Debussy / Poulenc / Ravel / Françaix: Concertos para Piano de Compositores Franceses – Florian Uhlig, piano ֎

Debussy / Poulenc / Ravel / Françaix: Concertos para Piano de Compositores Franceses – Florian Uhlig, piano ֎

Debussy • Poulenc

Ravel • Françaix

Florian Uhlig, piano

Deutsche Radio Philharmonie

Saarbrücken Kaiserlautern

Pablo González

 

O carro com rodas largas e cheio de adesivos passou quase raspando junto ao guardrail e seguiu rosnando noite adentro – uma cena de filme de Steve McQueen… Esta é a imagem que me surge quando é mencionado a cidade de Le Mans – fundada por gauleses e cercada por romanos. Além das 24 Horas de Le Mans, a cidade tem uma bela catedral e um conservatório de música. O diretor era um Monsieur Françaix, casado com uma soprano. Como a semente não cai longe da árvore, Jean Françaix seguiu também na música, não antes de ser incentivado por ninguém menos do que Maurice Ravel, que elogiou sobretudo a curiosidade do garoto.

Nadia e Jean

Jean Françaix estudou piano com Isidor Philipp e composição com Nadia Boulanger no Conservatório de Paris. Seu Concertino para Piano é a pequena joia deste disco e foi seu primeiro sucesso. A estreia teve o compositor como solista acompanhado pela grande Berliner Philharmoniker. É uma lindeza de música, típica de Jean Françaix, cuja música foi caracterizada como gentil, urbana, fresca e envolvente em um outro libreto.

Este é um dos ‘concertos’ deste disco que tem selo alemão, repertório francês, orquestra e solista alemães e regente espanhol! São quatro compositores, cada um com uma peça. Os Concertos de Ravel e de Poulenc são bem conhecidos e excelentes. Um pouco diferente dos concertos outros, os franceses são mais leves, menos heroicos e com coloridos orquestrais múltiplos e intensos.

Catedral de Le Mans

A peça de Debussy é uma Fantasia para Piano e Orquestra com três movimentos, mas concebida como uma estrutura cíclica. Claude, que foi ótimo compositor de música orquestral e música para piano, deixou apenas esta peça com ‘cara’ de concerto. A obra é 1889-90 e fora enviada para a Académie des Beaux-Arts como parte das obrigações do ganhador do Prix de Rome. Ela teve sua estreia programada para um concerto da Société Nationale de Musique sob a regência de Vincent d’Indy. Como o programa era extenso, Vincent decidiu apresentar apenas um dos movimentos. O temperamental Claude arrebatou as partes orquestrais da obra e saiu batendo as portas. É claro que posteriormente escreveu uma carta ao Vincent desculpando-se, mas assim a peça ficou na gaveta por toda a vida do compositor.

Claude Debussy (1862 – 1918)

Fantasia para Piano e Orquestra

  1. I. Andante ma non troppo
  2. II. Lento e molto espressivo & III. Allegro molto

Jean Françaix (1912 – 1997)

Concertino para Piano e Orquestra em fá maior

  1. Presto leggiero
  2. Lent
  3. Allegretto
  4. Rondeau: Allegretto vivo

 

Francis Poulenc (1899 – 1963)

Concerto para Piano e Orquestra

  1. Allegretto
  2. Andante con moto
  3. Rondo a la francaise (Presto Giocoso)

Maurice Ravel (1875 – 1935)

Concerto para Piano e Orquestra em sol maior

  1. Allegramente
  2. Adagio assai
  3. Presto

Florian Uhlig (piano)

Deutsche Radio Philharmonie Saarbrücken Kaiserslautern

Pablo González

Gravação: 9 de fevereiro de 2012

Local da Gravação: SWR Studio Kaiserslautern, Emmerich-Smola-Saal, Alemanha

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FLAC | 284 MB

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MP3 | 320 KBPS | 173 MB

Florian extasiado com o luxo do Salão Turquesa da sede de campo da PQP Bach Corp. em Vitória

Eu tenho ouvido o disco com frequência, adoro este tipo de música. Assim, reunindo todas estas peças, montei esta postagem que, espero, você goste. Se ouvir o Concertino (que seja) uma vez, já me darei por satisfeito. Mas olha lá que o Concerto de Poulenc é também supimpa e tem também o do Ravel… Bom, deixo com você.

Aproveite!

René Denon

BBC Music Magazine – August 2013

Debussy’s unjustly-dismissed Fantasie and Francaix’s pithy Concertino are the highlights of this programme, superbly interpreted by Florian Uhlig.

Gramophone – August 2013

What an enticing programme this is…Uhlig proves a compelling advocate and the winds of the accompanying orchestra seem to gain in confidence as the work progresses…The über-compact Françaix Concertino is perhaps the highlight here, Uhlig and the orchestra vibrantly capturing the work’s myriad moods, culminating in a rip-roaring finale.

Olivier Messiaen (1908-1992): Quatuor pour la fin du temps – The Fibonacci Sequence – (5 de 5) ֍

Olivier Messiaen (1908-1992): Quatuor pour la fin du temps – The Fibonacci Sequence – (5 de 5) ֍

 

The Fibonacci Sequence

Quatuor pour la fin du temps

| Messiaen |

 

O mestre Leonardo não deixou de notar os muitos apetrechos de falcoaria jogados próximos da grande cadeira onde se assentava o ainda jovem imperador, cercado pelos sábios que o acompanhavam e faziam parte de seu entourage. A diferença de idade entre eles, de quase 24 anos, não atrapalhou a conversa que tiveram sobre as suas próprias formações – o quanto aprenderam com os sábios tanto do oriente quanto do ocidente.

Fibonacci, aos 55 anos, era o mais importante matemático daquela época e o livro que escrevera em 1202, Liber abaci, havia sido dedicado a Michael Scotus, o astrólogo do Imperador do Sacro Império Romano, Frederico II. Além de Michael, estavam por lá Theodorus Physicus, um filósofo, e Domenicus Hispanus, que havia sugerido o encontro ao imperador, naquela estada da corte em Pisa, em 1225. Alguns problemas foram propostos ao grande matemático por Johannes Palermo, outro sábio presente. Três destes problemas foram posteriormente incluídos com suas cuidadosas resoluções no livro Flos (Flores), escrito por Fibonacci e enviado ao imperador. Os problemas foram cuidadosamente escolhidos da literatura árabe. Um deles consistia em resolver a equação

que fora tirada de um livro de Omar Khayyam. Note que não se usava coeficientes negativos. E a equação fora proposta literalmente, uma vez que a simbologia que usamos hoje seria desenvolvida bem depois dos dias de Fibonacci. A resposta para este problema foi encontrada por aproximação e Fibonacci usou a representação sexagesimal para escrevê-la. Sua resposta foi 1.22.7.42.33.4.40 (elegante, não?) que significa

1.3688081075 em decimais, correta a resposta até a nona casa decimal. As soluções por radicais das equações de terceiro grau só seriam descobertas posteriormente por Tartaglia e Cardano, mas isto é outra história!

Em qual língua eles falaram e sobre o que realmente falaram só podemos conjecturar. Frederico falava nove línguas, latim, árabe e grego entre elas. Era versado em poesia e deixou um tratado sobre falcoaria. Se você se dispor a descobrir um pouco de seus feitos, ficará surpreso. Certamente eles tinham muitos temas para conversar.

Decidi terminar esta série de postagens sobre Fibonacci mencionando seu encontro com Frederico II para chamar um pouco a atenção para este interessantíssimo personagem e lembrar a importância do papel das figuras que conseguiram aproximar culturas diferentes.

Frederico II trocando umas ideias com al-Kamil

Frederico II enrolou o que pode, mas finalmente embarcou com seus exércitos rumo a Jerusalém, para cumprir sua promessa de realizar alguma Cruzada. No lugar de grandes batalhas, Frederico estabeleceu conversas diplomáticas com al Kamil, o Sultão do Egito, e conseguiu a retomada de Jerusalém, sem derramamento de sangue. Durante estes movimentos pela Terra Santa, houve intensa troca de desafios matemáticos entre os sábios do imperador e os sábios locais…

Quanto a Fibonacci, a última notícia que temos é de um decreto editado pela República de Pisa no ano de 1240, no qual um salário foi estabelecido ao

… sério e sábio Mestre Leonardo Bigollo

como reconhecimento de suas contribuições para o desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos e de matemática financeira.

Assim nos despedimos também do grande Leonardo de Pisa ou Leonardo Bigollo, vulgo Fibonacci, cuja sequência 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, … inspirou este grupo de artistas ingleses que na busca das harmonias musicais tem nos oferecido alguns discos muito interessantes.

Este é o último disco da série de postagens, mas certamente não o último do conjunto, traz uma única peça musical que também tem uma grande história. O Quatuor pour la fin du temps (Quarteto para o Fim dos Tempos) foi escrito por Messiaen em 1940-41 quando ele era prisioneiro de guerra dos alemães em um campo na Silésia. A obra foi inspirada por uma passagem do Livro das Revelações, que fala de um anjo anunciando o fim dos tempos. Entre os prisioneiros havia um clarinetista, Henri Akoka, para o qual Messiaen iniciou a obra escrevendo um solo, chamado Abîme des oiseaux. Posteriormente um violinista, Jean Le Boulerie e um violoncelista, Étienne Pasquier, se uniram a eles e o projeto cresceu. A obra foi composta num período em que eles enfrentavam condições dificílimas e Messiaen recebeu alguma ajuda de um guarda do campo, chamado Karl Albert Brull. A estreia da peça se deu frente aos prisioneiros do campo, em 15 de janeiro de 1941 (80 anos daqui a três dias). Alguns meses depois Messiaen foi libertado devido a intervenção de Marcel Dupré. A combinação de instrumentos não era original, mas não é muito comum. Certamente não é Vivaldi nem Tchaikovsky, mas espero que esta obra composta em um momento de turbulência, de alguma forma, sirva de exemplo para nós, lembrando que mesmo os mais difíceis tempos passam, mesmo deixando suas marcas e cicatrizes.

Olivier Messiaen (1908 – 1992)

Quatuor pour la fin du temps
  1. Liturgie de cristal
  2. Vocalise, pour l’Ange qui annonce la fin du Temps
  3. Abîme des oiseaux
  4. Intermède
  5. Louange à l’Éternité de Jésus
  6. Danse de la fureur, pour les sept trompettes
  7. Fouillis d’arcs-en-ciel, pour l’Ange qui annonce la fin du Temps
  8. Louange à l’Immortalité de Jésus

The Fibonacci Sequence

Jack Liebeck, violino
Julian Farrell, clarinete
Benjamin Hughes, violoncelo
Kathron Sturrock, piano

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MP3 | 320 KBPS | 117 MB

“…dazzlingly good chamber ensemble…exuberantly expressive, intimate style… gorgeously idiomatic playing” The Times

Aproveite!

René Denon

Messiaen e o pessoal no ensaio para a estreia

Franz Schubert (1797 – 1828): Octeto – The Fibonacci Sequence – (4 de 5) ֍

Franz Schubert (1797 – 1828): Octeto – The Fibonacci Sequence – (4 de 5) ֍

The Fibonacci Sequence

Octeto

| Schubert |

 

Como era o mundo no qual viveu Fibonacci? O que sabemos sobre ele? Temos algumas informações deixadas nos seus próprios escritos e sendo assim, precisamos fazer um certo exercício para preencher as lacunas, chegando a algumas plausíveis possibilidades.

Na resenha de um livro sobre as Cruzadas, de Christopher Tyerman, lemos que ‘os tempos de Fibonacci eram os tempos das Cruzadas, do estabelecimento e rápido crescimento das universidades na Europa e tempos de fortes conflitos entre o Imperador do Sacro Império Romano, Frederico II (1194 – 1250), e o papado. As repúblicas de Pisa, Veneza, Gênova e Amalfi (cujas bandeiras hoje reunidas formam a bandeira da Marinha Italiana) viviam uma intensa rivalidade por todo o redor do Mediterrâneo, incluindo o Bizâncio e os países mulçumanos’.

O noroeste da África, o Magreb (poente, em árabe), onde fica o porto de Bugia, e grande parte da Península Ibérica, estava sob o domínio do Califado Almôada, que estabelecera um Império Berbere Muçulmano. O fim da vida de Fibonacci quase coincide com a retomada da Península Ibérica dos Muçulmanos, mas uma cultura tão rica que ali se estabelecera por tanto tempo não se extingue, mas perdura. Muitas e positivas foram suas influências.

Fibonacci não ficou apenas em Bugia, mas viajou por muitos centros culturais, sempre aprendendo e aprofundando seus conhecimentos de Matemática. Em Constantinopla estudou nos livros de um dos grandes matemáticos árabes, chamado Muhammad ibn Musa as-Khwarizmi. Um deles era chamado Kitab al-Mukhtasar fi Hissab al Jabr wa-I-Mugabala. Adivinhem de onde veem as palavras algoritmo e Álgebra! E olhe que nem vou falar de medicina, isso deixo para o Avicenna! Neste site aqui você poderá encontrar um resumo dos principais matemáticos árabes daqueles tempos passados.

Algumas perguntas que me propus no início destas postagens continuam abertas e algumas acabei respondendo por aproximação. Aliá, isto foi uma boa prática do Leonardo. Por exemplo, sabia Fibonacci falar árabe? Acredito que ele entendia e certamente deveria ser capaz de ler textos de Matemática. Seus escritos, como os textos científicos daqueles dias, foram escritos em latim (Liber abaci, Practica Geometriae, Liber Quadratorum), que fazia assim o papel do inglês hoje na comunidade científica.

Quais rotas e caminhos usou Fibonacci? Essa é difícil e não achei, pelo menos nos sites, muita informação. No entanto, encontrei um interessante site com informações sobre as diferentes rotas usadas pelos mercadores em torno do Mediterrâneo naqueles dias e foi assim que conjecturei a viagem de Leonardo de Pisa até Bugia.

Outra dúvida é: qual foi o papel de Guglielmo Bonacci naquela comunidade de mercadores de Pisa? Como disse, grande parte do entorno do Mediterrâneo estava sob o domínio do Califado Almôada. Em 1133 uma delegação de dignitários almôadas visitou Pisa e foi estabelecido um acordo mercantil. Pisa tinha representações comerciais tanto em Bugia quanto em Túnis. O pai de Fibonacci atuava em Bugia como publicus scriba, como ele próprio mencionou em seus escritos. Assim, teria toda a família se mudado para Bugia ou para lá foram apenas os dois? Os mercadores possuíam seus próprios funduqs (hotéis ou hospedarias). Como teria vivido lá o nosso herói? E mais uma: quais eram as mercadorias exportadas para a Europa. Um mapa que encontrei e agora não sei mais onde, fala em mel, cereais, frutas. Assim, podemos usar a imaginação e tentar preencher com mais detalhes esse rico período da vida de Leonardo de Pisa, o Fibonacci, em que ele viveu na África e de lá levou grandes e importantes conhecimentos que influenciaram enormemente o desenvolvimento tecnológico e científico que se deu a seguir.

E para acompanhar toda esta lenga-lenga, ótima música de Schubert, um dos meus compositores preferidos.

O Octeto é uma linda peça de Música de Câmara, que foi encomendada a Schubert pelo clarinetista Ferdinand Troyer. Ele era empregado do Arquiduque Rodolpho, amigo de Beethoven, compositor do Septeto Op. 20, que serviu de modelo para a peça de Schubert. A primeira audição foi na casa do Arquiduque, onde certamente a maioria das pessoas conhecia o Septeto. Tenho certeza que adoraram a peça de Schubert que consegue profundidade e maestria sem deixar de ser leve e graciosa. Tanto é que continua a ser largamente apreciada.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Octeto em fá maior para clarinete, fagote, trompa, dois violinos, viola, violoncelo e contrabaixo, D. 803
  1. Adagio – Allegro
  2. Adagio
  3. Scherzo: Allegro vivace
  4. Andante
  5. Menuetto: Allegretto
  6. Andante molto – Allegro

The Fibonacci Sequence

Jack Liebeck, violino
Helen Peterson, violino
Yuko Inoue, viola
Benjamin Hughes, violoncelo
Duncan McTier, contrabaixo
Julian Farrell, clarinete
Richard Skinner, fagote
Stephen Stirling, trompa

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MP3 | 320 KBPS | 148 MB

‘dazzingly good chamber ensemble’    The Times

‘…no praise can be too high for the Fibonacci Sequence’s polished and dashingly committed performances…’    Gramophone

Aproveite!

