Allegri / J. S. Bach / Corelli / Händel / Stölzel / Telemann: Back to Bach

Allegri / J. S. Bach / Corelli / Händel / Stölzel / Telemann: Back to Bach

Um disco bem sem graça. São arranjos que o maridão Herriott escreveu para sua esposa Harnoy se esbaldar. Explico: é um disco impossível de ser reproduzido ao vivo, pois Harnoy faz solos de violoncelo acompanhada por ela mesma, às vezes numa orquestra de violoncelos, enquanto Herriott cria verdadeiros colchões de trompetes e flugelhorns. Gostei apenas do suingue da Ária da Suíte para Orquestra Nº 3 de Bach. Fiquei estalando os dedos como se ouvisse jazz. Foi usada muita tecnologia neste disco. Na verdade, quem brilha é Herriott e suas habilidades multifuncionais de escrever arranjos que incluem grandes conjuntos de violoncelos executados inteiramente por Harnoy, e corais de trompetes. Harnoy costuma fazer crossovers de Lennon & McCartney, Gershwin e tem seu público. Eu respeito, mas não é para mim.

Allegri / J. S. Bach / Corelli / Händel / Stölzel / Telemann: Back to Bach

Telemann
01. Six Sonates en Duo-Sonate No. 1, TWV 40.118: I. Vivace
02. Six Sonates en Duo-Sonate No. 1, TWV 40.118: II. Adagio
03. Six Sonates en Duo-Sonate No. 1, TWV 40.118: III. Allegro

Bach
04. Toccata, Adagio, and Fugue in C Major, BWV 564: Adagio (Arr. for Cello and Brass)

Handel
05. Sonata for Cello No. 3 in F Major: I. Adagio (Arr. for Cello and Brass)
06. Sonata for Cello No. 3 in F Major: II. Allegro (Arr. for Cello and Brass)
07. Sonata for Cello No. 3 in F Major (Arr. for Cello and Brass): III. Largo
08. Sonata for Cello No. 3 in F Major: IV. Allegro (Arr. for Cello and Brass)

Bach
09. Violin Concerto in E Major, BWV 1042: Adagio (Arr. for Cello and Brass)

Corelli
10. Sonata No. 8 in D Minor, Op. 5: I. Preludio
11. Sonata No. 8 in D Minor, Op. 5: II. Allemanda
12. Sonata No. 8 in D Minor, Op. 5: III. Sarabanda
13. Sonata No. 8 in D Minor, Op. 5: IV. Giga

Stölzel
14. Bist du bei mir

Corelli
15. Sonata No. 5 in B-flat Major, Op. 5: I. Adagio

Allegri
16. Miserere mei, Deus (Arr. for Cello and Brass)

Bach
17. Orchestral Suite No. 3 in D Major, BWV 1068: II. Air (Arr. for Cello and Brass)

Ofra Harnoy, violoncelos
Mike Herriott, trompetes

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A gente aguentou os gatinhos deles

PQP

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Obra completa para piano com pedaleira – Schmeding/Obra completa para órgão – Rothkopf – Zerfass

Em 1844, depois de acompanhar Clara numa turnê pela Rússia, Robert Schumann mergulhou outra vez em crise pessoal. Os sintomas depressivos agravaram-se e, tanto quanto eles, suas incertezas acerca de seu rumo profissional. A esposa, uma pianista de imenso sucesso e ocupadíssima carreira internacional, era a provedora da casa, e isso o incomodava muito. Do mesmo modo, duvidava de sua capacidade como compositor. Como panaceia para todas essas dificuldades, mergulhou em estudos de contraponto, debruçando-se especialmente sobre obras de Johann Sebastian Bach. Na mesma época, o conservatório de Leipzig adquirira um piano com pedaleira – um piano com uma série extra de cordas graves acionadas por um pedal, no feitio dos cravos e clavicórdios com pedaleira que já existiam há muito tempo, usados por organistas para estudos em casa. A coincidência entre seu interesse pelo contraponto e a descoberta desse novo instrumento inspirou Robert a um breve surto de composição para o mesmo, o que resultou em três séries de peças: os seis estudos, Op. 56; os quatro esboços, Op. 58; e seis fugas sobre o tema B-A-C-H (na notação alemã, si bemol-lá-dó-si natural), Op. 60.

O piano com pedaleira caiu rapidamente em desuso e, embora Schumann tenha declarado que esperava ser lembrado por apenas uma composição, e que ela era o Op. 60, as três coleções de peças para o instrumento também caíram no vale do oblívio, de lá resgatadas apenas por um que outro organista mais aventuroso. Com o advento da gravação fonográfica e o aperfeiçoamento de suas técnicas, que permitiram o registro da complexidade dos sons do órgão, as obras de Schumann para teclado com pedaleira tiveram alguma voga, mesmo porque seu conjunto cabia comodamente num LP.

O organista Martin Schmeding, que já as tinha no repertório, nunca se satisfez completamente com tocá-las em seu instrumento. Apesar das seis fugas soarem bastante idiomáticas ao órgão, com suas notas longas e muitos legatos, as duas outras séries pareciam exigir o piano, especialmente as do Op. 58, com seus mui pianísticos acordes em staccato. Além disso, sua experiência com o piano com pedaleiras restringia-se a algumas tentativas, que pouco o entusiasmaram, numa engenhoca moderna em que, diferentemente do instrumento que Schumann tinha em mente, dois imensos pianos de cauda são acoplados por um mecanismo bolado por alguém que certamente tem muita imaginação e pianos de sobra em sua casa.

 

Fala sério

O desinteresse de Schmeding pelo piano com pedaleira durou até que, numa viagem a Bélgica, ele encontrou um piano de desenho semelhante àquele do conservatório de Leipzig e, melhor ainda, em condições de ser tocado. Rapidamente, então, organizou esta gravação, que é a primeira integral das obras de Schumann para esse raro instrumento, mais de cento e sessenta anos depois de sua composição.


Schmeding decidiu colocar os microfones dentro do instrumento, perto dos pedais. Isso ajudaria os ouvintes a apreciarem as qualidades únicas do piano com pedaleira, a despeito de um que outro ruído de marcenaria e o dos próprios pés do pianista. Para termos de comparação, incluiu também três versões da mesma peça – o breve cânone das “Folhas de Álbum”, Op. 124 – com diferentes posições do microfone, para demonstrar as diferenças na captação do som e dos efeitos atingidos pelo instrumento. A interpretação é muito competente e clara, extremamente desromantizada, e deixa claro que as fugas, como já dissemos, soam bem melhor quando realizadas no órgão.

Dessa feita, também resolvi trazer-lhes duas gravações feitas em órgãos. A primeira é a de Andreas Rothkopf, no órgão histórico da igrejinha de Hoffenheim, com muita clareza na execução e tino na escolha dos registros, preferindo aqueles evocativos dos sopros de madeira, resultando numa interpretação muito bonita e calorosa, sem grandes arroubos. Quem preferir órgãos com baixos poderosos e mais tonitruância preferirá a gravação de Dan Zerfaß no instrumento moderno da grande catedral de Worms, com maior variedade de registros e uma ressonância bem mais parruda. Embora a primeira seja minha preferida, acho que a segunda tem mais potencial de conquistar novos ouvintes para essas obras tão pouco conhecidas. Assim, recomendo que comecem por Schmeding, sigam com Zerfaß, concluam com Rothkopf, e depois me digam se não é mesmo de se lamentar que Schumann não tenha escrito mais para esses instrumentos.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Studien für den Pedalflügel, Op. 56
01 – No. 1 em Dó maior
02 – No. 2 em Lá menor
03 – No. 3 em Mi maior
04 – No. 4 em Lá bemol maior
05 – No. 5 em Si menor
06 – No. 6 em Si maior

De Albumblätter, Op. 124
07 – No. 20: Canon

Skizzen für den Pedalflügel, Op. 58
08 – No. 1: Nicht schnell und sehr markiert
09 – No. 2: Nicht schnell und sehr markiert
10 – No. 3: Lebhaft
11 – No. 4: Allegretto

De Albumblätter, Op. 124
12 – No. 20: Canon

Seis fugas sobre B-A-C-H, Op. 60
13 – No. 1: Langsam
14 – No. 2: Lebhaft
15 – No. 3: Mit sanften Stimmen
16 – No. 4: Mässig, doch nicht zu langsam
17 – No. 5: Lebhaft
18 – No. 6. Mässig, nach und nach schneller

De Albumblätter, Op. 124
19 – No. 20: Canon

Martin Schmeding, piano com pedaleira

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Skizzen für den Pedalflügel, Op. 58
01 – No. 1: Nicht schnell und sehr markiert
02 – No. 2: Nicht schnell und sehr markiert
03 – No. 3: Lebhaft
04 – No. 4: Allegretto

Studien für den Pedalflügel, Op. 56
05 – No. 1 em Dó maior
06 – No. 2 em Lá menor
07 – No. 3 em Mi maior
08 – No. 4 em Lá bemol maior
09 – No. 5 em Si menor
10 – No. 6 em Si maior

Seis fugas sobre B-A-C-H, Op. 60
11 – No. 1: Langsam
12 – No. 2: Lebhaft
13 – No. 3: Mit sanften Stimmen
14 – No. 4: Mässig, doch nicht zu langsam
15 – No. 5: Lebhaft
16 – No. 6. Mässig, nach und nach schneller

Andreas Rothkopf, órgão da igreja evangélica de Hoffenheim, Alemanha (1846)
Construtor: Eberhard Friedrich Walcker (1794-1872)

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Studien für den Pedalflügel, Op. 56
01 – No. 1 em Dó maior
02 – No. 2 em Lá menor
03 – No. 3 em Mi maior
04 – No. 4 em Lá bemol maior
05 – No. 5 em Si menor
06 – No. 6 em Si maior

Skizzen für den Pedalflügel, Op. 58
07 – No. 1: Nicht schnell und sehr markiert
08 – No. 2: Nicht schnell und sehr markiert
09 – No. 3: Lebhaft
10 – No. 4: Allegretto

Seis fugas sobre B-A-C-H, Op. 60
11 – No. 1: Langsam
12 – No. 2: Lebhaft
13 – No. 3: Mit sanften Stimmen
14 – No. 4: Mässig, doch nicht zu langsam
15 – No. 5: Lebhaft
16 – No. 6. Mässig, nach und nach schneller

Dan Zerfaß, órgão da catedral de São Pedro em Worms, Alemanha (1985)
Construtor: Johannes Klais Orgelbau GmbH, Bonn

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Isso a Globo não mostra

Vassily

J. S. Bach (1685-1750): Sonatas para flauta transversa e cravo obligato (Pontecorvo/Alessandrini)

J. S. Bach (1685-1750): Sonatas para flauta transversa e cravo obligato (Pontecorvo/Alessandrini)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

O BWV 1030 e o 1032 são originalmente Sonatas para flauta e cravo. Já o 1019 é, originalmente, uma Sonata para violino e cravo. O 526 foi transcrito do órgão para flauta e cravo. O resultado é um CD entusiasmante. A flautista Pontecorvo é esplêndida e Alessandrini é um velho e competente conhecido nosso.

A história das sonatas da flauta não é clara. É provável que a maioria delas tenha sido escrita enquanto Bach estava a serviço do príncipe Leopold de Anhalt-Cothen. Na época, dificilmente se poderia imaginar que a pequena cidade de Cothen, trinta quilômetros ao norte de Halle, seria lembrada na história como um dos centros musicais mais importantes da época. O príncipe Leopold era um jovem que amava música e que gradualmente expandiu a orquestra da corte para dezoito membros. Ele contratou Johann Sebastian Each como Kapellmeister em 1717 e é interessante notar que seu salário era duas vezes maior que o de seu antecessor. O próprio príncipe era um músico talentoso e tocava violino, viola e cravo. Todas as apresentações em Cothen ocorriam na corte, como quisessem ou quando solicitados. Leopold não exigiu música sacra, permitindo a Bach um amplo espaço para o secular. Deste modo, o período em Cothen viu a composição de algumas das composições instrumentais mais importantes da música ocidental, as Invenções em duas e três partes, as Suítes francesas, o primeiro livro do Cravo bem temperado, as Sonatas e Partitas para violino solo, as Suítes para Violoncelo, as Sonatas para cravo e violino, as para viola da gamba, os Concertos de Brandenburgo, algumas das Suítes orquestrais e Sonatas para flauta e cravo ou flauta e continuo.

J. S. Bach (1685-1750): Sonatas para flauta transversa e cravo obligato (Pontecorvo/Alessandrini)

Sonata for flute and harpsichord in B minor, BWV 1030
01. “I. Andante”
02. “II. Largo e dolce”
03. “III. Presto”

Sonata for flute and harpsichord in G major, BWV 1019
04. “I. Allegro”
05. “II. Largo”
06. “III. Allegro”
07. “IV. Adagio”
08. “V. Allegro”

Sonata for flute and harpsichord in E minor, BWV 526
09. “I. Vivace”
10. “II. Largo”
11. “III. Allegro”

Sonata for flute and harpsichord in A major, BWV 1032
12. “I. Vivace”
13. “II. Largo e dolce”
14. “III. Allegro”

Laura Pontecorvo, flauta transversa
Rinaldo Alessandrini, cravo

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Judith Leyster (1609-1660): Menino tocando flauta (1630)

PQP

Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival – 2007 #BTHVN250

De acordo com a Wikipedia, Lugano é uma cidade com 65 mil habitantes, localizada no Sul da Suíça, um local paradisíaco, ao lado de um lago absolutamente magnífico.

Foi ali que Martha Argerich organizou por muitos anos um Festival de Música, revelando muitos músicos talentosos, e outros já famosos aproveitaram para desfilarem ainda mais seu talento.

A série começa com o genial Trio para Piano ‘Ghost’ de Beethoven, belamente interpretado por Martha, o Capuçon violinista, Renaud, e Mischa Maisky, que dispensa apresentações. Músicos deste nível tocando juntos, em um lugar como este, com certeza seria o passeio dos sonhos de muita gente.

CD 1:

Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Trio in D major “Ghost”, Op. 70,1

Ferruccio Busoni (1866-1924) / Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
Fantasie für eine Orgelwalze, arrangement for 2 pianos in F minor (after Mozart, K. 608)

Robert Schumann (1810-1856):
Andante and Variations for 2 pianos in B flat major, Op. 46
Kinderszenen, Op. 15

Martha Argerich – piano
Lilya Zilberstein – piano
Gabriela Montero – piano
Renaud Capuçon – violin
Mischa Maisky – cello

CD 2:

Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Quartet No. 2 in D major, WoO 36,2

Maurice Ravel (1875-1937):
Ma mère l’oye, suite for piano 4 hands

Mikhail Glinka (1804-1857):
Grand Sextet for piano, two violins, viola, cello and double-bass

Olivier Messiaen (1908-1992):
Theme and Variations, for violin & piano

Maurice Ravel (1875-1937):
Daphnis et Chloé, suite No. 2 (transcr. 2 pianos Lucien Garban)

Martha Argerich – piano
Alexander Mogilevsky – piano
Karin Lechner – piano
Francesco Piemontesi – piano
Sergio Tiempo – piano
Lucia Hall – violin
Alissa Margulis – violin
Lida Chen – viola
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Mark Drobinsky – cello
Enrico Fagone – double bass

CD 3:

Béla Bartók (1881-1945):
Violin Sonata No.1 Sz75

Ernő von Dohnányi (1877-1960):
Piano Quintet No.1 in C minor, op.1

Witold Lutosławski (1913-1994):
Variations on a Theme by Paganini for 2 pianos

Martha Argerich – piano
Nicholas Angelich – piano
Mauricio Vallina – piano
Renaud Capuçon – violin
Dora Schwarzerg – violin
Lucia Hall – violin
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Jorge Bosso – cello

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#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Lieder, transcritos para piano por Clara Schumann (1819-1896) – Garben


Dia dos Namorados? Nah, só aqui no Brasil. É véspera do dia de Santo Antônio e, mais que isso, aquela efeméride marqueteira inventada para que as pessoas consumam alguma coisa em junho, pois o Dia de São Valentim é em fevereiro, no meio das férias, época ruim para consumo, e porque abril já tem a Páscoa e maio já tem as noivas e o Dia das Mães, e julho… Bem, julho já é de férias de novo, então o melhor seria que realmente os casais enchessem os restaurantes e fizessem fila no motel em junho mesmo, nem que fosse para dar o pretexto a Vassily para, pela primeira e provavelmente última vez, escrever a palavra “motel” aqui no PQP Bach.

Eu ligo tchongas para o Dia dos Namorados, mas já que estamos em nosso minifestival Schumann, escolhi como música de fundo para os arrulhos dos pombinhos que o celebram essas bonitas canções de Robert, habilmente transcritas por Clara para o piano, e aqui interpretadas por Cord Garben, um bom pianista que ficou mais conhecido como produtor e gerente de egos da Deutsche Grammophon.

Apesar de todas aparências, e de toda fama que granjearam como Casal 20 (termo que atesta minha velhice) da música de concerto, a relação entre Clara e Robert não tinha calmarias. A casa dos Schumann sempre oscilou entre brasas e chamas: Robert era devotamente apaixonado pela esposa, mas extremamente possessivo, o que se agravava ainda mais pelo fato de Clara, uma das melhores pianistas da Europa, excursionar extensamente e com muita frequência. Dóia-lhe em especial na machidão, também, o fato da esposa ser tanto a provedora da casa quanto a Schumann famosa no mundo da época. Clara, por sua vez, sempre teve foi muito crítica a Robert como compositor, e a tal ponto que, com algumas exceções, só incorporou as obras dele ao seu repertório depois de enviuvar. Nos quarenta anos em que viveu sem ele, dedicou-se à preservação de seu legado, não sem dar chá de sumiço em algumas partituras que considerava indignas de serem lembradas, o que levou muito papel para a fogueira, enquanto batalhava para sustentar os sete filhos que sobreviveram à infância, e aos netos que os filhos lhe traziam.

Essas transcrições que ora lhes alcanço, em sua maior parte feitas depois da morte de Robert, são tão fiéis ao seu texto e essenciais quanto poderiam ser. Não há aqui a grandiloquência, nem os arroubos prestidigitadores de tantas das transcrições de Liszt, feitas para o húngaro brilhar nos palcos. Clara, ao contrário, lançou mão de sua sabedoria pianística para incorporar a melodia do canto àquele que é, com raras exceções, o acompanhamento original de Schumann. Essas apaixonadas canções sem palavras, muitas delas compostas naquele incrível “Ano das Canções” do 1840, são um sensível memorial de Clara para Robert – talvez a sonhar com um amor como o de “Widmung”, poema que abre a coleção “Myrthen”:

“Du meine Seele, du mein Herz,
Du meine Wonn’, O du mein Schmerz,
Du meine Welt, in der ich lebe,
Mein Himmel du, darein ich schwebe,
O du mein Grab, in das hinab
Ich ewig meinen Kummer gab”

 

“Tu, minha alma; tu, meu coração,
Tu, meu prazer; oh tu, minha dor,
Tu, meu mundo, no qual eu vivo,
Meu céu, tu – no qual flutuo,
Tu és o túmulo onde sepultei
Minhas mágoas para sempre”

 

 

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Transcrições para piano de Clara Josephine SCHUMANN (1819-1896)

1 – Widmung, Op. 25 no.1: “Du meine Seele, du mein Herz”
2 – Dein Angesicht, Op. 127 no. 2: “Dein Angesicht, so lieb und schön”
3 – Er, der Herrlichste von allen, Op. 42 no. 2
4 – Du bist wie eine Blume, Op. 25 no. 24
5 – Der Nussbaum, Op. 25 no. 3: “Es grünet ein Nussbaum vor dem Haus”
6 – Singet nicht in Trauertönen, Op. 98a no. 7 (Philinens Lied)
7 – Ich wandre nicht, Op. 51 no. 3
8 – Sehnsucht, Op. 51 no. 1: “Ich blick in mein Herz und ich blick in die Welt”
9 – Helft mir, ihr Schwestern, Op. 42 no. 5
10 – Die Lotosblume, Op. 25 no. 7: “Die Lotosblume ängstigt sich vor der Sonne Pracht”
11 – Nichts schöneres, Op. 36 no. 3: “Als ich zuerst dich hab gesehn”
12 – Märzveilchen, Op. 40 no. 1: “Der Himmel wölbt sich rein und blau”
13 – Sonntags am Rhein, Op. 36 no. 1: “Des Sonntags in der Morgenstund”
14 – Mit Myrthen und Rosen, Op. 24 no. 9
15 – Berg und Burgen schau’n herunter, Op. 27 no. 7
16 – Dem roten Röslein gleicht mein Lieb, Op. 27 no. 2
17 – In der Fremde, Op. 39 no. 1: “Aus der Heimat hinter den Blitzen rot”
18 – Intermezzo, Op. 39 no. 2: “Dein Bildnis wunderselig”
19 – Mondnacht, Op. 39 no. 5: “Es war, als hätt’ der Himmel”
20 – Frühlingsnacht, Op. 39 no. 12: “Über’n Garten durch die Lüfte”
21 – Rose, Meer und Sonne, Op. 37 no. 9: “Rose, Meer und Sonne sind ein Bild der Liebsten mein”
22 – Der Knabe mit dem Wunderhorn, Op. 30 no. 1: “Ich bin ein lust’ger Geselle”
23 – Er ist’s, Op. 79 no. 23: “Frühling läßt sein blaues Band'”
24 – An den Sonnenschein, Op. 36 no. 4: “O Sonnenschein! Wie scheinst du mir…”
25 – Ständchen, Op. 36 no. 2: “Komm in die stille Nacht…”
26 – Die Stille, Op. 39/4: “Es weiß und rät es doch keiner”
27 – Volksliedchen, Op. 51 no. 2: “Wenn ich früh in den Garten geh'”
28 – Geständnis, Op. 74 no. 7: “Also lieb ich euch”

Cord Garben, piano

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Para que não fiquem achando que eu não gosto das transcrições de Liszt, aqui está Nelson Freire tocando – à primeira vista! – a bonita transcrição de Franz para “Widmung”. Quem lhe vira as páginas é sua ultra-amiga Martha Argerich, que faz uma participação muito especial do documentário “Nelson Freire”, de Walter Salles, do qual esse vídeo é um extra.

