Com a devida permissão do nosso Grão Mestre PQPBach, trago para os senhores novamente essa pérola de gravação, um dos melhores registros da obra de Piazzolla que já tive a oportunidade de ouvir. A postagem original é de 2009.
Ando meio angustiado, sem tempo para nada, sequer para preparar postagens, a vida da gente virou de cabeça para baixo depois que adentramos neste período de pandemia. Até psicólogo estou consultando.
Este CD de Piazzolla é tão bom quanto o do Kronos que postei ontem e traz obras mais conhecidas. Não conhecia nem o Artemis Quartet, nem o pianista Ammon. Mas, olha, são sensacionais. A gravação é recentíssima.
IM-PER-DÍ-VEL!!!
The Piazzolla Project 2009
1. Concierto Para Quinteto For Piano Quintet: Introduction, Allegro – Lento, Improvisando – Piu Vivo Fugato – Artemis Quartet/Jacques Ammon 9:48
2. Estaciones Portenas (Seasons In Buenos Aires) For Piano Trio: Otono Porteno – Tempo Di Tango – Artemis Quartet/Jacques Ammon 6:04
3. Estaciones Portenas (Seasons In Buenos Aires) For Piano Trio: Invierno Porteno – Andante – Artemis Quartet/Jacques Ammon 7:05
4. Estaciones Portenas (Seasons In Buenos Aires) For Piano Trio: Primavera Portena – Fuga – Artemis Quartet/Jacques Ammon 5:57
5. Estaciones Portenas (Seasons In Buenos Aires) For Piano Trio: Verano Porteno – Tempo Di Tango – Artemis Quartet/Jacques Ammon 6:40
6. Fuga Y Misterio For Piano Quintet: Movido – Lento – Artemis Quartet/Jacques Ammon 4:25
7. Suite Del Angel (Angel Suite) For String Quartet: Introduccion Al Angel – Tango, Moderato – Artemis Quartet 4:56
8. Suite Del Angel (Angel Suite) For String Quartet: Tango Del Angel – Tempo Di Tango – Artemis Quartet 4:37
9. Suite Del Angel (Angel Suite) For String Quartet: Milonga Del Angel – Melancolico – Artemis Quartet 6:45
10. Suite Del Angel (Angel Suite) For String Quartet: La Muerte Del Angel – Fuga, Movido – Artemis Quartet 3:36
Todo Marlon Brando tem seu dia de Alberto Roberto, e todo Beethoven tem sua “Vitória de Wellington”.
Essa composição sui generis teve imenso sucesso quando de sua estreia, num concerto em benefício dos soldados feridos na batalha de Hanau, no qual também foi estreada a sinfonia no. 7. A orquestra foi regida pelo próprio Beethoven, numa de suas últimas aparições públicas como intérprete antes da surdez torná-las impossíveis.
A despeito da aclamação da turba, incensada pelas notícias dos reveses sofridos por Napoleão nos campos de batalha, e pela bufunfa considerável que trouxe aos bolsos sempre carentes do compositor, houve também muita estranheza, principalmente entre seus admiradores e seu círculo de amigos mais próximos. Ludwig, afinal, amplamente reconhecido como o maior compositor em atividade, sempre fora muito meticuloso com aquilo que levava a público. Isso aplicava-se em especial à sua música sinfônica, porque ele sabia que seriam cada vez mais as massas pagadoras de ingressos, e não os estipêndios da nobreza, que garantiriam seu pão e seu schnapps naquela nova Europa que se redesenhava. Assim, parecia incongruente que um homem que passara anos rabiscando seus cadernos de anotações para parir um só movimento sinfônico – o primeiro de sua quinta sinfonia – tenha tão rapidamente composto uma peça ruidosa para surfar a voga nacionalista e encher a mão de gaita.
O que soou mais constrangedor aos admiradores, na época – à parte da desilusão de ver o idolatrado mestre preterir os ideais em favor do vil metal -, foi a maneira crua com que foi representado o embate dos exércitos – inglês de um lado, representado por “Rule, Britannia”, e francês do outro, com “Marlbrough s’en va-t-en guerre” (que nos é familiar como “Ele é um bom companheiro”), com percussão imitativa e ruídos bélicos variados . Nada havia de pioneirismo, claro, numa composição assim, dada a tradição de battaglie escritas por gente do naipe de Byrd e Biber, e mesmo várias peças francesas a celebrarem os feitos de Napoleão, como “La Bataille d’Austerlitz”, de Louis-Emmanuel Jadin. Nunca, no entanto, um compositor na posição de Beethoven tinha feito algo do gênero, e para exposição tão escancarada.
Embora nunca tenha defendido que seu Op. 91 fosse uma obra-prima, Beethoven não reclamou do dinheiro que ganhou com a peça e, ademais, estava contente com a possibilidade de garantir para si um futuro como compositor para grandes eventos públicos. Admito que, ao reouvi-la agora, depois de muitos anos, ela não me pareceu tão ruim: se a “Batalha” soa só barulhenta, a “Sinfonia da Vitória” tem bons momentos. Independentemente de minha desimportante opinião, o truque deu certo e teve seus imitadores. Tchaikovsky não teve dúvidas de seguir o mesmo roteiro em sua Abertura Solene “O Ano 1812”, ainda mais grandiloquente e ruidosa (embora seu uso de “La Marseillaise” seja um anacronismo, pois a canção fora banida por Napoleão ao proclamar-se imperador e era pouco provável que tenha sido escutada entre suas legiões durante a invasão da Rússia).
A “1812”, assim como o “Capricho Italiano”, também está incluída no disco que lhes alcanço, em que o ótimo Antal Doráti conduz orquestras, banda e uma série de artefatos geradores de morte, cuja descrição na capa do disco tem tanto destaque quanto os intérpretes não letais. Apesar de jurássica, é muito bem gravada e inclui comentários muito pertinentes, feitos pelo compositor e crítico Deems Taylor naquele engraçadíssimo sotaque mesoatlântico típico dos filmes estadunidenses até os anos 50.
Dessa feita, ouçam as barulhentas crias de Tchai e Lud Van, mas peguem leve com os tomates, pois Beethoven não os levava na esportiva e, certa vez, respondeu uma crítica mais áspera à sua “Vitória de Wellington” com essa sentença que eu me nego a traduzir:
Was ich scheiße ist beßer, als was du je gedacht
Googleiem aí.
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Abertura Solene “O Ano 1812”, para orquestra e banda, Op. 49 (orquestração original) 01 – Abertura
02 – Comentários sobre a abertura (em inglês)
Minneapolis Symphony Orchestra University of Minnesota Brass Band com um canhão de bronze fabricado em Douay, França, em 1775, cedido pela Academia Militar de West Point (Estados Unidos) e os sinos do carrilhão memorial Laura Spelman Rockefeller na Riverside Church, New York City, Estados Unidos Antal Doráti, regência
Capriccio Italien, para orquestra, Op. 45 03 – Andante un poco rubato
London Symphony Orchestra Antal Doráti, regência
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Wellingtons Sieg oder die Schlacht bei Vittoria in Musik gesetz von Ludwig van Beethoven (“A Vitória de Wellington ou a Batalha de Vitoria, posta em música por Ludwig van Beethoven”), Op. 91 Composta em 1813 Publicada em 1816 Dedicada a George, príncipe regente da Inglaterra (futuro rei George IV)
04 – Die Schlacht (A Batalha): Marsch, Rule Britannia – Marsch, Marlbororough – Schlacht, Allegro
05 – Sieges-Symphonie (Sinfonia da Vitória): Intrada, Allegro ma non troppo – Allegro con brio
06 – Comentários sobre a obra (em inglês) – efeitos sonoros
London Symphony Orchestra com um dois canhões de bronze de 6 lb, um obuseiro de 12 lb, mosquetes franceses estilo Charleville e mosquetes ingleses Brown Bess, cedidos pela Academia Militar de West Point
Salvas de artilharia e mosquetes sob o comando de George C. Stowe, da unidade reativada da Guerra Civil, Bateria B da 2nd New Jersey Light Artillery Antal Doráti, regência
Maravilhoso álbum duplo deste notável compositor boêmio. Composições de câmara de excelente nível, alegres e brilhantes. Ele é mais do que um barroco tardio, já é um pré-clássico como os filhos de Bach. Aqui, o fagote no continuo é libertado de seu papel usual e de fato se torna uma parte independente — um solista com os oboés. Os dois oboés são esplêndidos. Jan Dismas Zelenka nasceu nas proximidades de Praga. Não se sabe muito sobre a sua infância mas suspeita-se que teria feito sua formação musical com o pai, numa primeira fase, e depois num colégio jesuíta. Aos trinta anos já era um músico conhecido em Praga na qualidade de contrabaixista de orquestra, cravista e compositor. Apesar de ter sido batizado como Jan Lukás, assinou as primeiras obras como Jan Dismas, o santo padroeiro dos condenados à morte. Em 1709, ocupou um lugar de contrabaixista na Capela Real de Dresden, posto que lhe permitiu viajar e estudar com Johann Fux em Viena e com Antonio Lotti e Alessandro Scarlatti na Itália. Em 1721, foi nomeado vice-mestre-capela na corte de Augusto II da Polônia e, em 1729, diretor de música sacra em Dresden, lá permanecendo até à sua morte, em 1745. Sua obra permaneceu ignorada por séculos e só em anos recentes tem vindo a ser reintroduzida no repertório dos conjuntos de música antiga.
Jan Dismas Zelenka (1679-1745): As Trio Sonatas
Sonata F-Dur ZWV 181 Nr. 1 = Sonata In F Major ZWV 181 No. 1 (17:00)
1-01 1. Adagio Ma Non Troppo 3:11
1-02 2. Allegro 4:45
1-03 3. Larghetto 3:41
1-04 4. Allegro Assai 5:23
Sonata G-moll ZWV 181 Nr. 2 = Sonata In G Minor ZWV 181 No. 2 (22:02)
1-05 1. Andante 5:01
1-06 2. Allegro 6:51
1-07 3. Andante 4:24
1-08 4. Allegro Assai 5:46
Sonata B-Dur ZWV Nr. 3 (Original Für Violine, Oboe, Fagott Und Basso Contionuo) = Sonata In B Flat Major ZWV 181 No. 3 (Original For Violin, Oboe, Bassoon And B.C.) (17:06)
1-09 1. Adagio 4:15
1-10 2. Allegro 4:20
1-11 3. Largo 3:23
1-12 4. Allegro – Tempo Giusto 5:08
Sonata G-Moll ZWV 181 Nr. 4 = Sonata In G Minor ZWV 181 No. 4 (22:05)
2-01 1. Andante 3:10
2-02 2. Allegro 6:00
2-03 3. Adagio 3:49
2-04 4. Allegro Ma Non Troppo 9:02
Sonata F-Dur ZWV 181 Nr. 5 = Sonata In F Major ZWV 181 No. 5 (16:46)
2-05 1. Allegro 6:59
2-06 2. Adagio 3:32
2-07 3. Allegro 6:15
Sonata C-Moll ZWV 181 Nr. 6 = Sonata In C Minor ZWV 181 No. 6 (16:25)
2-08 1. Andante 3:22
2-09 2. (Allegro) 4:33
2-10 3. Adagio 3:12
2-11 4. (Allegro) 5:17
Bassoon – Knut Sönstevold
Harpsichord – Walter Heinz Bernstein
Oboe [Oboe I] – Burkhard Glaetzner (tracks: 1-01 to 1-04, 2-01 to 2-04, 2-08 to 2-11), Ingo Goritzki (tracks: 1-05 to 1-12, 2-05 to 2-07)
Oboe [Oboe II] – Burkhard Glaetzner (tracks: 1-05 to 1-12, 2-05 to 2-07), Ingo Goritzki (tracks: 1-01 to 1-04, 2-01 to 2-04, 2-08 to 2-11)
Viol [Viola Da Gamba] – Siegfried Pank
Violin – Achim Beyer
Depois de parir petardos como a “Waldstein” (Op. 53) e a “Appassionata” (Op. 57) e romper todas as costuras da sonata para piano, Beethoven voltou-se bissextamente para seu meio favorito de expressão. Em franco contraste com as onze notáveis sonatas que lhe brotaram da pena nos cinco anos que antecederam a Op. 57, houve um hiato de cinco anos entre a “Appassionata” e a sonata seguinte, Op. 78. E, se é verdade que as três sonatas seguintes (Opp. 78, 79 e 81a) vieram ao mundo ao longo de meros dois anos, também não se nega que elas sejam, em duração e escopo, muito mais sucintas que suas antecessoras.
Pois entre o adeus ao arquiamigo Rudolph (Op. 81a) e a sonata seguinte, que lhes trago hoje, passaram-se quatro anos. Em seu retorno ao gênero, Beethoven manteve a concisão que dedicara às obras anteriores. No entanto, a Op. 90 parece-me melhor definida pela palavra concentração, tamanha a riqueza de ideias expressas pelo compositor em tão poucos minutinhos. Ainda que frequentemente incluída entre as últimas sonatas de Beethoven, não há na Op. 90 os gestos visionários das sonatas seguintes. Composta em 1814, mesmo ano em que a revisão de “Fidelio” foi concluída, ela me parece mais um retorno do compositor a um gênero que lhe era muito confortável do que uma busca de renovar um meio – ou, talvez, um grande ensaio-geral para desenferrujar e criar fôlego para as cinco últimas e transcendentais sonatas que comporia entre 1816 e 1821.
São apenas dois movimentos, todos com indicações de andamento e expressão em alemão, como seria quase sempre o caso nas sonatas seguintes. Especula-se que a preferência pelo alemão fosse um reflexo do espírito nacionalista que ressurgia nos povos de língua alemã naquela Europa sacudida por Napoleão – ou talvez nada disso, e apenas a vontade de se exprimir em sua língua materna. Apesar de descrita como uma obra em Mi menor e de fato começar nessa tonalidade, a Op. 90 seria melhor descrita como uma sonata em Mi, uma vez que o primeiro movimento desenvolve-se predominantemente em menor, e o segundo, em maior.
O primeiro, “com vivacidade, e sentimento e expressão do começo ao fim”, baseia-se praticamente num só tema e, em que pesem alguns momentos de tensão, deixa uma impressão de fluidez e constrita simplicidade. Alguns biógrafos atribuem a tensão supracitada a um conteúdo programático, que teria sido descrita pelo compositor como “a tensão entre a cabeça e o coração”, numa referência aos entreveros vividos pelo dedicatário, o conde Lichnowsky, em função duma paquera sua, mas o mais provável é que essa anedota seja mais uma atochada do factotum Schindler. Já o segundo, “não muito rápido, e para ser tocado de maneira muito cantável” é um cálido rondó com um tema que parece schubertiano, e que se resolve numa coda muito efetiva que não detrata a serenidade do movimento.
