Gustav Mahler ( 1860 – 1911 ) Sinfonia Nº 02 – Ressurreição – Kubelik – Bavarian Symphonic Orchestra

Depois do enorme sucesso que Mahler teve aqui no blog, eu realmente resolvi antecipar essa postagem. Sabe como é… feridão chegando ( para os estudantes ) nada melhor do que Mahler e reflexão para o feriado.
A segunda de Mahler é a minha sinfonia preferida, quiçá a música que eu mas gosto, a que eu mais me encontro. Penso que a questão que essa sinfonia aborda, é o tema que rege o mundo. Para que Vivemos? Para aonde vamos ? Qual é o sentido de vivermos ? É claro que para mim tem um valor um pouco mais religioso do que o comum. Mas mesmo para o povo ateu, essas perguntas ainda são válidas. Como de sempre, separei alguns textos de outros blogs e sites para integrar o comentário. Está um pouquinho grande, mas vale a pena. Quem tiver alguma coisa que queira acrescentar, a caixa de comentários está sempre aberta. Boa audição

SINFONIA No.2 (para soprano, contralto, coro misto e orquestra)
Apelido: Ressurreição (oficial)
Tonalidade principal: Dó menor
Composição: 1888-94
Revisão: 1910
Estréia: 3 primeiros movimentos: Berlim, 4 de março de 1895 (BPO, regência de Mahler)Completa: Berlim, 13 de dezembro de 1895 (BPO, regência de Mahler)
1a.Publicação: 1897 (Leipzig, Hofmeister)
Instrumentação:
4 flautas (todas alternando com 4 piccolos)
4 oboés (2 alternando com corne-inglês)
3 clarinetes (Sib, La, Do – um alternando com clarone)
2 clarinetes em Mib
3 fagotes
1 contrafagote
10 trompas em fá (4 usadas fora do palco, menos no final)
8-10 trompetes em fá e dó (4 a 6 usados fora do palco, menos no final)
4 trombones
1 tuba contrabaixo
7 tímpanos (um fora do palco)
2 pares de pratos (um fora do palco)
2 triângulos (um fora do palco)
Caixa clara
Glockenspiel
3 sinos (Glocken, sem afinação)
2 bombos (um fora do palco)
2 tam-tams (alto e baixo) – (percussão requer 7 instrumentistas)
2 harpas
Órgão
Quinteto de Cordas (violinos I, II, violas, cellos e baixos com corda Dó grave)(‘Largest possible contingent of all strings’)
Soprano Solo
Contralto Solo
Coro Misto SCTB
Duração: aprox. 85-90 minutos
Movimentos:
I- Allegro Maestoso. Mit durchaus ernstem und feierlichem Ausdruck
II- Andante Moderato. Sehr gemächlich. Nie eilen
III- In ruhig fliessender Bewegung
IV- ‘Urlicht’ . Sehr feierlich, aber schlicht
V- Im Tempo des Scherzo’s. Wild Wild herausfahrend – Aufersteh’n
Texto: Há três textos na sinfonia:
1) ‘Urlicht’, de ‘A Trompa Mágica do menino’, para contralto solo no IV movimento
2) ‘Resurrection’ de Friedrich Klopstock, solistas e coro no V movimento
3) Conclusão do próprio Mahler, no final do V movimento
Programa: Segundo indicação do próprio Mahler, o primeiro movimento lança uma pergunta: ‘Com que finalidade viveu você?’. O Último movimento responde.

*retirado do blog: http://repertoriosinfonico.blogspot.com/

A Sinfonia no 2, em Dó Menor (termina em Mi Bemol Maior) por Gustav Mahler foi escrita entre 1888 e 1894. Ela foi publicada em 1897 (Leipzig, Hofmeistere) e passou por uma revisão em 1910. Ela também é conhecida como Sinfonia da Resurreição porque faz referências à citada crença cristã.

Histórico

Mahler compôs o primeiro movimento em 10 de setembro de 1888. Em 1893 completou o Andante e o Scherzo.

Em fevereiro de 1894, durante os funerais do pianista e regente Hans von Büllow, Mahler ouviu um coro de meninos cantarem o hino Auferstehen (Ressurreição), da autoria de Friedrich Klopstock. O hino impressionou tanto Mahler que ele resolveu incorporá-lo ao Finale da sinfonia que estava em preparação. Ao mesmo tempo decidiu que a Ressurreição seria o tema principal da obra.
[editar] Características

A Segunda Sinfonia é a primeira sinfonia em que Mahler usa a voz humana. Ela aparece na última parte da obra, no clímax, tal qual a Sinfonia no 9 de Beethoven. Além da influência de Beethoven, percebe-se traços de Bruckner e Wagner na composição.

Apesar da origem judia, Mahler sentia fascínio pela liturgia cristã, principalmente pela crença na Ressurreição e Redenção. A Segunda Sinfonia propõe responder à pergunta: “Por que se vive?”. Simbolicamente ela narra a derrota da morte e a redenção final do ser humano, após este ter passado por uma período de incertezas e agrúrias.

A Sinfonia no 2 foi escrita para uma orquestra com as seguintes composição: 4 flautas (todas alternando com 4 piccolos), 4 oboés (2 alternando com corne-inglês), 3 clarinetes (Sib, La, Do – um alternando com clarone), 2 clarinetes em Mib, 3 fagotes, 1 contrafagote, 10 trompas em fá (4 usadas fora do palco, menos no final), 8-10 trompetes em fá e dó (4 a 6 usados fora do palco, menos no final), 4 trombones, 1 tuba contrabaixo, 7 tímpanos (um fora do palco), 2 pares de pratos (um fora do palco), 2 triângulos (um fora do palco), Caixa clara, Glockenspiel, 3 sinos (Glocken, sem afinação), 2 bombos (um fora do palco), 2 tam-tams (alto e baixo), 2 harpas, órgão,quinteto de Cordas (violinos I, II, violas, cellos e baixos com corda Dó grave). Há ainda: Soprano Solo, Contralto Solo e um Coro Misto.
[editar] Os movimentos

Na sua forma final a sinfonia, cuja duração aproximada é de 80 minutos, é formada por cinco movimentos distribuídos da seguinte forma:

1. ‘Totenfeier’: Allegro maestoso. Mit durchaus ernstem und feierlichem Ausdruck
2. Andante moderato. Sehr gemächlich. Nicht eilen
3. In ruhig fliessender Bewegung
4. ‘Urlicht’ . Sehr feierlich, aber schlicht
5. Im Tempo des Scherzos. Wild herausfahrend (‘Aufersteh’n’)

A sinfonia narra a queda e morte do herói sinfônico, as suas dúvidas, fé e ressurreição no Dia do Juízo Final.

O primeiro movimento é sobre a morte, no segundo a vida é relembrada e o terceiro apresenta as dúvidas quanto à existência e ao destino. No quarto movimento o herói readquire a sua fé e a esperança. No quinto e último movimento ocorre a Ressurreição, na forma imaginada por Mahler.

**Retirado da Wikipédia

Um acto de fé? Provavelmente não, mas serve pelo menos para a meditação acerca da pergunta “há vida depois da morte?” que cada um de nós se faz em cada funeral, retratado no Primeiro Andamento e a recordação de uma existência feliz do falecido, celebrada no Segundo. A peça prossegue, entre dúvidas e questões que de certa forma permitem a reconciliação entre Deus e o homem, terminando com uma mensagem de esperança segundo a qual ninguém deve temer o Dia do Juízo Final, independentemente da fé que professe.

Voltamos então à pergunta: “um acto de fé?”. Seguramente que não, por não haver a referência a um Deus explícito. Tudo se cinge ao simples “eu” humano. E quando dizemos “eu”, é mesmo de Mahler que se trata. Donde, a necessidade da pausa entre a primeira parte da peça (o Primeiro Andamento) e a segunda parte (composta pelos quatro andamentos seguintes). De resto, é um tema caro ao compositor, que o repete nas suas sinfonias seguintes. Disto isto, refira-se, a parte musical é sublime (a mais interessante peça de Mahler?), fazendo lembrar a “nona” de Beethoven a espaços, quiça por culpa de um coro que repete vozes de andamentos anteriores? Mas como evitá-lo, se as dúvidas e os pensamentos que reflecte são emuladas dos versos anteriores, enquanto preparam o apoteótico e optimista final?

Apague a luz e deixe-se guiar. No final encontrará, com comoção garantida, outro “eu”.

***retirado de: http://cantodosul.blogspot.com/2009/11/blog-post.html

A Ressureição, por Matthias Grünewald.