 


Instigada por Nelson, Martha incorporou a transcrição de “Widmung” a seu repertório e passou a tocá-lo como bis – como fez no ano passado para esses felizardos na Itália. Sua leitura, expressiva e brilhante, é extraordinária – como tudo o que vem dela…


… e que não reparem nas águas-vivas no fundo e nos cortes no começo e no fim do vídeo: Jessye Norman era o de que melhor havia no planeta, e sua interpretação de “Widmung” nunca deixa meus olhos secos.

Vassily

J. S. Bach (1685-1750): Suítes Francesas (Thurston Dart)

J. S. Bach (1685-1750): Suítes Francesas (Thurston Dart)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

(OK, aprovo as postagens copiosas de Beethoven e Schumann — não poderia ser diferente! –, mas já estava sofrendo de hipobachemia aguda. Então, resolvi exagerar e postar uma obra-prima da discografia de todos os tempos. Confiram e se curvem ante à qualidade do exposto).

Eu era um adolescente que estava descobrindo Bach quando comprei este disco de Thurston Dart (1921-1971) interpretando as Suítes Francesas de Bach no clavicórdio. Estas Suítes foram escritas para cravo ou clavicórdio, tanto faz.

Eu não sabia, mas Dart não era qualquer um, tanto que foi professor de gente como Michael Nyman, Davitt Moroney, Sir John Eliot Gardiner e Christopher Hogwood. Era um disco estupendo comprado na sorte por um ignorante.

O clavicórdio é um instrumento de teclado onde as cordas são percutidas como as do piano, e não pinçadas como as do cravo. Seu som é o mais leve e intimista dentre os três e as Suítes Francesas de Dart me pareceram a coisa mais próxima a um sussurro que já tinha ouvido. Mas era um sussurro muito belo, engenhoso e astuto.

Na Inglaterra, Dart é o padroeiro dos estudos de interpretação histórica. Toda a geração seguinte reverencia seu nome, e vários livros de interpretação histórica dividem esta área do conhecimento musical entre antes e depois de Thurston Dart. Parece que era uma pessoa realmente inspiradora.

Ouço este LP até hoje com enorme prazer.

J. S. Bach (1685-1750): Suítes Francesas (Thurston Dart)

1 Suíte nº 1, em Ré menor, BWV 812 8:20
Allemande, Courante, Sarabande, Menuet I, Menuet II, Gigue

2 Suíte nº 2 em Dó menor, BWV 813 7:12
Allemande, Courante, Sarabande, Air, Menuet, Gigue (movimentos adicionais na BWV 813a: Menuet – Trio)

3 Suíte nº 3 em Si menor, BWV 814 8:44
Allemande, Courante, Sarabande, Menuet, Trio, Anglaise, Gigue

4 Suíte nº 4 em Mi bemol maior, BWV 815 7:49
Allemande, Courante, Sarabande, Gavotte, Air (additional movements, in BWV 815a: Praeludium. Gavotte I, Gavotte II, Menuet)

5 Suíte nº 5 em Sol maior, BWV 816 10:02
Allemande, Courante, Sarabande, Gavotte, Bourrée, Loure, Gigue

6 Suíte nº 6 em Mi maior, BWV 817 9:16
Allemande, Courante, Sarabande, Gavotte, Polonesa, Bourrée, Menuet, Gigue

Thurston Dart, clavicórdio

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Jack with a beer Bach… Pintura de Will Bullas

PQP

A French Baroque Diva – Carolyn Sampson & Ex Cathedra, Jeffrey Skidmore

A French Baroque Diva –  Arias for Marie Fel, by Lacoste, Lalande, Rameau, Rousseau, Fiocco & Mondonville

Carolyn Sampson, soprano

Ex Cathedra, Jeffrey Skidmore

2014

 

Esta gravação, extremamente bem pesquisada, é cativante. Baseada no repertório de Marie Fel, a ‘Jenny Lind’ (1) da corte de Luís XV, varia da elegância contida de De Lalande à emoção italiana de Mondonville. 
Chegando à capital francesa em 1734, Fel tornou-se soprano principal na Ópera de Paris – muitas vezes criando papéis principais nas óperas de Rameau – enquanto também desempenha papéis importantes nos Concerts Spirituels.  Em um momento de mudança musical, ela teria cantado em muitos estilos diferentes, desde o tradicional “Lulliano” até a música de influência italiana dos anos 1730 e posteriores.
Ao substituir Fel, Carolyn Sampson é bastante notável. Ela tem a capacidade de suavizar a linha vocal com um vibrato cuidadosamente controlado, mas também emprega um tom de clareza cristalina. Há muitos destaques, mas o trecho caracteristicamente colorido de Daphnis et Alcimadure, de Mondonville, é particularmente agradável, assim como o La lyre enchantée de Rameau.
Ao longo da obra, Jeffrey Skidmore e a orquestra oferecem apoio confiável como o coral, mas, apesar do acústico ser um pouco excessivo, o que brilha é o canto de Sampson: brilhante, vibrante, responsivo e totalmente em sintonia com a linguagem expressiva e as demandas virtuosistas do período.
Crítica por Jan Smaczny, BBC Music Magazine
(1) Johanna Maria Lind, mais conhecida como Jenny Lind, foi uma soprano sueca, também conhecida como “Rouxinol Sueca”. Uma das mais famosas cantoras do século XIX, ela ficou conhecida por suas performances como soprano em óperas por toda a Europa e por uma turnê de concertos extraordinariamente popular na América em 1850. (Wikipédia)
Louis Lacoste (c1675-c1750)
01. Philomèle – Prologue Sc. 1 Ah! quand reviendront nos beaux jours? 
Michel-Richard de Lalande (1657-1726)

02. Exsurgat Deus, S.71 – 5. Regna terrae 
Te Deum laudamus, S.32
03. 1. Sinfonie 
04. 8. Tu rex gloriae 
05. 9. Tu ad liberandum suscepturus hominem 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Salve regina
06. 1. Salve regina, salve mater 
07. 2. Ad te clamamus, exsules, filii Evae 
08. 3. O clemens, o pia 
Jean-Philippe Rameau (1683-1764)

09. Castor & Pollux – Act 1 Sc. 2-3 Un tendre intérêt vous appelle – Tristes apprêts 
10. Platée – Act 3 Sc. 4 Amour, lance tes traits 
Jean-Joseph Cassanéa de Mondonville
 (1711-1772)

11. Daphnis & Alcimadure – Act 1 Sc. 2 Gasouillats auzeléts 
Joseph Hector Fiocco
 (1703-1741)

12. 1. Laudate pueri 
13. 3. A solis ortu 
14. 4. Alleluia 
Jean-Joseph Cassanéa de Mondonville

15. Venite, exsultemus – 4. Venite, adoremus 
Jean-Philippe Rameau

La lyre enchantée
16. 1. Accordez vos sons & vos pas 
17. 2. Gavotte: Lyre enchanteresse 
18. 3. Écoutons … D’un doux frémissement 
19. 4. Vole, Amour, prête-moi tes armes 
20. 5. Contredanse 
Michel-Richard de Lalande

21. Cantate Domino, S.72 – 5. Viderunt omnes termini terrae 
Jean-Joseph Cassanéa de Mondonville
22. Venite, exsultemus – 6. Hodie si vocem 

 

Para degustar:

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Boa audição!

 

 

 

 

Avicenna

#SCHMNN210 – Niccolò Paganini (1782-1840): Caprichos para violino, Op. 1, com acompanhamento de piano por Robert Schumann – Garrett – Canino

Depois da tomatina que deve ter chovido sobre Robert ontem, quando aqui revelamos sua inana, ainda que bem intencionada tentativa de engrossar um pouco o que se achava ser o ralo caldo das sonatas e partitas para violino de J. S. Bach, vocês tirarão esse CD de letra.

Uma porque os caprichos de Paganini, apesar de todas suas qualidades, não merecem ser mencionados na mesma frase que as supremas obras-primas que ontem publicamos, também com um acompanhamento para piano proposto por Schumann.

Outra porque Paganini, mesmo ao criar praticamente uma enciclopédia dos recursos então conhecidos ao instrumento, não teve interesse particular em explorar sua escrita polifônica, como Bach fez genialmente em suas seis criaturas, de modo que um acompanhamento para piano para os caprichos parece mais útil e muito menos redundante.

Inda outra porque Schumann, aqui, se deu o trabalho de elaborar um pouco mais a parte para piano, que sublinha e comenta – algo pachorrentamente, é verdade – as ideias expostas pelo violino, enquanto este se estrebucha em suas cordas e quase arrebenta suas costuras para dar voz às medonhas dificuldades propostas por Paganini.

E a última, talvez a mais importante: o violinista da gravação que ora lhes apresentamos, David Garrett, é muito competente e, depois que deixou de lado o terno furta-cor e o cabelinho nerd da capa do disco e arranjou um megahair e um nicho na milionária indústria do crossover, ficou realmente muito gato – tão gato que faz uma cara igual à do meu bichano quando fareja ferormônios.


O gatão Garrett, claro, passa muito mais trabalho que seu colega Canino (trocadilho do ano, hein?), e o resultado acaba sendo mais recomendável que a gravação que postamos ontem. Talvez o próprio Garrett tenha se enfastiado com a contribuição de Schumann e, por isso, decidiu tocar sozinho o célebre capricho final. Antes que os completistas fiquem contrariados, informamos que o inesquecível Jascha Heifetz será convidado a tocar, com Emanuel Bay, a peça faltante e fechar a fatura. Ok, eu sei que é sabotagem botar qualquer violinista para tocar antes de Heifetz, mas Garrett é lindo e rico, e eu nada disso, de modo que uso as pobres armas que tenho para destilar minha amarga inveja.

A quem estranhar as diferenças na parte de violino, peço que não culpem o grande Jascha, e sim Leopold Auer, seu professor e editor da publicação dos caprichos usada neste filme. E para quem quiser conhecer os caprichos in natura, ou refrescar os ouvidos revisitando-os após a intervenção de Schumann, restaurei os links para duas das melhores gravações que deles temos no acervo pequepiano: aquela com o brilhante Ilya Kaler, um mestre que é menos conhecido do que merece, e a outra, com Shlomo Mintz (uma terceira, minha favorita, com a incrível Julia Fischer, segue firme no ar).

Niccolò PAGANINI (1782-1840)

Vinte e quatro caprichos para violino solo, Op. 1

Acompanhamento para piano composto por
Robert Alexander SCHUMANN
(1810-1856)

01 – Andante (Mi maior)
02 – Moderato (Si menor)
03 – Sostenuto – Presto – Sostenuto (Mi menor)
04 – Maestoso (Dó menor)
05 – Agitato (Lá menor)
06 – Lento (Sol menor)
07 – Posato (Lá menor)
08 – Maestoso (Mi bemol maior)
09 – Allegretto (Mi menor)
10 – Vivace (Sol menor)
11 – Andante – Presto – Tempo I (Dó maior)
12 – Allegro (Lá bemol maior)
13 – Allegro (Si bemol maior)
14 – Moderato (Mi bemol maior)
15 – Posato (Mi menor)
16 – Presto (Sol menor)
17 – Sostenuto – Andante (Mi bemol maior)
18 – Corrente – Allegro (Dó maior)
19 – Lento – Allegro assai (Mi bemol maior)
20 – Allegretto (Ré maior)
21 – Amoroso – Presto (Lá maior)
22 – Marcato (Fá maior)
23 – Posato (Mi bemol maior)
24 – Tema, quasi Presto – Variazioni – Finale (Lá menor)

David Garrett, violino
Bruno Canino, piano

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Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Fantasia op. 17; Fantasiestücke op. 12 (Martha Argerich)

Neste mês de aniversário de Robert Schumann, estava faltando uma de suas mais famosas obras para piano: a Fantasia em Dó Maior. A peça começou a ser composta em 1836, quando o pai de Clara Wieck havia proibido Schumann de vê-la. Ele escreveu para Clara, a respeito da Fantasia: “o primeiro movimento deve ser o mais apaixonado que já compus – um profundo lamento por você.” Eles ainda passariam por muitas turbulências até se casarem quatro anos depois.

A gravação que Martha Argerich fez com seus 30 e poucos anos é famosa por ser explosiva, descontrolada, características que fazem da pianista argentina uma grande intérprete de Schumann. Não é à toa que, em entrevistas, Martha fala de sua relação próxima e especial com a música desse compositor:

Schumann!
Sua música me toca muito diretamente… Uma espontaneidade, uma pureza. E também, claro, a loucura, as mudanças de humor. Posso até chorar. Quando o toco, fico com lágrimas nos olhos.

Yves Nat dizia que Beethoven era um deus e Schumann, um amigo.
Ah! sim, é possível. Ele tem uma imaginação louca, ele abre mundos, com sua linguagem própria, inconfundível. Um amigo da alma, sim.

E Chopin? Você estará no juri do concurso em Varsóvia este ano…
Chopin é terrivelmente difícil. Faz muito tempo que não toco… É meu amor impossível. Ele é muito ciumento.

Martha, como Richter, pertence ao grupo de pianistas que extravasam as mais fortes emoções nos momentos mais desconrolados de Schumann. O piano chega a apresentar um som metálico em certos momentos, dá a impressão de que as cordas vão falhar. Não é uma gravação perfeitinha, definitivamente. A segunda metade do CD (originalmene, lado B do LP) traz as “Peças de Fantasia”, Fantasiestücke, compostas na mesma fase da vida de Schumann e também cheias de contrastes e mudanças de humor. Vejam as traduções dos nomes das peças abaixo: são várias miniaturas noturnas, com aquela atmosfera de escuridão, mistério e sonhos tão típica do Romantismo.

Fantasia em Dó maior, opus 17
Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen; Im Legenden-Ton – Tocar do começo ao fim de maneira fantástica e apaixonada; Em tom de lenda
Mäßig. Durchaus energisch – Moderado, sempre enérgico
Langsam getragen. Durchweg leise zu halten – Lento e constante. Manter quieto

Fantasiestücke, opus 12
Des Abends – “De noite”
Aufschwung – “Elevação”
Warum? – “Por quê?”
Grillen – “Quimeras”
In der Nacht – “De madrugada”
Fabel – “Fábula”
Traumes Wirren – “Sonhos confusos”
Ende vom Lied – “Fim da canção”

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A clássica pose pensativa com a mão no rosto

Pleyel

Richard Wagner (1813-1883) -Tristão e Isolda – Heger / Böhm / Kleiber / Rattle

A dupla FDPBach / Ammiratore orgulhosamente apresenta mais uma postagem em parceria, e de uma das mais belas óperas já compostas, “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner(1813-1883).

Poucas obras me impressionaram tanto em uma primeira audição quanto a abertura de “Tristão und Isolda”, uma das peças mais dramáticas, doloridas e belas já escritas na História da Música. Tive uma relação bem pessoal com essa ópera, foi a obra que me acompanhou em algumas ressacas por amor não correspondido. Quem nunca sofreu por um amor não correspondido? Ainda mais naquela fase confusa de nossas vidas chamada Adolescência.

Os anos passaram, a idade chegou, junto com os primeiros cabelos brancos, mas o impacto da obra continua o mesmo. Definitivamente, é uma obra atemporal.

Ammiratore, com seu incrível arsenal discográfico (confessou que tem dezessete gravações dessa ópera) escolheu a dedo quais iria postar. Dei minhas sugestões, sempre lembrando dos medalhões wagnerianos, aquelas gravações jurássicas, como René Denon as caracteriza. Dada a complexidade da discussão, na qual se discute qual é a melhor Isolda ou o melhor Tristão, se Furtwangler é superior a Karajan, se a gravação ao vivo em Bayreuth é mais impactante do que em estúdio, enfim, são tantas as variáveis que optamos em trazer várias opções, seguindo estas mesmas possibilidades.  Na verdade, este vem sendo o mote destas postagens wagnerianas, oferecer várias possibilidades de interpretação. Deixamos a cargo dos senhores escolher qual a que mais lhes satisfaz.

Esta ópera que é uma das mais belas realizações deste gênero é um marco dentro da história da música ocidental. Wagner criou um drama onde expõe de maneira simbólica os temas da própria criação humana: amor e morte, corpo e alma, determinismo e vontade – todos os contrários estão ai reunidos. A aspiração à morte libertadora, o culto à noite e a dissolução das almas na essência do universo. É uma obra com pouca movimentação cênica. Musicalmente é uma partitura de intenso lirismo e expressividade poética e é a mais ousada harmonicamente. A partir desta ópera o estilo de Wagner torna-se nitidamente contrapontístico, os temas se superpondo e se fundindo. “Tristan und Isolde” foi o divisor de águas entre a antiga e a nova harmonia, ao mesmo tempo, a porta de entrada para a atonalidade do século XX.

O casal Ludwig e Malwine Schnorr von Carolsfel em 1865

Baseando-se em uma antiga lenda medieval celta, escrita por Gottfried de Strasburgo no século XIII, o compositor criou o poema e musicou a ópera em praticamente três anos, a estreia da obra deu-se no Teatro da Corte de Munique, a 10 de junho de 1865 (a exatos 155 anos) com Hans von Bülow à frente da orquestra. Os primeiros Tristan e Isolda foram Ludwig Schnorr von Carolsfeld e sua esposa Malwine. Três semanas após a última apresentação da ópera, Ludwig morreu em Dresden. Muitos sentiram que a tensão do papel matou o cantor.

Depois de Lohengrin, ainda no exílio, entre 1851 e 1853, Wagner redigiu os libretos das quatro óperas que constituiriam a grandiosa tetralogia O Anel dos Nibelungos (Der Ring des Nibelungen), com base na mitologia germano-escandinava: O Ouro do Reno (Das Rheingdd), A Valqulria (Die Walküre), Siegfried e o Crepúsculo dos Deuses (Gotterdümmerung) . Nos anos seguintes, Wagner se ocuparia da elaboração da partitura das primeiras óperas que formam o ciclo do Anel, interrompendo esse trabalho em 1857, pois fervilhava em sua cabeça a música de “Tristan und Isolde”. Aliás, de 1854 até o final dessa década, Wagner viveria um período de grande agitação, tanto no plano intelectual e artístico – a descoberta da filosofia de Schopenhauer e das inovações harmônicas de Liszt – quanto no plano profissional, apresentando-se como regente em muitos concertos. No plano afetivo, por sua vez, Wagner iniciara, em 1853, um relacionamento com Mathilde Wesendonk, esposa de seu amigo e protetor Otto Wesendonk. Ao contrário da lenda, o envolvimento dele com Mathilde – mulher bela, sensível, culta e inteligente – não determinou a criação da partitura de “Tristan und Isolde”. Apenas funcionou como fonte de inspiração para o músico, dando-lhe forças para realizar seu trabalho criador. Wagner iniciou a elaboração de “Tristão und Isolda” em 1857, época em que fixou residência numa pequena casa construída especialmente para ele e Minna por Otto Wesendonk. Situada ao lado da mansão dos Wesendonk, em Zurique, era chamada carinhosamente de “refúgio” por Wagner. Ali compôs o primeiro ato de “Tristan” e musicou cinco poemas de autoria de Mathilde, peças que ficariam conhecidas sob a denominação de Wesendonk Lieder e que, musicalmente pertencem ao universo sonoro da ópera.

Dom Pedro II

Durante estes difíceis tempos de exílio e perseguição política, quando o dinheiro era escasso e o incentivo para continuar apenas como compositor era difícil, muito antes de o rei Ludwig se apressar em seu socorro e, finalmente, assumir a responsabilidade financeira, o compositor também teve o apoio de outros membros da realeza na Europa e no Novo Mundo. Vocês sabiam que o Pedro II, sim o Imperador do Brasil, era um entusiasta ávido por Wagner e um amante da música? Dom Pedro escreveu uma carta a Wagner manifestando seu interesse por ele escrever uma ópera para a Companhia Italiana no Rio de Janeiro. A oferta estipulava que Wagner poderia pedir qualquer quantia que ele desejasse. Dom Pedro ofereceu a ele uma suíte em seu palácio quando foi exilado da Baviera, e em um apelo manuscrito levou o compositor a terminar “Tristan und Isolde”. Dom Pedro o convidou para vir ao Brasil para estrear o novo trabalho. A oferta era tentadora, mas Wagner previa que os cantores de ópera italianos que atuavam por aqui em terras Tupiniquins apresentassem de forma incorreta o tipo de drama musical que ele estava prestes a escrever. Ele recusou a oferta. No entanto, as aberturas amigáveis de Dom Pedro moldaram sua resolução de trabalhar seriamente em “Tristan und Isolde”. O rei Ludwig, é claro, acabou financiando a estreia no Teatro da Corte Real de Munique. A orquestra era tão grande que alguns dos assentos na frente do teatro tiveram que ser removidos para acomodar todos os músicos.

