Um bom disco, principalmente pelo extraordinário Brahms. O Trio Klavis (Jenny Lippl, violino / Miha Ferk, sax alto / Sabina Hasanova, piano) apresenta três transcrições de obras escritas para quase os mesmos instrumentos, pero no mucho. Em seus arranjos para trio de piano com sax alto, os músicos alcançam uma surpreendente unidade tonal nas obras de Johannes Brahms (originalmente com trompa), Dmitri Shostakovich (originalmente com violoncelo) e Ernst Krenek (originalmente com clarinete). Instrumentos de teclado, sopro e cordas unem forças para criar uma verdadeira unidade, dedicando-se com tremenda verve às linguagens tonais do Romantismo ao Modernismo nas obras extremamente diversas. Não me apaixonei, mas o Brahms… Ahhhh!!!
Brahms
1 Andante-Poco più animato – Trio Klavis; Jenny Lippl; Miha Ferk; Sabina Hasanova
2 Scherzo. Allegro-Molto meno Allegro – Trio Klavis
3 Adagio mesto – Trio Klavis
4 Finale. Allegro con brio – Trio Klavis
Shostakovich
5 Trio No. 1 for violin, cello and piano in C minor, Op. 8 – Trio Klavis; Jenny Lippl; Miha Ferk; Sabina Hasanova
Uma das maiores obras de câmara compostas por um dos maiores compositores de música de câmara de todos os tempos, o Quinteto para Clarinete de Brahms é uma obra que tem repercussão inclusive na literatura brasileira. A autobiografia de Erico Verissimo chama-se Solo de Clarineta por quê? Bem, é óbvio.
A versão de Richard Stoltzman e do Tokyo String Quartet não é para puristas, mas deve ser conhecida, principalmente para quem desconhece esta peça de Brahms.
Weber? Weber era um bom restaurante ao qual minha família costumava ir em Tramandaí nos anos 60 e 70. Minhas papilas gustativas ainda sentem saudades da casquinha de siri perfeita dos caras. (Tá bom, o jocoso minueto do Quinteto do Weber é irresistível…)
Johannes Brahms – Clarinet Quintet in B minor, Op. 115
1 Allegro
2 Adagio
3 Andantino… Presto non assai, ma con sentimento
4 Con moto
Carl Maria von Weber – Quintet for clarinet & strings in B flat major, J. 182 (Op. 34)
5 No. 1, Allegro
6 No. 2, Fantasia. Adagio
7 No. 3, Menuetto
8 No. 4, Rondo. Allegro giojoso
Grande gravação do Trio Poseidon com a Orquestra de Gotemburgo, sob a direção de Neeme Järvi (os titulares da orquestra são Järvi, Gustavo Dudamel e Christian Zacharias). Gostei mais da gravação do Poseidon para o Triplo de Beethoven do que as dos registros de gigantes como o trio Richter, Oistrakh e Rostropovich ou Barenboim, Perlman e Ma. Não é pouca coisa não e sei que nem todos concordarão. A primeira qualidade deste trabalho é a interpretação mais coesa — afinal, eles formam um trio! –, a segunda é a excelente qualidade sonora, sob o altíssimo padrão Chandos.
Beethoven (1770-1827) e Brahms (1833-1897): Concertos Triplo e Duplo
Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Concerto for Piano, Violin, Cello and Orchestra, Op.56
1 Triple Concerto For Violin, Cello And Piano In C Major, Op. 56: I. Allegro 17:58
2 Triple Concerto For Violin, Cello And Piano In C Major, Op. 56: II. Largo – 5:41
3 Triple Concerto For Violin, Cello And Piano In C Major, Op. 56: III. Rondo Alla Polacca 12:57
Johannes Brahms (1833-1897):
Concerto for Violin, Cello and Orchestra, Op.102
4 Double Concerto For Violin And Cello In A Minor, Op. 102: I. Allegro 17:08
5 Double Concerto For Violin And Cello In A Minor, Op. 102: II. Andante 6:58
6 Double Concerto For Violin And Cello In A Minor, Op. 102: III. Vivace Non Troppo 8:30
Trio Poseidon
Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi
A imensamente profunda Sonata para Violino e Piano de Johannes Brahms é uma de minhas obras favoritas do compositor, já a ouvi dezenas, quiçá centenas de vezes, com os mais diversos intérpretes. Quando vi esse CD que ora vos trago, me assustei com a ‘pretensão’ do clarinetista Michael Collins em transcrevê-la para seu instrumento, mas depois de ouvir algumas vezes vi que meu temor não era justificado. Claro, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa bem diferente, mas entendo que a essência da obra está presente, porém falta ao clarinete aquela capacidade que entendo que apenas o violino tem de se expor publicamente, sem medo, por isso a dificuldade na transcrição. Collins não é nenhum estudante de música querendo impressionar seu professor, ao contrário, trata-se de um músico experiente, e demonstra conhecer profundamente a obra e, principalmente seu instrumento. Além disso, ele conta com a cumplicidade de Stephen Hough, pianista inglês muito conhecido e com uma discografia imensa e um grande intérprete da obra de Brahms.
Dentro do não tão extenso catálogo da obra de Brahms o clarinete tem um destaque especial. Assim seu biógrafo Malcolm McDonald destaca o porquê dessa preferência:
“As quatro últimas obras de câmara de Brahms constituem um grupo invulgarmente autônomo, já que todas destacam a clarineta – instrumento de que ele gostava muito, mas que anteriormente não utilizara fora das partituras orquestrais – e foram inspiradas pela maestria do principal clarinetista da Orquestra de Meiningen, Richard Mühlfeld. Assim como o mundo deve o Concerto e o Quinteto para clarineta de Mozart à interpretação virtuosística de Anton Stadler, deve a Mühlfeld o Trio com clarineta em lá menor, op. 114, o Quinteto para clarineta e quarteto de cordas em si menor, op. 115 e as duas Sonatas para clarineta e piano que constituem o op. 120 de Brahms. (…) e as obras que compôs para ele oferecem comparativamente poucas oportunidades contínuas para o exercício da musicalidade refinada, expressão pessoal e beleza de timbre.”
Já analisando as Sonatas op. 120, McDonald, expõe:
“À sua maneira, elas eram, como o Concerto Duplo, pioneiras: como não havia modelos clássicos para tal combinação, ele estava constituindo um novo gênero, com peças que desde então têm permanecido pedras angulares do repertório para clarineta. E não só do repertório para clarineta: com alterações mínimas nas partes do solo, Brahms compôs versões alternativas para viola e piano – criando com um único lance as primeiras sonatas importantes também para este instrumento – e passou a adaptá-las também para violino. (…) Essas três versões paralelas demonstram que ele desejava que a música tivesse a mais ampla difusão possível.”
Já postamos as outras obras para clarinete que Brahms compôs, como esse aqui do colega René Denon. O foco aqui são as Sonatas, novamente indico a clássica biografia de Malcolm McDonald, que como poucos conseguem traduzir e sintetizar a obra do genial compositor em palavras.
Em se tratando de Brahms, sempre me excedo nas palavras. Lamento se a postagem ficou muito grande e com muitas citações, mas creio ser importante uma análise mais acurada e detalhada de obras tão importantes.
P.S. Vai de brinde nesta postagem a Sonata para Violino nº2 de Brahms, nas mãos de dois dos principais músicos do século XX, Sviatoslav Richter e David Oistrakh.
Johannes Brahms (1833-1897): 3 Sonatas para Clarinete e Piano (Collins, Hough)
1. Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 100 ‘Thun’ (Arr. M. Collins for Clarinet & Piano) I. Allegro amabile
2. Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 100 ‘Thun’ (Arr. M. Collins for Clarinet & Piano) II. Andante tranquillo – Vivace
3. Violin Sonata No. 2 in A Major, Op. 100 ‘Thun’ (Arr. M. Collins for Clarinet & Piano) III. Allegretto grazioso, quasi andante
4. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 I. Allegro appassionato
5. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 II. Andante un poco adagio
6. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 III. Allegretto grazios
o7. Clarinet Sonata No. 1 in F Minor, Op. 120 No. 1 IV. Vivace
8. Clarinet Sonata No. 2 in E-Flat Major, Op. 120 No. 2 I. Allegro amabile
9. Clarinet Sonata No. 2 in E-Flat Major, Op. 120 No. 2 II.Allegro appassionato
10.Clarinet Sonata No. 2 in E-Flat Major, Op. 120 No. 2 III. Andante con moto – Allegro
Um excelente registro de uma parte importante da obra de um de meus compositores mais amados. Todos sabem que meus três compositores preferidos são Bach, Beethoven, Brahms, Mahler, Shostakovich e Bartók. Rattle aparece raivoso na estupenda Sinfonia Nº 1 e mais próximo do convencional nas outras. A orquestra… Bem, a Filarmônica de Berlim apenas segue um organismo perfeito. Temos (ou tivemos) no PQP as integrais de Abbado e de Jochum e digo-lhes: não vou fazer comparações entre tais gigantes.
A Primeira é solene e dramática. É a maior de todas as sinfonias, segundo este que vos escreve. A Segunda é mais pastoral com sua orquestração leve e brilhante. A Terceira, com dois movimentos lentos e um final sombrio, é a mais pessoal e enigmática. A Quarta tem orquestração compacta e a monumental chacona do finale remetem o ouvinte à música pré-clássica, principalmente a Bach.
Sinfonia No. 1 in C minor, Op. 68
01. Un poco sostenuto-allegro-meno allegro
02. Andante sostenuto
03. Un poco allegretto e grazioso
04. Finale
Sinfonia No. 2 in D major, op. 73
01. I. Allegro non troppo
02. II. Adagio non troppo
03. III. Allegretto grazioso (quasi andantino) – Presto ma non assai – Tempo I
04. IV. Allegro con spirito
Sinfonia Nº 3 in F Major, op. 90
01. I. Allegro con brio
02. II. Andante
03. III. Poco Allegretto
04. IV. Allegro
Sinfonia No. 4 em E menor, Op. 98
01 Allegro Non Troppo
02 Andante Moderato
03 Allegro Giocoso, Poco Meno Presto, Tempo
04 Allegro Energico E Passionato, Più Allegro
Depois de Bach e Beethoven, é claro que o pessoal da música historicamente informada ia chegar até o 3º B. Recentemente PQP postou os concertos de Brahms com Buchbinder e Harnoncourt, com instrumentos modernos mas concepção bastante diferente das gravações às quais estamos mais acostumados. Em 2019, András Schiff gravou os mesmos concertos utilizando um piano Blüthner de 1859. E em 2020, dois pianistas holandeses gravaram este disco para o selo belga Passacaille, utilizando um outro piano da marca alemã Blüthner (circa 1867). Essa marca de pianos com sede em Leipzig existe até hoje e é tão respeitada quanto a austríaca Bösendorfer e a alemã-americana Steinway, ainda que esta última predomine no mundo todo por motivos em parte musicais, em parte de publicidade e grana pesada.
Nos anos 1860 a Blüthner ainda usava cordas retas, o que dá uma sonoridade ligeiramente diferente para os harmônicos. As cordas cruzadas foram se tornando o padrão no fim do século XIX, pois permitiam acomodar cordas mais longas, o que significava mais ressonância (som mais forte) para o instrumento. Essa obsessão pela potência sonora (Freud explica?) tem a ver com o uso do piano em salas de concerto cada vez maiores. Por exemplo a principal sala de concertos de Leipzig, o Gewandhaus, tinha 500 lugares em sua primeira versão (1781), em 1842 sua versão reformada já acolhia mil pessoas e em 1884 uma nova sala com o mesmo nome tinha 1700 assentos. Após os bombardeios de 1943, o novo Gewandhaus (1977) tem 1900 lugares. Capacidade parecida com os 1739 assentos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro quando inaugurado (1909) e com as duas mil pessoas que cabem no Concertgebouw (Amsterdam, 1888) e na Salle Pleyel (Paris, 1927).
Mas o programa de hoje não é para essas grandes salas de concerto, e por isso mesmo ele combina tão bem com a sonoridade mais delicada, mais intimista do piano Blüthner de 1867. Estamos falando de música para piano a quatro mãos, que naqueles tempos era uma ótima oportunidade para juntar lado a lado casais, mãe e filha, amigos, enfim qualquer dupla na intimidade do lar. Tanto Beethoven como Brahms têm uma série de obras publicadas para quatro mãos.
A obra-prima inquestionável de Brahms para piano a quatro mãos, já conhecida da maioria dos nossos leitores, é a série de Danças Húngaras publicadas entre 1869 e 1880. A inspiração na música popular coloca uns toques apimentados, umas pitadas de mistério e de inesperado nesse compositor que normalmente é bem mais civilizado e intelectual. As mudanças de andamento e de caráter são constantes. Vejam o que disse a revista Gramophone de março de 2022:
We have to thank Brahms for the idea of the Hungarian dance as a discrete genre. He published two volumes (for piano four hands) in 1869, and two more in 1880. It’s generally assumed that he took the idea from an 1853 concert tour in which he (aged 20) had accompanied Hungarian violinist Ede Reményi as the latter improvised in Hungarian folk style.
Years later, in the Ungärische Tänze, Brahms sincerely believed that he was arranging folk melodies (which is why he never gave them an opus number). In fact, several living composers later claimed authorship, including Reményi himself. Yet the style hongrois had been adding colour (whether original or not) to western European music for decades, for example in Haydn’s Piano Trio Hob XV:25 (1795) and Berlioz’s ‘Marche hongroise’ (1846). Liszt’s first 15 Hungarian rhapsodies (published 1851-53) had given the style a renewed currency, and it fell to 20th-century musicologists to point out that all this ear-tickling exotica was merely an (often flamboyant) imitation of a single, very particular branch of Hungarian popular music: the stylised dances performed by Roma gypsy musicians in Budapest cafes and at aristocratic soirées.
