.: interlúdio :. John Surman – Upon Reflexion (1979)

Durante anos disse que era Upon Reflexion era o melhor LP/CD editado pela grande ECM. Hoje, eles lançam tanta coisa que talvez fosse perigoso manter esta opinião.

O disco abre com a espetacular Edges Of Illusion cujo solo decorei de tanto ouvir o LP desde 1980. Tal solo vem do sax barítono de Surman com algumas fundamentais intervenções melódicas do sax soprano. O curto ostinato viajandão do fundo deve-se aos sintetizadores. O som dos saxofones de Surman é algo.

O ostinato da agitada Filigree vem de diversos saxofones sobrepostos e somem maravilhosa Caithness To Kerry, escrita para sax soprano solo. Alegre, ingênua e pastoril em sua absoluta falta de acompanhamento, parece ter sido composta pelo louco da aldeia. O louco some no sonoridade de jazz clássico de Beyond a Shadow, uma bela e negra composição do inglês, com acompanhamento de sintetizadores, saxofones e participação decisiva do clarone (bass clarinet).

O lado 2 de meu antigo disco começava com Prelude And Rustic Dance. O louco da aldeia, já com os antipsicóticos em dia, organiza uma cortina de agitados saxofones para o solo de sax soprano de Surman. A poética e tranqüila The Lamplighter acalma as coisas, preparando a área para a curta correria de Following Behind, uma brincadeira com ecos. Constellation talvez seja a melhor composição do disco. No ostinato voltam com tudo os sintetizadores.

CD absolutamente imperdível.

John Surman: Upon Reflection

1. Edges Of Illusion 10:10
2. Filigree 3:41
3. Caithness To Kerry 3:51
4. Beyond A Shadow 6:40
5. Prelude And Rustic Dance 5:14
6. The Lamplighter 6:19
7. Following Behind 1:24
8. Constellation 8:16

all composed by Surman
recorded May 1979, Talent Studio, Oslo

John Surman, baritone and soprano saxophones, bass clarinet, synthesizers

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.:interlúdio:. John Surman: The Amazing Adventures Of Simon Simon

Mais um CD com as esquisitices e originalidades de John Surman. Desta vez, o inglês ataca em dupla com Jack DeJohnette ou em trio, se considerarmos os sintetizadores criadores de ostinati simples e sonhadores. Gosto muito de Nestor`s Saga e de The Pilgrim’s Way. É um trabalho de qualidade média se considerarmos o espetacular Upon Reflexion trabalho solo de Surman, acompanhado apenas de sintetizadores. Vale a audição.

John Surman: The Amazing Adventures Of Simon Simon

1. Nestor’s Saga 10:48
2. The Buccaneers 3:58
3. Kentish Hunting (trad. arr. Surman) 2:56
4. The Pilgrim’s Way (Surman/DeJohnette) 5:45
5. Within The Halls Of Neptune 3:58
6. Phoenix And The Fire (Surman/DeJohnette) 6:14
7. Fide Et Amore (Surman/DeJohnette) 4:43
8. Merry Pranks 2:50
9. A Fitting Epitaph 3:23

composed by Surman except as noted

recorded January 1981, Talent Studio, Oslo

John Surman, baritone and soprano saxophones, bass clarinet, synthesizers;
Jack DeJohnette, drums, congas, electric piano on track 7

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.:interlúdio:. John Surman – Coruscating (1999)

Tenho certa desconfiança de que aqueles que acompanham o blog já notaram que sinto grande admiração por John Surman… Pois aqui ele reaparece em 1999 com uma nova formação: seus muito “saxes” e clarone, um baixista e um quarteto de cordas. Só isso. O resultado é ainda melhor do que a experiência de 97, postada aqui durante a semana, com a adição do órgão e coro misto a seu arsenal saxofônico, por assim dizer. Um excelente CD para o dia frio e chuvoso de Porto Alegre. Gosto muito mesmo deste grande CD, o qual é elogiado assim por um ouvinte no site da Amazon:

Coruscating is another unusual venture, with Surman and regular associate bassist Chris Laurence improvising on eight of Surman’s compositions with the string quartet Trans4mation. There’s a seamless beauty here, composition and improvisation becoming one. Beginning with the baroque clarity of melody on “At Dusk,” Coruscating develops often dark, looming textures. While Surman has made his baritone fly, here he emphasizes intense lyricism, whether with a true, full-bodied, baritone sound or a light upper register. “Stone Flower” is dedicated to the great Ellington baritonist Harry Carney, and Surman’s breathy, overtone-rich sound invokes Carney’s own recordings with strings. He uses other horns unexpectedly, picking up traditional tones of oboe, clarinet, and flute on his soprano saxophone and cello on his bass clarinet. A preoccupation with depths extends to the beginning of “An Illusive Shadow,” which contrasts his contrabass clarinet with eerie, high dissonances from the strings, before the piece evolves to other moods that suggest a kind of classical Dixieland and Gershwin. Laurence also develops solos of unusual, brooding power, adding significantly to this unusual, often meditative work. –Stuart Broomer

Se fosse você, conferiria. Vale a pena.

John Surman: Coruscating

1. At Dusk 2:17
2. Dark Corners 4:57
3. Stone Flower 5:47
4. Moonless Midnight 7:34
5. Winding Passages 6:44
6. An Illusive Shadow 9:24
7. Crystal Walls 9:49
8. For The Moment 6:56

all composed by Surman

recorded January 1999, CTS Studios, London

John Surman, soprano and baritone saxophones, bass and contrabass clarinets;
Chris Laurence, bass
Rita Manning, Keith Pascoe, violin;
Bill Hawkes, viola;
Nick Cooper, cello;

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.:interlúdio:. John Surman – Proverbs and songs (1997)

Proverbs and songs, do compositor e saxofonista inglês John Surman, fica bem longe do comum. Basta dizer que são composições para saxofones ou clarone — sempre de Surman –, mais órgão e coral. Na primeira audição, fiquei um pouco chocado, principalmente com as intervenções trovejantes do coral; na segunda, já achei tudo mais bonitinho; na terceira, estava tão curioso e perto da felicidade musical que tive de afastar meus preconceitos, mormente os timbrísticos. Na verdade, meu choque foi sempre com o coral, pois a combinação sax + órgão resulta maravilhosa. Não é um disco que eu indique a todos, mas apenas àqueles que não fogem das esquisitices criativas. É uma espécie de jazz sacro…

Mas o sax de Surman permanece lá, poderosamente eufônico, acima de Deus.

John Surman: Proverbs And Songs

1. Prelude 3:11
2. The Sons 4:55
3. The Kings 6:41
4. Wisdom 7:39
5. Job 4:50
6. No Twilight 7:42
7. Pride 5:00
8. The Proverbs 4:06
9. Abraham Arise! 5:24

All composed by Surman
Recorded live June 1, 1996, Salisbury Cathedral

John Surman, baritone and soprano saxophones, bass clarinet;
John Taylor, organ;
Salisbury Festival Chorus, conducted by Howard Moody

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.:interlúdio:. Stefano Bollani – Carioca

Stefano Bollani é um brilhante pianista italiano de jazz. Nascido em Milão no ano de 1972, é como muitos italianos, apaixonado pelo Brasil e costuma tocar nossa música em suas apresentações ao lado de composições suas. Conhecido por sua vasta cultura tanto sobre a música erudita moderna quanto jazzística, Bollani — conhecido por ser um workaholic — chega a assustar com a intimidade que demonstra com nossa música, chegando ao ponto de cantar “Trem das onze”, no único equívoco do disco pois ele está longe de ser um cantor. O CD foi gravado no Rio de Janeiro com músicos brasileiros e é muito bom.

É, indiscutivelmente, em disco de jazz, mas ouçam a naturalidade com que Bollani enfrenta um chorinho! Uma curiosidade digna de ser ouvida.