René Denon

Música de Câmara com Oboé – (Diversos Compositores) – The Fibonacci Sequence – (3 de 5) ֍

Música de Câmara com Oboé – (Diversos Compositores) – The Fibonacci Sequence – (3 de 5) ֍

The Fibonacci Sequence

Oboé

Mozart | Poulenc | Françaix

Alwyn | Elgar | Crusell

 

Um lindo número – no limite da harmonia!

Pegue sua carteira e tome seu cartão de crédito. Calma, não pediremos qualquer número, não se preocupe, isto será apenas uma pequena experiência matemática. Usando uma régua, meça em milímetros as dimensões de seu cartão. Pronto? Fazendo a experiência aqui obtive 86mm de largura por 54mm de altura. A proporção 86/54 é ‘quase’ harmoniosa. O pessoal que lida com finanças sabe das coisas, mas melhor teria sido 89/55, a relação entre dois números subsequentes da Sequência de Fibonacci.

Há uma relação entre a Sequência de Fibonacci e a Razão Áurea ou o Número de Ouro, representado geralmente pela letra grega Φ (phi). Em matematiquês,

Ou seja, Φ é o limite dos quocientes dos números subsequentes da Sequência de Fibonacci.

Lembrando, F1 = 1, F2  = 1 e Fn+1 = Fn + Fn-1. Assim, F1 = 1, F2 = 1, F3 = 2, F4 = 3, F5 = 5, F6 = 8, F7 = 13, F8 = 21, F9 = 34, e assim por diante.

Na prática, isto quer dizer que os quocientes  Fn+1/Fn são mais e mais próximos de Φ. Aqui, para falar em ‘proximidade’, lembramos que a distância entre dois números é o valor absoluto da diferença entre eles. Por exemplo, usando a calculadora do celular obtemos 89/55 = 1,61818181… e 1595/987 = 1,6180344478… O valor exato de Φ é

Antes que o papo se torne ainda mais técnico, vamos dizer que esta constante aparece com frequência em fenômenos da natureza e especialmente nas artes clássicas, remontando aos gregos. As proporções do Panteão, por exemplo, seguem esses padrões. Você poderá explorar mais este tema começando por aqui.

E agora, a música da postagem. Em 1781 Mozart estava numa feliz viagem até Munique, onde estava ocupado com a composição da ópera Idomeneo e a orquestra que se preparava para apresentá-la contava com o melhor oboísta daqueles dias, um dos primeiros virtuoses do instrumento, Friedrich Romm. Mozart escreveu o Quarteto com Oboé inspirado por este artista. ‘… ninguém é capaz de produzir um som tão bonito, redondo, gentil e puro…’

Já o Adagio K. 580a foi composto em 1789, na mesma época da composição do Quinteto com Clarinete e de Cosi fan tutte. Mozart completou a parte do solo do corne inglês, mas deixou outras partes incompletas. Esta é a gravação da partitura completada por Lowicki.

O Trio com Oboé de Poulenc é figurinha carimbada em minhas postagens, adoro esta peça. Temos em seguida uma obra de Jean Françaix, que foi aluno de Nadia Boulanger e compôs muito, até os últimos dias de vida. A julgar pela belezura desta peça aqui, sua obra bem merece ser explorada.

Para completar, temos uma Suíte escrita por Alwyn para o casal de virtuoses Léon e Sidonie Goossens, ele tocava oboé e ela harpa.

O Salut d’Amour, também para oboé e harpa foi composto por Elgar como um presente para sua amada, que havia composto um poema para o agradar…

O Divertimento para Oboé é uma obra de Bernhard Crusell, que é mais conhecido por suas composições para clarinete. Ele foi o principal clarinetista da Royal Court Orchestra de Estocolmo por muitos e muitos anos. Suas obras são típicas do período de transição do clássico para o romantismo.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Quarteto para oboé, violino, viola e piano em fá maior, K370
  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Rondeau

Francis Poulenc (1899 – 1963)

Trio para oboé, fagote e piano
  1. Presto
  2. Andante
  3. Rondo

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Adagio para trompa inglesa, violino, viola e violoncelo, KV 580a (Arr. de Lowicky)
  1. Adagio

Jean Françaix (1912 – 1997)

Quatuor à vents para flauta, oboé, clarinete e fagote
  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegro molto
  4. Allegro vivo

William Alwyn (1905 – 1985)

Suite para oboé e harpa
  1. Minuet
  2. Valse Miniature
  3. Jig

Edward Elgar (1857 – 1934)

Salut d’Amour para oboé e harpa (Arr. O’Neal)

Bernhard Crusell (1775 – 1838)

Divertimento
  1. Allegro
  2. Andante poco adagio
  3. Allegro
  4. Allegro vivace

The Fibonacci Sequence

Jack Liebeck, violino
Zoe Beyers, violino
Yuko Inoue, viola
Andrew Fuller, violoncelo
Ileana Ruhemann, flauta
Christopher O’Neal, oboé
Julian Farrell, clarinete
Richard Skinner, fagote
Kathron Sturrock, piano

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Aproveite a harmoniosa música!

René Denon

Música de Câmara com Clarinete – (Diversos Compositores) – The Fibonacci Sequence – (2 de 5) ֍

Música de Câmara com Clarinete – (Diversos Compositores) – The Fibonacci Sequence – (2 de 5) ֍

The Fibonacci Sequence

Clarinete

Brahms | Mendelssohn |

Baermann | Glinka | Milhaud

 

Um par de coelhos foi colocado em um pátio cercado por muros. Supondo que a cada mês, a partir do segundo mês de vida, cada casal de coelhos gera um novo casal de coelhos, quantos casais de coelhos povoarão o pátio ao fim de um ano?

Este problema aparece no capítulo 12 do Liber abaci, o livro escrito por Fibonacci em Pisa, após seu retorno da Argélia, onde viveu por um período e aprendeu o sistema numérico Hindu-Arábico entre muitas outras coisas que explica no livro.

O problema certamente era conhecido antes de Fibonacci colocá-lo no livro e faz parte de uma tradição entre os matemáticos que remonta aos tempos do Egito dos antigos faraós e dos povos mesopotâmicos – assírios, babilônios, que consiste em ensinar matemática através de bons e mesmo de rotineiros problemas. E o problema dos coelhos, enunciado por Fibonacci, é ótimo.

É claro, os detratores dos matemáticos vão logo atacar com comentários do tipo – o par de coelhos era formado por dois machos e nunca se reproduziram. Poderão reclamar dizendo que as condições como ‘nasce um par a cada mês’ e tal, sempre um macho e uma fêmea são inverossímeis. E eventuais problemas genéticos? Houve até uma ameaça de formação de um comitê que clamava – liberdade para os coelhos de Fibonacci…

Ora, os matemáticos nem ouvirão tais críticas e provocações, pois sabem que a historiazinha por trás do problema é apenas para torná-lo bonitinho. Se você realmente quer resolver o problema, concentre-se em entender as condições descritas e coloque a caraminhola para funcionar. Envolver-se com um problema, embebedar-se da vontade de resolvê-lo, mesmo que disponha de poucas ferramentas e que o problema pareça, à priori, inexpugnável, é a tarefa dos matemáticos. Esse élan, essa disposição é o que motiva os matemáticos e é o que impulsiona os avanços na Matemática. A curiosidade, dizem, matou o gato, mas no caso da Matemática, é o que lhe dá a vida. Ninguém é mais feliz do que um matemático realmente engajado na busca da solução de algum problema, mesmo que ele ou ela não admita.

A passagem dos meses serve para indicar os novos passos no desenvolvimento do processo descrito. Ao fim de cada mês, cada casal de coelhos amadurecido dará à luz a um novo casal. Assim, o problema será o de contar, ao fim de cada mês, quantos casais de coelhos povoam o pátio, levando em conta as condições do mês anterior. Pode-se agir como quiser, fazendo anotações, desenhando diagramas ou criando uma fórmula que esclareça a situação, levando em conta todas as hipóteses do enunciado.

Veja que diagramas e fórmulas são típicos objetos matemáticos, mas que demoraram séculos ou mesmo milênios para serem desenvolvidos e incorporados ao uso comum das pessoas. Mesmo o uso de um sistema numérico que emprestou agilidade e precisão aos cálculos só foi introduzido na cultura ocidental no século XIII e sofreu alguma resistência. Mas, chega de delongas e vamos ao problema.

Temos então as condições estabelecidas no problema: ao fim de cada mês, cada casal amadurecido dará à luz a um novo casal, que amadurecera ao fim do seu segundo mês de vida.

Portanto, começamos com um casal que amadurece ao fim do primeiro mês e dá à luz a um novo casal ao final do segundo mês. No fim do terceiro mês, o primeiro casal dá à luz a um novo casal e o segundo casal atinge a maturidade. Temos assim 1, 1, 2 e 3. Para o próximo mês, nascerão mais dois casais, pois um mês antes tínhamos dois casais de coelhos adultos e o terceiro casal chega à idade adulta. Resulta então em 3+2 = 5 casais de coelhos, dos quais 3 na idade adulta. Já dá para perceber o que acontecerá no fim do próximo mês: 5 + 3 = 8 casais, dos quais, 5 em idade adulta.

Esta sequência de números, criada a partir das condições estabelecidas no problema é chamada de Sequência de Fibonacci.

1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, …

Cada novo termo da sequência é o resultado da soma dos dois termos anteriores. Em matematiquês:

F(n+1) = F(n)+F(n-1)  e  F(1) = 1, F(2) = 1.

Há uma verdadeira enxurrada de informações sobre a Sequência de Fibonacci e suas manifestações na natureza. Assim, não vamos entrar nesta parte, mas se você teve sua curiosidade despertada, basta deixar o seu lado matemático revelar-se mais um pouco. E aí, quantos pares de coelhos no fim do ano?

Ah, a música! Algumas palavras sobre o programa do disco que tem um clarinete como destaque. Funcionando um pouco como âncora neste programa, temos o Trio com Clarinete de Brahms, que abre os trabalhos de maneira ótima. Em seguida uma peça de Mendelssohn, Konzertstück, uma peça de concerto. Esta composição é fruto da amizade entre o jovem Mendelssohn, Heinrich Baermann, o melhor clarinetista daquela época, e seu filho Carl. Eles se conheceram em Berlim em 1832 e as habilidades do instrumentista inspiraram o compositor, a maneira que ocorrera antes com Mozart e Stadler, assim como Brahms e Mühfeld. Após a peça de Mendelssohn, vem um adagio para clarinete e quinteto de cordas escrito pelo próprio Heinrich Baermann, que também tinha alguma habilidade como compositor.

Prosseguindo, no programa, temos um Trio com Clarinete escrito por Mikhail Glinka, que era russo e compositor nacionalista. Ficou famoso por suas óperas ‘A Vida pelo Czar’ e ‘Russlan e Ludmila’. Esta peça foi escrita quando Glinka estava na Itália, morrendo de saudades de casa e pela inscrição deixada na peça: ‘Eu só tenho conhecido o amor pelas misérias que ele causa’, curtindo uma decepção amorosa.

Completando o disco, à francesa, uma suíte de Milhaud, escrita sob inspiração da música de Michel Corrette. A música foi escrita inicialmente para uma produção em francês de Romeu e Julieta, de Shakespeare.

Johannes Brahms (1833 – 1897)

Trio para clarinete, violoncelo e piano em lá menor, Op. 114
  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Andante grazioso
  4. Allegro (ii)

Felix Mendelssohn (1809 – 1847)

Peça de Concerto No. 2 em ré menor, para clarinete, corno de basseto e piano, Op. 114
  1. Presto
  2. Andante
  3. Allegro grazioso

Heinrich Baermann (1784 – 1847)

Adagio em ré bemol maior para clarinete, dois violinos, viola, violoncelo e contrabaixo
  1. Adagio

Mikhail Glinka (1804 – 1857)

Trio Pathétique, para clarinete, fagote e piano
  1. Allegro moderato
  2. Scherzo: vivacissimo
  3. Largo
  4. Allegro con spirito

Darius Milhaud (1892 – 1976)

Suite d’après Corrette, para oboé, clarinete e fagote
  1. Entrée et Rondeau
  2. Tambourin
  3. Musette
  4. Sérénade
  5. Fanfare
  6. Rondeau
  7. Menuets
  8. Le Coucou

The Fibonacci Sequence

Kenneth Sillitoe, violino
Helen Paterson, violino
Louise Williams, viola
Benjamin Hughes, violoncelo
Stephen Williams, contrabaixo
Christopher O’Neal, oboé
Nicholas Bucknall, corno de basseto
Richard Skinner, fagote
Kathron Sturrock, piano

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Em nossa próxima postagem falaremos do Número de Ouro!

Aproveite

René Denon

Música de Câmara com Fagote – (Diversos Compositores) – The Fibonacci Sequence – (1 de 5) ֍

Música de Câmara com Fagote – (Diversos Compositores) – The Fibonacci Sequence – (1 de 5) ֍

The Fibonacci Sequence

Fagote

Weber | Sauguet | Ibert |

Jacob | Mozart

 

O rapazinho entrou sorrateiro pela porta e sentou-se discretamente no fundo da sala a tempo de ouvir as primeiras frases da aula do grande mestre: “Estas são as nove figuras usadas pelos hindus…”  Ele desenhou então no quadro nossos conhecidos

9  8  7  6  5  4  3  2  1

e prosseguiu: “…com estas nove figuras e o zefir podemos escrever qualquer número, como vocês aprenderão aqui”.

Bugia, hoje chamada Bejaïa

Leonardo sentiu que a viagem desde a sua cidade natal, cruzando o mar e chegando àquele estranho e novo mundo onde seu pai estava, começava a valer a pena.

Tudo era diferente – a língua, a religião, os costumes. Até os cheiros e sabores e mesmo a luz do dia lhe diziam que vivia agora em outro universo. Mas o que ele aprendeu naqueles anos que passou ali valeria por uma vida inteira.

Cagliari

Leonardo viera de Pisa e o navio que o trouxera ao porto de Bugia, na Cabília, Argélia, passara por Bonifácio, no estreito entre a Córsega e a Sardenha, onde também passou por Cagliari. Depois costeou a África desde Túnis até chegar a Bugia, que hoje é conhecida por Béjaïa.

Assim como as suas rivais repúblicas – Veneza, Gênova e Amalfi -, Pisa tinha grandes interesses comerciais em toda aquela área. O pai do nosso herói chamava-se Guglielmo Bonacci e era escrivão da aduana, junto aos representantes dos mercadores de sua terra natal. Pisa tinha representantes diplomáticos tanto em Bugia quanto em Túnis e mantinham seus próprios funduqs e magazines. Guglielmo sabia dos pendores matemáticos de seu filho e o chamara para estudar com os mestres daquela cidade tanto seus métodos de cálculo quanto suas soluções para diversos problemas envolvendo contabilidade e finanças, pois que Mestre Guglielmo era um homem prático.

Leonardo viveu nesta região de algo como 1185 até 1220. Ele não ficou apenas em Bejaïa, mas também visitou o Egito, a Síria, Grécia, Sicília e a região de Provença, sempre aprendendo. Com os conhecimentos que adquiriu mais seus próprios grandes talentos, tornou-se o maior matemático de sua época e contribuiu enormemente para o renascimento científico que a Europa viveria proximamente.