O resto do álbum é um repertório menos conhecido de Brahms: as 18 Liebeslieder-Walzer (Valsas-canções-de-amor) foram publicadas originalmente para piano a quatro mãos e quatro solistas vocais. Entre as poucas gravações, há uma famosa, de 1937-38 com Dinu Lipatti and Nadia Boulanger ao piano e quatro cantores. Provavelmente a pedido de seu editor, Brahms arranjou essas valsas apenas para dois pianistas, sem cantores. E também fez um arranjo orquestral de algumas delas, única versão dessas valsas a ter aparecido aqui no blog. Tanto as valsas quanto as Varições sobre um tema de Robert Schumann, op.23, mostram um Brahms mais sério, com andamentos mais constantes. Especialmente nas variações sobre o tema do compositor recentemente falecido, Brahms se mostra muito reverente e respeitoso, seja por causa da ajuda que Robert Schumann deu para alavancar sua carreira, seja em respeito à viúva Clara Schumann, com quem Brahms teria passado muitas noites… tocando a quatro mãos. E vocês pensando em outra coisa, como se esse blog fosse lugar para espalhar boatos!
Até onde sabemos, trata-se da primeira gravação de Brahms a quatro mãos em um piano do século XIX. Se eu fosse você, baixava correndo por causa das Danças Húngaras, mesmo que incompletas. O resto são figurinhas raras pra completar o álbum.
Johannes Brahms (1833-1897): Música para Piano a Quatro Mãos
1-5. Hungarian Dances, WoO 1, No. 1-5
6-16. Variations on a Theme by Robert Schumann in E-Flat Major, Op. 23
17-34. Liebeslieder-Walzer, Op. 52a, No. 1-18
35-37. Hungarian Dances, WoO 1, No. 8, 11, 13
Wyneke Jordans, Leo van Doeselaar – Blüthner grand piano, Leipzig, circa 1867, stored for years in Berlin, now in the Edwin Beunk Collection (Netherlands)
Brahms compôs a melhor de todas as sinfonias (bem…) entre 1855 e 1876. Em Düsseldorf, nos anos de 1854 e 55 — onde ajudava Clara Schumann com seus sete filhos, enquanto Robert iniciava sua temporada asilo de loucos –, Brahms prometeu em duas ocasiões escrever uma sinfonia. A intenção era a de fazer uma peça gigantesca e grave, na tradição da Grosse Fuge e da Hammerklavier. Esboços do último movimento foram guardados para posterior desenvolvimento. Quando, em 1862, mostrou os resultados para a Clara-já-viúva, ela expressou aprovação, mas criticou seu abrupto término. Nos 12 anos seguintes, Brahms manteve essa música sempre à mão, mexendo aqui e ali. Finalmente, em 1874, ele decidiu finalizá-la, pois Clara e os amigos estavam enchendo demais o saco.
Escreveu o primeiro movimento e, por último, o scherzo e o movimento lento. Se o primeiro movimento parece Beethoven, os movimentos centrais são schubertianos e o final é a maior homenagem que os mestres do barroco da Alemanha já receberam: papai, tio Bux, Froberger e Handel estão ali. E Beethoven, claro. Embora pertença à geração que sucedeu Chopin e Schumann, Brahms tinha profunda admiração pelo barroco. É estranho que, com uma orquestra beethoveniana e tendo o barroco em vista, Brahms tenha alcançado sonoridades de Bruckner nesta sinfonia absolutamente perfeita.
Já postamos várias vezes esta sinfonia, mas nunca por Eugen Jochum. É uma baita versão.
Johannes Brahms (1833-1897): Sinfonia Nº 1 (Jochum)
Symphony No. 1 in C minor, Op. 68 1) I: Un poco sostenuto – Allegro (16:58)
2) II: Andante sostenuto (8:45)
3) III: Un poco allegretto e grazioso (4:45)
4) IV: Adagio – Più andante – Allegro non tropo ma con brio (16:00)
O som e o mundo perderam Radu Lupu no último dia 17, e novamente vejo-me aqui a tentar homenagear, com minha escrita capenga, alguém que era tremendamente mais do que ela. E, se não podemos dizer que a morte nos privou de um artista que ainda teria o que nos legar – pois o Mestre, que não gravava havia décadas, escolhera deixar os palcos há três anos -, eu reconheço que seu desaparecimento frustrou a nesguinha de esperança que eu ainda tinha de ouvi-lo ao vivo. Quem teve esse privilégio – entre eles, muitos de seus colegas de instrumento, que invariavelmente o idolatravam – conta que ninguém, vivo ou morto, se comparava a Lupu.
… que chega bem perto de definir o Mestre que, no entanto, era muito inseguro acerca de suas tremendas capacidades. Ao amigo Kirill Gerstein, afirmou que não era realmente um pianista, mas que sabia “tocar frases musicais”. A um produtor, tascou: “você gosta de boa articulação? Ouça Perahia“! À insegurança, que o fazia odiar estúdios de gravação e a perenidade de seus registros, somava-se um perfeccionismo notório, ainda que mais preocupado com a coerência da narrativa musical do que com a perfeição nota a nota: o mesmo produtor que foi mandado ouvir Perahia afirmou, em sua eulogia, que “suas gravações quase sempre foram sensacionalmente bem recebidas, mas tendo ouvido os takes que ele rejeitou, só posso recomendar que, se você encontrar suas gravações ao vivo, é nelas que você ouvirá o autêntico Lupu”.
(o Mestre, infelizmente, não se deixava gravar ao vivo – a não ser que o desobedecessem, como foi no caso dessa gravação do concerto no. 27 de Amadeus que o Pleyel conseguiu, e que FDP Bach publicou ontem, juntamente com, vejam só, um disco do duo Lupu-Perahia)
Um “pianista dos pianistas”? Provavelmente, a julgar pelos tantos nomes célebres que se apinhavam em seu camarim nos raríssimos recitais, e pela frequência com que sua figura hirsuta e brahmsiana, mas também sorridente e bonachona, aparecia nas redes sociais de outros músicos menos afeitos à reclusão, como vemos acima. E também aos completos diletantes, aos tocadoresdepiano como eu, Lupu soava como nenhum outro: era, mais que músico maiúsculo, um consumado poeta do piano. Se não acreditam em mim, hão de se convencer por este punhado de gravações que ora lhes alcanço, que se juntará ao outro punhado que já existia aqui no PQP Bach, e que não estará muito longe de formar a discografia completa desse gênio tão bissexto aos estúdios. A primeira, com os improvisos de Schubert, foi a que me tornou lupumaníaco para sempre: nunca escutei qualquer gravação que se lhe comparasse. A segunda, com a impressionante sonata que Brahms escreveu aos tenros 20 anos, já tinha sido recomendada até pelo patrão, mas ainda não aparecera aqui. Completo meu tributo a mostrar-lhes outros veios do talento do Mestre: seu camerismo nos quintetos para piano e sopros de Mozart e Beethoven; prestando um acompanhamento de luxo para Barbara Hendricks num belo CD com Lieder de Schubert, que faz par com outro que o chefinho já postara aqui; e como concertista, tocando um Primeiro de Brahms cheio de nuances que, como sói acontecer sob seus dedos, soa igual a nenhum outro.
In memoriam Radu Lupu (Galaţi, Romênia, 30/11/1945 – Lausanne, Suíça, 17/4/2022)
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Improvisos para piano, D. 899 (Op. 90)
1 – No. 1 em Dó menor: Allegro molto moderato
2 – No. 2 em Mi bemol maior: Allegro
3 – No. 3 em Sol bemol maior: Andante
4 – No. 4 em Lá bemol maior: Allegretto
Improvisos para piano, D.935 (Op. 142)
5 – No. 1 em Fá menor: Allegro moderato
6 – No. 2 em Lá bemol maior: Allegretto
7 – No. 3 em Si bemol maior: Tema e variações
8 – No. 4 em Fá menor: Allegro scherzando
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Quinteto em Mi bemol maior para piano e sopros, K. 452
1 – Largo – Allegro moderato
2 – Larghetto
3 – Rondo: Allegretto
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Quinteto em Mi bemol maior para piano e sopros, Op. 16
4 – Grave – Allegro ma non troppo
5 – Andante cantabile
6 – Rondo: Allegro ma non troppo
Han de Vries, oboé George Pieterson, clarinete Vicente Zarzo, trompa Brian Pollard, fagote
De Schwanengesang, D. 957 1 – No. 1: Liebesbotschaft (Rellstab)
2 – No. 2: Ständchen (Rellstab)
3 – Lachen und weinen, D. 777 (Rückert)
De Refrainlieder, D. 866 4 – No. 3: Die Männer sind mechant! (Seidl)
5 – Auf dem Strom, D. 943 (Rellstab)
com Bruno Schneider, trompa
6 – Sehnsucht, D. 879 (Seidl)
7 – An den Mond, D. 193 (Hölty)
8 – Versunken, D. 715 (Goethe)
9 – Der Hirt Auf Dem Felsen, D. 965 (von Chézy/Müller)
com Sabine Meyer, clarinete
10 – Du liebst mich nicht, D. 756 (von Platen-Hallermünde)
11 – Die Liebe hat gelogen, D. 751 (von Platen-Hallermünde)
12 – Die junge Nonne, D. 828 (Jachelutta)
13 – Klaglied, D. 23 (Rochlitz)
14 – Ellen’s Dritter Gesang (Ave Maria), D. 839 (Scott)
De Zwei Szenen aus dem Schauspiel ‘Lacrimas’, D. 857:
15 – No. 1: Delphine (Schütz)
O maestro Marriss Jansons tem uma ampla discografia, sobretudo à frente de duas orquestras renomadas: a do Concertgebouw de Amsterdam e a da Rádio Bávara de Munique. Ambas as orquestras têm, já há alguns anos, seus próprios selos que lançam seus CDs (uma tendência neste século XXI), e por motivos comerciais privilegiaram pesos-pesados do repertório sinfônico sob a regência de Jansons: Sinfonias de Brahms e de Mahler, Balés de Stravinsky, etc.
Nessa coleção de gravações de rádio da Orquestra do Concertgebouw, Brahms, Mahler e Stravinsky também aparecem, mas o que mais me interessa aqui é a presença de outros nomes que mostram a diversidade da música orquestral do século XX: o polonês Lutoslawski, o tcheco Martinů, os franceses Messiaen, Poulenc e Varèse, o russo Prokofiev… Poderíamos desejar também música brasileira, mexicana, um pouco mais dos poloneses… enfim, não se pode ter tudo.
A coleção, aos meus ouvidos, começa muito bem, com uma envolvente interpretação da Sinfonia Fantástica em que se nota a concentração absoluta de toda a orquestra nos pizzicati, tremolos, valsa com harpas, marcha com tutti de metais e outras formas expressivas do genial orquestrador que foi Berlioz. Depois o nível cai em uma La Valse de Ravel quase no piloto automático, com bem menos espírito dançante do que as gravações de Haitink/Concertgebouw ou Munch/Boston. Mas o nível melhora muito com uma interpretação de tirar o fôlego do Concerto para Orquestra de Lutoslawski. Estreado em Varsóvia em 1954 e logo alcançando notoriedade dos dois lados da Cortina de Ferro, esse Concerto encerrou em grande estilo a primeira fase de Lutoslawski como compositor. Nessa fase, ele se inspirava bastante em melodias folclóricas polonesas. Após obras mais curtas, de câmara ou para voz e orquestra, ele resolveu fazer esse Concerto de maior fôlego, antes de se aventurar por caminhos mais vanguardistas. Obviamente está presente o tempo todo a inspiração de Bartók, aliás este último aparece também nessa caixa de Jansons com seu Concerto para Orquestra, de 1943, em uma interpretação sem defeitos, mas menos espetacular que este Bartók aqui e este aqui.
E então chegamos às grandes Sinfonias, com destaque para uma 6ª de Tchaikovsky e uma 7ª de Mahler com a sonoridade marcante do Concertgebouw e a energia das apresentações ao vivo. Há também Strauss, Hindemith, uma obra juvenil e romântica de Webern… um programa com um pouco para cada gosto, como é de bom tom para a temporada anual de uma grande orquestra.
Mariss Jansons / Concertgebouw Orchestra – The Radio Recordings 1990-2014
CD 1:
Hector BERLIOZ
Symphonie fantastique, Op. 14 (1830)
Despojada da maioria dos gostos do final do século 19 e início do século 20, aqui temos uma interpretação clara, nítida e comovente. Sob Harnoncourt, a maravilhosa Royal Concertgebouw Orchestra soa sombria e tempestuosa com um toque da inclinação de menos vibrato aqui e ali. Rudolf Buchbinder e Nikolaus Harnoncourt essencialmente tentam fazer pelas duas obras-primas de Brahms o que Krystian Zimerman conseguiu com tanto sucesso com os dois concertos para piano de Chopin. Eles propõem performances livres de qualquer traço de convenção, nunca dando nada como certo, questionando as partituras e recolocando a música no contexto cultural e biográfico originais. E eles não fazem apenas ajustes: eles encontram respostas. Harnoncourt não muda nada no que Brahms escreveu. Ele apenas dá a cada detalhe, incluindo aqueles geralmente esquecidos, seu devido lugar na trajetória geral da performance. Como especialista em música do Período Clássico – suas sonatas Haydn completas para Teldec ainda estão entre as melhores já gravadas –, Buchbinder se encaixa bem nessa concepção, oferecendo uma execução ao mesmo tempo ousada, bem articulada e dramática, mas sensível ao som e ao equilíbrio. Os andamentos são cuidadosamente escolhidos – espaçosos e tensos nos movimentos externos e relativamente rápidos nos movimentos centrais, para evitar o sentimentalismo excessivo e o risco de tédio. Gostei.
