BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Integral das sonatas e variações para violoncelo e piano – Maisky – Argerich

Estou inundando os HDs de vocês com doze integrais paralelas das sinfonias de Ludwig. Imagino, então, que não se importarão com que lhes ofereça uma integral a mais – umazinha só – da obra para violoncelo e piano, né?

Ou me engano?

Vejam só: aqui estão Mischa Maisky, aquele distinto violoncelista leto-israelense que, apesar de exagerar no vibrato e não ter o mais bonito dos timbres, exsuda musicalidade e quase sempre entrega leituras muito convincentes das obras a que se dedica. E sua companheira de gravação, e quase vizinha em Bruxelas, é sua amiga de longuíssima data, a deusa portenha do piano, aquela-que-não-precisa-de-apresentações-porque-todos-sabem-que-a-amo-de-paixão.

Ouçam e deliciem-se: tenho certeza de que vão me perdoar.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Doze Variações em Fá maior sobre “Ein Mädchen oder Weibchen”, de “Die Zauberflöte” de Mozart, para violoncelo e piano, Op. 66
1 – Thema
2-13 – Variationen 1-12

Duas Sonatas para violoncelo e piano, Op. 5

No. 1 em Fá maior
14 – Adagio sostenuto
15 – Allegro
16 – Adagio – Presto – Tempo primo
17 – Rondo: Allegro vivace

No. 2 em Sol menor
18 – Adagio sostenuto ed espressivo
19 – Allegro molto più tosto presto
20 – Rondo: Allegro

Sete variações em Mi bemol maior sobre a ária “Bei Männern, welche Liebe fühlen”, de “Die Zauberflöte” de Mozart, para violoncelo e piano, WoO 46

21 – Thema: Andante
22-28 – Variationen I-VII

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Sonata em Lá maior para violoncelo e piano, Op. 69

1 – Allegro ma non tanto
2 – Scherzo. Allegro molto
3 – Adagio cantabile – attacca:
4 – Allegro vivace

Duas sonatas para violoncelo e piano, Op. 102

No. 1 em Dó maior

5 – Andante
6 – Allegro vivace
7 – Adagio – Tempo d’andante
8 – Allegro vivace

No. 2 em Ré maior

9 – Allegro con brio
10 – Adagio con molto sentimento d’affetto – attacca:
11 – Allegro – Allegro fugato

Doze Variações em Sol maior sobre “See the conqu’ring hero comes”, do Oratório “Judas Maccabaeus” de Händel, para violoncelo e piano, WoO 45
12 – Thema
13-24 – Variationen I-XII

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano

Marthula, nosso amor maior ♡♡♡
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Violino Nos. 4, 5, 8 Rondó & Seis Danças Germânicas (Ehnes / Armstrong) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Violino Nos. 4, 5, 8 Rondó & Seis Danças Germânicas (Ehnes / Armstrong) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

James Ehnes é o violinista dos violinistas. Deu para sentir isso em fevereiro deste ano, quando o vimos em ação ao vivo no Wigmore Hall. Bem, as duas primeiras sonatas deste CD são extraordinárias. A célebre Primavera nem se fala, mas não conhecia a fundo o lindo Op. 23. Este é o terceiro CD das sonatas de violino de Beethoven com James Ehnes e Andrew Armstrong e era aguardado com muita expectativa pelo mundo erudito. Os álbuns anteriores — Nº.9 ‘Kreutzer’ e 6 e Nº.1-3, Variações WoO40 — receberam críticas excelentes. A Gramophone escreveu sobre este lançamento: “Com alguns discos, você pode dizer antecipadamente que tudo vai dar certo”. E aqui, a popular sonata Primavera é emoldurada pela estranha e sedutora quarta sonata e a modesta oitava — apesar do irresistível último movimento (Allegro vivace). Um antigo Rondó e um conjunto de danças alemãs completam o generoso programa.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Violino Nos. 4, 5, 8 Rondó & Seis Danças Germânicas (Ehnes / Armstrong)

01. Violin Sonata No. 4 in A Minor, Op. 23: I. Presto
02. Violin Sonata No. 4 in A Minor, Op. 23: II. Andante scherzoso piu Allegretto
03. Violin Sonata No. 4 in A Minor, Op. 23: III. Allegro molto

04. Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 “Spring”: I. Allegro
05. Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 “Spring”: II. Adagio molto espressivo
06. Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 “Spring”: III. Scherzo. Allegro molto
07. Violin Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 “Spring”: IV. Rondo. Allegro ma non troppo

08. Six German Dances, WoO 42

09. Rondo for violin & piano in G Major, WoO 41

10. Violin Sonata No. 8 in G Major, Op. 30/3: I. Allegro assai
11. Violin Sonata No. 8 in G Major, Op. 30/3: II. Tempo di Minuetto, ma molto moderato e grazioso
12. Violin Sonata No. 8 in G Major, Op. 30/3: III. Allegro vivace

James Ehnes, violino
Andrew Armstrong, piano

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Ehnes e Armstrong ensaiando no Wigmore Hall

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para violoncelo e piano, Opp. 69 & 102 – Variações – Wispelwey – Lazić

A melhor de todas as sonatas para violoncelo e piano? Eu acho, e com muita folga. Independentemente de minha desimportante opinião, a Op. 69 foi a primeira obra do gênero a colocar os dois instrumentistas em pé – ou deveríamos dizer em espigão? – de igualdade, mais ou menos como aquela sonata-que-não-vou-chamar-de-Kreutzer fizera com as sonatas para violino, alguns anos antes. Assim como a não-Kreutzer, composta na mesma tonalidade de Lá maior, a Op. 69 também começa, num gesto sem precedentes em seu gênero, com um solo do instrumento de cordas. A atmosfera, claro, é muito diferente: não há aqui os ferozes voos concertísticos da obra para violino, e a escrita é muito mais econômica, inclusive de comparada às duas sonatas para violoncelo anteriores, aquelas do Op. 5. Os dois instrumentos colaboram, comentam-se e sublinham-se até o irresistível finale, com sua expressiva coda e resoluta conclusão.

A dupla Wispelwey/Lazić, de já tão emblemática atuação nas sonatas Op. 5, sai-se aqui ainda melhor. É fenomenal o grau de precisão que eles conseguem em sua colaboração na intrincada, e falsamente descontraída, Op. 69, e o tom na visionária dupla do Op. 102 me soou perfeito às demandas do Beethoven tardio. Reclamo, tão só, da escolha por encerrar o disco com as bonitinhas e pouco estimulantes variações de juventude sobre uma ária d’A Flauta Mágica, que aqui soam anticlimáticas. Sugiro que comecem por elas, prossigam com as Op. 102 e concluam com a eudaimônica Op. 69 – e sejam felizes.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata em Lá maior para violoncelo e piano, Op. 69
Composta em 1807
Publicada em 1809
Dedicada ao conde Ignaz von Gleichenstein

1 – Allegro ma non tanto
2 – Scherzo. Allegro molto
3 – Adagio cantabile – attacca:
4 – Allegro vivace

Duas sonatas para violoncelo e piano, Op. 102
Compostas em 1815
Publicadas em 1817
Dedicada à condessa Anna Maria von Erdődy

No. 1 em Dó maior

5 – Andante
6 – Allegro vivace
7 – Adagio – Tempo d’andante
8 – Allegro vivace

No. 2 em Ré maior

9 – Allegro con brio
10 – Adagio con molto sentimento d’affetto – attacca:
11 – Allegro – Allegro fugato

Sete variações em Mi bemol maior sobre a ária “Bei Männern, welche Liebe fühlen”, de “Die Zauberflöte” de Mozart, para violoncelo e piano, WoO 46
Compostas em 1801
Publicadas em 1802
Dedicadas ao conde von Browne

12 – Thema: Andante
13 – Variation I
14 – Variation II
15 – Variation III
16 – Variation IV
17 – Variation V
18 – Variation VI
19 – Variation VII

Pieter Wispelwey, violoncelo
Dejan Lazić, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Beethoven (1770-1827): 3 Sonatas para Piano ∞ Kotaro Fukuma #BTHVN250 ֍

Beethoven (1770-1827): 3 Sonatas para Piano ∞ Kotaro Fukuma   #BTHVN250  ֍

BTHVN

Sonatas para piano

‘Tempestade’ \ ‘à Thérèse’ \ No. 32, Op. 111

Kotaro Fukuma, piano

 

Por mais gravações de sonatas para piano de Beethoven que eu tenha ouvido, sempre que vejo um disco novo minha curiosidade dispara. Não foi diferente com o disco desta postagem. O que realmente foi diferente é que gostei muito. Assim, tratando-se de um disco recém lançado no mercado, decidi oferece-lo aos nossos assíduos leitores ou seguidores. Eu sei, sempre penso nos senhores como ‘leitores’, mesmo que muito de vocês (possivelmente) não deem a mínima para as mal traçadas que aqui deixamos.

Voltando ao disco da postagem, já o tenho ouvido por alguns dias, e várias vezes, em alguns destes alguns dias. Usando assim o critério de persistência na vitrola, ofereço-o ao julgamento de vocês.

Gostei da escolha do repertório – três sonatas de períodos diferentes, com a Sonata ‘à Thérèse’ funcionando um pouco como um intermezzo entre a Tempestade, que inicia o disco, e a lindíssima última sonata composta pelo grande Ludovico.

Kotaro Fukuma tem todas as credenciais para um grande pianista. Nascido em Tóquio, estudou no Conservatório de Paris, onde ganhou o Primeiro Prêmio de Piano em 2005. Seguiu ganhando muitos prêmios e construindo uma sólida carreira de concertista. Uma de suas características é o forte interesse por música contemporânea. Já estreou obras de compositores como Takemitsu e Rautavaara, por exemplo.

 

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano No. 17 em ré menor, Op. 31, 2 – ‘Tempestade’

  1. Largo – Allegro
  2. Adagio
  3. Allegretto

Sonata para Piano No. 24 em fá sustenido maior, Op. 78 – ‘à Thérèse’

  1. Adagio cantabile – Allegro ma non tropo
  2. Allegro vivace

Sonata para Piano No. 32 em dó menor, Op. 111

  1. Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
  2. Adagio molto semplice e cantabile

Kotaro Fukuma, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 165 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 140 MB

Essa foi a cara que o Fukuma fez quando viu a lista de pedidos encaminhados ao SAC do PQP Bach Coop.

Uma palhinha:

Aproveite!

René Denon

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67 – Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral” – transcrições para piano de Franz Liszt (1811-1886) – Gould

Acho esta a melhor de todas as notáveis gravações – fosse pela qualidade, fosse pelas idiossincrasias – que Glenn Gould fez das obras de Beethoven. Como é Gould um de meus intérpretes favoritos, e Ludwig me é um amor de vida toda, dizer isso não tem pouco peso para mim. De fato, acho a gravação da transcrição de Liszt para a Quinta uma das melhores coisas que Gould fez na vida – tão boa que ela me soa como uma grande sonata do renano, quase sem que se perceba qualquer toque do magiar.

Gould, claro, detestava Liszt com todas as forças, tanto pelo extremo romantismo e virtuosismo vazio de grande parte de sua obra, quanto principalmente por ele ter sido o epítomo do virtuose-concertista a prestidigitar o teclado e entrar em grandes embates entre solista e orquestra, o que Gould rechaçava como um “esporte sangrento”. Ainda que tivesse as mesmas restrições quanto aos grandes nomes do romantismo pianístico, como Chopin e Schumann, soube abrir-lhes exceções: gravou uma ótima, ainda que sui generis, terceira sonata do polonês e tocou a música de câmara do saxão em vários festivais. Liszt, por sua vez, afora duas peças – uma tocada num recital nos tempos de conservatório, e outra que estudou por imposição de seu professor, o chileno Alberto García Guerrero -, foi solenemente ignorado.

Isso tudo torna ainda mais notória esta gravação, que foi a primeira a ser feita de qualquer das transcrições de Liszt para as sinfonias de Beethoven. Gould, sempre crítico, achava enfadonhas as soluções pianísticas propostas para a transcrição (“se houver um rufar de tímpanos por dez compassos, Liszt vai lá é coloca um tremolo em oitavas no baixo por dez compassos!”). Por outro lado, a maneira reverente com que Liszt trouxe as obras do grande mestre para seu instrumento protegeu-as dos muitos floreios e firulas que espocam de seus demais arranjos, o que, talvez, tenha ajudado Gould a vencer seu ranço com o trabalho do húngaro e até cogitar a gravação do ciclo completo de suas transcrições de Beethoven.

