Rondeau mostrou a nós pobres mortais porque as Goldberg continuam a nos fascinar e encantar, mesmo depois de a termos ouvido tantas vezes e com os mais diversos músicos, e instrumentos. Trata-se de uma obra que no cativa já desde os primeiros acordes da Aria inicial, e o que me chamou a atenção aqui foi a maturidade e por que não dizer, coragem com que Rondeau inicia a obra, diminuindo o tempo e explorando toda a expressividade daquela melodia tão única e bela. É como se a estivessemos ouvindo em câmera lenta, mas depois do desconforto, ou desconfiança inicial mergulhamos em um mundo único e muito especial, do qual só sairemos 1 hora e 46 minutos depois. Claro, é uma abordagem muito pessoal, e talvez os mais puristas não gostem. Mas fazer o que, né, não se pode satisfazer a todos.

Jean Rondeau teve coragem e nos trouxe uma interpretação muito madura e apaixonada, poucas vezes ouvi uma leitura tão envolvente e com uma dinâmica tão diferente das tradicionais. Sugiro esquecerem por 1 hora e 46 minutos músicos como Glenn Gould, Angela Hewitt ou até mesmo o velho mestre Gustav Leonhardt. Ainda não li as críticas nas revistas especializadas, vou atrás delas mais tarde. Antes quero continuar a me fascinar para não perder o encanto.

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Goldberg Variations – Jean Rondeau

1 – 32 – Goldberg Variations, BWV 988

Jean Rondeau – Harpsichord

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Enrique Granados (1867-1916): Goyescas (Larrocha, Magaloff)

Foi com surpresa que constatei que neste blog, ativo desde 2006, jamais tinha sido postado o ciclo para piano Goyescas, composto pelo catalão Enrique Granados entre 1909 e 1911, com um post-scriptum (El Pelele) de 1914. Granados evoca a atmosfera das pinturas do também espanhol Francisco Goya (1746-1828). Para dar um jeito nisso, trago hoje não uma, mas duas gravações antológicas dessa obra, por dois respeitados pianistas da geração dos nossos pais e avós, para vocês fazerem suas comparações.

Goya: El amor y la muerte (1797)

A gravação de Nikita Magaloff (1912-1992), que ficou um tempo esquecida e foi relançada há poucos anos pela Decca, é um tesouro apesar do som que mostra sua idade. Assim como comentamos recentemente sobre o Ernesto Nazareth gravado por Proença e Moreira Lima, grandes intérpretes de Chopin, aqui também temos um chopinista de primeira linha se aventurando por esse repertório espanhol. O resultado é um Granados com um romantismo bem mais elegante, dançando de sapato social em um salão à luz de velas, com ritmos muito originais mas sem perder a pose, como quem diz: eu só transgrido e inovo porque me adequo. Não é só a minha impressão, mas também a dos americanos do Record Guide em 1955: ‘The Goyescas are an exhibition of fine manners, and it is as such that Nikita Magaloff plays them. His dexterity, the clarity of his decorations, the subtle variety of his rhythms, are a delight to listen to.’

E com uma concepção geral totalmente diferente, temos a gravação de Alicia de Larrocha (1923-2009), a terceira, pois ela já tinha gravado duas vezes esse ciclo, nas décadas de 1950 e 70. Se Magaloff trazia um Granados, digamos, de terno e gravata, Alicia traz outras cores, vestidos coloridos e flores no cabelo, podemos dizer que é uma interpretação mais solta, dançante, com os pés no chão de terra como algumas das cenas ao ar livre pintadas por Goya.

Enrique Granados (1867-1916), interpretado por Nikita Magaloff
1-6. Goyescas (Los Majos Enamorados) (1909-1911)
I. Los Requiebros, II. Coloquio en la reja, III. El Fandango de candil, IV. Quejas ó la maja y el ruiseñor, V. El amor y la muerte: Balada, VI. Epílogo: Serenata del espectro
7. El pelele: Escena Goyesca (1914)

Nikita Magaloff, piano
Recording: Victoria Hall, Geneva, Switzerland, November 1952 (Goyescas: Book I, El pelele), October-November 1954 (Goyescas: Book II)

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Enrique Granados (1867-1916), interpretado por Alicia de Larrocha
1. Allegro de concierto (1904)
2. Danza lenta (1915)
3-8. Goyescas (Los Majos Enamorados) (1909-1911)
I. Los Requiebros, II. Coloquio en la reja, III. El Fandango de candil, IV. Quejas ó la maja y el ruiseñor, V. El amor y la muerte: Balada, VI. Epílogo: Serenata del espectro
9. El pelele: Escena Goyesca (1914)

Alicia de Larrocha, piano
Recording: New York City, USA, December 4-6, 1989; April 11, 1990.

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Goya: El Pelele (1792) – O Pelele espanhol é um espantalho, mas utilizado em danças, procissões e em janelas, não é daqueles que espantam pássaros

Pleyel

Poul Ruders (n. 1949): Concerto para Cravo – Mahan Esfahani – Aarhus Symphony Orchestra – Leif Segerstam ֍

Poul Ruders (n. 1949): Concerto para Cravo – Mahan Esfahani – Aarhus Symphony Orchestra – Leif Segerstam ֍

Poul Ruders

Concerto para Cravo

Mahan Esfahani, cravo

Aarhus Symphony Orchestra

Leif Segerstam

(Primeira Gravação)

Nos fins da década de 1710, Bach escreveu a primeira versão de um concerto no qual o papel do cravo passou de coadjuvante para protagonista. Na versão final de 1721, como o Concerto de Brandenburgo No. 5, surgia o primeiro Concerto para Cravo – com direito a uma longa cadenza.