Ludwig II

Na nossa despretenciosa tentativa de meros blogueiros ser metidos a psicólogos, ao tentarmos descrever, dramaticamente, a paixão intensa entre Tristão e Isolda e o modo de como os amantes do drama só conseguiram realizar-se no amor através da morte, percebemos que Wagner mostra sua própria versão para as ideias de Schopenhauer. Não sendo puramente físico, o amor seria uma forma de ir além da existência sensível, além da vontade de viver. Pelo amor e pela morte da existência individual, o claro e o escuro, Tristão e Isolda encontrariam a pacificação da vontade. Eles negam um mundo em que o amor que sentem um pelo outro não pode ser realizado, negam as condições de um mundo que inviabiliza a paixão entre os dois. Emancipando-se desse mundo, eles dão um passo além da vida, superam a própria vida e se unem, com a dispersão de suas identidades, em uma realidade superior. Está claro que existe um amor físico entre Tristão e Isolda, no entanto, não haveria efetivamente uma oposição excludente entre sensualidade e espiritualidade. Tristão e Isolda não se libertam dos sentidos de uma forma castradora, o que acontece é uma transfiguração do amor físico, uma espécie de sublimação da sensualidade.

Alguns Causos
A edição de 5 de julho de 1865 do “Allgemeine musikalische Zeitung” relatou: “ Sem mencionar as palavras, é a glorificação do prazer sensual, é o materialismo incessante, segundo o qual os seres humanos não têm um destino mais elevado do que desaparecer em odores doces, como uma respiração…. (Wagner) faz da própria sensualidade o verdadeiro sujeito de seu drama … Pensamos que a apresentação do poema “Tristan und Isolde” no palco representa um ato de indecência. Wagner não nos mostra a vida de heróis das sagas nórdicas que edificariam e fortaleceriam o espírito de seu público. O que ele apresenta é a ruína da vida dos heróis através da sensualidade. A paixão é profana em si mesma e sua representação é impura, e por essas razões nos alegramos em acreditar que tais obras não se tornarão populares. Se eles o fizeram, estamos certos de que sua tendência seria maliciosa e, portanto, há motivos para felicitar o fato de a música de Wagner, apesar de toda a sua habilidade e poder maravilhosos, repele um número maior de pessoas do que as que ele fascina.”

Conta-se que horrorizados com o erotismo, os homens na estreia da ópera retiraram suas esposas do teatro, e um padre foi visto se benzendo antes de se retirar apressadamente da apresentação, coisa de louco meu, bah.

O maestro Bruno Walter ouviu seu primeiro “Tristan und Isolde” em 1889 quando estudante e relatou: “Então, lá estava eu sentado na galeria mais alta da Ópera de Berlim no auge dos meus 13 anos, e desde o primeiro som dos violoncelos meu coração contraiu-se espasmodicamente … Nunca antes minha alma foi inundada por tanta paixão, nunca meu coração foi consumido por tal desejo e felicidade sublime … Uma nova época havia começado: Wagner era meu deus, e eu queria me tornar seu profeta.” Parece que conseguiu né ?

O Enredo
Lugar: a bordo de um navio, Cornualha e Bretanha
Época: período medieval

Como descrito acima Wagner completou a partitura em 1859, mas seis anos transcorreram antes que essa grande obra-prima tivesse sua estreia. Após repetidos adiamentos, foi levada à cena sob a batuta do brilhante maestro, Hans von Bülow, diante do jovem Rei Ludwig II da Baviera, o protetor de Wagner, e de uma plateia de personalidades notáveis. Embora as avançadas ideias musicais de “Tristão” ficassem fora do alcance do público, que a ouviu pela primeira vez, e dos causos contados, a ópera foi entusiasticamente aplaudida. Representou antes um artístico triunfo do que um sucesso popular.

A belíssima introdução que todos os amantes da música conhecem mostra, de forma eloquente, diversos motivos musicais da ópera. Começa com os temas da confissão do amor e do desejo, depois constrói o motivo da magia do olhar. Aumentando de intensidade, a música apresenta os motivos do filtro do amor, da poção da morte e do cofre mágico até o motivo simbolizando o desejo dos amantes pela libertação através da morte. O primeiro tema é novamente entrelaçado quando a música constrói um tremendo clímax, após o qual desce até um meditativo restabelecimento do motivo do amor-sofrimento-desejo.

O desenvolvimento dos atos foram baseados no livro “As mais belas óperas do Milton Cross” e os trechos da tradução do poema foram retirados do incrível site “agrandeopera”.

Ato 01
O convés do navio, no qual Tristão está trazendo Isolda da Irlanda para ser a noiva de seu tio, o Rei Marke da Cornualha. Vemos um pavilhão real erguido perto da proa do navio. Está decorado com luxuosas tapeçarias e fechado ao fundo. A um lado há um leito, onde Isolda, com 16 ou 17 anos, está reclinada. Seu rosto exprime raiva e desespero. Ela irá casar-se com o rei Marke, numa solução, após guerra, de pacificação entre os dois países. Na verdade, nessa viagem, ela é mais uma prisioneira. Brangäne, de pé perto da abertura da cortina, está olhando para o mar.

Do posto de vigia do mastro vem a voz de um marinheiro entoando uma marcante cantiga acerca de uma jovem irlandesa que ele deixou para atrás. As palavras soam aos ouvidos de Isolda como um escárnio, e ela se ergue do leito com uma exclamação de enfado por causa daquele suposto insulto. Impaciente, ela pergunta a Brangäne quanto falta para chegarem. Quando a dama de companhia responde que o navio atracará na Cornualha à noite, Isolda se entrega a amargas reflexões. Ela, descendente de poderosas feiticeiras que podem comandar os elementos, tem de se contentar em preparar poções mágicas para curar seu mais cruel inimigo. Num assomo de raiva, ela invoca os ventos e as ondas para destruir o navio, e todos que estão nele. Também ela deixou uma paixão, e agora é obrigada a aceitar um casamento imposto. Brangäne, muito abatida, tenta acalmar a fúria de sua senhora. Isolda exclama que está ficando sufocada, e ordena a Brangäne que abra as cortinas.

IsoldaRaça degenerada! Indigna de seus antepassados! Aonde, mamãe, deixaste teu poder de dominar o mar e a tempestade? O’arte doméstica da magia, que somente bebidas balsâmicas ainda fabrica! Desperta de novo em mim o audacioso poder; emerge-o do meu peito, onde ele se esconde!. Ouvi meus desejos, hesitantes ventos! Apareçam para o conflito e bramem a tempestade! Às furiosas tormentas, um raivoso redemoinho! Levantem do sono este mar sonhador. Despertem do abismo sua ânsia trovejante. Mostrem-lhe a presa que eu ofereço. Destruam este arrojado navio, e deixem as ondas devorá-lo em fragmentos despedaçados. E tudo que vive, suspira e respira a bordo, ventos, eu vos dou como recompensa!
Brangäne Oh, desgraça! Ah! Ah! Aí tens o mal que eu pressenti, Isolda! Senhora! Caro coração! Que me tens ocultado por tanto tempo? Por teu pai e tua mãe, tu não derramaste uma lágrima. Quase não deste um adeus àqueles que abandonaste. Tu te separaste da Pátria, fria e muda; tu, sempre pálida e silenciosa, durante a travessia; sem dormir, sem tomar alimento, embirrada e infeliz, rude e inquieta. Como tenho de suportar ver-te assim; não ser mais nada para ti; comportar-me perante ti como uma estranha! Oh, dize-me agora, qual é o teu problema? Dize, abre-te comigo, o que te atormenta? Ama Isolda, graciosa e querida! Se Brangäne pode se considerar digna de ti, abra- te com ela!
Isolda – Ar! Ar! O coração me sufoca. Abre! Abre tudo lá!

Uma grande parte do convés principal torna-se visível agora. Marinheiros estão entregues às suas tarefas; homens armados estão sentados por toda parte. Entregue a seus pensamentos, Tristão está afastado, olhando para o mar. Kurvenal está sentado perto dele. A voz invisível é ouvida outra vez, entoando sua cantilena com seu característico motivo marinho. Isolda fixa os olhos em Tristão, desdenhosamente notando que aquele fabuloso herói, que tem apenas a morte no coração, perde a coragem diante dela. O sombrio motivo da morte parece ameaçar suas palavras. Ela pede a Brangäne que informe a Tristão que deseja vê-lo, e que isso é uma ordem, não um pedido.

Com o motivo do mar soando em um ritmo forte e marcante na orquestra, Brangane temerosamente se aproxima de Tristão, que sai de seu devaneio por uma palavra de advertência de Kurvenal. Brangane dá-lhe o recado. Cortesmente, Tristão responde que, quando o navio ancorar, ele terá orgulho de ter cumprido sua tarefa e entregará Isolda ao Rei Marke. Acrescenta que, naquele momento, não pode deixar o leme. Asperamente, Kurvenal interrompe para observar que o cavalheiro Tristão não é um homem que possa receber ordens de uma mulher. Entoa um insolente refrão ( “Herr Morold zogzu Meere her ” ) , no qual, sarcasticamente, relata como Morold, o senhor irlandês que ia desposar Isolda, tentou cobrar tributo na Cornualha. Por causa desses desmandos, o bravo Tristão cortou-lhe a cabeça e mandou-a para a Irlanda, especificamente para Isolda. Os marinheiros repetem alegremente o refrão.

Kurwenal Que diga isto à senhora Isolda! Aquele que dá a herança da Inglaterra e da Coroa da Cornualha à filha da Irlanda, não pode ser o vassalo da nobre donzela, pois que ele a deu, ele mesmo, ao seu tio. Um Senhor do Mundo, Tristão, o herói! Eu o proclamo: diga isto, mesmo que se ressintam com minhas palavras, até mil senhoras Isoldas! “Senhor Morold atravesse o mar até aqui e venha recolher tributo da Cornualha; uma ilhazinha flutua sobre o mar deserto, é aquela lá que dorme agora em terra, mas vossa cabeça remanesceu enforcada no país da Irlanda, como tributo pago pelo país dos Ingleses. Hei! Nosso herói Tristão, como podes pagar ainda tributo!

Raivosamente, Brangäne sai, enquanto Tristão tenta acalmar seu escudeiro. Fechando as cortinas atrás de si, Brangäne volta a entrar no pavilhão, relatando a Isolda a recusa de Tristão e o insulto de Kurvenal. Em fúria, Isolda lembra os fatídicos acontecimentos na Irlanda. Tristão, gravemente ferido na luta com Morold, foi à Irlanda para ser tratado pelas artes mágicas de Isolda. Ele se intitulou Tantris, mas Isolda logo descobriu sua verdadeira identidade. Ela notou que um pedaço fora perdido no fio da espada de Tristão, e que um fragmento do aço, tirado da cabeça de Morold, se encaixava exatamente na lâmina da espada. Assim, Isolda tirou a espada da mão do ferido Tristão, resolvida a matá-lo como vingança. Mas o cavalheiro olhou-a nos olhos, tirando-lhe a determinação de matar. Mesmo sabendo que estava em suas mãos eliminá-lo, não o fez porque, em verdade, já começara a se apaixonar por ele. Isolda restituiu a saúde do cavalheiro e mandou-o de volta para a Cornualha. Curado, Tristão confessou-se eternamente grato, e, lacônico, procurou não deixar escapar uma só palavra de simpatia, ternura e muito menos amor por Isolda, muito embora a apreciasse. Esse grande herói pagou o carinho dela, prossegue Isolda sardônica, voltando para levá-la como noiva para seu velho tio, o Rei Marke. Furiosa, Isolda reprova a si mesma por ter demonstrado piedade por Tristão.

IsoldaEu entendi tudo; nenhuma palavra dele me escapou. Tu percebeste a minha vergonha, então ouve, agora, o que tem valor. Como eles riem e cantam suas canções para mim, eu poderei também lhes falar de um pequeno escaler, sem valor e necessitado, que vagueava nas costas da Irlanda. Ele lá tinha dentro, consumido pela enfermidade, um desafortunado em vias de morrer. A arte de Isolda foi dele conhecida; com unguentos e bálsamos, ela tratou com cuidado fielmente a ferida. Por precaução, ele usou de astúcia fazendo-se passar por Tantris, mas Isolda logo reconheceu que ele era Tristão, porque, na espada do enfermo, ela descobriu uma fenda, onde exatamente se ajustava um estilhaço que sua hábil mão havia achado há pouco na cabeça do cavaleiro da Irlanda, que ele lhe tinha enviado por desprezo. Um grito surgiu do mais profundo do meu ser. Empunhando a espada, na claridade, eu me armei diante dele, para nele vingar, nele o insolente, a morte do senhor Morold. De seu leito ele olhava tão-só para mim, não para a espada, não para a mão que a brandia no ar – ele me olhava ternamente nos olhos. Sua aflição me deu piedade e compaixão; a espada eu a deixei cair! A ferida que Morold havia feito, eu a curei, que ele são e saudável pode retomar para casa – e não fui mais atormentada pelo seu olhar!
BrangäneO prodígio! Onde estavam meus olhos? O hóspede, a quem uma vez eu ajudei a tratar?
Isolda – Tu acabas de ouvir sua louvação: “Ei, nosso herói Tristão” – Era esse homem, agora desapiedado. Ele me fez mil juramentos de reconhecimento e fidelidade eterna! Escuta agora como um herói tem palavra! O Tantris que eu deixei partir, sem querer o reconheço sob o nome de Tristão. Revejo-o aqui insolentemente, sobre um arrogante navio de alto bordo, ele demandando em casamento a herdeira da Irlanda para o rei cansado da Cornualha, para Marke, seu tio. Tivesse Morold vivido, teria ele ousado nos infligir tamanha afronta? Maquinar a coroa da Irlanda para um tributário, o príncipe da Cornualha! Oh, miséria para mim! Sou eu mesma que do fundo do coração sou atirada a esse ultraje. A espada vingadora, ao invés de a brandir e estocar, sem força, eu a deixei cair. E agora sirvo ao vassalo!

Brangäne tenta acalmar e consolar Isolda, dizendo que, como noiva do Rei Marke, será depois Rainha de um vasto reino. Isolda trai seus verdadeiros sentimentos quando fala do tormento de viver perto de Tristão um amor sem recompensa. A leal, mas ingénua Brangäne, percebendo que Isolda está preocupada com o sucesso de seu casamento, logo lhe assegura que os filtros mágicos feitos pela mãe de Isolda certamente trarão a felicidade conjugal.

BrangäneQuando a paz, a reconciliação e a amizade são juradas para todos, cada um se regozija nesse dia; como eu poderia saber que tudo isso te levaria ao pesar?
IsoldaÓ olhos cegos! Ó coração fraco! Mansa coragem, silêncio desalentado! Como outra pessoa Tristão se vangloria do que eu tinha ocultado! Aquela que em silêncio lhe havia dado a vida, que por seu silêncio o havia livrado da vingança do inimigo, este mutismo que o havia protegido por sua saúde, ele o sacrificou, e a ela agora paga esse preço. Arrogante de sua vitória, curado, magnífico, com voz clara e alta ele me descreveu: “Ela será um tesouro, meu tio e senhor. Que podeis melhor esperar para vossa esposa? A beleza irlandesa, eu vos trarei; atalhos e caminhos me são bem conhecidos; um sinal e eu corro velozmente à Irlanda. Isolda, ela vos pertencerá. A mim essa aventura sorri!” Maldito sejas tu, infame! Maldita seja tua cabeça! Vingança! Morte! Morte para nós dois!

Isolda, obcecada por pensamentos de vingança e morte, ordena a Brangäne que traga o cofre contendo os preparados de sua mãe. Ela pega o frasco de veneno e diz a Brangäne que é a única poção mágica que deseja. A ama fica apavorada. Enquanto isso, ouve-se um forte barulho no convés quando os marujos preparam o navio para atracar. Kurvenal irrompe no pavilhão, dizendo a Isolda que seu senhor pede-lhe que se apronte para saudar o Rei Marke. Friamente, Isolda retruca que, antes de Tristão levá-la ao Rei, deverá primeiro pedir desculpas pela sua conduta deplorável. Asperamente, Kurvenal promete informar Tristão a respeito.

Em grande desespero, Isolda pensa em suicídio. Fervorosamente, ela abraça Brangäne, para em súbita resolução, e depois ordena a Brangäne que prepare a taça de veneno. Diz que Tristão beberá com ela a bebida da morte. Quando Brangäne tenta dissuadi-la, Isolda responde com um terrível sarcasmo. Na verdade, diz ela, sua mãe lhe deixou úteis beberagens. Uma, mais do que todas, vai livrá-la de seu pior sofrimento: a poção da morte. Com crescente intensidade, Isolda canta o motivo da morte. Quando ela ordena a Brangäne que prepare a bebida, entra Kurvenal a fim de anunciar Tristão.

Isolda Poupa-me tu mesma, serva infiel! Não conheces a arte de minha mãe? Pensas tu que ela, que so pesa tudo com sabedoria, me enviou contigo à terra estrangeira sem me dar conselho? Para a dor e feridas, ela me deu os bálsamos; para os venenos malignos, os contravenenos; para a mais profunda dor, para o mais profundo sofrimento, ela me deu o filtro da morte. Que com a morte, agora, lhe rendamos graças!

O motivo de Tristão soa na orquestra. Calmamente, o cavalheiro entra no pavilhão, saudando Isolda com as palavras “Nobre dama, o que deseja?” . Em resposta, Isolda observa rudemente que o nobre Tristão evidentemente esqueceu as principais regras da cavalaria: reparar os erros cometidos e perdoar seus inimigos. Lembra-lhe que o sangue derramado entre eles ainda não foi detido. Furiosamente, condena-o por seu leviano assassínio de Morold, e jura que ela ainda se vingará.

TristãoEm campo aberto, na presença de todo o povo, um juramento de esquecimento e de paz entre nossos países foi celebrado!
IsoldaEssa celebração, particularmente, não ocorreu entre nós, quando eu ocultei Tantris, e Tristão rendeu-se a mim. Lá ele se portou como um cavalheiro, sublime e coerente; mas, aquilo que ele jurou a mim, eu não o jurei: eu simplesmente aprendi a guardar silêncio. Quando ele ficou doente naquele tranquilo quarto, muda, com a espada à mão, eu me postei diante dele: eu segurei minha língua, eu retive minha mão… embora um dia com mão e boca eu tenha jurado em silêncio de o ter. E agora eu vejo a hora de por termo ao meu juramento.
TristãoQue juramento, Senhora?
IsoldaDe vingança por Morold!

Com grande dignidade, Tristão lhe oferece sua espada. Em gélido desdém, Isolda observa que o Rei Marke dificilmente receberia como noiva a assassina de seu mais caro cavalheiro. Então, fingindo esquecer pensamentos de vingança, pede a Tristão para beber a taça da paz com ela. O coro dos marinheiros quebra a atmosfera da cena. Com um gesto de impaciência, Isolda ordena a Brangäne que lhe traga a bebida. Suavemente, Tristão expressa seu pressentimento sobre o destino que espreita ambos naquela taça. Ele logo compreende que, na bebida, há veneno; com firme resolução, a aceita. Brangäne, naturalmente sem que Isolda o soubesse, em vez do filtro da morte pusera no vinho o filtro do amor. Isolda oferece-lhe a taça, dizendo sarcasticamente que Tristão agora poderá dizer a seu senhor que bebeu a taça da amizade com sua bela noiva, que lhe salvou a vida. Confuso e chocado, Tristão nervosamente grita uma ordem para os marinheiros, depois pega a taça. Com uma vibrante frase de desespero e resignação, ele bebe. Isolda espera um momento, depois arrebata-lhe a taça das mãos, bebe, e a atira longe. Ambos ficam parados como em êxtase, enquanto o tema de amor começa sussurrante na orquestra. Com a música crescendo em intensidade, olham um para o outro como enfeitiçados. Com gritos apaixonados, correm um para os braços do outro. De outra parte do navio vem um coro de marinheiros aclamando o Rei Marke. Brangäne, observando os enamorados, lamenta sua terrível astúcia de substituir a poção da morte pelo filtro d o amor. Esquecidos de tudo, Isolda e Tristão confessam seu amor um pelo outro.

Tristão Isolda!
IsoldaTristão!
TristãoA mais doce das mulheres!
Isolda O mais querido dos homens!
AmbosComo nossos corações se excitam e fervem! Como todos os nossos sentidos estremecem de felicidade! Floração desabrochada do desejo do amor, ardor delicioso da languidez do amor. Desejo ardente jorrante do coração! Isolda! Tristão! Arrebatai o mundo todo aqui para mim! Eu não tenho consciência de mais nada, só de ti, suprema volúpia do amor!

Enquanto todos os homens a bordo aclamam o Rei Marke em um poderoso coro, Tristão continua inexplicavelmente olhando para as margens. Rapidamente, Brangäne coloca o manto real sobre os ombros de Isolda. Em súbito terror, Isolda lhe pergunta: “Ah ! Qual foi a poção?“. Quando Brangäne responde que foi a poção do amor, Tristão e Isolda gritam em uma mistura de êxtase e desespero.

Ato 02

O jardim do palácio do Rei Marke na Cornualha. A breve introdução e dominada pelo agitado tema da preocupação. É noite. Uma tocha brilha na entrada dos aposentos de lsolda, fora de um balcão ao fundo. Vê-se ao lado uma floresta escura, com grandes árvores no parque do castelo do rei. As trompas de caça do Rei Marke soam a distância. Brangane olha apreensiva para a floresta, depois se volta para a porta de entrada. lsolda entra agitada. Perdida de paixão, ela canta sua impaciência por estar nos braços de Tristão. Brangane, cheia de remorso e medo por causa de seu ato, em vão tenta trazer lsolda a razão. Adverte que Melot, cavaleiro do rei, embora passando por amigo, esta planejando alguma traição, e que aquela caçada é parte de seu plano diabólico, pois descobriu que a caçada não passa de um pretexto, arquitetado por Melot, apaixonado por Isolda, para surpreender Tristão em infidelidade ao Rei com a rainha. Mas lsolda ri de seus temores, e ordena-lhe que apague a tocha como um sinal de que Tristão está se aproximando. Quando Brangäne protesta, lamentando amargamente a troca da poção do amor, lsolda canta que foi o destino quem reuniu ela e Tristão. Impetuosamente, ela atira a tocha no chão, enquanto o tema da preocupação percorre a orquestra. Brangäne, perturbada e inquieta, sobe os degraus de uma torre, onde ficará de vigia, e avisara os amantes da volta do Rei Marke e seus caçadores.