Stefano Bollani – Carioca – 2008

1 Luz negra (Nelson Cavaquinho)
2 Ao romper da aurora (Ismael Silva – Lamartine Babo – Francisco Alves)
3 Choro sim (Ismael Silva)
4 Valsa brasileira (Edu Lobo – Chico Buarque)
5 A voz no morro (Zé Keti)
6 Hora da razão (J. Luna – Batatinha)
7 Segura ele (Pixinguinha)
8 Doce de coco (Jacob do Bandolim)
9 Folhas secas (Nelson Cavaquinho – Guilherme de Brito)
10 Il domatore di pulci (Stefano Bollani)
11 Samba e amor (Chico Buarque)
12 Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu)
13 Caprichos do destino (Pedro Caetano – Claudionor da Cruz)
14 Na Baixa do sapateiro (Ary Barroso)
15 Apanhei-te cavaquinho (Ernesto Nazareth)
16 Trem das onze / Figlio unico (João Rubinato / Riccardo del Turco)

Stefano Bollani piano, arrangements, vocal
Marco Pereira guitar
Jorge Helder bass
Jurim Moreira drums
Armando Marcal percussions
Zé Nogueira soprano sax
Nico Gori clarinet and bass clarinet
Mirko Guerrini tenor sax
Zé Renato vocal
Monica Salmaso vocal

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.: interlúdio :. Enrico Rava – The Pilgrim And The Stars

O trompetista Enrico Rava nasceu na cidade de Trieste em 1939. Começou no trombone, mas seu primeiro contato com Miles Davis foi como o primeiro sutiã da propaganda — Rava jamais esqueceu. Resolveu estudar mais a fundo aquela coisa e aproveitou para aderir ao instrumento de Miles. Normal, né? Ele faz um hard bop com episódios lentos, algo bossanovistas. No mais, é pauleira.

Neste CD da ECM de 1975, Rava aparece com dois integrantes do “Quarteto Escandinavo” de Keith Jarrett: Palle Danielsson — baixista de fundamental participação neste trabalho — e o baterista Jon Christensen, além de John Abercrombie, que divide os solos com o trompete de Enrico Rava. Este foi um dos discos que, nos anos 70, chamou minha atenção para aquela estranha gravadora de belas capas, a citada ECM. The Pilgrim And The Stars é um baita disco. Todas os temas foram escritos pelo italiano no tempo em que seus cabelos eram pretos.

The Pilgrim And The Stars – 1975

1. The Pilgrim And The Stars 9:43
2. Parks 1:45
3. Bella 9:18
4. Pesce Naufrago 5:12
5. Surprise Hotel 1:52
6. By The Sea 4:46
7. Blancasnow 6:44

Enrico Rava, trumpet
John Abercrombie, guitar
Palle Danielsson, bass
Jon Christensen, drums

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.: interlúdio :. Backhand – Keith Jarrett

Acho que a gente pode resumir a carreira de Keith Jarrett desta maneira: início fulgurante com Miles Davis, fundação de seu “quarteto americano”, três anos de gravações na Impulse, ida para a ECM, muitos discos com o “quarteto americano”, fundação e mais CDs com o “quarteto escandinavo”, álbuns solo aos montes, música erudita — basicamente Bach — tocando cravo, fundação do trio com Peacock e De Johnette, O Cravo Bem Temperado, CDs do trio aos montes, mais álbuns solo e doença.

É uma ironia especialmente trágica — um pianista que, aos 51 anos, tinha centenas de discos gravados e que estudava música erudita, ou seja, alguém que trabalhava muito –, tivesse caído vítima da Síndrome de Fadiga Crônica, doença que o fez primeiramente fazer um esforço notável para tocar e que depois retirou-o dos palcos e das gravações. Hoje, Jarrett toca e grava pouco, ainda em luta contra a doença. Mas… há um CD para ser lançado com Concertos para Piano e Orquestra de Mozart. Torço muito por Jarrett, claro. Um troço desses devia acontecer com o Bush, sei lá, não com cara meio amalucado mas produtivo no melhor sentido.

Este CD é do Jarrett inicial, pré-ECM. É um CD meio selvagem que conta com o “quarteto americano” + o percussionista Guilhermo Franco devidamemente endiabrados. Destaque para Inflight e Backhand.

Backhand

1. Inflight
2. Kuum
3. Vapallia
4. Backhand
5. Victoria

Keith Jarrett (piano, flute, drums)
Dewey Redman (tenor sax, musette, maracas)
Charlie Haden (accoustic bass)
Paul Motian (drums, percussion)
Guilhermo Franco (percussion)

Atlantic Recording Studios, NYC, October 9-10, 1974
Tony May (sound engineer)
Ed Michel (producer)
Impulse AS-9305

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.: interlúdio :.

11 de setembro é um dia de tristeza, perda.

Ora, faz um ano que Joe Zawinul nos deixou.

Já citei diversas vezes aqui no blog o apreço que tenho pelo pianista austríaco, sempre com seu respeitável bigodão. Não apenas eu; Zowy ganhou mais de 30 (sim, trinta) vezes o prêmio de ‘best keyboardist’ dos críticos da DownBeat. Um dos mais queridos músicos do jazz e muitas vezes homenageado com músicas por seus pares, militou em diversas frentes de vanguarda do jazz – incluindo vários sabores de bop, fusion (o seu Weather Report será sempre a referência) e também third stream, que é o disco desta postagem.

Também já falamos sobre third stream aqui, na postagem do Modern Jazz Quartet. E como é complexo definir esse desejado ponto de encontro entre música clássica e jazz, que o criador do termo diga o que não é:

It is not jazz with strings.
It is not jazz played on ‘classical’ instruments.
It is not classical music played by jazz players.
It is not inserting a bit of Ravel or Schoenberg between be-bop changes–nor the reverse.
It is not jazz in fugal form.
It is not a fugue played by jazz players.
It is not designed to do away with jazz or classical music.

Este Rise and Fall of the Third Stream foi gravado em 1965, durante a passagem de Zawinul pelo quinteto de Cannonball, e antes de seu encontro definitivo com o fusion – nas gravações com Miles a partir de 69. Lançado pela pequena Vortex, é sua segunda gravação como líder. Sua saída para contar a história do third stream foi aliar-se a William Fischer, maestro, arranjador e compositor. Fischer trouxe, além das composições, uma pequena seção de cordas para somar à jazz band, e o resultado é sublime. Música clássica? Eu não saberia dizer onde. Ouve-se jazz modal; sem a presença de temas, é verdade. Há poucos improvisos, e a maior parte das canções foi escrita; mas eles existem. Em muitos momentos até lembra o free jazz, em outras o cool, e também se ouve o elec piano que se tornou marca registrada da sonoridade de Zawinul (especialmente em “The Soul of a Village” – que, atentem, tem as duas partes unidas no mp3 trazido aqui). E o swing afro/black que o tornou famoso.

Rótulos à parte, temos aqui um gênio em formação, experimentando formatos e a si mesmo. Jamais deixaria de ser inquieto, até que um raro câncer de pele o impedisse de tocar. Apreciem. Zowy fazia música longa vida.

Joe Zawinul – The Rise and Fall of the Third Stream (256)
Joe Zawinul: piano, electric piano
William Fischer: tenor sax, arrangements
Jimmy Owens: trumpet
Alfred Brown, Selwart Clarke, Theodore Israel: violins
Kermit Moore: cello
Richard Davis: bass
Roy McCurdy, Freddie Waits: drums
Warren Smith: percussion

download aqui – 67MB
01 Baptismal (Fischer) 7’37
02 The Soul of a Village Part I (Fischer) 2’13
03 The Soul of a Village Part II (Fischer) 4’12
04 The Fifth Canto (Fischer) 6’55
05 From Vienna, With Love (Gulda) 4’27
06 Lord, Lord, Lord” (Fischer) 3’55
07 A Concerto, Retitled (Fischer) 5’30

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio :.

Antes de ser um músico de sucesso, Wes Montgomery cansou das turnês mal-pagas com Lionel Hampton e voltou para casa, em Indianapolis. Era um jovem, tinha 25 anos, sentia falta da família (e provavelmente não se divertia muito na estrada). Preferiu o dia-a-dia numa fábrica, pegando no batente às 7h, mais um turno extendido nos clubes locais – tocando até as 2h para ajudar no sustento das oito pessoas da família. Isso durou de 1950 até 57, quando Cannonball Adderley esteve na cidade, viu Wes tocando e praticamente forçou o produtor Orrin Keepnews a dá-lo um contrato com a Riverside.

Há de se amar não apenas o jazz, mas também suas histórias entrelaçadas.