Na sua volta para Pisa, escreveu um livro que foi divulgado em 1202 (naquela época só havia cópias feitas à mão), o Liber abaci, no qual explica o sistema numérico Hindu-Arábico, que era praticamente desconhecido na Europa, assim como usá-lo nos cálculos, mostrando as enormes virtudes deste sistema posicional.

Se você acha pouco, tente efetuar a multiplicação dos números MMDXCIV e MMMCCCLXXIII.

Ao longo das quatro outras postagens desta série contaremos mais algumas coisas sobre Fibonacci, que tem seu nome associado a uma famosa sequência de números e que dá nome ao conjunto que toca a música – The Fibonacci Sequence.

Nejjarine Museum, um funduq restaurado

O conjunto The Fibonacci Sequence foi fundado pelo pianista Kathron Sturrock e fará 30 anos em 2024. É formado por renomados músicos e famoso por apresentar uma programação variada e imaginativa. A escolha do nome do conjunto foi motivada pelo fato dos números da tal sequência aparecerem, surgirem como mágica nas mais diversas situações, como na natureza, no número de ramos das árvores, nas pétalas das flores, nas espirais e de muitas outras formas. Além disso, há uma relação entre a razão dos seus números subsequentes e o número conhecido como a Proporção Áurea ou Número de Ouro, que para muitos determina as mais harmoniosas proporções nas artes e música.

Esta sequência será tema da próxima conversa, que estará disponível no seu distribuidor PQP Bach mais próximo em breve.

Os discos desta série são divididos em dois grupos temáticos. Os três primeiros trazem música de câmara com um instrumento de sopro (madeira) em destaque. Começamos com o fagote. Os dois últimos são dedicados cada um a um único compositor. Você não perde por esperar.

Neste disco temos música de cinco diferentes compositores. Dois são franceses, um é inglês, mais um alemão e um conhecido austríaco.

Carl Maria von Weber surgiu para a música com a ópera Der Freischutz e foi um precursor do romantismo. Neste sentido foi inovador, mas em suas outras composições foi mais convencional. Isso não quer dizer que suas outras obras não sejam interessantes e ele compôs com especial qualidade para clarinete.

Compositor menos conhecido, Henri Sauguet adorava música desde cedo e teve ajuda inicialmente de Canteloube e Millhaud. Estudou com Max Jacob, Satie e Koechlin. Compôs balés, sinfonias e muita música de câmara.

Assim como Sauguet, Jacques Ibert compôs balés, sinfonias e muita música de câmara, especialmente para formações com instrumentos de sopro. Estudou com Fauré e de 1946 até 1960 foi o diretor do Conservatório de Paris.

Do outro lado do Canal da Mancha, temos uma peça de Gordon Jacob que foi prolífico compositor e deixou também livros sobre composição e orquestração.

Para encerrar o disco, temos um compositor austríaco que dispensa apresentações.

Carl Maria von Weber (1786 – 1826)

Andante e Rondo ‘Ungarese’ para fagote, violino, viola e violoncelo (arr. Mordechai Rechtman)
  1. Andante
  2. Rondo

Henri Sauguet (1901 – 1989)

Barcarolle para fagote e harpa
  1. Barcarolle

Jacques Ibert (1890 – 1962)

Cinco peças para Trio com oboé, clarinete e fagote
  1. Allegro vivo
  2. Andantino
  3. Allegro assai
  4. Andante
  5. Allegro quasi marziale

Gordon Jacob (1895 – 1984)

Suíte para fagote, dois violinos, viola e violoncelo
  1. Prelude
  2. Caprice
  3. Elegy
  4. Rondo

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Quinteto em mi bemol maior para oboé, clarinete, trompa, fagote e piano, K. 452
  1. Largo – Allegro moderato
  2. Larghetto
  3. Allegretto

The Fibonacci Sequence

Richard Skinner, fagote
Kathron Sturrock, piano
Yuko Inoue, viola
Charles Sewart, violino
Ursula Gough, violino
Andrew Fuller, violoncelo
Christopher O’Neal, oboé
Julian Farrell, clarinete
Stephen Stirling, trompa
Gillian Tingay, harpa

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Some beautiful sonorities coming up now from the Fibonacci Sequence, one of the UK’s most prominent chamber ensembles who were founded back in 1994 by pianist, Kathron Sturrock.[…] Certainly this combination allows the bassoon to sing out and display its virtuosity.

Sarah Walker, BBC Radio 3, Classical Collection

Henri Sauguet

Aproveite!

René Denon

Anton Bruckner (1824 – 1896) – Sinfonia No. 2 em dó menor – Saarbrücken Radio Symphony Orchestra & Stanislaw Skrowaczewski ֎

Anton Bruckner (1824 – 1896) – Sinfonia No. 2 em dó menor – Saarbrücken Radio Symphony Orchestra & Stanislaw Skrowaczewski ֎

BRUCKNER

Sinfonia No. 2

Stanislaw Skrowaczewski

 

A gravação desta sinfonia com Marek Janowski regendo a Orchestre de la Suisse Romande toma 54 minutos enquanto a gravação da mesma obra, feita por Georg Tintner, regendo a Ireland National Symphony Orchestra, ocupa um CD de 71 minutos. É claro, estas discrepâncias de tempo se devem não apenas ao andamento imprimido pelos maestros, mas especialmente à escolha da versão disponível da obra.

Este site aqui menciona cinco possibilidades! As edições mais conhecidas são as feitas por Haas (1938) e Nowark (1965), mas agora há uma ‘critical edition’ preparada por William Carragan para a Bruckner Society, que oferece uma edição originalíssima do que seria a versão concebida por Bruckner em 1872.

Retrato do artista quando jovem…

Isto significa que as versões posteriores deveriam ser descartadas? Os cortes e as mudanças que Bruckner impôs à partitura em suas revisões teriam sido feitas apenas para agradar a seus ‘conselheiros’, na esperança de ter a sinfonia apresentada por alguma orquestra? Certamente nenhuma destas perguntas terá uma resposta curta e definitiva, mas Anton era um grande revisionista e trabalhou em suas obras toda a vida, compondo novas sinfonias e revisando as já ‘terminadas’. Não creio que, apesar da imagem de simplório e influenciável, ele fosse mudar as suas obras apenas para ‘agradar’ e acatar sugestões.

Mas, o que nos interessa é a música e eu prefiro a versão mais curta de suas primeiras sinfonias. Como parte do projeto de expansão da paleta musical de início do ano, tenho ouvido algumas gravações das Sinfonias Nos. 2 e 3, do Anton. Como há uma recente postagem da Terceira, feita pelo PQP Bach e que você poderá ouvir clicando aqui, decidi oferecer nesta postagem a Segunda, na gravação da Saarbrücken Radio-Symphony Orchestra, sob a regência do veteraníssimo Stanislaw Skrowaczewski, uma ótima Baby-Bruckner-Sinfonia! Veja que beleza de Scherzo eles fazem.

Anton Bruckner (1824 – 1896)

Sinfonia No. 2 em dó menor

  1. Moderato
  2. Andante
  3. Scherzo: Massig schnell
  4. Finale: Ziemlich schnell

Saarbrücken Radio Symphony Orchestra

Stanislaw Skrowaczewski

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Skrowaczewski teve uma longa vida e atuou até quase seus últimos dias. Entre as suas muitas gravações se distinguem as das Sinfonias de Bruckner, de Beethoven e Brahms. Você poderá descobrir muitas informações sobre ele visitando este site aqui.

Em suas horas vagas, Anton era modelo para bustos de imperadores romanos…

Aqui está o resumo da ópera: The Second Symphony […] is a substantial work of an hour’s duration, and in this performance Skrowaczewski achieves intensity as well as a truly symphonic sweep of momentum.

Aproveite!

René Denon

Bach (1685-1750): Peças para Alaúde – Sean Shibe, violão ֎

Bach (1685-1750): Peças para Alaúde – Sean Shibe, violão ֎

Bach

Peças para Alaúde

BWV 996, 997 & 998

Sean Shibe, violão

 

Os vizinhos gostaram muito da música que emanou da casa do Cantor da Igreja de Santo Tomás naquela noite. Houve boas risadas e a conversa animada até bem mais tarde foi confirmada pelas garrafas de vinho que sobraram vazias no outro dia.

Todos já estavam acostumados com eventuais saraus na casa do João Sebastião Ribeiro, mas naquela noite, no ano de 1739, a visita do amigo Sílvio Leopoldo Branco, alaudista da corte de Dresden, acompanhado de um de seus alunos, de sobrenome Kropffgans, animou bem a festa, como se lembrou depois João Elias, primo do grande João Sebastião.

E tocaram muitas suítes, algumas delas até no estilo do conhecido saxão que se mudara para Londres, e outras mais curtas, no estilo das sonatas para igreja. E maravilhosos prelúdios seguidos de fugas não faltaram.

A visita encheu João Sebastião de alegria e depois o instigou a revisar umas de suas suítes compostas nos idos 1720 e algumas de antes ainda – para o alaúde, que ele gostava e volta e meia empregava em suas composições, mesmo as mais sérias. Chegou inclusive a compor algumas peças novas, de tanto que gostou de ouvir o ótimo Sílvio Leopoldo. A vista já andava cansada, mas a cabeça continuava ótima para compor. Algumas cópias das novas obras ficaram a cargo de seu aluno, João Tobias Krebs, o de apelido ‘Caranguejo’, que fora mesmo um achado.

E foi assim, por essas e outros maravilhosos encontros e visitas, as quais certamente resultaram em tardes e noites animadas, que nos chegaram algumas obras que continuam a encantar até mesmo os mais duros de coração.

Ouça este ótimo disquinho de uns 46 minutos pelos quais o jovem violonista Sean Shibe desfila habilidade, musicalidade e técnica impecáveis. Shibe merece cada um dos muitos prêmios que tem angariado. Aproveite que o disco é curto e ouça duas vezes a peça que gostar mais. Depois me conte!

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Suíte para Alaúde No. 1 em mi menor, BWV996
  1. Praeludio
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande
  5. Bourrée
  6. Gigue
Suíte para Alaúde No. 2 em dó menor, BWV997
  1. Preludio
  2. Fuga
  3. Sarabande
  4. Gigue
  5. Double
Prelúdio, Fuga e Allegro para Alaúde em mi bemol maior, BWV998
  1. Prelude
  2. Fuga & Allegro

Sean Shibe, arranjos e violão

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Gramophone, June 2020

Shibe applies the musical and interpretative qualities that characterise its predecessors – energy, reflection, eclecticism, integration and emotional candour – to remind us that Bach might have been singular but he contained multitudes…Has the Prelude, Fugue and Allegro [of BWV997] ever sounded so contemporary in its nostalgic sweetness and, in the final movement, sheer unabashed joy?

The Guardian, 7th June 2020

Shibe reminds us of the sheer intelligence and eloquence of his musicianship. Pliancy, shape, nimble attention to ornaments, clarity in the lines of counterpoint: all make this essential listening.

The Times, 29th May 2020

This astonishing and adventurous guitarist…plays with such depth of tone, colour and intricacies of touch that it is as though he’s at a harpsichord, not strumming or plucking fretted strings…Shibe’s music-making is masterful, beautiful and convincing in every way…Above all, Shibe awes us with the exquisite tone balance across the whole range.

Sean Shibe às margens do Guaíba, nem acreditando na história de um certo mágico radinho de pilhas …

Bach (1685-1750): Suítes Inglesas, BWV 806 – 811 – Gustav Leonhardt, cravo ֎

Bach (1685-1750): Suítes Inglesas, BWV 806 – 811 – Gustav Leonhardt, cravo ֎

Bach

Suítes Inglesas

Gustav Leonhardt

 

 

Da cozinha vem o reconfortante cheiro do arroz sendo refogado ao som do martelinho amaciando os bifes… Ah, trabalhar em casa pode ser uma fonte de pequenos prazeres. Bem, o distante ruído de alguém aparando a grama não chega a incomodar, mas faz um contraponto de alerta, lembrando-me que nem tudo é sossego. Mas, a hora do almoço sempre reserva um intervalo de paz.

Gustav Leonhardt

Da vitrola vem o som do cravo neste disco espetacular. Ao se dar conta, você está batendo o pé, acompanhando o ritmo, muito bom, do começo ao fim. E o som é ótimo. Eu confesso não ser um fanático pelo som do cravo. Talvez seja trauma por ter conhecido o som deste  instrumento pelos velhos LPs da Wanda Landowska, mas assim que vejo ‘cravo’ na capa do disco, fico logo com um pé atrás. Mas em mais uma tentativa de quebrar essas rabugices, decidi revisitar as principais obras de João Sebastião interpretadas ao cravo. Comecei por estas Suítes Inglesas, na interpretação do Gustavo Coração de Leão e me dei muito bem. São gravações antológicas e figuram em muitas listas de mais-mais das obras de Bach. Elas foram objeto de uma postagem feita pelo PQP Bach em priscas eras. Dizem as lendas que naqueles dias os arquivos eram upados pela madrugada, quando o fluxo na internet permitia uma maior velocidade ao processo. Aqui está o texto original que foi ao ar em 21 de julho de 2010.

Confesso a vocês não ser um apaixonado pelas Suítes Inglesas de Bach. Meu pai, ao dar o nome a elas, foi presciente. Ele sabia do deserto de almas compositoras que sobreviria na Inglaterra entre os nomes de Henry Purcell e Benjamin Britten. Foram quase 300 anos de música de terceira linha. Então, reservou para os britânicos suas melodias mais previsíveis. Não obstante minha opinião, conheço pessoas que roubariam e matariam por elas, principalmente quando tocadas por Gustav Leonhardt, um verdadeiro viagra musical, capaz de erguer até um Cou… perin. Erguer Bach é muito mais fácil, não?

Assim, esta postagem conta para a série das PQP Originals!

Os ingleses, felizes com as suas suítes!

Apesar das provocações perpetradas aos ingleses pelo nosso blogueiro-mor, Bach não tinha qualquer intenção de oferecer algum conjunto de suítes aos ingleses, assim como não escreveu suítes para os franceses. Tampouco escreveu algum concerto especificamente para os italianos. Apesar do nome bem estabelecido, não foi João Sebastião quem assim alcunhou estas peças. As possibilidades mais plausíveis para este nome – Suítes Inglesas – são para as diferenciar do outro conjunto conhecido por Suítes Francesas ou ainda o fato de o primeiro biógrafo de Bach, Johann Nicolaus Forkel, ter afirmado que as suítes foram ‘fait pour les Anglois’. O certo é que o nome Suítes Inglesas aparece no final do século XVIII em uma de suas cópias que pertencia a Johann Christian Bach, o Bach de Londres.