BrangäneSe o filtro pérfido de Mina (Frau Minne, personificação do amor na poesia germânica) extinguiu a luz de tua razão, se não podes compreender minhas advertências, escuta hoje, ao menos, minha súplica. Não apagues nesta noite, tão somente nesta noite, a tocha salvadora, a luz que ilumina o perigo.
IsoldaA que inflama o fogo em meu peito, que abrasa meu coração e me sorri como a aurora que espera a alma; Senhora Mina quer que venha a noite para resplandecer ali, onde tu luz a afugentas… e tu a vigias! Vigia-a em alerta! A tocha – assim foi a luz de minha vida – não temeria extingui-la rindo!

lsolda olha arrebatada para as muralhas, e agita esperançosa seu lenço, enquanto o motivo do lenço simbólico acompanha seus movimentos. A música cresce selvagemente quando ela vê Tristão e o aponta em arrebatada excitação. Nesse ponto de clímax, entra Tristão. Eles se abraçam em grande êxtase e cantam, em tons exultantes, o milagre de seu amor. O arrebatamento de suas declarações apaixonadas gradualmente decresce. Lentamente, Tristão leva lsolda para um suave declive de relva. Olhando um nos olhos do outro, cantam o magnifico dueto de amor.

IsoldaMas o dia, afugentado, se vingou, conjurando-te com tuas próprias culpas: o que te revelara assim a noite crepuscular, tiveste que entregá-lo ao astro do dia, para que sob seu poder real vivesses solitário e reluzente, com ermo esplendor. Ah, como pude suportá-lo! Como pude todavia conformar-me?
TristãoOh, estávamos, pois, consagrados à noite! O pérfido dia, sempre invejoso, podia separar-nos com seus ardis, porém já não logrará enganar- nos com sua falácia. De seu vão fulgor, de seus altivos resplendores, defrauda- se a olhadela que se consagrou à noite. Seus fugitivos raios de luz tremelicantes já não podem cegar nossos olhos. Para quem ama a noite da morte, e recebe em confidência seu profundo mistério, se esfumam as mentiras do dia, a glória e a honra, a riqueza e o poder, deslumbrantes como o pó fugaz de um raio de sol. Entre M2 0 as vãs quimeras do dia, só prevalece um desejo: a aspiração à sagrada noite, em que sorri a verdade eterna e única, o êxtase do amor. Ó noite de arrebatamento que desce sobre nós, noite de amor.
IsoldaO noite de encantamento que desce sobre nós, noite de amor,
TristãoDá-me o esquecimento para poder viver.
IsoldaDá-me o esquecimento para poder viver.
TristãoAcolhe-me em teu seio.
IsoldaAcolhe-me em teu seio.
TristãoLiberta-me do mundo!
IsoldaLiberta-me do mundo!
TristãoJá se extinguiram os últimos fulgores;
IsoldaEnquanto pensávamos, enquanto sonhávamos,
TristãoTudo de nossas saudades,
IsoldaTudo de nossas imagens,
AmbosPressentimento sublime do sagrado crepúsculo, anseio da ilusão, tu apagas o horror da loucura e nos libertas do mundo.
IsoldaSe o sol se obscureceu em nossas almas, agora luzem sorridentes as estrelas do deleite.
TristãoDocemente enlaçados pelo seu encanto, transfigurados diante de seus olhos.
IsoldaMeu coração no teu coração, minha boca na tua boca…

São interrompidos pela voz de advertência de Brangäne, vem da torre (“Solitária velo na noite! Vós outros, para quem sorri o sonho do amor, prestai ouvido à voz que pressagia a desdita dos adormecidos, e temerosa exorto-vos a despertar. Tende cuidado! Tende cuidado! Atenção! Alerta! Logo, logo, evade-se a noite!“). Outra vez ela avisa, e mais uma vez em vão. Tristão e Isolda prosseguem seu dueto. Na intensidade de sua paixão, gritam pela morte, de modo que possam ficar unidos para sempre, fora do alcance do mundo. A noite é de encantamento, propícia ao par de amantes, que maldizem o dia, quando não podem aparecer juntos.

IsoldaDeixa que a morte vença o dia!
Tristão Arrostaremos as ameaças do dia?
IsoldaEvitar para sempre sua mensagem.
TristãoSem que nunca nos angustie sua aurora?
IsoldaEnvolva-nos a noite por toda a eternidade!
Tristão segura Isolda, abraçando-a com exaltação enquanto cantam em êxtaseOh, doce noite! Eterna noite! Augusta e sublime noite de amor! Aquele a quem tu amparas e para quem sorris, como poderia despertar sem angústia fora de ti? Morte propícia, dissipa inquietudes e temores! Oh, morte de amor, ardentemente desejada! Recebemos o teu abraço, entregues a ti, ao calor do teu sagrado sono, redimidos das misérias do despertar. Como alcançá-lo? Poderíamos renunciar a tal delícia? Longe do sol, longe do lamento que geme no dia! Suave aspiração sem quimeras vacilantes, doce anseio sem angústia, sublime morrer sem agonia, benignas trevas sem enfraquecimento! Sem separação nem fuga, íntima solidão na morada eterna! Sobre-humanos sonhos através do infinito espaço! Tu, Isolda; eu, Tristão! Já não somos Tristão nem Isolda! Sem nomes que nos separem! Uma nova essência! Uma nova chama ardente!… Sem fim! Um só ser pela eternidade! Uma consciência! Um coração abrasado no supremo deleite do amor!…

A torrente da música de amor para subitamente no seu auge. Um ríspido acorde soa na orquestra. Brangäne grita de terror. Kurvenal corre, lançando um grito de advertência a Tristão. Depois, o Rei Markee seus caçadores, capitaneados por Melot, entram. Brangäne corre para o lado de Isolda. Tristão se levanta e fica de pé diante dela, escondendo-a com sua capa. Por um longo momento, ninguém se move nem fala, enquanto na orquestra se mesclam suavemente os motivos da transfiguração do amor e do amanhecer.

Tristão é o primeiro a quebrar o silencio, murmurando (“Pela última vez o dia esteril“). Melot exulta que sua astucia teve sucesso em surpreender os amantes. O Rei Marke se volta para Tristão com uma torrente de ásperas reprovações por ter traído sua amizade e sua honra. Em grande confusão, ele pergunta por que o destino se abateu tão duro sobre ele.
MarkeIsto a mim, Tristão? Onde está a fidelidade, se Tristão me enganou? Que se fizeram da honra e da lealdade, posto que as perdeu Tristão, guardião de toda a honra. A virtude que o elegera por escudo, onde está ela então abalada, posto que ela se foi e com ela meu amigo, por quê Tristão me traiu? Com que finalidade os inumeráveis serviços, honras e glórias, grandeza e poderio por ti conquistados para Marke, se tão altos favores haveriam de ser pagos com tua afronta? Desdenhaste sua gratidão, já que tudo quanto o havias conquistado, fama e reino, te legava em herança e patrimônio!

Para essa pergunta, diz Tristão dolorosamente, não ha resposta. Pergunta a lsolda se ela está pronta a segui-lo a terra negra da Noite, para onde ele irá agora. Quando lsolda responde afirmativamente, Melot grita que ele vingara esse insulto final ao Rei. Sacando sua espada, desafia Tristão, que aceita com gélido desdém.

MelotAh, traidor! Vingança, Rei! Deves tu sofrer este ultraje?
TristãoQuem arrisca sua vida contra a minha? Este aqui era meu amigo e dizia que me amava muito e fielmente; com seu afeto por mim logrou conquistar-me como nenhuma fama e honras.. Impulsionava meu coração ao orgulho e guiou muita gente para me induzir a compelir-me a te buscar para desposar-te com o monarca, aumentou, assim, minha soberba gloriosa. Teu olhar, Isolda, também o deslumbrou…Ciumento, o amigo me traiu com o rei a quem eu atraiçoei! Defende-te, Melot!

Ele ataca Melot, mas depois deixa deliberadamente que seu adversário o fira. Kurvenal e lsolda correm para Tristão quando ele cai ao chão, enquanto o Rei Marke detém o feroz Melot. O motivo do Rei Marke é entoado enquanto a cortina se fecha.

Ato 03
O pátio rochoso do castelo de Tristão em Kareol, na Bretanha. Ao fundo há uma torre de vigia dominando a vista de uma vasta porção do oceano. Antes da cortina se abrir há um breve prelúdio, no qual o tema do sofrimento e do desejo se combina com o lamentoso lema da desolação. O prelúdio do terceiro ato nos envolve no ambiente da ação. Sua linha melódica grave, profunda, sombria e de desolação comove intensamente. Desde os primeiros compassos, a música lamenta a dor da solidão, o pranto da ausência, a nostalgia incurável. O primeiro violino, associado ao timbre das trompas canta um tema de índole muito diferente por sua ondulante e doce linha melódica, desenvolvida em progressão. E uma frase altamente expressiva, de agudo, de queixume e de dor. Ao extinguir-se a voz dos violinos, começa a melodia triste do pastor, larga frase de 42 compassos, desenvolvida pelo corne inglês, interno. Este amplo solo, sem harmonização alguma – como tampouco se achava harmonizada a canção do marinheiro, inicial do drama -, confiado ao timbre de queixume e rústico do instrumento que o executa, é todo poesia e desolação. Dor melancólica feito música, a alma da natureza triste, do romântico e abandonado castelo, do mar, da paisagem, da solidão.

Tristão, gravemente ferido, jaz num tufo de relva. Kurvenal está a seu lado, observando-o atentamente. De trás das muralhas vem o som triste e melancólico de uma flauta de um pastor. Logo depois, surge o jovem pastor e pergunta se Tristão ainda está adormecido. Kurvenal responde tristemente que acorda-lo será apenas trazer-lhe a morte. Pede ao pastor que vigie atentamente qualquer sinal de navio no horizonte e o informe mudando sua triste canção para tons alegres quando uma embarcação for avistada.

O Pastor Kurwenal! Olá, Kurwenal! Diz- me, bom amigo! Se ele despertou?
KurwenalSe ele despertasse só seria para nos abandonar para sempre…A menos que chegasse antes a única salvadora que pode socorrer-nos. Não tens visto nada ainda? Nenhum navio no mar?
O PastorOutra melodia terias ouvido, a mais alegre que sei. Dize-me agora com franqueza, velho amigo, o que aconteceu a nosso senhor?
KurwenalNão me perguntes! Nunca poderás sabê-lo…Vigia atento e se vires um navio toca uma melodia viva e alegre.
O PastorVazio, deserto está o mar!

Tristão volta a si, e em resposta as suas perguntas confusas Kurvenal explica como eles vieram até o castelo de Tristão, já que, após o duelo, ele transportou seu senhor para o navio que os trouxe para casa. Ali, na sua terra natal, assegura-lhe Kurvenal, seus ferimentos logo se curarão. Mas Tristão agora está delirando, chamando freneticamente por Isolda, e injuriando contra a luz do dia, a qual associa sua perdição.

Kurwenal Ah, como vieste? Não foi a cavalo. Conduziu-te um barco e até ele foste em meus ombros. Amplas ainda são as costas que te levaram até à margem. Agora estás em tua propriedade, em tua verdadeira pátria, na terra natal, em teus próprios prados, no ditoso país, ensolarado pelo velho sol. Aqui sararás felizmente de tua ferida e escaparás da morte.
TristãoAssim o crês? Eu sei que será diferente, porém não posso explicar-te. Lá onde acordei eu não me detive, mas, onde me encontrei, não posso te dizer. Eu não vi o sol, nem terra, nem povo. Todavia o que eu vi eu não posso te dizer. Eu estive onde desde sempre eu estive, para onde eu ainda vou: ao vasto império da noite universal. Lá só se possui um conhecimento: o divino, o eterno e primitivo esquecimento. Como se desvaneceu tal presságio? Pressentimento do desejo, de novo me impeles até à luz do sol? Só conservo a ardente chama do amor que me impulsiona desde a sombra deliciosa da morte a contemplar a luz enganosa, clara e dourada, que brilha todavia para ti, Isolda! Isolda permanece, todavia, no reino do sol! Entre o fulgor do dia encontra- se ainda Isolda! Que desejo angustioso e ardente de vê-la! Então poderão fechar-se diante de mim as portas da morte, que agora se me abrem amplamente de novo. Elas surgiram sob os raios do sol! Com clara e desperta revista, surgindo da noite, hei de buscá-la, vê-la, encontrá-la.. Unicamente perecer e consumir-se nela, seja-o concedido a Tristão. Ai, sinto crescer em mim o tormento feroz do pálido, angustioso dia! Seu astro penetrante e falaz desperta meu cérebro ao engano, à ilusão! O’ dia! Malditos sejam teus resplendores! Velarás eternamente sobre minha tortura? Arderá para sempre a tocha que ainda na noite me afastava temerosamente dela? Ah, doce e terna Isolda! Quando, ai, quando extinguirás a tocha, anunciando-me a felicidade? Quando expirará a luz? Quando descerá a noite sobre tua morada?
Kurwenal – Aquela a quem eu ultrajei um dia, em razão da minha fidelidade a ti, anseio agora vê-la aqui, tanto quanto tu mesmo… Crê em minhas palavras. Aqui a verás, certamente ainda hoje. Se ainda vive, poderá oferecer-te esse consolo.
Tristão – Todavia não se extinguiu a luz! Ainda não penetrou a noite em tua morada! Isolda vive e vela! Chama-me desde o sono da noite!

Quando ele se acalma de novo, Kurvenal lhe conta que enviou um servo a Cornualha para trazer Isolda, pois ela já o curou uma vez e poderá fazer o mesmo agora. Em comoventes frases, Tristão expressa sua gratidão pela lealdade de Kurvenal, tendo compartilhado com ele alegria e dor, e até mesmo traição. Apenas uma coisa seu leal amigo não pode dividir com ele: o terrível sofrimento de amor no seu coração. Em fervorosa agitação, Tristão imagina que o navio de lsolda está se aproximando.

KurwenalJá que vives, deixa sorrir a esperança! Ainda que eu te pareça torpe, hoje não repreenderás Kurwenal.. Jazias como morto desde o dia em que te feriu o malvado Melot. Como curar a funesta ferida? Ainda ignorante, imaginei que quem soube fechar a chaga causada por Morold, curaria também a ferida aberta pela espada de Melot. Encontrei essa benéfica mão, a melhor médica, e enviei a Cornwall um homem fiel que em seu navio trará ainda hoje Isolda.
TristãoIsolda vem! Isolda chega! Oh, fidelidade nobre e sublime! Oh, Kurwenal, meu amado amigo de lealdade inquebrantável! Como poderá Tristão te agradecer? Eras meu escudo e muralha no combate, compartilhando sempre comigo sofrimentos e alegrias. Odiaste a quem me aborrecia, amavas a quem eu amava. Servi, solícito, ao bom Marke, e para ele foste mais fiel que o ouro. Traí o nobre senhor e tu logo o traístes sem vacilar. Não te pertences, és unicamente meu. Porém ainda que sofras se eu sofro, o que eu padeço agora não podes tu sofrê-lo. Oh, se eu pudesse dizer-te qual é o terrível desejo que me abrasa, a ardorosa languidez que me devora, se pudesses compreender tal martírio, não permanecerias aqui. Correrias, voando até a vigia, e ansioso, aguçando teus sentidos, espiarias o mar para divisar bem longe as velas que se inflamam ao vento, lá onde Isolda navega para chegar a mim, impulsionada pela ânsia abrasadora do amor! Avança até lá! Chega lá com intrépida rapidez! Ondeia o cortinado sobre o mastro! O navio, o navio! Roça os escolhos! Não o vês? Kurwenal, não o vês?

Tenta erguer-se, mas cai para trás exausto. Ouvindo o som sombrio da flauta do pastor, ele murmura que ouviu seu dobre de finados, da mesma maneira que na morte de sua mãe e seu pai, e que aquele refrão está entrelaçado com seu próprio destino. Outra vez, a loucura da dor toma conta dele e, num espasmo de angustia, amaldiçoa o filtro do amor. Gritando desesperado que o navio está se aproximando, implora a Kurvenal para chegar até a muralha. Quando Kurvenal, profundamente triste, tenta acalma-lo, o som da flauta do pastor muda para uma alegre e brilhante melodia. Trisão ordena-lhe que vá buscar Isolda.

TristãoO navio. Não o vês ainda?
KurwenalO navio? Certamente, já se aproxima; não tardará..
Tristão – Nele Isolda me saúda! Brinda amavelmente por nossa reconciliação! Não a vês ? Tu ainda não a vês? Como ela, feliz, majestosa e com doçura cruza os campos do mar! Suavemente vem luminosa para a terra, sobre afáveis ondas de deliciosas flores. Seu sorriso procura me dar consolo e doce repouso. Traz para mim o supremo bálsamo. Ah, Isolda! Isolda! Quão formosa és! E tu, Kurwenal, como não a vês? E a vigia acima, pícaro inútil! É possível que não percebas o que eu vejo tão claro e luminoso? Não me ouves? Pronto, sobe até a vigia! Estás já em teu posto? O navio! O navio de Isolda! Deves vê-lo! Não o vês ainda?
KurwenalO’encanto! O’ alegria! O navio! Do norte eu o vejo aproximando-se!
TristãoNão o sabia? Não o disse? Que ela ainda vive, ainda tece para mim a vida? Como poderia falar-se Isolda fora do mundo, se todo este mundo é ela?
KurwenalAh, que valente navega o barco! Enchem-se suas velas com força poderosa! Como avança, veloz! Voa!
Tristão O pavilhão? O pavilhão?
KurwenalA bandeira está flutuando no mastro, alegre e brilhante!
TristãoDa alegria! No dia luminoso, Isolda vem a mim. Tu próprio a vês?

Salvador Dali, 1944

Em um paroxismo de êxtase e dor, Tristão se ergue, arranca suas bandagens e tenta se firmar de pé. Surge lsolda, chamando por ele, enquanto o motivo do amor ardente soa em um grande crescendo. Tristão cai-lhe nos braços. Depois, ternamente sussurrando seu nome, ele morre. Isolda, atônita, ajoelha-se ao lado de seu cadáver. Amargamente, lamenta que a morte lhe tenha roubado a felicidade dessa união. Cai desmaiada ao lado de Tristão.

IsoldaAh, Tristão!
TristãoIsolda!
IsoldaAh! Sou eu! Sou eu.. amadíssimo e dulcíssimo amigo! Levanta-te! Escuta mais uma vez minha voz! Isolda te chama! Isolda veio, fiel, para morrer com Tristão! Por que permaneces mudo para mim? Agora, uma hora; somente uma hora fica comigo desperto! Velei tantos dias angustiosos para velar contigo um instante! Enganará Tristão a Isolda, no momento supremo do eterno reencontro? Enganará Isolda, a enganará Tristão, nessa única e eterna brevidade, no último momento da felicidade terreal? A ferida! Onde está? Deixa-me curá-la, para compartir contigo as excelsas delícias da noite! Não! Não sucumbas a tua ferida! Não morras! Unamo-nos e extinga-se em nós juntos a luz da vida! Apagou-se tua vista? Rígido o coração! (Tristão infiel, por que me atormentas) Não é o fugitivo alento de um suspiro! Há de permanecer em tua presença, soluçando, quem cruzou o mar, intrépida, para desposar-se contigo no deleite? Demasiado tarde! Cruel, tão duramente me castigas? Sem piedade para minha dolorosa culpa? Só um instante, .um instante ainda! Tristão.. escuta.. desperta.. amado!

Kurvenal, que viu tudo, aterrado, é chamado à atenção pela advertência do pastor de que outro navio está chegando. Olhando para o mar, Kurvenal reconhece o navio do Rei Marke. Apressadamente, ele e o pastor tentam barricar o portão de entrada do pátio. Um momento depois, há uma confusão de sons, e o barulho de espadas debaixo da muralha. Ouve-se Brangäne chamando por Isolda. Melot se precipita, e Kurvenal o mata com uma estacada. Quando o Rei Marke e seu séquito retiram a barricada, Kurvenal ataca-o furiosamente. Enquanto eles estão lutando, Brangäne se dirige até Isolda. Logo depois, Kurvenal, fatalmente ferido, se arrasta até Tristão, e cai morto. O Rei Marke olha para a cena, murmurando tristemente.

Marke Todos estão mortos! Meu Tristão! Meu herói! Amadíssimo amigo! Também hoje me atraicionarás quando venho demonstrar-te minha lealdade suprema? Desperta! Desperta aos meus lamentos!

Isolda volta a si. Brangäne explica-lhe que ela confessou ter trocado a poção do amor, e que, quando o Rei Marke ouviu sua história, veio a toda pressa da Bretanha para perdoar Isolda. Em tons patéticos, o Rei acrescenta que absolveu Tristão de qualquer culpa, e estava pronto a lhe dar lsolda como noiva. Mas, apenas a morte triunfou, exclama com tristeza e desespero.
Brangäne – Desperta! Vive! Isolda, escuta-me! Sabe qual é a expiação de minha culpa. Revelei ao Rei o segredo do filtro, e imediatamente, preso de inquietação, embarcou o soberano para alcançar-te, para renunciar a ti e conduzir-te para junto do teu amado.