Como já mencionei, a Quinta sob Gould soa eletrizante, cheia de inflexões e detalhes que nunca tinha percebido na versão orquestral. Ele já abandonara os palcos havia três anos, e sua dedicação obsessiva ao estúdio levou-o a superpor gravações para conseguir, em alguns trechos do finale, o efeito que desejava (“Liszt é adepto do ‘não-importa-o-quão-precário-isto-soe-mas-você-tem-que-agradecer-por-estar-ouvindo-a-obra-original-nota-a-nota’, e eu não concordo com essa abordagem”). Recorreu ao mesmo expediente várias outras vezes em sua carreira (como na gravação da transcrição de Liszt para a abertura dos “Mestres Cantores de Nürnberg”, de Wagner) e não tinha o menor problema de admiti-lo: estava acostumado a fazer picadinho de seus takes e colar os retalhos de maneira que as interpretações ficassem exatamente como queria, e cismava que a assombrosa técnica de oitavas de Vladimir Horowitz, a quem muito admirava, também fosse fruto dum truque desses.

As sessões de gravação da Quinta em New York permitiram também a gravação do primeiro movimento da “Pastoral”, incluso no primeiro disco. Esta gravação permaneceu incompleta, e Gould só voltou à “Pastoral” no ano seguinte, para uma transmissão radiofônica no seu Canadá natal. Além da notória diferença de andamentos – o primeiro movimento é quase três minutos mais longo na versão canadense -, ele parece simplesmente querer saborear cada nota da sinfonia, destacando suas vozes com a clareza que lhe era peculiar, o que acaba muitas vezes fazendo-a perder elã. Embora sempre fique a imaginar como seria a gravação nova-iorquina completa, sua contraparte canadense, tão extática quanto estática, também me revelou detalhes que não percebera no original. Como sói acontecer com quase tudo que Gould fez, vale a pena conhecer – nem que seja para odiar por toda a vida depois.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Transcrições para piano de Franz LISZT (1811-1886) (S. 464)

Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67

1 – Allegro con brio
2 – Andante con moto
3 – Scherzo. Allegro
4 – Allegro

Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”

5 – Allegro ma non troppo – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande (“Despertar de sentimentos alegres com a chegada ao campo”)

Gravado no estúdio da CBS em New York City (1967)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”

1 – Allegro ma non troppo – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande (“Despertar de sentimentos alegres com a chegada ao campo”)
2 – Andante molto mosso – Szene am Bach (“Cena à beira de um regato”)
3 – Allegro – Lustiges Zusammensein der Landleute (“Alegre reunião de camponeses”)
4 – Allegro – Gewitter, Sturm  (“Trovões, tempestade”)
5 – Allegretto – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm (“Canção de pastores. Sentimentos alegres e gratos, após a tempestade”)

Gravado no estúdio da Canadian Broadcasting Corporation (CBC) para transmissão radiofônica (1968)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Glenn Gould, piano

Trecho dum documentário da CBC sobre Gould, em que ele toca trechos da transcrição da “Pastoral”, sentado em sua clássica e baixíssima cadeira de estimação, feita por seu pai, num teatro bizarramente vazio – como as cenas em que a câmera corre por cadeiras vazias fazem questão de mostrar. Mais tarde, ele fala sobre sua vida (em termos, pois a dublagem em alemão se sobrepõe à voz de Gould) e cantarola trechos da “Pastoral” enquanto caminha pela Natureza.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral” – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Goodman – Haitink – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand

A “Pastoral” nunca me conquistou durante meus tempos de guri. Preferia ouvir as sinfonias ímpares, as obras de grandes gestos: o portento da “Eroica”, a Quinta, ou a “apoteose da dança” – nas palavras de Wagner – da Sétima. Achava a “Pastoral” engraçadinha e um pouco enfadonha. Talvez a tormenta de meus tempos espinhudos me soprasse em direção de mais fortes e fortíssimos e de vivaces e vivacíssimos.  Tampouco as interpretações que ouvia contribuíam para melhorar o quadro. Ouvia os jurássicos, e os então novos, e nada me convencia. Detestava em especial a versão de Wilhelm Furtwängler (aqui inclusa), que me soava incomparavelmente desconexa e sem pulso. Acho que era isso: os regentes não conseguiam achar um pulso que servisse para a “Pastoral”. Seria ela um calcanhar de Aquiles dos grandes maestros? Foi o que pensei, até encontrar a interpretação de Gardiner (também incluída nessa postagem) que finalmente a revelou para mim. Desde então eu a revisito com frequência, inclusive as gravações jurássicas, e passei até a ouvir com mais gosto aquela do Furtwängler, embora ela ainda não me desça bem.

A “Pastoral” cresceu em meu conceito, também, quando fui sobre ela aprender. Descobri que era a gêmea bivitelina da Quinta: compostas paralelamente numa mesma e prolongada gestação, com os mesmos dedicatários, estreadas no mesmo dia e em ordem invertida (a “Pastoral” primeiro, o que a fez ser considerada a “quinta” até a publicação de ambas, no ano seguinte), e, ademais, compartilhando o mesmo recurso de unir os dois últimos movimentos e de fazer flautim e trombones aguardarem pacientemente para irromperem, com grande efeito, no quarto movimento. Entre as tantas obras de Beethoven a levarem apelidos, ela carrega a distinção de ser uma das poucas a ganharem-no do próprio compositor, que a batizou Pastoral-Sinfonie oder Erinnerungen an das Landleben (“Sinfonia Pastoral ou Lembranças da Vida no Campo”). Composta em Fá maior – a tonalidade-clichê para evocações pastorais -, ela foi uma das primeiras composições com conteúdo assumidamente programático, e certamente a primeira sinfonia de um grande compositor com tal conteúdo. O próprio Ludwig desdenhava a música descritiva, e chegou a mencionar com pesar em sua correspondência as passagens em que o grande Haydn, em seus oratórios, imitava animais e fenômenos da Natureza. Não obstante, incluiu em sua “Pastoral” uma vívida evocação duma tempestade e, de forma ainda mais notável, o canto de três pássaros: o rouxinol (na flauta), a codorniz (oboé) e o cuco (clarinetes), todos óbvios na “Cena no regato” e com seus nomes indicados na partitura.

Beethoven provavelmente se sentia bastante ambivalente em colocar esses elementos em música, pois a partitura autógrafa e os rascunhos são repletos de anotações e lembretes para não perder o prumo: “os ouvintes devem conseguir descobrir as situações”, “Sinfonia caracteristica – memórias da vida no campo”, “Sinfonia pastorella – qualquer um que tenha ideia de como é vida no campo deve deduzir as intenções do compositor sem muitos títulos”, “mesmo sem os títulos o todo será reconhecido mais como uma evocação de sentimentos do que pintura com sons” e, talvez a mais importante de todas, “toda pintura em música instrumental está perdida se é por demais forçada”. De qualquer forma, Beethoven, que foi por toda vida um urbanita, amava a vida no campo. Fazia longas caminhadas – sempre com seus cadernos de anotações – fora dos muros da cidade e passava todos verões que podia nos sossegados subúrbios de Viena – num dos quais, Heiligenstadt, viveu o maior desespero de sua vida. A ocupação da Áustria pelas tropas napoleônicas impediu-o de fazer seus retiros, de modo que a composição da “Pastoral” certamente foi estimulada por fortes e genuínos sentimentos de nostalgia.

A inspiração funcionou, e os rascunhos mostram uma gestação muito menos conturbada que a da Quinta – até a medonha caligrafia do compositor parece mais legível. Pelo que deduzimos de sua correspondência, ele considerava a “Pastoral” um ferrolho do atribulado processo de composição da sinfonia-gêmea, o que é curioso se considerarmos que ambas foram lançadas ao público na mesma ocasião, praticamente no atacado, junto com a Fantasia Coral e o quarto concerto para piano. O mal ensaiado concerto de estreia certamente não contribuiu para qualquer das obras ser bem recebida. A frieza da crítica foi tão grande quanto a do teatro naquele dezembro gelado em Viena, a que se seguiu uma polêmica sobre se era apropriado que tais “evocações de sentimentos” fossem incorporadas à música de concerto. A discussão, hoje, parece superada, depois de tantas Sinfonias Fantásticas e Aberturas 1812, e do próprio Beethoven voltando à carga, anos mais tarde, com a ruidosa “Batalha de Wellington”, composta para ganhar dinheiro e que algum dia ouviremos aqui. A “Pastoral”, hoje, soa-me como uma obra-prima do mesmo nível de sua gêmea bivitelina, bem-sucedida tanto em sua capacidade de evocação quanto em expressividade. À sua já significativa discografia aqui no PQP Bach, que recebeu há alguns meses a importante contribuição do colega Chucruten, num guia de gravações comparadas cuja leitura fortemente recomendo, somam-se agora estas doze outras versões. Espero que algumas delas lhes agradem – e, se me permitem a sugestão, comecem por Chailly, Jansons ou Gardiner, que não irão se arrepender.

Sinfonia no. 6 em Fá maior, Op. 68, “Pastoral”
Composta entre 1802-1808
Publicada em 1809
Dedicada ao príncipe Lobkowitz e ao conde Andreas Razumovsky

1 – Allegro ma non troppo – Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande (“Despertar de sentimentos alegres com a chegada ao campo”)
2 – Andante molto mosso – Szene am Bach (“Cena à beira de um regato”)
3 – Allegro – Lustiges Zusammensein der Landleute (“Alegre reunião de camponeses”)
4 – Allegro – Gewitter, Sturm  (“Trovões, tempestade”)
5 – Allegretto – Hirtengesang. Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm (“Canção de pastores. Sentimentos alegres e gratos, após a tempestade”)

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

The Hanover Band
Roy Goodman
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Ludovico do Pastoreio

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonias Nº 5 e 7 (Manze) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonias Nº 5 e 7 (Manze) #BTHVN250

Um belo CD cujo repertório nos faz lembrar Kleiber, não? Aqui temos um Andrew Manze em plena forma e com bala suficiente para enfrentar bem este repertório lindo e batidíssimo. Após um premiado ciclo de gravações das sinfonias de Mendelssohn, a NDR Radiophilharmonie e Manze chegam a Beethoven. Enquanto a 5ª é a sinfonia mais famosa da história da música, a 7ª é uma das peças mais rítmicas da música do século XIX. Uma “apoteose da dança”, para citar Richard Wagner. A Sinfonia Nº 5 em Dó menor Op. 67, foi escrita entre 1804 e 1808. Trata-se da primeira sinfonia do autor composta em tonalidade menor, o que só voltaria a acontecer em 1824 com a Sinfonia Nº 9, em Ré menor op. 125. Os quatro movimentos caracterizam-se pelas alternâncias: o primeiro movimento tem grande tensão, o segundo é solene, trata-se de uma marcha fúnebre que se eleva em sua emoção e beleza; o terceiro andamento é um grito e o quarto movimento expressa triunfo e força. Já a Sinfonia Nº 7 talvez seja a minha preferida de Beethoven. Várias danças incrustadas por um emocionante Allegretto.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonias Nº 5 e 7

Beethoven: Symphony No. 5 in C Minor, Op. 67
1) I. Allegro con brio 7.34
2) II. Andante con moto 9.53
3) III. Scherzo. Allegro 5.07
4) IV. Allegro 11.16

Beethoven: Symphony No. 7 in A Major, Op. 92
5) I. Poco sostenuto – Vivace 14.03
6) II. Allegretto 8.41
7) III. Presto – Assai meno presto 9.01
8) IV. Allegro con brio 8:21

NDR Radiophilharmonie
Andrew Manze

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Vamo lá, meu povo!

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67 – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Haitink – Huggett – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand


Desde que comecei a planejar as postagens desta série, uma de minhas maiores preocupações era o que lhes escrever sobre a Quinta. Universalmente conhecida e aclamada, tantas vezes citada, parodiada e vilipendiada, figurinha fácil de qualquer discografia, programa de concerto e repertório, ela jamais deixou de calar fundo cá comigo. Ademais, foi a obra que virtualmente acendeu em mim a paixão pela Música, e lhe sou tão grato por isso que temia que qualquer tributo que lhe prestasse não lhe fosse chegar às solas do quanto lhe devo.