João Sebastião as chamou ‘Suites avec leurs Préludes’ e isto precisamente as diferencia das chamadas Suítes Francesas. As suítes das duas séries são formadas basicamente por quatro danças – allemande, courante, sarabande e gigue -, sendo que algumas outras danças de estilo francês são inseridas entre a sarabanda e a gigue. Mas no caso das Suítes Inglesas, a sequência recebe um prelúdio. Vamos a um exemplo comparativo. Veja os nomes dos movimentos de duas Suítes:

Suíte Inglesa No. 4                                       Suíte Francesa No. 5

Prélude

Allemande                                                       Allemande

Courante                                                         Courante

Sarabande                                                       Sarabande

Minueto I – Minueto II – Minueto I         Gavotte – Bourrée – Loure

Gigue                                                               Gigue

Agora que você já sabe isto tudo, aproveite estas lindíssimas peças na interpretação de um dos melhores músicos de que temos notícia. Leonhardt além de cravista e regente, teve papel fundamental na formação de muitos outros excelentes músicos. Seu legado é inestimável.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

CD1

Suíte Inglesa No. 1 em lá maior, BWV 806

  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante I – Courante II avec deux Doubles
  4. Sarabande
  5. Bourrée I – Bourrée II – Bourrée I
  6. Gigue

Suíte Inglesa No. 2 em lá menor, BWV 807

  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
  5. Bourrée I altenativement – Bourrée II – Bourrée I
  6. Gigue

Suíte Inglesa No. 3 em sol menor, BWV 808

  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande – Les agréments de la même Sarabande
  5. Gavotte I alternativement – Gavotte II ou la Musette – Gavote I
  6. Gigue

CD2

Suíte Inglesa No. 4 em fá maior, BWV 809

  1. Prélude (vitement)
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande
  5. Menuet I – Menuet II – Menuet I
  6. Gigue

Suíte Inglesa No. 5 em mi menor, BWV 810

  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande
  5. Passepied I em Rondeau – Passepied II – Passepied I
  6. Gigue

Suíte Inglesa No. 6 em ré menor, BWV 811

  1. Prélude
  2. Allemande
  3. Courante
  4. Sarabande – Double
  5. Gavotte I – Gavotte II – Gavotte I
  6. Gigue

Gustav Leonhardt, cravo

Produção de Gerd Berg

Gravado na Holanda em 1984

O cravo usado nesta gravação foi construído por Nicholas Lefebvre em 1755 e foi restaurado por Martin Skrowonneck em 1984. Vale a pena uma visita a uma página que fala do trabalho de Skrowonneck. Caso você esteja interessado, basta clicar aqui.

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The Penguin Guide to Recorded Classical Music, editado por Ivan March e CIA, diz: Leonhardt’s playing here has a flair and vitality that one does not always associate with him.

Ah, esqueci de contar, a sobremesa aqui foi uma tasca de goiabada!

Aproveite!

RD

PQP Bach-Quiz!

Nesta foto, Gus está:

a) Rindo a bandeiras despregadas

b) Rindo

c) Sorrindo

d) Tentando entender a piada

e) Todas as alternativas anteriores…

Chopin (1810-1849): Baladas e Impromptus – Anna Vinnitskaya ֎

Chopin (1810-1849): Baladas e Impromptus – Anna Vinnitskaya ֎

Chopin

Baladas e Impromptus

Anna Vinnitskaya

 

 

Frederico amava Maria, mas a mãe dela se opôs ao casamento devido à má saúde dele. Desolado, mas apesar disto, Frederico amou então Aurora, mesmo dizendo inicialmente que ela era antipática! O amor deles era por demais singular, pois Aurora não era uma mulher típica de seu tempo. Se bem que Frederico estava longe de ser um simples mortal. Com idas e vindas, o amor de Frederico e Aurora perdurou por uns dez anos e teve, digamos assim, seus momentos. No período em que estiveram juntos, eles frequentavam os salões da aristocracia parisiense. Ele ganhou a admiração e o apoio de um banqueiro, que o apresentou aos aristocratas, que se tornaram seus alunos de piano, resolvendo seus problemas financeiros. Conta-se que após as aulas, eles deixavam discretamente l’argent sobre um certo móvel, enquanto Frederico virava-se para outro lado, para não avistar o ato…

Os amigos do casal eram compositores, escritores e outros artistas. Eles passaram um período em um paraíso idílico, mas a má saúde dele e as peculiaridades do casal despertaram a desconfiança dos tacanhos habitantes do local. Refugiaram-se em um convento, mas a saúde dele piorou ao ponto de fazê-los retornar ao continente. Apesar de tudo este período foi produtivo, ele compôs e ela escreveu. Depois, cada um seguiu seu caminho, mas a relação deles é lembrada até hoje, de tão singular que foi.

Os personagens desta novela são Frederic Chopin e Amandine-Aurore-Lucile Dupin, Aurore Dudevant de um certo casamento, mas literariamente conhecida por George Sand. Maria era Maria Wodzinska, da família Wodzinski, que eram amigos da família Chopin, da Polônia. O banqueiro era James Rothschild e os amigos artistas incluíam Schumann, Mendelssohn, Cherubini, Rossini, Liszt, Berlioz, Delacroix, Heine, Alfred de Vigny. Eu lembrei disto tudo depois de ouvir este maravilhoso disco da postagem.

Ser blogueiro estagiário aqui no PQP Bach Coorporation tem muitas vantagens. Uma delas é ter acesso a eventuais pré-lançamentos!! Este disco será oficialmente lançado em 19 de fevereiro. Anna Vinnitskaya é uma pianista espetacular, com excelente formação e muitos talentos. O disco é formado de duas partes. A primeira tem as quatro Baladas de Chopin. Se você quer mostrar a alguém o que é romantismo, em estado bruto, faça com que ouça a Balada No. 1. Todas as Baladas são exemplos de consumado romantismo e a linda Anna nos brinda com interpretações arrebatadoras, mas a primeira delas é especial. Portanto, se você tem algum tipo de intolerância a essa coisa, fique longe. Mas, espero que como é o meu caso, goste de, vez por outra, ser arrebatado nestas ondas de emoção. Bom, calma, aqui o bom gosto prevalece e a técnica da moça é impecável.

A outra metade do programa muda para os salões aristocráticos, num ambiente mais íntimo, onde Chopin, cercado de connoisseurs e nobres exibia todo seu talento. Os Impromptus são peças deliciosas e servem de ótimo exemplo para música de salão, mas no melhor sentido das palavras.

Frederic Chopin (1810 – 1849)

Baladas

  1. em sol menor, op. 23
  2. em fá maior, op. 38
  3. em lá bemol maior, op. 47
  4. fá menor, op. 52

Impromptus

  1. em lá bemol maior, op. 29
  2. em fá sustenido maior, op. 36
  3. em sol bemol maior, op. 51
  4. em dó sustenido menor, op. 66 – ‘Fantasie-Impromptu’

Anna Vinnitskaya, piano

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Como gostei muito, não resisti e preparei logo a postagem!

Aproveite!

René Denon

Uma crítica sobre outro disco da Anna, mas que pode se aplicar também a este da postagem: BBC Music Magazine

Russian-born pianist Anna Vinnitskaya is clearly a name to reckon with. […]

There’s little doubt that she has the measure of each work, demonstrating not only formidable technical control but also a truly remarkable range of tonal colouring. […] Yet there’s no denying the sheer beauty and richness of her sound, the central movement presented in a particularly haunting manner.

Bach (1685-1750): O Cravo Bem Temperado – Uma Seleção do Livro 2 – Piotr Anderszewski, piano ֎

Bach (1685-1750): O Cravo Bem Temperado – Uma Seleção do Livro 2 – Piotr Anderszewski, piano ֎

Bach

12 Prelúdios e Fugas do

Cravo Bem Temperado, Livro 2

Piotr Anderszewski

 

IN-CON-TOUR-NA-BLE

O calvo senhor seguia a mesma rotina matinal: uma caminhada pelos arredores para admirar a natureza e, ao voltar para a casa, sentava-se ao piano e tocava dois prelúdios e fugas de Bach. Depois, café da manhã, algumas escalas agora no violoncelo e então uma das suítes.

O senhor da historinha era Pablo Casals, uma lenda da música. Quem contava esta rotina era sua esposa Marta, que acrescentava: segunda-feira ele tocava a Suíte No. 1, terça-feira a No. 2 e assim por diante. Sábado e domingo ele tocava a Suíte No. 6, que é a mais difícil…

Eu adoro a ideia de alguém sentar-se ao piano e escolher dois ou três dos prelúdios e fugas do Cravo Bem Temperado e tocar, só para começar o dia. Temos notícias de alguns músicos famosos que faziam isto e muitos hoje devem continuar a fazer. Stravinsky, Angela Hewitt e o ator-pianista Duddley Moore são exemplos disso, começar o dia com Bach. Bach e café, uma combinação para lá de estimulante, que vão bem, juntos.

Lembrei-me destas coisas ao dar-me com o disco desta postagem, lançamento recente, com uma coleção de Prelúdios e Fugas escolhidos do Livro 2 do Cravo Bem Temperado do temperamental João Sebastião.

Há muitas gravações do Cravo Bem Temperado e várias são excelentes, mas em sua grande maioria, trazem os livros completos, 24 pares de prelúdios e fugas no primeiro, mais 24 pares no segundo, perfazendo o famoso ‘48’! É como se os intérpretes não ousassem perturbar a arquitetura de um monumento – apresentando sempre o conjunto completo.

A primeira exceção a essa regra não escrita que me lembre é uma gravação do vetusto Wilhelm Kempff, que gravou (ou a gravadora lançou) um LP com alguns prelúdios e fugas de cada um dos livros. Outro exemplo mais recente, de um disco que muito me agradou, foi o da pianista Edna Stern, que você poderá verificar clicando aqui.

Bach (1685-1750): Prelúdios, Fugas e Corais – Edna Stern, piano

Piotr Anderszewski já mostrou em sua discografia ser um grande intérprete de Bach, mas em suas gravações também optou por escolher algumas obras dos conjuntos sem gravar ‘ciclos completos’. Em seu disco de estreia, pela harmonia mundi, na série Les Nouveaux Interpretes, reuniu a Suíte Francesa No. 5 com a Suíte (Abertura) Francesa. Depois gravou dois discos de recitais com uma peça de Bach em cada um. Aí vieram dois discos com repertório dedicado a Bach, um com três Partitas e um com três Suítes Inglesas. Agora, esta maravilha… IRREMPLAÇABLE!

Em uma entrevista para Jedd Distler, da Gramophone, ele contou que na adolescência interessou-se por Bach via Glenn Gould, mas que a abordagem seca da interpretação adotada por ele não lhe satisfez nas suas abordagens. Encontrou uma maior afinidade com a interpretação do veterano Edwin Fischer, de qual disse: ‘I found it free, so poetic and really touching’. Segundo ele, outra inspiração vem das interpretações das grandes obras corais feitas por John Eliot Gardiner: ‘I love Jonh Eliot Gardiner’s interpretations for clarity of their textures’.

Piotr ainda observou que, enquanto o livro 1 foi todo composto em um menor período de tempo, dois ou três anos, seus prelúdios e fugas seguem uns aos outros de maneira mais justa. Já o livro 2 teria sido formado por peças antigas e novas e assim, mais próprio à sua abordagem de escolha. Mencionou também sua opinião de que as fugas deste livro guardam uma maior proximidade com as danças. ‘It’s probably because I’ve played so many of the Partitas and Suites that I notice this. For me, the last one, the B minor Fugue is a passepied. The F major Fugue is absolutely a gigue, and the F minor one is a bourrée’.

Ele ainda disse que essas escolhas foram amadurecendo ao longo de três anos e que havia diferentes possibilidades de alinhavar o programa, que só se definiu assim quase no final. Ele manteve o emparelhamento de Prelúdios e Fugas e começou e arrematou o programa exatamente com o primeiro e com o último par da coleção.

Eu gostei do disco como um lindo recital de música de Bach, e espero que você também o aprove!

 

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 1 em dó maior, BWV 870
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 12 em fá menor, BWV 881
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 17 em lá bemol maior, BWV 886
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 8 ré bemol menor, BWV 877
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 11 em fá maior, BWV 880
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 22 em si bemol menor, BWV 891
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 7 em mi bemol maior, BWV 876
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 16 em sol menor, BWV 885
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 9 em mi maior, BWV 878
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 18 em sol sustenido menor, BWV 887
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 23 em si maior, BWV 892
  1. Prelúdio
  2. Fuga
Cravo Bem Temperado, Livro 2, Prelúdio e Fuga No. 24 em si menor, BWV 893
  1. Prelúdio
  2. Fuga

Piotr Anderszewski, piano

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Piotr Anderszewski takes a characteristically creative approach to Bach’s Das Wohltemperierte Klavier (The Well-tempered Clavier). Rather than recording all 48 of its prelude-and-fugue pairings, he has focused on 12 pairings from Book Two. “I decided to put the pieces together in a sequence of my own subjective choosing, based sometimes on key relationships, at other times on contrasts. The idea behind this specific order is to create a sense of drama that suggests a cycle: 12 characters conversing with one another, mirroring each other.” Anderszewski’s last Erato album of Bach prompted BBC Music MaIgazine to write: “For anyone who loves Bach (or the piano) … this life-enhancing disc is required listening.

Dizem que João Sebastião adorava terminar o dia de trabalho com uma reconfortante fatia de torta de maçã acompanhada de uma revigorante xícara de café. Aí, antes de dormir, uma boa dedilhada no cravo, experimentando uns prelúdios e fugas… Depois, cama! Bom, quanto ao número de filhos, bem…

Aproveite!

René Denon

Les sons et les parfums: Música Francesa para Piano – Janina Fialkowska ֎

Les sons et les parfums: Música Francesa para Piano – Janina Fialkowska ֎

Tailleferre | Fauré | Poulenc

Chabrier | Debussy | Ravel

Peças para Piano

Janina Fialkowska

 

Depois de 13 dias caminhando todas as tardes por mais do que uma hora, meu joelho direito definitivamente zangou-se. Amanheceu com cara de poucos amigos e rangeu alto – botou-me de molho. Eu conheço a peça, reconheci o abuso e o tratei da melhor forma que pude – gelo e diclofenaco dietilamônio em gel. E pernas para o ar, que essa é a melhor das medicinas nestes casos. Dois dias de inatividade melhoraram o humor de meu parceiro joelho e assim consegui uns tantos minutos de pedaladas, espero que isso não me incorra em algum pedido de impedimento. Ao voltar para casa, depois do ritual de assepsia com álcool gel, água sanitária, que meu saudoso pai chamava quiboa, nos sapatos e tudo o mais. Atirei-me ao sofá e pus-me a escolher algum disquinho para embalar o fim da tarde, que a brisa vinda pela porta da varanda fica brincando com as cortinas e tudo fica muito propício. A patroa andava entretida em uma aula no zoom e eu não quis abusar da sorte – tratei de pegar qualquer coisa que já estava no pendrive espetado no sistema e dei com este disco de sugestivo nome ‘Les sons et les parfums’.

As primeiras notas do Noturno chegaram com uma lufadinha de brisa que veio da varanda para o sofá e tudo conjurou para que eu gostasse muito do disco, que foi ficando cada vez melhor.

Uma mistura de peças mais conhecidas, entremeadas por outras menos famosas, mas não menos charmosas.

Um crítico mencionou que já ouviu interpretações mais sutis dessas peças e eu acredito. A Janina tem uma certa objetividade, uma clareza na interpretação, que me soa mais como virtude do que falta. Assim, decidi compartilhar tudo com vocês.

Fialkowska nasceu no Canadá, onde começou seus estudos, mas foi a Paris, onde estudou com Yvonne Lefébure e passou também por Nova York, onde estudou com Sacha Gorodnitzki, na Juilliard School. Em 1974 ganhou um importante prêmio e com isso ganhou a atenção de Arthur Rubisnstein, que se tornou assim uma espécie de mentor e ela passou a ser identificada como intérprete de Chopin.

Neste disco os compositores mais conhecidos são Debussy e Ravel, cujas peças dominam a segunda parte. Isso é bom, mas as quatro primeiras delas, de Germaine Tailleferre, Gabriel Fauré, Francis Poulenc e Emmanuel Chabrier, são belíssimas. A Habanera, de Chabirer, que evoca a música espanhola, apesar do nome, está tocando agora… Portanto, não demore nem mais um pouco e vá logo baixando o arquivo.

