Richard Wagner (1813-1883) -Tristão e Isolda – Heger / Böhm / Kleiber / Rattle

A dupla FDPBach / Ammiratore orgulhosamente apresenta mais uma postagem em parceria, e de uma das mais belas óperas já compostas, “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner(1813-1883).

Poucas obras me impressionaram tanto em uma primeira audição quanto a abertura de “Tristão und Isolda”, uma das peças mais dramáticas, doloridas e belas já escritas na História da Música. Tive uma relação bem pessoal com essa ópera, foi a obra que me acompanhou em algumas ressacas por amor não correspondido. Quem nunca sofreu por um amor não correspondido? Ainda mais naquela fase confusa de nossas vidas chamada Adolescência.

Os anos passaram, a idade chegou, junto com os primeiros cabelos brancos, mas o impacto da obra continua o mesmo. Definitivamente, é uma obra atemporal.

Ammiratore, com seu incrível arsenal discográfico (confessou que tem dezessete gravações dessa ópera) escolheu a dedo quais iria postar. Dei minhas sugestões, sempre lembrando dos medalhões wagnerianos, aquelas gravações jurássicas, como René Denon as caracteriza. Dada a complexidade da discussão, na qual se discute qual é a melhor Isolda ou o melhor Tristão, se Furtwangler é superior a Karajan, se a gravação ao vivo em Bayreuth é mais impactante do que em estúdio, enfim, são tantas as variáveis que optamos em trazer várias opções, seguindo estas mesmas possibilidades.  Na verdade, este vem sendo o mote destas postagens wagnerianas, oferecer várias possibilidades de interpretação. Deixamos a cargo dos senhores escolher qual a que mais lhes satisfaz.

Esta ópera que é uma das mais belas realizações deste gênero é um marco dentro da história da música ocidental. Wagner criou um drama onde expõe de maneira simbólica os temas da própria criação humana: amor e morte, corpo e alma, determinismo e vontade – todos os contrários estão ai reunidos. A aspiração à morte libertadora, o culto à noite e a dissolução das almas na essência do universo. É uma obra com pouca movimentação cênica. Musicalmente é uma partitura de intenso lirismo e expressividade poética e é a mais ousada harmonicamente. A partir desta ópera o estilo de Wagner torna-se nitidamente contrapontístico, os temas se superpondo e se fundindo. “Tristan und Isolde” foi o divisor de águas entre a antiga e a nova harmonia, ao mesmo tempo, a porta de entrada para a atonalidade do século XX.

O casal Ludwig e Malwine Schnorr von Carolsfel em 1865

Baseando-se em uma antiga lenda medieval celta, escrita por Gottfried de Strasburgo no século XIII, o compositor criou o poema e musicou a ópera em praticamente três anos, a estreia da obra deu-se no Teatro da Corte de Munique, a 10 de junho de 1865 (a exatos 155 anos) com Hans von Bülow à frente da orquestra. Os primeiros Tristan e Isolda foram Ludwig Schnorr von Carolsfeld e sua esposa Malwine. Três semanas após a última apresentação da ópera, Ludwig morreu em Dresden. Muitos sentiram que a tensão do papel matou o cantor.

Depois de Lohengrin, ainda no exílio, entre 1851 e 1853, Wagner redigiu os libretos das quatro óperas que constituiriam a grandiosa tetralogia O Anel dos Nibelungos (Der Ring des Nibelungen), com base na mitologia germano-escandinava: O Ouro do Reno (Das Rheingdd), A Valqulria (Die Walküre), Siegfried e o Crepúsculo dos Deuses (Gotterdümmerung) . Nos anos seguintes, Wagner se ocuparia da elaboração da partitura das primeiras óperas que formam o ciclo do Anel, interrompendo esse trabalho em 1857, pois fervilhava em sua cabeça a música de “Tristan und Isolde”. Aliás, de 1854 até o final dessa década, Wagner viveria um período de grande agitação, tanto no plano intelectual e artístico – a descoberta da filosofia de Schopenhauer e das inovações harmônicas de Liszt – quanto no plano profissional, apresentando-se como regente em muitos concertos. No plano afetivo, por sua vez, Wagner iniciara, em 1853, um relacionamento com Mathilde Wesendonk, esposa de seu amigo e protetor Otto Wesendonk. Ao contrário da lenda, o envolvimento dele com Mathilde – mulher bela, sensível, culta e inteligente – não determinou a criação da partitura de “Tristan und Isolde”. Apenas funcionou como fonte de inspiração para o músico, dando-lhe forças para realizar seu trabalho criador. Wagner iniciou a elaboração de “Tristão und Isolda” em 1857, época em que fixou residência numa pequena casa construída especialmente para ele e Minna por Otto Wesendonk. Situada ao lado da mansão dos Wesendonk, em Zurique, era chamada carinhosamente de “refúgio” por Wagner. Ali compôs o primeiro ato de “Tristan” e musicou cinco poemas de autoria de Mathilde, peças que ficariam conhecidas sob a denominação de Wesendonk Lieder e que, musicalmente pertencem ao universo sonoro da ópera.

Dom Pedro II

Durante estes difíceis tempos de exílio e perseguição política, quando o dinheiro era escasso e o incentivo para continuar apenas como compositor era difícil, muito antes de o rei Ludwig se apressar em seu socorro e, finalmente, assumir a responsabilidade financeira, o compositor também teve o apoio de outros membros da realeza na Europa e no Novo Mundo. Vocês sabiam que o Pedro II, sim o Imperador do Brasil, era um entusiasta ávido por Wagner e um amante da música? Dom Pedro escreveu uma carta a Wagner manifestando seu interesse por ele escrever uma ópera para a Companhia Italiana no Rio de Janeiro. A oferta estipulava que Wagner poderia pedir qualquer quantia que ele desejasse. Dom Pedro ofereceu a ele uma suíte em seu palácio quando foi exilado da Baviera, e em um apelo manuscrito levou o compositor a terminar “Tristan und Isolde”. Dom Pedro o convidou para vir ao Brasil para estrear o novo trabalho. A oferta era tentadora, mas Wagner previa que os cantores de ópera italianos que atuavam por aqui em terras Tupiniquins apresentassem de forma incorreta o tipo de drama musical que ele estava prestes a escrever. Ele recusou a oferta. No entanto, as aberturas amigáveis de Dom Pedro moldaram sua resolução de trabalhar seriamente em “Tristan und Isolde”. O rei Ludwig, é claro, acabou financiando a estreia no Teatro da Corte Real de Munique. A orquestra era tão grande que alguns dos assentos na frente do teatro tiveram que ser removidos para acomodar todos os músicos.

Ludwig II

Na nossa despretenciosa tentativa de meros blogueiros ser metidos a psicólogos, ao tentarmos descrever, dramaticamente, a paixão intensa entre Tristão e Isolda e o modo de como os amantes do drama só conseguiram realizar-se no amor através da morte, percebemos que Wagner mostra sua própria versão para as ideias de Schopenhauer. Não sendo puramente físico, o amor seria uma forma de ir além da existência sensível, além da vontade de viver. Pelo amor e pela morte da existência individual, o claro e o escuro, Tristão e Isolda encontrariam a pacificação da vontade. Eles negam um mundo em que o amor que sentem um pelo outro não pode ser realizado, negam as condições de um mundo que inviabiliza a paixão entre os dois. Emancipando-se desse mundo, eles dão um passo além da vida, superam a própria vida e se unem, com a dispersão de suas identidades, em uma realidade superior. Está claro que existe um amor físico entre Tristão e Isolda, no entanto, não haveria efetivamente uma oposição excludente entre sensualidade e espiritualidade. Tristão e Isolda não se libertam dos sentidos de uma forma castradora, o que acontece é uma transfiguração do amor físico, uma espécie de sublimação da sensualidade.

Alguns Causos
A edição de 5 de julho de 1865 do “Allgemeine musikalische Zeitung” relatou: “ Sem mencionar as palavras, é a glorificação do prazer sensual, é o materialismo incessante, segundo o qual os seres humanos não têm um destino mais elevado do que desaparecer em odores doces, como uma respiração…. (Wagner) faz da própria sensualidade o verdadeiro sujeito de seu drama … Pensamos que a apresentação do poema “Tristan und Isolde” no palco representa um ato de indecência. Wagner não nos mostra a vida de heróis das sagas nórdicas que edificariam e fortaleceriam o espírito de seu público. O que ele apresenta é a ruína da vida dos heróis através da sensualidade. A paixão é profana em si mesma e sua representação é impura, e por essas razões nos alegramos em acreditar que tais obras não se tornarão populares. Se eles o fizeram, estamos certos de que sua tendência seria maliciosa e, portanto, há motivos para felicitar o fato de a música de Wagner, apesar de toda a sua habilidade e poder maravilhosos, repele um número maior de pessoas do que as que ele fascina.”

Conta-se que horrorizados com o erotismo, os homens na estreia da ópera retiraram suas esposas do teatro, e um padre foi visto se benzendo antes de se retirar apressadamente da apresentação, coisa de louco meu, bah.

O maestro Bruno Walter ouviu seu primeiro “Tristan und Isolde” em 1889 quando estudante e relatou: “Então, lá estava eu sentado na galeria mais alta da Ópera de Berlim no auge dos meus 13 anos, e desde o primeiro som dos violoncelos meu coração contraiu-se espasmodicamente … Nunca antes minha alma foi inundada por tanta paixão, nunca meu coração foi consumido por tal desejo e felicidade sublime … Uma nova época havia começado: Wagner era meu deus, e eu queria me tornar seu profeta.” Parece que conseguiu né ?

O Enredo
Lugar: a bordo de um navio, Cornualha e Bretanha
Época: período medieval

Como descrito acima Wagner completou a partitura em 1859, mas seis anos transcorreram antes que essa grande obra-prima tivesse sua estreia. Após repetidos adiamentos, foi levada à cena sob a batuta do brilhante maestro, Hans von Bülow, diante do jovem Rei Ludwig II da Baviera, o protetor de Wagner, e de uma plateia de personalidades notáveis. Embora as avançadas ideias musicais de “Tristão” ficassem fora do alcance do público, que a ouviu pela primeira vez, e dos causos contados, a ópera foi entusiasticamente aplaudida. Representou antes um artístico triunfo do que um sucesso popular.

A belíssima introdução que todos os amantes da música conhecem mostra, de forma eloquente, diversos motivos musicais da ópera. Começa com os temas da confissão do amor e do desejo, depois constrói o motivo da magia do olhar. Aumentando de intensidade, a música apresenta os motivos do filtro do amor, da poção da morte e do cofre mágico até o motivo simbolizando o desejo dos amantes pela libertação através da morte. O primeiro tema é novamente entrelaçado quando a música constrói um tremendo clímax, após o qual desce até um meditativo restabelecimento do motivo do amor-sofrimento-desejo.

O desenvolvimento dos atos foram baseados no livro “As mais belas óperas do Milton Cross” e os trechos da tradução do poema foram retirados do incrível site “agrandeopera”.

Ato 01
O convés do navio, no qual Tristão está trazendo Isolda da Irlanda para ser a noiva de seu tio, o Rei Marke da Cornualha. Vemos um pavilhão real erguido perto da proa do navio. Está decorado com luxuosas tapeçarias e fechado ao fundo. A um lado há um leito, onde Isolda, com 16 ou 17 anos, está reclinada. Seu rosto exprime raiva e desespero. Ela irá casar-se com o rei Marke, numa solução, após guerra, de pacificação entre os dois países. Na verdade, nessa viagem, ela é mais uma prisioneira. Brangäne, de pé perto da abertura da cortina, está olhando para o mar.

Do posto de vigia do mastro vem a voz de um marinheiro entoando uma marcante cantiga acerca de uma jovem irlandesa que ele deixou para atrás. As palavras soam aos ouvidos de Isolda como um escárnio, e ela se ergue do leito com uma exclamação de enfado por causa daquele suposto insulto. Impaciente, ela pergunta a Brangäne quanto falta para chegarem. Quando a dama de companhia responde que o navio atracará na Cornualha à noite, Isolda se entrega a amargas reflexões. Ela, descendente de poderosas feiticeiras que podem comandar os elementos, tem de se contentar em preparar poções mágicas para curar seu mais cruel inimigo. Num assomo de raiva, ela invoca os ventos e as ondas para destruir o navio, e todos que estão nele. Também ela deixou uma paixão, e agora é obrigada a aceitar um casamento imposto. Brangäne, muito abatida, tenta acalmar a fúria de sua senhora. Isolda exclama que está ficando sufocada, e ordena a Brangäne que abra as cortinas.

IsoldaRaça degenerada! Indigna de seus antepassados! Aonde, mamãe, deixaste teu poder de dominar o mar e a tempestade? O’arte doméstica da magia, que somente bebidas balsâmicas ainda fabrica! Desperta de novo em mim o audacioso poder; emerge-o do meu peito, onde ele se esconde!. Ouvi meus desejos, hesitantes ventos! Apareçam para o conflito e bramem a tempestade! Às furiosas tormentas, um raivoso redemoinho! Levantem do sono este mar sonhador. Despertem do abismo sua ânsia trovejante. Mostrem-lhe a presa que eu ofereço. Destruam este arrojado navio, e deixem as ondas devorá-lo em fragmentos despedaçados. E tudo que vive, suspira e respira a bordo, ventos, eu vos dou como recompensa!
Brangäne Oh, desgraça! Ah! Ah! Aí tens o mal que eu pressenti, Isolda! Senhora! Caro coração! Que me tens ocultado por tanto tempo? Por teu pai e tua mãe, tu não derramaste uma lágrima. Quase não deste um adeus àqueles que abandonaste. Tu te separaste da Pátria, fria e muda; tu, sempre pálida e silenciosa, durante a travessia; sem dormir, sem tomar alimento, embirrada e infeliz, rude e inquieta. Como tenho de suportar ver-te assim; não ser mais nada para ti; comportar-me perante ti como uma estranha! Oh, dize-me agora, qual é o teu problema? Dize, abre-te comigo, o que te atormenta? Ama Isolda, graciosa e querida! Se Brangäne pode se considerar digna de ti, abra- te com ela!
Isolda – Ar! Ar! O coração me sufoca. Abre! Abre tudo lá!

Uma grande parte do convés principal torna-se visível agora. Marinheiros estão entregues às suas tarefas; homens armados estão sentados por toda parte. Entregue a seus pensamentos, Tristão está afastado, olhando para o mar. Kurvenal está sentado perto dele. A voz invisível é ouvida outra vez, entoando sua cantilena com seu característico motivo marinho. Isolda fixa os olhos em Tristão, desdenhosamente notando que aquele fabuloso herói, que tem apenas a morte no coração, perde a coragem diante dela. O sombrio motivo da morte parece ameaçar suas palavras. Ela pede a Brangäne que informe a Tristão que deseja vê-lo, e que isso é uma ordem, não um pedido.

Com o motivo do mar soando em um ritmo forte e marcante na orquestra, Brangane temerosamente se aproxima de Tristão, que sai de seu devaneio por uma palavra de advertência de Kurvenal. Brangane dá-lhe o recado. Cortesmente, Tristão responde que, quando o navio ancorar, ele terá orgulho de ter cumprido sua tarefa e entregará Isolda ao Rei Marke. Acrescenta que, naquele momento, não pode deixar o leme. Asperamente, Kurvenal interrompe para observar que o cavalheiro Tristão não é um homem que possa receber ordens de uma mulher. Entoa um insolente refrão ( “Herr Morold zogzu Meere her ” ) , no qual, sarcasticamente, relata como Morold, o senhor irlandês que ia desposar Isolda, tentou cobrar tributo na Cornualha. Por causa desses desmandos, o bravo Tristão cortou-lhe a cabeça e mandou-a para a Irlanda, especificamente para Isolda. Os marinheiros repetem alegremente o refrão.

Kurwenal Que diga isto à senhora Isolda! Aquele que dá a herança da Inglaterra e da Coroa da Cornualha à filha da Irlanda, não pode ser o vassalo da nobre donzela, pois que ele a deu, ele mesmo, ao seu tio. Um Senhor do Mundo, Tristão, o herói! Eu o proclamo: diga isto, mesmo que se ressintam com minhas palavras, até mil senhoras Isoldas! “Senhor Morold atravesse o mar até aqui e venha recolher tributo da Cornualha; uma ilhazinha flutua sobre o mar deserto, é aquela lá que dorme agora em terra, mas vossa cabeça remanesceu enforcada no país da Irlanda, como tributo pago pelo país dos Ingleses. Hei! Nosso herói Tristão, como podes pagar ainda tributo!

Raivosamente, Brangäne sai, enquanto Tristão tenta acalmar seu escudeiro. Fechando as cortinas atrás de si, Brangäne volta a entrar no pavilhão, relatando a Isolda a recusa de Tristão e o insulto de Kurvenal. Em fúria, Isolda lembra os fatídicos acontecimentos na Irlanda. Tristão, gravemente ferido na luta com Morold, foi à Irlanda para ser tratado pelas artes mágicas de Isolda. Ele se intitulou Tantris, mas Isolda logo descobriu sua verdadeira identidade. Ela notou que um pedaço fora perdido no fio da espada de Tristão, e que um fragmento do aço, tirado da cabeça de Morold, se encaixava exatamente na lâmina da espada. Assim, Isolda tirou a espada da mão do ferido Tristão, resolvida a matá-lo como vingança. Mas o cavalheiro olhou-a nos olhos, tirando-lhe a determinação de matar. Mesmo sabendo que estava em suas mãos eliminá-lo, não o fez porque, em verdade, já começara a se apaixonar por ele. Isolda restituiu a saúde do cavalheiro e mandou-o de volta para a Cornualha. Curado, Tristão confessou-se eternamente grato, e, lacônico, procurou não deixar escapar uma só palavra de simpatia, ternura e muito menos amor por Isolda, muito embora a apreciasse. Esse grande herói pagou o carinho dela, prossegue Isolda sardônica, voltando para levá-la como noiva para seu velho tio, o Rei Marke. Furiosa, Isolda reprova a si mesma por ter demonstrado piedade por Tristão.

IsoldaEu entendi tudo; nenhuma palavra dele me escapou. Tu percebeste a minha vergonha, então ouve, agora, o que tem valor. Como eles riem e cantam suas canções para mim, eu poderei também lhes falar de um pequeno escaler, sem valor e necessitado, que vagueava nas costas da Irlanda. Ele lá tinha dentro, consumido pela enfermidade, um desafortunado em vias de morrer. A arte de Isolda foi dele conhecida; com unguentos e bálsamos, ela tratou com cuidado fielmente a ferida. Por precaução, ele usou de astúcia fazendo-se passar por Tantris, mas Isolda logo reconheceu que ele era Tristão, porque, na espada do enfermo, ela descobriu uma fenda, onde exatamente se ajustava um estilhaço que sua hábil mão havia achado há pouco na cabeça do cavaleiro da Irlanda, que ele lhe tinha enviado por desprezo. Um grito surgiu do mais profundo do meu ser. Empunhando a espada, na claridade, eu me armei diante dele, para nele vingar, nele o insolente, a morte do senhor Morold. De seu leito ele olhava tão-só para mim, não para a espada, não para a mão que a brandia no ar – ele me olhava ternamente nos olhos. Sua aflição me deu piedade e compaixão; a espada eu a deixei cair! A ferida que Morold havia feito, eu a curei, que ele são e saudável pode retomar para casa – e não fui mais atormentada pelo seu olhar!
BrangäneO prodígio! Onde estavam meus olhos? O hóspede, a quem uma vez eu ajudei a tratar?
Isolda – Tu acabas de ouvir sua louvação: “Ei, nosso herói Tristão” – Era esse homem, agora desapiedado. Ele me fez mil juramentos de reconhecimento e fidelidade eterna! Escuta agora como um herói tem palavra! O Tantris que eu deixei partir, sem querer o reconheço sob o nome de Tristão. Revejo-o aqui insolentemente, sobre um arrogante navio de alto bordo, ele demandando em casamento a herdeira da Irlanda para o rei cansado da Cornualha, para Marke, seu tio. Tivesse Morold vivido, teria ele ousado nos infligir tamanha afronta? Maquinar a coroa da Irlanda para um tributário, o príncipe da Cornualha! Oh, miséria para mim! Sou eu mesma que do fundo do coração sou atirada a esse ultraje. A espada vingadora, ao invés de a brandir e estocar, sem força, eu a deixei cair. E agora sirvo ao vassalo!

Brangäne tenta acalmar e consolar Isolda, dizendo que, como noiva do Rei Marke, será depois Rainha de um vasto reino. Isolda trai seus verdadeiros sentimentos quando fala do tormento de viver perto de Tristão um amor sem recompensa. A leal, mas ingénua Brangäne, percebendo que Isolda está preocupada com o sucesso de seu casamento, logo lhe assegura que os filtros mágicos feitos pela mãe de Isolda certamente trarão a felicidade conjugal.

BrangäneQuando a paz, a reconciliação e a amizade são juradas para todos, cada um se regozija nesse dia; como eu poderia saber que tudo isso te levaria ao pesar?
IsoldaÓ olhos cegos! Ó coração fraco! Mansa coragem, silêncio desalentado! Como outra pessoa Tristão se vangloria do que eu tinha ocultado! Aquela que em silêncio lhe havia dado a vida, que por seu silêncio o havia livrado da vingança do inimigo, este mutismo que o havia protegido por sua saúde, ele o sacrificou, e a ela agora paga esse preço. Arrogante de sua vitória, curado, magnífico, com voz clara e alta ele me descreveu: “Ela será um tesouro, meu tio e senhor. Que podeis melhor esperar para vossa esposa? A beleza irlandesa, eu vos trarei; atalhos e caminhos me são bem conhecidos; um sinal e eu corro velozmente à Irlanda. Isolda, ela vos pertencerá. A mim essa aventura sorri!” Maldito sejas tu, infame! Maldita seja tua cabeça! Vingança! Morte! Morte para nós dois!

Isolda, obcecada por pensamentos de vingança e morte, ordena a Brangäne que traga o cofre contendo os preparados de sua mãe. Ela pega o frasco de veneno e diz a Brangäne que é a única poção mágica que deseja. A ama fica apavorada. Enquanto isso, ouve-se um forte barulho no convés quando os marujos preparam o navio para atracar. Kurvenal irrompe no pavilhão, dizendo a Isolda que seu senhor pede-lhe que se apronte para saudar o Rei Marke. Friamente, Isolda retruca que, antes de Tristão levá-la ao Rei, deverá primeiro pedir desculpas pela sua conduta deplorável. Asperamente, Kurvenal promete informar Tristão a respeito.

Em grande desespero, Isolda pensa em suicídio. Fervorosamente, ela abraça Brangäne, para em súbita resolução, e depois ordena a Brangäne que prepare a taça de veneno. Diz que Tristão beberá com ela a bebida da morte. Quando Brangäne tenta dissuadi-la, Isolda responde com um terrível sarcasmo. Na verdade, diz ela, sua mãe lhe deixou úteis beberagens. Uma, mais do que todas, vai livrá-la de seu pior sofrimento: a poção da morte. Com crescente intensidade, Isolda canta o motivo da morte. Quando ela ordena a Brangäne que prepare a bebida, entra Kurvenal a fim de anunciar Tristão.

Isolda Poupa-me tu mesma, serva infiel! Não conheces a arte de minha mãe? Pensas tu que ela, que so pesa tudo com sabedoria, me enviou contigo à terra estrangeira sem me dar conselho? Para a dor e feridas, ela me deu os bálsamos; para os venenos malignos, os contravenenos; para a mais profunda dor, para o mais profundo sofrimento, ela me deu o filtro da morte. Que com a morte, agora, lhe rendamos graças!

O motivo de Tristão soa na orquestra. Calmamente, o cavalheiro entra no pavilhão, saudando Isolda com as palavras “Nobre dama, o que deseja?” . Em resposta, Isolda observa rudemente que o nobre Tristão evidentemente esqueceu as principais regras da cavalaria: reparar os erros cometidos e perdoar seus inimigos. Lembra-lhe que o sangue derramado entre eles ainda não foi detido. Furiosamente, condena-o por seu leviano assassínio de Morold, e jura que ela ainda se vingará.

TristãoEm campo aberto, na presença de todo o povo, um juramento de esquecimento e de paz entre nossos países foi celebrado!
IsoldaEssa celebração, particularmente, não ocorreu entre nós, quando eu ocultei Tantris, e Tristão rendeu-se a mim. Lá ele se portou como um cavalheiro, sublime e coerente; mas, aquilo que ele jurou a mim, eu não o jurei: eu simplesmente aprendi a guardar silêncio. Quando ele ficou doente naquele tranquilo quarto, muda, com a espada à mão, eu me postei diante dele: eu segurei minha língua, eu retive minha mão… embora um dia com mão e boca eu tenha jurado em silêncio de o ter. E agora eu vejo a hora de por termo ao meu juramento.
TristãoQue juramento, Senhora?
IsoldaDe vingança por Morold!