Ao nos encaminharmos para a reta final dessa travessia da integral beethoveniana, encontraremos obras tão transcendentais, tão ricamente abertas a seus intérpretes, que não teria como lhes alcançar uma interpretação favorita sem o pesar de preterir tantas e tão notáveis outras. Assim, preferi abordá-las individualmente em minhas postagens e, pelo mesmo motivo, alcançarei aos leitores-ouvintes, na medida do possível, uma série completa das últimas sonatas para cada postagem sobre elas.
Para o Op. 90, começo como talvez devesse terminar: por Grigory Sokolov. Nada afeito aos estúdios, e certamente ainda menos simpático a gravação de integrais tão só pela necessidade de gravá-las, o genial petersburguense frequentemente inclui as últimas sonatas em seus longos e variados recitais. Trago-lhes, pois, além da Op. 90 – aqui abordada com moderação nos andamentos ainda maior que a prescrita por Beethoven, uma tradicional opção de Sokolov em prol da clareza e da atenção aos detalhes -, uma “Hammerklavier” extraordinária gravada na década de 70 (gravação diferente da que já foi publicada aqui) e uma Op. 111 à qual, talvez mais do que qualquer outra versão, só se possa seguir o silêncio.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata para piano em Mi menor, Op. 90 Composta em 1814 Publicada em 1815 Dedicada ao príncipe Moritz von Lichnowsky
1 – Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit Empfindung und Ausdruck
2 – Nicht zu geschwind und sehr singbar vorgetragen
Grande Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 106, “Hammerklavier” Composta entre 1817-18
Publicada em 1819
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustria
Cristina (1626-89) era a filha única do rei Gustavo Adolfo II e de sua esposa, a princesa Maria Leonor de Brandemburgo. Ascendeu ao trono sueco com apenas seis anos de idade, após a morte de seu pai na Batalha de Lützen. Sendo a filha de um defensor do protestantismo na Guerra dos Trinta Anos, Cristina causou escândalo ao abdicar em 1654 e converter-se ao catolicismo. Ela passou os seus anos restantes em Roma, tornando-se a líder da vida musical e teatral local. Como rainha sem um país, ela protegeu muitos artistas e projetos. Cristina morreu em 1689 e é uma das poucas mulheres enterradas no Vaticano. Cristina era mal-humorada, inteligente e interessada em livros e manuscritos, religião, alquimia e ciência. Ela queria que Estocolmo se transformasse na “Atenas do Norte”. Influenciada pela Contrarreforma, ela cada vez mais se atraiu pela cultura barroca e mediterrânea. O seu estilo de vida incomum e vestuário e comportamento masculino inspirariam vários romances, peças teatrais, óperas e filmes. Ela também foi uma das maiores patrocinadoras da música em toda a história do barroco, e é nesse papel que sua biografia figura no programa de música gravado neste CD. Todas as composições foram dedicadas a ela em algum momento de sua carreira. O compositor mais familiar do CD, Alessandro Stradella, era seu favorito e protegido em particular. Os outros — Marco Marazzoli, Luigi Rossi, Vincenzo Albrici, Alessandro Cecconi e Marc Antonio Cesti — foram beneficiados por sua generosidade. Um toque de orgulho nacionalista brilha nas notas e seleções de música em “Christinas Resa”. O soprano Susanne Rydén é sueca, assim como a maioria dos membros do Conjunto Barroco de Estocolmo, que a acompanha nessas árias de óperas e cantatas barrocas. É o excelente canto de Rydén — uma especialista no barroco historicamente informado — que leva o CD nas costas.
Christina’s Journey: Música da Corte da Rainha Cristina da Suécia
Marco Marazzoli (ca. 1602-1662)
1. La Vita Humana: Sinfonia e prologo, “L’Aurora”
Libretto Giulio Rospigliosi
Luigi Rossi (ca. 1597-1653)
2. Cantata per Gustavo Adolpho, Re di Svetia, morto in Guerra
Vincenzo Albrici (1631-1696)
3. Sinfonia a 2
From Alessandro Cecconi’s collection:
4. Pasqualini: Si bel volto
5. Anonymous: Poichè la bella Clori
6. Anonymous: E bugiardo chi dice
7. Anonymous: Pur mi parto
8. Carissimi: Vittoria, vittoria
Marc Antonio Cesti (1623-1669)
From the opera L’Argia
Libretto G F Appolloni
9. Duri lacci
10. Fuggi pur
11. Pietà Numi
Alessandro Stradella (1639-1682)
La Forza delle Stelle (excerpts)
Libretto Sebastiano Baldini
12. Sinfonia
13. RecitativL sopran
14. Damones Aria
Alessandro Stradella
From “Il duello” or “La Serenata”
Text Sebastiano Baldini
15. Sinfonia
16. Vola in altri petti
17. Balletto
18. Aria
Performers:
Susanne Ryden – Soprano
Stockholm Baroque Ensemble
Karl Nyhlin – Guitar (Baroque)
Eva Lindal – Violin
Mark Tatlow – Cembalo
Jonas Dominique – Double Bass
Anna Nyhlin – Soprano 13
Lars Warnstad – Violin
Maria Lindal – Violin
Asa Akerberg – Cello
Anna Ivanova – Violin
Joel Sundin – Viola
Meu amigo a se tornar chegava agitado do trabalho e, após alguns minutos de arrumação das coisas triviais, colocava na vitrola algum LP que refletisse essa agitação. Algum álbum de Bob Dylan ou Jose Feliciano eram típicos. Com o andar da carruagem, no entanto, discos de outra natureza começavam a sair de seus guardados e, invariavelmente a coisa toda acabava em Mozart. O ‘Elvira Madigan’, na antológica gravação de Géza Anda, era seu porto seguro. Finalmente ele chegava em casa. Como que para depurar as agruras do dia, usava este percurso da música.
Uma varanda comum que dava para quintais sobre a Ladeira do Ascurra, no Cosme Velho, que em noites juninas, lindas, exibia balões (perigosíssimos) pelo ar, sobre a goiabeira, mais as saudades de casa, a minha lá no sul do país, a dele no nordeste, e principalmente o gosto profundo pela música de Mozart, nos fez amigos primeiro, compadres depois. Não há como ouvir o Concerto No. 21 de Mozart sem que me lembre de meu amigo. E como este disco me pareceu particularmente bonito, certamente seria do agrado dele, decidi trazê-lo nesta postagem.
O disco tem, além do Concerto No. 21, o poderoso Concerto No. 24, em dó menor, que tanto impressionou o grande Ludovico.
A gravação tem como solista o ótimo pianista francês, enorme em música de Gabriel Fauré, e que aqui tem muito a dizer sobre Mozart. Jean-Claude Pennetier não é só pianista, é músico completo, rege, ensina, toca pianoforte e, como se diz em inglês – he’s been around. Isso faz muita diferença.
A orquestra toca com instrumentos modernos e é regida por um ótimo maestro, mesmo que não muito badalado. Note especialmente como eles estão seguros das lições do movimento HIP, tocando com precisão e leveza, com grande presença dos instrumentos de sopros e madeiras. A espontaneidade também se deve ao fato de a gravação ter sido feita ao vivo. Mas não se preocupem aqueles que não gostam de ruídos estranhos ou aplausos no final. A produção do selo Mirare é ótima.
Os dois concertos se completam muito bem, formando um ótimo par para um álbum assim. Outros grandes músicos usaram esta combinação antes. A beleza e leveza do Concerto No. 21, com seu sublime e justamente famoso andante, é completada pela intensidade do Concerto No. 24, de cores mais sombrias. E tudo isto tocado pela mágica de Mozart e também dos músicos franceses.
Para o momento ‘The Book is on the table’ temos um trecho da crítica do The Sunday Times de 25 de junho de 2017: Two Mozart concertos in performances that on the whole rise to these incomparable works. Aged 75, Pennetier is a lively soloist, and his cadenzas are exceptional…the Paris orchestra, under Popper, is sweet-toned and crisp, with prominent woodwind.
Eu concordo com exceptional!
Jean-Claude espairecendo no jardim de inverno das instalações do PQP Bach Corp.
Uma polonaise de Beethoven? Sim, e bastante oportunista: o ano era 1814, o Congresso de Viena repaginava a Europa pós-napoleônica e Beethoven circulava, na condição de mais célebre compositor vivo, entre a nobreza reunida naquela capital. A polonaise, dança que chegara às cortes francesas dois séculos antes, fazia muito sucesso nos salões europeus que, na mesma medida, eram abastecidos com nova música naquele ritmo característico. Beethoven, que apresentara algumas peças bem nhé no Congresso, buscava sofregamente atender comissões em troca de dinheiro. Uma das mais fáceis foi a da tzarina Elizaveta Alexeyevna da Rússia, a quem dedicou uma breve polonaise para piano solo em troca da considerável soma de cinquenta ducados. A peça, tão pouco dançante quanto se poderia esperar dum grande pianista e terrível dançarino, tem um desenvolvimento muito curto, espremido entre uma introdução com floreios pianísticos e uma coda incomumente longa, e é notória não só por ser uma das primeiras polonaises de salão escritas por um compositor dessa grandeza, como também por ser muito parecida com as primeiras tentativas de Chopin no gênero – que seriam impressas meros três anos depois, quando o polonesinho tinha meros sete anos
Muito mais interessante do que a peça em si é o pretexto que ela nos oferece para escutarmos o interessantíssimo instrumento usado nessa gravação. Conhecido como “o piano de Beethoven” e exibido com destaque no Museu Nacional Húngaro em Budapest, ele foi dado de presente ao compositor pelo fabricante John Broadwood, de Londres, em 1817. Chamá-lo daquele jeito, no entanto, é apenas uma meia-verdade. Não que o piano não fosse realmente de Beethoven, cujo nome fora gravado no instrumento pelo fabricante e que o preservou em seu apartamento até sua morte, mas sua surdez, àquela época, já estava tão profunda que ele não tinha mais condições de tocá-lo, nem de experimentar sua música nele. Não obstante, Ludwig o maltratou a ponto de, quando o piano foi removido de seu legendariamente caótico apartamento e vendido depois de sua morte, não haver “som algum nos agudos e as muitas cordas partidas ficarem enrodilhadas como um arbusto espinhoso numa galé”. Depois de algumas revendas, o instrumento foi adquirido por Franz Liszt, que o restaurou e o legou, em testamento, para o Museu Nacional Húngaro. Não se sabe o quanto o som delicado e anasalado do Broadwood teria agradado os ouvidos de Beethoven, notoriamente crítico às limitações dos instrumentos de sua época. Sabe-se que ele tinha ressalvas mesmo aos seus pianos preferidos, os de Conrad Graf, que tinham um som robusto, mais uniformidade entre os registros e, fundamental para Ludwig, a maior extensão entre seus contemporâneos. Era sob um dos pianos de Graf, aliás, doado a ele pelo próprio construtor, que Beethoven guardava o seu penico, que aparece nos relatos de vários visitantes, tamanho era o destaque que sua posição e olor tinham em sua sala de estar dos infernos.
As demais peças ouvidas nessa gravação, feita in loco no auditório do museu, são todas contemporâneas ao Broadwood e, por não exigirem muito do mecanismo, soam-lhe bem apropriadas sob as mãos do jovem András Schiff, então com 23 anos e ainda a morar em sua Budapest natal.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Seis bagatelas para piano, Op. 126
Compostas em 1824
Publicadas em 1825
1 – Andante con moto, cantabile e compiacevole
2 – Allegro
3 – Andante, cantabile e grazioso
4 – Presto
5 – Quasi allegretto
6 – Presto – Andante amabile e con moto
Cinco peças tardias para piano
7 – Allegretto em Si menor, WoO 61 (1821)
8 – Valsa em Mi bemol maior, WoO 84 (1824)
9 – Écossaise em Mi bemol maior, WoO 86 (1825)
10 – Valsa em Ré maior, WoO 85 (1825)
11 – Allegretto quasi andante em Sol menor, WoO 61a (1825)
Onze novas bagatelas para piano, Op. 119 Compostas entre 1820-1822 Nos. 7-11 publicadas no tratado de piano de F. Starke em 1821 Coleção completa publicada em 1823
12 – Allegretto
13 – Andante con moto
14 – A l’Allemande
15 – Andante cantabile
16 – Risoluto
17 – Andante — Allegretto
18 – Allegro, ma non troppo
19 – Moderato cantabile
20 – Vivace moderato
21 – Allegramente
22 – Andante, ma non troppo
Polonaise em Dó maior para piano, Op. 89 Composta em 1814 Publicada em 1815 Dedicada à Imperatriz Elizaveta Alexeyevna da Rússia
23 – Alla polacca, vivace
András Schiff, pianoforte (John Broadwood & Sons, London, 1817)
Gravado no Museu Nacional Húngaro (Magyar NemzetiMúzeum) em Budapest, Hungria, 1977. BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Um disco que ouvi com moderado entusiasmo. A popularidade do alaúde estendeu-se por três séculos e seu centro de gravidade foi se deslocando através da Europa: no século XVI triunfou na Itália, no século XVII teve o seu período de ouro em França e no século XVIII ganhou apreço no mundo austro-germânico. Este último florescimento foi mais breve, pois em meados do século XVIII sua popularidade estava já em acentuado declínio, apesar de ter sido por essa altura que o instrumento atingiu o ponto culminante do seu desenvolvimento, com o aparecimento de alaúdes de 13 e 14 cordas (geralmente estas eram duplas, o que implicava, portanto, 26 cordas). Embora o repertório para alaúde solo seja abundante, já os concertos para alaúde são raros, uma vez que o débil volume sonoro do instrumento torna difícil que não seja engolido pela orquestra. Dos poucos concertos para alaúde que sobreviveram, só o RV.93 de Vivaldi é tocado regularmente, mas vale a pena descobrir outros exemplares do gênero.
Johann Friedrich Fasch (1688-1758)
Concerto en ré mineur pour luth, 2 violons, alto et b. c.
1 Allegro Moderato 05:44
2 Andante 06:16
3 Un Poco Allegro 03:36
Joseph Haydn (1732-1809)
Cassation en ut Majeur pour luth obligé, violon et violoncelle (Hob. III:6)
4 Presto 02:09
5 Minuetto- Trio 04:03
6 Adagio 04:30
7 Finale. Presto 2:35
Carl Kohaut (1726-1784)
Concerto en fa Majeur pour luth, 2 violons et violoncelle
8 Allegro 05:42
9 Adagio 04:40
10 Tempo Di Minuetto 03:56
Bernhard Joachim Hagen (c. 1720-1787)
Concerto en la Majeur pour luth, 2 violons, alto et violoncelle (Cadences B. J. Hagen / H. Smith)
11 Allegro Moderato 05:12
12 Largo 04:28
13 Allegro 04:01
HOPKINSON SMITH: 13-course lute,
CHIARA BANCHINI: violin,
DAVID COURVOISIER: viola,
ROEL DIELTIENS: cello,
DAVID PLANTIER: violin
Já que nos debruçamos sobre a ótima música para instrumentos de sopro que Beethoven escreveu em sua juventude, permitam-me dar um salto em seu catálogo de obras para apresentar-lhes o Op. 103, seu único octeto.