Germaine Tailleferre (1892 – 1983)

  1. Impromptu

Gabriel Fauré (1845 – 1924)

  1. Noturno No. 4 em mi bemol maior, Op. 36

Francis Poulenc (1899 – 1963)

  1. Intermezzo em lá bemol maior, FP118

Emmanuel Chabrier (1841 – 1894)

  1. Habanera

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. Poissons d’or (de Images pour piano, livre 2, No. 3)
  2. Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir (de Préludes, livre 1)
  3. Reflets dans l’eau (de Images pour piano, livre 1, No. 1)
  4. Clair de Lune (da Suite Bergamasque)

Maurice Ravel (1875 – 1937)

  1. Jeux d’eau

Sonatine

  1. Modéré
  2. Mouvement de menuet
  3. Animé

Janina Fialkowska, piano

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Cet affectueux parcours dans sa mémoire musicale évoque un portrait vibrant de Paris pendant la jeunesse de Mme Fialkowska, alors que « Poulenc et Tailleferre étaient encore très vivants et que les âmes de Ravel, Debussy et Fauré étaient toujours omniprésentes ».

Esta viagem afetuosa na memória musical evoca um retrato vibrante de Paris durante a juventude de Mme Fialkowska, quando “Poulenc e Tailleferre ainda estavam muito vivos e as almas de Ravel, Debussy e Fauré ainda eram onipresentes”.

Gramophone – Awards Issue 2019

This programme, selected with such care and affection, is imbued with the character, style and intelligence which are the hallmarks of Fialkowska’s playing… Fialkowska brings to bear an extraordinary variety of touch, producing sounds that seem tailored to their respective pieces…There’s simply no one quite like her.

Tailleferre was the only woman in the group of French composers, Les Six. Encouraged and inspired by her friends – including Poulenc and Ravel – she wrote many of her most important works during the 1920s, including her first Piano Concerto, the Harp Concertino, the ballets ‘Le marchand d’oiseaux’ and ‘La nouvelle Cythère’. She was composing and playing piano right up until her death at the age of 91.

Aproveite!

René Denon

PS: Se você gostou desta postagem, não deixe de visitar

Coleção de Peças Francesas para Piano – Arthur Rubinstein

Bedřich Smetana (1824-1884): Quartetos de Cordas – Pražák Quartet ֍

Bedřich Smetana (1824-1884): Quartetos de Cordas –  Pražák Quartet ֍

 

Smetana

Quartetos de Cordas

Pražák Quartet

 

 

No dia 3 de junho de 1970 a Seleção Brasileira de Futebol estreou na Copa do Mundo contra a Seleção da Tchecoslováquia. O Brasil ganharia o jogo de virada, por 4 a 1. Pelé fez seu quase-gol mais antológico – aquele que deveria ter entrado – e foi assim que eu soube da existência deste país, ou par de países, já que naqueles dias os tchecos e os eslovacos andavam assim, siameses, ajuntados. Geografia é uma difícil disciplina. Foi só depois de 1993 que os dois países seguiram caminhos separados, sem, no entanto, sair do lugar, pois se há alguma coisa que não se move é um país.

Estou falando deste assunto pois o compositor da postagem é um dos mais importantes da República Tcheca, que foi assim que passamos a chamar esta parte da Tchecoslováquia de 1993 para cá. Pensava que poderia ser Tchecóvia ou Tchéquia, mas uma vez dito, entendo, República Tcheca é bem melhor.

Smetana, que viveu bem antes disto – suas referências eram Bohemia e Morávia – ficou famoso por suas óperas e pelo ciclo de poemas sinfônicos – Má Vlast (Minha Pátria) e justamente, foi um grande compositor. Eu conhecia o mais famoso destes poemas sinfônicos, Moldava, que alude ao rio que passa por lá, desde tenra infância. Pois agora sei que, assim como Beethoven e Gabriel Fauré, Smetana chegou surdo ao fim de seus dias. A surdez lhe ocorreu quando ainda tinha dez anos de vida pela frente, devido a um derrame, e foi terrível, como podemos tentar imaginar. As obras deste disco foram compostas neste período e formam, com o seu Trio com Piano, o conjunto de suas obras de câmera.

O Quarteto em mi menor, ‘da Minha Vida’, foi composto em fins de 1876 e teve sua estreia em 1878. Brevemente, o primeiro movimento trata do amor que Smetana tinha pela arte e tem uma disposição nostálgica e romântica, terminando com uma nota de premonição sobre o futuro. O segundo movimento – uma polca – trata da juventude e alude às danças. O compositor era tido como um grande dançarino. O terceiro refere-se ao amor de sua vida, aquela que viria a ser sua esposa. O último movimento tem como tema o nacionalismo na música, o que realmente distinguia suas composições, até o momento da fatídica condição de surdez.

Servindo como uma espécie de interlúdio entre os dois quartetos, temos duas peças para piano e violino e são resultado do pedido de um editor de música. Afinal, havia que colocar o pão na mesa. O editor estava de olho no sucesso de vendas de partituras para pequenas combinações com tons étnicos (digamos assim), do tipo das Danças Húngaras de Brahms e as Danças Eslavas de Dvořák, para piano a quatro mãos, que vendiam muito bem.

O Segundo Quarteto, em ré menor, foi composto em 1882-3 como um quase desafio às ordens médicas, de ficar longe da música, uma vez que a saúde de Smetana estava muito agravada e que o levaria à morte realmente pouco tempo depois. Esta obra é de natureza um pouco diferente das anteriores, bem mais compacta e seus aspectos inovadores foram apreciados pelos vienenses Hugo Wolf e Arnold Schoenberg.

Esta gravação é de boa cepa, autêntica até os digital-genes… O Quarteto tem ótima discografia e merece cuidadosa audição.

Bedřich Smetana (1824 – 1884)

Quarteto No. 1 em mi menor – Mého Života (da Minha Vida)

  1. Allegro vivo appassionato
  2. Allegro moderato alla polca
  3. Largo sostenuto
  4. Vivace

Z Domoviny (da Minha Terra Natal) – Duo para piano e violino

  1. Moderato
  2. Moderato. Allegro vivo. Moderato assai. Presto

Quarteto de Cordas No. 2 em ré menor

  1. Allegro
  2. Allegro moderato
  3. Allegro non più moderato, ma agitato e con fuoco
  4. Presto – Allegro

Pražákovo kvarteto (Pražák Quartet)

Václav Remes, violino

Vlastimil Holek, violino

Josef Klusoň, viola

Michal Kaňka, violoncelo

Sachiko Kayahara, piano e Václav Remes, violino (faixas 5 e 6)

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Observação: O Quarteto Pražák hoje tem outra formação.

O pessoal do ‘Prozak’ Quartet visitando a sede de campo do PQP Bach em Blumenau

De um arguto crítico amador: ‘While it looks to me like “From the Homeland” was written to make a buck, as it was commissioned by a German publisher interested in Eastern European style music, I enjoyed getting to know it, especially the second part, which is played very nicely by Remes and Kayahara’.

Smetana, para os russos, é outra coisa…

Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nos. 9 e 24 & Quarteto com Piano K. 478 – Rudolf Firkušný ֎

Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nos. 9 e 24 & Quarteto com Piano K. 478 – Rudolf Firkušný ֎

Mozart

Concertos para Piano Nos. 9 e 24

Quarteto com Piano K. 478

Rudolf Firkušný

 

Este é um daqueles discos que poderia muito bem ser encontrados na gôndola de queima de estoques da loja. Até os sebos – lojas de CDs usados – têm um espaço destes onde reúnem de tudo – CDs promocionais, CDs de banca e aqueles selos quase desconhecidos. Tudo oferecido a preço de ocasião. Eu sempre gostei de garimpar nestes locais em busca de algum esquecido tesouro, especialmente em alguma preguiçosa tarde chuvosa, no meio de uma ronda por tais lojas. O CD em questão é bem típico. Selo quase desconhecido: Intercord. Capa genérica com uma pintura abstrata que mais se parece com um borrão e letras com tipos bem ordinários. Um olhar mais atento, no entanto, começa a revelar uma possível compra: concertos para piano de Mozart. Dois concertões! A orquestra de uma Rádio Alemã é garantia de competência, que se eleva com a revelação do nome do maestro: Ernest Bour. Especialista em música moderna, mas também excelente nos clássicos. O empurrão que faltava em direção à carteira vem do nome do solista, o espetacular pianista tcheco, Rudolf Firkušný. Grande especialista em música de Janáček e Martinů, mas ótimo pianista em geral, como vocês poderão atestar por este disco.

Ernest Bour

Os dois concertos do disco são os maiores e mais intensos (se podemos dizer assim) de seus respectivos períodos. O Concerto em mi bemol maior, K. 271, é de 1777 e foi composto em Salzburgo, motivado pela visita de uma pianista virtuose francesa, Mademoiselle Jeunehomme. O concerto é muito bonito, em especial o andantino. No disco, este concerto vem em segundo.

O outro é o Concerto em dó menor, K. 491, de 1786, mesma época da composição do Figaro assim como de outros concertos. Este é possivelmente o concerto para piano no qual Mozart chegou mais próximo do romantismo. É um grande concerto e usa uma orquestra completa e foi muito admirado por Beethoven.

Para completar o pacote ‘Mozart – Firkušný’, estou colocando como bônus o Quarteto com Piano em sol maior, K. 478, no qual Firkušný colabora com membros do Quarteto Panocha, que na época eram muito mais jovens do que ele. Eles se conheceram durante uma turnê do quarteto, quando eles tocaram em uma festa oferecida por uma personalidade, em Nova York. Firkušný estava na festa e eles se tornaram amigos. Só bem depois eles tiveram oportunidade de realmente tocarem juntos. A amizade entre o idoso pianista e os jovens músicos cresceu, assim como o projeto de gravar os dois quartetos de Mozart. A gravação da peça que está no arquivo ocorreu em setembro de 1992, mas os planos para a gravação do outro quarteto, no entanto, foram interrompidos pela morte de Firkušný, o que foi uma grande pena. Mas esta gravação revela como música pode unir gerações e aproximar pessoas de idades das mais diversas e fica como uma homenagem a este grande pianista.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para Piano em dó menor, K. 491

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Allegro

Concerto para Piano em mi bemol maior, K. 271

  1. Allegro
  2. Andantino
  3. Presto

Rudolf Firkušný, piano

SWF Sinfonie-Orchester Baden-Baden

Ernest Bour

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(In Honorem Rudolf Firkušný)

Quarteto com Piano em sol maior, K. 478

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Rondo (Allegro)

Rudolf Firkušný, piano

Panocha Quartet (membros):

Jiří Panocha, violino

Miroslav Sehnoutka, viola

Jaroslav Kulhan, violoncelo

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A evolução do Quarteto Panocha

Veja parte de um testemunho de uma aluna Firkušný que poderá ser lido na íntegra aqui.

‘I had the great honor to study with Firkusny at Juilliard for five years, and in person he was as modest and affable as he was unruffled and commandingly communicative on stage. The sweet scent of his cherry tobacco pipe and kindliness of his smile greeted me upon entry to Room 557 for my lessons. They’re etched in my memory as are his endless patience and aristocratic demeanor during my lessons’. (SARA DAVIS BUECHNER)

Aproveite!

René Denon

Veja a cara que o Miles Kendig fez ao ver a prévia da postagem…

Schubert (1797–1828): Peças para Piano – Leon Fleisher – Nelson Freire ֎

Schubert (1797–1828): Peças para Piano – Leon Fleisher – Nelson Freire ֎

Schubert

Fantasia Wanderer & Sonata D. 664

Leon Fleisher

Impromptus D. 899

Nelson Freire

 

As reedições de gravações antigas sempre fizeram parte das estratégias de venda das gravadoras. Se a grana anda curta, basta olhar o calendário, escolher a data festiva mais próxima, reunir gravações do acervo, empacotar tudo com uma bonita capa e pronto, vendas garantidas. Outro grande filão são as coleções temáticas, digamos assim, sempre com superlativos, como Great Pianists of the 20th Century, a Série Galleria, da Deutsche Grammophon, os Philips DUOS e assim por diante.

Oferecidos a preços mais módicos, estas coleções sempre foram muito atraentes, mas podiam conter algumas armadilhas, como a reunião de cães e gatos em um só disco ou gravações de um artista que já fizera a fama e agora só estava deitado na cama.

Eu sempre me diverti muito fuçando e escolhendo estas pilhas de discos ou listas deles nas publicações, buscando alguns tesouros perdidos.

O disco desta postagem é um típico exemplo. A série Essential Classics da Sony reúne gravações do catálogo que ela produziu ao vasto material da Columbia Masterworks e contém verdadeiras gemas. Sob uma capa genérica, que muda a cor do fundo dependendo do tipo de música que oferece, com alguma pintura antiga e os nomes dos envolvidos e da música. O subgrupo Piano Solo é esverdeado e a Orchestral Works tem fundo laranja.

Eu não sou saudosista e vários artistas que ouvi décadas passadas já não mais fazem parte da minha playlist, mas algumas coisas são atemporais e esta é uma delas.

O disco reúne dois enormes pianistas em um programa duplo – as gravações foram feitas em diferentes períodos.

Em 1963 Leon Fleisher estava em excelente forma e gravou a mais virtuosística peça de Schubert, a Fantasia Wanderer. No outro lado do LP, a lírica, curta e belíssima Sonata em lá maior, D 664, uma das primeiras que Schubert realmente completou, em um momento que andava feliz. O som destas gravações é um pouquinho seco, mas a beleza da interpretação é tamanha que o ouvido imediatamente se ajusta. A impetuosidade na Wanderer contrasta muito com a fluência da Sonata, especialmente bonito!

Qualidade do som não deve causar qualquer preocupação no resto do programa, os Impromptus D. 899 gravados em 1969 por Nelson Freire. Eu simplesmente adoro essa música e não me canso de ouvir este disco que pode muito bem passar desapercebido por muitos.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Fantasia para Piano em dó maior, F. 760 “Wanderer”

  1. Allegro com fuoco ma non troppo
  2. Adagio
  3. Presto
  4. Allegro

Sonata para Piano em lá maior, D. 664

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Allegro

Leon Fleisher, piano

4 Impromptus, D. 899

  1. 1 em dó menor – Allegro molto moderato
  2. 2 em mi bemol maior – Allegro
  3. 3 em sol bemol maior – Andante
  4. 4 em lá bemol maior – Allegretto

Nelson Freire, piano

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Leon ‘taking five’, depois de ter gravado a Fantasia Wanderer…
Nelson Freire

Não hesite, aproveite!

René Denon

Handel (1685 – 1759): Concerti grossi Op. 6 – Combattimento Consort Amsterdam & Jan Willem de Vriend ֎

Handel (1685 – 1759): Concerti grossi Op. 6 – Combattimento Consort Amsterdam & Jan Willem de Vriend ֎

HANDEL

Concerti grossi Op. 6

Combattimento Consort Amsterdam

Jan Willem de Vriend

 

Entre 1719 e 1737 Handel, que vivia em Londres, manteve companhias de ópera em estilo italiano, mas finalmente teve que mudar de ramo, com a falência da última delas. Era muito caro importar os cantores italianos e o gosto dos ingleses para este tipo de música era variável. Além disso, ele não era tão jovem e enfrentava problemas de saúde. Ele já havia se tornado cidadão britânico, decidiu adaptar-se aos gostos locais, permanecendo em Londres, em vez de buscar novas paragens. Chegara o tempo das odes e dos oratórios. Mantendo a tradição da época, fez reuso de música já composta para outras ocasiões, adaptando tudo para o momento. E quem ligava, se o resultado soava novo e adequado?

Além da música coral, Handel passou a arranjar e compor concertos para intercalar com os números destas apresentações. Queria mostrar seus poderes de grande compositor para garantir definitivamente a fama e o dinheiro.

Nos meses de setembro e outubro de 1739 ele trabalhou nestes concerti grossi, que pretendia usar na próxima temporada. Mesmo levando em conta o reuso, o resultado é verdadeiramente espetacular. A concisão de tempo não colocou em perigo a qualidade das peças nem diminuiu a inventividade. Handel planejou a obra toda como um conjunto de 12 concertos, seguindo a tradição estabelecida pelos mestres italianos como Corelli, Albinoni e Vivaldi. Além do uso em seus espetáculos, Handel fez parceria com o editor de música John Walsh Junior que anunciou a obra para venda por assinatura antes mesmo de Handel terminar de escrever as últimas notas.