MarkePor quê, Isolda, desconfias de mim? Quando me foi revelado claramente o que eu não podia compreender, senti-me ditoso de falar ao meu amigo isento de culpa. Então, para enlaçar-te com o homem adorado, eu te segui a velas desdobradas. Porém quem trazia a paz não logrou deter a impetuosa fatalidade. Tão só pude aumentar a colheita da morte. A ilusão só fez aumentar a desdita!

Com os olhos fixos na face de Tristão, Isolda começa sua magnifica e comovente canção de adeus, o “Liebestod” (“Mild und Ieise wie er lachelt”). Enquanto ela proclama, em exaltação, a aproximação da morte, os temas da felicidade, da separação e da transfiguração surgem através da orquestra, levando a um clímax opressivo. Isolda cai sobre o corpo de Tristão, e os amantes se unem afinal na morte. O Rei Marke ergue as mãos abençoando a morte. A música morre nas cordas.

IsoldaComo é doce e delicado o seu sorriso! Seus olhos se entreabrem com ternura. Estão vendo, amigos? Não estão vendo? Como resplandece com luminosidade sempre mais viva! Como ascende irradiante, cercado de fulgurantes estrelas? Não o estão vendo? Como o seu coração se inflama, orgulhosamente, e pulsa-lhe no peito pleno e sublime? Como escapa delicadamente de seus lábios um doce suspiro de suave encanto? Oh, amigos, vejam-no! Não o sentem? Não estão vendo? Serei a única a escutar esta melodia que, maravilhosa e suave, suspirante de alegria, inteiramente reveladora, doce e conciliadora, dele se desprende e em mim penetra, cheia de ímpeto, ecoando sublime ao meu redor? Ondas vibrantes de brisas em luminosa efervescência, ondas de embriagadoras fragrâncias? Dilatando-se, envolvendo-me em suaves murmúrios para abranger-me toda? Nuvens de encantadoras fragrâncias? Como se enfunam a fremer ao meu redor? Deverei respirar? Deverei escutar? Deverei saborear? Afogar-me, contente? Exalar docemente essa fragrância? Mergulhar, submergir, privada dos sentidos, na vaga ondejante? Na rima sonora? No cosmo inspirante da respiração universal? Deleite supremo!

Para este simples admirador este último ato do drama musical é o mais apaixonante já escrito, que se eleva a um plano de tensão e culmina na beleza transcendental da última canção de Isolda, de imensa poesia, coroa a tragédia com inspiração maravilhosa.

Cai o pano.

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Agora que Tristan estava completo, Wagner se pôs a terminar o monumental Anel dos Nibelungos (que já postamos, links no início do post) , uma obra que nunca foi composta e que precisava de um teatro que não existisse. Os anos anteriores de sua vida foram preenchidos com as inovações revolucionárias que fizeram o mundo falar e, mais do que nunca, discutir sobre ele e sua música. As próximas décadas de sua vida seriam as mais prolíficas e revolucionárias de todas.

Personagens e Intérpretes
Estas são as versões de “Tristan und Isolde” que ora oferecemos aos amigos do blog, regentes, orquestras e cantores – dando a vocês a magia de uma história de amor, um conto antigo, reinterpretado pela mente genial de Wagner. Boa música, canto fantástico e uma experiência inesquecível. Abrem-se as cortinas e se deliciem com a soberba música de “Tristan und Isolde”.

Para muitos, “Tristan und Isolde” significa apenas uma gravação: Furtwängler, com Flagstad e Suthaus. É uma gravação linda e poderosa postada a pouco tempo pelo nosso querido Vassily Genrikhovich (AQUI). Outra versão que já apareceu nestas bandas do blog é a do Leonard Bernstein (AQUI). Porém vamos compartilhar mais quatro magníficas “Ilhas musicais” da mágica ópera que é “Tristan und Isolde”.

Robert Heger (1886 – 1978)
A primeira é a versão do maestro Robert Heger. Para quem ainda não o conhece ele atuou como assistente do maestro Bruno Walter na Ópera Estatal de Munique, entre 1920 a 1925. Heger dirigiu a Ópera Estatal de Munique até 1933. No ano da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, Heger mudou-se para a Alemanha para assumir compromissos como maestro na Ópera Estatal de Berlim (Staatsoper), como diretor geral de música em Kassel e no Waldoper em Zoppot, um festival de verão no qual as óperas de Wagner eram realizadas ao ar livre, explicando o apelido de ‘Bayreuth do Norte’. Ele também foi um convidado frequente nas temporadas internacionais de ópera no Covent Garden, em Londres. Heger esteve ativo em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo várias gravações de rádio com os músicos remanescentes da Staatskapelle de Berlim. Permaneceu em Berlim após a segunda guerra mundial, conduzindo a Städtische Oper municipal. Heger foi um maestro altamente respeitado durante toda a sua vida e foi um excelente exemplo da tradição Kapellmeister alemã.

Tenho cerca de 17 “Tristans” entre Lp’s, CD’s ou DVD’s e amo todas as gravações por um motivo ou outro. Porém…., contudo…., no entanto…. esta gravação de Berlim realizada no longínquo 1943 eclipsa, em minha modestíssima opinião, todas elas. PQP que interpretação f….. O som é bom para o seu tempo. Max Lorenz é muito musical, destas gravações que estamos compartilhando acho o melhor Tristan o terceiro ato é simplesmente subilme. Buchner tem uma voz exuberante com excelente atuação vocal e dicção. Klose tem um enorme timbre de contalto, além de ótima atuação vocal. A condução do maestro Heger é muito emocionante, é rápido, sim, mas nunca indevidamente, os atos simplesmente se desenvolvem com verdadeira paixão, ardente. Todos os artistas aqui se combinam para fazer a melhor interpretação de “Tristan und Isolde” que eu já ouvi. Esta é uma obrigação para todos os que gostam de Wagner. Eu pensava que já tinha ouvido os melhores cantores e interpretações, então esta seria apenas mais uma “gravação histórica”, mas me enganei. Eu não acreditei que pudesse mudar os conceitos para “Tristan und Isolde”, até ouvir esta incrível interpretação direto da “cápsula do tempo”. Uma curiosidade muito legal nesta gravação é lá no final do prelúdio do primeiro ato, quando a orquestra acalma, podemos nitidamente ouvir a Paula Buchner aquecendo as cordas vocais antes de entrar em cena.

Tristan – Max Lorenz
Isolde – Paula Buchner
Marke – Ludwig Hofmann
Kurwenal – Jaro Prohaska
Brangäne – Margarete Klose
Melot – Uegen Fuchs
Hirt – Erich Zimmermann
Steuermann – Felix Fleischer

Staatskapelle Berlin;
Männerchor der Staatsoper Berlin;
Recorded May 14-19, May 1943 – Berlin;
Conductor: Robert Heger

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Karl Böhm (1894-1981)
A segunda versão, é mais que obrigatória, do maestro Karl Böhm conduzindo a Orchester der Bayreuther Festspiele. Interpretação linda, ponto de referência para muitos. O som flui redondo nesta gravação. É considerada um marco da ópera em gravações estéreo. Böhm conduz de forma transcendente, o som é impressionante. Claro que a diva Birgit Nilsson brilha como Isolde, sua interpretação do papel é lendária, e esta gravação mostra com razão o “porque”. Agora o delírio do Tristan no Ato III de Wolfgang Windgassen é de emocionar, forte e frágil quando necessário. Ele consegue retratar este complexo personagem com imensa convicção, sempre focado no drama, e sua voz é firme. Eberhard Waechter é um excelente Kurwenal, Christa Ludwig, uma Brangene, em minha opinião, insuperável e Martti Talvela, com seu lindo timbre, um dos melhores King Mark. Esta é uma tremenda gravação nos oferecem muita emoção.

Tristan – Wolfgang Windgassen
Isolde – Birgit Nilsson
Marke – Martti Talvela
Kurwenal – Eberhard Wächter
Brangäne – Christa Ludwig
Melot – Claude Heater
Hirt – Erwin Wohlfahrt
Steuermann – Gerd Nienstedt

Orchestra/Ensemble: Bayreuth Festival Orchestra, Bayreuth Festival Chorus ;
Date of Recording: 1966 ;
Live Festspielhaus, Bayreuth, Germany;
Conductor: Karl Böhm

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Carlos Kleiber (1930 – 2004)
A terceira gravação que compartilharemos é esta estupenda versão do maestro Carlos Kleiber que nos prova toda a sua qualidade musical como um dos principais expoentes da condução de Wagner nos oferecendo toda a paixão, erotismo, lirismo, tragédia e beleza exigidos nesta partitura juntamente com a contribuição da Dresden Staatskapelle (orquestra favorita de Wagner), o som das cordas durante o último ato de Tristan é quase assustador em sua intensidade Mas a característica mais marcante desta gravação é, sem dúvida, os personagens interpretados pelo Kurt Moll e pela Margaret Price. Nunca tendo cantado Isolde no palco, Margaret Price dá a esse personagem um lirismo, qualidade juvenil e beleza diferente de todas as outras gravações, lembrando que a Isolde do drama tem entre 16 e 17 anos, o timbre e interpretação da Margaret Price é de uma beleza intensa, linda voz. Ela é uma das melhores Isolde que eu já ouvi sua voz é madura, mas nunca tensa, sempre bonita; se você ouviu apenas os sopranos “wagnerianos” nesse papel, Price irá, sem dúvida, surpreender é diferente, certamente irá seduzi-los. Kurt Moll é revelador como o rei Mark. Seu monólogo é soberbamente cantado e encenado, começa em um sussurro e depois aumenta e diminui, envolvendo-nos inteiramente. Rene Kollo, que faz um retrato incrivelmente jovem e sincero do Tristan oferece, combinando com o timbre de Price, um tom jovem, lirismo ardente e impacto dramático diferente das gravações mais aclamadas. Fassbaender é uma excelente Brangaene. O Kurwenal de Fischer-Dieskau, …. rapaiz, bonito demais de ouvir sô – dificilmente uma frase escapa a um colorido deste gigante. Esta foi a primeira versão completa do Tristan que eu ouvi. Conjunto com 5 Lp’s comprado numa famosa galeria no centro de Sampa no final dos anos 80. Na minha humildíssima opinião, o primeiro ato desta gravação tem uma energia e a caracterização dos solistas envolvidos transforma a música numa atmosfera envolvente que é absolutamente impressionante! É uma performance lindamente concebida em meses de gravação e belamente executada.

Tristan – Rene Kollo
Isolde – Margaret Price
Marke – Kurt Moll
Kurwenal – Dietrich Fischer-Dieskau
Brangäne – Brigitte Fassbaender
Melot – Werner Götz
Hirt – Anton Dermota
Steuermann – Eberhard Büchner

Dresden , Lukaskriche
26,27,29,31 August & 18-26 October ,1980;
5-10 February & 10,21 April , 1981;
27 February & 4 April , 1982;
Dresden Staatskapelle , Leipzig Radio Chorus;
Conductor: Carlos Kleiber

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Sir Simon Denis Rattle (1955)
Esta quarta gravação é a ótima performance gravada ao vivo, em forma de concerto,em 03 de abril de 2016 conduzida pelo magnífico regente Sir Simon Denis Rattle a frente da não menos magnífica Orquestra Filarmônica de Berlim. A Isolda da Eva-Maria Westbroek é rica em som e volume, seu canto em piano é tão sonoro quanto o forte de outros sopranos e com bastante vibrato o que às vezes dificulta a interpretação precisa das palavras, suas explosões vocais são colossais, ela está inteirona aos 45 anos. Sarah Connolly como Brangäne também tem um vibrato distinto, timbre levemente amargo. O Tristão do Stuart Skelton tem um fraseado é excelente. Tem cores. A emoção e o afeto sempre vêm do canto, cada nota é audível nas passagens altamente dramáticas do mitológico Ato III. Ele canta cada nota sem gritar. Nunca. Tecnicamente ótimo, o mais gratificante Tristan desta geração do século XXI. O Kurwenal do Michael Nagy também é magnífico, voz bastante sonora mas as vezes soa um pouco tumultuado. O King Marke interpretado pelo Stephen Milling ficou um pouco apagado nesta gravação. O coro da rádio de Berlim canta apaixonadamente, gostei. Simon Rattle conduz com seu rigor característico. No prelúdio do início da ópera ele está absorto num crescendo resoluto, tão dramático quanto complexos, muito bonito! A Berliner Philharmoniker impecável, como de costume, tensão violenta e relaxamento, cada compasso é vivo, a intensidade de Rattle triunfa no seu ótimo “Tristan”.

Tristan – Stuart Skelton
Isolde – Eva-Maria Westbroek
Marke – Stephen Milling
Kurwenal – Michael Nagy
Brangäne – Sarah Connolly
Melot – Roman Sadnik
Hirt – Thomas Ebenstein
Steuermann – Simon Stricker

Rundfunkchor Berlin (Simon Halsey, Einstudierung) ;
Berliner Philharmoniker ;
Philharmonie Berlin – 3 April 2016;
Conductor: Sir Simon Rattle

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“Nunca, em minha vida, experimentei a verdadeira felicidade do amor, erguerei um memorial a esse mais adorável de todos os sonhos, no qual o amor encontrará, pela primeira vez, uma completa satisfação.” Trecho da uma carta enviada a Liszt.

#SCHMNN210 – Johann Sebastian Bach (1685-1750): Sonatas e Partitas para violino, com acompanhamento de piano por Robert Schumann – Bedelian – Griffitt

Nenhuma festa de aniversário é completa sem que se fale mal do aniversariante, não é mesmo?

Então vamos falar mal de Robert: em algum momento de sua vida, ele resolveu seguir a voga e adicionar acompanhamento de piano a obras alheias. Não contente, olhou para sua prateleira de partituras e, fuçando a aba “Bach, J. S.”, dela catou um volume em que toda música se resumia a uma parte em clave de sol e, incontinenti, pôs-se a completar aquela paçoca com as carninhas de acordes e baixos que, pensava ele, tanto lhe faltavam.

O resultado é o que vocês aqui ouvem: do Alfa e do Ômega da Música, do maior gênio que já viveu neste triste planeta, do imenso Johann Sebastian Bach, as sacrossantas sonatas e partitas para violino – às quais não se pode apor o “solo”, porque aqui estão com… acompanhamento de piano.

Admito que o conceito, que me sugeriu uma ultrajante pichação, me foi muito pior que o que de fato ouvi: uma parte para piano realmente supérflua, a realizar alguns dos acordes e notas que o Demiurgo, numa de suas obras supremas, um exercício de contingências ao compor polifonicamente para um instrumento mormente monófono, resolvera tão só sugerir ao ouvinte.

Se há algum mérito nela, é o de que a contribuição de Schumann não é pervasiva. Com alguns minutos de audição, conseguimos nos acostumar a elas e pescar, vá lá, um que outro arroubo criativo nela. Advirto, no entanto, que é especialmente duro ouvir as geniais fugas das sonatas com a camada de pichação pianística – ao passo que a Chacona, talvez o ponto mais alto de toda Música, é menos pior do que se espera.

Para quem não me acusem de anacronismos, dou o braço a torcer: Schumann adorava Bach e escreveu o acompanhamento para suas obras com as melhores intenções. Apesar de amplamente reconhecido entre seus colegas músicos como um dos maiores mestres do passado, a redescoberta de suas obras para o público musical em geral – impulsionada por Felix Mendelssohn, que apresentou a Paixão segundo Mateus com imenso sucesso em Berlim – ainda era incipiente. Muitas das obras para instrumentos solo, incluindo quase toda literatura para teclado e as suítes, sonatas e partitas para cordas, eram tidas como obras-primas e valioso material de estudo, mas pouco apeteciam às plateias acostumadas a ver Liszts e Paganinis (mais sobre ele em breve) rugirem com seus instrumentos. Assim, entendemos os esforços de Robert como uma amorosa e, a meu ouvir, inana tentativa de tornar as grandes obras do velho Bach mais atraentes e, quiçá, menos estranhas aos ouvidos de sua época. Sua reverência ao mestre era tão grande que seu acompanhamento foi publicado exatamente como tal: somente uma partitura para piano, com pequenos excertos da parte de violino impressos em tipo miúdo para servirem como deixas ao intérprete. E, se vocês perceberem alguma diferença entre o que o violinista aqui tocar e o que estão acostumados a ouvir, não culpem o pobre Robert, e sim a edição das obras de Bach que ele tinha à disposição na época, com indicações dinâmicas e interpretativas acrescentadas por outrem, à qual ainda não se adicionara o valioso produto do trabalho musicológico que culminaria com as primeiras edições críticas da obra do Maior de Todos.

Os intérpretes nesta gravação desincumbem-se direitinho da tarefa inglória. O violinista Bedelian, cuja nacionalidade não descobri, mas que é de origem armênia e fez carreira no Reino Unido e nos Estados Unidos, dá algum tempero romântico – ma non troppo – aos frutos de Bach, a despeito de algumas barbeiradinhas, enquanto Lorna (adoro o nome!) Griffitt transpira bastante menos com a parte de Schumann. Baixem, ouçam, odeiem – e aproveitem para falar mal do aniversariante, que em breve voltamos com suas obras-primas. Ah – e quem achar que precisa de desinfetante para os ouvidos depois do que escutar, ofereço a restauração de duas postagens das sonatas e partitas in natura: uma com violino barroco, por John Holloway, e outra com violino moderno, por Christian Tetzlaff.

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Sonatas e partitas para violino solo, BWV 1001-1006

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Acompanhamento para as sonatas e partitas de J. S. Bach para piano, WoO 8

Sonata no.1 em Sol menor para violino solo, BWV 1001
1 – Adagio
2 – Fuga
3 – Siciliana
4 – Presto

Partita no.1 in Si menor para violino solo, BWV 1002
5 – Allemanda
6 – Double
7 – Corrente
8 – Double
9 – Sarabande
10 – Double
11 – Tempo di Borea
12 – Double

Sonata no.2 in Lá menor para violino solo, BWV 1003
13 – Grave
14 – Fuga
15 – Andante
16 – Allegro

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DISCO 2

Partita no. 2 em Ré menor para violino solo, BWV 1004
1 – Allemanda
2 – Corrente
3 – Sarabanda
4 – Giga
5 – Ciaccona

Sonata no.3 em Dó maior para violino solo, BWV 1005
6 – Adagio
7 – Fuga
8 – Largo
9 – Allegro assai

Partita no.3 em Mi maior para violino solo, BWV 1006
10 – Preludio
11 – Loure
12 – Gavotte en Rondeau
13 – Menuet I
14 – Menuet II
15 – Bourrée
16 – Gigue

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Haroutune Bedelian, violino
Lorna Griffitt, piano


Para quem odiou o bedelho de Schumann e quiser ouvir Johann Sebastian sans Robert, recomendo “Bach in Tiradentes”, o primeiro registro em DVD das Sonatas e Partitas completas do Colosso de Eisenach, em que o mesmo Haroutune Bedelian interpreta, sem piano, as mesmas obras na belíssima igreja de Santo Antônio em Tiradentes, Minas Gerais.

Vassily

Schumann (1810-1856): Concerto para Piano – Jan Lisiecki

Schumann (1810-1856): Concerto para Piano – Jan Lisiecki

S C H U M A N N

Concerto para Piano

Obras para Piano e Orquestra

Jan Lisiecki, piano

 

No meio do mês de junho do ano passado (2019) assisti a um concerto na Sala Cecília Meireles no qual a Orquestra Sinfônica CESGRANRIO, sob a regência de Eder Paolozzi, acompanhou a pianista Sylvia Thereza tocando o Concerto de Schumann. Foi uma noite inspiradora. O Concerto de Schumann foi o ponto alto e o bis da pianista, o belíssimo ‘Reflets dans l’eau’, de Debussy, ‘extrapetacular’!!

Nestes dias em que estou trancado em casa, estas lembranças parecem ainda mais caras. Mas deixemos de tristezas, pois como se diz, suspiro de vaca não arranca estaca! Mas tenho ouvido várias gravações do Concerto do Robert por conta das lembranças daquela noite.

A postagem também é para homenagear os 210 anos de seu nascimento.

Houve um tempo em que achava que os concertos de Schumann e de Grieg haviam sido compostos para serem apresentados juntos, tipo Concertos-Cosme e Damião. Havia o disco de Arrau, de Kovacevich, Leon Fleisher, Radu Lupu, Perahia e outros. Entre as gravações mais recentes destes dois concertos reunidos, recomendo fortemente a do Leif ove Andsnes. Nesta gravação o acompanham nada menos que a Berliner Philharmoniker regida pelo saudoso Mariss Jonsons. Se bem que esta gravação já não é mais ‘tão’ recente, o tempo voa!

Algumas destas gravações mencionadas devem ser postadas pelos meus amigos aqui do blog. Assim, optei por postar uma gravação do Concerto para Piano de Schumann de 2016 que no lugar do Concerto de Grieg tem a companhia de outras peças de Schumann.

Just when I thought I was out, they pull me back in!

O jovem pianista canadense Jan Lisiecki já apareceu por aqui sob os auspícios do FDP Bach. A Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia tem muita tradição, foi regida por Carlo Maria Giulini entre outros. Sob a direção de Antonio Pappano, um grande regente em muitas gravações com solistas, nos oferece interpretações excelentes das peças.

As duas peças para piano e orquestra que dão continuidade ao concerto são mais raramente apresentadas e tem ótimos momentos. A Introdução e Allegro appassionato em sol maior e foi estreada por Clara Schumann em 4 de fevereiro de 1850. A Introdução e Allegro de concerto em ré menor foi composta em 1853, uma das últimas composições de Schumann e foi dada como presente de aniversário à Clara.

