#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): «Manfred», poema dramático em três partes, de Lord Byron, com música, Op. 115 – Schwab – Weil

Apesar de sua belíssima, soturna abertura permanecer no repertório – a única obra orquestral tardia de Schumann a conseguir a proeza – , o “Manfred”, Op. 115, vai muito além dela. Inspirado pelo poema de Lord Byron, numa tradução alemã de Karl Adolf Suckow, Robert escreveu-lhe um prólogo e compôs quinze peças de música incidental para acompanhar sua leitura dramática. O ultrarromântico “Manfred” original, terminado logo quando do exílio de Byron na Suíça, narra a jornada dum homem afligido por uma terrível culpa ligada a uma amada perdida, suas interações com diferentes espíritos que não a conseguem redimir, sua contemplação do suicídio e, enfim, sua morte sem qualquer redenção. O amargurado poema, considerado praticamente uma confissão da culpa de Byron acerca do escandaloso relacionamento com sua meia-irmã, certamente ecoou com força em Schumann, também oprimido por vários fantasmas, fossem eles os de seus desejos inconfessos, ou, então, as várias vozes de espíritos que escutava em suas cada vez mais frequentes alucinações.

Quem não entende alemão, ou entende e não gosta de sua música e prosódia, poderá pular o prólogo, essencialmente uma contextualização acerca do texto que virá a seguir, e todas as partes declamadas, indicadas por títulos entre aspas logo abaixo. As quinze peças de música incidental, que estão numeradas, contêm muitas belezas, embora não cheguem à concisão da marcante abertura. Quem entende alemão provavelmente apreciará a expressiva leitura de Martin Schwab, muito bem entremeada à música de Schumann, e a excelente qualidade da gravação, muito bem ensaiada e conduzida por Bruno Weil, mais conhecido por seu meticuloso trabalho com aquele excelente conjunto de música antiga, o Tafelmusik. Infelizmente, não achei o libreto em português – assim, peço-lhes que acompanhem esta versão em alemão e italiano e, se necessário, apelem para São Google:

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

“Manfred”, Dramatisches Gedicht in drei Abteilungen von Lord Byron mit Musik, Op. 115

1 – Ouvertüre
2 – Prolog

PRIMEIRA PARTE

3 – “Die Geschichte könnte ungefähr so beginnen…”
4 – No. 1: Gesang der Geister
5 – “Vergessen sucht Manfred…”
6 – No. 2: Erscheinung eines Zauberbildes
7 – No. 3: Geisterbannfluch
8 – “Manfred erwacht…”
9 – No. 4: Alpenkruhreigen

SEGUNDA PARTE

10 – No. 5: Zwischenaktmusik
11 – “In der Hütte des Jägers…”
12 – No. 6: Rufung der Alpenfee
13 – “Die Alpenfee…”
14 – No. 7: Hymnus der Geister Arimans
15 – “Ariman auf seinem Thron…”
16 – No. 8: Wirf in den Staub dich
17 – No. 9: Zermalmt den Wurm
18 – No. 10: Beschwörung der Astarte
19 – No. 11: Manfreds Ansprache an Astarte

TERCEIRA PARTE

20 – “Die Abenddämmerung naht…”
21 – No. 12: Ein Friede kam auf mich
22 – “Eine Besucher unterbricht seine Gedanken…”
23 – No. 13: Abschied von der Sonne
24 – “Noch einmal naht ihm der Abt…”
25 – No. 14: Nichts. – Blick nur hierher
26 – No. 15: Schluss-Szene (Klostergesang)

Rainer Guggenberger, baixo
Sigrid Plundrich, soprano
Michelle Breedt, mezzo-soprano
Johannes Chum, tenor
Florian Boesch, baixo
Martin Schwab, narrador

Wiener Singverein
Tonkünstler Orchestra
Theresia Melichar, corne-inglês
Bruno Weil, regência

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“Poderias resmungar esse pouquinho menos, Manfred?”

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Mosaïques) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Mosaïques) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

O Mosaïques é um excelente quarteto. Sabem que eles saíram de dentro do Concentus Musicus de Nikolaus Harnoncourt? Formaram o quarteto em 1985, quando ainda estavam na orquestra e seu violoncelista é o grande Christophe Coin. Eles são especializados no classicismo vienense, diga-se Haydn, Mozart e Schubert. E Beethoven. Vale a pena ouvi-los. Tocando com cordas de tripa e nos arcos de design do início do século 19, o Mosaïques trouxe calor e sutilezas a essas obras fascinantes. Hoje em dia, quando os conjuntos historicamente informados abundam, a gente nem deveria falar mais em instrumentos originais, mas aqui não podemos fugir do fato de que o Mosaïques estão fazendo isso há 35 anos! Durante esse período, eles exploraram e gravaram uma ampla gama de repertórios de quartetos, de Haydn a Mendelssohn. Porém, em disco — não em recitais –, eles têm sido muito mais cautelosos com Beethoven. As gravações das obras do Op. 18 apareceram incompletas há mais de uma década, depois vieram alguns quartetos intermediários e só agora é que chegaram ao ciclo completo dos cinco últimos quartetos.