Sala de Música na Casa de Handel, Londres
João Guilherme gostou da minha escolha…

Escolher uma gravação para a postagem não foi tarefa fácil, mas foi divertido. Certamente haverá desdobramentos. Apesar das boas lembranças trazidas pela audição das gravações de Iona Brown e Yuli Turovsky, o vibrato acabou me colocando em outra direção. É claro que Pinnock e Hogwood (que adoro) e inúmeros outros grupos gravaram estas obras e algumas destas boas opções já foram postadas. Assim, me concentrei nas novas gravações. Ouvi algumas vezes o lançamento do excelente selo BIS, uma gravação bastante elogiada com o grupo Arte dei Suonatori, que apesar do nome é polonês, regido por Martin Gester. Mas acabei optando pelo grupo holandês Combattimento Consort, regido pelo Jan Willem de Vriend que, apesar de atento às práticas historicamente informadas, usa instrumentos modernos. Talvez isso tenha sido a razão pela escolha. Espero que você também goste da escolha!

Georg Friedrich Handel (1685 – 1759)

[1-5] – Concerto grosso, Op. 6 No. 1 em sol maior, HWV319

[6-9] – Concerto grosso, Op. 6 No. 2 em fá maior, HWV320

[10-14] – Concerto grosso, Op. 6 No. 3 em mi menor, HWV321

[15-18] – Concerto grosso, Op. 6 No. 4 em lá menor, HWV322

[19-24] – Concerto grosso, Op. 6 No. 5 em ré maior, HWV323

[25-29] – Concerto grosso, Op. 6 No. 6 em sol menor, HWV324

[30-34] – Concerto grosso, Op. 6 No. 7 em si bemol maior, HWV325

[35-40] – Concerto grosso, Op. 6 No. 8 em dó menor, HWV326

[41-46] – Concerto grosso, Op. 6 No. 9 em fá maior, HWV327

[47-51] – Concerto grosso, Op. 6 No. 10 em ré menor, HWV328

[52-56] – Concerto grosso, Op. 6 No. 11 em lá maior, HWV329

[57-61] – Concerto grosso, Op. 6 No. 12 em si menor, HWV330

Combattimento Consort Amsterdam

Jan Willem de Vriend

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Combattimento Consort Amsterdam maravilhados com o Salão de Música do PQP Bach Corp. em Blumenau

Gramophone: “the use of modern strings and woodwind is by no means a disadvantage because there are some salient aspects of these performances that are closer to historically informed practice than those one hears from some period-instrument sets…Combattimento Consort Amsterdam’s pursuit of dramatic conviction and rich textures is commendable”.

Veja o que disse uma outra crítica, que pode ser lida na íntegra aqui: “Stirring, exciting and moving in equal measure, this is a Handel Op. 6 with which to reward yourself, and which will deliver pleasure for as long as you possess it. […] Such a magnificent production, superbly recorded […], is therefore cause both for celebration and poignancy. Snap it up while you can”.

Baixe logo, enquanto pode… Aproveite!

René Denon

PS:O pessoal do Combattimento e o Jão Guilherme já nos visitaram antes. Veja aqui:

Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644-1704): Soldiers, Gypsies, Farmers and a Night Watchman: Instrumental Pieces by Biber

Stravinsky (1882-1971): Petrushka – A Sagração da Primavera – Seiji Ozawa ֎

Stravinsky (1882-1971): Petrushka – A Sagração da Primavera – Seiji Ozawa ֎

STRAVINSKY

Petrushka

A Sagração da Primavera

Seiji Ozawa

 

Este disco apareceu em uma postagem no dia 29 de maio de 2013 e hoje ressurge na série PQP-Originals.

Veja aqui o texto daquela postagem (com a tradicional objetividade PQP-niana):

Seguindo nossa homenagem aos 100 anos da estreia de A Sagração da Primavera, lá vai o segundo torpedo, este com Seiji Ozawa, grande regente que atualmente luta com problemas de saúde decorrentes de um câncer no esôfago contraído em 2009. Assim como no CD postado por FDP Bach, a Sagração vem com o brinde de Petrouchka, mas aqui temos também a curta e excelente Fogos de Artifício.

Agora você sabe a motivação da postagem original, o centenário da estreia de A Sagração da Primavera, em 29 de maio de 1913, no Théatre des Champs-Elysées, em Paris. A primeira parte do programa foi Les Sylphides, balé baseado na música de Chopin. Choque é uma palavra leve para descrever a reação da plateia. A Sagração da Primavera é uma das peças mais inovadoras e é um marco na História da Música. O balé é resultado de uma colaboração de Stravinsky com diversos outros artistas de outras áreas. Menciono isto apenas para colocar a originalidade da obra num contexto de mudanças que estavam, por assim dizer, no ar. A Sagração é parte de uma sequência de balés que começou com o Pássaro de Fogo e passou por Petrushka, a outra obra do álbum. Tudo isto em pouco mais de três anos, uma vez que a estreia do Pássaro de Fogo ocorreu em 1910.

Mas o que nos interessa hoje é a música e estas gravações são excelentes e merecem serem reapresentadas aos nossos leitores-seguidores.

Confesso, Seiji Ozawa não é o primeiro nome que me vem à mente ao pensar em um regente para essas (ou outras, por assim dizer) peças. Mas aqui temos duas orquestras americanas no auge de suas excelentes capacidades regidas por um jovem talentoso esperando se firmar no cenário artístico americano. Ozawa viria a se tornar o regente da Orquestra de Boston alguns anos depois.

As gravações de A Sagração e de Fogos de Artifício, a pequena peça que completa o programa, são de julho de 1968. A orquestra é a Chicago Symphony, que até 1963 fora comandada por Fritz Reiner. Em 1968 o regente principal era Jean Martinon, que estava de saída.

A gravação de Petrushka é de em novembro de 1969, com a Boston Symphony Orchestra, outra das ‘Big Five’ e que fora consolidada por Charles Munch. Nesta gravação, o pianista é outro jovem americano que viria a se firmar como um importante regente, Michael Tilson Thomas.

A produção de Peter Delheim [RCA High Performance] é um primor.

Igor Stravinsky (1882 – 1971)

  1. [1-16] – Petrushka
  2. [17 – 23] – A Sagração da Primavera (Parte I)
  3. [24 – 29] – A Sagração da Primavera (Parte II)
  4. [30] – Fogos de Artifício
Michael Tilson Thomas, piano (Petrushka)

Boston Symphony Orchestra (Petrushka)

Chicago Symphony Orchestra (Sagração e Fogos de Artifício)

Seiji Ozawa

Observação: Os arquivos originais estão divididos em múltiplas faixas, que pode ser conveniente para acessar este ou aquele trecho. No entanto, em alguns leitores de arquivos musicais, especialmente os mais antigos, há sempre um pequeno intervalo de tempo entre as faixas. Eu acho isso muito chato. Assim, disponho também uma opção com arquivos nos quais algumas faixas foram reunidas, evitando assim essa interrupção.

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Igor, de olho no ano que vem aí…

Veja o que o pessoal lá do Japão achou do disco:

やはり50年近く前の演奏だから若干古さは感じるがこの値段でこれが聴けるのは驚異的!オーケストラの演奏がやたら巧過ぎるので良い音楽が堪能できます。ピアノの音色とオーケストラの音がキラキラ光る様で実に美しくも素晴しい。

(É uma performance de quase 50 anos atrás, então parece um pouco velha, mas é incrível ouvir isso a esse preço! Você pode desfrutar de boa música porque o desempenho da orquestra é muito habilidoso. O som do piano e o som da orquestra estão brilhando, e é realmente lindo e maravilhoso.)

Aproveitem, ano novo, música nova!!

René Denon

Seiji ensaiando a OSPQP

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 3/3 ∞

Mozart 

Sonatas para Piano

Terceiro Tempo

Klára Würtz, piano

 

Klára Würtz

Esta é a última postagem com as Sonatas para Piano de Mozart, interpretadas pela pianista húngara Klára Würtz. Há algum tempo vinha ensaiando uma postagem destas sonatas e considerei algumas possibilidades, entre elas as gravações de Mitsuko Uchida e Maria João Pires, as duas bem diferentes, ambas excelentes. Mas como são gravações tão conhecidas e cantadas em verso e prosa, achei que as gravações da Klára, que conheci ao longo deste ano que está passando, merecem alguma divulgação, mesmo que seja dentro do nosso modesto escopo.

Este grupo de seis sonatas é bem desigual, devido a maneira como as sonatas foram planejadas, refletindo a maior instabilidade na qual Mozart viveu seus últimos anos.

A Sonata em si bemol maior, K. 333, foi publicada em Viena, por Christoph Torricella, juntamente com algumas outras obras, inclusive a Sonata K. 284, a maior e última das seis primeiras sonatas. Esta sonata foi escrita, no entanto, em 1778 em Paris, período em que também estava na cidade Johann Christian Bach, compositor pelo qual Mozart tinha grande respeito e admiração. A Sonata tem ares das sonatas de Johann Christian. Mas outra fonte também fala na possibilidade de a sonata ter sido composta em Linz, na época da Sinfonia ‘Linz’. De qualquer forma, o estilo galante é bem nítido e a sonata agradabilíssima.

Em seguida uma grande Sonata em dó menor, K. 457, de outubro de 1784. Ela foi composta num período de grande atividade, com a composição de muitos concertos para piano. A peça em tonalidade menor é carregada de angústia e apresenta uma linguagem diferente, nova, especialmente se a compararmos com a sonata anterior. É pioneira no sentido que parece ter sido composta para um ambiente maior, além dos salões da nobreza. Esta sonata é, em geral, associada à Fantasia (também) em dó menor, K. 475, que não foi incluída nesta gravação. Assim, tomei a liberdade de acrescentar uma interpretação desta Fantasia e a coloquei como uma faixa bônus, no final do arquivo. A gravação é do (então) jovem pianista Alexej Gorlatch e se encontra em um disco-recital no selo Genuin, de 2010. Esta é, talvez, a Sonata mais próxima das sonatas que Beethoven viria compor alguns anos depois.

A Sonata em fá maior, K. 533/494 é uma montagem de movimentos compostos separadamente. Ela representa novamente uma retomada de direção de Mozart, que usa elementos que estudou nas obras de Bach e Handel, como contraponto e passeios em distantes tonalidades.

A Sonata K. 545 é uma ‘Sonata facile’, escrita para amadores. Mas mesmo aqui, a genialidade de Mozart faz com que uma beleza artística venha à superfície. Na ótima página sobra as sonatas, com os conteúdos escritos por Paul e Eva Badura-Skoda, você encontra uma classificação das sonatas por grau de dificuldade e esta é a mais fácil delas.

As duas últimas sonatas foram escritas em 1789. A Sonata em si bemol maior, K. 570, escrita na mesma tonalidade que o último Concerto para Piano, apresenta esta simplicidade que Mozart atingiu nas suas últimas obras, uma elusiva simplicidade, bem Mozart.

A Sonata em ré maior, K. 576 foi interpretada por Mozart na presença de Frederick Willelm II, Rei da Prússia, que encomendara alguns quartetos e sonatas fáceis a Mozart. Ele completou três quartetos e apenas esta sonata, que não é exatamente ‘fácil’. O apelido ‘Jagd-Sonate’ (Caça) se deve ao tema do primeiro movimento, com as fanfarras associadas à música de caça.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Sonata para Piano em si bemol maior, K. 333

  1. Allegro
  2. Andante cantabile
  3. Allegretto grazioso

Sonata para Piano em dó menor, K. 457

  1. Allegro molto
  2. Adagio
  3. Allegro assai

Sonata para Piano em fá maior, K. 533

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Rondeau: Allegretto

Sonata para Piano em dó maior, K. 545

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Rondo

Sonata para Piano em si bemol maior, K. 570

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegretto

Sonata para Piano em ré maior, K. 576

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegretto

Klára Würtz, piano

Faixa Bônus

Fantasia para Piano em dó menor, K. 475

Alexej Gorlatch, piano

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MP3 | 320 KBPS | 257 MB

Klára Würtz

This is what is so special about Ms Wurtz. Her playing is very personal and yet never at variance with the composer’s wishes. When you hear her play Mozart for example, it feels as if you have never heard it before. That’s class.

There is a wonderful story, which several people have confirmed as true, when Ms Wurtz appeared recently in a concert with one of her tutors, Andras Schiff and received the best reviews of the evening which caused him to have a terrible huff!

Here is that rare joy! Mozart played with life, vibrancy and sheer excitement along with an exquisiteness that is so beautiful and rare that I do not know what to say. It would be a mistake for genuine music lovers not to buy this set.

Soul satisfying! Very special!                                                                                                                        David Wright

Aproveite!

René Denon

Veja também esta postagem:

W. A. Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano – Murray Perahia

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 2/3 ֎

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 2/3 ֎

Mozart

Sonatas para Piano

Segundo Tempo

Klára Würtz, piano

 

Klára Würtz

Nesta segunda postagem da série de Sonatas para Piano de Mozart, interpretadas pela pianista Klára Würtz, temos seis maravilhosas sonatas que se dividem assim em dois grupos de três. As Sonatas K. 309 e K. 311 foram escritas em 1777 na cidade de Mannheim, um lugar com muita música e bons compositores, naqueles dias. Mozart estava a caminho de Paris e passou por lá um tempo. A Sonata em dó maior, K. 309, foi dedicada à Rosa, jovem filha de Christian Cannabich, músico que teve papel importante no desenvolvimento da orquestra como nós a conhecemos. Ele dava importante papel aos sopros e o interesse de Mozart pelo clarinete certamente foi despertado nesta convivência.

Aqui traduzo um pouco livremente o que achei na net sobre a Rose Cannabich.

Esta imagem é puramente ilustrativa e pode não ser parecida com a real Rose

Rose era a mais velha de uma prole de seis crianças. Como era costume entre as famílias de músicos, as crianças recebiam educação musical, provavelmente de seus pais e de outros membros da orquestra.

Rose teve aulas de piano de Mozart de novembro de 1777 até março de 1778. Mozart e sua mãe estavam de viagem para Paris, mas passaram alguns meses em Mannheim para estudar a orquestra. Mozart escreveu para seu pai em 4 de novembro de 1777: “Ele tem uma filha que toca piano bastante bem e para ganhar a sua amizade estou trabalhando em uma sonata para sua mademoiselle filha”. Sobre Rose, ele disse “… uma garota bem-comportada e bastante bonita. Ela tem bastante senso para a sua idade e é recatada. Elá é séria, fala pouco, mas quando o faz é com graça e simpatia”. Assim, Rose merece a dedicação da linda sonata!!

Estas sonatas são muito espirituosas e já foi dito sobre elas: está na cara que foram escritas em Mannheim. A música é realmente muito especial e vibrante.

A Sonata em lá menor, K. 310 foi composta em Paris e distingue-se primeiramente por ser em tonalidade menor. Ela segue um pouco os padrões aos quais as audiências de Paris estavam acostumadas, mas a sonata é puro Mozart. Foi nesta fatídica viagem que morreu a mãe de Mozart, que o acompanhava.

As outras sonatas desta postagem, K. 330 – 332, foram compostas em Viena em 1783. Pensava-se que eram anteriores, de 1778, escritas também em Paris, mas a excelente página com as notas de Paul e Eva Badura-Skoda, que você pode acessar aqui, confirma a data posterior, assim como o livrinho de Stanley Sadie sobre Mozart e sua obra.