O maestro e o solista em pose para a coluna do PQP Bach Publishing House

Para completar o disco, Jan Lisiecki oferece a famosíssima Träumerei, um número de Kinderszenen.

Na minha opinião, o ponto forte do disco é apresentar um repertório romântico de forma equilibrada, com suficiente bravura e impetuosidade, mas permitindo seus momentos de ‘devaneios’. Isto tudo sem incorrer em excessos, que pode ser bastante perigoso neste tipo de repertório.

Veja um resumo da crítica feita ao álbum no ‘The Guardian’: Esta gravação revela uma performance extraordinária. A música de Schumann pode não ser a mais tecnicamente difícil do repertório romântico, mas seus momentos de bravura, especialmente o gesto de abertura do concerto e a parte atlética de seu movimento final, foram realizados com absoluta autoridade. Mais precisamente, a parte que requer mais sensibilidade e introversão na maior parte do solo foi realizada com excepcional maturidade e equilíbrio. Pappano e seus músicos uniram-se de maneira impecável ao pianista, com destaques especial aos solos das madeiras.

Robert Schumann (1810 – 1856)

Concerto para piano e orquestra em lá menor, op. 54

  1. I. Allegro afetuoso
  2. II. Intermezzo. Andantino grazioso  &  III. Allegro vivace

Introdução e Allegro appasionato em sol maior, Op. 92

  1. I. Introdução
  2. II. Allegro appassionato

Introdução e Allegro de Concerto em ré menor, Op. 134

  1. Introdução e Allegro

Kinderszenen, Op. 15

  1. Träumerei

Jan Lisiecki, piano

Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia

Antonio Pappano

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FLAC | 213 MB

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MP3 | 320 KBPS | 139 MB

Quem foi que me chamou de prodígio aí???

Para você praticar suas habilidades linguísticas:

What a lovely CD, great, clear and neat recording!

Intelligent and inspiring performance.

This young man from Calgary, Canada, is one hell of a piano player. The orchestra isn’t all that shabby either. Gorgeous stuff!!!

Molto interesse per questo prodigio giovanissimo, e conferma ora, che sempre giovane è, ma con tanta esperienza in più, il Direttore Pappano non ha bisogno di presentazioni

Aproveite!

René Denon

Schumann (1810-1856): Peças para Piano – Klara Würtz

Schumann (1810-1856): Peças para Piano – Klara Würtz

Schumann

Fantasiestücke

Waldszenen

Arabeske

Kinderszenen

Klára Würtz

Schumann demorou a decidir-se entre a literatura e a música e quando a música foi escolhida, oscilou entre compor e tornar-se um virtuose. Esta última opção, alas, não pode acontecer, mas ele encontrou na pequena Clara uma intérprete para realizar qualquer dificuldade técnica que fosse necessária para realizar musicalmente suas inspirações.

Inicialmente compôs música para piano e posteriormente passou a produzir música de câmera e para orquestra, assim como as suas maravilhosas canções.

Mesmo compondo três sonatas para piano, que talvez venham a aparecer por aqui, sua música para piano é formada principalmente por conjuntos de peças.

Este disco maravilhoso que foi produzido pelo selo holandês Brilliant, que parece ter um orçamento bastante regrado, têm como intérprete a excepcional pianista húngara Klára Würtz.

Não se deixe enganar pela capa um pouco simples e concentre-se na música. No repertório três coleções – Fantasiestücke, Walderszenen e Kinderszenen, além de uma peça única, o Arabeske.

Klára Würtz

As três coleções de peças devem bastante à literatura, mas falarei um pouquinho aqui da Fantasiestücke, na qual coabitam dois aspectos da personalidade de Schumann que pode ser interessante conhecer: Florestan e Eusebius. Enquanto Eusebius é o sonhador, Florestan representa o lado passional. Ou ainda, Eusebius é introvertido (triste) enquanto Florestan é extrovertido (alegre). Sei que colocando assim pode parecer muito simplista, mas a intensão aqui é mais sugerir pistas para futuras investigações. Veja, mesmo que seja apenas a primeira página do artigo escrito por Judith Chernaik para o Musical Times, que poderá ser acessado aqui.

Nas primeiras peças de Fantasiestücke os dois aspectos se alternam, primeiro o sonhador, depois o passional. Eventualmente nas outras peças eles são reunidos e se alternam até a última peça. Pode ser interessante ouvir a música tendo estas diferenças em mente, mas non tanto

Robert Schumann (1810 – 1856)

Fantasiestücke, Op. 12

  1. Des Abends
  2. Aufschwung
  3. Warum?
  4. Grillen
  5. In der Nacht
  6. Fabel
  7. Traumes Wirren
  8. Ende vom Lied

Waldszenen, Op. 82

  1. Eintritt
  2. Jäger auf der Lauer
  3. Einsame Blumen
  4. Verrufene Stelle
  5. Freundliche Landschaft
  6. Herberge
  7. Vogel als Prophet
  8. Jagdlied
  9. Abschied

Arabeske, Op. 18

  1. Arabeske

Kinderszenen, Op. 15

  1. Von fremden Ländern und Menschen
  2. Kuriöse Geschichte
  3. Hasche-Mann
  4. Bittendes Kind
  5. Glückes genug
  6. Wichtige Begebenheit
  7. Träumerei
  8. Am Kamin
  9. Ritter vom Steckenpferd
  10. Fast zu ernst
  11. Fürchtenmachen
  12. Kind im Einschlummern
  13. Der Dichter spricht

Klára Würzt, piano

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FLAC | 205 MB

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MP3 | 320 KBPS | 167 MB

Klára Würtz tocando no concerto de fim de ano para a turma do PQP Bach e convidados…

Possivelmente a peça mais conhecida deste disco seja Träumerei, que está na coleção Kinderszenen e merece toda a fama que tem. Esta coleção também está em um disco postado há algum tempo, mas cujo link está ativo e muito se alegrará se receber uma visita. Para descobrir qual é, clique aqui.

Aproveite!
René Denon

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Liederkreis, Op. 39 – Frauenliebe und -leben, Op. 42 – Norman – Gage

1840 foi o Liederjahr (“Ano das Canções”) de Schumann, marcado pela impressionante enxurrada de dezenas de Lieder do mais alto nível. O motivo para tamanha torrente de canções, numa carreira até então dedicada quase que exclusivamente a composições para o piano, foi certamente o desenlace da longa batalha judicial para casar-se com Clara, filha de Friedrich Wieck, que se opunha com ferocidade hidrófoba à união dos dois. Os poemas escolhidos por Schumann exprimem com constrição e frequente desesperança as incertezas quanto aos seus rumos com Clara, bem como os ideais que tinha para a vida com a amada. Seu empenho em casar-se foi enfim recompensado em 12 de setembro de 1840 – a véspera do aniversário de 21 anos de Clara e de sua maioridade legal. A postura de casar-se no último dia em que ela precisaria do consentimento do pai foi uma das incontáveis demonstrações do teimoso apego de Robert a seus princípios e de sua disposição em encarar todas contendas para defendê-los.

A amada, certamente, foi a inspiração para Frauenliebe und -Leben, o primeiro dos frutos daquele milagroso 1840 que lhes oferecemos hoje. Baseado em poemas do pitoresco poeta-botânico-milico franco-alemão Adelbert von Chamisso, o ciclo conta, do ponto de vista feminino, a história de uma relação desde o primeiro encontro (“Desde que eu o vi”) até a viuvez (“Hoje me causaste dor pela primeira vez”). Essas oito canções devem ter soado dolorosamente irônicas para Clara, a cuja carreira Robert muito se opôs, ainda que ela fosse o arrimo da casa e dos sete filhos, e a quem Robert muitas dores causou antes de perder seu juízo e sua vida. A dor da ironia só deve ter aumentado nos quarenta anos de viuvez, em que nunca largou as cores de luto e muito se dedicou à preservação do legado do marido.

O outro ciclo, redundantemente conhecido como Liederkreis (er, “Ciclo de Canções”), é uma das duas coleções de canções com esse título na schumanniana. O que alcanço hoje a vocês, do Op. 39, é conhecido como “Eichendorff Liederkreis”, por basear-se na coleção de poemas “Intermezzo” de Joseph Eichendorff, um dos grandes nomes do romantismo alemão. As doze canções descrevem as impressões do poeta sobre diferentes paisagens, que Schumann consegue evocar com muita sutileza, lançando mão duma rica e independente escritura pianística que não só acompanha, mas sublinha, comenta e – nos frequentes poslúdios em que o piano encerra sozinho uma canção – amplifica e arremata as evocações feitas pela voz.

E, já que falamos em voz, esta que ora lhes trago é das mais extraordinárias que já vieram a este pobre globo cacofônico. Sim, Jessye Norman (1945-2019) era tudo isso e, paralelamente à brilhante carreira em ópera, foi uma camerista muito versátil. É incrível ouvi-la modular seu poderoso instrumento vocal para exprimir com tanta delicadeza, e tão fascinante dicção, os tantos constritos sussurros prescritos por Schumann ao cantor que lhe empresta a voz. Quem só conhece Jessye pela potência de Carmens, Salomés e Isoldes ficará surpreso com essa faceta mais comedida de seu talento, aqui congenialmente acompanhado pelo também saudoso Irwin Gage (1939-2018).

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Frauenliebe und -Leben, ciclo de canções sobre poemas de Adelbert von Chamisso, Op. 42

1 – Seit ich ihn gesehen
2 – Er, der herrlichste von Allen
3 – Ich kann’s nicht fassen, nicht glauben
4 – Du Ring an meinem Finger
5 – Helft mir, Ihr Schwestern
6 – Süßer Freund, du blickest mich verwundert an
7 – An meinem Herzen, an meiner Brust
8 – Nun hast du mir den ersten Schmerz getan

Liederkreis, ciclo de canções sobre poemas de Joseph Eichendorff, Op. 39 (“Eichendorff-Liederkreis”)

9 – In der Fremde
10 – Intermezzo
11 – Waldesgespräch
12 – Die Stille
13 – Mondnacht
14 – Schöne Fremde
15 – Auf einer Burg
16 – In der Fremde
17 – Wehmut
18 – Zwielicht
19 – Im Walde
20 – Frühlingsnacht

Jessye Norman, soprano
Irwin Gage, piano

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Saudades – atrozes saudades

Vassily

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Dichterliebe, Op. 48 – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Lieder – Franz Schubert (1797-1828): Lieder – Wunderlich – Giesen #BTHVN250

Hoje, aniversário de Schumann, nosso bolo de duzentas e dez velinhas vai-lhe na forma duma das mais preciosas gravações de sua obra-prima: os divinos Lieder do Dichterliebe no mais lindo instrumento vocal que a Alemanha já pariu.

Sim, Fritz Wunderlich era tudo isso, e nós outros, seus tietes, ficamos aqui a imaginar o que ele teria sido se tivesse atingido a maturidade artística, e não sucumbido a um acidente doméstico idiota antes de completar 36 anos. Seu Dichterliebe está à altura da elevada poesia de Heine e da música congenial do aniversariante de hoje e, mesmo que eu tenha conhecido a obra através da voz emblemática de Fischer-Dieskau, certamente o maior camerista de todos os tempos, o expressivo tenor de Wunderlich me deu a mais amada gravação deste ciclo que eu tanto amo.

Fica difícil ouvir qualquer outra coisa depois dum Dichterliebe desses, mas a gravação segue com alguns dos melhores Lieder de duas feras. Primeiramente, do herói de nossa saga BTHVN250, vocês escutarão a mesma seleção que vocês já ouviram aqui, mas com um som um pouquinho melhor, com destaque para a maravilhosa Adelaide e para a pérola cômica Der Kuss, uma arieta a narrar a história dum beijo roubado, composta entre os trabalhos das intrincadas Variações Diabelli e da mastodôntica Missa Solemnis. Por fim, uma significativa seleção do mestre maior do gênero, Franz Schubert, que encerra com meu Lied favorito, An die Musik, que aqueles entre vocês que não me odeiam poderão cantar em minha tumba – isso, claro, se eu tiver direito a uma, e se dela não brotar uma flor púrpura a gritar “Adelaide”.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Dichterliebe, ciclo de canções sobre textos do Lyrisches Intermezzo de Das Buch der Lieder de Heinrich Heine, Op. 48

1 – Im wunderschönen Monat Mai
2 – Aus meinen Tränen sprießen
3 – Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
4 – Wenn ich in deine Augen seh’
5 – Ich will meine Seele tauchen
6 – Im Rhein, im heiligen Strome
7 – Ich grolle nicht
8 – Und wüßten’s die Blumen, die kleinen
9 – Das ist ein Flöten und Geigen
10 – Hör ich das Liedchen klingen
11 – Ein Jüngling liebt ein Mädchen
12 – Am leuchtenden Sommermorgen
13 – Ich hab’ im Traum geweinet
14 – Allnächtlich im Traume
15 – Aus alten Märchen
16 – Die alten, bösen Lieder

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

17 – Zärtliche Liebe, WoO 123
18 – Adelaïde, Op.46
19 – Resignation, WoO 149
20 – Der Kuss, Op.128

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

21  – An Sylvia, Op. 106 No. 4, D. 891
22 – Lied eines Schiffers an die Dioskuren, Op.65, D.360
23 – Liebhaber in allen Gestalten, D.558
24 – Der Einsame, Op.14, D.800
25 – Im Abendrot, D.799
26 – Schwanengesang, D. 957 – Ständchen “Leise flehen meine Lieder”
27 – An die Laute, Op.81, No.2, D. 905
28 – Der Musensohn, Op.92, No.1, D. 764
29 – An die Musik, Op.88, No.4, D.547

Fritz Wunderlich, tenor
Hubert Giesen, piano

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Wie geht’s, Hund?

Vassily

Robert Schumann (1810-1856): As 4 Sinfonias – Staatskapelle Dresden – Wolfgang Sawallisch

Robert Schumann (1810-1856): As 4 Sinfonias – Staatskapelle Dresden – Wolfgang Sawallisch

 

SCHUMANN

S I N F O N I A S

SAWALLISCH

 

Neste peculiar ano de 2020, além do #BTHVN250, temos no dia 8 de junho a comemoração pelos 210 anos de nascimento do romântico e atormentado Robert Schumann. Para juntar esforços meus aos dos entusiasmados pela sua música e aumentar os festejos, escolhi postar algumas gravações das obras deste compositor que ouço com mais frequência.

Começamos em grande estilo (assim espero) com estas elogiadíssimas gravações das sinfonias. A orquestra Staatskapelle Dresden tem todas as credenciais para dar vida a estas peças sob a regência inspirada de Wolfgang Sawallisch numa combinação vencedora.

Veja o que o Penguin Guide to CDs disse sobre este time: ‘A interpretação da orquestra combina excelente disciplina com uma estimulante naturalidade e espontaneidade. Sawallisch apresenta todas as variações de humor de Schumann e sua regência tem um vigor esplendoroso’.

A primeira das sinfonias de Schumann que ouvi foi a Sinfonia Renana, de que gostei desde sempre. A gravação fazia parte de uma coleção de LPs contidos em uma caixa editada pela Reader’s Digest com discos do selo RCA. O Reno e a linda cidade de Colônia, com sua desafiante Catedral sempre foram fonte de inspiração para Robert.

Depois ouvi a Primeira Sinfonia, A Primavera, que também achei adorável. (Eu sei, sou fácil de ser agradado…) Esta sinfonia foi composta em pouquíssimo tempo no ano de 1841, ano que também viu a composição de uma primeira versão da que seria reformulada como a Quarta Sinfonia, em 1851.

Depois vieram outras gravações e tornei-me ouvinte de frequência constante destas lindas peças. A Primavera regida pelo Karajan, em dobradinha com a Primeira de Brahms, A Segunda Sinfonia na gravação do Thielemann regendo a Philharmonia, a Quarta regida por Szell e sua incrível orquestra do Meio-Oeste Americano e tantas outras gravações. Entre elas, com lugar de honra, esta integral que vos apresento.

Robert Schumann (1810 – 1856)

CD1

Sinfonia No. 1 em si bemol maior, Op. 38 ‘Primavera’

  1. Andante poco majestoso – Allegro molto vivace
  2. Larghetto
  3. Scherzo
  4. Allegro animato e grazioso

Sinfonia No. 4 em ré menor, Op. 120

  1. Ziemlich langsam – Lebhaft
  2. Romanze (Ziemlich langsam)
  3. Scherzo Lebhaft & IV. Langsam – Lebhaft

Abertura, Scherzo e Finale, Op. 52

  1. Abertura (Andante con moto – Allegro)
  2. Scherzo (Vivo)
  3. Finale (Allegro olto vivace)

CD 2

Sinfonia No. 2 em dó maior, Op. 61

  1. Sostenuto assai – Allegro ma non tropo
  2. Scherzo (Allegro vivace)
  3. Adagio expressivo
  4. Allegro molto vivace

Sinfonia No. 3 em mi bemol maior, Op. 97 ‘Renana’

  1. Lebhaft
  2. Scherzo (Sehr mässig)
  3. Nicht schnell
  4. Feierlich
  5. Lebhaft

Staatskapelle Dresden

Wolfgang Sawallisch

Gravações feitas em 1972 na Lukaskirche, Dresden

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FLAC | 702 MB

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MP3 | 320 KBPS | 338 MB

O Reno e a Catedral de Colônia…

Outras gravações que você poderia considerar:

Wiener Philharmoniker & Leonard Bernstein (Big band, gravação ao vivo, um dos regentes mais carismáticos que já houve…) Clique aqui, aqui e aqui;

Apesar do comentário do FDP Bach, eu gosto da Sinfonia No. 2…

Chamber Orchestra of Europe & Yannick Nézet-Séguin (Visão contemporânea com ótimo som, mesmo que gravado ao vivo em 2012, na Cité de la Musique, Paris) Clique aqui.

Aproveite!

René Denon

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): duas Sinfonias, dois Concertos, Adagio e Allegro para Trompa, Manfredo (Ansermet, Lipatti, Gendron)

Robert Schumann apagaria 210 velinhas no dia 8 de junho de 2020!

Manfred, drama em versos do poeta inglês Lord Byron, impressionou o jovem Robert Schumann de 17 anos, que escreveu no seu diário em 1829: “Estado de espírito agitado – leitura antes de dormir: Manfred de Lord Byron – noite terrível”. Só muito mais tarde o compositor começaria a trabalhar num projeto baseado no poema, pelo qual manteve grande entusiasmo (“nunca me dediquei a uma composição com tanto gosto e energia como a Manfred”). A música de cena para o poema, composta em 1848-1849, com o título Manfred: Poema Dramático com Música em Três Partes, op. 115, ecoa o remorso do misterioso conde Manfred. Hoje em dia, apenas a abertura aparece às vezes nas salas de concerto. Mas, no século XIX, Manfred era considerada uma das obras-primas da música romântica. Vejamos o que escreveu em 1885 o crítico Camille Bellaigue:

As duas obras-primas de Schumann, para nós, são Manfred e Fausto. Fausto é uma suíte de cenas baseadas na tragédia de Goethe; Manfred é o poema de Lord Byron musicado. Schumann abordou a ópera uma só vez com Genoveva, que teve uma recepção merecidamente fria. Schumann não é um homem de teatro. Sua fantasia exige a maior liberdade. Ele não consegue lidar com obstáculos bloqueando seu horizonte, com figuras materiais dando um excesso de realidade às criações de seu espírito.
Se ao menos essa dor nos dissesse suas razões. Se Manfred admitisse por que o remorso lhe come por dentro. Se nós soubéssemos quem foi essa Astarte, misterioso fantasma que lhe promete a morte; essa Astarte, único ser que ele amou, a companheira de seus sonhos, cujo segredo está escondido em uma eterna reticência.
Schumann fez de Manfred uma obra curta e potente. O sentimento mal definido de revolta e de dor convêm admiravelmente à música, menos precisa que as outras artes, mesmo a poesia.

Esse é o lado mais sombrio das últimas obras de Schumann, quando o compositor ouvia vozes. Como Robert e também Clara Schumann deixaram milhares de páginas de diários, artigos e cartas, nós sabemos que ele começou a ouvir uma nota persistente nos últimos anos de sua vida. Cientistas discutem até hoje se essa alucinação auditiva estaria ligada a um tumor no cérebro ou se seria psicossomática, ligada a episódios de depressão. Depois, Robert começou a ter outras alucinações auditivas além daquela nota permanente. Clara escreveu em seus diários que ele ouvia “música gloriosa, com instrumentos soando mais maravilhosos do que os que nós ouvimos na terra”, mas em outra passagem do diário ela escreve: “uma mudança perigosa! As vozes de anjos se transformaram em vozes de demônios, com música horrível.”

Pode ser coincidência, mas os dois grandes concertos escritos por Schumann são em Lá menor. O Concerto para Piano é famosíssimo, mas não menos importante é o Concerto para Violoncelo, uma de suas obras maduras mais inovadoras, quebrando padrões, talvez (quem sabe?) ditada pelas vozes de sua cabeça.

Por outro lado as duas primeiras sinfonias de Schumann, que ocupam o 1º disco de hoje, são felizes e otimistas. Especialmente a primeira, apelidada Primavera, que foi composta em 1841, logo após o casamento de Robert e Clara. Após anos de brigas com o pai de Clara Wieck, finalmente o casal vivia uma longa lua de mel. Mais bucólica do que a própria Sinfonia Pastoral de Beethoven (que tem uma pesada tempestade, inexistente na Sinfonia Primavera), trata-se de um caso raro entre as obras deste compositor romântico tão famoso por suas mudanças de humor e por ir de um extremo a outro em poucos segundos.