Este é um campo altamente competitivo e, do Busch Quartet ao Takács, passando pelo Kodály, o padrão pode ser estratosférico. As performances dos Mosaïques são — até onde sei — a primeira gravação desses trabalhos em instrumentos de época, o que os distingue muito. Mas há mais: o fraseado parece surpreendentemente moderno, há muita leveza e equilíbrio em muitas passagens que podem se tornar exageradas — há muito mais luzes e sombras nas performance dos Mosaïques da Große Fuge, por exemplo, que eles tocam como o final da Op 130. Eu acho uma coisa sabem? Na maioria das gravações que ouço, retirando desta observação os deuses do repertório, a surpreendente originalidade dos quartetos tardios de Beethoven nos chegam um pouco abafada pelas cordas modernas e pelos estilos de tocar derivados da tradição cantabile romântica. O foco do Mosaïques é outro. Quando começa o Op.127, ouvimos um um timbre mais próximo dos conjuntos de música antiga do que de um quarteto moderno, a coisa vem livre de “expressivos” enjoativos. O desejo de remover camadas interpretativas bobas é realizado com mais força nos Op. 131 e 132, durante os quais o rosto franzido e a alma agonizante são substituídas pela pureza de linhas e suaves vibratos (aleluia!). A famosa Cavatina do Op. 130 possui uma clareza que a aproxima de um intermezzo mendelssohniano, fazendo com que o choque da poderosa Große Fuge seja ainda mais imponente. O Op. 132 é levado com extremo senso de estilo e com a devida profundidade. É sempre difícil escrever sobre uma música que amamos muito e que nos faz lembrar fatos pessoais. A primeira coisa que me vem à mente quando penso no Op. 132 foi aquele momento mágico e levemente fantasmagórico em que eu, sentado na tranquilamente na sala, ouvi iniciar o Allegro Appassionato (último movimento do quarteto) e vi que, logo aos primeiros compassos, minha filha, aos cinco anos de idade, entrava girando na sala, dançando a valsa sozinha, de olhos fechados, por puro prazer de ouvir a música… Foi tão marcante que hoje soa-me hipócrita dizer que o movimento principal deste quarteto é o imenso e perfeito Molto Adagio – Andante (Heiliger Dankgesang eines Genesenen an die Gottheit, in der lydischen Tonart), um agradecimento à divindade pela recuperação que Beethoven obteve após grave enfermidade. Mas é, claro que é. O terceiro movimento, com suas duas explosões de alívio é o centro e razão de ser desta grande e fundamental obra. No terreno neoclássico do Op. 135, o Mosaïques inflama a música com um virtuosismo que talvez revele um novo caminho a seguir. Ele encerra um dos conjuntos mais reveladores e instigantes desses clássicos atemporais em décadas.

Não é uma gravação para ir ao pódio, mas que belisca, belisca.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Mosaïques)

String Quartet No. 12 In E Flat Major, Op. 127
1-1 Maestoso – Allegro 6:59
1-2 Adagio Ma Non Troppo E Molto Cantabile – Andante Con Moto – Adagio Molto Espressivo 12:58
1-3 Scherzando Vivace – Presto 8:57
1-4 Finale. Allegro 6:30

String Quartet No. 14 In C Sharp Minor, Op. 131
1-5 Adagio Ma Non Troppo E Molto Espressivo 6:09
1-6 Allegro Molto Vivace 3:08
1-7 Allegro Moderato – Adagio 0:41
1-8 Andante Ma Non Troppo E Molto Cantabile – Più Mosso – Andante Moderato E Lusinghiero – Adagio – Allegretto – Adagio Ma Non Troppo E Semplice – Allegretto 13:05
1-9 Presto 5:34
1-10 Adagio Quasi Un Poco Andante 1:40
1-11 Allegro 6:51

String Quartet No. 13 In B Flat Major, Op. 130
2-1 Adagio Ma Non Troppo – Allegro 14:32
2-2 Presto 2:03
2-3 Poco Scherzando. Andante Con Moto Ma Non Troppo 7:38
2-4 Alla Danza Tedesca. Allegro Assai 3:05
2-5 Cavatina, Adagio Molto Espressivo 6:09

2-6 String Quartet No. 17 In B Flat Major, Op. 133, ‘Grosse Fuge’: Overtura – Fuga. Allegro – Meno Mosso E Moderato – Allegro Molto E Con Brio 15:56

String Quartet No. 15 In A Minor, Op. 132
3-1 Assai Sostenuto – Allegro 9:47
3-2 Allegro Ma Non Tanto 8:45
3-3 Molto Adagio – Andante 15:07
3-4 Alla Marcia, Assai Vivace – Più Allegro 2:08
3-5 Allegro Appassionato 7:06

String Quartet No. 16 In F Major, Op. 135
3-6 Allegretto 7:04
3-7 Vivace 3:39
3-8 Lento Assai, Cantante E Tranquillo 7:01
3-9 Grave, Ma Non Troppo Tratto – Allegro 6:35

Quarteto Mosaïques:
Erich Höbarth, violino
Andrea Bischof, violino
Anita Mitterer, viola
Christophe Coin, violoncelo

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A foto de divulgação do excelente Mosaïques

PQP

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival 2003

Repostagem de uma original lá de 2016, para comemorar os 79 anos de Martha Argerich, essa verdadeira lenda do piano. Mesmo com a idade, continua em ação. Parabéns, Martha, é um grande privilégio ter acompanhado sua carreira nestas últimas quatro décadas. Estes três cds tem momentos brilhantes, mas prestem atenção aos Duos, op. 11, de Rachmaninov, em que ela faz parceria com Lilya Zilberstein. é absolutamente estonteante. Coisa de gênio. 

Após o choque inicial que a primeira postagem causou, vamos trazer a caixa referente ao ano de 2003. Esqueci de comentar em postagem anterior, mas o titulo deixa claro que o festival é de Música de Câmara. E o repertório explora obras dos séculos XVIII ao século XX. Papa finíssima, eu diria.

Os irmãos Capuçon, Gabriela Montero e Lilya Zilberstein serão presença frequente nestes CDs. A integração entre eles é única, coisa de gente que sabe o que faz.

Então vamos ao que viemos.

CD 1

01. Haydn – Piano Trio in G (Gypsy Rondo) – I. Andante
02. Piano Trio in G (Gypsy Rondo) – II. Poco adagio
03. Piano Trio in G (Gypsy Rondo) – III. Rondo all’ongarese Presto

Martha Argerich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon

04. Rachmaninov Six Duets op.11 – I. Barcarolle
05. Six Duets op.11 – II. Scherzo
06. Six Duets op.11 – III. Chanson russe
07. Six Duets op.11 – IV. Valse
08. Six Duets op.11 – V. Romance
09. Six Duets op.11 – VI. Slava (Gloria)

Lilya Zilberstein, Martha Argerich

10. Grieg Cello Sonata in A minor – I. Allegro agitato
11. Cello Sonata in A minor – II. Andante molto tranquillo
12. Cello Sonata in A minor – III. Allegro – Allegro molto

Gautier Capuçon, Gabriela Montero

CD 2

01. Arensky Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – I. Allegro Moderato – Adagio
02. Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – II. Scherzo Allegro Molto
03. Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – III. Elegia Adagio
04. Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – IV. Finale Allegro non troppo – Andante –

Polina Leschenko, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon

05. Lutoslawsky  – Variations on a Theme by Paganini for two pianos
06. Franck Piano Quintet in F minor – I. Molto moderato quasi lento
07. Piano Quintet in F minor – II. Lento con molto sentimento
08. Piano Quintet in F minor – III. Allegro non troppo ma con fuoco

Martha Argerich, Giorgia Tomassi

CD Bônus

01. Piazzola Tangos Revirado
02. Tangos Adiós Nonino

Karin Lechner, Sergio Tiempo

03. Monteiro – Improvisation on a Theme from Beethoven´s First Piano Concerto

Gabriela Montero

04. Piazzola – Oblivion

Dora Schwarzberg, Jorge Andres Bosso
The Cello Concept

05. Rodrigues 0 La Cumparsita

Dora Schwarzberg, Jorge Andres Bosso
The Cello Concept

06. Music from the Gypsy, Hungarian and Romanian Traditions – I
07. Music from the Gypsy, Hungarian and Romanian Traditions – II
08. Music from the Gypsy, Hungarian and Romanian Traditions – III

Géza Hosszu-Legocki, The Five DeVils

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O que podemos falar de Martha Argerich que ainda não tenha sido falado? Parabéns, Martha !!!