****retirado da Wikipédia

Sinfonia Nº 2 – Quarto Movimento Gustav Mahler

O Röschen rot!
Der Mensch liegt in größter Not!
Der Mensch liegt in größter Pein!
Je lieber möcht ich im Himmel sein.
Da kam ich auf einen breiten Weg;
da kam ein Engelein und wollt’ mich abweisen.
Ach nein! Ich ließ mich nicht abweisen!
Ich bin von Gott und will wieder zu Gott!
Der liebe Gott wird mir ein Lichten geben,
wird leuchten mir bis an das ewig selig Leben!

Tradução automática:

O vermelha rosa!
O homem encontra-se em maior necessidade!
O homem encontra-se em maior dor!
Oh, como eu estaria no céu.
Então cheguei a um caminho largo;
Veio um anjo e queria me afaste.
Oh não! Eu não podia recusar-me!
Eu sou de Deus e vai voltar a Deus!
Deus vai me dar uma luz,
vai brilhar pra mim a vida bem-aventurança!

*****retirado de : http://www.vagalume.com.br/gustav-mahler/sinfonia-n-2-quarto-movimento.html

Sinfonia Nº 2 – Quinto Movimento Gustav Mahler
AUFERSTEHUNG (Ressurreição)

CHOR, SOPRAN (CORO, SOPRANO):
Auferstehn, ja auferstehn wirst du,
mein Staub, nach kurzer Ruhn’!
Unsterblich Leben
wird, der dich rief, dir geben!

Wieder aufzublühn wirst du gesät!
Der Herr der Ernte geht
und sammelt Garben
uns ein, die starben!

ALT (CONTRALTO):
O glaube, mein Herz, o glaube:
Es geht dir nichts verloren!
Dein ist, ja dein, was du gesehnt!
Dein, was du geliebt, was du gestritten!

SOPRAN (SOPRANO):
O glaube: Du wardst nicht umsonst geboren!
Hast nicht umsonst gelebt, gelitten!

CHOR (CORO):
Was entstanden ist, das muß vergehen!
Was vergangen, auferstehen!

CHOR, ALT (CORO, CONTRALTO):
Hör auf zu beben!
Bereite dich zu leben!

SOPRAN, ALT (SOPRANO, CONTRALTO):
O Schmerz! Du Alldurchdringer!
Dir bin ich entrungen!
O Tod! Du allbezeinger!
Nun bist du bezwungen!

CHOR (CORO):
Mit Flügeln, die ich mir errungen,
in heißem Liebesstreben,
werd’ ich entschweben
zum Licht, zu dem kein Aug’ gedrungen!
Sterben werd’ ich, um zu leben!

CHOR, SOPRAN, ALT (TODOS):
Auferstehn, ja auferstehn wirst du,
mein Herz, in einem Nu!
Was du geschlagen,
zu Gott wird es dich tragen!

Tradução Automática:

Sinfonia Nº 2 – Quinto Movimento
Gustav MahlerRevisar tradução
tradução automática via
Ferramentas de idioma
RESSURREIÇÃO (Ressurreição)

CORO, soprano (CORO, soprano):
Ressurgir, sim, você vai subir novamente,
meu pó, após um curto Ruhn!
A vida eterna
é aquele que vos chamou, dar-lhe!

Novamente mais justo que você plantou!
O Senhor da colheita vai
e coleta feixes
nós, que morreu!

ALT (contralto):
O acreditar, o meu coração, acredite:
Você está fazendo nada perdido!
Tua é, sim, o seu, o que você desejar!
Atenciosamente, o que você amava o que vocês lutaram!

SOPRANO (soprano):
O acreditar: você não nasceu em vão!
Já não viveu em vão, sofreu!

REFRÃO (Coro):
O que foi criado, que devem passar longe!
O que se passou ressuscitado!

CORO, ALT (Coro, contralto):
Pare de tremer!
Prepare-se para viver!

Soprano, Alto (soprano, contralto):
Ó dor! Está tudo permeia!
Você apertou-me!
Ó morte! Você allbezeinger!
Agora você está conquistada!

REFRÃO (Coro):
Com asas que eu ganhei para mim
Amor em perseguição,
“Eu vou entschweben
a luz que penetrou nenhum olho!
Die devo, viver!

CORO, ALT soprano, (TODOS)

Ressurgir, sim, você vai subir novamente,
meu coração, em um instante!
O que você sofreu,
a Deus vai levar você!

******retirado de :http://www.vagalume.com.br/gustav-mahler/sinfonia-n-2-quarto-movimento.html#ixzz12O6O7Uw7

O post tá um pouquinho grande mas vale a pena dá uma ”lidinha” nele.

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Gabriel Clarinet

Gustav Mahler ( 1860 – 1911 ) Sinfonia Nº 01 – Titã- Kubelik – Bavarian Symphonic Orchestra

Que tal dar os parabéns atrasados ? Parabéns para o Mahler que fez 150 de nascimento: 7 de julho de 1860. Quem imaginava que nos confins da Boêmia estava nascendo um dos maiores compositores da história da música ?
Vamos ao que interessa.
Eu, no âmago da minha boa vontade, e na colaboração do FDP, que me deu um livro falando só das sinfonias de Mahler, eu pretendo postar uma integral das sinfonias de Mahler com a regência de nada mais nada menos que Rafael Kubelik. O livro está em inglês, e eu pedi a um amigo meu que traduzisse. Tudo 0800. O grande problema é que isso vai demorar um pouco e não quero atrasar mais essas homenagens. Enchi o saco de procurar um texto único e decente sobre as sinfonias de Mahler. Separei alguns textos de outros blogs para estas postagens. Eu mesmo gostaria de escrever, mais não disponho de tempo hábil para isso. Esse final de ano meu está uma loucura. Mas novamente vamos ao que interessa.

SINFONIA no.1
Apelido: Titã (oficial)
Tonalidade principal: Ré Maior
Composição: 1884-1888
Revisão: 1893 e 1896
Estréia: Budapeste, 20 de Novembro de 1889 (regência de Mahler)
1a.Publicação: 1899 (Viena, Weinberger)
Instrumentação:
4 flautas (2 alternando com piccolos)
4 oboés (um alternando com corne inglês)
4 clarinetes (Sib, Dó, Mib, La – um altenando com Clarone em Sib)
3 fagotes (um alternando com contrafagote)
7 trompas (8 com ‘reserva’)
4 trompetes (se possível, com reforço no último movimento)
3 trombones
1 tuba
4 tímpanos
Pratos
Triângulo
Tam-tam
Bombo
1 harpa
Quinteto de cordas (violinos I, II, violas, cellos e baixos)
Duração: aprox. 55 minutos
Movimentos:
I- Langsam. Schleppend – Immer sehr gemächlich
II- Kräftig Bewegt
III- Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
IV- Stürmisch bewegt
Programa: O terceiro movimento é uma marcha fúnebre de fina ironia, com o tema da canção folclórica Frère Jacques em modo menor. Descreve o enterro de um caçador, num corteja promovido pelos próprios animais que ele ameaçava.
Comentários: Originalmente concebida para ser um poema sinfônico, em 5 movimentos. Na primeira revisão, ela foi reduzida para 4 e adotada a disposição sinfônica.

( retirado do blog:http://repertoriosinfonico.blogspot.com )

PRIMEIRA SINFONIA

Assim, sua Primeira Sinfonia, nasceu depois de um longo percurso de trabalho e reflexão estética. Conhecida com o subtítulo de Titã, pela inspiração literária de uma novela homônima, a Primeira é, curiosamente, um resumo, um intróito, um prefácio que ao mesmo tempo introduz e resume todo o universo sonoro de Mahler. Poucas sinfonias iniciam num clima de tanta expectativa, tanta juventude e energia: É impossível ouvir alheio às fanfarras triunfantes dos trompetes que explodem na alegria do final, advinda de um tempestuoso conflito (o início do último movimento). Nesta sinfonia está patente o potencial melódico de Mahler (as melodias no cello e na trompa, no primeiro movimento; bem como o magnífico Scherzo dançante), sua fina ironia (o terceiro movimento, paródia musical da canção Frère Jacques), e suas preocupações filosóficas e espirituais (A agonia conflitante do último movimento, que culmina numa explosão de alegria e solenidade).