Enquanto preparava o material para a Riverside, Wes gravou com seus irmãos, o baixista Monk e o vibrafonista Buddy. Monk, o mais velho dos irmãos, tocou com Wes no grupo de Hampton e seguiu caminhos diversos pelo jazz, até formar o Mastersounds em 1957. Nesse mesmo ano recebeu Buddy, o caçula, que voltava do exército. Wes estava na cidade, e a Pacific Jazz resolveu bancar uma sessão entre os Montgomery. O líder foi o vibrafonista, que inclusive levou quatro temas. O som aqui é o hard bop de enciclopédia, ou seja, ouvimos Wes integrado à banda, e não como voz principal, o que ocorreria a partir das gravações seguintes. Mas seu estilo pode ser facilmente reconhecido na faixa-título, composição sua, onde a técnica monstruosa já se aninha do feeling lendário do guitarrista.

E não apenas na sonoridade – também os créditos do sucesso se dividem entre o trio. Monk é um baixista ágil e seguro, e Buddy é um excelente vibrafonista. Ainda, como atração à parte, a sessão também marca a primeira gravação do talentoso e promissor Freddie Hubbard – então com apenas 17 anos. A gravação, de 30/12/1957, acaba na faixa sete; as três últimas são do musical Kismet, de 1953, que contou com o clã Montgomery e foi incluída na reedição em CD deste disco.

Wes Montgomery – Fingerpickin’ (128)
Wes Montgomery: guitar
Wayman Atkinson, Alonzo Johnson*: tenor saxophone
Freddie Hubbard: trumpet
Buddy Montgomery: vibraphone
Joe Bradley, Richie Crabtree*: piano
Monk Montgomery: electric bass
Paul Parker, Benny Barth*: drums

Produzido por Richard Bock para a Pacific Jazz

download – 52MB
01 Sound Carrier (B. Montgomery) 6’55
02 Bud’s Beaux Arts (B. Montgomery) 7’33
03 Bock To Bock (B. Montgomery) 10’07
04 Billie’s Bounce (Parker) 4’42
05 Lois Ann (B. Montgomery) 4’45
06 All The Things You Are (Hammerstein, Kern) 3’59
07 Finger Pickin’ (W. Montgomery) 2’32
08 Stranger In Paradise* (Borodin, Forrest, Wright) 4’55
09 Baubles, Bangles And Beads* (Forrest, Wright) 3’30
10 Not Since Nineveh* (Borodin, Forrest, Wright) 7’24

Boa audição!

BD

.: interlúdio :.

Correndo e desastrado, trouxe o disco – mas não o texto. Peço licença e copio Larry Konigsberg, do All About Jazz – contrariando-o apenas no fato de que a faixa mais sensacional deste álbum é John’s Abbey, e tenho dito.


In one of their last performances before Jarrett’s illness took him from his public, his Standards Trio plays a typically inventive set of interpretations of tunes of former or perennial popularity, a Charlie Parker blues (”Billie’s bounce”) and a Bud Powell tune out of “I’ve got rhythm” (”John’s abbey”). Jarrett also gets credit for two compositions (”Caribbean sky” and “Song”), dignifying the vamps which conclude their associated standards with titles, and, no doubt, composer’s royalties. Throughout, Jarrett alternates sensitivity with flair, literally as he alternates ballads with up-tempo performances. It’s evident that his many years leading this group have not diminished his enthusiasm for either its format or its repertoire. The Tokyo audience is likewise appreciative.
I only found one track really galvanizing, though. The trio’s playing on “I’ll remember April” is spectacular, with DeJohnette cooking up a spectacular near-samba under Jarrett’s ringing gospel chords. A whole concert of such excitement would restore the Standards Trio to an eminence in this reviewer’s humble opinion which it enjoys among the more committed members of its audience. There’s nothing to complain about in any of the date, to be sure.
Knowledgeable fans will be interested to learn that Jarrett’s invariable vocalizations are here only intermittent and not generally obtrusive. For the rest, let it be said that the trio maintains its reputation as a consistently satisfying performing group.

 

Keith Jarrett, Gary Peacock, Jack DeJohnette – Tokyo ’96
Keith Jarrett: piano
Gary Peacock: bass
Jack DeJohnette: drums
Produzido por Manfred Eicher para a ECM

download – 70MB
01 It Could Happen to You
02 Never Let me Go
03 Billie’s Bounce
04 Summer Night
05 I’ll Remember April
06 Mona Lisa
07 Autumn Leaves
08 Last Night When We Were Young/Caribbean Sky
09 John’s Abbey
10 My Funny Valentine/Song

Boa audição!

.: interlúdio :. John Surman e Nordic Quartet

Sou apaixonado pelo som do saxofonista e clarinetista inglês John Surman, que é a cara do escritor John Fowles, que nasceu em Essex, enquanto Surman é de Devon. Ele não me decepciona neste CD verdadeiramente nórdico (basta ler o nome de seus companheiros de grupo). As quatro primeiras faixas do CD são esplêndidas e o resto não lhes fica muito atrás. É notável o diálogo entre Surman e Rypdal em Offshore Piper, é belíssima e triste a balada Unwritten Letter e a levada de Gone to the Dogs provocou ohs! de aprovação enquanto ouvia o disco em minha casa. Fui pesquisar se meu entusiasmo pelo CD era algo muito original ou não, indo direto à Down Beat. O pessoal de lá tascou-lhe 4 (Very good) em 5 estrelas. Tudo bem, o CD é bom mesmo!

Atenção para os solos de clarone (bass clarinet) de Surman. Seu som é sempre puríssimo mas é neste instrumento que rende mais.

Nordic Quartet (1994)

1. Traces
2. Unwritten Letter
3. Offshore Piper
4. Gone To The Dogs
5. Double Tripper
6. Ved Sorevatn
7. Watching Shadows
8. The Illusion
9. Wild Bird

John Surman – soprano saxophone, baritone saxophone, clarinet, bass clarinet
Terje Rypdal – guitar
Karin Krog – vocals
Vigleik Storaas – piano

BAIXE AQUI (Part 1) – DOWNLOAD HERE (Part 1)

BAIXE AQUI (Part 2) – DOWNLOAD HERE (Part 2)

.:interlúdio:. Charlie Mingus – East Coasting

O mês de agosto de 1957 deu ao mundo os melhores frutos de todos os tempos. Dentre estes, há East Coasting, um disco mais tranqüilo e comportado de Charlie Mingus, identificado — e com razão — como um gênio visceral e de vanguarda. Aqui, Mingus nos contraria, mas cria um disco de extraordinária qualidade com um sexteto que, bem, que sexteto!

Clarence Shaw (trumpet)
Jimmy Knepper (trombone)
Curtis Porter (alto sax, tenor sax)
Bill Evans (piano)
Charles Mingus (bass)
Dannie Richmond (drums)

Ao lado dos habituais Knepper e Richmond, temos Clarence Shaw, Curtis Porter e um pianista que não necessito apresentar. O melhor deste CD é o maravilhoso standard Memories Of You, a turbulenta West Coast Ghost e a comovente Celia. Para mim, um admirador do Mingus revolucionário, foi uma grata surpresa conhecer algumas de suas composições mais tranqüilas, mas, como sempre, de altíssimo nível. Nada de agressividade rítmica, mensagens políticas ou antiracistas neste belo East Coasting. Enjoy!

Charlie Mingus – East Coasting
1. Memories Of You
2. East Coasting
3. West Coast Ghost
4. Celia
5. Conversation
6. Fifty-First Street Blues
7. East Coasting (Alternate Take 3)
8. Memories Of You (Alternate Take 3)

BAIXE AQUI (Parte 1) – DOWNLOAD HERE (Part 1)

BAIXE AQUI (Parte 2) – DOWNLOAD HERE (Part 2)

.: interlúdio anexo, sobre Kind of Blue :.

Eu, também responsável, não poderia deixar postagem de tal monta (veja abaixo) passar sem oferecer alguma informação. Pois trabalho em conjunto com FDP e trago um pouco de literatura e um punhado de dados para enriquecer a experiência de novatos e veteranos.

Kind Of Blue

 

Kind of Blue em tópicos rápidos
• Gravado em 22 de março (lado A, as três primeiras faixas) e 09 de abril de 1959 (lado B)
• Lançado em 17 de agosto daquele mesmo ano
• O álbum mais vendido da história do jazz
• E um dos mais importantes e influenciais de toda a música
• Nasceu do esgotamento do bebop diante da criatividade de Miles
• E do seu encontro com um livro chamado Lydian Chromatic Concept of Tonal Organization
• Kind of Blue, em termos de composição, foi precedido pela faixa Milestones, do disco homônimo de 58
• Marca o surgimento do jazz modal – baseado em escalas, ao invés de acordes
• E disso, um retorno à melodia, ao invés do duo técnica + velocidade do bebop
• É um disco que flui fácil nos ouvidos à primeira audição; na segunda, se percebe a enorme complexidade dos temas
• Gênio? disse Bill Evans: “Miles conceived these settings (as escalas) only hours before the recording dates.