Nunca, nem nas interpretações menos inspiradas, ela deixou de me impressionar. Sempre tento ouvi-la como se fosse a primeira vez. Há, claro, aquelas interpretações que o logram sem que eu despenda qualquer esforço, como a legendária leitura de Carlos Kleiber, que me avassalou como aquela de Klemperer fez com meus ouvidos infantis. Há leituras novas, novíssimas, tão frescas que parecem uma nova estreia, entre as quais incluo aquela magistral de Andris Nelsons, com a qual o patrão PQP Bach inaugurou – e praticamente encerrou – o Ano Beethoven por aqui. Outras interpretações evocam ineditismo pela incrível estranheza – é o caso daquela de Boulez, que algum dia, talvez, trarei aqui.

Sempre tento nela encontrar frescor, e acho que sempre consigo. Quando volto a mim, já se passaram uma vez mais aqueles trinta e tantos minutos, e aquele portentoso Dó maior encerra a Quinta como se nada pudesse se seguir a ele: puro Beethoven.

Nesses devaneios, fico muitas vezes a imaginar como os contemporâneos de Ludwig a receberam – talvez não aqueles que quase congelaram no mastodôntico e mal ensaiado concerto em que ela estreou, mas os que a conheceram logo depois, com interpretações à altura de sua grandeza. Aí, me lembrei do então imensamente influente e multiúso E. T. A. Hoffmann.

Ecce homo

Em ultrarromânticos e coloridos ensaios, Hoffmann espalhava ao mundo suas impressões sobre tudo e todos, inclusive as obras alheias. Na incapacidade de mais lhes dizer sobre essa obra-prima que me cala a capacidade de sobre ela discorrer, resolvi traduzir o famoso artigo de Hoffmann sobre a música instrumental de Beethoven, do qual ora lhes apresento a primeira parte. Não esperem dessa minha tradução bastante livre e confessamente incompetente o brilho bombástico do original em alemão – apenas coloquem-se no lugar de Hoffmann e imaginem um mundo em que a Quinta era uma retumbante novidade.

A MÚSICA INSTRUMENTAL DE BEETHOVEN
Ernst Theodor Amadeus Hoffmann 

Quando falamos da Música como uma arte independente, não nos deveríamos restringir à música instrumental, que, desprezando todo auxílio, toda mescla com outra arte (a arte da Poesia), dá pura expressão à natureza específica da Música, reconhecível sozinha nesta forma? É a mais romântica de todas as artes – quase se pode dizer, a única genuinamente romântica -, pois seu único tema é o infinito. A lira de Orfeu abriu os portais de Orco – a Música revela ao homem um reino desconhecido, um mundo que não tem nada em comum com o mundo sensual externo que o cerca, um mundo em que ele deixa para trás todos os sentimentos definidos para se render a um anseio  inexprimível. 
 
Vocês já se deram conta dessa natureza específica, vocês, miseráveis compositores de música instrumental, vocês que se esforçaram laboriosamente para representar emoções definidas, até eventos definidos? Como já lhes ocorreu tratar, à moda das artes plásticas, a arte diametralmente oposta ao plástico? Seus amanheceres, suas tempestades, suas “Batailles des Trois Empereurs” e os demais, afinal, eram certamente aberrações bastante risíveis, e foram punidos como mereciam, por terem sido totalmente esquecidos. 
 
No canto, em que a Poesia, por meio das palavras, sugere emoções definidas, o poder mágico da Música atua como o maravilhoso elixir dos sábios, algumas gotas do qual tornam qualquer bebida mais saborosa e mais nobre. Toda paixão – amor, ódio, raiva, desespero, e assim por diante, assim como a ópera nos dá – é coberta pela Música com o brilho púrpura do romantismo, e mesmo o que passamos na vida nos guia para fora da vida no reino do infinito. 
 
Tão forte quanto isso é a magia da Música, e, com cada vez mais força, ela teve que quebrar cada cadeia que a vinculava a outra arte. 
 
O fato de que compositores talentosos elevaram a música instrumental ao seu estado atual é devido, e disso podemos ter certeza, menos aos meios de expressão mais fáceis de se lidar (maior perfeição dos instrumentos, maior virtuosismo dos executantes) do que ao mais profundo, mais íntimo reconhecimento da natureza específica da Música. 
 
Mozart e Haydn, os criadores de nossa atual música instrumental, foram os primeiros a nos mostrar a Arte em toda a sua glória; o homem que então olhou para ele com todo o seu amor e penetrou em seu ser mais profundo é – Beethoven! As composições instrumentais desses três mestres respiram um espírito romântico semelhante – isso se deve à sua íntima e similar compreensão da natureza específica da Arte; no caráter de suas composições, no entanto, há uma diferença acentuada. 
 
Na escrita musical de Haydn, prevalece a expressão de uma personalidade serena e infantil. Suas sinfonias nos levam a vastos bosques verdes, a uma jovial, alegremente colorida trupe de felizes mortais. Jovens e donzelas passam flutuando numa dança circular; crianças rindo, espiando por trás das árvores, por trás das roseiras, jogam-se flores a brincar. Uma vida de amor, de felicidade antes do outono, de eterna juventude; sem tristeza, sem sofrimento, apenas uma doce melancolia que anseia pelo objeto amado que flutua ao longe, no brilho do pôr do sol, e que não se aproxima e nem desaparece – nem a noite cai enquanto está lá, pois é ele próprio o ocaso em que a colina e o vale rebrilham.  

Mozart nos leva ao coração do reino espiritual. O medo nos leva a seu alcance, mas sem nos torturar, e de tal forma que é mais uma indicação do infinito. Amor e melancolia nos chamam com adoráveis vozes espirituais, a noite chega com um brilho púrpura brilhante, e com um anseio inexprimível seguimos aquelas figuras que, acenando-nos familiarmente de suas carreiras, voam pelas nuvens em eternas danças das esferas.  

 Assim, a música instrumental de Beethoven nos abre também o reino do monstruoso e do incomensurável. Clarões de luz ardente fulguram através da noite profunda deste reino, e nos damos conta de sombras gigantes que surgem em vaivém, guiando-nos para recônditos cada vez mais estreitos até que eles nos destruam – mas não a dor do anseio sem fim em que cada alegria que decolou com uma canção jubilosa afunda e é engolida, e é somente nessa dor, que consome amor, esperança e felicidade, mas não os destrói, que procura estourar nosso seio com uma consonância de muitas vozes, de todas as paixões que vivemos, encantados espectadores do sobrenatural! 

O gosto romântico é raro, o talento romântico, ainda mais raro, e isso é sem dúvida o motivo pelo qual existem tão poucos que logram tanger a lira cujo som revela o maravilhoso reino do romântico.   

Haydn compreende romanticamente o que é humano na vida humana; ele é mais comensurável, mais compreensível para a maioria. 

Mozart pede antes o sobre-humano, o elemento maravilhoso que reside no ser interior. 

A música de Beethoven põe em movimento a alavanca do medo, do temor, do horror, do sofrimento, e desperta exatamente esse anseio infinito que é a essência do romantismo. Ele é, assim, um compositor completamente romântico, e não é essa talvez a razão pela qual ele tem menos sucesso com a música vocal, que exclui o caráter de anseio indefinido, meramente representando emoções definidas pelas palavras como emoções experimentadas no reino do infinito?

 A ralé musical é oprimida pelo poderoso gênio de Beethoven; procura em vão se opor a ele. Mas doutos críticos, olhando-os com um ar superior, asseguram-nos que podemos tomar por certa a palavra deles, como homens de grande intelecto e profunda compreensão, de que, embora dificilmente se possa negar que o excelente Beethoven tenha uma imaginação muito fértil e viva, ele não sabe como contê-la! Assim, dizem, ele não se dá mais o trabalho de selecionar ou moldar suas ideias, mas, seguindo o chamado método daimônico, ele exprime tudo exatamente como sua imaginação ardentemente ativa lhe dita. No entanto, como ficaria se é tão só a sua tíbia observação que a profunda continuidade interior de toda composição de Beethoven escapa? Se é sua culpa, somente, que você não entende a linguagem do mestre como a entendem os iniciados e que os portais do santuário mais profundo permanecem fechados para você? 
 
A verdade é que, no que diz respeito ao domínio de si mesmo, Beethoven está em pé de igualdade com Haydn e Mozart e que, separando seu ego do reino interno da harmonia, ele o governa como um monarca absoluto. Em Shakespeare, nossos cavaleiros da régua estética muitas vezes lamentaram a absoluta falta de unidade e continuidade interiores, embora para aqueles que olham mais profundamente surja, saindo de um único broto, uma linda árvore, com folhas, flores e frutos; assim, com Beethoven, é somente após um escrutínio minucioso de sua música instrumental que se revela o elevado autocontrole, inseparável do verdadeiro gênio e nutrido pelo estudo da Arte.

Haveria alguma obra de Beethoven a confirmar tudo isso em mais alto grau do que sua sinfonia magnífica, indescritivelmente profunda, em Dó menor? Como essa maravilhosa composição, em um clímax que se eleva sem parar, arrasta o ouvinte a um avanço imperioso para o mundo espiritual do infinito!… Sem dúvida, o todo transcorre a muitos como uma engenhosa rapsódia, mas a alma de cada ouvinte atento é seguramente mexida, profunda e intimamente, por um sentimento que não é outro senão aquele anseio portentoso e indescritível, e até o acorde final – e, com efeito, mesmo nos momentos que se seguem – ele não terá poder para sair daquele maravilhoso reino espiritual, em que a dor e a alegria o envolvem na forma de som. A estrutura interna dos movimentos, sua execução, sua instrumentação, a maneira como eles se seguem um ao outro – tudo contribui para um único fim; acima de tudo, é a íntima inter-relação entre os temas que engendra aquela unidade que, sozinha, tem o poder de manter firmemente o ouvinte com um único humor. Às vezes, essa relação é clara para o ouvinte quando ele a ouve na conexão de dois movimentos ou a descobre no baixo fundamental que eles têm em comum; uma relação mais profunda, que não se revela dessa maneira, manifesta-se em outros momentos apenas da mente para a mente, e é precisamente essa relação que prevalece entre as seções dos dois Allegros e do Minueto e que proclama imperiosamente o autodomínio do gênio do mestre”

[Mal traduzido por Vassily Genrikhovich em junho de 2020]
 

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 5 em Dó menor, Op. 67
Composta entre 1804-8
Publicada em 1809
Dedicada ao príncipe Lobkowitz e ao conde Andreas Razumovsky

1 – Allegro con brio
2 – Andante con moto
3 – Scherzo. Allegro
4 – Allegro

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

The Hanover Band
Roy Goodman
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 


E já que estou terceirizando tudo nessa postagem, vou deixar com o brilhante Leonard Bernstein a responsabilidade de destrinchar o célebre primeiro movimento da Quinta nesse sensacional vídeo em que ele analisa os rascunhos da obra e, discutindo as escolhas feitas por Beethoven, tenta reconstruir seu processo criativo. O vídeo está em inglês, mas quem lê no idioma tem a opção das legendas automáticas (com algumas licenças poéticas). Mas mesmo quem não entende tchongas de inglês saboreará as vinhetas musicais que ilustram a longa lapidação da obra-prima. 

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – “Ah, perfido!”, Op. 65 – Carl Maria von Weber (1786-1826) – Richard Wagner (1813-1883) – Árias – Nilsson

A bagunça no catálogo de obras de Ludwig lá na primeira década do século XIX era tamanha que ele deixou uma lacuna onde deveria estar sua composição de número 65, que só foi preenchida em 1819, quando a ária de concerto “Ah, perfido!”, composta em 1796 – contemporânea, portanto, das sonatas para violoncelo e piano do Op. 5 -, ocupou tardiamente seu lugar no rol da produção beethoveniana.