[Restaurado] Aniversário da Rainha: Martha Argerich, 79 anos – Robert Schumann (1810-1856) – Concerto para piano em Lá menor, Op. 54 – Concerto para violino em Ré menor, WoO 23 – Argerich – Kremer – Harnoncourt #SCHMNN210

Uma mesma gravação, duas capas medonhas: uma que parece ter sido feita no Paint por minha tia-avó que me mandava PowerPoints de bom-dia, outra semelhante a uma colagem que eu fiz, de braço quebrado, para o Dia das Mães de 1986. Ainda assim, e mesmo com o montão de concertos para piano de Schumann que temos em nosso acervo pequepiano, não poderia deixar de homenagear Martha Argerich, nossa musa pianística máxima, pelo seu aniversário, e com essa obra-prima que ela toca como ninguém. Confesso que não esperava muito de sua parceria com um regente de temperamento artístico tão diametralmente oposto, mas o conde d’Harnoncourt-Unverzagt desincumbe-se bem da tarefa de seguir Marthinha (ou Marthula, como a chamavam na Argentina) de bem perto.  Quem não esperar grandes arroubos da orquestra, que me parecem ademais pouco apropriados neste mais camerístico dos concertos românticos para piano, gostará desta gravação.


Marthinhazinha, aos 11 anos, tocando Schumann para nosso assombro.

Seu par no disco, o concerto para violino de Schumann, tem provavelmente a mais bizarra história entre todos os concertos. Composto no final de sua vida para o amigo Joseph Joachim, nunca foi tocado em público pelo dedicatário. Este, pelo contrário, considerando-o fruto da insanidade do compositor, talvez fruto das vozes de comando que o perturbaram nos últimos anos da vida, ou mesmo uma relíquia macabra depois da tentativa de suicídio, do internamento voluntário num hospício e da solitária morte de Schumann, resolveu guardar o concerto entre seus papéis e, no final de sua própria vida, legá-lo a uma biblioteca com instruções expressas de não o trazer a público até 1956 – cem anos após a morte do amigo. A história seria somente funérea, e não bizarra, se uma voz atribuída ao compositor não tivesse solicitado às irmãs Adila e Jelly Aranyi, durante uma sessão espírita, que a obra fosse recuperada. A voz de Joachim, tio-avô das moças, teria então encaminhado as duas para a biblioteca em que ele depositara o concerto. Jelly ainda disputaria com Yehudi Menuhin – a cujas mãos o concerto chegara por vias não mediúnicas – a primazia pela estreia da obra, que acabou acontecendo, mais de oitenta anos após sua composição, pelo arco de nenhum dos dois, e sim o do alemão Robert Kulenkampff. O concerto em si, algo constrito, está num estilo muito econômico e afeito ao das últimas obras do mestre, e integra admiravelmente a parte do solista à escritura sinfônica do acompanhamento orquestral. Na primeira vez que o escutei na rádio, ouvindo-o a partir da metade do primeiro movimento, tive a impressão de que fosse alguma composição de Max Bruch, por evocar em meus toscos tímpanos vários cacoetes daquele famoso concerto em Sol menor. A revelação do verdadeiro autor me chocou, até porque, já conhecendo a história do concerto, também supus que ele fosse ruim por ser fruto de insanidade (suposição muito preconceituosa e idiota, aliás), e as audições subsequentes, se não me o trouxeram ao patamar dos melhores concertos para violino, me trouxeram ainda mais gosto.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Concerto em Lá menor para piano e orquestra, Op. 54

1 – Allegro affettuoso
2 – Intermezzo: Andantino grazioso
3 – Allegro vivace

Martha Argerich, piano
Chamber Orchestra of Europe
Nikolaus Harnoncourt, regência

Concerto em Ré menor para violino e orquestra, WoO 23

4 – In kräftigem, nicht zu schnellem Tempo
5 – Langsam
6 – Lebhaft, doch nicht schnell

Gidon Kremer, violino
Chamber Orchestra of Europe
Nikolaus Harnoncourt, regência

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Feliz cumple, Marthita

Vassily

[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Cenas Infantis, Cenas da Floresta, Páginas Coloridas (Maria João Pires)

Chega hoje ao fim nossa série de postagens dedicada às gravações de Maria João Pires pela gravadora Erato, de 1972 a 1987. A gravadora francesa tinha uma linha editorial mais discreta, com artistas um tanto distantes dos holofotes, como a organista Marie-Claire Alain e o regente/organista Ton Koopman. Hoje, a Erato faz parte do grupo Warner, que também comprou a EMI, a Teldec… Coisas do capitalismo tardio.

Mas voltemos a Maria João. O Schumann da pianista portuguesa é poético, íntimo, mais apropriado aos salões familiares do que às grandes salas de concerto com dois mil assentos. Para tocar Schumann, é necessário que o pianista consiga expressar as diversas emoções e mudanças de humor que já são representadas nos títulos das peças, por exemplo nas Cenas Infantis: Fast zu ernst (quase sério demais), Fürchtenmachen (ameaçador), Kind im Einschlummern (criança caindo no sono), além de uma das melodias mais famosas de Schumann: Träumerei (sonhando).