“So What” consists of a mode based on two scales: sixteen measures of the first, followed by eight measures of the second, and then eight again of the first. “Freddie Freeloader” is a standard twelve bar blues form. “Blue in Green” consists of a ten-measure cycle following a short four-measure introduction. “All Blues” is a twelve bar blues form in 6/8 time. “Flamenco Sketches” consists of five scales, each to be played “as long as the soloist wishes until he has completed the series”.

• Evidentemente, a banda também não sabia quase nada sobre o que gravaria ao chegar no estúdio
• Wynton Kelly, que havia substituído Bill Evans há pouco no grupo de Davis, toca apenas “Freddie Freeloader”
• E Cannonball Adderley não participa de “Blue in Green”
• Sobre a obra, definiu Chick Corea: “It’s one thing to just play a tune, or play a program of music, but it’s another thing to practically create a new language of music, which is what Kind of Blue did.”

Este cão, que não sabe contar – e muito menos entende de teoria musical – apenas esmigalha informação disponível, e lembranças, para os leitores. Assim como não esquece da melhor crônica que já leu sobre Kind of Blue, escrita no blog de Rafael Galvão – e compartilha. Inadvertidamente, a copio abaixo. É também resenha do livro de Ashley Kahn sobre Kind of Blue. Leiam logo, antes que ele descubra.

 

Kind of Blue
Oct 5th, 2007 por Rafael Galvão

Há algo de desgraçado no jazz. Algo que faz com que ninguém o ouça impunemente, que condena aquele que o conhece a nunca mais conseguir voltar atrás, a nunca mais se contentar de verdade com menos que aquilo; algo que eleva, para sempre, os padrões pelos quais se julga a música, qualquer tipo de música, não apenas a popular.

É difícil, para aquele que ouve o trumpete de Louis Armstrong, ouvir qualquer outra música com trumpete e não exigir que tenha a mesma qualidade, a mesma qualidade dramática, a mesma síncope, o mesmo swing — em última instância, as mesmas notas altas e desesperadas. E isso vale também para o piano, para o trombone, para o saxofone. É no jazz que a banda de música tradicional atinge o ápice, que eleva a arte de tocar esses instrumentos à perfeição.

O jazz é a forma superior de música popular. É o que de melhor fez um século que viu a música erudita se diluir em redundâncias medíocres como as trilhas para cinema ou grandes vazios como a música experimental, e que teve como principal trilha sonora o rock e o pop, galhos menos floridos do mesmo tronco que gerou o jazz.

E Kind of Blue, disco de Miles Davis, é a forma superior de jazz. Nunca mais o jazz atingiria um ponto semelhante, de perfeição quase absoluta. Foi ali, em um disco com a participação de mestres como John Coltrane e Bill Evans, gravado em duas sessões, com o primeiro take sendo o que valia, que o jazz atingiu a perfeição. Kind of Blue é um desses discos fundamentais por uma razão: é perfeito. Das notas iniciais de So What à última nota de All Blues, o que se tem não é a apenas a obra-prima do que chamavam jazz modal; é uma síntese de tudo o que o jazz tinha feito até aquele momento, do dixieland ao bebop: é a música popular elevada ao nível máximo que ela pode alcançar, quase ao nível da música erudita tradicional.

Embora tenham sido Louis Armstrong e Duke Ellington a dar ao jazz o status de arte, foi aquela geração — Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Miles Davis e John Coltrane, pela ordem — que elevou o jazz ao ponto máximo da música ocidental. Uma geração ambiciosa, consistente, que explodia os limites da música e apontava uma infinidade de caminhos ao mesmo tempo em que solidificava, com um talento nunca mais igualado, uma tradição de 50 anos de jazz. Infelizmente, quase na mesma época surgiria Ornette Coleman com uma nova mudança, e a porteira seria aberta para bobagens como free jazz e fusion; mas isso não importa. Ouve Ornette Coleman quem quer e quem gosta. O importante, mesmo, é que há um disco que explica, sem sequer uma palavra, o que é o jazz, que concentra em cinco faixas cinqüenta anos do mais assombroso gênero musical que o século XX criou. E esse disco é Kind of Blue.

A Barracuda, do Freddy Bilyk, lançou no começo deste ano um livro que conta a saga desse disco: “Kind of Blue — A história da obra prima de Miles Davis“, de Ashley Kahn, conta a história desse disco de maneira inteligente e simples. Contextualiza o disco em sua época e nas trajetórias de seus músicos, sem perder tempo com fofocas e explorações sensacionalistas ou simplesmente mundanas de detalhes pouco importantes, como os problemas com drogas que praticamente todos eles enfrentaram.

Kahn mostra o processo de criação das músicas, explicando a razão de cada termo utilizado com clareza e simplicidade notáveis. Detalha cada sessão, e explica cada música de um jeito simples mas completo. Explica por que o disco foi tão importante. E explora o legado de um álbum que foi recebido sem tanta euforia, mas que aos poucos se consolidou como o disco mais importante da história do jazz.

A importância de Miles Davis pode ser medida pelo que ele disse em um jantar na Casa Branca. Naquela ocasião, ele não mentiu. E Kind of Blue foi uma dessas revoluções. Talvez não tão importante, do ponto de vista “revolucionário”, quanto Birth of Cool; mas um disco estupidamente superior.

Por explorar com simplicidade um assunto tão fascinante mas ao mesmo tempo tão complexo, “Kind of Blue” é um daqueles livros indispensáveis para quem gosta de jazz, mas também para músicos que querem saber como pode funcionar uma sessão de gravação. É importante, também, para compositores que buscam densidade em seu processo criativo.

Há alguns anos, a Gabi me convidou para escrever uma coluna sobre jazz no site da Antena 1. A resposta foi a costumeira, uma recusa, mas dessa vez não foi apenas pela falta de tempo crônica: eu sabia que jamais poderia escrever sobre jazz porque isso requer uma erudição que eu, definitivamente, não tenho. Palavras e expressões como diatônica, escala cromática, modalismo não fazem parte do meu vocabulário habitual. E ler “Kind of Blue” me deixou com a certeza de que eu estava certíssimo ao dizer não. Mas, ainda mais que isso, me deu o conforto de saber que um sujeito como Ashley Kahn pode tornar essas palavras difíceis compreensíveis até para mim.

 

.: interlúdio :.

Hesitei quase a semana inteira para postar este álbum. Já havia subido o arquivo há alguns dias, e eu pensando, será que não vou arranjar briga com os leitores mais conservadores do blog? Será que PQP, FDP e CDF não irão me botar pra dormir na rua, enquanto Clara joga no lixo todos os meus brinquedos – entre eles o meu fone de ouvido de mascar que eu tanto gosto?

Ora, também não haverá de ser para tanto. É sexta-feira, e este é um disco de sextas-feiras. Leve e bem-humorado, simples aos ouvidos, harmônico e, como eu, bem-intencionado.

Quase todo mundo conhece Björk – se não pela voz, pelas esquisitices que comete em nome de sua música e imagem avant-garde. O que quase todo mundo ignora, porém, é que antes mesmo de lançar-se em carreira solo, a pequena islandesa de voz gigante gravou um disco de standards de jazz. Islandeses, no caso.

O ano era 1990, e o Tríó Guðmundar Ingólfssonar foi incumbido de gravar um disco-memória do jazz local. Sendo uma formação econômica, precisariam de uma voz para a empreitada. O octogenário baterista Steingrímsson lembrou então da garota de 16 anos que vivia zanzando pelos corredores da rádio (onde mantinham há muito um programa ao vivo), apaixonada por jazz, e que estava sempre em bandas malucas de rock. Björk – a essas alturas, com 24 de idade – topou na hora, e foi a responsável por criar o setlist. Além das canções locais, alguns temas internacionais – como “I Can’t Help Loving that Man”, “Ruby Baby” e “You Can’t Get A Man With A Gun” (aqui traduzida para “Það Sést ekki Sætari Mey”). Daí já se pode notar a tônica: jazz-pop dos anos 50. É disco de platina e, mais que amor de verão, durou excursões até 1992 – quando Steingrímsson morreu.