Johannes Brahms (1833-1897): Os Concertos para Piano (Buchbinder / Harnoncourt)
Piano Concerto No.1 In D Minor, D-moll, Op.15
1-1 Maestoso 24:24
1-2 Adagio 13:05
1-3 Rondo: Allegro Non Troppo 12:14
Piano Concerto No.2 In B-Flat Major, B-dur, Op.83
2-1 Allegro Non Troppo 17:49
2-2 Allegro Appassionato 8:57
2-3 Andante 11:41
2-4 Allegretto Grazioso 8:26
Cello – Gregor Horsch (track: 2-3)
Conductor – Nikolaus Harnoncourt
Orchestra – Royal Concertgebouw Orchestra
Piano – Rudolf Buchbinder
Esta foi uma de minhas primeiras postagens, lá em 2008, há quatorze anos. Outros tempos, outra realidade, outra tecnologia. O link para Download foi colocado no falecido Rapidshare, era o que tinhamos naquele momento.
Um usuário encontrou essa pequena delícia chamada “Virtuosi” la naqueles primórdios do PQPBach e pediu para atualizar o link. O CD reune o vibrafonista e o pianista Makoto Ozone, músico totalmente desconhecido para mim naquele momento.
Mas além do CD solicitado trago outro CD desta parceria, que foi lançado em 1995, o CD intitulado ‘Face to Face’, onde a dupla toca alguns clássicos do Jazz, assim como obras do próprio Ozone, Thelonius Monk, Benny Goodman, dentre outros. O texto abaixo é da postagem original.
Outra preciosidade encontrada em meu velho porta cds, dos tempos em que ainda baixava mp3 via Soulseek. Um belo dia digitei Gary Burton, e no meio de um monte de coisas, também excelentes, encontrei essa jóia da coroa de meus cds de Jazz.
O nome dado ao CD, “Virtuosi”, define bem a proposta: o encontro de dois virtuoses em seus respectivos instrumentos. Gary Burton com seu vibrafone, e o até então desconhecido para mim, Makoto Ozone, pianista. Algus poderão torcer o nariz e comentar com desdém “mais um disco do tão famigerado encontro OcidentexOriente”. Mas lamento informar senhores de nariz torcido, de que não se trata de nada disso. O que se ouve aqui neste cd é música ocidental, com arranjos de obras de Ravel até Brahms. E tocadas com uma precisão e correção que beira as raias do absurdo. Ainda com relação a esta mesma precisão, dá-se a impressão de que eles tocam juntos há incontáveis décadas, mas existe aí uma diferença de gerações, porém o jovem Makoto Ozone não se deixa intimidar frente ao gigante Gary Burton, que traz junto de si toda a tradição de outros mestres do instrumento no jazz, como Lionel Hampton ou Milt Jackson.
Apesar de poder soar estranho num primeiro momento, garanto-lhes que o que os senhores irão ouvir é da mais pura beleza. Como comentei acima, existe uma cumplicidade tremenda entre os músicos, dando a nítida impressão de eles tocam juntos há muito tempo.
Boa audição.
Gary Burton & Makoto Ozone – Face to Face
01 – Kato’s Revenge
02 – Monk’s Dream
03 – For Heaven’s Sake
04 – Bento Box
05 – Blue Monk
06 – O Grande Amor
07 – Laura’s Dream
08 – Opus Half
09 – My Romance
10 – Times Like These
11 – Eiderdown
1 – Le tombeau de Couperin, for piano – Prelude – Composed by Maurice Ravel
2 – Excursions (4), for piano, Op. 20 No. 1 – Composed by Samuel Barber
3 – Prelude for piano No.19 in A minor, Op. 32/8 – Composed by Sergey Rachmaninov
4 – Milonga, for guitar – Composed by Jorge Cardoso
5 – Preludes (3) for piano II – Composed by George Gershwin
6 – Sonata for keyboard in E major, K. 20 (L. 375) “Capriccio” – Composed by Domenico Scarlatti
7 – Three Little Oddities, suite for piano Impromptu – Composed by Zez Confrey
8 – Concerto in F, for piano & orchestra Movement III – Composed by George Gershwin
9 – Lakmé, opera Medley: Berceuse / Duettino – Composed by Leo Delibes
10 – Capriccio for piano in B minor, Op. 76/2 – Composed by Johannes Brahms
11 – Something Borrowed, Something Blue – Composed by Makoto Ozone
Bernard Haitink e a Orquestra Sinfônica de Londres sempre tiveram excelente relacionamento. A orquestra sempre foi viva e receptiva às suas demandas, um fator que é sempre melhor avaliado em gravações como esta, que é de uma performance ao vivo. Este concerto foi particularmente bem preparado e ocorreu no Barbican Center, em Londres, em maio de 2003.
Depois de lutar muito para completar sua primeira sinfonia, Brahms a Sinfonia nº 2 com facilidade e a obra transborda com uma beleza descontraída e pastoral. A leitura da Sinfonia nº 2 de Brahms é cheia de luz e Haitink encontra todas as vozes internas às vezes enterradas na espessa escrita orquestral de Brahms. Esta é uma leitura brilhante e alegre, com excelentes respostas de todas as seções em suas porções solo.
A segunda parte desta gravação — na verdade tocada primeiro no CD — é o Concerto Duplo de Brahms, no qual o primeiro violoncelista Tim Hugh e o concertino, o violinista Gordan Nikolitch surgem como competentes solistas. Esta leitura enfatiza a atmosfera das danças húngaras de Brahms. Os solistas enfatizam o sabor cigano raramente ouvido em performances desta composição estranha e talvez insatisfatória, em comparação aos outros concertos de Brahms. O finale é carregado de exaltação e intensidade. Gordan Nikolitch e Tim Hugh são expressivos, nunca vistosos. Eles estão no mesmo nível do que as duplas de estrelas que gravaram o trabalho antes.
Johannes Brahms (1833-1897): Symphony No 2 / Double Concerto (Haitink, LSO, Nikolitch, Hugh)
Curiosamente, Haitink não parece muito exigente nesta gravação. Mas esta música exige tudo de seu regente, na minha opinião. A viagem da Primeira à Quarta Sinfonia de Brahms é do otimismo ao pessimismo, da possibilidade de remodelar o mundo à resignação. Em 1885, com 50 e poucos anos, já um tanto velho para o século XIX, Brahms chegou com uma obra desesperada, perturbadora e surpreendente. O que é surpreendente sobre a realização de Brahms em sua Quarta Sinfonia é que a ferocidade e concentração de expressão são alcançadas não através de uma retórica emocional descabelada, mas através do foco implacável em detalhes musicais supostamente “antiquados”, pois, no final, há uma Passacaglia que é um dos movimentos mais bem construídos já compostos, com 30 variações e uma coda final que você ouve no início nos metais e sopros. A melodia principal é uma expansão de uma Chacona da Cantata 150 de Bach e o uso de Brahms de um método de construção barroco é sua homenagem a uma era da história musical que esta peça simultaneamente honra e leva a uma conclusão trágica.
Johannes Brahms (1833-1897): Sinfonia No. 4 (Haitink, LSO)
Symphony No.4 In E Minor Op.98
1 Allegro Non Troppo 13:22
2 Andante Moderato 11:28
3 Allegro Giocoso 6:16
4 Allegro Energico E Passionato 10:15
Nunca deixo de me admirar com a beleza indescritível destas sonatas, mesmo já as ouvindo há décadas. É como se a cada audição novas camadas vão sendo expostas, que nos apresentam novas perspectivas e possibilidades. Exemplo clássico de uma sonata de Brahms, não temos aqui o piano como mero acompanhante do violoncelo. Ao contrário, ele ajuda no processo de exploração dos temas e como que põe mais lenha na fogueira, ajudando a esquentar ainda mais o que já está fervendo. Confiram a fuga inicial do terceiro movimento do op. 38, uma prova de fogo para os músicos, pois há como uma explosão de emoções reprimidas, outra característica da obra do genial compositor. Ao mesmo tempo em que o nível técnico exigido vai as alturas o nivel de concentração tem de ser absoluto.
Existem excepcionais gravações destas obras, lembro de Rostropovich ao lado de Rudolf Serkin, por exemplo. Mas a nova geração mostra aqui que podem sim nr estas outras possibilidades e perspectivas citadas acima, e o talento imenso do violoncelista Daniel Müller-Schott cumpre essa função com brilhantismo, ao lado do incrível pianista Francesco Piemontesi, outro nome que vem se destacando nos últimos anos. Müller-Schott é um músico tão especial que se deu ao trabalho de adaptar a magnífica Sonata para Violino nº1, op. 78, uma das mais belas obras de Brahms, para o violoncelo. E por incrível que pareça, o fez com tanta propriedade que é difícil acreditar em um primeiro momento que não foi composta originalmente para aquele instrumento.
Costumo dizer que Brahms é para poucos. Não é um compositor fácil de agradar aos seus ouvintes, ele vai no fundo do poço, não deixando pedra sobre pedra. Seus temas ultra românticos são explorados a exaustão com a incrível capacidade que apenas os grandes mestres tem no uso de poucas notas, mas ao mesmo tempo, deixam a responsabilidade para os instrumentistas de mostrar a que vieram. Um músico pouco afeito a emoções, mais técnico que emotivo, digamos, teria uma certa dificuldade de se expor tanto. E se não se expor, lamento informar que ele não entendeu a obra.
1 – Sonata for cello and piano no. 1 in E minor, Op. 38 Allegro Non Troppo
2 – Sonata for cello and piano no.1 in E minor, Op. 38 Allegretto Quasi Menuetto
3 – Sonata for cello and piano no.1 in E minor, Op. 38 Allegro
4 – Sonata for cello and piano in D major, Op. 78 Vivace Ma Non Troppo
5 – Sonata for cello and piano in D major, Op. 78 Adagio
6 – Sonata for cello and piano in D major, Op. 78 Allegro Molto Moderato
7 – Sonata for cello and piano no. 2 in F major, Op. 99 Allegro Vivace
8 – Sonata for cello and piano no. 2 in F major, Op. 99 Adagio Affettuoso
9 – Sonata for cello and piano no. 2 in F major, Op. 99 Allegro Passionato
10 – Sonata for cello and piano no. 2 in F major, Op. 99 Allegro Molto
Daniel Müller-Schott – Cello
Francesco Piemontesi – Piano
Dias atrás, revalidei o link de um CD postado pelo Carlinus com este mesmo concerto. Não creio que alguém vá se incomodar com a repetição da dose, agora com Pollini — meu pianista preferido — e Thielemann. Este concerto de belíssimo e um tanto fantasmagórico primeiro movimento é das absolutas preferências dos membros do PQP. Ao menos é o que parece. Baixe agora porque vale a pena.
Defina arte. Se você puder. O momento exato em que um objeto, um som, uma imagem ou um poema deixam de ser somente um objeto, um som, uma imagem e um poema, para adquirir um status outro. Ou adquirir um significado novo. Mesmo, que você reconheça o objeto, o som, a imagem ou o poema, existe algo que naquele instante modifica esses elementos e traz uma concepção ou um sentimento inesperado.
Ontem, por volta das 5 da tarde, em NY, o Sr. Pollini tentou o suicídio na minha frente. Em pleno Carnegie Hall lotado. E acredite, isso foi inesperado. Pollini tem 68 anos de idade, uma carreira internacional consolidada (que começou aos 18 anos, após vencer o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia) e o status de lenda. Um dos últimos grandes pianistas do século passado ainda em atividade. O Sr. Pollini não precisa provar a ninguém o quão grande ele é (apesar de ser baixinho). Mas, intencionalmente, após um recital de quase duas horas de duração – o terceiro e último de uma série que relembrou os 200 anos da morte de Chopin – o Sr. Pollini tentou o suicídio.
Críticos do pianista não cansam de anunciá-lo como um intérprete seco, rígido e sem emoção. Enganam-se em suas análises. Toda a contenção em Pollini tem um propósito. Toda a contenção em Pollini direciona-se à verdade da escrita musical. Toda energia contida é liberada no momento certo, na proporção exata e isso é arte. Não é possível negar o lirismo nos Noturnos Op.55 ou na Barcarolla Op.60 (e ele não nega). Mas quem mais, nessa faixa de grandeza, pode apresentar uma Berceuse Op.57 tão límpida e plácida? Pollini toca a Berceuse como se estivesse tocando um dos estudos para piano de Ligeti – total independência rítmica e melódica. De fazer a inveja a qualquer um dos pretensos superpianistas chineses atualmente “disponíveis no mercado”.
A última peça do programa foi a última sonata escrita Chopin, Op.58, obra de sua maturidade. Novamente, impressiona a precisão, a clareza e velocidade com que a música flui. Público uivando de felicidade ao fim do concerto, aplaude de pé o pianista. Ele volta ao palco e após três tentativas de escape, engata – como encore – a terceira Balada. Corajoso, diriam muitos. Novamente o público agradece com aplausos e gritos de “bravo”. Parecia já ter terminado, após quase duas horas de música, quando o pianista retorna mais uma vez para agradecer e inspirado, decide se suicidar. Joga-se ao piano sem aviso prévio à audiência, e ataca o temido Estudo Op.10 no.4 – o mais difícil de toda a safra de estudos para piano escrita por Chopin. Poucos o tocam dentro de um programa bem planejado. Ninguém toca algo assim como encore. Só ele. Ao término, sorrindo, agradece à plateia emudecida e o confessa a tentativa de suicídio. É o inesperado que faz a arte. O mundo precisa demais desses loucos pianistas suicidas.
Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Piano Nº 1, Op. 15
1. Piano Concerto No.1 in D minor, Op.15 – 1. Maestoso – Poco più moderato 21:02
2. Piano Concerto No.1 in D minor, Op.15 – 2. Adagio 12:31
3. Piano Concerto No.1 in D minor, Op.15 – 3. Rondo (Allegro non troppo) 11:56
Maurizio Pollini, piano
Staatskapelle-Dresden
Christian Thielemann, conductor
O inesquecível Jascha Heifetz, que completaria hoje 121 anos, adorava jazz. Sua mansão em Beverly Hills recebia músicos de várias vertentes, que frequentemente mergulhavam em jam sessions, e os estudantes para os quais organizava animadas festas em Malibu testemunhavam o mestre improvisar, tanto ao violino quanto ao piano, sobre as canções populares que amava.
Descobrir que o jazz era o xodó de Heifetz me surpreendeu. Afinal, tiete incondicional do gigante desde que o conheci, acostumara-me com seu semblante estoico nas capas de discos, que nada mudava nos tantos filmes em que, para meu assombro, eu o via enfrentar e vencer, impávido, os trechos mais medonhos da literatura violinística. Foi só ao ler suas biografias e, principalmente, assistir aos documentários e aos preciosos registros de suas masterclasses que conheci seu senso de humor, seu rigor cordial para com os alunos e, não menos importante, constatei que ele era um músico extraordinário o bastante para convencer como mau músico, imitando à perfeição um jovem estudante em pânico durante uma prova:
Jascha também foi um contumaz viajante, legando-nos inúmeros mementos que são verdadeiras pérolas do humor involuntário, como essa sua foto duma visita ao México, em que seu tradicional olhar blasé parece nada impressionado com a indumentária local…
… e também um homem corajoso e cidadão muito grato ao país que o acolheu, percorrendo o front europeu a tocar voluntariamente para as tropas aliadas, além de arrecadar, com concertos beneficentes, vultosos valores para os esforços de guerra.
Perenemente acusado por um ou outro crítico de ser um tecnicista frio, indiferente às intenções do compositor, Heifetz é uma deidade de devoção unânime entre seus colegas: dir-se-ia um “violinista dos violinistas”. Ainda assim, mesmo que todos sonhem em tocar como ele, nem tantos acham que devam. Jascha cresceu imbuído das tradições da Velha Escola russa no Conservatório de São Petersburgo, onde foi discípulo de Leopold Auer – aquele mesmo com quem Tchaikovsky se estranhou por conta de seu concerto para violino. Seria inevitável, pois, que seu estilo, moldado por gente do século XIX, pareça-nos um tanto antiquado, a despeito da tanta beleza que tange. Além disso, suas gravações das peças fundamentais do repertório concertístico, normalmente despachadas em velocidade lúbrica, são referências incontestes que poucos violinistas de hoje tentariam imitar: mesmo o próprio ídolo de Heifetz, Fritz Kreisler, após escutar o prodígio de onze anos de idade, afirmou que todos os violinistas presentes no recinto poderiam quebrar seus instrumentos nos joelhos.
Em minha desimportante opinião, será através das pequenas peças que a grandeza de Heifetz rebrilhará aos ouvidos dos séculos vindouros. Esta compilação que ora lhes apresento, com algumas dúzias delas, inclui vários de seus números de bis mais famosos, algumas canções folclóricas e várias composições de George Gershwin, que Jascha muito admirava. Os arranjos, como verão, são quase todos de sua própria lavra e, se privilegiam o timbre inconfundível do mestre e a elegância de seu fraseado, também lhe dão amplas oportunidades para demonstrar seu deleite em tocar, como mais célebre rebento da Velha Escola russa, a música do Novo Mundo em que escolheu viver.
Uma atração em especial para nós, brasileiros, é escutar “Ao Pé da Fogueira”, um dos prelúdios do genial Flausino Valle, aqui abordado por Heifetz numa masterclass.
A grande surpresa, talvez, esteja na última faixa do álbum. Depois de alguns açucarados bombons em que acompanha o cantor Bing Crosby, Heifetz dá-nos a rara oportunidade de escutá-lo ao piano (!), instrumento em que era, por todos os relatos, muito proficiente. Ele toca “When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)”, uma canção que fez sucesso na voz do próprio Crosby, frequentemente pareada com outra, “So Much in Love“. Ainda mais surpreendente é que o autor de ambas, um certo Jim Hoyl, só existia na capa das partituras, pois era tão só o pseudônimo que o próprio Jascha Heifetz (“J.H.”, captaram?) usava para publicar canções populares.
Que a imagem sisuda que dele tiverem liquide-se para sempre, e que a inigualável musicalidade do aniversariante consiga entretê-los tanto quanto espero.
Grato por tanto, Mestre!
In memoriam Iosif Ruvimovich Kheyfets, dito Jascha Heifetz (Vilnius, 2.2.1901 – Los Angeles, 10.12.1987)
Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes
DISCO 1
Samuel GARDNER (1891-1984)
1 – From The Canebrake, Op. 5 no. 1
Arthur Leslie BENJAMIN (1893-1960)
2 – Jamaican Rumba (arranjo de William Primrose)
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
4 – Pièce en Forme de Habanera (arranjo de Georges Catherine)
Clarence CAMERON White (1880-1960)
5 – Levee Dance, Op. 27 No. 2 (baseada em “Go Down, Moses”)
Mario CASTELNUOVO-TEDESCO (1895-1968)
6 – Figaro, Rapsódia de Concerto sobre “Il Barbiere di Siviglia”, de Rossini
Stephen Collins FOSTER (1826-1864)
7 – Jeanie With The Light Brown Hair (arranjo de Heifetz)
Victor August HERBERT (1859-1924)
8 – À la Valse
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
9 – Humoresques, Op. 101 – No. 1 em Sol bemol maior (arranjo de Heifetz)
Folclore irlandês
10 – Gweedore Brae (arranjo de John Crowther)
Stephen FOSTER 11 – Old Folks at Home (arranjo de Heifetz)
Anônimo
12 – Deep River (arranjo de Heifetz)
Leopold GODOWSKY (1870-1938)
13 – Doze Impressões para violino e piano: no. 12, Wienerissh (arranjo de Heifetz)
Jascha Heifetz, violino Milton Kaye, piano
Irving BERLIN (1888-1989)
14 – White Christmas
Jascha Heifetz, violino Salvator Camarata and his Orchestra
George GERSHWIN (1898-1937)
Da ópera “Porgy and Bess” (arranjos de Heifetz)
15 – Summertime
16 – A Woman is a Sometime Thing
17 – My Man’s Gone Now
18 – It Ain’t Necessarily So
19 – Tempo Di Blues (There’s a Boat That’s Leaving Soon for New York)
20 – Bess, You is my Woman Now
Três prelúdios para piano solo (arranjos de Heifetz)
21 – I. Allegro ben ritmato e deciso
22 – II. Andante con moto e poco rubato
23 – III. Allegro ben ritmato e deciso
Jascha Heifetz, violino Emanuel Bay, piano
DISCO 2
Susan Hart DYER (1880-1922)
1 – An Outlandish Suite, para violino e piano: Florida Night Song
Claude DEBUSSY
2 – Children’s Corner L. 115 – 6. Golliwogg’s Cakewalk (arranjo de Heifetz)
3 – Suite Bergamasque L. 75 – 3. Clair de Lune (arranjo de Alexandre Roelens)
Flausino Rodrigues do VALLE (1894-1954)
4 – Vinte e seis prelúdios característicos e concertantes para violino só – no. 15, “Ao Pé da Fogueira” (arranjo de Heifetz)
Julián Antonio Tomás AGUIRRE (1868-1924)
5 – Huella, Op. 49 (arranjo de Heifetz)
Dmitri Dmitrievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 34 (arranjo de Dmitri Tziganov e Quinto Maganini)
6 – No. 10 em Dó sustenido menor
7 – No. 15 em Ré bemol maior
Edwin GRASSE (1884-1954)
8 – Waves At Play (Wellenspiel) (arranjo de Heifetz)
Sergei Sergeieivich PROFOKIEV (1891-1953)
9 – O Amor das Três Laranjas, Op. 33 – Marcha (arranjo de Heifetz)
10 – Suíte do balé “Romeu e Julieta”, para piano, Op. 75 – Máscaras (arranjo de Heifetz)
Robert Russell BENNETT (1894-1981)
Hexapoda (five studies in Jitteroptera), para violino e piano
11 – Gut-Bucket Gus
12 – Jane Shakes Her Hair
13 – Betty and Harold Close Their Eyes
14 – Jim Jives
15 – …Till Dawn Sunday
Kurt Julian WEILL (1900-1950)
16 – Die Dreigroschenoper – Mack The Knife (Moderato assai) (arranjo de Stefan Frenkel)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
17 – Souvenir d’un Lieu Cher, para violino e piano, Op. 42 – no. 3: Mélodie em Mi bemol maior
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
18 – Noturnos para piano, Op. 55 – no. 2 em Mi bemol maior (arranjo de Heifetz)
Christoph Willibald von GLUCK (1717-1784)
19 – Orfeo ed Euridice – Dança dos Espíritos Abençoados (arranjo de Fritz Kreisler)
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
20 – Waldszenen, Op. 82 – no. 7: Vogel als Prophet (arranjo de Heifetz)
Nikolai Andreievich RIMSKY KORSAKOV (1844-1908)
21 – O Galo de Ouro – Hino ao Sol (arranjo de Kreisler)
Alexander Abramovich KREIN (1883-1951)
22 – Dança no. 4 (arranjo de Heifetz)
Johannes BRAHMS (1833-1897)
23 – Danças Húngaras – no. 7 em Lá maior (arranjo de Joseph Joachim)
Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
24 – Le Carnaval Des Animaux – Le Cygne (arranjo de Heifetz)
Querem mais Heifetz? Confiram-no em ação, então, na sua imbatível gravação do concerto de Sibelius (juntamente com o de Glazunov e o segundo de Prokofiev)…
Carlos Kleiber tinha o dom de transformar em ouro tudo o que tocava, tal qual um Rei Midas. Suas gravações, apesar de infelizmente não terem sido tantas, foram, em sua maioria, no mínimo excepcionais. Possuía uma personalidade muito forte, explorava à exaustão os músicos que trabalhavam consigo. Era filho de um importante maestro das primeiras décadas do século XX, Erich Kleiber, com o qual teve um relacionamento muito conturbado, o que, segundo biógrafos, influenciou tremendamente sua maneira de relacionar-se com outras pessoas. Músicos de orquestras famosas, como a própria Filarmônica de Viena contaram que Carlos Kleiber humilhava os músicos nos ensaios, tentando extrair deles o máximo de desempenho. Existem alguns documentários no youtube que valem a pena serem assistidos para os senhores conhecerem melhor esse excepcional maestro. Algumas de suas gravações são antológicas, como seu Beethoven, com a Quinta e Sétima Sinfonias, que já trouxemos aqui, e esta estupenda, histórica gravação da Quarta Sinfonia de Brahms, um dos maiores registros fonográficos do século XX. È para se ouvir de joelhos, diversas vezes.
Johannes Brahms (1833-1897): Symphonie nº 4 – Carlos Kleiber, Wiener Philharmoniker
01 – Brahms – Symphonie No. 4 in E minor, Op. 98 – I. Allegro non troppo
02 – Brahms – Symphonie No. 4 in E minor, Op. 98 – II. Andante moderato
03 – Brahms – Symphonie No. 4 in E minor, Op. 98 – III. Allegro giocoso – Poco meno presto – Tempo I
04 – Brahms – Symphonie No. 4 in E minor, Op. 98 – IV. Allegro energico e passionato – Piu allegro
Qual é o limite entre música de câmara e música orquestral? Uma forma bem simples de decidir a questão é considerar o número de instrumentos usados na apresentação e estabelecer a fronteira – um noneto ainda seria música de câmara? Isso sem falar nas obras escritas para orquestra de câmara e toda a música escrita no período que vagamente denominamos ‘barroco’.
No entanto, há outros aspectos que transcendem o número dos instrumentos e que se refere à natureza da própria música. Quantos são os comentários que tratam das ‘dimensões orquestrais’ de certas sonatas para piano de Beethoven ou das ‘características camerísticas’ de algumas obras orquestrais de Mahler?
Como tudo na vida e em especial na música, a tentativa de rotular e estabelecer compartimentos estanques para colocar as coisas (e, pior ainda, as pessoas) sempre encontrará contraexemplos e deve ser tomado no sentido mais flexível possível.
Dia destes postei um disco com ‘reduções’ de obras orquestrais para conjuntos camerísticos – disco no qual se destacavam os nomes do Quarteto Arditti e de Arnold Schoenberg. O disco desta postagem vai na outra direção, onde temos arranjos para conjuntos maiores de obras originalmente escritas para conjuntos de câmara.
O arranjo de Quarteto Serioso, de Beethoven, feito por Mahler para orquestra (completa) de cordas foi destinado a um concerto com a Wiener Philharmoniker em 1899, a mesma orquestra desta gravação. Mahler fez arranjos e ajustes em obras que ele acreditava poderem atingir desta forma toda a sua potencialidade, levando em conta os recursos de sua magnífica orquestra. Imagine o tamanho do desafio colocado às cordas da orquestra, de manter o equilíbrio de música de câmera e a mesma agilidade esperada de um conjunto com poucos elementos, acrescentando o brilho e o volume possíveis de alcançar com a nova formação. Será que eles conseguiram em 1899 e nesta gravação? Você poderá julgar, pelo menos a segunda possibilidade.
De natureza um pouco diferente é a orquestração feita por Schoenberg do Quarteto com Piano de Brahms. As razões que o levaram a tal empreitada foram dadas por ele mesmo em uma carta escrita ao crítico americano Alfred Frankenstein: 1) Eu gosto desta peça; 2) Ela é raramente apresentada; 3) É sempre muito mal tocada, pois quanto melhor o pianista, mais alto ele toca e você nada ouve das cordas. Eu queria pelo menos uma vez ouvir tudo, e isto foi alcançado.