Maria João Pires “shapes and colours every phrase, and with immaculate taste, and she makes sure the phrases end as eloquently as they begin”, wrote Gramophone in 1974. “She conveys not just the details but the relevance of every note to the whole”.
O primeiro professor de Pires, Campos Coelho, disputou batalhas constantes com ela. Ele aconselhou a mãe a bater nela para amansar seu temperamento, mas em vão – Maria João passou dez anos desafiando-o. Com quinze anos, ela o abandonou. Depois ela continuou seus estudos na Alemanha: não foi, de início, uma experiência tão positiva. Em Munique ela estudou com Rosl Schmid, um virtuoso que demandou demais dela e das suas pequenas mãos que a impediam de tocar boa parte do repertório romântico. Então, Wilhelm Kempff a ouviu tocar. Será que ele se reconheceu nas sonoridades iluminadas, no toque “sem martelos” ao piano e na simplicidade das linhas melódicas que já tinham se tornado suas marcas? O que sabemos é que ele lhe deu acesso a uma dimensão espiritual que alterou sua música. Ela é talvez a única discípula viva de Kempff, um alemão com raízes em uma cultura antiga.
Após Munique, em Hanover, a borboleta finalmente saiu do casulo. Suas frases respiram livremente, com um toque leve, diferente do som muscular dos vistuosos seus contemporâneos. Algo da arte de grandes pianistas do passado – Kempff, Perlemuter, Horszowski, Novaes.
(Do encarte do CD)

Guiomar Novaes, aliás, será a próxima pianista que vou trazer para a apreciação dos senhores neste mês de junho em que celebramos 210 anos do nascimento de Robert Schumann. Nesta mesma bat-hora, neste mesmo bat-canal.

Robert Schumann (1810–1856):
1-13. Kinderszenen, Op.15 (Childhood Scenes – Cenas Infantis)
14-22. Waldszenen, Op.82 (Forest Scenes – Cenas da Floresta)
23-31. Bunte Blätter, Op. 99 (nos. 1-9 & 10) (Colorful Leaves – Folhas Coloridas)

Maria João Pires – piano
Gravado em agosto de 1984 em Chartreuse de Vileneuve-lès-Avignon. Piano Steinway

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BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE – MP3 320kbps

Maria João de quarentena em Belgais, Portugal (março de 2020)

Pleyel

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival

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Comecei a postar esta coleção lá em 2016, mas acabei parando. Não tenho muita certeza de que tenho todos os cds desta série, mas trarei o que tenho. Começo então renovando os links que trouxe naquela época. 

Esta coleção de gravações de Martha Argerich é sensacional, e virou meio que uma tradição. A EMI lançou durante aproximadamente dez anos um conjunto de três Cds de cada vez, que trazia as principais performances dos mais diversos músicos em um festival em uma cidadezinha suiça chamada Lugano.

Nestes três cds temos performances realizadas entre os anos de 2002 e 2004. Em minha modesta opinião, o melhor momento é a transcrição para dois pianos da Sinfonia Clássica de Prokofiev. Martha e Yefim Bronfman dão um show de versatilidade, talento e virtuosismo, mas o que mais poderiamos esperar destes dois?

Temos Maxim Vengerov, os irmãos Capuçon, Lilya Zilberstein, entre outros nomes não tão conhecidos.

Então vamos ao que viemos.

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival

CD 1
Prokofiev:
01. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 I. Allegro
02. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 II. Larghetto
03. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 III. Gavotte Non troppo all
04. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 IV. Finale Molto vivace

Martha Argerich & Yefim Bronfman – Pianos

Tchaikovsky:
05. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a I. Ouverture miniature
06. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Marcia viva
07. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse de la fée dragée – Andante non tropo
08. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse russe: trépak
09. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse arabe: Allegretto
10. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse chinoise: Allegro Moderato
11. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Dans de mirlitons: Moderato assai
12. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a III. Valse des fleurs

Martha Argerich & Mirabela Dina – Pianos

Shostakovich:
13. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 I. Andante – Moderato
14. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 II. Allegro non troppo
15. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 III. Largo
16. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 IV. Allegretto

Martha Argerich – Piano
Maxim Vengerov – Violin
Gautier Capuçon – Cello

CD 2
Brahms:
01. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- I. Allegro
02. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- II. Adagio
03. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- III. Un poco presto e co
04. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- IV. Presto agitato

Lilya Zilberstein – Piano
Maxim Vengerov – Violin

Schubert:
05. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- I. Allegro moderato
06. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- II. Andante un poco mosso
07. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- III. Scherzo- Allegro
08. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- IV. Rondo- Allegro vivace

Yefim Bronfman – Piano
Renaud Capuçon – Violin
Gautier Capuçon – Cello

CD 3
Schumann:
01. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 I. Allegro brillante
02. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 II. In modo d’una marcia – Un poco lar
03. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 III. Scherzo Molto vivace
04. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 IV. Allegro ma non troppo

Martha Argerich – Piano
Dora Schwarzberg – Violin
Renaud Capuçon – Violin
Nora Romanoff-Schwarzberg – Viola
Mark Dobrinsky – Cello

 

Schumann:
05. Sonata for violin & piano No. 1 in A minor, Op. 105 I. Mit leidenschaftliche
06. Sonata for violin & piano No. 1 in A minor, Op. 105 II. Allegretto
07. Sonata for violin & piano No. 1 in A minor, Op. 105 III. Lebhaft

Martha Argerich – Piano
Géza Hossu-Legocky – Violin

Dvořák:
08. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) I. Allegro con fuoco
09. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) II. Lento
10. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) III. Allegro moderato
11. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) IV. Allegro ma non troppo

Walter Delahunt – Piano
Renaud Capuçon – Violin
Lida Chen – Viola
Gautier Capuçon – Cello

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FDP

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Sonatas para violino e piano – Tetzlaff/Vogt



O interesse de Schumann pelo violino surgiu tardiamente, por instigação de dois virtuoses. O primeiro, Ferdinand David, era o celebrado spalla da prestigiosa orquestra do Gewandhaus de Leipzig, cujo diretor artístico era Felix Mendelssohn – ninguém menos. David, que estreara o concerto de Mendelssohn sob a batuta do compositor, era amigo dos Schumanns a ponto de poder ser pidão assim a Robert numa carta:

“Sou incomumente apaixonado por suas Fantasiestücke para piano e clarinete; por que você não escreve algo para violino e piano? Quão esplêndido seria se você pudesse escrever algo do tipo, para que sua esposa e eu tocássemos para você!”

O pedido foi prontamente atendido, e Schumann lhe compôs uma sonata em Lá menor em uma semana, que Clara e o próprio David estreariam alguns meses depois.