Sua música reflete com particular maestria todas as facetas de sua personalidade: A busca incessante pelo ideal da beleza, pela harmonia, pela renovação da vida e pela salvação do mundo. Era judeu de nascimento, mas nunca foi praticante. Converteu-se ao catolicismo em 1897, dizem, para poder assumir o posto na Ópera de Viena, mas que, sem dúvida, também por convicções muito pessoais, já que pouco antes disso, havia escrito sua Segunda Sinfonia com o subtítulo ‘A Ressurreição’, com coros no final sobre textos do poeta alemão Klopstock sobre a Ressurreição de Cristo.

**(retirado: http://www.mnemocine.com.br/filipe/mahler.htm )

E por último esse texto retirado das tortas linhas da Wikipédia.

Como costumava fazer com outras obras suas, Mahler revisou a Sinfonia 1, entre os anos de 1893 e 1896. A mudança mais significativa foi retirada de um movimento andante chamado “Blumine”, sobra de uma música incidental que Mahler tinha escrito para Der Trompeter von Säkkingen (1884). Em 1894, depois de três apresentações, Mahler descartou o movimento e só permaneceram as referências a ele no segundo motivo do finale.
O movimento “Blumine” só foi redescoberto em 1966, por Donald Mitchell. Benjamin Britten conduziu a primeira apresentação da Sinfonia 1 com o movimento “Blumine”, desde que ele tinha sido executado pela última vez por Mahler em Aldeburgh. As maiorias das apresentações modernas da sinfonia não incluem o “Blumine”, ainda que seja possível não raramente se deparar com execuções do movimento em separado. De forma análoga, poucas gravações da sinfonia 1 incluem o movimento.
A obra inclui vários temas de um ciclo de canções composto por Mahler entre 1883 e final de 1884 chamado: Lieder Eines fahrenden Gesellen (Canções de um Viajante). Existem influências também de Das klagend Lied (A Canção da Lamentação), completada por Mahler em 1 de Novembro de 1880 para participar de um concurso de 1881 conhecido como Prêmio Beethoven.
A Sinfonia 1 de Mahler é uma sinfonia primaveril, semelhante em alguns aspectos com a Sinfonia 1 de Robert Schumann. Ela não é contudo uma simples descrição visual da natureza. Ela reflete uma natureza sob os inocentes olhos de uma criança, que ao mesmo tempo toma consciência da fragilidade e da morbidez inerentes à condição humana.

Os movimentos

Na sua forma final a sinfonia, cuja duração aproximada é de 55 minutos, é formada por quatro movimentos distribuídos da seguinte forma:
Langsam, schleppend – Devagar, arrastando (~ 16 minutos)
Scherzo, Kraeftig bewegt – Poderosamente agitado (~ 8 minutos)
Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen – Solene e moderado, sem se arrastar (~ 11 minutos)
Stuermisch bewegt – Agitado (~ 20 minutos)
A sinfonia inicia de forma misteriosa no primeiro movimento. Sons do cuco e de outros pássaros, representados musicalmente, anunciam o despertar da natureza e dão fim à tensão e às dúvidas. Um tema lírico segue.
O segundo movimento é um Landler-scherzo, parecido com os landlers de Anton Bruckner e de Haydn.
O terceiro movimento causou uma certa polêmica na época devido a sua aparente bizarrice. Adaptada como marcha fúnebre, é usada de forma paródica uma melodia infantil bastante conhecida, chamada em alguns países de Frère Jacques e em outros de Bruder Martin. A seu respeito Mahler escreveu no programa para os concertos em 1893 e 1894:
A idéia dessa peça veio ao autor por intermédio de uma gravura paródica conhecida por qualquer criança da Alemanha do Sul e intitulada “Os funerais do caçador”. Os animais da floresta acompanham o caixão do caçador morto; lebres empunham uma bandeira; à frente uma trupe de músicos boêmios acompanhados por instrumentistas gatos, corujas e corvos… Cervos, corças e outros habitantes da floresta, de pêlo ou pena, seguem o cortejo com fisionomias afetadas. A peça, com uma atmosfera ora ironicamente alegre, ora inquientante, é seguida de imediato pelo último movimento “d’all Inferno al Paradiso”, expressão súbita de um coração ferido no mais profundo de si…
O silêncio do terceiro movimento é abruptamente interrompido, de forma histérica, pela orquestra no quarto movimento. Conta-se que durante uma das primeiras apresentações da Sinfonia 1, uma senhora espantou-se e derrubou todos os objetos que carregava na mão.
Após alguns minutos a fúria inicial do último movimento é contida e cede lugar a uma melodia lírica. Os temas dos movimentos anteriores são lembrados. Perto do final, ocorre uma nova tempestade sonora, porém, ao contrário do início, que lembrava uma “luta”, agora o sentimento é de “triunfo”. Nesta parte Mahler pede para que os trompetistas da orquestra toquem de pé.

Então é isso.

Gustav Mahler ( 1860 – 1911 ) Sinfonia Nº 01 – Titã – Kubelik – Bavarian Symphonic Orchestra

01 – Langsam, schleppend
02 – Scherzo, Kraeftig bewegt
03 – Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
04 – Stuermisch bewegt

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Gabriel Clarinet

Ludwig van Beethoven (1770-1827) -Sinfonia No. 8 em Fá maior, Op. 93 e Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia No.1 em Ré maior, "Titã"

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Há combinações que são indispensáveis. Penso que a que se encontra neste post, com aquelas seleções ao vivo que sempre trago à tona de vez em quando, seja mais uma combinação a que não se pode contestar. Dois dos meus compositores favoritos – Beethoven e Mahler – estão presentes. Ao meu modo de ver todas as sinfonias de Beethoven são monumentos indeléveis. Gosto de todas, embora afirme que a número 8 eu não escute com certa frequência. Ela fica logicamente entre a maravilhosa número sete e a arrebatadora número 9. Deve ser por isso que ela não tenha tanta proeminência. Beethoven a chamava carinhosamente de “minha pequena sinfonia em Fá”. Ele a compôs em 1812. É um trabalho alegre, ensolarado, repleto de leveza e com aquela força humanizante tão típica de Beethoven. A outra obra que aparece ainda neste registro é a Sinfonia Titã de Mahler ou Sinfonia No. 1. Hoje pela manhã fui a um mercado aqui perto de casa. Enquanto comprava alguns produtos, ouvia esta gravação com o Jansons. Fiquei a pensar enquanto ouvia a música: “A vida é tão breve e tantas são as belezas !” A Sinfonia Titã é uma das minhas favoritas em toda a história da música. Ela possui aspectos luminosos e soturnos – alegria e tristeza; triunfo e expectativa de queda; ironia e seriedade extravagante. Falando, livremente, acredito que Mahler tenha captado como ninguém os elementos mais importantes da vida nesta obra. A existência é breve. O que conta mesmo é o quanto nos doamos ao próximo. O quanto amamos e buscamos superar as impressões mesquinhas que apequenam o nosso ser. Acredito, finalmente, que a “Titã” seja tão atordoante que chega a rir da gente de tão poderosa que é. Bom deleite!

Ludwig van Beethoven (1770-1827) -Sinfonia No. 8 em Fá maior, Op. 93
01. Allegro vivace e con brio
02. Allegretto scherzando
03. Tempo di menuetto
04. Allegro vivace

Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia No.1 em Ré maior, “Titã”
05. Langsam, schleppend
06. Kraftig bewegt, doch nicht zu schnell
07. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
08. Sturmisch bewegt

Na Amazon

Royal Concertgebouw Orchestra
Mariss Jansons, regente

BAIXAR AQUI

Carlinus

Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão 2005

O vídeo de Marlos Nobre ontem me fez ir até a gaveta onde estão guardados os CDs com a Orquestra Acadêmica do FIICJ e postá-los aqui no blog – na verdade ia compartilhar só o CD com a Kabballah, mas pra não ficar indo e voltando presenteio-lhes com os três álbuns de uma vez. Vai primeiro este, duplo, com as excelentes Variações Sinfônicas do Almeida Prado ao final.