A obra compõe-se de um recitativo e duma ária em italiano, para soprano e orquestra, provavelmente instigadas pelos estudos de prosódia italiana que Ludwig fez sob Antonio Salieri, por sua vez alimentados pelo sonho de fazer fortuna ao escrever óperas nesse idioma. O título “Ah, perfido!” refere-se apenas ao recitativo de abertura, que compõe menos de um terço do total da composição, com texto da lavra do arroz de festa dos libretistas do século XVIII, o senhor Pietro Antonio Domenico Trapassi, dito Metastasio. O restante é dedicado a uma ária, de cujo texto o autor não se conhece:”Per pietà, non dirmi addio” (“Por piedade, não me diga adeus”), um desesperado apelo ante um abandono iminente que contrasta comicamente – numa onda à “entre tapas e beijos” – com a saraivada de impropérios do recitativo, que vão enfim evanescendo até a irrupção do franco arrependimento na elaborada ária.

“Ah, perfido!” foi estreada em Leipzig no mesmo ano de sua composição (1796) por Josepha Duschek (Dušková), uma cantora de Praga que, assim como seu esposo František Xaver Dušek, foi amiga de Mozart, de quem ganhou algumas árias de concerto. Não há outros registros de performances públicas da obra até 1808, quando “Ah, perfido!” integrou o programa do infame, mastodôntico concerto em que Beethoven estreou as sinfonias nos. 5 & 6, o quarto concerto para piano e sua fantasia coral num teatro em temperatura polar e com uma recepção ainda mais gélida.

Desde então, o recitativo e a ária são infrequentemente apresentad0s e gravados. Uma de suas maiores divulgadoras foi a soprano sueca Birgit Nilsson (1918-2005), que a tinha como xodó, um veículo bem apropriado para demonstrar a tremenda potência e clareza de sua inconfundível voz. Entre as várias gravações que fez de “Ah, perfido!”, esta é a minha preferida, com a orquestra do Royal Opera House do Covent Garden em Londres. Espero que deem ao pessoal da Decca algum desconto por oferecerem uma ária de concerto em italiano junto a uma coletânea de ópera alemã. Da mesma forma, dei-lhes outra ajudinha reorganizando as faixas, pois me parecia fazer mais sentido abrir com os dois números de Beethoven – além de “Ah, perfido!”, uma ária de “Fidelio” cuja introdução muito lembra a obra mais antiga – do que encerrar com eles, depois de tanto Wagner e algum Weber. Tampouco entendi os critérios de escolha do repertório, mas acho que os fãs de Nilsson apreciarão essa oportunidade, assim como eu, para relembrar o poder e expressividade de seu incrível aparato vocal.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Ah, perfido!“, recitativo e ária para soprano e orquestra, Op. 65
Compostos em 1796
Publicados em 1805
Dedicados a condessa Josephine von Clary-Aldringen

1 – Recitativo: “Ah, perfido!” (Dó maior) – Ária: “Per pietà, non dirmi addio” (Mi bemol maior)

“Fidelio”, ópera em dois atos, Op. 72

2 – Ato I: “Abscheulicher! Wo eilst du hin?”

Carl Maria Friedrich Ernst von WEBER (1786-1826)

“Der Freischütz”, ópera em dois atos, J. 277

3 – Ato 2: “Leise, leise”

“Oberon”, ou The Elf King’s Oath”, ópera romântica em três atos, J.306

4 – Ato 2: “Ozean! Du Ungeheuer!”

Wilhelm Richard WAGNER (1813-1883)

“Lohengrin”, ópera em três atos, WWV 75

5 – Ato 1: “Einsam in trüben Tagen”


“Tannhäuser und der Sängerkrieg auf dem Wartburg”, ópera em três atos, WWV 70

6 – Ato 2: “Dich, teure Halle, grüß ich wieder”


“Die Walküre”, ópera em três atos, WWV 86B

7 – Ato 1: “Du bist der Lenz”
8 – Ato 1: “Der Männer Sippe saß hier im Saal”

Birgit Nilsson, soprano
Orchestra of the Royal Opera House, Covent Garden
Sir Edward Downes, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

“Ah, perfido!” – versão brasileira

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios Nº 5 e 6, Op. 70 (Suk Trio)

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios Nº 5 e 6, Op. 70 (Suk Trio)

Um bonito disco vindo da época socialista da Tchecoslováquia. Ele vem da grande e lendária gravadora Supraphon. O mau gosto das roupas dos caras na capa não pode ser confundida com a extrema sofisticação com que tocam. O Suk Trio é de primeira linha e isso pode ser notado logo nos primeiros compassos.

O Op. 70 é um conjunto de dois trios para piano de Ludwig van Beethoven. Ambos foram compostos durante a estada de Beethoven na propriedade da condessa Marie von Erdödy e ambos são dedicados a ela por sua hospitalidade. Eles foram publicados em 1809. O primeiro, em ré maior, conhecido como Fantasma (‘Ghost’), é um de seus trabalhos mais conhecidos no gênero (rivaliza apenas com o Trio Arquiduque). Ele apresenta temas encontrados no segundo movimento da Sinfonia nº 2 de Beethoven. Por causa de seu movimento lento estranhamente pontuado e assustador, foi apelidado de ‘Ghost’. O nome permanece desde então. A música fantasmagórica pode ter suas raízes nos esboços para uma ópera de Macbeth que Beethoven estava matutando na época”. Segundo Lewis Lockwood, o aluno de Beethoven, Carl Czerny, escreveu em 1842 que o movimento lento o fez lembrar da cena fantasma na abertura de Hamlet, e essa foi a origem do apelido. James Keller também atribui o apelido a Czerny, acrescentando: “Você pode descartar como errônea a alegação frequentemente encontrada de que esse movimento do Ghost Trio é uma reformulação da música que Beethoven originalmente esboçou como Coro das Bruxas para seu Macbeth. Essas peças são representativas do período estilístico “Médio” de Beethoven, que passou de aproximadamente 1803 a 1812 e incluiu muitas de suas obras mais famosas. Beethoven escreveu os dois trios de piano ao mesmo tempo, no mesmo local onde havia finalizado sua Sinfonia Nº 5 no verão anterior. Ele escreveu os dois trios imediatamente após escrever a Sinfonia Pastoral, Nº 6. Esse foi um período de incertezas na vida de Beethoven, em particular porque ele não tinha uma fonte confiável de renda. Embora esses dois trios às vezes sejam numerados como “No. 5” e “No. 6”, a numeração dos doze trios para piano de Beethoven não é padronizada e, em outras fontes, os dois Op. 70 trios podem ser mostrados com números diferentes.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios Nº 5 e 6, Op. 70 (Suk Trio)

Trio N°.5 in D Major “Geister” Op.70, N°.1
1 1. Allegro Vivace e Con Brio 6:37
2 2. Largo Assai ed Espressivo 8:37
3 3. Presto 7:56

Trio N°.6 in E Flat Major Op.70, N°.2
4 1. Poco Sostenuto – Allegro ma Non Troppo 10:03
5 2. Allegretto 5:08
6 3. Allegretto ma non Troppo 7:04
7 4. Finale: Allegro 7:53

Cello – Josef Chuchro
Ensemble – Suk Trio
Piano – Jan Panenka
Violin – Josef Suk

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Ai, meu Deus! Um fantasma invade a sede de Bonn do PQP Bach!

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonata para violoncelo e piano, Op. 64 – Obras para bandolim e piano transcritas para violoncelo e piano – Berger – Gallardo

Depois do variado e um tanto apócrifo cozido servido ontem, trago-lhes hoje algo bem melhor. Não que seja algo 100% beethoveniano, pois, como já mencionamos, nessa fase em que seu catálogo atingira a sexagésima obra o afã de ganhar dinheiro obrigou o compositor a apelar para a reciclagem criativa de suas obras. Nem que esse afã, no entanto, tenha resultado em má música: essa sonata para violoncelo e piano do Op. 64, mais que um mero arranjo do trio para cordas, Op. 3, é uma recriação muito hábil duma das mais bem acabadas composições do jovem Beethoven. Embora os musicólogos divirjam sobre a autoria da adaptação, o mais provável é que ela seja da lavra de Franz Xaver Kleinheinz (1765-1832) – o mesmo arranjador responsável pela transformação de outra obra para trio de cordas, a serenata Op. 8, no noturno para viola e piano. Op. 42 – e que tenha sido supervisionada de perto e aprovada por Beethoven. O resultado é uma incomum sonata em seis movimentos, refletindo transparentemente o mozartiano divertimento que lhe serviu de origem, em que o violoncelo, grosso modo, assume as partes da viola do original, enquanto cabem ao piano aquelas do violino e do violoncelo. Para os cellistas que lamentam o fato do grande Wolfgang tanto ter desprezado as capacidades de seu belo instrumento como solista, esta transcrição talvez dê algum gosto do que seria uma sonata para violoncelo dum Mozart de quase trinta anos.

O duo Gallardo e Berger – o mesmo violoncelista que participou de minha estreia neste blog, cinco anos atrás – mostra um ótimo entrosamento neste recital muito bem gravado, que é completado por transcrições do próprio Julius Berger para as bagatelas que Ludwig escreveu para o bandolim, e que soam maravilhosamente idiomáticas no violoncelo. Apesar dos eventuais problemas de articulação, acho que a musicalidade de Berger – xodó de Antonio Janigro e professor de muita projeção em sua Alemanha natal – consegue fazê-lo convencer muito, e nessas miniaturas mediterrâneas, obras tão improváveis para um renano que só viu o mar uma vez, Berger faz-nos até acreditar que Beethoven sempre as pretendeu para o violoncelo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para violoncelo e piano em Mi bemol maior, Op. 64
Arranjo de Franz Xaver Kleinheinz do trio para violino, viola e violoncelo, Op. 3 (1796)
Publicado em 1807

1 – Allegro con brio
2 – Andante
3 – Menuetto: Allegretto
4 – Adagio
5 – Menuetto: Moderato
6 – Finale: Allegro

Quatro peças para bandolim e piano, WoO 43-44 (1796)
Transcrição de Julius Berger para violoncelo e piano

Sonatina em Dó menor, WoO 43a
7 – Adagio

Adágio em Mi bemol maior, WoO 43b
8 – Adagio (ma non troppo)

Sonatina em Dó maior, WoO 44a
9 – Allegro

Andante com variações em Ré maior, WoO 44b
10 – Andante

Julius Berger, violoncelo
José Gallardo, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trios para piano, violino e violoncelo, Op. 63, Hess 47 e Anh. 3 – The Beethoven Project Trio

Para quem começara tão bem, protelando a publicação de seu Opus 1 e a inauguração de seu catálogo oficial de obras até os quase vinte e cinco anos, a década seguinte foi como um caminhão (se houvesse naquela época) esmigalhando aquele pobre bicho que era a já esculhambada organização de Ludwig van Beethoven. A necessidade do vil metal, muito aumentada pelos aportes irregulares de seus patronos, em função das guerras que devoravam os povos do continente, não só o fez furungar seus baús para publicar velharias dos tempos de Bonn, como a perder muitas vezes o controle sobre a divulgação de suas obras – invariavelmente pirateadas depois da primeira edição – e da própria numeração delas em seu catálogo pessoal.

Uma dessas criaturas frankensteinianas é o trio para piano, violino e violoncelo, Op. 63, que soará familiar a alguns que nos vêm acompanhando desde o começo da série: trata-se de um arranjo do quinteto para cordas, Op. 4, que já era, por sua vez, uma adaptação do octeto para sopros, Op. 104. Há quem force uma barra enorme para tentar se convencer de que o arranjo foi feito pelo próprio Beethoven, mas a ausência de menções ao Op. 63 em suas correspondências, bem como a surpresa com que recebeu a sua publicação, apontam que foi obra de terceiros a que, no máximo, o compositor acedeu sem sequer lhe corrigir as provas. O resultado ocupa de maneira agradável uns trinta e poucos minutos, ao final dos quais a gente concorda com que a única razão de ser para mais esta guaribada na composição juvenil deve ter sido um bom dinheiro, pois a obra não diz muito a que veio, com todo um abismo a separá-lo dos trios tão bem burilados do Op. 1.