O segundo virtuose foi Joseph Joachim, então com vinte e pouco anos, já amplamente reconhecido como o melhor violinista da Europa. Seu cavalo de batalha era até então esquecido concerto de Beethoven, cuja reputação de obra-prima ele e Mendelssohn muito se empenharam em resgatar. O jovem violinista incendiou a já febril criatividade de Robert, que lhe escreveu e dedicou em rápida sucessão uma fantasia para violino e orquestra, um concerto que ele nunca tocou, e um arranjo do concerto para violoncelo que só foi descoberto em 1987 (!). De lambujem, Schumann, que ficara insatisfeito com a sonata em Lá menor, escreveu uma outra sonata para David, que foi estreada por Clara e Joachim no primeiro entre as centenas de recitais que fariam juntos ao longo de mais de quarenta anos de amizade e colaboração.

Para apresentar-lhes estas obras ardentes, que certamente são mais sonatas para o piano tão familiar ao compositor do que para o violino, eu escolheria minha musa suprema, Martha Argerich. A deusa do teclado toca Schumann como ninguém e tem uma parceria muito afinada com seu amigo Gidon Kremer, o que resulta num registro redondinho e cativante dessas obras pouco conhecidas. Só que essa postagem já foi feita pelo colega FDP Bach em 2017, então eu a restaurei para que vocês a aproveitem.

Faltou-lhes, no entanto, tocar a terceira sonata, de modo que resolvi também alcançar-lhes a excelente gravação de Christian Tetzlaff e Lars Vogt, que abocanharam a trinca completa. Publicada postumamente, obscura e pouquíssimo tocada, a sonata WoO 2 tem sua raiz em outra peça quase esquecida, a chamada sonata F-A-E, que restaurei em nossa discografia na interpretação de Isabelle Faust e Alexander Melnikov. Essa composição colaborativa foi dedicada a Joseph Joachim – sempre ele! – por três de seus amigos: o próprio Schumann, seu aluno Albert Dietrich (1829-1908), e o recém-chegado Johannes Brahms, que conhecera os Schumanns algumas semanas antes por intermédio de Joachim e estava a morar na casa deles. Conta-se que, ao receber a sonata-presente em seu aniversário, Joachim tocou-a à primeira vista com Clara e foi instigado a adivinhar os compositores de cada movimento, acertando todos sem qualquer dificuldade – e, para quem pergunta o que raios é o “F-A-E” do título, respondo que, além dum fragmento melódico correspondente a “Fá-Lá-Mi” que aparece em todos movimentos, ele é a abreviatura de Frei aber einsam (“Livre, mas só”), o moto de Joachim, o qual certamente hei de tatuar na fronte se voltar a ficar solteiro.

Schumann, que escrevera o intermezzo e o finale, resolveu compor, num de seus arroubos de criatividade, um allegro (que coubera a Dietrich) e um scherzo (que sobrara para Brahms) e completou sua sonata, a última obra de alguma importância que nos legou antes do colapso mental, a tentativa de suicídio e o internamento voluntário no hospício em que terminaria seus dias. Assim como quase toda produção dos últimos anos do compositor, a sonata foi considerada maldita, produto duma mente enlouquecida e, muito pelo zelo de Clara, Joachim e Brahms em resguardar a memória da sanidade de Robert, eficientemente escondida dos palcos através da destruição dos originais. Décadas depois, foram descobertos manuscritos que escaparam à fogueira, o que possibilitou a reconstrução da sonata no. 3, publicada somente em 1956, no centenário da morte do compositor.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105

1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft

Sonata para violino e piano no. 2 em Ré menor, Op. 121

4 – Ziemlich langsam – Lebhaft
5 – Sehr lebhaft
6 – Leise, einfach
7 – Bewegt

Sonata para violino e piano no. 3 em Lá menor, WoO 2

8 – Ziemlich langsam
9 – Intermezzo. Bewegt, doch nicht zu schnell
10 – Lebhaft
11 – Markiertes, ziemlich lebhaftes Tempo

Christian Tetzlaff, violino
Lars Vogt, piano

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Vassily

Rachmaninov (1873-1943): Concerto para Piano No. 3 & Prelúdios – Santiago Rodriguez

Rachmaninov (1873-1943): Concerto para Piano No. 3 & Prelúdios – Santiago Rodriguez

Rachmaninov

Prelúdios

Concerto para Piano No. 3

Santiago Rodriguez

 

Sabe a frase ‘Minha vida daria um filme’? Pois se aplica perfeitamente ao caso de Santiago Rodriguez. Nascido em Cuba, começou a estudar  piano aos quatro anos e aos oito, junto com seu irmão, foi enviado aos Estados Unidos por um programa patrocinado pela Igreja Católica. Seus pais esperavam que a família seria reunida em breve, mas isto só aconteceu seis anos depois, quando eles puderam imigrar.

Neste período em que esteve afastado de seus pais, viveu em um orfanato em New Orleans enquanto continuava estudando música. Estreou com a New Orleans Symphony Orchestra aos dez anos tocando o Concerto para Piano No. 27 de Mozart. Sua carreira foi definitivamente lançada em 1981 quando ganhou a Silver Medal do Van Cliburn International Piano Competition.

Santiago Rodriguez grava exclusivamente para o selo Élan e seus discos não são exatamente fáceis de encontrar. Este aqui é ES-PE-TA-CU-LAR, se você gosta de música de Rachmaninov.

O núcleo deste álbum é o RACH#3, gravado ao vivo. Lake Forest Symphony e Paul Anthony McRae não são nomes que encontramos todos os dias, e mesmo Santiago Rodriguez, mas se você gosta deste tipo de repertório, you are in for a treat!! Esta gravação will knock your socks off!!

Brincadeiras a parte, este é realmente um grande disco, e não só pelo concerto. Funcionando como uma moldura para ele, temos alguns Prelúdios e mais duas peças curtas. Estas peças para piano solo são mais do que um contrapeso para o concerto, são verdadeiras jóias interpretadas magnificamente.

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

  1. Elegia, Op. 3, No. 1
  2. Prelúdio em dó sustenido menor, Op. 3, No. 2
  3. Polichinelo, Op. 3, No. 4

Concerto para Piano No. 3 em ré menor, Op. 30

  1. Allegro ma non tanto
  2. Adagio –  Finale. Alla breve
Lake Forest Symphony
Paul Anthony McRae, regente
  1. Prelúdio em sol maior, Op. 32, No. 5
  2. Prelúdio em sol sustenido menor, Op. 32, No. 12
  3. Prelúdio em sol menor, Op. 23, No. 5
  4. Prelúdio em mi bemol maior, Op. 23, No. 6
  5. Prelúdio em si bemol maior, Op. 23, No. 2

Santiago Rodriguez, piano

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FLAC | 266 MB

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MP3 | 320 KBPS | 164 MB

Santiago Rodriguez

Em suas próprias palavras: I have been playing the piano since age 5. The reason I continue to do it at this present, advanced age is that I’m still trying to get it right.