Às vezes easy-listening, noutras dançante; singelo e honesto álbum, onde, é claro, a voz de Björk reina com descontração. Vai bem com vinho branco e sorrisos.

2418839

Björk Guðmundsdóttir & Tríó Guðmundar Ingólfssonar: Gling-Gló (224)
Björk Guðmundsdóttir: voice
Guðmundur Ingólfsson: piano, tambourine
Guðmundur Steingrímsson: drums, maracas, christmas bells
Þórður Högnason: bass

Produzido por Tómas Tómasson para a Smekkleysa

download – 90MB
01 Gling gló 2’44
02 Luktar-Gvendur 4’05
03 Kata Rokkar 2’56
04 Pabbi Minn 2’44
05 Brestir og Brak 3’23
06 Ástartröfrar 2’43
07 Bella símamær 4’00
08 Litli tónlistarmaðurinn 3’23
09 Það Sést ekki Sætari Mey 4’00
10 Bílavísur 2’38
11 Tondeleyo 3’29
12 Ég Veit ei Hvað Skal Segja 3’03
13 Í dansi með þér 2’26
14 Börnin við Tjörnina 2’46
15 Ruby Baby 4’00
16 I Can’t Help Loving That Man 3’40

Boa audição!

.: interlúdio :.

Este cão ficou feliz ao ver a postagem recente de FDP Bach, trazendo o Concierto de Aranjuez de Joaquin Rodrigo. Não só pela oportunidade de escutar uma versão fiel da peça, como também por ver aberta a brecha para postar a leitura que Miles Davis e Gil Evans realizaram 21 anos depois.

Historinha: 1959, Davis havia acabado de gravar “Kind of Blue” e dispensado Coltrane e Adderley da banda. Naquele ano, conheceu o Concierto na casa de um amigo baixista. Apaixonou-se e juntou esforços pela terceira vez com Gil Evans (já haviam colaborado em “Miles Ahead”/1957 e “Porgy and Bess”/58) para realizar uma adaptação e compor faixas em torno do tema espanhol. O resultado é uma obra de arte ao mesmo tempo popular e moderna. Mas que foi rejeitada por alguns críticos – que perguntavam isso é jazz? …ao que Miles respondeu: é música, e eu gosto. E eu também. Não só da peça principal – mas também faixas como Saeta, um solo absolutamente fantástico de Davis, e o balé sincopado de Manuel de Falla, Will o’ the Wisp, que é uma das minhas canções favoritas de jazz de todos os tempos. Às vezes deixo a faixa rodando no repeat várias e várias vezes, sonhando com uma gravação ao vivo com jams e 23 minutos de duração. (Há algo de mim que se sente visceralmente atraído pela simplicidade e afetividade hipnótica de balés e valsas, vou descobrindo aos poucos; colecionando esta faixa, e “My Favourite Things” de Coltrane, e “The Black Priest and the Sinner Lady” de Mingus…)

Atmosférico e acessível, este é também um grande álbum para congregar novos ouvidos. Portanto, mesmo que o amigo leitor seja avesso ao jazz, eis uma boa nova oportunidade. Ouça com carinho, que ele retornará. Os arquivos são independentes e em 320k, respeitando a excelente remasterização da edição apresentada aqui – com três faixas bônus, sendo duas delas um take alternativo do Concierto.

Antes da ficha técnica e dos links, uma análise mais criteriosa da peça e sua polêmica – Joaquin Rodrigo teria detestado a adaptação – encontrada na Amazon, para aqueles que quiserem um comparativo entre original e versão.

Sketches of Spain has its genesis in the slow movement of the Rodrigo Concierto di Aranjuez, one of the most beloved pieces of classical music out of Spain. Both Miles and Gil Evans were taken with the piece when they were introduced to it and it forms the centerpiece of the album, and the number that seems to register the greatest number of complaints. Purists in the classical world dislike it’s fast and loose treatment of the original work, and in fact, Rodrigo was on record as detesting the final product. And jazz musicians felt the work to be pretentious, with not enough room for Miles to solo, and not enough out and out swing. There was also a feeling that the work was just blatantly copied from it’s origins and that any brilliance in the work was due to Rodrigo, not to Evans.

A careful hearing, especially a side-by-side comparison with the original Concierto, can dispel much of the criticism of this work. Evans does not merely imitate the piece; he imaginatively rethinks it for wind ensemble. Instead of the spare English Horn and strings with which Rodrigo opens the work, Evans creates a shimmering bed of castanets and harp, over which he layers low flutes and French horns an muted brass, moving in a dense carpet of parallel fourths. While the main points of the original form are followed, with Miles taking mostly the guitar parts, there are many sections that illustrate the genius of Evans, the arranger. Particularly impressive is Evans rethinking of the guitar cadenzas. For the first cadenza Evans contrasts Miles in his dark low register, with beautifully balanced chords in the flutes and low brass, characterized by unusual voicings that include tense dissonances at the top of the chord. Also stunning is the original section that Evans uses to replace the second cadenza. The bass begins an understated vamp. Miles solos over it with his typical cool understatement and the orchestra builds to the climax of the work.

Sketches Of Spain Miles Davis

Miles Davis – Sketches of Spain (320)
Arranjado e conduzido por Gil Evans
Produzido por Teo Macero e Irving Townsend para a Columbia

Miles Davis (trumpet, flugelhorn); Gil Evans (arranger, conductor); Paul Chambers (bass); Jimmy Cobb (drums); Elvin Jones, Jose Mangual (percussion); John Barrows, James Buffington, Tony Miranda, Joe Singer, Earl Chapin (french horn); Johnny Coles, Bernie Glow, Taft Jordan, Ernie Royal, Louis Mucci (trumpet); Dick Hixon, Frank Rehak (trombone); Jimmy McAllister, Bill Barber (tuba); Danny Bank (bass clarinet); Albert Block (flute); Eddie Caine (flute, flugelhorn); Harold Feldman (clarinet, flute, oboe); Jack Knitzer (bassoon); Romeo Penque (oboe); Janet Putnam (harp)

download – parte 1 84MB parte 2 40MB
01 Concierto de Aranjuez (Adagio) (Joaquín Rodrigo) 16’19
02 Will o’ the Wisp (Manuel de Falla) 3’47
03 The Pan Piper (Evans) 3’52
04 Saeta (Evans) 5’06
05 Solea (Evans) 12’15
06 Song of Our Country (Evans) 3’23
07 Concierto de Aranjuez [alt take; part 1] (Rodrigo) 12’04
08 Concierto de Aranjuez [alt take; part 2 ending] (Rodrigo) 3’33

Boa audição!

.:interlúdio:.

Estou postando este cd para atender um desejo de nossa colega Clara Schumann, que na verdade pediu o Songbook do Cole Porter. Mas serei um pouco maldoso com ela, e primeiramente postarei este “simples” “best of” do Songbook que Ella gravou de George Gershwin, com o singelo nome de “Oh, Lady Be Good”. Posteriormente postarei o Songbook de Cole Porter, em minha opinião, uma das melhores gravações já realizadas na história do mercado fonográfico. Mas deixemos Cole Porter de lado, por enquanto, e vamos de Gershwin.

“´S Wonderful” é o título de uma clássica canção de Gershwin, e é me utilizando desta expressão que sintetizo essa coletânea. Assim como Blue Dog, não sou muito chegado em coletâneas, best ofs, ou coisas do gênero. Mas o trabalho que a gravadora Verve fez aqui é de se tirar o chapéu. Conseguir garimpar no meio de tantas pérolas da canção norte americana 17 standards absolutos, canções imortais, que ficaram imortais nas vozes de muitos grandes músicos e instrumentistas. Louis Armstrong, Miles Davis, Bill Evans, Keith Jarrett, entre dezenas de outros, se renderam à beleza das melodias e harmonias criadas pelos irmãos Gershwin. Sem esquecer, é claro, o cinema, onde Fred Astaire, Gene Kelly, Frank Sinatra entre outros tantos, imortalizaram estas mesmas canções.