Com grande dignidade, Tristão lhe oferece sua espada. Em gélido desdém, Isolda observa que o Rei Marke dificilmente receberia como noiva a assassina de seu mais caro cavalheiro. Então, fingindo esquecer pensamentos de vingança, pede a Tristão para beber a taça da paz com ela. O coro dos marinheiros quebra a atmosfera da cena. Com um gesto de impaciência, Isolda ordena a Brangäne que lhe traga a bebida. Suavemente, Tristão expressa seu pressentimento sobre o destino que espreita ambos naquela taça. Ele logo compreende que, na bebida, há veneno; com firme resolução, a aceita. Brangäne, naturalmente sem que Isolda o soubesse, em vez do filtro da morte pusera no vinho o filtro do amor. Isolda oferece-lhe a taça, dizendo sarcasticamente que Tristão agora poderá dizer a seu senhor que bebeu a taça da amizade com sua bela noiva, que lhe salvou a vida. Confuso e chocado, Tristão nervosamente grita uma ordem para os marinheiros, depois pega a taça. Com uma vibrante frase de desespero e resignação, ele bebe. Isolda espera um momento, depois arrebata-lhe a taça das mãos, bebe, e a atira longe. Ambos ficam parados como em êxtase, enquanto o tema de amor começa sussurrante na orquestra. Com a música crescendo em intensidade, olham um para o outro como enfeitiçados. Com gritos apaixonados, correm um para os braços do outro. De outra parte do navio vem um coro de marinheiros aclamando o Rei Marke. Brangäne, observando os enamorados, lamenta sua terrível astúcia de substituir a poção da morte pelo filtro d o amor. Esquecidos de tudo, Isolda e Tristão confessam seu amor um pelo outro.

Tristão Isolda!
IsoldaTristão!
TristãoA mais doce das mulheres!
Isolda O mais querido dos homens!
AmbosComo nossos corações se excitam e fervem! Como todos os nossos sentidos estremecem de felicidade! Floração desabrochada do desejo do amor, ardor delicioso da languidez do amor. Desejo ardente jorrante do coração! Isolda! Tristão! Arrebatai o mundo todo aqui para mim! Eu não tenho consciência de mais nada, só de ti, suprema volúpia do amor!

Enquanto todos os homens a bordo aclamam o Rei Marke em um poderoso coro, Tristão continua inexplicavelmente olhando para as margens. Rapidamente, Brangäne coloca o manto real sobre os ombros de Isolda. Em súbito terror, Isolda lhe pergunta: “Ah ! Qual foi a poção?“. Quando Brangäne responde que foi a poção do amor, Tristão e Isolda gritam em uma mistura de êxtase e desespero.

Ato 02

O jardim do palácio do Rei Marke na Cornualha. A breve introdução e dominada pelo agitado tema da preocupação. É noite. Uma tocha brilha na entrada dos aposentos de lsolda, fora de um balcão ao fundo. Vê-se ao lado uma floresta escura, com grandes árvores no parque do castelo do rei. As trompas de caça do Rei Marke soam a distância. Brangane olha apreensiva para a floresta, depois se volta para a porta de entrada. lsolda entra agitada. Perdida de paixão, ela canta sua impaciência por estar nos braços de Tristão. Brangane, cheia de remorso e medo por causa de seu ato, em vão tenta trazer lsolda a razão. Adverte que Melot, cavaleiro do rei, embora passando por amigo, esta planejando alguma traição, e que aquela caçada é parte de seu plano diabólico, pois descobriu que a caçada não passa de um pretexto, arquitetado por Melot, apaixonado por Isolda, para surpreender Tristão em infidelidade ao Rei com a rainha. Mas lsolda ri de seus temores, e ordena-lhe que apague a tocha como um sinal de que Tristão está se aproximando. Quando Brangäne protesta, lamentando amargamente a troca da poção do amor, lsolda canta que foi o destino quem reuniu ela e Tristão. Impetuosamente, ela atira a tocha no chão, enquanto o tema da preocupação percorre a orquestra. Brangäne, perturbada e inquieta, sobe os degraus de uma torre, onde ficará de vigia, e avisara os amantes da volta do Rei Marke e seus caçadores.

BrangäneSe o filtro pérfido de Mina (Frau Minne, personificação do amor na poesia germânica) extinguiu a luz de tua razão, se não podes compreender minhas advertências, escuta hoje, ao menos, minha súplica. Não apagues nesta noite, tão somente nesta noite, a tocha salvadora, a luz que ilumina o perigo.
IsoldaA que inflama o fogo em meu peito, que abrasa meu coração e me sorri como a aurora que espera a alma; Senhora Mina quer que venha a noite para resplandecer ali, onde tu luz a afugentas… e tu a vigias! Vigia-a em alerta! A tocha – assim foi a luz de minha vida – não temeria extingui-la rindo!

lsolda olha arrebatada para as muralhas, e agita esperançosa seu lenço, enquanto o motivo do lenço simbólico acompanha seus movimentos. A música cresce selvagemente quando ela vê Tristão e o aponta em arrebatada excitação. Nesse ponto de clímax, entra Tristão. Eles se abraçam em grande êxtase e cantam, em tons exultantes, o milagre de seu amor. O arrebatamento de suas declarações apaixonadas gradualmente decresce. Lentamente, Tristão leva lsolda para um suave declive de relva. Olhando um nos olhos do outro, cantam o magnifico dueto de amor.

IsoldaMas o dia, afugentado, se vingou, conjurando-te com tuas próprias culpas: o que te revelara assim a noite crepuscular, tiveste que entregá-lo ao astro do dia, para que sob seu poder real vivesses solitário e reluzente, com ermo esplendor. Ah, como pude suportá-lo! Como pude todavia conformar-me?
TristãoOh, estávamos, pois, consagrados à noite! O pérfido dia, sempre invejoso, podia separar-nos com seus ardis, porém já não logrará enganar- nos com sua falácia. De seu vão fulgor, de seus altivos resplendores, defrauda- se a olhadela que se consagrou à noite. Seus fugitivos raios de luz tremelicantes já não podem cegar nossos olhos. Para quem ama a noite da morte, e recebe em confidência seu profundo mistério, se esfumam as mentiras do dia, a glória e a honra, a riqueza e o poder, deslumbrantes como o pó fugaz de um raio de sol. Entre M2 0 as vãs quimeras do dia, só prevalece um desejo: a aspiração à sagrada noite, em que sorri a verdade eterna e única, o êxtase do amor. Ó noite de arrebatamento que desce sobre nós, noite de amor.
IsoldaO noite de encantamento que desce sobre nós, noite de amor,
TristãoDá-me o esquecimento para poder viver.
IsoldaDá-me o esquecimento para poder viver.
TristãoAcolhe-me em teu seio.
IsoldaAcolhe-me em teu seio.
TristãoLiberta-me do mundo!
IsoldaLiberta-me do mundo!
TristãoJá se extinguiram os últimos fulgores;
IsoldaEnquanto pensávamos, enquanto sonhávamos,
TristãoTudo de nossas saudades,
IsoldaTudo de nossas imagens,
AmbosPressentimento sublime do sagrado crepúsculo, anseio da ilusão, tu apagas o horror da loucura e nos libertas do mundo.
IsoldaSe o sol se obscureceu em nossas almas, agora luzem sorridentes as estrelas do deleite.
TristãoDocemente enlaçados pelo seu encanto, transfigurados diante de seus olhos.
IsoldaMeu coração no teu coração, minha boca na tua boca…

São interrompidos pela voz de advertência de Brangäne, vem da torre (“Solitária velo na noite! Vós outros, para quem sorri o sonho do amor, prestai ouvido à voz que pressagia a desdita dos adormecidos, e temerosa exorto-vos a despertar. Tende cuidado! Tende cuidado! Atenção! Alerta! Logo, logo, evade-se a noite!“). Outra vez ela avisa, e mais uma vez em vão. Tristão e Isolda prosseguem seu dueto. Na intensidade de sua paixão, gritam pela morte, de modo que possam ficar unidos para sempre, fora do alcance do mundo. A noite é de encantamento, propícia ao par de amantes, que maldizem o dia, quando não podem aparecer juntos.

IsoldaDeixa que a morte vença o dia!
Tristão Arrostaremos as ameaças do dia?
IsoldaEvitar para sempre sua mensagem.
TristãoSem que nunca nos angustie sua aurora?
IsoldaEnvolva-nos a noite por toda a eternidade!
Tristão segura Isolda, abraçando-a com exaltação enquanto cantam em êxtaseOh, doce noite! Eterna noite! Augusta e sublime noite de amor! Aquele a quem tu amparas e para quem sorris, como poderia despertar sem angústia fora de ti? Morte propícia, dissipa inquietudes e temores! Oh, morte de amor, ardentemente desejada! Recebemos o teu abraço, entregues a ti, ao calor do teu sagrado sono, redimidos das misérias do despertar. Como alcançá-lo? Poderíamos renunciar a tal delícia? Longe do sol, longe do lamento que geme no dia! Suave aspiração sem quimeras vacilantes, doce anseio sem angústia, sublime morrer sem agonia, benignas trevas sem enfraquecimento! Sem separação nem fuga, íntima solidão na morada eterna! Sobre-humanos sonhos através do infinito espaço! Tu, Isolda; eu, Tristão! Já não somos Tristão nem Isolda! Sem nomes que nos separem! Uma nova essência! Uma nova chama ardente!… Sem fim! Um só ser pela eternidade! Uma consciência! Um coração abrasado no supremo deleite do amor!…

A torrente da música de amor para subitamente no seu auge. Um ríspido acorde soa na orquestra. Brangäne grita de terror. Kurvenal corre, lançando um grito de advertência a Tristão. Depois, o Rei Markee seus caçadores, capitaneados por Melot, entram. Brangäne corre para o lado de Isolda. Tristão se levanta e fica de pé diante dela, escondendo-a com sua capa. Por um longo momento, ninguém se move nem fala, enquanto na orquestra se mesclam suavemente os motivos da transfiguração do amor e do amanhecer.

Tristão é o primeiro a quebrar o silencio, murmurando (“Pela última vez o dia esteril“). Melot exulta que sua astucia teve sucesso em surpreender os amantes. O Rei Marke se volta para Tristão com uma torrente de ásperas reprovações por ter traído sua amizade e sua honra. Em grande confusão, ele pergunta por que o destino se abateu tão duro sobre ele.
MarkeIsto a mim, Tristão? Onde está a fidelidade, se Tristão me enganou? Que se fizeram da honra e da lealdade, posto que as perdeu Tristão, guardião de toda a honra. A virtude que o elegera por escudo, onde está ela então abalada, posto que ela se foi e com ela meu amigo, por quê Tristão me traiu? Com que finalidade os inumeráveis serviços, honras e glórias, grandeza e poderio por ti conquistados para Marke, se tão altos favores haveriam de ser pagos com tua afronta? Desdenhaste sua gratidão, já que tudo quanto o havias conquistado, fama e reino, te legava em herança e patrimônio!

Para essa pergunta, diz Tristão dolorosamente, não ha resposta. Pergunta a lsolda se ela está pronta a segui-lo a terra negra da Noite, para onde ele irá agora. Quando lsolda responde afirmativamente, Melot grita que ele vingara esse insulto final ao Rei. Sacando sua espada, desafia Tristão, que aceita com gélido desdém.

MelotAh, traidor! Vingança, Rei! Deves tu sofrer este ultraje?
TristãoQuem arrisca sua vida contra a minha? Este aqui era meu amigo e dizia que me amava muito e fielmente; com seu afeto por mim logrou conquistar-me como nenhuma fama e honras.. Impulsionava meu coração ao orgulho e guiou muita gente para me induzir a compelir-me a te buscar para desposar-te com o monarca, aumentou, assim, minha soberba gloriosa. Teu olhar, Isolda, também o deslumbrou…Ciumento, o amigo me traiu com o rei a quem eu atraiçoei! Defende-te, Melot!

Ele ataca Melot, mas depois deixa deliberadamente que seu adversário o fira. Kurvenal e lsolda correm para Tristão quando ele cai ao chão, enquanto o Rei Marke detém o feroz Melot. O motivo do Rei Marke é entoado enquanto a cortina se fecha.

Ato 03
O pátio rochoso do castelo de Tristão em Kareol, na Bretanha. Ao fundo há uma torre de vigia dominando a vista de uma vasta porção do oceano. Antes da cortina se abrir há um breve prelúdio, no qual o tema do sofrimento e do desejo se combina com o lamentoso lema da desolação. O prelúdio do terceiro ato nos envolve no ambiente da ação. Sua linha melódica grave, profunda, sombria e de desolação comove intensamente. Desde os primeiros compassos, a música lamenta a dor da solidão, o pranto da ausência, a nostalgia incurável. O primeiro violino, associado ao timbre das trompas canta um tema de índole muito diferente por sua ondulante e doce linha melódica, desenvolvida em progressão. E uma frase altamente expressiva, de agudo, de queixume e de dor. Ao extinguir-se a voz dos violinos, começa a melodia triste do pastor, larga frase de 42 compassos, desenvolvida pelo corne inglês, interno. Este amplo solo, sem harmonização alguma – como tampouco se achava harmonizada a canção do marinheiro, inicial do drama -, confiado ao timbre de queixume e rústico do instrumento que o executa, é todo poesia e desolação. Dor melancólica feito música, a alma da natureza triste, do romântico e abandonado castelo, do mar, da paisagem, da solidão.

Tristão, gravemente ferido, jaz num tufo de relva. Kurvenal está a seu lado, observando-o atentamente. De trás das muralhas vem o som triste e melancólico de uma flauta de um pastor. Logo depois, surge o jovem pastor e pergunta se Tristão ainda está adormecido. Kurvenal responde tristemente que acorda-lo será apenas trazer-lhe a morte. Pede ao pastor que vigie atentamente qualquer sinal de navio no horizonte e o informe mudando sua triste canção para tons alegres quando uma embarcação for avistada.

O Pastor Kurwenal! Olá, Kurwenal! Diz- me, bom amigo! Se ele despertou?
KurwenalSe ele despertasse só seria para nos abandonar para sempre…A menos que chegasse antes a única salvadora que pode socorrer-nos. Não tens visto nada ainda? Nenhum navio no mar?
O PastorOutra melodia terias ouvido, a mais alegre que sei. Dize-me agora com franqueza, velho amigo, o que aconteceu a nosso senhor?
KurwenalNão me perguntes! Nunca poderás sabê-lo…Vigia atento e se vires um navio toca uma melodia viva e alegre.
O PastorVazio, deserto está o mar!

Tristão volta a si, e em resposta as suas perguntas confusas Kurvenal explica como eles vieram até o castelo de Tristão, já que, após o duelo, ele transportou seu senhor para o navio que os trouxe para casa. Ali, na sua terra natal, assegura-lhe Kurvenal, seus ferimentos logo se curarão. Mas Tristão agora está delirando, chamando freneticamente por Isolda, e injuriando contra a luz do dia, a qual associa sua perdição.

Kurwenal Ah, como vieste? Não foi a cavalo. Conduziu-te um barco e até ele foste em meus ombros. Amplas ainda são as costas que te levaram até à margem. Agora estás em tua propriedade, em tua verdadeira pátria, na terra natal, em teus próprios prados, no ditoso país, ensolarado pelo velho sol. Aqui sararás felizmente de tua ferida e escaparás da morte.
TristãoAssim o crês? Eu sei que será diferente, porém não posso explicar-te. Lá onde acordei eu não me detive, mas, onde me encontrei, não posso te dizer. Eu não vi o sol, nem terra, nem povo. Todavia o que eu vi eu não posso te dizer. Eu estive onde desde sempre eu estive, para onde eu ainda vou: ao vasto império da noite universal. Lá só se possui um conhecimento: o divino, o eterno e primitivo esquecimento. Como se desvaneceu tal presságio? Pressentimento do desejo, de novo me impeles até à luz do sol? Só conservo a ardente chama do amor que me impulsiona desde a sombra deliciosa da morte a contemplar a luz enganosa, clara e dourada, que brilha todavia para ti, Isolda! Isolda permanece, todavia, no reino do sol! Entre o fulgor do dia encontra- se ainda Isolda! Que desejo angustioso e ardente de vê-la! Então poderão fechar-se diante de mim as portas da morte, que agora se me abrem amplamente de novo. Elas surgiram sob os raios do sol! Com clara e desperta revista, surgindo da noite, hei de buscá-la, vê-la, encontrá-la.. Unicamente perecer e consumir-se nela, seja-o concedido a Tristão. Ai, sinto crescer em mim o tormento feroz do pálido, angustioso dia! Seu astro penetrante e falaz desperta meu cérebro ao engano, à ilusão! O’ dia! Malditos sejam teus resplendores! Velarás eternamente sobre minha tortura? Arderá para sempre a tocha que ainda na noite me afastava temerosamente dela? Ah, doce e terna Isolda! Quando, ai, quando extinguirás a tocha, anunciando-me a felicidade? Quando expirará a luz? Quando descerá a noite sobre tua morada?
Kurwenal – Aquela a quem eu ultrajei um dia, em razão da minha fidelidade a ti, anseio agora vê-la aqui, tanto quanto tu mesmo… Crê em minhas palavras. Aqui a verás, certamente ainda hoje. Se ainda vive, poderá oferecer-te esse consolo.
Tristão – Todavia não se extinguiu a luz! Ainda não penetrou a noite em tua morada! Isolda vive e vela! Chama-me desde o sono da noite!

Quando ele se acalma de novo, Kurvenal lhe conta que enviou um servo a Cornualha para trazer Isolda, pois ela já o curou uma vez e poderá fazer o mesmo agora. Em comoventes frases, Tristão expressa sua gratidão pela lealdade de Kurvenal, tendo compartilhado com ele alegria e dor, e até mesmo traição. Apenas uma coisa seu leal amigo não pode dividir com ele: o terrível sofrimento de amor no seu coração. Em fervorosa agitação, Tristão imagina que o navio de lsolda está se aproximando.

KurwenalJá que vives, deixa sorrir a esperança! Ainda que eu te pareça torpe, hoje não repreenderás Kurwenal.. Jazias como morto desde o dia em que te feriu o malvado Melot. Como curar a funesta ferida? Ainda ignorante, imaginei que quem soube fechar a chaga causada por Morold, curaria também a ferida aberta pela espada de Melot. Encontrei essa benéfica mão, a melhor médica, e enviei a Cornwall um homem fiel que em seu navio trará ainda hoje Isolda.
TristãoIsolda vem! Isolda chega! Oh, fidelidade nobre e sublime! Oh, Kurwenal, meu amado amigo de lealdade inquebrantável! Como poderá Tristão te agradecer? Eras meu escudo e muralha no combate, compartilhando sempre comigo sofrimentos e alegrias. Odiaste a quem me aborrecia, amavas a quem eu amava. Servi, solícito, ao bom Marke, e para ele foste mais fiel que o ouro. Traí o nobre senhor e tu logo o traístes sem vacilar. Não te pertences, és unicamente meu. Porém ainda que sofras se eu sofro, o que eu padeço agora não podes tu sofrê-lo. Oh, se eu pudesse dizer-te qual é o terrível desejo que me abrasa, a ardorosa languidez que me devora, se pudesses compreender tal martírio, não permanecerias aqui. Correrias, voando até a vigia, e ansioso, aguçando teus sentidos, espiarias o mar para divisar bem longe as velas que se inflamam ao vento, lá onde Isolda navega para chegar a mim, impulsionada pela ânsia abrasadora do amor! Avança até lá! Chega lá com intrépida rapidez! Ondeia o cortinado sobre o mastro! O navio, o navio! Roça os escolhos! Não o vês? Kurwenal, não o vês?

Tenta erguer-se, mas cai para trás exausto. Ouvindo o som sombrio da flauta do pastor, ele murmura que ouviu seu dobre de finados, da mesma maneira que na morte de sua mãe e seu pai, e que aquele refrão está entrelaçado com seu próprio destino. Outra vez, a loucura da dor toma conta dele e, num espasmo de angustia, amaldiçoa o filtro do amor. Gritando desesperado que o navio está se aproximando, implora a Kurvenal para chegar até a muralha. Quando Kurvenal, profundamente triste, tenta acalma-lo, o som da flauta do pastor muda para uma alegre e brilhante melodia. Trisão ordena-lhe que vá buscar Isolda.

TristãoO navio. Não o vês ainda?
KurwenalO navio? Certamente, já se aproxima; não tardará..
Tristão – Nele Isolda me saúda! Brinda amavelmente por nossa reconciliação! Não a vês ? Tu ainda não a vês? Como ela, feliz, majestosa e com doçura cruza os campos do mar! Suavemente vem luminosa para a terra, sobre afáveis ondas de deliciosas flores. Seu sorriso procura me dar consolo e doce repouso. Traz para mim o supremo bálsamo. Ah, Isolda! Isolda! Quão formosa és! E tu, Kurwenal, como não a vês? E a vigia acima, pícaro inútil! É possível que não percebas o que eu vejo tão claro e luminoso? Não me ouves? Pronto, sobe até a vigia! Estás já em teu posto? O navio! O navio de Isolda! Deves vê-lo! Não o vês ainda?
KurwenalO’encanto! O’ alegria! O navio! Do norte eu o vejo aproximando-se!
TristãoNão o sabia? Não o disse? Que ela ainda vive, ainda tece para mim a vida? Como poderia falar-se Isolda fora do mundo, se todo este mundo é ela?
KurwenalAh, que valente navega o barco! Enchem-se suas velas com força poderosa! Como avança, veloz! Voa!
Tristão O pavilhão? O pavilhão?
KurwenalA bandeira está flutuando no mastro, alegre e brilhante!
TristãoDa alegria! No dia luminoso, Isolda vem a mim. Tu próprio a vês?

Salvador Dali, 1944

Em um paroxismo de êxtase e dor, Tristão se ergue, arranca suas bandagens e tenta se firmar de pé. Surge lsolda, chamando por ele, enquanto o motivo do amor ardente soa em um grande crescendo. Tristão cai-lhe nos braços. Depois, ternamente sussurrando seu nome, ele morre. Isolda, atônita, ajoelha-se ao lado de seu cadáver. Amargamente, lamenta que a morte lhe tenha roubado a felicidade dessa união. Cai desmaiada ao lado de Tristão.

IsoldaAh, Tristão!
TristãoIsolda!
IsoldaAh! Sou eu! Sou eu.. amadíssimo e dulcíssimo amigo! Levanta-te! Escuta mais uma vez minha voz! Isolda te chama! Isolda veio, fiel, para morrer com Tristão! Por que permaneces mudo para mim? Agora, uma hora; somente uma hora fica comigo desperto! Velei tantos dias angustiosos para velar contigo um instante! Enganará Tristão a Isolda, no momento supremo do eterno reencontro? Enganará Isolda, a enganará Tristão, nessa única e eterna brevidade, no último momento da felicidade terreal? A ferida! Onde está? Deixa-me curá-la, para compartir contigo as excelsas delícias da noite! Não! Não sucumbas a tua ferida! Não morras! Unamo-nos e extinga-se em nós juntos a luz da vida! Apagou-se tua vista? Rígido o coração! (Tristão infiel, por que me atormentas) Não é o fugitivo alento de um suspiro! Há de permanecer em tua presença, soluçando, quem cruzou o mar, intrépida, para desposar-se contigo no deleite? Demasiado tarde! Cruel, tão duramente me castigas? Sem piedade para minha dolorosa culpa? Só um instante, .um instante ainda! Tristão.. escuta.. desperta.. amado!

Kurvenal, que viu tudo, aterrado, é chamado à atenção pela advertência do pastor de que outro navio está chegando. Olhando para o mar, Kurvenal reconhece o navio do Rei Marke. Apressadamente, ele e o pastor tentam barricar o portão de entrada do pátio. Um momento depois, há uma confusão de sons, e o barulho de espadas debaixo da muralha. Ouve-se Brangäne chamando por Isolda. Melot se precipita, e Kurvenal o mata com uma estacada. Quando o Rei Marke e seu séquito retiram a barricada, Kurvenal ataca-o furiosamente. Enquanto eles estão lutando, Brangäne se dirige até Isolda. Logo depois, Kurvenal, fatalmente ferido, se arrasta até Tristão, e cai morto. O Rei Marke olha para a cena, murmurando tristemente.

Marke Todos estão mortos! Meu Tristão! Meu herói! Amadíssimo amigo! Também hoje me atraicionarás quando venho demonstrar-te minha lealdade suprema? Desperta! Desperta aos meus lamentos!

Isolda volta a si. Brangäne explica-lhe que ela confessou ter trocado a poção do amor, e que, quando o Rei Marke ouviu sua história, veio a toda pressa da Bretanha para perdoar Isolda. Em tons patéticos, o Rei acrescenta que absolveu Tristão de qualquer culpa, e estava pronto a lhe dar lsolda como noiva. Mas, apenas a morte triunfou, exclama com tristeza e desespero.
Brangäne – Desperta! Vive! Isolda, escuta-me! Sabe qual é a expiação de minha culpa. Revelei ao Rei o segredo do filtro, e imediatamente, preso de inquietação, embarcou o soberano para alcançar-te, para renunciar a ti e conduzir-te para junto do teu amado.

MarkePor quê, Isolda, desconfias de mim? Quando me foi revelado claramente o que eu não podia compreender, senti-me ditoso de falar ao meu amigo isento de culpa. Então, para enlaçar-te com o homem adorado, eu te segui a velas desdobradas. Porém quem trazia a paz não logrou deter a impetuosa fatalidade. Tão só pude aumentar a colheita da morte. A ilusão só fez aumentar a desdita!