Sobre este álbum: “A thoroughly stunning, adrenaline-pumping performance” – American Record Guide

Aproveite!

René Denon

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Quarteto de cordas, Op. 41 no. 3 – Quinteto para piano e cordas, Op. 44 – Hamelin, Takács Quartet

Que o bonito quarteto Op. 41 no. 3 me perdoe, mas só terei aqui palavras para a maravilhosa obra que o acompanha neste disco.

Que coisa mais impressionante, esse quinteto de Schumann! Lembro-me da primeira vez que o ouvi, sob Rubinstein e o quarteto Guarneri, aquela pujança do Allegro inicial a arrebatar-me e, pela força mesmerizante da Marcha e do Scherzo, devolver-me à consciência só no brilhante Mi bemol final. A paixão à primeira audição que nunca arrefeceu, inda mais porque sua superposição magistral de um quarteto em chamas e uma brilhante parte para piano torna-o veículo ideal para aventuras de grandes virtuoses em suas empreitadas de câmara, e são formações como essas – e não com cameristas-raiz – que o tenho preferido escutar ao longo dessas décadas.

Essa pujança toda do teclado não foi, claro, por acaso, pois Schumann dividia lençóis com uma das melhores pianistas de seu tempo. Clara foi não só a dedicatária da obra como a pianista em sua estreia pública, e certamente a difícil parte para teclado é um retrato fiel de seu pianismo. Na estreia privada do quinteto, entretanto, ela adoeceu e foi substituída na penúltima hora por um rapaz chamado Felix Mendelssohn, que desconhecia a obra e teve que lê-la à primeira vista, informação que me fez invejar molto assai o círculo de amizades desses Schumanns, e só não me matou de inveja porque a morte viria depois, ao me dar conta de que, onze anos depois do quinteto, um outro rapazote chamado Johannes Brahms bateria à porta de sua casa em Düsseldorf!

Essa combinação incomum de brilho e robustez, de espontaneidade e rigor – o que é aquele fugato no finale? -, fez do quinteto um imediato sucesso. Ele é, com folgas, a mais conhecida das obras de câmara de Schumann e a pedra fundamental de uma extensa linhagem de quintetos com piano que passaria pelo supracitado Brahms e Dvořák e chegaria a Shostakovich. Seu êxito foi tamanho que até Clara, que durante a vida de Robert relutou em incorporar a seu repertório as obras do marido, o tocou com muita frequência. Tenho certeza de que os dois adorariam esta versão que lhes apresento, tanto pelo brilhante Takács Quartet, de tanta força sinfônica, quanto por Marc-André Hamelin, talvez o pianista de técnica mais deslumbrante entre aqueles em atividade e que sempre a põe com extremo bom gosto a serviço de sua arte. Hamelin é um desbravador de repertórios tão complicados como pouco conhecidos, com especial predileção pela obra de pianistas-compositores com Alkan, Busoni e Godowsky, de modo que é relativamente raro poder ouvi-lo tocar uma obra assim, mais consagrada. Quem se impressionar com a cintilância de sua participação no Allegro brillante terá que guardar um pouco de pasmo para o movimento seguinte: o que ele faz na Marcia, frequentemente entendida como uma marcha fúnebre e que aqui soa como um solene cortejo, é de fazer os olhos suarem.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Quarteto para dois violinos, viola e violoncelo em Lá maior, Op. 41 no. 3

1 – Andante espressivo – Allegro molto moderato
2 – Assai agitato – Un poco adagio – Tempo risoluto
3 – Adagio molto
4 – Allegro molto vivace

Quinteto em Mi bemol maior para piano, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 44

5 – Allegro brillante
6 – In modo d’una Marcia: un poco largamente – Agitato
7 – Scherzo: Molto vivace
8 – Allegro, ma non troppo

Marc-André Hamelin, piano
Tákacs Quartet:
Edward Dusinberre e Károly Schranz
, violinos
Geraldine Walther
, viola
András Fejér, 
violoncelo

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Além de pianista de supremos poderes, Hamelin também compõe e arranja tanto
obras de grandes dimensões quanto melodias tão irritantemente familiares como
esta, que ele pôs em pauta para tentar sublimar um pouco da irritação que ela
sempre lhe trazia quando a ouvia em seus recitais.

Vassily

Krzysztof Penderecki (1933-2020): Sinfonia Nº 6 (Canções Chinesas) e Concerto para Clarinete, Cordas, Percussão e Celesta

Krzysztof Penderecki (1933-2020): Sinfonia Nº 6 (Canções Chinesas) e Concerto para Clarinete, Cordas, Percussão e Celesta

Um belo CD!

Penderecki fez várias visitas à China desde o final dos anos 90. Tendo grande interesse pela cultura chinesa, especialmente a poesia, ele criou a Sinfonia nº 6, “Canções (ou Poemas) Chineses”, uma obra inspirada na literatura chinesa — aqui em tradução alemã — de oito poemas da dinastia Tang (618-907 dC) e da Song (960-1279 dC ). Nesta Sinfonia, Penderecki incorporou instrumentos musicais tradicionais chineses, como o erhu, no padrão de sinfonia ocidental. A obra foi estreada em Guangzhou, província de Guangdong, em 2017. O polonês já havia demonstrado carinho pela música folclórica chinesa antes, descrevendo-a como “alegre e positiva”.

A escrita sinfônica de Krzysztof Penderecki é um dos elementos mais importantes de sua produção como compositor, e possivelmente o mais fascinante. O próprio compositor enfatizou frequentemente a identidade autônoma de sua obra sinfônica.

O Concerto para Clarinete — originalmente escrito para viola — tem um movimento único, cuja dicotomia interna nítida é refletida na sequência das seções: Lento – Vivace – Lento – Vivo – Lento. Dois mundos emocionais opostos se manifestam alternadamente. O primeiro tema parece retirado do barroco e é responsável pelo clima sombrio do primeiro Lento. Isto é seguido por uma seção que soa um pouco como uma máquina em movimento perpétuo. O próximo Lento, mais romântico que o primeiro, é sobrenatural e imaterial, levando-nos ao segundo scherzo, precedido por uma cadência. A seção final completa toda a forma narrativa, com o retorno do tema inicial e a ascensão conjunta da orquestra e do solista às alturas. Gostei muito do concerto.