Os arranjos das canções foram feitos pelo grande Nelson Riddle, que também rege a orquestra que acompanha a genial Ella. Trata-se de um cd em que se deve esquecer todos os problemas e preocupações que nos perseguem. É para relaxar e aproveitar…

Ella Fitzgerald – Oh Lady, Be Good – Best of The George & Ira Gershin Songbook

01 Ella Fitzgerald – Fascinating Rhythm
02 Ella Fitzgerald – ‘S Wonderful
03 Ella Fitzgerald – Someone To Watch Over Me
04 Ella Fitzgerald – He Loves And She Loves
05 Ella Fitzgerald – Oh, Lady Be Good
06 Ella Fitzgerald – A Foggy Day
07 Ella Fitzgerald – How Long Has This Been Going On
08 Ella Fitzgerald – Let’s Call The Whole Thing Off
09 Ella Fitzgerald – But Not For Me
10 Ella Fitzgerald – My One And Only
11 Ella Fitzgerald – I’ve Got A Crush On You
12 Ella Fitzgerald – Nice Work If You Can Get It
13 Ella Fitzgerald – The Man I Love
14 Ella Fitzgerald – Funny Face
15 Ella Fitzgerald – Embraceable You
16 Ella Fitzgerald – They Can’t Take That Away From Me
17 Ella Fitzgerald – I Got Rhythm

Ella Fitzgerald
Music Arranged and Conducted by Nelson Riddle

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

.: interlúdio :.

Sempre tive pavor de coletâneas – mas com o tempo, aprendi a fazer uma exceção ao jazz. O estilo, generoso como só ele, não apenas permite que se arranque pedaços de álbum sem dor; é capaz de dar novas cores à compilação e seus temas pela mistura diferente criada entre elas. (Claro, ninguém aqui pensa em tirar pedaços de A Love Supreme ou Sketches of Spain; sempre há exceções, óbvio.) Para sair um pouco da linha habitual de John “Dizzy” Gillespie – o velocíssimo bop -, hoje trazemos um componente da série Jazz in Paris, da Verve/Gitanes – mais de 100 títulos lançados com raridades em apresentação suntuosa – mostrando faixas gravadas entre 1952 e 53, na capital francesa.

Paris, which had developed into the jazz center of Europe already in the beginning of the 20th century, offered many of these musicians a safe haven as well as a permanent home (later, Denmark, Sweden and sometimes Germany usurped that role) and jazz thrived because of it. One can even be as bold as to state that without Paris and Europe, jazz might never have been recognized as an art form. It was in Europe that jazz had gained that kind of recognition and, as far as I recall, it was jazz critics such as Leonard Feather (England) and Dan Morgenstern (Austria), who spent their entire lifetimes promoting it as an art form in the United States. daqui

É o lado mais swing e groove de um dos fundadores do bebop (ao lado de Parker); em momentos já afro-jazz, em outros quase cool, gravações parisienses cheias de atmosfera (incluindo alguns chiados, mesmo com remasterização – o que me deixa deveras feliz. Nada pior que uma limpeza asséptica em algo capaz de tirar vida do ruído). Coletânea para desfrutar e agradecer ao gênio; a relação das músicas, logo abaixo, mostra toda uma constelação. E evoca as noites de uma Paris dos anos 50 que jamais conheci, capaz de provocar uma romântica nostalgia enviesada.

Gillespie

Dizzy Gillespie – Verve/Gitanes Jazz in Paris Series: Cognac Blues (320)

Dizzy Gillespie: trumpet, vocal
Don Byas: tenor saxophone
Art Simmons, Arnold Ross, Wade Legge: piano
Jean-Jacques Tilché: guitar
Joe Benjamin, Lou Hackney: double bass
Bill Clark, Al Jones: drums
Humberto Canto Morales: congas

download – parte 1 (95MB), parte 2 (72MB)

01 Cognac Blues 2’40
02 Cocktails For Two 3’23
03 Moon Nocturne 3’03
04 Sabla Y Blu 3’05
05 Blue And Sentimental 2’42
06 Just One More Chance 3’10
07 They Can’t Take That Away from Me 3’14
08 Break at the Beginning (Taking a Chance on Love) 2’42
09 When It’s Sleepy Time Down South 2’55
10 Lullaby in Rhythm 4’22
11 Just Blues (One More Blues) 2’59
12 Ain’t Misbehavin’ 2’56
13 Summertime 4’16
14 Blue Moon 4’25
15 Mama’s blues (Mrs. Dizzy blues) 4’00
16 Undecided 2’32
17 The Way You Look Tonight 4’12
18 They Can’t Take That Away From Me [alt take] 3’59
19 Taking a Chance on Love [alt tk 1] 3’27
20 Taking a Chance on Love [alt tk 2] 3’36
21 Lullaby in Rhythm [alt take] 4’05

Boa audição!

.: interlúdio :.

Referências.

1. “Hell, just listen to what he writes and how he plays. If you’re talking psychologically, the man is all screwed up inside.” – Miles Davis, 1959
2. The Grafton Alto and Tenor were first produced in the UK just after WW2, when brass was in short supply and very expensive. (…) The saxophone was made out of bakelite, an early easily mouldable, but brittle plastic. The keys, rods and springs were made out of metal. (…) The sound was quite good considering the technology of the period. It lacked something in resonance and had a very short vibration period, so sounds were more damped.

Agosto de 1959: Miles Davis lança a maior (ou ao menos a mais popular entre as maiores) obra-prima do jazz, Kind of Blue.
Alguns meses depois: a atenção de Kind of Blue é obnubilada por uma verdadeira revolução no jazz – um disco gravado por um quarteto sem piano, apresentando músicas de estrutura sem acordes, onde todos os artistas improvisavam ao mesmo tempo e o líder tocava em um saxofone de plástico! (Diga-se de passagem, Charlie Parker já havia tocado com um desses também.)

Miles, óbvio, ficou enciumado e possesso. Mas diante da criação do avant-garde jazz e do free jazz por um homem que não tinha dinheiro para um instrumento decente, teve de resignar-se. E roubar seus músicos nos anos seguintes. Esse homem era uma ameaça – Max Roach chegou a acertar-lhe um soco na boca, em um de seus shows no Five Spot, à época -, mas desbravou com obstinação o mundo (então e ainda) desconhecido da música livre.

Shapeofjazztocome

Ornette Coleman – The Shape of Jazz to Come (128)
Ornette Coleman: alto saxophone
Don Cherry: cornet
Charlie Haden: double bass
Billy Higgins: drums

Produzido por Nesuhi Ertegün para a Atlantic

download – 46MB
01 Lonely Woman 5’02
02 Eventually 4’22
03 Peace 9’04
04 Focus on Sanity 6’52
05 Congeniality 6’48
06 Chronology 6’03
[bonus tracks da edição japonesa de 2006]
07 Monk and the Nun 5’55
08 Just for You 3’50

Boa audição!

Interlúdio

Aproveitando a deixa de Blue Dog, que nos trouxe o clássico álbum “An evening with Herbie Hancock & Chick Corea”, resolvi trazer outro clássico dos anos 70. Trata-se do antológico “V.S.O.P.”,que reúne uma das maiores formações que já foram reunidas na história do Jazz. Não é a toa que recebeu 5 estrelas na amazon, na allmusic, entre outros sites especializados. Herbie Hancock, Freedie Hubbard, Wayne Shorter, Ron Carter e Tony Williams… é brincadeira… o que podemos falar deste quinteto, além do fato de todos terem tocado com Miles Davis, e todos serem considerados gênios em seus respectivos instrumentos? Reconheço que raríssimas vezes vi tanta energia desprendida em um disco, a cada minuto, a cada solo… é tudo perfeito demais, com o perdão da redundância. Não tenho faixa favorita, em minha opinião este cd é impecável do começo ao fim. Cito abaixo o comentário de Conrad Silvert, que consta no encarte do CD: “What the audience applauds on this album transcends mere form, technique and instrumentation. They were thrilled by the charisma generated by five masters who listened to another´s inner ears, spoke to each other at multiple levels, and, no matter how dense the musical content, conveyed their messages to the audience with amazing clarity.”

Sou suspeito para falar deste cd. Deixo a critério de vocês…

Enjoy it.

V.S.O.P. – The Quintet (1977)

1 – One of a Kind (Hubcap)
2 – Third Plane (R. Carter)
3 – Jessica (H. Hancock)
4 – Lawra (T. Williams)
5 – Introduction of Players/Darts
6 – Dolores (W. Shorter)
7 – Little Waltz (R. Carter)
8 – Byrdlike (Hubcap)

Herbie Hancock – Piano
Wayne Shorter – Saxophones
Freedie Hubbard – Trumpets & Flugelhorn
Ron Carter – bass
Tony Williams – Drums

PARTE 1 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PARTE 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

.: interlúdio :.