Apesar do uso de uma orquestra moderna, com muita percussão, incluindo xilofone, e novidades como glissando de trombone, a proposta de Schoenberg foi de ‘permanecer estritamente no estilo de Brahms’. Será que ele conseguiu? O que esta gravação nos diz?
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Quarteto de Cordas em fá menor, Op. 95
Arranjo para Orquestra de Cordas feito por Gustav Mahler (1860 – 1911)
O regente, Christoph Dohnányi, é alemão de origem húngara e nasceu em 1929. É neto do pianista e compositor Ernö Dohnanyi e fez sua carreira passando pelas posições de assistente e diretor nas casas de ópera e balés. Recebeu apoio de George Solti e teve importantes posições como Diretor de Ópera de Hamburgo e Frankfurt. Atuou também por bom tempo com a Cleveland Orchestra, da qual é Music Director Laureate.
Gramophone: Dohnanyi’s performance is lucid, transparent and generally well played – especially by the strings. The sound is pleasingly luminous…
Aproveito a efeméride para repensar minhas motivações para participar do blog. Com minhas postagens pretendo apresentar o tipo de música que me dá prazer, que aprecio e me move. A postagem precisa trazer alguma centelha, precisa de um motivo, que pode até transformar-se em um leitmotiv.
No caso desta postagem, como estamos comemorando os 15 anos do PQP Bach, vamos de valsa – afinal, até as filhas do velho Bach debutam!
Além do tema, é preciso de um disco (ou mais do que um) para fazer a postagem. Como eu adoro música com piano, ele quase sempre está presente… Assim, chegamos aos intérpretes, estes mediadores imprescindíveis para quem, como eu, não pode fazer a própria música. Eu sou avesso às unanimidades, basta que alguém seja por demais venerado para que eu o coloque na geladeira, por uns tempos. Mas, vamos aos discos!
Chopin & Ravel:
Valsas & Valses nobles et sentimentales
Stephen Kovacevich
Valsas de Chopin e Ravel interpretadas por (pasmem!) Kovacevich! Pois é, o cara é uma destas unanimidades, mas costuma ser ouvido por aqui em outro repertório, Beethoven, Schubert, Brahms…
Este disco comprei com relutância (se fossem as Baladas, eu teria saltado sobre ele). O disco foi comprado no tempo em que a expansão da CDteca se dava a altas expensas e os investimentos eram cuidadosamente medidos e estudados. As Valses nobles et sentimentales do Maurice deram o empurrãozinho que faltava e o investimento rendeu muitas horas de prazer, e ainda rende! Nas primeiras semanas lá em casa, o disco não saia da vitrola…
Ouça de olhos fechados. A sequência das Valsas de Chopin que ele adota não é a convencional e a chegada do Ravel é uma transição deliciosa.
Para a próxima entrada, escolhi um disco com música de vários compositores, foco no intérprete!
Yuja Wang: Transformation
Stravinsky, Scarlatti, Brahms e Ravel
Acho fundamental ouvir novos artistas, sem expô-los à malvada comparação com antigos e bem estabelecidos. Manter ouvidos abertos e ter uma perspectiva atual pode render muitas horas agradáveis. É claro que entre os muitíssimos novos intérpretes, multiplicados tanto pelo número de pessoas talentosas que podem se dedicar à música, quanto pelos avanços das tecnologias, que permite que seus trabalhos sejam gravados e mais facilmente divulgados, há vários que fenecem por razões diversas, assim como aqueles que são afetados pela superexposição midiática. Quando as coisas passam do ponto, à lá Lang Lang, eu fico reticente. Mas adoro a Yuja Wang desde criancinha e este disco, um pouco pioneiro nessa onda de marketing de oferecer mais o artista do que o compositor, é ótimo!
As obras de Stravinsky e Brahms são belíssimas e demandam dedos a um tempo tecnicamente virtuosos e sensíveis. Nomes como Alexander Toradze, Maurizio Pollini, Julius Katchen ou Evgeny Kissin vêm à mente. Mas a Yuja Wang é pianista capaz de satisfazer os ouvintes deste time…
As lindas Sonatas de Scarlatti estão aí para revelar todo o talento da moça que também dá um show nos 11 e tantos minutos finais, tocando La Valse de Maurice!
Igor Stravinsky (1882 – 1971)
Petrushka
Danse russe
Chez Pétrouchkha
La Semaine grasse
Domenico Scarlatti (1685 – 1757)
Sonata em mi maior K. 380
Sonata: Andante comodo
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Variações sobre um tema de Paganini em lá menor, Op. 35
Eu também gosto de músicos que vivem um pouco à margem dos holofotes, menos expostos aos clangores das mídias. O próximo disco traz o excelente pianista sueco, Olof Höjer interpretando música de Satie.
Satie (1866 – 1925):
Peças para Piano
Olof Höjer
Temos aqui as peças mais divulgadas de Erik, as Gymnopédies e as Gnossiennes, que não poderiam estar fora de uma antologia. Isto porque Olof Höjer é estudioso dedicado da obra de Satie e gravou todas as suas peças.
Mas eu fico com este resumo e indico a peça que eu mais gosto e que faz a conexão com a postagem de hoje, a valsa Je te veux. Esta é a motivação para que juntar mais este disco ao ramalhete que hoje ofereço à nossa debutante de 15 anos. Ah, eu não consigo ouvi-la uma só vez e insisto para a Alexa, como diria Humphrey, play it again, Sam (Alexa)!
Erik Satie (1866 – 1925)
3 Gymnopédies: I. Lent et douloureux
3 Gymnopédies: II. Lent et triste
3 Gymnopédies: III. Lent et grave
Gnossiennes: I. Lent
Gnossiennes: II. Avec étonnement
Gnossiennes: III. Lent
Gnossiennes: IV. Lent
Gnossiennes: V. Modéré
Gnossiennes: VI. Avec conviction et avec une tristesse rigoureuse
Pièces Froides, No. 1. Airs à faire fuir: I. D’une manière très particulière
Pièces Froides, No. 1. Airs à faire fuir: II. Modestemente
Pièces Froides, No. 1. Airs à faire fuir: III. S’inviter
Pièces Froides, No. 2. Danses de travers: I. En y regardant à deux fois
Pièces Froides, No. 2. Danses de travers: II. Passer
Pièces Froides, No. 2. Danses de travers: III. Encore
Para fechar o cortejo, não poderia faltar um jurássico, pois que sempre que vamos ao museu, visitar os ídolos do passado, encontramos muitos bem caídos e até amarelados, alguns mesmo que ficaram horrendos.
Strauss:
Valsas
Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
Mas há alguns que, como naquele juvenil filme de seção da tarde, retornam a vida sempre que o momento oportuno lhes é concedido. Fritz Reiner é um destes. Figura realmente presa ao passado, do ponto de vista da maneira como lidava com os músicos que trabalhavam com ele, com práticas que hoje seriam consideradas no mínimo inapropriadas e ficaram sepultadas no tempo. E o que retorna à vida são alguns de seus discos. Entre eles essa singularidade com Valsas de Joseph e Johann (II) Strauss.
Não subestime estas peças – há mais nelas do que você pode crer. Olhe-as com os olhos do Fritz. Veja o que disse deste disco o arguto Olivier Le Borgne: “Fritz Reiner leva a sério essa assim chamada música leve; como Brahms ou Schoenberg, que admirava o Strauss de Viena, ele sabe que por trás do sincopado três vezes estão sentimentos nobres, até mesmo profundas ansiedades existenciais.”
Lembre-se que Stanley Kubrick, que sabia tudo de cinema e muito de música, usou uma das peças deste disco em um momento especial de seu grande filme, 2001. Veja, já se passaram vinte anos, quinze dos quais com o PQP Bach encantando nossos seguidores…
Johann Strauss II (1825 – 1899)
Rosen aus dem Süden, Op. 388 (Roses from the South)
Kaiser-Walzer, Op. 437 (Emperor Waltz)
Morgenblätter Walzer, Op. 279 (Morning Papers)
Künstlerleben, Op. 316 (Artists’ Life)
Josef Strauss (1827 – 1870)
Dorfschwalben aus Österreich – waltz, Op. 164 (Village Swallows from Austria)
Johann Strauss II (1825 – 1899)
An der schönen, blauen Donau, Op. 314 (On the Beautiful Blue Danube)
Wiener Blut Waltz, Op. 354 (Vienna Blood)
Schatz-Walzer, Op. 418 (Treasure Waltz)
Josef Strauss (1827 – 1870)
Mein Lebenslauf ist Lieb’ und Lust (My Life is Love and Laughter)
Johann Strauss II (1825 – 1899)
Unter Donner und Blitz, Op. 324 (Thunder and Lightning – Polka)
Sobre o disco do Kovacevich: Only topped by Lipatti & Rubinstein
This is a truly brilliant and splendidly played set of Chopin’s Waltzes, bettered only by those of Lipatti and Rubinstein. However, the sound on this set is much better if that’s your thing. I must admit that until recently the only Kovacevich material I owned was his Beethoven concertos. I have since discovered that he has a wealth of very fine recordings, from Grieg and Schumann’s concertos to the Diabelli Variations (1968) and Beethoven’s sonatas. So, thanks to this disc and the above mentioned, I’ll be checking more into his recordings from the 60’s and 70’s especially. (J. Grant)
Des valses de Chopin ou Ravel qui prennent une dimension grandiose entre les mains de ce pianiste d’exception. A consommer sans modération ! (Megetoile)
Há críticos que discordam… Jed Distler, por exemplo, reclama de certas excentricidades. Bom, é com vocês a decisão. Eu fico com a opinião anterior, pode ser consumido sem qualquer moderação!
Houve um tempo em que grandes pianistas e violinistas andavam sobre a terra e dominavam o planeta! Inclusive, foi nesta época que os pianos tiveram que ser reforçados, ganharam tonalidades mais escuras e os violinos eram venerados e conhecidos por nomes próprios ou apelidos. Era o período que nós, os estudiosos do que ficou registrado nas fitas magnéticas da época, mastertapes, chamamos de Período Jurássico.
Sempre que surge um registro novo, algo que se encontrava esquecido em alguma prateleira de algum estúdio ou arquivo de rádio, segue um reboliço, um frisson, um alvoroço nesta comunidade de paleantapeólogos…
Pois o que vos trago nesta postagem é uma série de registros deste tempo passado, mas jamais esquecido… O denominador comum é o regente, ele também uma versão de regente-jurássico, que por diversas vezes apareceu em nossas páginas, mas quase sempre em gravações comerciais regendo sinfonias… Aqui ele faz o papel de regente acompanhante, na maioria das obras – Günter Wand a frente de duas orquestras de rádios alemãs.
Os solistas, como você pode imaginar, são figuras quase míticas, principalmente pianistas, mas um violinista também, a título de diversidade. Esta conversa toda não deve causar qualquer preocupação entre aqueles que, como eu, ao ouvirem falar de grandes nomes e gravações esquecidas já antecipam chiados e pigarros das plateias, sem contar som encaixotado e tenebroso. Não será necessário colocar colete ou chapéu de antropólogo explorador para se enveredar nos arquivos sonoros, pois que o som é sempre para lá de decente.
Temos quatro concertos para piano, quatro ao todo, iniciando no período clássico e culminando em dois enormes cavalos de batalha.
Nikita Magaloff, conhecido por suas gravações de Chopin, aqui faz as honras a um lindo concerto de Haydn, e Rudolf Firkušný, que conhecemos aqui por outras gravações de concertos clássicos, mais uma vez toca um concerto de Mozart. E um em tonalidade menor…
Para o grande Emperor foi escalado o lendário pianista Emil Gilels, que deixou pelo menos três registros comerciais deste concerto. Acompanhado pela Orquestra de Cleveland regida por George Szell em uma delas e outra acompanhado pela Philarmonia Orchestra, regida por Leopold Ludwig. Mas há ainda uma gravação, esta sim bem datada, com orquestra regida por Kurt Sanderling.
Como para dar um descanso aos seus solistas, Wand rege uma (linda) Serenata de Brahms, que ensaiou bastante antes de escrever sua Primeira Sinfonia.
Avançando com os concertos, temos o mais conhecido dos concertos para piano, se não o mais amado pelos connoisseurs, o Concerto de Tchaikovsky, interpretado pelo virtuose americano de origem cubana, Jorge Bolet. Sparkling!
Outro americano, este violinista de ascendência italiana, Ruggiero Ricci, interpreta um concerto de Camille Saint-Saëns.