Há uma distância de mais de 30 anos entre a composição do Concerto para o Clarinete e a Sinfonia nº 6. Os  os dois trabalhos evidenciam uma mudança na postura artística de Krzysztof Penderecki — uma mudança do expansivo para uma declaração musical muito íntima.

Krzysztof Penderecki (1933-2020): Sinfonia Nº 6 (Canções Chinesas) e Concerto para Clarinete, Cordas, Percussão e Celesta

1 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: I. Die geheimnisvolle Flöte
2 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: II. in der Fremde
3 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: III. Auf dem Flusse
4 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: IV. Die wilden Schwäne
5 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: V. Verzweiflung
6 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: VI. Mondnacht
7 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: VII. Nächtliches Bild
8 Symphony No. 6 “Chinese Poems”: VIII. Das Flötenlied des Herbstes

9 Viola Concerto (Version for Clarinet, Strings, Percussion & Celesta): I. Lento quasi recitativo
10 Viola Concerto (Version for Clarinet, Strings, Percussion & Celesta): II. Vivace
11 Viola Concerto (Version for Clarinet, Strings, Percussion & Celesta): III. Lento
12 Viola Concerto (Version for Clarinet, Strings, Percussion & Celesta): IV. Vivo
13 Viola Concerto (Version for Clarinet, Strings, Percussion & Celesta): V. Lento

– Stephan Genz, barítono
– Joanna Kravchenko, viola
– Andrzej Wojciechowski, clarinete
– Polish Chamber Philharmonic Orchestra Sopot
– Wojciech Rajski, regente

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Penderecki roubando uma muda do vizinho.

PQP

Postagens restauradas – #SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856) – Integral das Sinfonias – Gardiner – Karajan – Szell – Bernstein – Nézet-Séguin – Herreweghe

Para fim de comparação com as versões retocadas por Mahler, que postei ontem, ou para quem não ainda não está familiarizado com as versões originais dessas obras cheias de cruezas e belezas melhor poder conhecê-las, resgatei do éter algumas integrais que já tinham sido publicadas aqui no PQP, reativando seus links:

Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner

Sinfonia em Sol menor – Sinfonia no. 1 – Abertura, Scherzo & Finale
Sinfonia no. 4 (1ª versão) – Sinfonia no. 2
Konzertstück para quatro trompas – Sinfonia no. 3 – Sinfonia no. 4 (versão de 1851)
[esta última, já restaurada pelo patrão PQP]

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan

Sinfonias nos. 1-4

 

The Cleveland Orchestra
George Szell

Sinfonias nos. 1-4 – Abertura “Manfred”

 

Wiener Philharmoniker
Leonard Bernstein

Sinfonias nos. 1 & 4
Sinfonia no. 3 – Concerto para piano (com Justus Franz)
Sinfonia no. 2 – Concerto para violoncelo (com Mischa Maisky)

 

Chamber Orchestra of Europe
Yannick Nézet-Séguin

Sinfonias nos. 1-4

 

Orchestre des Champs-Élysées
Philippe Herreweghe

Sinfonias nos. 1 & 3

[O segundo disco da integral, nunca postado antes, aqui está para arredondar a segunda-feira de vocês]
Sinfonias nos. 2 & 4

Schumann só olhando vocês compararem as orquestrações dele com as de Mahler

Vassily

F. J. Haydn (1732-1809): Concertos para Violoncelo

F. J. Haydn (1732-1809): Concertos para Violoncelo

Um bom disco, mas achei destituído do charme habitual do compositor. Bailey e O`Neill tocam todas as notas, mas sem a mágica que tantos já conseguiram.

O Concerto Nº 1 foi escrito entre 1761 e 1765 e estava perdido até 1961, quando o musicólogo Oldřich Pulkert descobriu uma cópia da partitura no Museu Nacional de Praga. O Nº 2 foi escrito em 1783. Sua autenticidade foi posta em dúvida até que foi descoberta uma versão rabiscada e corrigida — típica do compositor — com a letra de Haydn em 1951. Ambos concertos são belíssimos, sendo que o Nº 2 é mais relaxado e lírico do que seu antecessor, apesar de ser difícil para o solista. Imaginem que um de meus primeiros contatos com o Concerto Nº 1 foi assistindo Rostropovich no Colón…

Eu ficaria com esta gravação.

F. J. Haydn (1732-1809): Concertos para Violoncelo

1 Cello Concerto No. 1 in C Major, Hob. VIIb:1: I. Moderato 9:33
2 Cello Concerto No. 1 in C Major, Hob. VIIb:1: II. Adagio 7:55
3 Cello Concerto No. 1 in C Major, Hob. VIIb:1: III. Finale. Allegro molto 6:26

4 Cello Concerto No. 2 in D Major, Hob. VIIb:2: I. Allegro moderato 14:47
5 Cello Concerto No. 2 in D Major, Hob. VIIb:2: II. Adagio 5:04
6 Cello Concerto No. 2 in D Major, Hob. VIIb:2: III. Rondo. Allegro 4:37

Cello: Zuill Bailey
Conductor: Robin O’Neill
Orchestra/Ensemble: Philharmonia Orchestra

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Vocês acham que as gravadoras só investem na beleza feminina? Ah, tá.

PQP

Fascination Opera – Dorothea Seel, Christoph Hammer

Essa postagem vai para o nosso ex – colaborador Marcelo Stravinsky que, apesar de afastado do blog, ainda colabora conosco de uma forma ou outra. Se intitula um flautista amador (parece que tem uma banda de rock no estilo Jethro Tull), algo que eu nunca nem cheguei a ser, apenas soprava algumas melodias na minha velha Flauta Doce Yamaha (que por sinal, ainda tenho, jogada em algum lugar).  Mas vamos ao que viemos:

“Nineteenth-century opera arrangements for flute and piano have been extraordinary popular. Unfortunately the have so far received little attention in the annals of music history. Even in concerts you may hardly find them on the programmes. Therefore the present recording provides exciting music to rediscover with works by Briccialdi, Herman, Popp, Galli, Kuhlau, Furstenau, Boehm and Andersen. Dorothea Seel used three different flutes to reproduce the flute sound of the time in alI its diversity. This demands specific playing techniques, which can be determined from the h istor ical source texts. Christoph Hammer played an original pianoforte from the collection of the Tyrolean regional museum in Innsbruck. The woody tone, rich in harmonics, is a perfect foil for the flutes.”

Assim esse CD nos é apresentado no encarte (com o perdão da preguiça de traduzir). São árias de óperas transcritas para Flauta e Pianoforte. Quando eu era guri pequeno lá no interior, botava disco para tocar e ficava tentando tirar estas melodias, claro que dentro de um grau de amadorismo abaixo do crítico. E obviamente não tinha a técnica necessária para tirar estes sons, muito menos um instrumento adequado, ou então sequer a partitura. Era o famoso ‘tirar de ouvido’. Imaginem o resultado.

Dorothea Seel especializou-se em Flautas Tranversais do século XVIII e XIX, e é diretora artística do “Barocksolisten München”, ou seja, tem um currículo respeitável na área, basta ler o booklet em anexo.  Christoph Hammer especializou-se em performances historicamente informadas, e se utiliza nestas gravações de um pianoforte fabricado por Conrad Graf, fabricado em Viena em 1835.

Um belo CD, sem dúvida, e curioso. Estamos tão acostumados com estas melodias, de vez em quando as estamos assobiando (quem nunca?) …!! Estou ouvindo este CD em uma manhã de domingo de outono, com direito a céu de brigadeiro, e lhes garanto que está sendo uma bela trilha sonora.

01. Variations on ”The Barber of Seville”, Op. 83
02. ”Don Juan” de Mozart, Op. 24
03. Fantasia on ”La traviata”, Op. 76
04. Tannhäuser Fantasia – Lied vom Abendstern
05. 6 Variations on ”Euryanthe”, Op. 63
06. Opera Transcriptions, Op. 45 – No. 2, Norma
07. Polonaise de Carafa, Op. 8a
08. Fantaisie caprice sur ”Rinaldo”, Op. 203

Dorothea Seel – Flutes
Christoph Hammer – Pianoforte

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#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Integral das Sinfonias, retocadas por Gustav Mahler – Chailly

Nossas contribuições às celebrações do ducentésimo décimo aniversário de Schumann, que foram instigadas entre os pequepianos pelo colega Pleyel, tomarão emprestado pela próxima quinzena este espaço que, nos últimos meses, vínhamos dedicando à música do duzentosecinquentão Beethoven, que por aqui voltará na quinzena seguinte.

Tentarei trazer algumas obras da vasta e admitidamente desigual produção schumanniana ainda inéditas neste blog, bem como algumas gravações de obras já muitas vezes publicadas que, bem, eu amo e gostaria de compartilhar com vocês.

De alguma forma, esta gravação que ora lhes apresento se encaixa nos dois critérios. Se já há um número razoável de gravações das sinfonias de Schumann aqui no PQP Bach, de modo que não seria louco de dizê-las inéditas, elas nunca aqui estiveram nesta roupagem, num arranjo de ninguém menos que Gustav Mahler.

“Arranjo”, talvez, seja um termo que lhes faça esperar diferenças mais marcantes do que as que de fato encontrarão. Mahler, hoje certamente lembrado como um compositor do primeiríssimo escalão, ganhava sua vida como regente – certamente o mais célebre e influente de sua época – e adotava com frequência o expediente de retocar as obras de outros compositores, para obter efeitos que considerava mais apropriados às grandes salas de concerto e aos avantajados conjuntos orquestrais que conduzia. E, se fez isso com obras e compositores sacrossantos como Ludwig e sua Nona, por que não faria com as sinfonias de Schumann, achincalhadas desde suas primeiras audições pelo que se considerava a orquestração incompetente de um homem que sempre pensava em termos pianísticos?

Os retoques de Mahler, no entanto, não incluem alterações importantes em harmonia e em linhas melódicas, que seguem puro Schumann. As mudanças mais notáveis são na orquestração, que dá aos instrumentos de sopros a considerável proeminência que conquistaram na música orquestral na segunda metade do século XIX, em algumas alterações de ritmo, especialmente nos metais, e nas detalhadas indicações dinâmicas. A impressão geral é de um Schumann com menos cordas e mais sopros, mais enérgico e límpido, que lhes poderá soar estranho, mas certamente muito convincente – ainda que a grandiloquência dos clímaxes e dos tímpanos tonitruantes volta e meia delatem quem está por trás da coisa toda.

Para encarar a empreitada de gravar a mahlerização destas sinfonias, esta gravação lhes traz talvez os melhores intérpretes concebíveis: uma veneranda orquestra alemã de imensa tradição, que responde como talvez nenhuma outra orquestra no mundo de hoje a seu regente, um mestre que tem em Mahler e Schumann duas de suas especialidades. Por isso, tenho certeza de que Riccardo Chailly e a orquestra do Gewandhaus de Leipzig não hão de os decepcionar.

Robert Alexander SCHUMANN
(1810-1856)

Arranjo de Gustav MAHLER (1860-1911)

Sinfonia no. 1 em Si bemol maior, Op. 38, “Primavera”

1 -Andante un poco maestoso – Allegro molto vivace
2 – Larghetto
3 – Scherzo: molto vivace – Trio I: Molto più vivace – Tempo I – Trio II: (Molto vivace) – Tempo I – Coda
4 – Allegro animato e grazioso

Sinfonia no. 2 em Dó maior, Op. 61

5 – Sostenuto assai – Un poco più vivace – Allegro ma non troppo
6 – Scherzo – Trio I – Trio II – Coda: Allegro vivace
7 – Adagio espressivo
8 – Allegro molto vivace

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Sinfonia no. 3 em Mi bemol maior, Op. 97, “Renana”

1 – Lebhaft
2 – Scherzo: Sehr Mäßig
3 – Nicht schnell
4 – Feierlich
5 – Lebhaft – Schneller

Sinfonia no. 4 em Ré menor, Op. 120

6 – Ziemlich langsam – Lebhaft
7 – Romanze: Ziemlich langsam
8 – Scherzo & Trio: Lebhaft
9 – Langsam – Lebhaft – Schneller – Presto

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Gewandhausorchester
Riccardo Chailly, regência

Nessa foto, que eu adoro, está não só o retrato do semblante, mas de toda zelosa arte de Chailly.

Vassily