Com os olhos fixos na face de Tristão, Isolda começa sua magnifica e comovente canção de adeus, o “Liebestod” (“Mild und Ieise wie er lachelt”). Enquanto ela proclama, em exaltação, a aproximação da morte, os temas da felicidade, da separação e da transfiguração surgem através da orquestra, levando a um clímax opressivo. Isolda cai sobre o corpo de Tristão, e os amantes se unem afinal na morte. O Rei Marke ergue as mãos abençoando a morte. A música morre nas cordas.

IsoldaComo é doce e delicado o seu sorriso! Seus olhos se entreabrem com ternura. Estão vendo, amigos? Não estão vendo? Como resplandece com luminosidade sempre mais viva! Como ascende irradiante, cercado de fulgurantes estrelas? Não o estão vendo? Como o seu coração se inflama, orgulhosamente, e pulsa-lhe no peito pleno e sublime? Como escapa delicadamente de seus lábios um doce suspiro de suave encanto? Oh, amigos, vejam-no! Não o sentem? Não estão vendo? Serei a única a escutar esta melodia que, maravilhosa e suave, suspirante de alegria, inteiramente reveladora, doce e conciliadora, dele se desprende e em mim penetra, cheia de ímpeto, ecoando sublime ao meu redor? Ondas vibrantes de brisas em luminosa efervescência, ondas de embriagadoras fragrâncias? Dilatando-se, envolvendo-me em suaves murmúrios para abranger-me toda? Nuvens de encantadoras fragrâncias? Como se enfunam a fremer ao meu redor? Deverei respirar? Deverei escutar? Deverei saborear? Afogar-me, contente? Exalar docemente essa fragrância? Mergulhar, submergir, privada dos sentidos, na vaga ondejante? Na rima sonora? No cosmo inspirante da respiração universal? Deleite supremo!

Para este simples admirador este último ato do drama musical é o mais apaixonante já escrito, que se eleva a um plano de tensão e culmina na beleza transcendental da última canção de Isolda, de imensa poesia, coroa a tragédia com inspiração maravilhosa.

Cai o pano.

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Agora que Tristan estava completo, Wagner se pôs a terminar o monumental Anel dos Nibelungos (que já postamos, links no início do post) , uma obra que nunca foi composta e que precisava de um teatro que não existisse. Os anos anteriores de sua vida foram preenchidos com as inovações revolucionárias que fizeram o mundo falar e, mais do que nunca, discutir sobre ele e sua música. As próximas décadas de sua vida seriam as mais prolíficas e revolucionárias de todas.

Personagens e Intérpretes
Estas são as versões de “Tristan und Isolde” que ora oferecemos aos amigos do blog, regentes, orquestras e cantores – dando a vocês a magia de uma história de amor, um conto antigo, reinterpretado pela mente genial de Wagner. Boa música, canto fantástico e uma experiência inesquecível. Abrem-se as cortinas e se deliciem com a soberba música de “Tristan und Isolde”.

Para muitos, “Tristan und Isolde” significa apenas uma gravação: Furtwängler, com Flagstad e Suthaus. É uma gravação linda e poderosa postada a pouco tempo pelo nosso querido Vassily Genrikhovich (AQUI). Outra versão que já apareceu nestas bandas do blog é a do Leonard Bernstein (AQUI). Porém vamos compartilhar mais quatro magníficas “Ilhas musicais” da mágica ópera que é “Tristan und Isolde”.

Robert Heger (1886 – 1978)
A primeira é a versão do maestro Robert Heger. Para quem ainda não o conhece ele atuou como assistente do maestro Bruno Walter na Ópera Estatal de Munique, entre 1920 a 1925. Heger dirigiu a Ópera Estatal de Munique até 1933. No ano da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, Heger mudou-se para a Alemanha para assumir compromissos como maestro na Ópera Estatal de Berlim (Staatsoper), como diretor geral de música em Kassel e no Waldoper em Zoppot, um festival de verão no qual as óperas de Wagner eram realizadas ao ar livre, explicando o apelido de ‘Bayreuth do Norte’. Ele também foi um convidado frequente nas temporadas internacionais de ópera no Covent Garden, em Londres. Heger esteve ativo em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo várias gravações de rádio com os músicos remanescentes da Staatskapelle de Berlim. Permaneceu em Berlim após a segunda guerra mundial, conduzindo a Städtische Oper municipal. Heger foi um maestro altamente respeitado durante toda a sua vida e foi um excelente exemplo da tradição Kapellmeister alemã.

Tenho cerca de 17 “Tristans” entre Lp’s, CD’s ou DVD’s e amo todas as gravações por um motivo ou outro. Porém…., contudo…., no entanto…. esta gravação de Berlim realizada no longínquo 1943 eclipsa, em minha modestíssima opinião, todas elas. PQP que interpretação f….. O som é bom para o seu tempo. Max Lorenz é muito musical, destas gravações que estamos compartilhando acho o melhor Tristan o terceiro ato é simplesmente subilme. Buchner tem uma voz exuberante com excelente atuação vocal e dicção. Klose tem um enorme timbre de contalto, além de ótima atuação vocal. A condução do maestro Heger é muito emocionante, é rápido, sim, mas nunca indevidamente, os atos simplesmente se desenvolvem com verdadeira paixão, ardente. Todos os artistas aqui se combinam para fazer a melhor interpretação de “Tristan und Isolde” que eu já ouvi. Esta é uma obrigação para todos os que gostam de Wagner. Eu pensava que já tinha ouvido os melhores cantores e interpretações, então esta seria apenas mais uma “gravação histórica”, mas me enganei. Eu não acreditei que pudesse mudar os conceitos para “Tristan und Isolde”, até ouvir esta incrível interpretação direto da “cápsula do tempo”. Uma curiosidade muito legal nesta gravação é lá no final do prelúdio do primeiro ato, quando a orquestra acalma, podemos nitidamente ouvir a Paula Buchner aquecendo as cordas vocais antes de entrar em cena.

Tristan – Max Lorenz
Isolde – Paula Buchner
Marke – Ludwig Hofmann
Kurwenal – Jaro Prohaska
Brangäne – Margarete Klose
Melot – Uegen Fuchs
Hirt – Erich Zimmermann
Steuermann – Felix Fleischer

Staatskapelle Berlin;
Männerchor der Staatsoper Berlin;
Recorded May 14-19, May 1943 – Berlin;
Conductor: Robert Heger

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Karl Böhm (1894-1981)
A segunda versão, é mais que obrigatória, do maestro Karl Böhm conduzindo a Orchester der Bayreuther Festspiele. Interpretação linda, ponto de referência para muitos. O som flui redondo nesta gravação. É considerada um marco da ópera em gravações estéreo. Böhm conduz de forma transcendente, o som é impressionante. Claro que a diva Birgit Nilsson brilha como Isolde, sua interpretação do papel é lendária, e esta gravação mostra com razão o “porque”. Agora o delírio do Tristan no Ato III de Wolfgang Windgassen é de emocionar, forte e frágil quando necessário. Ele consegue retratar este complexo personagem com imensa convicção, sempre focado no drama, e sua voz é firme. Eberhard Waechter é um excelente Kurwenal, Christa Ludwig, uma Brangene, em minha opinião, insuperável e Martti Talvela, com seu lindo timbre, um dos melhores King Mark. Esta é uma tremenda gravação nos oferecem muita emoção.

Tristan – Wolfgang Windgassen
Isolde – Birgit Nilsson
Marke – Martti Talvela
Kurwenal – Eberhard Wächter
Brangäne – Christa Ludwig
Melot – Claude Heater
Hirt – Erwin Wohlfahrt
Steuermann – Gerd Nienstedt

Orchestra/Ensemble: Bayreuth Festival Orchestra, Bayreuth Festival Chorus ;
Date of Recording: 1966 ;
Live Festspielhaus, Bayreuth, Germany;
Conductor: Karl Böhm

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Carlos Kleiber (1930 – 2004)
A terceira gravação que compartilharemos é esta estupenda versão do maestro Carlos Kleiber que nos prova toda a sua qualidade musical como um dos principais expoentes da condução de Wagner nos oferecendo toda a paixão, erotismo, lirismo, tragédia e beleza exigidos nesta partitura juntamente com a contribuição da Dresden Staatskapelle (orquestra favorita de Wagner), o som das cordas durante o último ato de Tristan é quase assustador em sua intensidade Mas a característica mais marcante desta gravação é, sem dúvida, os personagens interpretados pelo Kurt Moll e pela Margaret Price. Nunca tendo cantado Isolde no palco, Margaret Price dá a esse personagem um lirismo, qualidade juvenil e beleza diferente de todas as outras gravações, lembrando que a Isolde do drama tem entre 16 e 17 anos, o timbre e interpretação da Margaret Price é de uma beleza intensa, linda voz. Ela é uma das melhores Isolde que eu já ouvi sua voz é madura, mas nunca tensa, sempre bonita; se você ouviu apenas os sopranos “wagnerianos” nesse papel, Price irá, sem dúvida, surpreender é diferente, certamente irá seduzi-los. Kurt Moll é revelador como o rei Mark. Seu monólogo é soberbamente cantado e encenado, começa em um sussurro e depois aumenta e diminui, envolvendo-nos inteiramente. Rene Kollo, que faz um retrato incrivelmente jovem e sincero do Tristan oferece, combinando com o timbre de Price, um tom jovem, lirismo ardente e impacto dramático diferente das gravações mais aclamadas. Fassbaender é uma excelente Brangaene. O Kurwenal de Fischer-Dieskau, …. rapaiz, bonito demais de ouvir sô – dificilmente uma frase escapa a um colorido deste gigante. Esta foi a primeira versão completa do Tristan que eu ouvi. Conjunto com 5 Lp’s comprado numa famosa galeria no centro de Sampa no final dos anos 80. Na minha humildíssima opinião, o primeiro ato desta gravação tem uma energia e a caracterização dos solistas envolvidos transforma a música numa atmosfera envolvente que é absolutamente impressionante! É uma performance lindamente concebida em meses de gravação e belamente executada.

Tristan – Rene Kollo
Isolde – Margaret Price
Marke – Kurt Moll
Kurwenal – Dietrich Fischer-Dieskau
Brangäne – Brigitte Fassbaender
Melot – Werner Götz
Hirt – Anton Dermota
Steuermann – Eberhard Büchner

Dresden , Lukaskriche
26,27,29,31 August & 18-26 October ,1980;
5-10 February & 10,21 April , 1981;
27 February & 4 April , 1982;
Dresden Staatskapelle , Leipzig Radio Chorus;
Conductor: Carlos Kleiber

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Sir Simon Denis Rattle (1955)
Esta quarta gravação é a ótima performance gravada ao vivo, em forma de concerto,em 03 de abril de 2016 conduzida pelo magnífico regente Sir Simon Denis Rattle a frente da não menos magnífica Orquestra Filarmônica de Berlim. A Isolda da Eva-Maria Westbroek é rica em som e volume, seu canto em piano é tão sonoro quanto o forte de outros sopranos e com bastante vibrato o que às vezes dificulta a interpretação precisa das palavras, suas explosões vocais são colossais, ela está inteirona aos 45 anos. Sarah Connolly como Brangäne também tem um vibrato distinto, timbre levemente amargo. O Tristão do Stuart Skelton tem um fraseado é excelente. Tem cores. A emoção e o afeto sempre vêm do canto, cada nota é audível nas passagens altamente dramáticas do mitológico Ato III. Ele canta cada nota sem gritar. Nunca. Tecnicamente ótimo, o mais gratificante Tristan desta geração do século XXI. O Kurwenal do Michael Nagy também é magnífico, voz bastante sonora mas as vezes soa um pouco tumultuado. O King Marke interpretado pelo Stephen Milling ficou um pouco apagado nesta gravação. O coro da rádio de Berlim canta apaixonadamente, gostei. Simon Rattle conduz com seu rigor característico. No prelúdio do início da ópera ele está absorto num crescendo resoluto, tão dramático quanto complexos, muito bonito! A Berliner Philharmoniker impecável, como de costume, tensão violenta e relaxamento, cada compasso é vivo, a intensidade de Rattle triunfa no seu ótimo “Tristan”.

Tristan – Stuart Skelton
Isolde – Eva-Maria Westbroek
Marke – Stephen Milling
Kurwenal – Michael Nagy
Brangäne – Sarah Connolly
Melot – Roman Sadnik
Hirt – Thomas Ebenstein
Steuermann – Simon Stricker

Rundfunkchor Berlin (Simon Halsey, Einstudierung) ;
Berliner Philharmoniker ;
Philharmonie Berlin – 3 April 2016;
Conductor: Sir Simon Rattle

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“Nunca, em minha vida, experimentei a verdadeira felicidade do amor, erguerei um memorial a esse mais adorável de todos os sonhos, no qual o amor encontrará, pela primeira vez, uma completa satisfação.” Trecho da uma carta enviada a Liszt.

Richard Wagner (1813-1883) – Lohengrin – Heger (1942) / Solti (1985) / Thielemann (2019)

O Santo Graal, o vaso de esmeralda em que José de Arimatéria teria guardado o sangue de Cristo, quando ferido pelo centurião romano no Calvário, foi levado, por anjos, a Titurel, santo cavaleiro que o guarda no cimo imaculado da montanha de Montserrat localizado ao norte da Espanha Gótica, no mosteiro de Montsalvat. Outros cavaleiros, puros como o chefe, da relíquia também tiram seu vigor divino. Uma pomba celeste, uma vez por ano vem renovar a força do Santo Graal. Elevam-se da orquestra sons agudíssimos, murmúrios de violinos que flutuam e logo se agregam em frases precisas; sutilmente ouvimos o tema do Graal. Passando pausadamente pela orquestra, esta página de deslumbrante esplendor, nos prepara para a lenda de Lohengrin que é a quinta ópera e a última da segunda fase do trabalho de Richard Wagner (1813-1883). Pela primeira vez, o compositor não chama mais a introdução de “abertura”, mas de “prelúdio”. Isso documenta a mudança no papel da introdução. Não é mais uma peça que expõe os temas (como era em Tannhäuser), mas se torna parte da história, onde o ouvinte está sintonizado com o que está por vir.

Hoje a dupla FDPBach e Ammiratore irá contar a história desta brilhante ópera, com ótimas cenas e fortes contrastes. Assim como em Tannhäuser, esta ópera apresenta dois mundos diferentes: a pureza dos Cavaleiros do Graal e o mundo sombrio e mágicos dos pagãos. Wagner conseguiu extrair muitos dos temas da ópera de lendas medievais. Mas é mérito do compositor que Lohengrin se torne uma narrativa coerente e emocionante, unindo as várias sagas e fragmentos históricos com sua incrível capacidade criativa. Como já dissemos no post anterior, Wagner descobriu as lendas de Tannhäuser e de Lohengrin na mesma época, em 1841. As fontes de Lohengrin foram o poema épico de Wolfram von Eschenbach “Parzival”, do início do século XIII, e um épico anônimo de “Lohengrin”, do século XV. Ambos contam a história de um cavaleiro que chega em um barco puxado por um cisne para resgatar uma dama em perigo e que ele deverá partir quando esta dama lhe fizer perguntas que foram proibidas. O libreto terminou em 1845, a composição estava em andamento no ano seguinte e a partitura completa no final de abril de 1848.

Revolution 1848-1849 Dresden

No entanto, circunstâncias não-musicais atrasaram a estreia. Wagner não pôde comparecer à apresentação porque estava escondido em seu asilo suíço. Por sinal a década de 1840 foi extraordinariamente movimentada para Wagner (e para a Europa). Musicalmente, ele completou quatro óperas – “Rienzi”, “Der fliegende Hollender”, “Tannhäuser” e “Lohengrin” – estava ocupado como maestro e arranjador e ativo como jornalista e ensaísta musical. Mas os eventos mais perigosos para ele foram os políticos. Wagner era um ativista radical de esquerda com tendências revolucionárias em uma era de muita agitação política na Europa. E ele não escondeu seus sentimentos. Os admiradores que o conheceram socialmente naquela época ficaram surpresos com o fato de a música geralmente não ser um tópico em suas conversas. Em vez disso, ele era obcecado por política. Ele fez pelo menos um discurso político público e se associou a vários personagens radicais contra os poderes autocráticos da realeza da Alemanha e Áustria, o resultado foi que ele conseguiu a atenção da polícia, colocou sua carreira e posição como “Royal Kapellmeister” em risco ao escrever um artigo em que previa a queda da aristocracia. Quando a insurreição eclodiu em Dresden, em 1849, Wagner estava envolvido, embora toda a extensão de suas atividades permanecesse incerta. Foi obrigado a abandonar o seu país e não teve permissão para andar em solo alemão por 12 anos.

Pode deixar a ópera comigo Wagner, tamo junto !

Franz Liszt, em Weimar, preparou e conduziu a estreia de Lohengrin, que finalmente ocorreu em agosto de 1850. Wagner teve que supervisionar pelo correio a uma distância bem segura, não se atreveu a comparecer pessoalmente porque corria o risco de ser preso. De fato, foi somente em maio de 1861, 13 anos após sua conclusão, que Wagner pôde assistir a uma performance de Lohengrin.

Por um longo tempo, Lohengrin foi o trabalho mais apresentado de Richard. A grosso modo Lohengrin constitui, primeiramente, um conflito histórico entre a cristandade e o paganismo. Ortrud, que é um produto da imaginação wagneriana e de seu apelo aos deuses da mitologia alemã, revelava que, para ela, o cristianismo seria uma heresia e que a força dos deuses e da natureza terminariam por triunfar. Assim, a metamorfose do cisne em um menino, no final da ópera, aparece como o apogeu de uma luta entre os deuses da mitologia, que haviam transformado o menino em um cisne, e Cristo, o novo deus, que triunfa quando dá de volta ao menino a forma humana.

A ópera provou ser um grande sucesso, e o nome de Wagner começou a ser mencionado na mesma intensidade que os compositores de ópera já estabelecidos da época (Rossini e Meyerbeer). O sucesso de Lohengrin também garantiu o avanço definitivo de Wagner como compositor de ópera. Em pouco tempo tornou-se o compositor mais famoso da Europa. Como resultado de seu grande sucesso, ele recebeu anistia parcial em 1860.

No entanto, havia agora outra corte real que começou a interessá-lo muito mais do que a de Dresden: a corte do rei Ludwig II de Munique. Reza a lenda que o jovem rei Ludwig II assistiu uma apresentação de Lohengrin em 1857 e deixou o teatro de Munique em lágrimas. Essa experiência não só mudou a vida do monarca, mas também a vida de Wagner…. Uma curiosa cadeia de eventos positivos em sua carreira, que o compositor não poderia ter previsto quando começou a trabalhar na história do cavaleiro dos cisnes, ocorreu. O rei ficou obcecado pelo compositor e por suas obras e desempenhou um papel poderoso no apoio à sua carreira: ele forneceu dinheiro e usou sua influência para avançar em projetos importantes, incluindo a construção do Festspielhaus em Bayreuth. Literalmente o legítimo “fã de carteirinha” do século XIX.

A atração do rei por Lohengrin (talvez se explique porque um cisne era o símbolo da família real), foi a inspiração para construir um dos castelos mais famosos do mundo. Enquanto planejava o Castelo Neuschwanstein, Ludwig escreveu a Wagner o que equivalia a uma dedicação do castelo ao compositor e suas óperas, mencionando Lohengrin especificamente. Quando esta pandemia passar e se você estiver passeando pela Baviera, junte-se às hordas de turistas em Neuschwanstein: você sentirá os fantasmas de Richard Wagner e seu misterioso cavaleiro dos cisnes em praticamente todas as alas. Este castelo também inspirou Walt Disney, um século depois, a construir o seu “Magic Kingdom”.

O Enredo
(baseado no livro “As mais belas óperas” de Milton Cross)

Local: Antuérpia da primeira metade do século X.
Como dito no início do texto desta postagem, o prelúdio começa com o motivo do Santo Graal, levando ao refrão do Sonho de Elsa do primeiro ato, a música cresce até um tremendo clímax, concluindo em uma bela volta ao tema do Santo Graal, nesta volta as cortinas lentamente começam a subir.

Ato 1
Um campo nas margens do rio Scheldt, além das muralhas de Antuérpia.

O Rei Henrique está sentado em seu trono sob o “Carvalho do Julgamento”, cercado pelos seus nobres saxões. Diante deles, a alguma distância, está sentado Frederico Telramund, com Ortrud junto dele. Tem a seu lado os nobres de Brabante. O arauto avança, e faz um sinal para os trompetes tocarem uma fanfarra.

Ele anuncia que o Rei Henrique está convocando os homens de Brabante para a defesa do reino germânico. Vigorosamente, os brabanções prometem seus leais esforços em benefício de seu país. Em seguida, o rei se ergue e saúda seus vassalos (“Deus esteja convosco, queridos homens de Brabant”). Em tons solenes, ele lhe diz que as hordas húngaras estão ameaçando a Alemanha nas fronteiras do leste. Uma trégua de nove anos expirou, e agora os húngaros estão se preparando para a luta. O Rei Henrique diz que veio pedir aos “brabanções” que marchem com ele imediatamente para Mainz, e enfrentem o inimigo. Voltando-se para Telramund, ele indaga por que Brabante, com que contava para apoiá-lo naquela hora crucial, está dividida pela guerra civil e desavenças.

Telramund agradece ao rei por ter vindo agir como árbitro (“Muito obrigado, meu rei, por teres vindo aqui também para fazeres justiça!”), e depois dá sua explicação. Relata que o Duque de Brabante, no seu leito de morte, entregou a seus cuidados a educação dos dois filhos do duque, Elsa e Gottfried. Um dia, Elsa deixou o palácio com seu irmão e, mais tarde, voltou sozinha. Gottfried nunca mais foi encontrado. Convencido pela conduta culposa, e pelas evasivas de Elsa, de que ela era responsável pelo desaparecimento do irmão, prossegue Telramund, ele renunciou ao direito de tomá-la sua noiva – um direito assegurado a ele pelo duque – e desposou Ortrud. Telramund acusa, então, Elsa pelo assassinato do irmão, e reclama o trono de Brabante. Há um murmúrio de surpresa e desapontamento por parte das pessoas da Corte a respeito dessa alarmante situação. Quando Telramund prossegue, acusando incisivamente Elsa de ter conspirado depois para governar Brabante com um amante secreto a seu lado, o Rei Henrique o silencia. Os saxões e os “brabanções” erguem suas espadas, e cantam que suas armas permanecerão fora de suas bainhas até que seja proclamado o julgamento da acusada pelo rei. O arauto convoca Elsa.

Com o acompanhamento de um exaltado tema, Elsa se aproxima para tomar lugar diante do rei. Os homens comentam suavemente que aquele que ousa acusar um ser tão puro deve estar mesmo certo de sua culpa. O Rei Henrique pergunta se ela é Elsa de Brabante (“És tu, Elsa de Brabant? Reconheces-me como teu juiz!”). Ela faz uma reverência sem responder. Quando ele pergunta se ela conhece a natureza das acusações contra si, Elsa calmamente inclina a cabeça. O rei pergunta se ela confessa sua culpa (“Dize, Elsa! Que tens para me confidenciar?”). Como se estivesse em transe, Elsa murmura sobre seu irmão. Depois, começa o dramático solilóquio conhecido como “O Sonho de Elsa” (“Sozinha em agitados e tristes dias, eu implorei a Deus para aliviar a minha dor.”). Perdida e sozinha, canta Elsa, ela rezou pedindo ajuda, e um grito de angústia irrompeu de seus lábios. Quando o eco lhe trouxe a morte de volta, ela caiu adormecida no chão. Aí, então, em uma visão apareceu diante dela um cavalheiro em uma reluzente e nobre armadura. Ele seria seu defensor naquela hora de profunda tristeza. (“No brilho da luz de suas armas, um cavaleiro aproximou-se de mim, tão puro e de virtudes como eu nunca havia imaginado: da garupa pendia uma dourada trompa, apoiada sobre sua espada. É como se ele tivesse vindo do céu para mim, um autêntico herói; com um gesto honesto e puro ele me consolou. É esse cavaleiro que eu espero que seja meu defensor!”).

Profundamente comovido pela sua atitude muito dignificante, o Rei Henrique aconselha Telramund a pensar cuidadosamente antes de persistir em suas acusações. Em resposta, Telramund furiosamente desafia para o combate qualquer um que questione a verdade de suas afirmativas. Voltando-se para Elsa, o rei pergunta quem ela escolherá como seu defensor. Em um estático refrão, ela repete que o guerreiro de sua visão lutará por ela. Sua mão será a sua recompensa.