Para fechar este cortejo, três lindas aberturas de óperas de Mozart…
Estas gravações foram compiladas de uma caixa na qual havia muitas outras coisas, mas o que eu gostei mais está aqui. Tenho certeza de que cada um entre os leitores poderá encontrar aqui um bom trecho de música para se deliciar e apreciar a arte destes grandes intérpretes. As outras coisas da caixa resolvemos deixar para os outros blogs mais especializados…
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano em ré maior, Hob. XVIII/11
Vivace
Un poco Adagio
Rondo all’Ungarese. Allegro assai
Nikita Magaloff, piano
NDR Sinfonieorchester
Günter Wand
Gravação de 2 de dezembro de 1985, Hamburg Musikhalle
O coro de elogios — alguns deles histéricos — que este CD vem recebendo dá até vontade de destoar, mas tal intenção morre à audição dos primeiros acordes. A argentina Gabetta e a francesa Grimaud fizeram um disco de indiscutível musicalidade, perfeito, irretocável. O repertório ajuda muito, claro, mas leiam abaixo o tom dos elogios:
“Put on your headphones, close the door and soak in these direct-connection performances of Schumann, Brahms, Debussy and Shostakovich by pianist Grimaud and cellist Gabetta. This is terrific.” –Mercury News, September 2012
e assim:
An inspiring, enjoyable, powerhouse meeting between two award-winning highly-individualistic classical music superstars who consider their initial meeting as fateful, not coincidence. Hélène Grimaud (who is called “the earth” in their interview), one of the greatest interpretative classical pianists who experiences sound as colors, and star cello virtuoso Sol Gabetta (“the air”), famed for the nuanced, singing quality of her instrumental interpretations and her highly emotional playing, meld their ‘earth and air’ talents and personae into a marvelous musical duo. It began in 2011 in a joyful, fateful musical encounter that ‘clicked’ immediately. In a wide spectrum of musical tastes, they cover the duo compositions of Robert Schumann, Johannes Brahms, Claude Debussy, and Dmitri Shostakovich, and this diverse program works wonderfully and has toured to great success. All performances are excellent and the ‘best of the best’ begins with the ‘storm to calm’ of the ‘Finale’ of Debussy’s Sonata for Violoncello and Piano in D Minor; the awesome beauty and virtuosity of the spellbinding 12 minute Shostakovich Allegro non troppo from the Sonata for Violoncello and Piano in D minor, Opus 40; the fiery third movement of Schumann’s ‘Drei Fantasiestücke’ (Three Fantasies), Opus 73 and the overpowering beauty of the familiar 14 minute Allegro non troppo and the 6 minute Allegro-Più presto movements of Brahms Sonata for Piano and Violoncello No 1 in E minor, Opus 38. Awesome performances by two great artists who form a dynamic duo of singular musical purpose. My Highest Recommendation! Five OUTSTANDING Stars! Independent, October 2012
Duo, com Sol Gabetta e Helene Grimaud
Drei Fantasiestücke op. 73
Composed By – Robert Schumann
1 I. Zart Und Mit Ausdruck 3:13
2 II. Lebhaft, Leicht 3:13
3 III. Rasch Und Mit Feuer 3:53
Sonata For Piano And Violoncello No. 1 in E minor op. 38
Composed By – Johannes Brahms
4 I. Allegro Non Troppo 14:27
5 II. Allegretto Quasi Minuetto – Trio 5:26
6 III. Allegro – Più Presto 6:22
Sonata For Violoncello And Piano In D Minor
Composed By – Claude Debussy
7 I. Prologue. Lent, Sostenuto E Molto Risoluto 4:36
8 II. Sérénade. Modérément Animé 3:13
9 III. Final. Animé, Léger Et Nerveux 3:40
Sonata For Violoncello And Piano In D Minor Op. 40
Composed By – Dmitri Shostakovich
10 I. Allegro Non Troppo 11:56
11 II. Allegro 2:50
12 III. Largo 8:21
13 IV. Allegro 3:58
Riccardo Chailly já gravou duas integrais das Sinfonias de Johannes Brahms. A primeira, em 1988, ele gravou com a Orquestra do Concertgebouw, de Amsterdam. Em 2013, encarou novamente o desafio, desta vez com a Gewandhausorchester Leipzig, que é a que trago para os senhores hoje.
É difícil escolher qual delas é a melhor, nem sei se vem ao caso discutir isso. São gravações realizadas em dois momentos distintos, vinte e poucos anos de experiência adquirida, maturidade, enfim. O que posso dizer que ambas foram bem recebidas pela crítica.
Também não vem ao caso discutir as obras, de tantas vezes que elas já apareceram por aqui. Já escrevemos várias linhas sobre elas, principalmente sobre a primeira. Procurem ali na lupa postagens lá dos primórdios do PQPBach, ainda antes da virada da primeira década do século.
Riccardo Chailly também dispensa apresentações, é figurinha carimbada por aqui. Lembro que minha primeira postagem com ele foi da incendiária gravação com Martha Argerich do Terceiro Concerto para Piano de Rachmaninov, um primor em todos os seus detalhes.
Sempre digo por aqui que Brahms não deve ser ouvido apenas como música ambiente, música de fundo. Para uma melhor apreciação é necessária uma certa concentração, assim conseguimos distinguir o que há nas entrelinhas. Para o meu gosto, nesta gravação que ora vos trago Chailly acelerou um pouco os tempos, mas isso não atrapalha o conjunto da obra. Vale e muito a audição, principalmente por causa da espetacular orquestra de Leipzig.
Espero que apreciem.
Johannes Brahms (1833-1893): Sinfonias (Chailly, Gewandhausorchester Leipzig)
CD 1
Symphony No. 1 In C Minor, Op. 68
1 I Un Poco Sostenuto, Allegro
2 II Andante Sostenuto
3 III Un Poco Allegretto E Grazioso
4 IV Adagio, Allegro Non Troppo Ma Con Brio
Symphony No. 3 In F Major, Op. 90
5 I Allegro Con Brio
6 II Andante
7 III Poco Allegretto
8 IV Allegro
CD 2
Symphony No. 2 In D Major, Op. 73
1 I Allegro Non Troppo
2 II Adagio Non Troppo
3 III Allegretto Grazioso
4 IV Allegro Con Spirito
Symphony No. 4 In E Minor,
5 I Allegro Non Troppo
6 II Andante Moderato
7 III Allegro Giocoso
8 IV Allegro Energico E Passionato
9 Symphony No. 4 In E Minor, Op. 98: Alternative Opening
CD 3
1 Tragic Overture, Op. 81: Allegro Ma Non Troppo – Molto Più Moderato – Tempo Primo Ma Tranquillo
2 Intermezzo, Op.116 No.4: Adagio
3 Intermezzi, Op.117: Andante Moderato
Variations On A Theme By Joseph Haydn, Op.56a
5 Tema: Chorale St. Antoni. Andante
6 Var.1: Poco Più Animato
7 Var.2: Più Vivace
8 Var.3: Con Moto
9 Var.4: Andante Con Moto
10 Var.5: Vivace
11 Var.6: Vivace
12 Var.7: Grazioso
13 Var.8: Presto Non Troppo
14 Finale: Andante
Cá estou novamente fuçando e esmiuçando a obra de Brahms, este compositor que me é tão caro, que me suscita tantas emoções. Fiz uma brincadeira há alguns anos, postei dois cds com as Sonatas para Violino e deixei a responsabilidade para nossos leitores – ouvintes para tentarem chegar a uma decisão de qual era a melhor gravação. Era um embate peso pesado, Viktoria Mullova x Anne-Sophie Mutter, e nem lembro qual foi o placar, mas o que importa?
Hoje, passados mais de dez anos, retorno a estas sonatas com outros olhos, ou melhor, outros ouvidos. Ainda sou um caçador de discos, e ainda procuro o Santo Graal dentre tantas opções que existem no mercado. Hoje também me sinto mais maduro e sensível, mas trata-se de uma maturidade e sensibilidade diferentes, o peso da idade se faz sentir, se é que consigo me expressar. Nem consigo definir qual destas três sonatas é a minha preferida, mas nem quero definir. Cada uma delas tem seu momento único que me comove. Curioso, a obra de Brahms tem esse efeito sobre mim. Seja em suas sinfonias, ou em seus concertos, sempre estou no aguardo deste momento.
E é exatamente a maturidade de Oscar Shumsky que me atraiu para este CD duplo. Como é a famosa frase? “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”, como já dizia Heráclito há dois mil anos .. é assim que entendo quando um intérprete encara novamente uma determinada obra depois de muito anos. Sua sensibilidade está mais aguçada e isso vai ser fundamental já a partir dos primeiros acordes. Claro que sei que é tudo fruto da experiência, da repetição, da análise, do estudo. A prática leva à perfeição, com o perdão do clichê.
Eu não conhecia Oscar Shumsky até ter acesso ao belo CD em que interpreta as Danças Húngaras de Brahms, que trouxe dia destes. E logo em seguida, tive acesso a este CD em que toca as Sonatas para Violino e para Viola. O violinista norte americano, nascido de pais russos – judeus, já estava com setenta e quatro anos quando gravou este CD, acompanhado pelo pianista Leonid Hambro. E já desde os primeiros momentos podemos sentir que o que estamos ouvindo são os anos de prática e de estudo, aliados a maturidade técnica e artística. Uma curiosidade sobre esse violinista: era também fotógrafo amador, também muito reconhecido por seu trabalho, vindo a se especializar em fotos do mundo microscópico, autodidata, por sinal. Uma personalidade única, com certeza.
Espero que apreciem, como diria nosso querido Carlinus.
Johannes Brahms (1833-1897) – Violin & Viola Sonatas – Oscar Shumsky & Leonid Hambro
CD 1
Violin Sonata No. 1 In G Major, Op. 78
1-1 I Vivace Ma Non Troppo
1-2 II Adagio
1-3 III Allegro Molto Moderato
Violin Sonata No. 2 In A Major, Op. 100
1-4 I Allegro Amabile
1-5 II Andante Tranquillo – Vivace – Andante – Vivace di Più – Andante Vivace
1-6 III Allegretto Grazioso (Quasi Andante)
Violin Sonata No. 3 In D Minor, Op. 108
1-7 I Allegro
1-8 II Adagio
1-9 III Un Poco Presto E Con Sentimento
1-10 IV Presto Agitato
CD 2
Viola Sonata No 1 In F Minor, Op. 120, Op. 120, No 1
2-1 Allegro Appassionato
2-2 Andante Un Poco Adagio
2-3 Allegretto Grazioso
2-4 Vivace
Viola Sonata No 2 In E-Flat Major, Op. 120, No 2
2-5 Allegro Amabile
2-6 Appassionato, Ma Non Troppo-Allegro
2-7 Andante Con Moto
A história da composição destas ‘Danças Húngaras’ é meio nebulosa, desde acusações de plágio até desconfianças sobre como Brahms as compôs se nunca foi até aquele país, nem teve contato direto com sua cultura. Isso remete ao excepcional trabalho de resgate que o colega Vassily Genrikhovich vem fazendo da obra de Bártok, quando trouxe alguns cds da obra etnográfica do genial compositor húngaro, coletada após anos de pesquisa, material que poderíamos chamar de ‘raiz’, afinal, o compositor gravou diretamente dos camponeses húngaros. Mas afinal, como Brahms se inspirou para compor estas danças? Malcolm McDonald assim nos explica:
“(…) essas datam de muito tempo, desde seu encantamento inicial com as melodias ciganas que ficou conhecendo por meio de Reményi. A atração exercida por estas melodias exóticas, com a sua conexão supostamente direta com uma tradição folclórica viva, foi aumentada pela amizade com Joachim – que era húngaro e compositor de pelo menos uma obra extremamente ambiciosa “à maneira húngara”.
(…) Brahms considerava as ‘Danças’ arranjos e, embora algumas das melodias possam de fato ser originais, a maior parte se origina de músicas ciganas populares do tipo czarda, muitas das quais podem ser encontradas em edições húngaras. (…) Brahms, na realidade, foi acusado de certo plágio dessas fontes, embora seja provável que ele tenha anotado a maioria das melodias de ouvido a partir do repertório de Reményi (…).
Ainda baseado em McDonald:
“Tudo isso de lado, as formas e intensificações que Brahms impôs ao seu material preferido são indiscutivelmente suas. As Danças são composições legítimas, mesmo que ele não tenha composto o material básico. (…). Brahms tira o máximo partido da liberdade rítmica, das oportunidades para ritmo cruzado e rubato, do estilo melódico popular e das cadências exoticamente moduladas que o meio de expressão oferecia”.
Ao contrário de outras ocasiões em que trouxe essas obras, hoje às ofereço em três versões : para dois pianos, com as divinas irmãs Labèque, a versão orquestral imortalizada por Claudio Abbado em sua passagem pela Filarmônica de Viena, e uma versão muito especial, nas mãos do excepcional violinista Oscar Shumsky acompanhado por piano. Estas transcrições foram realizadas pelo próprio Joseph Joachim, violinista húngaro muito amigo de Brahms. Até ter acesso a este CD, só conhecia algumas destas danças tocadas neste formato em discos solos de violinistas, nunca em sua íntegra.
A pergunta é: qual a minha versão favorita? Poderia citar a versão para dois pianos imediatamente, pois foi meu primeiro contato com estas obras, e foi o CD que me apresentou as Irmãs Labèque, mas o colorido orquestral da Filarmônica de Viena e a riqueza melódica e rítmica extraída do violino de Shumsky tornam minha decisão mais difícil, por isso prefiro dizer que são as três, cada uma delas traz sua magia. Por isso recomendo as três.
P.S. Citações extraídas de McDonald, Malcolm. Brahms. Tradução Mario e Claudia Martinelli Gama. Jorge Zahar Editor, 1993.
01. Hungarian Dances: No.1 in G minor (Allegro molto)
02. Hungarian Dances: No.2 in D minor (Allegro non assai – Vivace)
03. Hungarian Dances: No.3 in F major (Allegetto)
04. Hungarian Dances: No.4 in F sharp minor (Poco sostenuto – Vivace)
05. Hungarian Dances: No.5 in G minor (Allegro – Vivace)
06. Hungarian Dances: No.6 in D major (Vivace)
07. Hungarian Dances: No.7 in F major (Allegretto – Vivo)
08. Hungarian Dances: No.8 in A minor (Presto)
09. Hungarian Dances: No.9 in E minor (Allegro ma non troppo)
10. Hungarian Dances: No.10 in F major (Presto)
11. Hungarian Dances: No.11 in D minor (Poco Andante)
12. Hungarian Dances: No.12 in D minor (Presto)
13. Hungarian Dances: No.13 in D major (Andantino grazioso – Vivace)
14. Hungarian Dances: No.14 in D minor (Un poco Andante)
15. Hungarian Dances: No.15 in B flat major (Allegretto grazioso)
16. Hungarian Dances: No.16 in F major (Con moto)
17. Hungarian Dances: No.17 in F sharp minor (Andantino – Vivace)
18. Hungarian Dances: No.18 in D major (Molto vivace)
19. Hungarian Dances: No.19 in B minor (Allegretto)
20. Hungarian Dances: No.20 in E minor (Poco Allegretto – Vivace)
21. Hungarian Dances: No.21 in E minor (Vivace)
Katia & Marielle Labèque – Pianos
Orquestra Filarmônica de Viena
Claudio Abbado – Condutor
Oscar Shumsky – Violino
Frank Maus – Piano
Se a década pré-pandêmica de nossa Rainha consolidou práticas das anteriores – raras gravações em estúdio, pouquíssimas aparições solo, prolífico camerismo e generoso incentivo a jovens talentos -, os anos 10 também a viram explorar repertório novo e desempenhar papéis inéditos, alguns ligados a suas raízes bonaerenses, tais como tangueira e Luthier, e outros ainda mais insuspeitos, como acompanhista em Lieder e em cancioneiro iídiche. Notem que essa discografia argerichiana que ora concluímos, e que supomos tão completa quanto a pudemos deixar, não inclui a importante coleção de registros de Marthinha no Festival de Lugano, que nosso colega FDP Bach está a nos trazer aos poucos.