Nas sinfonias, Ernest Ansermet escolhe andamentos mais rápidos do que os de maestros como Klemperer e Thieleman. Se estes andamentos são “historicamente corretos”, não sei, mas é bem possível que sim e que os alemães do século XX, influenciados pelo grandioso Furtwangler e por seus adagios a ritmo de tartaruga, tenham imaginado um Schumann demasiado solene.

Nos concertos, os intérpretes são do mais alto nível. Dinu Lipatti é uma lenda: não conheço um único pianista que não fique de queixo caído ao ouvir suas interpretações cheias de sentimento e tecnicamente impecáveis. Lipatti morreu em 1950 aos 33 anos, poucos meses depois dessa gravação ao vivo com Ansermet. A qualidade de som é pior do que a das outras obras, mas não se deve perder a oportunidade de ouvir Lipatti ao vivo, com seu rubato livre e original, ao contrário da gravação que ele fez do mesmo concerto com Karajan anos antes, que soa muito menos espontânea.

O concerto para violoncelo, como dizíamos, é tão atormentado quanto o personagem Manfred. Enquanto 99% dos concertos clássicos e românticos começam com um Allegro, Schumann descreve o andamento do seu primeiro movimento assim: nicht zu schnell (non troppo allegro). A interpretação do violoncelista Maurice Gendron traz todos os sentimentos necessários a esse outro concerto em lá menor, ao contrário da gravação mais recente de Queyras, que, com todo respeito, toca Schumann como se fosse Bach, com uma fluidez admirável mas com poucos sentimentos à flor da pele. Para uma versão recente e cheia de romantismo, recomendo o CD de 2017 do violoncelista Antonio Meneses.

Bach, até onde sabemos, não ouvia vozes em sua cabeça ou, no máximo, ouvia uma só voz, a de seu amigo imaginário (peço perdão aos que creem Nele). E, ao menos na estética do Romantismo, a vida afeta a obra e a obra afeta a vida. Voltemos ao caso de Manfred, personagem que, nos Alpes Suíços, vive atormentado por sua relação passada com Astarte – em uma melancolia carregada de culpa que leva a delírios, cujos motivos reais ficam encobertos por uma nuvem de mistério. Lord Byron criou o personagem quando ele próprio estava exilado na Suíça, após seu divórcio escandaloso em meio a acusações de um caso incestuoso entre Byron e sua meia-irmã. A obra é considerada autobiográfica, ou até mesmo confessional. Estamos distantes das cantatas de Bach ou das óperas de Mozart, escritas com um certo distanciamento entre o autor e o libreto. Aqui, o artista romântico se funde com o personagem principal torturado por seu sentimento de culpa por um crime inconfessável.

Não sabemos ao certo o que diziam as vozes na cabeça de Schumann, nem sabemos muito bem os detalhes picantes de sua relação com Clara (tirando o célebre e também nebuloso ménage à trois com Brahms). É possível que alguns dos sintomas de Schumann sejam ligados à sífilis – mas como explicar que Clara Schumann tenha vivido até os 76 anos sem sintomas da doença? Se tudo fosse mais bem explicado e menos misterioso, provavelmente a música de Schumann não seria tão fascinante.

Robert Schumann (1810–1856)
CD 1
1-4. Symphonie Nr. 1 B-dur «Frühling», Op. 38
5-8. Symphonie Nr. 2 C-dur, Op. 61

CD2
1-3. Klavierkonzert a-moll, Op. 54
4-6. Violoncellokonzert a-moll, Op. 129
7. Adagio und Allegro für Horn und Orchester As-dur (orch. Ernest Ansermet), Op. 70
8. Manfred-Ouvertüre, Op. 115

  • Dinu Lipatti, piano (3)
  • Maurice Gendron, cello (4)
  • Edmund Leloir, horn (5)
  • L’Orchestre de la Suisse Romande
  • Ernest Ansermet, conductor

Recorded: Victoria Hall, Geneva, II.1950 (3), III.1951 (1), XI.1953 (4), XI.1957 (5), IV.1965 (2, 6)

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Capa do LP com a “Sinfonia Primavera” (1951). Cuidado, nem tudo em Schumann são flores!

Pleyel

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Concerto para Piano em Lá menor – Três gravações históricas (Michelangeli, Arrau, Richter)

Robert Schumann apagaria 210 velinhas no dia 8 de junho de 2020!

Vamos começar pelo futuro de Schumann. O Concerto para Piano em lá menor tem sido muito tocado por todo o mundo, talvez com mais frequência do que qualquer outra obra do compositor alemão. Se por acaso o vietnamita Dang Thai Son, os brasileiros Nelson Freire ou Linda Bustani, a russa Eliso Virsaladze ou a argentina Martha Argerich forem tocar esse concerto numa sala próxima a você, não pense duas vezes. São grandes artistas, já com cabelos brancos, mas com muitos anos de Schumann pela frente. Sem falar na geração mais nova. Prestigie os artistas vivos!

Hoje, porém, com temporadas de concertos adiadas, vamos aproveitar o aniversário do compositor  para ouvir, comparar, saborear três gravações antológicas do seu Concerto  com três grandes pianistas do passado: Michelangeli, Arrau e Richter. O concerto foi estreado em Dresden, com Clara Schumann ao piano. Desde então, quase todos os grandes pianistas já o tocaram, emprestando a ele sotaques e ritmos diferentes. Como toda obra-prima, o concerto é multifacetado e se encaixa com diversos pontos de vista.

lo scambiano per accelerando o rallentando: è invece il modo di respirare(confundem o rubato com aceleradas e freios: é, em vez disso, a forma de respirar)
Arturo Benedetti Michelangeli (1920 – 1995), sobre o rubato

A descrição mais simples e mais comum de Michelangeli cabe em uma palavra: perfeccionista. Alguns críticos consideraram suas interpretações dos concertos românticos um tanto fria, contida, sem emoção (as mesma críticas são feitas ao seu aluno Maurizio Pollini). Muita gente, por outro lado, ficava de queixo caído com a técnica espetacular e o cuidado meticuloso com cada nota do pequeno repertório que o pianista italiano tocava. De Schumann, salvo engano, ele tocava em seus recitais apenas o Carnaval op. 9 e o Carnaval de Viena op. 26.  E tocou este concerto inúmeras vezes pelo mundo, é claro. Há gravações que vão da década de 1950 até 1992, poucos meses antes de Michelangeli se aposentar e três anos antes de sua morte. Michelangeli soa mais espontâneo nessa gravação que trago hoje, de 1962 com a Orchestra Sinfonica della RAI di Roma, Gianandrea Gavazzeni, do que na gravação de 1992 com Celibidache/Munique. Se quiserem podem ir no Youtube e confiram como as gravações diferem em andamentos, concepção sonora, etc. Essas diferenças mostram que o perfeccionismo do pianista, longe de gerar uma interpretação fixa e rígida, levava a um cuidado cada vez maior com cada detalhe, com novas descobertas ao longo dos anos.

O perfeccionismo de Michelangeli, para os ouvidos deste humilde escriba, se apresenta mais claramente nos ornamentos, que são aquelas notas curtas coladas na nota principal. Enquanto outros pianistas como Arrau e Lipatti aproveitavam esses momentos para aproximar a nota principal como quem faz uma carícia, Michelangeli faz quase sempre os ornamentos com o mesmo peso no dedo da nota curta (ornamento) e da principal, lembrando um pouco os abundantes ornamentos nas obras para cravo de Bach, Rameau ou Scarlatti. São em aspectos como esse que Michelangeli parece estar sempre exibindo sua técnica impecável, mesmo nas gravações ao vivo (que são quase todas: como Richter e Celibidache, ele detestava gravar em estúdio).

Esta gravação que trago aqui, por exemplo, foi realizada ao vivo no Vaticano, com a presença do Papa João XXIII na plateia. Em seguida, Michelangeli ainda tocou a Totentanz (Dança dos Mortos) de Liszt. É preciso fazer um último elogio à gravação da Radio Vaticana, que provavelmente tinha mais experiência com gravações de discursos do Papa e de cardeais, mas realizou um excelente trabalho: esta gravação de 1962 soa muito melhor do que a gravação ao vivo de Lipatti e não deve nada à respeitada equipe de gravação da Philips/Concertgebouw de Amsterdam.

1. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – I. Allegro affetuoso
2. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – II. Intermezzo, III. Allegro vivace
3. Liszt – Totentanz, Paraphrase sur le Dies iræ, for Piano and Orchestra

Arturo Benedetti Michelangeli, piano
Orchestra Sinfonica della RAI di Roma, Gianandrea Gavazzeni
Live Recording – 28/04/1962, Vatican

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Michelangeli fumava: os perfeccionistas também têm seus pequenos pecados

“A música de Schumann nunca é quieta. Sempre, mesmo nos trechos líricos, há uma turbulência subterrânea.”
Claudio Arrau (1903 – 1991)

O Schumann de Arrau/Concertgebouw já tinha aparecido aqui nos primórdios deste blog, em 2008, quando FDP apresentou Arrau como um grande especialista nos românticos, e definiu o pianista chileno assim: Seu fraseado é claro, e é muito contido. Extrai da melodia toda a beleza nela contida, sem cair em tentações maiores. Aqui é ajudado pelo grande Christoph von Dohnanyi, que dirige a excecpional Royal Concertgebouw Orchestra, Amsterdam. Com certeza, um grande momento do piano romântico.

No disco de Arrau, o concerto de Schumann faz uma dobradinha com o de Grieg, dupla muito comum nos LPs e CDs: são dois concertos em lá menor, os únicos para piano que cada compostor escreveu, e além disso a influência de Schumann sobre Grieg é explicita no ataque dramático do piano logo no início do concerto após um dramático acorde orquestral.

Arrau, que era vendido pelas gravadoras ao mesmo tempo como “pianista-pensador” e como “o último dos românticos” (houve tantos últimos, né?),  se equilibra o tempo todo entre seu lado erudito, que buscava expressar com fidelidade as intenções do compositor, e seu lado romântico com as credenciais de quem teve como mentor pianístico um alemão que foi aluno de Liszt. É nesse tênue equilíbrio que o Schumann não soa nem muito livre nem muito certinho, equilíbrio essencial também no concerto de Grieg, representante do romantismo tardio e exagerado no mesmo estilo de Tchaikovsky e Rachmaninoff.

1. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
2. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
3. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
4. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
5. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
6. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace

Claudio Arrau, piano
Royal Concertgebouw Orchestra, Christoph von Dohnányi
Recording – May 1963, Concertgebouw, Amsterdam

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Arrau fazia a linha do “pianista-pensador”: gostava de posar com livros, ainda mais com este sobre ele próprio

Richter me magnetizava, como ele fazia com muitos outros, e eu não perdia um concerto dele por nada. Eu entendo agora que o mais forte elemento no seu apelo magnético às plateias é a sua convicção de que o que ele está fazendo é absolutamente certo naquele momento exato. Isso vem do fato de que ele criou seu próprio mundo interior, e se você discutir com ele sobre alguma coisa, não adianta quase nada. Após a performance, muitas vezes eu discordo das suas escolhas, mas enquanto ouço eu percebo que tudo se encaixa e é completamente sincero, o que me convence.
Sviatoslav Richter (1915 – 1997), nas palavras do pianista russo Vladimir Ashkenazy

Richter é o terceiro grande pianista desta série. Suas gravações de Schumann são sempre impressionantes: ele não tinha medo de socar o piano tirando um som forte, quase percussivo, nas passagens mais enérgicas. É impressionante, também, que este blog não tivesse até hoje nenhuma gravação de Schumann por Richter. Neste CD, temos também o ultrarromântico concerto de Grieg e os Papillons, obra de juventude de Schumann. Outros pianistas, como Guiomar Novaes, Nelson Freire ou Wilhelm Kempff, realizaram gravações antológicas de Papillons, poéticas, sonhadoras… Arrau, como mostra a citação acima, busca mostrar a cada momento os dois lados de Schumann ao mesmo tempo. Pois Richter é bem diferente: está sempre buscando enfatizar os contrastes entre as duas faces de Schumann: em um momento o calmo e afetuoso Eusebius e em seguida o furioso, impetuoso Florestan. Richter, como de costume, usa toda a sonoridade do piano moderno, um pouco diferente de como soavam os instrumentos em meados do século XIX, é claro, mas ainda assim uma interpretação única, inconfundível.

1. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
2. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
3. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
4. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
5. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
6. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace
7. Schumann – Papillons, op. 2

Sviatoslav Richter, piano
Orchestre National de l’Opéra de Monte-Carlo, Lovro Von Matačić
Recording – November 1974, Palais Garnier, Monte Carlo (1 to 6); live recording 21/10/1962, Florence (7).

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Richter por vezes era brutal ao piano. Espero que não tenha socado o idoso Rubinstein
O casal Schumann: Clara estreou o concerto em 1845. Ela também compôs um concerto que está disponível no PQP, cliquem no nome dela na nossa lista de compositores à direita ––>

Pleyel

.: interlúdio :. Goran Bregovic – Black Cat White Cat (Soundtrack) (2000)

.: interlúdio :. Goran Bregovic – Black Cat White Cat (Soundtrack) (2000)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

À exceção de West Side Story, não creio que exista uma trilha sonora de qualidade tão alta quanto Black Cat White Cat. Então… Vamos nos divertir de um jeito diferente hoje. A música popular dos Balcãs é uma coisa de louco. E Goran Bregovic é um dos principais artistas da região. Já tocou muitas vezes no Brasil, inclusive fez duas apresentações em Porto Alegre. Compositor, instrumentista, cantor e extraordinário arranjador, seus discos nunca são esquecíveis. Black Cat White Cat é a trilha sonora do filme homônimo de Emir Kusturica. Depois de vários trabalhos juntos a dupla se desentendeu.

Este CD dá uma mostra de quem é Bregovic. Não há economia, nem de alegria ou de criatividade, e muito menos de recursos. Há cantores, flautistas, cordas, organistas, grupos peruanos, de salsa e muita mas, muita música da Bósnia e da Sérvia com seus metais, metais, metais. O que há de tubas, trombones, trompetes e trompas é um absurdo. Além disso, há um grupo de rock que chega a cantar I want to break free em ritmo marcial… E cada um dos 30 temas têm arranjos inteiramente diferentes, cada um com personalidade própria. Há um compositor alucinado e um arranjador do tamanho de George Martin dentro de Bregovic.

Goran ...
Goran …

Goran Bregovic considera-se iugoslavo e os itálicos a seguir copio uma entrevista que ele concedeu ao El País espanhol em 2009, época do espetacular CD Alkohol:

Si tu país desaparece, descubres que no era algo político ni geográfico, sino emocional. No me siento represente de una nación o un Estado. Sólo represento ese territorio emocional que no tiene nada que ver con la política.

O que diz sobre os criminosos de guerra:

Creo que conozco a casi todos los criminales de guerra. Conozco a Radovan Karadzic, que antes de la guerra era poeta. Algunos de mis profesores de la Facultad de Filosofía están en La Haya. Eran políticos pequeños que creyeron interpretar personajes históricos. Los seres humanos están condicionados. Si les dejas la oportunidad de convertirse en animales se convertirán en animales. La cultura no nos protege.

Sobre o poder da arte mudar as pessoas:

A los artistas occidentales les gusta decir grandes cosas, como que la música puede cambiar el mundo. Vengo de un país comunista y sé dónde está el poder. Aunque trabajo con la misma temperatura que los artistas occidentales, sé que hay un largo camino hasta ser iluminado. Las luces pequeñas ayudan, pero en el fondo no cambian nada.

Sobre uma destas pequenas luzes, ele narra um acontecimento quando de seu primeiro concerto em Buenos Aires:

Al llegar al hotel me dieron un sobre que me habían dejado de parte de Ernesto Sábato. Contenía un libro, Sobre héroes y tumbas, y una carta en la que me pedía disculpas por no acudir al concierto. Me explicaba que mi música le había salvado en momentos de depresión. Lo curioso es que cuando hice el servicio militar en Nis, en la época comunista, robé de la biblioteca del cuartel un ejemplar de ese libro. Lo tuve en mi casa de Sarajevo durante años y lo perdí. Con la guerra perdí todo, también mi biblioteca. Puedes empezar dos veces tu vida, pero no puedes empezar dos veces una biblioteca. Todas las cosas grandes que me han pasado están guiadas por cosas pequeñas que se vuelven grandes, como el libro de Sábato.

Ele surpreende ao falar sobre algumas acusações de plágio:

Me llaman compositor porque compongo lo que ya existe. Así ha sido siempre, desde Stravinski, Gershwin, Bono, Lennon… Se trata de un viejo método: tomas algo de tu tradición, robas y dejas atrás cosas para que otros con talento roben también. La cultura es eso, una transformación continua.

E este filho de pai sérvio e mãe croata, casado com uma muçulmana, finaliza:

La guerra no es sólo matar gente, quemar casas, la guerra mata una infraestructura cultural, edificada por los hombres con gran dificultad durante mucho tiempo.

É uma boa entrevista. O que me emocionou foi a referência que ele fez a sua biblioteca perdida:

Com a guerra perdi tudo e também minha biblioteca. Podes começar tua vida duas vezes, mas não podes começar duas vezes uma biblioteca.

... Bregovic
… Bregovic

Eu nunca tinha pensado nisso. Uma biblioteca pessoal é algo que não se recomeça. Ou ela é inteira ou é um amontoado. Uma biblioteca sem as tantas bobagens lidas durante a adolescência, sem as anotações que não consigo deixar de fazer nos livros e sem as anotações dos amigos, deixaria de contar à sua maneira minha história e a de meu tempo. Eu não iria morrer sem esses 3000 ou mais paralelepípedos cheios de pó mal organizados às minhas costas. Mas perderia o meu mais importante meio de recordações, pois só consigo chegar ao PQP de 15 anos quando abro O Lobo da Estepe e constato o quanto amei e manuseei aquele exato livro que hoje leria com enfado. E quando abro Baía dos Tigres sei onde estava e o que pensava enquanto o lia e o mesmo ocorre com quase todos os outros. Sei lá por quê, minha vida tem largos períodos sem fotos e minha memória associa-se sempre aos livros. Não sei se esta é uma sensação comum às pessoas que leem permanentemente. Não sei mesmo. Aliás, antes do dia de hoje nem sabia que uma biblioteca não se recomeçava…

Goran Bregovic – Black Cat White Cat (Soundtrack) (2000)

01. Intro (El Pasa)
02. El Bubamara Pasa
03. Black Cat White Cat
04. Daddy Dance
05. The Szombathely Jiga (Ashik Cygan)
06. Bubamara (Main Version)
07. Daddy’s gone
08. Czardsz (Ashik Cygan)
09. Dejo dance
10. Lies
11. Flor De Venganza
12. Duj Sandale
13. Hunting
14. Bubamara (Spij Kochanie)
15. Spij Kochanie, Spij (Kayah)
16. Vivaldi (Bubamara Version)
17. Jek Di Tharin
18. Long Vehicle
19. Pit bull (Mixed by Pink Evolution)
20. Ja volim te jos – Meine Stadt
21. Bulgarian dance
22. Bubamara (Sunflower)
23. To Nie Ptak (Kayah)
24. Railway Station
25. Jek Di Tharin II (New Version)
26. Daddy, don’t ever die on a friday
27. 100 Lat Mlodej Parze (Kayah)
28. Bubamara (Tree Stump)
29. Prawy Do Lewego (Kayah)
30. Bubamara (Final)

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Bregovic + Kusturica: músicos por todo lado
Bregovic + Kusturica: músicos por todo lado

PQP

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Dichterliebe, Op. 48 & Liederkreis, Op. 39 – Olaf Bär, barítono & Geoffrey Parsons, piano

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Dichterliebe, Op. 48 & Liederkreis, Op. 39 – Olaf Bär, barítono & Geoffrey Parsons, piano

Robert Schumann

Dichterliebe – Liederkreis

Olaf Bär

Geoffrey Parsons

 

Esta postagem é também uma homenagem a Robert Schumann, por ocasião dos 210 anos desde seu nascimento.

Schumann nutria diversas paixões, afinal foi uma figura enorme do romantismo. Entre estas paixões estava a literatura, a música e (é claro) a pequena e linda Clara Wieck. Estas muitas paixões convergiram e no ano 1840 apenas, Robert (ouso tuteá-lo) deitou em papel cerca de 150 canções – einhundertfünfzig Lieder. Entre elas, as que foram compostas sobre os poemas de Heinrich Heine e Joseph von Eichendorff, que acabaram reunidas em dois ciclos: o Dichterliebe, Op. 48 e o Liederkreis, Op. 39. Dichterliebe significa Amor do Poeta, mas prefiro pensar em Os Amores do Poeta, uma vez que poeta merece certas regalias. Já Liederkreis é mais burocrático e significa Ciclo de Canções e este nome foi usado para outros grupos de canções.

Heinrich (Dichter) Heine

O Dichterliebe é o mais famoso dos dois e acho que merecidamente, mas o outro ciclo tem suas muitas belezas.

Percebi na primeira vez que ouvi esta coleção de canções, na voz do inigualável Dietrich Fischer-Dieskau, que gostaria delas para sempre. Pois que há música da qual gostamos, mas que podemos deixar de gostar. A introdução brevíssima ao piano, seguida da frase ‘Im wunderschönen Monar Mai’ – No Maravilhoso Mês de Maio – é uma combinação matadora. Trata da chegada da Primavera, que no hemisfério norte inicia em maio.

Interior da Catedral

Pleno de expectativas começa o ciclo, que se desenrolará para uma decepção amorosa, passando antes por algumas outras paradas. Entre elas, a majestosa Catedral de Colônia, próxima do Reno, com a imagem da Santa, cujos olhos, lábios e bochechas (palavra que em Português perde um pouco de seu romantismo) são tais quais os da amada. Já deu para sentir que vai rolar um pouquinho de ‘dor de corno’. Mas é parte do filme. Vá lá, ouça por você…

Geoffrey Parsons

Do ponto de vista da música, o que eu acho maravilhoso no ciclo é a alternância de ritmos, uma canção mais lenta seguida de outra que dança e outra que acelera. Eu poderia ouvi-lo vez e mais outra e outra ainda. Sem cansar. Especialmente nesta linda, linda gravação do barítono Olaf Bär, acompanhado do excelente pianista Geoffrey Parsons, que teve o talento que não é dado a muitos, de saber acompanhar os cantores. De certa forma, Geoffrey fez o papel que foi exercido por Gerlad Moore uma geração antes. Pena ter ido embora relativamente cedo, em 1995. Olaf Bär esteve atuante nas décadas de 1980 e 1990 como cantor de ópera e de Lieder. Tem uma voz maravilhosa, curiosamente em algumas situações, bonita até demais. Eu não ouço mais sua gravação do ciclo Die Schöne Müllerin por isso. E também por que acho que ele se dá muuuiito tempo. Mas não é hora de me estender nestas coisas, trarei mais coisas dele aqui, provavelmente. Especialmente Hugo Wolf!!!

Ah, sim, o outro ciclo não conta assim, uma espécie de historinha, mas as canções se aninham umas as outras em função dos temas ligados à natureza, coisa que os germânicos são, por assim dizer, chegados.

Robert Schumann (1810 – 1856)

Dichterliebe, Op. 48

Ciclo de canções sobre poemas de Heinrich Heine

Liederkreis, Op. 39

Ciclo de canções sobre poemas de Joseph von Eichendorff

Olaf Bär, barítono

Geoffrey Parsons, piano

Gravação feita em julho de 1985

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FLAC | 188 MB

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MP3 | 320 KBPS | 123 MB

Este é um daqueles discos que pode ficar assim, eclipsado, pela busca recorrente de mais famosos cantores, como o já citado Fischer-Dieskau ou o tenor Peter Schreier, mas merece ser ouvido. Eu escolheria-o antes de muitos, muitos outros. Espero que você tenha a chance de ver por si mesmo.

Aproveite!

René Denon

 

Martha Argerich & Friends – Live in Lugano 2006

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A Saga Argerichiana continua, com seu Festival de Lugano. Espero que estejam gostando.

Estive pensando com meus botões e tentando lembrar o que estava fazendo em 2006, um ano após uma mudança de cidade que fiz, o que ocasionou um desvio de rota em minha vida. Lembrei então que foram dois anos bem difíceis e complicados, desempregado, e os empregos que conseguia eram apenas bicos que ajudavam a quebrar um galho. A situação começou a melhorar em 2008, mas isso já é outra história.
O maravilhoso Quarteto com Piano op. 47 de Schumann abre esta caixa. O terceiro CD entra um pouco mais no século XX com uma sonata de Schnittke e um Concerto para Violoncelo até então totalmente desconhecido para mim, de Friedrich Gulda.
Divirtam-se.

Cd 1

01. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 1. Sostenuto assai
02. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 2. Scherzo
03. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 3. Andante cantabile
04. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 4. Finale. Vivace

Martha Argerich, Renaud Capuçon, Lida Chen, Gautier Capuçon

05. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 1. Allegro assai vivace
06. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 2. Allegretto scherzando
07. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 3. Adagio
08. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 4. Molto allegro e vivace

Gabriela Montero, Gautier Capuçon

09. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 1. Zart und mit A
10. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 2. Lebhaft, leicht
11. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 3. Rasch und mit

Martha Argerich, Sergei Nakariov

CD 2

01. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 1. Mit Energie und Leidenschaft
02. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 2. Lebhaft, doch nicht zu rasch
03. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 3. Langsam, mit inniger Empfindung
04. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 4. Mit Feuer

Nicolas Angelich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon

05. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 1. Introduzione. Adagio mesto – Al
06. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 2. Scherzo
07. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 3. Largo
08. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 4. Finale. Allegro vivace

Lilya Zilberstein, Dora Schwarzberg, Lucy Hall, Nora Romanoff-Schwasberg, Jorge Bosso

CD 3

01. Debussy Nocturnes, for 2 pianos (trans.Ravel) – 1. Nuages
02. Debussy Nocturnes, for 2 pianos (trans.Ravel) – 2. Fetes

Sergio Tiempo, Karin Lechner

03. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 1. Andante
04. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 2. Allegretto
05. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 3. Largo
06. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 4. Allegretto scherzando

Alissa Margulis, Polina Leschenko

07. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 1. Overture
08. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 2. Idylle
09. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 3. Cadenza
10. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 4. Menuet
11. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 5. Finale alla marcia

Gautier Capuçon – Cello
Members of The Orchestra della Svizzera Italiana
Alexander Rabinovich-Barakovsky

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FDP

#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Genoveva, Op. 81 – Ziesak – Widmer – van der Walt – Lipovšek – Quasthoff – Harnoncourt


Muito estranho que uma das pessoas que mais lindamente escreveram para a voz humana tenha escrito apenas uma ópera, e que ela tenha sido um retumbante fracasso.

“Genoveva”, baseada numa lenda medieval, ocupou a imaginação de Schumann depois de sua mudança de Leipzig para Dresden. Na nova cidade, conheceu Richard Wagner, que trabalhava em seu “Lohengrin”. Apesar de desencorajar Robert em seus intentos operísticos por conta da precariedade do libreto, Wagner acabou por ter importante influência na concepção da peça, inteiramente posta em música, com temas que, se não são Leitmotive estritos, associam-se frouxamente a personagens, e sem grandes árias e duetos para o brilho dos solistas.

Por não a conseguir estrear em Dresden, conduziu-a em Leipzig,  no mesmo 1850 em que o “Lohengrin” estreou com imenso sucesso em Weimar. “Genoveva” teve uma acolhida gélida e foi tirada de cartaz após meras três apresentações, jogando uma pá de cal, sepultando e selando com concreto quaisquer outros planos operísticos de Schumann.

Se “Genoveva” é cheia das belíssimas melodias dum genial compositor de Lieder – Schumann chega mesmo a acrescentar poslúdios aos números vocais, da mesma forma que em muitas de suas maiores canções -, por outro lado ela padece dum enredo esquemático e de frouxidão dramática. O libreto, iniciado por seu amigo Robert Reinick e terminado pelo próprio compositor, é amplamente apontado como seu maior problema. Schumann, afinal, nunca se interessou realmente por ópera e, desconhecendo o gênero, o meio e os bastidores, não se surpreende que não tivesse a menor ideia de como escrever para o palco. Há quem defenda que “Genoveva” talvez funcionasse melhor como oratório, mas seu relativo esquecimento torna difícil de trazer a questão a qualquer mérito. As raras encenações modernas foram bem sucedidas, e houve um número razoável de gravações nas últimas décadas, de modo que podemos estender a “Genoveva” nossa generosa mão para tirá-la do fosso do fracassos e dar-lhe uma merecida chance, cheia de bons momentos e muitas belezas que ela é.

Um dos mais entusiasmados defensores de “Genoveva” foi Nikolaus Harnoncourt, que conduziu várias montagens, das quais minha favorita é esta, com Ruth Ziesak no papel-título, uma voz delicada e angelical que parece criada à medida para a mocinha. Oliver Widmer, como Siegfried, lembra Fischer-Dieskau, se não no timbre, na ótima articulação e dicção impecável. O time de vilões inclui, incomumente, um tenor, aqui o sul-africano Deon van der Walt, infelizmente falecido numa tragédia familiar, e pela imensa voz da eslovena Marjana Lipovšek, que quase engole o luminoso Heldentenor de van der Walt como a feiticeiresca Margaretha. O ponto alto, para mim, como sói acontecer com tudo o que envolve esse maravilhoso artista, é a infelizmente breve participação de Thomas Quasthoff num papel secundário, o do mordomo Drago. Harnoncourt garante que tudo fique bem redondinho, numa performance muito bem ensaiada, com notáveis participações do ótimo Arnold Schoenberg Chor.

O enredo: na metade do século VIII, Siegfried, Eleitor do Palatinado, vai lutar com Charles Martel, rei dos francos, e deixa sua esposa Genoveva sob os cuidados de seu criado e amigo Golo, que secretamente a deseja. Quando Genoveva rechaça seu assédio, Golo monta uma cilada para acusá-la de adultério, com a assistência de sua antiga babá, Margaretha, e do mordomo Drago, que é morto por Golo e acusado de ser o amante de Genoveva. Siegfried retorna das batalhas e, acreditando no embuste, condena a esposa à morte. No entanto, o fantasma (!) de Drago aterroriza Margarethe a ponto de fazê-la confessar a verdade, o que leva Siegfried a comutar a sentença de Genoveva, que o perdoa, enquanto Golo se suicida. O libreto, que como já foi dito não é lá grandes coisas, não fará lá muita falta a vocês. Quem entender alemão poderá acompanhá-lo aqui, enquanto os hispanohablantes poderão se divertir ali.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

“Genoveva”, ópera em quatro atos, Op. 81

Libreto de Robert Reinick e do compositor, baseado em “Genoveva” de Friedrich Hebbel e “Leben und Tod der heiligen Genoveva” de Ludwig Tieck

1 – Abertura

PRIMEIRO ATO

2 – “Erhebet Herz und Hande” (Hidulfus)
3 – “Könnt ich mit ihnen” (Golo)
4 – “So wenig Monden erst, dass ich dich fand” (Siegfried, Genoveva)
5 – “Dies gilt uns!” (Siegfried, Drago, Genoveva, Golo)
6 – “Auf, auf, in das Feld!” (Genoveva, Siegfried, Golo)
7 – “Der rauhe Kriegsmann!”
8 – “Sieh da, welch feiner Rittersmann!” (Margaretha, Golo)

SEGUNDO ATO

9 – “O weh des Scheidens, das er tat!” (Genoveva, Golo)
10 – “Wenn ich ein Vöglein war” (Genoveva, Golo)
11 – “Dem Himmel dank, dass ich Euch finde” (Drago, Golo, Margaretha, Genoveva)
12 – “O Du, der über alle wacht” (Genoveva)
13 – “Sacht, sacht, aufgemacht!” (Balthasar, Genoveva, Golo, Drago, Margaretha)

TERCEIRO ATO

14 – “Nichts halt mich mehr” (Siegfried, Margaretha)
15 – “Ja, wart du bis zum jungsten Tag” (Siegfried, Golo)
16 – “Ich sah ein Kind im Traum” (Margaretha, Siegfried, Golo)
17 – “Erscheint! … Abendlufte kuhlend weh’n” (Margaretha, Siegfried, Golo, Fantasma de Drago)

QUARTO ATO

18 – “Steil und steiler ragen die Felsen” (Genoveva, Balthasar, Caspar)
19 – “Kennt Ihr den Ring?” (Golo, Genoveva, Caspar, Balthasar)
20 – “Weib, heuchelt nicht” (Balthasar, Genoveva, Caspar, Margaretha, Siegfried)
21 – “O lass es ruh’n, dein Aug, auf mir!” (Siegfried, Genoveva)
22 – “Bestreut den Weg mit grunen Mai’n”
23 – “Seid mir gegrüsst nach schwerer Prufung” (Hidulfus, Genoveva, Siegfried)

Genoveva, esposa de Siegfried –  Ruth Ziesak, soprano
Golo, mordomo de Siegfried – Deon van der Walt, tenor
Siegfried, Conde de Brabant – Oliver Widmer, barítono
Hidulfus, bispo de Trier – Rodney Gilfry, barítono
Margaretha, uma criada –  Marjana Lipovšek, soprano
Drago, um velho criado – Thomas Quasthoff, baixo
Arnold Schoenberg Chor
Chamber Orchestra of Europe
Nikolaus Harnoncourt, regência

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Uma montagem bastante hemática de “Genoveva” em Zurique.

Vassily

Monteverdi, Uccelini, Merula, Marini: Recital com Magdalena Kožená (2016)

Monteverdi, Uccelini, Merula, Marini: Recital com Magdalena Kožená (2016)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este é um CD inteiramente fora do normal. Afinal, a montanha de obras-primas escritas por Claudio Monteverdi (1567-1643) é pouco ouvida e gravada. Como se não bastasse a raridade do excelente repertório, aqui temos a enorme cantora Magdalena Kožená dando uma demonstração de arrebatador virtuosismo. E tal virtuosismo é acontece sem se rasgar ou morrer aos gritos, mas com senso de estilo e argumentos. Acompanha-a no altíssimo nível a La Cetra Barockorchester Basel, chefiada por Andrea Marcon. Um disco espantoso para ouvir, reouvir e nunca esquecer.

(Eu invejo os londrinos em muitas coisas, mas fico quase deprimido ao saber que ela e seu marido Simon Rattle, estão apresentando uma integral dos lieder de Schubert no Wigmore Hall. Espero que gravem tudo!).

Magdalena Kožená: super talento
Magdalena Kožená: super talento

Claudio MONTEVERDI (1567-1643)
01. Zefiro torna, e di soavi accenti (06:59)
02. Lamento della ninfa (08:08)
03. Quel sguardo sdegnosetto (04:00)

Marco UCCELLINI (1610-1680)
04. Aria quinta sopra la Bergamasca (05:04)

Claudio MONTEVERDI
05. Disprezzata Regina (05:10)
06. Con che soavita (05:28)

Tarquinio MERULA (1594/95-1665)
07. Ballo detto Pollicio (02:09)

Claudio MONTEVERDI
08. Addio, Roma! (04:24)
09. Damigella tutta bella (02:55)

Biagio MARINI (1594-1663)
10. Passacalio a quattro (06:12)

Claudio MONTEVERDI
11. Combattimento di Tancredi e Clorinda (21:21)
12. Pur ti miro (05:14)

Magdalena Kožená, mezzo-soprano
Anna Prohaska, soprano ([1], [12])
David Feldman, countertenor ([9])
Jakob Pilgram, tenor ([2])
Michael Feyfar, tenor ([2])
Luca Tittoto, bass ([2], [9])

La Cetra Barockorchester Basel
Andrea Marcon, harpsichord and conductor

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Claudio Monteverdi
Claudio Monteverdi

PQP

Robert Schumann (1810-1856): Carnaval, Kinderszenen, Papillons, Symphonic Etudes, Fantasiestücke, Piano Concerto (Guiomar Novaes)

Schumann publicou centenas de artigos sobre música na imprensa de sua época. Ao contrário da maioria dos compositores, cujo pensamento pode ser vislumbrado apenas em cartas para amigos e parentes, Schumann deixou muito claras nesses artigos as suas ideias sobre música.

Por exemplo, aos 21 anos, em 1831, Schumann elogiava as Variações opus 2 de Chopin, sobre um tema do Don Giovanni de Mozart: “Os personagens, é claro, são Don Giovanni, Zerlina, Leporello e Masetto.” A primeira variação, ele descrevia como aristocrática e amorosa, com o Don Juan espanhol flertando com uma camponesa. A segunda, mais íntima e cômica, como dois amantes rindo juntos. A terceira tinha o luar, e por aí vai…

O curioso é que também há registro da opinião de Chopin sobre a resenha publicada por Schumann: “Eu poderia morrer de rir da imaginação desse alemão!”, escreveu ele em carta a um amigo polonês.

Cinco anos depois, em 1836, Schumann descreveria as Danças Alemãs de Schubert (op. 33) como um carnaval inteiro, com máscaras, tambores, trompetes, figuras cômicas sussurrando, Arlequim com a mão na cintura…

Essas palavras, é claro, dizem muito mais sobre a música do próprio Robert Schumann do que sobre a do austríaco Franz Schubert. Em Papillons, op. 2 (1831), Schumann se inspira em um baile de máscaras descrito no livro do romancista Jean Paul. Procedimento que ele levaria adiante em uma obra mais longa e complexa, o Carnaval, op. 9 (1835). A miniatura, a bagatela, que era uma obra de pouca importância para Beethoven (como Pour Elise, que ele nem se preocupou em publicar oficialmente), é transformada por Schumann: ao juntar várias composições pequenas contrastantes, como quem descreve vários aspectos de sua própria personalidade, ele cria um todo maior do que a soma das partes.

Schumann é esse sujeito com a pretensão de expressar todos esses sentimentos com a música instrumental (mesma ideia de seu amigo Mendelssohn com suas famosas Canções sem palavras). Ele escreveu uma ópera e alguns Lieder, mas o principal de sua obra, assim como a de Beethoven, é instrumental. Alfred Cortot, o pianista francês mais famoso da época em que Guiomar Novaes estudava em Paris, dizia, sobre Schumann: “Não bastam a bela sonoridade, o fraseado expressivo, mas também um sentimento de sonho. Na verdade, é preciso sonhar essa música, não tocá-la.”

Guiomar Novaes (1894-1979) gravou, na década de 1950, essas obras de Schumann que ocupavam 4 LPs e foram reeditadas em um CD duplo. Quem teve o privilégio de ver Guiomar tocar ao vivo diz que a grande marca dela era a naturalidade: seu fraseado, seu rubato, todas suas escolhas interpretativas pareciam muito intuitivas, sem qualquer busca de virtuosismo performático ou de intelectualismo acadêmico. Não era uma artista historicamente informada, do tipo que lê tratados de C.P.E.Bach, nem uma artista obcecada com notas erradas. Estava mais para uma poetisa do piano e, talvez por isso, expressa de forma tão sublime os diversos humores pelos quais transita a música de Schumann.

Nelson Freire relata uma história engraçada: um fã chegou para ela maravilhado com a poesia de seu Chopin, as cores infinitas de seu Debussy e perguntou como ela fazia tudo aquilo. Guiomar simplesmente olhou para ele e disse: Está tudo escrito!

Robert Schumann (1810–1856): Carnaval, Kinderszenen, Papillons, Symphonic Etudes, Fantasiestücke, Piano Concerto

CD1
(01-22) Carnaval Op. 9 [23’14”]
(23-35) Kinderszenen Op. 15 [18’10”]
(36-47) Papillons Op. 2 [13’53”]
(48-60) Symphonic Etudes Op. 13 [23’10”]

CD2
(01-08) Fantasiastücke Op. 12 [29’38”]
(09-11) Piano Concerto a-moll Op. 54 [31’56”]

Guiomar Novaes, piano
Vienna Symphony Orchestra, Otto Klemperer

CD1 – BAIXE AQUI – CD 1 – DOWNLOAD HERE (MP3 320 kbps)

CD 2 – BAIXE AQUI – CD 2 – DOWNLOAD HERE (MP3 320 kbps)

Capas dos LPs originais da década de 1950, remasterizados neste CD de 2009

Pleyel

Martha Argerich & Friends – Live in Lugano 2005 #BTHVN250

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POSTAGEM ORIGINALMENTE REALIZADA EM 2017, COM NOVOS LINKS, AINDA EM HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DA DIVINA MARTHA, QUE ASSOPROU VELINHAS ONTEM, DIA 5 DE JUNHO.

Pensaram que eu tinha esquecido desta coleção, né? Pois olha, até esqueci. Mas lembrei depois de algum tempo.
Nossa Divina Martha continua muito bem acompanhada, para variar.

CD 1

01. Mendelssohn – Piano Trio No. 2 in D, Op.66 I. Allegro Energico
02. II. Andante Espressivo
03. III. Scherzo. Molto Allegro, Quasi Presto
04. IV. Finale. Allegro Appassionato

Nicolas Angelich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon

05. Beethoven – 05. Piano Quartet in C, Wo036 No. 3 I. Allegro Vivace
06. II. Adagio Con Espressione
07. III. Finale. Allegro

Martha Argerich, Renaud Capuçon, Lida Chen, Gautier Capuçon

08. Mozart – Piano Sonata No.16 in C, K545 (Arr. Grieg for 2 Pianos) I. Allegro
09. II. Andante
10. III. Rondo. Allegretto

Martha Argerich, Piotr Anderszewski

CD 2

01. Rachmaninov – Cello Sonata in G, Op.19 I. Lento – Allegro Moderato
02. Cello Sonata in G, Op.19 II. Allegro scherzando
03. Cello Sonata in G, Op.19 III. Andante
04. Cello Sonata in G, Op.19 IV. Allegro mosso

Mischa Maisky, Sergio Tiempo

05. Suite No.2 for two pianos op.17 – I. Introduction
06. Suite No.2 for two pianos op.17 – II. Valse
07. Suite No.2 for two pianos op.17 – III. Romance
08. Suite No.2 for two pianos op.17 – IV. Tarantella

Martha Argerich, Gabriela Montero

09. Danzas andaluzas – I. Ritmo
10. Danzas andaluzas – II. Sentimiento
11. Danzas andaluzas – III. Gracia (El vito)

Karin Lechner, Sergio Tiempo

CD 3

1 – 10 – Brahms – 01. Variations on a Theme of Haydn, for 2 pianos in B flat major

Martha Argerich, Polina Leschenko

11. Brahms – Piano Quintet in F minor, Op. 34a I Allegro non troppo
12. Piano Quintet in F minor, Op. 34a II Andante, un poco adagio
13. Piano Quintet in F minor, Op. 34a III Scherzo Allegro
14. Piano Quintet in F minor, Op. 34a IV Finale Poco sostenuto – Allegro non troppo

Lilya Zilberstein, Dora Schwanberg, Lucy Hall, Nora Romanoff-Schwanberf

15. Carlos Guastavino – Romances Argentinos (3) for 2 pianos I Las niñas de Santa Fe
16. Romances Argentinos (3) for 2 pianos II Muchacho Jujeño
17. Romances Argentinos (3) for 2 pianos III Baile en Cuyo

Martha Argerich, Mauricio Valtina

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