Neste grupo, a sonata mais famosa é a Sonata em lá maior, K. 331, que inicia com um conjunto de variações e termina com uma das mais conhecidas peças de Mozart, a Marcha Turca.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Sonata para Piano em dó maior, K. 309

  1. Allegro com spirito
  2. Andante un poco adagio
  3. Rondeau: Allegretto grazioso

Sonata para Piano em lá menor, K. 310

  1. Allegro maestoso
  2. Andante cantabile con espressione
  3. Presto

Sonata para Piano em ré maior, K. 311

  1. Allegro con spirito
  2. Andante con espressione
  3. Rondeau: Allegro

Sonata para Piano em dó maior, K. 330

  1. Allegro moderato
  2. Andante cantabile
  3. Allegretto

Sonata para Piano em lé maior, K. 331

  1. Andante grazioso
  2. Menuetto
  3. Alla Turca: Allegretto

Sonata para Piano em fá maior, K. 332

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Allegro assai

Klára Würtz, piano

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A decisão mais difícil do dia: de qual sonata você gosta mais? K. 310 ou 331? Bom, deixe ouvi-las mais uma vez… talvez eu decida, ou não.

And now there is this complete set of Mozart’s 18 piano sonatas, in state of the art sound, as played by Hungarian pianist Klára Würtz. Her performances are, in a word, miraculous. Highest recommendation.

Jeffrey J. Lipscomb, FANFARE

Continuo recomendando!

René Denon

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Mozart (1756 – 1791) ∞ Peças para Piano ∞ Francesco Piemontesi

Brahms (1833-1897): Quintetos com Piano e com Clarinete – Dezső Ránki (piano) – Béla Kovács (clarinete) – Bartók Quartet ֍

Brahms (1833-1897): Quintetos com Piano e com Clarinete – Dezső Ránki (piano) – Béla Kovács (clarinete) – Bartók Quartet ֍

BRAHMS

QUINTETOS

Ránki – Kovács

Bartók Quartet

 

Nosso fotógrafo não conseguiu registrar o momento da entrada da tuba e teve que improvisar…

Há um texto de Luis Fernando Verissimo no qual um formal concerto de um quarteto de cordas é invadido por um sujeito com uma tuba que tenta ‘participar’ do evento.

Realmente, nada seria mais inusitado, a formalidade e o equilíbrio representado pelo conjunto de câmera todo vestido para a ocasião sendo perturbados pela presença deste inconveniente ‘quinto’ membro, com um instrumento tão diverso.

Lembrei-me do texto enquanto ouvia este disco da postagem. Nas duas peças, o quarteto recebe um visitante que está de passagem para uma boa meia hora de convívio fazendo linda música.

Béla Kovács

Estas duas peças são maravilhas da música de câmera compostas por Brahms em fases distintas da vida. E elas são bem diferentes, muito contrastantes.

O Quinteto com Piano em fá menor, op. 34, foi composto por volta de 1861 e reflete uma certa inquietude e o vigor da juventude. Já o Quinteto com Clarinete em si menor, op. 115, foi composto trinta anos depois e o uso do clarinete assim como a maturidade do compositor deram a obra um caráter mais contido que permeia também outras obras de Brahms do mesmo período. A palavra outonal costuma aparecer constantemente na literatura que trata destas obras.

Neste disco, o denominador comum às duas peças, além do compositor, é o Bartók Quartet, formado por Péter Komlós e Sándor Devich (violinos), Géza Németh (viola) e Károly Bolvay (violoncelo). Estes músicos húngaros de excelente formação e muito talento têm interessantes registros pelo selo Hungaroton.

 

No Quinteto com Piano são acompanhados por Desző Ránki, que foi colega de classe de Zoltán Kocsis e András Schiff. Se encontrar algum disco com ele, não deixe de investigar.

No outro Quinteto, o homem da tuba é o clarinetista Béla Kovács. Se for dar uma busca na internet com este nome, acrescente músico ou clarinete, pois caso contrário acabará lendo a biografia de algum político ou com mais sorte, um jogador de futebol. Aparentemente, Béla e Kovács são nomes bem comuns por lá. Mas entre os clarinetistas, Béla é bem conhecido.

Johannes Brahms (1833 – 1897)

Quinteto com Piano em fá menor, Op. 34

  1. Allegro non troppo
  2. Andante un poco adagio
  3. Allegro
  4. Poco sostenuto – Allegro non troppo

Quinteto com Clarinete em si menor, Op. 115

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Andantino
  4. Con moto

Dezső Ránki, piano

Béla Kovács, clarinete

Bartók Quartet

               Péter Komlós, Sándor Devich, violinos
               Géza Németh, viola
               Károly Botvay, violoncelo

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MP3 | 320 KBPS | 151 MB

O que realmente não é comum é a qualidade da música que temos aqui, interpretada por estes excelentes músicos.

Aproveite!

René Denon

Dezső Ránki

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 1/3 ֎

Mozart (1756 – 1791): Sonatas para Piano – Klára Würtz – 1/3 ֎

Mozart

Piano Sonatas

Primeiro Tempo

Klára Würtz, piano

 

Klára Würtz

Esta é a primeira de uma série de três postagens com as Sonatas para Piano de Mozart, interpretadas pela pianista húngara Klára Würtz. Há algum tempo vinha ensaiando uma postagem destas sonatas e considerei algumas possibilidades, entre elas as gravações de Mitsuko Uchida e Maria João Pires, as duas bem diferentes, ambas excelentes. Mas como são gravações tão conhecidas e cantadas em verso e prosa, achei que as gravações da Klára, que conheci ao longo deste ano, merecem alguma divulgação, mesmo que seja dentro do nosso modesto escopo.

Eu gosto muito desta música, que ouço com frequência bastante razoável. Há excelentes discos com grupos de sonatas, como o gravado por Murray Perahia, mas aqui você tem a oportunidade de ter uma visão do conjunto.

O empurrãozinho que faltava para esta aventura veio de outro grande mestre vienense, quando descobri uma página da net que trata das sonatas, escrita por Paul e Eva Badura-Skoda.

Antes de prosseguirmos, quero repassar para vocês um conselho do crítico do Gramophone Classica Guide, o tipo de publicação que era muito útil antes do advento da internet: ‘Don’t be put off by critics who suggest that these sonatas are less interesting than some other Mozart compositions, for they are fine pieces written for an instrument that he himself played and loved’. Isto é, não se deixe enganar, essas sonatas são ‘papa fina’!

Esta gravação contém 18 sonatas que, seguindo o plano do site, dividiremos em três grupos de seis:

  1. Seis Sonatas K. 279 – 284;
  2. Três Sonatas K. 309 – 311; Três Sonatas K. 330 – 332;
  3. Sonata K. 333; Sonata 457 e Sonatas K. 533/494; 545; 570 e 576.

As Sonatas K. 279 – 284 formam um grupo e são as primeiras a serem preservadas. Mozart certamente produziu ou adaptou sonatas de outros compositores anteriormente, mas estas são as primeiras a entrarem na lista oficial. A primeira delas, Sonata em dó maior, K. 279, foi composta quando Mozart tinha 19 anos e era um músico absolutamente completo e experientíssimo.

A sequência de tonalidades – dó, fá, si bemol, mi bemol, sol e ré maior indica que Mozart considerava estas peças como parte de um grupo. Inclusive com a primeira delas mais fácil e a última uma peça mais elaborada e difícil. No entanto, o conjunto nunca foi publicado como tal durante a vida do compositor, sendo que apenas a última sonata foi publicada algumas vezes.

Esta última sonata foi encomendada a Mozart pelo Barão Thaddäus von Dürnitz e apresenta uma escrita bastante brilhante, se comparada às anteriores e tem vários efeitos como mãos se cruzando e termina com um conjunto de variações.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Sonata para Piano em dó maior, K. 279

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegro

Sonata para Piano em fá maior, K. 280

  1. Allegro assai
  2. Adagio
  3. Presto

Sonata para Piano em si bemol maior, K. 281

  1. Allegro
  2. Andante amoroso
  3. Rondeau: Allegro

Sonata para Piano em mi bemol maior, K. 282

  1. Adagio
  2. Menuetto
  3. Allegro

Sonata para Piano em mi bemol maior, K. 283

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Presto

Sonata para Piano em ré maior, K. 284

  1. Allegro
  2. Rondeau em polonaise: Andante
  3. Andante (Tema con variazioni)

Klára Würtz, piano

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Eu tenho uma queda especial pela gentil Sonata em mi bemol maior, K. 282, desde que a ouvi no disco The Journey, de Leon Fleisher, que você pode ouvir aqui.

Veja como o crítico Jeffrey J. Lipscomb, FANFARE, fala destas gravações: These astonishing performances are exactly the way I play them myself—in my wildest dreams, that is. As for the set’s modest price, this is surely one of the best bargains since the days when gasoline sold for 30 cents per gallon and free glassware was yours for the asking. Highest recommendation.

Eu também recomendo fortemente!

René Denon

Visite esta postagem também:

Mozart (1756 – 1791) · ∾ · (Algumas) Sonatas para Piano · ∾ · Alicia de Larrocha ֍

RD-2020 – Retrospectiva 2020 do René – Muita Música Boa!

RD-2020 – Retrospectiva 2020 do René – Muita Música Boa!

RETROSPECTIVA

RD-2020

 

 

Prepare-se para Blinding Lights

Fim de ano, festas e retrospectivas… Eu também preparei uma retrospectiva, levando em conta as minhas postagens no blog. Antes de começar a preparar a postagem, quando a ideia ainda caraminholava em meus confusos miolos, fui checar a ‘concorrência’. O Spotify preparou uma retrospectiva onde aprendi, com um certo desmaio, confesso, que o artista mais ouvido em 2020 (no Spotify, por certo…) foi Bad Bunny (never heard of him). A música mais ouvida foi Blinding Lights (even with shades on, vou passar essa uma).

O ano começou com novidades, Parasita levando a estatueta dourada e tal, até que em 11 de março – bum – a pandemia foi oficializada. Para mim ela começou no dia 16 de março, quando as escolas se fecharam ‘por 15 dias’ e não mais reabriram.

Palavras novas ou pouco usadas ganharam grande uso nestes dias que se seguiram – home office, Meet, remoto, Apps, PIX. Na retrospectiva das notícias, que você verá no seu blog preferido para essas coisas, será mencionado – queimadas atrozes no Pantanal e outros lugares, devastação da Amazônia, a vitória do Biden, eleições municipais, segunda onda, a próxima chegada de vacinas. Não vou adentrar pela coluna de obituários, muito longa e demais dolorosa. Vamos nos ater à seara da música.

Nesta retrospectiva trataremos das postagens, essas efêmeras coisas, delicadíssimas, que me são tão caras. Eu as vejo como mensagens colocadas em garrafas que são lançadas nas correntezas da internet. Elas ficam no topo da primeira página do blog por algumas horas e depois iniciam um movimento de afundamento que eu chamo de ‘sinking into the oblivion’. É isto, vamos em frente que atrás vem gente, a fila anda…

Assim, antes de virar esta página e nos lançarmos no próximo ano, renovados (ou não) e buscando as novidades que ele nos prepara, resolvi dar uma boa olhada na lista do que está ficando e afundando no vasto esquecimento. Algumas pobrinhas alminhas-postagens, nem foram vistas e já esquecidas estão…

Por razões práticas, considerei as minhas postagens que foram ao ar entre 1 de dezembro de 2019 e 30 de novembro de 2020. Foram 151 postagens, quase três por semana. Levei um susto quando fiz as contas. Entre 29 de outubro e 24 de novembro foram ao ar 28 de minhas postagens. Eu me senti, neste período, como aquele estagiário que finalmente pode tomar conta da corporação. Só ficou faltando o telefone tocar mais vezes…

Adam rindo da piada que o René Denon fez no PQPBach’s Caffé

Ouvir música e pensar sobre isso tem sido parte importante de minhas atividades. Por conta do aniversário do Ludovico, mais de 30 destas postagens levaram música dele. Mas nem só do renano foi o ano. Teve Schumann e vários outros interessantes projetos ocorreram nas páginas do blog, em paralelo ao BTHVN#250.  Basta lembrar da postagem do Ciclo de Cantatas de Bach, na direção de Ton Koopman, postado pelo FDP Bach, as Sinfonias de Haydn, com regência de Adam Fischer, postadas por Ammiratore. A dupla também foi responsável pela postagem de óperas, com várias possibilidades de escolha de gravações.

Cada disco que escolhi para minhas postagens me deu muito prazer ouvir, alguns muitas vezes. O pessoal aqui em casa já até assobiava junto alguns deles. Mas, com o distanciamento dado pelo tempo e a visão do conjunto, consegui escolher alguns que deram ainda mais alegria e assim acabei preparando uma ‘playlist’, uma espécie de arquivo promocional, como aqueles discos que acompanham algumas revistas sobre música. A lista destas postagens é o ‘core’ desta retrospectiva e o produto um arquivo de perto de 3h20 com as melhores do René. Blasfêmia, dirão uns, mas sinceramente, espero que você goste e que esta playlist instigue sua curiosidade para explorar mais essas atômicas partículas culturais antes que elas entrem em definitiva órbita de esquecimento no internético espaço.

Antes disso, farei uma lista de algumas postagens do blog que muito me impressionaram.

  1. Sinfonias de Haydn – Adam Fischer
  2. Cantatas de Bach – Ton Koopman
  3. Sinfonias de Beethoven – Andris Nelsons
  4. Sinfonias de Shostakovich – Bernard Haitink (reedição)
  5. Sonatas de Schubert – Willelm Kempff
  6. Sonatas para Piano de Beethoven – Jean-Efflam Bavouzet
  7. Concertos para Piano de Beethoven – Jean-Efflam Bavouzet
  8. A Arte da Fuga – Bach – Rachel Podger
  9. As Baladas de Chopin – Stephen Hough
  10. Peças para Piano de Schumann – Guiomar Novaes
  11. Messias de Handel – Hervé Niquet
  12. A Sagração da Primavera de Stravinsky – Andsnes & Hamelin
  13. As Últimas Sonatas para Piano de Beethoven – Solomon

E a lista continuaria, sem mencionar a infindável lista de novidades que o BTHVN#250 nos promoveu. Mas, vamos à lista das minhas postagens mais queridas! Elas estão arranjadas em uma ordem diferente daquela em que foram publicadas…

RD-2020 – Playlist do René

  1. Mozart: Le Nozze di Figaro – Carlo Maria Giulini

Abertura

Canzonetta sull aria

  1. Vários Compositores: Música Barroca com Bandolim – Artemandoline

[Uccellini]- La Bergamasca

  1. John Dowland: Tell me true love – Joel Frederiksen – Ensemble Phoenix München

The lowest trees have tops

Fine knacks for ladies

The Frog Galliard

  1. S. Bach: O Cravo Bem Temperado – Livro I – Trevor Pinnock, cravo

Prelúdio e Fuga em dó menor, BWV 847

Prelúdio e Fuga em dó sustenido maior, BWV 848

  1. S. Bach: Partitas BWV 825-830 – Angela Hewitt, piano (2ª Gravação – 2019)

Partita no. 1 in si bemol maior, BWV 825- Menuetos e Giga

  1. Boccherini: Música de Câmara – Cuarteto Casals

Trechos de ‘La musica notturna delle strade di Madrid’

  1. F. Handel: Suítes para Teclado – D. Scarlatti: Sonatas – Murray Perahia, piano

Chaconne e Sonata em lá maior

  1. Mozart: Quartetos com Piano – Paul Lewis e Leopold String Trio

Rondó do Segundo Quarteto

  1. Beethoven: Concertos para Piano Nos. 1 & 2 – Olivier Cavé – Kammerakademie Potsdam & Patrick Hahn

Rondó do Concerto No. 2

  1. Mozart & Beethoven: Concertos para Clarinete – Michael Collins – Russian National Orchestra – Mikhail Pletnev

Larghetto e Rondó do Concerto de Beethoven

  1. Beethoven: Sinfonias Nos. 4, 5 & 6 – Britten Sinfonia & Thomas Adès

Terceiro e Quarto Movimentos da Quinta Sinfonia

  1. Schubert: 8 Impromptus, D. 899 & 935 – Krystian Zimerman

Dois Impromptus

  1. Beethoven: The Beethoven Journey – Concertos para Piano – Mahler Chamber Orchestra – Leif Ove Andsnes

Adagio e Rondó do Concerto ‘Emperor’