CD 1

01 Samuel Barber: Adagio para Cordas, Op. 11 7m26s
02 Johannes Brahms: Abertura Festival Acadêmico em Dó Menor, Op. 80 10m01s
03 a 06 Gustav Mahler: Sinfonia No. 1 em Ré Maior 50m55s
07 Antonín Dvorák: Dança Eslava em Mi Menor, Op. 72 5m38s

Regência: Kurt Masur

01 a 15 Modest Mussorgsky / Maurice Ravel: Quadros de uma Exposição 32m26s
16 Carlos Gomes: Abertura da Ópera O Guarani 8m02s
17 a 27 Almeida Prado: Variações Sinfônicas (Primeira Gravação e Estréia Mundial) 15m25s

Regência: Roberto Minczuk

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Gravado no Auditório Cláudio Santoro em julho de 2005 e na Sala São Paulo em 31 de julho de 2005, durante o 36° Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão

CVL

 

Gustav Mahler (1860-1911) – A canção da Terra, com arranjo de Schoenberg e Riehm

Taí, eu não consigo digerir Mahler à primeira audição, embora esteticamente ele não seja mais nenhuma novidade para nossos ouvidos. O problema, aos meus ouvidos, são os transtornos interiores do austríaco. Creio que essa bipolaridade mahleriana, junto com os momentos maníaco-depressivos de Shosta, culminaram na esquizofrenia e fragmentação de espírito da obra de Schnittke…

(Ah, tá bom. Porra de psiquiatria de boteco…)

O que tenho pra dizer é que essa gravação de A canção da Terra é das melhores já feitas e a primeira que conseguiu me prender a atenção de cabo a rabo, principalmente pela filtragem do arranjo para orquestra de câmara de Schoenberg, concluído por Riehm, e pela limpidez de execução. Caso alguém ache defeito aí, por favor não deixe de escrever porque estou tentando achar.

Produção 100% nacional.

Todos os detalhes sobre o CD estão neste link – e o recomendo enfaticamente, pois merece o selo PQP Bach de álbum IM-PER-DÍ-VEL.

BAIXE AQUI

CVL

Richard Strauss (1864-1949) – Vida de Herói (Ein Heldenleben) e Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia No. 6 em Lá menor – "Trágica"

Achei por bem postar o ensaio abaixo sobre Mahler e Richard Strauss – DAQUI. É bastante elucidativo. O CD abaixo, com regência de Barbirolli, é para ouvir e cair de joelhos em preces apaixonadas. É algo que aturde. Vida de Herói de Strauss é uma beleza de profundidade e rigor orquestral a nos provocar os sentidos. FDP havia postado no início do ano passado uma versão da obra de Strauss que parece aqui com Jarvi. Julgo que essa versão com o Barbirolli seja fatal. Tenho uma outra versão com o Carlos Kleiber, gravada ao vivo que qualquer dia surgirá aqui no PQP Bach. Boa apreciação!

PROFETAS DA MODERNIDADE

GUSTAV MAHLER e RICHARD STRAUSS precederam as vanguardas do início do século pontuando os limites da música tonal. Este ensaio exclusivo revela a extrema coerência de suas opções estéticas e revela as faces de heróis psíquicos.

FILIPE W. SALLES


Richard Strauss e Gustav Mahler foram duas personalidades muito próximas. Ambos eram excelentes orquestradores, regentes e produtores de concertos. Foram amigos, eram conterrâneos e pareciam buscar, através de suas músicas, a mesma coisa: o auto-conhecimento. Diferenças, apenas quanto ao estilo e à forma: Strauss optou pelo poema sinfônico e pela ópera; Mahler pela sinfonia e pela canção. Talvez não exista música mais pessoal e intimista que a de Mahler, com a possível exceção de Richard Strauss. O contrário também serve. Os traços que constituem ambos os estilos, épico em Strauss e melodramático em Mahler, são marcados pela presença de um protagonista, explícito em Strauss e implícito em Mahler. Este protagonista, a quem nos dois casos serve a denominação de “herói”, é claramente apresentado na obra de Strauss, sendo ele motivo dos temas e títulos de seus principais poemas sinfônicos, “Don Juan”, “Macbeth”, “Morte e Transfiguração”, “Till Eulenspiegel”, “Don Quixote”, e até mesmo no “Assim Falou Zarathustra”. No caso de Mahler, as referências são menos diretas.

O herói é uma personificação arquetípica (e no caso de Strauss, muitas vezes literária), podendo figurar como “extensão” do ego. Extremamente explícito em Strauss, é levado às últimas conseqüências na “Vida de Herói” e na “Sinfonia Doméstica”. Nos dois casos temos um Strauss experiente e maduro pondo toda a energia de seus anseies num forno – e servindo-os no prato da grande orquestra.

Mahler, talvez até inconscientemente, envereda por caminhos semelhantes no que diz respeito ao uso da grande orquestra romântica, mas de uma forma incontestavelmente mais problemática. Não se contenta em apresentar o problema com uma solução já prevista (como é o caso da música de programa): ele fornece o problema e procura resolvê-lo no próprio processo criador. Por esse motivo, suas sinfonias são colossos modernos, titãs adormecidos que escondem tesouros do inconsciente. Sua mais curta sinfonia tem entre 50 e 54 minutos. Sua mais longa chega a 100 minutos. Se Strauss foi objetivo o suficiente para ir direto ao poema sinfônico descrever suas emoções, Mahler seguiu o caminho oposto, subjetivando a forma – até então “absoluta”- da sinfonia. Mahler nunca explicitou “sinfonia descritiva” ou “absoluta”. “A sinfonia”, segundo Mahler, “deve abranger tudo”.

Sua Primeira Sinfonia, a “Titã”, tem, inegavelmente, um Programa mais ou menos definido, assim como a Segunda e a Terceira, Mas podemos ouvir a “Titã” sem nenhum conhecimento de seu programa. O efeito será o mesmo. Talvez isso não funcione na imensa Terceira, mas trata-se de um caso à parte. Da mesma forma, a “absoluta” Quinta Sinfonia, que dispensa qualquer argumento extra-musical, tem a mais típica estrutura descritiva de Mahler: “Tragédia-Consolação-Triunfo”, presentes de forma clara também na Primeira, Segunda, Terceira, e Sétimas sinfonias. Richard Strauss estabelece parâmetros diametralmente opostos. Em quase todos os seus poemas sinfônicos, o herói começa em plena atividade, a desenvolve de acordo com o argumento, e finalmente morre, numa metáfora da antecipação do inevitável. “Don Juan”, seu primeiro poema sinfônico, já inicia seus acordes num frenético “Triunfo”, onde o desenrolar orquestral gira em torno deste ideal, indo cair na tragédia de forma brusca e incontestável. A estrutura para Strauss seria “Triunfo-Degustação-Tragédia”. Tragédia que, vinda de Strauss, não é idêntica à de Mahler. A tragédia de Mahler está ligada à angústia, ao sofrimento, e aos aspectos Psicológicos que determinam estes estados – fruto de conflitos pessoais e, por este motivo, distantes de uma realidade cotidiana. A tragédia de Strauss tem mais um espírito de realidade, de fatos concretos e consumados. “Till Eulenspiegel” ilustra com maestria esta metáfora, onde a morte de Till nada mais é do que uma conseqüência lógica do contexto na história. Não chega a ser uma “tragédia” propriamente, mas uma conformação com a realidade. “Morte e Transfiguração” vai pelos mesmos caminhos, sendo a morte do protagonista justamente o triunfo da obra, o objetivo final da própria vida.

Mahler está longe de encarar a morte de forma tão otimista, embora procure sempre estabelecer aspectos místicos, como uma, espécie de compensação pelo seu inconformismo – caso, por exemplo, da Segunda Sinfonia, a da Ressurreição. O principal fator que determina esta diferença de enfoque na obra de Mahler e Richard Strauss talvez seja a escolha do herói. É fato que ambos se projetam em suas peças, algo como autobiografias musicais. Mas enquanto Strauss procura resolver-se externamente, enfrentando cara-a-cara a realidade, Mahler trava uma luta constante consigo próprio, subvertendo a realidade através da reação emocional que lhe espelha o mundo. São visões bastante antagônicas: é como se Strauss observasse o mundo e respondesse a ele exatamente como o vê e interpreta, ao passo que Mahler observa, sente, relaciona, interpreta e reage, dando a suas sinfonias uma duração que freqüentemente ultrapassa os 70 minutos de execução. Talvez por isso Strauss tenha dado preferência no poema sinfônico, forma muito mais livre que a sinfonia e de caráter mais sucinto. O mais curto poema sinfônico de Strauss, “Till Eulenspiegel”, tem algo em torno de 15 minutos, e o mais longo, “Vida de Herói”, 45.