Apesar de se supor composto para a extraordinária Harmonie a serviço de Maximilan Franz, Eleitor de Colônia e patrono em sua Bonn natal, o octeto não foi executado por aquele conjunto de sopros antes da chegada de Beethoven a Viena para estudar com o grande Haydn. Intitulado originalmente “Parthia” e com a indicação “num concerto”, que faz supor que, em algum momento, ele fosse destinado a um palco, e não ao entretenimento duma corte, ele foi explicitamente mencionado numa carta de Beethoven a Nikolaus Simrock, seu amigo de Bonn, trompista da Harmonie e futuro editor, em que perguntava se o octeto já tinha sido tocado por lá. Alguns meses mais tarde, Haydn escreveria ao Eleitor de Colônia para dar conta dos progressos feitos por seu aluno turrão e solicitar um aumento da bolsa paga a Beethoven, anexando, para documentar tais progressos, algumas das composições do rapaz. O Eleitor foi demolidor em sua resposta, afirmando que já estava a gastar muito dinheiro e que quase todas as composições enviadas, incluindo o octeto, já tinham sido escritas em Bonn e que, portanto, não representavam progresso algum. Haydn deve ter ficado com cara de tacho e, já mais preocupado com suas exaustivas, ainda que muito lucrativas, excursões à Inglaterra do que em dar aulas ao renano enrolão, acabou por deixar de lado suas lições, o que muito aliviou o pupilo, que procurou a tutela de Albrechtsberger e Salieri para, sem a ajuda do Eleitor de Colônia, conquistar a cena musical vienense.
Ainda que composto em Bonn e revisado em Viena em 1793, o octeto só foi publicado em 1830, o que justifica seu alto número de Opus. Talvez mais conhecido em sua recauchutagem como um quinteto de cordas (Op. 4), é uma obra que, embora claramente evocativa do estilo de Mozart, tem a acidez e as explosões de temperamento tão típicas de Beethoven. Do ponto de vista formal, ele já demonstra a predileção do jovem compositor por um scherzo no lugar do minueto, apesar de ainda intitulá-lo Menuetto. Embora haja equilíbrio entre as partes, é notória a proeminência das difíceis partes para trompa, instrumento a que Ludwig estava aparentemente muito familiarizado, talvez pela amizade com Simrock. Da mesma forma, o primeiro oboé conduz os três primeiros movimentos – incluindo um dueto com o fagote no Andante – e o clarinete se encarrega de incendiar o Finale com muito virtuosismo.
No manuscrito do octeto, após o minueto, há um curto e riscado fragmento de um Andante, que foi descartado pelo compositor e substituído pelo Finale supracitado. Descoberto entre os papeis de Beethoven após sua morte, o Andante foi intitulado “Rondino” e publicado separadamente em 1830.
A gravação que lhes apresentamos traz a extraordinária clarinetista Sabine Meyer a liderar um conjunto de sopristas não menos fabulosos, que inclui Albrecht Mayer, oboísta dos filarmônicos de Berlim, e se encerra com um arranjo muito interessante do septeto de Beethoven feito por Jiří Družecký (que, germanizado e sem diacríticos, fica Georg Druschetzky). Nele, as partes do violino, da viola e do violoncelo foram redistribuídas entre pares de oboés, clarinetes, trompas e fagotes, aos quais se soma um contrafagote, que assume o papel do contrabaixo. Não sei se Beethoven chegou a conhecer esse arranjo, mas tenho o palpite – a despeito de seu hábito de renegar o septeto, mesmo com todo sucesso que teve, por considerá-lo muito inferior às suas obras ulteriores – de que ele o aprovaria. O contrafagote muda completamente o caráter da peça, além de estar bem de acordo com o uso que Ludwig fez dele no final da carreira, acrescentando uma parte para o instrumento a todas suas obras mais importantes. Além disso, a virtuosística parte do primeiro clarinete, tomada ao violino, permite a Sabine Meyer alguns belos voos e nos faz lamentar que o mestre de Bonn não nos tenha legado um concerto para esse instrumento.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Octeto em Mi bemol maior para dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas, Op. 103 Composto em 1792 Publicado em 1834
Rondó (Rondino) em Mi bemol maior para dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas, WoO 25 Composto em 1793 Publicado em 1830 5 – Andante
Sabine Meyer Bläserensemble
Diethelm Jonas e Albrecht Mayer, oboés Reiner Wehle e Sabine Meyer, clarinetes Dag Jensen e Georg Klütsch, fagotes Nikolaus Frisch e Bruno Schneider, trompas
Septeto em Mi bemol maior para violino, viola, clarinete, trompa, violoncelo, fagote e contrabaixo, Op. 20, em arranjo para noneto de sopros por Jiří Družecký (1745-1819) Composto entre 1799-1800 Publicado em 1802 (septeto) Dedicado à imperatriz Maria Theresa da Áustria Arranjo para noneto publicado em 1814
6 – Adagio – Allegro con brio
7 – Adagio cantabile
8 – Tempo di menuetto
9 – Tema con variazioni (Andante)
10 – Scherzo
11 – Andante con moto alla marcia
Sabine Meyer Bläserensemble
Diethelm Jonas e Albrecht Mayer, oboés
Reiner Wehle e Sabine Meyer, clarinetes
Dag Jensen e Georg Klütsch, fagotes
Nikolaus Frisch e Bruno Schneider, trompas
Klaus Lohrer, contrafagote
Hoje vamos enveredar por caminhos nunca dantes navegados, até agora: óperas de Gaetano Donizetti (Bérgamo 1797 – Bérgamo 1848). Vamos começar pela obra que é considerada por muitos como “ l’ultima delle grandi opere buffe italiane”: seu “Don Pasquale”.
Em outubro de 1842, Giovanni Ruffini (1807 – 1881) passou a viver dias extremamente agitados, uma “máquina de escrever versos”, como diz em carta escrita à mãe no dia 18 daquele mês. Vem produzindo rimas de modo tão intenso, a toque de caixa, para a nova ópera cômica do incansável Donizetti intitulada “Don Pasquale”. Convenhamos era uma grande responsabilidade, afinal o compositor com 62 óperas no currículo (esta seria a sexagésima terceira) já era consagrado. Reza a lenda que o compositor era dotado de extraordinária capacidade de trabalho, exigindo dos colaboradores pleno empenho na realização de qualquer tarefa. A todos (libretista, cantores, músico e qualquer um que estivesse envolvido com sua ópera) ia espicaçando impiedosamente, até o último ensaio. Era uma “vida loca” ele tinha que atender a seguidas encomendas de óperas e mais óperas, num encadeamento que colocaram Donizetti numa verdadeira “roda-viva”. Imaginem os (as) senhores (as) ele concluiu sua primeira ópera (“Enrico di Borgogna”) em 1818 e cerca de 24 anos depois ele já havia produzido 62 óperas, são quase 3 óperas por ano !!!! Mas não era só isso, o mestre ainda escreveu entre uma ópera e outra, para distrair, 30 cantatas, 13 sinfonias, 18 quartetos para cordas e dezenas de pequenas peças litúrgicas. O italiano era um furacão, consequência direta das exigências contratuais que o obrigavam a desdobrar-se em múltiplas e sucessivas criações, mais ou menos “acabava uma e começava outra”, sem pausas para intervalos sabáticos. Porém o reconhecimento e prestígio ia para além das fronteiras italianas e não raro ele era chamado a frequentar salões imperiais nos quais recebia admiração e honrarias. Sua fama consolidou-se na facilidade com que sempre respondia as solicitações do seu público, o comum era a receptividade sempre calorosa junto as plateias de Milão, Nápoles, Roma Paris ou Viena.
Em 15 setembro de 1842 Donizetti escreve a um amigo: “Estou indo a Paris, tratar da tradução das óperas “Maria Padilla” e “Linda di Chamounix”. Sabe Deus que outra coisa farei”. Faria “Don Pasquale”. Em 27 deste mesmo mês ele assina o contrato e como em ocasiões anteriores, assumia um compromisso para dele se ocupar não podendo pensar em desperdiçar um minuto que fosse. A 20 de outubro vende os direitos da partitura para o editor Ricordi, para divulgação na Itália e Alemanha. Exatamente trinta dias depois, informa por carta que iniciaria os ensaios na semana seguinte. Havia transcorrido não mais que dois meses e alguns dias desde o momento em que aceitara a produção da nova ópera e sua conclusão.
Giovanni Ruffini
O libreto é baseado nos versos que Angelo Anelli escreveu para a ópera “Ser Marcantonio” do compositor Stefano Pavesi (1779-1850), apresentada em 1810. Donizetti incumbiu o libretista Giovanni Ruffini de fazer a adaptação do libreto existente para sua música. Era uma solução de emergência não havia tempo para criar algo novo, então como recurso reformularam um libreto de sucesso já existente (era um artifício comum na época, sem nenhuma conotação de demérito para o beneficiário). Nestes dias agitados Giovanni conta o que significava trabalhar com Donizetti: “faltava uns cinquenta versos de recitativo e um rondó final (…) que me fez suar sangue e água. Senti nos rins uma espada de dois gumes, os editores de um lado e Donizetti do outro dizendo que gostaria que lhe entregasse material para musicar, não todos os dias, como faço, mas todas as horas…..”.
Ilustração Francesa do seculo XIX
A estréia, um estrondoso sucesso, aconteceu em 3 de janeiro de 1843 no Theatre des Italians em Paris, tendo como intérpretes: a soprano Giulia Grisi como Norina, o tenor Giovanni Matteo di Candia como Ernesto, o baixo Luigi Lablache como Don Pasquale, o barítono Antonio Tamburini como médico Malatesta e o contrabaixo Federico Lablache, filho de Luigi Lablache, como tabelião.
“L’Elisir d’Amore” (1832), “Lucrezia Borgia” (1833), “Lucia di Lammermoor” (1835), “La Fille du Régiment” (1840) são apenas algumas de suas 67 óperas, as que mais impressionaram as plateias e sobreviveram ao teste do tempo. “Dom Pasquale” foi o seu grande último êxito. No mesmo ano da estreia, em Paris, Donizetti caiu em profunda depressão, muito provavelmente por causa do excessivo trabalho e sobretudo da tristeza vivenciada em seu drama familiar: em 1828, casou-se com Virgínia Vasselli, ela morreu 9 anos após o casamento tendo perdido, ainda recém-nascidos, os três bebes que concebera com o compositor. O Resultado foi a depressão acompanhada de sintomas de desequilíbrio mental e progredindo com uma paralisia dos membros. Cerca de dois anos após a estreia de Don Pasquale o amigo de Donizetti, Heinrich Heine, relata uma visita em um hospital:
Pintura de Ponziano Loverini
“Enquanto suas melodias alegram o mundo, enquanto as pessoas o cantam e admiram em toda parte, ele mesmo, uma imagem horrível, sentado em um quarto de hospital.” Donizetti tinha conservado apenas uma consciência infantil para ficar arrumado: “Era preciso vesti-lo cuidadosamente todos os dias, de gala completo, fraque decorado com todos os seus enfeites; então ele ficava sentado imóvel, com o chapéu na mão, de manhã até tarde da noite ”(Heinrich Heine, 1844). o compositor morreu a 8 de abril de 1848 aos 51 anos de idade.
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O Enredo
Roma, início do século XIX. Casa de Don Pasquale, um velho solteirão rico e avarento. Ouvimos uma abertura que antecipa muitas belas melodias da ópera. A abertura começa com alguns acordes altos cuja função, na época, era a de silenciar o público que tagarelava antes do início da peça, solicitando atenção. Em seguida, ouvimos uma melodia lírica tocada por um violoncelo solo.
Ato 01
Rico, extremamente conservador e sovina, o velho solteirão decidiu casar-se para mais facilmente deserdar o sobrinho Ernesto. E por que ele age deste modo ? Enamorado de Norina, jovem viúva, o rapaz recusa-se obstinadamente a tomar por esposa aquela que o tio escolheu, moça nobre, rica e muito prendada. Aos olhos de Don Pasquale, tal rebeldia é inadmissível. Ao iniciar a ópera encontramos Don Pasquale impaciente e nervoso, pois espera que seu médico de família e amigo Dr.
Milão 1904
Malatesta discuta um assunto importante. Quando ele finalmente aparece, Don Pasquale pergunta animado se ele encontrou uma noiva. Malatesta afirma e fala de uma jovem adorável e modesta que escolheu para ele, ouve extasiado a descrição que Malatesta faz da jovem que lhe arranjou para esposa. Bela e virtuosa, não há qualidade que lhe falte. Exultante, Don Pasquale pergunta pela família desse anjo. “Abastada, honesta”, esclarece o doutor. “E o nome?” indaga o velho. Ao saber que é a própria irmã de Malatesta, já não cabe em si de alegria. Quer saber quando a verá. “Esta noite”, promete o amigo. Sozinho de novo entrega-se a devaneios. Considera-se um privilegiado. Como disse ao médico, sente-se jovem novamente.
Seu sobrinho aparece. Don Pasquale gostaria de deixar sua herança para Ernesto, com a condição de que ele se casasse de maneira respeitável e rica. Don Pasquale já escolheu uma pretendente. Ernesto ama a pobre Norina. Mas Don Pasquale não gosta e lhe diz que se ele se casar com ela, ele o deserdaria. Ernesto rejeita a candidata de Pasquale, ao que este lhe diz que se casará novamente e que Ernesto voltará de mãos vazias. Ernesto não compreende, pede explicações, mal suporta o impacto que lhe causam a atitude do tio: e agora, o que fazer da vida? Ainda tenta retardar os acontecimentos e pergunta a Don Pasquale se não conviria pedir a opinião do Doutor Malatesta a respeito de seus planos de casamento. Rindo, o velho lhe dá a nova informação: já o fez e é justamente com a irmão do médico a sua eleita. Ernesto é dominado por íntima revolta: não esperava tal atitude de Malatesta, a quem considerava amigo fiel. Não imagina, porém, que o doutor planeja justamente beneficiá-lo, ao cabo da audaciosa farsa que está tramando.