  1. Schubert: Winterreise – Hotter & Moore – Goerne & Johnson – Kaufmann & Deutsch – Desafio

Der Lindenbaum

  1. Beethoven & Schubert: Últimas Sonatas para Piano – Zhu Xiao-Mei

Scherzo da Sonata de Schubert

  1. Ludwig van Beethoven: Sonatas para Piano – Igor Levit –

Sonata para Piano No. 27 em mi menor, Op. 90

  1. DESAFIO PQP! –> Brahms: Concertos para Piano – Philippe Bianconi

Terceiro Movimento do Concerto para Piano No. 1

  1. Gabriel Fauré: Quartetos com Piano – Fauré Quartett

Clair de lune e Mandoline (Arr. for Piano Quartet)

  1. Francis Poulenc: Concerto para Piano & Concert champêtre – Mark Bebbington

Concert champêtre, FP 49 I. Allegro molto

  1. Darius Milhaud: Música para dois pianistas – Stephen Coombs & Artur Pizarro

Scaramouche

  1. Mahler: Erinnerung – (Coleção de Lieder) – Christiane Karg & Malcolm Martineau

Três da Canções de Rückert

  1. Ravel & Stravinsky: Peças para Piano – Béatrice Rana

La Valse

  1. Ravel: Rapsodie espagnole & Debussy: La Mer – London Symphony Orchestra & François-Xavier Roth

Rapsodie espagnole – Feria (Último Movimento)

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O disco da Béatrice Rana com peças de Ravel e Stravinsky foi incluído de último momento. Um amigo enviou uma mensagem com a lista (as listas de fim de ano…) do Palmarès des Diapason d’or de l’année 2020 e o disco da Béatrice ganhou o prêmio na categoria ‘Piano’. Pois é, até eu havia esquecido este maravilhoso disco…

Que venha 2021…

René Denon

.: interlúdio :. The Gift ∞ Música para o dia de Natal ∞

.: interlúdio :. The Gift ∞ Música para o dia de Natal ∞

 

Simple Gifts

Presentinhos!

 

 

 

Ganhei este disco de brinde em uma outra vida que tive e por vários Natais ele serviu de trilha sonora. Ele já tocou aqui em casa em dias que lá fora fazia muito frio e nevava. Depois, passou um tempo sumido entre as coisas que misteriosamente somem, por um tempo, da vida da gente. Quando chegaram as crianças, ele reapareceu e foi tocado em Natais nos quais fazia muito calor lá fora e dentro da casa.

A capa rachou, o folder soltou uma parte e as crianças o rabiscaram um pouco. Depois ele sumiu de novo. Quando aprendi a ripar CDs, eu (por sorte) o reencontrei e fiz uma cópia digital. Desta forma é que ele passou a ser ouvido. Hoje eu o ofereço para vocês, neste dia de Natal.

O CD é uma coleção promocional de músicas de Natal, coisa bem brega. Mas eu aposto que você vai gostar.  Há 24 faixas, uma para cada hora do dia. Eu certamente tenho as minhas preferidas, entre elas Simple Gifts e (é claro) Silent Night. Depois me escreva dizendo quais são as suas…

A DDD Christmas

  1. We Wish You a Merry Christmas (Trad. arr. John Rutter)
  2. Here We Come a-Wassailing (Trad. arr. Robert Chilcott)
  3. Marche des rois (Anon.)
  4. The Babe of Bethlehem (Anon.)
  5. Verbum caro – Y la Virgen (Anon.)
  6. O Come, O Come, Emmanuel (Gregorian Chant arr. Alice Parker & Robert Shaw)
  7. In dulci jubilo (Trad.)
  8. O Come, All Ye Faithful (Trad. arr. David Wilcocks)
  9. The Little Drummer Boy (Davis-Onorati-Simeone arr. John McCarthy)
  10. The Gift (Simple Gifts) (Isaacs-Trad., arr. Robert Chilcott)
  11. Quem pastores laudavere (Anon.)
  12. Quanno nascete ninno (Anon.)
  13. Messiah (Handel) – He shall feed His flock
  14. – For unto us a Child is born
  15. The First Nowell (Trad. arr. Frank Denson)
  16. Joy to the World (Trad. arr. Frank Denson)
  17. Deck the Hall (Trad. arr. Gordon Langford)
  18. The Wexford Carol (Trad. arr. Robert Chilcott)
  19. What Child Is This? (Trad. arr. Michael Gibson)
  20. Away in a Manger (Trad. arr. Michael Gibson)
  21. Rise Up, Shepherd (Trad. arr. Robert Sadin)
  22. Bring a Torch, Jeanette, Isabella (Trad. arr. Joseph Flummerfelt)
  23. Silent Night (Franz Gruber)
  24. God Rest You Merry, Gentlemen (Trad. arr. David Willcocks)
1, 2, 9, 10, 17, 18 – The King’s Singers e City of London Sinfonia – Richard Hickox
3 – 5, 11, 12 – Taverner Consort, Choir & Players – Andrew Parrott
6 – 8, 22, 24 – New York Choral Artists – Joseph Flummerfelt
13, 14 – Florence Quivar, mezzo-soprano; Kathleen Battle, soprano; Toronto Mendelssohn Choir & Toronto Symphony – Andrew Davis
15, 16 – Empire Brass, com Nancy Allen, harpa e Arthur Press, percussão
19 – 21 – Kathleen Battle, soprano; Orchestra of St. Luke’s e Boys’ Choir of Harlem – Leonard Slatkin

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Pode ouvi-lo enquanto doura o peru de Natal!!

Feliz Natal!

René Denon

Veja a opinião do Reverendo Chris Madison:

♥♥♥♥♥ A Classy Christmas Album

I purchased this CD in the early 90’s and it has earned a place in my heart that no other cd has earned. The King’s Singers, Kathleen Battle, and others, provide a breadth of beauty from renditions from Handel’s Messiah, to English traditional Christmas music. This is no album featuring obnoxious Christmas music, which we hear blaring in countless stores in the season. It is an expression of true joy!

Handel (1685 – 1759) ∞ Messiah ∞ Raymond Leppard ֎

Handel (1685 – 1759) ∞ Messiah ∞ Raymond Leppard ֎

HANDEL

MESSIAH

LEPPARD

Feliz Natal, apesar de tudo… ou especialmente por isso!

 

É Natal e eu vos ofereço outro Messias. Este oratório trata do nascimento de Cristo, depois falará sobre a morte – a redenção pelo sacrifício – e da Vitória do Messias sobre a morte. Termina com hino de louvores como uma torcida alegre pela vitória. De qualquer forma, é música ótima para se ouvir nestes dias.

Esta gravação é anterior ao movimento HIP, de uso de instrumentos antigos e práticas historicamente informadas. Raymond Leppard, que faleceu faz pouco mais do que um ano, era uma referência para música barroca. Gravava com a English Chamber Orchestra para os grandes selos, principalmente para a Philips, e sempre dispunha de ótimos cantores. Colaborou especialmente com Dame Janet Baker.

Esta gravação do Messias, agora que o movimento HIP já não é mais novidade e muitas de suas práticas foram incorporadas pelos outros grupos musicais, pode parecer um pouco lenta ou antiquada. Mas, na época em que foi lançada fazia um contraste enorme com as gravações de então, com coros e orquestras enormes e andamentos bem mais lentos ainda. Acho que esta gravação envelheceu graciosamente e tive muito prazer em ouvi-la novamente e preparar tudo para oferecê-la para vocês.

Felicity (adoro este nome) Palmer

Handel compôs música para reis e rainhas de carne e osso e aqui oferece toda a sua experiência e talento para o Rei dos reis!

O Natal é a festa do nascimento de Deus, feito menino e depois homem. Ele fez isso para trazer uma mensagem que ainda hoje soa revolucionária – amar o próximo como a si mesmo. Nestes dias de tantas atribulações e sofrimentos, mesmo para os não religiosos, esta mensagem de amor pode trazer um recado atual e oferecer um momento de consolo e de conforto. Que traga também esperança para que tantos sacrifícios não sejam vãos e que possamos realmente renascer melhores destes dias.

Ryland explicando como eram as gravações naqueles dias…

A obra é muito conhecida e é possível que você já a tenha ouvido, mesmo que seja alguns trechos. De qualquer forma, enumero aqui alguns momentos que você não pode perder.

– Logo após a abertura, temos um recitativo – Comfort ye, my people, seguido da ária para tenor – Ev’ry valley shall be exalted, onde se anuncia a vinda do Deus-Menino. As frases ‘The voice of him, that crieth in the wilderness: Prepare the way of the Lord … … the crooked straight, and the rough places plain’ falam do Batista, que anuncia a chegada do Senhor. Os caminhos devem ser aplainados!!

Helen Watts

– O Messias é uma obra na qual o coro é um dos protagonistas. Eu nunca deixo de me emocionar em diversos números corais e For unto us a child is born é um deles. Todos os nomes e títulos atribuídos ao Messias são declamados, terminando com o mais bonito de todos – o Príncipe da Paz.

– O nascimento de Cristo é geralmente associado à simplicidade e ao mundo de pastores e pessoas simples. Não é diferente aqui e Pifa – Pastoral, um número orquestral inicia uma sequência que trata exatamente de anjos e pastores.

– A primeira parte do oratório se encerra com o lindo coral His yoke is easy.

– A segunda parte trata do sofrimento de Cristo e a ária para contralto, He was despised and rejected of man! É bem forte. A letra inclui as impressionantes palavras ‘a man of sorrows and acquainted with grief’.

John Shirley-Quirk

– Alguns números corais merecem atenção aqui. All we like sheep, nesta gravação ganha um acompanhamento de órgão, tocado por Leslie Pearson, para um efeito divertido, espalhando as ovelhinhas – gone astray – para todos os lados. He trusted in God e Lift up your heads também são bem inspiradores.

– A segunda parte se encerra com o mais famoso coral de todos, Hallelujah. Contagiante! Prepare a caixa de lenços…

A terceira parte do oratório é mais curta, mas não deixe de notar a ária para soprano, I know my Redeemer liveth, o recitativo e ária para baixo The trumpet shall sound e o dueto para tenor e contralto, O death, where is thy sting, permitindo assim que os solistas se despeçam da audiência. Todos estes números celebram a vitória do Messias sobre a morte. E tudo termina com dois corais, um seguido ao outro – Worthy is the Lamb e Amen!

George Frideric Handel (1685 – 1750)

Messiah

Felicity Palmer, soprano

Helen Watts, contralto

Ryland Davies, tenor

John Shirley-Quirk, baixo

English Chamber Orchestra & Choir

Raymond Leppard

Nos arquivos anexados você encontrará muitas informações sobre as faixas e tudo o mais, inclusive o libreto.

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Foto do FB da English Chamber Orchestra… Como podem ver, they are still going…

Feliz Natal!
René Denon

Veja também:

Handel (1685-1759) ∞ Messiah ∞ Christopher Hogwood

.: interlúdio :. Ella and Louis ∞ Christmas ∞ Ella Fitzgerald & Louis Armstrong

Bach (1685–1750) – Variações Goldberg – Pavel Kolesnikov ֍

Bach (1685–1750) – Variações Goldberg – Pavel Kolesnikov ֍

 

BACH

VARIAÇÕES GOLDBERG

PAVEL KOLESNIKOV

 

 

Em março de 2012 o pianista Jeremy Denk escreveu um artigo intitulado ‘Porque Eu Odeio As Variações Goldberg’ – ‘Why I Hate The Goldberg Variations’.

Ele inicia o artigo dizendo que a melhor razão para odiar as Variações Goldberg – além da óbvia razão de todo o mundo perguntar o tempo todo qual das duas gravações do Glenn Gould você prefere – é que todo o mundo ama as variações. Eu muito me simpatizei com o Jeremy. Eu também tenho assim uma certa tendência a evitar, a enfastiar daquilo que todo o mundo ama, especialmente em música. Até hoje não vi ‘A Casa de Papel’…

E como ele observou, não há uma semana que passe sem que uma nova gravação das tais variações surja seguida de comentários e críticas. O próprio Jeremy Denk se rendeu e gravou a obra e naquele período produziu alguns conteúdos para a NPR – National Public Radio, o serviço público de rádio americano. No artigo de Denk, que você pode ler aqui, ele explica as razões pelas quais claramente a série de variações sobre a tal ária estão fadadas ao fracasso: 80 minutos de música essencialmente em sol maior! Teria sido este o desafio para o mestre maior da composição, fazer com que amemos algo impensável?

Eu mesmo já postei uma gravação feita pela Zhu Xiao-Mei, que fez outra gravação posteriormente. Angela Hewitt também gravou duas vezes as VG para a Hyperion, o mesmo selo da gravação desta postagem. Um famosíssimo pianista asiático (excelente pianista, mas talvez um pouco midiático) acaba de lançar uma… na verdade, duas gravações das Goldberg – uma feita em estúdio e outra feita ao vivo.

Assim, quando um pianista se senta para gravar mais uma interpretação destas multivariadas peças, precisa estar certo de ter algo a dizer, mas sem cair em truques de ser diferente apenas. E se o artista é jovem, o desafio é ainda maior.

Na minha opinião (e na de alguns críticos que consegui ler), Pavel Kolesnikov venceu todas as armadilhas e apresentou uma gravação que prima pela simplicidade, mas também com bastante personalidade.

O que me chamou a atenção de imediato foi o som do disco. O piano é moderno (ele escolheu um piano da Yamaha, está lá no livreto) mas produz um som macio, aveludado, que empresta uma boa dose de intimidade à música que, afinal, foi composta para embalar as horas insones de um conde. Basta dizer que a excelente produção estava a cargo de Andrew Keener, um bamba dos estúdios.

Outro fator que acredito tenha contribuído para o sucesso desta beleza de disco está na maneira como Pavel incorporou a peça a seu repertório. Ele teria se esquivado da música de Bach até ser convidado a colaborar com a coreógrafa e dançarina Anne Theresa De Keersmaeker num projeto que usa as Variações Goldberg. O resultado desta colaboração (de 2018) resultou em uma série de espetáculos nos quais Anne Theresa dançava enquanto Pavel tocava ao vivo as Goldberg. Creio que esta aproximação com a dança certamente acrescentou uma outra dimensão à preparação deste disco e sugiro a você imediata investigação. Ouça a Variação 26, logo depois da Pérola Negra. Veja como o intérprete inicia sutilmente e como as duas vozes, a mais alta primeiro e logo depois a mais grave se perseguem e se buscam até o final. Eu gostei muito. Ouça e depois diga lá se o meu entusiasmo todo se justifica. Não deixe de ouvir também as Variações 11, 14, 16 e 23….

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Variações Goldberg

Pavel Kolesnikov, piano

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Alguns recortes das críticas do disco:

Kolesnikov’s Goldbergs are softly spoken, but they are also extraordinarily eloquent.

Produced by Andrew Keener, I regard this Hyperion issue as significant—with a strong claim equally on the dedicated Goldberg collector and the listener feeling his/her way through this monumental masterpiece.

… but my new favourite arrived this week from pianist Pavel Kolesnikov … in some ways I think it’s the antithesis of Lang Lang’s Goldbergs—a different kind of introspection, a natural rather than forced intimacy, ornamentation that’s delicately applied and feels organic, and a hushed, gentle pianism that draws you effortlessly inside the music and Bach’s imagination …

Aproveite!
René Denon

Veja também:

Johann Sebastian Bach (1685-1750): Variações Goldberg