Outros viriam pelo próprio Johann Sebastian e muitos mais pelos seus filhos e pelos outros herdeiros musicais.

O cravo começou a ceder lugar para o piano que assumiu esse papel de protagonista nos concertos – como nos muitos e maravilhosos Concertos de Mozart, que são herdeiros dos concertos de Johann Christian…

Esfahani achou a travessia Rio-Niterói fascinante…

O cravo teve seu retorno, promovido por Wanda Landowska, que não queria interpretar apenas as músicas do passado e conseguiu que compositores seus contemporâneos, como Francis Poulenc e Manuel de Falla escrevessem peças para ela.

Não faz muito tempo fiz uma postagem apresentando obras de compositores bem recentes – John Rutter, Philip Glass e Jean Françaix, interpretados pelo cravista Christopher D. Lewis.

Pois temos aqui uma novidade – um concerto para cravo escrito para o espetacular Mahan Esfahani pelo compositor dinamarquês Poul Ruders.

Se você acha que vai encarar longos trechos de música que não dá para assobiar, está bem enganado. O concerto é lindo e você vai ouvi-lo muitas vezes. Aposto uma cocada…

Poul Ruders (1949 –      )

Concerto para Cravo

  1. Avanti risoluto
  2. Andante
  3. Vivace – Martellato alla breve

Mahan Esfahani, cravo

Aarhus Symphony Orchestra

Leif Sangerstam

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 120 MB

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MP3 | 320 KBPS | 57 MB

Esfahani achou a sede do Departamento de Música Nova do PQP Bach muito descolada…
Segerstam buscando nos arredores de Erechim inspiração para a sua trecentésima quadragésima quinta sinfonia…

Recorded live with Aarhus Symphony Orchestra and renowned harpsichordist Mahan Esfahani, under the direction of Leif Segerstam, at the world premiere in Aarhus, Denmark on September 10, 2020.

The Harpsichord Concerto was commissioned by Aarhus Symphony Orchestra and the Royal Scottish National Orchestra, for Mahan Esfahani.

The UK premiere took place on November 6, at Caird Hall in Dundee, with the Royal Scottish National Orchestra, under the direction of Thomas Søndergård.

Aproveite!

René Denon

Maurice Ravel (1875-1937) – Concertos para Piano: em Sol e para a Mão Esquerda; Le Tombeau de Couperin, Gaspard de la nuit (Samson François, André Cluytens)

Samson François foi um excepcional pianista francês, que realizou gravações extraordinárias que, graças a tecnologia, estão sendo apresentadas novamente para aqueles que ainda não o conheciam. Já trouxe anteriormente dois outros cds dele, sempre dedicados a Ravel e sua obra pianística.

Neste CD que trago hoje teremos o Concerto para Piano em Sol Maior, e o extraordinário Concerto para a Mão Esquerda. Repertório francês, pianista francês e para completar o quadro, maestro e orquestra franceses.

Dentre as dezenas de versões que já ouvi destas obras, não há como não deixar estas interpretações de Samson François em destaque. Ele domina total e completamente o piano. É magnífico seu Adagio assai, do Concerto em Sol Maior, e no Concerto para a Mão Esquerda sua personalidade se impõe e nos deixa impressionados com a sua magnífica técnica e versatilidade.

E claro que não podemos deixar de destacar a maestria da regência de Andre Cluytens, um dos grandes nomes franceses da música do século XX, que figura facilmente ao lado de outros dois gigantes franceses, Pierre Monteux e Charles Munch.

Eis o comentário do editorialista da Amazon:

Precisely why Samson François is not better known in the United States (or known at all for that matter) is a mystery. On this CD he plays Ravel with absolute mastery, refusing to prettify any of the jazz rhythms in the G major concerto, and by so doing, bringing out all of its toughness. There may be impressionism in this music, but there’s plenty more, too. François gives the Concerto for Left Hand a performance filled with passion and excitement; indeed it’s just this side of abandon. His Gaspard is full of the colors Ravel imbued it with as well. André Cluytens is the ideal leader for this type of music, and while his orchestra here is hardly world class, it’s very good. And the remastered sound is excellent. –Robert Levine

Para completar o CD, a Erato inseriu Le Tombeau de Couperin e Gaspard de la nuit, obras gravadas também em Paris, um ano antes dos concertos.

Ah, claro, eis mais uma gravação com o selo de ‘IM-PER-DÍ-VEL’ do PQPBach.

Maurice Ravel (1875-1937):
1. Piano Concerto in G Major, M. 83 I. Allegramente
2. Piano Concerto in G Major, M. 83 II. Adagio assai
3. Piano Concerto in G Major, M. 83 III. Presto
4. Piano Concerto for the Left Hand in D Major, M. 82
Samson François – Piano
Orchestre de la Société des Concerts du Conservatoire de Paris / André Cluytens
Recorded: Paris, 1959

5. Le Tombeau de Couperin, M. 68 I. Prélude (Vif)
6. Le Tombeau de Couperin, M. 68 II. Fugue (Allegro moderato)
7. Le Tombeau de Couperin, M. 68 III. Forlane (Allegretto)
8. Le Tombeau de Couperin, M. 68 IV. Rigaudon (Assez vif)
9. Le Tombeau de Couperin, M. 68 V. Menuet (Allegro moderato)
10. Le Tombeau de Couperin, M. 68 VI. Toccata (Vif)
11. Gaspard de la nuit, M. 55 I. Ondine (Lent)
12. Gaspard de la nuit, M. 55 II. Le Gibet (Très lent)
13. Gaspard de la nuit, M. 55 III. Scarbo (Modéré – Vif)
Samson François – Piano
Recorded: Paris, 1957-58

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE – MP3 320kbps

Samson François

FDP Bach (2019) / Pleyel (2022)