Exceto por uma já tradicional vinda a Buenos Aires na metade do ano, quando dá a seus conterrâneos o privilegiado ar de sua graça, Martha não é lá muito afeita a explorar seu continente. Uma exceção notável foi a turnê por várias capitais do Brasil em 2004, certamente instigada pelo amado amigo Nelson Freire, com quem tocou em duo e autografou um LP do patrão PQP e um CD meu lá em nossa Dogville natal. Outra foi essa breve residência na província de Santa Fe, para a qual foi persuadida por outro amigo, Daniel Rivera, um pianista nascido em Rosario e radicado na Itália há muitas décadas. Cada disco registra a íntegra de uma das noites de Martha no festival, o que explica a repetição de algumas peças. Destaco a interpretação de Scaramouche, cujo movimento Brazileira cita (e, para muitos, plagia) Ernesto Nazareth, marcando, ainda que tangencialmente, uma das muito poucas vezes que a música brasileira passou pelos dedos de nossa deusa (outra delas está aqui). Digna de nota, também, é a substancial participação no repertório de compositores argentinos contemporâneos, especialmente na última noite, na qual a Rainha fez parte dum mui hábil conjunto de tango que incluiu sua primogênita, Lyda, a tocar viola.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Johannes BRAHMS (1833-1897) Variações sobre um tema de Joseph Haydn, para dois pianos, Op. 56b
4 – Thema: Andante
5 – Poco più animato
6 – Più vivace
7 – Con moto
8 – Andante con moto
9 – Vivace
10 – Vivace
11 – Grazioso
12 – Presto non troppo
13 – Finale: Andante
Franz LISZT (1811-1886) Les Préludes, poema sinfônico, S. 97
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
14 – Andante maestoso
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
1 – Adagio – Allegretto – Adagio – Allegro – Adagio – Allegretto
Sergei Vasilyevich RACHMANINOFF (1873-1943) Suíte para dois pianos no. 2 em Dó maior, Op. 17
2 – Introduction
3 – Valse
4 – Romance
5 – Tarantella
Darius MILHAUD (1892-1974) Scaramouche, suíte para dois pianos, Op. 165b 6 – Vif
7 – Modéré
8 – Brazileira
Luis Enríquez BACALOV (1933-2017)
9 – Astoreando, para dois pianos
Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
2 – “Milonga Del Angel”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Aníbal Carmelo TROILO (1914-1975)
3 – “Sur” y “La Última Curda”, para bandoneón
Néstor Eude MARCONI (1942)
e Daniel MARCONI (1970)
4 – “Gris Se Ausencia” y “Robustango”, para bandoneón
Ástor PIAZZOLLA 5 – “Oblivión” del “Concierto Aconcagua” – “Tema de María” – “Verano Porteño” – Cadencia del “Concierto Aconcagua”- “La Muerte del Angel” – “Lo Que Vendrá” – “Decarísimo”, para bandoneón
Néstor MARCONI 6 – “Para El Recorrido”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
7 – “Moda Tango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneón
Ástor PIAZZOLLA
8 – “Libertango”, para piano, viola, contrabaixo e bandoneó
9 – “Tres Minutos Con La Realidad”, para dois pianos, viola, contrabaixo e bandoneón
Néstor Marconi, bandoneón (faixas 3-9)
Enrique Fagone, contrabaixo (faixas 6-9)
Daniel Rivera, piano (faixas 1, 2 e 9)
Gabriele Baldocci, piano (faixa 6)
Martha Argerich (faixas 1, 2, 7-9)
Lyda Chen, viola (faixas 2, 6-9)
Gravado ao vivo em Rosario, Argentina, entre 19 e 25 de outubro de 2012
Se Martha também é María, e Argerich pela família catalã do pai, ela também é Heller por sua mãe Juanita, filha de judeus russos estabelecidos na província de Entre Ríos. E, se não lhes posso afirmar que o iídiche fez parte de sua infância, não tenho muitas dúvidas de que ele ajudou a aproximá-la de Ver bin Ikh! (“Quem sou eu!”), projeto da atriz e cantora Myriam Fuks. Nascida em Tel Aviv e radicada em Bruxelas, Myriam aqui resgata, com sua profunda voz de contralto, diversas canções judaicas centro-europeias, acompanhada dum prodigioso conjunto de amigos, que inclui o demoníaco Roby Lakatos, Mischa e Lily Maisky, o brilhante Evgeny Kissin (que desenvolve uma belíssima carreira paralela na composição e declamação de poemas em iídiche) e, claro, nossa Rainha, a quem cabe a honra de encerrar o álbum com a parte de piano de Der Rebe Menachem (“O Rabino Menahem”).
VER BIN IKH! – MYRIAM FUKS
1 – Vi Ahin Zol Ikh Geyn (S. Korn-Teuer [Igor S. Korntayer]/O. Strokh) Evgeny Kissin, piano
02 – Far Dir Mayne Tayer Hanele/Klezmer Csardas de “Klezmer Karma” (R. Lakatos/M. Fuks) Alissa Margulis, violino Nathan Braude, viola Polina Leschenko, piano
3 – Malkele, Schloimele (J. Rumshinsky) Sarina Cohn, voz Philip Catherine, guitarra Oscar Németh, baixo
4 – Deim Fidele (B. Witler) Lola Fuks, voz Michael Guttman, violino
5 – Yetz Darf Men Leiben (B. Witler) Paul Ambach, voz
Martha sempre teve o costume de acolher, tanto em sua vida pessoal quanto sob as suas protetoras asas artísticas, artistas mais jovens, e um seu modus operandi bem típico nas últimas décadas tem sido o das participações, por óbvio muito especiais, em álbuns de colegas que admira. O pianista russo-alemão Jura Margulis teve o privilégio de ter a Rainha a seu lado para encerrar este volume de suas próprias transcrições para piano, tocando a dois pianos a Noite no Monte Calvo, de Mussorgsky. Eu, que adoro Modest quase tanto quanto amo Marthinha, não só fiquei entusiasmado ao finalmente ouvi-la tocar uma de suas obras, como também passei a sonhar com o dia em que a escutaria a tocar os Quadros de uma Exposição, que certamente ficariam supimpas sob suas mãos. Pode parecer um pedido exagerado a quem já tem oitenta anos e um tremendo repertório, mas não perdi minhas esperanças; muito pelo contrário, eu as vi renovadas quando Martha, em 2020, aprendeu e tocou as partes de piano da maravilhosa Der Hirt auf dem Felsen de Schubert e, para minha maior alegria, de duas das Canções e Danças da Morte de Mussorgsky. Sonhar, enfim, nada custa – ainda.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Matthäus-Passion, BWV 244
1 – Wir setzen uns mit Tränen nieder
Wolfgang Amadeus MOZART Do Requiem em Ré menor, K. 626 2 – Confutatis maledictis
3 – Lacrimosa
Giacomo PUCCINI (1858-1924)
4 – Crisantemi, SC 65
Franz LISZT 5 – Mephisto-Walzer
Robert SCHUMANN De Dichterliebe, Op. 48: 6 – No. 4: Wenn ich in deine Augen seh’
Dmitri SHOSTAKOVICH Da Sinfonia no. 8 em Dó menor, Op. 65 7 – Toccata
8 – Passacaglia
Sayat NOVA (1712-1795)
Transcrição de Arno Babadjanian (1921-1983)
9 – Melodie – Elegie
Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
10 –Noch′ na lysoy gore (“Noite no Monte Calvo”), para dois pianos
Jura Margulis, piano (1-10) e transcrições (exceto faixa 9)
Martha Argerich, piano II (faixa 10)
“Noite no Monte Calvo” gravada em Lugano, Suíça, junho de 2014
Uma overdose de genialidade portenha, e praticamente um esculacho de Buenos Aires para com cidades menos dotadas de talentos (i.e., quase todas as outras), foi aquela noite de agosto de 2014 em que Les Luthiers encontraram Daniel Barenboim e Martha Argerich no sacrossanto palco do Teatro Colón. Depois da habitual dose de obras do imerecidamente obscuro Johann Sebastian Mastropiero, o genial quinteto juntou-se a Barenboim para narrar A História do Soldado de Stravinsky, e os seis se somariam a Martha para o Carnaval dos Animais de Saint-Saëns. Nem o vídeo, nem o áudio do memorável encontro foram lançados comercialmente – o que nos obriga a nos contentarmos com o ensaio geral, feito na manhã do concerto, com a plateia repleta de fãs que não tinham conseguido ingressos para a noite:
Martha e Daniel voltariam a se encontrar no Colón no ano seguinte, sem Les Luthiers, para um programa de formato mais familiar a eles. À rara audição dos estudos canônicos de Schumann no arranjo improvável de Debussy, eles fizeram seguir uma obra do próprio Claude-Achille e a irresistível sonata com percussão de Bartók: repertório incomum e – em que pese a ausência de J. S. Mastropiero – nada menos que tremendo.
Robert SCHUMANN Seis estudos em forma canônica, para piano, Op. 56
Transcrição para dois pianos de Claude Debussy (1862-1918)
1 -Nicht zu schnell
2 – Mit innigem Ausdruck
3 – Andantino
4 – Innig
5 – Nicht zu schnell
6 -Adagio
Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918) En Blanc et Noir, suíte para dois pianos, L. 134
7 – Avec Emportement (À Mon Ami A. Koussevitzky)
8 – Lent. Sombre (Au Lieutenant Jacques Charlot Tué a l’ennemi en 1915, le 3 Mars)
9 – Scherzando (À Mon Ami Igor Stravinsky)
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata para dois pianos e percussão, Sz. 110
10 – Assai lento – Allegro molto
11 – Lento, ma non troppo
12 – Allegro non troppo
Daniel Barenboim, piano II
Lev Loftus e Pedro Manuel Torrejón González, percussão (faixas 10-12)
Gravado ao vivo em Buenos Aires, Argentina, agosto de 2015
Dezoito anos depois de sua primeira gravação juntos, Martha e Itzhak Perlman reecontraram-se em Paris para novas sessões em estúdio – as primeiras de Martha na década para o repertório de concerto. Às Fantasiestücke de Schumann e a sonata no. 4 de Bach, eles somaram a fatia brahmsiana da sonata F-A-E, completando o álbum com uma sonata de Schumann gravada em 1998 e ainda mantida inédita por falta de pareamento.
“Trabalhar com Martha”, disse Itzhak, “foi uma experiência única para mim… seu brilho e as cores que ela usa quando toca são reconhecíveis tão longo você as escuta – é ela, ninguém mais soa assim… Estou muito feliz com que pudemos de fato gravar novamente… quando surgiu a possibilidade de que ela tivesse um punhado de dias livres para gravar eu disse ‘eu irei a qualquer lugar!!!'”. A julgar pela cumplicidade com que tocaram e pelo olhar curioso de Martha para o bonachão Itzhak na capa do álbum, tenho certeza de que a viagem valeu a pena.
Robert SCHUMANN
Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105 1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Fantasiestücke, para violino e piano, Op. 73 4 – Zart und mit Ausdruck
5 – Lebhaft, leicht
6 – Rasch und mit Feuer
Johannes BRAHMS Scherzo para violino e piano, WoO 2 (da sonata “F-A-E”, composta em colaboração com Robert Schumann e Albert Dietrich)
7 – Allegro
Johann Sebastian BACH Sonata para violino e teclado no. 4 em Dó menor, BWV 1017
8 – Siciliano. Largo
9 – Allegro
10 – Adagio
11 – Allegro
Itzhak Perlman, violino
Gravado em Saratoga, Estados Unidos, julho de 1998 (1-3) e Paris, França, março de 2016 (4-11)
Ainda que a gravação anterior de Martha para o Carnaval dos Animais – aquela com Gidon Kremer – seja mais famosa, eu prefiro essa, com Antonio Pappano no duplo papel de pianista e regente e Annie, filha de Martha com Charles Dutoit, a narrar. Se aquela com Les Luthiers é melhor que essa, jamais saberemos enquanto os detentores da preciosa gravação no Colón não a trouxerem a público. O que sabemos é que Johann Sebastian Mastropiero é um compositor muitíssimo superior a Saint-Saëns e que, por isso, nossa Rainha deveria tocá-lo mais. Fica a dica, Marthinha.
Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique 5 – Introduction et Marche Royale du Lion
6 – Poules et Coqs
7 – Hémiones
8 – Tortues
9 – L’Éléphant
10 – Kangourous
11 – Aquarium
12 – Personnages à Longues Oreilles
13 – Le Coucou au Fond des Bois
14 – Volière
15 – Pianistes
16 – Fossiles
17 – Le Cygne
18 – Finale
Annie Dutoit, narração
Gabriele Geminiani, violoncelo
Libero Lanzilotta, contrabaixo
Antonio Pappano, piano II e regência
Enquanto se desligava aos poucos do festival centrado sobre si em Lugano, Martha passou a visitar Hamburgo com cada vez mais frequência, até ver um novo festival em torno de si, realizado no mês de junho na soberba Laeiszhalle daquela cidade em que mais chove em toda Alemanha. Este Rendez-vous with Martha Argerich é o tributo fonográfico do impressionante programa do festival em 2018, reunindo um elenco cheio de figuras estelares da galáxia da Rainha – incluindo algumas literalmente familiares, como suas filhas Lyda e Annie e o ex-companheiro Kovacevich. Gosto de todos os discos, repletos que são do elã característico de Marthinha, mesmo quando ela não está de fato a tocar. Meu xodó, no entanto, é o último, com um delicioso Carnaval dos Animais narrado por Annie e uma não menos saborosa seleção de repertório ibérico e latino-americano que se encerra com uma versão tanguera de Eine kleine Nachtmusik que certamente faria Amadeus gargalhar em dois por quatro.
Claude DEBUSSY De Nocturnes, L. 91 1 – Fêtes (arranjo para dois pianos de Maurice Ravel)
Anton Gerzenberg, piano II
Sonata em Sol menor para violino e piano, L. 140 2 – Allegro vivo
3 – Intermède. Fantasque et léger
4 – Finale. Très animé
Géza Hosszu-Legocky, violino Evgeni Bozhanov, piano
5 – Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
(arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Stephen Kovacevich, piano I
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, L. 135
6 – Prologue: Lent, sostenuto e molto risoluto
7 – Sérénade: Modérément animé
8 – Finale: Animé, léger et nerveux
Mischa Maisky, violoncelo
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) 9 – La Valse, poème choreographique (arranjo para dois pianos do próprio compositor)
Nicholas Angelich, piano II
Sonata em Ré menor para violino e violoncelo, M. 73
10 – Allegro
11 – Très vif
12 – Lent
13 – Vif, avec entrain
Alexandra Conunova, violino Edgar Moreau, violoncelo
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sinfonia no. 1 em Ré maior, Op. 25, “Clássica”
Transcrição para dois pianos de Rikuya Terashima
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Gavotta: Non troppo allegro
4 – Finale: Molto vivace
Evgeni Bozhanov e Akane Sakai, pianos
5 – Abertura sobre temas hebraicos, para piano, clarinete, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 34
Pablo Barragán, clarinete Akiko Suwanai e Alexandra Conunova, violinos Lyda Chen, viola Edgar Moreau, violoncelo
Suíte de Cinderella (Zolushka), balé em três atos, Op. 87
Arranjo para dois pianos de Mikhail Vasilyevich Pletnev (1957)
6 – Introduction: Andante dolce
7 – Querelle: Allegretto
8 – L’Hiver: Adagio – Allegro moderato
9 – Le Printemps: Vivace con brio – Moderato – Presto
10 – Valse de Cendrillon: Andante – Allegretto – Poco più animato – Più animato – Meno mosso
Akane Sakai eAlexander Mogilevsky, pianos
11 – Gavotte: Allegretto
12 – Gallop: Presto – Andantino – Presto
13 – Valse Lente: Adagio – Poco più animato – Assai più mosso – Poco più animato – Meno mosso (più animato dell’adagio
14 – Finale: Allegro moderato – Allegro espressivo – Presto – Allegro moderato – Andante
Evgeni Bozhanov e Kasparas Uinskas, pianos
Sonata em Dó maior para dois violinos, Op. 56 15 – Andante cantabile
16 – Allegro
17 – Commodo (quasi allegretto)
18 – Allegro con brio
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975) Concerto em Dó menor para piano, trompete e orquestra de cordas, Op. 35
1 – Allegro moderato – attacca:
2 – Lento – attacca:
3 – Moderato – attacca:
4 – Allegro con brio
Sergei Nakariakov, trompete
Symphoniker Hamburg
Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Mi menor, Op. 67
5 – Andante – Moderato – Poco più mosso
6 – Allegro con brio
7 – Largo
8 – Allegretto – Adagio
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Zoltán KODÁLY (1882-1967) Duo para violino e violoncelo, Op. 7 9 – Allegro serioso, non troppo
10 – Adagio – Andante 11 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento – Presto
Guy Braunstein, violino
Alisa Weilerstein, violoncelo
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Trio para violino, violoncelo e piano no. 1 em Ré menor, Op. 49 (transcrição para flauta, violoncelo e piano)
1 – Molto allegro ed agitato
2 – Andante con moto tranquillo
3 – Scherzo
4 – Finale
Johannes BRAHMS
Sonata para piano e violino no. 2 em Lá maior, Op. 100 1 – Allegro amabile
2 – Andante tranquillo — Vivace — Andante — Vivace di più — Andante — Vivace
3 – Allegretto grazioso (quasi andante)
Akiko Suwanai, violino Nicholas Angelich, piano
Sergey RACHMANINOV
Sonata em Sol menor para violoncelo e piano, Op. 19 4 – Lento. Allegro moderato
5 – Allegro scherzando
6 – Andante
7 – Allegro mosso
Camille SAINT-SAËNS 1-30 – Le Carnaval des Animaux, Grande Fantaisie Zoologique
Annie Dutoit, narração Jing Zhao, violoncelo Lilya Zilberstein e Martha Argerich, pianos
Symphoniker Hamburg Ion Marin, regência
Ernesto Sixto de la Asunción LECUONA Casado (1895-1963) Quatro danças cubanas, para piano
31 – A la antigua
32 – Al fin te ví
33 – No hables más!
34 – En tres por cuatro
Três danças afro-cubanas, para piano 35 – La Conga de Medianoche
36 – La Comparsa
37 – Danza de los Ñañigos
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Arranjo de Mauricio Vallina (1970)
Da Suíte España, Op. 165 38 – No. 2: Tango
Ángel Gregorio VILLOLDO Arroyo (1861- 1919)
Arranjo de Lea Petra
39 – El Choclo
Mauricio Vallina, piano
Eduardo Oscar ROVIRA (1925- 1980)
40 – A Evaristo Carriego
Ástor PIAZZOLLA 41 – Triunfal
42 – Adiós Nonino
Wolfgang Amadeus MOZART 43 – Musiquita Noturna (arranjo do Allegro da Eine Kleine Nachtmusik, K. 525)
Jing Zhao, violoncelo (faixa 40)
The Guttman Tango Quartet:
Michael Guttman, violino
Lysandre Denoso, bandoneón
Chloe Pfeiffer, piano
Ariel Eberstein, contrabaixo
Entre os protegidos de Martha Argerich, o sul-coreano Dong Hyek Lim é um dos meus favoritos: não são muitos os jovens pianistas que conseguem, na falta de melhor definição, dizer a música sem firulas egocêntricas, nem aparentar qualquer esforço, mesmo nas passagens mais cabeludas do repertório. Aqui ele doma o monstruoso Rach 2 com um som apropriadamente grande e muita precisão, para depois encarar as Danças Sinfônicas de Sergey em companhia de Sua Majestade, que lhe concede o privilégio da especialíssima participação em seu álbum: uma moral e tanto para o pibe.
Sergey RACHMANINOV Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18 1 – Moderato
2 – Adagio sostenuto – Più animato – Tempo I
3 -Allegro scherzando
Dong Hyek Lim, piano
BBC Symphony Orchestra
Alexander Vedernikov
Gravado em Londres, Reino Unido, setembro de 2018
Danças sinfônicas para orquestra, Op. 45
Transcrição para dois pianos do próprio compositor
4 – Non allegro
5 – Andante con moto
6 – Lento assai – Allegro vivace – Lento assai. Come prima – Allegro vivace
Mais um Rendez-vous com Martha em Hamburgo, desta vez em 2019, com resultados muito bons, ainda que tão entusiasmantes quanto os do ano anterior. Jamais escreveria isso num tom de queixume, mas a Rainha legou-nos tantas interpretações memoráveis que as revisitas aos itens de seu repertório despertam comparações com as legendárias versões anteriores, num curioso efeito colateral dos setenta anos de carreira e duma magnífica discografia. Refiro-me, principalmente, à gravação do concerto de Tchaikovsky, em que ela brilha como sempre, mas a Sinfônica de Hamburgo não tanto quanto a Royal Philharmonic sob a mesma batuta de Charles Dutoit, décadas antes. E teria havido, enfim, menos elã no notável elenco de intérpretes do que no ano anterior, ou estarei eu tão só blasé depois de tanto escutar gravações antológicas de Marthinha para lhes apresentar sua discografia integral? Só vocês me poderão dizer.
Felix MENDELSSOHN Trio para piano, violino e violoncelo no. 2 em Dó menor, Op. 66
1 – Allegro energico e con fuoco
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo
4 – Finale. Allegro appassionato
Renaud Capuçon, violino
Edgar Moreau, violoncelo
Johannes BRAHMS
Sonata para violino e piano no. 1 em Sol maior, Op. 78 5 – Vivace ma non troppo
6 – Adagio
7 – Allegro molto moderato
Wolfgang Amadeus MOZART
Andante e variações em Sol maior para piano a quatro mãos, K. 501 1 – Thema – Variationen I-V
Stephen Kovacevich e Martha Argerich, piano
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer” 2 – Adagio sostenuto — Presto
3 – Andante con variazioni
4 – Finale. Presto
Tedi Papavrami, violino
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828) Fantasia em Fá menor para piano a quatro mãos, D. 940 5 – Allegro molto moderato
6 – Largo
7 – Scherzo. Allegro vivace
8 – Finale. Allegro molto moderato
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Si bemol menor, Op. 23 1 – Allegro non troppo e molto maestoso
2 – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
3 – Allegro con fuoco
Symphoniker Hamburg
Charles Dutoit, regência
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971) Les Noces, Cenas Coreográficas com Música e Vozes
4 – La tresse
5 – Chez le Marié
6 – Le Départ de la Mariée
7 – Le Repas de Noces
Nicholas Angelich, Gabriele Baldocci, Alexander Mogilevsky e Stepan Simonian, pianos
Europa Choir Akademie Görlitz
Charles Dutoit, regência
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757) Sonatas (Esercizi) para teclado: 1 – K. 495 em Mi maior
2 – K. 20 em Mi maior
3 – K. 109 em Lá menor
4 – K. 128 em Si bemol menor
5 – K. 55 em Sol maior
6 – K. 32 em Ré menor
7 – K. 455 em Sol maior
Evgeni Bozhanov, piano
Johann Sebastian BACH Concerto em Lá menor para quatro pianos e orquestra de cordas, BWV 1065 8 – Allegro
9 – Largo
10 – Allegro
Martha Argerich, Dong Hyek Lim, Sophie Pacini e Mauricio Vallina, pianos
Symphoniker Hamburg
Adrian Iliescu, regência
Robert SCHUMANN
Kinderszenen, para piano, Op. 15 11 – Von fremden Ländern und Menschen
12 – Kuriose Geschichte
13 – Hasche-Mann
14 – Bittendes Kind
15 – Glückes genug
16 – Wichtige Begebenheit
17 – Träumerei
18 – Am Kamin
19 – Ritter vom Steckenpferd
20 – Fast zu ernst
21 – Fürchtenmachen
22 – Kind im Einschlummern
23 – Der Dichter spricht
Martha Argerich, piano
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849) Introdução e Polonaise Brilhante em Dó maior, para violoncelo e piano, Op. 3
24 – Largo – Alla polacca
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, K. 381 1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegro molto
Martha Argerich e Akane Sakai, piano
Claude DEBUSSY
Petite Suite, para piano a quatro mãos, L. 65 4 – En bateau
5 – Cortège
6 – Menuet
7 – Ballet
Sergei Babayan e Evgeni Bozhanov, piano
Enrique GRANADOS Campiña (1862-1916)
Transcrição para violino e piano de Fritz Kreisler (1875-1962)
Das Doze danças espanholas, Op. 37 8 – No. 5: Andaluza
Friedrich “Fritz” KREISLER (1875-1962)
9 – Schön Rosmarin
Géza Hosszu-Legocky, violino
Sergei Babayan, piano
Francis Jean Marcel POULENC (1899-1963) Sonata para dois pianos, FP 165
10 – Prologue
11 – Allegro molto
12 – Andante lyrico
13 – Epilogue
Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
14 – Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
Karin Lechner e Sergio Tiempo, pianos
Sergey RACHMANINOV
Das Seis peças para piano a quatro mãos, Op. 11 15 – No. 4: Valsa
A gravação mais recente de Martha, já sob a égide da Covid-19, foi feita em duo com a pianista grega Theodosia Ntokou, outra de suas muito queridas protegidas. A escolha de uma transcrição da sinfonia “Pastoral” de Beethoven só não é mais curiosa do que a própria versão escolhida: em lugar da mais famosa e autoritativa, feita por Carl Czerny, aluno do próprio renano, elas escolheram o obscuro arranjo do ainda mais obscuro Selmar Bagge. A “Pastoral” foi-me uma grata surpresa, assim como lhes será a bonita leitura que Ntokou entrega da sonata “Tempestade”, depois de se despedir da Rainha. E, já que estamos a falar de despedidas, despeço-me eu aqui por terminar de oferecer-lhes, ao longo de oito capítulos e incontáveis adiamentos, a discografia completa da maior pianista de nosso tempo, num tributo aos seus oitenta anos que, concluído já no caminho de seus oitenta e dois, deseja-lhe a saúde e o fogo de sempre para oferecer ao público que tanto a ama o estupor com que ela o nutre há mais de sete décadas.
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Transcrição para dois pianos de Selmar Bagge (1823-1896)
1 – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande. Allegro ma non troppo
2 – Szene am Bach. Andante molto moto
3 – Lustiges Zusammensein der Landleute. Allegro
4 – Gewitter. Sturm. Allegro
5 – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm. Allegretto
Theodosia Ntokou, piano II
Gravado em Lugano, Suíça, julho de 2020
Das Três sonatas para piano, Op. 31: No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
6 – Largo
7 – Adagio
8 – Allegretto