Há extrema coerência, em ambos, na escolha de suas formas de expressão. Um poema sinfônico como os de Strauss certamente não comporta tanta informação como as sinfonias de Mahler – e estas nunca conseguiriam ser claras e objetivas como os poemas de Strauss sem cair numa extrema redundância. Ambos contornam facilmente estas possíveis aberrações estéticas numa simples escolha inteligente do meio correto de utilizar a música.
A estrutura de narração de Mahler (tragédia, consolação, triunfo), é visivelmente modificada, sutil ou abruptamente, na Quarta, Sexta, Oitava e Nona sinfonias. Destas, apenas a Sexta e a Oitava são abruptas, a Sexta é inteiramente trágica e angustiante, ao passo que a Oitava é triunfal e otimista do começo ao fim. A Quarta é um meio termo, uma sinfonia que parece não tomar muito partido desta relação, pois está montada sobre um afresco extremamente original de melodias brilhantemente orquestradas, cuja intenção é justamente espelhar uma espécie de ingenuidade infantil. A Nona é indefinível. Pertence a um universo abstrato, místico, transcendente. Um universo de um compositor que esgotou as possibilidades estruturais padronizadas pelo próprio estilo e busca, através dele, vislumbrar outras dimensões. Processo semelhante ao que ocorre no “Das Lied von der Erde”, ciclo de canções sobre poemas chineses onde a estrutura também é subvertida, sendo a última parte um canto de despedida que Mahler interpretou como o de sua própria vida.

Tudo aquilo que é problemático para Mahler parece ser bastante natural para Richard Strauss. Strauss sempre tratou a psicologia do inconsciente através do argumento de suas obras, e não propriamente do material musical. Fez uma música puramente objetiva, de clareza incomparável, que hesita em se estender nos devaneios contrastantes típicos de Mahler. “Also Sprach Zarathustra” talvez seja o melhor exemplo da relação Strauss/Mahler, porque ambos esboçaram gigantescos afrescos sinfônicos sobre o texto de Nietzsche em épocas muito próximas. A intenção de Strauss era clara: não queria transformar filosofia em música, mas tentar exprimir a idéia do conflito homem-natureza e sua evolução até o nascimento do super-homem nietzschiano (“Übermensch”). Mahler já transcende a descrição sonora de um ideal para um problema puramente existencial, não descrevendo-o musicalmente, mas sim traduzindo suas sensações interpretadas e relacionadas em todo o seu esdrúxulo inconsciente. Assim, a Terceira Sinfonia de Mahler, que se utiliza em seu 4o movimento de um trecho para contralto do Zarathustra, possui todo um contexto maior, relacionado também às lembranças da infância (As marchas, as canções do Wunderhorn), à associação com a morte e o amor, sugerindo uma interpretação muito mais pessoal do texto de Nietzsche do que a de Strauss. Strauss pensava de uma forma mais sintética, pois o próprio argumento de seus poemas já traduzia determinada opinião.

Talvez por toda esta série de diferenças, a obra de Strauss é freqüentemente considerada mais superficial. Erro beócio: a obra de Strauss simplesmente narra uma situação psicológica ou uma ação através de uma projeção do ego num herói, ao passo que em Mahler o herói é a própria música. A narração de Strauss é em terceira pessoa, e a de Mahler é em primeira. Uma simples diferença de perspectiva. A música de Mahler é intimista, a de Strauss é pictórica, e dá mais amplitude a diferentes interpretações relacionadas ao mundo das imagens e das palavras. Mahler é mais hermético. Incontestavelmente, Richard Strauss foi um mestre da orquestração que sabia colocar números extraordinariamente grandes de instrumentos e tratá-los com uma naturalidade camerística, ao passo que Mahler custou um pouco a desprender-se da grandiloqüência wagneriana dos efeitos de massa (típicos da Segunda e Terceira sinfonias) até atingir um refinamento que já era nítido no “Don Juan” de Strauss. O caso Mahler/Strauss é particularmente interessante porque ambos tiveram a oportunidade de acompanhar o crescimento um do outro, bebendo em fontes muito próximas (Beethoven, Wagner, Bruckner), mas sem perder suas particularidades.

Mahler morreu em 1911 e Strauss em 1949, mas seu último “poema sinfônico”, (ainda que chamado de sinfonia), a “Sinfonia Alpina”, é de 1914, sendo portanto a produção de poemas tonais (e não de óperas) que vai de encontro à comparação com a obra de Mahler. Estes dois mestres absolutos da forma e da orquestração foram os últimos patamares da música puramente tonal, que logo em seguida seria totalmente desestruturada por Schoenberg e Stravinsky. Talvez seja chegada a hora de reavaliar a importância de Mahler e Strauss, pois foram eles os últimos mestres antes da escola dodecafônica, onde a música erudita perdeu grande parte de seu público, que voltou às origens de Bach e Mozart. Afinal, além da questão tecnológica e social (e claro, considerando o mundo hoje consumido pela comunicação), poucas diferenças existem entre o fim-de-século deles e o nosso. Seria superestimar a arte de ambos considerá-los profetas da modernidade?

Disco 1

Richard Strauss (1864-1949) – Vida de Herói (Ein Heldenleben)

01. Ein Heldenleben – Das Held
02. Ein Heldenleben – Des Helden Widersacher
03. Ein Heldenleben – Des Helden Gefährtin
04. Ein Heldenleben – Thema der Siegesgewissheit
05. Ein Heldenleben – Des Helden Walstatt
06. Ein Heldenleben – Des Helden Walstatt_ Kriegsfanfaren
07. Ein Heldenleben – Des Helden Friedenswerke
08. Ein Heldenleben – Des Helden Weltflucht und Vollendung
09. Ein Heldenleben – Entsagung

London Symphony Orchestra
Sir John Barbirolli

Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia No. 6 em Lá menor – “Trágica”

10. I. Allegro Energico, Ma Non Troppo; H

Disco 2

01. II. Andante moderato
02. III. Scherzo. Wuchtig
03. IV. Finale. Allegro moderato – Allegro energico

New Philharmonic Orchestra
Sir John Barbirolli

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Carlinus

Karajan 100 Anos – Gustav Mahler (1860-1911) – Symphony No.9 in D

Para comemorar o aniversário de 100 anos de Herbert von Karajan trago uma premiada gravação da Sinfonia nº 9 de Mahler, gravação realizada ao vivo em 1982, no Berliner Festwochen. Unanimidade entre os fãs de Mahler, esta gravação ganhou o cobiçado prêmio da revista Gramophone, considerado o Oscar das premiações de música erudita.

Com relação a esta gravação também é interessante a história que se conta sobre ela: um ano antes Karajan a havia gravado em estúdio, mas não gostara do resultado, como explica o editor da amazon.com :

“Herbert von Karajan made a studio recording of the Ninth with the Berlin Philharmonic that appeared in 1981, but he was apparently dissatisfied with it and pressed for this remake, recorded at a performance during the Berlin Festival Weeks of 1982. The result is one of the finest of all his achievements–a riveting account of this great work that blazes with a visionary intensity from first bar to last. There is grip and majesty here, sovereign control over the Mahler’s vast canvas, but also an extraordinary “of the moment” quality that is unusual in Karajan’s discography. The sound on this recent “Karajan Gold” remastering is excellent .”

Espero que apreciem.

Gustav Mahler (1860-1911) – Symphony No.9 in D

CD 1

1. Symphony No.9 in D / 1. Satz – Andante comodo
2. Symphony No.9 in D / 1. Satz – Etwas frischer
3. Symphony No.9 in D / 1. Satz – (Horns)
4. Symphony No.9 in D / 1. Satz – Mit Wut. Allegro risoluto
5. Symphony No.9 in D / 1. Satz – (Brass)
6. Symphony No.9 in D / 1. Satz – Bewegter
7. Symphony No.9 in D / 1. Satz – Wie von Anfang
8. Symphony No.9 in D / 1. Satz – Ploetzlich bedeutend langsamer (Lento) und leise
9. Symphony No.9 in D / 2. Satz – Im Tempo eines gemaechlichen Laendlers.Etwas taeppisch und sehr derb
10. Symphony No.9 in D / 2. Satz – Poco più mosso subito (Tempo II)
11. Symphony No.9 in D / 2. Satz – Tempo III
12. Symphony No.9 in D / 2. Satz – A tempo II
13. Symphony No.9 in D / 2. Satz – Tempo I
14. Symphony No.9 in D / 2. Satz – Tempo II
15. Symphony No.9 in D / 2. Satz – Tempo I. subito

CD 2

1. Symphony No.9 in D / 3. Satz – Rondo-Burleske. Allegro assai. Sehr trotzig
2. Symphony No.9 in D / 3. Satz – L’istesso tempo
3. Symphony No.9 in D / 3. Satz – Sempre l’istesso tempo
4. Symphony No.9 in D / 3. Satz – L’istesso tempo
5. Symphony No.9 in D / 3. Satz – (Clarinets)
6. Symphony No.9 in D / 3. Satz – Tempo I subito
7. Symphony No.9 in D / 3. Satz – Più stretto
8. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Adagio. Sehr langsam und noch zurueckhalten
9. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Ploetzlich wieder sehr langsam (wie zu Anfang) und etwas zoegernd
10. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Molto adagio subito
11. Symphony No.9 in D / 4. Satz – a tempo (Molto adagio)
12. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Stets sehr gehalten
13. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Fliessender, doch durchaus nicht eilend
14. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Tempo I. Molto adagio
15. Symphony No.9 in D / 4. Satz – Adagissimo

Berliner Philarmoniker

Herbert von Karajan

CD 1 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 2 – BAIXE AQUI – DONWLOAD HERE

Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia Nº 10

Aquela outra reconstrução da décima que postei, não era tão boa quanto esta. Puxa, esta é maravilhosa! Parece Mahler! E do melhor! O “pobrema” é que eu consegui esta pérola na Internet e os caras converteram o CD para 96 kbps. O som não é uma tragédia, mas o desempenho de Rattle com a Filarmônica de Berlim é espantoso. Na minha opinião, o Andante-Adagio de abertura – único movimento escrito inteiramente por Mahler, pois os outros são reconstruções post-mortem – é uma das maiores peças do compositor, se não a maior. Vou ter que comprar o CD. Está baratinho e este eu preciso ter. Cá para nós, Simon Rattle é um monstro e a Filarmônica de Berlim nem se fala. Pena que o sucesso artístico desta fase da orquestra não esteja sendo tão apreciado pelo público. É que Rattle gosta de Mahler, Shosta, Bartók e já gravou até Henze. Sacumé, o público é conservador em qualquer parte do mundo. Uma bosta.

Mahler Symphony nº10
50.3MB | mp3 | 96KBPS

1 Andante; Adagio
2 Scherzo (Schnelle Vierteln)
3 Purgatorio (Allegretto moderato. Nicht zu schnell)
4 Scherzo II- Der Teufel tanz es mit mir
5 Finale (Einleitung; Allegro moderato)

SIMON RATTLE, Berlin Philharmonic Orchestra (revised by Rattle, in collaboration with Berthold Goldschmidt,
Colin Matthews and David Metthews)

September 24 & 25, 1999 at concerts in the Philharmonia, Berlin

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Gustav Mahler (1860-1911) – Canções de “Das Knaben Wunderhorn”

Gosto muito desta versão para piano do ciclo de canções “Das Knaben Wunderhorn”. O nome, que significa algo como “A trompa mágica do menino”, é uma coleção de poemas populares, publicada em três volumes em Heidelberg pelos poetas e escritores alemães Achim von Arnim e Clemens Brentano entre 1805 e 1808. A coleção contém canções da Idade Média até o Século XVIII.

As canções foram musicadas – entre outros – por Gustav Mahler entre 1892 a 1901. Alguns autores as mencionam em número de 13, porém o compositor musicou, na verdade, 24 daqueles poemas. Cada intérprete escolhe o quais deseja cantar. Também não há uma seqüência de apresentação.

Acho o ciclo divertidíssimo e minha preferência vai para “Wer hat dies Liedlein erdacht?!”, “Des Antonius von Padua Fischpredigt” e “Wo die schnen Trompeten blasen”, talvez a primeira música de Mahler que tenha ouvido. Sim, há mais de 30 anos.

O barítono Thomas Hampson, há pouco tempo, esteve em São Paulo apresentando este programa.

P.Q.P. Bach.

1. Der Schildwache Nachtlied
2. Revelge
3. Rheinlegendchen
4. Wer hat dies Liedlein erdacht?!
5. Verlorne Mh’!
6. Trost im Unglck
7. Lob des hohen Verstands
8. Des Antonius von Padua Fischpredigt
9. Lied des Verfolgten im Turm
10. Der Tamboursg’sell
11. Wo die schnen Trompeten blasen
12. Das irdische Leben
13. Das himmlische Leben
14. Urlicht
15. “Es sungen drei Engel einen sen Gesang”

Thomas Hampson (Baritone)
Geoffrey Parsons (Piano)

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Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia Nº 8 “Sinfonia dos Mil”

Mahler não gostava que chamassem sua oitava sinfonia de “Sinfonia dos MIl”, mas não é nenhum absurdo. Para ser executada, ela precisa de um contingente apenas 4 vezes menor do que o número de soldados americanos mortos no Iraque e é bom que o palco esteja mais firme que o governo Bush.

É uma obra mais impressionante do que bela e nem é bem uma sinfonia, mas uma gigantesca cantata. Sua execução exige, entre orquestra e coro, mais de mil figuras. Servem como textos o hino Veni creator spiritus e o coro final da segunda parte do Fausto de Goethe. Nem todos acham que o resultado justifica os colossais recursos exigidos. Dentre estes estou eu, P.Q.P. Bach.

O que me interessa nesta sinfonia é a rica polifonia empregada, um tributo a meu pai e às estruturas criadas por ele. Abaixo, em itálico, copiado daqui, está o detalhamento do exército empregado.

SINFONIA No.8
(para 8 solistas – 3 sopranos, 2 contraltos, tenor, barítono e baixo – 2 coros mistos, coro infantil, órgão e orquestra)
Apelido: ‘Dos Mil’
Tonalidade principal: Mi bemol Maior
Composição: 1906-1907
Revisão: não houve
Estréia: Munique, 12 de setembro de 1910 (solistas: Gertrud Förstel, Marta Winternitz-Dorda, Irma Koboth, Otillie Meyzger, Tilly Koenen, Felix Senius, Nicolo Geisse-Winkel, Richard Mayr. Leipzig Riedelverein, Viena Singverein, Coro Infantil da Escola Central de Munique, Orquestra do festival, regência de Mahler)
1a.Publicação: 1911 (Viena, Universal Editions)
Instrumentação:
2 piccolos
4 flautas
4 oboés
Corne-Inglês
Clarinete em Mib
3 clarinetes em Sib e La
Clarone
4 fagotes
Contrafagote
8 trompas
8 trompetes (4 fora do palco)
7 trombones (3 fora do palco)
Tuba
Tímpanos
Triângulo
3 pares de pratos
Bombo
Tam-Tam
Sinos grandes
Glockenspiel
Celesta
Piano
Harmônica
Órgão
2 harpas
Mandolim
Quinteto de cordas (violinos I, II, violas, cellos e baixos com corda C grave)
Soprano I (Magna Peccatrix)
Soprano II (Una poenitentium)
Soprano III (Mater Gloriosa)
Contralto I (Mulier samaritana)
Contralto II (Maria Aegyptiaca)
Tenor (Doctor Marianus)
Barítono (Pater ecstaticus)
Baixo (Pater profundus)
Coro infantil
Coro Misto SCTB I
Coro Misto SCTB II

Duração: aprox. 85-90 minutos

Movimentos:
I- Hymnus: Veni, Creator Spiritus
II- Final scene from Goethe’s ‘Faust’ part II

Texto:
1) ‘Veni, creator spiritus’, atribuído ao monge medieval Hrabanus Maurus
2) Cena final do Segundo Fausto de Goethe

Programa:
É um dos mais interessantes de Mahler, uma sinfonia muito significativa em termos filosóficos e espirituais para o compositor. O primeiro movimento é um hino medieval que evoca o espírito criador, e o segundo movimento é a redenção humana através do Amor cristão, que Mahler achou, muito propriamente, nas palavras de Goethe.

Comentários:
O subtítulo ‘Dos Mil’ foi colocado contra a vontade de Mahler, por razões comerciais, já que sua estréia realmente contava com um contingente instrumental de 1023 músicos. É a única sinfonia de Mahler inteiramente cantada, como uma grande cantata sinfônica, e que transparece um grande otimismo espiritual em seus únicos 2 movimentos. No último, entretanto, há subdivisões que indicam certa ordenação próxima à forma-sonata, ainda que bastante diluída. Somente o primeiro movimento e o final do segundo (o maior de Mahler, de aprox. 50 minutos) contém grandes efeitos de massa dignos da enorme instrumentação exigida, o que lhe valeram severas críticas e também raras execuções, apesar de poder ser executada com metade deste número (na estréia a orquestra e o coro estavam duplicados).

Gosto muito dos regentes russos (ou soviéticos). São exatos, rigorosos e é difícil superá-los quando está presente a polifonia que se faz ouvir aqui. Dentre as gravações modernas, as de Bernstein e de Solti são normalmente as mais elogiadas, mas quando procurei por gravações de Kondrashin (1914-1981), Mravinsky (1903-1988) e Svetlanov (1928-2002), encantei-me pela do último realizada em 1994 por obra e graça da Harmonia Mundi France.