Agitadamente, os homens dizem que um prêmio real espera o guerreiro que aceitar o desafio. Após uma fanfarra, o arauto ordena que o defensor se apresente. Quando não há resposta, Telramund grita que suas acusações estão justificadas, e que ele está certo. Elsa implora ao rei que toque a fanfarra mais uma vez. Mais uma vez, há o silêncio. Caindo de joelhos, Elsa canta a eloquente e comovedora oração, na qual ela pede que seu cavalheiro apareça (“Ele me apareceu sob tua ordem: Ó Senhor, dizei agora ao meu cavaleiro para me ajudar em minha aflição. Deixa-me vê-lo, como eu já o vi!”). As damas de seu séquito se unem a ela em coro em seu pedido. De repente, os homens que se encontram próximos da margem do rio exclamam que está se aproximando um bote puxado por um cisne. Outros unem suas vozes para afirmar que um guerreiro de resplandecente armadura está de pé no bote, guiando o cisne com rédeas de ouro. O coro sobe a um tremendo crescendo quando o bote de Lohengrin se aproxima da margem. Elsa, de pé, como enfeitiçada, não se volta para olhar. O Rei Henrique observa a cena enlevado. Telramund olha em um misto de medo e raiva, enquanto Ortrud mira o cisne aterrada.

Lohengrin, metido na sua magnífica armadura, apoia-se em sua espada assim que o bote toca na margem. Um grito de boas-vindas ecoa da multidão (“Nós te saudamos, homem enviado de Deus!”). Há grande expectativa quando Lohengrin desce do bote, e se despede do cisne (“Agora, cabe-me agradecer-te, meu querido cisne! Retorna, pelas vastas ondas, lá para baixo, de onde me conduziste em tua barca; retorna somente para trazer-nos a felicidade! O teu dever tu fielmente o cumpriste! Adeus! Adeus, meu caro cisne!”). Ele agradece ao cisne, e lhe diz que retome à terra mágica de onde vieram, e tristemente lhe dá adeus à medida que o cisne se afasta. O coro comenta em tons de pasmo.

Lohengrin apresenta suas homenagens ao rei e, enquanto o tema do Graal soa suavemente na orquestra, diz-lhe que veio para proteger a jovem que foi tão cruelmente acusada. Voltando-se para Elsa, ele pede o privilégio de ser seu cavalheiro defensor. Apaixonadamente, ela o saúda como seu herói e salvador (“Meu herói, meu salvador! Aceita-me; eu dou para ti tudo o que eu sou!”). Segue-se um dramático colóquio, no qual ela se promete a Lohengrin se ele vencer o combate. Por outro lado, ele arranca dela a promessa de que ela nunca perguntará seu nome nem procurará saber de que lugar de veio (“Elsa, se eu devo chegar a ser teu esposo, se eu devo proteger teu país e teu povo, se nada me deverá separar de ti, existe uma coisa que tens de saber e me prometer: jamais deverás perguntar, nem mesmo ter curiosidade de saber, de onde eu procedo e qual é o meu nome, ofício e origem.”). Elsa fervorosamente declara que manterá a promessa (“Jamais, Senhor, eu vos colocarei essas perguntas.”), Lohengrin toma-a nos braços, gritando que a ama (“Elsa! Eu te amo!”).

Enquanto o coro canta suavemente o estranho encanto dessa cena, Lohengrin escolta Elsa até o Rei Henrique, entregando-a a seus cuidados. Rapidamente se defrontando com Telramund, ele declara que ela é inocente, e que suas acusações são falsas. Quando Telramund é aconselhado pelos seus próprios homens a não lutar com aquele adversário enviado dos céus, ele responde que seria melhor morrer do que provar ser um covarde (“Melhor morrer do que me acovardar!”).

Nesse ínterim, os nobres marcam a área do combate. Após o arauto anunciar as regras do desafio, e os dois adversários invocarem a ajuda de Deus, o Rei Henrique oferece uma dignificante e solene oração, na qual pede que o direito triunfe (“Meu Senhor e Deus, eu te faço uma invocação para que estejas presente neste combate! Proclama a tua sentença com a vitória da espada, mostrando claramente onde está a mentira e onde está a verdade! Fazei com que aquele que for inocente bata-se com a arma do herói, e possa o que agir com falsidade ser castigado! Ajuda-nos, então, meu Deus, neste instante, porque nossa sabedoria é falível!”), conhecida como a “Invocação do rei”. Todos entoam a prece em um majestoso coro. Quando as trombetas soam, o rei bate a espada três vezes em seu escudo, que é o sinal para o início do combate.

Os dois cavalheiros se atiram um contra o outro, e há um breve, mas furioso retinir de espadas. Com um poderoso golpe, Lohengrin põe Telramund no chão, e depois se coloca sobre seu inimigo vencido com a ponta da espada na garganta dele. Em uma dramática frase, o cavalheiro afirma que poupará a vida de Telramund. Enquanto o coro saúda o vencedor com um possante grito, Elsa se entrega a Lohengrin com frases apaixonadas (“Oh! Eu reencontrei a alegria, igualmente a tua glória, que eu seja digna de ti, no mais abundante louvor. Em ti eu devo deixar de ser eu; diante de ti eu me faço esquecer, porque eu sou afortunada, torna então tudo que eu sou!”). Segue-se um magnífico coro de louvor e regozijo. Ele é cantado por todos, exceto por Telramund e Ortrud, que lamentam sua derrota e vergonha. Vencido pela ira e humilhação, Telramund cai aos pés de Ortrud, enquanto Elsa e Lohengrin gozam do triunfo no brilhante clímax do coro.

Ato 2
A fortaleza de Antuérpia. Ao fundo Pallas, a morada dos cavalheiros. Na direção do fundo, à direita, o Kemenate (residência das damas na idade média). É noite. Há luzes nas janelas, e sons alegres vêm de dentro. Nas sombras dos degraus da catedral, no lado oposto aos dos aposentos reais, estão sentados Telramund e Ortrud. Foram destituídos de suas prerrogativas reais, e estão trajando roupas de mendigos. Telramund está absorto em pensamentos, enquanto Ortrud dirige um olhar malévolo às janelas iluminadas.

De repente, Telramund se volta para sua mulher com amargas observações, dizendo que foi sua diabólica feitiçaria que o levou a perder sua honra no combate. Ortrud responde-lhe com escarnecedor desdém, dizendo que a raiva dele é muito tardia, e deve ser dirigida contra seus inimigos, aqueles que provocaram aquela desgraça. Ainda resta uma esperança para eles, diz Ortrud, pois ela conhece o feitiço que permitirá dominar Lohengrin. Assim que o cavalheiro revelar seu nome e sua estirpe, seu poder mágico será quebrado. Somente Elsa poderá obter esse segredo dele, e ela precisa ser persuadida, ou forçada, a interrogar o cavalheiro. Deliberadamente, ela consegue levar Telramund a uma fúria selvagem ao lhe dizer que se ele conseguir tirar uma gota de sangue de Lohengrin, isso o deixaria indefeso. Em um dramático e poderoso refrão, cantado em uníssono, Ortrud e Telramund juram que obterão uma terrível vingança (“Eu a chamo a obra da vingança da noite tempestuosa de meu coração! Vós que estais perdidos em um doce sono, sabei que a desventura vos espera!”).

A medida que suas vozes morrem num ameaçador sussurro, Elsa aparece no balcão do Kemenate, e ali fica parada um instante em feliz reflexão. As ardentes frases de sua canção marcam o início do que é conhecido como a “Cena do Balcão” (“A vós, brisas, que tão frequentemente vos inteirastes de meus tristes lamentos, eu vos devo agora agradecer, dizendo como se revela a minha felicidade!”). Ortrud manda Telramund sair e, com uma voz dolorosa, chama por Elsa. Maliciosamente afirmando estar com remorso e arrependimento, ela lamenta o mal que possa ter causado, e que Telramund tenha agido com ira irracional e impensada. Elsa, comovida pela sua aparente tristeza, tenta confortá-la. Pede a Ortrud para que aguarde, e apressadamente entra no quarto. Sozinha, Ortrud apela, em uma selvagem exultação, para Odin e Freia, os deuses pagãos, para ajudá-la na realização de sua vingança. Quando Elsa reaparece com duas damas de companhia, Ortrud se ajoelha diante dela em uma atitude servil. Elsa, em transportes de alegria pelo seu próximo casamento, assegura a Ortrud seu perdão, e diz que também conseguirá uma palavra de perdão de seu defensor.

Habilmente, Ortrud aconselha a Elsa a não amar tão cegamente, expressa a esperança de que ela nunca se decepcione por causa de seus sentimentos. Embora momentaneamente atemorizada pelo ominoso som das palavras de Ortrud, Elsa, com fervor, tenta fazer com que ela acredite que somente a fé pode trazer a felicidade ao amor (“Deixa-me ensinar-te quão doce é a felicidade decorrente da pura confiança! Deixa-te livremente convencer-te dela: é uma felicidade que não conhece o remorso!”). Em voz baixa, Ortrud, sarcasticamente, observa que o verdadeiro triunfo de Elsa provará ser sua ruína (“Ah! Esse orgulho deve me ajudar em como combater sua fé! Contra essa soberba dirigirei minha arma, através de sua arrogância virá seu remorso.”). As vozes das duas mulheres se unem em um breve, mas expressivo dueto que leva o colóquio a um fim. Elsa permite a Ortrud que a acompanhe ao Kemenate. Assim que as mulheres entram, surge Telramund. Olhando para elas, murmura satisfeito que a diabólica feitiçaria de Ortrud destruirá aqueles que lhe tiraram a honra (“Assim penetra a desventura nessa Casa! Executa, mulher, o que a tua astúcia idealizou; eu não me sinto capaz de impedir a tua obra! A desgraça começou com a minha caída e ruína, agora, ela fará cair quem me ocasionou esta situação! Somente uma coisa agora conta para mim: aquele que arrebatou a minha honra deve perecer!”).

Ouvem-se trompetes em várias torres da cidadela saudando o romper do dia. Rapidamente, Telramund se esconde atrás de uma coluna da catedral para evitar ser visto pelos criados, que entram para realizar suas tarefas matinais. Logo, o espaço diante do Pallas fica cheio de cortesãos e homens da fortaleza. Em um vibrante coro eles cantam os gloriosos eventos que marcarão aquele dia (“À fanfarra do amanhecer nos congrega de novo, e o dia nos promete muito! Aquele que aqui fez a respeito de si nobres prodígios executará talvez novas ações!”). Depois, todos se voltam na direção do arauto, que sai do Pallas. Ele proclama o edito real banindo Telramund como um traidor, e dizendo que qualquer um que o ajude seja passível de pena de morte. Os homens amaldiçoam-no com veemência. O arauto depois anuncia que o defensor de Elsa declinou do título de duque, e pediu para ser chamado de Protetor de Brabante. O coro aclama seu herói.

Após um trompete pedir selênio à multidão, o arauto informa que o defensor de Elsa convida a todos para se unirem a ele, naquele dia, nas festividades de seu casamento. No dia seguinte, porém, eles devem estar prontos para seus deveres militares e para marcharem para a guerra. Os homens juram sua lealdade em um exultante coro (“Não hesitai em ir à guerra, pois o nobre herói vos guiará! Aquele que corajosamente combater ao lado dele, a glória lhe sorrirá! Avante!”). Enquanto povo e guerreiros se misturam em grande excitação, quatro nobres “brabanções”, antigos seguidores de Telramund, reúnem-se à parte, e sombriamente discutem entre si o problema de marcharem contra um inimigo que nunca os desafiou. Neste momento, aproxima-se Telramund furtivamente. Ele declara que está resolvido a desmascarar o pretenso líder como um feiticeiro e um renegado. Espantados com o aparecimento de Telramund, eles o advertem para que se mantenha escondido, e tentam escondê-lo dos olhos da multidão.

Quatro pajens anunciam agora Elsa e seu cortejo nupcial. Com o acompanhamento de um marcante refrão, o cortejo sai do Kemenate, enquanto os nobres e o povo alinham-se do outro lado da grande praça. Há um tremendo coro de aclamação quando Elsa e as damas se movem na direção da catedral (“Como um anjo ela se aproxima, inflamada de um casto fervor!”). No cortejo, está Ortrud, agora com trajes reais.

Quando Elsa está começando a subir os degraus da catedral, Ortrud avança, e para diante dela. Em incontida fúria, ela declara que jamais a seguirá como uma reles subalterna, e que forçará Elsa a ficar no lugar dela. Quando Elsa iradamente a repele, Ortrud altivamente a desafia a dizer o nome do cavalheiro de quem ela é a noiva. Exclama que talvez haja um bom motivo porque ele evita perguntas sobre sua origem. Em uma dramática e impetuosa frase (“Tu, difamadora! Mulher covarde!”), Elsa repele as terríveis acusações de Ortrud. Chama a todos como testemunhas de que seu cavalheiro é um homem imaculado que poupou a vida de seu terrível inimigo. Furiosa, Ortrud retruca que seu defensor desconhecido é um diabólico impostor.

Nesse ponto, trompetes assinalam a aproximação do Rei Henrique, Lohengrin e seus seguidores, que avançam majestosamente, deixando o Pallas. Espantados com aquele rebuliço, o rei e Lohengrin se detêm. Elsa corre para os braços do cavalheiro, implorando-lhe que a proteja. Imperiosamente, Lohengrin ordena a Ortrud que saia, e depois ternamente pede a Elsa que o acompanhe até a catedral.

O cortejo se movimenta de novo. Subitamente, Telramund irrompe pela multidão, defronta-se com o rei, e com raiva pede para ser ouvido. Os guerreiros gritam ameaçando-o, enquanto o rei ordena que ele seja detido. Quando a multidão recua de medo diante de sua fúria, Telramund lança-se numa violenta acusação (“Aquele que eu vejo no esplendor diante de mim eu o acuso de magia negra!”). Acusa Lohengrin de ser um feiticeiro, e pede que ele revele seu nome e estirpe. Com violência, acrescenta que ele ali chegou em circunstâncias muito misteriosas que merecem uma explicação. O povo começa a murmurar, tomado de suspeitas.

Com veemência, Lohengrin replica que nenhuma acusação falsa pode manchar sua honra. Diz que nem mesmo o rei pode forçá-lo a falar. Apenas a uma pessoa ele responderá: Elsa. Ao dizer o nome dela em uma bela frase, Lohengrin se volta para Elsa, observando uma expressão de terror no rosto da jovem. O grande coro de conclusão do ato começa agora quando os espectadores expressam seu espanto e confusão (“Que segredo é esse que o herói deve ter bem guardado?”). Ortrud e Telramund exultam porque o veneno da suspeita está provocando seu efeito fatal no coração de Elsa. (“Eu a vejo exposta a uma violenta emoção. O germe da dúvida foi colocado no fundo do seu coração!”). A própria jovem, abalada, expressa suas dúvidas e temores, enquanto Lohengrin diz que seus acusadores terão de apresentar provas.

Encabeçados pelo rei, os nobres se reúnem à volta de Lohengrin, e asseguram-lhe seu apoio. Telramund se aproxima de Elsa, e miseravelmente sugere-lhe que entregue Lohengrin nas mãos dele. Uma gota do sangue do cavalheiro, diz-lhe, roubará dele sua proteção mágica, e também o tornará indefeso. Elsa tenta mandar Telramund embora. Vendo os dois em conversa, Lohengrin se coloca entre eles, e, com voz terrível, ordena que Telramund se retire.

Elsa, abatida pela vergonha e pela dúvida, cai ao chão, aos pés de Lohengrin. Este, gentilmente, a ergue, perguntando-lhe se deseja fazer a pergunta fatal. Em um comovedor refrão, ela responde que o amor vence qualquer dúvida (“Meu salvador, que me trouxe a felicidade! Meu herói, ao qual eu devo me unir! Meu amor deve ser maior do que a força da dúvida”). Em seguida, Lohengrin a conduz até o rei. Enquanto todos saúdam o casal de noivos, no brilhante clímax do coro. O rei os conduz até o alto da escadaria da catedral. Elsa e Lohengrin se abraçam. Neste momento, Elsa vê Ortrud de pé, abaixo dela, com o braço erguido em um gesto de triunfo. Controlando-se com um esforço supremo, Elsa se vira rapidamente, e entra na igreja com Lohengrin e com o rei.

Ato 3
Câmara nupcial ricamente adornada. De um lado, uma janela aberta. O brilhante prelúdio, peça de concerto muito conhecida, descreve a atmosfera das festividades nupciais que encerraram o ato. Na conclusão do prelúdio, as portas do fundo se abrem, e entra o cortejo nupcial, encabeçado elos pajens carregando velas.

As mulheres escoltam Elsa, enquanto os homens acompanham o Rei Henrique e Lohengrin. Todos cantam o mundialmente famoso “Coro Nupcial” ou popularmente conhecido como “Lá vem a noiva” (“Fielmente guiados, entrai lá, onde encontrareis a bênção do amor! Na coragem triunfante, o prêmio do amor fará de vós o mais feliz dos casados. Campeão da juventude, avança! Glória da juventude, avança! Que o sussurro da festa fique agora para trás, que a felicidade do coração vos seja total!”).

Enfim a sós !

Elsa e Lohengrin se abraçam. Os pajens retiram seus mantos, e então o rei se aproxima e abençoa o casal. Os homens e as mulheres, juntamente com o rei, se retiram acompanhados pelos acordes do “Coro Nupcial”. Suas vozes morrem a distância à medida que os pajens fecham as portas. Deixando o casal “enfim a sós”.

Lohengrin conduz Elsa a um sofá, e ternamente inicia o magnífico dueto de amor, (“O doce canto se perde ao longe; sozinhos estamos; sós pela primeira vez, desde que nos encontramos. Nós estamos presentemente retirados do mundo, nenhum curioso pode ouvir as saudações dos nossos corações. Elsa, minha mulher! Tu, doce criatura, pura esposa! Dize-me, agora, se és feliz!”). Em frases apaixonadas, com um sensual acompanhamento orquestral, os enamorados dão vazão à sua paixão. Mas, quando Lohengrin, em êxtase, diz o nome de Elsa, e ela responde, há uma sutil mudança na atmosfera. Elsa murmura que seu nome soa doce nos lábios dele (“Com que doçura tua boca pronuncia o meu nome! Não podes tu outorgar-me o nobre som de teu nome? Somente quando formos conduzidos à bonança do amor, tu permitirás que minha boca o pronuncie? “), mas há acordes sombrios quando ela tenta fazer com que Lohengrin lhe diga seu nome.

Lohengrin desvia a resposta com fervorosos protestos de amor, dizendo que ele deseja, em troca da incomensurável devoção por ela, a confiança da jovem. Mas o comportamento de Elsa se torna mais agitado quando ela insiste para que ele revele seu segredo. Quando ele lhe diz que veio dos reinos da luz para salvá-la e ganhar seu amor, ela grita desesperada que, por aquelas palavras, ela sabe que seu amor está perdido. Agora, lamenta-se ela, cada dia trará o medo atormentador de que ele a deixará para voltar para o país encantado de onde veio. Alarmada, ela imagina ver o cisne voltando para levar seu amado. Lohengrin pede-lhe que deixe de fazer a pergunta, neste momento em que ouvimos de novo o tema da advertência associado com as palavras (“Cessa de assim te atormentar! “). Louca de dúvida e de medo, Elsa quer saber seu nome, de onde veio, qual sua estirpe (“Nada poderá me dar a paz, nada poderá arrancar a minha loucura, a menos que – mesmo ao preço de minha vida – tu me reveles quem tu és! De onde vieste? Qual é a tua origem?”).

Neste momento, Telramund e seus quatro vassalos irrompem no quarto de espadas na mão. Gritando de terror, Elsa apanha a bainha da espada de Lohengrin, que estava junto ao sofá. Ela lhe entrega a arma, Lohengrin a brande, e mata Telramund com um terrível golpe. Nesse ínterim, os quatro nobres jogam suas espadas no chão, e ajoelham-se aos pés de Lohengrin. Elsa desmaia nos braços do cavalheiro.

Há uma longa e tensa pausa. Depois, Lohengrin tristemente murmura que toda a felicidade se foi (“Desgraça, agora se foi toda a nossa felicidade!”). Carrega Elsa para o sofá. Ela volta a si, e murmura uma prece. Lohengrin, então, ordena aos nobres que levem o corpo de Telramund até o rei. Chamando duas damas de companhia, pede-lhes que vistam Elsa com os trajes nupciais, e a escoltem até o trono. Lentamente, Lohengrin deixa a câmara, enquanto Elsa é levada pelas damas de companhia. O dia rompe, e os pajens apagam as velas.

Aqui, a cortina é fechada por alguns momentos. Ouve-se uma fanfarra à distância. A cena muda para um prado às margens do Escalda, como no início da ópera. Com agitada música marcial, o Rei Henrique e os nobres chegam com seus séquitos. Eles se dispõem em formatura quando o rei, mais uma vez, toma seu lugar no trono sob o grande carvalho. Em um heroico refrão (“Eu agradeço a vós, gentis homens de Brabant! Como meu coração se inflamaria de orgulho se encontrasse em cada país da Alemanha um exército tão rico e tão forte! Agora, avizinha-se a hora de enfrentar o inimigo do rei; nós o receberemos com valentia: de suas tristes regiões do leste, ele jamais deverá de novo atacar! Pela terra alemã, a espada alemã! Assim será provada a força do Império!”), ele pede a seus seguidores que se preparem para marchar contra o inimigo, e depois pergunta sobre o herói que os chefia.

Nesse ponto, entram os quatro nobres, carregando o corpo de Telramund numa padiola, colocando-o diante do trono. O rei e os presentes lançam uma exclamação de horror e surpresa. Elsa, curvada sob o peso da dor, surge com seu séquito, seguida de perto por Lohengrin. Envergando sua armadura de combate, ele caminha com solene dignidade quando o Rei Henrique e os guerreiros o aclamam como o herói de Brabante.

Em seguida, os homens ouvem, incrédulos, o cavalheiro declarar que não pode conduzi-los na batalha. Não veio como guerreiro, mas para se justificar, e, com essas palavras, descobre o cadáver de Telramund. Explicando as circunstâncias do ataque, Lohengrin pede um julgamento pela morte de Telramund. Em um vigoroso coro, o rei e os guerreiro proclamam a justiça de seu ato.

Mas, há ainda outra acusação prossegue Lohengrin. Dramaticamente, conta para a tensa audiência que Elsa, através de pérfida traição, quebrou a promessa feita, perguntando-lhe seu nome e sua estirpe. Agora, ele anuncia, chegou o momento predestinado de revelar seu segredo. E assim o faz na sua famosa ária. A medida que o exaltado tema do Graal percorre a orquestra, ele canta o templo na montanha de Monsalvat, onde repousa o cálice sagrado, o Santo Graal. Seu poder divino é renovado a cada ano pela visita de uma pomba celestial. O Graal é guardado por uma legião de consagrados cavalheiros. É dever desses guerreiros imaculados acorrer em defesa daqueles que são ameaçados pelo mal na Terra. Mas, assim que o nome do cavalheiro é conhecido, ele deixará para sempre a companhia daqueles que redimiu. Foi como um cavalheiro do Graal que ele próprio veio até ali, prossegue Lohengrin. No brilhante clímax de sua canção, ele proclama que é filho de Parzifal, um dos cavalheiros do Graal e que seu nome é Lohengrin. (“Em um país bem longe daqui, inacessível a vossos passos, há um castelo com o nome de Montesalvat; um templo luminoso e esplêndido encontra-se dentro dele, não se conhece no mundo nada de mais precioso; dentro dele, um cálice de poder divino e milagroso, está guardado como a mais sagrada relíquia: uma corte de anjos o trouxe lá para que por desvelo o guardem os homens mais puros. Cada ano uma pomba branca desce do céu para reforçar o seu maravilhoso poder: ele se chama Graal, e a fé a mais pura por ele é difundida sobre todos os cavaleiros. Aquele que é eleito para servir ao Graal, este ele o arma de um poder sobrenatural; nenhum maligno embuste ou fraude pode atingi-lo. Logo que ele o divisar, a noite da morte se esvanece sobre o infrator. Mesmo aquele que é enviado a um país distante para defender o direito e a virtude, da sua força divina não ficará despido, pois ele permanece incógnito. O Graal é de uma natureza tão sublime que, quando é descoberto, deve evitar o profano; é por isso que não se deve nutrir dúvida sobre seu cavaleiro, que, uma vez descoberto, deve deixar a companhia daqueles onde se encontra. Ouvi, agora, como recompensa, a resposta à pergunta proibida! Foi o Graal que me enviou até vós: meu pai, Parzival, carrega sua coroa, e eu, seu cavaleiro, me chamo Lohengrin!”).

O povo, abalado e maravilhado, comenta aquela maravilhosa história. Elsa dá um grito de remorso, e se aproxima de Lohengrin, vacilante. Ele a toma nos braços, e canta uma pungente frase de tristeza e reprovação e lamenta o trágico destino que destruiu a felicidade de ambos, e depois dá adeus (“Ó Elsa! O que me fizeste? Quando meus olhos te viram pela primeira vez eu me senti ardente de amor por ti e rapidamente conheci uma nova felicidade: o poder sublime, o prodígio de minha origem, a força que dissipou meu segredo, antes de tudo eu quis me por ao serviço do coração mais puro. Por quê me forçaste a revelar-te meu segredo? Agora devo, ah, ser separado de ti!”).