No último post, havia prometido o ponto de contato entre Miles Davis e Hermeto Pascoal. Fiquei tanto tempo cavando no pátio os line-ups deste monstruoso disco que deixo a apresentação, e a história, a cargo de um copy/paste deste artigo no poppycorn.

Hermeto Pascoal também morou alguns anos nos Estados Unidos, a convite de Airto Moreira – o percussionista, que já foi várias vezes considerado o melhor do mundo, abandonou o Quarteto Novo em 1969, indo para a terra do Tio Sam e encerrando a trajetória do grupo. Em Nova York, 1971, Hermeto apresentou-se para uma seleta platéia que incluía Miles Davis, Wayne Shorter e Gil Evans, onde impressionou a todos, tanto que Miles mais tarde o convidou a participar do álbum Live-Evil. O disco traz duas composições de Hermeto, Capelinha (Little Church) e Nem um Talvez. (nota canina: são três composições, com Selim; e nenhuma foi creditada.) Ele conta que, enquanto não estavam tocando, costumava lutar boxe com o trompetista.

Mas como exatamente Miles Davis e Hermeto Pascoal se conheceram? Assim conta Hermeto, em entrevista recente: “Eu fui ver um show dele, levado por um tradutor. Antes do show começar, vi aquele crioulão – apesar de ele não ser muito alto, mas sempre bem vestido, gostava muito de couro, impressionava – se aproximando. Chegou pertinho de mim e sussurou com aquela voz rouca no meu ouvido. Não o reconheci e achei que era um cara me passando uma cantada. Como não falava inglês, o tradutor que estava do meu lado me disse que era o Miles e que ele queria saber quem eu era. O tradutor respondeu ao Miles e marcamos um de nos conhecermos depois. Mostrei a ele umas 12 músicas, que eram bem diferentes de tudo aquilo que ele fazia. Disse que queria colocar algumas no disco dele e eu me senti à vontade para brincar e dizer que eu veria quantas músicas deixaria ele colocar no disco dele. Aí o Miles continuou a brincadeira dizendo: “Esse albino é mais louco que eu”. Tínhamos mais um CD engatilhado, mas ninguém imaginou que ele fosse morrer tão cedo.”

(…) Diz ele, sobre o que acha de Miles, hoje: “Um eterno gênio. Digo isso pela sua essência, pela sua contribuição. Claro que ele teve seus erros. Tivemos um amizade espiritual, maravilhosa. Deus me deu um presente ao conhecer o Miles. Acredito que nada acontece por acaso. Ele era um sujeito que não gostava de passar as mãos nas costas. Se ele não gostava de você logo dizia “vamos interromper nossa conversa por aqui” e era isso, direto.”

Diz a lenda que Miles jamais despediu um músico; eles simplesmente sabiam a hora de sair. As formações em constante mutação, como vocês podem ver abaixo junto ao nome das músicas, são recorrentes – e com vantagem para o ouvinte. Miles, se não era um excelente gestor de Recursos Humanos, tinha um olho inigualável para talentos e para ajustar as melhores formações. Nestes registros, temos só craques. Meio estúdio (duas sessões em fevereiro, uma em junho, 1970), meio ao vivo (faixas 1, 4, 7 e 8 gravadas em 19 de dezembro daquele ano), é sucessor de Bitches Brew; se o som segue o fusion iniciado na obra-prima anterior, aqui ele vem ainda mais miscigenado – cheio de funk e grooves, além do rock. Diz-se que é um disco para iniciados; eu o considero um grande iniciador ao fusion, também. Esperem destreza técnica, trumpete com filtros (notadamente um wah-wah) e muita eletricidade – sendo as composições de Hermeto os interlúdios leves. Suas participações nas músicas (e também nas de Airto Moreira) descrevem-se sozinhas, e provocam sorrisos no ouvinte.

Live Ev

Miles Davis – Live-Evil (192)
Produzido por Teo Macero para a Columbia

disco 1 – download (71MB)
disco 2 – download (75MB)

01 Sivad 15’19
Miles Davis: trumpet
Keith Jarrett: electric piano
Herbie Hancock: organ
John McLaughlin: electric guitar
Michael Henderson: electric bass
Hermeto Pascoal: voice, percussion
Airto Moreira: cuica

02 Little Church 3’18
Miles Davis: trumpet
Herbie Hancock: organ
Dave Holland: bass
Hermeto Pascoal: whistling

03 Gemini/Double Image 5’57
Miles Davis: trumpet
Wayne Shorter: soprano sax
Joe Zawinul: electric piano – left
Chick Corea: electric piano – right
John McLaughlin: electric guitar
Dave Holland: electric bass
Jack DeJohnette: drums
Airto Moreira: percussion
Kalil Balakrishna: sitar

04 What I Say 21’13
Miles Davis: trumpet
Gary Bartz: saxophone
John McLaughlin: guitar
Keith Jarrett: keyboard
Michael Henderson: bass
Jack DeJohnette: drums
Airto Moreira: percussion

05 Nem um Talvez 4’06
Miles Davis: trumpet
Chick Corea: organ
Herbie Hancock: electric piano
Keith Jarrett: electric piano
Ron Carter: bass
Airto Moreira: percussion
Hermeto Pascoal: voice, drums

06 Selim 2’17
Miles Davis: trumpet
Steve Grossman: soprano sax
Chick Corea: organ
Herbie Hancock: electric piano
Keith Jarrett: electric piano
Ron Carter: bass
Hermeto Pascoal: voice

07 Funky Tonk 23’31
08 Inamorata and Narration by Conrad Roberts
mesmo line-up de What I Say

Boa audição!

.: interlúdio :.

Sem delongas, que a tarde vai caindo e o fim de semana nos espera.

Nicholas Payton nasceu em 1973. Em New Orleans. Começou a tocar trumpete em 77. Seu pai era o baixista Walter Payton, que, ao lado da família, o incentivava e ensinava notação e escalas. Aos 12, fez turnês pelos EUA e Europa com a All Stars Jazz Band. Formou-se em música na universidade local, sob a tutela de Ellis Marsalis. Foi apadrinhado por outro pilar de mesmo sobrenome: Winton. Nos anos 90, começou a gravar e não parou mais. Assentou notoriedade com o disco Dear Louis, de 97, relendo em dueto com Doc Cheatham as faixas de, é claro, Louis Armstrong. É fã de Hermeto Paschoal.

Neste disco, gravado em 1999 e lançado em janeiro de 2000, não esperem um jazz novidadeiro, inovativo; tampouco um simulacro da era de ouro do jazz. Nick é um músico honesto e faz bop (ou neo-bop, como preferem alguns) com claridade cristalina; embora pudesse ter tocado em qualquer formação clássica dos ’50, não soa nada deslocado na contemporaneidade. Suas composições são atrativas, inteligentes e sensíveis; Nick@Night divide-se em faixas de um belo e atmosférico cool jazz, rendições a New Orleans big-band, e momentos onde lembra o bop espaçado de Miles Davis pré-Bitches Brew. Mas procurem não pensar muito nisso, pelos menos na primeira audição. Tenho certeza que a maior qualidade deste álbum – o frescor, a juventude – vai se fazer entender com facilidade nos ouvidos gabaritados que freqüentam este blog. Escutem sem reverência.

Nick

Nicholas Payton: Nick@Night (192)
Nicholas Payton: trumpet, flugelhorn, harpsichord, celeste
Tim Warfield: soprano & tenor saxophones
Anthony Wonsey: piano, harpsichord, celeste
Reuben Rogers: bass
Adonis Rose: drums
Produzido por Nicholas Payton para a Verve

download – 99mB
01 Beyond The Stars 5’46
02 Captain Crunch (Meets The Cereal Killer) 5’31
03 Faith 8’39
04 Pleasant Dreams 4’34
05 Interlude No. 1 (Turn Up The Funk) 0’55
06 Nick @ Night 6’14
07 Somnia 5’24
08 Interlude No. 2 (Turn Out The Burn Out) 1’10
09 Prince Of The Night 6’51
10 Blacker Black’s Revenge 8’28
11 Little Angel 5’58
12 Exquisite Tenderness 4’52
13 Sun Goddess 7’13

Boa audição!

.: interlúdio :.