Na segunda cena, encontramos Norina em sua casa e ela lendo uma história de amor com complicações. Ela sorri, porque ela mesma conhece todos os truques para fazer o coração de um homem bater mais rápido. Um servo traz para ela uma mensagem de Ernesto. Ela fica sabendo dos planos de casamento de Pasquale e que Ernesto decidiu deixar a Europa por desespero. Quando Malatesta chega, ele encontra Norina desesperada. Ela conta-lhe que Ernesto, como diz a carta, esta prestes a deixar Roma, por ter Don Pasquale decidido a deserda-lo. As últimas linhas: “Ele obrigou-me a renunciar ao teu amor. Adeus, sejas feliz”. Quando Malatesta descobre o motivo, ele ri. Ele explica a ela que a coisa toda foi armada por ele para enganar o velho. A irmã nem existe. Seu plano é que a própria Norina interprete a irmã de Malatesta. Ela teria que interpretar uma garota modesta e ingênua. Don Pasquale, se for enganado, ira arranjar um casamento em sua casa e quando o Don assinar o contrato de casamento, ele estará à mercê dela. Norina fica entusiasmada com o plano.
Ato 02
À noite na casa de Don Pasquale. Ernesto está sentado com as malas prontas. Ele se sente abandonado e triste porque se tornou impossível se casar com Norina. Donizetti nos apresenta algo incomum nesta ária. Um solo de trompete profundamente triste nos introduz no humor de Ernesto. Normalmente este instrumento não está associado a esses sentimentos. Donizetti provocou deliberadamente esse efeito para enfatizar a complexidade dessa trama, que se pretende mais do que uma mera comédia. Entrementes, enquanto Ernesto amarga suas frustrações num cômodo da casa de Don Pasquale, em outo aposento o tio prepara-se para receber Malatesta e a sua futura esposa. Eufórico e espiritualmente rejuvenescido, troca palavras alegres “com seus botões”. Roda sobre si mesmo, vaidosamente, equilibrando-se numa perna. Sente-se um garotão ! Já se vestiu com suas melhores roupas na alegre expectativa da noiva.
Ela aparece acompanhada por Malatesta mas com um véu no rosto Dom Pasquale está encantado com sua modéstia e Norina interpretando uma mulher recatada busca convencer em seu papel de donzela recém saída do convento. Don Pasquale – oculto num canto, onde se pusera a um sinal do doutor – acompanha com vivo interesse a conversa entre Norina e Malatesta (que a chama de Sofrônia), repleta de expressões e gestos que o convencem sempre mais da riqueza de qualidades da moça. Finalmente, são apresentados por Malatesta. Norina simula sentir-se profundamente chocada ante a visão de um homem estranho: “Como? Um homem! Ah, como sou miserável! Depressa, irmão , fujamso daqui!”. Tal reação, para Don Pasquale, é a prova conclusiva de que se encontra frente a uma jovem de incontestável pureza. Agora, quer ver-lhe o rosto. Norina se conserva toda pudica, finge supremo constrangimento, mas cede, afinal. O velho fica maravilhado, gagueja, faz acenos nervosos a Malatesta e este induz Norina a responder afirmativamente as pretensões matrimoniais do amigo.
Milão 1904
Don Pasquale quer que o notário apareça imediatamente. Claro, Malatesta já tem seu tabelião esperando do lado de fora, Carlotto (primo de Malatesta). Existe um problema. Quando o casal assina, só há uma testemunha: Malatesta. Chamam Ernesto. Dom Pasquale diz-lhe com prazer que ele deve servir de testemunha do casamento. Ernesto olha para a noiva e não acredita em seus olhos quando vê Norina. Malatesta discretamente o apresenta ao plano e seus benefícios.
Tão logo a cerimônia chega ao fim a moça sofre abrupta transformação. A modesta freira se torna um monstro. Ela intimida o pobre Don Pasquale e, quando escolhe Ernesto como seu companheiro para um passeio, ele fica totalmente pasmo e Ernesto se diverte deliciosamente. Ouvimos o lindo quarteto “e rimasto la impietrato”. Em seguida, Sofrônia pede para ver os criados. Para horror de Pasquale, ela decide dobrar o salário e contratar mais funcionários. Quer duas carruagens, dez cavalos de raça inmglesa, novo mobiliário e diversas outras extravagâncias. Ao marido, “abismado” e inutilmente raivoso, ainda faz outra exigência: que Ernesto fique permanentemente em sua companhia. Don Pasquale percebe que foi enganado e Ernesto se regozija.
Ato 03
A velha casa mudou, está irreconhecível foi recentemente mobiliado tudo novo e há empregados por toda parte. Dom Pasquale é um homem desesperado, fica pasmo e repassa todas as contas. Quando Sofrônia aparece ele tenta protestar, mas ela interrompe lhe as queixas com duras palavras. Muito elegante, ela está vestida para ir ao teatro. Quando Don Pasquale tenta deter a saída para o teatro, ela lhe dá um tapa no rosto. Pasquale desmaia e Norina sente um pouco de pena. Mas o plano tem que ser executado. Ao sair, ela deixa cair deliberadamente um pedaço de papel. Furioso Don Pasquale acorda e clama pelo divórcio, acha o papel e o lê. É uma carta de Ernesto para um encontro à meia-noite no jardim.
Fora de si – a esposa começava o casamento com um ato de infidelidade, Don Pasquale manda chamar Malatesta com quem quer traçar um plano. O médico atende prontamente e eles decidem emboscar secretamente Sofrônia e Ernesto. Com essa prova, ele poderia então expulsar a esposa não amada de casa (este dueto tornou-se famoso pelas suas sílabas cantadas rapidamente, o Presto-Sillabato, e é um dos destaques absolutos desta ópera).
Milão 1904
É noite no jardim. Ambos estão a espreita. Ernesto canta uma serenata como senha. Ouvimos outra bela ária de Donizetti para o tenor Ernesto. Em seguida ouvimos o grande dueto de amor. Don Pasquale precipita-se sobre o casal, mas o rapaz consegue escapar. Norina não se abala, e até afirma que ali estava sozinha. A situação fica tensa: Don Pasquale quer expulsá-la de casa, mas Sofrônia se recusa se fazendo de irônica: esquecia ele que no contrato de casamento ele lhe destinara todos os bens… inclusive a casa ? Malatesta intervém para sugerir que, como forma de resolver a questão, Don Pasquale permita que Ernesto despose Norina. Quando Sofrônia ouve o nome de Norina, ela explica que nunca viverá sob o mesmo teto que esta mulher. Don Pasquale agora sente o cheiro de sua chance. O plano de Malatesta parece funcionar e ele busca Ernesto, e Don Pasquale aceita seu casamento.
Ele até concorda em dar a eles um dote apenas para se livrar do monstro Sofronia. Perplexo, ouve então do doutor a confissão da farsa, arquitetada para provar lhe que não estava mais em idade de pensar em casamento. O velho compreende a difícil lição, e dá sua bênção ao casamento do sobrinho. Norina apresenta a moral da história: Quem quer casar na velhice faz de si mesmo apenas um tolo, no belíssimo rondó que encerra a ópera.
Personagens e intérpretes
Esta versão que ora temos o imenso prazer de compartilhar com os amigos do blog é a versão de 2006 ao vivo da Ópera de Zurique. Quanto à gravação em minha modestíssima opinião está bem aceitável, as vezes deixa os cantores longe do microfone, acho mais legal as gravações de ópera ao vivo conseguimos captar “eletricidade” no ar. A abertura da ópera está ótima, com bom equilíbrio e presença. O maestro Nello Santi conduz com a energia donizettiana apropriada.
O papel-título do irascível Don Pasquale é cantado pelo grande barítono italiano, o veterano Ruggero Raimondi e um excelente elenco de apoio. Raimondi, com a voz mais seca do que em seus dias de juventude, é um ótimo Don Pasquale, atuando com brio cômico, irrompendo em danças de alegria quando sua proposta parece estar dando certo e mergulhando em um desespero sentido quando as coisas começam a dar errado, altamente convincente. No dueto do terceiro ato com Oliver Widmer foi ao ponto de recompensar o público com um bis muito bem-vindo! O tenor Juan Diego Flórez como sobrinho do Don, o apaixonado Ernesto, sua interpretação está simplesmente im-per-dí-vel para qualquer admirador do bel canto. Sua voz é doce e terna, mas com um toque firme, seus
Shhhh, pianíssimo !!! Nello Santi (1931-2020)
pianíssimos são arrebatadores e sua ária de último ato, “Com’è gentil”, é radiante. Sua voz é um milagre, cheia de fluidez e graça, com notas agudas brilhantes, livres de quaisquer manchas ásperas, uma alegria de ouvir. Como Dr. Malatesta, o barítono Oliver Widmer aparece muito bem. Um Malatesta divertido e muito bem cantado. Norina é a soprano espanhola Isabel Rey, que oferece uma excelente performance vocal, lidando otimamente bem com suas coloraturas definitivamente cheias de vida. No geral, é uma audição maravilhosa e vale a pena ouvir. Divritam-se !!!!!
Donizetti – Don Pasquale
Don Pasquale – Ruggero Raimondi
Ernesto – Juan Diego Flórez
Norina – Isabel Rey
Dottor Malatesta – Oliver Widmer
Um notaro – Valeriy Murga
Chorus and Orchestra of the Opernhaus Zürich
Nello Santi – Maestro
Como mencionamos ontem, as duas peças que Beethoven dedicou ao incomum conjunto de dois oboés e um corne inglês tinham destinatários específicos. Sabendo que a instrumentação era tão atraente quanto esdrúxula, Ludwig escreveu sua composição em quatro pentagramas: um para cada oboé e outro para corne inglês, todos em clave de sol, e um em clave de Dó, com material muito semelhante à parte do corne inglês, mas mais desenvolvida. Assim, ao propor uma parte para viola e supor que os violinistas não teriam dificuldades de tocar as partes dos oboés, o compositor não só autorizou, como também prescreveu a execução da obra pelo conjunto muito mais encontradiço de dois violinos e viola.
A primeira gravação que lhes trarei, no entanto, é para uma combinação diferente e, a meu ver, ainda mais atraente de instrumentos. A interação dos timbres tão característicos do oboé, do clarinete e do fagote trazem colorido às duas despretensiosas e tão bem escritas peças para trio de sopros, realçam o cantabile dos movimentos lentos e, particularmente nas variações, fazem ouvir as diferentes vozes com mais clareza. Além disso, ela servirá de pretexto para lhes apresentar o excelente conjunto Les Vents Français (“Os Sopros Franceses”), uma reunião de brilhantes solistas à qual, aqui, se junta o pianista Éric Le Sage, que tão bem toca Beethoven. De lambujem, mais uma versão da sonata para trompa que Ludwig dedicou a Giovanni Punto, seu amigo efêmero, o que lhes assegura que, se a fortuna dependesse de gravações do Op. 17, eu realmente não seria pobre.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trio em Dó maior para dois oboés e corne inglês, Op. 87
(versão para oboé, clarinete e fagote) Composto provavelmente em 1793 Publicado em 1806
François Leleux, oboé Paul Meyer, clarinete Gilbert Audin, fagote
Trio em Sol maior para piano, flauta e fagote, WoO 37 (1786)
5 – Allegro
6 – Adagio
7 – Andante con variazioni
Emmanuel Pahud, flauta Gilbert Audin, fagote Eric Le Sage, piano
Variações em Dó maior sobre a “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para dois oboés e corne inglês, WoO 28 (versão para oboé, clarinete e fagote) Compostas provavelmente em 1795 Publicadas em 1806
8 – Tema
9 – Variação I
10 – Variação II
11 – Variação III
12 – Variação IV
13 – Variação V
14 – Variação VI
15 – Variação VII
16 – Variação VIII – Coda
François Leleux, oboé Paul Meyer, clarinete Gilbert Audin, fagote
Sonata em Fá maior para piano com uma trompa ou violoncelo, Op. 17 Composta em 1800 Publicada em 1801 Dedicada à baronesa Josefine von Braun
17 – Allegro moderato
18 – Poco adagio, quasi andante
19 – Rondo – Allegro moderato
Radovan Vlatković, trompa Éric Le Sage, piano
Dos Três Duos para clarinete e fagote, WoO 27
No. 3 em Si bemol maior
20 – Allegro sostenuto
21 – Aria con variazioni
Paul Meyer, clarinete Gilbert Audin, fagote
Les Vents Français Emmanuel Pahud, flauta François Leleux, oboé Paul Meyer, clarinete Gilbert Audin, fagote Radovan Vlatković, trompa
Além da ótima versão acima, resolvi alcançar-lhes o trio Op. 87 em outras três roupagens, incluindo aquela para dois violinos e viola prevista por Beethoven:
Eu já ouvia música há algum tempo e naqueles dias a mídia era LP e o streming de música clássica emanava da Rádio MEC. Uma amigo, colega da Matemática, entrou certo dia em meu escritório e ouviu meu radinho de pilhas ligado – estão tocando o Concerto No. 2 de Chopin – disse ele. E como você sabe? Para minha surpresa, ele respondeu que conhecia por já tê-lo estudado e até tocado. Não é que meu amigo, antes de se enveredar pela Matemática havia estudado música e piano com o Arnaldo Estrella!
Passamos a entabular mais conversas além da Matemática e naqueles dias meu assunto musical era os Concertos para Piano de Brahms. Estava especialmente impressionado com o impetuoso Concerto No. 1, mas meu amigo insistia nas profundezas do Segundo Concerto. Acabei lhe emprestando dois de meus preciosos LPs com este último concerto que foram, pasmem, retornados em perfeitas condições, amigo assim há que se preservar. Um destes LPs era a gravação do apolíneo Pollini, acompanhado pela Wiener Philharmoniker regida pelo Claudio Abbado. O outro era um LP de banca de jornais, gravação do Gyorgy Sandor ao piano, acompanhado pela Orquestra da Rádio de Baden-Baden, regida pelo Rolf Reinhardt. Os comentários de meu amigo me deram material para pensar. Ele, é claro, reconhecia a excelência da gravação do Pollini – permite ouvir cada nota como que saída da partitura, com precisão espetacular, mas a outra gravação é mais ao meu gosto, tem mais calor humano. E eu despertei para o fato que a apreciação musical é algo mais complicado do que simplesmente veem os olhos. Há mais dimensões a se considerar.
Casa de Brahms em Baden-Baden
Assim, com esta motivação toda, vamos ao Terceiro Desafio PQP Bach, que tem a intensão de instigar a curiosidade de nossos seguidores ouvintes a também buscar algo mais na apreciação musical, além (é claro) do prazer que ela nos dá.
A escolha do repertório tem sido de propósito feita na parte mais tradicional do repertório para facilitar o trabalho dos adivinhadores.