Muito da experiência agradável da audição provém da qualidade da gravação da Cedille e do bom trio de intérpretes, todos radicados em Chicago. Seu nome – The Beethoven Project Trio – atesta que eles se uniram para um projeto: tocar todos trios com piano de Ludwig em várias cidades dos Estados Unidos, o que incluiu algumas estreias norte-americanas e, até, a estreia mundial duma obra do renano. Claro que, em pleno 2010, não poderíamos esperar que viesse à tona uma grande obra – e o trio Hess 47 não é exatamente algo desconhecido, pois é um arranjo (mais um!) do primeiro movimento do trio de cordas, Op. 3. A versão aqui ouvida espelha o conteúdo da competente composição original, com um interesse adicional trazido pela parte de piano, que nesta gravação é um Fazioli de elegante som. A obra que arredonda o disco não é exatamente um pinto bem-vindo ao galinheiro beethoveniano. Embora o encarte do BPT jure de pés juntos que a obra, outrora atribuída a Mozart, foi “possivelmente” composta por Beethoven, justificando assim sua inclusão no projeto, a realidade é bem outra. O cuidadoso catálogo de Kinsky-Hahn atirou-a no apêndice (Anhang) de seu rol de obras de Beethoven, que é um limbo onde estão as composições que ninguém hoje crê a sério que tenham vindo de sua pena. Tudo indica é que ele tenha sido escrito por Beethoven, mas não O Beethoven: não por Ludwig, e sim por Karl, seu irmão do meio, que tentara a sorte na composição antes de atuar como secretário, copista e, também sem muito êxito, como representante de Ludwig nas negociações com editoras. Além da atribuição duvidosa, a obra em dois movimentos ainda está incompleta, por lhe faltarem pelo menos duas páginas do Allegro inicial. O musicólogo Robert McConnell preencheu a lacuna, o BPT completou seu disco, e os completistas beethovenianos riscaram mais uma linha de sua lista de faltantes.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio para piano, violino e violoncelo em Mi bemol maior, Hess 47

1 – Allegro con brio

Kaspar Anton Karl van BEETHOVEN (1774-1815)

Trio para piano, violino e violoncelo em Ré maior, Kinsky/Hahn Anhang 3 (1799)
Atribuído anteriormente a Ludwig van Beethoven
Completado por Robert McConnell

2 – Allegro
3 – Rondo: Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio para piano, violino e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 63 (1806)
Arranjo anônimo do quinteto para cordas, Op. 4

4 – Allegro con brio
5 – Andante
6 – Menuetto & Trio
7 – Finale: Presto

The Beethoven Project Trio:

George Lepauw, piano
Sang Mee Lee, violino
Wendy Warner, violoncelo

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Muito esperei pela oportunidade de postar esta bela imagem de Karl van Beethoven. Chegou a hora. De nada.
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Aberturas “Coriolan”, Op. 62 – “Die Geschöpfe des Prometheus, Op. 43” – “Egmont”, Op. 84 – “Die Ruinen von Athen”, Op. 113 – “Zur Namensfeier”, Op. 115 – “König Stephan”, Op. 117 – “Die Weihe des Hauses”, Op. 124 – “Fidelio” & “Leonore” I-III – Abbado

“Coriolano” é, possivelmente, a primeira abertura de concerto de que se tem registro. Ela leva o nome da peça de Shakespeare sobre a vida dum semilegendário general romano, mas que em verdade foi inspirada na obra muito menos conhecida do hoje obscuro dramaturgo austríaco Heinrich Joseph von Collin (1771–1811).

Nas duas versões da tragédia, Coriolano é exilado de sua cidade e, acolhido pelos volscos, organiza os exércitos desses antigos inimigos para atacar Roma. Às portas dela e no ponto alto do drama, a mãe e a esposa de Coriolano tentam demovê-lo da ideia, no que têm sucesso. O general, então, prefere se matar a comandar a retirada de suas tropas. Pano rápido. Fim.

A música de Beethoven é apropriadamente dramática, contrapondo um tema trágico em Dó menor a um lírico, em Mi bemol maior, representando o embate entre a sanha bélica do general e os sentimentos evocados pelas mulheres de sua vida. O retorno do tema soturno em outra tonalidade parece representar sua decisão final, e seu vagaroso apagar, claro, a sua morte. Apesar de ter usado aqui o termo “abertura”, “Coriolan” é uma peça independente: não há registro sequer da intenção de fazê-la seguir-se de outros números de música incidental, como era a praxe da época. Assim, ao escrever uma obra musical autônoma inspirada por uma outra, literária, Beethoven inaugurava um novo gênero: a abertura de concerto, pedra fundamental da tradição de música programática que, em algumas décadas, ganharia corpo com o trabalho de Berlioz, Liszt e companhia.

O excelente álbum duplo que lhes alcanço, com o infalível Claudio Abbado liderando os filarmônicos vienenses, contém a integral das aberturas de Beethoven. Aqui estão tanto as aberturas de concerto quanto as outras tantas destinadas a suas incursões na música para o palco – as quais foram abordadas, ou assim o serão, ao longo dessa nossa integral de sua obra. A  exceção de Zur Namensfeier, Op. 115, da qual passaremos ao largo e não comentaremos, porque é uma das peças mais “nhé” do compositor e, enfim, temos muito mais o que fazer.

A clareza e o vigor do registro são, claro, aqueles que sempre se pode esperar de Abbado, e as duas obras-primas da coleção – “Coriolan” e “Egmont” – são de levantar da cadeira de tão eletrizantes. Para uma leitura bastante diferente, mas igualmente empolgante, recomendo a audição comparada do álbum do conde de la Fontaine und d’Harnoncourt-Unverzagt, vulgo Nikolaus, que restaurei aqui na postagem do patrão PQP.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Die Geschöpfe des Prometheus, música para o ballet de Salvatore Viganò, Op. 43
01 – Abertura

Música incidental para “König Stephan”, de August von Kotzebue, Op. 117
02 – Abertura

Música incidental para “Die Ruinen von Athen”, de August von Kotzebue, Op. 113
03 – Abertura

Música para o Festival de Carl Meisl
04 – Abertura “Die Weihe des Hauses”, Op. 124

5 – “Zur Namensfeier”, Grande Abertura em Dó maior, Op. 115

6 – “Coriolan”, Abertura em Dó menor sobre a tragédia de Heinrich von Collin, Op. 62

Música para a tragédia “Egmont” de Johann Wolfgang von Goethe, Op.84
7 – Abertura

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Aberturas para Fidelio/Leonore, Op. 72

Abertura “Fidelio”, Op. 72b
1 – Allegro – Adagio – Presto

Abertura “Leonore I”, Op. 138
2 – Andante con moto – Allegro con brio

Abertura “Leonore II”, Op. 72
3 – Adagio – Allegro – Adagio – Presto

Abertura “Leonore III”, Op. 72a
4 – Adagio – Allegro – Presto

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Wiener Philharmoniker
Claudio Abbado, regência

 


“Coriolan” era uma das peças preferidas de Arturo Toscanini, que a gravou meia dúzia de vezes. Ei-lo doman…, er, ensaiando a orquestra no trecho central da peça, com seu tradicional estilo vigoroso e suas legendárias broncas bilíngues nos músicos…


… muito embora suas cobranças ao contrabaixistas não cheguem aos pés desse legendário esporro (posso escrever “esporro” aqui?) que deve estar doendo até no bisneto do primeiro contrabaixista dessa orquestra. Aproveitem, que não é todo dia que a gente ouve uma criatura nascida em 1867 chamando alguém de “rompicoglioni” – que, sinceramente, virou meu impropério favorito.

 


FAIXA BÔNUS : a versão de “Coriolan” para banda de rock progressivo, por nosso leitor-ouvinte Eduardo D’Elboux

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Mozart (1756-1791) & Beethoven (1770-1827): Concertos para Clarinete – Michael Collins – Russian National Orchestra – Mikhail Pletnev ֍ BTHVN250

Mozart (1756-1791) & Beethoven (1770-1827): Concertos para Clarinete – Michael Collins – Russian National Orchestra – Mikhail Pletnev ֍ BTHVN250

Mozart – Beethoven

Concertos para Clarinete

Michael Collins, clarinete

Russian National Orchestra

Mikhail Pletnev

 

Beethoven tocava clarinete?

Por volta de 2000 e seus adjacentes, uma de minhas alegrias era ‘fazer a ronda’, dar uma passada pelos sebos de CDs do centro do Rio, com uma obrigatória parada no Arlequim, que ficava no Paço Imperial, bem perto da saída das barcas vindas de Niterói. Havia um almoço com um amigo, um café e para arrematar uma passadinha na banca do Osni, para ver se havia uma nova edição da Gramophone ou da BBC Music Magazine. Bons tempos…

A edição de janeiro de 2001 da Gramophone sobreviveu aos ataques de cupins e ainda está comigo. Neste número há uma seção chamada Critics’ Choice, na qual os contribuidores da revista fazem uma lista dos discos que mais gostaram entre os que resenharam ao longo do ano de 2000 indicando entre eles o favorito. Eu adoro estas listas e as releio ainda hoje, concordando com alguns, fazendo muxoxos a outros, mas sempre me divertindo muito. Vez ou outra, estas listas me fazem correr à prateleira em busca de um CD ou outro, ou ainda um arquivo para verificar a veracidade de uma afirmação, ou somente pelo prazer de fazer isto.

Foi assim que cheguei a este CD que estou postando aqui. Ele é o último da lista de Edward Greenfield, um crítico sênior da Gramophone, editor do Penguin Guide to Classical Music – a nata da crítica inglesa, que infelizmente faleceu em 2015. Sobre este CD ele diz: Meu outro disco de concerto que fica no alto da lista é do mágico clarinetista Michael Collins, no brilhante arranjo feito por Mikhael Pletnev do Concerto para Violino de Beethoven, tão bem tocado que silencia qualquer dúvida’.

Assim, esclarecida a dúvida, não acharam mais um concerto de Beethoven, encontrado em algum baú que ficou esquecido em algum sótão ou caído atrás de alguma prateleira de uma biblioteca empoeirada. É o Concerto para Violino transcrito para clarinete. Claro que pode… pode sim! O próprio Beethoven o arranjou para piano. E para arredondar de vez o disco, uma tremenda interpretação do maravilhoso Concerto para Clarinete de Mozart.

Wolfagang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para Clarinete e Orquestra em lá maior, K. 622

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegro

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Concerto para Clarinete (Violino) e Orquestra em ré maior, Op. 61

(Arr. Mikhail Pletnev)

  1. Allegro ma non tropo
  2. Larghetto
  3. Allegro

Michael Collins, clarinete

Russian National Orchestra

Mikhail Pletnev

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 278 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 159 MB

Michael adorou o sofá do lounge do PQP Bach Corp

Na resenha escrita para a revista, Greenfield termina assim: ‘Like his teacher, Thea King, Collins uses a basset clarinet in Mozart’s great work, relishing the extra downward range and richness of timbre. This is as masterful a reading as there is in the catalogue […]. It is a reading not just elegant but powerful, too, as well as deeply poetic in the slow movement. […] This is a unique and generous coupling which brings out the mastery of this brilliant artist more compellingly than ever.’

Aproveite!

René Denon

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Obras para bandolim – Scivittaro – Veyron-Lacroix

A diminuta obra para bandolim e teclado de Beethoven, que consiste de quatro peças,  dura pouco mais de vinte minutos. Já as apresentei aqui anteriormente, num tom debochado que, sinceramente, não reflete o que delas penso. Acho-as muito delicadas e agradáveis, e surpreendentemente idiomáticas para algo que brotou da pena dum renano radicado em Viena que nunca cruzou os Alpes rumo à península da Bota. Bem,  surpreendentes, talvez, tão só para os que desconhecem que, segundo vários relatos, havia um bandolim pendurado ao lado do piano em seu caótico apartamento, o que nos faz pensar que, mesmo que não o soubesse tocar, Beethoven estivesse ao menos familiarizado ao instrumento.  Houve pelo menos dois bandolinistas que o inspiraram: o boêmio Wenzel (Václav) Krumpholz (não o confundir com o Krumpholz mais famoso, o harpista de triste fim), com quem estudou violino em Viena e que quase certamente foi o músico que Beethoven imaginou tocando as peças do WoO 43, e Josephine de Clary-Aldringen, esposa do rico conde Clam-Gallas – de quem ainda há um suntuoso palácio, uma das muitas joias barrocas na maravilhosa capital da Boêmia – e que recebeu a dedicatória, intimamente escrita “pour la belle Joséphine”, da dupla do WoO 44.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Duas peças para bandolim e piano ou cravo, WoO 44
Sonatina em Dó maior, WoO 44a
1 – Allegro

Duas peças para bandolim e piano ou cravo, WoO 43
Sonatina em Dó menor, WoO 43a
2 – Adagio

Adágio em Mi bemol maior, WoO 43b
3 – Adagio (ma non troppo)

Duas peças para bandolim e piano ou cravo, WoO 44
Andante com variações em Ré maior, WoO 44b

4 – Andante

Maria Scivittaro, bandolim
Robert Veyron-Lacroix, cravo

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

A confiar na Wikipedia (não que eu seja um desses), eis o bandolim de Beethoven, de fabricação milanesa, que ficava pendurado na sala de seu apartamento em Viena.