Um dos discos de jazz contemporâneo que mais me impressionou nos últimos anos. Dentro das esferas do estilo, a paixão não exige muita variedade; por isso, uma releitura de composições de Herbie Hancock feita por um grupo sem piano é, no mínimo, uma curiosidade – além de demonstrar um gigantesco respeito desde a sua conceituação.

Se da reunião transparece um (adequado) vigor juvenil, também o virtuosismo e a sabedoria comparecem para tratar as faixas de Herbie (que cobrem o período de 1962 a 1975) com calma e muito feeling. O trio que gravou em 1997 este Fingerpainting é composto por Christian McBride (um notável fenômeno do baixo, como fosse cruza de Mingus e John Pattitucci), Nicholas Payton (o melhor dos jovens trumpetistas, a quem retornaremos com mais atenção em breve) e Mark Whitfield (guitarrista, session leader da Verve) – e o que se ouve é um mix de sucessos (Driftin’, fantástica), obscurantismos e trilha sonora (The Kiss e Jane’s Theme são do “Blow-Up” de Antonioni) executados com uma espécie de “brilhantismo silente”. Os arranjos limpos deixam muito respiro nas músicas, de modo que se percebe facilmente a qualidade impecável das instrumentações. Ao mesmo tempo, toques de swing – Payton é de New Orleans – mantêm o disco coeso e agradável mesmo para quem deixa o disco tocando como pano de fundo. Ou seja, é generoso com o ouvinte – mas exige mais de uma audição para entregar todos os seus segredos. Ou diria mais: mesmo com apenas três músicos, o álbum é dos que sempre tem algo novo a entregar, não importa quantas vezes já se tenha escutado. Além, é claro, de mostrar o gênio de Hancock diante de um novo espelho.

Finger1

Christian McBride, Nicholas Payton & Mark Whitfield – Fingerpainting: The Music Of Herbie Hancock (192)

 

Christian McBride: baixo, arranjos
Nicholas Payton: trumpete, arranjos #6 e #9
Mark Whitfield: guitarra
produzido por Richard Seidel para a Verve

download – 96mB

01 Fingerpainting – 5’56
02 Driftin’ – 4’28
03 Chameleon – 5’03
04 Tell Me A Bedtime Story – 4’43
05 Eye Of The Hurricane – 3’35
06 The Kiss – 5’33
07 Speak Like A Child – 6’39
08 The Sorcerer – 4’41
09 Dolphin Dance – 3’53
10 Chan’s Song – 4’07
11 One Finger Snap – 4’00
12 Sly – 3’54
13 Oliloqui Valley – 5’56
14 Jane’s Theme – 4’03

Boa audição!

.:interlúdio:.

Há algumas semanas atrás um leitor/ouvinte nosso pediu Claude Bolling. E imediatamente acendeu uma luzinha na cabeça de FDP Bach quando se lembrou das Suítes para Flauta e Piano Jazz Trio gravados por este grande pianista de jazz francês com ninguém mais ninguém menos que Jean-Pierre Rampal. Procurou incansavelmente em seu acervo, até que finalmente às localizou. E ao ouvi-las, novamente uma torrente de lembranças lhe veio à cabeça, dos tempos em que, entre os 17 e 20 anos, ouvia estes LPs incansavelmente, viajando através da imaginação pelas impressionantes composições de Bolling, com o sopro divino que emanava dos pulmões de Rampal. Até então não tinha ouvido nada parecido, uma fusão de estilos, um cross-over, um pianista de jazz, que já tinha tocado com todos os grandes mestres, como Oscar Peterson, ou até mesmo Duke Ellington, e um gênio da flauta, que até então nunca tinha se envolvido com jazz. O resultado, bem, o resultado é o que vocês irão ouvir. Considero estes dois cds duas pérolas da incrível capacidade técnica e artística destes dois músicos. Destaco três grandes momentos neste cd: a abertura, denominada “Baroque and Blue”, a magnífica “Sentimentale” e uma legítima aula de fuga bachiana, “Fugace”.

Claude Bolling Trio & Jean Pierre Rampal  Suite nº 1 for Flute & Jazz piano

 01 – Baroque And Blue

 02 – Sentimentale

03 – Javanaise

 04 – Fugace

 05 – Irlandaise

 06 – Versatile

 07 – Veloce

Jean-Pierre Rampal – Flute 

Claude Bolling Trio:

Claude Bolling – Piano

Max Hediguer – Bass

Marcel Sabiani – Drums

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE 

.: interlúdio :.

Chico Hamilton é também uma lenda do jazz, embora relativamente pouco conhecido. Ainda assim, é um dos raros bateristas a quem se pode nomear e identificar de ouvido. Chico – não sei o porquê do apelido, mas de qualquer forma é melhor do que seu nome, Foreststorn – tocou com centenas de músicos ao longo de quase 70 anos de carreira (ainda em curso, veja-o em NY) e domina quase todos os estilos do jazz. No dia 22 de agosto de 1958, reuniu-se com seu quinteto – que incluía um jovem promissor chamado Eric Dolphy – e gravou 9 temas de Duke Ellington para a obra que seria nomeada, apropriadamente, de Ellington Suite. O registro ficaria conhecido por conter os primeiros solos gravados de Dolphy.

Para dissabor de muitos, o produtor da Pacific Jazz preferiu a segunda sessão, com Buddy Collette nos sopros, e enterrou a série com Dolphy. 25 anos depois as fitas foram encontradas por jazzófilos, e o registro foi recuperado – e é hoje trazido a vocês. Que sabem o que vão encontrar: temas suaves e midtempo de Ellington, o sax angular de Dolphy e a leveza certeira de Hamilton criando atmosferas sofisticadas.

Chicofront

Chico Hamilton Quintet – Original Ellington Suite (320)
Chico Hamilton: drums
Eric Dolphy: alto saxophone, flute, clarinet
Nate Gershman: cello
John Pisano: guitar
Hal Gaylor: bass
Produzido por Richard Bock para a Pacific

download – 66MB
01 In A Mellotone – 4’18
02 In A Sentimental Mood – 5’40
03 I’m Just A Lucky So And So – 5’09
04 Just A Sittin’ And A Rockin’ – 5’25
05 Everything But You – 5’16
06 Day Dream – 3’42
07 I’m Beginning To See The Light – 5’07
08 Azure – 3’13
09 It Don’t Mean A Thing – 4’19

Boa audição!

.: interlúdio :.

Bons fluidos de ano novo, parte 2: o swing. Mais uma constelação: Ella Fitzgerald e Louis Armstrong interpretando as canções dos irmãos Gershowitz, ou melhor, Gershwin.

“I never knew how good our songs were till I heard Ella sing them” – I. Gershwin

Além de ser uma excelente trilha para celebrar, Louis deve sua história, de certo modo, a um reveillon. O de 1912 – em que festejou com tiros de pistola para cima. Um policial estava por perto e o recolheu; ele passaria os dois anos seguintes num reformatório, onde ganharia instrução musical, e acabaria se tornando líder daquela banda aos 13. Poucos anos depois, diria ao mundo que o ragtime era agora o jazz, e com seu trompete espalharia o sorriso que sempre trazia no rosto. Ella, apaixonante, é retratada aqui num período de excelência vocal – e se o leitor não conhece este disco, prepare-se para ter um novo referencial absoluto em canções como “They Can’t Take That Away from Me”, “A Foggy Day” e “Summertime”.

Our Love Is Here To Stay: Ella & Louis Sing Gershwin (192)
Composto por Ira & George Gershwin
Produzido por Norman Granz para a Verve

1956, 16/08 – 4, 9
1957, 23/07 – 5, 8, 12
1957, 14/10 – 10, 15
1957, 07/10 – 16
1957 – 1, 3, 11, 13
1959 – 2, 6, 7, 14

download – 91MB
01 I Got Plenty O’ Nuttin – 3’54
02 He Loves And She Loves – 2’48
03 A Woman Is A Sometine Thing – 4’49
04 They Can’t Take That Away From Me – 4’41
05 Let’s Call The Whole Thing Off – 4’13
06 Strike Up The Band – 2’36
07 Things Are Looking Up – 3’05
08 They All Laughed – 3’48
09 A Foggy Day – 4’33
10 How Long Has This Been Going On? – 6’01
11 Summertime – 5’01
12 Love Is Here To Stay – 3’59
13 There’s A Boat Dat’s Leavn’ Soon For New York – 4’55
14 ‘S Wonderful – 3’31
15 I Was Doing All Right – 3’24
16 Oh, Lady Be Good! – 3’59

Boa audição!