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Concerto para Piano No. 1 em ré menor, Op. 15
Maestoso
Adagio
Allegro non troppo
Concerto para piano No. 2 em si bemol maior, Op. 83
Brahms visitando a turma do PQP Schütz, um precursor do pessoal do PQP Bach…
Que a apreciação desta gravação dos majestosos e lindos concertos de Brahms possam dar aos atentos ouvintes a oportunidade de descobrir algo novo neles e além disso, muito prazer!
Aproveite!
René Denon
PS: Assim como fiz nas postagens deste tipo até agora, em momento oportuno será revelada a identidade dos intérpretes para que recebam os créditos pelos méritos ou os eventuais repolhos e tomates…
Hoje trago sangue novo para o blog, um nome que provavelmente ainda iremos ouvir falar e muito. Trata-se de Behzod Abduraimov, jovem pianista (nasceu em 1991) que veio do longinquo Uzbequistão, e que vem se destacando nos palcos do mundo inteiro, com um talento imenso e uma técnica apuradíssima. Foi vencedor do prestigiadíssimo “Van Cliburn International Piano Competition“, e na esteira deste sucesso, vem se apresentando com as mais renomadas orquestras e regentes, inclusive gravando CDs.
Neste CD que ora vos trago, Behzod encara duas pedreiras, o Concerto nº1 de Tchaikovsky e o Terceiro de Prokofiev, dois concertos conhecidos não apenas por suas dificuldades de execução mas também pela forte carga emotiva e dramática que carregam. São obras que exigem muito do solista, mas aqui a juventude fala mais alto, e o então garoto brilha com todo o seu talento, tirando de letra. Vale a pena ouvir, para conhecer.
Seguindo as recomendações de René Denon, que sempre diz que a fila anda, quando conversamos sobre antigos intérpretes, apresento para os senhores, então, uma das gratas surpresas que tivemos no mundo do piano neste novo século. Espero que apreciem. Vamos dar voz aos novos talentos que surgem.
Sergey Prokofiev (1891-1953) – Piano Concerto nº3 in C Major, op.26
1 – I – Andante – Allegro
2 – II – Andantino con Variazoni
3 – III – Allegro ma non troppo
Piotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) – Piano Concerto nº1, in B Flat Major, op. 23
4 – I – Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro con spirito
5 – II – Andantino semplice – Prestissimo – Tempo I
6 – III – Allegro con fuoco
Behzod Abduraimov – Piano
Orchestra Sinfonica Nazionale della RAI
Juraj Valcuha – Conductor
Ao chegar a Viena em 1792 para estudar com Hadyn, Beethoven já tinha composto e esboçado obras em quase todos os gêneros frequentados pelo Mestre de Rohrau. Em poucos deles ele fora mais prolífico que na Harmoniemusik, a escritura para conjuntos de sopros a serviço de membros da aristocracia. A corte do Eleitor de Colônia em Bonn, em cuja orquestra Ludwig tocara viola, tinha um notável grupo de sopristas que certamente ajudou o compositor a familiarizar-se com os timbres e particularidades técnicas dos instrumentos, enquanto fermentava ideias, estudos e coragem para enfim escrever sua primeira sinfonia.
Na capital imperial, que já tinha sua corte repleta de ótimos músicos e com Antonio Salieri firmemente estabelecido com Kapellmeister, cargo que manteria até a antessala de sua morte em 1824, as poucas oportunidades que Beethoven teve para escrever para sopros vinham de músicos amadores. Um trio de irmãos – Johann, Franz e Philipp Teimer – trouxe-lhe o desafio de escrever para o incomum conjunto de dois oboés e corne inglês. O trio resultante, publicado postumamente e com o enganosamente tardio número de Opus 87, foi em verdade composto antes mesmo de Ludwig planejar seu Opus 1. Embora não apresente grandes desafios técnicos a seus instrumentistas, é uma obra simpática e bem acabada no escopo de quatro movimentos que o compositor buscava dominar em seus primeiros anos em Viena: um primeiro movimento em sonata-forma estrita, com repetição de exposição, um movimento lento lírico, um minueto que é um scherzo em tudo, exceto na denominação, e um final ebuliente – o mesmo arcabouço de sua primeira sinfonia, que só viria sete anos depois.
Não se sabe em que condições ocorreu a estreia da obra, nem qual foi a impressão dos irmãos Teimer a respeito dela. Supõe-se que tenham gostado, porque dois anos depois Ludwig ainda escreveria uma outra peça para a mesma formação: as oito engenhosas variações sobre o indefectível dueto “Là ci darem la mano” do “Don Giovanni” que Mozart estreara em Praga sete anos antes e que continuava a ser um imenso sucesso. Algo mais desenvolvidas que as obras em variações que Beethoven até então escrevera para piano, são muito interessantes e menos constritas por exigências de forma que o trio. Esquecidas por mais de um século, só foram redescobertas e publicadas em 1914 – quando a Música digeria a “Sagração da Primavera” e o mundo mergulhava em sua Primeira Grande Guerra.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Rondó (Rondino) em Mi bemol maior para dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas, WoO 25 Composto em 1793 Publicado em 1830 1 – Andante
Marcel Ponseele e Ann van Lancker, oboés Eric Hoeprich e Joost Hekkel, clarinetes Marc Vallon e Jean-Louis Fiat, fagotes Claude Maury e Piet Dombrecht, trompas
Trio em Dó maior para dois oboés e corne inglês, Op. 87 Composto provavelmente em 1793 Publicado em 1806
Eric Hoeprich e Joost Hekkel, clarinetes Marc Vallon e Jean-Louis Fiat, fagotes Claude Maury e Piet Dombrecht, trompas
Variações em Dó maior sobre a “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para dois oboés e corne inglês, WoO 28 Compostas provavelmente em 1795 Publicadas em 1806
10 – Tema – Variações I-VIII – Coda
Marcel Ponseele e Michel Henry, oboés Taka Kitazato, corne inglês
Quinteto para oboé, três trompas e fagote em Mi bemol maior, Hess 19 Completado por Leopold Alexander Zellner (1823-1894) Composto provavelmente em 1793 Completado e publicado em 1862
11 – Allegro
12 – Allegro maestoso
13 – Minuetto
Marcel Ponseele, oboé Johann van Neste, Claude Maury e Piet Dombrecht, trompas Marc Vallon, fagote
Sonata em Fá maior para piano com uma trompa ou violoncelo, Op. 17 Composta em 1800 Publicada em 1801 Dedicada à baronesa Josefine von Braun
14 – Allegro moderato
15 – Poco adagio, quasi andante
16 – Rondo – Allegro moderato
Pena que parte da música brasileira dos anos 60 não manteve o apuro técnico das gravações de Eumir Deodato. este disco é um milagre e, se tivéssemos mais improvisações, poderia ter sido lançado ontem. Mas é de 1964.
Deixo aqui o comentário de Carlos Calado — escrito em 2014 — acerca de Inútil Paisagem:
Naquele ano de 1964, muitos músicos brasileiros devem ter sentido ao menos um pouco de inveja do jovem pianista e arranjador Eumir Deodato. Seu disco de estreia – “Inútil Paisagem”, gravado pelo selo Forma, com arranjos orquestrais que ele escrevera para 12 canções de Tom Jobim – trazia na contracapa um texto de apresentação cheio de elogios, assinado por ninguém menos que o próprio Jobim.
“É incrível que um rapaz de 22 anos possa escrever para orquestra como Eumir escreve. Não basta ser musical, talentoso, habilidoso, sabido ou sábio. Escrever para orquestra é coisa que envolve toda uma técnica, experiência, um passado de erros passados a limpo, e eu não creio que Eumir tenha tido, com 22 anos, tempo para isso”, escreveu Jobim, compositor e músico exigente, que não costumava sair distribuindo elogios fáceis. O texto também incluía mais um de seus achados poéticos: “Meu Deus, quanta coisa Deus deu a Deodato!”
Passados cinquenta anos, Deodato ainda demonstra um certo embaraço ao se lembrar desse episódio, mas o motivo não tem nada a ver com música. “Quando alguém me falou sobre aquele elogio do Tom, tomei um susto. Sou um cara tão distraído que, para falar a verdade, ainda não tinha lido a contracapa do meu disco”, confessa o carioca, nascido no bairro do Catete, que vive nos Estados Unidos desde o final dos anos 1960.
Deodato não se recorda exatamente de quando e como conheceu Jobim. Lembra-se de tê-lo visto de longe algumas vezes, no início da década de 1960, nas animadas reuniões musicais promovidas pela família do letrista Lula Freire, em seu apartamento, no bairro de Copacabana, no Rio. Nesses encontros, frequentados por músicos da bossa nova e apreciadores do cool jazz, era comum se encontrar o violonista Baden Powell, o pianista Luiz Eça ou o flautista Bebeto Castilho, entre outros.
“O Tom já era o mais cobiçado de todos, naquela época. Ele já tinha várias músicas gravadas com sucesso, como ‘Teresa da Praia’ ou as parcerias com Dolores Duran, que eram lindas. Sempre havia muita gente em volta dele, naquelas reuniões de bossa nova. E eu era um cara muito calado, tímido. Demorou para que eu tivesse a oportunidade de conversar com ele”, recorda.
Mesmo admirando as canções e a musicalidade de Jobim, Deodato não considera que tenha sido influenciado diretamente por ele, como pianista e compositor. “Trabalhando com o Tom, eu fui descobrindo o que ele considerava mais importante na música. Ele valorizava muito as melodias – era um ótimo arquiteto de linhas melódicas. Tom também era um grande fã do Villa-Lobos. Muitas das coisas mais clássicas que fez eram influenciadas pelas ideias do Villa-Lobos”, analisa.
A ligação dos dois se consolidou quando Deodato foi convidado por Jobim a fazer arranjos para os temas instrumentais e canções que compusera para o filme “Garota de Ipanema”, de Leon Hirszman, lançado em 1967. Clássicos da obra jobiniana nasceram nesse filme ainda pouco conhecido, como o instrumental “Surfboard”, a canção “Ela É Carioca” e, claro, o megassucesso “Garota de Ipanema”, com letras de Vinicius de Moraes.
“O Tom me deu muita força. Depois desse filme eu trabalhei muito com ele”, credita Deodato, ao relembrar outra parceria da dupla para o cinema: a trilha sonora do filme “Os Aventureiros” (“The Adventurers”), do britânico Lewis Gilbert, com a bela norte-americana Candice Bergen, no elenco. Canções populares de Jobim, como “Olha, Maria” (com letra de Vinicius de Moraes e Chico Buarque) e a valsa “Chovendo na Roseira”, nasceram como temas instrumentais para essa trilha, ainda intitulados “Amparo” e “Children’s Games”, respectivamente.
Deodato se lembra de que, quando ele e Jobim chegaram a Londres, em 1969, ainda não havia uma edição final do filme para que pudessem iniciar o trabalho. “O Tom ia escrever todos os temas e eu tinha que fazer as orquestrações. Enquanto a edição não ficou pronta, passamos dias sentados na King’s Road, olhando as garotas de minissaia, passando. Ficávamos discutindo o que faríamos com as músicas, tomando aquela cerveja morna que os ingleses servem nos bares”, recorda.
Para muitos críticos e fãs de Jobim, seus discos “Tide” e “Stone Flower” – ambos lançados em 1970, com produção do norte-americano Creed Taylor, por selos diferentes – estão entre os melhores produtos de sua parceria com Deodato. “Naquela época, Creed trabalhava para a gravadora A&M, mas tinha criado seu próprio selo, o CTI. Então pegou a verba da A&M para gravar o disco do Tom e fez dois. E ainda escolheu as melhores faixas para o ‘Stone Flower’, que saiu pelo selo dele”, comenta o arranjador.
Poucos anos depois, já como artista do elenco da gravadora de Taylor, Deodato teve uma surpresa tão grande quanto a provocada pelos elogios de Jobim aos arranjos de seu primeiro disco. O arranjo “crossover” que criou para o poema sinfônico “Also Sprach Zarathustra” (composição de Richard Strauss, que havia se tornado bastante popular, na época, ao integrar a trilha sonora do filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick) chegou ao topo das paradas de sucesso, em 1973.
“Foi um arranjo praticamente feito no estúdio, ao vivo, que me deixou quase morto”, diverte-se Deodato, contando que levou para a sessão de gravação apenas um esboço da introdução desse arranjo. ““Eu estava sem ideias, mas, na noite anterior, pouco antes de dormir, lembrei de um baiãozinho que tinha anotado em um caderno. Como a música do Strauss e esse tema eram compostas em dó, achei que valia a pena tentar. Deu certo”.
Desde os anos 1970, o requisitado Deodato atuou em centenas de outros projetos e gravações, com artistas de diversos estilos e gerações: do guitarrista de jazz Wes Montgomery e da banda funk Kool and the Gang às cantoras Gal Costa e Björk. Já no ano passado, reencontrou a obra de Jobim, ao escrever os arranjos para o álbum que a cantora Vanessa da Mata dedicou ao grande maestro da bossa.
“Só fizemos algumas mudanças de ritmo. Depois de trabalhar tantos anos com o Tom, sei que que ele tinha pavor de que trocassem a harmonia de suas composições”, comenta o arranjador, consciente de que tentar fazer a música de Jobim soar melhor ou mesmo mais atual, sem comprometer sua identidade, seria uma tarefa inglória.
Eumir Deodato: Inútil Paisagem
1 Insensatez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
2 Corcovado (Tom Jobim)
3 Só Tinha de Ser Com Você (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
4 O Morro Não Tem Vez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
5 Vivo Sonhando (Tom Jobim)
6 Ela É Carioca (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
7 O Amor Em Paz (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
8 Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
9 Inútil Paisagem (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
10 Samba de Uma Nota Só (Tom Jobim/Newton Mendonça)
11 Meditação (Tom Jobim/Newton Mendonça)
12 Samba do Avião (Tom Jobim)
Eumir Deodato: Piano
Juquinha: Bateria
Luis Marinho: Baixo
Roberto Menescal: Violão
Oscar Castro Neves: Violão
Aurino: Sax barítono
Meirelles: Sax tenor, Flauta
Orlando: Sax tenor
Paulo Moura: Sax alto
Édson Maciel: Trombone
Copinha: Flauta
Hamilton: Pistom
Irany Pinto e Sua Turma: Cordas
Arranjos e Direção: Eumir Deodato
Produção e Direção Artística: Roberto Quartin
O quase octagenário Chick Corea continua esbanjando vitalidade e energia, e mostrando a nós, crédulos fãs, que não perde nunca o foco. E como não poderia deixar de ser diferente, há quase dez anos, mais uma vez nos surpreendeu, ao fechar um contrato com a poderosa gravadora Deutsche Grammophon para gravar um CD, realizando assim um sonho antigo, como descreve no booklet do CD:
“Fazer música para uma combinação de músicos de orquestra e músicos de jazz tem possibilidades infinitas. O apreço pelas habilidades que cada um tem para com o outro cria um ambiente aqui carregado de alto interesse, comunicação criativa e novas ideias. Foi este o cenário para a composição e gravação de ‘The Continents’ – para mim um sonho tornado realidade.” Ainda de acordo com o booklet, Corea apresenta aqui “‘o seu sonho musical’ uma nova composição ao espírito de Mozart – onde o jazz e clássico convergem em um concerto de inspiração global para quinteto de jazz e orquestra de câmara.”