Vassily

[Restaurado] Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Abertura de “Le Nozze di Figaro” – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Maurice Ravel (1875-1937): Rapsodie Espagnole – Pavane pour une Infante Défunte – Alborada del Gracioso – Boléro – Argerich – Barenboim #BTHVN250

Vocês me permitem só mais uma gravação de Martha tocando o concerto em Dó maior de Ludwig?

Só mais uminha?

Pois bem: ela é a minha favorita, a mais brilhante, fluida e à vontade que ela já fez dessa obra que toca quase desde a mórula. O ambiente certamente ajuda: o magnífico Teatro Colón, onde ela estreou há mais de setenta anos, em sua Buenos Aires natal, na qual passa uma aclamada temporada por ano e é merecidamente tratada como divindade terrena. A companhia, seguramente também: nenhum parceiro artístico a conhece há tanto tempo quanto seu conterrâneo Daniel Barenboim, com o qual formou a mais notória dupla portenha de crianças-prodígio e brincava de esconde-esconde sob os pianos das soirées em que tocaram juntos, antes das carreiras os levarem para distintas plagas e se reencontrarem tantas vezes pelo mundo. Daniel é extremamente reverente a Martha, e isso fica claro nessa interpretação do concerto: a solista parece tocar com total liberdade, e o regente a segue impecavelmente. O restante da gravação, feita ao vivo, traz a abertura de “As Bodas de Fígaro”, aquele clássico pontapé inicial dos concertos em matinês, e uma seleção considerável da obra de Maurice Ravel para seu instrumento favorito, a orquestra sinfônica. Barenboim e sua West-Eastern Divan estão tão confortáveis nesse repertório que lhes sobra energia para um extenso bis, com uma das suítes de excertos orquestrais da “Carmen” de Bizet e um tango de Mariano Mores – Martha, mantendo seu costume, dá um rápido bis com Schumann antes de sumir para as coxias para mais um de seus compulsórios cigarrillos. Apesar da sempre tussígena e algo alvoroçada plateia do Colón, a gravação do selo Peral (“Pereira” em espanhol, que é “Birnbaum” em alemão e “Barenboim” em iídiche) consegue captar bem o que deve ter sido uma noite e tanto naquela banda do rio da Prata.

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Le Nozze di Figaro, K. 491
01 – Abertura

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Dó maior para piano e orquestra, Op. 15
02 – Allegro con brio
03 – Largo
04 – Rondo. Allegro scherzando

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Fantasiestücke, Op. 12
05 – No. 7: Traumes-Wirren

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)

Rapsodie Espagnole, M. 54
06 – Prélude à la Nuit
07 – Malagueña
08 – Habanera
09 – Feria

Alborada del Gracioso, M. 43
10 – Assez vif

Pavane pour une Infante Défunte, M. 19
11 – Assez doux, mais avec d’une sonorité large

Boléro, M. 81
12 – Tempo di bolero moderato assai

Alexandre César Léopold (Georges) BIZET (1838-1875)

Suíte no. 1 da ópera “Carmen”
13 – Aragonaise
14 – Intermezzo
15 – Les Dragons d’Alcalà
16 – Les Toréadors

Mariano Alberto Martínez, dito MARIANO MORES (1918-2016)
17 – El Firulete, tango

Martha Argerich, piano
West-Eastern Divan Orchestra
Daniel Barenboim, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

Sete décadas de parceria ❤️

Vassily

[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 18 – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Divertimento, K. 136 (excerto) – Edvard Grieg (1843-1907) – Suíte Holberg, Op. 40 – Argerich – Ozawa


Os dois primeiros concertos de Beethoven são uma especialidade de Marthinha, e sua última gravação do Op. 19 com Ozawa é fresquíssima, feita em 2019 e lançada no mês passado. Não era uma obra de que o compositor gostasse muito, tanto que o mencionava com ironias em sua correspondência e o retrabalhou várias vezes desde que o estreou em Praga, acabando enfim por dar-lhe um finale completamente novo (o antigo, ao que tudo indica, é o rondó na mesma tonalidade de Si bemol maior, WoO 6, completado por Czerny). Como já mencionamos ontem, apesar de ser chamado de “concerto no. 2”, ele foi a quarta obra do gênero que Beethoven escreveu, depois de dois trabalhos incompletos de juventude e do concerto Op. 15, que publicamos ontem. Martha Argerich, no entanto, o conhece tão bem e o devora com tanto apetite que torna a obra, bem meia-boca para os padrões beethovenianos, um deleite de se escutar. À chuva de estrume que caiu sobre a Decca por conta da capa anterior de Argerich/Ozawa, acusando-a do suposto crime de mostrar dois intérpretes idosos livres de Photoshop, a dupla deu a melhor resposta possível, empenhando seus mais de cento e sessenta anos de experiência numa interpretação rápida, lépida, faceiríssima. Martha, particularmente, está em chamas, e Seiji não a deixa escapar.

Completam o disco um excerto dum divertimento de Mozart e uma linda “Holberg” de Grieg, a obra que me é o mais próximo que conheço duma panaceia instantânea para a melancolia. Ainda que não tenha se tornado meu registro favorito, há nele uma espontaneidade que me deixou, desde a primeira audição, com muita vontade de voltar.

Essa postagem vem com um agradecimento ao colega FDP Bach, que me conseguiu a gravação e que tanto contribui para o blog, desde que dele eu era um leitor-ouvinte. Ela também é um desagravo a este dedicado melômano, detentor de enorme acervo fonográfico, ante os ataques injustificáveis que recebeu de um leitor-ouvinte ingrato e grosseiramente mal educado. Recebemos de muito bom grado as críticas e contamos com nossos leitores-ouvintes para fazer as necessárias correções a nossos lapsos. Nós próprios nos criticamos e corrigimos muito em nossa comunicação privada, sem nunca perdermos o respeito por nossas preferências diferentes, que asseguram a diversidade do blog. Isso não autoriza qualquer um de nós a faltar com o respeito com os outros, sejam autores, sejam leitores-ouvintes. Não somos balde para despejarem recalques, nem bidê para lavar-lhes a prepotência. O último infeliz que tentou tomou uma tunda dos comentaristas e espero que tenha sumido para sempre. Não seja o próximo, por favor.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto para piano e orquestra em Si bemol maior, Op. 19
(cadências de Beethoven)
Composto em 1787-1789, revisado em 1795
Publicado em 1801
Dedicado a Carl Nicklas von Nickelsberg

1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo: Molto allegro

Martha Argerich, piano
Mito Chamber Orchestra
Seiji Ozawa, regência

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Divertimento em Ré maior, K. 136

4 – Allegro

Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)

Fra Holbergs tid (“Dos Tempos de Holberg”) – Suíte no Estilo Antigo, Op. 40

5 – Praeludium – Allegro vivace
6 – Sarabande – Andante
7 – Gavotte – Allegretto
8 – Air – Andante religioso
9 – Rigaudon – Allegro con brio

Mito Chamber Orchestra
Seiji Ozawa, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


Para quem gostou da parceria Martha/Seiji, ei-los combinando forças com a orquestra do Festival Saito Kinen [grato, Isaac!] para uma vibrante Fantasia Coral de Beethoven – com direito a uma participação da diva Nathalie Stutzmann, facilmente encontradiça, como imensa amazona que é, no meio dos demais cantores. Martha é idolatrada no Japão – talvez o epicentro marthômano no mundo – e ela retribui generosamente, com visitas frequentes, colaboração com artistas japoneses e com a participação no primeiro festival a levar seu nome, na estância termal de Beppu.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15 – Sinfonia no. 1 em Dó maior, Op. 21 – Argerich – Ozawa

Mais uma babada nossa? Sim, inda outra: postamos os dois primeiros concertos de Lud Van com a deusa Martha e Giuseppe Sinopoli, sem percebermos que FDP Bach já os tinha publicado antes. Enquanto pagamos nossas impublicáveis penitências, tento me redimir em duas prestações, com novíssimas gravações da nossa rainha na companhia de seu amigo e colaborador de longuíssima data, Seiji Ozawa.

Enfim, concertos para piano – e Ludwig deve ter pensado o mesmo quando publicou seus dois primeiros, em 1801. Ele já os vinha tocando havia algum tempo em seu afã de consolidar-se em Viena como um compositor-virtuose, seguindo a vereda do jovem Mozart, cujos extraordinários concertos para piano pairavam, intimidadores, sobre qualquer desgraçado que se aventurasse pelo gênero. Era fundamental que um postulante ao panteão do teclado tivesse seus cavalos de batalha, e por isso Lud Van pariu cuidadosamente os seus, após longa e insegura gestação. Percebam que eu não os numero no título, enquanto lhes explico: além de nenhum deles ter sido o primeiro concerto escrito por Beethoven – distinção que cabe a um concerto em Mi bemol (WoO 4), composto ainda na adolescência e do qual restou apenas a parte para piano -, o primeiro a ser publicado foi o segundo a ser estreado, e vice-versa. Assim, o concerto Op. 15, composto em 1795, foi estreado nove meses depois do Op. 19, que marcou a estreia pública de Beethoven como pianista em Viena e já vinha sendo esboçado desde os tempos de Bonn. Embora baseiem-se firmemente em modelos de Haydn e Mozart, há amplos toques beethovenianos nas modulações inesperadas e mudanças bruscas de humor, e na escrita pianística, tão brilhante quanto a que se esperaria duma obra composta para pavonear sua capacidade ao teclado. O compositor legou-nos suas próprias cadências para as obras, que são as utilizadas na presente gravação e nos dão um sabor de seu talento improvisatório – que, junto com a prestidigitação pianística, era o que mais incensava a fama do rapaz antes de se firmar como compositor.

Cada vez que escuto Martha Argerich tocar esses concertos, fico pensando o quanto o Beethoven garotão não se reconheceria temperamento artístico sanguíneo e nas execuções exuberantes da deusa portenha do piano. Suas interpretações lideram minha preferência, ainda que reconheça suas idiossincrasias, e muito embora prefira suas gravações com Abbado, já publicadas aqui. Ela os executa praticamente desde o ovo, como poderão testemunhar pelo vídeo mais abaixo, de modo que não lhe poderiam ser mais naturais. Nessa gravação, feita ao vivo com a orquestra de câmara do centro cultural Art Tower da cidade japonesa de Mito, ela é acompanhada por Seiji Ozawa, um notável regente com um tremendo talento para a sobrevivência: mesmo gravemente doente, ele mantém-se admiravelmente ativo. É incrível a eletricidade que eles trazem para esta gravação, que nada sugere a avançada idade em que graciosamente entram. Ozawa sai-se bem, mas é Marthinha, como sempre, quem vale o download.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 1 em Dó maior, Op. 21
Composta entre 1795-1800
Publicada em 1801
Dedicada ao barão Gottfried van Zwieten

1 – Adagio molto – Allegro con brio
2 – Andante cantabile con moto
3 – Menuetto: Allegro molto e vivace
4 – Adagio – Allegro molto e vivace

Mito Chamber Orchestra
Seiji Ozawa, regência

Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15
(cadências de Beethoven)
Composto em 1795
Publicado em 1801
Dedicado à princesa Anna Louise Barbara Odescalchi

5 – Allegro con brio
6 – Largo
7 – Rondo. Allegro scherzando

Martha Argerich, piano
Mito Chamber Orchestra
Seiji Ozawa, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


Marthita, nossa deusa, toca estes concertos desde que se conhece por gente: ei-la, aos oito anos, interpretando o concerto no. 1 com Alberto Castellanos.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trio para flauta, piano e fagote, WoO 37 – Serenata para flauta, violino e viola, Op. 25 – Graf – Gulli – Giuranna – Thunemann – Canino


Em mais uma babada minha, publiquei dois discos sem saber que, quase doze anos antes, nosso patrono FDP Bach já o tinha feito. O repertório do primeiro, que restaurei lá na postagem original de FDP, é um pot-pourri tão peculiar que não encontrei outra semelhante, de modo que a serenata vem hoje, e a obra para bandolim chegará posteriormente. Quanto ao segundo disco, além de também restaurar o link na postagem original, agi diferentemente e resolvi manter a postagem que escrevi, muito em função à homenagem ao trompista Myron Bloom. Assim, o trio para flauta, piano e fagote vem para cá, e a homenagem a Bloom segue lá.