Elsa implora que ele não a deixe. O povo soma suas vozes à dela em um dramático acompanhamento de frases vibrantes. Mas Lohengrin replica que sua ausência já provocou a indignação do Graal, e que somente partindo o pecado da quebra da promessa de Elsa poderá ser expiado. Em resposta ao pedido dos guerreiros, que lhe pedem que fique para chefiá-los contra seu inimigo, Lohengrin se volta para o Rei Henrique, e assegura-lhe uma gloriosa vitória.

Uma grande comoção percorre a multidão quando o cisne subitamente aparece à distância. Quando ele atinge a margem, Lohengrin o saúda em tons tristes (“Meu caro cisne! Ah, esta última, triste viagem, como bem queria dela te poupar!”). Quando o cavalheiro canta sua saudação, a orquestra toca o motivo do cisne. Lohengrin explica que será esta a última viagem que farão juntos, pois, dentro em breve, o cisne terá cumprido o seu ano de serviço e, então, liberto pelo poder do Graal, será transformado, readquirindo a forma humana. Em agonia e desespero, volta-se para Elsa. Diz que se ela tivesse confiado nele durante aquele ano de prova, de modo que ele tivesse permanecido com ela, o poder do Graal devolver-lhe-ia seu irmão ao seu lugar de direito, ao lado dela.

Em seguida, entrega a Elsa sua espada, assim como sua trompa e seu anel, pedindo-lhe que os entregue ao irmão assim que retornar. A espada o protegerá, a trompa emitirá um pedido de socorro quando houver perigo, e o anel o lembrará do defensor que acorreu para socorrer sua irmã (parêntesis dos blogueiros: igual as relíquias do “Ciclo do Anel” – Siegfrid). Apaixonadamente, Lohengrin beija Elsa em despedida, enquanto ela permanece como transfigurada. Em tons sombrios, todos lamentam sua partida.

De repente, irrompe Ortrud. Sarcasticamente, ela diz a Lohengrin que volte para sua casa. Agora, ela pode contar à sua infeliz noiva a verdade. O cisne que puxa o bote nada mais é do que o herdeiro de Brabante transformado em animal. O colar em volta do seu pescoço é o instrumento de feitiçaria, com o qual ela tirou a forma humana do rapaz. (“Vai para casa! Vai para tua casa, soberbo herói, para que eu possa revelar com júbilo a esta tola moça quem estava te levando na barca! Pela corrente de ouro que eu o envolvi, vi claramente que ele é aquele cisne: ele é o herdeiro de Brabant!”).

Em orgulhosa exultação, ela se volta para Elsa, dizendo que se não fosse sua traição em revelar seu nome, Lohengrin poderia libertar seu irmão do encantamento no fim de um ano. Agora, o terrível encanto mantém sua força (“Aprendei como se vingam os deuses que vocês que não mais os adoram!”). O rapaz permanecerá como cisne, e é este cisne que levará o defensor de Elsa para sempre. Ao ouvir isso, o povo grita violentamente contra Ortrud.

Lohengrin, que está junto à margem do rio, entendeu perfeitamente as palavras de Ortrud, e cai de joelhos solenemente para uma muda prece. Todos os olhares se voltam para ele, numa expectativa plena de tensão. A branca pomba do Graal desce sobre o barco. Lohengrin a avista, com um olhar de reconhecimento, levanta-se e liberta o cisne de sua cadeia; a seguir, devolve à terra um belo rapaz, vestido numa roupa prateada e cintilante: é Gottfried.

À visão de Gottfried, Ortrud cai ao chão. Lohengrin salta rápido para dentro da barca. Elsa olha Gottfried, transfigurada no último momento de alegria, o qual avança e se inclina diante do rei. Todos o contemplam com admiração e alegria, e os “brabanções” se ajoelham diante dele em sinal de respeito e de homenagem. Gottfried precipita-se, em seguida, para os braços de Elsa .

Após um curto momento de alegre júbilo, Elsa torna vivamente seu olhar para o rio, onde ela não avista mais Lohengrin. Ao longe, pode-se ainda avistar Lohengrin; ele está sentado na barca, a cabeça inclinada, apoiada tristemente sobre seu escudo.

Elsa, que Gottfried segura nos braços, cai lentamente sobre a terra, sem vida. Lohengrin é visto sempre cada vez mais distante.

Cai o pano !

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Personagens e Intérpretes

Nesta postagem que ora vamos compartilhar, com imensa alegria, para os amigos do blog, traremos três gravações de períodos distintos. Uma gravação ao vivo em 1942 da Staatskapelle Berlin sob a regência do maestro Robert Heger. Uma versão absolutamente clássica que é a do Solti de 1985. A terceira versão, ao vivo, gravada no Bayreuth Festspielhaus 2019 em 26 de julho transmitida nas ondas da net sob o comando do maestro Christian Thielemann. Pessoal, divirtam-se com mais esta ópera (nos divertimos bastante escrevendo o texto….ufa!)

Lohengrin – Robert Heger (1942)
Esta é a lendária apresentação nazista de Lohengrin feita em 1942 conduzida por Robert Heger com a Berliner Staatsoper. Sim, relatos desta gravação dizem que Hitler estava na plateia enquanto suas tropas se organizavam para tentar invadir o sul da Rússia. A primeira impressão que notamos sobre essa apresentação ao vivo de 1942 é o som extraordinariamente vívido, que provavelmente deriva de uma matriz original em ótimas condições. Os cantores apreciam o drama como se fossem realmente os personagens que retratam: desde o imponente Heinrich de Ludwig Hoffmann e a madura Elsa de Maria Müller, até a ameaçadora Ortrud de Margarite Klose e, o melhor desta gravação, é o Franz Völker com o papel-título. A execução da orquestra varia de surpreendentemente segura para uma espécie de tensão dispersiva, talvez pelo momento bélico em que viviam a época. Ouvindo esta performance com atenção ela começa um pouco penosa, tensa, quase vazia do misticismo wagneriano, conforme os atos vão acontecendo a concentração vai melhorando. Só no último ato este registro pega fogo, ai sim a dramaticidade fica evidente. Vale pelo registro histórico.

Lohengrin – Franz Völker
Elsa – Maria Müller
Ortrud – Margarete Klose
Friedrich von Telramund – Jaro Prohaska
König Heinrich – Ludwig Hofmann

Der Heerrufer des Königs – Walter Großmann
Chor der Staatsoper Berlin
Staatskapelle Berlin – Robert Heger

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Lohengrin – Georg Solti (1985/1986)

Esta leitura do iluminado Sir Georg Solti é, penso eu, uma de suas grandes pérolas, ele deixa que a música respire, ganhe vida. Por exemplo, nesta gravação ele permite que as belezas “ocultas” do prelúdio brilhem como se ele estivesse desmembrando as seções com amor e o resultado é o que deveria ser: um prelúdio interpretado de forma genial, lindo mesmo. O trabalho da Filarmônica de Viena é quase perfeito, um trabalho lindamente modulado que deixa evidente o extraordinário entendimento que o maestro tinha da música de Wagner. Os cantores são ótimos. Plácido Domingo, é claro, tem uma voz bonita, sua interpretação é cheia de paixão, alguns críticos gostam de chamar a atenção para a pronúncia com sotaque, acho que ele vai bem pois no final das contas o Lohengrin vem do mosteiro de Monsalvat, montanha de Montserrat, que fica na Catalunha, logo deveria mesmo ter sotaque espanhol……. Jessye Norman também tem uma voz magnífica, acho um pouco forte demais para a virginal Elsa. Hans Sotin é um excelente rei. A Ortrud de Randová excelente, sua voz crepita como faíscas e demonstra bem o seu ódio por todos. Siegmund Nimsgern também interpreta o complexo Telramund com voz que mostra indignação e é cheia de lamentações, quando necessário. Se eu fosse aconselhar alguém que seja estreante nesta ópera esta é a versão que eu recomendaria. O impacto é emocional, muitas vozes bonitas e cheias de paixão al´me da batuta do mestre Solti. . Esta gravação é, artística e tecnicamente, magnífica.

Lohengrin – Plácido Domingo
Elsa – Jessye Norman
Ortrud – Eva Randová
Friedrich von Telramund – Siegmund Nimsgern
König Heinrich – Hans Sotin
Der Heerrufer des Königs – Dietrich Fischer-Dieskau

Chor der Wiener Staatsoper
Wiener Philharmoniker – Sir Georg Solti

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Lohengrin – Christian Thielemann (2019)
Gostei desta recente versão do maestro Thielemann realizada no dia 26 de julho de 2019 no Bayreuth Festspielhaus. Foi muito bem nos primeiro e terceiro atos, a Orquestra fazendo bonito mais uma vez e respeitando o andamento um pouco mais rápido do Thielemann em comparação ao andamento da gravação do Solti. O elenco desta geração é admirável. O Lohengrin de Klaus Florian Vogt é muito bonito de ouvir, majestoso. A Elsa de Camilla Nylund meiga e dramática fez uma performance inteligente, comprometida e lindamente cantada, gostei bastante. Tomasz Konieczny e Elena Pankratova ofereceram seus personagens Telramund e Ortrud igualmente inteligentes e altamente musicais. Georg Zeppenfeld, na minha modestíssima opinião, nunca desaponta, é um rei Henrique muito bem cantado. Egils Silins também atraiu minha atenção e admiração, bonito de ouvir. E por último, mas não menos importante, as performances marcantes do Bayreuth Festival Chorus, o peso vocal, musicalidade são memoráveis. O registro digital ao vivo faz toda a diferença…. lindão!

Lohengrin – Klaus Florian Vogt
Elsa – Camilla Nylund
Ortrud – Elena Pankratova
Friedrich von Telramund – Tomasz Konieczny
König Heinrich – Georg Zeppenfeld
Der Heerrufer des Königs – Egils Silinš

Bayreuth Festival Chorus
Bayreuth Festival Orchestra – Christian Thielemann

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Avalio a morte da pobre Elsa (desculpe a sinceridade, mas com todo o respeito pela sua bela música Richard) causada 40% pelo luto do irmão desaparecido, 10% de vergonha pelo contexto que resultou na partida do bonitão de volta para o Mosteiro, mas os outros 50% são sem nenhum motivo aparente….. sei lá….

FDPBach e Ammiratore

Richard Wagner (1813 – 1883) – Der fliegende Holländer – Dietrich Fischer-Dieskau, Franz Konwitschny

Mais uma parceria da dupla Ammiratore – FDPBach, dando prosseguimento à postagem das óperas de Richard Wagner (1813-1883). Sim, eu sei, é um processo lento, demorado. Cada postagem é feita com muito cuidado e carinho, pesquisamos bastante, e claro, a correria do dia – a – dia não dá folga. Nem eu nem o Ammiratore sabemos o que é essa tal de quarentena no serviço. Estamos trabalhando normalmente, claro que observadas todas as questões de segurança.

Minha escolha inicial da gravação do “Der fliegende Holländer”, ‘O Holandês Voador’, ou também conhecida como ‘O Navio Fantasma’ era a de Georges Solti, realizada em 1976, tendo Norman Bailey como o Holandês, mas meu caro colega veio com essa versão matadora, provavelmente a melhor gravação já realizada desta ópera, com o imenso Dietrich Fischer-Dieskau, o melhor e mais importante barítono do Século XX e XXI, no papel principal. Esse é um daqueles músicos que alcançaram tal estatura que estão no Olimpo dos grandes intérpretes, ao lado de Rubinstein, Rostropovich, Richter, entre outros. E aqui também temos Fritz Wunderlich, o grande tenor, falecido precocemente, que também realizou algumas gravações memoráveis.

A primeira vez que li alguma coisa sobre a lenda do Holandês Voador foi em uma antiga revista de quadrinhos de histórias de terror, chamada Cripta. Fiquei emocionado com a história. Alguns anos depois comprei o LP duplo da Decca, tendo George Solti como regente, gravação que citei acima. Sendo assim vamos ao que viemos, temos a honra de, novamente, trazer mais uma grande gravação de ópera “Der Fliegende Hollander” o primeiro grande sucesso de Wagner. Desta vez traremos a batuta do maestro Franz Konwitschny, esta performance de 1960 é extraordinária, os cantores Fischer-Dieskau, Gottlob Frick e o grande Fritz Wunderlich estão na ascendente das carreiras. O resultado é uma joia.

Franz Konwitschny

Esta gravação foi feita na Berlim oriental dos anos 60, quase um ano antes da construção do Muro. O maestro Franz Konwitschny (1901-1962), ficou muito pouco conhecido devido à situação política complicada daquela época. Isso é lamentável, porque, como podemos ouvir nesta gravação, ele foi um artista de alto nível e na pesquisa que fizemos ele foi um dos principais pilares de Dresden, Leipzig e Berlim Oriental por muitos anos até sua precoce morte. Ele interpretou esta ópera de Wagner com ritmos bastante restritos e amplo suspense, enfatizando os aspectos líricos e não dramáticos da partitura. Os temas e estruturas da ópera são trabalhados com cuidado e são bem claros. Para isso, ele tinha excelentes músicos, nomeadamente o “Chor der Deutschen Staatsoper Berlin” e a “Staatskapelle Berlin”. Em nenhum momento há uma queda de tensão, ambas as formações fazem um trabalho brilhante. A condução de Konwitschny oferece uma combinação notável de drama, beleza, poder e calor. A orquestra é lindamente cultivada e a qualidade do som é maravilhosa.

Porém a escolha e o foco da gravação é o monumental Dietrich Fischer-Dieskau. Na consciência de suas possibilidades vocais, ele não cria o personagem-título de maneira particularmente poderosa e fantasmagórica, mas apresenta traços quase transcendentais e, assim, cria um psicograma fascinante do marinheiro pálido. Cada frase, cada nota não é apenas cantada lindamente, mas projetada com a mais alta introspecção. … nos oferece uma performance excepcional ! Seu lindo, melódico, sombrio e bravo holandês é tudo o que podemos imaginar do personagem ! PQP que interpretação !

O Daland de Gottlob Frick também merece aplausos. O cantor tinha uma das mais belas vozes graves do século XX, um dos grandes baixos de Wagner de todos os tempos. O jovem Fritz Wunderlich, no pequeno papel de timoneiro, dá uma idéia das grandes realizações que ele foi capaz. Seu magnífico teor quase eleva o timoneiro ao papel de protagonista. Sieglinde Wagner era uma cantora experiente e agrada no papel de Maria. Marianne Schech como Senta, bem…. no geral ela é segura e claramente projeta um ponto de vista dramaticamente diferente da histeria do personagem que estamos acostumados a ouvir. Ela interpreta uma Senta muito lírica, mais romântica e até que ficou bonita, mas não é a personagem beirando a loucura. O dueto entre ela e o Holandes é magnífico, mas romântico. Rudolf Schock, faz seu papel de Erik de forma competente, gostei da forma refrescante ao ouvir a sua abordagem nova, lírica e natural o dueto com Senta também é diferente do tradicional, mais meladão, também muito bonito de ouvir. Os técnicos de gravação fizeram um bom trabalho. O som estéreo é excelente.

Na primeira postagem do “Der Fliegende Hollander” comentamos muito da concepção da obra e do enredo e para não ficar repetitivo vamos abordar nesta postagem outros aspectos tendo como base o incrível trabalho da Iracema Maria de Macedo. Como já escrevemos um texto legal no outro post vale a pena relembrar AQUI.

“Der Fliegende Hollander” é uma ópera romântica em três atos, baseada na versão que Heinrich Heine deu à lenda do holandês errante em “Aus den Memoiren des Herren von Schnabelewopski”, publicada em 1834. A lenda vinha se espalhando pela Europa desde o início do século XVIII e passava de geração a geração. No início do século XIX, começou a receber uma elaboração literária em versões inglesas e alemãs. É uma estória típica de um povo de navegadores, os holandeses, nos tempos das grandes conquistas marítimas. Tratava-se de uma superstição referente a uma embarcação fantástica, supostamente avistada pelos marujos em suas viagens. Essa embarcação sobrenatural se distinguia das embarcações normais por exibir todas as suas velas alçadas ao vento quando as condições de tempo estavam totalmente desfavoráveis e não permitiam aos navios comuns levantar o menor pedaço de pano. Dizia-se que um marinheiro holandês, em punição pela audácia de ter afrontado o diabo durante uma tempestade, foi condenado por este último a errar eternamente pelo mar, sem sossego, sem paz e sem poder morrer. O holandês só se libertaria dessa maldição se uma mulher o amasse e se sacrificasse, sendo-lhe fiel até a morte. A cada sete anos ele tinha o direito de atracar em terra firme em busca de sua redentora.

Wagner escreveu que essa lenda exprime uma característica geral dos homens muito antiga: o desejo de tranquilidade diante das aflições e tempestades da vida. Segundo ele, há duas outras versões muito conhecidas desse tema. No mundo grego, a lenda do holandês se equipara à vida errante de Ulisses em sua nostalgia da pátria e do lar e, no mundo cristão, à lenda do judeu que foi condenado a vagar eternamente sobre a terra, sem direito à morte e ao descanso. Na estória do holandês haveria uma curiosa mistura dos traços da lenda de Ulisses e da lenda do judeu.

A composição de “Der Fliegende Hollander” marca ainda um momento decisivo da evolução de Wagner. Seria o início de sua carreira como poeta dramático e o fim de sua história como libretista de ópera. Ele pensa que isso não teria acontecido bruscamente e de modo consciente mas como uma pulsão natural de sua originalidade e do seu modo particular de encarar a arte. Era o amadurecimento de um artista na descoberta de seu próprio caminho. Rompendo com o modelo tradicional, correu riscos e expôs sua obra a um destino incerto. Porém nas primeiras apresentações “Der Fliegende Hollander” foi uma decepção para o público de Dresden que, pouco tempo antes, havia aclamado calorosamente a ópera “Rienzi”. Wagner compreendeu o quão difícil seria encontrar espectadores amadurecidos e sensíveis a suas inovações. Reza a lenda que após uma apresentação e recepção morna em Berlim, um homem e uma mulher desconhecidos vieram até Wagner falando espontaneamente das expressões e emoções suscitadas pela obra. Para Wagner esse episódio marcou uma compreensão mais nítida, mais importante do que se fazer entender por uma multidão de espectadores, seria atingir a sensibilidade de algumas pessoas, em particular, que poderiam servir como referência para poder perceber se sua mensagem foi transmitida ou não. “Fazer compreender minha intenção era sempre, e antes de tudo, minha preocupação principal e para me assegurar desta compreensão, eu me dirigia instintivamente não mais à massa que me era estrangeira, mas a indivíduos particulares que me faziam apreender distintamente a emoção e o sentimento que eles tinham experimentado. A precisão exata da minha relação com eles exerceu, a partir de então, uma forte influência sobre meu trabalho”.

O holandês é um homem amaldiçoado, um estranho. Wagner mergulhou na história do misterioso marinheiro e criou sua primeira ópera sobre a redenção pelo amor. Dutchman, o andarilho dos mares, inquieto entre a vida e a morte, conhece uma mulher – Senta – que também parece estranha e fascinada por uma figura masculina que nasceu de suas próprias fantasias: o holandês. É um mundo de imagens oscilando entre os sonhos e o fantástico, de obsessões e projeções – um mundo que perde sua conexão com a realidade. Isso afeta especialmente o caçador Erik, que pode parecer ser o único personagem lúcido e verdadeiro. Mas ele perde seu amor para o fantástico. A ópera de Wagner, criada em 1841 e estreada em Dresden em 1843, é um ponto de virada da tradicional ópera romântica alemã representada por Weber e Marschner. Esta ópera é o encontro, pela primeira vez, do tema da vida de Wagner: a redenção do amor através da morte.

Em uma de nossas mesas redondas regadas a vinho, queijo e especiarias lá no Centro de Convenções do PQPBach o nosso querido Vassily Genrikhovich nos presenteou com a gravação que ora compartilhamos. Há anos que procuravamos uma versão do “Der Fliegende Hollander” assim, estupenda! Quero dizer, os amigos do blog não podem imaginar a inspiração completa que flui ao longo desta performance … da atuação, canto, orquestra e engenharia de som! É quase como testemunhar ao vivo! Acho que esta é a versão mais poderosa que eu já ouvi, pelo menos é a mais musical. Na verdade, acredito nos personagens e na história, e é isso que busco quando ouço Ópera. Altamente recomendado !

Sobem as cortinas e apreciem sem moderação esta que é a primeira obra prima de Wagner “Der Fliegende Hollander”.

Richard Wagner
“Der Fliegende Hollaender” – Konwitschny

CD1
01 – Ouvertüre
02 – Hejohe! Hallojo! Ho He! Ja!
03 – Mit Gewitter und Sturm
04 – Die Frist ist um
05 – He! Holla! Steuermann!
06 – Weit komm ich her
07 – Hohohe! Hallojo!
08 – Introduktion (2. Akt)
09 – Summ und brumm, du gutes Rädchen
10 – Johohoe! Traft ihr das Schiff im Meere an
11 – Bleib, Senta!

CD2
01 – Mein Herz, voll Treue
02 – Mein Kind, du siehst mich
03 – Mögst du, mein Kind
04 – Wie aus der Ferne
05 – Verzeiht, mein Volk
06 – Introduktion (3. Akt)
07 – Steuermann, laß die Wacht!
08 – Was mußt’ ich hören
09 – Willst jenes Tages
10 – Verloren!

Personagens e intérpretes
Doland – Gottlob Frick
Senta – Marianne Schech
Erik – Rudolf Schock
Mary – Sieglinde Wagner
Der Steuermann – Fritz Wunderlich
Holländer – Dietrich Fischer-Dieskau

Chor der Deutschen Staatsoper Berlin – Martin Görgen

Staatskapelle Berlin – Frans Konwitschny

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Libreto no velho e bom Português – AQUI

Dietrich Fischer Dieskau apreciando a natureza do Grande Jardim Principal do PQPBach Convention Center

Ammiratore – FDPBach e Vassily Genrikhovich

Richard Wagner (1813-1883): Orchestral Masterpieces – Leopold Stokowski

Vamos continuar neste post, para o deleite dos amigos do blog, com a terceira parte da saga do grande maestro Leopold Stokowski (1882-1977) voltemos ao ano de 1896, tudo começou quando o garoto de treze anos entra para o coro da Igreja St. Marylebone e foi admitido no Royal College of Music. Já em 1898, aos dezesseis anos, foi admitido como membro do Royal College of Organists. Tornou-se organista assistente de Sir Henry Walford Davies (1869-1941) em The Temple Church, Londres. Em 1900, Stokowski formou o coro da Igreja Anglicana Santa Maria, Charing Cross Road, e lá também tocou o órgão. Então, de 1902 a 1905, Stokowski foi organista e mestre de coro na Igreja Anglicana de St. James, em Piccadilly, Londres. A partir desta posição como organista e mestre de coro na Igreja Anglicana, em 1905, Stokowski foi recrutado para se tornar organista na Igreja Episcopal de São Bartolomeu em Nova York, na Madison Avenue e 44th Street. O jovem desenvolveu uma respeitável reputação musical em Nova York e conheceu uma série de personalidades importantes, incluindo sua futura esposa, Olga Samaroff (1882-1948). Stokowski também realizou uma série de transcrições de obras orquestrais das sinfonias de Tchaikovsky, de antigos compositores como Byrd e Palestrina, e de óperas de vários compositores, incluindo Wagner em 1907. Mas Stokowski estava determinado a dirigir uma orquestra sua ou um grupo orquestral. Em 1908, ele renunciou à posição de organista e na primavera daquele ano, ele e sua esposa Olga partiram para a Europa, com Stokowski determinado a encontrar um novo começo.

Stokowski em 1910

O jovem Leopold, apesar da falta de experiência em nunca ter conduzido uma orquestra sinfônica profissional, um ano depois de deixar o posto de organista na Igreja Episcopal de São Bartolomeu em Nova York, nomeado maestro da Orquestra Sinfônica de Cincinnati, foi o começo de sua carreira estelar. Como poderia uma transformação tão notável acontecer? Na biografia do maestro o escritor Chasins afirma que a esposa Olga Samaroff havia se encontrado “por acaso” com Bettie Holmes, presidente da diretoria da Associação da Orquestra Sinfônica de Cincinnati. A orquestra estava procurando um maestro para liderar a sinfônica que eles tinham acabado de restabelecer. Olga Samaroff sugeriu Leopold Stokowski. Isso o levou a ser entrevistado pelo Conselho de Cincinnati em 22 de abril de 1909. Aprovado, Stokowski conduziu seu primeiro concerto com a Cincinnati Symphony Orchestra em 26 de novembro de 1909 no Music Hall. Ele estreou com a abertura de “A Flauta Mágica”, de Mozart, a “Quinta Sinfonia” de Beethoven e “Ride of the Valkyries”, de Wagner. Foi um sucesso imediato, particularmente pelo impacto do seu carisma. Durante o período em Cincinnati de 1909 a 1912, Stokowski trabalhou assiduamente na melhoria de suas habilidades de condução e na construção de um repertório de obras que ele dominava. Embora ele tenha chegado a Cincinnati praticamente sem experiência na condução de uma orquestra sinfônica, seu profundo talento artístico e habilidades de liderança natural levaram a um sucesso rápido.

Primiere Ciccinati

Stokowski também mostrou desde o início uma busca pelo novo e inovador. Mesmo desde os primeiros concertos de Cincinnati, ele programava obras de compositores vivos, e seu mix de programação era estimulante. Ele também procurou expandir continuamente a temporada da orquestra viajando para outras cidades.

Olga foi um ingrediente chave no sucesso inicial da carreira de Stokowski. Durante esse período pré-guerra, Stokowski e Olga Samaroff também passariam os verões na Baviera em sua vila em Munique, imersos nos festivais culturais ativos de verão e na vida social. Munique nos verões naquela época era uma “Meca” musical na Europa. Este foi provavelmente o tempo mais feliz de Olga e Leopold juntos. Enquanto isso, em Cincinnati, Stokowski teve uma mistura de sucessos e rejeições da diretoria da orquestra, procurando expandir as turnês, inclusive para Nova York, e acrescentando músicos. Em março de 1912, depois de aumentar progressivamente os confrontos com a diretoria, Stokowski pediu para ser liberado dos dois anos restantes de seu contrato em Cincinnati. As más línguas da época suspeitaram que ele já estava de olho em outro estado, a Filadélfia. De fato a 13 de junho de 1912 Stokowski assina com a Orquestra da Filadélfia e em 8 de outubro de 1912, Stokowski realizou seu primeiro ensaio com a Orquestra da Filadélfia, seguido rapidamente pelo primeiro concerto em 12 de outubro. Durante o restante da década, Stokowski procurou substituir os músicos antigos da orquestra por jovens de mente aberta. Um aspecto de desempenho que ele parece ter perseguido desde o começo foi um estilo de performance flexível e menos rígido, do qual sua preferência pelos instrumentos de cordas é um diferencial. Estas renovações nos músicos ele aplicou em toda sua carreira e com qualquer orquestra com a qual ele entrou em contato.

Esta gravação de Stokowski conduzindo as obras de Wagner que ora compartilho com os amigos é um bom exemplo de como o maestro reescrevia obras originais, esta prática entre alguns grandes regentes era muito comum e se encaixava no gosto da época, hoje se busca pelo original, com instrumentos originais de época preferencialmente. Esta seleção da Fase 4 reúne cerca de uma hora de trechos orquestrais e populares das óperas de Wagner gravados em estúdio em 1966, quando o regente tinha 84 anos, além de uma faixa de 1972 “Meistersinger Prelude” que é ao vivo. Os resultados são amplos, românticos e emocionantes. O estilo predominante aqui é extrovertido e não sutil. A faixa do “Meistersinger” de 1972, feito quando ele tinha 90 anos, nos traz de volta ao som orquestral original, sem trechos reescritos. Devo dizer que Stokowski está magnifico. A abertura das Valkyries é emocionante e divertida, pelo destaque ao flautim (não sei se propositalmente feito pelo maestro, ou uma falha do engenheiro de som… sei lá, mas que ficou diferente ficou). Mas, à medida que avançamos as faixas, o Wagner de Stokowski se torna cada vez mais extravagante. O arranjo, o som acústico e o ritmo do maestro são perfeitos ao que ele nos propõe, em vez de apenas soar como mais uma “performance”. Muito interessante, assim como no post anterior da sinfonia de Beethoven, o som estéreo da Fase 4 que está em todo o lugar. Stokowski usa e abusa dos efeitos e nos oferece seus deliciosos truques. Acho um erro comparar estas gravações, por exemplo, com Furtwangler, Karajan ou Solti. É uma proposta diferente, original. Stokowski tem o foco em salões cheios e dar espetáculo àqueles que não tem o costume de cultuar a chamada Música Clássica. Os fãs puritanos de Wagner podem dar uma boa risada e levar numa boa, só isso. A qualidade do gênio Stokowski eu admiro muito.

É uma releitura genial e magistral de Wagner, apenas ouça ignorando o puritanismo.

Wagner: Orchestral Masterpieces

1. The Ride of the Valkyries – Die Walkure
2. Dawn and Siegfried’s Rhine Journey – Barry Tuckwell/Gotterdammerung
3. Siegfried’s Death and Funeral Music – Gotterdammerung
4. Entrance of the gods into Valhalla – Das Rheingoldi
5. Forest Murmurs – Siegfried
6. Prelude – Die Meistersinger

London Symphony Orchestra
Leopold Stokowski
Faixas 1-5: Recorded in Kingsway Hall, London, 26 august 1966
Faixa 6: Recorded in the Royal Festival Hall, London, june 1972

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Leopold, dando uma geral no Órgão do Salão de Concertos do PQP.

Ammiratore

Richard Wagner (1813-1883): O Navio Fantasma

Richard Wagner (1813-1883): O Navio Fantasma

Encarte parte 1_Página_1Em julho de 1839, um pequeno navio mercante alemão viajava da capital da Prússia para Londres. Após cruzar as calmas águas do Báltico, no estreito que separa a Dinamarca da Suécia a pequena embarcação se deparou com uma violenta tempestade que se estendeu até a costa Sul da Noruega. Enquanto o comandante e a tripulação de seis marinheiros davam todos os seus esforços para manter o navio a salvo os dois passageiros, um jovem alemão de 26 anos e sua bonita esposa, se refugiavam na estreita cabina do comandante com todas as impressões de quem não está acostumado a viagens agitadas no mar; enjôos e aquele sentimento de que vão morrer a qualquer momento. Os passageiros eram Richard Wagner (1813-1883) e sua esposa Minna. Estavam “de carona” no navio e desembarcariam na França, pois sua ambição era completar e ver representada a ópera Rienzi na Ópera de Paris. Quando a embarcação foi obrigada a desviar para a costa da Noruega os ventos diminuíram e a tempestade ficava para trás, Wagner sobe ao convés e contempla a tripulação trabalhando e cantando enquanto passavam pelos labirintos dos fiordes noruegueses. Wagner descreveu o episódio da seguinte maneira: “Quando me senti quase aliviado, quando vi a extensa costa rochosa, era para lá que o vento nos impelia violentamente. Um piloto norueguês veio ao nosso encontro em uma pequena embarcação e com mão segura tomou o comando do nosso navio, graças ao que pouco depois tive uma das maiores impressões maravilhosas de minha vida. Aquilo que eu pensara ser uma linha contínua de montanhas, ao nos acercar, resultou em rochas separadas que se projetavam para o mar. Quando passamos delas, notamos que estávamos rodeados de arrecifes, não só pela frente como por trás, de maneira tal que parecíamos estar no meio de uma verdadeira cadeia de pedras. Essas rochas quebraram paulatinamente a ferocidade do furacão, que ia ficando cada vez mais para trás, pois as águas iam-se acalmando à medida que navegávamos por esse sempre cambiante labirinto rochoso. Finalmente, pareceu-nos estar sobre um lago tranquilo, quando fomos introduzidos em um fiorde, que a mim se assemelhou com a entrada do mar no fundo de uma profunda garganta pétrea. Uma indescritível sensação de satisfação me embargou a voz, quando os imponentes alcantilados de granito fizeram eco aos gritos da tripulação, enquanto soltava a âncora e baixava as velas. Senti os ritmos desse chamado como um bom augúrio, os quais se converteram no tema da canção dos marinheiros de “O Navio Fantasma” (ou, O Holandês Errante). A ideia da ópera fixou-se latente em minha imaginação e, devido às impressões experimentadas, lentamente começou a tomar forma poética e musical em minha memória.” Esta canção dos marinheiros é cantada no início da ópera (CD1 faixa 2) pelos marinheiros noruegueses quando eles escapam da tempestade. A lenda do Navio Fantasma ele a encontrou nas “Memórias do Senhor von Schnabelewopski”, de Heine. A história se refere a um capitão que jurou, apesar do mar tempestuoso, que o impedia, que dobraria o Cabo da Boa Esperança, mesmo que devesse navegar até o dia do juízo final. O diabo lhe tomou as palavras, e o dedicado holandês e sua tripulação se viram obrigados a navegar eternamente; mas era-lhe permitido ir a terra uma vez a cada sete anos, para ver se conseguiria encontrar uma mulher que o amasse fielmente até a morte, redimindo-o assim de sua maldição.

A redenção através do amor – uma idéia muito cara a Wagner.

Wagner, em plena juventude, em sua não tão agradável temporada em Paris (1839-1841), compôs a música do Navio Fantasma em apenas sete semanas. Deixou interessantíssimas e minuciosas notas sobre a concepção dos personagens e como deveriam ser interpretados. Originalmente, a estória se passava na Escócia, mas Wagner, tendo passado por aquela tormenta na costa norueguesa, situou a ação nesse país. Vamos ao argumento da ópera dividida em três atos:

Primeiro ato: Daland, um navegardor norueguês, vê-se forçado por uma severa tempestade a ancorar numa baía protegida, não muito distante de sua cidade. Ele e sua tripulação descem para repousar, enquanto esperam por melhor tempo, deixando o piloto sozinho montando guarda. Ele entoa uma canção (CD1 faixa 3) para manter-se desperto, mas acaba vencido pelo sono. Um sinistro navio de mastros negros pode ser agora visto. DVD 6Ele vem flutuando e ancora na baía. Enquanto a fantasmagórica tripulação recolhe as velas vermelho-sangue, seu comandante vem à terra. Trata-se do lendário Holandês Voador, condenado com sua tripulação a singrar os mares por toda a eternidade. A cada sete anos é-lhe concedido desembarcar em busca de uma mulher fiel, que possa redimi-lo. Mas até então nenhuma mulher fora-lhe fiel, fazendo com que ele anseie apenas pela morte e pelo esquecimento (CD1 faixa 4). Ao despertar , Daland depara-se com o estranho navio e saúda o comandante. O holandês conta-lhe como por anos a fio tem desejado um lar. Ordena que lhe tragam de bordo um baú cheio de riquezas, e promete a Daland toda sua fortuna se este oferecer-lhe hospitalidade. Ao tomar conhecimento de que Daland tem uma filha, pergunta-lhe se ela poderia vir a ser sua esposa. O norueguês fica encantado com a perspectiva de um genro tão abastado (CD1 faixa 6) e o holandês vê mais uma vez renovar-se dentro de si a esperança. Nesse meio tempo, a tempestade amainou e sopra um vento sul que lhes permite retomar a viagem de volta à casa. Ao canto da tripulação, o navio de Daland faz-se ao mar, o holandês promete segui-lo assim que seus homens tenham descansado.

Segundo ato: Na casa de Daland moças estão cantando e fiando sob a supervisão da velha ama, Mary (CD1 faixa 11). Somente Senta, filha e Daland, não toma parte. Ela está absorta contemplando um quadro na parede, que retrata o Holandês Voador. As outras moças riem de seu interesse pelo retrato, e brincam dizendo-lhe que o caçador Erik, que a ama, ficará enciumado. Senta pede a Mary que cante para ela a velha balada do Holandês Voador, cuja sorte a emociona tão profundamente. A ama nega-se a fazê-lo e a própria Senta canta a lenda do comandante cujo juramento blasfematório condenou-o a errar pelos mares, até que possa encontrar uma mulher que lhe seja fiel até a morte (CD1 faixa 13). Sena canta com crescente emoção, e as companheiras a ouvem cada vez com maior interesse, acabando por juntar-se a ela no refrão. No final, presa de selvagem excitação, Senta declara que deseja ser a redentora do holandês. Mary e as moças ficam horrorizadas, assim como Erik, que acabara de entrar trazendo a notícia da volta de Daland. Mary conduz as fiadeiras para fora, para prepararem as boas vindas aos marinheiros, mas Erik retém Senta e tenta fazê-la voltar a si de sua obsessão pela lenda do holandês. Sabedor de que o pai de Senta não aceitaria um genro pobre, Erik tenta conseguir pelo menos alguma retribuição pelo amor que volta de declarar-lhe (CD2 faixa 3). Senta responde de maneira evasiva. Erik narra-lhe um sonho que tivera, onde vira Senta e o misterioso navegante do quadro desaparecerem juntos no mar (CD2 faixa 4) Senta interpreta o sonho como profecia, declarando em êxtase que se sacrificaria pelo holandês. Erik sai desesperado, e Senta volta a contemplar o retrato. Nesse momento Daland entra com o holandês. Ele explica à sua filha que o estrangeiro desejaria casar-se DVD 9com ela, e fala de sua riqueza, ao mesmo tempo em que louva a beleza da filha para o holandês (CD2 faixa 6). Querendo deixá-los a sós, ele sai. O holandês contempla Senta sonhadoramente, reconhecendo nela a mulher fiel com que sempre sonhou (CD2 faixa7). Senta, por sua vez, promete que cumprirá os desígnios de seu pai, e quando o holandês fala de seus sofrimentos ela demonstra sua simpatia e compaixão. O holandês acredita que seus sofrimentos estão para acabar. Quando Daland volta para saber o que a filha havia decidido, ela jura que irá casar-se com o estrangeiro, sendo-lhe fiel até a morte.

Terceiro ato: A bordo de seu navio, os marinheiros de Daland estão celebrando a volta ao lar (CD2 faixa 12). O navio do holandês está ancorado bem perto, sinistramente sombrio e silencioso. Chegam as moças trazendo comida e bebida. Chamando os marinheiros holandeses para virem juntar-se a eles. Mas não há resposta, nem mesmo quando os marinheiros de Daland renovam o convite. Os marujos noruegueses divertem-se dizendo que aquele deve ser o navio fantasma do Holandês Voador, e retomam seu canto, enquanto as moças se afastam. Nesse momento inicia-se um movimento crescente no navio do holandês, que começa a jogar e a sacudir, como se estivesse sendo acossado por uma tempestade, apesar do mar no porto permanecer perfeitamente calmo. Irrompe então um coro selvagem, fantasmagórico, fazendo calar o canto dos noruegueses, que fogem apavorados, perseguidos pelas risadas zombeteiras e enregelantes da tripulação espectral do holandês. Senta sai da casa de seu pai, seguida por Erik, que a censura amargamente por sua decisão de casar-se com o estrangeiro, que ele havia reconhecido pelo fatídico quadro. Erik insiste em que Senta havia jurado anteriormente ser fiel apenas DVD 1a ele (CD2 faixa16). Surpreendendo a conversa o holandês julga ter sido mais uma vez traído. Apesar de todas as que quebram o juramento feito a ele serem eternamente condenadas, Senta ainda não lhe jurara fidelidade diante de Deus. Assim sendo, o holandês resolve abandoná-la imediatamente, para evitar sua ruína. Erik chama Daland, Mary e os outros, para ajudarem a impedir Senta de seguir o estrangeiro que agora revela, abertamente, sua identidade como o Holandês Voador, antes de mais uma vez fazer-se ao mar. Senta consegue livrar-se, volta a jurar que será fiel ao holandês até a morte, e tira-se no mar. O navio maldito lança-se sobre as ondas e vê-s, à distância, as formas transfiguradas de Senta e do holandês, alçando-se juntos rumo ao céu.

(Trechos retirados do encarte do vinil da versão do Sir Georg Solti, 1976, texto Gerd Uekermann ).

O Navio Fantasma, uma obra de prodigiosa genialidade. Wagner se identificava intensamente com o Holandês Voador como se pode sentir já bem no início da Abertura, onde quatro trompas lançam o tema audaz do comandante do navio, guiado pelo destino contra o vento uivante colocado em movimento pelas madeiras agudas, trompetes e cordas em tremolo. Mais do que qualquer outro trabalho de Wagner, esta ópera dá aos estudiosos e ouvintes uma visão fascinante sobre o início da direção de sua autêntica criatividade, ai o gênio ainda jovem descobre seu verdadeiro eu. Ainda inconscientemente ele semeia um processo original que o separaria da ópera tradicional. A qualidade da música é de inextinguível vitalidade. Esta performance do Festival de Bayreuth de 1985 que compartilho com vocês é soberba! Simon Estes esta sensacional sua voz é esmagadora e dá ao holandês a credibilidade e presença que justificam a obsessão de Senta, interpretado pela magnífica Lisbeth Balslev, ela canta lindamente e ao mesmo tempo assustadoramente incorporando de forma impressionante a personagem perturbada que é Senta. Matti Salminen é simplesmente incrível – moçada, essa voz realmente vem de uma garganta humana ? Schunk canta Erik de maneira maravilhosa e poderosa; o melhor que eu já ouvi ! A orquestra do Festival de Bayreuth sob a regência do grande Woldemar Nelsson está arrebatadora. A música surge de uma forma como se os artistas adorassem essa ópera, é o que eu consigo perceber pela forma significativa que eles transmitiam durante a apresentação. Realmente é emocionante de ouvir ! Recomendo sem restrições àqueles que desejam conhecer a música de Wagner.

Pessoal, o libreto em português está junto com as faixas e as imagens do encarte. Bom divertimento !

Richard Wagner (1813-1883): O Navio Fantasma

CD1
01 – Overture
02 – Hojoje! Hojoje !
03 – Mit Gewitter und Sturm aus fernem Meer.
04 – Die Frist ist um
05 – Wie oft in Meeres tiefsten Schlund.
06 – He! Holla! Steuermann.
07 – Durch Sturm und bösen Wind
08 – Wie? Hör ich recht ?
09 – Südwind!
10 – Mit Gewitter und Sturm aus fernem Meer
11 – Summ und brumm
12 – Du Böses Kind.
13 – Johohoe! Traft ihr das Schiff im Meere an.

CD2
01 – Ach, wo weilt sie
02 – Senta! Willst du mich verderben?
03 – Bleib, Senta!
04 – Auf hohem Felsen lag ich träumend.
05 – Mein Kind
06 – Mögst du, mein Kind.
07 – Wie aus der Ferne.
08 – Wirst du des Vaters Wahl nicht schelten?
09 – Ein heil ger Balsam.
10 – Verzeiht! Mein Volk.
11 – Entr’acte
12 – Steuermann, lab die Wacht!
13 – Tan der norwegischen Matrosen.
14 – Johohoe! Johohoe! Hoe! Hoe!
15 – Was mubt ich hören.
16 – Willst jenes Tags du nicht.
17 – Verloren! Ach, verloren !
18 – Erfahre das Geschick

Daland – Matti salminen
Senta – Lisbeth Balslev
Erik – Robert Schunk
Mary – Anny Schlemm
Der Steuermann – Graham Clark
Der Holländer – Simon Estes
Coro do Festival de Bayreuth, Orquestra do Festival de Bayreuth
Woldemar Nelsson – Regente
Gravação original do Festival de Bayreuth – 1985

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Wagner fazendo pose na época da composição do Navio Fantasma.
Wagner fazendo pose na época da composição do Navio Fantasma.

Ammiratore

Richard Wagner (1813-1883): Complete Piano Works, Dario Bonuccelli (1985) piano

Richard Wagner (1813-1883): Complete Piano Works, Dario Bonuccelli (1985)  piano

Capa Wagner Álbum duplo lançado no ano de 2013 em comemoração ao bicentenário do nascimento de Richard Wagner. Mostra um lado do compositor que raramente é ouvido, a obra piano solo.

Wagner é um gigante nos dramas de música que influenciaram a muitos compositores do século XX .

Na presente gravação das obras completas para piano, basicamente o jovem Wagner colocou seu “bonezinho” de Beethoven em suas sonatas de piano e sua fantasia, gradualmente foi desenvolvendo e revelando o seu próprio estilo, ouvidos nas pequenas danças e “folhas de álbuns”.

Esta gravação do selo Dynamic evita a ordem cronológica. É dada maior ênfase ao Wagner que conhecemos, especialmente no arranjo de abertura do Prelúdio a Tristan und Isolde, e o punhado de peças que Wagner escreveu a partir da década de 1850.

A interpretação do pianista italiano Dario Bonuccelli (1985) é limpa e focada, o jovem e competente pianista em alguns momentos poderia oferecer um pouquinho mais de envolvimento emocional, uma pimentinha talvez, melhoraria a leitura e não passaria a impressão de uma interpretação apenas mecânica. A interpretação da Fantasia é adequadamente apaixonada. Bonuccelli equalizou de forma convincente a interpretação das sonatas, são interpretações lúcidas e bonitas.

A qualidade da gravação do selo Dynamic dá a Bonuccelli presença e ressonância extraordinárias.

Richard Wagner (1813-1883): Complete Piano Works, Dario Bonuccelli (1985)  piano

01 Wagner – Tristan und Isolde WWV 90
02 Wagner – Albumblatt in E
03 Wagner – Polka in G
04 Wagner – Zuricher Vielliebchen Walzer in Eb
05 Wagner – Albumblatt in C In das Album der Furstin Metternich
06 Wagner – Albumblatt in Ab Ankunft bei den schwarzen Schwane
07 Wagner – Albumblatt in Eb
08 Wagner – Albumblatt in Eb
09 Wagner – Polonaise in D WWV 23a
10 Wagner – Polonaise in D
11 Wagner – Notenbrief fur Mathilde Wesendonck
12 Wagner – Elegie WWV 93
13 Wagner – Fantasia in F# WWV22 Op3
14 Wagner – Piano Sonata in Ab WWV85 Eine Sonate für das Album von Frau Mathilde Wesendonck
15 Wagner – Piano Sonata in Bb Allegro con brio
16 Wagner – Piano Sonata in Bb Largetto
17 Wagner – Piano Sonata in Bb Menuetto Allegro
18 Wagner – Piano Sonata in Bb Finale Allegro vivace
19 Wagner – Piano Sonata in A Grosse Sonate Allegro con moto
20 Wagner – Piano Sonata in A Grosse Sonate Adagio molto ed assai expressivo
21 Wagner – Piano Sonata in A Grosse Sonate Maestoso Fugue Tempo moderato e majestoso
22 Wagner – Piano Sonata in A Grosse Sonate Maestoso Fugue Tempo moderato e maestoso

Dario Bonuccelli – Piano

DOWNLOAD HERE – BAIXE AQUI

O jovem Dario Bonuccelli ao piano
O jovem Dario Bonuccelli ao piano

AMMIRATORE

Richard Wagner (1813-1883) – Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg (Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg)

Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg (Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg, em alemão) é uma ópera em três atos com a música de Richard Wagner, e com o libreto do próprio compositor. Estreou no ano de 1845 na cidade Dresden, na Alemanha. Baseada numa lenda medieval, conta a história de Tannhäuser, um menestrel que se deixa seduzir por uma mulher mundana, de nome Vênus, contrariando assim a defesa do torneio dos trovadores a que ele pertence de que o amor deve ser sublime e elevado. Quando Tannhäuser defende deliberadamente o amor carnal de Vênus, é reprimido pelos trovadores e consolado apenas por Isabel, uma virgem que o ama muito. É-lhe dito que sua única chance de perdão é dirigir-se ao Vaticano e rogar o perdão do Papa.Tannhäuser segue, então, com o torneio até Roma, mas de maneira auto-punitiva: dormindo sobre a neve, enquanto os demais estão no alojamento; caminhando descalço sobre o chão quente, passando fome, e ainda com os olhos vendados, para não ver as belas paisagens da Itália. Ao chegar diante do papa, em vez de obter o perdão, ouve o papa dizer que é mais fácil o cajado que ele segura florescer do que ele obter o perdão dos pecados, tanto no céu quanto na terra. Odiando a igreja, Tannhäuser volta à Alemanha e Isabel sobe aos céus, rogando a Deus que interceda por ele. Os trovadores voltam com a notícia de que o cajado do papa floresceu, simbolizando que um pecador obteve no céu o perdão que não obteve na terra.

DAQUI

Richard Wagner (1813-1883) – Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg (Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg)

DISCO 01

01. Overture

Act 1

02. “Naht euch dem Strande” (Venusberg Music)
03. “Geliebter, sag, wo weilt dein Sinn?”
04. “Dir töne Lob! Die Wunder sei’n gepriesen”
05. “Geliebter, komm! Sieh dort die Grotte!”
06. “Stets soll nur dir mein Lied ertönen!”
07. “Zieh hin, Wahnsinniger, zieh hin!”
08. “Frau Holda kam aus dem Berg hervor”
09. “Zu dir wall ich, mein Jesus Christ”
10. “Wer ist der dort in brünstigem Gebete?”
11. “Als du in kühnem Sange uns bestrittest”

DISCO 02

Act 2

01. “Dich, teure Halle, grüß ich wieder”
02. “Dort ist sie; nahe dich ihr ungestört!” – “Der Sänger klugen Weisen lauscht’ ich sonst”
03. “Den Gott der Liebe sollst du preisen”
04. “Dich treff ich hier, in dieser Halle”
05. “Freudig begrüßen wir die edle Halle”
06. “Gar viel und schön”
07. “Blick ich umher in diesem edlen Kreise”
08. “Auch ich darf mich so glücklich nennen” – “Den Bronnen, den uns Wolfram nannte”
09. “O Walther, der du also sangest” – “Heraus zum Kampfe mit uns allen!” – “O Himmel, laß dich jetzt erflehen”
10. “Dir, Göttin der Liebe, soll mein Lied ertönen!”
11. “Was hör ich?”
12. “Der Unglücksel’ge, den gefangen”
13. “Weh! Weh, mir Unglücksel’gem!”
14. “Ein furchtbares Verbrechen ward begangen”
15. “Versammelt sind aus meinen Landen”

DISCO 03

Act 3

01. Introduction
02. “Wohl wußt’ ich hier sie im Gebet zu finden”
03. “Beglückt darf nun dich, o Heimat, ich schauen” – “Dies ist ihr Sang”
04. “Allmächt’ge Jungfrau, hör mein Flehen!”
05. “Wie Todesahnung Dämmrung deckt die Lande”
06. “O du, mein holder Abendstern”
07. “Ich hörte Harfenschlag”
08. “Inbrunst im Herzen”
09. “Nach Rom gelangt’ ich so”
10. “Da sank ich in Vernichtung dumpf darnieder” – “Halt ein! Unsel’ger”
11. “Willkommen, ungetreuer Mann” – “Der Seele Heil, die nun entflohn”
12. “Heil ! Heil! Der Gnade Wunder Heil!”

Orchester der Deutschen Oper Berlin
Chor der Deutschen Oper Berlin
Otto Gerdes, regente
Birgit Nilsson
Horst Laubenthal
Friedrich Lenz
Dietrich Fischer-Dieskau
Klaus Hirte
Hans Sotin
Theo Adam
Walter Hagen-Groll

BAIXAR AQUI CD01
BAIXAR AQUI CD02

BAIXAR AQUI CD03

Carlinus

Richard Wagner (1813-1883) – Os Mestres Cantores de Nuremberg (Die Meistersinger von Nürnberg)

Continuemos em nossa empreitada das óperas wagnerianas. A seguir, informações históricas sobre Os Mestres cantores de Nuremberg, extraídas DAQUI: “A ópera Die Meistersinger, de Wagner está baseada em fatos históricos. A figura dos Mestres cantores remonta seu patrimônio estilístico ao Minnesinger alemão. Equivalente ao trovador ou menestrel, os Minnesinger percorriam a Alemanha dos séculos XII, XIII e XIV, compondo canções e poemas em louvor ao amor galante. A partir dessas criações foram estabelecidos conjuntos de regras que deveriam ser rigorosamente obedecidos na composição musical. Aqueles que estabeleceram esse estilo de composição musical eram chamados Meistersinger e estiveram em voga do século XIV até o século XVI. Em geral, os Meintersinger eram artesões de classe media que se organizavam e sociedades ou Singschulen (“escolas de canto”) para poetas e músicos. Dentro das sociedades eram observados diferentes níveis hierárquicos: os que se encontravam no primeiro nível eram os Schüler e os Schulfreunde (aprendizes), seguidos pelos Sänger (cantores), Dichter (“poetas”) e no topo, o cobiçado título de Meister (aqueles dotados de talento para produzir novas melodias). As sociedades de Meistersinger freqüentemente promoviam concursos com regras estritas, semelhante ao apresentado na ópera de Wagner. As regras ou Tablatur, determinavam a melodia, o metro, o esquema de rimas e até o tema. Uma vez que essas competições eram realizadas nas igrejas, somente assuntos religiosos eram permitidos (no mínimo até o século XV), após a Reforma os temas eram originados quase que exclusivamente da Bíblia de Lutero. O apego a linguagem utilizada por Lutero é também um exemplo de como os Meistersinger estavam comprometidos com o emprego de uma linguagem pura. Para suas canções eles preferiam o padrão do hochdeutsch (alemão superior) utilizado nas classes sociais mais altas, no governo e na Bíblia de Lutero. Um dialeto regional poderia ser usado mas moderadamente, palavras coloquiais não poderiam ser empregadas para rimar com palavras do alemão superior. Outras regras estabeleciam que o significado da poesia deveria ser claro e que a claridade e a gramática não poderiam comprometer a rima ou o número de sílabas. As Singschulen (escolas de canto) se encontravam em todas as cidades ao sul da Alemanha mas foi Nüremberg que se destacou como centro principal. Nüremberg foi a cidade natal de Hans Sachs, também ficou conhecida pelos esforços de um Hans Folz, que tentou persuadir sua sociedade a atenuar as restrições musicais. Apesar dos esforços inovadores de Hans Folz e de outros, as várias Singschulen foram paulatinamente eliminadas pela rigidez e complexidade de seus Tablatur (conjuntos de regras). Gradualmente as sociedades se dissolveram e apenas um grupo sobreviveu até 1875 em Memmingen“.

Mais informações AQUI

Richard Wagner (1813-1883) – Os Mestres Cantores de Nuremberg (Die Meistersinger von Nürnberg)

DISCO 01

01. Prelude
02. Act-1 Scene 1 – Da zu dir der Heiland kam, willig seine Taufe nahm
03. Act-1 Scene 1 – Verweilt! – Ein Wort! Ein einzig Wort!
04. Act-1 Scene 1 – Da bin ich; wer ruft_
05. Act-1 Scene 2 – David, was stehst_
06. Act-1 Scene 2 – Mein Herr, der Singer Meisterschlag gewinnt sich nicht an einem Tag
07. Act-1 Scene 2 – Das sind nur die Namen; nun lernt sie singen
08. Act-1 Scene 2 – Habt ihr zum ‘Singer’ euch aufgeschwungen und der Meister T_ne richtig gesungen
09. Act-1 Scene 3 – Seid meiner Treue wohl versehen, was ich bestimmt, ist euch zu Nutz_
10. Act-1 Scene 3 – Zu einer Freiung und Zunftberatung ging an die Meister ein’ Einladung_
11. Act-1 Scene 3 – Das schone Fest, Johannistag, ihr wisst, begeh’n wir morgen;
12. Act-1 Scene 3 – Das heisst ein Wort, ein Wort ein Mann!
13. Act-1 Scene 3 – Verzeiht! Vielleicht schon ginget ihr zu weit
14. Act-1 Scene 3 – Mir gen¨¹gt der Jungfer Ausschlagstimm’
15. Act-1 Scene 3 – Dacht’ ich mir’s doch! Geht’s da hinaus, Veit_
16. Act-1 Scene 3 – Am stillen Herd in Winterszeit, wann Burg und Hof mir eingeschneit
17. Act-1 Scene 3 – Nun, Meister, wenn’s gefallt, werd’ das Gemerk bestellt
18. Act-1 Scene 3 – Was euch zum Liede Richt’ und Schnur, vernehmt nun aus der Tabulatur!

DISCO 02

01. Act-1 Scene 3 – ‘Fanget an!’ – So rief der Lenz in den Wald
02. Act-1 Scene 3 – Seid ihr nun fertig_
03. Act-1 Scene 3 – Halt, Meister! Nicht so geeilt!
04. Act-1 Scene 3 – Aus finst’rer Dornenhecken die Eule rauscht hervor
05. Act-2 Scene 1 – Johannistag! Johannistag!
06. Act-2 Scene 2 – Lass sehn, ob Nachbar Sachs zu Haus_
07. Act-2 Scene 3 – Zeig her! – ‘s ist gut. Dort an der Tur’
08. Act-2 Scene 3 – Wie duftet doch der Flieder so mild, so stark und voll!
09. Act-2 Scene 4 – Gut’n Abend, Meister! Noch so fleissig_
10. Act-2 Scene 4 – Hilf Gott! Wo bliebst du nur so spat_ – Scene 5 – Da ist er!
11. Act-2 Scene 5 – Ja, ihr seid es! nein, du bist es!
12. Act-2 Scene 5 – Uble Dinge, die ich da merk’_ – Scene 6 – Wie_ Sachs_ Auch er_
13. Act-2 Scene 6 – Jerum! Jerum! Hallo allohe!
14. Act-2 Scene 6 – Mich schmerzt das Lied, ich weiss nicht wie!
15. Act-2 Scene 6 – War das eu’r Lied_
16. Act-2 Scene 6 – Den Tag seh’ ich erscheinen, der m¨ªr wohl gefall’n tut_
17. Act-2 Scene 6 – Seid ihr nun fertig_
18. Act-2 Scene 7 – Ach, Himmel! David! Gott, welche Not!

DISCO 03

01. Act-3 – Prelude
02. Act-3 Scene 1 – Gleich, Meister! Hier!
03. Act-3 Scene 1 – Blumen und Bander seh’ ich dort_ schaut hold und jugendlich aus
04. Act-3 Scene 1 – ‘Am Jordan Sankt Johannes stand’
05. Act-3 Scene 1 – Wahn! Wahn! ¨¹berall Wahn!
06. Act-3 Scene 2 – Gruss’ Gott, mein Junker! Ruhtet ihr noch_
07. Act-3 Scene 2 – Mein Freund, in holder Jugendzeit
08. Act-3 Scene 2 – Morgenlich leuchtend in rosigem Schein
09. Act-3 Scene 2 – Abendlich gluhend in himmlischer Pracht verschied der Tag
10. Act-3 Scene 3 – Ein Werbelied! Von Sachs! Ist’s wahr_
11. Act-3 Scene 3 – Oh Schuster, voll von Ranken
12. Act-3 Scene 3 – Mag sein; doch hab’ ich noch nie entwandt
13. Act-3 Scene 4 – Gruss Gott, mein Evchen!
14. Act-3 Scene 4 – Weilten die Sterne im lieblichen Tanz_
15. Act-3 Scene 4 – O Sachs, mein Freund! Du teurer Mann!

DISCO 03

01. Act-3 Scene 4 – Ein Kind ward hier geboren_
02. Act-3 Scene 4 – Selig, wie die Sonne meines Gluckes lacht
03. Act-3 Scene 4 – Nun, Junker, kommt! Habt frohen Mut!
04. Act-3 Scene 5 – Sankt Krispin, lobet ihn!
05. Act-3 Scene 5 – Ihr tanzt_ Was werden die Meister sagen_
06. Act-3 Scene 5 – Wacht auf, es nahet gen den Tag;
07. Act-3 Scene 5 – Euch macht ihr’s leicht, mir macht ihr’s schwer
08. Act-3 Scene 5 – O Sachs, mein Freund! Wie dankenswert!
09. Act-3 Scene 5 – Morgen ich leuchte in rosigem Schein
10. Act-3 Scene 5 – Das Lied, furwahr, ist nicht von mir
11. Act-3 Scene 5 – Morgenlich leuchtend im rosigen Schein, von Blut’ und Duft geschwellt die Luft
12. Act-3 Scene 5 – Verachtet mir die Meister nicht, und ehrt mir ihre Kunst!
13. Freischutz – Nein, langer trag’ich nicht die Qualen
14. Freischutz – Durch die Walder durch die Auen
15. Freischutz – Wolfsschlucht

Saxon State Orchestra
Rudolf Kempe, regente
Ferdinand Frantz, Hans Sachs
Tiana Leimnitz, Eva
Gerhard Unger, David
Kurt Bohme, Veit Pogner

Dresden, 1951

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Carlinus

Richard Wagner (1813-1883) – Rienzi , o último dos tribunos, WWV 49 (ópera em 5 atos)

Rienzi, der letzte der Tribunen (em port.: Rienzi, o último dos tribunos) é a terceira ópera, de cinco actos, composta em 1840, por Richard Wagner. O seu libreto foi escrito pelo próprio compositor, embora baseado no romance do novelista inglês Edward George Earl Bulwer-Lytton intitulado Rienzi, o último Tribuno Romano, e também numa peça de teatro da novelista e dramaturga também inglesa Mary Russell Mitford. Em Junho de 1837, Wagner foi contratado como diretor musical em Riga. Enquanto esperava pela tomada de posse desse cargo, leu com muito interesse, em Blasewitz, perto de Dresden, a supracitada novela de Bulwer-Lytton. Imediatamente se sentiu atraído pela idéia de criar algo grande e fantástico a fim de se alhear da infortunada realidade da sua vida. O pensamento de fazer uma “grande ópera heróica 1836, juntamente com o seu amigo Theodor Apel. Em 1840, a ópera estava terminada. Wagner tinha então 27 anos. Já tinha composto a sua primeira ópera, As Fadas, em 1833, aos 23 anos, e a sua segunda ópera, O Amor Proibido, em 1834 aos 24 anos. A estréia de Rienzi, dirigida pelo maestro Karl Gottlieb Reißiger, ocorreu no Teatro da Corte de Dresden, no dia 20 de Outubro de 1842. Apesar da ópera ter durado cerca de seis longas horas (contando com os intervalos), o sucesso foi retumbante e marcou, para sempre, a vida de Wagner. O manuscrito original perdeu-se e foi encontrado, anos mais tarde, na biblioteca particular de Adolf Hitler. Isso não seria de se estranhar, pois Hitler, assíduo frequentador das óperas wagnerianas, apreciava esta ópera acima de todas as outras. De acordo com o documentário Mulheres de Hitler, Hitler chegou a assistir Rienzi mais de quarenta vezes. A razão é porque o enredo anda todo à volta da vida de Cola di Rienzi, uma personagem popular da Itália medieval que tenta derrotar os nobres, incutir a revolta no povo, conduzindo-o a um futuro melhor. Os estandartes do Partido Nazi foram concebidos pelo Führer com base nos modelos desta ópera.

DAQUI

P.S. Quem quiser saber mais da relação de Hitler com a ópera Rienzi de Wagner, assista ao documentário A Arquitetura da Destruição, do sueco Peter Cohen.

Richard Wagner (1813-1883) – Rienzi , o último dos tribunos, WWV 49 (ópera)

DISCO 01

01 – Ouvertüre
02 – Hier ist’s, hier ist’s! Frisch auf
03 – Dies ist eu’r handwerk, daran erkenn’ ich euch!
04 – O Schwester, sprich, was dir geschah
05 – Die Stunde naht, mich ruft mein hohes Amt
06 – Er geht und lässt dich meinem Schutz
07 – Gegrüßt, gegrüßt sei, hoher tag
08 – Rienzi! Ha Rienzi hoch! – Erstehe, hohe Roma, neu!
09 – Jauchzet, ihr Täler!

DISCO 02

01 – Rienzi, nimm des Friedens Gruß!
02 – Colonna, hörtest du das freche Wort _
03 – Erschallet Feierklänge!
04 – Ihr Römer, es beginnt das Fest
05 – Pantomime
06 – Rienzi! Auf! Schützt den Tribun!
07 – Mein armer Bruder, nicht durch mich

DISCO 03

01 – Euch Edlen dieses Volk verzeiht, seid frei
02 – Vernahmt ihr all’ die Kunde schon_
03 – Gerechter Gott! So ist’s entschieden schon!
04 – Wo war ich_ Ha, wo bin ich jetzt_
05 – Marsch
06 – Der Tag ist da, die Stunde naht
07 – Nun denn, nimm, Schicksal, deinen Lauf!
08 – Heil, Roma, dir!

DISCO 04

01 – Wer war’s, der euch hieher beschied_
02 – Ihr nicht beim Feste_
03 – Vae, vae tibi maledicto!
04 – Allmächt’ger Vater, blick herab!
05 – Verlässt die Kirche mich
06 – Ich liebte glühend meine hohe Braut
07 – Rienzi, o mein großer Bruder
08 – Du hier, Irene_
09 – Herbei! Herbei! Auf, eilt uns zu!

*BBC North, June 27, 1976

BBC Northem Symphony Orchestra
Edward Downes, regente

*Informações sobre os intérpretes encontram-se nos scans que seguem no quarto disco

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Carlinus

Richard Wagner (1813-1883) – Parsifal, ópera em 3 atos

Parsifal é uma ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. Estreou no Bayreuth Festspielhaus em Bayreuth no mês de julho de 1882. A ópera se passa nas legendárias colinas do Monte Salvat, na Espanha, onde vive uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal. O mago negro Klingsor teria construído um jardim mágico povoado com mulheres que, com seus perfumes e trejeitos, seduziriam os cavaleiros e faria com que eles quebrassem seus votos de castidade, e teria ferido Amfortas, rei do Graal, com a lança que perfurou o flanco de Cristo, e todas as vezes em que Amfortas olha em direção ao Graal sente a ferida arder. Tal redenção só poderia ser realizada por um “inocente casto” (significado da palavra “Parsifal”). Este, em sua primeira aparição na ópera, surge ferindo um dos cisnes que purificavam a água do banho de Amfortas, e a todas as perguntas que os cavaleiros lhe fazem responde dizendo que não sabe de nada, nem ao mesmo seu nome. Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor e é seduzido pela amazona Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor atira a lança contra ele, a lança dá a volta em seu corpo, e todo o castelo mágico é destruído. Tempos depois, tendo os cavaleiros se convencido de que ele é o “inocente casto” que faria a salvação, Parsifal cura as feridas de Amfortas e o destrona, assumindo a nova condição de rei do Graal.

DAQUI

Tradução do libreto

Richard Wagner (1813-1883) – Parsifal

DISCO 01

01 – Act 1. Vorspiel – Prelude
02 – Act 1. ‘He! Ho! Waldhüter ihr’ – Gurnemanz
03 – Act 1. ‘Sehr dort, die wilde Reiterin!’
04 – Act 1. ‘Recht so! – Habt Dank!’ – Amfortas
05 – Act 1. ‘He, du da! Was liegst du dort wie ein wildes Tier_’
06 – Act 1. ‘Das ist ein andres’ – Gurnemanz
07 – Act 1. ‘Titurel, der fromme Held, der kannt’ ihn wohl’
08 – Act 1. Vor allem nun_ der Speer kehr uns zurück!
09 – Act 1. ‘Weh! Weh’
10 – Act 1. ‘Du konntest morden, hier im heil’gen Walde’ – Gurnemanz
11 – Act 1. ‘Wo bist Du her _’ – Gurnemanz
12 – Act 1. ‘Den Vaterlosen gebar die Mutter’ – Kundry
13 – Act 1. ‘So recht! So nach des Grales Gnade’ – Gurnemanz

DISCO 02

01 – Act 1. ‘Vom Bade kehrt der König heim’ – Gurnemanz
02 – Act 1. ‘Nun achte wohl, und lass mich seh’n’ – Gurnemanz
03 – Act 1. ‘Mein Sohn Amfortas, bist du am amt’ – Titurel
04 – Act 1. ‘Nein! Lasst ihn unenthüllt!’ – Amfortas
05 – Act 1. ‘Nehmet hin meinen Leib’ – Stimmen
06 – Act 1. ‘Was stehst Du noch da_’ – Gurnemanz

DISCO 03

01 – Act 2. Vorspiel – Prelude
02 – Act 2. ‘Die Zeit ist da’ – Klingsor
03 – Act 2. ‘Erwachest du_ Ha!’ – Klingsor
04 – Act 2. ‘Jetzt schon erklimmt er die Burg’ – Klingsor
05 – Act 2. ‘Hier war das Tosen’
06 – Act 2. ‘Iht schönen Kinder’ – Parsifal
07 – Act 2. ‘Komm, komm! Holder Knabe!’
08 – Act 2. ‘Parsifal! – Weile’ – Kundry
09 – Act 2. ‘Ich sah das Kind an seiner Mutter Brust’ – Kundry
10 – Act 2. ‘Wehe! Wehe! was tat ich_’ – Parsifal
11 – Act 2. ‘Amfortas! – Die Wunde’ – Parsifal
12 – Act 2. ‘Grausamer! Fühlst du im Herzen’ – Kundry
13 – Act 2. ‘Auf Ewigkeit wärst Du verdammt’ – Parsifal
14 – Act 2. ‘Vergeh, unseliges Weib!’ – Parsifal
15 – Act 2. ‘Halt da! Dich bann ich mit der rechten Wehr!’ – Klingsor

DISCO 04

01 – Act 3. Vorspiel – Prelude
02 – Act 3. ‘Von dorther kam das Stöhnen’ – Gurnemanz
03 – Act 3. ‘Du tolles WEib! Hast Du kein Wort für mich_’ – Gurnemanz
04 – Act 3. ‘In düstrem Waffenschmucke’ – Gurnemanz
05 – Act 3. ‘Heil mir, dass ich dich wiederfinde!’ – Parsifal
06 – Act 3. ‘O Gnade! Höchstes Heil!’ – Gurnemanz
07 – Act 3. ‘Nicht so! . Die heil’ge Quelle selbst’ – Gurnemanz
08 – Act 3. ‘Du wuschest mir die Füsse’ – Parsifal
09 – Act 3. ‘Wei dünkt mich doch die Aue heut so schön’ – Parsifal
10 – Act 3. ‘Mittag. – Die Stund ist da’ – Gurnemanz
11 – Act 3. ‘Geleiten wir im bergenden Schrein’ – Ritter
12 – Act 3. ‘Ja, Wehe! Wehe! Weh über mich’ – Amfortas
13 – Act 3. ‘Nur eine Waffe taugt’ – Parsifal

Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Rafael Kubelik, regente
Bernd Weikl, Amfortas
Kurt Moll, Gurnemanz
Matti Salminen, Titurel
James King, Parsifal
Franz Mazura, Klingsor
Yvonne Minton, Kundry

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Carlinus

Richard Wagner – Götterdämerung – Karajan

Enfim, chegamos ao final de mais uma postagem do ciclo do Anel dos Nibelungos, a obra prima de Richard Wagner, tão amado por alguns, e tão odiado por outros. E trouxe uma de suas melhores gravações, com o grande Herbert von Karajan e a Filarmônica de Berlim, e com um timaço de cantores. Na verdade, herr Karajan contou com que existia de melhor naquele momento, tanto em material humano quanto em tecnologia de gravação. Curiosamente, outras gravações suas de outras óperas de Wagner não são tão bem aceitas quanto esta do Anel, principalmente se realizadas a partir dos anos 70.
Sempre recomendo o excelente site de luiz de lucca, que traz o libreto das óperas devidamente traduzidos para o português, e o conhecimento do enredo é fundamental em obra de tal envergadura.
Boa audição.

CD 1
01. – Einleitung zum Vorspiel
02. “Welch Licht leuchtet dort”
03. Orchesterzwischenspiel (Tagesanbruch)
04. “Zu neuen Taten, teurer Helde”
05. Mehr gabst du
06. Orchesterzwischenspiel (Siegfrieds Rheinfahrt)
07. Szene 1 “Nun hör, Hagen, sage mir, Held”
08. Was weckst du Zweifel und Zwist! (Gunther, Hagen, Gutrune)
09. “Vom Rhein her tönt das Horn”
10. Szene 2 “Heil Siegfried, teurer Held”
11. Begrüße froh, o Held, die Halle
12. “Willkommen, Gast, in Gibichs Haus”

CD 2
01. Hast du, Gunther, ein Weib (Siegfried, Gunther)
02. Blut-Brüderschaft schwöre ein Eid! (Siegfried, Gunther, Hagen, Gutrune)
03. “Hier sitz’ ich zur Wacht”
04. Orchesterzwischenspiel
05. Szene 3 “Altgewohntes Geräusch raunt meinem Ohr in die Ferne”
06. “Seit er von dir geschieden, zur Schlacht nicht mehr”
07. “Da sann ich nach Von seiner Seite durch stumme”
08. Blitzend Gewölk, vom Wind getragen, stürme dahin (Brünnhilde, Siegfried)
09. Jetzt bist du mein, Brünnhilde, Gunthers Braut (Siegfried, Brünnhilde)

CD 3
01. Orchestervorspiel
02. Szene 1 “Schläfst du, Hagen, mein Sohn”
03. Orchesterzwischenspiel – Szene 2 “Hoiho Hagen! Müder Mann!” (Siegfried, Hagen)
04. “Hoiho! Hoihohoho! Ihr Gibichsmannen”
05. Szene 4 “Heil dir, Gunther!”
06. “Brünnhild’, die hehrste Frau”
07. Was ist ihr Ist sie entrückt (Mannen, Siegfried, Brünnhilde, Hagen, Gunther, G
08. Achtest du so der eigenen Ehre (Siegfried, Brünnhilde, Mannen, Frauen, Gunther
09. “Helle Wehr! Heilige Waffe!”
10. Szene 5 “Welches Unholds List liegt hier verhohlen”
11. “Dir hilft kein Hirn, dir hilft keine Hand”
12. Muss sein Tod sie betrüben, verhehlt sei ihr die Tat (Hagen, Gunther, Brünnhil
13. Orchestervorspiel
14. Szene 1 “Frau Sonne sendet lichte Strahlen”
15. Ich höre sein Horn (Woglinde, Wellgunde, Floßhilde, Siegfried)

CD 4

01. Was leid’ ich doch das karge Lob
02. Szene 2 “Hoiho!”
03. “Mime hieß ein mürrischer Zwerg”
04. Was hör’ ich! (Gunther, Hagen, Mannen)
05. Brünnhilde, heilige Braut (Siegfrieds Tod)
06. Trauermarsch
07. Szene 3 “War das sein Horn”
08. “Schweigt eures Jammers jauchzenden Schwall”
09. “Starke Scheite schichtet mir dort”
10. “Mein Erbe nun nehm’ ich zu eigen”
11. Fliegt heim, ihr Raben! (Immolation Scene)
12. “Zurück vom Ring!”

Siegfried – Helge Brilioth
Gunther – Thomas Stewart
Alberich – Zoltan Kelemen
Hagen – Karl Ridderbusch
Brünhilde – Helga Dernesch
Gutrune – Gundula Janowitz
Waltraute – Christa Ludwig

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor

CDS 1 E 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CDS 3 E 4 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FDPBach

Richard Wagner – Siegfried – Karajan

Para variar, o tempo anda curto para nós do blog.  As postagens estão demorando para sair, e muitas vezes não saem como desejávamos. É uma pena. O ritmo de nossas vidas está uma loucura.
Já declarei em postagem anterior ser esta a minha ópera favorita do ciclo. Sua dinâmica é única, não há tempo nem para respirar, parece um filme de ação com um excelente roteiro e excelente música, no qual a ação é a principal personagem. Claro que não é bem este o caso, já que temos personagens únicos aqui, como o próprio Siegfried, Brunhilde, Wotan, Alberich e Mime.
O elenco que Karajan conseguiu reunir aqui também é excelente, com Jess Thomas e o excelente Gerhard Stolze dominando todo o resto do elenco e a história. Uma gravação de primeira, com Herr Karajan em seu apogeu. Podem falar o que quiser dele, mas que ele deixou sua marca na história da música do século XX deixou. E esta gravação do ciclo do Anel dos Nibelungos é um de seus melhores registros.
Baita gravação. Espero que apreciem.

CD 1
01. Vorspiel
02. Szene 1 “Zwangvolle Plage!”
03. Hoiho! Hoiho! Hau ein! Hau ein!
04. Als zullendes Kind zog ich dich auf
05. Es sangen die Vöglein so selig im Lenz
06. “Einst lag wimmernd ein Weib”
07. Szene 2 “Heil dir, weiser Schmied!”
08. Wie werd’ ich den Lauernden los
09. Nun rede, weiser Zwerg
10. Nun ehrlicher Zwerg, sag mir zum ersten
11. Dreimal solltest du fragen (Wanderer)
12. Szene 3 “Verfluchtes Licht”

CD 2

01. Bist du es, Kind
02. “Fühltest du nie im finstren Wald”
03. Hättest du fleißig die Kunst gepflegt (Mime, Siegfried)
04. “Notung! Notung! Neidliches Schwert!”
05. Hoho! Hoho! Hohei! Schmiede, mein Hammer (…)
06. “Den der Bruder schuf”07. Vorspiel
08. Szene 1 “In Wald und Nacht”
09. Wer naht dort schimmernd im Schatten (Alberich, Wanderer)
10. Mit Mime räng’ ich allein um den Ring
11. Szene 2 “Wir sind zur Stelle!”
12. “Daß der mein Vater nicht ist”

CD 3

01. Siegfrieds Hornruf – “Haha! Da hätte mein Lied mir was Liebes erblasen” (Siegfried, Fafner
02. Wer bist du, kühner Knabe
03. Ist mir doch fast, als sprächen die Vöglein zu mir! (Siegfried, Stimme des Waldvogels)
04. Szene 3 “Wohin schleichst du”
05. “Willkommen, Siegfried”
06. “Neides Zoll zahlt Notung”
07. “Heiß ward mir von der harten Last!”
08. Nun sing, ich lausche dem Gesang
09. Vorspiel
10. Szene 1 “Wache, Wala!”
11. “Stark ruft das Lied”
12. Mein Schlaf ist Träumen (Erda, Wanderer)
13. Wirr wird mir, seit ich erwacht (Erda, Wanderer)
14. Weißt du, was Wotan will (Wanderer)
15. Szene 2 “Dort seh’ ich Siegfried nahn”
16. Was lachst du mich aus (Siegfried, Wanderer)

CD4

01. Bleibst du mir stumm, störrischer Wicht
02. Orchesterzwischenspiel
03. “Seliger Öde auf wonniger Höh’”
04. “Das ist kein Mann!”
05. – Brünnhildes Erwachen Einleitung
06. Heil dir, Sonne! Heil dir, Licht!
07. Siegfried! Siegfried! Seliger Held! (Brünnhilde, Siegfried)
08. “Dort seh’ ich Grane”
09. “Sangst du mir nicht, dein Wissen sei das Leuchten der”
10. “Ewig war ich”
11. Dich lieb’ ich Oh liebtest mich du! (Siegfried, Brünnhilde)
12. Lachend muß ich dich lieben (Brünnhilde, Siegfried)

Siegfried – Jess Thomas
Mime – Gherard Scholze
Der Wanderer – Thomas Stewart
Alberich – Zoltan Keleman
Fafner – Karl Ridderbuch
Erda – Oralia Dominguez
Brünhilde – Helga Dernesch
Stimme des Waldvogels – Catherine Gayer
Beriner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor

CDS 1 E 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CDS 3 E 4 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Richard Wagner – Das Rheingold – Berline Philharmoniker – Karajan

A primeira postagem que fiz dessa coleção foi um sucesso tremendo, mais de 3000 downloads em três anos. Mas os links do rapidshare foram se apagando, e tem muita gente solicitando, principalmente a série do “Göttendämmerung”, ou “O Crepúsculo dos Deuses”, como preferirem. Mas preferi criar novos links no Megaupload para toda a coleção. É um trabalho árduo, pois são 14 cds, portanto haja tempo… mas tentarei fazer na medida do possível, sem pressa.
Não por acaso estou fazendo estas postagens. No próximo dia 25, ou seja, segunda feira próxima, começa mais um Festival de Bayreuth, o palco wagneriano por excelência, onde são encenadas as suas óperas. Algumas rádios online transmitem as apresentações ao vivo, como a Rádio Bávara, com excelente qualidade, diga-se de passagem.
Não vejo necessidade de tecer maiores comentários. Sugiro para o melhor acompanhamento das óperas o excelente site http://www.luiz.delucca.nom.br/wep/wagneremportugues.html, que além do resumo de cada uma delas, traz o libreto traduzido. Querem mais?
Divirtam-se.
P.S. A lista dos solistas está no arquivo .jpg anexado aos arquivos de áudio.

CD 1

01 Vorspiel
02 “Weia! Waga! Woge du Welle!”
03 He! He! Ihr Nicker! (Alberich, Woglinde, Flosshilde, Wellgunde)
04 “Garstig glatter glitschriger Glimmer!”
05 “Lugt, Schwestern! Die Weckerin lacht in den Grund”
06 Nur wer der Minne Macht entsagt
07 “Der Welt Erbe Gewänn’ ich zu eigen durch dich”
08 Haltet den Räuber! (Flosshilde, Wellgunde, Woglinde)
09 Einleitung 2. Szene
10 “Wotan! Gemahl! Erwache!”
11 So schirme sie jetzt (Fricka, Freia, Wotan)
12 “Sanft schloß Schlaf dein Aug’”
13 Was sagst du Ha, sinnst du Verrat (Fasolt, Fafner, Wotan)
14 Du da, folge uns!
15 “Endlich, Loge!”
16 “Immer ist Undank Loges Lohn!”
17 Ein Runenzauber zwingt das Gold zum Reif
18 “Hör’, Wotan, der Harrenden Wort!”
19 Schwester! Brüder! Rettet! Helft!
20 Wotan, Gemahl, unsel’ger Mann!
21 Verwandlungsmusik
22 “Hehe! hehe! hieher! hieher! Tückischer Zwerg!”
23 Nibelheim hier (Loge, Mime, Mime, Wotan)
24 Nehmt euch in acht! Alberich naht! (Mime, Wotan, Alberich, Loge)

CD 2
01. Zittre und zage, gezähmtes Heer
02. Die in linder Lüfte Wehn da oben ihr lebt
03. Ohe! Ohe! Schreckliche Schlange… (Loge, Wotan, Alberich)
04. Dort die Kröte! Greife sie rasch! (Loge, Alberich)
05. “Da, Vetter, sitze du fest!”
06. “Wohlan, die Nibelungen rief ich mir nah”
07. “Gezahlt hab’ ich”
08. Ist er gelöst (Loge, Wotan, Alberich)
09. “Lauschtest du seinem Liebesgruß”
10. Lieblichste Schwester, süßeste Lust! (Fricka, Fasolt, Wotan)
11. Gepflanzt sind die Pfähle nach Pfandes Maß
12. “Weiche, Wotan, weiche!”
13. Soll ich sorgen und fürchten
14. Halt, du Gieriger! Gönne mir auch was! (Fasolt, Fafner, Loge)
15. Nun blinzle nach Freias Blick
16. He da! He da! He do! Zu mir, du Gedüft! (Donner)
17. “Zur Burg führt die Brücke”
18. Abendlich strahlt der Sonne Auge (Wotan)
19. So grüß’ ich die Burg (Wotan, Fricka, Loge)
20. “Rheingold! Rheingold! Reines Gold!”

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor
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FDPBach

Richard Wagner (1813-1883) – Lohengrin (ópera em três atos)

Mais uma ópera de Wagner. Não estamos numa empreitada wagneriana. Verdade. Apenas, talvez, suprindo uma lacuna aqui do PQP Bach. Sei que existem inúmeros fãs da música do alemão e tantos outros que desejam conhecê-la. Eu, particularmente, não me entusiasmo com Wagner. Postarei em alguns dias Parsifal com Kubelik. Não pretendo postar todas as óperas de Wagner. FDP objetiva, futuramente, postar o ciclo do Anel. Aguardem. Não quero atrapalhá-lo nesse sentido. Por enquanto, fiquemos com Lohengrin. A próxima será Parsifal. Até lá!

Abaixo dados extraídos da Wikipédia:

Lohengrin é uma ópera romântica em três atos de Richard Wagner, que também foi responsável pelo libreto. Sua estréia aconteceu em Weimar, Alemanha em 28 de agostode 1850 sob direção de Franz Liszt, amigo próximo de Wagner. A história do protagonista foi retirada de uma novela germânica medieval, a história de Perceval e seu filho Lohengrin.
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A trama é ambientada durante a primeira metade do século X no Ducado de Brabante (na atual região de Antuérpia, Bélgica, no rio Escalda). Concepção artística da chegada do cavaleiro desconhecido à Brabante.

Ato I

O ato começa com a chegada do rei Henrique I da Germânia à região após anúncio de seu arauto para convocar as tribos alemãs para expulsar os húngaros de suas terras. O conde Friederich de Telramund age como regente do duque Gottfried de Brabante, herdeiro do trono de Brabante mas que ainda era menor de idade, e cuja irmã era Elsa de Brabante, a virgem. Gottfried havia desaparecido misteriosamente e, coagido por sua esposa Ortrud, Telramund acusa Elsa de assassinato ao irmão e exige o título do ducado para si.
Rodeada de suas damas de honra surge Elsa, que, sabendo ser inocente, declara estar disposta a se submeter ao julgamento de Deus através do combate. Ela então invoca o protetor com o qual sonhou uma noite, e eis que surge no julgamento um cavaleiro num barco puxado por um cisne. A chegada havia acontecido somente após a segunda requisição do arauto. Ele aceita lutar por ela desde que ela nunca pergunte seu nome ou sua origem, proposta essa prontamente aceita. Telramund também aceita o desafio do julgamento pelo combate para provar a palavra de sua acusação.
O cavaleiro derrota Telramund num duelo, provando assim sua proteção divina e a inocência da princesa. Entretanto, poupa a vida do perdedor, declara Elsa inocente e a pede em casamento.

Ato II

O ato inicia na parte externa da catedral durante a noite. Juntos, Telramund e Ortrud lamentam sua atual situação, banidos moralmente da comunidade. Ortrud é pagã e lida com a magia, e esquema um plano de vingança para que Elsa pergunte ao cavaleiro as perguntas proibidas, fazendo com que ele vá embora. Com as primeiras luzes da manhã, Elsa aparece na sacada, vê Ortrud no pátio, lamenta sua situação e a convida para participar da cerimônia de casamento. Sem ter sido observado, Telramund retira-se do local. Ortrud começa a conspiração, argumentando que deve haver algo na vida do cavaleiro que o envergonha, algo que o faça querer negar seu passado.
Em outra cena, a população se amontoa e o arauto anuncia que o rei ofereceu ao cavaleiro o ducado de Brabante. Ele entretanto recusa a oferta, desejando ser conhecido somente como “Protetor de Brabante”. Enquanto o rei, o cavaleiro desconhecido, Elsa e suas damas de honra estavam prestes a entrar na igreja, Ortrud aparece e acusa o cavaleiro de ser um mágico, razão pela qual ele venceu a disputa, e cujo nome Elsa não sabe. Telramund também aparece e alega ter sido vítima de uma fraude pois nem o nome de seu oponente sabe. O cavaleiro se recusa a revelar a identidade, dizendo que somente Elsa possui o direito de conhecer a resposta, nem mesmo o rei é digno. Elsa, apesar de abalada pelas alegações de Ortrud e Telramund, assegura ao cavaleiro sua lealdade e eles entram na igreja.

Ato III

A cerimônia de casamento ocorre, e os dois expressam seu amor com o outro. Mas Elsa, persuadida por Ortrud, rompe o pacto com o cavaleiro e agora seu marido, fazendo-lhe as perguntas proibidas. Na mesma cena, Telramund aparece para atacar o cavaleiro, mas é morto por ele, que então se volta para Elsa e pede que ela o acompanhe para a presença do rei, para a revelação do mistério.
Muda-se a cena, e volta-se ao local do primeiro ato. As tropas chegam para a guerra. O corpo de Telramund e trazido, e o cavaleiro explica-se perante o rei o assassinato. O cavaleiro então anuncia diante de todos sua verdadeira identidade: Lohengrin, um cavaleiro do Santo Graal, filho do rei Parsifal. Revela também que foi enviado pelo cálice, mas que era hora de retornar, tendo aparecido somente para provar a inocência de Elsa.
Para tristeza de Elsa, o cisne reaparece, indicando a ida de Lohengrin. Ele ora pela volta do irmão de Elsa, desaparecido. O cisne desaparece nas águas e reaparece na forma do jovem Gottfried, que havia sido transformado em animal pelo feitiço de Ortrud. Um pombo então aparece do céu, e assumindo o lugar do cisne guia Lohengrin de volta para o castelo do Santo Graal.

Extraído DAQUI
Mais informações sobre o personagem da ópera AQUI

Richard Wagner (1813-1883) – Lohengrin (ópera em três atos)

DISCO 1

01. Act 1: Vorspiel
02. Act I, Scene 1: Hört! Grafen, Edle, Freie von Brabant!
03. Act I, Scene 1: Dank, König, dir, daß du zu richten kamst!
04. Act I, Scene 1: Welch fürchterliche Klage sprichst du aus!
05. Act I, Scene 2: Seht hin! Sie naht, die hart Beklagte!
06. Act I, Scene 2: Einsam in trüben Tagen
07. Act I, Scene 2: Bewahre uns des Himmels Huld
08. Act I, Scene 2: Des Ritters will ich wahren
09. Act I, Scene 2: Wer hier im Gotteskampf zu streiten kam
10. Act I, Scene 2: Du trugest zu ihm meine Klage
11. Act I, Scene 3: Nun sei bedankt, mein lieber Schwan!
12. Act I, Scene 3: Heil König Heinrich!
13. Act I, Scene 3: Wenn ich im Kampfe für dich siege
14. Act I, Scene 3: Welch holde Wunder muß ich sehn?
15. Act 1, Scene 3: Nun hört! Euch Volk und Edlen
16. Act I, Scene 3: Nun höret mich, und achtet wohl
17. Act I, Scene 3: Mein Herr und Gott, nun ruf’ ich Dich
18. Act I, Scene 3: Durch Gottes Sieg ist jetzt dein Leben mein
19. Act II: Vorspiel
20. Act II, Scene 1: Erhebe dich, Genossin meiner Schmach!

DISCO 2

01. Act II, Scene 1: Was macht dich in so wilder Klage doch vergehn?
02. Act II, Scene 1: Du wilde Seherin!
03. Act II, Scene 1: Der Rache Werk sei nun beschworen
04. Act II, Scene 2: Euch Lüften, die meine Klagen
05. Act II, Scene 2: Elsa!…Wer ruft?
06. Act II, Scene 2: Entweihte Götter!
07. Act II, Scene 2: Ortrud, wo bist du?
08. Act II, Scene 2: Du Ärmste kannst wohl nie ermessen
09. Act II, Scene 2: So zieht das Unheil in dies Haus!
10. Act II, Scene 3: In Frühn versammelt uns der Ruf
11. Act II, Scene 3: Des Königs Wort und Wlll’ tu ich euch kund
12. Act II, Scene 3: Nun hört, dem Lande will er uns entführen!
13. Act II, Scene 4: Gesegnet soll sie schrieten
14. Act II, Scene 4: Zurüch, Elsa!
15. Act II, Scene 4: Du Lästerin! Ruchlose Frau!
16. Act II, Scene 5: Heil! Heil dem König!
17. Act II, Scene 5: O König! Trugbertörte Fürsten!
18. Act II, Scene 5: Den dort im Glanz ich vor mir sehe
19. Act II, Scene 5: Welch ein Geheimnis muß der Held bewahren?

DISCO 3

01. Act II, Scene 5: Mein Held! Entgegne kühn dem Ungetreuen!
02. Act II, Scene 5: In deiner Hand, in deiner Treu’
03. Act III: Vorspiel
04. Act III, Scene 1: Treulich gefürht ziehet dahin
05. Act III, Scene 2: Das süße Lied verhallt
06. Act III, Scene 2: Wie hehr erkenn’ ich unsrer Liebe Wesen!
07. Act III, Scene 2: Atmest du nicht mit mir die süßen Düfte?
08. Act III, Scene 2: Höchstes Vertraun hast du mir schon zu danken
09. Act III, Scene 2: Hilf Gott, was muß ich hören!
10. Act III, Scene 2: Ach nein!
11. Act III, Scene 2: Weh! Nun ist all unser Glück dahin!
12. Act III, Scene 3: Heil König Heinrich!
13. Act III, Scene 3: Was bringen die?
14. Act III, Scene 3: Mein Herr und König, laß dir melden
15. Act III, Act 3: In fernem Land
16. Act III, Scene 3: Mir schwank der Boden!
17. Act III, Scene 3: O bleib, und zieh uns nicht von dannen!
18. Act III, Scene 3, Mein lieber Schwan!
19. Act III, Scene 3: Weh! Du edler, holder Mann!

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan, regente
Anna Tomowa-Sintow,
Dunja Vejzovic,
Josef Becker,
Karl Ridderbusch,
Martin Vantin

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Carlinus

Richard Wagner (1813-1883) – Die Walküre (A Valquíria)

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A edição número 51 da Revista Filosofia Ciência e Vida, da qual sou assinante, trouxe um artigo interessante sobre as óperas de Wagner. O título do artigo é “Óperas com um toque de Filosofia”. A seguir segue um fragmento do texto:

As óperas de Richard Wagner (1813-1883) fazem parte do repertório de todo o circuito mundial da música. Se em vida o compositor encontrou, durante longa parte de sua atribulada existência, grande resistência dos círculos musicais mais conservadores, incapazes de conceder o valor devido a seu gênio criativo, a passagem dos anos permitiu que se fizesse justiça histórica a seu talento singular. Como compositor, Wagner subverteu a música ao propor inovações técnicas e estéticas que até então não haviam sido devidamente realizadas por seus predecessores. Tais modificações na estrutura dramática das óperas e da própria concepção sobre a natureza da música foram motivadas por questões de cunho filosófico, o que pode ser percebido ao se analisar o cerne de sua criação teórica, especialmente os escritos A Arte e a Revolução e A Obra de Arte do Futuro. Sua vasta produção intelectual não se encerra nesses dois ensaios, mas o estudo deles permite entender a gênese de suas propostas estéticas. A obra teórica de Wagner é marcada pela assimilação de diversas correntes filosóficas que também se refletem imediatamente nos enredos dramáticos de suas óperas. Dessa maneira, encontramos ecos das ideias de Feuerbach em Tannhäuser, a partir da noção de “sensualidade sadia”; de Proudhon, no caráter libertário do personagem Siegfried, da tetralogia O Anel de Nibelungos, lutando contra toda autoridade sustentada pela opressão e pela maldição da riqueza material como fonte de toda corrupção humana; de Schopenhauer, no libreto de Tristão e Isolda, ópera na qual encontramos uma autêntica aplicação dramática das teses apresentadas em O Mundo como Vontade e como Representação, assim como na obra que é a culminação artística de Wagner, Parsifal. De todos os grandes compositores da tradição musical ocidental, talvez seja Richard Wagner justamente aquele que tenha elaborado uma compreensão filosófica sobre a criação artística, a sociedade moderna e as suas relações políticas de forma mais consistente e enriquecedora para o debate intelectual da cultura oitocentista e mesmo para as pesquisas estéticas posteriores. Wagner se destaca dos compositores de até então por vislumbrar em sua carreira a conciliação entre seu ofício musical e sua produção teórica. Se houve antes dele compositores dotados de sólida formação intelectual, certamente o gênio de Leipzig foi quem soube externar publicamente de forma mais apurada tais qualidades. A obra teórica de Wagner é marcada pela assimilação de diversas correntes filosóficas que também se refletem nos enredos de suas ópera. As contribuições mais importantes de Wagner para a Filosofia se dão em sua estética engajada, marcada pela politização de suas ideias. Nos ensaios A Arte e a Revolução e A Obra de Arte do Futuro encontram-se o projeto de transformação radical das bases valorativas da sociedade europeia oitocentista, mediante a sua reeducação estética e a criação de um gênero artístico que envolvesse efetivamente a participação do povo em seu processo de elaboração. Se até então as condições técnicas que possibilitavam a criação artística se encontravam nas mãos das classes abastadas (primeiramente o mecenato aristocrático e, posteriormente, o financiamento burguês), tornava-se necessário o pertencimento dos recursos artísticos aos maiores interessados nesses bens culturais: a classe dos artistas e aqueles que verdadeiramente dignificam as suas criações.

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Wagner se engajou efetivamente nas revoluções populares ocorridas a partir de 1848 e, refletindo esse anseio de transformação social radical, considerava que o genuíno artista deveria desenvolver a capacidade de utilizar os recursos artísticos em prol da criação de uma instância estética renovadora do ímpeto criativo recalcado pelo conservadorismo musical então vigente, capitaneando- se, assim, meios que permitissem o surgimento da “ópera revolucionária”. Servindo como instrumento de insurreição contra os normativos padrões morais estabelecidos por uma classe social desprovida de refinamento cultural, essa “ópera revolucionária” desenvolveria nos espectadores um conjunto de sentimentos impetuosos em prol da transformação social. Tais disposições seriam propícias para a modificação da decadente estrutura cultural vigente, marcada pela incompreensão do verdadeiro sentido artístico, pois utilizava a criação artística para fins comerciais e impedia o florescimento da genialidade de talentos relegados ao esquecimento. Para que essa situação se modificasse, a sociedade moderna, esteticamente renovada, deveria somar esforços para a formação do homem de gênio, capaz de aliar a nobreza de espírito à disposição criativa necessária para o empreendimento de grandes obras transformadoras da realidade sociocultural existente (WAGNER, A Arte e a Revolução, p. 56).

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Richard Wagner (1813-1883) – Die Walküre (A Valquíria)

DISCO 1

Ato 1

01. Vorspiel – I Act
02. Wes herd dies auch sei
03. Kühlende labung gab mir
04. Müd am herd fand ich den mann
05. Friedmund darf ich nicht heiBen
06. Aus dem wald trieb es mich fort
07. Ich weiB ein wildes geschlecht
08. Ein schwert verhieB mir der vater
09. Schläfts du, gast
10. Winterstürme wichen dem wonnemond
11. Du bist der lenz
12. Wehwalt heiBt du fürwahr

Ato 2

13. Vorspiel – II Act
14. Nun zäume dein roB

DISCO 2

01. Der alte sturm
02. So ist denn aus mit den ewigen göttern
03. Nichts lerntest du
04. Was verlangst du
05. Schlimm, fürcht’ ich, schloB der streit
06. Was keinen in worten ich künde
07. Ein andres ist’s
08. O sag’, künde!
09. Raste nun hier
10. Hinweg! hinweg!
11. Siegmund! sieh auf mich!
12. Hehe bist du, und heilig gewahr’ ich
13. So wenig achtest du ewige wonne

DISCO 3

01. Zauberfest bezämt ein schlaf
02. Kehrte der vater nur heim!

Ato 3

03. Vorspiel – III Act
04. Schüzt mich und helft
05. Nicht sehre dich sorge um mich
06. Steh’! Brünnhild’!
07. Wo ist Brünhild’
08. Hier bin ich, vater
09. Wehe! wehe’! schwester
10. War es so schmählich
11. Nicht weise bin ich
12. So tatest du
13. Du zeugtest ein edles geschlecht
14. Leb’ wohl, du kühnes, herrliches kind!
15. Denn einer nur freie die braut
16. Loge, hör’! lausche hieher!

Ano da gravação: 1954

Wiener Philharmoniker
Wilhelm Furtwängler, regente
Brünnhild…………………………………Martha Möld
Sieglinde…………………………………Leonie Rysanek
Wotan…………………………………….Ferdinad Frantz
Siegmund………………………………….Ludwig Suthaus
Fricka……………………………………Margarete Klose
Hunding…………………………………..Gottlob Frick
Gerhilde………………………………….Gerda Schreyer
Ortlinde………………………………….Judith Hellwig
Waltraute…………………………………Dagmar Schmedes
Schwertleite………………………………Ruth Siewert
Helmwige………………………………….Erika Köth
Siegrune………………………………….Herta Töpper
Grimgerde…………………………………Johanna Blatter
Rossweisse………………………………..Dagmar Hermann

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