Comprei esse CD duplo já na época de seu lançamento, mais como curiosidade, afinal, Corea é conhecido por suas incursões na música clássica, já gravou Mozart com seus amigos Friedrich Gulda e Nikolaus Harnoncourt. Mas essa proposta era bem diferente. Nunca tivemos dúvidas com relação à genialidade do pianista, tanto enquanto compositor quanto intérprete. Nem quanto à sua capacidade de se reciclar, se renovar constantemente, desde que seu nome apareceu, ainda em meados dos anos 60. Posso dizer também que sou suspeito para criticá-lo, adoro seu trabalho, e mesmo nos trabalhos mais ‘comerciais’, mais ‘fáceis’ consigo encontrar o gênio por trás de tudo aquilo.
Segundo o texto do booklet, as coisas deram tão certo que conseguiram acabar as gravações um dia e meio antes do previsto. então ele aproveitou aquelas horas que ainda sobravam no estúdio para gravar ainda mais algumas faixas com o quinteto e, improvisador como poucos, ainda improvisar ao piano por algumas faixas.
Espero que apreciem.
CD 1
The Continents – Concerto for Jazz Quintet and Chamber Orchestra
1 – Africa
2 – Europe
3 – Australia
4 – America
5 – Asia
6 – Antarctica
CD 2
1 – Lotus Blossomm
2 – Blue Bossa
3 – What´s This ?
4 – Just Friends
5 – Solo Continuum 31
6 – Solo Continuum 42
7 – Solo Continuum 53
8 – Solo Continuum 64
9 – Solo Continuum 75
10 – Solo Continuum 86
11 – Solo Continuum 97
12 – Solo Continuum 108
13 – Solo Continuum 119
14 – Solo Continuum 1310
15 – Solo Continuum 1411
The Members of The Harlem Quartet & Imani Winds
The Quintet –
Piano – Chick Corea
Soprano Saxophone, bass clarinet, flute – Tim Garland
Bass – Hans Glawischnig
Drums – Marcus Gilmore
Trombone – Steve Davis
Conductor – Steven Mercurio
Ao aceitar em 1807 a encomenda do príncipe Nikolaus Esterházy II para compor uma missa para o onomástico da esposa, Beethoven receava ter que calçar, com pezinhos de criança, sandálias que lhe seriam por demais grandes. A casa de Esterházy, afinal, estava acostumada a ouvir uma missa nova composta para a princesa a cada 12 de setembro, e nos dez anos anteriores as obras lhe tinham sido providas por Johann Nepomuk Hummel e, claro, aquele com quem Beethoven mais temia ser comparado: Joseph Haydn, seu antigo professor, de quem Nikolaus tinha sido o último mecenas.
Os temores de Ludwig, então com 36 anos, tinham toda razão de ser: a despeito do reconhecimento como compositor de música instrumental, sua única experiência anterior com a música sacra tinha sido o oratório Christus am Ölberge, com resultados, como ele próprio reconhecia, pífios. O velho Haydn, por sua vez, tinha em seu portfólio quatorze missas, quase todas obras-primas consumadas, e, embora já aposentado pela doença que o mataria em poucos anos, era amplamente considerado o maior expoente vivo da Música.
O príncipe, no entanto, pagava bem e exigia um prazo firme, ao que Beethoven respondeu compondo uma missa bastante tradicional, com os cinco movimentos de praxe (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus/Benedictus, e Agnus Dei) e uma estrutura mormente sinfônica, sem os dramáticos contrastes característicos de sua música instrumental. A obra foi gelidamente recebida pelos Esterházy, que certamente estranharam as diferenças entre o que Beethoven lhes trouxe e aquilo que Haydn lhes entregara anualmente desde os tempos de Nikolaus I, o primeiro patrono do velho mestre. Conta-se que o príncipe chegou a exclamar “meu caro Beethoven, o que foi isso que você fez novamente?”, para a gargalhada de Hummel, também presente, ao que Ludwig retirou-se enfurecido. A história, contada pelo factotum e falsificador de documentos Schindler, possivelmente foi exagerada, mas tem seus fundamentos: quando a obra foi enfim publicada – depois duma negociação teimosa em que ela acabou cedida como brinde num pacotão de outras obras -, ela acabou dedicada a Esterházy algum, e sim ao conde Kinsky.
Os contemporâneos também não se entusiasmaram muito. E. T. A. Hoffmann, naquele mesmo famoso ensaio em que explodiu em arrebatamento acerca da Quinta, e apesar de reconhecer que a obra era “inteiramente digna do grande mestre” quanto à sua “estrutura interna, bem como sua inteligente orquestração”, tascou:
“… de que Beethoven seria comparado a Haydn em termos de estilo e compostura, o crítico [Hoffmann] não tinha dúvidas, mesmo antes de ter lido ou ouvido uma nota da presente obra; mas ele se sentiu desapontado em sua expectativa com relação à sua concepção e expressão do texto da Missa. Em outras ocasiões, o gênio de Beethoven pôs em movimento, propositalmente, o maquinário do temor, do terror. Assim, pensou o crítico, seu espírito também se encheria de profundo temor ao contemplar as coisas celestiais, e ele expressaria esse sentimento por meio de sons. Pelo contrário, no entanto, toda a Missa expressa um otimismo infantil que, por sua própria pureza, confia devotamente na graça de Deus e apela a ele como um pai que deseja o melhor para seus filhos e ouve suas orações…”
Apesar de muito esculachada, a Missa em Dó é uma obra com muitas qualidades. É provável que os conservadores ouvidos austro-húngaros tenham estranhado a falta de números vocais para os solistas, dada a opção de Beethoven por colocá-los a cantar em conjunto, integrando-os com o coro. Pouco comum na época, e radicalmente diferente das missas de Haydn, é a que a missa em Dó maior apenas começa e se encerra nessa tonalidade, passeando por várias outras ao longo de seus movimentos. Há alguns bons momentos fugais, e um toque surpreendente, embora não completamente original (há um precedente famoso na Missa em Si menor de J. S. Bach), com o retorno da música do Kyrie no finalzinho do Dona Nobis Pacem.
As três peças que arredondam o disco nada têm de sacro: são todas frutos da pretensão de Ludwig de ficar rico como compositor de óperas em italiano. A primeira, Ah, perfido!, é a mais famosa ária de concerto que ele compôs e já lhes foi apresentada algumas vezes em nossa jornada por sua obra, numa delas jocosamente comparada às faixas dum compacto de Silvio Cesar. As outras duas – o dueto Ne’ giorni tuoi felici (“Em teus dias felizes”) e o trio Tremate, empi, tremate (“Tremei, ímpio, tremei”) – são como trabalhos de conclusão de curso, produtos dos estudos de composição vocal e prosódia em italiano sob orientação de Antonio Salieri, debruçando-se especificamente sobre o problema de escrever duetos e trios naquele idioma. Como exercícios que são, quase todos números vocais de concerto de Beethoven não tiveram sua orquestração completa pelo compositor. A única exceção foi Tremate, que talvez considerou boa o bastante para ser apresentada, o que só veio a acontecer em 1814, o ano em que Leonore teve uma segunda chance nos palcos como Fidelio, e tendo como solistas justamente a Leonore e o Fidelio da estreia da ópera ressurrecta.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Missa em Dó maior para solistas, coro e orquestra, Op. 86 Composta em 1807 Publicada em 1812 Dedicada ao conde Ferdinand Kinsky
1 – Kyrie
2 – Gloria
3 – Credo
4 – Sanctus
5 – Benedictus
6 – Agnus Dei
Janice Watson, soprano Jean Rigby, contralto John Mark Ainsley, tenor Gwynne Howell, baixo Corydon Singers Corydon Orchestra Matthew Best, regência
“Ah! perfido!”, cena e ária para soprano e orquestra, Op. 65 Composta em 1796 Publicada em 1805 Dedicada (no manuscrito) à condessa Joséphine de Clary
7 – Scena: Ah! perfido, spergiuro
8 – Aria: Per pietà, non dirmi addio
Janice Watson, soprano Corydon Orchestra Matthew Best, regência
9 – “Ne’ giorni tuoi felici”, dueto para soprano, tenor e orquestra, WoO 93 (1802)
Janice Watson, soprano John Mark Ainsley, tenor Corydon Orchestra Matthew Best, regência
10 – “Tremate, empi, tremate”, trio para soprano, tenor, baixo e orquestra, Op. 116 (1802)
Janice Watson, soprano John Mark Ainsley, tenor Gwynne Howell, baixo Corydon Orchestra Matthew Best, regência
A extrema elegância vienense de Alfred Brendel combina esplendidamente com esta bela obra tardia de Beethoven. Aliás, Brendel gravou três vezes esta peça. A última gravação foi esta, feita em estúdio no ano de 1988. É a mais calma das três e aqui não estou falando de ritmos, mas de humor geral. Esta música parece ter sido feita para Brendel, tal sua naturalidade, sofisticação e graça ao abordá-la.
As 33 variações sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120, são mais conhecidas como Variações Diabelli. Elas foram escritas entre 1819 e 1823 e são frequentemente consideradas um dos maiores conjuntos de variações de teclado, juntamente com as Variações Goldberg de J. S. Bach. A obra foi composta depois que Diabelli, um conhecido editor e compositor de música, no início de 1819, ter enviado uma valsa de sua criação a todos os compositores importantes do Império Austríaco, incluindo Franz Schubert, Carl Czerny, Johann Nepomuk Hummel e o arquiduque Rudolph, pedindo a cada um deles para escrever UMA variação sobre ele. Seu plano era publicar todas as variações de um volume patriótico chamado Vaterländischer Künstlerverein e usar os lucros para beneficiar órfãos e viúvas das Guerras Napoleônicas. A história muitas vezes contada, mas agora questionável, das origens desse trabalho, é que Beethoven inicialmente recusou-se a participar do projeto de Diabelli, descartando o tema como banal, indigno de atenção. Pouco tempo depois, segundo a história, ao saber que Diabelli pagaria um preço considerável, Beethoven mudou de ideia e decidiu mostrar o quanto poderia ser feito com tão pouco. Sabe-se lá se é verdade.
33 Variationen C-dur uber einen Walzer von Anton Diabelli, Op.120:
01. Tema : Vivace & Variation 1 : Alla marcia maestoso
02. Variation 2 : Poco allegro
03. Variation 3 : L’istesso tempo
04. Variation 4 : Un poco piu vivace
05. Variation 5 : Allegro vivace
06. Variation 6 : Allegro ma non troppo e serioso
07. Variation 7 : Un poco piu allegro
08. Variation 8 : Poco vivace
09. Variation 9 : Allegro pesante e risoluto
10. Variation 10 : Presto
11. Variation 11 : Allegretto
12. Variation 12 : Un poco piu moto
13. Variation 13 : Vivace
14. Variation 14 : Grave e maestoso
15. Variation 15 : Presto scherzando
16. Variation 16 : Allegro
17. Variation 17 : Allegro
18. Variation 18 : Poco moderato
19. Variation 19 : Presto
20. Variation 20 : Andante
21. Variation 21 : Allegro con brio – Meno allegro
22. Variation 22 : Allegro molto (alla ‘Notte e giorno faticar’ di Mozart)
23. Variation 23 : Allegro assai
24. Variation 24 : Fughetta (Andante)
25. Variation 25 : Allegro
26. Variation 26 : (Piacevole)
27. Variation 27 : Vivace
28. Variation 28 : Allegro
29. Variation 29 : Adagio ma non troppo
30. Variaiton 30 : Andante, sempre cantabile
31. Variation 31 : Largo, molto espressivo
32. Variation 32 : Fuga (Allegro)
33. Variation 33 : Tempo di minuetto moderato
Já lhes falei que não sou um grande fã do único oratório de Beethoven, mas o fato é que, até agora, a melhor versão da obra não tinha sido publicada por aqui. Resolvido: se não será esta gravação a colocar Ludwig no patamar – posição que ele, aliás, nunca almejou – dos grandes oratoristas, acho que o canto impecável de James King e Elizabeth Harwood, ambos no auge de suas capacidades vocais, sob a condução segura do já veteraníssimo Bernhard Klee deixa o Christus am Ölberge tão bonito quanto ele pode ser. E mais não lhes conto, porque eu já lhes contei antes.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Christus am Ölberge, oratório para solistas, coro e orquestra, Op. 85 Composto em 1803 Publicado em 1811
1 – Introdução: Grave – Adagio
2- Recitativo: “Jehovah, du mein Vater!”
3 – Ária: “Meine Seele ist erschuttert”
4 – Recitativo: “Erzittre, Erde!”
5 – Ária: “Preist des Erlosers Gute”
6 – Recitativo: “Verkundet, Seraph, mir dein Mund”
7 – Dueto: “So ruhe denn”
8 – Recitativo: “Wilkommen, Tod!”
9 – Coro dos soldados: “Wir haben ihn gesehen”
10 – Recitativo: “Die mich zu fangen augezogen”
11 – Coro dos soldados: “Hier ist er”
12 – Recitativo: “Nicht ungestraft”
13 – Trio: “In meinen Adern wuhlen”
14 – Coro dos soldados: “Auf, ergreifet den Verrater!”
15 – Coro dos Anjos “Welten singen Dank und Ehre”
James King, tenor (Jesus) Elizabeth Harwood, soprano (Serafim) Franz Crass, baixo (Pedro) Wiener Singverein Wiener Symphoniker Bernhard Klee, regência
Duas gravações ao vivo com enorme diferença de qualidade sonora. Claro, Oistrakh (1908-1974) e Kremer (1947) são de gerações bem diferentes, mas o disco foi lançado e está aí, eu é que não vou explicar. As interpretações de ambos são boas.