P.Q.P. Bach.

Composer: Gustav Mahler
Regente: Evgeny Svetlanov
Regente do Coro: Viktor Popov
Coro e Orchestra da Russian State Symphony Orchestra

Disc: 1
1. Sym No.8 in E flat: Part I. Hymnus ‘Veni, Creator Spiritus’: Allegro Impetuoso

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Disc: 2
1. Sym No.8 in E flat: Part II. Scene Finale Du ‘Faust II’ De Goethe: Poco Adagio/Piu Mosso

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Gustav Mahler (1860-1911) – A Sinfonia Nº 10 Reconstruída

Mahler morreu durante a décima, Beethoven fez nove, Bruckner também, Dvorak idem, Schubert escreveu nove e pimba!, bateu as botas, deixando curiosamente a oitava inacabada… Ou seja, há a maldição do número 10, quem quer chegar lá, morre antes!

Claro que sei que Haydn fez 104; Mozart, 40; Shostakovich, 15, etc. Mas deixemos a maldição como algo real, apenas para efeito dramático. Ah, antes que algum ignaro tente me fazer de vítima, digo que Mozart tem mesmo 40, porque a 37 não existe. Sabiam? Pois é. Ela tinha sido atribuída a Mozart, mas hoje sabe-se que é de autoria de Michael Haydn.

Uma das músicas mais belas que conheço é o Adagio desta Sinfonia. Apenas este movimento da décima foi finalizado por Mahler e ele está aqui em toda sua perfeição, o restante ficou inacabado em manuscritos, mas o inglês Joe Wheeler mergulhou nas 171 páginas da sinfonia e remontou-a… Há outras tentativas, como a do alemão Wollschläger, a do americano Carpenter, a do inglês Cooke e a do italiano Mazzetti. Todas elas são raríssimas de se ouvir em CDs, ficando mais na área acadêmica da musicologia. Wheeler fez seu trabalho entre 1952 e 1966. É a sua quarta e última versão que ouvimos aqui.

A gravação da orquestra polonesa é excelente. Coisa rara, portanto. Enjoy!

P.Q.P. Bach

Sinfonia Nº 10 (Versão de Joe Wheeler, de 1966, editada por Robert Olson)

1. Adagio (26min15)
2. Primeiro Scherzo (12min03)
3. Purgatorio ou Inferno (4min30)
4. Segundo Scherzo (12min15)
5. Finale (23min53)

Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional da Polônia
Robert Olson

Tempo Total: 78min59

BAIXE AQUI (Download)

Gustav Mahler (1860-1911) – A Canção da Terra (Das Lied von der Erde)

Precisa comentar? Mesmo?

É a maior obra-prima de Mahler. A Canção da Terra (1908) é uma cantata sinfônica sobre textos de Li T’ai Po e outros poetas chineses, na tradução alemã de Hans Bethge. O melhor Mahler parece condensado nesta música que mistura o clássico com as predileções de Mahler pela música popular e folclórica. Sua permanente angústia religiosa e as dúvidas do intelectual se manifestam nesta música pessoalíssima e perfeita, que termina com uma comovente canção de despedida.

Não é, decididamente, uma obra para intérpretes amadores. A maior gravação é, na minha opinião, a de Leonard Bernstein com Dietrich Fischer-Dieskau, mas esta sempre esqueço em casa… A que apresento aqui, de Michael Halasz, não faz feio.

A seguir, coloco um excelente texto de Isabel Assis Pacheco sobre a obra (retirado daqui)

Das Lied von der Erde (“A Canção da Terra”) (c. 1h. e 10 min.)

Artista intransigente, Mahler levou à obsessão o desejo de perfeição. Homem atribulado e desiludido, fugiu do mundo, da civilização e mergulhou no seio da natureza, em busca de conforto. São suas estas palavras: “Um grande exemplo para todas as pessoas criativas é Jacob, que se bate com Deus até que Ele o abençoe. Deus tão pouco quer conceder-me a Sua bênção. Somente através das terríveis batalhas que tenho de travar para criar a minha música recebo finalmente a Sua bênção”.

O complexo universo mahleriano, muitas vezes caótico, sofredor, povoado de sinais de morte, mas também pleno de realidades belas, não é senão uma projecção da própria vida humana.
Com uma produção quase exclusivamente constituída por sinfonias e ciclos de canções, Mahler descobre o seu horizonte criativo. O compositor opera nestes dois domínios musicais uma síntese genial e grandiosa: por um lado confere ao Lied uma dimensão sinfónica e, por outro lado, insere o Lied em várias das suas sinfonias. A fusão destas duas formas musicais atinge a culminância em obras como a 8ª Sinfonia e a sua derradeira obra Das Lied von der Erde (“A Canção da Terra”), classificada como “sinfonia com voz”.

No final de 1907, três duros golpes do destino marcaram profundamente Mahler: a morte da sua filha mais velha, a demissão de director da Ópera de Viena e o diagnóstico de uma grave doença cardíaca. Por essa altura, o seu amigo Theodor Pollak ofereceu-lhe uma colectânea de 83 poemas Die chinesische Flöte (“A Flauta Chinesa”) que Hans Bethge tinha adaptado das traduções inglesa, francesa e alemã dos originais chineses. Pollak expressara a ideia de que esses poemas poderiam ser musicados e Mahler identificou-se de imediato com o espírito dos poemas, concebendo a adaptação de alguns deles. A razão da escolha de seis poemas, de rara beleza, da autoria de Li–Tai–Po, Tchang–Tsi, Mong–Kao–Yen e Wang–Wei deveu-se aos temas apresentados. Poemas voltados para a terra, para a natureza e para a solidão do homem no seio desses elementos, foram a fonte criativa de um documento pessoal e profundamente comovente que abre o último período criador de Mahler — Das Lied von der Erde “uma sinfonia para tenor, contralto (ou barítono) e orquestra”. Bruno Walter classificou esta obra como “apaixonada, amarga e ao mesmo tempo, misericordiosa; o canto da separação e do desvanecimento”.

Obra onde se encontra a fusão perfeita do Lied e da sinfonia, A Canção da Terra está impregnada de tristeza e nostalgia indefiníveis, mas também da celebração da natureza. Mahler conseguiu evidenciar nesta obra todos os aspectos do seu génio.
Nela encontramos tanto a ambivalência de sentimentos, entre o êxtase, o prazer e a premonição da morte, que caracteriza o próprio compositor, como também todo o clima outonal do romantismo tardio. Terminada no Verão de 1908, a obra só viria a ser estreada seis meses após a morte do compositor, a 20 de Novembro de 1911, em Munique, sob a direcção Bruno Walter. Constituída por seis andamentos, a obra inicia-se com um Allegro pesante em Lá menor. Das Trinklied von Jammer der Erde (“Canção de Beber da Tristeza da Terra”), do poeta chinês Li–Tai–Po, advoga o vinho como o melhor remédio para os males humanos. Diante do absurdo da vida, a embriaguez é a única saída para a dor e para a revolta. Cada estrofe da canção termina com o terrível refrão: Dunkel ist das Leben, ist der Tod (“Sombria é a vida, é a morte”). Usando genialmente todos os recursos orquestrais a fim de aumentar a tensão, Mahler cobre toda a gama de emoções.

O segundo andamento indicado Etwas schleichend (um pouco arrastado) é na tonalidade de Ré menor. A imagem poética desta segunda canção, Der Einsame im Herbst, (“O Solitário no Outono”) cantada neste caso pelo barítono, é a tristeza do homem que chora sozinho com as suas recordações e para quem “o outono se prolonga demasiado no seu coração”. Mahler sublinha o verso Mein Herz ist müde (“O meu coração está cansado”). O andamento termina melancolicamente com uma coda orquestral de extraordinária beleza. De índole totalmente diversa é Von der Jugend (“Da Juventude”). Com poema de Li–Tai–Po, este Lied é tratado em forma de miniatura e descreve uma cena chinesa.

Deparamo-nos com um pequeno “pavilhão de porcelana verde”, uma “pequena ponte de jade” que se reflectem no espelho do lago. A frágil superfície encantada é traduzida por delicadas sonoridades que nos transmitem um efeito de fria emoção.

Um procedimento análogo caracteriza o quarto andamento: Von der Schönheit (“Da Beleza”). Indicado como comodo, dolcissimo, esta canção descreve, num estilo gracioso, jovens raparigas a colherem flores de lótus na margem de um rio.

Porém, o andamento anima-se cada vez mais quando em ritmo de marcha (o mais vivo e agitado de toda a obra) jovens cavaleiros montados em corcéis de fogo, perturbam a nostalgia da cena. No final do poema reencontramos a atmosfera inicial. Tratado como uma canção de embalar de grande beleza tímbrica, o poema termina sobre um murmúrio das flautas e violoncelos:

In dem Funkeln ihrer großen Augen,
In dem Dunkel ihres heißen Blicks
Schwingt klagend noch die Erregung Ihres Herzens nach.

“No brilho dos seus olhos,
no calor do seu olhar sombrio,
ainda traem a emoção dos seus corações.”

Esta atmosfera é quebrada pelo quinto andamento, Der Trunkene im Frühling (“O Bêbado na Primavera”). Em forma de scherzo em Lá Maior, é um novo hino aos prazeres da bebida. O despreocupado e jovial Allegro inicial muda poeticamente quando um pássaro (tema brilhante para o piccolo) desperta o ébrio e o informa que a primavera chegou durante a noite. O ébrio protesta e diz que não acredita ter nada a ver com a primavera ou o canto dos pássaros:

Und wenn ich mich mehr singen kann,
So schlaf’ ich wieder ein,
Was geht mich denn der Frühling an!?
Lasst mich betrunken sein!

“E se não posso mais cantar,
então durmo de novo,
que me importa a primavera?
Deixai-me com a minha embriaguez!”

O último Lied, de longe o mais importante, tanto pela duração como pela beleza, é Der Abschied (“A Despedida”) e resulta da conjugação de dois poemas com afinidades temáticas, de Mong–Kao–Yen e Wang–Wei e ainda de alguns versos do próprio compositor que funcionam, neste caso, como coda.

No primeiro, o poeta espera o seu amigo para com ele contemplar o esplendor do crepúsculo. Mahler inicia o andamento com um interlúdio orquestral em forma de marcha fúnebre, criando assim um ambiente fascinante, entoado em uníssono pelos violoncelos, contrabaixos, violas, harpas e contrafagote. Quando a voz entra, sustentada pelos violoncelos, o efeito é de uma alma perdida, impressão intensificada pela transferência do lamento do oboé para a flauta. O poema descreve o entardecer:

Die Sonne scheidet hinter dem Gebirge,
In alle Täler steig der Abend nieder
Mit seinen Schatten, die voll Kühlung sind…

“O sol desaparece por trás das montanhas.
O anoitecer e as suas sombras frescas
surgem nos vales…”

Um tremolo de dois clarinetes termina esta variação que se cinge aos três primeiros versos. A segunda variação constitui um momento muito comovente da obra. Numa melodia ascendente inesquecível, o barítono descreve a Lua “como um barco de prata sobre o mar azul do céu”. O Fá agudo na primeira sílaba de Silberbarke (barco de prata), é como que o culminar de um desejo que depois se recolhe sobre si próprio. A cantilena da voz prossegue, sublinhada pelos clarinetes e pela harpa que precedem o reaparecimento do gruppetto. As texturas orquestrais simplificam-se para criar um ritmo ondulante em quartas na harpa, secundada pelo bandolim quando o poema nos fala do canto do regato e da respiração da terra. A ideia de nostalgia e a beleza da terra é retomada num novo tema com o verso: Alle Sehnsucht will nun träumen (“Todo o desejo se transforma em sonho”). Trata-se da melodia da canção, Ich bin der Welt abhanden gekommen (“Afastei-me do Mundo”) utilizada por Mahler no famoso Adagietto da sua 5ª sinfonia.

O clímax central da primeira parte é a candente irrupção do êxtase. O tema do desejo reaparece depois do grito Lebewohl (“Adeus”). O tema de Ich bin der Welt subjacente, é agora tratado pentatonicamente ao começar o verso:

O Schönheit! O ewigen Liebens–, Lebens–trunk‘ne Welt!

“Ó beleza! Ó mundo ébrio de amor e vida eternos!”

Um longo interlúdio orquestral entre os dois poemas, construído a partir de motivos já ouvidos, torna-se o prenunciador de futuras catástrofes. Soberanamente orquestrado, o ritmo de marcha fúnebre prossegue, lúgubre e insistente, enquanto a voz descreve a chegada do amigo e a sua despedida:

Du, mein Freund,
mir war auf dieser Welt das Glück nicht hold!

“Meu amigo,
a felicidade não me foi propícia neste mundo!”

Neste verso, a música dolente, modula para o modo Maior. No momento em que o poeta refere que procura repouso para o seu solitário coração, Mahler cita Um Mitternacht (“À meia–noite”). O tema do “desejo” volta a ouvir-se nos versos:

Still ist mein Herz und harret seiner Stunde!

“ O meu coração está tranquilo e aguarda a sua hora!”

Começa assim a maravilhosa e insólita coda em dó Maior, com versos da autoria do próprio Mahler :

Die liebe Erde allüberall
blüht auf im Lenz und grünt aufs neu!
Allüberall und ewig Blauen licht die Fernen!
Ewig… ewig…

“Em toda a parte a amada terra
Floresce na primavera e torna a verdejar!
Por toda a parte e eternamente resplandece um azul luminoso!
Eternamente…eternamente…”

Quando a voz entoa as últimas palavras Ewig… ewig, a música parece dissolver-se imperceptivelmente num pianíssimo, sustentado pelas cordas e com arpejos da harpa e da celesta. A música dá lugar ao silêncio e a emoção é levada à sua plenitude.

Isabel Assis Pacheco

Divirtam-se,

PQP Bach.

1. Das Trinklied vom Jammer der Erde 08:02 (Canção para Beber à Tristeza da Terra)
2. Der Einsame im Herbst 09:02 (O Solitário no Outono)
3. Von der Jugend 03:09 (Da Juventude)
4. Von der Schonheit 06:36 (Da Beleza)
5. Der Trunkene im Fruhling 04:26 (O Bêbado de Primavera).
6. Der Abschied 27:19 (A Despedida)

Ruxandra Donose, mezzo-soprano
Thomas Harper, tenor
Performed by: Ireland National Symphony Orchestra
Conducted by: Michael Halasz

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Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia Nº 7

Um belíssimo Scherzo, cercado por duas esplêndidas Canções da Noite, as quais têm, adjacentes a si, dois movimentos ásperos e duros, o primeiro e o último. Um compositor em crise pela morte de sua filha mais velha e pelos problemas que enfrentava na Ópera de Viena. Melancolia e ódio, a sétima de Mahler.

1. I: Langsam – Allegro Risoluto, Ma Non Troppo
2. II: Nachtmusik: Allegro Moderato
3. III: Scherzo. Schattenhaft
4. IV: Nachtmusik: Andante Amoroso
5. V: Rondo

Symphony No. 7 in E minor
Composed by Gustav Mahler
Performed by City of Birmingham Symphony Orchestra
Conducted by Simon Rattle

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Gustav Mahler (1860 – 1911) – Das klagende Lied

Em 1881, com 21 anos, inscreveu-se para o Prêmio Beethoven, que fora instituído pela Sociedade dos Amigos da Música (Gesellshaft der Musikfreund). Podiam participar do concurso alunos e ex-alunos do Conservatório de Viena. O júri contava com Hans Richter, Carl Goldmark e Johannes Brahms. Mahler disputou com a cantata Das klagende Lied, uma obra dramática que tinha escrito com entusiasmo, mas perdeu, é claro. Brahms odiava as enormidades musicais de Wagner e Bruckner, era hostilíssimo a eles; então, como deixaria aquele Mahler vencer? Perdeu, é claro, e os 500 florins do prêmio foram para outro. Porém nós, que amamos todos os citados e pouco temos a ver com as questões do final do século XIX, podemos dizer que Mahler estreou com uma extraordinária obra: Das klagende Lied, ou A Canção do Lamento. Aproveite, este trabalho não é muito fácil de se achar por aí.

1. Das Klagende Lied: Waldmärchen 28:31
2. Das Klagende Lied: Der Spielmann 17:35
3. Das Klagende Lied: Hochzeitstück 18:57

Conductor: Simon Rattle
Performers: Helena Dose (Soprano), Alfreda Hodgson (Mezzo Soprano), Robert Tear (Tenor), Sean Rea (Baritone)
City of Birmingham Symphony Orchestra
Ensemble City of Birmingham Symphony Orchestra Chorus
Recording Date 1985

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