“Trios para flauta” foi um coelho tirado da cartola para colocar sob o mesmo teto duas obras absolutamente diferentes em estilo, contexto e finalidade, ainda que tenham em comum, além da prima donna de metal, a incrível heterodoxia na escolha de seus acompanhantes.

A obra que abre o disco, escrita para a rara combinação de flauta, piano e fagote, tem um estilo tão escarradamente mozartiano que talvez tenha feito Beethoven escondê-la, depois de achar sua própria voz. Parece que foi escrita para o conde Westerholt-Gysenberg, um fagotista amador cuja filha estudava piano com Ludwig e, como amiúde acontecia, despertara borboletas no estômago do compositor adolescente. É uma obra muito agradável, feita para entreter sem atrair muito a atenção, e não por acaso destinada à flauta, instrumento muito popular entre os nobres, incluindo o filho do conde, de quem Ludwig almejava tornar-se cunhado. Assinada pomposamente por “Louis van Beethoven – organista da corte de Sua Alteza Real o Príncipe Eleitor de Colônia”, ela evoca facilmente um Beethoven garoto, que ainda não completara dezesseis anos, circulando pela despreocupada corte em peruca, chapéu tricorno e casaca, enquanto afundava-se em preocupações com o sustento da família, o alcoolismo do pai, a saúde da mãe, e os horizontes que lhe acenavam de bem longe da provinciana Bonn.

O disco prossegue com a Serenata Op. 25, composta para a ainda mais incomum formação de flauta, violino e viola. Embora ninguém saiba ao certo para quem e em que circunstâncias ela foi escrita, suas melodias cativantes e notável leveza dão a entender que o dedicatário era o próprio bolso do compositor, que talvez precisasse de dinheiro e, por isso, escreveu algo certeiramente popular para surfar na onda de sua crescente notoriedade como compositor. Escrita aos seus vinte e poucos anos em Viena, ela segue o script dos divertimentos de Mozart, com vários movimentos de dança na mesma tonalidade. Ainda que ela não esteja no rol de suas obras mais célebres, é uma composição muito bem acabada que provavelmente fosse do apreço do compositor, que, ao permitir a publicação de um arranjo para flauta e piano, insistiu com o editor, e reinsistiu num tom mesmo ríspido, que frisasse no frontispício que o arranjo era de terceiros, mas o original era seu.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio em Sol maior para piano, flauta e fagote, WoO 37 (1786)

1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Andante con variazioni

Peter-Lukas Graf, flauta
Klaus Thunemann, fagote
Bruno Canino, piano

Serenata em Ré maior para flauta, violino e viola, Op. 25
Composta em 1801
Publicada em 1802

4 – Entrata – Allegro
5 – Tempo ordinario d’un Menuetto
6 – Allegro molto
7 – Andante con variazioni
8 – Allegro scherzando e vivace
9 – Adagio – Allegro vivace e disinvolto

Peter-Lukas Graf, flauta
Franco Gulli, violino
Bruno Giuranna, viola

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Apesar de escutá-lo há décadas, nunca soube como era a lata de Peter-Lukas Graf. Fui googlear e, como podem ver, não tenho qualquer motivo para me arrepender.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Dichterliebe, Op. 48 – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Lieder – Franz Schubert (1797-1828): Lieder – Wunderlich – Giesen #BTHVN250

Hoje, aniversário de Schumann, nosso bolo de duzentas e dez velinhas vai-lhe na forma duma das mais preciosas gravações de sua obra-prima: os divinos Lieder do Dichterliebe no mais lindo instrumento vocal que a Alemanha já pariu.

Sim, Fritz Wunderlich era tudo isso, e nós outros, seus tietes, ficamos aqui a imaginar o que ele teria sido se tivesse atingido a maturidade artística, e não sucumbido a um acidente doméstico idiota antes de completar 36 anos. Seu Dichterliebe está à altura da elevada poesia de Heine e da música congenial do aniversariante de hoje e, mesmo que eu tenha conhecido a obra através da voz emblemática de Fischer-Dieskau, certamente o maior camerista de todos os tempos, o expressivo tenor de Wunderlich me deu a mais amada gravação deste ciclo que eu tanto amo.

Fica difícil ouvir qualquer outra coisa depois dum Dichterliebe desses, mas a gravação segue com alguns dos melhores Lieder de duas feras. Primeiramente, do herói de nossa saga BTHVN250, vocês escutarão a mesma seleção que vocês já ouviram aqui, mas com um som um pouquinho melhor, com destaque para a maravilhosa Adelaide e para a pérola cômica Der Kuss, uma arieta a narrar a história dum beijo roubado, composta entre os trabalhos das intrincadas Variações Diabelli e da mastodôntica Missa Solemnis. Por fim, uma significativa seleção do mestre maior do gênero, Franz Schubert, que encerra com meu Lied favorito, An die Musik, que aqueles entre vocês que não me odeiam poderão cantar em minha tumba – isso, claro, se eu tiver direito a uma, e se dela não brotar uma flor púrpura a gritar “Adelaide”.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Dichterliebe, ciclo de canções sobre textos do Lyrisches Intermezzo de Das Buch der Lieder de Heinrich Heine, Op. 48

1 – Im wunderschönen Monat Mai
2 – Aus meinen Tränen sprießen
3 – Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
4 – Wenn ich in deine Augen seh’
5 – Ich will meine Seele tauchen
6 – Im Rhein, im heiligen Strome
7 – Ich grolle nicht
8 – Und wüßten’s die Blumen, die kleinen
9 – Das ist ein Flöten und Geigen
10 – Hör ich das Liedchen klingen
11 – Ein Jüngling liebt ein Mädchen
12 – Am leuchtenden Sommermorgen
13 – Ich hab’ im Traum geweinet
14 – Allnächtlich im Traume
15 – Aus alten Märchen
16 – Die alten, bösen Lieder

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

17 – Zärtliche Liebe, WoO 123
18 – Adelaïde, Op.46
19 – Resignation, WoO 149
20 – Der Kuss, Op.128

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

21  – An Sylvia, Op. 106 No. 4, D. 891
22 – Lied eines Schiffers an die Dioskuren, Op.65, D.360
23 – Liebhaber in allen Gestalten, D.558
24 – Der Einsame, Op.14, D.800
25 – Im Abendrot, D.799
26 – Schwanengesang, D. 957 – Ständchen “Leise flehen meine Lieder”
27 – An die Laute, Op.81, No.2, D. 905
28 – Der Musensohn, Op.92, No.1, D. 764
29 – An die Musik, Op.88, No.4, D.547

Fritz Wunderlich, tenor
Hubert Giesen, piano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Wie geht’s, Hund?

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Mosaïques) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Mosaïques) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

O Mosaïques é um excelente quarteto. Sabem que eles saíram de dentro do Concentus Musicus de Nikolaus Harnoncourt? Formaram o quarteto em 1985, quando ainda estavam na orquestra e seu violoncelista é o grande Christophe Coin. Eles são especializados no classicismo vienense, diga-se Haydn, Mozart e Schubert. E Beethoven. Vale a pena ouvi-los. Tocando com cordas de tripa e nos arcos de design do início do século 19, o Mosaïques trouxe calor e sutilezas a essas obras fascinantes. Hoje em dia, quando os conjuntos historicamente informados abundam, a gente nem deveria falar mais em instrumentos originais, mas aqui não podemos fugir do fato de que o Mosaïques estão fazendo isso há 35 anos! Durante esse período, eles exploraram e gravaram uma ampla gama de repertórios de quartetos, de Haydn a Mendelssohn. Porém, em disco — não em recitais –, eles têm sido muito mais cautelosos com Beethoven. As gravações das obras do Op. 18 apareceram incompletas há mais de uma década, depois vieram alguns quartetos intermediários e só agora é que chegaram ao ciclo completo dos cinco últimos quartetos.

Este é um campo altamente competitivo e, do Busch Quartet ao Takács, passando pelo Kodály, o padrão pode ser estratosférico. As performances dos Mosaïques são — até onde sei — a primeira gravação desses trabalhos em instrumentos de época, o que os distingue muito. Mas há mais: o fraseado parece surpreendentemente moderno, há muita leveza e equilíbrio em muitas passagens que podem se tornar exageradas — há muito mais luzes e sombras nas performance dos Mosaïques da Große Fuge, por exemplo, que eles tocam como o final da Op 130. Eu acho uma coisa sabem? Na maioria das gravações que ouço, retirando desta observação os deuses do repertório, a surpreendente originalidade dos quartetos tardios de Beethoven nos chegam um pouco abafada pelas cordas modernas e pelos estilos de tocar derivados da tradição cantabile romântica. O foco do Mosaïques é outro. Quando começa o Op.127, ouvimos um um timbre mais próximo dos conjuntos de música antiga do que de um quarteto moderno, a coisa vem livre de “expressivos” enjoativos. O desejo de remover camadas interpretativas bobas é realizado com mais força nos Op. 131 e 132, durante os quais o rosto franzido e a alma agonizante são substituídas pela pureza de linhas e suaves vibratos (aleluia!). A famosa Cavatina do Op. 130 possui uma clareza que a aproxima de um intermezzo mendelssohniano, fazendo com que o choque da poderosa Große Fuge seja ainda mais imponente. O Op. 132 é levado com extremo senso de estilo e com a devida profundidade. É sempre difícil escrever sobre uma música que amamos muito e que nos faz lembrar fatos pessoais. A primeira coisa que me vem à mente quando penso no Op. 132 foi aquele momento mágico e levemente fantasmagórico em que eu, sentado na tranquilamente na sala, ouvi iniciar o Allegro Appassionato (último movimento do quarteto) e vi que, logo aos primeiros compassos, minha filha, aos cinco anos de idade, entrava girando na sala, dançando a valsa sozinha, de olhos fechados, por puro prazer de ouvir a música… Foi tão marcante que hoje soa-me hipócrita dizer que o movimento principal deste quarteto é o imenso e perfeito Molto Adagio – Andante (Heiliger Dankgesang eines Genesenen an die Gottheit, in der lydischen Tonart), um agradecimento à divindade pela recuperação que Beethoven obteve após grave enfermidade. Mas é, claro que é. O terceiro movimento, com suas duas explosões de alívio é o centro e razão de ser desta grande e fundamental obra. No terreno neoclássico do Op. 135, o Mosaïques inflama a música com um virtuosismo que talvez revele um novo caminho a seguir. Ele encerra um dos conjuntos mais reveladores e instigantes desses clássicos atemporais em décadas.

Não é uma gravação para ir ao pódio, mas que belisca, belisca.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Mosaïques)

String Quartet No. 12 In E Flat Major, Op. 127
1-1 Maestoso – Allegro 6:59
1-2 Adagio Ma Non Troppo E Molto Cantabile – Andante Con Moto – Adagio Molto Espressivo 12:58
1-3 Scherzando Vivace – Presto 8:57
1-4 Finale. Allegro 6:30

String Quartet No. 14 In C Sharp Minor, Op. 131
1-5 Adagio Ma Non Troppo E Molto Espressivo 6:09
1-6 Allegro Molto Vivace 3:08
1-7 Allegro Moderato – Adagio 0:41
1-8 Andante Ma Non Troppo E Molto Cantabile – Più Mosso – Andante Moderato E Lusinghiero – Adagio – Allegretto – Adagio Ma Non Troppo E Semplice – Allegretto 13:05
1-9 Presto 5:34
1-10 Adagio Quasi Un Poco Andante 1:40
1-11 Allegro 6:51

String Quartet No. 13 In B Flat Major, Op. 130
2-1 Adagio Ma Non Troppo – Allegro 14:32
2-2 Presto 2:03
2-3 Poco Scherzando. Andante Con Moto Ma Non Troppo 7:38
2-4 Alla Danza Tedesca. Allegro Assai 3:05
2-5 Cavatina, Adagio Molto Espressivo 6:09

2-6 String Quartet No. 17 In B Flat Major, Op. 133, ‘Grosse Fuge’: Overtura – Fuga. Allegro – Meno Mosso E Moderato – Allegro Molto E Con Brio 15:56

String Quartet No. 15 In A Minor, Op. 132
3-1 Assai Sostenuto – Allegro 9:47
3-2 Allegro Ma Non Tanto 8:45
3-3 Molto Adagio – Andante 15:07
3-4 Alla Marcia, Assai Vivace – Più Allegro 2:08
3-5 Allegro Appassionato 7:06

String Quartet No. 16 In F Major, Op. 135
3-6 Allegretto 7:04
3-7 Vivace 3:39
3-8 Lento Assai, Cantante E Tranquillo 7:01
3-9 Grave, Ma Non Troppo Tratto – Allegro 6:35

Quarteto Mosaïques:
Erich Höbarth, violino
Andrea Bischof, violino
Anita Mitterer, viola
Christophe Coin, violoncelo

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

A foto de divulgação do excelente Mosaïques

PQP

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios “The Ghost” & “Archduke” #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios “The Ghost” & “Archduke” #BTHVN250

Os irmãos Renaud e Gautier Capuçon e mais o pianista Frank Braley estão há tempo estabelecidos como parceiros de música de câmara. Aqui, eles tocam dois dos maiores trios para piano de Beethoven, o ‘Ghost’ e o ‘Arquiduque’. “Juntos, os três músicos têm a qualidade mais valiosa de todas na música de câmara”, escreveu The Guardian quando os Capuçons e Braley tocaram o ‘Arquiduque’ no Wigmore Hall: “eles ouvem atentamente um ao outro”. O relato que jornal dá da interpretação é que o Trio tinha um tremendo senso de coerência orgânica. Não entendo muito bem a palavra orgânica, mas OK. O comumente chamado Trio Arquiduque foi dedicado ao Arquiduque Rudolph da Áustria, o caçula de doze filhos de Leopoldo II. Rudolf era um pianista amador e patrono, amigo e aluno de composição de Beethoven. Beethoven dedicou um total de catorze composições ao arquiduque, que em troca dedicou uma de sua autoria a Beethoven. Grande coisa… O trio finaliza o chamado “período intermediário” de Beethoven. Ele começou a compor no verão de 1810 e o completou em março de 1811. Depois deste Trio, tudo virou um vendaval maravilhoso. E moderno.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios “The Ghost” & “Archduke”

Piano Trio No. 5 in D Major, Op. 70 No. 1, “Ghost”:
1 I. Allegro vivace e con brio 6:52
2 II. Largo assai ed espressivo 9:52
3 III. Presto 8:17

Piano Trio No. 7 in B-Flat Major, Op. 97, “Archduke”:
4 I. Allegro moderato 13:08
5 II. Scherzo. Allegro 11:27
6 III. Andante cantabile ma però con moto 12:57
7 IV. Allegro moderato 7:11

Gautier Capuçon, violoncelo
Frank Braley, piano
Renaud Capuçon, violino

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Não há nada como um pôr do sol na sede campestre do PQP Bach Musicians Resort.

PQP

POSTAGENS RESSURRECTAS – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concertos para piano e orquestra (Pollini/Abbado) – Sinfonias (Bernstein) – Sinfonias (Harnoncourt) #BTHVN250

Seguindo a praxe de restaurar parte de nosso acervo beethoveniano perdido nos colapsos dos Rapidshares da vida, alcanço-lhes três séries muito importantes, que estão entre as primeiras postagens dedicadas por nosso blog ao compositor, doze anos atrás. Para não as dessacrar, mantive as datas originais e limitei-me a acrescentar alguns alertas sobre seu estado agora ativo.

LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

CONCERTOS PARA PIANO E ORQUESTRA por
MAURIZIO POLLINI com a BERLINER PHILHARMONIKER sob CLAUDIO ABBADO

Disco 1 – Concertos nos. 1 & 2
Disco 2 – Concertos nos. 3 & 4
Disco 3 – Concerto no. 5
Disco 4 – Fantasia Coral

SINFONIAS 1-9 com a WIENER PHILHARMONIKER sob LEONARD BERNSTEIN

Discos 1 e 2 – Sinfonias nos. 1, 2, 3 & 4
Disco 3 – Sinfonias nos. 5 & 6
Disco 4 – Sinfonias nos. 7 & 8
Disco 5 – Sinfonia no. 9 

 

SINFONIAS 1-9 com a CHAMBER ORCHESTRA OF EUROPE sob NIKOLAUS HARNONCOURT

Disco 1 – Sinfonias nos. 1 & 3
Disco 2 – Sinfonias nos. 2 & 5
Disco 3 – Sinfonias nos. 4 & 7
Disco 4 – Sinfonias nos. 6 & 8
Disco 5 – Sinfonia no. 9

Espero que desfrutem.

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos Nº 13 e 15 (Op. 132 e 130) / Grande Fuga Op. 133 (Tetzlaff) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos Nº 13 e 15 (Op. 132 e 130) / Grande Fuga Op. 133 (Tetzlaff) #BTHVN250

Esta é uma gravação novíssima, lançada no dia 2 de abril de 2020. E olha… Já ouvi melhores. Achei a coisa meio grossa. Muita gente gritando num conjunto que às vezes parece não estar bem ajustado. Cheguei a desconfiar de mim como ouvinte. Afinal, adoro o violinista Christian Tetzlaff e sua irmã Tanja. A comprovação de minha impressão veio fácil. Logo em seguida, ouvi todos os últimos quartetos com o Ébène e depois com o Mosaïques e… Quanta diferença! Ali sim manda o estilo, ali manda Beethoven. Como já disse várias vezes, aqui no PQP costumamos estar no Olimpo das interpretações, quase nada é ruim. O Tetzlaff Quartett é extraordinário, claro — se eles dessem um Concerto em Porto Alegre eu correria a vê-los –, mas, creiam, suas interpretações destas super peças do melhor repertório de todos os tempos têm adversários bem superiores. Fazer o quê?

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Quartetos Nº 13 e 15 (Op. 132 e 130) / Grande Fuga Op. 133

Beethoven: String Quartet No. 15 in A minor, Op. 132 42:36
I. Assai sostenuto – Allegro 9:18
II. Allegro ma non tanto 8:42
III. Molto adagio 15:55
IV. Alla marcia, assai vivace 2:09
V. Allegro appassionato 6:32

Beethoven: String Quartet No. 13 in B flat major, Op. 130 29:38
I. Adagio ma non troppo 12:45
II. Presto 2:03
III. Andante con moto ma non troppo 6:25
IV. Alla danza tedesca. Allegro assai 2:54
V. Cavatina. Adagio molto espressivo 5:31

Beethoven: Grosse Fuge in B flat major, Op. 133 14:33

Tetzlaff Quartett:
Christian Tetzlaff – first violin
Elisabeth Kufferath – second violin
Hanna Weinmeister – viola
Tanja Tetzlaff – cello

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Dá pra ver que os dois à direita são irmãos, né?

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Ré maior, Op. 61a – Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) – Concerto para piano e orquestra em Dó menor, Wq. 43/4 – Bashkirov

Por mais que o amemos hoje, o concerto para violino de Ludwig foi recebido com frieza e logo esquecido. O fracasso da estreia, pelo que se conta, deveu-se a ensaios insuficientes por atrasos na cópia das partes da orquestra – entregues, para variar, na penúltima hora pelo compositor – e pela necessidade do primeiro solista, Franz Clement, de tocar quase todo o solo à primeira vista.

Apesar do desinteresse pela obra, que só teria sua grandeza reconhecida pelo empenho de Mendelssohn e Joseph Joachim, quarenta anos depois, esse estranho arranjo para piano que ouvirão a seguir foi publicado, alguns anos após o original, pela firma de Muzio Clementi em Londres. Clementi, que teve que visitar Viena várias vezes antes de enfim encontrar Beethoven, comprou do compositor os direitos da publicação inglesa de seus Opp. 58-62, e incluiu no pacote um arranjo do concerto para violino, com o pedido expresso de “algumas notas adicionais”, talvez porque achasse o original insosso por ter tão poucas.

Um tal arranjo, que não seria estranho a Johann Sebastian Bach, acostumado a verter para o teclado seus concertos para cordas solo, também não espantaria os contemporâneos de Ludwig, que viram concertos para violino de Viotti e Spohr transcritos para o piano por virtuoses como Dussek e Steibelt – este, famoso por perder um duelo de improvisação que, como veremos mais adiante nesta série, insensatamente aceitou fazer com Beethoven. Embora a edição inglesa indique que o arranjo foi feito pelo próprio compositor, há vigorosos indícios de que ele o delegou a terceiros, talvez a um aluno como Czerny ou Ries, limitando-se a revisá-lo e aprová-lo. Não tinha o menor interesse tanto pela obra quanto pela encomenda de Clementi, e também estava, para variar, atrasado na importante encomenda do príncipe Nikolaus Esterházy, que seria a Missa em Dó maior. No próprio manuscrito autógrafo do concerto para violino há anotações para partes da mão esquerda do solo, que talvez tenham servido como orientações do compositor para o arranjador.

Qualquer que seja a verdade acerca do autor, é certo que o arranjo foi feito com bastante pressa e algum desleixo: as partes da orquestra são idênticas ao original, a mão direita toca quase que exatamente a parte do violino solista, sem qualquer acorde, e não há qualquer solução minimamente satisfatória para emular as longas e sustentadas notas tão essenciais ao solo do original. O resultado é duma qualidade que achamos difícil até de mencionar na mesma frase que o sublime original, e que contrasta grosseiramente com as quatro cadenze que Beethoven – que não nos legou uma cadenza sequer para o violino – resolveu lhe escrever. Vigorosas, criativas e muito idiomáticas ao piano, elas são talvez o melhor motivo para escutarmos esse arranjo, particularmente aquela para piano e tímpanos, tão instigante que violinistas como Schneiderhan, Kremer e Kopatchinskaja a roubaram do piano e a transcreveram para seu instrumento.

Para apresentar-lhes o arranjo, que é ainda hoje negligenciado por público e intérpretes, pensei primeiramente em trazer uma de suas poucas gravações feitas por um pianista de primeira linha, aquela com Daniel Barenboim tocando e regendo a English Chamber Orchestra. Como ela já tinha sido aqui divulgada, encontrei uma alternativa que, coincidentemente, traz o sogro de Barenboim, o pianista russo Dmitri Bashkirov. Nascido na Geórgia, construiu uma considerável discografia na União Soviética, mas é hoje mais lembrado pelo trabalho como pedagogo em Moscou e Madrid. Sua gravação completa-se com um concerto de C. P. E. Bach – um mestre grandemente admirado por Beethoven, que certamente estudou seu clássico tratado Versuch über die wahre Art das Clavier zu spielen (“Ensaio sobre a verdadeira arte de tocar o teclado”) – que parece curiosamente próximo, apesar das décadas que os apartam, do bizarro híbrido que é o Op. 61a.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Op. 61a
Arranjo do próprio compositor de seu concerto para violino, Op. 61
Original composto em 1806 e p
ublicado em 1808
Arranjo publicado em 1810

1 – Allegro ma non troppo
2 – Larghett0
3 – Rondo: Allegro

Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)

Concerto em Dó menor, Wq. 43, no. 4

4 – Allegro assai
5 – Poco adagio
6 – Tempo di minuetto
7 – Allegro assai

Dmitri Bashkirov, piano
Orchestre de Chambre de Lausanne
Péter Csaba, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Um belo homem, esse CPE
#BTHVN250, por René Denon

Vassily