As duas sonatas para violino de Bartók são vacas sagradas para os entusiastas da música moderna e para aqueles interessados no repertório de violino e piano. Como representantes de maior prestígio de seu gênero no século 20, elas atraíram a atenção de vários artistas, apesar da dificuldade para os ouvintes casuais. Esta versão eslava clássica contribui para a impressionante variedade de opções disponíveis para o ouvinte. As duas Sonatas para Violino e Piano foram escritas em 1921-2, aproximadamente na época de O Mandarim Miraculoso e entre o segundo e terceiro quartetos de cordas. Fiquei especialmente intrigado com a Primeira Sonata desde que lutei para ouvi-la pela primeira vez. É provavelmente a peça mais intransigente de Bartók, meia hora de modernismo dissonante sem tréguas, filtrada pelo prisma do folclore do Leste Europeu. São esses recursos, juntamente com a influência rítmica da música folclórica, que dão à música de Bartók seu som característico, seja no seu mais complexo (como aqui) ou em um disfarce mais familiar — como, por exemplo, no Concerto para Orquestra. A segunda Sonata é irmã gêmea da primeira em intensidade, complexidade e necessidade de precisão. Como os quartetos de cordas tardios de Beethoven, estas obras não mostram seus segredos facilmente.
Béla Bártok (1881-1945): Sonatas para Violino e Piano (Oistrakh / Bauer / Kremer / Maisenberg)
Quando o Burgtheater de Viena, em 1809, decidiu fazer uma nova montagem do “Egmont” de Johann Wolfgang Goethe, estreado vinte anos antes, não poderiam ter feito melhor escolha para o autor de sua música incidental. Beethoven idolatrava Goethe e respondeu à encomenda com grande entusiasmo, dedicação e, no que lhe era realmente incomum, rigoroso cumprimento dos prazos combinados. A montagem foi um sucesso e, ainda mais importante para Ludwig, Goethe adorou a música, que, nas palavras do mestre das Letras, evocou o caráter de seu drama com “notável gênio”.
“Egmont”, a tragédia, acompanha os dias finais de Lamoraal, o conde flamengo de Egmont, que luta contra a opressão dos invasores espanhóis capitaneados pelo duque de Alba. Abandonado pelos correligionários, o conde é aprisionado pelos inimigos. Clärchen, sua amada, vem a seu socorro e tenta, sem sucesso, libertá-lo. Desesperada com a falha de seus esforços, Clärchen suicida-se. Egmont é, enfim, condenado à morte e encara com altivez o caminho para o patíbulo, certo de que sua ilibada trajetória e dedicação à causa que lhe custará a vida inspirará seus compatriotas no caminho para a liberdade. A música de Beethoven para “Egmont” é pouco ouvida além da poderosa abertura, o que é uma pena, pois, a despeito da pouca coesão entre suas peças, tem vários momentos memoráveis – sobretudo as duas canções de Clärchen e a “Sinfonia da Vitória” que evoca o fim heroico de Lamoraal. As semelhanças da trama com a de “Leonore” – o herói aprisionado, a heroína que vem em seu socorro – são notáveis, e não se pode duvidar de que elas tenham instigado Ludwig, talvez ressentido com o fracasso de sua única ópera, que reestrearia cinco anos depois, amplamente retrabalhada, como “Fidelio”.
A gravação que escolhi provém de Resound, uma série muito especial produzida por Stephan Reh e dirigida por Martin Hasselböck. Nela, a Wiener Akademie Orchester executa obras de Beethoven, sob a regência de Hasselböck, não só com instrumentos originais, mas com as forças orquestrais usadas nas estreias e, sempre que possível, nos locais em que elas aconteceram. Como o Burgtheater em que se ouviu pela primeira vez o “Egmont” não existe mais, e o teatro com esse nome que hoje há em Viena é uma reconstrução de um novo Burgtheater, destruído por bombardeios, escolheu-se fazer a gravação num outro notável teatro vienense: o Theater in der Josefstadt, o mais antigo teatro da cidade ainda em funcionamento, e que foi reinaugurado em 1822 com a abertura Die Weihe des Hauses (“A Consagração da Casa”), também incluída no disco.
As gravações da música incidental de “Egmont” costumam incluir uma parte para narrador que, embora não previstas no original, ajudam a contextualizar a música de cena, na ausência do texto de Goethe. Já lhes alcançamos aqui, anteriormente, uma poderosa versão narrada pelo inesquecível Bruno Ganz. Para a série Resound, foram feitas versões em alemão e inglês, e cada qual ficou a cargo de um grande ator. A primeira foi lida pelo austríaco Herbert Föttinger, de distinta carreira no teatro vienense, que foi um excelente Fausto e um notável Valmont em “Ligações Perigosas”, além de diretor duma montagem de “Fidelio” regida por Nikolaus Harnoncourt no próprio Theater an der Wien em que a ópera estreou e, não menos importante, diretor artístico do Theater in der Josefstadt em que foi feita a gravação. Já a versão em inglês é lida pelo brilhante John Malkovich, que curiosamente também viveu um Valmont inesquecível, mas no cinema, e cujo estilo harmoniza tão bem com a música, executada com o conjunto instrumental menor que o costumeiro, que passou a ser meu “Egmont” favorito.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Música para a Tragédia “Egmont” de Johann Wolfgang von Goethe, Op. 84 Composta entre 1809-1810 Publicada em 1810 (abertura) e 1812 (demais peças)
1 – Abertura. Sostenuto, Ma Non Troppo – Allegro
2 – Monólogo e Canção: Die Trommel gerührt
3 – Monólogo e Entreato no. 1: Andante
4 – Monólogo e Entreato no. 2: Larghetto
5 – Monólogo e Canção: Freudvoll und leidvoll, gedankenvoll sein
6 – Monólogo e Entreato no. 3: Allegro
7 – Monólogo e Entreato no. 4: Poco sostenuto e risoluto
8 – Monólogo e Música: Clärchens Tod bezeichnend: Larghetto
9 – Melodrama: Poco sostenuto
10 – Monólogo e Sinfonia da Vitória: Allegro con brio
Bernarda Bobro, soprano
Wiener Akademie Orchester
Martin Haselböck,regência
“Die Weihe des Hauses”, Abertura em Dó maior, Op. 124 Composta em 1822 Publicada em 1825 Dedicada ao príncipe Nikolai Golitsin
11 – Maestoso e sostenuto – Allegro
Wiener Akademie Orchester Martin Haselböck, regência
Uma bela versão desta dificílima obra da qual já foi dita ser mais para a leitura de especialistas do que para ser tocada. Bach não atribuiu instrumentação à peça, o que dá gloriosa liberdade e variações às gravações. A Arte da Fuga (Die Kunst der Fuge, BWV 1079), é uma peça inacabada — praticamente finalizada, na verdade — de Johann Sebastian Bach. A composição da obra provavelmente se iniciou em 1742. A primeira versão 12 fugas e dois cânones e foi copiada em 1745. A segunda versão da obra foi publicada após sua morte em 1750, contendo 14 fugas e quatro cânones. A obra demonstra o completo domínio de Bach da mais complexa forma de expressão dentro da música erudita, o contraponto. A obra é composta de combinações engenhosas e particularmente elaboradas de temas relativamente simples, que são desenvolvidos com a mais alta musicalidade. A Arte da Fuga se situa entre os pontos mais altos a que chegou a música europeia devido à complexidade única de sua forma e estrutura.
J. S. Bach (1685-1750): A Arte da Fuga (Podger / Brecon)
Se Viena em 1810 estava uma baderna, imaginem então como estava a abadernada vida de Ludwig van Beethoven. Sem dinheiro, e com dificuldades de negociar a venda de suas obras, recorreu àquele velho golpe, que tantas vezes aqui apontamos, de requentar suas obras antigas e atingir novos editores. E se lhe faltava foco para as tarefas mais essenciais da vida, que se diria então das suas filigranas? Naturalmente, assim, o outrora meticuloso catálogo de suas composições publicadas também foi tragado pelo vórtex da zorra em que sua vida mergulhou. O resultado foi que Beethoven tocou o ficken Sie sich para seu próprio catálogo e acabou por publicar duas obras como Opus 81, o que levou a posteridade a considerar a sonata Lebewohl como Op. 81a, e o requentado sexteto para trompas e quarteto de cordas como o Op. 81b.
Requentado, sim, mas muito bom – e o jovem Ludwig, afinal de contas, sabia escrever para sopros. O sexteto foi provavelmente composto em 1795, nos seus primeiros anos em Viena, enquanto estudava com Haydn. Não se sabe em que circunstâncias, nem para quem foi composto. O fato de ter sido publicado, quinze anos depois, em Bonn pela firma de Nikolaus Simrock, que já publicara a sonata para violino e piano, Op. 47 (aquela que eu gostaria de chamar de “Bridgetower” mas tanta gente insiste em chamar de “Kreutzer”), talvez indique que ela foi escrita para conterrâneos do compositor. Talvez o próprio Simrock, nascido em Mainz, fosse o músico que Beethoven tivesse em mente: amigo do compositor desde os tempos em que tocaram juntos na orquestra do Eleitor de Colônia, na qual Simrock era trompista e Beethoven tocava viola (insira aqui sua piada de violista: _____________________), é muito plausível que ainda tivesse a capacidade de tocar uma das exigentes partes de trompa, que ficam ainda mais difíceis nos instrumentos sem válvulas daquela época. Qualquer que seja seu destinatário, este sexteto é a única obra de Ludwig na tradição da serenata-divertimento para sopros e cordas em que Mozart e Haydn foram tão prolíficos. Uma obra de Mozart, aliás – o quinteto para trompa e cordas, K. 407, na mesma tonalidade de Mi bemol maior -, é tão notavelmente semelhante ao sexteto que não parece haver muita dúvida de que ela foi a inspiração para a obra do renano. Escrita em três movimentos, diferentemente dos divertimentos, que costumavam ter mais de cinco, ele tem um caráter decididamente virtuosístico para as trompas, e a prescrição no frontispício da primeira edição – a de que um contrabaixo dobrasse a parte do violoncelo – sugere fortemente que o sexteto tenha o caráter dum miniconcerto para duas trompas, com um vibrante Allegro de abertura, um Adagio cantável, como um dueto de ópera, e um serelepe finale com toques emulando aqueles de trompa de caça. A saborosa obra, aqui, tem a companhia do famoso Septeto, Op. 20, que tanto lucro deu a Beethoven e que ficou tão famoso que o compositor chegou mesmo a renegá-lo, aborrecido com seu sucesso que, a seu ver, ofuscava obras suas bastante melhores. A interpretação é do Gaudier Ensemble, um conjunto de distintos instrumentistas de algumas das melhores orquestras europeias, com o sempre ótimo som da Hyperion garantindo o prazer e a fidelidade da experiência aural.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Septeto em Mi bemol maior para violino, viola, clarinete, trompa, violoncelo, fagote e contrabaixo, Op. 20 Composto entre 1799-1800 Publicado em 1802 Dedicado à imperatriz Maria Theresa da Áustria
1 – Adagio – Allegro con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Tempo di menuetto
4 – Tema con variazioni. Andante
5 – Scherzo – Allegro molto e vivace
6 – Andante con moto alla marcia – Presto
The Gaudier Ensemble:
Richard Hosford, clarinete Robin O’Neill, fagote Jonathan Williams, trompa Marieke Blankestijn, violino Roger Tapping, viola Christoph Marks, violoncelo Stephen Williams, contrabaixo
Sexteto em Mi bemol maior para duas trompas, dois violinos, viola e violoncelo,Op. 81b Composto provavelmente em 1795 Publicado em 1810
Foram só alegrias os dezoito meses da primeira visita de Haydn (1732 — 1809) em Londres nas temporadas de concertos de 1791 e 1792. Abriremos este último post da integral das sinfonias do mestre com o empresário Johann Peter Salomon tentando trazê-lo a Londres para o início da nova temporada no “Hanover Square Rooms” que iria se iniciar em Fevereiro de 1793. Porém alguns imprevistos impediram o mestre de retornar a Londres: primeiro por problemas de saúde (fez uma cirurgia mal sucedida no nariz) e sobretudo pelas tensões políticas da época: a Europa se deteriorava gradualmente com a repercussão da Revolução Francesa: os franceses haviam guilhotinado o rei Luís XVI em janeiro de 1793. Era o início da guerra que se estenderia até a Batalha de Waterloo, em 1815. Eles chegaram a um acordo e fizeram um novo contrato para a temporada de 1794. Após um intervalo vienense relativamente tranquilo de dezoito meses, durante o qual deu aulas intermitentes ao jovem Beethoven, Haydn chegou a Londres, para sua segunda visita em 4 de fevereiro de 1794. Trazia consigo quartetos, uma sinfonia recém-concluída, a número 99 e mais duas em andamento, a centésima e a centésima primeira. No final da temporada de 1794, Salomon foi forçado a suspender seus concertos nesta temporada porque a guerra com a França estava impossibilitando o envolvimento dos principais talentos, sobretudo vocais, vindos do exterior. Para a temporada seguinte Haydn concordou em escrever mais três sinfonias (as suas últimas) para a série de concertos de 1795.
As últimas seis sinfonias de Haydn foram escritas para sua segunda visita a Londres. A primeira delas, a sinfonia número 99 em Mi bemol maior, havia sido concluída no ano anterior, em Viena, e foi apresentada pela primeira vez em Londres, no concerto da “Hanover Square”, em 10 de fevereiro, em um programa que incluía a habitual mistura de música vocal e instrumental, com um novo concerto escrito e tocado pelo famoso violinista Viotti e um novo concerto para piano de Dussek. Salomon reuniu uma orquestra com cerca de sessenta músicos. A sinfonia começa com uma introdução lenta ao primeiro movimento, levando a um Vivace assai, no qual o tema principal é introduzido pelos primeiros violinos, a ser retomado pelos instrumentos de sopro, com um segundo tema que também faz uso melódico do clarinete. Haydn faz uso mais pleno dos instrumentos de sopro os tratando com um maior grau de independência. O movimento lento é um bom exemplo disso, quando flauta, oboé e fagote ecoam. O belo minuet, com seus contrastes dinâmicos, com a linda pontuação dos oboés, clarinetes, fagotes e cordas. O último movimento é na forma de sonata-rondo, com dois temas que evoloem de forma surpreendente. A centésima sinfonia foi tocada no oitavo concerto, em 31 de março, em um programa que incluía a apresentação de um novo quarteto Haydn e um concerto composto e tocado pelo violinista Viotti. A “Grande Abertura Militar”, como o novo trabalho foi descrito, começa com uma introdução lenta, evolui para o alegro, a segunda parte foi, mais tarde, utilizada por Johann Strauss. O segundo movimento, allegretto, inclui uma bateria militar, triângulo, pratos e bumbo em sua pontuação. O minuet é relativamente lento, com um toque de mistério. A sinfonia termina com um rondo, cujo tema principal se tornou rapidamente popular na Inglaterra, nos salão de baile. No final, a percussão militar é novamente usada proporcionando uma peculiaridade neste trabalho.
A sinfonia 101 é aberta com uma introdução lenta e portentosa e pela primeira vez, é o movimento lento que dá o apelido ‘The Clock’, derivados do acompanhamento ostinato de ‘tique-taque’ até o tema principal do andante. Incomum nas obras do mestre, uma combinação diferente do rondo, o tema principal recorrente nunca aparece exatamente da mesma forma: em sua reexposição ‘tique-taque’ é dado à flauta e fagote, com o tema evoluindo entre os dois nos violinos. Nessa fase de sua carreira, os minuetos de Haydn estavam assumindo maior importância na sinfonia e já tendendo para os scherzos, neste caso, um trio prolongado que diverte-se com um ostinato, um movimento muito elaborado e divertido de ouvir! Muitos críticos cravam que o final desta sinfonia seria o seu melhor “finale. Em minha nula opinião, cravar apenas um movimento como sendo o “melhor” não faz sentido. Mas este finale é tão brilhante que sim está entre os “top 10” melhores. A orquestração é sublime, se final realmente é exuberante. A estreia desta sinfonia trouxe consigo ondas de aclamação da imprensa londrina: “…como sempre, a parte mais deliciosa do entretenimento foi a nova grande Overture (sinfonia) de Haydn; inesgotável, o maravilhoso, o sublime Haydn! …. Toda a composição foi de autêntica alegria. Cada nova sinfonia que ele escreve, tememos, até que seja ouvido, ele pode apenas se repita; e sempre estamos enganados….”.
A belíssima sinfonia número 102 teve a seguinte repercussão na imprensa inglesa em 3 de fevereiro (Morning Chronicle) … a nova Overture, composta pelo inimitável Haydn, foi realizada em um estilo magistral, como merecia ser o mais ricamente possível. Sua genialidade, como já tivemos oportunidade de observar com frequência, é inesgotável. Em harmonia, modulação, melodia, paixão e efeito, ele é totalmente incomparável…” A introdução lenta tornou-se uma prática mais ou menos comum nas sinfonias de Haydn e a 102º não é exceção. No primeiro incrível desenvolvimento do movimento existe um rigor temático comparável ao final da 101º. O Adagio aqui é mais direto, qualidade e uma calma que beira um sonho. Da mesma forma, o minuet mostra um lado diferente da personalidade de Haydn da relativa dignidade exibida na de número 101; aqui o sentimento é totalmente mais rústico, com o contraste proporcionado pelo trio levemente pontuado e dominado pelos instrumentos de sopro. O final é um dos sonata-rondos mais humorísticos e alegres de Haydn, com suas raízes musicais na ópera italiana “buffa”, tanto quanto na tradição sinfônica, contrsta esta alegria com a seriedade dos movimentos iniciais.
Chegamos ao último CD desta série com as sinfonias 103 e 104. Haydn escreveu a sinfonia número 103, apelidada de “Mit dem Psukenwirbel” em 1795, durante sua segunda visita a Londres. A sinfonia foi apresentada pela primeira vez no “King’s Theatre” em 2 de março, no Opera Concert. A lenta introdução do primeiro movimento começa com um soar dos tímpanos, seguido de um longo tema de violoncelos, contrabaixos e fagotes, sugerindo o “Dies irae” da missa de Requiem, (um contraste absurdo em comparação com o alegre final da 102) com seus contrastes dinâmicos que levam a um animado Allegro, no final os tímpanos reaparecem assim como o adagio inicial (sei não… tem alguma coisa do primeiro movimento da quarta sinfonia de Beethovem também… ou tenho que visitar o otorrino…). O segundo movimento é um conjunto de variações duplas, temas aparentemente de origem folclórica dos Bálcãs e depois uma chuva de belíssimas variações, com toda a sutileza de que Haydn era um enorme mestre. O minuet permite aos clarinetistas de Londres uma perigosa liberdade. As trompas introduzem o Finale, notavelmente baseado em mais um tema e tão original quanto qualquer coisa que o genial Haydn escreveu.
A última sinfonia de Haydn, a centésima quarta, estreou com o aplausos de êxtase habitual do público no concerto beneficente de 4 de maio de 1795, que lhe trouxe uma soma colossal em bônus “…tal coisa só é possível na Inglaterra…”, ele registrou em seu caderno. Se ele pretendia ou não mostrar neste trabalho o seu testamento sinfônico, sua grandeza e vigor, poder argumentativo e poesia visionária fazem dele uma gloriosa “última sinfonia”. Uma das explicações mais plausíveis para o motivo pelo qual essa, das doze últimas sinfonias, ficou conhecida como ‘Londres’, é que o tema principal do final lembrou aos ouvintes um grito de rua de Londres com as palavras “Live cod!” A lenta introdução rivaliza com tensão e mistério com a segunda parte, evocando uma vastidão cósmica dentro de seu período de dois minutos. O Allegro tem uma melodia linda. Essa música retorna, variada, como um reesposição; e há outra variação agradável, pontuada por flautas e oboés. O magnífico desenvolvimento é talvez o mais poderoso e rigoroso em todas as sinfonias de Haydn, o tema se desenvolve até um clímax de intensidade muito quente. A abertura tranquila do Andante é enganosa. A segunda parte da melodia se expande com uma amplitude e profundidade magníficas, enquanto a ferocidade do episódio central é comparável no Andante da sinfonia 101 “Clock”. A música flutua em formas tonais “sobrenaturais” antes de voltar magicamente de volta, como tantas vezes nesses movimentos lentos das últimas sinfonias, são impregnadas de um brilho nostálgico. O minueto nos leva a ópera com incomuns contrastes dinâmicos. Há uma “brincadeira” típica de Haydn, suas pausas terminando em pianíssimo. Haydn começa o trio pastoral com uma brincadeira mais sutil que para o público de Londres, sua origem também foi atribuída a uma música folclórica croata, é um tema contrastante em notas sustentadas, de um tipo único nos finales de Haydn. Fiel à forma, o compositor continua a explorar o potencial da música “folk” da abertura, até uma coda incandescente que Brahms – um fervoroso defensor da música de Haydn – deveria se lembrar ao compor o final da sua sinfonia número dois.
Ao falecer aos 77 anos de idade, em 31 de maio de 1809, em Viena, Joseph Haydn era o mais popular e, sem dúvida, também um dos mais abastados compositores da Europa. Sua música era executada em todo o continente, o público aclamava cada nova obra com entusiasmo. Altezas imperiais convidavam à sua mesa o filho de um artesão e de uma cozinheira. Sua carreira, no entanto, durou o período em que a sinfonia clássica se desenvolveu como a principal forma orquestral. Ele próprio certamente desempenhou um papel importante nesse desenvolvimento, espero que estes despretensiosos posts levem todo o entusiasmo que este mero admirador teve desde a audição de sua primeira sinfonia até a série final.
Adam Fischer feliz, tal qual as sinfonias de Haydn
Ufa!!! Chegamos ao fim de mais esta série. Hoje em dia, a imagem de Joseph Haydn é ambivalente. Por um lado, continua celebrado como o verdadeiro criador do classicismo vienense. Por outro, jamais conseguiu sair da sombra super-humana de Mozart e Beethoven – os quais, por sua vez, sempre apontaram o compositor mais velho como seu ponto de partida. Se Beethoven foi transformado pela posteridade em “Titã da Música”, e Mozart permaneceu o “menino-prodígio”, com Haydn ficava difícil aplicar tais rótulos. Ainda em 1870, o crítico musical Eduard Hanslick o definia como “um vovô sacudido, bonzinho, simpático que dava vontade de apertar e beijar”. E assim nascia um clichê fatídico. Mas felizmente nas últimas décadas representantes da “prática de execução historicamente informada” – como estas interpretações que tivemos a honra de compartilhar com os amigos do blog – começaram a trazer à tona um Haydn novo, inesperado. Para além de clichês petrificados e dos preconceitos auditivos, é possível redescobrir, hoje, a obra haydniana, em sua profunda humanidade. Um tesão !
Austro-Hungarian Haydn OrchestraPosando com lentes amarelas
A apresentação da Orquestra Austro-Húngara Haydn é limpa, articulada e totalmente profissional. Em suma, eu não poderia pedir uma orquestra melhor para estes posts. A característica principal de Adam Fischer é sua sempre excelente escolha dos tempos e a claridade das interpretações. Esta é uma coleção impressionante que merece ser ouvida por todos que amam a música de Franz Josef Haydn !!!!
Disc: 31 (Recorded September 1988 (#100) and September 1989 (#99))
1. Symphony No. 99 (1793) in E flat major, H. 1/99: Adagio-vivace assai
2. Symphony No. 99 (1793) in E flat major, H. 1/99: Adagio
3. Symphony No. 99 (1793) in E flat major, H. 1/99: Menuet & trio, allegretto
4. Symphony No. 99 (1793) in E flat major, H. 1/99: Finale, vivace
5. Symphony No. 100 (1793 & 4) in G major (‘Military’) H. 1/100: Adagio-allegro
6. Symphony No. 100 (1793 & 4) in G major (‘Military’) H. 1/100: Allegretto
7. Symphony No. 100 (1793 & 4) in G major (‘Military’) H. 1/100: Menuet & trio, moderato
8. Symphony No. 100 (1793 & 4) in G major (‘Military’) H. 1/100: Finale, presto
Disc: 32 (Recorded June 1987 (#101) and June 1988 (#102))
1. Symphony No. 101 (1793 & 4) in D major (‘Clock’), H. 1/101: Adagio-presto
2. Symphony No. 101 (1793 & 4) in D major (‘Clock’), H. 1/101: Andante
3. Symphony No. 101 (1793 & 4) in D major (‘Clock’), H. 1/101: Menuet & trio, allegretto
4. Symphony No. 101 (1793 & 4) in D major (‘Clock’), H. 1/101: Finale, presto
5. Symphony No. 102 (1794) in B flat major, H. 1/102: Largo-allegro vivace
6. Symphony No. 102 (1794) in B flat major, H. 1/102: Adagio
7. Symphony No. 102 (1794) in B flat major, H. 1/102: Menuetto & trio, allegro
8. Symphony No. 102 (1794) in B flat major, H. 1/102: Finale, presto
Disc: 33 (Recorded June 1987 (#103) and September 1989 (#104))
1. Symphony No. 103 (1795) in E flat major (‘Drumroll’), H. 1/103: Adagio-allegro con spirito
2. Symphony No. 103 (1795) in E flat major (‘Drumroll’), H. 1/103: Andante più tosto allegretto
3. Symphony No. 103 (1795) in E flat major (‘Drumroll’), H. 1/103: Menuet & trio
4. Symphony No. 103 (1795) in E flat major (‘Drumroll’), H. 1/103: Finale, allegro con spirito
5. Symphony No. 104 (1795) in D major (‘London’), H. 1/104: Adagio-allegro
6. Symphony No. 104 (1795) in D major (‘London’), H. 1/104: Andante
7. Symphony No. 104 (1795) in D major (‘London’), H. 1/104: Menuetto & trio, allegro
8. Symphony No. 104 (1795) in D major (‘London’), H. 1/104: Finale, spiritoso
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
O nome Lars Ulrik Mortensen cruzou meu caminho pela primeira vez quando ouvi os concertos para vários cravos de Bach, na gravação da Archiv Produktion, o ramo da Deutsche Grammophon especializada em música antiga. Os principais cravistas do set são Trevor Pinnock e Kenneth Gilbert, seguidos dos nomes de Lars e Nicholas Kraemer. Estes dois últimos – excelentes músicos – eu desconhecia na época da gravação deste disco. Lars tinha sido aluno de Trevor Pinnock, que além de reger é um espetacular cravista.
Estava assim na expectativa de postar um disco para apresentar Lars como protagonista, mas também com um certo aplomb, para nossos leitores e seguidores. Como cravista ele tem ótimos discos como os que trazem a música de Buxtehude ou de Frescobaldi. Mas acabei optando por este, no qual ele atua como regente da ótima orquestra EUBO. Isso também nos dá a oportunidade de apresentar um álbum atraente para os amantes da música barroca e para os que querem descobrir ou expandir um pouco mais seu repertório neste tipo de música.
O disco tem três suítes orquestrais e traça um breve panorama deste delicioso gênero musical. A primeira delas é uma suíte obtida reunindo dez números musicais da ópera Zoroastre de Jean-Philippe Rameau, que foi quase contemporâneo de Bach, Handel e Scarlatti. Inicialmente ele produziu muita música para cravo e ficou famoso por publicações em teoria musical. Ao chegar aos cinquenta anos, como se dizia lá em terras de minha meninice, garrou a compor óperas e nunca mais parou. E foi tão bem nesta toada que em Paris chegou-se a estabelecer uma regra – não mais do que duas óperas de Rameau por ano.
Se você se lembra disto, é melhor levar distanciamento social a sério!
Zoroastre foi levada aos palcos pela primeira vez em 1749 e passou por grandes remodelações para outra apresentação em 1756 (ano do nascimento do zauber Mozart). Foi um enorme sucesso. Tinha de tudo, magia, efeitos especiais que demandavam um grande orçamento e muita boa música. As óperas apresentadas em Paris naqueles dias tinha entremeados em sua ação, números de balé e os dez movimentos que compões a suíte eram estes trechos de música para dançar. Isso é então uma típica suíte – uma sequência de danças encabeçada pela abertura (ouverture). Outros exemplos de Suítes de Rameau são as das óperas Les Boréades, Dardanus, Castor et Polux, Naïs. Comece com este Zoroastre, regido pelo Lars Ulrik Mortensen.
Pois as suítes orquestrais francesas fizeram tanto sucesso que ganharam vida própria fora da ópera, começaram a ser apresentadas em outros países. Os pragmáticos compositores germânicos perceberam e começaram a produzir suítes como um gênero independente da ópera. As duas outras peças do disco são exemplos disto.
Johann Joseph Fux foi longevo, nasceu antes de Bach em 1660 e viveu 81 anos – um feito notável para aqueles dias. Fux passou sua vida em Viena e chegou a servir três imperadores da dinastia Habsburgo e a julgar pelo quadro que temos dele era bastante rígido e formal. Foi mais famoso como teórico musical do que como compositor. Seus escritos sobre contraponto foram lidos por Bach, Haydn, Mozart e Beethoven. Que feito!! Mas, a julgar pela Suíte a 7 que nos encanta aqui, com sua abertura e mais cinco movimentos de dança, deixa-nos com gostinho de quero mais.
Assim como Fux, Bach não escreveu ópera, mas quatro lindas suítes orquestrais e a primeira delas completa o álbum.
Momento ‘The Book is on the Table’: The orchestral suite was written to entertain, and these three great examples do not disappoint, from the fluid orchestral sound of Rameau to the clean and crisp approach of his German contemporary, Johann Fux. And to round things off, one of Johann Sebastian Bach’s very finest orchestral works: a tour de force of rhythm and melody.
Uma das melhores suítes de Bach!
EUBO
Se você gostou deste disco, poderá tentar também estes aqui: